RESTAURO
da fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres
ILHA DO MEL
objeto
.introdução
A Fortaleza da Ilha do Mel é patrimônio reconhecido desde as primeiras políticas preservacionistas aplicadas no Brasil, é um símbolo monumental que conta a história da ocupação do litoral paranaense e, por consequência, brasileiro. A discussão do reconhecimento do edifício como obra de arte e como testemunho histórico já foi realizada e consolidada através do instrumento de inscrição nos livros do tombo federais histórico e artístico e posterior inscrição no livro do tombo histórico pelo estado do Paraná. No decorrer deste Termo de Referência e durante o processo projetual desenvolvido no próximo semestre, as questões de por que, o que, como, para que e para quem serão abordadas de maneira analítica de forma a entender da melhor forma os temas e problemáticas que circundam a edificação e sua paisagem. Levantar essa discussão é importante para mensurar de forma licita até que ponto intervir, que uso respeitaria a vocação daquela construção, dentre outras questões que eventualmente surgirão no desenvolvimento deste projeto. O complexo da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, também conhecida como Fortaleza da Barra ou Fortaleza de Paranaguá está localizada em um dos pontos de mais difícil acesso da Ilha do Mel e, envolvendo o morro da Baleia, guarda a entrada da baía de Paranaguá na barra norte.
.problemática
No Brasil, a partir do século XV, foram construídas centenas de fortificações, no litoral ou interior, com o objetivo de proteger o território. Inúmeras destas ruíram ou foram destruídas e nos restam apenas vestígios documentais das batalhas ali travadas. Devido à este importante fator de demarcação territorial, 40 delas encontram-se listadas nos livros do tombo federais e 19 estão listadas para patrimônio mundial. Em território paranaense, a Fortaleza da Ilha do Mel desponta como um testemunho histórico da ocupação do litoral, além de ser uma representante da arquitetura militar colonial portuguesa. A sua conservação, e por consequência, a restauração é a concretização do reconhecimento deste como um legado a ser transmitido ao futuro.
É preciso, então, colocar-se com respeito frente ao passado de forma a manter a integridade não só estética, mas também documental deste monumento.
“Não existe neutralidade nas imagens. A simples intenção de documentar sistematicamente um objeto denuncia o aguçado juízo crítico. São registros históricos e estéticos, que precisamos aprender a ler:[...] mostram o reatamento dos vínculos do passado com o futuro; mas sobretudo, trazem à luz, com grande sensibilidade, o instante quase mágico da revelação desta arquitetura de pedra como obra de arte” (MORI, 2000. Apud. SALGADO)
A Fortaleza, junto ao Morro da Baleia, passou por inúmeras transformações ao longo do tempo, não só as efetivas supressões ou adições, como também na sua percepção e significação. Ela passar a existir em um cenário onde deixou de ser um símbolo de proteção do território, tornan do-se um destino turístico e um ambiente de suporte à população local. Essa memória local mostra-se como um importante elo da história com o presente, fazendo com que a nostalgia da população ainda reviva festividades e acontecimentos já não mais existentes fisicamente no complexo, tais como a antiga capela demolida (altar ainda mantido pela população à espera de um novo local religioso), a festa de Nossa Senhora dos Prazeres, entre outros. A restituição de um uso compatível é um dos principais instrumentos das teorias atuais do restauro, fundamentada no fato de que a manutenção da funcionalidade na arquitetura é um importante agente de conservação. Já a recomposição volumétrica em um projeto arquitetônico de restauro nem sempre se mostra idônea, sendo, por vezes, caracterizados como completamentos desnecessários e puramente arbitrários. No caso da Fortaleza, o projeto do novo vai além do restauro em si e abrange a questão da apropriação do espaço em si, representando uma alternativa em potencial para a participação ativa da população no processo de conservação, e consequentemente, na sua transmissão ao futuro. Então de que forma poderíamos estabelecer uma ressignificação deste bem com o seu entorno e comunidade local e qual tipologia de uso seria considerada ideal para a manutenção da fortaleza desmilitarizada da Ilha do Mel de forma a transferir seu legado como testemunho histórico sem entrar em processo de abandono novamente?
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.objetivo geral
.preservação e restauro da paisagem cultural da fortaleza da Ilha do Mel
.a Fortaleza, localizada em um dos pontos de mais difícil acesso da Ilha do Mel, envolve o Morro da baleiae guarda a entrada da Baía de Paranaguá na Barra Norte. qual tipologia de uso seria considerada ideal para a manutenção da fortaleza desmilitarizada da ilha de forma a transferir .problemática seu legado como testemunho histórico, sem entrar em processo de abandono novamente? .aspectos teóricos
.objetivos específicos
.aspectos tecnicos
.entender e aplicar o conceito discutido tanto
.entender o conjunto no âmbito acadêmico como em organizações como paisagem cultural internacionais de paisagem cultural, e entender a da Ilha do Mel relação do patrimônio cultural e do natural, já que ambos coexistem de maneira complementar
.restauro da fortaleza .entender os principais conceitos e princípios da .trabalhar com os aspectos técnicos de restauro (degrado e estrutura por exemplo) para garantir de Nossa senhora dos vertente crítico-conservativa do restauro a salvaguarda do patrimônio por mais tempo Prazeres .entender a relação do antigo-novo possível
.criar uma infraestrutura leve para facilitar a circulação tanto dos moradores da ilha como dos .projeto da paisagem turistas que usufruem da infraestrutura ao longo de do entorno todo o ano
.trabalhar com uma estrutura leve e reversível que crie uma identidade na ilha e auxilie na locomoção interna e, consequentemente, na preservação do patrimônio
.entender que o turismo é um instrumento importante .realizar a valoração de uso para os ambientes
.criar um projeto da salvaguarda do patrimônio desde que utilizado internos à edificação e para seu entorno capaz de gerar um uso com consciência mas que também existe a .criar um projeto capaz de corroborar com um sustentável e compatível possibilidade de usos complementares para a plano maior de planejamento público de turismo edificação
.entender que a fortaleza e a ilha são parte da vida e cotidiano de uma população .atender à demanda da .compreender e aplicas as demandas locais pois o população local uso contínuo colaboara também com a preservação do patrimônio
das fortalezas do litoral paranaense
.possível construção de uma capela (demolida nos anos 90), um centro cultural com biblioteca equipada, além do centro de visitantes que pode gerar renda para os locais
.o projeto da fortaleza faz parte de um grande e complexo sistema que envolve comunidades, .síntese turismo e patrimônio mundial. a ilha e a fortaleza coexistem e sobreviveram a um crescimento desenfreado da regiao onde se inserem.
istimo ilha do mel | a autora
referencial teórico
.metodologia A metodologia aplicada no desenvolvimento deste termo de referência foi a revisão bibliográfica de autores brasileiros e estrangeiros da área do restauro e paisagem cultural para auxiliar na compreensão da relação destes campos da arquitetura quando relacionados a um projeto do “novo”, e foram realizadas consultas aos arquivos e documentos da 10º superintendência do patrimônio. O Iphan (instituto do Patrimônio histórico e artístico Nacional), proprietário do bem desde 1982, gentilmente cedeu suas recentes pesquisas para a elaboração de um plano de conservação da Fortaleza que auxiliou na estruturação deste trabalho, seja no entendimento da componente social como da edificação em si. Visitas ao sitio também foram realizadas para a efetiva percepção do espaço, inclusive em uma destas, acompanhada pela técnica do Iphan e do funcionário responsável pela manutenção do bem na Ilha do Mel, foi possível ter uma percepção mais técnica das problemáticas enfrentadas pelo bem, principalmente no quesito de gestão e manutenção do espaço a longo prazo. No quesito da metodologia projetual de abordagem, busca-se conhecer a obra na sua integralidade, desde os quesitos históricos e sociais que a englobam, como também na análise de suas estruturas físicas e materiais, de modo a elaborar um projeto final crítico tanto na abordagem da preexistência como na concepção do novo que a integra.
fortaleza nossa senhora dos prazeres | a autora
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.breve discussão das teorias aplicadas em projeto
Restauro é arquitetura. A sua principal diferença das abordagens tradicionais das outras disciplinas é que tem como objetos principais a história e a cultura transpostos na preexistência. Esta forte conexão com a historiografia é a essência de qualquer projeto de restauro, já que o patrimônio trata-se de um testemunho do passado. A abordagem sobre o elemento construído é uma questão já discutida a muito tempo seja no âmbito prático como teórico da arquitetura e restauro. Durante este projeto será escolhida a metodologia crítico-conservativa e criativa que se caracteriza, em linhas gerais, por não desassociar a historiografia da estética. Esta escolha foi feita com base na leitura dos textos de Cesare Brandi e das professoras Beatriz Mugayar Kühl e Maria Piera Sette que fazem uma análise comparativa das três principais vertentes discutidas no restauro atualmente: crítico-conservativa criativa, conservação integral e manutenção-repristinação. Entender o elemento arquitetônico como um documento e, com isso, colocar-se de maneira consciente frente à edificação para compreende-la na sua integridade é o juízo crítico no qual Brandi embasa sua tese. Diferentemente de uma opinião pessoal ou então de uma suposição de que se conheça a história por completo, de maneira infalível, o juízo crítico permite entender a obra sem congela-la ou contar falsos históricos. Brandi evidencia a Instancia histórica compreendendo os dois momentos da obra: o do ato criativo, e o do passado, caracterizado por uma soma de presentes históricos, que deixa a pátina do tempo como resquício. Segundo ele podemos intervir somente no presente histórico que reconhecemos o bem como obra de arte. Restauro é, portanto, historiografia em ato. Para Brandi, restaura-se a matéria, ou seja, o testemunho arquitetônico é efetivamente transmitido ao futuro através da preservação da edificação em si. Giovanni Carbonara¹ levanta questões essenciais de léxico, princípios e método, diretamente aplicáveis à disciplina, princípios estes de unidade, distinguibilidade e potencial reversibilidade. A unidade é entender o léxico da obra e fazê-la transmitir, mesmo que com lacunas ou adições contemporâneas sua principal característica. A distinguibilidade, seja ela material ou formal, visa a rápida percepção da estratificação do tempo. A reversibilidade por sua vez, na arquitetura dificilmente é garantida na integralidade devido à natureza das intervenções, porém cabe ao projetista entender os limites que pode ou não atingir e potencializar uma possível remoção de sua intervenção caso no futuro se entenda como necessário. Carbonara levanta a questão do “porque”, “como” e “o que” se restaura.² No decorrer destes questionamentos
aborda constantemente a temática do ato crítico que se aproxima do ato criativo: “il restauro diventa atto interamente critico nel suo farsi atto creativo e vice-versa, in uma assoluta e inscindibile conpenetrazione”³ (CARBONARA, 1976. apud SETTE, 1996), ou seja, ambas as abordagem são indissociáveis e devem ser compreendidas na sua totalidade. Além da abordagem projetual no que diz respeito à materialidade, ou seja, ao monumento em si, visa-se com esse projeto trazer como instrumento de manutenção e conservação o uso. Já muito discutido pelas diversas teorias aplicadas na disciplina de restauro, o uso prova-se como uma das mais eficazes estratégias de transmissão de um determinado testemunho às gerações posteriores. A principal questão no debate sobre a refuncionalização de um edifício histórico é o qual uso seria legítimo de ser inserido em determinado contexto.
.o uso e o novo A manutenção da funcionalidade na arquitetura é vital para a conservação do patrimônio, mas não é, em nenhuma circunstância, sua finalidade. Trata-se, portanto, de uma das inúmeras decisões projetuais tomadas no decorrer do percurso de construção teórica do tema. Segundo a professora Kühl, a preservação de determinado bem não é e não deve ser desvinculada da realidade em que se insere, mas o fator utilitário não pode ser o determinante nas decisões projetuais.4 A Fortaleza da Ilha do Mel se insere em um contexto relativamente delicado: isolada na entrada da baía, distante de uma hora de caminhada do maior povoado mais próximo da Ilha e do trapiche de desembarque, sendo as comunidades efetivamente próximas muito pequenos e compostos majoritariamente por casas de veraneio que permanecem vazias boa parte do ano. A fortaleza hospeda atualmente uma pequena biblioteca para a comunidade com livros próprios (do IPHAN) e outros cedidos de bibliotecas públicas, além do museu da fortificação com fotos históricas tanto da edificação como dos trabalhos arqueológicos realizados no seu interior. Apesar da constante frequência de visitantes e transeuntes (a população a utiliza como passagem quando a maré sobe), a Fortaleza apresenta dificuldades em se manter no decorrer do tempo.
referencial teórico
A inconstância é uma das grandes fragilidades enfrentadas pela edificação, dificultando a efetiva apropriação da história e cultura tanto por aqueles que a visitam, como os que a vivenciam no seu cotidiano. A inserção de um uso compatível na edificação pode sugerir anexos ou novos elementos, mas a questão que se levanta é até que ponto um uso atribuído no presente é legítimo o suficiente para alterar determinado contexto? A professora Beatriz Kühl afirma que, em muitos casos, anexos não são necessários e que a edificação pode comportar os novos usos nela inseridos. Quando se coloca a problemática da utilidade e manutenção frente à inserção do novo, as estratégias de preservação são legítimas o suficiente para assumirem corpo em novas arquiteturas. A partir deste momento, segundo Brandi, não é mais um problema de restauro, mas de criação. Segundo Carbonara, porém, os campos são divididos por uma linha muito tênue, onde um condiciona o outro e ambos se complementam. Para ele, a nova inserção é mais que simples gramática, mas sim uma questão de semântica5, ou seja, mais que regras gerais a serem seguidas, uma nova arquitetura em um contexto histórico assume a responsabilidade de ressignificação do espaço ao longo tempo.6 “Em casos em que é legitimo e necessário intervir tratando lacunas ou inserindo novos elementos, qualquer que seja sua postura adotada mediante a análise fundamentada da realidade existente, a intervenção será, de fato, algo além da conservação, em que a arquitetura contemporânea, consonante ou dissonante, com legítima pretensão a obra de arte, pode e deve manifestar-se” (KÜHL, 2008)
Para ela toda inserção que se coloca justaposta à uma edificação histórica, independente da postura arquitetônica escolhida como partido projetual, deve sempre respeitar e valorizar a preexistência. guarita da fortaleza | a autora
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.um olhar sobre a paisagem A paisagem é um conceito abordado em diferentes disciplinas que conceituam-na de maneira diversa com base em apropriações específicas. Essa subjetividade é uma das problemáticas enfrentadas por aqueles que tentam definir o que é efetivamente a paisagem. Este capítulo não terá a pretensão de buscar uma definição ou entender e definir cada uma das possíveis abordagens que temos atualmente para este conceito. Tentarei, porém relaciona-lo ao tema específico da Fortaleza da Ilha do Mel que tem intrínseca a si o meio que ocupa e a população que a construiu ao longo do tempo como elemento significativo. Para esta abordagem buscou-se, portanto, entender o conceito da paisagem cultural, eixo de estudo recente que relaciona o natural e as modificações antrópicas sofridas no meio. Segundo o geógrafo Rafael Winter Ribeiro7 a paisagem cultural trata-se de um convívio singular entre a natureza, espaços construídos e ocupados, os modos de produção e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar entre si, capaz de estabelecer uma identidade que não possa ser conferida por qualquer um deles isoladamente (RIBEIRO, 2007). Apesar dos tratados europeus definirem o conceito de paisagem cultural, não existe em seus textos uma definição exata do que se entende por paisagem propriamente dita. No senso semiótico, ou seja, onde todos os fenômenos culturais são sistemas de significação, toda a paisagem é signo, independentemente de ter sido ocupada ou não. Então a paisagem se faz cultura no momento em que é atribuída de significados (SOCCO, 2000).
O posicionamento de quem lê a paisagem deve orientar a um entendimento específico, já que as metodologias de abordagem são muito distintas entre si. Segundo Ribeiro existem duas abordagens possíveis: a que parte da geografia e a que utiliza os aspectos simbólicos da paisagem. A primeira abordagem estuda todos os aspectos visíveis e tangíveis da paisagem, desconsiderando os aspectos não materiais da construção humana. Um dos estudiosos deste meio, Carl Sauer, responsável por colocar a paisagem como subcampo científico na disciplina da geografia, usa um método empirista e busca criar generalizações para entender como o homem altera o aspecto de onde vive. A área natural torna-se então o meio, a cultura é o agente e a paisagem cultural é o resultado desta relação (SAUER, 1996. Apud. RIBEIRO, 2007) Entende-se nesta abordagem a existência das dimensões estéticas e subjetivas, mas elas não são levadas em conta para a compreensão do todo. A segunda abordagem leva em consideração exatamente o que foi excluído da análise da primeira: o caráter simbólico e subjetivo do meio. A simbologia da paisagem, por sua vez, permite diferentes leituras do todo. Sua in-
terpretação jamais será inocente, são políticas no sentido mais amplo do termo. (DUNCAN, 1990 apud RIBEIRO, 2007). A paisagem é introjetada no sistema de valores humanos, definindo relacionamentos complexos entre as atitudes e a percepção sobre o ambiente. Nessa visão, a estética da paisagem é uma criação simbólica, desenhada com cuidado, onde as formas refletem um conjunto de atitudes humanas. Essas impressões deixadas pelo homem revelam o pensamento de um povo sobre o mundo a sua volta (English; Mayfield, 1972:07 apud RIBEIRO, 2007). Nesta concepção humanista existe apenas um consenso: não há só um caminho a ser seguido e, apesar das inúmeras abordagens do tema, um denominador comum foi o entendimento da paisagem como um documento a ser lido, resultante de um patamar moral, intelectual e estético alcançado pelo homem num dado momento do processo civilizatório (English; Mayfield, 1972:07, apud Ribeiro, 2007).
A multiplicidade de valores atribuídos e a constante mudança de entendimento do seu significado traz a problemática da provisoriedade da nossa cultura que muda constantemente através das ações dos indivíduos. O professor Carlo Socco levanta esta questão em um seminário que ocorreu em Torino (1998), perguntando o que os arquitetos que se ocupam da paisagem estão fazendo para lidar com o problema da contínua mudança e da compreensão do que é efetivamente o seu conceito. A dualidade e subjetividade de valores é uma questão sempre presente na abordagem de bens que definem a história de uma parcela da população humana. A contraposição entre conservação e inovação evoca questões que o patrimônio cultural também enfrenta: a legitimidade de agir sobre um determinado bem, destruindo ou preservando resquícios e testemunhos de uma cultura ou meio para futuras mudanças da ciência.8 O papel do arquiteto, segundo Socco, frente à constante metamorfose do ambiente é deixar aberta a polissemia da paisagem cultural, evitando contar a mesma história que outros lugares e evidenciando a identidade local que construiu aquela percepção específica. As duas diferentes abordagens não devem ser negligenciadas para entender a relação da paisagem com a preservação do patrimônio. Segundo Ribeiro, se é verdade que a atribuição de valor de patrimônio é feita a partir do reconhecimento dos valores simbólicos existentes, é verdade também que estes valores são intrínsecos ao meio, sua organização e manifestação física (Ribeiro, 2007). A polissemia é, então, essa multiplicidade de significados que o meio assume para o indivíduo e é este o conceito a ser explorado em um contexto tão característico como aquele da Fortaleza da Ilha do mel. A relação com a natureza que a cerca em um vínculo quase simbiótico de mutualismo entre as partes e, vínculo este que também pode ser observado na singular relação da população da ilha com o edificado, se tornam os principais suportes para uma abordagem concisa de um projeto ali inserido.
referencial teórico
.delimitação da paisagem Grande Mar Redondo, assim era chamada a Baía de Paranaguá, cuja entrada é separada do oceano pela Ilha do Mel. A ilha possui uma área de 2.762 hectares, e é dividida por um estreito istmo, possuindo duas configurações extremamente diferentes entre si. Na porção norte, em uma grande planície coberta por restingas, mangues, riachos e lagoas, encontra-se o Morro da Baleia, único nesta porção da ilha, é composto por três elevações, passando a impressão de uma baleia que mergulha no oceano, daí o seu nome. No Norte estão localizadas ainda as comunidades da Fortaleza e da Ponta Oeste. No Sul, com terreno mais acidentado, encontram-se a maior parte das instalações turísticas, o farol das conchas construído em 1872 para orientar a navegação nas proximidades e as praias voltadas para o oceano. A ocupação do território remonta à pré-história testemunhado pelos inúmeros sambaquis dispostos na ilha. A flora, rica, é composta por vegetação de restinga, floresta latifoliada, palmáceas e manguezais. Sua fauna possui um alto valor científico e se localiza predominantemente entre a praia do farol e a fortaleza. ilha do mel| a autora
A correta denominação segundo Fonseca de Castro para a Fortaleza da Ilha do Mel é bateria. Fortaleza é uma edificação protegida de todos os lados e dispõe ainda de construções acessórias que auxiliam na defesa da muralha principal. A população de Paranaguá não fez, na verdade, nada muito diferente que muitos outros municípios brasileiros fizeram na época: a bateria, considerando os poucos recursos disponibilizados pela própria população, era a melhor escolha. A bateria é uma edificação feita para proteger ou atacar, sem muita complexidade construtiva, onde seriam instalados os canhões de artilharia apontados para diversas posições. Elas poderiam ser de sítio (construídas para atacar uma fortificação), de costa (posicionadas para defender o litoral), de campanha (quando construídas para proteger ou atacar temporariamente) ou de praça (quando compunham uma fortificação permanente). No quesito formal, elas poderiam ser canhoneiras, ou seja, com aberturas para abrir fogo na muralha ou, como é o caso da fortaleza da Ilha do Mel, a barbeta, com os canhões disparando por cima do muro. Se na primeira tipologia a fortificação protegia também o atirador, a segunda, apesar de mais exposta, permitia uma maior angulação de ataque. A questão da Fortaleza da Ilha do Mel é que ela nunca foi eficiente. Documentos de diferentes épocas a descrevem como “construída por alguém incapaz de fortificar”. Ela foi colocada no sopé do morro da baleia na ilha, o único relevo naquele lado da barra, por razões possivelmente construtivas: o material de sua construção foi retirado do próprio morro e ela foi quase que completamente embasada no afloramento rochoso que ocorre naquela região. Apesar disso ela respeita a lógica da época: a fortificação não necessariamente precisaria vencer batalhas para defender efetivamente o povoado ao qual era destinada, mas dissuadir possíveis ataques daqueles que não conheciam seu modo operacional e limitações.
.a fortaleza Apesar de portar consigo este nome, a edificação na Ilha do Mel não é tecnicamente uma fortaleza. Segundo o historiador Adler Homero Fonseca de Castro, pesquisador da história militar brasileira, a denominação de fortaleza é um superlativo do forte e regularmente representa uma grande obra militar. A aplicação dessa nomenclatura usualmente é subjetiva e não caracteriza efetivamente a edificação em si, mas o que ela representa para a sociedade que a construiu. Na época do Brasil colonial a coroa não dispôs de muito dinheiro para a área militar, ficando o financiamento a cargo dos municípios. O recurso escasso e a necessidade de fortalecer o sentimento de proteção da baía de Paranaguá de corsários e piratas fez necessária a construção de uma fortificação na entrada do porto.
“Nesse sentido, é importante lembrar que a principal função de uma fortificação não é ser capaz de derrotar um inimigo. Seu papel primordial é proteger algo, e se esse objetivo for alcançado por meio da intimidação de um ataque ela terá cumprido o seu dever.” (CASTRO, 2016)
O significado que uma fortificação adotava foi também o motivo de muitos dos tombamentos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional vnão alterarem o nome dessa tipologia de construção para sua correta nomenclatura militar: por entender como relevante a relação de um povoado com a arquitetura e considerar o entendimento local como parte do valor atribuído à mesma.
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.histórico da ocupação no litoral ilha do mel| acervo iphan sem data
“O conjunto de circunstância que definem o meio físico de um país exerce influência, por vezes decisiva, no seu destino”
Até os anos de 1600 a ocupação portuguesa no Brasil não ia muito além de Paranaguá na direção sul e construções fortificadas não existiam pelo pouco valor agregado às terras brasileiras, que na época passavam por um processo de reconhecimento. Segundo Romário Martins em seu livro sobre a história do Paraná, a linha de Tordesilhas, que delimitava os domínios portugueses e espanhóis era imprecisa e sempre se supunha sua posição. Segundo os portugueses a linha passava por Paranaguá e logo após afundava no oceano, fazendo com que o litoral paulista e paranaense pertencesse à coroa portuguesa e as terras continentais fossem espanholas. Para os espanhóis, por outro lado, o limite português era na região de Cananéia, fazendo com que tudo que estivesse ao sul pertencesse à Castela. Na prática, porém, a teoria foi outra. Os portugueses dividiram os lotes (capitanias) até a região de Laguna em Santa Catarina, ignorando por completo os acordos com os espanhóis.
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Localização e quantidade aproximadas de Fortes no Brasil em 1829. O levantamento foi feito por Rego Monteiro e não corresponde fielmente à realidade da época, já que alguns não foram listados e outros, mapeados, estavam inativos naquele ano (FONSCECA de CASTRO, 2009)
A fortaleza da Ilha do Mel se insere em um contexto mais geral e complexo de domínio do litoral brasileiro. Após este primeiro momento de reconhecimento das terras, com o ataque holandês no litoral pernambucano e já sob domínio espanhol (1580-1640), a coroa tomou conhecimento da fragilidade da colônia. Foi sob o domínio da Espanha que os primeiros sistemas de defesa começaram a ser instalados no Brasil, portanto muitas das primeiras fortalezas e fortes são arquiteturas características espanholas, ou italianas, já que estes últimos eram considerados mestres das técnicas de fortificar. A partir do fim do século XVII até quase o fim do século XVIII iniciou-se um processo de ocupação e defesa da nossa outra fronteira, na Bacia Amazônica, contra os ataques de franceses, ingleses e holandeses que ali queriam se instalar. Já em um último momento, após o fim do domínio de Castela sobre Portugal e sob risco de ocupação do território ao sul de Cananéia , a coroa portuguesa percebeu o quão frágil era sua ocupação no litoral sul brasileiro e o quão vulnerável estava a ataques de navios espanhóis. Iniciou, portanto, um processo de ocupação e militarização principalmente no que hoje se tornou o estado de Santa Catarina, inserindo três fortificações (Santa Cruz de Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Fortaleza dos Ratones) que deveriam trabalhar em conjunto. O sistema, porém, não funcionou, sofrendo com inúmeros saques e ataques, permitindo a ocupação da ilha de Santa Catarina (Florianópolis) em 1777.
referencial teórico
No Paraná, por sua vez, após uma orientação do marquês de Pombal que, impressionado com a quantidade de tentativas de ataques à baía e pela solicitação dos próprios habitantes do povoado, ordenou ao então governador da capitania, Luis Antonio de Souza Botelho Mourão, que executasse um sistema fortificado na baía de Paranaguá. A direção foi repassada ao seu irmão, o tenente coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza, que ficou como responsável pela construção. Sem muitos despendimentos de capital da Real Fazenda, em 1765 a cora emitiu um requerimento de uma fortaleza de cinco baluartes localizada na Ilha da Baleia (como era chamada a Ilha do Mel) Apesar de a população ver a necessidade da edificação e a ter solicitado, a vila não tinha recursos para custear o empreendimento. Durante o ano de 1766 existem documentos que comprovam a forte recusa por parte do povo que, apesar de numeroso, não conseguiria ajudar sendo “tudo gente do pé descalço”.
1769
“Na vereança convocada deliberou “atendendo ao miserável estado da terra, a seus moradores lhes não convinha contribuir com cousa alguma para a mesma obra, pois que por limitada que fosse (a contribuição) a julgavam violenta”” A vontade de povoar o sul era tanta que a coroa reforçou o pedido e ainda demandou que uma nova vila fosse instalada em Guaratuba. Após uma contribuição do general da capitania, as obras foram iniciadas em 1767 com indicações da câmara sobre o local de inserção. Segundo documentações da época , na praia em frente à fortaleza foi encontrado um marco de pedra que delimitava as capitânias de São Vicente e Santo Amaro.
~1905
na mesma época foi construída a bateria do topo do morro
ocupação do litoral 1653| Arquivo Ultramarino Português
~1985
2019
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Em 1769 os canhões dispararam pela primeira vez em conjunto para saudar o término da construção e, apesar de não ter contribuído, até hoje a fortaleza carrega a assinatura da coroa como responsável pela execução da fortificação.
relatório fortaleza | acervo iphan
O período que se seguiu à construção da fortaleza foi pacífico, sem nenhuma tentativa documentada de ataques ou saques na baía, situação que atesta ao cumprimento da função psicológica exercida pelo forte Mas no quesito militar, no fim desse século, ele já era considerado inútil.
Em 1819/20 a edificação sofreu grandes reparos por encontrar-se quase em ruínas, porém a tipologia destas mudanças não foi levantada. Os primeiros casos relatados ocorreram em 1825, quando um corsário tomou dois navios parnaguaras e em 1839, durante a campanha dos farrapos, quando um navio entrou na baía e a fortaleza teve de pedir socorro à vila. A criminalização do tráfico negreiro no Brasil9 instituiu uma política de guarda da Inglaterra nas nossas costas, que detinham o direito de inspecionar e apreender navios negreiros. Em 1850, voltando de uma viagem ao Chile, um navio entrou na baía pedindo socorro após dias de perseguição em alto mar. Não se sabe ao certo se era um navio negreiro, mas o Cruzador Cormorant que o seguia apreendeu todos os barcos ancorados no porto. A população, que já conhecia um pouco das técnicas militares, se dirigiu a fortaleza e saudou os canhões a mando do capitão. O cruzador afundou na costa de Santa Catarina e foi saqueado. Após este “incidente” a Inglaterra acusou o Brasil por ataque e o capitão foi obrigado a se retratar e culpabilizar o povo pelo ocorrido para não gerar despesas ou desgastes entre Brasil e Inglaterra. Apesar de pouco ter sofrido com esse ataque, existem registros de reparos como trocas de piso e esquadrias, além de um possível remanejamento da capela (posição ou interno?)
farolete | acervo iphan
Entre 1861 e 1863, durante o período chamado de Questão Christie10 muitas fortificações litorâneas foram reformadas e reequipadas, já a da Ilha do Mel, apesar de ser considerada estratégica, não recebeu nenhum investimento. Novos armamentos só chegaram após o fim da Guerra do Paraguai. 1846 – Instalação de um pequeno farolete SEC XIX
1872 - Construção do farol das conchas 1893-1894- durante a revolta federalista a fortaleza rendeu-se ao ataque das forças rebeldes da marinha que chegaram no Cruzador República Em 1895 a fortaleza foi reforçada com canhões mais modernos e um novo quartel foi construído já que o antigo teria se transformado em refeitório e cozinha. (?)
composição fortaleza | sem data acervo iphan
1905 – Durante a gestão do ministro Hermes da Fonseca sentiu-se a necessidade de aprimorar a defesa em todo o litoral brasileiro. Na baía de Paranaguá não foi diferente. Foi então construída a bateria no topo do morro da Baleia, com maior campo visual. A posição, segundo registros, não era a ideal, mas naquele loca poderiam ter de suporte a edificação colonial na base. A tipologia era genérica, aplicada ao longo de todo o litoral. Existem indícios de mudanças nas edificações antigas para abrigar os construtores.
munição dos canhões 1963| acervo iphan
Entre 1908 e 1922 a fortaleza ficou sob comando de baterias isoladas e provavelmente edificações para o programa de necessidades da tropa nunca foram efetivamente finalizadas. E no meio deste período (1915?) a capela foi demolida devido às precárias condições que se encontrava. Durante a Segunda Guerra Mundial, a fortaleza ficou constantemente guarnecida e foi construído um galpão para abrigar os militares. 1934 – Inauguradas as docas do Porto de D. Pedro II de Paranaguá. Em 1938 ocorreu o Tombamento federal. Em 1954 ela foi oficialmente desmilitarizada Em 1967 o pavilhão da segunda Guerra foi demolido após entrar em ruínas. 1972- Tombamento estadual sob orientação do Sphan para proteger o patrimônio arqueológico e evitar especulações imobiliárias Na década de 80 a fortaleza foi cedida ao instituto pró-memória e foi sugerido o uso científico no interior da fortificação a exemplo das vizinhas catarinenses. 1982 foi criada a estação ecológica da Ilha do Mel
SEC XX e XXI
Entre 1985 e 1995 a fortaleza passou por três obras de restauro e manutenção. A de 1987 foi interrompida devido à extinção de recursos da lei de incentivo federal.
Desde então a fortaleza passou por diversos processos de manutenção e conservação muito espaçados entre si. Em 2008 inclusive foi realizado um projeto para o novo espaço religioso, mas este nunca saiu do papel. Atualmente, no Iphan, está sendo desenvolvido um plano de conservação com incentivo da Unesco, voltado à compreensão dos aspectos sociais, construtivos e históricos da Fortaleza e da Ilha como um todo.
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bateria do topo| acervo iphan
interior fortaleza | acervo iphan
interior fortaleza | acervo iphan
interior fortaleza | acervo iphan
estudo de caso
Restauro da fortaleza de são josé de ponta grossa Florianópolis, Brasil Iphan 1992
Parte do projeto “Fortalezas da Ilha de Santa Catarina – 250 anos na história Brasileira”, o restauro foi uma iniciativa em conjunto do Iphan e da Universidade Federal de Santa Catarina. A Fortaleza possui a forma de um polígono irregular com seus edifícios distribuídos ao longo dos terraplenos. Nos trabalhos de restauro alguns elementos foram reconstituídos, com materiais distinguíveis dos originais para promover uma correta interpretação do espaço. A casa do comandante hoje abriga uma exposição permanente e o paiol de pólvora recebe a exposição sobre a história dos trabalhos nas fortalezas de Santa Catarina. O único edifício do complexo que continua exercendo sua função original é a capela. Muito utilizada pela população, foi uma demanda local na época do projeto mantê-la em pleno funcionamento. Os completamentos realizados neste projeto são claramente distinguíveis, porém sua reversibilidade é parcial. O léxico da fortaleza foi claramente mantido e o processo de manutenção, de acordo com o site da Universidade, é constante. O trio de Fortalezas cedidas à UFSC exercem um papel educacional à comunidade, abrigando salas de aula, atividades educativas e projetos de extensão da própria universidade.
fortaleza ponta grossa | acervo ufsc
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Restauro da Fortaleza de Santa Catarina
Figueira da Foz, Portugal Ricardo Vieira de Melo 621 m² 2016
A obra de restauro do forte, localizado na foz do rio Mondego que remonta ao século XVI, visou qualificar todo o interior, desde a praça das armas, a capela e as salas dos baluartes. O grau de intervenção foi distinto no exterior e no interior: sendo predominantemente restauro no primeiro e requalificação no último. O programa também se subdivide em espaços expositivos na capela e no pátio e, o interior dos baluartes comporta usos como restaurante e bar, além das instalações sanitárias. A intervenção, visando o mínimo impacto, se caracterizou em estruturas independentes no interior dos baluartes para que prevalecesse a leitura espacial do forte. A questão da acessibilidade também foi trabalhada de maneira delicada e de pouco impacto. A questão do uso inserido na fortificação, apesar de auxiliar na manutenção a longo prazo do monumento, aparentemente não é condizente com a estrutura em si, já que as casamatas normalmente eram utilizadas para prisões ou quartos, sendo a infraestrutura de copa e cozinha locadas em outras construções. Por ser um forte de menor, supõe-se que estas infraestruturas estavam conjugadas e inseridas juntas nos baluartes.
fortaleza santa catarina | acervo RVM
estudo de caso
Restauro da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande Rio de janeiro, Brasil Antônio Luis Dias de Andrade e Victor Mori (Iphan) 28000 m² (complexo) | 5500 m² (edificado) 2000
A fortaleza, também chamada de forte da barra grande no município de Guarujá, foi construída em 1583 no período em que Portugal estava sob domínio da Espanha. O restauro vislumbrado pelo arquiteto Lucio Costa compreendeu a adição de uma estrutura metálica leve que toca apenas as extremidades da ruína do pavilhão central, cobrindo um vão de 40 metros. Segundo o arquiteto Victor Mori, um dos responsáveis pelo projeto “O desenho espacial concebido em aço Cos-Ar-Cor, revela a obediência aos termos da Carta de Veneza (1964), quando prescreve: 'todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas, destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo’”. Sem mais vocação para combate e há muito tempo desmilitarizada, o projeto buscou um novo uso que a fizesse sobreviver pelos próximos 500 anos: sob apadrinhamento da Universidade Católica de Santos, a fortaleza se tornou um espaço cultural, com um programa que abrange: 2 salões, 2 plataformas ao ar livre, 6 salas e espaços multiusos (incluso um mezanino), cafeteria e loja. A quatro minutos de distância da costa da cidade, conta com um atracadouro construído por ordem do Rei de Portugal e reconstruído em 1997 pela universidade. Desde antes do projeto de restauro, a edificação passou por um processo de apropriação cultural pela comunidade que a cercava. fortaleza santo amaro | acervo iphan
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Plano de conservação da Fortaleza de São José de Macapá Amapá, Brasil Iphan 2016
Este estudo de caso visa compreender, em tempos recentes, os problemas enfrentados na manutenção de bens como a Fortaleza da Ilha do Mel. Trata-se de uma das fortificações construídas para proteger as minas na bacia amazônica. Ao longo do tempo, desde seu tombamento, a edificação passou por uma série de adequações e restauros, sendo majoritariamente usada como museu. É comum também abrigar eventos na sua praça das armas, devido à escala da fortificação. Além da questão do uso, tentou-se sempre resolver a problemática da umidade e insalubridade das casamatas nos baluartes, com poucos sucessos. Atualmente está em vigor o plano de conservação e manutenção realizado no de 2016 para monitoramento e preservação da edificação. Este documento caracteriza as urgências e tipologias de ações, além de prever o acompanhamento de uma última intervenção de impermeabilização (que aparentemente teve sucesso) e recomendações e concessões de uso para seus espaços, de modo a auxiliar na reconexão com a comunidade entorno. Um outro documento disponibilizado pela superintendência apresenta orientações quanto ao uso, principalmente para eventos efêmeros, tal como shows ou luaus, de forma a não prejudicar sua interpretação espacial.
.Conclusão Estudos de Caso Os estudos de caso apresentados não visam simplesmente entender inserções arquitetônicas ou completamentos de lacunas temporais. Visam, principalmente, entender que a maior problemática enfrentada por um bem como a Fortaleza da Ilha do Mel devido à localização, falta de uso adequado e insalubridade de suas estruturas internas não são isolados. Os exemplos brasileiros levantam constantemente a conexão com a comunidade local como maior instrumento de revitalização de uma edificação como esta. Já o exemplo português demostra a possibilidade de utilização de materiais contemporâneos para potencializar o uso da fortaleza. fortaleza S Jose Macapa | acervo iphan
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legislações incidentes
.gestão da Ilha do Mel e da Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres A Ilha é um reduto da mata atlântica e é reconhecida como patrimônio natural e cultural em várias instâncias do governo mudando a tipologia e abrangência da proteção de acordo com o objeto. A primeira proteção atribuída foi à Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres em 1938 pelo então Sphan (Serviço Do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Nos primeiros anos de atividade e logo após a criação do decreto-lei nº25 de 1937 que institucionalizou o instrumento do tombamento, o Sphan iniciou um processo (chamado também de fase heroica) de tombamento com o objetivo de proteger o patrimônio cultural brasileiro. A inclusão da Fortaleza da Ilha nesta primeira fase deixa claro a importância atribuída a ela no processo de construção do território brasileiro. Ela foi inscrita simultaneamente no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo de Belas Artes. Em 1972 o Departamento histórico e artístico do Paraná, sob orientação do próprio Sphan, tombou a Ilha do Mel como um todo (Livro do tombo histórico), devido à importância para a conformação atual da ocupação no litoral do estado e para evitar possíveis especulações imobiliárias. Foi a primeira vez que a paisagem, as tradições e a biota da ilha foram protegidas. Em 1980 a Fortaleza, o morro da baleia e a bateria foram cedidas ao instituto Pró-memória (Iphan) e em 1982 a Ilha foi cedida ao Estado do Paraná (com exceção das áreas federais). A Estação ecológica da Ilha do Mel foi criada em1982. Ela prioriza a preservação da biota e ecossistema, assim como a pesquisa científica. O acesso é extremamente restrito e somente permitido com autorizações emitidas pelo IAP. Ocupando a maior parte do território da ilha, 2.240,69 hectares, é limitada a oeste
pela comunidade da Ponta Oeste e ao leste pelo Morro da Baleia e Fortaleza. Ao Sul estende-se até a área antropizada de Nova Brasília. Em 1999 foi reconhecida pela UNESCO, junto à outras 25 reservas, como patrimônio mundial da humanidade devido aos 470 mil hectares de Mata Atlântica preservados. Em 2002 a outra proteção ambiental que incide sobre a ilha, o Parque Estadual, foi oficializada. Com área de 337,84 hectares, tem como objetivo ampliar a área de proteção ambiental e histórica para a parte sul da ilha, englobando mananciais e sítios arqueológicos. A Ilha do Mel pertence ainda ao corredor ecológico da Mata Atlântica, é parte do mosaico das Unidades de Conservação do Litoral (LAGAMAR), composto de 52 unidades de conservação (2006) e é considerada reserva da biosfera mundial. Além dessas proteções, construções novas devem respeitar os parâmetros de uso, ocupação e construção previstos pela lei estadual nº16.037, também previstos pela lei de zoneamento municipal de Paranaguá, sendo parte da zona de uso sustentável (ZUZ). Ela discorre sobre a altura, ocupação e metodologia construtiva que devem ser contempladas em quaisquer novas edificações, abrangendo desde as posses da União como de particulares. Apesar de todas essas legislações, a ilha passa por um sério problema de regularização fundiária com tentativas de solução desde 1985 pelo Instituto de Terras e Cartografia (ITC). Junto à universidade do Estado iniciou-se um processo de melhoria de qualidade de vida para as populações locais (pesquisa, saúde, energia elétrica, saneamento, etc) e em 1987 criou-se uma comissão executiva para assuntos da Ilha que deliberaram sobre uma possível regularização que nunca foi efetivada. Atualmente existe um conselho gestor com representantes da comunidade e do poder público, cujo coordenador executivo é o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). administrativo ilha | a autora
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.legislação incidente .decreto lei nº25 tombamento federal 1938
.decreto 5454 1982 UC estação ecológica reserva da biosfera
.lei 1211/53 tombamento estadual 1972
.decreto 5506 2002 parque estadual
.escala
.federal
.objeto
.aspectos de lei
.fortaleza
.incidencia sobre bens inscritos isolada ou separadamente em um dos livros do tombo, no caso da fortaleza, dois: Livro do Tombo Histórico (vol 01 – inscrição n52, fls 10, 24/05/1938) e Livro do Tobo de Belas Artes (vol 01 – inscrição n 92, fls 17, 24/05/1938) - processo 101 – T38 .art 17 as coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Sphan (hoje Iphan), ser reparadas, pintadas ou restauradas [...]. .art 18 sem prévia autorização do Sphan, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade nem nela colocar anuncios [...].
.federal
.estadual
.norte da ilha
.ilha do mel
.2191,7 hectares, cuja área intangível compreende 75,6%, conta com 0,9% de área histórico-cultural (sambaquis) e margeia a fortaleza da Ilha do Mel e o Morro da Baleia .objetivo específico .preservação da natureza e realização de pesquisas científicas .proteger os recursos e ecossistemas da estação e ao mesmo tempo possibilitar e incentivar atividades de pesquisa que subsidiem o manejo e forneçam informação para o monitoramento ambiental, assim como atividades educativas
.incidencia sobre bens inscritos isolada ou separadamente em um dos livros do tombo, no caso da ilha do mel: Livro do Tombo Histórico (01/03/1972) Processo n39/711 .art 17 as coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização ser reparadas, pintadas ou restauradas [...]. .art 18 sem prévia autorização do Sphan, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade nem nela colocar anuncios [...].
.compreende 337 hectares da parte sul da ilha que sofre mais com a atividade humana .estadual
.sul da ilha
.objetivo específico .preservação e reconstituição de seus ambientes naturais de praia, costões rochosos, importantes remanescentes de floresta ombrófila densa submontanhosa e das terras baixas associadas à floresta da restinga .permite visitação pública, educação ambiental, lazer de forma consciente e ordenada, pesquisa científica
.acessibilidade .NBR 9050 2015
.federal
.construido
.8.1.1 Todos os projetos de adaptação para acessibilidade de bens tombados devem obedecer às condições descritas nesta Norma, porém atendendo aos critérios específicos a serem aprovados pelos órgãos do patrimônio histórico e cultural competentes. 8.1.2 Nos casos de áreas ou elementos onde não seja possível promover a adaptação do imóvel para tornálo acessível ou visitável, deve-se garantir o acesso por meio de informação visual, auditiva ou tátil das áreas ou dos elementos cuja adaptação seja impraticável. 8.1.3 No caso de sítios considerados inacessíveis ou com visitação restrita, devem ser oferecidos mapas, maquetes, peças de acervo originais ou suas cópias, sempre proporcionando a possibilidade de serem tocados para compreensão tátil.
.parâmetros de uso e ocupação
.lei do zoneamento
.cartas patrimoniais
.estadual
.escala
.ilha do mel
.teor
.usos permitidos (em zonas já antropizadas): habitação unifamiliar, comercio e serviço vicinal ou de bairro, comunitário, institucional e industria caseira; (mediante aprovação e conforme plano de manejo): recuperação de áreas degradas, pesquisa científica, atividades de educação ambiental ou ecoturismo | usos permissíveis (plano de manejo) usos que permitam manejo moderado e auto sustentável da biota, pousadas, campings, clubes e serviços ligados ao turismo e lazer .parâmetros construtivos na ilha: 50% de ocupação, altura máxima 5,9m a partir de 50 cm do solo, ocupação de 60% do segundo pavimento .as construções: não podem ter somente laje de cobertura, devem utilizar materiais naturais, alvenaria somente em áreas úmidas (30m²)
.considerações específicas
.apesar de não possuírem aspectos de lei, as cartas patrimôniais das quais o Brasil é signatário são diretrizes para a abordagem projetual do patrimônio cultural
.carta de Veneza 1964 Icomos
.mundial .preservação
.normas de Quito 1967 OEA
.continental
.economia
.carta de turismo cultural 1976 Icomos
.mundial
.turismo
.carta de Burra 2013 Icomos
.mundial
.tecnica
.art 3. trata de princípios da conservação e restauração .art 7. indissociação do monumento e seu meio .art 14. os sitios monumentais devem ser objeto de cuidados especiais (saneamento e manutenção) .trata da problemática da preservação do patrimônio cultural na américa, principalmente na américa ibérica que, por enfrentar problemas socio-econômicos e exploração exaustiva dos recursos naturais tem mais dificuldade na manutenção de seus bens com solução conciliatória entre progresso e salvaguarda .entende a necessidade econômica para a preservação do patrimônio cultural e que o turismo pode ter efeitos extremamente negativos se não for bem gerido .estabelece diretrizes para os países signatários sobre o turismo cultural e natural .principios de conservação: gestão, respeito ao edificado, gerado e dissiminador do conhecimento, valoração do patrimõnio, processo de abordagem, uso (compatível), entorno, localização, conteúdo, bens materiais atribuídos e participação social .processo de conservação: manutenção, preservação, restauro e reconstrução, reestruturação, adaptação, novas adições (quando necessário e inseridas de forma respeitosa), novo uso, resignificação e interpretação
baía de paraaguá
APA guaraqueçaba
APA guaraqueçaba
<< porto principal rota navios
estação ecológica ilha do mel ilha da cotinga
paranaguá
90 min
in
30 m
30 m
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pontal do sul
Baía de Paranaguá e Ilha do Mel
parque estadual ilha do mel
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.preservação da paisagem cultural da ilha do mel Tanto a conservação do meio ambiente como a preservação do patrimônio histórico cultural brasileiro são temas referenciais para um projeto realizado na fortaleza da Ilha. Como já explicado acima, a paisagem do complexo hoje é entendida como um conjunto: o antrópico e o natural. Paisagens naturais, quando exploradas para atividades turísticas, normalmente sofrem o mínimo de intervenções (tais como trilhas e pequenas passarelas) e devem ser constantemente monitoradas para que esta atividade econômica não se torne predatória. Patrimônios culturais sofrem da mesma maneira, principalmente quando estão interligados a paisagens que extrapolam seus limites físicos, conectando-se ao entorno. No caso dos bens naturais, é sensível para a população (mesmo quando não respeitado) que estes cuidados são essenciais para a preservação da área, fator um tanto negligenciado no âmbito cultural. (KÜHL, 2008. Pag 123) Segundo a professora Kühl, o modo mais responsável de abordar esta tipologia de intervenção é articular a percepção da paisagem como um todo, seja antrópica ou natural: “Iniciativas em edifícios isolados, que são meritórias e necessárias, acabam por ter resultados limitados no ambiente que se inserem se não forem unidos a ações mais abrangentes, que levem em conta a questão cultural e social em sua complexidade”. Estes aspectos trabalham em conjunto na criação identitária de determinado lugar. O turismo pode ser um dos instrumentos de desenvolvimento destas tipologias de sítios desde que utilizado com cautela. Segundo um estudo da Organização Mundial do Turismo (OMT) realizado em 2018, 40% dos turistas mundiais identificam-se como viajantes culturais11. A demanda por experiências únicas e autenticas deve aumentar nos próximos anos principalmente pela vontade cada vez maior de conhecer e conviver com a cultura local. Se bem administrado, o turismo pode auxiliar no incremento da qualidade de vida da comunidade por ele afetada. “É necessário buscar o restabelecimento dos vínculos das comunidades com seus monumentos para que sejam entendidos como aquilo que deveriam ser (e o são do ponto de vista etimológico): elementos portantes de memória coletiva. Memória que deve ser percebida não como algo estático e alijado do presente e do quotidiano das pessoas, mas como elemento essencial de percepção da realidade e importante meio propulsor de modificações” 12
A Ilha do mel, em particular, vivencia um problema sério de desgaste sociocultural e ambiental acarretado pelo turismo em massa que, segundo pesquisas realizadas em 2008 e 201213 tem prejudicado o estilo de vida tradicional das comunidades, que hoje destinam a maioria de seus serviços para o setor, fazendo com que as atividades tradicionais de pesca e plantio diminuam ao longo do tempo. Ainda segundo estas pesquisas, o turismo na ilha,
por ser voltado às praias e atividades litorâneas, desconhece os objetivos das unidades de conservação e restringe o contato com as populações locais ao relacionamento de serviço e atendimento. O uso turístico não pode ser o objetivo final de nenhuma intervenção no patrimônio cultural, porém tem o potencial de criar infraestruturas colaborativas em comunidades menores que ao longo do tempo perderam seus principais meios econômicos de sustentação. O turismo comunitário, que reverte sua renda para o próprio sitio ao qual se insere, tem capacidade de se tornar um subsídio econômico para o bem e seu entorno. Além da infraestrutura básica que ele gera, sua receita pode ser revertida para a salvaguarda do próprio patrimônio. Para a OMT a boa gestão é imprescindível e deve englobar as diversas esferas interessadas para que não condicione danos, seja à comunidade, ao ambiente ou ao patrimônio em si. O crescimento econômico deve estar sempre aliado a melhoramentos reais que vão desde a geração de renda até o estabelecimento do turismo como um dos instrumentos de proteção e difusão do patrimônio cultural.
.600 visitantes diários no verão14 .5000 visitantes diários autorizados a entrar na Ilha .gastos per capita durante o período de estada, em média, de um turista é de R$800,00 .700 habitantes aproximadamente (2014), sendo que a comunidade de Fortaleza é a menor da ilha e é predominantemente composta por casas de veraneio de pessoas “de fora”, principalmente de Curitiba. .Acesso à ilha é feito por barco com taxa para entrada nas áreas de proteção ambiental e que saem periodicamente de Pontal do Sul (80%) e Paranaguá (20%). Apesar do controle de entrada, não existe um efetivo controle de saída e dos barcos particulares que chegam diretamente nas praias, acarretando em superlotação na alta temporada. .em 2017, a fortaleza recebeu 21.337 turistas, sendo o mês mais movimentado o de janeiro (3.298 pessoas) e o com menor fluxo julho (986 pessoas).
ilha do mel
.comunidade da fortaleza
.comunidade do farol e nova brasília
4,
8k
m
-2
h3
0
4km - 1h
.comunidade de encantadas
.página 25 .fernanda cé bogucheski
.a escala da ilha e sua população A ilha subdivide-se em 6 comunidades caiçaras15: Nova Brasília, do Farol, Praia Grande, Fortaleza, Ponta Oeste e Encantadas. As comunidades tradicionais estão hoje misturadas à empreendedores externos atraídos pelo setor do turismo. Nos últimos anos, o crescimento desse setor tem criado um processo de “aculturação globalizada”16, fazendo com que as atividades tradicionais ligadas à pesca (tainha) e a agricultura fiquem em segundo plano na economia local. Além do turismo, a ilha recebe também eventos culturais religiosos (como a festa de São Pedro e a Festa de Nossa Senhora de Fátima), esportivos (campeonatos de surf), festival de jazz, etc. Na comunidade de Brasília está o desembarque de passageiros e é onde se encontra o “trapiche”: estrutura simples que, porém, recebe uma grande quantidade de eventos e movimentações populares. A comunidade do Farol recebe os campeonatos de surf e possui a maior quantidade de infraestrutura turística, de posse majoritária de empreendedores externos possui também toda a infraestrutura pública da Ilha, com a administração local e postos de trabalho das instituições presentes na Ilha.
pesca da tainha| Leonardo Régnier
pesca da tainha| Leonardo Régnier
pesca da tainha| Leonardo Régnier
A comunidade de Fortaleza é a menor da Ilha, com pouca infraestrutura turística e alta concentração de casas de veraneio. A da Ponta Oeste, também na porção norte do território, foi a mais afetada pelos planos de manejo impostos ali: agora com 12 famílias tradicionais, sofreu com reduções de território, diminuição da qualidade e quantidade da pesca (devido à mudança da trajetória dos navios para o Porto de Paranaguá) e hoje encontra-se em situação precária. A comunidade de Encantadas é a que conta com a maior quantidade de nativos, porém apresenta sérios problemas de ocupação em áreas indevidas. Encontra-se ao Sul e também recebe passageiros e, por isso, conta com uma boa infraestrutura pública e turística.
Na Ilha do Mel, um dos maiores marcos de construção da identidade pode ser expresso pela categoria “nativo”. Nativo é aquele morador que nasceu na Ilha do Mel ou, mais recentemente, o filho de moradores da Ilha, nascido em hospitais da cidade de Paranaguá. A construção da identidade passa pela oposição ao outro, aquele que não é nascido na Ilha, que veio de fora. Assim, uma das categorias mais utilizadas para reconhecimento, afirmação ou pertencimento é a da identidade de nativo. Ela é usada especialmente para distinguir os moradores, entre os nativos e os “de fora”, pessoas que vieram do continente e compraram casas e terrenos na Ilha. Essa nomenclatura é utilizada, principalmente, quando se deseja fazer uma distinção entre os que estão há gerações morando na Ilha e os que compraram propriedades num período mais recente. São considerados “de fora” os donos das maiores pousadas e os turistas que possuem casas de veraneio na Ilha (MARTINS et al, 2012:42,)
pesca da tainha| Leonardo Régnier
pesca da tainha| Leonardo Régnier
entorno imediato
.e agora? O plano massa de ação da Fortaleza da Ilha do Mel visa conciliar os aspectos históricos, culturais e ambientais em um projeto de restauro e requalificação da paisagem com ações de mínima intervenção no construído e no meio ambiente que o cerca. A análise do sitio, englobando a Ilha como um todo, é vital para compreender onde este projeto se insere, a quem ele é destinado e beneficia (direta ou indiretamente) e o como agir, seja na preexistência, seja nas inserções arquitetônicas de apoio ao projeto.
A fortaleza supracitada junto a outras duas também catarinenses (Fortaleza de Santo Antônio dos Ratones e Fortaleza Ponta Grossa) estão sob tutela da UFSC desde 1979, que foi responsável por finalizar os trabalhos de restauro nas edificações e muralhas na época e também inseriu postos de trabalho e educação no interior dos complexos. Essa parceria institucional auxilia na manutenção a longo prazo dos bens e ainda promove a difusão de conhecimento.
.a questão do uso
No Paraná, durante a inauguração do centro de reabilitação marinha da Universidade Federal em junho de 2019 o reitor Ricardo Marcelo Fonseca colocou a universidade como o lugar responsável pelo desenvolvimento regional, extrapolando sua centralidade em Curitiba: “Ela [a universidade] traz civilidade, desenvolvimento humano, desenvolvimento econômico, a universidade traz vida”18.
Partindo do pressuposto de que o turismo sustentável, ou seja, aquele que respeita o meio no qual se insere e corrobora para um desenvolvimento local subsidiasse financeiramente a comunidade de entorno, levanta-se a questão da manutenção a longo prazo da edificação em si. A inserção de um uso, dependente ou não de uma nova arquitetura, é o melhor instrumento de gestão de um bem, e no caso da fortaleza essa questão é excepcionalmente problemática devido à sua localização e difícil acesso. Por muitas vezes cogitou-se a inserção de uma estação de pesquisa vinculada à universidade na fortaleza. Em 1980, em ofício enviado pelo arquiteto José La Pastina Filho ao então diretor da 8º diretoria do Sphan, Dr. Antonio Luis Dias de Andrade, sugere-se a inserção do uso científico:17 “Com relação à utilização do monumento consideramos fundamental a sua destinação para uso científico-cultural a exemplo da Fortaleza de Santa Cruz na Ilha de Anhatomirim, hoje abrigando um posto de estudos da biologia marinha administrado pela Universidade Federal de Santa Catarina, sem prejuízo, no entanto de sua visitação turística”
Apropriar-se se uma metodologia que já subsidiou um estudo de caso de relativo sucesso e que já foi efetivamente considerada para a edificação da ilha é a abordagem lógica que subsidiaria um uso contínuo e sustentável no interior da fortaleza. Ainda corroboraria com a manutenção das comunidades locais e suas tradições, já que o polo educacional ali criado teria potencial força de disseminação de cultura e conhecimento sobre as atividades locais, incentivando sua manutenção. Além destes fatores culturais, uma estação de pesquisa e monitoramento do mar é vital para a manutenção da biota marinha da nossa costa, que se encontra em grande risco nos últimos anos devido ao aumento de fluxos de navios de carga no porto de Paranaguá, ameaça que tende a crescer caso o aumento previsto da infraestrutura seja efetivado.
bateria ~ h.65m
.corte esquemático fortaleza - morro da baleia - bateria de canhões
.página 27 .fernanda cé bogucheski
.fortaleza e morro da baleia
.A Baía de Paranaguá conta com diversas instituições de ensino e pesquisa, dentre elas o centro de estudos marinhos de Pontal do Sul da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e a sede da Universidade Estadual do Paraná, em Paranaguá. Ambos organizam linhas de pesquisa costeira na região da Baía e da Ilha. .A marinha brasileira subsidia financeiramente programas de pesquisa marítimos através do Plano Setorial para os Recursos do Mar19 ao longo do litoral brasileiro que nas suas primeiras versões, o foco estava na geração de conhecimento sobre o ambiente marinho e no uso sustentável destas áreas e mantém na Ilha do Mel uma estação costeira para monitoramento. .As estações de pesquisa, a exemplo de uma inserida na ilha oceânica de Trindade, são pequenas estruturas autossuficientes, construídas com tecnologias e materialidade leves e pouco impactantes que contam com laboratório, alojamento para pesquisadores, copa, sala e cozinha. Além das áreas para de salinizar a água e locais técnicos para o sistema de placas solares. .A legislação de Paranaguá incidente na Ilha do Mel prevê como uso permitido o da pesquisa científica20.
a fortaleza
.tempo presente e futuro A fortaleza, apesar de protegida desde 1938 e com uma alta frequencia turística, possui grandes dificuldades de manutenção. Situação esta traduzida pelo estado precário de suas estruturas, ornamentos e edificações internas. Suas patologias são, na grande maioria, originárias da proximidade com o mar, falta de manutenção e erosão do solo. De acordo com o levantamento dos arquivos do Iphan a situação é reincidente, sendo que muitas destas tipologias de degrado já foram tratadas e retornaram devido ao grande espaçamento entre os processos de cura. No quesito do uso, a edificação passou por inúmeros momentos de abandono e, atualmente é ocupada por um museu e uma biblioteca. A população, em reuniões com
as instituições governamentais que atuam na ilha, cobra frequentemente a reconstrução de um espaço religioso no interior da fortaleza. As principais dificuldades levantadas são a distância dos trapiches e a pouca infraestrutura de entorno, sendo as maiores ameaças o abandono e a ação da própria natureza (intempéries e marés) nas muralhas e edificações. A nova edificação a ser inserida na fortaleza possui uma grande face voltada ao sul, possibilitando a iluminação indireta dos ambientes internos. A ventilação cruzada é outro fator a ser levado em consideração devido à grande umidade da área, sendo necessária a realização de um projeto com condições adequadas de conforto.
.potenciais perspectivas
solar
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N
ve nt os
ventos
N
ventos
.analise
.verão .patologias
.inverno
a fortaleza
Terraplenos e vazio da rampa: Potencializar os visuais (já característicos) através da limpeza da vegetação para propiciar o melhor entendimento espacial da área do vazio da rampa e acesso (?) à casamata que faria parte do terrapleno.
acesso
Área de apoio (externa à praça): Nova edificação destinada a receber toda a infraestrutura da estação de pesquisa (por princípios e demandas do uso) e a nova biblioteca comunitária, com acervo que atenda tanto à comunidade acadêmica quanto a local.
(Antigos alojamentos, Capela, Casa do gerador, Galpão alojamento): potenciais resquícios arqueológicos que devem ser respeitados e estudados. Auxiliam no entendimento de que a fortaleza não foi sempre como é atualmente. Edificações próximas à essas áreas assumiriam caráter de suporte, como por exemplo, a casa do gerador poderia receber a função utilitária de apoio à estação de pesquisa (abastecimento de água e energia), mas desde que se insira de maneira condizente no contexto. Trilha: Não muito acidentada, porém com aclives e declives, a trilha é fácil, porém exige preparo. Uma nova estrutura leve de apoio à subida. Bateria: Além do restauro das estruturas, por ter um caráter teatral, pode receber instalações e apresentações Área de Apoio: Área de apoio para turistas e pesquisadores no topo do morro. Mirante: Requalificar reestruturas as antigas visuais tão características das edificações militares, principalmente as costeiras.
.bateria
.página 31 .fernanda cé bogucheski
Acessos e entorno: requalificar os acessos à Fortaleza. Prever acesso seguro quando a maré estiver alta e um novo trapiche de acesso direto à edificação, comunidade e entorno. Prever ações para mitigar a ação da erosão principalmente nas fundações das muralhas externas da Fortaleza. Toda intervenção deve gerar o mínimo dano à edificação e, quando necessárias, devem respeitar tanto a materialidade quanto a estética do bem. Praça das armas: Preservar a paisagem e percepção do ambiente. Característica desta tipologia de edificação, a praça deve ser um espaço limpo e de amplos campos de visão. As edificações a cercam. Locais de eventos esporádicos sem a inserção de estruturas (permanentes ou não) que prejudiquem a leitura da Fortaleza. Casa de Guarnição: Edificação existente que pode receber o novo centro de visitantes acompanhado do café e o setor administrativo da fortaleza. Visível já da entrada principal, a casa de Guarnição tem vocação para potencializar o caráter educativo assumido pela fortaleza.
o
ss
e ac
Paiol: Pequena edificação com resquícios arqueológicos. Tem potencial para se tornar uma edificação de apoio ao uso educacional de media permanência.
.casamatas acesso
Casamatas: Além das ações de restauro, utilizar destes espaços característicos da construção militar da época para auxiliar na compreensão da arquitetura histórica. Potencial uso como área de exposições temporárias ou resistentes à umidade.
o programa
.programa e setorização O programa proposto se insere no contexto de uma edificação com uma organização extremamente consolidada, disposta no entorno da praça das armas onde os principais eventos militares aconteciam. O uso proposto visa resgatar essa vivência perdida da fortaleza em uma estrutura contemporânea. A recomposição volumétrica da praça possui a capela como maior lacuna, principalmente no âmbito social. Sendo o único uso evidenciado em diversos estudos de caso de fortalezas brasileiras que se propagou de forma constante no tempo. A organização dos setores segue a tradicional da própria edificação: todos os usos são acessados a partir da praça e, consequentemente, seus fluxos são concentrados e distribuidos a partir dali. Os setores principais, cultural e educacional, evidenciam de forma clara os objetivos principais do projeto realizado na fortaleza: Torna-la um exemplo do uso conjugado do patrimônio e ciência, do passado e do futuro.
.programa
.administrativo
.ambiente
.área .20m²
.situação .existente
.café
.25m²
.existente
ambiente de coordenação do complexo, com uma mesa para o administrador fixo na fortaleza e local para recepção de pessoas externas quando necessário. conjugado ao centro de visitantes, é um local de permanência agradável dentro da edificação histórica
.centro de visitantes
.25m²
.existente
local destinado a venda de produtos locais integrado ao café com local para exposições temporárias com instalações sanitárias para os visitantes
.museu militar
.40m²
.existente
espaço destinado a exposição permanente sobre a história da fortaleza
.museu universitário .capela
.35m² .40m²
.existente .novo
.local de apoio
.10m²
.novo
.sala de conferência
.46m²
.existente
.laboratórios
.150m²
.novo
.biblioteca comunitária .alojamento
.100m² .45m²
.novo .novo
.centro de botânica
.50m²
.existente
.vestiário
.10m²
.novo
.depósito
.20m²
.novo
.dml
.5m²
.novo
.copa
.10m²
.novo
.sala de estar
.10m²
.novo
.segurança
.10m²
.novo
.breve descrição
espaço destinado a exposições que objetivem a conscientização local sobre os trabalhos científicos realizados na estação recomposição de um espaço religioso no interior da fortaleza local de apoio no topo do morro da baleia para visitantes e pesquisadores local para apresentação de ideias, conferências, etc 2 laboratórios vinculados á estudos científicos vinculados à Baía e à Estação Ecológica Local destinaddo tanto à comunidade acadêmica como local, com acervo de pesquisa e literatura. Um espaço que estimule e dissipe conhecimento alojamento para 4 pesquisadores destinado a pesquisadores alojados ou de passagem ambiente separado dos demais, provavelmente no topo do morro da baleia destinado à pesquisa mas também visitável para fins educacionais reserva técnica destinada a objetos fora de exposição, etc
espaços de convivência dos pesquisadores ali alojados ou de passagem. Possivel conexão com o ambiente externo para integração com a fortaleza e criar um clima de descompressão ambiente destinado aos seguranças que cuidam da fortaleza
.página 33 .fernanda cé bogucheski
.organograma
.fluxograma acesso
biblioteca
praça das armas
laboratório
recepção
capela
setor educacional
trilha a ser qualificada
acesso principal
praça das armas
trajeto a ser qualificado
setor cultural
estrutura alojamento
sala de conferência museu
centro de visitantes café
setor cultural
.nova edificação acesso
.relação antigoxnovo .antigo .28% relação com o exterior
.76%
.novo
.áreas úteis existentes .ambientes existentes
.área útil
.paiol de pólvora
.31m²
.casa de guarnição .corpo central
.78m² .119m²
.praça de canhões superior
.55m²
.setores
1.
a. total 641m²
2.
entrada
cultural
educacional
1. 24%
4. 7%
2. 66%
3. 3% 3.
administrativo 4. serviço
a nova edificação deve respeitar alguns parâmetros específicos para novas edificações na ilha do mel: materialidade: leve e sem resíduos altura máxima de 5,9m face exposta ao sul - potencialidade de grandes aberturas para iluminação indireta, porém o edifício deve prever boa ventilação para garantir conforto interno apesar de um potencial visual no terraço da edificação, a legislação prevê o uso de telhados no lugar de lajes devido às condições locais.
o conceito e o partido
.as possibilidades do tempo A história é um conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade e sua evolução, segundo o lugar, a época e o ponto de vista escolhido. Mas e se as escolhas tivessem sido diferentes? E se determinados fatos que marcaram a atualidade tal como é nunca tivessem ocorrido? E se a linha do tempo fosse vista como uma árvore de muitos ramos e, em determinados momentos decisórios, a trajetória mudasse? A suposição do que poderia ter acontecido cria uma visão peculiar, e obviamente fictícia, de possíveis futuros que não podem mais acontecer. O mesmo raciocínio é válido para decisões contemporâneas: construir possíveis futuros a partir de uma escolha atual é um trabalho que só terá certeza de suas consequências a partir da decisão tomada. Levanta-se aqui a questão dos futuros que a fortaleza não vivenciou e quais ela ainda pode passar. Como seria a ocupação do território se ela nunca tivesse sido efetivamente construída? E se sua arquitetura tivesse sido largada às vontades do tempo e da sorte? A percepção seria a mesma se a ilha tivesse sucumbido a uma especulação
imobiliária? As organizações temporais fictícias auxiliam a compreender a importância relativa à real e validam a ideia de que toda e qualquer decisão tomada no momento presente terá um efetivo resultado, positivo ou negativo, no futuro. Esse raciocínio puramente teórico deve traduzir-se em uma ação efetiva, e o que seria um projeto de arquitetura se não uma série de tomadas de decisão. Pretende-se criar um cenário onde a fortaleza tenha a pretensão de se colocar como um marco que conecte passado e futuro e que, consequentemente, negue possíveis amanhãs onde seu abandono seja responsável por um desmantelamento gradual da nossa história. A construção teórica deste cenário é um desenho das vontades atuais voltadas à fortaleza e, atuar neste âmbito de múltiplas possibilidades demostra que o patrimônio não é o congelamento do tempo, mas, ao contrário, trata-se da demonstração física de que o conceito de tempo é inteiramente fluido e mutável.
.página 35 .fernanda cé bogucheski
.notas
.referências bibliográficas
.1 Professor da Escola de Roma e importante teórico de restauro atualmente. .2 SETTE, 1996, pg190. .3 “o restauro se torna uma metodologia inteiramente crítica ao se tornar criativa e vice versa, em uma absoluta e inseparável compenetração” tradução livre da autora. .4 “A preservação não é desvinculada da realidade, mas tampouco podem ser as questões utilitárias as únicas e prevalentes nas decisões” KÜHL, 2008, pg. 170 .5 Apud KÜHL, 2008, pg. 175 .6 Entende-se por gramática um conjunto de regras que indicam o uso correto de determinado instrumento e por semântica o campo que estuda o significado e interpretação de um signo, incluindo as mudanças de sentido que ocorrem ao longo do tempo devido a diversos fatores, como tempo e lugar. .7 Em publicação para o Iphan, 2007. .8 Ele afirma ainda que atualmente o mito que mais afronta as ações humanas e, muitas vezes especificamente as do arquiteto, é o da Biblioteca de Alexandria, ou seja, perder definitivamente um trecho da nossa memória. .9 Que em teoria significou o fim do tráfico, mas não do comércio escravo em terras brasileiras. Na prática, porém, o governo fazia vistas grossas para o comércio ilegal nos portos .10 Período de nova tensão entre Brasil e Inglaterra devido à uma prisão que ocorreu no Rio de Janeiro. Para mais informações consultar: Muralhas de pedra, canhões de bronze e homens de ferro do historiador Adler Homero Fonseca De Castro, 2009 .11 Este acordo acabou por delimitar o país mais ou menos como o conhecemos hoje, pois utilizaram de acidentes geográficos e rios para delimitar as fronteiras. As linhas foram traçadas conforme o princípio do direito de que a terra pertence a quem ocupa, salvo algumas exceções devido ao fato de que ambos os países não teriam respeitado os limites do prévio Tratado de Tordesilhas. .12 Zarab Pololikashvili, Revista do patrimônio nº39. Cultura e turismo como estratégias para o desenvolvimento sustentável .13 Kühl, 2008. P.125. .14 Denkewicz, 2012 e Santos Jr. e Pires, 2008 consultadas no artigo “Unidades de conservação, ecoturismo e conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, Brasil”, de 2014. .15 Segundo documento do Iphan subsidiado pela Unesco. 2019 .16 O povo caiçara é uma mistura entre europeus e indígenas que habitavam o litoral paranaense, paulista e carioca. Além disso, o nome e subdivisão das comunidades variam de acordo com a percepção dos locais. .17 Hanazaki no artigo http://www.admpg.com.br/revista2014_1/Artigos/Artigo%207%20%20v.7%20n.1%20on%20line.pdf Ultimo acesso 29 outubro 2019 .18 Documentação disponível no arquivo da 10º Superintendência do Iphan .19 Disponível no site da instituição. .20 Dados disponibilizados no site da marinha. .21 Lei complementar nº164 de Paranaguá, anexo 1a.
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê, 2004. 261 p. (Artes & ofícios ; v. 5) ISBN 85-7480-225-5 CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Bateria. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/ DAF/Copedoc, 2016. (verbete). ISBN 978-85-7334- 299-4. CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Fortaleza. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/ DAF/Copedoc, 2016. (verbete). ISBN 978-85-7334-299-4. CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de pedra, Canhões de bronze, Homens de ferro: fortificações do Brasil de 1504 a 2006. Rio de Janeiro: Fundação Cultural Exército Brasileiro, 2009. v.1. pp. 90-125 CHMYS, Igor. Relatório de prospecções arqueológicas na Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres – Ilha do Mel: 16 e 17 de março de 1995. Curitiba: 1995. Arquivo técnico do Setor de Documentação/ IPHAN/PR, pasta Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres – relatórios DENKEWICZ, P. GONZAGA, C. PRADO, K. Unidades de Conservação, ecoturismo e conflitos socioambientais na Ilha do Mel, PR, Brasil. Disponível em: <http://www.admpg.com.br/revista2014_1/Artigos/Artigo%207%20%20v.7%20n.1%20on%20line.pdf> Último acesso 03 de novembro. Fortaleza da Barra, disponível em: <https://portal.unisantos.br/fortaleza/pg03.html> Último acesso 03 de novembro. Fortaleza de Ponta Grossa. Disponível em: <http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=12> Último acesso 03 de novembro. Forte de Santa Catarina de Ribamar . Disponível em: <http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1543&muda_idioma=PT> Último acesso 03 de novembro. Ilha do Mel, disponível em: <http://www.paranagua.pr.gov.br/conteudo/guia-turistico/ilha-do-mel> Último acesso 03 de novembro. IPHAN. Fortificações Brasileiras. Disponível em: <http://portal.iphan. gov.br/pagina/detalhes/1609> Último acesso 03 de Novembro. JAENISCH, Damiana Bregalda. Relatório de avaliações das formas de organização, conflitos, alianças e hierarquias existentes na Ilha do Mel e pontos sensíveis para articulação. Curitiba: 2019. IPHAN (Brasil). 10ª CR/PR KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização. Problemas teóricos de restauro. Cotia, Ateliê / FAPESP, 2009, pp. 59-171 MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1995. 471 MÜHLBAUER, Clarice Futuro. Elaboração de subsídios com vistas ao desenvolvimento do Plano de Conservação da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres e o Morro da Baleia Ilha do Mel – Paranaguá – PR. (Produtos 01, 02 e 03) Curitiba: 2019. IPHAN (Brasil). 10ª CR/PR. Museu histórico fortaleza de santo amaro da barra grande, disponível em: <https://fortalezadabarra.wordpress.com/museu/> Último acesso 03 de novembro. PREFEITURA DE PARANAGUÁ, Pesquisa de demanda Ilha do Mel 2015, disponível em: <http://www.paranagua.pr.gov.br/imgbank2/file/fumtur/Relat%C3%B3rio%20Ilha%20do%20Mel%202015.pdf> Último acesso 03 de novembro. RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e Patrimônio. Rio de Janeiro: Iphan/ Copedoc, 2007. SOCCO, Carlo. La polisemia del paesaggio, in Castelnovi P. (a cura de), Il senso del paesaggio. Torino, IRES, 2000.
fotos| acervo iphan
Termo de referência apresentado para a disciplina de Trabalho Final de Graduação - Pesquisa do nono período do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientadora: Moara Zuccherelli
“Passe com cuidado a ponte. Viva bem com os outros; assim como eles vivem bem, você também pode viver. Lá você há de ver muita coisa que já viu aqui em minha terra, assim como o gavião. Teus parentes hão de vir te encontrar na ponte e te levarão com eles para tua morada” (Lenda das Encantadas)
Fernanda Cé Bogucheski Curitiba | 2019