Caderno Final TGI2_Fernanda Britto

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VAZIO

COMO NEGATIVO DE CIDADE



INTERVENÇÃO URBANA EM ÁREAS RESIDUAIS AO LONGO DA AVENIDA NOVE DE JULHO EM SÃO PAULO FERNANDABRITTO TRABALHODEGRADUAÇÃOINTEGRADO2012 INSTITUTODEARQUITETURAEURBANISMO UNIVERSIDADEDESÃOPAULO

São Carlos, 2012.



À família, Aos amigos, Aos colegas de TGI, À CAP Aos professores,

Em especial Ao Paulo Castral, Ao Givaldo Medeiros.

A todos aqueles que acompanharam, apoiaram, torceram e ajudaram nesse processo.






O projeto é uma fala sobre a série de espaços residuais presentes na Avenida Nove de Julho, na cidade de São Paulo, áreas indefinidas e vazias, estas justamente potenciais se não se posicionarem em direção contrária a sua lógica de formação. Logo, o vazio é trabalhado como elemento capaz de revelar relações presentes no espaço urbano.

O PROJETO



Em 1930, Le Corbusier projetou um terraço para o senhor Besteigui que se localizava na cobertura de um dos edifícios da famosa avenida Champs Elysées em Paris, no qual o arquiteto teve a audácia de delimitar o espaço com muros a uma altura que escondiam toda a paisagem da cidade, exceto quatro marcos: o Arco do Triunfo, a Basílica de Sacré Couer, a Catedral de Notre Dame e a Torre Eiffel, como se, desta forma, resumisse drasticamente a imagem de Paris por estas construções emblemáticas. Ironicamente, esse limite gerava uma indefinição neste espaço que de fato não era público mas que, de certa forma se inseria no ambiente urbano. Com apenas um gesto.



A metrópole é um lugar desprovido de situação, não tem medida nem limites. Ela não tem interior nem exterior, ali não se está dentro nem fora, tudo é estrangeiro. E nada o é. Um tráfico contínuo entre os interesses, entre as paixões, entre os pensamentos e todas essas passagens desenham a zona incerta onde se deve pensar esta conformação nunca acabada. Nelson Brissac Peixoto | Paisagens Urbanas

Barthes dizia que com o surgimento do cinema e a presença da velocidade em sua percepção, comparada a de imagens estáticas, excluiu-se a capacidade reflexiva do observador, que é conduzido pela narrativa a ler de certa forma um tema e não ter pausas para a reflexão durante o assistir. Posto isto, a ideia de cenário urbano a ser trabalhada no projeto foi fomentada por uma série de filmes que possuem como cenário a cidade de São Paulo e que tem como tema a dinâmica da vida urbana contemporânea. Este tema, na linha escolhida para o projeto, trabalha com a ideia de um cidadão sempre em trânsito que é interrompido e surpreendido por situações que fogem ao controle do sujeito, situações estas consequências da dinâmica urbana. Esses filmes de monstram a cidade como cenário do conflito, mas também do acontecimento, em um misto de imprevisibilidade, descontrole, possibilidade, mudança.

A paisagem não é, portanto, o lugar da conciliação, mas o limiar entre as coisas e o olhar. A paisagem não tem a evidência daquilo que se mostra imediatamente. Ela remete a outra coisa, que só se revela àqueles que, visionários, fecham os olhos para ver. Nelson Brissac Peixoto | Paisagens Urbanas Segundo Brissac Peixoto, a imagem da cidade metrópole é homogênea aos olhos, é sobreposição sucessiva de camadas de tempos, dimensões e suportes, que toma a forma de textura, pelas quais não se consegue mais estabelecer distinção. Mas sua grande questão é que a cidade é uma expressão humana e que traduz algo que não pode ser visto diretamente pelos olhos, mas que é testemunho de algo que lá está dito. Por isso, para o autor o cego é uma figura emblemática da percepção contemporânea, aquele que não enxerga, mas que vê além, que compreende. FILMES: O Invasor | São Paulo SA | O Signo da Cidade | A Via Láctea | A Casa de Alice

INQUIETAÇÕES



REVELAR A CIDADE

O INTERVALO E O OLHAR



Ao lançar o olhar para a leitura e interpretação de questões nesse cenário criado, mostrou-se pertinente estudar e compreender brevemente a formação da cidade, a fim de destacar áreas testemunhas desses processos, espaços onde se pudesse revelar uma fala para área em si como para a cidade. Compreender como a implantação da infraestrutura se deu na cidade é compreender como seu espaço foi articulado. A leitura das redes de circulação em São Paulo revela como se deu a ocupação e a expansão da metrópole, principalmente se relacionado às leituras topográfica e hídrica de sua área. Além disso, a compreensão dos deslocamentos está relacionada ainda à ideia de espaços efêmeros, extremamente funcionais, mas que são plataformas essenciais para a construção de narrativas e imagens cotidianas da cidade. Devido a isso, é importante ressaltar que os fluxos viários e os fluxos hídricos, no caso de São Paulo, são comprometidos entre si, já que as diretrizes do desenvolvimento da rede de transportes foram subordinadas à condição da bacia hidrográfica da cidade. Foi por urgência e conformidade de se abrir mais e mais vias para conectar diferentes regiões e fazer o escoamento dos fluxos motorizados que se aproveitou das situações de não construído e de relevo para abrirem avenidas em lugar dos rios. Os espaços que antes tinham o papel de barreira, a partir de então passaram a ter papel de ligação de relações físicas, espaciais e funcionais (ou assim se esperava acontecer). FOTO | Construção da Avenida Nove de Julho,



A imagem acima é síntese da infraestrutura urbana de deslocamento da área: as avenidas radiais Nove de Julho, Prestes Mais e Vinte e Três de Maio; os anéis viários Radial Leste e avenida São Luís - viaduto Nove de Julho - viado Jacareí - avenida Maria Paula; com destaque ainda para a avenida Paulista, a rua da Consolação e a rua Major Quedinho. Ao lado, situação do relevo e a conformação das avenidas Nove de Julho e Vinte e Três de Maio na topografia. Em destaque estão os vazios gerados pelas articulações do viário.



O mesmo acidentado da topografia determinou também este outro traço característico e já referido, que são os viadutos, (...) o modelado do terreno o impõe, a cidade acabará com um verdadeiro sistema complexo de vias públicas suspensas que lhe emprestará um caráter talvez único no mundo. Com os viadutos virão os túneis (...) e será este mais um traço original de São Paulo que, com o outro, fará dela uma cidade dividida em dois planos sobrepostos, cidade de dois pavimentos.

Logo, reconhece-se que esta situação gera dois diferentes pavimentos de cidade: a cota da avenida e a cota de suas travessias, que configuram uma série de viadutos ao longo de sua dimensão. Esse tipo de arranjo é indício de que a cidade praticamente se inscreveu sobre as planícies, onde as depressões são como um obstáculo às conexões e ao deslocamento e as transposições são símbolo de superação. FOTO | Avenida Nove de Julho com vista para a Radial Leste



O principal código reconhecido ao longo das avenidas de fundo de vale que é repetido em diversas situações e em diversos tempos é definido pelo termo negação. O ato de negar tanto o leito do rio como suas margens podem ser observados desde a primeira proximidade com as águas até a presente situação. É histórico. Antes mesmo da abertura das avenidas e do tamponamento dos rios, as áreas das várzeas já eram rejeitadas, pois, pela condição irregular do terreno com as cheias, eram ocupadas por aqueles que se sujeitavam à situação por não terem outra opção. Logo, a submissão das águas às avenidas aparecia como solução aos problemas que na verdade eram indício de outras questões: estruturais e econômicas. E esse tipo de relação se repete ainda de outras maneiras na cidade como o exemplo da avenida Boa Vista, com várias sedes de bancos e localizada em um ponto mais alto que uma de suas paralelas, a rua Vinte e Cinco de Março, símbolo do mercado informal e irregular. É a situação de terreno acidentado como forma de segregação. E como dito, a condição de negação historicamente se repete e hoje seu resultado é o marcante número de vazios existentes ao longo dessas avenidas e mesmo a fraqueza dos meios que tentam conectar essas camadas. Vazios resultantes dos processos de aberturas de anéis viários que rasgam o tecido urbano, fragilizando os encontros sociais e os espaços públicos, fragilizando tradições depositadas ao longo da história, fragilizando a relação que se construiu no tempo do homem com a cidade. Essas rupturas e seus intervalos são ainda indícios de processos maiores na escala metropolitana, gerados pelos movimentos de descentralização e expansão horizontal, limitados, muitas vezes, por áreas intensamente densas – como no caso dos centros históricos – que deveriam aparecer não como espaços de degradação e ausência, mas como espaços de proposição e desafogo. Vazios que, se explorados, poderiam proporcionar qualidades de paisagem e de lugar para usos públicos que não seriam necessariamente fixos, mas que pudessem receber diversas atividades em diferentes temporalidades. FOTO | Avenida Nove de Julho com vista para o Terminal

INDÍCIOS



A foto acima mostra a rua Ă lvaro de Carvalho e o viaduto Major Quedinho. JĂĄ ao lado, a Avenida Nive de Julho voltada para a Radial Leste



Nos caso específico da Avenida Nove de Julho, a condição de negação está presente já que é possível ler proposições e questões que traduzem uma relação mínima e mais próxima entre o homem, o relevo e a avenida. Apesar de precárias em termos de espaço urbano, existem respostas para a situação. O primeiro indício são os vazios que, em alguns trechos da Nove de Julhos, se configuram como ilhas ocupadas, em que seus edifícios procuram resolver minimamente a questão do relevo. Logo, nota-se que as entradas dos edifícios acontecem por suas ruas paralelas que estão mais próximas do nível das planícies do que dos níveis dos vales. Sendo assim, os edifícios dão as costas para a avenida e também para as ruas que formam as ilhas de transição, que restam como estacionamento. O trecho é basicamente pensado para o automóvel, desprovido de espaços públicos. Ironicamente, pela condição infra estrutural da avenida, há um grande número de transporte coletivo que passa sobre ela ao mesmo tempo que poucas pessoas circulam ao longo dela. Os acessos à avenida e consequentemente aos pontos de ônibus são feitos pelas escadas subordinadas mais uma vez a outra lógica, à lógica dos viadutos. Vale ressaltar a ambiguidade da situação causada pela rede de mobilidade, que se por um lado esgarça relações em situações locais, por outro lado é articuladora na grande escala. Além da visibilidade que poderia ser conferida das relações presentes em um ponto da cidade, a presença e fluxos que atravessam o local possui grande potencial conector, em algo mais subjetivo de transmissão de informações, ideias, FOTO | Viaduto Nove de Julho



RECONHECIMENTO



Sobre o recorte da área, além da questão topográfica que já foi amplamente discutida, é necessário revelar algumas dimensões de história e de tradição. A Consolação tem seu traçado desde quando ainda era um caminho da colônia que ligava a vila São Paulo a Vila Pinheiros. É importante corredor de ônibus na cidade e dentro da área de projeto é quase que limitada por três importantes pontos, marcos reconhecíveis: a praça Roosevelt e a Igreja da Consolação do lado oeste e Largo da Memória com saída do metrô Anhangabaú do lado leste e a biblioteca Mário de Andrade ao centro. Já a rua Santo Antônio também tem tradição histórica, advinda da construção da Igreja Santo Antônio, uma das primeiras igrejas da cidade de São Paulo. É ainda prolongamento (se não fosse o rasgo criado pela Avenida Vinte e Três de Maio) da rua Libero Badaró onde podemos conectar a praça do Patriarca e o largo São Francisco. Ao longo de seu curso existiam diversos lotes compridos de casarões que iam até a avenida, mas que muitos foram demolidos ou reestruturados devido a situação de má conservação desses edifícios. Perpendicular a essas ruas, precisamente no sentido da Nove de Julho para a Consolação está a Avenida São Luís, que nos tempos coloniais era a rua dos grandes casarões da elite cafeeira, mas que sofreu transformações com a inserção do anel viário, seu leito carroçável foi ampliado e seus casarões foram substituídos por edifícios modernos dos anos 50-60-70. Configura então a sequência da avenida São Luís, o viaduto Nove de Julho, o viaduto Jacareí, terminando como a avenida Maria Paula. Sobre essa via estão situados edifícios emblemáticos como o edifício Garagens e a Câmara Municipal e ainda é esquina com a biblioteca Mário de Andrade. O segundo viaduto Major Quedinho parece ser consequência e prolongamento de um traçado da cidade tradicional, diferente da importância urbana de conexão do viaduto Nove de Julho. Finalmente, o reconhecimento de elementos em termos formais como indícios da história da área são, sistematicamente, os muros de arrimo – que delimitam os vazios e que registram os movimentos do solo – e os viadutos e suas escadas que, imponentes estruturas, são marcas da continuidade e descontinuidade desse tecido tanto na escala do pedestre quanto para o automóvel. Ambos os elementos são facilmente reconhecidos na paisagem e de certa forma são barreiras visuais e que serão importantes articuladores



O recorte.



Interrupções



Linhas marcantes da topografia e muro de arrimos formados devido aos movimentos de terra

Imagens do modelo de estudos


Conex천es entre as duas camadas da cidade: os viadutos e o fundo de vale


Imagens de modelos conceituais. Nesta página, ensaio de elaboração de uma malha padrão que serviria como referência às diversas linhas do local. À esquerda, pesquisa sobre muros e enquadramentos que enfatizariam as visuais do local.



Imagens de modelo físico de estudo do relevo e o entrelaçamento de níveis.



Pontos articuladores que promovem o contato com um nĂ­vel intermediĂĄrio

Imagens do modelo fĂ­sico de estudo do projeto


Eixo que organiza o projeto, articulando os espaços de permanência


Cada objeto é espelho de todos os demais. Nelson Brissac Peixoto | Paisagens Urbanas

A leitura do “conceito” de lugar sobre os vazios urbanos, por vezes parece contraditória. Diferentemente dos historicistas e regionalistas que buscam no lugar referências tipológicas para a elaboração de sua arquitetura, o caso dos vazios mostra-se muito singular, dado que ou há poucas características a serem levantadas ou a complexidade de questões presentes é tão grande, a ponto desse espaço se tornar ponto de tensão circundado por inúmeras diferenças. Posto isto, a exploração formal e simbólica que escancare essas questões que aparecem homogêneas se faz pertinente antes de se pensar na proposição de grandes novos programas. Primeiro é necessário assumir a condição do vazio como algo potencial e necessário para o desenho de um projeto que seja capaz de enfatizar e esclarecer as inúmeras relações presentes no contexto, trabalhando em questões visuais e no desenho da paisagem.

PROPOSIÇÃO


PROPOSIÇÃO


Implantação nível intermediário

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Sendo assim, trabalha-se com a ideia de que a situação é organizada em camadas que se entrelaçam e se relacionam através dos percursos. A fim de ativar a percepção deste jogo complexo, propõe-se a inserção de uma nova pele intermediária em processos sistemáticos que toma elementos pré-existentes e sugere novos elementos que terão papel de referenciais capazes de revelar e elaborar relações novas e existentes. Pele, pois essa, de certa forma, se acomoda às questões existentes sem esconder ou negar, mas tensionando as linhas presentes. Intermediária, pois, fisicamente se coloca entre as camadas claramente consolidadas da cidade – o nível dos viadutos e das planícies versus o nível da avenida e do vale. E que, mimeticamente, estará entre os tempos presente e que virá. O motor do projeto está nos percursos que atravessarão as novas lógicas propostas, enfatizando, então, a percepção da pele e principalmente da pele com o todo – o intuito é provocar a leitura e a reflexão sobre o todo, sobre a cidade. IMAGEM | Ao lado, dois cortes esquemáticos: o primeiro enfatiza a questão da negação na área enquanto o segundo demonstra a proposta do projeto em tornar o “entre” as duas camadas acessível.



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Nas imagens a seguir, pode-se notar a determinação de um eixo principal posicionado entre a camada da cidade e a camada do fundo de vale, reforçando a ideia de nível intermediário. Este, de forma mais determinada, atravessa a sequência de barreiras presentes na área, rasgando viadutos, enfatizando a ideia da existência de interrupções na paisagem. Já a proposta do segundo percurso vai em direção a uma ideia de costura da área com seu entorno direto, criando extensões das calçadas e pequenos nichos, permeando a área, de forma sinuosa em relação ao eixo principal. IMAGEM | Referência Buildings Cuts Matta Clark

PERCURSOS



Eixo estruturador do projeto

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Eixo estruturador e percursos secundรกrios

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Imagem sobre o eixo quando este está em situação de passarela.



Em contraponto ao partido de manter o vazio na paisagem, no sentido de manter a horizontalidade deste intervalo, são inseridos elementos verticais pontuais como marcos onde estão situadas as conexões diretas com os três níveis então presentes. Estão ainda conectados aos espaços de permanência do projeto que são os ambientes voltados para questões referentes à arte urbana, como por exemplo a pixação, característica marcante desta área dado a grande presença de fachadas cegas e muros e também à imagem do lugar, com caráter de entranhas da cidade, submundo, indeterminação, protesto. IMAGEM | Referência das folies de Bernard Tschumi

CONEXÕES



INTERNET MÍDIAS

ARQUIBANCADA EXIBIÇÃO

Pontos de conexão direto entre os três níveis

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NÚCL E URBA O ARTE NA

RESTAURANTES

NÚCLEO ARTE URBANA

NÚCLEO ARTE URBANA


Sobreposição de diagramas

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Imagem de dentro do piso sob o viaduto Nove de Julho que configura o nĂşcleo de arte urb e dos dois edifĂ­cios por meio de uma galeria, ambos paralelos.


bana, estabelecendo a conexĂŁo dos dois lados da avenida (em uma passagem pĂşblica)


As imagens a seguir procuram reconhecer linhas visuais possíveis dada a situação tanto topográfica quanto a condição de vazio. IMAGEM | Referência do Detector de Ausências de Rubens Mano

VISUAIS



Campos visuiais possĂ­veis a partir do viadutos.

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Linhas visuais possíveis entre a Avenida Nove de Julho e a rua Álvaro de Carvalho em relação às condições presentes (viadutos, escadas e muros de arrimo)

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Vista da escadaria para norte.



O projeto busca trabalhar com a questão topográfica de forma a enfatizar e/ou esgarçar relações em termos de cheios e vazios. IMAGEM | Referência da obra Shift de Richard Serra

TOPOGRAFIA



Implantação nível 752

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Implantação nível 747

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Implantação nível 743

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“Obras inacabadas permitem que se veja com clareza as possibilidades de configurações, possibilidades que a conclusão dos trabalhos tendem a esconder cada vez mais fundo.” Angelo Bucci – Pedra e arvoredo O conceito que conduz todo o projeto é a ideia de vazio como o negativo da cidade, não no sentido pejorativo da palavra, mas entendendo-o como algo capaz de revelar as formas urbanas, assim como o negativo da fotografia revela uma imagem e que sem ele não seria possível sua existência. Desta forma, buscou-se, antes das questões internas ao lugar, destacar a área em relação à cidade, como testemunha de uma série de processos, rastro assim como os diversos espaços residuais ao longo das avenidas de fundo de vale da cidade de São Paulo e tantas outras ações que influem na organização urbana. Sem lutar contra a sua lógica de formação, o vazio se faz necessário como uma certa distância que torna possível a leitura das relações do lugar e abre-o como espaço da indeterminação, da imprevisibilidade, mas também da possibilidade. Olhar para o espaço é olhar para seu processo.

VAZIO COMO NEGATIVO



A metrópole, esse local desprovido de situação, sem medida nem limites, pode justamente ser o lugar do acontecimento. (...) O descortinar da paisagem, o acontecimento da cidade. Nelson Brissac Peixoto | Paisagens Urbanas








BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura. Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. RG Bolso da Romano Guerra Editora, vol. 06.São Paulo, 2010. COLOMINA, Beatriz. Privacy and publicity - Modern architecture as mass media. Cambrige: The MIT Press, 1994. FERRARA, Lucrécia d´Aléssio. Ver a cidade: cidade, imagem, leitura. São Paulo: Nobel, 1988. PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e outros estudos. 7ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1971. PEIXOTO, Nelson Brissac Peixoto. Cenários em Ruínas, Brasiliense, 1987 PEIXOTO, Nelson Brissac Peixoto. Paisagens urbanas. Editora Senac. São Paulo, 1996. SOLÁ-MORALES, Manuel. De Cosas Urbanas. Barcelona: Gustavo Gili, 2008



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