VENHA, 2022

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Florianópolis—SC / Porto Alegre—RS / Londrina—PR 2022


Sumário Prólogo Marta Martins & Gerusa Morgana Bloss

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O ponto que voa: um ensaio sobre procedimentos Fercho Marquéz-Elul

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A ficção se leva no bucho: e é de lá que se tira Fercho Marquéz-Elul

(19)

Venha 7 de setembro Dariane Martiol

(42)

Vacuna/vacina Francela Carrera

(44)

Para todos os garotos que não me amei Maurício Bittencourt

(48)


Octaedro Criaturas imaginárias Angelica Neumaier

(54)

Vazio eloquente Edson Vieira

(58)

O mergulho Isadora Cunha

(62)

Restaurante oriental Marta Martins

(66)

G.R.E.S.V. Formas de Narrar Tiago Herculano da Silva

(70)

Ninguém tem porque saber de nossa vida [...] A moça do banco de praia Joviana Jensen

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Escritas de atenção ao ordinário Rafaela Martins

As tais fotografias Gerusa Morgana Bloss

(84)

(80)


O quarto L. Hansen

(88)

Mil e uma noites Cola Andrey Parmigiani (94)

Havana connections Katiana Rocha Machado

(98)

Os contos das coisas Priscila Hayashi

(102)

Era muito normal e atenta estava com a cabeça onde deveria estar Gabriel Villas

O vinho [caiu] como uma luva Tornando-te lembrança Mauricio Igor

(112)

(106)


O revés de um parto Juliana Silva

(116)

Outros tempos Mariana Medeiros

(120)

Nem tudo é matéria] [bruta nem tudo Odete Calderan

(124)

Procedimento Um café e um conto Janaina Ramos Marcos

(130)

Membra disjecta: um extrato em quatro histórias Fercho Marquéz-Elul

(134)

Linha 0200 Mariana Corale

(138)

Verão de 1950 Suzimara Regina Batista Rizzo

(142)



PRÓLOGO

Nas contingências do nosso tempo, somos convocados a uma imersão pelas formas de narrar, pela dinâmica dos processos e do procedimento sempre a serem refeitos. Estamos agora confrontados com apostas capazes de sacudir o estabelecido, formas de nomear as fantasias, transformá-las em imagens e

dar contorno ao que alcançamos, mesmo que provisoriamente e, assim, em um processo que é partilha, lançamos essa publicação com o intuito de contribuir com o jogo da linguagem e transformá-la nesse lugar em que dentro e fora, como em uma banda de möbius, são interpenetráveis e capazes de fazer alguma diferença em meio à repetição. Nos deparamos, portanto, com um movimento de imprimir dinâmica em meio

à vivências marcadas por uma perturbação dos sentidos. Obscurantismo, negacionismo, desprezo à diferença, desprezo à natureza (de que todos somos parte), fazem parte das esferas que compõe esse tempo. Os sentidos únicos, que são marcas do cenário político vigente, visam paralisar as forças de criação, perturbando a ficção, ecoando inverdades como justificativa ao injustificável da violência, fazendo um certo uso da linguagem com fins de manipulação e coerção dos corpos. A pandemia do covid faz com que nos deparemos constantemente com a instabilidade e com a necessidade de reinvenção de novos possíveis. A virtualidade, via de encontro nas aulas, permitiu estarmos juntos e convocou-nos a um posicionamento que está para além desta.


No segundo semestre de 2021, no curso de Pós-Graduação em Artes Visuais do Ceart-Udesc

na disciplina “Formas de narrar, entre imagem e escritura”,

pensamos a ficção contemporânea em imagens visuais e literárias do presente. O conceito de procedimento balizou as discussões na disciplina e os exercícios criativos que foram realizados. Invenção de Raymond Roussel, posteriormente trabalhado por escritores que se posicionaram diante de suas contribuições à literatura contemporânea. A literatura e as artes mantêm-se vivas devido ao ato de exercício imaginativo que cada autor/leitor concretiza e atualiza no campo pulsional e da cultura. Dentro e fora do espaço literário, incluindo o campo das artes e da psicanálise, laços sociais instituem-se e cabe a cada um tomar parte no jogo da linguagem que reposiciona um modo de estar com os outros. A ficcionalidade moderna foi analisada por teóricos (dos formalistas russos à Foucault) que enfatizaram a linguagem como um saber que desconhece a si mesmo, cuja indeterminação impõe-se de forma autônima. A criação estaria imbricada com permitir à linguagem sua manifestação e fruir dela. Também por essas vias, a ficção moderna seria efeito e resultado da criação de um procedimento que é explicitado na própria obra à medida que se concretiza. A forma de narrar é incluída na própria narrativa, em uma dinâmica de mostrar e esconder sua realização à medida que a produz. A obra revelaria o segredo de

como esta foi tramada. A ficção é um regime de verdade, no sentido em que manifesta o caráter dúplice de qualquer expressão, já que na escritura e nas artes visuais as obras são e não são, a um só tempo, e em distintas modulações, a “coisa” que tratam de representar. E mesmo quando uma determinada criação ficcional literária ou visual, está longe de operar no regime representativo - e as manifestações vanguardistas contribuíram para o desvinculo entre expressão e representação a verdade do procedimento se revela. Portanto, há verdade na ficção e ficção na verdade. A linguagem nos convida a transitar pelas bordas do indizível e relançar, junto a outros, uma experiência que convida a um diálogo, uma vez que se configura como um enlace. Um a um, os textos que expomos expressam a singularidade 10


da criação, lado a lado, compõe um mosaico compartilhado a partir do que pôde ser tecido em meio a leituras, discussões teóricas, exercícios criativos que promoveram, ao longo da disciplina, um movimento de criação e de implicação com um fazer comprometido com o tempo em que vivemos, a forma que nos situamos perante a ele e as aberturas que nos permitimos. Como situa Lacan, “A verdade

tem

estrutura

de

ficção”,

isso

nos

leva

a

pensarmos

no

comprometimento que cada um articula com a palavra, com as imagens em seus atos de inscrições na cultura. As formas de narrar que puderam ser exploradas no contexto da disciplina colocam-nos frente a frente a uma dimensão ética diante do que é transmitido. Cada um pôde recolher em si e no entorno fragmentos, expressões de tempos outros e atualizá-las em uma perspectiva que traz a marca do autor e relança ao leitor uma experiência estética. Também em forma de fragmentos, as palavras e as imagens em articulação convidam a

presenciar o resultado que é processo, que se faz e refaz no momento do agora. Essas perduram para além de quem as escreve e produz as imagens, e se reconfigura a cada gesto à medida em que um procedimento é descoberto e tramado. Lançar esse livro confronta cada um com seu tempo de concluir algo de um procedimento que se insinua enquanto resultado e enquanto processo de um mergulho.

Lemos e escrevemos a partir da imersão nas produções de artistas como: a fotógrafa Vivian Meyer, a artista Louise Bourgeois, e escritores como: Enrique Vila-Matas, Ricardo Piglia, Cesar Aira, Margareth Atwood, Mário Bellatin, Adília Lopes, entre outros. Em uma partilha das inscrições e rastros que se fizeram nesse trabalho conjunto, reiteramos o convite: venha ver os registros desse percurso, venha participar conosco das imersões entre palavras e imagens, venha ressoar ao ritmo das sensibilidades que serão despertadas. Piglia escreve: “Somos o que somos, mas também somos outros”, tal frase ecoa com a de Rimbaud: “O eu é um outro” e, assim, características das artes, mas também da psicanálise, (na medida em que se debruça sobre o estranho que nos interroga) convidam-nos a revisitarmos os estranhamentos a que somos convocados nos encontros com as produções poético-imagéticas aqui dispostas. 11


Há uma possibilidade de desdobrar sentidos, ora dispersos, ora delimitados, com o fio condutor que cada espectador poderá costurar a partir de sua aposta nesse entre-lugares, uma vez que todos que escrevemos somos também leitores, e considerando que quem lê reescreve a obra na medida em que se debruça sobre ela. O destino destas palavras e imagens aqui dispostas não é dado de antemão,

mas cada um é convidado a compor. E assim compusemos, nos gestos de um trabalho criativo trabalhado singularmente - com outros - esse livro que agora apresentamos cujo título carrega um convite à experiência. Publicação ora entremeada pelas discussões políticas que atravessaram as discussões, de forma a tomar parte das tessituras que compõe o fazer artístico, ora permeada por questões que remetem à dinâmica da casa (esse palco de revoluções silenciosas e barulhentas de nosso fazer atravessado por um momento pandêmico), ora tocando o âmago das relações com uma dose de fina ironia em que as amarras do falso moralismo caem e dão lugar ao vertiginoso (esse non-sense demasiado humano). Revisitando autores, criamos a própria autoria e a expressamos em conjunto que potencializa o que pudemos dispor para contornar as bordas do indizível e com ela construir pontes. Ao deixarmos cair uma certa fantasia de originalidade, deixamos nosso traço próprio em uma

dinâmica antropofágica e politicamente implicada. Cabe retomar, aqui, Vivian Meyer e sua obra, artista que trabalhou durante anos e que não expôs nem publicou seu trabalho. Sua obra, a partir de quando foi descoberta, segue a ser revelada, dada a extensão de seu incessante fotografar. Tais produções conduzem-nos a isso que se atualiza no momento do hoje, recolhendo aspectos das vivências do agora e reatualizado no momento do

olhar que lança ao futuro vestígios de um tempo vertiginoso e sempre em vias de movimento e dissolução. Freud discorre que as fantasias e os devaneios se articulam a diferentes temporalidades: passado, presente e futuro alinhavam-se uns aos outros no colar do desejo que os percorre. O movimento desejante que cada um imprimiu nessas páginas, entre rastros e restos de uma composição, está situado em meio à esses contornos fantásticos em que a realidade e a 12


ficção misturam-se denotando um mergulho do qual cada um sairá e arcará com as consequências, convidando os demais a fluir pelos encantos e desencantos das produções, agora encarnadas e, portanto, vivas, também no corpo-livro/ corpo-livre da publicação. A escrita e a arte são drogas pesadas, mas muito necessárias, para nos possibilitarem contornos diante da dispersão, tanto para quem a produz

quanto a quem frui dela. A abertura à sensibilidades outras, o mergulho pelo indizível que se apresenta, agora representado e nomeado, produzindo ondas e estranhamentos/ entranhamentos entre si e o outro. Imagens e escritas que trazem à tona a forma que o informe adquire para cada um, em um fluxo que pôde ser tramado, encadeado e então partilhado. Em um gesto político, ressoamos vozes que convocam o chamado a um transbordamento. VENHA é um convite a partilhar das escritas realizadas de forma remota a partir da disciplina “Forma de Narrar: entre imagem e escritura”, ministrada por Marta Martins, com participação da psicanalista Gerusa Morgana Bloss.

Marta Martins & Gerusa Morgana Bloss

Fevereiro de 2022 13


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O ponto que voa: um ensaio sobre procedimentos* Fercho Marquéz-Elul

VENHA se constitui de um conjunto heterogêneo, porém dialogante de produções implementadas durante a disciplina Formas de narrar: entre imagem e escritura, ministrada pela Profa. Dra. Marta Martins, resultante de momentos de produção poética experimentada a partir de exercícios de produção. O que de experimental, de novo, se vê aqui, mais do que nunca, posto em diálogo incorrente com as pessoas. Há um momento em que é necessário abrir as cortinas, não importa as protelações dos atores e atrizes, o cenário inacabado, a iluminação desajustada. É com o que se tem, ou melhor, é com o pouco que se pode mostrar, o que será vislumbrado à mostra, no horizonte que se dá o trabalho da ação. VENHA enfatiza essa ação desajeitada, ou melhor, ações cujo jeito é sentido, encontrado e identificado, compreendido, sinalizado e finalmente narrado na superfície do corpo à medida em que se age. A impressão desse movimento que se faz quando se faz¹, dessa contração, está armada sob a superfície do corpo (de todos os seres, como também da imagem). Captamos sua existência apenas quando, ao agir, sua muscularidade presente, mas subterrânea ou posteriormente repercute uma movimentação que escreve, que diz, que conta, mas que não está fisicamente presente na superfície. Esse fazer-se, que inscreve a própria ação profundamente abismada de uma feitura dentro do fazendo-se, podemos aqui chamar de processo. Essa muscularidade — essa maneira de ser, de se constituir —, essa estrutura propriamente dita, coesa poética e previamente dada, que possibilita tal movimento, tal agir, é o próprio procedimento. E cada corpo possui a sua própria muscularidade e seu singular desajeito. O

¹ Não é possível de deixar de fora, as contrações presentes nos processos tectônicos e telúricos do nosso planeta, nem os estados realmente vivos de todas as matérias, até mesmo aquelas profundamente sólidas.

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procedimento é como tal: com a atenção íntima, a pessoa arteira identifica no desejo (por produzir) previamente algum caminho arruinado ou em desuso e faz dele a via de seu deslocamento. Possibilita mais do que um ir-e-vir (tão regido juridicamente), mas um vir-a-ir (tão fomentado desejadamente). À medida em que trilha o caminho, partilha com ele a produção de mais caminho e essa tributação pessoal, feita com o corpo todo e o tempo todo, confere ao procedimento essa surpresa e inovação — o emergir da impressão, da marca inesperadas, do insinuante² à carícia — a partir dos elementos estruturantes prévios, passados ou já identificados na produção do corpo, da imagem. O procedimento é essa malha presente nos músculos, nas redes, nas tramas. Segue o modelo do tear do início ao final, muitas das vezes, mas que extremamente maleável, sofre deformação em sua geometria para ser capaz de comportar os inúmeros usos e situações. Muitos procedimentos mesmo tendo um passo a passo bem delimitado desde o início ou por todo o processo, são capazes de se modificar à guisa do novo. Enriquecida existência em que uma rede de pesca imensa é portada dentro de um recipiente minúsculo; engolfante resistência, por sua vez, em que a mesma envelopa, tragando tragicamente o imenso e descomunal animal marinho. O procedimento mesmo inicialmente implementado de uma maneira estrutural pré-estabelecida pode sofrer mudanças no meio do processo. Uma trama de certa geometria produzida a certa altura pelo tear, pode passar a receber uma produção outra em si, constituída por nova formação de tramas. Entre anverso e verso da imagem, entre a frente e o atrás do tecido bordado, as consequências, as produções, as criações surgidas através do engajamento com o procedimento são avistadas por meio de vários níveis diferentes desde a visibilidade até o invisível, desde a compreensão racional até o incompreensível, em presença da obra, do trabalho em si. É o desenho do tapete, a fatura do bordado em direção a qual nos engajamos. Isso nos aciona na experiência cuja situação nos é armada pelo procedimento. É atrás do tapete, no verso do bordado que estão os sentidos motores do procedimento, toda as tecnologias de astúcias, de trapaças, de

² Proveniente do verbo latino īnsinuō, formado por in + sinuō: “eu dobro, eu curvo”, mas também “eu escavo, eu esburaco”, tal verbo é importante aqui para suscitar o desejo que se atrai pelo que delicadamente se vislumbra a partir debaixo, pelo que se curva e se dobra antes de emergir em um nascimento deíscente.

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posições tomadas à queima roupa, de ficção engendrada, de deslocamento no escuro do processo. E esse processo produtivo do bordado seja a âmbito alegórico premente para compreender a própria imagem: para criar imagem é necessário continuamente tocar o suporte que permite com que ela emerja. Concomitantemente, bordar, costurar, criar tapetes é criar imagens através de procedimentos cujos vetores provêm de um movimento de fundo do suporte para a superfície, de trás para frente, através do suporte mesmo. O instrumento pontiagudo na mão ou na máquina desaparece na posterioridade do bastidor, vai para um ponto cego e ali apenas o que guia o caminho do processo da pessoa que borda é o procedimento, a ponto de a linha finalmente voltar à vista. Querer: ver o instrumento, senti-lo apenas no tato, perdido, sem tê-lo à vista, ressurgimento trazendo a linha desse ter/dester, ver/desver, materializado em imagem através de uma repetição fidelizada. Os procedimentos se põem sempre em relação a um processo artístico, nunca simplesmente sozinho, acreditando-o ser como uma instituição, com o temor de incorrer em torná-lo um meio de industrialismo produtor de objetos obsolescentes, nem sendo subjugado dentro do processo ou da arte, vindo por tornar-se um meio inferiorizado, digno de desconfiança, simplesmente um comportamento poético a ser reabilitado, pecando em trazer obras engendradas em panfletarismo purista e politicagens baratas. Simplesmente se alimentar dos efeitos do procedimento, desprezando que como tais, escapam do controle de sua origem, paradoxalmente, é compreender de maneira muito teleológica sua produção, pois tal criação a partir do procedimento se torna uma excrescência. Ao mesmo tempo em que surge perante a pessoa arteira, se libera e se torna certamente independente do procedimento, mantendo é claro o parentesco sem hierarquias com o processo que o originou. A produção se torna uma outra coisa, se nacariza nesse âmbito, já que é na relação complexa com as pessoas que sua existência será modulada. Essa produção, se presa em noção restrita de uma relação estritamente genética, passa a corroer a ideia criativa de procedimento e transparecer em um uso genético de criador de origens o poder e o controle absolutos. O procedimento quase nunca se refere apenas ao suporte cru de uma imagem. É algo mais interiorizado que, por vezes, lança mão de uma estrutura material para sua produção. Carece dizer que o procedimento vai, mais que nunca, ser gestado, refletido, habilitado, atualizado ou mesmo 17


traído no próprio campo inventivo e subjetivo da pessoa e isso é claro repercute em suas ações mais visíveis fisicamente no exterior, em sua superfície corpórea, no trato com os objetos, os processos, o mundo. O procedimento e sua gênese são elaborados poeticamente em uma região indistinta ou pouco localizável entre a razão e a sensação, entre o exterior e o interior do corpo, naquela zona bastante indefinida ou pouco definitiva: ali no que vem a ir, na forte aderência entre a carne e nossos ossos.

* O ponto que voa provém do deslizamento dos fenômenos ortográficos, etimológicos e fonéticos da língua catalã para o campo do processo e procedimento artísticos. O ponto que voa, aqui erraticamente utilizado para referir-se a uma mosca por exemplo, provém da expressão catalã punt volat [ponto voador] ou punt alçat [ponto elevado], nomeando o sinal diacrítico [ · ] que em português é chamado de ponto mediano. O ponto mediano compõe o “grupo modificado de letras” nomeado de ela geminada [ele geminado], grafado como L·L e com pronúncia /ɫː/, em diferenciação ao dígrafo do ele duplo LL, com pronúncia /ʎ/. Essa geminação assim grafada representa a alteração fonética de dois eles que passam a ser pronunciados de maneira alongada. A ela geminada é encontrada em muitas palavras do latim e do grego que já possuíam etimologicamente um ele duplo e que passaram a serem demarcadas por esse ponto suspenso em catalão: cèl·lula, col·laborar, col·lecció, excel·lent, il·legal etc. Esse fenômeno de estabelecer uma zona de contato entre o campo etimológico com os campos ortográfico e fonético nos suscita pensar fios que partem de distinções para compor complexas redes de procedimentos que implementam eficazmente processos em um trabalho, mesmo que essas fontes se contradigam ou advenham de polaridades opostas. As idiossincrasias tributárias e, portanto, completamente parciais de cada campo repercutem na necessidade acionada, por sua vez, contínua e irremediavelmente faltante. Grafar a duplicação de uma letra preservada do passado que indica um alongamento consonantal, em distinguindo-a de outra duplicação ortografada idêntica, porém não foneticamente, converge para ações implementadas mais ou menos objetivas de se chegar às vias de fato. Ser capaz de coincidir ao arranjar surpreendentemente entre essas letras espelhadas um ponto flutuante, suspenso, errático e voador como uma mosca indecisa, ao mesmo tempo que ter seus efeitos eficazmente demarcados por tal distinção de maneira firme, pausada e focalizada ao desenvolver obstinadamente para as máquinas de escrever — no território da catalonofonia — uma tecla tipográfica só e única, produzida especialmente para a L·L é a imagem construída aqui para circunscrever poeticamente as interioridades dos inúmeros funcionamentos de um procedimento. Quando ao serem acionadas ferindo o papel, marcam de uma vez e em um golpe só — com o tipo móvel protuberante geminando um acordo — uma lei de escrita pela diferença, uma mesma origem, porém geminada, uma partitura de um som perdurado.

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A ficção se leva no bucho: e é de lá que se tira³ Fercho Marquéz-Elul

³ Para a compreensão da ficção e narrativa provenientes de objetos côncavos, como bolsas, mochilas, de ações como coletar, guardar, em detrimento de um entendimento tradicional de origem a partir de objetos duros, pontiagudos, da guerra e da força, vinculadas ao masculino, ver Ursula K. Le Guin: A teoria da bolsa de ficção, 2021.

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Em VENHA, apesar das proposições serem lançadas a todas, cada pessoa se engajou de uma maneira muito particular. Mesmo com a coexistência das presenças durante os encontros, os compartimentos causados pelo meio virtual impediram o compartilhamento dos procedimentos instaurados por cada um, bem como, a impossibilidade de partilha entre as participantes dentro do escopo da disciplina de suas explorações produziu o novo solitário, muito circunscrito ao processo pessoal de cada um, íntimo demais. Simplesmente juntar um fragmento dessas experimentações em uma publicação, mantendo essa exposição solitária não parece aceitável. Pôr em perspectiva a prevalência de alguns através de alinhamentos por semelhanças de diferentes produções aporta talvez uma tentativa de propor um diálogo aberto que não aconteceu entre as pessoas participantes para a apreciação das pessoas leitoras. Através de chaves de agrupamentos, tais ‘quebras’ em certos nichos é mais do que nunca – e quem a ler precisa estar preparada para isso – uma montagem. Um artista ocupar um certo nicho de maneira alguma inviabiliza sua acomodação em outro ou mais nichos. Através do contato com as obras selecionadas, através da leitura das pistas que cada artista deixou, e muito também através das experiências pelas quais eu me deixei levar, propus seis nichos, em que virtualmente essas produções serão postas em relação crítica. Cada nicho é intitulado com uma palavra ou frase apropriada por Mariana Corale em seu trabalho Linha 0200, de 2021, produzido em bordado, aqui presente nessa publicação. Venha dá duplamente o nome à publicação [VENHA], mas também a uma das 6 chaves de procedimentos [Venha]. Tal nome mantém em seu sentido nuances de uma duplicidade ao se abrir ao convite — venha..., que por vezes se torna um imperativo — venha!, mas que também repercute um sentido de promessa, de desejo, de dúvida que nos presenteia em um possível futuro — que eu, tu, você, ela venha. Essa ação – segundo os usos do modo verbal subjuntivo – só pode ter lugar de suceder sempre a depender de uma outra ação anterior. Venha não aconteceria sem as reações poéticas de cada um em relação ao programa disciplinar. Venha não acontecerá sem que os trabalhos estejam em situação de experiência com os leitores, já que VENHA também lança um convite para comunicação entre os trabalhos. É nessa frágil promessa de relação que cada trabalho se fortifica, propondo-se mais que nunca a que cada leitora se ponha no lugar (da ficção) do outro, que calce (as escritas de) seus sapatos e percorra seu caminho com um pouquinho de narrativas, palavras e imagens no bucho. 20


Venha

Aqui em Venha, conjuga trabalhos que possuem um investimento enfático na mensagem, em seu conteúdo, sem desprezar o meio através do qual se dá esse fluxo. Esse proceder poderia servir para as demais chaves procedimentais, contudo, apenas aqui a imagem verbal deslinda uma conversa direta com a leitora, pois há tanto o que falar e a fala a ser dita se dará como elemento central. Nesta chave fica visível o compartilhamento de um investimento em uma produção poética cujo conteúdo e forma se indistinguem, em que a maneira de dar à vista a obra é o seu próprio dizer. Dariane Martiol em 7 de setembro, vai adentrar especificamente nas tramas políticas do Brasil contemporâneo, no qual fanatismo patriótico tomou como tentáculos todas as esferas do social, do ideológico, estruturando a ruína contínua do Brasil como democracia. Para responder a esses revanchismos excludentes e fascistas, Martiol lança mão do jogo imagético para buscar brechas: através das quais possa penetrar encontrando algum respiro, bem como, estrategicamente ser capaz de circunscrever, através do jogo irônico, em uma experiência reflexiva, todas essas pessoas de bem armadas e aderidas a essas ideologias de poder para que sejam confrontadas com contestações e questionamentos do que seus projetos de desejos representam a exclusão para os demais. Em frases e imagens, Martiol engendra uma reorganização imagética ao jogar com os dois significados de pau: o do discurso de bem, significando galho, pedaço de árvore e o do discurso desviante da norma, significando aqui, por sua vez, pênis, rola, pinto. Do cassetete da ordem militar imposta e assassina ao dildo do desejo liberador recalcado, sua obra propõe bifurcações que age como um trabalho no mais profundo da mente humana, onde as categorias estão sempre trocando de lugar, tornando-se uma contra-arma de confusão e desestabilização de categorias como ordem, progresso, patriotismo, cidadão de bem. Francela Carrera em sua obra Vacuna/ Vacina dispõe no palco da sobrevivência contemporânea dos últimos anos – as unidades de saúde, as filas de vacinação – um letreiro de neon. Carrera neste gesto mínimo, estira as separações do que é material e imaterial, ao tornar físico e presente uma

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mensagem através da luz, fenômeno imaterial. Mensagem e conteúdo são também concentrados como um ponto de atenção, cuja mensagem é relembratória, posicionada e desejante. Tal palco da sobrevivência contemporânea é também um espaço político a ser intervindo, ao iluminar a lembrança da luta por direitos humanos, também lança a luz para a própria violação sistêmica posta em curso. Maurício Bittencourt em Para todos os garotos que não me amei, raqueia as normas heteronormativas das relações humanas exploradas em filmes adolescentes ao inserir em postais como elemento central sua vivência LGBTQIAP+, ainda pouquíssimo representada no entretenimento. Em seus postais, agora não é o homem heterossexual que falará, mas o gay, a bicha, o boiola, o baitola. E será esse sujeito que tomará a palavra e direcionar uma resposta-restituição aos sujeitos opressores. Em seus cartões, Bittencourt se apropria de imagens estereotipadas da vida padrão branca e heterossexual higienizada que lotam os bancos de imagens da internet e inscreve tal frase que intitula seu trabalho. Em uma outra possível chave, seu trabalho enriquece o debate interno sobre as pressões estético-afetivas sofridas como comunidade minoritária tão pressionadas para uma alta-performatividade do amor plenamente correspondido.

Octaedro

Octaedro nos abre como chave procedimental para a produção, criação, fundação de elementos, existências, lugares ou mundos que anteriormente não existiam. Como um objeto geométrico composto de diversas faces, Octaedro refere-se a essas criações cuja existência é estabelecida pelo engajamento criativo em construir do zero ou a partir de poucos elementos uma ambiência, um lugar no qual habitar.

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Angelica Neumaier produz em Criaturas imaginárias, um conjunto de seres, nas suas palavras criaturas, de um mundo intermediário, no entrecruzamento da referência artística já existente com a inovação processual, da anunciação do novo que surge com a homenagem ao velho que morreu. Suas criaturas propõe uma nova taxonomia pessoal, onde tais seres concorrem sua existência entre o mundo vegetal e o mundo animal, escapando à captura, à domesticação. São seres que ocupam o lugar, mas concomitantemente, são seres quase invisíveis, que deixam apenas suas bordas delinearem-se. São massivos mas leves ou vazios como fantasmas. São traçados na folha do papel, mas são pregados pelo bordado nos subterrâneos do suporte. Talvez seja a maneira de Neumaier de fixar uma impressão da passagem desses seres. Menos que acorrentados ao nosso desejo, são mais próximos às pipas que só funcionam quando estão em pleno voo, distantes da gente, apenas ligadas por uma fina linha, a da ficção. Ao criar tais seres, Neumaier lança também frases de protesto. A destruição é contagiante, se alastra como queimada, como descaso. Quais respostas você dará para suas perguntas? Em Vazio eloquente, Edson Vieira irá habitar sua escrita nos entremeios do que parece nada conter em um vazio. Ao desavessá-lo, trará através da ficção reconstutiva ocupações que passam a preenchê-lo. Vieira não os preenche por horror ao vazio, muito pelo contrário: preencher vazios, para seu trabalho, é habilitar nessas lacunas o não dito, o não dado a conhecer. O artista se embrenha na biografia da fotógrafa estadunidense Vivian Maier – marcada por lacunas, vazios – e ‘interfere’ nas documentações do arquivo fotográfico da artista, guardado por muitos anos ao abrigo dos olhos das pessoas. O que tais pessoas possuem de anônimas nas belas imagens em preto e branco de Maier, num realismo massacrante da vida metropolitana, passam a participar desse arquivo implementado, mais do que apenas personagens com seus nomes, suas histórias profissionais. Tornam-se personalidades, quando, ao serem protagonistas, passam ao se tornarem uma outra coisa. Tornam-se, mais que nunca criaturas surreais: o inquietante se desprende dessas páginas amareladas, desses relatos personificadores e se concentram nessas figuras flagradas, cujos rostos – uma área corporal humana capaz de nos reenviar à nossa imagem reconhecida de humano – passam a ser embrulhados nos mesmos tecidos de suas roupas. Vieira põe em foco tais existências anonimizadas, dá-lhes uma escrita para suas experiências, mas também retira, ao mesmo tempo essa identificação de humano, profundamente. O artista sabe que a experiência humana nas

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grandes metrópoles agencia essas ações paradoxais tão empreendidas em seu trabalho: no fluxo pela vida perto do capital [palavra proveniente de cabeça, em latim], a necessidade faz todos virem uma massa só, anônima, mas ao mesmo tempo, para participar dessa agremiação, é preciso ser identificada, fichada, apresentar crachás e credenciais, cartas de recomendações, capturar as digitais. Para ser alguém na massa, é preciso que toda sua documentação acumulada pelos sistemas de supervisão e vigilâncias seja vasta. Você só é, se você estiver arquivado. Em O mergulho, a partir de uma frase dita por Carl Gustav Jung a James Joyce sobre a filha deste: “Mas onde você nada, ela se afoga”, Isadora Cunha não irá somente adentrar esse espaço-armadilha, que é o dos processos de produção da obra de arte, mas profundamente fará sua personagem habitá-lo concretamente. Ao produzir uma fisiognomonia do mesmo, que ao invés de se afogar – como o destino traçado pela perversão masculina queria – irá adentrá-lo, habitando-o e produzindo ali uma vivência, um demorar-se. Ao se habituar à especificidade do meio poético – pensado sempre como um nãolugar, um espaço de passagem apenas, impossível de habitar ou mortal para a psique – Cunha habilita-o através de um acolhimento do próprio eu interior transformando-o por sua vez, em um eu poético, lírico – só esse tipo de eu, o lírico, que tem essa potência em tornar esse espaço insalubre em uma morada possível. Esse espaço é estruturado pela materialidade da cor, por sua fluída liquidez, único estado da matéria capaz de tornar-se sonho. Já Marta Martins, em Restaurante oriental, lançará mão de narrativas cujos detalhes perspicazes se salientam na estrutura de um ecossistema ordinário e – apesar de oriental – homogêneo. As personagens são essas moscas varejeiras, incansáveis, de cujo som berrante, mosmam4

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vivazes o cotidiano relacionado ao comer. Ao mesmo tempo, suas personagens coloridas tornam possível, durante a narrativa, o lugar de ser de tal espaço. Nesse espaço não se come, apesar do bufê recheado de pratos saborosos à mostra, nem se sabe quais iguarias estão servidas. Pouco sabemos da cor carcomida pelo tempo do estofado das cadeirinhas ou do pano de mesa, se há decoração com leques abertos com uma paisagem da Ásia. O que Marta Martins serve são as personagens, ou melhor, a cobertura exterior de seus corpos, de suas ações. Ao mesmo tempo são como pasteis de vento: ricamente elaboradas por fora, mas esvaziadas por dentro. Seu preço é indicado pelos elípticos prenomes de tratamento. Criativamente, os personagens são como moscas volantes perante nossos olhos: nos chamam a atenção, nos inquieta. O restaurante e seus pratos são naturezas-mortas: as iguarias não são para degustar, são para se ver à distância. Ora parecem películas de comida que se 27


insinuam, mas que parecem esvaziadas e transparentes por dentro, ora parecem comidas passas, cristalizadas e desprovidas de água, vítrias e secas na cal virgem. No mais cotidiano irreal possível da ordem. Tiago Herculano da Silva produz Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Formas de Narrar cujo enredo é o de uma arranha concorrendo com um homem por uma bota. Do argumento desse confronto, nasce o desfile que sai apresentando todos os elementos da escola de samba, com suas cores, suas existências fantásticas, sua plateia. O desfile estabelece a própria narrativa com a apresentação dos personagens, com seu posterior confronto, mostrando suas consequências monstruosas. A unidirecionalidade do desfile comenta a própria estrutura narrativa clássica, onde as consequências vêm após os acontecimentos. Tiago nos faz retornar à mente os modos clássicos de narrativa, desde o teatro até o cinema mudo.

Ninguém tem porque saber de nossa vida [...]

Nesta chave, é estabelecida uma espécie de cartografia das vivências mais íntimas em relação ao mundo proximamente redor. Deslindam situações específicas que tomam uma dimensão completa ao, de maneira confessa, proverem vozes escritas que toma pela mão as pessoas leitoras e as convida, mesmo que não queiram, mesmo que não esperem por isso, para que adentrem essas vivências. É premente nesses inscritos um conjunto fragmentário e narrativo que vai – ao falar sobre o outro que também pode ser o eu, ao falar sobre o eu confessional que também é o eu na escritura – a medida que em que se salta a narrativa à vista, mesclando o eu que é lírico como o eu que é leitor. Conseguem de maneira muito sutil, mas de feito concentrado, essa façanha de fazer quem lê parecer ser quem narra ou por quem é narrado.

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Joviana Jensen em A moça do banco de praia, através de uma escrita corrida, porém muito entremeada de uma ficção confessional nos transporta para um lugar no qual se dará as diversas ações, que por parecerem corriqueiras, nos atinge desarmados. Os sucessivos desenrolarem nesta praia vão como ondas, sobrepondo-se na rapidez com que sua escrita permite o deslocamento da leitura. Quando vemos, estamos enredados entre suas palavras cujas frases se transformam em juncos e elementos flexíveis no qual nos carrega. Há essa correnteza de escrita na qual nossa atenção receptiva nos conduz e que nos aprofunda narrativa adentro. Por momentos suas imagens esmaecidas, porém radiculares, rebate nosso olhar aumento uma experiência de doce afogar. Sua escrita nos afoga na narrativa, sua escrita nos carrega como correnteza. Vivemos um momento único, à beira mar, ou já dentro do mar, entre o pôr do sol e o esmaecimento de um estado de atenção em prol de uma melancolia onírica. Na obra Escritas de atenção ao ordinário, Rafaela Martins promove uma abertura para as vivências próprias, outras nem tanto, outras que qualquer pessoa poderia ter. Fá-lo assim, de uma forma que nada é indigno de ser dito, não há vergonha nem descompromisso com qualquer situação que seja. Tudo é importante, não pela situação em si, mas pelo olhar que a escritora lança sobre aquilo. Martins não tem medo de escrever o que tem que ser dito: nenhuma palavra está fora de lugar. Elas são o lugar, elas estabelecem a forma ficcional desse âmbito. A artista mais que nada está porosamente receptiva aos momentos. Sua atenção em capturar e inscrever no contexto narrativo as vivências misturam vivência pessoal e vivência exterior, a acidez das crônicas juvenis e com a docilidade da memorialística dos mais velhos. Já em As tais fotografias, Gerusa Bloss lança mão do uso das imagens como elementos comprovatórios do que narra. Esconde em uma história corriqueira, do dia a dia enchafurdado em esquecimentos por ser elementar demais para ser talvez lembrado, a articulação de um profundo gesto de ficcionalização que se faz enfaticamente real, brincando com as aparências do que é fato e ficção, categorias que dentro do reino do íntimo ou confessional se dissolvem ou se entrecruzam ricamente. Suas imagens e escrita possuem uma frontalidade que impede qualquer tipo de aprofundamento que enseja uma leitura de que poderia ser uma laboriosa montagem. Faz na produção poética o que uma perspicaz arqueóloga do cotidiano é instada a fazer: dissolver sua presença no cotidiano, passar despercebida por esse quadro anódino, tornar-se cotidiana refletindo-se o olhar do outro para o mesmo outro, essa grande ficção diária. Pois que para 29


compreender profundamente o que chamados de cotidiano, – essa cota de dia em que se repete nosso contrato de pensá-lo como sempre igual – é necessário parecer cordial demais, cartorária demais, superficial demais. Entrar profundamente na intimidade ou no cotidiano é tornar-se apagada um pouco, é transformar-se um pouco naquilo que se observa atenta, para que tal cotidiano íntimo não se altere, fuja ou se camufle quando pego em flagrante. Para que o encontre irremediavelmente desarmado. Na escritura de L. Hansen em O quarto, as reflexões à queima roupa vão corporificando o passar dos dias, nos quais uma voz em primeira pessoa circunscreve em suas vivências os fragmentos de uma interioridade não apenas física, mas também subjetiva. O quarto se torna o próprio procedimento de escrita: enquadra em um conjunto fragmentos claudicantes de notas calendárias das vivências de si e dos outros. As lembranças são inseridas e deslizadas, iniciadas e interrompidas. Uma narrativa é implementada dentro de uma outra através de uma fala itálica. Hansen vai entre os objetos da interioridade escrita produzindo exterioridades: imagens dadas à leitura, delicadezas deliciosas, pensamentos formulados no solitário de um espaço feito de objetos apenas que não julgam jamais. Os objetos confidenciam esses pensamentos erráticos, são feitos propriamente disso: atravessadores por línguas diferentes, por pensamentos e vivências diferentes, por gêneros textuais distintos, pela cacaria da vida em pleno desenrolar.

Mil e uma noites

Em Mil e uma noites, as imagens e as palavras, menos que se obliteram por si mesmas, fundem-se indissociavelmente em uma coisa ricamente completa. Há um procedimento de sobreposição e principalmente de interposição de elementos no qual imagem verbal passa a carrear funções pictóricas e imagem não verbal se lança uma escritura por presença, ocupação, porque tais categorias são rearticuladas como em um palimpsesto, ora com suas camadas que transparecem – por diluição – umas às outras, quando uma em 30


estando abaixo da outra, lhe dá suporte, como também é um aporte contribuidor, ora possuem suas camadas bem demarcadas como os processos tradicionais de colagem, onde uma camada faz frente e sua inferior, fundo. Outra relação importante é a natureza eclética das imagens fundidas postas em relação, provenientes das mais diferentes origens, desde as de autoria demarcada até a desconhecida, desde o âmbito preservado da memória até as situações do acaso, desde a imagem sagrada até a imagem profana.

Andrey Parmigiani, em Cola, lança sobre a imagem apropriada de Vivian Maier a rede da ficção e da invenção. Rede aracnídea ou de pesca, captura a imagem ao mesmo tempo em que a deixa em destaque. O que ela transparece é uma imagem cujas personagens estão fragmentadas, anônimas. Sobre essa situação peculiar – que ricamente Parmigiani consegui cobrir a imagem, concomitantemente, consegue também descobrir a imagem em sua potência pictórica – fragmentos da memória se estendem à deriva sobre essa imagem que se esmaece. As situações, eventos ou acontecimentos precisam esmaecer um pouco na memória para que uma rica fragmentação possa permanecer ricamente destilada, depurada através do fato, mas também da ficção, principalmente. Em Havana Connections Katiana Rocha Machado fabula conexões narrativas imagéticas a partir do trabalho da fotógrafa estadunidense Vivian Maier que se interconecta com as imagens do fotógrafo brasileiro Alceu Bett. A ambiência nova-iorquina em preto e branco em Maier é atravessada pelo multicolorido de Havana, a capital cubana. Nem um simples gesto em que ao aumentar a transparência da imagem e, portanto, da própria cidade metropolitana, Machado permite que a cidade de Havana penetre com suas arestas ricamente protuberantes – dando a ver a fatura de desinvestimento causado pelo histórico bloqueio estadunidense do país capitalista sobre o país insular comunista – o skyline e a cultura da mais rica cidade do mundo. O passado encapsulado pelas lentes da estadunidense convive com o cotidiano presente dos cubanos encapsulados pelos sistemas econômicos, ambos falidos. Como uma flaneuse claudicante, como em um sonho, no qual fundem-se cidades, situações, Maier passa a perambular pelas vielas de Havana, trazida dos anos 1960 para a década de 1990, é um fantasma e tudo que toca com o olhar vai diluindo sua forma em uma transparência líquida, mundos distintos em uma grande informidade que todas as grandes cidades

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– as de poder econômico e as de poder cultural – têm comum. Priscila Hayashi aproxima elementos que possuem uma mesma origem em Os contos das coisas: provém de sua memória afetiva, compondo seus arquivos de vivências. Mesmo provendo dessa mesma origem, tais elementos possuem materialidades dissemelhantes e pendulares: textos e imagens, manchas do tempo e linhas escritas, geometrias decupadas e organicidades registradas, arquitetura e natureza, imagens herdadas e imagens apropriadas, racionalizações e subjetivações, seleção e acumulação, corte e colagem. Ora os elementos recortados mascaram partes do fundo, ora o fundo se serve de frente para ocultar partes mais profundas da imagem. O idioma japonês dos jornais contrasta com os escritos diários [journals], pensamento de um mundo infantil expecta uma compreensão do mundo adulto. A memória tateada, decupada, montada ali tenta dar conta do que sempre sobra do que não existe mais. Símbolo não apenas da lembrança, mas também do tempo quando os maiores estavam vivos, a casa se encontra não desmontada, mas desdobrada de sua forma original, para fora, aberta pelo vendaval da reminiscência, a casa introspectada pelo que sobrou. Hayashi pensa índices da memória como arquivo como casa. Preenche a planta da própria arquitetura de sua casa como memória, em um desejo por montá-la, por reerguê-la, por reconstituir o que sobrou. Nas colagens Era muito normal e atenta/ estava com a cabeça onde deveria estar de Gabriel Villas, elementos mundanos são sobrepostos sobre a superfície da página. O suporte não pretende fundir tais elementos díspares em uma coisa só. O gesto de aproximá-los e de colá-los à folha é forte, pois força as existências específicas de cada elemento – texto, fotografia, animais etc. a não apenas conviverem entre si, ou melhor, serem simplesmente aproximadas, mas principalmente ejetar uma fatura lacunar e fragmentária de cada um. Tais partes são aplastadas na visualidade bidimensional, como se Villas ao escanear tais assemblagens, estivesse comprimindo esses elementos espessos em uma finura sintética. Interrupções, recortes, ocultações, camuflagens, encriptações, restos, marcas, resíduos, transformação de presenças humanas em objetos temáticos. Em seu trabalho há toda uma ejeção da experiência para o extracampo da imagem. Há algo que está fora que influência o que está sendo visualizado, conformando efeitos, sem saber as causas. É preciso pôr a cabeça em outro lugar para entender a própria sensação perante tais imagens enigmáticas. O texto mantém sua insularidade perante os demais elementos, mesmo conjugando similaridades temáticas. Ele não retifica qualquer imagem ou colagem, ele está ali, estranhamente familiar, querendo dizer que qualquer compreensão 32


do trabalho se estabelece não tão-somente em um para-além-de-algo, nem tão-somente para-aquém-de-algo, mas na própria indistinção perturbadora entre dentro e fora, entre leve aproximação de partes distintas e sua brusca junção, entre extracampo e intracampo imagéticos, entre exposição e ocultação, entre colar e p(r)ensar.

O vinho [caiu] como uma luva

Nessa seção, O vinho [caiu] como uma luva há a prevalência do que poder-seia chamar de rito: o trabalho do fazer se estabelece já de início em uma maneira particular de fazer. Claramente procedimentais, tais produções se engajam a partir da própria ação que está atenta a suas regras e normas internas que tornam cada processo coerente. Mais do que nunca, o modo de se comportar diante do fazer subjaz em cada trabalho esse estado de atenção, que, por sua vez, constitui seu teor artístico que nos reporta a um processo. Esse conjunto de artistas registra a rica e polissêmica produção em que o que está feito, produzido, faturado, exibe o próprio transcorrer dos procedimentos empreendidos, das ações perseguidas e às quais também se reage. Ver tais trabalhos é ver no objeto ‘finalizado’ o processo constantemente sendo feito e paradoxalmente ainda por fazer, sem fim. É estar diante de um motor que espelha o processo vivo, o luto que discorre inevitavelmente, os afetos que se impregnam em nós, o que há de físico, porém também intangível nos materiais do mundo.

Em Tornando-te lembrança, Mauricio Igor apresenta em frames o que está perpetrado em vídeo: uma mão lança dentro de um recipiente com água uma pastilha que se efervesce pouco a pouco, dissolvendo a palavra ‘tu’. Gesticula uma reflexão atenta sobre o dentro e o fora, sobre o que consiste o eu em relação ao tu. Propriamente, o artista consegue no campo de visão de si, no fora propriamente falando, experimentar [fazer um experimento] o tu, pondo

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-o à prova em um receptáculo aquoso que metabolizá-lo-á, para que só então inescapavelmente o eu possa finalmente digeri-lo, constituindo nossa eudade [nossa categoria de eu] sempre a partir da alteridade. Os humanos-eu são famintos de outro, de humanos-tu, daquilo que e daquele quem não é abismalmente eu. O eu se constitui nesse desejo de digestão saciável do tu, em que incapaz de tragá-lo completamente, intermedia processos externo a ao mim, de quebras em partes menores, em desnaturalizar a forma que constitui a alteridade para que se torne algo tragável, algo da ordem do informe, da partícula suspensa na solução, do físico e existente e do fantasmático e mutável. Sempre que a constituição do eu não anda bem das pernas, o eu solicita a busca pelo tu para que possa digeri-lo, aliviando a dor de cabeça pela ressaca ou a indigestão da vida, tudo isso feito em pequenos gestos, delicados e deliciados. Juliana Silva, em O revés de um parto, parte do luto para exercitar na escrita fragmentária e na visualidade que ela suscita a fabulação esmiuçada em uma narração entremeada por vivências e invenção. Esse é a característica mais potente do luto: continuar a viver revivendo o passado, o, reviver o passado é viver também. Isso tudo como parte do aparelhamento inventivo da memória. Silva traz para as pessoas leitoras ou vedoras, amostras de cabelo de sua mãe, agrupados em sacos plásticos transparentes. É a coisa mais física e persistente possível pertencente a sua mãe: dentro dos saquinhos, formam uma massa escura de nuvens negras ou de novelos de fios entremeados em vida daquela que não existe mais. No entremeio de sua concentrada escrita, asteriscos [pequenos astros] vão pontuando como paradas e retomadas, como pedras tipográficas, como cravos que dificultam a vida e que machucam transparecidos na profundidade da inscrita. Nas imagens das amostras capilares, fortemente -ex-votivas, aqueles duros asteriscos se amolecem nessas massas atmosféricas, mas também astronômicas: pequenos astros amolecidos, entre nuvem e meteorito, entre esfumaçamentos e estrelas cadentes responsáveis pelo mais impossível ato de realização de um pedido de amor. Mariana Medeiros em Outros tempos se posiciona no centro da imagem fotográfica em que cabisbaixa mira objetos que segura. O local onde se encontra está aniquilado pelo profundo preto. Medeiros está no centro dos espaços cuja vacuidade inquietante processa sua presença à medida que manipula objetos. Esses objetos nessa experiência engajam uma rememoração das casas nas quais vivera. Rosto, cabelos e tronco encontramse bem afixados na fotografia de longa exposição, contudo, suas mãos e 34


braços, em contato com os objetos, fissuram a imagem parada ao desdobrar não uma pose que exibe algo ou mesmo uma posição, mas uma disposição da relação íntima entre artista e seus objetos. Em tais registros, para a artista os objetos invocam propriamente memórias e Medeiros articula muito bem essa complexa experiência mnemo-estética com os elementos que constituem a fotografa. É como se os objetos perdessem sua materialidade, suas fisicalidades que os definem como tais e tomassem para si esse aspecto radiográfico, fantasmático, de algo que existe, mas que só se capta sua energia evanescente. A mão – essa parte do corpo privilegiada que fisicamente entra em contato com as coisas do mundo interno e externo – é o verdadeiro dispositivo que engendra após o contato a impressão, a marca, o registro da experiência de contato na memória. As mãos são terminações físicas e mecânicas à apreensão das coisas, mas são também terminações nervosas articuladas, que arriscam até a área mais exterior ou protuberante do ser humano a semente da sensação. Risco que vale a pena correr: Mãos, braços e objetos perdem materialidade, finalmente, e tornam-se a própria representação das estruturas da sensação. Essa presença de ausência, esse desvelar do que está por trás ou por dentro das coisas e das nossas relações aumenta o fascínio dessas imagens sóbrias, melancólicas, mas também compenetrada e extremamente fascinantes, como os primeiros brinquedos, como os primeiros trupes de mágica. Na série Nem tudo é matéria] [bruta nem tudo, Odete Calderan labora, a partir de espaços que lhe instiga uma relação, uma exploração crítica de suas camadas subterrâneas. Escolhe, demarca-o, passando a escavá-lo. Coleta materialidades e surpresas, anota as sensações, os pensamentos que advêm do processo. A partir de algo físico, natural e impessoal, Calderan reabilita através da ficção que toda invenção humana estabelece tais lugares para que façam surgir o profundo sentido fora da razão. Procedimentos constituídos de ações ordenadoras como listas, coleção, agrupamentos sobrevêm a nós no poder fascinante que o mais simples gesto concentra os maiores significados. Capturar um pedaço do mundo, amaciá-lo, moldá-lo, prensar entre as mãos, dando formas aos desejos é pôr-nos na ambiência da produção criativa concentrada nas experiências infantis. Gestos que futuram o desejo esculpido, gestos que passam o desejo reprimido em busca de intervenção. Gestos que instruem a materialidade, gestos que constroem formas ao destruir a instância da matéria intocável. Criadora de peças anacrônicas que apenas artistas são capazes de conscientemente produzir, suas massas estão entre o material bruto como algo preparado em si mesmo e uma modelagem

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sempre por fazer, entre uma arqueologia prematura e uma escatologia atualizada. O que estava escondido sob a terra – argila, barro húmidos – se mostra à vista, o que estava na palma da mão – uma pedra bonita – é divertidamente soterrada.

Procedimento

Na última chave Procedimento, discorre-se sobre obras quanto a seus meios justificarem seus fins, em que o modo de fazer é concomitantemente o seu modo de ser. Nesta chave, há uma relação premente entre um volumoso corpus de escrita e a solicitação de imagens, seja as produzidas pelas artistas, seja as apropriadas de bancos de dados, da extensa produção da fotógrafa estadunidense Vivian Maier ou até mesmo de acervos digitais. A escrita desemboca em um prolongamento a partir dos procedimentos que cada artista prospectou: se a partir de uma imagem, produz- se narrativas, se a partir de uma vivência, compõe-se uma imagem. É muito importante a potência narrativa das produções gráficas que coabitam o mesmo espaço da imagem não verbal. Essa potência também promove um deslocamento, um deslizamento da experiência de leitura, transpassando as imagens não verbais rumo a um trabalho de imaginação interna em que o texto é degustado na mente. Mais do que narrar sobre as vivências pessoais, tais produções estabelecem novas criações sobre a vida do outro. É na vida do outro ficcional o rearranjo do desejo criativo do eu pessoal.

Janaina Ramos Marcos em Um café e um conto estabelece uma relação estratégica entre seus escritos e as imagens que seleciona para compor uma conversa. Alinha um conjunto diferenciado de gêneros textuais como o conto, como também um pequeno poema – joia preciosa e reflexiva sobre o luto – , ao mesmo tempo que exibe uma seleção de imagens apropriadas de acervos 36


digitais. Seu trabalho pendula entre o real e o irreal, em que a hiper-realidade de certas narrativas são estremecidas pela presença do próprio teor ficcional presente em toda narração, insinuando uma irrealidade, muitas das vezes. A artista acena em seu trabalho para um leve acesso para fatos pessoais verdadeiros, outras vezes parece parodiar histórias ou contos populares reais ou não, trazendo-os à baila na própria verdade que há em toda narrativa. Vêse em seu trabalho um esforço exercitado do contar, inscrevendo nessas relações pendurares um jogo decidido entre artista criar histórias e visitante crer no que lê e vê. Em Membra disjecta: um extrato em quatro histórias, Fercho Marquéz-Elul aproximará narrativas a fragmentos de imagens apropriadas da artista Vivian Maier. Ao deslocar do contexto poético da artista, Marquéz-Elul trabalha a imagem com o objetivo de desnaturalizá-la de sua origem, investindo em seu resíduo novas relações ficcionais. Parte do que já existe de imagens do mundo para desdobrar em imagens outras através da narração. De uma pequena parte de um todo, de um pequeno fragmento, escoa uma torrente de contos breves que subvertem a partir desse pedaço de imagem – ou dessa parte focalizada, dada à vista, posta em destaque – o próprio todo da imagem que ficou de fora do processo. Em outra ocasião, articula a partir da própria fotografia de fragmentos físicos de objetos pertencentes à eventos históricos da cidade, um engendramento ficcional escoante: se imagem verdadeira ou factual, o artista gera outras imagens imprecisamente verdadeiras e com alto grau do que é desfactual, desfeito ou defeituosos. A apropriação é o procedimento costurado de Mariana Corale em Linha 0200. Partindo da obra Octaedro de Julio Cortázar, Corale seleciona palavras e frases que passam a ter uma nova vida protagonizada em seus bordados. Tais fragmentos são costurados em uma lenta degustação de uma atenção, ruminada em sua dicção semântica. Rompidos da obra completa, são apresentados diretamente para a leitora a partir a presença inequívoca que passa a habitar o tecido. Exceto um bastidor que coa uma frase espelhando as escolhas artísticas da artista, de sua relação com o poder concentrado das imagens, a maior dos trabalhos aqui apresentado também conjuga como suporte dessas palavras-de-ordem do reino da criação pedaços de panos os mais recortados possíveis. Esses fragmentos de tecidos se interpõem ao nosso olhar ao serem estendidos à frente do mundo cujo suporte é o maior que existe. Sozinhos, frases e palavras estão abertos à baila, à relação crua a partir dos parâmetros mínimos e despojados que uma palavra que se tornar mais que física, propriamente procedimento. Esses elementos verbais 37


costuram o desejo, a vontade, mas também a agressividade do recorte e deslocamento das palavras de sua origem. Ao mesmo tempo, o quanto esse gesto tem de liberador: ler o escritor ao mesmo tempo que o subverte um pouquinho, que não aceita sua autoridade completamente, que ao invés de ficar calada, fica arremedando-o em suas próprias palavras, mas com um toque de ironia ou de melancolia. Corale pinta e borda, come pelas beiradas, dando-nos essas palavras, mas também suas cores, suas tipografias bordejantes, o bastidor que estica e assim o mantém, todos os furos escondidos atrás no forro, o desenho desorganizado, porém lógico do ofício. Finalmente, em Verão de 1950, Suzimara Regina Batista Rizzo utiliza diversas fotografias de Vivan Maier para dar uma consistência para narrativa que se desenvolve na avalanche da grande cidade, levando consigo uma escrita que se baseia na experiência de personagens individuais, com forte psicologismo e drama interior que pode se relacionar inequivocamente com quaisquer pessoas em uma coletividade. Adentramos ao recinto dos pensamentos da personagem, nas vielas da indecisão e do descontentamento. É como se experienciássemos o quadro, não hiper-realista de algumas obras da pop art estadunidense, iniciada seu germe nos anos 1950 e que eclodiria logo depois, mas hiper-subjetivo ao desprender à leitura os resíduos do pensamento, dos produtos psicológicos que a grande cidade também era capaz de fazer seus habitantes produzirem, consumirem e descartarem nos calabouços do inconsciente.

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Restaurante Oriental

A Sra. M em sua rotina de caminhada diária de 10 quilômetros avista na direção contrária o Sr. R e pensa: “lá vem ele de novo”, então acelera o passo, cumprimenta o senhor desajeitado que se dirige a ela de forma um tanto abrupta - com um “boa tarde” e segue adiante. A sra. M costuma almoçar sozinha no Restaurante Oriental de propriedade da Sra. E. A Sra. E é uma oriental muito simpática, que resolveu um belo dia apresentar o Sr. R (provavelmente a pedido dele) à Sra. M, dizendo a ambos: “o quanto eles são maravilhosos e o quanto deveriam conhecer um ao outro”. A sra. E desconhece os hábitos, gostos e preferências da Sra. M que, suspeito, deva desfrutar muito bem de sua própria companhia ou, quem sabe até tenha uma vida sentimental intensa, porém discreta e resguardada. Mas a partir daí, o Sr. R sentiu-se autorizado a sentar na mesma mesa da Sra. M. Visivelmente o cabelo e o vestuário do Sr. R desagradam profundamente a Sra. M, mas isso é o de menos (a casca pode ser sempre extraída ou trocada, cabelos se cortam e roupas novas se compram ou se ganham), o pior é a fala alta, compulsiva e a falta de escuta do dito senhor. Isso sem mencionar dois dentes caninos de ouro que ele adora ostentar abrindo um sorriso largo e ameaçador. A Sra. M, parece preferir nestes tempos sombrios, condutas menos efusivas e mais circunspectas, e talvez acredite que a Sra. E fez bem em mudar de ramo - antes de ser proprietária e Chef do restaurante teve uma agencia matrimonial, mas ela é um péssimo cupido.

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O próximo pretendente sugerido à Sra. M pela proprietária do Restaurante Oriental- a Sra. E que como agora já sabemos, tem por hobby bancar o cupido de seus clientes- foi apresentar o Valdisney à curiosa Sra. M. O dono do nome peculiar é um homem de meia idade, mas que parece se achar ainda nos 20. Vejo a Sra. M observar em detalhes o estilo do Valdisney: o tipo que usa sunguinha branca na praia, sandálias franciscanas ou havaianas surradas e no inverno crocks com meias. Gosta de ir ao restaurante de regata, bermudas ou calças de cintura solta para revelar a cueca e o cofrinho, mas em ocasiões especiais ajusta os jeans com um cinto com uma fivela com um touro com cornos metálicos estilo cowboy. Gosta de corrente de ouro grossa e relógio de griffe mas usa boné com propaganda. Cheira forte a Rexona Men. Adora camisas polo da Lacoste em tons pasteis bem justinhas e fechadas até a gola. De vez em quando sai do recinto fechado do Restaurante Oriental para fumar um Marlboro na varanda. Costuma chamar as mulheres da sua própria idade de “tia”, e as jovens de “gatinha”. Tem uma Pick Up rural enorme só para uso urbano pois adora incomodar com ela nas servidões e ruas estreitas. Costuma falar e rir em tom alto com outros homens, mas principalmente com as mulheres. Gosta de ouvir sertanejo universitário e forró piseiro bem alto dentro da pick up. Defende o governo e toma Ivermectina e cloroquina para evitar a Covid. Pega mulheres com o truque de bancar Chef de Cozinha porque sabe fazer Strogonoff de frango com creme de leite Nestlé e champignon em conserva com batata palha, mas, a favor dele, ouvi a Sra. M dizer para a Sra. E: “ que a comida até que era bem boa!”

O Mansueto é um funcionário público aposentado e escritor nas horas vagas que também é frequentador assíduo do Restaurante Oriental. A Sra. E, como já vimos, é metida a cupido (ou cafetina) enquanto pilota as panelas do restaurante não resiste à tentação de sugerir apresentações entre seus clientes com o profundo desejo de ver encontros acontecerem. Então ela falou ao Mansueto tudo que sabia de positivo sobre a Sra. M, salientando o senso de humor, o charme e a inteligência. O Mansueto fica então na hora do almoço observando a Sra. M. falando entre os dentes: “Essa grisalha parece encrenca, mas é bonitona”. “Olhos de cigana dissimulada, rasgos de Capitu”, pensa ele buscando referência literária em Machado de Assis. Mas a atenção do Mansueto é subitamente desviada para outra cliente do Restaurante que acaba de entrar. Trata-se da Suellen, que Mansueto irá reparar nos próximos dias. É uma moça na faixa entre 25 e 30 mas que parece mais velha, simples, meio inculta e talvez meio cafona, (embora a cafonice seja uma coisa subjetiva). Mansueto acha ela extremamente vulgar, mas ao mesmo tempo sedutora e cogita um encontro. Quem sabe isso ainda possa lhe render alguma coisa. Ele nota que ela adora todo tipo de sandálias com pérolas, usa bota branca acima do joelho com microssaia estilo paquita e chinelos de praia com salto de plataforma alta. Usa muito cinto de elástico e tatuagens de henna porque, nas palavras da própria, “ainda não se decidiu a fazer algo permanente”. Anda sempre decotada, geralmente com blusinhas transparentes ou de renda estilo lingerie e gosta muito de babados. Usa maquiagem pesada no verão e shorts deixando à mostra a dobrinha do bumbum, gosta do cabelo bem alisado na chapinha com mechas californianas “feitas em casa mesmo, para economizar”, segundo ela mesma disse em alto e bom som no término de um almoço. De vez em 67


quando faz uns programas para aumentar a renda e chama os caras adultos como o Mansueto, de "bebê". Às vezes a Suellen costuma pedir carona portando uma lata de cerveja na mão e arranja muita confusão por conta disso. Apesar de sofrida (e o Mansueto está curioso pelas razões desse sofrer), é alegre e gosta de dançar sertanejo universitário e funk nas festinhas e é muito fã do Zé Vaqueiro. Ela tem gosto musical parecido com o Valdisney e nos últimos dias depois do almoço, os dois sentam juntos para tomar café e cantarolarem ao som de “Tenho medo” do Zé Vaqueiro, trilha sonora habitual do Restaurante. O Mansueto divide seu interesse entre a Sra. M e a Suellen, mas quem está de olho nele, muito interessada em ter uma chance para flertar é a dona Firmina, a já idosa faxineira do Restaurante Oriental. Dona Firmina ao pôr os olhos na Sra. M pela primeira vez, teve uma dessas surpresas de reencontrar alguém que conheceu muito jovem, décadas depois e mesmo assim reconhecer a pessoa. Num súbito golpe de memória ela viaja décadas no passado e vê a Sra. M. ainda adolescente no tempo em que ela também ainda era jovem e trabalhava de doméstica na casa dela. Dona Firmina lembra exatamente das impressões que tinha da Sra. M: “- Ainda bem que aquela moleca viajou na Rural Willis com o resto da turma para ver um tal de Rick Wakeman, um loiro cabeludo que ela tem um poster enorme no quarto e assim posso fumar meu Calvert sossegada e varrer a casa e tirar o pó com calma daquela estante de tijolinhos onde ela guarda uns cadernos onde anota coisas esquisitas e uns livros que eu não sei como a mãe dela deixa ler, coisa de gente pagã e comunista, credo! E pior é quando a guria fica me olhando agachada com as havaianas viradas de cocota, com aquelas trancinhas no cabelo e aquele par de olhos pretos naquela cara pálida como se eu fosse um animal de estimação.” A Sra. M se sente de súbito capturada pelo olhar intenso da Dona Firmina sobre si quando tem também um golpe súbito de memória ao revê-la. Mas por ter visto a pouco no chão do lado externo do Restaurante, um maço de Calvert amassado e vazio e parece pensar: “eu poderia abrir o corredor das recordações e começar uma narrativa longa e razoavelmente precisa sobre a dona Firmina, a fumante de Calvert que me veio à memória e que foi empregada doméstica (naquele tempo não existiam diaristas) na minha casa quando eu era adolescente, mas essa seria uma empreitada literária além das possibilidades do momento, ou uma desculpa pra ficar gozando mentalmente naqueles dias quando o mundo era diferente mas não- é preferível me deter em pensar e escrever em quem e como seria o fumante atual do maço jogado no chão de ontem. E tomara que a Dona Firmina se acerte com o Sr R. assim os dois param de me olhar durante os almoços.”

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Apesar do Mansueto ignorar os olhares cobiçosos da Dona Firmina e estar investindo tanto na Sra. M quanto na Suellen, sem muito resultado até agora já que parece que ambas tem interesse no Valdisney, a Firmina parece não desistir tão fácil. Noto isso pela forma como ela limpa cuidadosa e lentamente a mesa do Mansueto. Depois ouvi a voz alta e estridente da Suellen confirmar com a Sra. E ( mas tendo como foco de atenção o Sr. R,) que a comida do Valdisney: “vale a pena comer, pois é muito boa! “ Enfim, cada encontro no Restaurante Oriental é um universo infindável de possibilidades que se apresenta à clientela pela Sra. E.

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A MOÇA DO BANCO DE PRAIA

A moça do banco de praia costumava passar por aqui quase todos os dias. Geralmente caminhava um pouco pela areia, molhava os pés na água, sentia as ondas geladas por uns instantes e sentava-se no banco para observar o horizonte.

Impossível afirmar se os atos se davam pela observação atenta do que lhe ocorria por dentro ou por fora ou se decorria de mera distração aleatória mesmo. Fato é que, este parecia ser o seu passatempo favorito pois, além da presença frequente, sua feição de puro deleite era comum em sua partida. Talvez a geografia do local representasse um lugar de calma, alívio ou inspiração.

Hoje contudo fora diferente. Parecia distante, com o olhar vago,

como se fitasse desconhecido..

ao

longe

buscando

algo,

no

Pensava cá, com meus botões, então.. o que buscaria a moça do banco de praia, em seu olhar vago e distante? Respostas certas à possíveis perguntas possíveis perguntas à incertas respostas?

ou

a razão correta para seguir adiante ou seguir adiante sem ter a razão? escolher a rota que seja adequada ou lançar-se à sorte do próprio destino? Reflexões do tipo, que comumente temos e que vez por outra nos surgem e tocam, sobretudo em determinados momentos.. Não adentrarei aos pequenos detalhes, tampouco comentarei sobre minhas impressões, fato é que, conheço este lugar e sei como as coisas funcionam, por aqui.. 76


Crianças afoitas correm pela praia, avançam até a água em dias mais quentes, adultos altivos animais felizes noites de luar, contemplações por aqui,

conversam pela orla e rolam pela areia, em

singelas

como aquelas entusiasmados

com

também

acontecem

amantes

mais

ou com os navegantes, os seres do mar, é assim que acontece e tem acontecido por aqui, mas não com a moça do olhar vago, do banco de praia,

no dia de hoje.. Assim, no dia de hoje tudo o que eu queria era envolvê-la em meus braços leves..

e mostrar-lhe o quanto tenho estado aqui e o quanto ainda estarei, que minhas raízes são profundas mas minhas astes são flexíveis, que apesar de seu pesar, facilmente lhe apoiaria, e por serem fortes e flexíveis não aderem à pele fina, Então não machucarei, é o que teria de melhor para oferecer, à moça do banco de praia, do olhar vago e também distante,

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ainda no dia de hoje.. Mas não tardou aparecer..

muito

para

ele

Sentou-se ao seu lado de forma confortável, como quem não quer nada, leu seu livro de histórias, fez algumas anotações em caderno diário e mexeu em bolso que estava rasgado.

seu seu

Á procura de coisas insignificantes, contemplou também o horizonte, na tentativa de acompanhar a mulher, que era a moça do banco de praia, sem o olhar vago ou distante,

pois agora estava diferente.. Ela, permaneceu imóvel, incólume, estática e inerte..

Ele se mexeu e remexeu e nada aconteceu. Ela, permaneceu estática, imóvel e inerte. Pois a moça do banco de praia cujo olhar era vago e distante agora se tornara mulher e já não haviam tantas dúvidas sabia exatamente o que queria e para onde deveria seguir e nada mais além de si mesma poderia existir a posição estava definida o alvo se tornara certeiro o foco havia ajustado em um encaixe quase perfeito.. 78


De si para si mesma porque nada é simétrico apenas é semântico

em um eterno reflexo daquilo que se é também do já se foi e daquilo que está porvir.

Fim

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1

Fui encontrar uma amiga dias atrás. Eu sei bem que ela não é das melhores companhias e que a presença dela só funciona se estamos juntas com mais algumas pessoas. Acontece que eu estou no processo do fim de uma relação e não tenho lá cabeça para pensar numa ideia melhor. Combinei de ficar na casa dela cinco dias e nas já primeiras horas questionei-me o motivo de tamanho erro. Bom, permaneci, crente que era só minha má vontade com o mundo e que dessa vez eu precisava superar meu jeito ranzinza. Perguntei a Fran de seus amigos – eu buscava incessantemente coisas para além de nós duas - e ela combinou um churrasco com dois conhecidos dela. A merda é que os amigos dela tinham a mesma energia dela e eu aos poucos fui me contorcendo, fechando os braços, a cara e ficando cada vez mais curvada, quase um tatu-bola, uma lagarta que se enverga quanto alguém toca nela. Meu corpo não soube disfarçar. “Você está bem?" Rubens, ela está calada porque sofre por amor”´, “sei como é, sofri dez anos pela mesma mulher”. Dez anos. Dez! Que absurdo! Logo meu corpo se abriu, 80


minhas pernas descruzaram, meu tronco se inclinou para frente motivado pela tamanha desgraça que acabara de ouvir e sentir. Bati três vezes na madeira isolando aquela situação. Nessas horas qualquer reza é remédio. Sentir o que eu sinto por dez anos é um tipo de maldição em vida. Disse ele que na juventude quis ir embora pra Austrália e que terminou o namoro por isso e passados seis meses retornou e foi ao encontro dela na tentativa de uma reatação. O “não” dela durou muito tempo, o suficiente para ele acompanhar a vida da moça e me contar ainda hoje sobre os três filhos dela e o marido. Disse ele que tentou buscar amarrações amorosas. Disse ele que não deu certo porque a cigana fez errado. Disse ele que fez anos de terapia. Disse ele que hoje está bem, porém os olhos ficam cheios de pesar enquanto buscam essas memórias. Que inferno deve ter sido. Três batidas pra isolar na madeira. Agora sigo com esse medo de amar alguém sozinha por dez anos. Na manhã seguinte peguei um ônibus e fui embora, rejeitando aqueles dois dias que havia aguentado. 81


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Repugnar a aparência humana, em alguns aspectos é deveras algo que não me

culpo, mas que sinto vergonha, se é possível que ambos sentimentos possam não ser opositores. A verdade é que sinto vergonha em dizer isso em voz alta e não sinto vergonha de não sentir culpa. O garoto tinha algumas feridas pelo corpo, algumas saturadas, bem vermelhas. Ele era branco, muito branco. Gente branca tem isso da saturação vermelha. Em torno da boca, descamavam peles e uma sebácea branca ficava pelos cantos. Eu não

conseguia falar com ele e encará-lo com a dignidade humana merecida. Me dava repulsa a todo instante. Eu tinha que fazer um esforço enorme para olhar em seus olhos e não deslizar os olhos pelas erupções da pele sem esboçar nenhuma expressão. E veja só: nem era uma doença. Era um remédio pra cuidar de acne de adolescente. Eu contei que ele tem 18 anos? É errado assumir que sinto repulsa nas coisas naturais humanas? A merda, o mijo, o machucado, o pus, a baba? É

errado sentir repulsa de quem fala sobre essas coisas? São coisas pra ser escondidas. Deixem elas onde estão. Mas aquele rapaz resolveu mostrar, conviver com aquilo e me fazer conviver também. Eu não poderia ser médica, leprosos não passariam por mim. Eu não poderia ser médica e nem Jesus. O diabo que me carregue.

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3

minha casa era do meu avô

foi construída por ele e por meus dois tios, tio Anastácio e tio Pedro tio Anastácio eu não conheci a casa depois ficou com a minha mãe que vendeu pra uma tia, mas, continuamos morando lá de favor, como se diz, isso era uma tensão na família a casa tinha o chão azul de cimento queimado

telha Brasilit que se fazia presente num calor de 40º C a casa teve inúmeras cores: amarelo, branco e azul azul é a cor da minha memória uma casa muito mal pintada pelas 4 mulheres que viviam lá o chão era rachado pelas raízes do pé de tamarindo que meu avô havia plantado e que me trouxe muitas cicatrizes na perna

tinha dois quartos, mas as 4 mulheres dormiam juntas, 2 adultas e 2 crianças grandes contrariando Perec, cabe mais que duas pessoas numa cama sim nenhum cômodo tinha porta a do banheiro, quanto tinha, era de pvc e se quebrou numa brincadeira entre as irmãs mais novas

a porta do fundo era fictícia, era de metal e ficava encostada a da frente tinha retângulos de vidro, cada um diferente do outro não por estética, é que sempre quebrava, então a vidraçaria colocava o vidro que tinha haviam muitos adesivos colados de fora FHC e eu nem sabia o que era FHC 83


As tais fotografias Algumas casas contam histórias através de vestígios do que fica quando alguém deixa de ocupá-las. Essa casa que aparece na fotografia é constantemente alugada. Como estive procurando por uma casa para alugar, fui visitá-la. Mudei-me para lá há cerca de 3 meses. A casa já estava mobiliada. Em uma manhã de sexta-feira, enquanto organizava o escritório, abri a gaveta de uma escrivaninha. Curiosamente, meu olhar deteve-se sobre algumas fotografias que estavam dentro dela e procurei saber mais sobre quem esteve morando lá e quais os motivos de tais fotografias. Conversei com Aurora, a proprietária da casa, para buscar algum indício de quem seria essa pessoa. Aurora mora na casa ao lado e sabe quem eram os habitantes.

Essas foram algumas das fotografias com as quais me deparei:

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As fotos foram atribuídas à Teo, que havia morado lá durante vários anos com seus pais. Ele viveu dos 4 aos 18 anos naquela casa, de forma que Aurora pôde acompanhar um certo percurso de seus registros. Aurora contou-me que ele acordava de manhã e ia brincar na rua. Desde que pôde perceber-se no mundo, soube que gostava de animais. Então, em seus passeios, observava os cães e os gatos e os passarinhos e buscava tecer com eles algum tipo de relação. Teo caminhava pelas ruas e encontrava gatos, brincava com os gatos na rua: gostava de tornar os gatos - até então ariscos - amigos. Ele arriscava: embora sua família não gostasse de gatos, costumava trazê-los para casa em segredo, abrigando-os ao lado da mesma e dando comida a eles. Hoje, Teo captura fotografias de animais que encontra na rua. O gesto de captura da fotografia possui menos drama e permite outro enlace com as possibilidades de ter sem possuir, de nomear e de suportar o vazio e o excesso. Teo foi escoteiro e, ainda hoje, é guardião da natureza. A narrativa sobre Teo pareceu-me encantadora e despertou minha curiosidade de saber sobre Aurora, que parece atenta aos Grandes Eventos Cotidianos. Perguntei um pouco sobre suas vivências e ela compartilhou algumas lembranças. Aurora morava no campo até a mudança para Balneário Camboriú, quando resolveu comprar essa casa - que mais tarde seria alugada - e a do lado, na qual mora sozinha. Costumava colher flores em suas caminhadas. Andava a cavalo durante horas com seus irmãos. Ia à cachoeira, onde sentia as pedras e as águas. Esse ritual era realizado ao menos uma vez por semana. Gostava de sentir a natureza. Com o tempo, começou a plantar chás e flores e descobriu algumas fragrâncias que a comoviam. Com alguns anos de prática com essas vivências, Aurora descobriu cheiros e frescores nunca antes imaginados por ela. Hoje, substituiu suas caminhadas no campo pelas caminhadas na beira da praia. Ela faz 85


produtos naturais e presenteia amigos e familiares. É algo único. Aurora também oferece seus produtos aos viajantes que alugam a casa em busca de um tempo junto ao mar. Ela diz que os aromas que ela criou permitem um transporte por outros tempos e espaços. Sou testemunha de que sim. Quem sente determinados cheiros cria outras aberturas à experiência no mundo. Por vezes, alguma curiosidade se manifesta. Alguns dos perfumes levam, misteriosamente, a respostas de perguntas que sequer haviam sido formuladas. Para que? Para que delas seja feita uma questão. Os perfumes e as tonalidades mantêm o viajante em viagem. Ainda hoje recordo de um perfume floral e levemente cítrico que atravessou meus pulsos no contato. Já senti esse cheiro em outros momentos, como quando estive observando um tucano no mato. Penso que o perfume ainda está em mim. Talvez o tucano tenha percebido.

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Enquanto penso nessas histórias, percebo a delicadeza de um olhar para as sensibilidades do mundo. O que é possível experienciar com esses testemunhos? Pois que as experiências se fazem e refazem no gesto da escrita, uma vez que os habitantes dessas casas habitam esse texto. Se a casa pudesse falar, também traria marcas do intempestivo dos tempos e das circunstâncias que a atravessam. A planta da casa (não a da arquitetura, mas a que acomodou suas raízes em frente a esta e compõe a paisagem do telhado), certa vez confidenciou-me que, além da chuva e do orvalho que a umedecem de tempos em tempos, escoa sobre ela uma certa nostalgia de tempos passados e uma esperança pelos tempos que virão. Não parece a ela, à planta, que seja coincidência o fio invisível que une antigos e atuais moradores da casa. Ela entende que só está ali e segue viva e alastra-se porque a presença afetuosa a acompanha. O gesto de regar a planta, anos e anos refeito, permitiu que suas folhas perdurassem. O que perdura na folha em que escrevo é um olhar para a folha e um olhar da folha: que cai, mas não sem antes expressar sua imensa alegria por reverdecer a paisagem. Talvez caiba a tarefa de fazer perdurar o frescor dos perfumes e fotografar com palavras algumas sutis e vívidas experiências cotidianas com a devida seriedade que elas demandam.

Folhas que caem, flores que caem, fotografias que caem, palavras que caem e escorrem em registros do impermanente. Alojando-se lado ao lado no arquivo das memórias, carregam um fio que aparece para ser entregue, não sem resguardar os segredos de um longo suspiro em um entardecer em frente ao mar. Plantação de poesia, um afago multicolor da maresia.

Hoje, para Aurora, é dia de colher flores. Mas, será que “tudo são flores”?

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O QUARTO Como um sumário, o quarto sintetiza as questões intimas

LIVRO DE CABECEIRA

Não precisaria escolher uma roupa para usar na véspera, tampouco no dia. Sobretudo, não precisaria me preocupar com réplicas de comentários políticos. Para meus amigos, parecia uma bênção, eu reclamava de não encontrar a família e diziam: “tudo o que eu queria!”; “meu sonho”. Só conseguia pensar que naquele Natal não teria a sensação nostálgica e afetuosa de aversão às chateações familiares. Não tinha mais por que alimentar qualquer ansiedade sobre o advento como fizera desde o dia 28 de novembro, quando iniciei a execução do meu plano autocentrado de contagem regressiva para o Natal. Um dos itens do calendário-lista era ir à Starbucks, ouvir suas playlists de Natal enquanto o ar condicionado dava o máximo de si no verão carioca. Teria odiado o café, mas sentido imensa satisfação com o copo decorado, como se tudo que deve ser feito em um ano, houvesse sido feito. A louça estaria lavada. Recebi muitas fotos do plano de ficção que não faria parte esse ano. No meu quarto era a sobriedade e a comida de todos os dias. Tentava encontrar modos de me entreter para sair o mínimo possível do único lugar que podia ficar sem máscara. O corpo exigia uma atividade analógica, não tinha outra revista de palavras-cruzadas, por que não começar mais um livro para largar pela metade? Assim decidi ler The Bell Jar — como se fosse um presente a ser desembrulhado. De dentro do quarto, fecho a porta e nada mais existe, eu abro e tudo ainda está lá. Não há sinal de Wi-Fi que resista a essa muralha. 'Não perturbe', está inscrito no batente.

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ENTRE LENÇÓIS

Dia 23 era véspera de uma jornada decepcionante, tudo o que eu tinha era a sequência de ritos praticados por mim diariamente. Enquanto eu tirava o excesso de travesseiros de um dos lados da cama, meu gato miava na porta para entrar, logo nos enrodilhávamos no edredom de textura afável e massa envolvente. Sentia-me na minha cama como Plath num banho quente: “There must be quite a few things a hot bath won’t cure, but I don’t know many of them. […] I guess I feel about a hot bath the way those religious people feel about holy water.”. Com as luzes apagadas, eu conhecia exatamente o que estava em meu entorno. Nem mesmo sacerdotes se preocuparam tanto construindo uma nova igreja, sabiam o conteúdo e a disposição de todas as coisas como mandavam os dogmas, mas há que se ponderar muito ao montar o templo de uma religião que ainda não existe. O teto em branco celestial como toda a predominância do quarto, o lustre de opalina bem no centro, afastado das boiseries do armário. A marchetaria áurea dos tacos sob o sintético brilhante. Uma arandela posicionada de cada lado da cama de casal — ainda que eu seja uma única pessoa —, luzes inibidas sobre minha cabeça tirando azuis e verdes do brim cinza da cabeceira, a mão dormente buscava o interruptor, o lençol é puxado até o pescoço, aterrizando sobre o corpo. o gato no pé da cama os signos de Plath embaralhando-se

nas pálpebras morosas a estufa isolada e preenchida de plantas desmanchar-se no s [ ]

Já ouvia a programação matinal da Globo na sala de estar, ainda eram sete horas, não ia terminar de acordar. [ ] Eu estava dentro de um apartamento em um conjunto habitacional. Juntava rápido as minhas coisas, ia mesmo de pijamas. Tinha que fugir rápido, pois um rapaz estava com o pessoal lá no pátio provocando arruaças. Disseram que até o MBL estava junto. Não sabia se era melhor sair às escondidas ou ficar ali esperando o cenário se reestabelecer — com o risco de entrarem em minha casa. 89


DEBAIXO DO TAPETE

Para ter uma grande revelação que daria o tom de meu dia, eu pegava o celular logo que abria os olhos para ver o que o oráculo tinha a me dizer. Recolocava os pés no tapete buscando por meus chinelos, e o gato se aprumando na porta. Quantas vezes arrumei a cama? Quantas a desarrumei? Quantas vezes abri a persiana? Quantas a fechei? Muitas e nenhuma. Tenho que cortar as unhas todos os dias. G. disse que o 24 de dezembro é o mais longo do ano. Escuto o eco frequente dos que me dizem que empurro as coisas para debaixo do tapete. Qual a última vez que fui genuinamente feliz? Que fui feliz sem precisar pensar se estava sendo feliz? Entre nós sempre foi assim, velado, tensões crepitando a cada contato. Não digo nada até que eu diga tudo e demais. Sempre acho que consegui encontrar desculpas, justificativas inquestionáveis para toda a duração da minha cara fechada.

Mas-tudo-bem-eu-sei-lidar-com-isso. “Because wherever I sat — on the deck of a ship or at a street café in Paris or Bangkok — I would be sitting under the same glass bell jar, stewing in my own sour air.” A manutenção do que tenho é o que me esforço para assegurar. Não adianta só trancar a porta, tem o tapinha nas costas necessário para continuar indo. Quando os olhos do gato encontram com os meus, ele mia um miado pedinchão, seguido de uma bocejada ampla. Encontro finalmente os chinelos e visto o roupão para pegar o sachê.

Em relação ao pior, tudo está melhor. E o que está bem, pode esperar.

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EM GAVETAS

Depois do café, era hora de uma atividade que pudesse se estender por todo o curso do dia. Há semanas eu não abria a terceira porta do armário. Ali, eram armazenados meus materiais: tábua de corte; estiletes; agulhões; papéis em tamanhos e gramaturas variadas e também um caixote de restos de refiles. O envelope da papelaria serrilhado na borda, materiais cruentos beges, brancos, verdes, alaranjados se assentavam na primeira gaveta. Eu repetia muitas vezes ao longo do ano a coreografia de arrumar e rearrumar gavetas. Todos os meus cadernos são rascunhos, demorei para largar de passar a limpo.

Escrevia sempre, mesmo sem saber o que. Fazia cópias manuscritas de revistas — cópias, aquela tarefa escolar enfadonha para muitos —, até quando sofria castigos em que era ordenado que eu escrevesse 30 vezes a frase “não devo desrespeitar minha família”, eu podia sentir prazer na forma que tomava minha caligrafia. Tudo me lembrava o frescor do material novo no primeiro dia de aula, as possibilidades existentes no atrito da ponta do lápis na página em branco. Virar a folha fina do caderno e sentir o relevo das letras recémescritas.

Classificar, agrupar, dividir o reino das belezas apotecárias que enxergo em meus objetos triviais. Eram muito comuns por ali cadernos ainda sem uso e o enigma dos envelopes esperando para serem preenchidos.

Não ter um quarto é um gato andando em torno de si mesmo, sem achar onde deitar. 91




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1. Morreu minha mãe.

* 2. Existe uma limitação intrínseca da existência que se inscreve entre o tempo e o espaço. O tempo, porque cada um de nós carrega uma data para o nascer e outra data para o morrer. E o espaço, porque somos também um corpo. Este amontoado de carne que se cansa, deseja, envelhece. Que morre e decompõe. Eu tenho sempre a razão perturbada quando penso que, todos os anos, a gente passa pelas datas do nosso nascimento e morte. Comemoramos uma; da outra, não sabemos. Mesmo a temporalidade é um desatino que só: o calendário e o relógio não passam de invenções humanas que permitem que a gente se localize na trama da vida. Essa coisa que chamamos de tempo é mesmo uma estrutura que opera em seus próprios termos. Irremediável. Implacável. Mas não é isso que eu queria dizer. O que quero dizer é que a minha mãe não mais está nesta estrutura de espaço-tempo. E, não estando nessa estrutura, onde é que ela está?

* 3. Há trinta e dois anos, de dentro de um útero, eu e minha mãe já fomos um só.

* 4. O corpo apodrecido de minha mãe. Esta é uma imagem que volta e meia me retorna a imaginação. Nesses momentos constato que, hora ou outra, também eu estarei neste lugar. Envelheço. Também serei carcaça.

* 5. Quem foi esta mulher que chamei a vida toda de mãe?

* 6.

Tenho trinta e dois anos e, em tempo de ter uma vida financeira estável, não pude pagar por uma cremação ou velório bem-posto (que por sinal é muito caro). O enterro foi modesto. Na funerária nos ofereceram café ruim e pão murcho. Tudo muito condizente com a miséria que é própria da morte. Tivesse minha mãe o direito de protesto e criticaria tudo. 116


* 7. Carrego a sensação de um completo não-pertencimento. O ventre que me trouxe ao mundo se encontra a sete palmos do chão. Pai, nunca tive. Em trinta e dois anos, sei que aprendi a ser gente. Mas é como se tivesse me esquecido.

* 8. A minha mãe, esta mulher religiosa que deu sua vida e seus costumes à cristo, há de ter descoberto a veracidade de sua crença. A minha mãe, que enrijeceu seu desejo, que renunciou a tanto em nome de um deus ausente, neste momento, há de ter descoberto a veracidade de sua crença. A minha mãe, esta mulher que enrijeceu seu desejo e que renunciou a tanto, também em nome da maternidade. Fui eu cúmplice?

* 9. Desgosto da palavra família. Desgosto de tudo o que a família representa. Desgosto da sua origem inerente ao resguardo da propriedade privada. Apesar disso, não conheço outra estrutura de convívio que tenha tanto sucesso em fazer com que as pessoas se suportem. E que, em meio a toda a simbiose, manipulação, culpa e conflito, se encontre algum tipo de amor.

* 10. Tenho entendido que as mães amam de amor vertiginoso. Amam muito seus filhos, ou amam pouco seus filhos. Mas sempre o insuficiente.

* 11. Para as mãos ternas, dentes amarelados e longos cabelos pretos de minha mãe: escrevo. Gesto palavras para sobrepor a morte com alguma forma de vida.

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matéria matéria] [afetiva matéria] [alva matéria] [barroca matéria] [bruta matéria] [branca matéria] [coisa matéria] [efêmera matéria] [escrita matéria] [escura matéria] matéria] [fria matéria] [gema matéria] [imprópria matéria] [indefinida matéria] [íntima matéria] [inerte matéria] [insólita matéria] [insular matéria] [limpa matéria] [líquida matéria] [lugar matéria] [molhada matéria] [mole matéria] [natureza matéria] [negra matéria] [oca matéria] [orgânica matéria] [matéria] [ordinária matéria] [pigmento matéria] [pó-terra matéria] [pedra matéria] [porosa matéria] [pura matéria] [quente matéria] [solar matéria] [sólida matéria] [suja matéria] [tempo matéria] [úmida matéria] [vazia matéria] [.................

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A mulher da praia Um crime. Uma praia de pacata de pescadores artesanais, um corpo foi encontrado em um antigo barracão de pesca, com paredes escuras e corroído pelo tempo. No alto, apenas uma pequena janela. Era uma jovem de cabelos ruivos, muito bonita, encontrava-se nua, ao seu lado um vestido branco, quase transparente. Um cadáver em decomposição. Seu algoz a degolou com uma tarrafa, feita com linhas muito finas e seu corpo estava emaranhado nela. Por estar nua, se supõe, de imediato, que tenha sido estuprada. Ninguém na pequena comunidade já havia visto tal jovem, agora sem vida. Alguns achavam que se tratava de uma mulher de outro país, pela sua cor tão branca como uma nuvem e por seus cabelos ruivos, traços pouco comuns na região. A praia, em seus dias de inverno, época em que o corpo foi encontrado, parece uma cidade fantasma, com uma quantidade mínima de moradores. Para o ato ainda ser mais cruel, o criminoso cortou a pele das pontas dos dedos da mão da moça, para que os policiais tivessem ainda mais dificuldades em identificá-la. Investigadores de vários países buscaram pela identidade da moça, através de seu DNA, mas infelizmente, nada encontraram, mesmo com toda a tecnologia disponível e os melhores profissionais envolvidos no caso. A busca, tanto pelo assassino, como por quem era a vítima, durou anos, sem sucesso. O que acabou esfriando o caso e a mulher tendo um triste fim, sem um digno funeral. O crime acabou se tornando uma lenda de terror no local, onde alguns afirmam que, em noites de lua cheia, quando a luz brilha no mar, muitos juram avistar a bela ruiva, na janela do barracão, com os olhos tristes, pescoço arroxeado e a mão ensagüentada.

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El vestido de novia Rosa era uma moça de 27 anos, descendente de espanhóis e que estava noiva de um homem 15 anos mais velho que ela. Os preparativos estavam quase todos prontos e faltavam pouco mais de duas semanas para a cerimônia. Nesse tempo, Rosa teve uma revelação, decidiu que não queria uma vida de dona de casa, com filhos e que queria conhecer o mundo e suas raízes na Espanha. Marcou sua viagem para o dia do casamento, sem avisar a ninguém partiu rumo à Europa, deixando seu noivo esperando no altar, para desespero de todos. Rosa conseguiu chegar em Barcelona, se hospedou em um quarto barato em uma pensão antiga no centro da cidade. Quando foi arrumar suas coisas no velho guarda-roupas, uma grande surpresa, havia pendurado em um cabide, um antigo vestido de noiva, muito, mas muito parecido com o que ela havia escolhido em um brechó para sua cerimônia. No vestido, havia um bilhete, “nunca olvidaré”. Ela ficou surpresa, um pouco apavorada, pensando que seu noivo a havia encontrado. Perguntou à dona da pensão que era neta da antiga dona sobre a história daquele vestido. A moça pouco sabia, apenas disse que era de uma moça do povoado de Baztán que havia se hospedado ali, nos anos 50, fugindo de seu casamento, e todos que passaram pelo quarto, achavam que era um símbolo, e ninguém queria tirá-lo dali. Rosa perguntou o nome da moça, mas a atendente só sabia que se chamava Marieta e que era de Baztán. O que mais intrigava Rosa era a semelhança do seu vestido com o encontrado na pensão. Decidiu ir a Baztán, na esperança de que alguém soubesse da história da noiva Marieta. Passou dias na cidade, perguntando em cafés, bares, pensões, igrejas, até que conseguiu uma pista. Havia em uma igreja o registro de um casamento não realizado de Marieta Borges. Mais uma coincidência, seu sobrenome também era este. Conseguiu encontrar um parente de Marieta, uma irmã que já estava em idade avançada, mas lembrava claramente do incidente. Sua irmã havia fugido para Barcelona no dia do seu casamento, porque amava outro homem que não seu noivo, que havia sido um casamento arranjado pela família. Ela levou o vestido, na esperança que seu amado aparecesse, e que finalmente pudessem ficar juntos. Ele nunca apareceu, e Marieta morreu de tanta tristeza naquele quarto da pensão, o bilhete havia sido escrito por ela para o amado. Durante a conversa, Rosa descobriu que Marieta era sua parente distante, mais uma coincidência do destino, onde duas mulheres decidiram não viver uma vida imposta por outros e seguir seus sonhos. 131


Pequeno Poema sobre a morte

A morte de alguém amado Nunca chegará Ela chega sim e Te arrebatará Doída Amarga Doente Inexplicável Vazia Incompleta Você pensa no que não fez Se detesta Poderia ter feito mais? Falado mais? Ficado mais? Amado mais? Cuidado mais? Não, não poderia! Lágrimas Lamentos Angústias Tristezas Lembranças Esperanças Tente não pensar Tente não escutar Tente não saber o porquê Tudo há um porque E tudo tem seu tempo Seu próprio momento E ele chegou... 132


O feitiço e o amor

Com um amor tão grande dentro do peito, um homem se encontrou com um feiticeiro e pediu a ele que fizesse um encantamento para que seu amor fosse correspondido, já que todas as suas tentativas de seduzi-la foram mal sucedidas. O feiticeiro então disse que faria o encantamento, era absolutamente imperioso que ele lhe trouxesse um pouco de sangue da mulher para que ela pudesse se apaixonar por ele. O homem parou e perguntou: - Como fazer isso? O feiticeiro então o instruiu a entrar a noite no quarto da mulher e fizesse um corte em sua mão com um punhal que o feiticeiro lhe forneceu. No desespero pelo amor dessa mulher, ele rapidamente pôs seu plano em prática, entrou sorrateiramente no quarto da mulher em uma noite de chuva. Como no punhal havia um encantamento, a mulher não acordaria. Ele pegou uma das mãos da moça e fez um corte profundo, que sangrou muito, enchendo um pequeno frasco. Rapidamente ele saiu da casa, muito feliz por ter tido êxito em sua tarefa. No dia seguinte, o homem foi até a casa do feiticeiro com a relíquia e ansioso para que ele começasse logo o ritual de encantamento. O feiticeiro interrompeu sua fala sem parar, dando-lhe a notícia que a mulher que ele amava padecia de uma doença rara, que a fez sangrar a noite toda, até a morte, que foi confirmada assim que o homem chegou até a casa do feiticeiro. O feiticeiro: eu sabia da condição da mulher, inclusive fui chamado em algumas ocasiões para que pudesse tratá-la. Mas não contei ao homem para testar até que ponto iria o seu egoísmo para conseguir a todo custo o que tanto cobiçava. 133


Ifemelu mal podia se aguentar de esperar. Apertava o passo mesmo sabendo que estava adiantada. Aliás, Ifemelu não estava nem atrasada ou adiantada, já que seu compromisso era uma daquelas coisas que não existem. Como uma coisa blefada dentro de uma caixa vazia de presente durante a brincadeira das crianças em Chanukah. Ia a passos rápidos para a frente do teatro encontrar... bem, até hoje não se sabe quem, já que seu olhar atento para o meio-fio não anunciava nenhuma chegada de alguém cujo olhar pudesse cruzar-se com o seu. Todas as quintas-feiras, sempre no mesmo horário, corria para frente do teatro como se corresse em uma plataforma para não perder o embarque do trem. Ficava tão maravilhada com o iminente encontro que, ou se esquecia de vestir a luva branca na mão direita, ou de tão exasperada, retirava-a em um piscar dos olhos. Ela se misturava entre a multidão de pessoas que esperava suas companhias, o que atenuava — um pouco — seu ato reiterado que sempre a fazia se destacar. Mas a bilheteira e o pipoqueiro sabiam muito bem que ela era a moça que esperava. Esperava por esperar, apressava-se para esperar, fitava o meio-fio por uma espera que tardava em chegar.

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Não adiantaria ir mais uma vez ao lavatório do teatro para retocar o batom roxo enchumbado. Já o havia feito nos últimos 3 minutos, duas vezes. Seus lábios já adquiriram uma película grossa que enchumbava sua risada num sorriso murcho escondendo seu nervosismo. Seus músculos da face marcavam os dois lados comprimindo suas maçãs num corte obtuso. Uma imensa vontade de coçar a raiz do cabelo subia vagarosamente do fundo da pele. Senhorita Her do 512 já havia reparado nas falhas sob a orelha dos cabelos arrancados na raiva. Com seu narigão farejador de fofocas despejou no corredor a dica do sabonete de enxofre: era tiro e queda. "Ora, mas no seu caso, não adiantaria usar o de enxofre. Talvez o de chumbo seria mais vantajoso. É uma nova tecnologia..." Ifemelu já estava dobrando o corredor rumo às escadas quando tudo o que Senhorita Her dizia virara um abafado blá-blá-blá. Pensava consigo: "se eu fosse uma bruxa, já teria a transformado em pó de cemitério".

Os pensamentos profundos de Ifemelu a dragaram de volta para a superfície. Nesse retorno, olhando para a calçada com os passantes e os esperançosos. Ela era uma deles — a dos que esperavam. Esperava, esperava, mas não adiantava. Alguém não vinha, mas ela parecia não perceber isso... Não pôde aguentar mais um minuto. Repôs a luva, e rapidamente seus pés comandaram seu corpo irrequieto para o lavatório. Só tinha um desejo, como algo a ser provado pela primeira vez e que lhe aguava tanto a boca. Sentia transbordar esse desejo adiantado e outra vez sacou seu batom roxo enchumbado e fixou sobre lábios endurecidos uma película mais grossa que enchumbava já em um sorriso ressequido a falta de um beijo de boas-vindas.

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Ifemelu se apressava rua adentro, precisava pegar exatamente o U307, já que ele lhe deixava exatamente 1 minuto antes do exato horário de entrada no trabalho. Ifemelu morava exatamente há 4 ruas à direita de onde ficava o Instituto de Conservação e Restauro. Preferia sempre pegar essa linha de ônibus, que tomava 4 minutos, pois gostava de — para além de não ficar muito tempo a céu aberto — deslizar pela rápida rota em formato de L, sentir o ônibus tremer todo seu corpo, a liberdade de se deslocar sobre um trecho exatamente plano. Imaginava sempre, dentro do ônibus, que aquele tremor deveria ser parecido a o de um suave tremor de terra: mesmo em um lugar planíssimo, sentir que seu corpo é um instrumento percussivo do chão.

Não tinha lido os jornais do dia. Nunca os lia nem via TV para saber da manifestação dos carroceiros no centro da cidade e consequentemente nos momentos de profunda tensão, uma parte da cuba da fonte se rompeu e afundou em cacos dentro do chafariz. Esse era o trabalho de Ifemelu: recepcionar, identificar, ordenar, documentar e reunir os restos dos objetos na sessão de membros fragmentados. Curiosamente, tais restos fragmentados de um todo era para Ifemulu a coisa mais plena que existia. Debruçava-se por horas a fio sobre esses restos imortais colhendo suas informações mais silenciosas. Podia refazer em sua cabeça os processos físicos de ruptura que tal peça sofrera. Promovia medidas, submetia a exames de raio-X, retirava impressões por frotagem, decalcava suas formas, gravava sua existência, circunscrevia seus limites, moldava a peça para guardar no acervo uma réplica. Era tudo o que poderia dar pelo seu trabalho. Seu chefe superior, mas bastante ausente raramente dizia outra coisa. 136


Para Ifemelu, havia de algo de imperioso em todos os pôres do sol de sua vida. Quando criança se desesperava com o final do dia, não porque temia a noite ou a escuridão, mas sim porque simplesmente não aceitar como aquela massa enorme de fogo docilmente pudesse desabar no horizonte. Era angustiante para Ifemelu conceber uma bola de fogo que flutua no firmamento simplesmente se rachar no horizonte, através de uma fina linha e ainda ser peneirada nele e ressurgir no outro dia, em um nascimento violento, insidioso e inevitável: como uma gema que espirra quando seu ovo é comprimido. Aos poucos Ifemelu se acostumou com essa queda constante do sol e com o presente que em troca, o pôr do sol lhe devolvia: quanto mais próximo da linha de corte, mais diretamente podia sustentar o olhar ao sol. Aos 15 anos, recebera uma bronca de sua mãe por ter danificado alguns fragmentos regulamentares dos olhos. 137


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Todos os dias a mesma coisa. Quando pequena eu sonhava com essa vida, uma vida de luxo, eventos, compras, festas, ser admirada, invejada pelas pessoas, como as lindas atrizes de Hollywood. Que ilusão. Sou um objeto para ele. Um troféu, um bibelô de estante. Não tenho amor, apenas uma vida vazia, solitária e triste. Hoje, em plena segunda-feira, mais um almoço de negócios para ele e de sorrisos vazios e falsos para mim. Estou impecável, arrumada, plena neste modelo exclusivo da Chanel, com um colar de pérolas chamativo, lindo e que combina com os brincos, porém, é apenas a aparência que importa para todos eles, estes lobos em pele de cordeiro da alta sociedade. Dessa burguesia que compra tudo e a todos, mas não comprou até hoje a minha felicidade. - Olá Mary, como está? Você está adorável, como sempre querida. ... 142


Futilidades! Nunca imaginei que tudo que desfruto hoje, tão sonhado quando pequena, real seria fadigante. Essas conversas vazias, são tão desgastantes. Quando pequena me recordo de ficar horas e horas folheando escondido com Anne minha melhor amiga, os magazines de moda, que mamãe recebia das clientes para fazer as roupas encomendadas. E meio aquelas mulheres linda, bem vestidas, em lugares suntuosos, chiques, onde a fome, a necessidade e as vontades não rondavam ou se instalavam. Quis tanto tudo isso!!! E para dizer a verdade fui tão feliz de viver tudo isso, todos os dias, até aquele Agosto de 1970, em Paris às 20h00 em uma quinta-feira chuvosa. Aquelas madames como papai dizia, jamais iriam até nossa modesta casa, mamãe trabalhava na famosa Boutique Exclusif. Eu brincava com os retalhos que ela trazia, sonhando com um glamour que para eles eu jamais teria. A infância foi bem simples, mas nossa família era feliz naquele cortiço francês, mesmo não tendo dinheiro, luxos, hoje vejo que nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Toda vez que vejo esta foto, a culpa me toma. Não queria que o destino de Anne fosse aquele, nem que fosse tão jovem. Talvez hoje fosse ela a viver a minha vida e não eu. Mas, eu não queria que tudo ocorresse, e principalmente que não tive oportunidade de me despedir dela, seu corpo nunca foi encontrado. Penso constantemente que esse martírio que vivo nesta vida falsa seja a minha punição, por saber tudo o que houve e não ter contado nada.

Mais segredos, mais mentiras, mais dinheiro e muito mais ilusão. •Oi querido, estou indo.

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Lembranças de um tempo bom!!! Houve um tempo em que eu fui feliz com ele. Assim que nos conhecemos, naquela cafeteria, ele não deixou um dia sequer de ir pontualmente às 15h00 me pedir um expresso pequeno e um sorriso. O dia em que fomos passear pelo centro naquela carruagem, para mim era a carruagem da Cinderela, e ele sutilmente me beijou, era como se fosse meu príncipe. Não sei onde nos perdemos, bem eu sei... Gosto de fechar os olhos e me recordar daquele dia, do momento, das palavras dele, do seu toque gentil. Mas não posso me prender às lembranças, tenho que fazer algo, preciso me libertar. Vamos, pense, pense! Sim, é hoje a minha oportunidade, durante o concerto na mansão dos Ritchers. Como não pensei antes, será perfeito. - James, James, por favor, suba aqui.

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Dados das obras

Capa Mariana Corale, Venha, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, 8cm x 4 cm

Capítulos Mariana Corale, Venha, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, cm 8 cm x 4 cm Acervo do artista Páginas:40-41 Mariana Corale, Octaedro, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, cm 21cm x 06 cm Páginas:52-53 Mariana Corale, Ninguém tem que saber de nossa vida (...), linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, 58cm x 42cm Páginas:74-75 Mariana Corale, Mil e uma noites, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, 25cm x 2cm Páginas:92-93 Mariana Corale, O vinho como uma luva, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, 19 cm x 1,5 cm Páginas:110-111 Mariana Corale, Procedimento, linha 0200, 2021 (série Octaedro) Bordados em algodão cru, 20 cm x 06 cm Páginas:128-129

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O ponto que voa: um ensaio sobre procedimentos Fercho Marquéz-Elul, Curso de língua mosquesa por correspondência: manual de língua mosquesa, 2022 Adesivo em vinil sobre compensado naval, 21 x 25 x 2 cm Marcenaria: Nelson Santos Acervo do artista Página: 19 Fercho Marquéz-Elul, Curso de língua mosquesa por correspondência: nota de pé-de-mosca, 2022 Datilografia sobre papel, 21 x 25 cm Datilógrafa: Helena Alibio Acervo do artista Páginas: 25-26

Venha Dariane Martiól, 7 de setembro, 2021 Colagem digital, 40 x 50 cm Acervo do artista. Páginas: 42-43 Francela Carrera, Vacuna/Vacina, 2021 Fotografia, 42 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 44-47 Mauricio Bittencourt, Para todos os garotos que não me amei, 2022 Apresentação de 6 cartões postais, em formato digital Acervo do artista Páginas: 48-51

Octaedro Angelica Neumaier, Criaturas imaginárias, 2021/2022 Desenho com nanquim e bordado sobre papel, 21 X 25 cm Acervo do artista Páginas: 54—57

Edson Vieira, Vazio eloquente, 2022 Série de três imagens fotográficas da artista Vivian Maier, manipuladas digitalmente. Acondicionadas em fichas próprias, em papel ouro, impressas em tipografia e preenchidas por datilografia. 21 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 59-61

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Isadora Cunha, O mergulho, 2021 Pintura digital Acervo do artista Páginas: 62—65 Marta Martins, Restaurante Oriental, 2022 Texto e desenho de Nanquim sobre papel recortado, 21 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 66-69 Tiago Herculano da Silva, G.R.E.S.V. Formas de Narrar, 2021 Desenho, pintura Acervo do artista Páginas: 70-73

Ninguém tem porque saber de nossa vida [...] Joviana Jensen, “A moça do banco de praia”, 2021 Fotografia e intervenção digital Acervo do artista Páginas: 76-79 Gerusa Morgana Bloss, As tais fotografias, 2022 Texto e fotografia, 21 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 84-87

Mil e uma noites Andrey Parmigiani, Cola, 2021 Produção textual e fotomontagem digital, 42 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 94-97 Katiana Rocha Machado, Havana Connections, 2022 Colagem digital, 30 x 80cm Acervo do artista Páginas: 98-101

Priscila Hayashi, A casa, 2021 Colagem digital. Trabalho composto por 2 colagens feitas a partir de digitalizações e fotografias de papel arroz, papelão, jornal, lixa, papel cartão e régua, 42 x 25 cm (cada) Acervo do artista. Páginas: 102-105

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Gabriel Villas, era muito normal e atenta / estava com a cabeça onde deveria estar, 2022. Embrulho / publicação, 44 páginas. 21 x 29 cm. Acervo do artista. Páginas: 106-109

O vinho [caiu] como uma luva Mauricio Igor, Tornando-te lembrança, 2020 Videoarte,4’45” Acesso em: https://youtu.be/S9WPTDyS6Pw Acervo do artista Páginas: 112-115 Juliana Silva, O revés de um parto, 2021 Fios de cabelo reservados em sacos plásticos, 12 x 7 cm (cada) Acervo da artista Páginas: 116-119 Mariana Medeiros, Outros tempos, 2021 Série fotográfica. Trabalho composto por 6 fotografias digitais e em preto e branco, tomadas em longa exposição Acervo do artista Páginas: 120-123 Odete Calderan, Nem tudo é matéria] [bruta nem tudo, 2022 Objetos em argila, pedras, montagens e lista (fragmento-palavras), 21 x 25 cm Acervo do artista Páginas: 124-127

Procedimento Janaina Ramos Marcos, Barracão Assombrado, 2020 Fotografia, 20 x 15cm Acervo da artista Página: 130 Janaina Ramos Marcos, sem título (Vestido de Noiva), 2020 Fotografia tratada em Photoshop Fonte: https://www.buys1080.top/ Página: 131

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Janaina Ramos Marcos, sem título (Pequeno poema sobre a morte), s.d. Fotografia tratada em Photoshop Página: 132 Janaina Ramos Marcos, sem título (O Feitiço e o amor), sd Fotografia Fonte: www.pixabay.com Páginas: 133

Vivian Maier, At the Balaban & Katz United Artists Theater, Chicago, IL. 1961 Impressão de gelatina de prata, 50,8 × 40,6 cm Howard Greenberg Gallery Páginas:134-135 Fercho Marquéz-Elul, Fragmento da cuba quebrada da Fonte Talavera de La Reina de Porto Alegre - RS (Arcos do anverso) e (Céu do verso), 2022. 19 x 26 x 9 cm Fotografia: Carolina Alves Pereira. Diretor do Acervo Artístico da PMPA: Flávio Krawczyk. Servidores da Pinacoteca Aldo Locatelli: Elisabeth Azevedo e Luiz Mariano Figueira da Silva. Reserva Técnica da Pinacoteca Aldo Locatelli, Porto Alegre - RS Páginas: 136-137 Mariana Corale, série Octaedro, 2021 Bordados em algodão cru, dimensões variáveis Acervo do artista Páginas: 138-141

Vivian Maier, VM19XXW04205-06-MC (New York, NY), s.d. Impressão de gelatina de prata Página: 142 Vivian Maier, VM19XXW03454-06-MC, s.d. Impressão de gelatina de prata Página: 143 Vivian Maier, VM1953W00564-04-MC (1953, New York, NY) Impressão de gelatina de prata Página: 145

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Biografias Andrey Parmigiani Nascido em Florianópolis - SC, em 1992, onde vive atualmente. Mestrando em Teoria e História da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - UDESC, graduando em Bacharel em Artes Visuais também pela UDESC e graduado em Design pela Univille (2013). https://www.instagram.com/arteandrey/ andreyp@live.com

Angelica Neumaier Nascida em Santa Maria - RS, vive em Cocal do Sul - SC. Artista visual, professora e pesquisadora. Mestre em Educação pela UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense) – Criciúma – SC. Graduada em Desenho e Plástica (Bacharelado) pela Universidade Federal de Santa Maria. Possui especialização em Design de Estamparia, Ensino da Arte e Hipermídia com ênfase em Design de Superfície. Atualmente é professora do Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. Participou de várias exposições individuais e coletivas, sendo agraciada com Prêmio Aquisição - Xilogravura no VI Salão Universitário de Arte Universidade Federal de Santa Maria. Classificada na Categoria Gravura - Serigrafia do IX Salão Latino-Americano de Artes Plásticas de Santa Maria, Prefeitura Municipal de Santa Maria e Secretaria Municipal de Cultura. Menção Honrosa Categoria Gravura – Serigrafia, Prefeitura Municipal de Santa Maria e Secretaria Municipal de Cultura. Pesquisa a coleta e recolhimento de materiais descartados da indústria têxtil (poliéster), no qual intervém com costuras e impressões serigráficas, destacando as manchas de cola que ficam no próprio material e as texturas que no processo de fazer o trabalho incorporam-se e permanecem nele. Contemplada com o Prêmio Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura de Santa Catarina - Edição 2021. Membro do GRUPEHME Grupo de Pesquisa sobre a História e a Memória da Educação (UNESC/CNPq) e Grupo de Pesquisa em Arte (GPA/UNESC/CNPq). https://www.instagram.com/angelica_neumaier ann@unesc.net 152


Dariane Martiól Nascida em Coronel Vivida - PR, em 1988, onde vive atualmente. É artista visual, mestranda em processos artísticos contemporâneos do PPGAV/UDESC, bacharela em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2021) e licenciada em Filosofia (UNICENTRO 2012). Transita entre as linguagens do bordado, da fotografia e da pintura tematizando o erotismo e seus desdobramentos entre os corpos, gêneros e sexualidades. www.darianemartiol.com https://www.instagram.com/dmartiol dariane.ms@gmail.com

Edson Vieira Nascido em Umuarama, Paraná, em 1977, atualmente vive em Londrina no Paraná. Mestre em Comunicação Visual e Especialista em Fotografia pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Graduado no Curso Superior de Gravura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná - EMBAP. É professor assistente na Universidade Estadual de Londrina - UEL integrando o corpo docente do curso de Artes Visuais onde desenvolve atividades de ensino e pesquisa em poéticas gráficas e fotográficas. Coordenou, a partir de 2005, projetos de recuperação, publicação e difusão de acervos visuais fotográficos através da Câmara Clara Instituto de Arte e Memória. Foi presidente, entre 2012 e 2021, da Associação Cultural Grafatório, coletivo/associação cultural sem fins lucrativos que tem como objetivo fomentar a cultura das artes gráficas na cidade de Londrina. Além disso, foi professor da Universidade Norte do Paraná - UNOPAR entre 2006 e 2019, no Departamento de Desenho Industrial. https://www.camaraclara.org.br/videos_54_vazio_do_artista.htm https://grafatorio.com/site/ http://www.uel.br/ceca/educacaoartistica/

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Fercho Marquéz-Elul Nascido em Guaraçaí - SP, em 1992, vive em Porto Alegre - RS. Artista, pesquisador, professor e tradutor. Doutorando bolsista CNPq PPGAV-UFRGS (2020), é mestre bolsista CAPES em Artes Visuais PPGAV-UFRGS (2018) e licenciado bolsista PROART e PIBID em Artes Visuais pela UEL (2016). No campo educacional e artístico, atua como arte-educador, participando do projeto Iberê nas Escolas - Fundação Iberê (2020), como também, no Ensino Superior, estagiou lecionando aulas para disciplinas do Bacharelado em Artes Visuais da UFRGS (2018, 2021 e 2022). Atuou também como educador em mediação de programas educativos da 11ª Bienal do Mercosul (2017) e da DaP-UEL (Divisão de Artes Plásticas/UEL) (2014). Atualmente é editor da Revista Valise do Programa de Pósgraduação em Artes Visuais da UFRGS. Apresenta artigos e ensaios sobre arte contemporânea em encontros, seminários, congressos, tendo publicado em periódicos acadêmicos, em publicações e catálogos como “Arte Londrina 6” (2018), em jornal acadêmico como “Perdidos no Espaço Nas Ilhas” (2018) e em livro como “Iniciação à docência em artes visuais: possibilidade e processos no ensino da arte” (2014). Apresenta sua produção poética em exposições individuais e coletivas. Investiga em processos artísticos questões sobre o objeto tridimensional, o espaço, a palavra e a morte, produzindo escritos críticos, poéticos ou literários. Participa, desde 2016, do projeto de pesquisa “As extensões da memória: a experiência artística e outros espaços”, orientado pela Profa. Dra. Maria Ivone dos Santos no PPGAVUFRGS, bem como, do grupo de pesquisa institucional CNPq "Metodologias comparadas: prática, teoria e história da arte", coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Antônio de Menezes Pereira da Silveira nesta mesma instituição. Participou do Programa de Iniciação à Docência - PIBID/UEL “Ensino de arte contemporânea”, com coordenação do Prof. Dr. Renan dos Santos Silva, do PROART-UEL e atualmente participa do grupo de pesquisa “A palavra única”, organizada pela Profa. Dra. Paula Leursen e pela Me. Ana Carla de Brito. Traduziu para o português textos de artistas e filósofos como Georges DidiHuberman e Sue Finlay, bem como contos do escritor israelense Etgar Keret, em parceria com o IBI - Instituto Brasil-Israel. https://www.instagram.com/ferchomarquezelul/ feruchomaruquesu@gmail.com

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Francela Carrera Nascida em Cidade de Guatemala - Guatemala, em 1989, atualmente vive em Florianópolis - SC. Mestranda em Processos Artísticos Contemporâneos pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - UDESC, graduanda em Bacharel em Artes Visuais pela Faculdade de Belas Artes (BA) em São Paulo, Brasil (2018). https://www.instagram.com/francelarc/ francela.carrera@gmail.com

Gabriel Villas Nascido em Campinas - SP, em 1992, vive em Florianópolis - SC. Graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC e, atualmente, é mestrando na linha de Processos Artísticos Contemporâneos pelo CEART/UDESC. Em sua prática artística investiga a relação entre o contorno do corpo e o espaço do entorno através de processos de escuta e transcrição dos espaços, de absorver ruídos e largar rastros. https://www.villasgabriel.com/ gvillasc@gmail.com

Gerusa Morgana Bloss Nascida em Selbach - RS, em 1992, vive em Florianópolis - SC. Psicanalista. Doutoranda em Psicologia com ênfase em Psicologia Social e Cultura - Estética, Processos de Criação e Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Psicologia pela UFSC (2019). Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (2017). Membro do Grupo de Pesquisa: Psicanálise, Processos criativos e Interações Políticas - LAPCIP/UFSC. Bolsista CAPES. Principais interesses em pesquisa: psicanálise; psicanálise em articulação com a arte, com a literatura e com a escrita. https://www.instagram.com/gerusabloss/ gebloss@gmail.com 155


Isadora Cunha Caldas Nascida em Florianópolis - SC, em 1994, onde vive atualmente. Pesquisadora, ilustradora e designer gráfico. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UDESC, na linha de Teoria e História das Artes Visuais, ilustradora e formada em Design Gráfico pela Universidade Federal de Goiás.

https://www.instagram.com/zadorah_/ isadoracaldass@gmail.com

Janaina Ramos Marcos Nascida em Tubarão - SC, em 1976, vive em Florianópolis - SC. Doutoranda em Design, linha de Pesquisa Interfaces e Interações Cognitivas (UDESC -2019), sendo o tema da tese o ensino da fotografia para surdos. Mestre em Design pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2013), e Bacharel em Design gráfico, graduada também pela UDESC (2008). Foi professora Substituta no Instituto Federal de Santa Catarina - Campus Palhoça Bilíngue, nas disciplinas de Semiótica da Imagem, Fotografia, Projeto Multimídia bilíngue I e III, Design de Interface, Ergonomia, Introdução à Comunicação Visual, Tipografia e Introdução ao Design e Arte Contemporânea, nível Graduação e Ensino Médico Técnico Integrado, tanto para surdos, quanto para ouvintes. Sua produção artística e acadêmica dialoga com a Fotografia, a Moda e o Design Gráfico. Produziu peças de moda a partir da reutilização de peças jeans descartadas, ministrou aulas, palestras e workshops no campo da moda e do design e na fotografia, tem seu trabalho voltado para a natureza, fotografia de rua, o efeito punctum citado por Roland Barthes em seu livro A Câmera Clara” e as imagens “cruas”, que não necessitam de intervenção de softwares gráficos. https://libraseimagens.wordpress.com/ jana.ramosdesign@gmail.com

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Joviana Jensen Nascida em Blumenau - SC, em 1970, vive em Florianópolis SC. Mestranda em Artes Visuais (UDESC), na linha de pesquisa de Ensino de Artes Visuais. Integrante do grupo de estudos e pesquisa Estúdio de Pintura Apotheke (UDESC) e do corpo de produção da Revista Apotheke. Graduação em Licenciatura em Artes Visuais pela UDESC. Atuou como professora substituta em escolas públicas de Florianópolis, adquirindo experiência no ensino de Artes com ênfase no Ensino Médio. Desde 2016 investiga a temática do diário de artista professor pesquisador, enquanto instrumento de pesquisa teórico-prática no âmbito do ensino de Artes. Desenvolve trabalhos artísticos nas áreas de pintura, desenho, fotografia e escrita. Bailaroa Flamenca de corpo e alma. http://lattes.cnpq.br/025919901508312 https://www.instagram.com/joviana_jensen/?r=nametag jovianaj@gmail.com

Juliana Camila da Silva Nascida em Jataizinho – PR, em 1999, onde vive atualmente. Artista, pesquisadora e educadora licenciada Artes Visuais pela Universidade Estadual de Londrina (2021), onde participou como bolsista do Programa de Iniciação Científica (PROIC), desenvolvendo atividades relativas à pesquisa. É integrante do Coletivo Negro Prata, no qual compõe uma pesquisa conjunta sobre a arte afro-brasileira na contemporaneidade. Fez parte das exposições “Mesclada” (2018) e “No fim do mundo, o começo” (2021), ambas promovidas pela Divisão de Artes Plásticas de Londrina, sendo a última de modo virtual. Também compôs “Paisagens barrocas: anotações de viagem”, exposição promovida pela galeria do Departamento de Arte Visual (UEL), em 2018. Investiga atualmente as intersecções entre memória, materialidade e escrita no campo da arte contemporânea. https://www.instagram.com/ju.lhana juliana.camila@uel.br

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Katiana Rocha Machado Nascida em Joinville – SC, em 1980, onde vive atualmente. É arquiteta, galerista, produtora cultural. Mestranda em Teoria e História da Arte (UDESC), formada em Arquitetura e Urbanismo (2012), é produtora cultural e executiva em projetos de cultura no estado de Santa Catarina nas áreas de Artes Plásticas, Cinema e Vídeo, desde 2017 desenvolvendo festivais e mostras de cinema e exposições de artistas e obras, através de atuação na Galeria 33 Arthouse Eventos e Estúdio. Produtora Executiva do JISFF Joinville International Short Film Festival, Diretora de Produção do SHORTCUTZSC. Residência Artística em NY (USA) entre os anos de 2014 e 2016 realizando vários workshops e atividades relacionadas a artes plásticas e cultura em geral. Entre (1999-2015) trabalhou no setor construção civil com ênfase em licitações públicas, em empresa própria e de terceiros (projetos e construção). Conselheira do Instituto Luiz Henrique Schwanke 2017-2022. https://www.instagram.com/katiana1312/ arqkatiana@gmail.com

L. Hansen Natural de Petrópolis - RJ, 1997, vive no Rio de Janeiro RJ. Bacharel em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS-UFRJ). Atualmente, cursa mestrado no Programa de Pós-Graduação em Artes da Uerj (PPGARTES-Uerj) na linha Arte, Imagem e Escrita. Faz especialização em Letras na linha Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Realiza pesquisa sobre processos de subjetivação através de escritas de si. Atualmente integra a equipe de edição do livro "Escritos de artistas, escritos em arte" (vol.2) composto por discentes da UERJ. https://www.instagram.com/l._hansen/?r=nametag hansen.lhb@gmail.com

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Mariana Corale Nascida em Florianópolis - SC, em 1980, onde vive atualmente. É atriz, dramaturga, encenadora, bordadeira e pesquisadora. É doutoranda em Artes da Cena (UDESC), mestre em Teatro pela UDESC (2019) e bacharel em artes cênicas pela UNICAMP (2003). É integrante da Cia Embróglio (SC). Tem especialização em Arte, Crítica e Curadoria pela PUC/São Paulo (2012). Trabalhou com importantes nomes do Teatro brasileiro: Isa Kopelman, Marcelo Lazzaratto, Renato Cohen e Cacá Corrêa. Atualmente trabalha com direção de atores, encenação, criação de figurinos e curadoria. Integra o coletivo Imagens Políticas. Em 2020/2021 participou da residência artística Vagamundos (CPT-SESC) e coordena o projeto Soledad, sobre memórias de mulheres da América Latina. https://www.instagram.com/mariana.corale/ coralemariana2@gmail.com

Mariana Medeiros Nascida no Rio de Janeiro - RJ, em 1993. Vive em Florianópolis - SC. É artista visual e mestranda na Linha de Pesquisa Processos Artísticos Contemporâneos do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV/UDESC). Graduada no curso de Artes Visuais Bacharelado da Universidade Federal de Pelotas (UFPel-2019). Sua produção relaciona-se a memórias vividas como desencadeadoras de trabalhos que tocam o campo da fotografia e da gravura em diferentes dimensões e delineia aproximações com o corpo, a natureza e com a paisagem. Atualmente, investiga o campo da fotografia expandida, produzindo séries que abordam a casa e a paisagem para tratar relações de tempo e memória por meio de processos fotográficos alternativos e fotografias de longa exposição. Fez parte do Projeto de pesquisa Arte e Natureza:

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proliferações (CA/UFPel) de janeiro de 2017 a dezembro de 2020, tendo atuado como bolsista de Iniciação Científica CNPq de agosto de 2018 a janeiro de 2020. Atualmente integra os grupos de pesquisas Raízes Poéticas (UDESC/CNPq), coordenado por Profa. Dra. Sandra Favero e Articulações Poéticas (UDESC/CNPq), coordenado por Profa. Dra. Silvana Barbosa Macedo e Profa. Dra. Sandra Favero. https://www.instagram.com/medeiroslmari/ medeiroslmari@gmail.com

Marta Martins Nascida em Livramento - RS, em 1962, vive em Florianópolis SC. Graduada em Educação Artística pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1988), mestra em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995) e Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). É professora no Curso de Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina atuando na Graduação e no PPGAV nas seguintes áreas: Desenho, Teoria da Modernidade, Literatura, Arte Contemporânea, Teoria da Imagem, História e Crítica da Arte e Fotografia. É artista visual, ensaísta, narradora de ficção e fotógrafa. Foi premiada por Edital da Funarte na categoria de Estímulo à produção crítica, em 2012. Publicou “Narrativas ficcionais de Tunga”, pela Editora Apicuri do RJ em 2013 e “Quase coisa nenhuma”, pela Cultura & Barbárie de Florianópolis em 2018.Fez pós-doutorado com pesquisa sobre a poeta e artista visual Ana Hatherly, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em 2018. SUPER-AÇÕES é um apanhado de textos curtos de ficção e um desenho produzidos ao longo de 2020, concomitante as aulas que ministrei no PPGAV do CEART. UDESC, na disciplina: “Formas de narrar: entre imagem e escritura”, no segundo semestre do mesmo ano. fazendotricot@hotmail.com 160


Mauricio Bittencourtt Nascido em Torres - RS, em 1988, onde vive atualmente. É artista e pesquisador. Mestrando na linha de Processos de Criação e Poéticas do cotidiano na UFPel. Especialista em Poéticas Visuais pela UNESC, Especialista em Educação Estética: Arte e as perspectivas contemporâneas e Bacharel em Artes Visuais pela UNESC. Participa do Grupo de pesquisa LugaresLivro da UFPel e do GPA - Grupo de Pesquisa em Arte da UNESC. Tem interesse e produz trabalhos que atravessam os usos da palavra, os enunciados e instruções, a colaboração, a coleta e de que forma a palavra se torna o contexto da própria produção. https://www.instagram.com/mauricio.laborativo/ mauricio.laborativo@gmail.com

Mauricio Igor Nascido em Belém - PA, em 1995, atualmente desloca-se entre Belém-PA e Florianópolis-SC. Licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Mestrando na linha de Processos Artísticos Contemporâneos pela Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGAV/UDESC), com bolsa FAPESC. Em sua pesquisa investiga questões de identidades em temas como miscigenação, gênero, sexualidade, decolonialidade e o cotidiano amazônico. mauricioigor.almeida@gmail.com www.mauricioigor.com

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Odete Calderan Nascida em Sananduva - RS, em 1964, vive em Criciúma - SC. Artista visual, pesquisadora e professora. Doutoranda bolsista UNIEDU, na linha de Processos Artísticos Contemporâneos (PPGAV/UDESC). Mestrado em Arte Contemporânea (PPGART/UFSM). Especialista em Design para Estamparia (UFSM). Graduada em Bacharelado em Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Investiga contornos implicados em processos e práticas artísticas que convergem pelo viés poético desdobrando-se em contextos da paisagem, das linguagens, materialidades e subjetividades; articulado às questões processuais, conceituais, da experiência e tudo que atravessa - caminhar, coletar, escavar, arquivar, narrar, colecionar. É professora no Curso de Artes Visuais, Bacharelado e Licenciatura na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma - SC. Membro do Grupo de Pesquisa Articulações Poéticas (UDESC/CNPq) e Grupo de Pesquisa em Arte (GPA/UNESC/CNPq). odete@unesc.net

Priscila Akimi Hayashi Nascida em São Bernardo do Campo - SP, em 1993, vive em Londrina - PR. Graduada em Ciências Econômicas (2016) e em Artes Visuais (2021), ambas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmente é mestranda em Fundamentos do Ensino e Aprendizagem da Arte pela ECA-USP. Durante a graduação em Artes Visuais foi bolsista pelo PIBID (2017) e atuou como mediadora na Divisão de Artes Plásticas de Londrina (DaP) (2018-2019), pelo programa Arte na Escola. Também participou de projetos de pesquisa, a saber, A formação do professor de Artes Visuais em uma perspectiva autobiográfica e Estágio curricular e formação docente em diferentes contextos: o delicado caminhar da docência, na qual foi bolsista de Iniciação Científica pela CNPq-CAPES (2020-2021). Durante a graduação teve envolvimento com a pesquisa narrativa e a reconstrução da memória nos territórios da Arte Educação e da Pesquisa em Arte. priscila.hayashi@usp.br 162


Rafaela Maria Martins Nascida em Panorama - SP, em 1993, vive em Florianópolis - SC. Doutoranda em Artes Visuais pelo PPGAV-UDESC (2021); Mestre na linha de Teoria e História das Artes Visuais no PPGAV-UDESC (2019), SC; bolsista CAPES; licenciada em Arte pela Fundação Dracenense de Ensino e Cultura/ Unifadra em Dracena, São Paulo (2016). Atuou como arte educadora na rede Estadual de Educação de São Paulo (2014), do Mato Grosso do Sul (2014-17) e de Santa Catarina (2019-2021). https://www.instagram.com/rafaelamariamartins/ rafamariamartins@gmail.com

Suzimara Regina Batista Rizzo Nascida em Jales - SP, 1982, vive em Fernandópolis - SP. Professora arte-educadora (UNIJALES), pedagoga (UFSCAR), pós-graduada em Arte Educação, Educação para Jovens e Adultos e Neuropsicologia e mestranda no IA-UNESP. suzimara.batista@etec.sp.gov.br

Tiago Herculano da Silva Nascido em Campina Grande - PB, em 1986, onde vive atualmente. Doutorando do curso de Artes Cênicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestre em Artes Cênicas pela UFRN. Graduado em licenciatura em Teatro pela UFPB. Artista Plástico formado em Desenho e Pintura pela UFCG. Carnavalesco da Escola de Samba Virtual Deixa de Truque no período de 2017 até 2021; atualmente fazendo parte da equipe artística da agremiação Virtual Morro do Esplendor. http://lattes.cnpq.br/3688535576275314 txchyagoserectus@hotmail.com

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Organização: Edson Vieira, Fercho Marquéz-Elul, Gerusa Morgana Bloss, Juliana Silva, Mariana Corale, Mariana Medeiros, Marta Martins, Priscila Hayashi Coordenação Editorial: Edson Vieira, Fercho Marquéz-Elul, Juliana Silva, Mariana Medeiros Produção gráfica: Mariana Medeiros Fotografia de Capa e capítulos: Mariana Corale Revisão e tratamento dos textos: Gerusa Morgana Bloss e Mariana Corale Revisão e tratamento das imagens: Mariana Medeiros

Nós, organizadores do VENHA, agradecemos especialmente a Ailton Pereira Junior, artista, professor e idealizador do selo de publicações Ouriço Edições, por ajudar-nos em mais um parto, mesmo tão atarefado com as Novas Felicidades VINDAS

ISBN: 978-65-00-42480-5

Como citar:

CORALE, Mariana, MARTINS, Marta, MARQUÉZ-ELUL, Fercho et al. (org.). VENHA. Florianópolis, Londrina e Porto Alegre: edição dos autores, 2022.



Esta publicação é fruto das criações pandêmicas produzidas a partir da disciplina Formas de narrar: Entre imagem e escritura, realizada de modo síncrono e ministrada pela Professora Dra. Marta Lúcia Pereira Martins, integrante do grupo de pesquisa Articulações Poéticas (PPGAV/UDESC) no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais na Universidade do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis - SC, entre a primavera de 2021 e o verão de 2022.




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