Entre o Vale e a Paisagem: A Requalificação do Córrego da Água Comprida

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ENTRE O VALE E A PAISAGEM:

A REQUALIFICAÇÃO DO CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA



ENTRE O VALE E A PAISAGEM:

A REQUALIFICAÇÃO DO CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho como requisito à obtenção do título de Arquiteta, Urbanista e Pasagista. ORIENTADORA PROF. DRA. NORMA REGINA TRUPPEL CONSTANTINO ORIENTANDA FERNANDA CRISTINA FERREIRA

BAURU 2019



Aos meus pais e à minha avó Dona Luzia



Resumo Ao longo dos séculos, com a industrialização e o crescimento dos centros urbanos, a paisagem configurou-se em uma natureza alterada e ressignificada, sendo, em alguns casos, visto como um obstáculo ao progresso. Atualmente, sabe-se que o contato com a natureza é fundamental para garantir uma boa qualidade de vida. Com isso, na intenção de amenizar os prejuízos causados por uma intervenção agressiva no meio ambiente e em uma urbanização pautada nos interesses imobiliários, são estudados e analisados meios de atuar na paisagem de modo a compreender a sua composição e, ao mesmo tempo, proporcionar a geração de espaços que possuam funções sociais, culturais, econômicas, funcionais, bioclimáticas, ecológicas e estéticas. Deste modo, é proposto pelo presente trabalho um levantamento acerca dos temas de paisagem, áreas livres, áreas verdes, fundos de vale, rios urbanos e parques lineares, que servirão de base teórica, tendo como objetivo principal deste Trabalho Final de Graduação propor um projeto de parque urbano linear na área de fundo de vale do Córrego da Água Comprida na cidade de Bauru (SP).

Palavras-chave: Paisagem, parques, fundo de vale, rios urbanos, espaço público, Bauru.

Abstract Since the industralization and the urban centers growth trought the centuries, landscapes changed and reframed. In some cases, it was even belived to be an obstacle to the progress. Nowadays, we know that the contact with nature is fundamental in order to ensure life quality. Concerning to minimize the losses that the agressive interventions and a urban sprawl based upon profitable interests made in the enviroment, there are some options. It’s possible to analise the urban view in a way to understand it’s composition and in the same time provide spaces that can be cultural, economical, sociable, bioclimatic, ecological and beatiful to society. For this purpose this work present a research in: landscapes, green areas, valley bottoms, urban rivers and linear parks. Which will be the theory to develop an urban linear park project in the bottom area of the Agua Comprida’s stream located at the city of Bauru (Brazil).

Keywords: Landscape, parks. valley bottom, urban rivers, public space, Bauru.



10//

INTRODUÇÃO

13//

REFERENCIAL TEÓRICO

OBJETIVOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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PROJETOS DE REFERÊNCIA

33//

O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA PLANO GERAL A LEGISLAÇÃO DE BAURU

PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA

68//

PARQUE ARARAQUARA RIO DONA EUGÊNIA WALLER CREEK GUADALUPE RIVER PARK

A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA

48//

SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES: ESPAÇOS VERDES CONTEXTO HISTÓRICO OS FUNDOS DE VALE E O PARQUE LINEAR RIOS URBANOS

O LOCAL PESQUISA DE CAMPO O PROJETO

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE



1 INTRODUÇÃO



INTRODUÇÃO | 11

Compreender a interação e intervenção do homem sobre a paisagem torna-se fundamental para a análise de qualquer elemento da forma urbana da atualidade. A interdependência entre cidade e território configura na paisagem os espaços livres. “Distribuídos quali-quantativamente no tecido urbano, são formados por espaços não edificados que constituem um sistema” com funções sociais, culturais, econômicas, funcionais, bioclimáticas, ecológicas e estéticas (MATTOS, 2017, p.15). A forma com que a paisagem é tratada tem variado e evoluído ao longo da história, acompanhando as transformações da sociedade. Inicialmente, a paisagem era vista como algo intocável, “vinculada diretamente à natureza e à arte” (ROGER (2011) apud. MATTOS (2017). Com a industrialização e o crescimento acelerado dos centros urbanos, as transformações que ocorrem estão diretamente ligadas às ações do homem como um coletivo, resultado da história do seu uso, conferindo-lhe identidade e significado. Atualmente, a noção de paisagem envolve os espaços em que o homem atua e vive, assumindo formas e funções urbanas, desde espaços de lazer e recreio, infraestruturas e edifícios, até ruas e praças arborizadas. Contudo, com a expansão desordenada dos centros urbanos, “a paisagem é tratada como mercadoria”, sua relação com a natureza é segmentada resultando em “espaços sem cunho projetual” (MATTOS, 2017, p 34). Conceber os espaços livres urbanos como parte de um sistema interligado e inserido no projeto territorial das cidades mostra-se fundamental para estruturar e ordenar o meio urbano. A falta de planejamento e a negligência por parte do Poder Público têm acarretado sérios impactos negativos sobre a qualidade de vida da população. O comprometimento da biodiversidade e ecossistemas torna a área urbana vulnerável, causando alterações no clima, contaminação da água, além de deslizamentos e enchentes (MATTOS, 2017). Os espaços verdes são tidos como elementos dos espaços livres e se manifestam em funções variadas, mostrando-se fundamental dentro dessa nova conjuntura urbanística que está se formando nos dias atuais. Através de uma rede de elementos, é “firmado progressivamente sobre tais espaços um caráterW multifuncional”, empregando funções e benefícios na modelação das

cidades, como um meio de ir de encontro aos conceitos contemporâneos da paisagem que reconecta o homem à natureza. Esses novos parâmetros de utilização dos espaços, concebe a cidade como uma parte da natureza e faz com que seja “necessário uma nova postura administrativa e projetual” (MATTOS, 2017, p. 37) para com a mesma, de modo a enaltecer os seus potenciais. A urbanização promoveu a alteração no uso e ocupação do solo, o que ocasionou diversos problemas ambientais e a falta de infraestrutura nas cidades. A retirada da vegetação e a impermeabilização do solo impactam diretamente no ciclo hidrológico, com perda da qualidade da água e consequentemente afetando todo o restante da bacia hidrográfica e acarretar na degradação da vegetação ciliar presente nas áreas de fundos de vale. Atualmente, há um grande número de planos e projetos que adotam o parque linear como instrumento de baixo impacto ambiental e eficaz na recuperação dessas áreas (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). Os parques lineares surgiram inspirados pelas tendências europeias e norte-americanas de renaturalização, promovidas pelos greenways e parkways, que tem alcançado bons resultados em relação à manutenção da biodiversidade (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). Os parques lineares são obras estruturadoras de programas ambientais em áreas urbanas, sendo utilizados como instrumento para planejamento, recuperação e gestão de áreas degradadas, conciliando aspectos urbanos e ambientais, destinados à conservação de ecossistemas naturais, manejo de águas pluviais e funções de uso humano. Possui como característica a interligação de fragmentos ecológicos, aumento de áreas de várzea de rios e evitam ocupações irregulares em áreas de proteção ambiental (ABCP, 2013, p.3). Além disso, “devem assumir papel fundamental na estruturação da drenagem urbana das cidades contemporâneas” (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010, p.4) bem como o controle de cheias para redução da velocidade dos escoamentos e diminuição das enchentes; destacando-se a capacidade de valorização do entorno e promovendo benefícios econômicos.


CAPÍTULO 1 | 12

1.1 OBJETIVO

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O objetivo principal deste Trabalho Final de Graduação é propor um parque urbano linear na área de fundo de vale do Córrego da Água Comprida na cidade de Bauru – SP. O parque terá como função promover um espaço para que ocorra a preservação do ecossistema ali presente, ao mesmo tempo, que irá adquirir formas e funções urbanas, as quais poderão conter desde espaços de lazer e contemplação, até infraestruturas e edifícios.

A elaboração da monografia e do projeto se dará por meio de pesquisa teórica, de campo e através da pesquisa aplicada. Para a concepção do Trabalho Final de Graduação, os procedimentos metodológicos serão:

Para realização do objetivo principal, tem-se como objetivos específicos: (I) Identificar as necessidades da população que reside próximo ao local, que utiliza o espaço ou possui o desejo de utilizá-lo; (II)

Conhecer estratégias de gestão de áreas de fundo de vale;

(III) Projetos de apoio para o parque, como banheiros, vias para ciclistas e pedestres, áreas para encontros, como apresentações e feiras, playground, estações de ginástica e áreas contemplativas; (IV) Escolha de materiais que podem ser empregados no local, priorizando o uso de materiais naturais e a permeabilidade do solo;

Pesquisa Teórica A pesquisa teórica ocorrerá através da revisão bibliográfica a ser realizada a partir da leitura de textos, livros e artigos científicos com autores pertinentes aos temas de paisagem, fundos de vale, áreas livres, áreas verdes e parques lineares. Por fim, serão analisadas legislações, planos, projetos pertinentes à área que será realizado o projeto, além de levantamentos históricos e da situação atual da área P esquisa de Campo Será efetuado a partir de visitas técnicas ao local para coleta de dados, levantamento fotográfico, percepções pessoais, entrevistas e/ou aplicação de questionários com pessoas que residem próximo à área ou a utilizam. Pesquisa Aplicada A pesquisa aplicada será buscar estudos de caso de projetos relacionados a fundo de vales que contenham estratégias de gestão e materiais que podem ser empregados no local.



2 REFERENCIAL TEÓRICO



CAPÍTULO 2 | 14 [...] Fragmentados quer no complexo espacial quer no das políticas urbanas e culturais são relegados como aspectos complementares, de sofisticação e supérfluos, como base para o esplendor de objetos arquitetônicos. No entanto, com forte peso na configuração de modelo urbano, são, frequentemente, descontinuidades físicas inadequadas no tecido urbano ou na poli nucleação global. (MAGNOLI, 2006, p. 202).

2.1 SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES: ESPAÇOS VERDES Incialmente, para compreendermos a questão dos espaços verdes e a maneira com que eles estão incorporados ao meio urbano, faz-se necessário assimilar os conceitos de paisagem e espaços livres em que este está inserido. Os espaços livres são caracterizados pela interdependência entre cidade e território, os quais são “distribuídos quali-quantativamente no tecido urbano, formados por espaços não edificados que constituem um sistema” (MATTOS, 2017, p.15) com funções sociais, culturais, econômicas, funcionais, bioclimáticas, ecológicas e estéticas. A forma com que a paisagem é tratada tem variado e evoluído ao longo da história, acompanhando as transformações da sociedade. No começo, a paisagem era vista como algo intocável, vinculada diretamente à natureza e à arte. Com a industrialização e o crescimento acelerado dos centros urbanos, as transformações que ocorrem estão diretamente ligadas às ações do homem como um coletivo. A paisagem antes lida por si só, configura-se em uma natureza alterada, resultado da história do seu uso, o que lhe confere identidade e significado. Segundo Constantino, interpretar a paisagem é uma tarefa complexa, pois cada pessoa enxerga os mesmos elementos de diferentes perspectivas e significados. A autora afirma que “qualquer paisagem é tão densa de evidências e tão complexa e codificada que nós nunca podemos estar seguros de tê-la lido na totalidade ou corretamente, porque em cada perspectiva pode haver muito mais do que parece existir” (CONSTANTINO, 2014, p.6). Atualmente, a noção de paisagem envolve os espaços em que o homem atua e vive, assumindo formas e funções urbanas, desde espaços de lazer e recreio, infraestruturas e edifícios, até ruas e praças arborizadas. Contudo, com a expansão desordenada dos centros urbanos, “a paisagem é tratada como mercadoria, limitando-se a relações fragmentadas com a natureza” resultando em “espaços sem cunho projetual” (MATTOS, 2017, p.34). O desenvolvimento tecnológico faz com que o homem não se reconheça como parte desse sistema, criando a sensação de uma falsa independência da mesma. Com isso, espaços livres de edificação são tidos de maneira superficial, como suporte da flora ou como “pulmões” da cidade:

Esse distanciamento entre o homem e o meio natural contribui com os processos de fragmentação e devastação de grandes maciços vegetais, poluição, diminuição de recursos, aquecimento global e extinção de espécies. O comprometimento da biodiversidade e ecossistemas torna a área urbana vulnerável, causando alterações no clima, contaminação da água, além de deslizamentos e enchentes. Conceber os espaços livres urbanos como parte de um sistema interligado e inserido no projeto territorial das cidades mostra-se fundamental para estruturar o meio urbano. A falta de planejamento e a negligência por parte do Poder Público têm acarretado sérios impactos negativos sobre a qualidade de vida da população. Interpretados como “resíduos” dos elementos construídos, os espaços livres devem ser incluídos no planejamento para a concepção e ordenação física do território e, também, para a preservação dos elementos naturais. (MATTOS, 2017). Para Magnoli (2006), a compreensão do espaço livre como um todo deve ir além do entendimento inicial, que se refere às áreas urbanas e seu entorno “não-coberto” de edifícios. Para a autora, devem-se incorporar a esse conceito os “espaços que estão ao redor, na auréola da urbanização, e não somente internos, entre tecidos urbanos” sendo assim, “todo solo e toda água não-cobertos por edifícios”. A partir disso estabelece-se que: [...] O vínculo do espaço é fundamentalmente de localização em relação aos edifícios, isto é, para com as pessoas que os ocupam, em circulação ou em permanência. O enfoque de espaço livre enquanto objeto de desenho só é relevante desde que analisado em face das atividades e necessidades do homem urbano (MAGNOLI, 2006, p. 202).

Ainda segundo a autora, há uma maior importância em relação a localização dos espaços livres do que a sua quantidade, e o seu enfoque enquanto objeto de desenho deve ser em coordenar o local com os edifícios e a urbanização, em qualquer que seja sua escala, desde bairros, distritos e núcleos urbanos, até metrópoles, sub-regiões e regiões. O espaço livre de edificações deve propiciar “o enriquecimento das atividades do homem urbano”, sendo a sua quantificação um mito, já que a “quantidade é constante em seu todo, o que varia é a distribuição e a conFIGURAção dessa distribuição nas diversas escalas da urbanização” (MAGNOLI, 2006, p. 203).


REFERENCIAL TEÓRICO | 15 Essa distribuição de espaços livres na mancha urbana configura em um sistema de parques que “exerce forte influência no modelo de urbanização”, a ser apropriado pelo homem em suas diferentes escalas e atividades. De acordo com Magnoli (2006, p. 204), “espaços livres de edificações ou de urbanização são pressupostamente os mais acessíveis por todos os cidadãos”, sendo, portanto um espaço democrático “enquanto significado intrínseco da expressão espaço urbano”. Contudo, observa-se a existência de um vínculo entre o ideal sociopolítico-cultural dos espaços livres serem locais democráticos e a descontinuidade física do tecido urbano: [...] Essas descontinuidades físicas são os espaços livres. Entretanto, essas descontinuidades físicas se constituem muito frequentemente em “barreiras de espaços livres não apropriados, surgem como cunhas rompendo a continuidade de assentamentos que constituem, de fato, um único sistema sócio espacial no cotidiano de seus habitantes” (MAGNOLI, 2006, p. 204).

Na configuração do desenho dos sistemas de espaços livres, além da sua distribuição de espaços propriamente dita, está implícito a “distribuição da diversidade de atividades humanas em espaços fechados (desenho da cidade e desenho dos edifícios)” (MAGNOLI, 2006, p. 204). Além de permitir o acesso, luz e ar às edificações, os espaços livres possuem o dever de possibilitar “vistas, circulação, permanência, apoio a serviços locais e urbanos, espaços para vida ao ar livre, apoio para infraestrutura e reserva para usos urbanos futuros” (MAGNOLI, 2006, p. 204).

[...] A forma pode conter outras formas, a cidade contém inúmeras formas e está contida em outras tantas. Tratando de espaço, não estamos falando de simples geometria espacial, de mero espacialismo e sim de sistema complexo (MORIN, 2008), que compreende tanto a complexidade funcional (relativa à função que a forma desempenha) quanto a complexidade estrutural (relativa ao conjunto de informações, de elementos que a compõe) (MOLES, 1971, p. 78, apud SANTOS, 2002, p. 69). Tão mais complexa estruturalmente é a forma, quanto mais apta estaria a dar respostas rápidas e eficazes (MACEDO, 2013, p.3).

No Brasil, o planejamento urbano “restringe-se à elaboração de planos e seus respectivos índices” e suas formas são resultado de uma “legislação específica aplicada por diversos agentes ou decorrentes da atuação informal de seus habitantes” (MACEDO, 2013, p.4). A produção de espaços livres públicos se dá de maneira pontual, pois ocorre de acordo com os interesses dos agentes envolvidos e a disponibilidade de recursos, quando deveriam ser prioridade da gestão urbana e das políticas públicas. As ações que orientam as transformações da forma urbana podem ser divididas entre formais e informais, sendo as formais as ações programadas integralmente, como o caso do Plano Piloto em Brasília, e as ações informais são as estratégias aplicadas pela população em geral, como no caso das ocupações em corpos d´água. Os agentes envolvidos na produção do espaço urbano, sejam eles privados ou públicos, atuam de maneira individualizada ou associada para “prover e reproduzir espaços livres e edificados, ou seja, reproduzir formas segundo uma estrutura de produção, distribuição, circulação e consumo específicas” (MACEDO, 2013): [...] O Estado brasileiro é um mediador não isento de interesses e tem comportamento e composição variáveis no tempo e no espaço. Na intermediação do jogo de forças da sociedade, atua por meio de intervenções diretas, seja como empresário, consumidor de espaços e localizações específicas, como proprietário fundiário e promotor imobiliário, sem deixar de ser também um agente de regulação do uso e ocupação do solo urbano por meio de legislação pertinente. Atua ainda com ações fiscais que envolvem recursos, entre elas a tributação, e ainda liberando subsídios. É o maior produtor, por excelência, e gestor dos espaços livres públicos. (MACEDO, 2013, p.13).

[...] Toda cidade é constituída por espaços livres e espaços edificados, numa relação de vazios e cheios, de áreas abertas e fechadas. Os sistemas de espaços livres compreendem todos os espaços livres de uma cidade, sejam públicos ou privados, produzidos de modo formal ou informal. São ruas, praças, parques, calçadões, quintais, campinhos de futebol, marquises etc. (MACEDO, 2013, p.2).

Para Macedo (2013, p.1), toda cidade possui um sistema próprio de espaços livres, resultado do processo de formação da malha urbana associado às formas de propriedade, desmembramento de glebas, parcelamento do solo, arruamento, criação de lotes e construções. Para o autor, são os espaços livres elementos responsáveis pela estruturação da forma urbana, essa que está em “constante processo de transformação, dependendo totalmente das lógicas do mercado imobiliário formal e informal e da população em seus processos de apropriação da terra urbana”:

Para Macedo (2013), o “espaço livre é inerente à forma urbana”. As cidades brasileiras do início do século XXI possui uma configuração diferente daquela dos anos 1980 em que o estudo da forma urbana no país estava no seu auge. Nas últimas três décadas, o crescimento da população e do perímetro das cidades, assim como da frota de veículos e redes de estrada influenciou na forma urbana e foi responsável pela introdução de novos modelos urbanísticos como: loteamentos fechados, verticalização extensiva, habitações precárias, áreas industriais afastadas dos grandes centros, parques lineares, extensas orlas tratadas, demanda por arborização e inserção da vegetação na cida-


CAPÍTULO 2 | 16 de. Contudo, apesar da arborização urbana ser um elemento estruturador da forma e paisagem urbana, do mesmo modo que as construções, a demanda pelo crescimento das áreas urbanizadas, não é considerado um elemento importante. Assim como a forma da cidade, importante em termos de planejamento e gestão, por outro lado é “desqualificada como objeto de análise, do mesmo modo que o são os espaços livres em geral” (MACEDO, 2013). Para o mesmo autor, exemplo disto é a negligência à constituição da rua por parte do Poder Público e da população. Apesar de refletir as formas de mobilidade, acessibilidade, circulação, parcelamento e propriedade da terra urbana, o principal espaço livre urbano e estruturador da forma urbana é constituído, em sua maioria, por “calçadas geralmente subdimensionadas e leito carroçável nem sempre apto à circulação adequada”. O estudo da forma urbana permite compreender tanto os padrões estéticos quanto a vida social, dialogando com “com as dinâmicas ecológicas pré-existentes e com o sítio de cada localidade” (MACEDO,2013). A forma das cidades brasileiras contemporâneas é “amálgama de influências do estrangeiro associadas a criações locais” e submetida às lógicas de produção do mercado e do Estado. Apesar disso, as formas estão vinculadas aos padrões culturais, desigualdades sociais e às características biofísicas e climáticas, sendo cada área influenciada na sua “constituição formal e espaços livres” conforme a “constituição socioeconômica da comunidade local” (MACEDO, 2013, p.9), podendo existir variações na composição de uma mesma metrópole.

Para Macedo (2013, p.9), o fato da cidade brasileira não possuir um padrão pode ser confirmado a partir da sua mancha urbana e sua inserção no suporte físico, o que resulta em diversas paisagens. Compreende-se como mancha a “área construída contida dentro do perímetro de uma urbanização podendo esta ter formas e portes diversos de acordo com a escala: lugarejo, cidade ou metrópole”. Em cada mancha urbana abrange-se um “conjunto de tecidos urbanos e um sistema de espaços livres particular, que guarda entre si características similares devido as suas condições de formação e padrões culturais, urbanísticos, paisagísticos e econômicos”. Nas últimas décadas, os municípios brasileiros atravessam sérios problemas de ordenação devido à falta de um planejamento coeso com o seu crescimento, no qual os assentamentos se desenvolvem desordenadamente. A partir dessa percepção, tem-se a ordenação da paisagem como elemento fundamental na preservação da mesma, por meio de atuações urbanísticas alternativas que permitem a realização das dinâmicas urbanas, ao mesmo tempo, que salvaguarda os recursos naturais de modo inovador e sustentável

(TARDIN, 2010, p.1). [...] Um sistema é visto como um conjunto de elementos passíveis de estabelecer inter-relações, físicas, funcionais, e relativas à vivência da paisagem, abertas e intricadas entre si, com seu entorno, e com as pessoas que o vivenciam (TARDIN, 2010, p.4).

De acordo com Mattos (2017, p. 35), Frederick Law Olmsted desenvolveu a proposta de criação do Sistema de Parques de Boston, cujo objetivo era integrar a cidade ao campo através de um desenho de espaços livres. Essa nova concepção sobre a paisagem proporcionava uma nova visão sobre o desenvolvimento urbano, aliada à preservação dos recursos naturais, ao mesmo tempo, que proporcionava um uso a essas áreas pela população local. Para Tardin (2010, p.4), a “observação da paisagem urbana em sistema, entre espaços livres e ocupados, permite entender o modo como esta vem sendo construída”, sendo através da percepção dos seus elementos morfológicos, organizados entre si, que compreendemos “suas relações espaciais, funcionais e de vivência”. Segundo a autora, “falar da paisagem urbana e de seus elementos estruturantes, em última instância, implica falar de uma paisagem integrada”, em que a paisagem local assimila-se à territorial e aos elementos, processos e relações que as constituem, de modo que, na prática, “espaços livres de ocupação urbana e espaços ocupados compõem um todo sistêmico”. De acordo com Tardin (2010), podemos identificar três sistemas na paisagem urbana: - Sistema urbano: Composto por elementos e processos relacionados à urbanização, como infraestruturas, assentamentos e espaços livres; nos usos estabelecidos sobre estes e na legislação urbana. São as partes essenciais da vida urbana que configuram sua estrutura espacial e funcional; - Sistema biofísico: Esse sistema está relacionado aos processos naturais como vegetação, fauna, água, topografia, solos, clima, etc, ou seja, os elementos necessários para que os processos naturais se desenvolvam; - Sistemas sociocultural e econômico: Se refere ao modo de vida de uma comunidade, seus valores e percepções, atribuídos à estrutura física da paisagem, que se refletem nas relações humanas, funcionais e espaciais. - Sistemas sociocultural e econômico: Se refere ao modo de vida de uma comunidade, seus valores e percepções, atribuídos à estrutura física da paisagem, que se refletem nas relações humanas, funcionais e espaciais.


REFERENCIAL TEÓRICO | 17 Ao analisarmos os sistemas de paisagem devemos levar em consideração que seu resultado é decorrente de processos temporais, espaciais, funcionais e da interpretação do homem sobre seu meio de acordo com as necessidades e seus modos de vida. A sua leitura deve ocorrer de modo que “conduz à percepção de que os conjuntos formados estão intimamente integrados e definitivamente associados, tanto urbanos como biofísicos ou socioculturais” e, assim, compreender que a paisagem é algo integral que “apresenta uma grande fluidez entre elementos, processos e escalas” (TARDIN, 2010).

[...] Conhecer os elementos e processos que compõem a paisagem urbana e as relações que estabelecem entre eles é de suma importância, pois significam a possibilidade de conhecer cada escala da paisagem e suas peculiaridades, e como sua análise e avaliação podem ser importantes como diretriz para sua ordenação e a definição das intervenções urbanas. Descobrir os significados dos elementos e processos da paisagem nos faz pensar em possibilidades de intervenção que visem, sobretudo, o equilíbrio entre as necessidades coletivas e os recursos dessa, o que significaria a possibilidade de habitar, viver e projetar de acordo com as necessidades de cada pedaço do território e de suas comunidades (TARDIN, 2010, p.5).

Para intervir na paisagem, antes, é necessário analisa-la como um sistema complexo que é composto por diversos sistemas resultado do seu “processo de formação e transformação, com total independência de limites abstratos”, ou seja, atuar de “modo a reconhecê-la em seu cerne, seus meandros, suas marcas, sua estrutura, seu corpo e, sobretudo, seus processos sistêmicos”, por meio do “olhar dos seus cidadãos” e como “estruturadora de intervenções urbanísticas, rumo à construção de cidades mais equilibradas e coesas” (TARDIN, 2010). Historicamente, o planejamento das nossas cidades foi concebido com objetivo de promover uma ocupação extensiva e, majoritariamente, urbana, não considerando os distintos sistemas da paisagem que promovem a vida humana. Com isso, a legislação ambiental foi elaborada como um instrumento que tem o intuito de preservar os recursos naturais, porém, atualmente, é vista como um “limite” à ocupação urbana, sendo vista de modo negativo e, muitas vezes, descumprida pelos agentes envolvidos na produção do espaço urbano. De acordo com Tardin (2010, p. 9), “as lógicas da ocupação urbana se justapõem às “lógicas” da legislação ambiental”, e em nenhuma delas é incorporado um “raciocínio sistêmico sobre suas deliberações”, a partir da “inter-relação entre partes ocupadas e não ocupadas e seus respectivos atributos, quais sejam: urbanos, biofísicos, socioculturais ou econômicos” (TARDIN, 2010, p. 9).

Dessa maneira, compreender a natureza é indispensável para construção da paisagem e para sua preservação, da mesma forma que a ocupação urbana e os espaços livres compõem esse sistema, ordená-los corresponde a intervir substancialmente na atuação de cada um deles e na maneira que atuam sobre o outro. Ou seja, promover uma ocupação e reestruturação consciente, em que o sistema de espaços livres e as infraestruturas originadas da urbanização estejam relacionados. Como por exemplo: [...] Prever os espaços livres com a intenção de proteger, definir e relacioná-los com as vias e os assentamentos, sejam existentes ou por vir; prever as infraestruturas viárias, com a definição da rede viária e suas variações, como lugar de fluxos entre as partes da ocupação urbana e os espaços livres e de acordo com os sistemas da paisagem; prever assentamentos que seguiriam uma ordenação de acordo com os sistemas da paisagem, como opção de reestruturação ou de ocupação consciente, diretamente relacionados com o sistema de espaços livres e as infraestruturas viárias (TARDIN, 2010, p.10).

De acordo com Tardin (2010, p.16), implementar a ordenação sistêmica da paisagem “depende de uma gestão adequada e integrada dos recursos”, em que implica no “desenvolvimento físico junto à determinação de políticas públicas permanentes que viabilizem as propostas”. Para a autora é importante concebermos a paisagem em sistema como “agente ativo das intervenções urbanas”, atribuindo valores a estes espaços, pois serão eles a fornecer os “argumentos técnicos mensuráveis” até propostas concretas de intervenções urbanas, desde o plano até o projeto, “que podem constituir argumentos de negociação e debate público”. A partir dos conceitos expostos, temos os espaços verdes, concebidos como elementos dos espaços livres e que se manifesta em funções variadas, mostrando-se fundamental dentro dessa nova conjuntura urbanística que está se formando nos dias atuais. Através de uma rede de elementos, é “firmado progressivamente sobre tais espaços um caráter multifuncional” (MADUREIRA et al., 2014, p. 2311 apud MATTOS, 2017, p.37), empregando funções e benefícios na modelação das cidades, como um meio de ir de encontro aos conceitos contemporâneos da paisagem que reconecta o homem à natureza. Esses novos parâmetros de utilização dos espaços, concebe a cidade como uma parte da natureza e faz com que seja “necessário uma nova postura administrativa e projetual” (MATTOS, 2017, p. 37) para com a mesma, de modo a enaltecer os seus potenciais que sempre estiveram presentes ao longo da história, porém foram negligenciados durante o processo de desenvolvimento tecnológico a partir da Revolução Industrial.


CAPÍTULO 2 | 18 a enaltecer os seus potenciais que sempre estiveram presentes ao longo da história, porém foram negligenciados durante o processo de desenvolvimento tecnológico a partir da Revolução Industrial. De acordo com o último censo do IBGE de 2016, 84,4% da população brasileira é urbana e, a previsão é de que até 2030, 90% da população viverá em cidades. Esses dados reforçam a importância da inclusão de espaços verdes no meio urbano, já que nos próximos anos viveremos em um espaço cada vez mais modificado pelo homem. A incorporação de uma infraestrutura verde no desenho urbano permite que o homem retome sua relação com natureza, estimulando o sentimento de proteção e preservação da diversidade de espécies, através da criação de habitats. Os corredores vegetais são fundamentais para a “conexão do meio urbano com o meio natural, influenciando profundamente na perpetuação da fauna e no movimento dos animais” (MATTOS, 2017, p. 41). Os espaços verdes são importantes para a saúde e o bem estar da população, pois além dos elementos naturais, apresentam uma variedade de subespaços. Espaços de permanência, trânsito e lazer, aliados a equipamentos e instalações contribuem para com o uso coletivo e partilhado de seus usuários. De acordo com Mattos (2017), estamos diante de uma fase de transição de uma sociedade consumista e exploratória para uma sociedade sustentável e consciente do seu impacto no meio ambiente: [...] Estamos passando por uma fase de transição entre uma sociedade consumista e preocupada com as explorações e uma que dá prioridade a um futuro sustentável. Para que isso realmente aconteça são necessárias medidas eficazes, ações mais sistematizadas que abordem a multifuncionalidade dos espaços em uma grande escala urbana em substituição a medidas sem efeito, fragmentadas, focadas apenas em situações pontuais e momentâneas, que não consideram a integração sistêmica dos elementos e os usuários do meio (MATTOS, 2017, p. 45).

Para que isso se torne uma realidade efetiva, necessitamos que as políticas públicas ambientais sejam formuladas e executadas em conjunto entre planejadores e a população, através de consultas populares, que levarão em conta o contexto urbano, histórico, social, cultura, econômico e as preferências desses futuros usuários, já que serão eles que utilizarão o espaço: [...] Acredita-se que as políticas públicas ambientais só se tornarão bem sucedidas quando forem formuladas através da participação conjunta entre a população, os políticos e os planejadores, por isso, a importância da valorização dos espaços verdes urbanos nos meios contemporâneos com base na opinião dos cidadãos, já que são eles que farão do espaço verde um local bem-sucedido ou fadado ao fracasso e abandono (MATTOS, 2017, p. 47).

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO Os primeiros registros que temos em relação aos espaços verdes se referem à “jardinocultura”, uma prática de cunho cultural, simbólica e religiosa que se iniciou respectivamente no Antigo Egito e na China. Posteriormente, os jardins deram espaços às praças centrais, na Grécia Antiga e nas cidades romanas, locais de integração e encontro da sociedade em que se desenvolvia a vida pública. Devido ao grande número de visitantes, as vilas romanas e seus jardins assumiam características de pequenos parques suburbanos. Mesmo estando entre as muralhas do Período Medieval, que se desenvolveu entre os séculos V e XV D.C., as praças mantiveram-se como locais de reunião e suportavam práticas de comércio, enquanto a natureza era constituída através de jardins em propriedades privadas (MATTOS, 2017). Foi durante o século XVII e XVIII, após a Revolução Industrial, com o aumento populacional, falta de saneamento básico e a baixa qualidade de vida nos grandes centros urbanos, que contribuíram para a criação de áreas verdes, inserindo-as dentro de um contexto de planejamento urbano, com intuito de melhorar as condições de salubridade e higiene, além de contemplar questões sociais, com áreas para recreação e ócio da população (DOURADO, 2008). As primeiras áreas voltadas a esse objetivo foram os squares londrinos em contrapartida às habitações insalubres dos operários. Contudo, estes eram “territórios públicos sem possibilidade de circulação completamente livre” que resultaram de medidas da nobreza e, posteriormente, da burguesia industrial, sem qualquer suporte de uma política pública. Entretanto, foi a cidade de Paris, responsável por difundir um modelo urbano integrado de espaços verdes através da reforma promovida pelo prefeito Georges-Eugène Haussmann e o Imperador Napoleão III.

[...] Entre 1853 e 1870, a capital francesa foi transformada de cima a baixo por uma ambiciosa reforma comandada pelo prefeito Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) e respaldada pelo imperador Napoleão III (1808-1873). Visando dar retaguarda à expansão industrial e financeira da cidade, a intervenção pôs em marcha um programa de melhorias urbanas numa escala sem precedentes na história de Paris. Em linhas gerais, consistiu na regularização e ampliação da malha viária, na valorização do centro monumental e teve, como um de seus pontos altos, a implementação de um conjunto metropolitano de parques, praças e ruas arborizadas (DOURADO, 2008, p.13).


REFERENCIAL TEÓRICO | 19 O objetivo de distribuir os jardins por toda a cidade e de democratizar o seu acesso provinha do imperador Napoleão III como forma de oferecer à população como um todo áreas de descanso e recreação. Por trás dessa atitude, a iniciativa trazia consigo “uma mentalidade que considerava a difusão de jardins públicos capaz de civilizar a massa de trabalhadores e inibir convulsões sociais”, ao mesmo tempo em que educava a população mais baixa e elevava a sua moral. Os espaços verdes atendiam ao anseio da burguesia industrial e financeira, que estava em ascensão, que tinha o desejo de “reproduzir comportamentos que foram característicos da aristocracia” (DOURADO, 2008, p.14). Enquanto na Europa esse modelo de urbanização que integrava os espaços verdes tornava-se cada vez mais difundido, no Brasil recém-descoberto, não havia esse tipo de preocupação. De acordo com Mattos (2017): No Brasil não houve uma tradição na elaboração de jardins, nas primeiras décadas, após o descobrimento. Nesse período, os colonos estavam envolvidos em questões relativas à sobrevivência e conquista de território, não se preocupando com a apropriação da paisagem natural para contemplação e lazer (TERRA, 1996, p. 33). As primeiras informações a respeito de uma modificação desse pensamento surgiram durante o período de ocupação holandesa em Pernambuco, onde Maurício de Nassau teria reproduzido uma cidade semelhante às europeias, com plantações de diferentes espécies vegetais, e importantes registros sobre a fauna e a flora brasileira (SEGAWA, 1996, p. 53 apud MATTOS, 2017, p. 38).

O chamado Brasil Holandês foi governado por Maurício de Nassau de 1637 a 1644, ano que os holandeses foram expulsos definitivamente do território brasileiro. Nesse período, a cidade passou por um período de modernização, em que se reproduziu um modelo de cidade semelhante às europeias, houve a criação de um jardim botânico, plantações de diferentes espécies vegetais e importantes registros sobre a fauna e a flora brasileira. No final do século XVIII, a coroa portuguesa interessada em desenvolver conhecimentos a respeito dos valores econômicos da flora e da fauna local implantou jardins botânicos em diferentes locais no país para o desenvolvimento de um comércio (MATTOS, 2017). Entretanto, transformações urbanísticas só se iniciaram efetivamente a partir do estabelecimento da família real em território colonial no século XIX. Os espaços verdes foram valorizados com a “implantação de políticas urbanas de arborização e a criação de parques e jardins” (MATTOS, 2017, p. 39). O desejo de modernizar as cidades baseou-se na reforma de Paris e em seus modelos culturais que inspiravam progresso. De acordo com Dourado (2008, p.87), “à época do Primeiro Império e da Regência, manteve-se um quadro favorável à

vinda de horticultores e paisagistas franceses, respaldado pelo clima amistoso nas relações políticas e econômicas entre os governos brasileiro e francês”. O Rio de Janeiro, epicentro político e financeiro do Império, demandou uma reforma física e cultural do seu ambiente, assim como outros centros urbanos, como Recife e Salvador, que também sofreram essa renovação. O Segundo Império se estabeleceu como o período central da atividade paisagística francesa no Brasil, propiciado pela acumulação de capitais com a exportação de café. De acordo com Ghirardello (1992, p.10), “o café estimulava os negócios urbanos fazendo florescer uma classe média ligada às atividades burocráticas”, e essa concentração de atividades econômicas atraíram um grande número de pessoa, provocando modificações na paisagem e nas relações sociais. As novas elites que surgiram desejavam os modelos de vida europeus, sendo reproduzidos primeiramente com transformações nas grandes residências urbanas e, posteriormente, no próprio espaço da cidade. Dessa forma, importantes capitais passaram a providenciar espaços verdes e arborizar algumas de suas vias (DOURADO, 2008). Esse novo modelo de criação de espaços foi introduzido no Brasil por intermédio do francês Auguste François Marie Glaziou (1833-1906), que atuou na construção e reforma de jardins e parques, com a adoção de princípios do jardim paisagista moderno e sua adaptação para o território nacional. Glaziou desenvolveu um grande número de obras, principalmente na capital imperial, e no final do século XIX seus squares espalhavam-se por todo Brasil, com seus traçados curvos, suas profusões ornamentais com ruínas e grutas constituídas de concreto armado, lagos, cascatas e canteiros com flores multicoloridos. Posteriormente, no século XX, com a crescente industrialização que ocorria no Brasil durante a Era Vargas (1930), trabalhadores do campo se viram obrigados a migrar para os centros urbanos com o objetivo de alcançar melhores condições de vida. Esse aumento populacional nas cidades foi acompanhado por um crescimento urbano desordenado que contribuiu para a criação de um conjunto de espaços verdes desconectados e insuficientes que persistem até os dias atuais.


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2.3 OS FUNDOS DE VALE E O PARQUE LINEAR A urbanização promoveu a alteração no uso e ocupação do solo, o que ocasionou diversos problemas ambientais e falta de infraestrutura nas cidades. Um conjunto de espaços verdes urbanos precários e desconexos, associados a problemas de arborização, impermeabilização do solo e drenagem impactam diretamente no ciclo hidrológico e na manutenção da biodiversidade. Aliado a todo esse contexto, a falta de atuação do poder público e da participação popular, contribui para a falta de manutenção desses espaços e, consequentemente, resulta no pouco aproveitamento de seus benefícios (MATTOS, 2017). A retirada da vegetação e a impermeabilização do solo impactam diretamente no ciclo hidrológico com perda da qualidade da água tendo por consequência afetar todo o restante da bacia hidrográfica e acarretar na degradação da vegetação ciliar presente nas áreas de fundos de vale. Segundo os autores, Barbosa, Goulart e Angelis (2010): [...] Parte do problema se deve à visão errônea da engenharia durante a primeira metade do século XX, tinha por princípio que a boa drenagem era aquela que afastava o mais rapidamente as águas de escoamento do meio urbano. Por consequência, as áreas alagadas, brejos e margens de rios e córregos passaram a ser consideradas áreas insalubres, passando a receber a ação amplamente aceita de aterramento, retificação, represamento, drenagem, assoreamento dos canais, e até mesmo a supressão da vegetação (TUCCI, GENZ, 1995 apud BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010 p. 1).

De acordo com o art. 3º do Código Florestal (Lei Nº 12.651/2012), entende-se a Área de Preservação Permanente – APP por: Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Brasil, Código Florestal, 2012, p. 2).

O Código Florestal regulamenta a implantação de usos públicos de baixo impacto ambiental em áreas de APPs, permitindo a intervenção em qualquer tipo de APP, pública ou privada, para os casos de implantação de área verde em área urbana e regularização fundiária sustentável. A lei determina uma faixa mínima de proteção para os cursos d´água, sendo no mínimo 30 metros para cursos d’água com menos de 10 metros de largura, sendo essas áreas

de risco para ocupação, por estarem sujeitas a inundações, deslizamentos e erosões. Contudo, apesar da legislação ser um instrumento que tem o intuito de preservar essas áreas, isso não ocorre na prática. As restrições existentes na legislação geram tentativas por parte da iniciativa privada de ter pleno aproveitamento da área a ser loteada ou edificada, eliminando através de aterros, canalização, desmatamento e terraplanagem qualquer elemento que possa vir a impedir o seu objetivo de mercantilizar o território. Quando o responsável pela área é o Poder Público, nota-se que esta padece com o seu abandono, despejo de lixo ou ocupações irregulares. Podemos observar outra falha presente na legislação referente ao fato de que o proprietário deste tipo de território continua a arcar com as despesas e impostos ainda que não possa utilizá-la, fazendo com que estas áreas sejam abandonas, pois o seu valor comercial está abaixo (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). Atualmente, há um grande número de planos e projetos que adotam o parque linear como instrumento de baixo impacto ambiental e eficaz na recuperação dessas áreas de fundo de vale. Os parques lineares são obras estruturadoras de programas ambientais em áreas urbanas, sendo utilizados como instrumento para planejamento, recuperação e gestão de áreas degradadas, conciliando aspectos urbanos e ambientais, destinados à conservação de ecossistemas naturais, manejo de águas pluviais e funções de uso humano. Possui como característica a interligação de fragmentos ecológicos, aumento de áreas de várzea de rios e evitam ocupações irregulares em áreas de proteção ambiental (ABCP, 2013, p.3 apud BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). Os parques lineares surgiram inspirados pelas tendências europeias e norte-americanas de renaturalização, promovidas pelos greenways e parkways, que tem alcançado “bons resultados em termos de manutenção da biodiversidade, recuperação da vegetação ciliar e da qualidade da água, promoção do lazer, dentre outros benefícios” (BARROS, 2004 apud BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). Segundo Barbosa, Goulart e Angelis (2010, p.3), alguns autores como Giordano (2004), Fabos (2004) e Friedrich (2007), atribuem ao arquiteto norte americano Frederick Law Olmsted a criação do paisagismo como uma nova prática no campo da arquitetura. Em 1865, Olmsted foi responsável por introduzir o conceito através da transformação do vale do Rio Strawberry Creek em um greenway, por meio de um projeto que liga a cidade de Berkeley a Oakland, em que a conexão de um local ao outro se dá por meio dos parques e demais áreas livres. Contudo esse projeto não chegou a ser implantado. Para o desenvolvimento de seus conceitos, Olmsted foi influenciado pelos boulevares europeus, sobretudo os parisienses concebidos por Georges-Eugène Haussmann, e os conceitos de


REFERENCIAL TEÓRICO | 21 cinturão verde e cidade-jardim desenvolvidos pelo inglês Ebenezer Howard (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). O conceito de Ebenezer Howard baseava-se na busca por um equilíbrio social e ambiental, a ideia da cidade-jardim era de “reunir as vantagens das cidades às do campo, em novos núcleos com todas as funções urbanas integradas à natureza, a serem construídos e apropriados por cooperativas” (CONSTANTINO, 2005, p. 49). De acordo com Magnoli (2006, p.204), o parque urbano sofre uma evolução com relação ao seu papel nos centros urbanos, de maneira que essas mudanças podem ser acompanhas por meio da periodização denominada “movimento americano de parques”. Essa periodização pode ser dividida em quatro etapas correspondentes a programas e desenhos de parque, que utilizam dos mesmos elementos – água, árvores, flores, caminhos, vedos, esculturas, edificações – em diferentes combinações. Os modelos possuem o mesmo objetivo de “contribuir para a solução de problemas decorrentes das transformações iniciadas pelos processos de industrialização e urbanização” (MAGNOLI, 2006, p.204), sendo eles:

Desenvolvido por Olmsted, o conceito de greenways pode ser compreendido como redes de elementos lineares planejados, concebidos e geridos para diversos fins, em especial, visando o uso do solo sustentável, incluindo fatores ecológico-recreativo, cultural e estético. Em geral, são classificados de acordo com a sua função predominante em três categorias principais: corredores ecológicos, corredores de recreação e corredores de valor histórico e cultural. A criação e conservação desses espaços resultam em diversos benefícios como: a busca por um desenvolvimento sustentável aliado a qualidade de vida, com áreas lineares de lazer e circulação; viabilizar os processos naturais no meio urbano, através da função de conectividade dos corredores naturais com outros espaços livres, auxiliando na conservação dos recursos naturais, proteção do habitat e a movimentação de plantas e animais (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010). A implantação de parques para recuperação de áreas de fundo de vale também assume um importante papel na drenagem urbana: Os Parques Lineares podem assumir papel de suma importância na drenagem urbana, garantindo a permeabilidade das margens dos córregos, com consequente infiltração e vazão mais lenta da água durante as inundações, mostrando-se assim uma alternativa mais barata e muitas vezes mais eficaz – principalmente quando o parque abrange toda área de várzea, ou incorpora dispositivos de armazenagem de parte do volume d’água – do que a tradicional canalização dos córregos (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010 p. 3).

- O pleasure garden (1850 a 1900), caracterizado por amplo espaço e sua paisagem bucólica, localizados além da periferia da cidade e voltados para descanso aos trabalhadores exaustos e para mantê-los controlados sob os ideais morais das elites. - O reform park (1900 a 1930), em que o parque é voltado à recreação e atividades a todas as faixas etárias, seus espaços são reduzidos, pois agora se encontram próximos às habitações e locais de trabalho, a morfologia urbana passa a ter uma aparência contínua com o aspecto das fábricas e habitações; - O recreation facility (1930 a 1965), um modelo para garantir a sustentação moral durante a Depressão e Segunda Guerra Mundial, oferecendo um grande número de atividades de recreações e, como o próprio nome diz, assegurado a todos os cidadãos. Também nessa época, a urbanização começa a se estender por áreas de baixa densidade e periferias. - O período de 1965 a 1980 é contemplado por intensas e extensas modificações. A cidade assume um papel multifuncional e heterogêneo e, apesar da sua automação e áreas de lazer, seus espaços centrais sofrem deterioração e vandalismo.

Outro problema que atinge os centros urbanos devido à ocupação desorientada desses fundos de vale são as cheias. Esse fenômeno natural ocorre em média a cada dois anos quando o leito maior dos rios, popularmente, conhecido como várzea, inunda para comportar o volume maior de água. A retirada da vegetação e “os impactos da urbanização nestas áreas provoca um aumento das vazões máximas de até sete vezes, agravando o ”fenômeno das enchentes”, causando danos materiais e morais à população, provocando também “a deterioração da qualidade das águas devido à lavagem das ruas, transporte de material sólido e as ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial” (BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010, p.4). Em razão das cheias urbanas, diversos países utilizam de áreas temporárias para o retardo da vazão empregando bacias de estocagem, que são formadas por pequenos lagos, em que ampliam a largura do canal atenuando as enchentes, sendo também possível “direcionar os escoamentos para os parques de armazenamento, distribuídos de forma estratégica na malha urbana” (BARBOSA, GOULART ANGELIS, 2010, p.4).


CAPÍTULO 2 | 22 Dessa forma, os fundos de vale e os parques lineares assumem uma importante função “na estruturação da drenagem urbana das cidades contemporâneas”, bem como no controle de cheias para redução da velocidade dos escoamentos e diminuição das enchentes; destacando-se também:

[...] Benefícios econômicos decorrentes da estruturação dos espaços livres urbanos, como a valorização das propriedades adjacentes; aumento de oportunidades de emprego, decorrente do desenvolvimento da região onde é implantado; possibilidade de cultivo de culturas pelos moradores, como implantação de hortas comunitárias; e o desenvolvimento do turismo no local (WOOLEY, 2005 apud BARBOSA; GOULART; ANGELIS, 2010 p. 6).

Além dos benefícios ambientais e sociais mencionados anteriormente, o parque linear também deve possibilitar um retorno econômico para que sua implantação seja viabilizada. Os autores Barbosa, Goulart e Angelis (2010), destacam algumas vantagens e desvantagens referentes à morfologia do parque linear. Com relação às vantagens, temos que o parque aproveita os espaços ociosos da malha urbana, o perímetro alongado encoraja a prática de atividades e permite a identificação e separação de seus usos de maneira cômoda aos seus usuários. Essa configuração pode servir como uma rede para unir pontos de articulação viária e de atividades culturais e de lazer em um mesmo local. O formato linear permite grande acessibilidade ao parque, ao mesmo tempo, que proporciona uma sensação de maior segurança por permitir uma maior visualização de sua área. Em relação às desvantagens, a morfologia do parque linear promove diversos acessos, o que impede a formação de um único acesso, consequentemente mais controlável, além disso, a sua largura mais estreita pode frustrar alguns usuários em relação à sua visualização voltada para as imediações, como moradias e o trânsito vizinhos. Os ruídos também são classificados como desvantagens para o parque, sendo os ruídos internos incômodos aos vizinhos, com a realização de eventos, bem como os ruídos externos do trânsito adjacente pode incomodar os usuários. Os nossos espaços e as nossas cidades devem representar os inúmeros modos de vida que existem no ambiente urbano, culturas, tradições, interesses e representações. Enquanto parte de expressão das culturas sociais, esses espaços urbanos envolvem as capacidades das sociedades para ressignificar situações, locais e memórias (MAGNOLI, 2006, p.2010).

Desde o século XIX, foi possível atestar a importância dos parques para garantir a qualidade de vida da sociedade e a preservação do ecossistema existente. Contudo, o que se observa atualmente é o abandono gradativo desses locais, sem manutenção ou usuários, tornando-se locais inseguros. A diminuição da cobertura vegetal, a impermeabilização do solo e canalização dos córregos e rios que transpõem os centros urbanos também tem contribuído para aumentar os inconvenientes causados pelas cheias, principalmente, nas estações mais chuvosas do ano. As áreas verdes mostram-se cada vez mais fundamentais para lidar com os problemas causados pelo uso e ocupação do solo desenfreado. A criação de parques para amenizar essas eventualidades tem-se tornado cada vez mais recorrente nas últimas décadas, sendo o parque linear bastante empregado, por ter uma morfologia que se adapta ao desenho da malha urbana ortogonal característica da maioria dos centros urbanos brasileiros, ao mesmo tempo, que promove um local para recreação e descanso da população e conservação do meio ambiente, firmando seu caráter multifuncional sobre esses espaços.

2.3.1 INFRAESTRUTURA VERDE A infraestrutura verde é composta por estratégias para melhorar a drenagem, armazenamento e prevenção das águas ao unir em um mesmo sistema a preservação ambiental e a funcionalidade dentro do meio urbano. De acordo com Foloni (2018), a terminologia surgiu em 1994 nos Estados Unidos, estando relacionado à gestão ambiental e urbana, e foi utilizada em relatórios destinados ao governo americano em que se referia a estratégias de conservação do meio ambiente como um importante sistema para o desenvolvimento de uma comunidade. nidade. O objetivo do uso do termo no relatório é promover a noção da importância da conservação e restauração dos recursos naturais. Seus processos são definidos em medidas estruturais e não estruturais, sendo o primeiro composto em grande parte por projetos de concreto para contenção ou armazenamento de água, e a segunda, por planos de ações e regulamentações para proteção dos cursos d’água como evitar a ocupação de áreas de várzea, educação ambiental, diretrizes para desenvolvimento de um plano diretor, quantificação de impactos, etc.


REFERENCIAL TEÓRICO | 23 [...] “Infraestrutura verde”, como substantivo, está associado a uma rede de espaços verdes interconectados, cujo planejamento e gestão são em benefício dos recursos e naturais e do homem. Como adjetivo, ela caracteriza o processo relacionado à conservação da terra por uma abordagem estratégica e sistemática, que incentiva o planejamento do uso do solo e práticas favoráveis a todos os seres vivos (FOLONI, 2018 p. 113).

A infraestrutura verde é composta por estratégias para melhorar a drenagem, armazenamento e prevenção das águas ao unir em um mesmo sistema a preservação ambiental e a funcionalidade dentro do meio urbano. De acordo com Foloni (2018), a terminologia surgiu em 1994 nos Estados Unidos, estando relacionado à gestão ambiental e urbana, e foi utilizada em relatórios destinados ao governo americano em que se referia a estratégias de conservação do meio ambiente como um importante sistema para o desenvolvimento de uma comunidade. O objetivo do uso do termo no relatório é promover a noção da importância da conservação e restauração dos recursos naturais. Seus processos são definidos em medidas estruturais e não estruturais, sendo o primeiro composto em grande parte por projetos de concreto para contenção ou armazenamento de água, e a segunda, por planos de ações e regulamentações para proteção dos cursos d’água como evitar a ocupação de áreas de várzea, educação ambiental, diretrizes para desenvolvimento de um plano diretor, quantificação de impactos, etc. [...] “Infraestrutura verde”, como substantivo, está associado a uma rede de espaços verdes interconectados, cujo planejamento e gestão são em benefício dos recursos e naturais e do homem. Como adjetivo, ela caracteriza o processo relacionado à conservação da terra por uma abordagem estratégica e sistemática, que incentiva o planejamento do uso do solo e práticas favoráveis a todos os seres vivos (FOLONI, 2018 p. 113).

O termo também pode ser associado à infraestrutura azul, voltado para o manejo de água e revitalização dos rios; infraestrutura verde e azul, voltado para rios e áreas verdes; malha verde e infraestrutura ecológica. Todos os termos citados estão relacionados às discussões a cerca do desenvolvimento e conservação do meio natural de modo a adotar estratégias de conservação além das tradicionais.É através da sustentabilidade que se deve buscar maneiras para melhorar a qualidade de vida da população e reestabelecer o seu contato com a natureza, através do envolvimento da mesma nos projetos, criando uma consciência ambiental. Com isso, para que as soluções sejam consideradas ambientalmente corretas, economicamente viáveis e socialmente aceitáveis, os processos para

o tratamento das águas residuais através de “sistemas naturais” têm sido cada vez mais recorrentes, por causarem menos impacto ao meio ambiente, possuir baixo custo operacional e ter uma eficiência satisfatória. Esses sistemas são considerados naturais por utilizarem a força gravitacional, microrganismos e plantas, podendo ter ou não bombas e tubulações, porém sem depender de fontes externas de energia para operar (SANTOS; ENOKIBARA; OLIVEIRA 2016). A seguir, serão detalhados algumas tipologias de drenagem sustentável associado à infra estrutura verde como: alagados construídos (constructed wetlands), jardim de chuva, canteiro pluvial, biovaletas, pavimento permeável, bacia de detenção (Lagoa Seca), bacia de retenção (Lagoa Pluvial). Alagados Construídos (Constructed Wetlands) De acordo com Enokibara, Oliveira, Talamoni e Santos (2008), os Alagados Construídos “são áreas inundadas constante ou sazonalmente, onde se desenvolve uma vegetação adaptada às condições destes solos. Associados a esta vegetação, existem microorganismos detritívoros, decompositores (protozoários, bactérias e fungos, entre outros) que, juntamente com as raízes da vegetação, constituem um sistema característico, capaz de purificar as águas”. Segundo os autores, existem três tipos de sistema, sendo eles: FHSS - Fluxo Horizontal de Sub-Superfície; FVSS – Fluxo Vertical de Sub-Superfície e FSLL – Fluxo Superficial de Lâmina Livre. No sistema FHSS, a água residuária flui horizontalmente abaixo da superfície. O seu “formato deve ser, geralmente, “retangular”, “quadrado” ou em formato de uma “pera” (ENOKIBARA et al, 2016, p.4), de modo que a água seja distribuída uniformemente por tubulações perfuradas, passando pelo processo de filtragem através das raízes das plantas e sofrendo ação dos micro organismos. Posteriormente, a água é encaminhada para outro alagado do tipo FHSS, FVSS ou FSLL para sua utilização, que dependerá da qualidade inicial da água residuária e da qualidade final, sendo algumas vezes necessária a utilização de sistemas híbridos. No sistema FVSS, há uma maior liberdade quanto a definição de sua forma, pois a água é distribuída pela superfície por meio de tubulações perfuradas, fluindo verticalmente pelo sistema, sendo submetida às ações dos micro organismos até ser conduzida à caixa de controle de nível da água do Alagado.


CAPÍTULO 2 | 24 O sistema FSLL é constituído de uma lâmina livre, como um lago, com a água residuária fluindo na superfície. Nesse caso, é permitido que seu formato seja totalmente livre. O Grupo de Estudos em Alagados Construídos (GEAC) da UNESPCampus de Bauru, SP, Brasil, tem utilizado esse tipo de sistema apenas para o “polimento final” das águas previamente tratadas em Alagados do tipo FHSS, obtendo remoções de até 99% de coliformes fecais. Os autores ainda citam algumas das vantagens de adotar o Sistema de Alagados Construídos, tais como: durabilidade, baixo custo de implantação e manutenção, possibilidade de eliminação de elementos que não são reduzidos em sistemas convencionais, reutilização de efluentes para irrigação de gramados ou áreas cultivadas, criação de peixes ou para uso industrial. Além disso, a utilização de plantas aquáticas (macrófitas) permite ao sistema de alagados serem integrados à paisagem como uma alternativa projetual na constituição de áreas verdes, associando o lazer ao tratamento das águas residuárias, já que o sistema não apresenta odores indesejáveis. Jardins de Chuva O jardim de chuva consiste em um canteiro de plantas com o solo rebaixado que coleta águas pluviais através de aberturas delimitadas no seu perímetro. O solo deve ser poroso ou receber tratamento para agir como tal, absorvendo a água, enquanto micro organismos e bactérias presentes no solo removem seus poluentes. Com a adição das plantas, não aquáticas, há um aumento na evapotranspiração e remoção dos elementos contaminadores. A vantagem é que o jardim de chuva além de contribuir para a diminuição do escoamento de água para o sistema convencional de drenagem, a água retorna mais limpa para o sistema. Em relação à sua estética, o jardim de chuva pode adotar diversas formas, integrando-se à paisagem (VASCONCELLOS, 2011). Canteiro Pluvial São jardins de chuva com menores dimensões e em cotas mais baixas que podem ser implantados em ruas ou edifícios para receber o escoamento superficial de áreas impermeáveis.

Biovaleta São depressões lineares de configuração linear com grande capacidade armazenar volume, compostas por elementos filtrantes que promovem a limpeza das águas pluviais. O solo descompactado recebe camadas de brita e pedrisco que filtram a água contaminada por resíduos, poluição e demais detritos e, depois de filtrada, é coletada e encaminhada aos cursos d’água por tubos localizados no subsolo.

Pavimentação Permeável

Uma solução para aumentar a permeabilidade das águas pluviais é através da pavimentação permeável ou pavimentos porosos. Uma vez que auxiliam com a redução do escoamento superficial são feitos a partir de asfalto poroso, concreto permeável, blocos intertravados, britas e pedriscos, podendo ser aplicados em calçadas, vias, estacionamentos, pátios, quintais, parques e praças (VASCONCELLOS, 2011). Bacia de Detenção (Lagoa Seca) Consiste em uma área rebaixada e vegetada que recebe as águas pluviais contribuindo para a diminuição do escoamento superficial e recarga dos aquíferos. Sua implantação pode ocorrer ao longo de vias, rios, parques lineares ou jardins. Durante o período de seca, a área pode ser utilizada para outras atividades, como lazer e recreação (VASCONCELLOS, 2011).

Bacia de Retenção (Lagoa Pluvial)

A Bacia de Retenção constitui-se em uma lagoa com capacidade superior ao volume de água permanente, ou seja, sua a capacidade do seu armazenamento é o volume do seu nível permanente de água e o nível de transbordamento, com isso a lagoa acomoda dispõe do excesso de água para evitar inundações.


REFERENCIAL TEÓRICO | 25

2.4 RIOS URBANOS De acordo com Constantino (2014, p.3), “No processo de construção e de transformação da paisagem urbana, pode-se revelar e valorizar ainda mais os seus significados e atributos, tornando-os visíveis”, nesse sentido, assim como os espaços verdes, os rios são espaços livres de edificação que contribuem e ampliam a possibilidade de fruição da paisagem nos centros urbanos. Os rios são importantes corredores biológicos que permitem a circulação da fauna e da flora no interior das cidades, além de servir como espaços públicos de lazer e convivência social. Contudo, o que temos observado atualmente em muitos locais, são essas áreas abandonadas, contaminadas, degradas ou ocupadas de maneira irregular. Em alguns casos, ocorrem intervenções isoladas de parques e jardins públicos, porém esse tipo de atuação ocorre sem levar em conta as diferentes características espaciais, econômicas e ecológicas em que está inserido, impossibilitando a dominância do conjunto, pois a paisagem acaba sendo lida de forma reduzida e, não como o sistema complexo que de fato ela é. Ao se projetar a paisagem devem-se levar em consideração duas dimensões que têm de ser incluídas: a de testemunhar, em que se representa um lugar já existente, e modificar, concebendo o que ele pode vir a se tornar. Com isso, o tema da água na paisagem urbana deve ser representado através das relações e significados que a água possui na história daquele local e por meio da adoção de projetos que explorem a água na paisagem contemporânea de maneira a reintegrá-la no contexto urbano (CONSTANTINO, 2014). De acordo com Coy (2013), os rios sempre foram fundamentais para o estabelecimento dos primeiros assentamentos humanos e posteriormente para o desenvolvimento dos centros urbanos. Neste sentido, além do abastecimento de água para consumo e agricultura da população, os rios tornaram-se “os principais meios de comunicação, como vias de transporte para as mercadorias”. Os rios fazem parte da organização espacial das cidades e da paisagem urbana, atribuindo-lhes uma identidade. Assim como a paisagem, estão sujeitos às transformações da sociedade, aos processos de expansão urbana e ao comportamento de seus habitantes.

Quando a maioria das cidades europeias foram fundadas, durante o período antigo e medieval, o rio constituía uma parte central da cidade. Contudo, devido ao grande adensamento populacional nessa época, o rio fica absorto em meio à paisagem e, consequentemente, esquecido. Posteriormente, durante o século XIX, os rios foram integrados ao espaço urbano, tendo suas margens valorizadas por palácios e prédios importantes, resultado de um projeto de embelezamento da cidade (COY, 2013). Segundo o autor, é no período industrial que a relação cidade-rio modifica-se significativamente. “A disponibilidade de água é um fator localizacional importante, causando a concentração de indústrias perto dos rios” (COY, 2013, p.3). O crescimento das indústrias e a necessidade de comportar infraestruturas portuárias cada vez maiores “causaram o deslocamento dos portos fluviais dos centros urbanos para as periferias”, sendo necessárias “obras de correção e regularização” que transformassem os rios em grandes hidrovias. Nesse sentido, ocorreu dentro do espaço urbano uma separação entre as áreas portuário-industriais e as moradias. Como consequência ao progresso industrial, os rios foram poluídos pelos materiais despejados em seus leitos e abandonados. De acordo com Coy (2013), durante os últimos 30 anos, observa-se um processo de desindustrialização nas cidades europeias. O rio passa a ser compreendido como parte da identidade da cidade e suas margens a serem valorizadas, podendo adquirir diversas funções no contexto urbano. Para o autor, essas funções seriam: - Função de trabalho: Os portos forneceram trabalho para seus habitantes nos setores de administração, transporte, usinas, abatedouros, etc. - Função econômica: As formas tradicionais de trabalho, principalmente as braçais, tendem a diminuir e serem substituídos pelo setor de serviços. - Função de transporte: Devido à sua estruturação dento do espaço urbano as avenidas beira-rio atuam como corredores para acesso às áreas centrais da cidade, criando uma barreira entre o rio e a cidade, deteriorando a qualidade ambiental. Atualmente o transporte fluvial é voltado para o transporte de cargas, exceto as cidades “aquáticas”, como Veneza e Amsterdã, transporte de pessoas se limita aos barcos para passeios.


CAPÍTULO 2 | 26 - Função de moradia: Morar próximo aos rios nem sempre foi considerado um privilégio. No passado, era comum encontrar, em sua maioria, artesãos nas proximidades dos rios, que necessitavam da água para exercer suas atividades. É no século XIX, que a morar perto da água passa a ser uma localização privilegiada e altamente valorizada pela burguesia. Atualmente, observamos um crescente número de projetos que se baseiam na revalorização da moradia beira-rio, porém, apenas um pequeno grupo que possui poder aquisitivo elevado tem acesso a esse privilégio. É no século XIX, que a morar perto da água passa a ser uma localização privilegiada e altamente valorizada pela burguesia. Atualmente, observamos um crescente número de projetos que se baseiam na revalorização da moradia beira-rio, porém, apenas um pequeno grupo que possui poder aquisitivo elevado tem acesso a esse privilégio. - Função cultural e de lazer: Os rios tem a capacidade de trazer identidade à uma cidade, sendo as beira-rios capazes de oferecer potencial para abrigar diversas atividades de lazer e atrair a população para esses locais, sendo um meio das administrações urbanas valorizarem esse locais. Como podemos constatar, as cidades europeias passam a substituir a cidade industrial pela cidade terceirizada, adotando como estratégias de revitalização urbana, projetos Waterfront, que constituem na “re-valorização da moradia beira-rio, sendo os clientes visados grupos de poder aquisitivo elevado”, em que “antigas instalações portuário-industriais são substituídas por novos bairros adensados e com estrutura funcional mista”. Essa transformação baseia-se na construção de “mega-empreendimentos seguindo as regras dos public-private-partnerships e subordinada às lógicas de mercado“ (COY, 2013, p.9). Nos últimos anos, observa-se que as cidades latinas americanas estão atravessando a mesma situação de requalificar as antigas áreas portuário-industriais e as margens dos rios de seus centros urbanos. Com isso, políticos e planejadores orientam seu planejamento e concepções urbanísticas a partir das experiências europeias e norte-americanas, também fazendo uso de parcerias público-privadas, com a execução de projetos Waterfront e a construção de megaempreendimentos. Entretanto, a América Latina possui um quadro socioeconômico marcado por grande desigualdade (COY, 2013).

[...] A cidade latino-americana se apresenta hoje como cidade altamente fragmentada cuja estrutura sócio-espacial pode ser resumida com a metáfora das “ilhas de riqueza num oceano de pobreza”. Condomínios fechados, centros empresariais e shopping centers caracterizam cada vez mais a produção da cidade pelo capital privado, enquanto que grande parte da população urbana se encontra na cidade informal dos bairros marginalizados, das invasões, dos cortiços e nas áreas de risco altamente vulneráveis – entre outras nas margens dos rios (COY, 2013 p. 14).

Os projetos Waterfront e megaempreendimentos que propõem revitalizar os centros urbanos tendem a fragmentar ainda mais esses locais através do processo de gentrificação, deslocando a população de baixa renda que ali reside para as periferias, pois não conseguem arcar com o custo desses novos empreendimentos. Diante disso, resta aos planejadores das cidades latino-americanas adotarem estratégias de gestão urbana que sejam democráticas e participativas, que busquem “a reintegração dos seus rios na paisagem urbana” e à identidade das cidades, promovendo uma “revitalização urbana”, ao mesmo tempo, “includente com respeito à participação de todos os segmentos atingidos da população local” (COY, 2013, p.14).



3PROJETOS DE REFERÊNCIA



CAPÍTULO 3 | 28

3.1 PARQUE ARARAQUARA Local: Araraquara (SP) - Brasil Ano do projeto: 2016 – em andamento Área total de projeto: 114.000 m² O projeto do Parque Araraquara, proposto pelo escritório de arquitetura VAGA, está localizado em uma área de plantações de soja, situado entre o limite da expansão urbana do município e o limite físico da linha do trem. Em alguns anos, o local que será uma extensão da cidade, sofrerá alterações da paisagem existente e abrigará um parque com equipamentos e atrativos sociais como áreas de esporte, lazer, cultura e infraestruturas (áreas institucionais) concentradas em uma grande área verde. Por meio do projeto, houve a possibilidade de interrupção na malha urbana que ignora a memória do território, permitindo ao homem sentir novamente a sua terra e lembrar assim de sua existência, uma maneira de proporcionar a manutenção dessa memória do território, ao mesmo tempo, que promove uma sensação de pertencimento dos habitantes com o bairro em ascensão através da construção de uma nova paisagem de identidade. O projeto tem como ponto de partida o parcelamento da área em bandas que seguem as marcas deixadas pelas plantações e consequentemente as linhas topográficas. Além de ser um espaço público que promove a qualidade de vida dos habitantes da região, o projeto possibilita a proteção e expansão da mata ciliar na área da nascente do córrego do Tanquinho e a manutenção da fauna e da flora da região através de um paisagismo com espécies nativas. Figura 1: Implantação do Parque Araraquara próximo ao córrego do Tanquinho Fonte: http://www.vaga.arq. br/parque-araraquara Figura 2 - Implantação do Parque Araraquara Fonte: http://www.vaga.arq. br/parque-araraquara Figura 3 - Perspectiva 3D do Parque Araraquara Fonte: http://www.vaga.arq. br/parque-araraquara


PROJETOS DE REFERÊNCIA | 29

3.2 RIO DONA EUGÊNIA Local: Mesquita (RJ) - Brasil Ano: 2015 Área total: 39.062 km²

De acordo com os autores, o projeto foi dividido em seis trechos conforme as características urbanas e ambientais de cada área. A figura abaixo exemplifica os trechos, sendo os trechos I e II, o local em que o rio Dona Eugênia penetra na cidade e, o trecho VI, a sua foz no rio Sarapuí.

O Rio Dona Eugênia está localizado no município de Mesquita no Rio de Janeiro. O rio, localizado na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro, nasce em uma APA (Área de Proteção Ambiental), possui aproximadamente seis quilômetros de extensão em área urbana e atravessa praticamente toda a cidade. A sub-bacia do rio está inserida quase totalmente nos trechos de limite do município, que apresenta um crescimento urbano desordenado e sofre regularmente com a ocorrência de cheias urbanas. O estudo de caso foi estruturado de modo interdisciplinar, principalmente, entre o paisagismo e a engenharia, o que permitiu avaliar os impactos da urbanização e as soluções propostas, com “indicações capazes de representar, hidráulica e hidrologicamente, o comportamento sistêmico da bacia em estudo”. O projeto paisagístico tem como referência a bacia hidrográfica e prevê a contextualização do rio na cidade, como uma forma de requalificação fluvial a partir da paisagem multifuncional apresentada propiciando inúmeros benefícios, além de solucionar os problemas causados pelas cheias urbanas. (LOURENÇO; VERÓL; MIGUEZ; BRITTO, 2015). O projeto paisagístico proposto tem os aspectos hídricos e a vegetação como os elementos reestruturadores do sistema ecológico presente na bacia. A partir desses elementos, “foram adotados novos sistemas de infraestrutura e tipologias construtivas que asseguram a redefinição das relações entre sociedade e natureza”, de maneira a torná-las mais harmônicas e atenuar ações antrópicas. Tendo em consideração que está sendo trabalhada uma bacia de urbanização consolidada: [...] Foram trabalhados os espaços com características multifuncionais, pois não é simples tomar aspectos ecológicos como estruturadores de novas paisagens, capazes de promover as requalificações urbana e ambiental, uma vez que bacias nessa condição de desenvolvimento urbano oferecem poucas condições e poucos espaços ainda livres para serem trabalhados de forma sistêmica. (LOURENÇO; VERÓL; MIGUEZ; BRITTO, 2015, p.102).

Figura 4: Plano Geral em Trechos Fonte:: LOURENÇO; VERÓL; MIGUEZ; BRITTO, 2015, p.104

- Trecho I: Parque Urbano de Borda: Tem o objetivo de prevenção da poluição dos corpos hídricos e recuperação e manutenção das APPs. O parque urbanos de borda promove um aproximação e conscientização da população em relação aos recursos naturais ao destinar espaços para lazer e contemplação. - Trecho II: Parque Urbano de Transição: Possui o objetivo de criar uma transição mais amena entre a área densamente urbanizada e o parque já existente, ao se conectar ao parque de borda auxilia na contenção do avanço descontrolado da urbanização. O parque urbano de transição atua em conjunto com o parque urbano de borda e a reserva biológico, aproximando a população em relação aos recursos naturais por meio de espaços de lazer, contemplação, estar, recreativos e de exploração econômica, como quiosques e viveiros.


CAPÍTULO 3 | 30

- Trecho III: Espaços Livres Urbanos: Esse trecho possui uma pequena concentração de áreas livres públicos, como campo de futebol e praças, em meio à urbanização consolidada. A essas áreas foram incorporados corredores verdes e uma potencial área de detenção às margens da linha férrea. Além de lazer e recreação, esses espaços tem a função de neutralizar as enchentes através de bacias de detenção. Dessa forma, novas tipologias de praças e campos foram utilizadas, propondo ainda utilizar de outros recursos da infraestrutura verde para contribuir com a microdrenagem, como pisos permeáveis e jardins de chuva. - Trecho IV: Área Marginal Crítica: Considerado um trecho crítico por conta das ocupações irregulares das margens do rio e devido à ausência de espaços livres, as soluções propostas baseiam-se na realocação das edificações em área marginal utilizando-se de uma nova tipologia construtiva. A tipologia adotada é a construção sobre pilotis, que garante continuidade sistêmica, permitindo a abertura do leito e facilitando o fluxo de águas, vegetação e animais. O projeto prioriza a mobilidade urbana promovendo passeios e ciclovias através da formação de uma rede por toda extensão do rio. - Trecho V: Rio Sob Novo Ângulo: Área de caráter residencial, com faixas marginais vegetadas e com o rio não canalizado, a solução proposta para esse setor prevê a fomentação da vegetação existente, pequenas praças às margens do corpo hídrico e a continuidade de passeios e ciclovias por sua extensão. - Trecho VI: Parque Urbano de Zona Úmida: O último trecho do projeto é a foz do rio Dona Eugênia, uma zona úmida e frágil, que deve ser preservada. Contudo, essa área apresenta um crescimento urbano desordenado, com comunidades carentes localizadas nas áreas alagáveis e nas faixas marginais, além de ser considerada uma área de expansão urbana. A proposta do parque urbano de zona úmida é de preservar essa área, estando conectado a uma área de fitodepuração – processo de tratamento de despoluição hídrica por meio de plantas aquáticas -, compreendendo espaços com passeios sobre deques para preservação do fluxo das águas, implantação de viveiros de plantas e de áreas esportivas. Para obter esse resultado, os ocupantes serão realocados para habitações distantes da área de risco e prevê-se a expansão urbana controlada com o uso de tipologias pré-determinadas.

Por meio do estudo de caso do Rio Dona Eugênia, os autores Lourenço, Veról, Miguez e Britto (2015, p.113), procuraram “a importância do projeto paisagístico para o processo de requalificação de um rio” através da proposta de um modelo de intervenção de desenvolvimento urbano sustentável que abrange os diferentes aspectos ambientais, econômicos e sociais. Concebidas no sistema de espaços livres, as paisagens multifuncionais “foram a base para a requalificação da paisagem”, por permitirem o “diferente uso dos espaços em diferentes condições”. [...] O trabalho foi desenvolvido como grande oportunidade para discussão da requalificação de rios em áreas urbanas, mostrando o quanto são importantes o reconhecimento e a adoção de novos modelos de intervenção, nos quais a água e os recursos naturais sejam tomados como elementos essenciais, diferente das políticas não integradoras adotadas atualmente, que tomam o ambiente urbano como separado do ambiente natural. Houve oportunidade de discutir a necessidade de reconhecer que a urbanização deve coexistir com o meio natural, ou seja, jamais deve haver a supressão de um em favor do outro (LOURENÇO; VERÓL; MIGUEZ; BRITTO, 2015, p.115).


Figura 7: Plano Geral Fonte: http://www. mvvainc.com/project. php?id=99/

PROJETOS DE REFERÊNCIA | 31

3.3 WALLER CREEK Local: Austin (TX) - EUA Ano: 2015 - Em Andamento Há alguns anos a cidade de Austin, no Texas, sofria severamente com inundações do Rio Lady Bird Lake. Com objetivo de solucionar o problema, foi construído um túnel para transportar o fluxo de água, o Waller Creek, protegendo 28 acres de inundações. Em 2015, uma equipe foi incumbida de reestruturar o corredor e conectá-lo aos parques e bairros que são cortados por ele. O projeto do escritório Michael Van Valkenburgh Associates INC propõem potencializar as áreas subutilizadas ao redor do riacho e integrá-las à paisagem como um todo, composta por infraestruturas em grande escala, cruzamento de vias e cenários naturais. Waller Creek reflete a tendência mundial de evolução e desenvolvimento de cidades a partir da sua integração com o meio ambiente, legitimando a importância de planejamento da paisagem no âmbito espacial, ecológico e cultural.

Figura 5: Corte Waller Creek Fonte:http://www.mvvainc.com/ project.php?id=99/

Figura 6: Corte Waller Creek Fonte:http://www.mvvainc. com/project.php?id=99/


3.4 GUADALUPE RIVER PARK

Figura 9: Guadalupe River Park 02 Fonte: http:// www.hargreaves. com/early-work/ guadalupe-river-

Local: San José (CA) - EUA Ano: 2005 O Rio Guadalupe atravessa a cidade de San José e, durante o período de chuvas, causava inundações. O objetivo do arquiteto George Hargreaves e sua equipe ao desenvolver o projeto tinham o objetivo de controlar as enchentes e desenvolver equipamentos para o parque no centro da cidade. Para isso, a Hargreaves Associates gerenciou uma equipe de consultores ambientais, engenheiros hidráulicos, civis, estruturais e geotécnicos ao longo de um período de 10 anos para atingir as metas do projeto. O desafio era projetar soluções resistentes à força destrutiva das inundações do rio estreito, ao mesmo tempo, que permitia que a vegetação local e seu habitat se desenvolvessem. O projeto consiste em uma transição de uma extremidade do rio, que está integrado às praças e a paisagem urbana, à uma área abaixo, em que um território desenhado a partir da terraplanagem cria áreas de descanso e lazer próximas à áreas residenciais.

Figura 10: Guadalupe River Park 03 Fonte: http:// www.hargreaves. com/early-work/ guadalupe-river-

Figura 11: Guadalupe River Park 04 Fonte: http:// www.hargreaves. com/early-work/ guadalupe-river-

Figura 8: Guadalupe River Park 01 Fonte: http://www.hargreaves.com/early-work/guadalupe-river-park/



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A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA



CAPÍTULO 4 | 34

Na época colonial, muitas cidades brasileiras surgiram às margens dos rios ou de pequenos cursos d´água, e durante o desenvolvimento de seus centros urbanos, os rios ganharam um importante papel como via de penetração e de escoamento do café, principalmente no Estado de São Paulo, seu maior fornecedor. As estradas de ferro do Oeste Paulista surgiram nas cristas das bacias fluviais e impulsionaram a criação de uma rede de cidades na primeira metade do século XX (CONSTANTINO, 2006).

As primeiras áreas urbanas no Oeste Paulista surgiram a partir de fazendas, algumas implantadas por companhias colonizadoras e outras como doação pelos proprietários ao santo padroeiro e à Igreja Católica. Na falta de uma política de planejamento para a ocupação, foram os patrimônios religiosos os responsáveis por gerar a maior parte das cidades da região Oeste do Estado de São Paulo (GHIRARDELLO, 1992). De acordo com Constantino (2014) as fazendas eram delimitadas, na maioria das vezes, por rios ou córregos, que posteriormente foram subdividas em glebas e parceladas, originando o tecido urbano ao qual conhecemos hoje. Além de fornecer o abastecimento de água para consumo e agricultura, fundar as cidades próximas aos cursos d´água permitiam o “controle do território, alimentos, possibilidade de circulação de pessoas e de bens, energia hidráulica e lazer”. Dessa maneira, as paisagens fluviais foram incorporadas às paisagens urbanas e modificadas de acordo com os desejos do homem. (CONSTANTINO, 2014, p.4) Em seu artigo, Constantino (2014) discorre sobre novas maneiras de conceber a paisagem segundo Richard Forman. Para ele, arquitetos paisagistas e planejadores urbanos devem incorporar os princípios da ecologia da paisagem para solucionar os problemas sociais e ambientais. Estudos atuais concebem a paisagem ou região de maneira que “compreende três elementos - matriz, corredores e manchas – que, combinados formam uma variedade de mosaicos”: [...] Os princípios quer mosaico de resta. Como uma gentes: estrutura,

da ecologia da paisagem podem ser aplicados a qualterra, desde áreas urbanizadas a rurais, deserto ou flocélula, este sistema vivo exibe três características abranfuncionamento e mudança (CONSTANTINO, 2014, p. 7).

A paisagem original do Oeste Paulista era composta por um mosaico que compreendia a matriz, uma vasta área florestada, as matas de galeria que compunham os corredores verdes ao longo dos córregos e, as manchas, formadas pelo plantio de café, algodão e culturas de

de subsistência. Com o decorrer do tempo, a paisagem foi alterada devido à urbanização que se iniciou a partir do patrimônio religioso. Com isso: [...] A matriz passa a compreender a área urbanizada, um tabuleiro reticulado de ruas, que interrompe-se ao encontrar os corredores, já não tão verdes, ao longo dos córregos poluídos pelo esgoto lançado in natura; e as manchas passam a ser a vegetação remanescente da área florestada. (CONSTANTINO, 2014, p. 8).

Em meados do século XIX, a primeira corrente de povoamento que veio a se fixar no sertão de Bauru foram os mineiros, que fugiram da obrigação de se alistar na guerra do Paraguai, e preferiram se arriscar no desbravamento do sertão, buscando novas terras e sustento em meio ao Oeste Paulista. A partir disso, várias expedições para o reconhecimento do território do Oeste do Estado foram realizadas entre o final do século XIX e o início do século XX (GHIRARDELLO, 1992). De acordo com Constantino (2005, p.15), foram realizadas as seguintes expedições para reconhecimento das terras e para verificar se os rios eram navegáveis: Em 1840, Pedro Francisco Pinto partiu de Botucatu rumo ao noroeste, encontrando o Rio Batalha e estabelecendo ali uma lavoura até ser trucidado pelos índios; em 1850, Sebastião Pereira realizou uma expedição para explorar os afluentes da margem esquerda do rio Tietê, encontrando o rio Bauru e marcou a posse da terra iniciando uma lavoura. Deferiu a posse de suas terras a outros pioneiros quando decidiu partir em busca de novas fronteiras. Um desses pioneiros foi Antônio Teixeira do Espírito Santo que constituiu a Fazenda das Flores, doando-a em 1884, ao santo de sua devoção com a finalidade de formar o patrimônio de São Sebastião do Bauru, núcleo inicial da cidade. Em 1893 é doada pelo proprietário da Fazenda Grande uma parte das terras para o Patrimônio de Bauru. A partir disso, podemos observar a importância das águas na formação da cidade, pois o “patrimônio é fortemente marcado pela confluência do Ribeirão Bauru e do Córrego das Flores”. Na pesquisa realizada por Constantino (2006), confirmou-se que os limites das fazendas originais que circundavam o patrimônio religioso eram conformados por “acidentes geográficos, principalmente os rios e ribeirões, suas vertentes e espigões divisores de água”:


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 35 [...] Confirmando se a hipótese levantada, observa-se que os limites eram conformados pelos espigões: os lados alongados são geralmente as linhas do divisor de águas entre as duas bacias hidrográficas secundárias. Este traçado permite às necessidades de todos os fazendeiros de ter acesso a água e aos autos dos espigões: os espigões da bacia do Córrego Barreirinho, conformam a Fazenda Barreirinho; os espigões da bacia do Córrego das Flores conformam a Fazenda das Flores, confrontando com a Fazenda Grande ou Água Parada e Bauru-Batalha; os espigões da Bacia do Córrego Água Comprida conformam a Fazenda Campo Redondo; e os espigões da bacia do Córrego Vargem Limpa delimitam a Fazenda Vargem Limpa. As fazendas acima citadas ocupavam a região conformada pelo atual perímetro urbano. (CONSTANTINO, 2006, p. 3).

onde surgiram os bairros operários em áreas loteadas por antigos proprietários rurais. Para ser transformada posteriormente em solo urbano, “a gleba tinha como um dos seus limites, um curso d´água, e os demais confrontavam-se com uma ou mais propriedades rurais”. O processo de construção da paisagem pelo poder público efetuou-se a partir de métodos empregados no planejamento urbano tradicional, “comandável a partir de coordenadas espaciais externas ao lugar, tratando espaço como vazio no qual se pode estender uma retícula infinita, indiferenciada e monofuncional”, sem proceder uma leitura da paisagem.

De acordo com a autora, as ferrovias foram fundamentais no processo de ocupação de várias regiões do Estado de São Paulo e, consequentemente, da cidade de Bauru. A ampliação da rede ferroviária paulista possibilitou que atividades produtivas, principalmente a cafeeira, se consolidassem nesses locais. Em 1905, a Companhia União Sorocabana instala-se na cidade paralelamente ao Córrego Água da Ressaca e depois pelo Ribeirão Bauru, “reforçando a segregação, garantida pelo relevo natural do vale”. Posteriormente, a inserção da Noroeste reforçará essa segregação dos bairros que “irão surgir a norte e oeste, terão como barreiras de difícil transposição, o rio, os trilhos e o pátio ferroviário”. A Estrada de Ferro Paulista é implantada em 1910, entrando pelo leste e cortando as principais vias da cidade, e tornou-se ponto de partida com destino ao Mato Grosso, o que fez com que o município crescesse em um ritmo acelerado e atraísse muitas pessoas.

[...] Nas áreas cortadas pelos fundos de vale, ferrovias ou de topografia acidentada, foram criados muitos loteamentos sem qualquer relacionamento com as frações urbanas contíguas, quando existentes, buscando sempre o máximo aproveitamento das glebas. (CONSTANTINO, 2005, p. 44).

Com o progresso que a cidade estava tendo e a crescente demanda por terras desencadeou-se um processo de parcelamento do solo a fim de atender os interesses da iniciativa privada, que era composta em sua maioria por proprietários de grandes fazendas, o que fez com que seus terrenos urbanos fossem valorizados rapidamente. [...] No caso de Bauru, o processo de parcelamento do solo aconteceu a partir do interesse da iniciativa privada em lotear as glebas das antigas fazendas principalmente para fins residenciais, na proximidade de caminhos, acessos importantes para o núcleo urbano original. Os loteamentos deveriam obedecer as de exigências da legislação quanto o traçado em malha regular de 88 por 88 m, inclusive as praças presente desde o Código de posturas de 1897 e confirmada pelas leis municipais de 1906, 1913,1929 e 1947 (CONSTANTINO, 2006, p. 4).

Segundo Constantino (2005), a ocupação territorial deu-se através de “sucessivos fracionamentos da terra e pela forma de transmissão de suas parcelas”. Entretanto, a valorização não permitia que uma parcela da população ocupasse esses terrenos, o gerou uma ocupação para além das linhas férreas,

Esse tipo de intervenção na paisagem não se atrelava a critérios ou planejamentos, sobrepondo o traçado quadriculado independente da história do local ou a topografia original. Como prova disso, temos dois exemplos: O primeiro refere-se à demolição da primeira capela, para o prolongamento do traçado retilíneo, e o segundo o registro de um violento temporal que ocorreu na cidade e causou alagamentos no ano de 1906, decorrente de uma ocupação irregular das margens (CONSTANTINO, 2005). A partir de 1920, dá-se início em Bauru uma “especialização econômica da cidade no setor terciário”, o encontro de várias ferrovias fez com que a cidade se tornasse um polo regional atrativo, favorecendo o comércio e a prestação de serviços. Devido ao fácil acesso e o grande número de migrantes Wom tradição no comércio que haviam se instalado na cidade, mas também, por conta da baixa qualidade do solo e a fraca industrialização, por estar localizada longe dos grandes centros urbanos. Esse crescimento gerou diversos problemas de infraestrutura urbana devido à impermeabilização dos terrenos e ruas, além disso, a implantação das ferrovias provocou uma transformação radical no traçado da cidade e reforçou a separação de diversos bairros (GHIRARDELLO, 1992). No Brasil, a partir da década de 1930, começa uma preocupação em relação à conservação dos rios e a reserva de espaços verdes, tanto nas legislações federais quanto municipais, porém, elas não surtiram o efeito desejado. Até o ano de 1949, Bauru possuía apenas nove praças oficiais, são elas: as praças Rui Barbosa, Machado de Mello, Dom Pedro II, Rodrigues de Abreu, Washington Luiz, Afonso Pena, Nove de Julho, Rodrigues Leme da Silva e


CAPÍTULO 4 | 36

das Bandeiras. Entretanto, esses espaços livres passam a ser ocupados por construções institucionais, alegando que não havia reservas de áreas públicas com esse propósito, sendo que das nove praças, apenas a Praça Rui Barbosa cumpria a função de espaço livre público (CONSTANTINO, 2005). Foi a partir da década de 1940, que os conceitos de cidade-jardim propostos por Ebenezer Howard passam a ser incorporados às cidades brasileiras. Em São Paulo, transmitiam a ideia de sofisticação, com ruas curvilíneas que acompanhavam a topografia original. Enquanto em Bauru, a malha quadriculada continuava a se prolongar sobre o natural na maior parte da cidade, aplicando o conceito de cidade-jardim em poucas áreas, a primeira delas foi o Jardim Bella Vista (P53). A ferrovia prosseguia como o principal meio de transporte, porém, é nessa época que as primeiras rodovias começaram a ser asfaltadas e o uso dos automóveis se intensificavam (CONSTANTINO, 2005). A cidade continuava a crescer, surgiram os primeiros edifícios verticais, feitos de concreto armado, e a paisagem continuava a ser modificada, distanciando-se cada vez mais do seu modo natural. A contínua impermeabilização do solo resultava em áreas alagadas e sujeitas a erosões acentuadas, devido ao aumento do escoamento superficial, o que diminuía a infiltração das águas no subsolo. De acordo com Constantino (2005), essas modificações podem ser notadas: [...] A matriz passa a compreender a área urbanizada, um tabuleiro reticulado de ruas, que interrompe-se ao encontrar os corredores, já não tão verdes, ao longo dos córregos poluídos pelo esgoto lançado in natura; e as manchas passam a ser a vegetação remanescente de cerrado. (CONSTANTINO, 2005, p. 55).

Em 1950, com a migração campo-cidade, há um crescente processo de urbanização, e a partir de 1960, a cidade apresentava uma taxa de urbanização elevada, com muitos trabalhadores empregados no primeiro Distrito Industrial de Bauru, localizado na periferia da cidade. Essa nova ocupação não irá levar em consideração a paisagem natural do relevo e dos fundos de vale “segregados pela ferrovia”, criando grandes vazios no tecido urbano. Nos anos 1970, acentuam-se essas características com a implantação de onze conjuntos habitacionais de interesse social, espalhados nos sentidos norte, leste e oeste da cidade. Em 1967 o Plano Diretor de Bauru foi elaborado pelo Centro de Pesquisa e Estudos Urbanísticos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (CEPEU) tendo em vista que a “cidade estava em con-

dições de assumir um importante papel na corrida para o oeste da indústria”, porém “os loteamentos em Bauru, contornando toda a cidade, comprometem a paisagem, provocando erosões, sobretudo a futura utilização do solo, segundo as necessidades do desenvolvimento da cidade”. Apesar de não ter sido implantado, o Plano resultou na criação do Escritório Técnico da Prefeitura, encarregado de elaborar o planejamento urbano e projetos públicos, e de adequar o Plano Diretor à realidade da cidade, aplicando diversas modificações no plano inicial (CONSTANTINO, 2005). Com a aprovação da Lei Federal nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979, os municípios brasileiros passaram a ser mais rigorosos com a aprovação de projetos de parcelamento do solo, “exigindo a reserva de áreas verdes e faixas de proteção dos cursos d’água”. No âmbito municipal, é aprovada em Bauru, a Lei Municipal 2.239, aprovada em 1982, que determina “normas para o parcelamento, uso e ocupação do solo”: [...] A preocupação ambiental verifica-se no artigo 5º, onde dispõe que nenhum parcelamento poderá ocorrer em áreas alagadiças e sujeitas a inundações, em terrenos com declividade superior a 30%, em áreas de preservação ecológica e, principalmente, “ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias, ferrovias, será obrigatório, a reserva de uma faixa non aedificandi de 15 metros de cada lado, salvo outras exigências de legislação específica”. Este parágrafo será alterado posteriormente, para adequar-se à Lei Federal nª 7.803/89 Código Florestal, onde será reservada a faixa de 30 metros de cada margem. (CONSTANTINO, 2006, p. 6).

Entretanto, Constantino (2006) afirma que, como muitos loteamentos eram anteriores à Lei nº 6.677/79, eles não estavam subordinados à essas novas exigências. Segundo Constantino (2005, p. 87) na paisagem de Bauru da década de 1990 era nítida a expansão da malha urbana, “saltando de espaços para onde a urbanização parecia ser de interesse segundo a lógica do empreendedor, e a permanência de seus fundos de vale, não ocupados mas, degradados”. Os rios encontravam-se assoreados devido a degradação da mata ciliar e poluídos pelo esgoto da cidade. As construções de conjuntos habitacionais, sendo doze aprovados nessa década, constituem-se em torno do núcleo consolidado, “com exceção da região sul, exigindo um enorme investimento em infraestrutura urbana”. As enchentes continuam provocando prejuízos, tendo o Poder Público como único responsável pela drenagem urbana do munícipio, adotando a canalização como medida provisória, apenas transferindo a situação para outro ponto da bacia, ao invés de propor soluções para prevenir esse problema.


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 37 Ao longo dos anos a preocupação com questões ambientais torna-se cada vez mais presentes, podemos observar isso na instituição do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Bauru, em 1996, que “pela primeira vez as micro-bacias e matas ciliares dos córregos figuram como unidades de planejamento ambiental” e os fundos de vale reconhecidos como “elementos estratégicos na estruturação física e no desenvolvimento das funções sociais da cidade” e em “políticas de meio ambiente, de zoneamento e as programações que visem à implantação dos Planos de Parques e Áreas Verdes, Viário e de Macro-Drenagem”. Se em décadas passadas eram considerados “barreiras para urbanização”, agora os fundos de vale passam a significar a “promessa de um novo cenário urbano” (CONSTANTINO, 2006, p.7).


CAPÍTULO 4 | 38

4.1 O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA A Bacia do Córrego da Água Comprida foi a área escolhida para a intervenção através do desenvolvimento do projeto de parque linear. O local apresenta potencial paisagístico interessante para a intervenção por atrair um grande número de moradores da região que se apropriou da pista de caminhada criada na lateral da Avenida Água Comprida.

A Bacia Hidrográfica do Córrego da Água Comprida e parte da Bacia Hidrográfica do Córrego Água da Ressaca condizem com a área da Fazenda Campo Redondo, uma das fazendas que fez parte do patrimônio inicial da cidade de Bauru. De acordo com Constantino (2005), a partir da década de 1950 suas glebas começaram a ser loteadas e anunciadas à venda nos jornais da época, dando origem aos bairros Jardim Cruzeiro do Sul e ao Jardim Marambá. Na época, não havia comércios e serviços nas proximidades dessa área por esta ser considerada o “final da cidade”. [...] Na época esta região era considerada o “final da cidade”, não havendo comércio ou serviços na proximidade. O Jardim Marambá, “situado na área do asfalto, a quatro quarteirões da futura Rodovia São Paulo – Mato Grosso, em execução”, seria “dotado de água, luz, iluminação pública e arborização de avenidas”. O projeto, de autoria do engenheiro Olavo Alves Oliveira Filho, com área total de 358.581 metros quadrados, era bastante inovador comparado a outros loteamentos de Bauru, As ruas acompanhando a declividade natural, com desenho em “pata de ganso”, encontravam-se em rotatórias com 30 metros de diâmetro (CONSTANTINO, 2005, p. 37).

De acordo com Kaimoti (2009), a Bacia do Córrego da Água Comprida é uma área que possui potencial para a sua recuperação ambiental, tanto da água e vegetação ciliar, quanto os fragmentos de cerrado, ao mesmo tempo, que permite a consolidação de novos empreendimentos em áreas já possuem infraestrutura urbana. [...] o alto número de famílias concentradas nas várias torres que atualmente povoam a região do Jardins Auri Verde, Marambá e Vila Engler, fizeram com que determinadas ruas começassem a intensificar o seu uso por boa parcela dos moradores desses edifícios. Ruas com grande movimento de pessoas e de veículos, com extensas áreas sombreadas, próximas a escolas e aos condomínios verticais passaram a ser atrativos para um público específico que saiu das casas ou dos apartamentos para se exercitar por meio de caminhas e corridas (KAIMOTI, 2009, p. 73). Figura 12: Fundo de Vale do Córrego Água Comprida e percurso até o Rio Bauru Fonte: Google Earth 20/05/2019


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 39

De acordo com Marcílio (2015), até a elaboração do projeto e implantação da Avenida Água Comprida, atualmente denominada Avenida Jorge Zaiden, à margem esquerda do córrego, o fundo de vale do Córrego da Água Comprida ficou por muito tempo esquecido. A avenida possui uma área de intervenção de 185.545,12 metros quadrados e foi implantada entre as ruas Victor C. De A. Santos, rua Sebastião Pregnolato, rua Christiano Pagani, e o Jardim Samburá. A implantação do sistema viário foi realizado pela empresa Urupês Incorporadora Ltda. [...] O projeto da Avenida Água Comprida também conta com propostas com o objetivo de preservar o fundo de vale do córrego, tais como o projeto de correção e controle de erosões, implantando um canal de drenagem para o escoamento da água, e o projeto da revegetação e restauração das áreas verdes e das áreas de preservação permanente, criando assim o Parque da Água Comprida com a realização do plantio de espécies nativas como forma de recuperação das áreas e melhoria da paisagem local (MARCILIO, 2015, p. 55). Simultaneamente as obras da Avenida Água Comprida, tiveram início as obras de implantação de interceptores de esgoto nas margens esquerda e direita do córrego no trecho entre a Chácara Odete e o Rio Bauru, abrangendo 6,4 quilômetros de extensão. A obra foi realizada pela empresa STEMAG, Engenharia e Construções Ltda, iniciada em 2014 e tendo sua conclusão em 2015, foi financiada pelo FTE – Fundo de Tratamento de Esgoto do DAE – Departamento de Água e Esgoto de Bauru e orçada no valor de R$ 6.032.66219 (MARCILIO, 2015, p.57). No decorrer dos últimos 15 anos, a ocupação do fundo de vale do Córrego da Água Comprida se manteve, com o seu entorno sendo ocupado por edifícios e pelo sistema viário, causando uma impermeabilização do solo e, consequentemente, a diminuição das áreas verdes.

Figura 13: Análise da Bacia do Córrego da Água Comprida Fonte: Fernanda Ferreira


CAPÍTULO 4 | 40 Podemos constatar a modificação da paisagem através das imagens abaixo:

Figura 14: Foto aérea do fundo de vale do Córrego da Água Comprida - 2004 Fonte: Google Earth 20/05/2019

Figura 16: Foto aérea do fundo de vale do Córrego da Água Comprida - 2014 Fonte: Google Earth 20/05/2019

Figura 15: Foto aérea do fundo de vale do Córrego da Água Comprida - 2010 Fonte: Google Earth 20/05/2019

Figura 17: Foto aérea do fundo de vale do Córrego da Água Comprida - 2019 Fonte: Google Earth 20/05/2019


Figura 18: Percurso do Córrego da Água Comprida – Análise com fotos Fonte: Fernanda Ferreira


CAPÍTULO 4 | 42

4.2 PLANO GERAL Para uma análise mais aprofundada da área de estudo, foi desenvolvido um Plano Geral que contém quatros trechos do Córrego da Água Comprida que são importantes para compreensão da sua paisagem como um todo. Os trechos foram divididos em: Trecho I – Horto Florestal e Avenida Rodrigues Alves; Trecho II – Avenida Cruzeiro do Sul e Jardim Redentor; Trecho III – Avenida Jorge Zaiden, Jardim Marambá, N. R. Presidente Geisel e Sambódromo; Trecho IV – Nascente, Jardim Nicéia e Loteamentos Fechados.

Trecho I

Trecho II

Trecho III

Trecho IV

Figura 19 – Plano Geral em Trechos Fonte: Fernanda Ferreira

Com aproximadamente 875 hectares, essa área abriga desde edificações precárias, como as do Jardim Nicéia, adensadas pelas classes mais baixas, até as de elevado padrão, como os condomínios horizontais fechados, do Jardim Colonial e Jardim Marambá. Entretanto, o nível de arborização da bacia é considerado baixo devido à implantação de conjuntos habitacionais, implantados à direita do córrego, em que a reserva de áreas verdes não foi exigida pelo Poder Público.


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 43 Trecho I – Horto Florestal e Avenida Rodrigues Alves Localizado na Avenida Rodrigues Alves, o Horto Florestal é tido como um parque de conservação – Estação Experimental de Bauru -, que possui caráter de pesquisa e estudo, como também o fornecimento de mudas e o desenvolvimento de programas de educação ambiental, além de ter o seu uso como um equipamento público de lazer, descanso e recreação. A sua implantação remete à época da instalação da ferrovia em Bauru, em que o local era utilizado para a plantação de eucaliptos que eram queimados nas locomotivas. Atualmente, administrada pelo Instituto Florestal, a área possui 43 hectares e formou a longo de sua história um arboreto de cerca de 1000 espécies, entre nativas e exóticas. O Horto se configura como uma das poucas áreas de grande relevância no sistema de espaços livres de Bauru na categoria de espaços abertos à visitação e com grande maciço de vegetação. Apesar disso, o espaço atrai apenas o público que mora próximo às suas dependências, ainda sendo desconhecido por parte da população em geral. Ao visitar a região, percebe-se que não há nenhuma evidência que o Córrego da Água Comprida atravessa o local. A área que supostamente daria visão para o córrego na Avenida Rodrigues Alves está coberta pelo matagal e, em volta, há um grande número de lixo e entulhos jogados próximos à sua mata. Isso evidencia que o local não está integrado à paisagem e também o descaso do Poder Público e da população com os recursos naturais. Trecho II – Avenida Cruzeiro do Sul e Jardim Redentor Próximo ao Distrito Industrial e delimitado pela Avenida Cruzeiro do Sul e a Avenida Rodrigues Alves encontra-se o Jardim Redentor I. O bairro foi o primeiro núcleo residencial a ser implantado em uma área de cerrado pela COHAB (Companhia de Habitação Popular de Bauru) em 1967 com 452 casas executadas pela construtora Otto Meinberg. De acordo com Constantino (1997), o bairro é considerado um bairro-jardim, e que apesar de suas ruas estreitas, destaca-se como o que apresenta um maior cuidado em relação aos espaços livres comuns, totalizando 6 praças internas. Além disso, seus lotes de 9m x 20m possuem uma área de 180 m² e um recuo de 3 metros do alinhamento da rua.

Em 1973 foi iniciada a construção do Jardim Redentor II com 661 casas populares com lotes de 10m x 20 m com 200 m² que segue o mesmo padrão de desenho do loteamento anterior. Atendendo a pedidos, inclusive de funcionários do Distrito Industrial, a COHAB – Bauru constrói no mesmo o Conjunto Residencial Bom Samaritano, compostos por residências em lotes de 10m x 20m e destinado à famílias com a renda mensal entre 1 a 5 salários mínimos. Trecho III – Avenida Jorge Zaiden, Jardim Marambá Núcleo Residencial Presidente Geisel e Sambódromo Na década de 1950 é implantado próximo à área do Córrego da Água Comprida o bairro Jardim Marambá, uma área de 358.581 m² com “as ruas acompanhando a declividade natural, com desenho em “pata de ganso”, encontravam-se em rotatórias com 30 metros de diâmetro”. Localizado a quatro quarteirões da Rodovia Marechal Rondon, que liga São Paulo ao Mato Grosso, o acesso ao bairro era perigoso pois cruzava a rodovia em nível. Foi apenas em 1980 que é implantado o rebaixamento da rodovia e realizada a construção do viaduto (CONSTANTINO, 2005). No início da década de 1990, algumas glebas, originárias da antiga Fazenda Campo Redondo, passam a ser muradas e, surge assim, em Bauru, os primeiros conjuntos residenciais de loteamentos fechados com áreas de lazer comum voltados para a classe média. De acordo com Kaimoti (2009), “como primeiro exemplo desses empreendimentos construídos pela iniciativa particular – o Parque Residencial Jardim das Camélias e o Parque Jardim Flamboyant – houve um interesse crescente por conjuntos residenciais deste tipo em glebas encravadas na malha urbana por estarem próximas da infraestrutura já instalada e com facilidade de acesso”. A implantação de comércios e serviços ocorre no bairro graças aos 720 apartamentos no Parque Residencial Jardim das Camélias e aos 640 apartamentos no Parque Jardim Flamboyant. No final da década de 1990, são implantados novos condomínios verticais na mesma área, são eles: Campo Bello, Campo Limpo, Villa Verde e Villa Grená. Contudo, apesar do grande potencial paisagístico oferecido pela proximidade com o córrego, a possibilidade de lazer e recreação, além da importância da preservação do fundo de vale e da mata ciliar para manutenção do microclima urbano oferecidos pela localização desses novos empreendimentos, essas vantagens não são citadas nas propaganda de lançamento dos condomínios. Isso evidencia que não há consciência, por parte dos que comercializam esses loteamentos fechados, dos atributos e vantagens que uma área como essa pode propiciar.


CAPÍTULO 4 | 44 realizar um prolongamento da Avenida Nações Unidas. A sua implantação em uma área de fundo de vale e próximo ao córrego era tida como uma barreira que dificultava o seu acesso pelos moradores, além disso, a ocupação urbana dessa área acentuou “o processo erosivo nas áreas ribeirinhas em decorrência da derrubada da cobertura vegetal” (KAIMOTI, 2009, p.41) e a formação de vazios urbanos (CONSTANTINO, 2005).

Figura 21 – Tabela 2 - Quadro Comparativo de Loteamentos por década – Bacia do Córrego Água Comprida. Fonte: Constantino (2005)

Figura 20 – Tabela 1 - Fazenda Campo Redondo – Quadro Comparativo de Loteamentos por década Fonte: Fonte: Constantino (2005)

Esses novos empreendimentos, juntamente com o N. R. Pres. Geisel, direcionou o crescimento populacional para a região leste da cidade, e a ocupação dessas áreas por pessoas com um maior poder aquisitivo favoreceu o surgimento de áreas comerciais e institucionais na região, o que também beneficiou os bairros adjacentes que passaram a ter em suas imediações serviços antes restritos à área central da cidade. Contudo, a construção de condomínios verticais dividiu a paisagem do local: de um lado “a esparsa verticalidade da classe média e, do outro, a horizontalidade adensada das camadas mais baixas da população marcada pelos núcleos habitacionais”. (KAITIMOTI, 2009). O Núcleo Residencial Presidente Geisel foi aprovado em 1979 com 2222 moradias, também em terras da antiga Fazenda Campo Redondo. Devido à sua implantação em uma área fora da malha urbana ocupada, foi necessário

Na área estuda há um fragmento remanescente de mata nativa do cerrado e da Floresta Estadual Semidecidual, conhecida área de transição entre o Cerrado e Mata Atlântica, que se localiza próximo à nascente do Córrego da Água Comprida e é tombada pelo Plano Diretor de Bauru de 2008. A preservação da floresta, para posterior integração ao parque linear proposto para a área, auxilia no problema da moradia, ao mesmo tempo, que beneficiam a população com áreas públicas de lazer de qualidade e que contemple atividades de cunho ambiental (KAITIMOTi, 2008, p.82). A falta de atenção para com as áreas públicas por parte da Prefeitura acarreta em áreas que geram descaso por parte dos frequentadores e moradores do local. Um exemplo é a área do Sambódromo, que na sua essência permite um uso variado que, contudo, possui um estigma de degradação devido aos usuários de droga que utilizam o local, porém, segundo Kaimoti (2009, p.69), “a realidade demonstra que a sua presença atrai o uso, seja ele qual for”. A implantação do Sambódromo Municipal de Bauru ocorreu no ano de 1991 no N. R. Presidente Geisel. Considerado referência no Estado de São Paulo, desde 1960, o Carnaval de Bauru atraía a população bauruense e das cidades vizinhas com seus blocos e escolas de samba para as ruas em um percurso feito entre as


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 45 Ruas 1º de Agosto e Batista de Carvalho. Posteriormente, nos anos 1980, as comemorações passaram a ser realizadas na Avenida Nações Unidas e eram financiadas pela Prefeitura Municipal. O Poder Público responsável pelo repasse de verbas para montar as estruturas, como arquibancadas e iluminação adequada, para acomodar os foliões que acompanhavam os desfiles, teve a ideia de implantar o sambódromo na área próximo ao Córrego da Água Comprida como forma de conter os graves problemas de erosão do lugar. O local possui 700 metros de extensão, sendo 450 metros destinados aos desfiles. Com isso, o Sambódromo de Bauru, foi o segundo sambódromo a ser implantado no Brasil e o único fora de uma capital, o que ajudou a consolidar o carnaval bauruense. Contudo, no começo da década de 2000, o carnaval bauruense sofreu um recesso com a suspensão de verbas por parte do governo, consequentemente, levando a festa a ser suspensa. Entretanto, isso não impediu de que as escolas e blocos fechassem as ruas e avenidas de seus bairros para desfilar. Foi a partir de 2010 que a Prefeitura Municipal voltou a auxiliar as escolas com a preparação dos desfiles e fez com que a comemoração voltasse a crescer e ser considerado novamente um dos melhores carnavais do interior paulista.

águas pluviais e o acúmulo de lixo, dificultam o acesso e circulação do transporte público. Além, disso a ocupação ilegal da área provocou um processo pelo direito de usucapião dos terrenos ocupados, o que fez com que os moradores se unissem pela posse do local de maneira pacífica. Na mesma área, a partir da década de 1990, loteamentos fechados começaram a se estabelecer na área, contudo, a presença da rodovia é vista como uma barreira ao seu acesso, o que pode ter resultado na baixa procura por esses empreendimentos. No ano de 2018 a Prefeitura de Bauru, através da Secretaria de Planejamento (SEPLAN), iniciou o processo de regularização fundiária da área ocupada. Há décadas muitas famílias que residem no bairro aguardam pela regularização de seus imóveis, já que a regularização fundiária garante segurança jurídica de posse e propriedade sobre o terreno, além de permitir financiamentos para melhoria das casas, bem como, possibilitar que o município obtenha recursos para implantação de infraestrutura no bairro, como pavimentação e drenagem, propiciando qualidade de vida à essa população.

A partir disso, fica evidente que a implantação do sambódromo se deu de maneira isolada e, que não há um uso integrado da população, sendo usado apenas no período do carnaval. É possível supor que a falta de integração do equipamento com a paisagem do entorno dificulta o seu uso, já que está localizada em uma área vizinha ao Córrego da Água Comprida, considerada uma barreira pelos moradores. Trecho IV – Jardim Nicéia e Loteamentos Fechados O Trecho IV corresponde à nascente do Córrego da Água Comprida que abriga próxima à sua localização o bairro Jardim Nicéia e alguns loteamentos fechados como o “Costa do Sauípe”, “Chácara Odete” e o “Condomínio Residencial Odete-Tavano”. O Jardim Nicéia começou a ser ocupado no final dos anos 1970 por aqueles que buscavam “fugir da escassez de moradia e dos altos aluguéis”. Embutida na nascente do córrego da Água Comprida, com “remanescentes do cerrado fazendo sua bordadura”, o local é encoberto pela vegetação, a área se caracteriza por ruas sem movimentação, falta de galerias para captação de

Figura 22 – Desfile da Escola de Samba Coroa Imperial em 2018 Foto: Lorenzo Santiago/JORNAL DOIS


CAPÍTULO 4 | 46

4.3 A LEGISLAÇÃO DE BAURU O Plano Diretor da cidade de Bauru tem como princípio buscar o “desenvolvimento sócio-econômico-ambiental e a organização do uso do solo compatibilizado com a capacidade das redes de infraestrutura, definindo metas a curto, médio e longo prazo”. Os princípios fundamentais que nortearam a elaboração do Plano Diretor Participativo do Município de Bauru foram os estabelecidos no Estatuto da Cidade e na Constituição Federal, sendo eles: o cumprimento da função social da cidade e da propriedade, o desenvolvimento sustentável e a participação da população. O modelo de crescimento econômico que temos atualmente provoca desiquilíbrio, pois ao mesmo tempo que gera riqueza, também traz miséria e degradação ambiental. Assim, planejar o município pautado no desenvolvimento sustentável e em satisfazer as necessidades dos cidadãos, ao mesmo tempo, que busca combater as desigualdades sociais, é uma maneira de tornar a cidade um local mais justo, humano e democrático. O Plano Diretor Participativo propõe que a cidade se desenvolva de modo compacto através do “controle da expansão urbana, ocupação criteriosa dos vazios urbanos, otimização da infraestrutura instalada, controle e soluções para os graves problemas de drenagem, proteção dos recursos naturais em especial das reservas de cerrados e recursos hídricos com a criação dos parques de fundo de vale, regularização fundiária e urbanização de favelas”. O planejamento depende de um sistema de gestão participativo em que haja uma parceria entre o poder público e a mobilização popular com objetivo de priorizar, em conjunto, as ações que devem ser realizadas para permitir transformações à realidade urbana. A cidade de Bauru tem o seu território dividido em 21 setores de planejamento, cujas divisões coincidem com os limites das bacias hidrográficas, e ajustadas de acordo com o sistema viário. Com isso, os Setores de Planejamento Urbano – SPU são áreas destinadas à futura urbanização ou já urbanizadas, localizando-se nas cabeceiras das bacias hidrográficas e totalizando 12 setores: SPU 1 – Centro; SPU 2 – Bacia do Córrego Água da Ressaca; SPU 3 – Bacia do Córrego Água da Forquilha; SPU 4 - Bacia do Córrego Água do Sobrado; SPU 5 - Bacia do Córrego da Grama; SPU 6 - Bacia do Córrego

Água do Castelo; SPU 7 - Bacia do Córrego do Pau d’Alho; SPU 8 - Bacia do Córrego Barreirinho; SPU 9 - Bacia do Córrego Vargem Limpa; SPU 10 Bacia do Ribeirão Vargem Limpa; SPU 11 - Bacia do Córrego Água Comprida e SPU 12 - Bacia do Córrego das Flores/ Avenida Nações Unidas. Com relação ao Córrego Água Comprida, o Plano Diretor estabelece como diretrizes: _ A implantação de barragens de contenção de águas pluviais no fundo de vale do córrego Água Comprida que contemple toda a bacia de contribuição de acordo com Plano de Macrodrenagem; _ As diretrizes de parcelamento relativas à drenagem deverão exigir obras para contenção de águas pluviais considerando a vazão de restrição e o conceito de “impacto zero”. _ Fica definida área para implantação do Parque da Água Comprida, conforme mapa 05, “áreas de interesse ambiental”, em anexo, cujo projeto será elaborado através de planejamento participativo contendo ciclovia e priorizando o transporte coletivo, exceto a área compreendida na Matrícula 92.319, registrada no 1° Oficial de Registro de Imóveis e Anexos de Bauru - S.Paulo. _ As áreas excedentes e que não forem utilizadas para implantação do Parque da Água Comprida, serão liberadas para projetos de parcelamento ou edificação; _ Programa de regularização fundiária e construção de moradias de interesse social nas ocupações irregulares em área da favela do Jardim Nicéia e Jardim Olímpico/Geisel; _ Aplicação da transferência do direito de construir em toda a área do Parque do Água Comprida, exceto áreas de preservação permanente; _ Poderá ser utilizada a operação consorciada nas áreas que envolvem o Parque da Água Comprida; _ Melhorar acessibilidade ao setor, assim como a interligação entre as duas margens;


A CIDADE DE BAURU E O CÓRREGO DA ÁGUA COMPRIDA | 47 _ Fortalecimento do potencial logístico da região para instalação de empresas de comercio, serviços e indústrias nas áreas definidas como ZICS ao longo das rodovias; _ Na região da Vila Engler e Jardim do Contorno, Jardim Auri Verde, fora da faixa definida como ZICS, quando da elaboração da Lei de Zoneamento deverão ser preservadas as características residenciais, à qualidade de vida e o convívio das comunidades; _ Tombamento das áreas 3–1247 e 1396 como reserva natural de Cerrado, destinando defronte a Avenida da Água Comprida (projetada) e Avenida Gilberto Bresolim para parcelamento de fins de urbanização, conforme Mapa 05:”Áreas de Interesse Ambiental”; _ Reserva de área para instalação de parque poliesportivo e área verde nos espaços degradados localizados entre a Vila Monlevade e Jardim Guadalajara, junto ao parque de manobras férreas, na área cadastrada como 3–617; _ Urbanização com equipamentos de lazer compatíveis nas áreas verdes cadastradas 3–7 e 3–12, quarteirões 3 e 4 da Rua Elias Murback.

Figura 23 – Mapa 05: Áreas de Interesse Ambiental Fonte: http://sites.bauru.sp.gov.br/planodiretor/cartografia.aspx



5 PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA



PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 49

5.1 O LOCAL A área escolhida para o desenvolvimento do projeto do parque linear encontra-se entre a Avenida Jorge Zaiden, no bairro Jardim Marambá, e a Rua Fortunata Dalla Ru Vannuzini, no Núcleo Residencial Presidente Geisel. Apesar de ser um local com grande potencial paisagístico, atualmente, a área verde livre é vista como uma barreira pelos moradores e, também é possível observar em alguns pontos marcas de erosão devido a falta de vegetação e também pela força de escoamento da água superficial das áreas impermeáveis que retira a cobertura natural do solo. A área no entorno do terreno pode ser considerada diversificada, cercada de residências, estabelecimentos de comércio, serviço e áreas verdes. Também foi possível identificar que há uma carência de áreas institucionais. A escolha do local possui alguns aspectos da localização como justificativa. O terreno representa um vazio urbano em meio a uma área consolidada há algumas décadas, que tem sofrido especulação imobiliária no Jardim Marambá,

Figura 24 – Mapa de Uso e Ocupação do Solo Fonte: Fernanda Ferreira

e por estar localizado em uma importante e movimentada via da cidade. Outras razões para a escolha da área é a falta de equipamentos de lazer voltados para o N. R. Presidente Geisel, que carece desse tipo de atividade, e a implantação de um parque auxiliará na recuperação e preservação do córrego, além de integrá-lo a paisagem urbana ao redor. Próximo ao local escolhido podemos identificar alguns equipamentos de comércio como os Supermercados SuperBom, Confiança Flex, Atacadão e CEASA, equipamentos institucionais como Núcleo de Saúde Geisel, Creche Comunitária Pingo de Gente e E. E. Prof José Ranieri, como equipamentos de lazer temos algumas áreas verdes e o Sambódromo. Foi possível observar a partir da produção do mapa de Uso e Ocupação do Solo e do mapa Entorno que a região do Jardim Marambá está bem servida de equipamentos de serviços e comércios, visto que muitas de suas quadras são mistas, enquanto o N. R. Presidente Geisel possui um maior número de quadras residenciais.

Figura 25 – Mapa de Entorno Fonte: Fernanda Ferreira


CAPÍTULO 5 | 50

ESC 1:2500

5.1.1 TERRENO ORIGINAL

CORTE AA ESC 1:1250

O mapa a seguir apresenta as curvas de nível originais do local, com a demarcação da área de projeto em preto. A partir das visitas técnicas ao terreno, foi possível observar que o desnível da área de fundo de vale oferece uma vista agradável da paisagem como um todo, tanto do lado do Geisel, quanto do Marambá.

CORTE BB ESC 1:1250

CORTE CC ESC 1:1250


PARQUE DA Ă GUA COMPRIDA | 51

5.1.2 VISTAS DO TERRENO ORIGINAL

Figura 30: Vista do Terreno e Entorno 01 Fonte: Fernanda Ferreira

Figura 32: Vista do Terreno e Entorno 03 Fonte: Fernanda Ferreira

Figura 31: Vista do Terreno e Entorno 02 Fonte: Fernanda Ferreira

Figura 33: Vista do Terreno e Entorno 04 Fonte: Fernanda Ferreira


CAPÍTULO 5 | 52

5.2 PESQUISA DE CAMPO Para o desenvolvimento do projeto se fez necessário realizar uma pesquisa de campo com a população que frequenta as proximidades do fundo de vale do Córrego da Água Comprida para compreender o potencial da área, o que atrai os frequentadores e sua conexão com o local. O intuito de realizar as entrevistas é para desenvolver um programa de necessidades que mais se aproxima da realidade da população bauruense. O formulário foi respondido por 50 pessoas e as respostas aqui apresentadas foram compiladas em gráficos, no caso das perguntas de múltipla escolha e, por meio de agrupamento de termos, no caso das perguntas que não são de múltipla escolha. A primeira pergunta se refere ao gênero, feminino ou masculino, e foi respondida por 50 pessoas. Com isso, 30 pessoas se identificaram com o sexo feminino e 20 pessoas com o sexo masculino.

Figura 34 – Pesquisa de Campo - Sexo Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

A segunda pergunta é sobre a idade dos entrevistados, abrangendo a faixa etária de 15 anos até acima dos 60 anos, e foi respondida por 50 pessoas.

Figura 35 – Pesquisa de Campo - Idade Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

A terceira pergunta é sobre o tempo de moradia na cidade e foi respondida por 50 pessoas. Apesar da pergunta ser aberta, os dados foram transformados em gráfico para facilitar a compreensão.

Figura 36 – Pesquisa de Campo – Tempo de moradia na cidade Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

A quarta pergunta se refere à escolaridade dos entrevistados, foram obtidas 50 respostas. Através dos dados coletados descobriu-se que “quase a metade dos entrevistados tinham curso superior completo (46%) ou incompleto (48%).”


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 53 Para a quinta pergunta, que se refere à ocupação dos entrevistados, obtivemos 50 respostas.

Para a oitava pergunta, que é aberta, perguntou-se qual o bairro que o entrevistado morava. Houve um total de 48 respostas e os termos que mais surgiram foram: Parque Residencial Camélias (16 pessoas), Jardim Marambá (11 pessoas) e Jardim Contorno (4 pessoas). Na nona pergunta, que se refere ao que há de bom na área, utilizou-se do método de agrupamento por termos. Entre as 47 respostas obtidas os termos que mais surgiram foram: “acesso”, “segurança”, “infraestrutura”, “próximo à Universidade”, “arborização”, “área para pedestres e ciclistas”, “localização” e “tranquilidade”. Na décima pergunta, que se refere ao que há de ruim na área, utilizou-se do método de agrupamento por termos. Foram obtidas 45 respostas e os termos que mais surgiram foram: “falta de iluminação”, “áreas vazias”, “falta de espaços de lazer e entretenimento”, “transporte público”, “limpeza”, “difícil acesso à outas áreas da cidade”, “falta de posto de saúde”, e “falta de arborização”.

Figura 37 – Pesquisa de Campo – Ocupação Principal Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

O tema da sexta pergunta foi sobre a renda familiar dos entrevistados e obtivemos 50 respostas.

Para décima primeira pergunta, que se refere ao acesso à área, obtivemos um total de 50 respostas e, em que a maioria dos entrevistados, 82% acredita que o local seja de fácil acesso. Na décima segunda pergunta obtivemos 50 respostas em relação à frequência com que os entrevistados utilizam a pista de caminhada localizada na Avenida Jorge Zaiden.

Figura 38 – Pesquisa de Campo – Renda Familiar Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

Na sétima pergunta houve um total de 49 respostas e a maioria, 89,8%, afirmou residir próximo a local.

Figura 39 – Pesquisa de Campo – Frequência de utilização da pista de caminhada Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google


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Na décima terceira pergunta 49 pessoas responderam sobre a sensação de segurança no local.

Figura 41- Pesquisa de Campo – Segurança Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

A última questão perguntava qual o nome do córrego e apenas 20 entrevistados responderam “Córrego da Água Comprida”. Figura 40 - Pesquisa de Campo – Segurança Fonte: Pesquisa realizada através do Formulário do Google

A décima quarta pergunta estava relacionada à pergunta anterior com o objetivo de compreender o que causa a sensação de insegurança nos frequentadores do local. Por ser uma questão aberta, as respostas aqui apresentadas são resultado do agrupamento dos termos que mais apareceram em 36 respostas: “áreas vazias”, “falta de iluminação”, “pouco movimento de pessoas principalmente à noite” e “mato alto”. A décima quinta pergunta é sobre a questão do lixo e se os entrevistados já viram alguém jogar lixo no local. Através dos dados coletados descobriu-se que 44,9% já viram alguém jogando lixo no local e 55,1% disseram que não. A décima sexta pergunta questiona se os entrevistados já souberam sobre alguma campanha de limpeza para o local. Através dos dados coletados descobriu-se que apenas 4,1% dos que responderam ao questionário ouviram falar sobre uma campanha de limpeza para a área. A décima sétima pergunta é se os entrevistados sabem o nome do córrego existente na área. Foram obtidas 50 respostas, mas apenas 20 responderam sim.

A partir das respostas obtidas com o questionário foi possível compreender alguns aspectos da área e de seus frequentadores. Nota-se que a maioria dos entrevistados reside em bairros próximos à área do fundo de vale e tem uma renda que os classifica em sua maioria como classe C e B, de acordo com o IBGE. Apesar dos entrevistados terem listado que a área possui uma boa infraestrutura com mercados e próximo à universidade, por outro lado, a insegurança causada pela falta de iluminação, de movimento e de limpeza do local foram citadas tanto nas perguntas sobre o que há de ruim na área e no que causa insegurança. Outro ponto que podemos destacar é a questão da limpeza, em que 44,9% dos entrevistados já viram alguém jogando lixo na área e 95,9% dos que responderam ao questionário disseram ter desconhecimento sobre campanhas de limpeza do espaço. Esses dados refletem que há um descaso com a área, tanto por parte do Poder Público, quanto por parte de quem o frequenta, demonstrando a falta de conexão da população com o local. Devemos lembrar que essa pesquisa é apenas um demonstrativo para a realização desse trabalho final de graduação, caso ocorra que projetos desse tipo sejam implantados, a pesquisa de campo deve ser mais aprofundada, de maneira que sejam entrevistadas um número maior de pessoas, para que as respostas possam abranger todas as faixas etárias e camadas sociais.


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 55

5.3 O PROJETO 5.3.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PARTIDO ARQUITETÔNICO A partir da pesquisa de campo foi possível levantar alguns pontos para desenvolver o programa de necessidades. O parque é estruturado com objetivo de valorizar a paisagem do fundo de vale, atrair uso com áreas de lazer e descanso, resolver o problema de “área vazia”, de erosão e de acesso. Promover a utilização e movimento de pessoas na área gera uma sensação de segurança maior para aqueles que a utilizam, principalmente no período noturno. A pista de caminhada é utilizada por alguns moradores da região, podendo ter seu percurso ampliado, para também viabilizar outros usos, como bicicletas, skates e patins. Além disso, é importante propor equipamentos e infraestruturas de acesso à área, como ponto de ônibus e bicicletários, bem como a arborização do local e campanhas de preservação e limpeza. Para satisfazer o programa de necessidade, diretrizes arquitetônicas foram estabelecidas para criação de um espaço de permanência atraente e agradável aos usuários. A integração do parque com o entorno, projetos de áreas de encontros, para apresentações e feiras, áreas contemplativas, vias para ciclistas e pedestres. Além disso, propostas para instalação de banheiros, playgrounds e estações de ginástica, em longo prazo. Por Bauru ser uma cidade de clima quente e ensolarado, foram estabelecidas algumas diretrizes para obter conforto térmico: arborização e preservação das áreas verdes, para fornecer sombra e reduzir a temperatura das ilhas de calor; instalação de espelhos d’água e estruturas de cobertura.

Com objetivo de priorizar a integração com a paisagem foram escolhidos materiais naturais e neutros. Sugestões de áreas para a aplicação de infraestruturas verdes, como biovaletas e jardins de chuva, com objetivo aumentar a permeabilidade do solo, diminuir a velocidade de escoamento da água e recuperar as partes da área que sofrem com a erosão do solo. Para definir quais infraestruturas verdes devem ser implantadas na área, é necessária a participação de outros especialistas, como engenheiros e biólogos, para definir dados como a condição do solo, o nível de escoamento e velocidade da água, etc.


CAPÍTULO 5 | 56

5.3.2 APONTAMENTOS PROJETUAIS _Conexões O córrego é visto como uma barreira pelos moradores da região, principalmente do N. R. Pres. Geisel. As passarelas surgem como uma proposta com o intuito de solucionar essa questão, ao facilitar o acesso de maneira direta aos dois bairros. Além disso, a conexão também se estabelece por meio da pista de caminhada, ciclovia, trilhas, desenhos de piso e arborização. _Contemplação Para valorizar a potencial paisagístico do Fundo de Vale, foram propostos mirantes localizados em diferentes pontos, que também funcionam como área de permanência. _Preservação Ambiental Por se tratar de uma área de APP, com intuito de promover o uso da área ao mesmo tempo que conecta os usuários com a natureza e zela por sua preservação, respeitou-se o Código Florestal que admite uma área de no mínimo de 30 metros do córrego; preferência por materiais “permeáveis” e para impermeabilizar menos possivel o solo; recuperação da mata ciliar; aplicação de jardins de chuva em conjunto com biovaletas para reduzir a velocidade de escoamento de água em áreas com maior declividade combatendo a erosão do solo. _Equipamentos Com objetivo de atrair usuários e de reduzir a impermeabilização próximo ao córrego, os equipamentos de esporte e lazer foram implantados em áreas adjacentes livres, como no caso da praça de esportes, localizada em frente ao Residencial Flamboyant, e em praças do Bairro Geisel que estão abandonadas e sem manutenção, promovendo a requalificação desses locais. _Córrego Com intuito de reintegrar o Córrego da Água Comprida na memória urbana foram propostos dois espelhos d´agua nas novas áreas no Jd. Marambá. Enquanto no Geisel, devido aos custos de manutenção, propõe-se a pintura do piso de cimento queimado na cor azul remetendo à água.

_Sambódromo Atualmente, o sambódromo é apenas utilizado na época do carnaval, em que os moradores abrem as portas de suas casa e ocupam a rua que o circunda. No dia a dia, apenas os seus bolsões de estacionamento são utilizados para aulas de moto de auto escolas. A proposta aqui é reconectar esse equipamento ao projeto do parque e ao Geisel, com isso, toda a extensão da rua seria aplicado o piso intertravado. Com intenção de superar a barreira criada pelas arquibancadas na extremidade norte do sambodromo é posto um acesso atraves de escada ao equipamento, com um desenho de piso que o conecta ao acesso de uma das passarelas e às praças revitalizadas do bairro. Além disso propõe-se a realizacao de atividades para dar uso e função ao equipamento, como oficinas para baterias ensinarem os instrumentos e para ensaiarem, feiras de produtos agricolas da região, food trucks, outos tipos de ações como multirões, campanhas, eventos em datas comemorativas como festas juninas, corrida de rua etc.


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 57

_IMPLANTAÇÃO


CAPÍTULO 5 | 58

IMPLANTAÇÃO DE PISO _ ANTES


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 59

IMPLANTAÇÃO DE PISO _DEPOIS

Croncregrama

Madeira

Cimento Drenante

Cimento Queimado c/ Tinta Epoxi Vermelha

Em relação aos materiais de piso foram escolhidos: madeira nos decks, cimento drenante, intertravado e cimento queimado nas cores vermelho e azul. Os espaços gramados e com concregrama servem para aumentar a área permeável, além de oferecer espaço para atividades ao ar livre variadas. As biovaletas e jardins de chuva estão localizadas em locais de maior declividade, diminuindo a velocidade de escoamento superficial da água e para reduzir/previnir erosões. Os espelhos d’água ajudam a refrescar o espaço, promover entretenimento (aspersores de água, piso fragmentado) e em conjunto com o cimento queimado com tinta epóxi azul remeter aos usuários a existência do córrego.

Cimento Queimado c/ Tinta Epoxi Azul Intertravado

Jardim de Chuva Biovaleta Grama Espelho d’água


CAPÍTULO 5 | 60

IMPLANTAÇÃO _ REMANEJAMENTO Obs.: Anexo da implantação em A0 no final do caderno.


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 61

_CORTES 3

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Rio Água Comprida Mirante Área de Convivência Passarela Caminhada/Trilha Ciclovia Canteiro Espelho d’água Biovaleta 10 Jardim de Chuva

3

4 2

1

CORTE AA ESC 1:1000

3 4 5 3 1

CORTE BB ESC 1:500

3

8

7

6

3

DET. 1 ESC 1:250

6 9 10

DET. 2 ESC 1:50

5

5


CAPÍTULO 5 | 62

CONEXÃO_ MARAMBÁ-GEISEL

ESC 1: 750


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 63


CAPÍTULO 5 | 64

CONEXÃO_ GEISEL-MARAMBÁ

ESC 1: 750


PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 65


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PARQUE DA ÁGUA COMPRIDA | 67



6 CONSIDERAÇÕES FINAIS



CONSIDERAÇÕES FINAIS | 69

Diante às informações apresentadas ao longo desse Trabalho Final de Graduação, fica evidente que a paisagem é um território resultado de diversas modificações e produzido ao longo da história. Um sistema complexo e composto por sistemas integrados e interrelacionados, que compartilham do mesmo espaço proporcionando a cada usuário perspectivas e significados próprios.

verde, permite o contato direto com a natureza, a movimentação da flora e da fauna, a proteção de recursos hídricos e habitats, diminui a incidência de erosões e assoreamento dos rios e, consequentemente, ameniza os inconvenientes causados pelas cheias. A sua implantação permite que os fundos de vale se tornem parte integrante e fundamental do planejamento e estruturação do espaço urbano.

Ao intervir na paisagem deve-se levar em consideração que ela é um elemento vivo, mutante e em movimento. No meio urbano, implica em compreender o que as alterações trarão de benefícios e prejuízos, tendo-a como parte fundamental do planejamento urbano de forma a resultar em espaços integrados que proporcionem qualidade de vida urbana para a população.

Localizado em uma área consolidada da cidade e com grande potencial paisagístico, o fundo de vale do Córrego da Água Comprida possui diretrizes e ações de relevância ambiental para o seu local e que estão contidas no Plano Diretor. Porém, o que observamos atualmente, é que na prática essas diretrizes não são aplicadas, permanecendo o fundo de vale como uma área degradada e de capacidade pouco explorada.

Em grande parte dos municípios brasileiros a produção de espaços não se relaciona um com o outro, sendo o meio natural e o meio urbano visto como incompatíveis. Resultado de uma interpretação errônea da paisagem que acarreta numa leitura fragmentada dos segmentos espaciais, funcionais e sociais. Temos como exemplo, infraestruturas viárias e de serviços que não se conectam com o entorno, edifícios que não se relacionam entre si, espaços livres públicos urbanos que são tratados como áreas residuais e não atendem aos interesses da população, etc. Um modo de viabilizar a reintegração da paisagem fragmentada e, ao mesmo tempo, promover a preservação e reabilitação dos cursos d’água é através da implantação de parques lineares. O parque linear é uma intervenção de baixo impacto ambiental que promove a proteção de áreas degradadas através da formação de um corre

A proposta de projeto do Parque Água Comprida é de reconectar a cidade e a população ao local através da criação de um espaço que permite o desenvolvimento de diversas funções urbanas necessárias para promover a qualidade de vida de seus usuários e ao mesmo tempo preservar o ecossistema ali presente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | 71

// REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACBP. Projeto Técnico: Parques Lineares como medidas de manejo de água pluviais. 2013. Associação Brasileira de Cimento Portland - Programa Soluções para Cidades. BAURU. Plano Diretor Participativo de 2008. Bauru, P.M.B., Lei 5631 de 22 de Agosto, 2008. Disponível em: <http://sites.bauru.sp.gov.br/planodiretor/> Acesso em: 23 de maio de 2019. BAURU. Plano Diretor de Água do Município de Bauru/SP. Bauru, Outubro de 2014. Departamento de Água e Esgoto de Bauru - DAE. Disponível em: <http://www.daebauru.sp.gov.br/2014/agua/plano_diretor_aguas/Vol02-TomoI.pdf> Acesso em: 23 de maio de 2019. BRASIL. Código Florestal (Lei Nº 12.651/2012). Governo Federal. Disponível em: <www.senado.gov.br> (Legislação Federal). Acesso em: 28 de março de 2019. BARBOSA, L. C.; M. F. GOULART; B. L. D. ANGELIS. Potencialidades dos Parques Lineares na recuperação de áreas de fundos de vale degradadas. 2010. Artigo Científico. Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Universidade Estadual de Maringá, Maringá. CINGAPURA. ABC Waters Design Features. Singapore’s National Water Agency. Disponível em: <https://www.pub.gov.sg/Documents/Condensed_Booklet_ of_Engin_Procedures.pdf > Acesso em: 05 de Setembro de 2019. CONSTANTINO, N. R. T. As cidades e os Rios: Chaves de leitura utilizadas na pesquisa científica em Arquitetura e Urbanismo. 2014. III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. Arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva. São Paulo. CONSTANTINO, N. R. T. A construção da paisagem de fundos de vale: o caso de Bauru. Tese de Doutorado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo. CONSTANTINO, N. R. T. A influência das ideias de cidade-jardim - Reflexos em Bauru. 1997. Sala Especial “Cidades Jardins – a busca do equilíbrio social e ambiental 1898-1998”. 3ª Bienal Internacional de Arquitetura – Fundação Bienal de São Paulo. São Paulo. CONSTANTINO, N. R. T. As Permanências na Paisagem: Os Fundos de Vale em Bauru. 2006. Paisagem Ambiente: ensaios – n 22. São Paulo – p. 238245 COY, M. A interação rio-cidade e a revitalização urbana: experiências europeias e perspectivas para a América Latina. 2013. Confins [Online]. CUSTODIO, Vanderli; CAMPOS, Ana Cecília de Arruda; MACEDO, Silvio Soares; QUEIROGA, Eugenio Fernandes. Sistemas de espaços livres e forma urbana: algumas reflexões. 2013. Anais. Editora: ANPUR, Recife.


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APÊNDICE | 75

// APÊNDICE PESQUISA DE CAMPO Valor atribuído pela população à área de Fundo de Vale do Córrego da Água Comprida 01 – Sexo:

08 – Em que bairro você mora?______________________________________ Ferminino

Masculino

Outro

02 – Idade:

15 – 20 anos 31 – 35 anos 46 – 50 anos Acima de 60 anos

10 – E de ruim? _________________________________________________ 21 – 25 anos 36 – 40 anos 51 – 55 anos

26 – 30 anos 41 – 45 anos 56 – 60 anos

03 – Tempo de Moradia na cidade: _______________________________ 04 – Escolaridade: Nenhuma Fundamental Completo Médio Completo Superior Completo

Fundamental Incompleto Médio Incompleto Superior Incompleto

Estudante Trabalhador Assalariado Aposentado

Fácil

Médio

Difícil

12 - Com que frequência você utiliza a pista de caminhada? Todo dia Raramente Nunca

Pelo menos 1x na semana Pelo menos 1x mês Raramente

13 – Você tem a sensação de segurança no local? Não

Depende

14 - O que você acha que causa a sensação de insegurança? _____________ Desempregado Trabalhador Autônomo

15 – Você já viu alguém jogando lixo no local? Sim

06 - Renda Familiar:

Não

16 – Já soube de alguma campanha de limpeza para a área? Até 01 SM 02 a 05 SM 10 a 20 SM

Sim

Não

Não

17 – Você sabe o nome do córrego que existe nessa área? Sim

07 – Mora próximo ao local? Sim

11 – O acesso à área é:

Sim

05 – Ocupação principal:

Não sei 01 a 02 SM 05 a 10 SM Mais que 20 SM

09 – Na sua opinião, o que tem de bom nessa área? _____________________

Não

18 - Se sim, qual?_________________________________________________




UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” - UNESP FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO - FAAC DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO - DAUP


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