Glicério Aberto: Intervenções nos interstícios na cidade contemporânea | TFG ARQUITETURA 2019

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GLICÉRIO ABERTO Intervenções nos interstícios na cidade contemporânea

GLI CÉRIO



UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Trabalho Final de Graduação

GLICÉRIO ABERTO: Intervenções nos interstícios na cidade contemporânea.

Fernanda Cardozo de Mesquita orientada por Débora Sanches e Guilherme Motta

São Paulo 2019


AGRADECIMENTOS

Na vida, como na arquitetura, nada se constrói sozinho e a finalização dessa etapa se fez junto com todo o apoio de familiares e amigos que estiverem presentes durante essa tragetória.


Agradeço aos meus pais, por sempre me incentivarem e me apoiarem em todos os meus sonhos e por nunca me deixarem desistir. A minha família, que sempre será o que mais tenho de mais especial na vida. Ao Victor, por partilhar a vida e ser a calma no meio desse caos. Aos meus amigos, que por tantas vezes foram o meu refúgio e fizeram dessa caminhada - com certeza - mais leve. E a minha orientadora, Debora Sanches, pelo reencontro e por não me deixar duvidar da minha capacidade e do que acredito pra nossa profissão.

meus sinceros, muito obrigada!



“Ao caminhar pela cidade, cruzam-se fronteiras, atravessam-se territórios interpenetrados. O trajeto efetivamente percorrido (com efetividade) no chão é diverso daquele que se percebe num sobrevôo ou que se pode varrer com o olhar estrategicamente colocado, quando se mira do alto de algum ponto seguro. Os passos do caminhante atento não costuram simplesmente, uns aos outros, pontos desconexos e aleatórios da paisagem. Ele se arrisca, cruzando umbrais, e assim fazendo, ordena diferenças, constrói sentidos, posiciona-se.” Antonio Arantes


SUMÁRIO 9 APRESENTAÇÃO 13 INTRODUÇÃO I. CONTEXTO 20 O início 30 Experiência I: TRAVESSIA - Fluxo de transeuntes

II. CONTEÚDO 62 Atmosfera Urbana 70 Experiência II: PAUSA – Olhar sensível entre derivas e pausa


III. CONCEITO 84 Módulo comum 102 Experiência III: MOVIMENTO - Construção de um lugar

147 CONSIDERAÇÕES FINAIS 150 REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS



apresentação A convicção A inquietação deste trabalho tem como tema a aproximação da arquitetura e o impacto na escala do microplanejamento, pois por meio de experiências que tive pude perceber a influência de potencializar as percepções espaciais da cidade, fato este que pode acontecer em escalas muito mais próximas do que imaginamos. Ao longo dos anos de faculdade optei por participar de alguns trabalhos voluntários e, no ano de 2015, tive o primeiro contato com uma área totalmente desconhecida, que era o foco de um projeto de extensão intitulado ArquiCriança, realizado no Centro Universitário Belas Artes, coordenado pela professora Débora Sanches. Este projeto teve ponto-chave a fala das crianças que moravam em cortiços e pensões no Glicério.

< Figura 1: Muro no Glicério. Fonte: Acervo Pessoal

O bairro, em si, se revelou por meio das ações cotidianas e de infinitas possíveis respostas de como ter outra forma de

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pensar a cidade, principalmente em um olhar direcionado às crianças e que teve no fim grande parte na minha formação e do que acredito que é ser arquiteto. Acredito, principalmente, na reconciliação da arquitetura com a cidade como um ato de se reiventar, e mais do que o própria ação do construir, a relação que a arquitetura pode produzir seu efeito de diferença.

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O ato de reinventar a vida cotidiana pode ser interpretado como uma maneira possível de estabelecer uma interlocução entre esses espaços, além de uma possibilidade de pensar maneiras de intervir em lugares para encontro – pontos de contato que resistem à desertificação de espaços coletivos de qualidade. Essa qualificação provoca, em cada indivíduo, diferentes sensações capazes de transformar aquele instante em um momento único de interpretação, pois tem o intuito de elaborar um projeto que traga possíveis experiências urbanas ao cotidiano que ali permeiam, em todo o trajeto.


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< Figura 2: Cortiรงo Fonte: Acervo Pessoal



introdução A reflexão O trabalho a ser desenvolvido se inicia no interesse por espaços públicos e as relações de práticas sociais entre o público e o privado na cidade de São Paulo, no bairro do Glicério, que se destacam por um processo de valorização de contrastes entre o simples e o complexo. Neste contexto, acrescido do fato de sua população ter sido multiplicada desenfreadamente, principalmente marcada por um forte fluxo imigratório, foi quando se evidenciou, na cidade de São Paulo, a intensificação de um fenômeno citado por Milton Santos (2006) como palimpsesto urbano, ou seja, a reestruturação ou sobreposição de elementos da paisagem, assim como do espaço urbano: Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações lo-

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calizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima. A paisagem se dá como um conjunto de objetos reais-concretos. Nesse sentido, a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e presentes, uma construção horizontal, uma situação única. Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formas-objetos, providas de um conteúdo técnico específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formas-objetos. Por isso, esses objetos não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico. A paisagem , pois, um sistema material e, nessa condição relativamente imutável: o espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente. O espaço, uno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e através do seu uso, é um conjunto de mercadorias cujo valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado momento, atribui a cada pedaço da matéria, isto é, cada fração da paisagem [...] (SANTOS, 2006, p. 31).

Aos olhos deste autor, existe uma construção gradativa do impacto gerado nessas sobreposições de camadas na paisagem, em que a ideia de palimpsesto sempre se sobrepõe com acúmulos de tempos distintos, de diferentes gerações. Como “palimpsesto”, oferecem “pistas materiais” que permi-

tem perceber seu caráter histórico. A construção dessa ideia se formou desde a Revolução Industrial e surgimento de novas tecnologias que foram refletidas, diretamente, no século XX, na evolução das cidades, na arquitetura e nas paisagens. O homem, ao produzir novos espaços, esqueceu o que havia sido pensado antes e alimentou uma série de substituições nas cidades, saturando muitas vezes, sua imagem. Entre camadas e sobreposições, provocadas por um processo conturbado e não planejado na composição do espaço público, o trabalho a ser desenvolvido tem como problemática a aproximação entre a arquitetura e o impacto na escala do microplanejamento, questão esta que se coloca na leitura do bairro do Glicério como investigação de ocupação do território. Busca-se, ainda, analisar e identificar suas influências nas premissas do direito à cidade e seus impactos nos espaços públicos, nos quais este direito e a vida urbana são negados todos os dias, onde a maioria dos jovens dessas áreas cresce sem uma alternativa de lazer.


A intenção O objetivo geral deste trabalho é desenvolver uma proposta de dispositivos de regeneração em espaços articulados que evoquem os agentes a preencher um lugar com práticas alternativas ao “modelo tradicional urbano”. Busca-se, portanto, ressignificar a malha urbana mediante a reutilização de elementos característicos do bairro, estabelecendo, assim, uma forma mais sustentável e sensível ao espaço público, como um modelo urbano aberto e social. Para determinar as intervenções projetuais, aplicou-se uma metodologia investigativa realizada em cinco etapas, sendo elas: 1.

Mapear a área;

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Identificar potencialidades e carências da região;

Para definir o recorte espacial houve a necessidade de mapear a área de intervenção com a finalidade de realizar um estudo do território, por meio de visitas, percursos e desenhos, a fim de compreender e identificar as potencialidades e carências dos espaços que fossem característicos do bairro; 3.

Caracterizar os espaços analisados e identificar

problemáticas existentes na região entendendo as principais necessidades; Foram agrupadas as deficiências identificadas na região, pois desta maneira foi possível escolher um território de cada característica para ação projetual. 4. Propor ação projetual com equipamentos de suporte para potencializar os espaços; 5.

Apresentar para a comunidade local.

As atuações finais servem para propor transformações nos espaços, mas são decididas e efetivadas em conjunto com a população. Compete ao projeto mostrar as possibilidades, no entanto, cabe à comunidade a viabilização para a dinâmica comunitária, ou seja, sempre será um desenvolvimento em desenho aberto , propondo a participação da comunidade para novas ideias para futuras áreas projetuais. O presente trabalho é desenvolvido até o quarto passo, mas se fosse possível a finalização do trabalho, a ideia de apresentação a comunidade e colaboração para viabilidade do projeto seria a conclusão para elaboração projetual. Portanto, para compreender e se articular com todos os

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temas, organiza-se em uma divisão de três capítulos, sendo: I. CONTEXTO: refere-se às camadas temporais, relacionadas à história, memória e relações sociais que habitaram, e ainda habitam, o espaço; propõe a experiência número um: o reconhecimento da área no percurso. II. CONTEÚDO: são os elementos de apropriação coletiva e uso temporário que são utilizados para ativar os espaços; propõe-se a experiência número dois: a pausa e observação dos espaços.

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III. CONCEITO: é a busca pela construção do módulo comum, relata os desafios encontrados, as estratégias utilizadas para alcançá-lo, e finaliza com a experiência número três: a ação projetual para cada área. O projeto oferece, portanto, uma possível resposta às lacunas deixadas pela inexistência de políticas públicas no local, ressaltando a importância de um caminho sólido ao direito pleno de pertencimento a cidade, e, também, destacando como reinventar o conceito de intervenção temporária e permanente para garantir que a paisagem urbana se molde em sincronização com as constantes mudanças da cidade contemporânea.

Demonstra, ainda, como é possível imaginar estruturas flexíveis, adaptáveis e protetoras para abrigar uma paisagem potente, capaz de permitir o relacionamento por meio de uma membrana que, em meio ao caos e a aversão dos valores que constroem a cidade, possibilite a reinterpretação do significado, no qual se adicionada.




CONTEXTO:

diz respeito as camadas temporais, de história, memória e relações sociais que habitam o espaço.


O início A região conhecida como Glicério (ou também Baixada do Glicério e Várzea do Glicério), é um bairro do centro do município de São Paulo, localizado às margens do rio Tamanduateí, considerado como um obstáculo físico, por suas condições topográficas, para apropriação e expansão da cidade.

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No século XIX, a área já era ocupada por chácaras das famílias: Dona Ana Machado e Quinta de Francisco Machado ou Chácara dos Ingleses, onde, por volta de 1850, por uma pressão do poder principal, iniciou-se, sem muito planejamento, a formação dos primeiros arruamentos e loteamentos (figura 3) onde, futuramente, seriam as ruas mais importantes, tais como: Rua Conde de Sardezas, Conselheiro Furtado e Rua Barão de Iguape. Depois de alguns anos já era possível identificar diversos eixos de expansão até as chácaras e todo o arruamento que permaneceu até a construção do Elevado nos anos 90 (figura 4) que se consolidaram, ainda mais, com a chegada de diversas repúblicas estudantis depois da abertura do curso de Direito, em 1883 e das instalações das primeiras fábricas, Sudam e Penteado Indústria, de cigarros e têxtil respectiva-

^ Figura 3: Mapa da Baixada do Glicério em 1890 Fonte: Mapa cadastral da PMSP, 1890.


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< Figura 4: Mapa geral de São Paulo em 1930 Fonte: GEGRAN, 1930.


mente, que ajudaram nesse período de formação das vilas operárias, grande parte de italianos, localizadas nas proximidades da área mais baixa e desvalorizada.

áreas próximas a região mais alta, como a praça Dom Pedro II tiveram um grande adensamento (figura 5 e 6).

Posteriormente notou-se a presença de imigrantes portugueses e, por fim, em 1939, imigrantes japoneses, que se instalaram nos porões dos casarões, pois eram de baixo custo. Dessa maneira o Glicério se consolidou como uma região operária, com estrutura espacial homogênea, traduzida nas relações de vizinhança existentes.

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Sendo habitados por famílias de baixa renda, os terrenos, devido a sua forma, passaram a comportar novas construções que estabeleceram um novo processo de encortiçamento na região. Os casarões passaram, também, pela mesma situação, pois se transformaram em pensões e, depois, quando não se podia mais manter em certas condições, em novos cortiços. Nos anos de 1950, as transformações foram maiores, pois até aquele momento a característica principal da região era composta por edificações baixas e casas, mas com a demanda por habitação crescendo e o setor terciário se desenvolvendo, houve uma influência direta naquele espaço e algumas

^ Figura 5: Mapa da Baixada do Glicério em 1954. Fonte: Mapa cadastral da PMSP, 1954


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< Figura 6: Mapa geral de São Paulo em 1954 Fonte: GEGRAN, 1954.


Na década de 1970, com a construção do viaduto para ligação das zonas Leste e Oeste da cidade, formou-se uma barreira, cujo espaço, localizado abaixo do mesmo, foi convertido em um vão subutilizado, não levando em consideração a quadra do antigo e famoso Teatro São Paulo , deixando sobras e restos de quadra por todos os lados.

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Sem conexões entre os lados da Rua Conselheiro Furtado em direção à Várzea do Glicério, esta via elevada transformou a dinâmica do bairro e segregou, ainda mais, a região do bairro vizinho, Liberdade, trazendo um estímulo para o encortiçamento das edificações. Nos últimos anos, a região do Glicério acompanhou a tendência nacional de imigração e acolheu grande parte dos imigrantes sul-americanos e africanos, especialmente pela presença da instituição de apoio Missão Paz na região. Sua estrutura atual apresenta quatro eixos importantes para a região, tais como: A casa do Imigrante, que funciona como abrigo, acolhendo 110 imigrantes, o CPMM (Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes) onde acontece serviços de documentações até capacitação de trabalho para os imigrantes, o CEM (Cetro de Estudos Migratórios) que possui uma biblioteca especializada em migração e um espaço de estudo e pesquisa e, por fim, a Igreja Nossa Senhora de Paz.


Atualmente, o Glicério está designado como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) pelo Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo de 2014, norma esta que regula a permanência da população de baixa renda naquela área, mesmo que em condições precárias. O bairro vem passando por uma forte descaracterização por conta da especulação imobiliária, mediante o desmembramento de lotes e novas construções com foco nas habitações, mas estas são destinadas, apenas, à classe média, fato este que gera novos problemas para uma área que abriga todo tipo de grupo marginalizado e, por conta disso, possui uma fascinante e sofrida complexidade.

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< Figura 7: Mapa atual do Glicério Fonte: Elaborado pela autora a partir do QGIS




< Figura 8: Mapa Nolli de São Paulo, na região do Glicério Fonte: Elaborado pela autora a partir do QGIS


EXPERIÊNCIA I:

TRAVESSIA O fluxo dos transeuntes


“Habitar significa deixar rastros� Walter Beijamin


O desenvolvimento e a transformação das imagens são comparáveis à transformação das cidades, pela intensidade e tempo. O que é pequeno, desaparece em meio a tanta informação e o olhar se perde. Onde existia uma perspectiva intencional, hoje existem inúmeros pontos de fuga. A ideia de ter uma experiência em um percurso e a utilização deste como instrumento de pesquisa nos espaços urbanos, que aparece neste trabalho, surge por meio do livro O caminhar como prática estética, escrito pelo professor e arquiteto Francesco Carreri (2013). O autor relata a percepção sobre paisagens urbanas por meio do caminhar, como uma ferramenta cognitiva, no qual passamos a entender a paisagem quando interagimos com ela, configurando-se uma forma de intenção que valoriza a escala do pedestre na cidade. [...] O caminhar, mesmo não sendo a construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo é uma forma de transformação da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e consequentemente, o espaço em si, transformando-o em lugar. O caminhar produz lugares. (CARERI, 2013, p. 51).

De acordo com Carreri (2013), o flâneur é aquele que realiza a junção do caminhar, como forma de investigação, como o “se perder” como potencializador dessa percepção. É aquele que mesmo sem rumo, aproveita e olha a cidade como paisagem, sendo ao mesmo tempo estrangeiro e local, pretendendo assim, conseguir potencializar as percepções espaciais da cidade revelada nas ações cotidianas e de reinventar a rotina. Os transeuntes que passam pela cidade já não a percebem de modo afetivo, sendo o hábito que estabelece uma relação de comodidade e identidade com alguns espaços e ações que geram também um apagamento gradativo diante do que intitulamos como rotina. Os percursos, mesmo que não sejam sempre os mesmos, deveriam estimular durante os deslocamentos toda a paisagem que se forma ao redor, trazendo pontos de contato que possam gerar novos espaços afetivos. A desmecanização desse movimento, estranhar o cotidiano ou vivenciar novas experiências, é parte da interação entre as ações urbanas e a arte, podendo amplificar a capacidade de nos relacionarmos. A importância dessa união está, então, na possibilidade de qualificar e requalificar situações urbanas. Esta qualificação, provoca em cada indivíduo, diferentes sensações, capazes de transformar aquele instante em um momento único

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de interpretação, com o intuito de elaborar um projeto que traga possíveis experiências urbanas ao cotidiano que ali circulam, em todo o percurso.

como uma base para se repensar questões sociais em termos urbanísticos, pois segundo Rosa (2008, p. 20 apud MAIER, 2008, n.p.) “a cidade é nosso potencial, e nós somos seus construtores”.

A cidade não só deixa de ser cenário, mas, mais do que isso, ela ganha corpo a partir do momento que ela é praticada, se torna “outro” corpo. Dessa relação entre o corpo do cidadão e esse “outro corpo urbano” pode surgir uma outra forma de apreensão urbana e, consequentemente, de reflexão e de intervenção na cidade contemporânea. (JAQUES, 2009, n.p.)

A construção da ideia de território por meio das relações cotidianas dentro das metrópoles busca entender as transformações da cidade, seus impactos espaciais e sociais, em que são afetadas diretamente com modo de vida da população. Pallasma (2013, p. 154) reforça a ideia de pausa citando que: “Em vez de participar do processo de acelerar ainda mais a experiência do mundo, a arquitetura deve diminuir a velocidade, parar o tempo e defender a vagarosidade natural e a diversidade da experiência”.

A importância da convivência pública intensifica-se na dimensão da relação entre o espaço público e privado, na hipótese de que da mesma maneira que a cidade deve estar contida no interior dos edifícios, eles se dissolvam para compor o ambiente da cidade nas ruas. Portanto, se sobrepõem e coexistem de maneira que ambas estão sempre presentes nos espaços que antes eram identificados separadamente entre interior e o exterior. A partir desse ponto destaca-se o papel do indivíduo, sendo a escala definida por Milton Santos (2008) como escala comunicativa, aquela referente ao lugar ou relacional, que significa o encontro para definir a coletividade – viver junto na cidade –

Articulando o conceito de tempo e do processo da experiência, Peixoto (2004, p.13) enfatiza dizendo que “Tudo é textura: o skyline confunde-se com a calçada; olhar para cima equivale a voltar-se para o chão. A paisagem é um muro”. O autor afirma que o olhar viciado que não deixa perpassar a sobreposição de inúmeras camadas de material e que a paisagem é por si só anacrônica, pois é um acumulado que se constroem no entrelaçamento entre fluxos e sistemas de interface que se torna permeável nos espaços.


Assim, para construção do processo projetual, em alguns momentos para aproximação da área e maior entendimento de espacialização com o entorno, foram realizados experimentos de percursos para melhor compreensão do espaço. Chama-se de experimento de percurso, pois trata-se de um deslocamente - uma travessia - que começa em um ponto e termina em outro, não necessáriamente predisposto em uma linha reta, mas que é ocupado por diversas dinâmicas, e que então tornaria o caminho com um olhar mais sensível. Bourriaud (2009, p. 54) diz que “o trajeto entre dois pontos é mais importante do que o próprio ponto, os encontros são mais privilegiados do que os indivíduos postos em contato”. Assim, uma série de fotografias ajudou na construção e no reconhecimento do espaço com o intuito de auxiliar na percepção arquitetônica e espacial, gerando possíveis diretrizes nas áreas e confirmando as constantes áreas de encontros da região.

> Figura 9: Crianças brincando na rua Fonte: Acervo Pessoal

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26.02.2019, terça-feira

O percurso realizado no dia 26/02 (figura 10) com a turma do quarto semestre e os professores da disciplina de Urbanismo IV – Sociedade e Cidade, aconteceu com o intuito que os alunos realizassem uma pesquisa de campo e uma aproximação maior com área, possibilitando que os mesmos se familiarizarem com o território que iriam analisar e projetar na disciplina de Projeto IV. Durante o percurso, fomos observando as áreas residenciais e comerciais, a dificuldade para andar nas calçadas e a falta de iluminação em alguns trechos. O ponto de partida foi o metrô Liberdade, seguindo rumo à Missão da Paz, na Igreja Nossa Senhora da Paz. Na chegada, a recepção foi realizada com uma apresentação do Padre Antenor Dalla Vecchia que explicou todo o processo e ações junto aos imigrantes que recorrem à Igreja. De acordo com as palavras proferidas pelo padre, a missão estabelecida por eles é um conjunto de quatro diretrizes, que fundamentaram também a base deste trabalho, sendo elas: Entender, Integrar, Celebrar e Acolher (figura 18).

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> Figura 10: Percurso proposto Fonte: Elaborado pela autora

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^ Figura 11: Ponto 01

^ Figura 12: Ponto 02


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^ Figura 13: Ponto 03

^ Figura 14: Ponto 04


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^ Figura 15: Ponto 05

^ Figura 16: Ponto 06


B. Potencial de galeria

C. Praça

S URBANOS

Assim, conforme a apresentação aconteceu, foram anotadas as palavras repetidas com maior frequência para que estas, de alguma forma, pudessem colaborar para a construção de uma narrativa que culminasse no ponto de partida da proposD. Miolo de quadra ta projetual, estabelecendo uma relação com as diretrizes colocadas em práticas pela Igreja, fazendo com que as mesmas pudessem ser expandidas para além daquele espaço.

DIREITO À CIDADE O desenvolvimento e a transformação das imagens são comparáveis a transformação das cidades, pela intensidade e tempo rápido. O que é pequeno, desaparece em meio a tanta informação e o olhar se perde. Onde existia uma perspectiva intencional, hoje existem inúmeros pontos de fuga. Ao se deparar com a cidade contemporânea, nota-se sobreposição de elementos, mas não a sobreposição do tempo. Como se recupera o olhar à paisagem? Como se atribui significado à paisagem nos lugares? Nesse contexto, destaca-se o papel do indivíduo e a importância da convivência pública intensificando-se na dimensão do espaço público e privado, na hipótese de que da mesma maneira que a cidade está contida no interior dos edifícios, os mesmos se dissolvam para compor o ambiente da cidade nas ruas. Assim, se sobrepõem e coexistem de maneira que ambas estão sempre presentes nos espaços que antes eram identificados separadamente entre interior e o exterior. O projeto oferece uma resposta de como reinventar o conceito de temporária e permanente para garantir que a paisagem urbana que está se moldando em sincronização com as constantes mudanças da cidade contemporane. É possível imaginar estruturas flexíveis, adaptáveis e protetoras para abrigar uma paisagem potente e capaz de permitir o relacionamento através de uma membrana e meio ao caos e a aversão dos valores que constroem a cidade, é dar a chance a uma nova interpretação de leitura. A intenção é de um questionamento que tenha a possibilidade de reforçar o percurso e o desenho urbano e a consequência da estrutura dela afim de desenvolver experiências que evocam os agentes a preencher um espaço com práticas alternativas ao “modelo tradicional urbano” mais sustentável e sensível ao ambiente. Sendo um modelo urbano aberto e social onde está inserido,

CONCEITOS

ESPAÇO PÚBLICO APROPRIAÇÃO

PRÁTICAS

SOCIABILIDADE

PERMANÊNCIA

CONEXÃO

MULTIPLICIDADE

PAUSA

TRAVESSIA

MOVIMENTO

(olhar sensível)

DIRETRIZES

CIDADÃO COLETIVO

PÚBLICO X PRIVADO

OCUPAÇÃO NA RUA

ESTRÁTEGIAS

PAISAGEM URBANIZAÇÃO

ENTENDER

(flauner)

ACOLHER

(fluxo de transeuntes)

CELEBRAR

INTEGRAR

resultando em novos espaços potenciais.

^ Figura 17: Ponto 07

^ Figura 18: Fluxograma de diretrizes Fonte: Elaborado pela autora

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19.04.2019, sexta-feira

O percurso realizado no dia 19/04 (figura 19) foi apenas um trecho comparado a primeira visita e estava sozinha. Era um dia ensolarado, diferente do primeiro, que durante o dia e madrugada do dia anterior já havia chovido muito e por conta disso lixo era algo predominante, difulcultando um pouco a caminhada. Andei mais de uma vez na rua que é considerada a mais importante pelo comércio, a Rua Conde de Sarzedas. E de fato, a dinâmica construída no espaço e o que o comércio religioso significa nesse bairro, é impressionante pois de ponta a ponta a grande maioria são lojas.

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> Figura 19: Percurso proposto Fonte: Elaborado pela autora

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Atualmente, mais um edifício residencial vai ser lançado nessa rua, com propagandas de otima localização e a aproximação do metrô Liberdade e o barulho era constante, junto com o barulho dos carros em direção a Avenida Glicério e algumas outras lojas que anunciavam suas promoções. A praça, como o padre já tinha comentado, é uma das poucas áreas públicas que tem no bairro e por mais que esteja um pouco abandonada, as pessoas de fato usufruem do respiro que é esse espaço público, principalmente as crianças que já estudam na escola próxima da área.

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^ Figura 20: Ponto 01

^ Figura 21: Ponto 02


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^ Figura 22: Ponto 03


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^ Figura 23: Ponto 04


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^ Figura 24: Ponto 05


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^ Figura 25: Ponto 06

^ Figura 26: Ponto 07


47 ^ Figura 28: Ponto 09

^ Figura 27: Ponto 08


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21.07.2019, sábado

O percurso realizado no dia 21/07 (figura 29) também foi em um momento de reconhecer a área e andar sem um mapa com roteiro definido. Dessa vez, não comecei pelo ponto de partida das outras vezes - o metrô da Liberdade, fiz o caminho inverso e comecei descendo a Rua São Paulo. Era um dia de grande movimento, mas percebi claramente, que conforme ia ficando mais distante da rua da Liberdade, as ruas lotadas de vendedores ambulantes e pessoas entrando em lojas, eram claramente substituídos por moradores de ruas, imigrantes indo trabalhar ou crianças brincando nas ruas. A Rua Sinimbu, estava praticamente vazia e silenciosa e reparei que tinha bastante lixo também e pelas ruas por mais que fossem espaços livres para as crianças, não haviam quase nenhuma iluminação pública. Só se percebe, também, a barreira que o viaduto é para a região quando se precisar atravessar ele. Digo, como pedestre e não de carro (como faço todos os dias), são pessoas em todas as direções, crianças e carros em diferentes sentidos e que serve apenas como passagem.

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> Figura 29: Percurso proposto

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Ao subir a Avenida, já se ver um movimento um pouco maior, a igreja está aberta e gera um movimento grande com alguns vendedores de legumes e verduras na frente. Existe também

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alguns brechós ambulantes, e muita gente se comprimentando na rua, tornando até meio difícil a caminhada pela calçada. Na escadaria Anitta Ferraz, lugar considerado por alguns um pouco perigoso, é para muitos uma passagem e é uma área residencial também. No meio da tarde, haviam crianças bricando, pessoas cortando caminho e alguns imigrantes indo trabalhar também. É uma área considerada de baixo movimento e muito próximo do viaduto, aonde se encontra mais moradores de rua e usuários de drogas, trazendo esse movimento apenas durante o dia.

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^ Figura 30: Ponto 01


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^ Figura 31: Ponto 02


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^ Figura 32: Ponto 03

^ Figura 33: Ponto 04


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^ Figura 34: Ponto 05


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^ Figura 35: Ponto 06


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^ Figura 36: Ponto 07


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^ Figura 37: Ponto 08


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^ Figura 38: Ponto 09

^ Figura 39: Ponto 10


Rua Sinimbu / Rua Lins (sem sáida) Para uma aproximação maior da área, também foi elaborado um guia de representação das atividades do dia-a-dia, da movimentação dos moradores do Glicério, a partir das eventuais atividades já realizadas por eles. O intuito é de mostrar a diversidade das ações, espera-se que o guia demonstre algumas percepções das dinâmicas vividas, simultaneamente, em diferentes espaços.

MANHÃ Moradores dos cortiços próximos saem para trabalhar; Consumo de droga próximo a vielas; Crianças vão para escola; Policia militar faz uma ronda pela região; Movimentação pelo comércio da Rua São Paulo;

TARDE 58 Movimentação grande na escola - entrada/saida de alunos; Policia militar faz sua uma ronda pela região; Movimentação pelo comércio da Rua São Paulo; Moradores dos cortiços próximos voltam do trabalho;

NOITE > Tabelas de atividades da região. Fonte: Elaborado pela autora

Consumo de droga próximo ao viaduto; Grande movimentação pelo comércio da Rua São Paulo; Posto policiais aumentam na rua;


Rua Conde de Sardezas MANHÃ Moradores dos cortiços próximos saem para trabalhar; Movimentação cresce pelo comércio que está abrindo; Fluxo de carros aumenta em direção ao centro;

TARDE Consumo de droga próximo a vielas; Crianças brincam proximo a escadaria Anita Ferraz; Movimentação pelo comércio da Rua Glicério; Moradores dos cortiços próximos voltam do trabalho;

NOITE Baixa movimentação e pouca iluminação; Bares com pouca movimentação;

Rua Glicério MANHÃ Moradores (imigrantes) saem para trabalhar; Consumo de droga próximo ao viaduto; Crianças vão para escola - EMEF e CEI Quintal das crianças; Movimentação cresce pelo comércio que está abrindo; Fluxo de carros aumenta em direção ao centro;

TARDE 59 Movimentação grande na escola - entrada/saida de alunos; Grande fluxo de carros pelo viaduto; Imigrantes se concentram em frente a Igreja N. S. da Paz Moradores de rua se concentram embaixo do viaduto e na praça; Moradores (imigrantes) voltam para casa;

NOITE Missa na Igreja; Bares abertos tem pequena movimentação (durante a semana); Policiais fazem ronda pela região ;



CONTEÚDO:

são os elementos de apropriações coletivas e usos temporários que estão sendo utilizados para ativar o espaço.


Análise e diagnóstico do recorte no contexto da região do Glicério. Por onde se dão as possíveis interações entre a cidade e o cidadão?


atmosferaurbana Com base nos estudos realizados sobre a cidade de São Paulo, definiu-se como recorte espacial para esta pesquisa, a área do Glicério e a relação dos espaços públicos como potencial articulador social em seu traçado urbano com suas transformações físicas, sociais e simbólicas. Nesse capítulo, por meio das análises e diagnósticos do Glicério, como fragmento de cidade, foram produzidas leituras e cartografias durante as visitas in loco, como forma de estudo, interpretações e aproximações vistas sob a ótica da sua ocupação histórica, movimentação cultural e fluxos dos transeuntes. Durante as visitas, o olhar sempre foi direcionado aos espaços livres e como a relação dos moradores existia em diferentes escalas. Mesmo sem infraestrutura, os elementos característicos do bairro, como corredores, varandas e a própria rua, são usados frequentemente como lugares de trocas sociais.

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Esse critério aponta para a existência de um denominador comum que estabelece a extensão da própria casa como um local para a coletividade, no qual os espaços subutilizados exercem uma potencialidade em relação à vida coletiva na cidade. Por ser uma área desvalorizada, a região possui uma paisagem múltipla, formada pela junção de cortiços, cooperativas de reciclagem de lixo, sindicatos, prédios públicos, antigas vilas operárias tombadas e, também, os novos edifícios verticalizados.

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Adriana Sansão Fontes (2013) conclui, em sua pesquisa intitulada Intervenções temporárias, marcas permanentes, sobre alguns aspectos relevantes entre a relação das intervenções e dos espaços coletivos para projetos urbanos. A autora argumenta que é possível realizar preparações para o território que não possua rigidez de uso, como projetos urbanos que unam arquitetura com paisagem, projetos nos territórios domésticos considerado um intermediário entre público e privado e o exemplo que se forma esse trabalho, sendo um projeto urbano como articulador de situações, onde espaços buscam a conexão de pessoas e lugares sendo possível a junção da realidade, permitindo que a amabilidade urbana tenha maior intensidade.

Quando o espaço físico se transforma em espaço social, na ocorrência da intervenção, é o momento de expressão da amabilidade urbana. Cabe ressaltar que o espaço com suas características atraentes está no comando, pois sem ele não se torna real a possibilidade de intervenção (FONTES, 2013.p. 29).

Fontes (2013) trabalha em torno de um termo denominado amabilidade urbana, que expresso no campo urbanístico, é um manifesto de conexões e interações nos espaços, que se desenvolve por “proximidade” e, segundo ela, é motivado pela potência das intervenções. A autora argumenta que: “as intervenções temporárias, cuja marca é a intenção transformadora, evidencia-se a ruptura do cotidiano registrando um “pico” nesse espaço-tempo” (FONTES, 2013, p. 380). Joaquin Sabaté (2013 apud FONTES, 2013, n.p.) afirma que o livro Intervenções temporárias, marcas permanentes potencializa a verdadeira intenção de um espaço público com sua identidade e que o cruzamento de cultura pode tornar um lugar memorável. Assim, com base no referencial teórico estabelecido por Fontes (2013), foi mostrado na maquete (figura 40) as interações que referenciam os principais pontos de amabilidade nos espaços públicos existentes no Glicério, de acordo com os percursos realizados nas visitas à região.


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^ Figura 40: Maquete física de pontos de amabilidade na região do Glicério Fonte: Acervo pessoal




< Figura 41: Fotografia na Praรงa Ministro Costs Manso Fonte: Acervo pessoal


EXPERIÊNCIA II:

PAUSA Olhar sensível entre derivas e pausas


Ampliação do percurso dentro do Glicério e o processo de escolha das áreas.


Nota-se que os espaços residuais representam similaridade de uso ou situações como: estacionamentos, vielas, pequenas praças ou vazios subutilizados. Na busca por formar padrões, ou agrupamentos, que ajudassem na etapa final de projeto, foram estabelecidos grupos, classificados como interstícios urbanos. De acordo com Guerreiro (2008) em arquitetura, por analogia ao termo da Biologia que se refere a um espaço existente na estrutura de um órgão ou um tecido orgânico, usa-se este conceito para diferenciar o não edificado, considerando esses espaços como positivo e negativo. Esta analogia nasceu da comparação entre cidades não planejadas, que se desenvolveram espontaneamente e se assemelham a um organismo vivo. O espaço edificado, portanto, se considera como cheio; e, o interstício como plano vazio, mas que não deixa de ter sua forma, dimensão e escala. De acordo com Guerreiro “uma forma arquitetônica resulta do encontro entre massa e o espaço” (2013 apud CHING, 1998, p. 95). Assim, como as variáveis urbanas, os interstícios podem ser tanto espaços negativos e residuais como também espaços positivos, nos quais se tem um significado e uma função própria de acordo com a apropriação urbana.

Segundo Cláudia Burnier (2002 apud FONTES, 2011 p. 211) “para assumir uma função pública, a arte deve ter como princípio básico e indispensável criar obras artísticas “com e para” determinando lugar”. Assim, cada interstício foi analisado separadamente, resultando em soluções práticas de microescala, levando em consideração suas potencialidades, usos e ações geradas no espaço. O primeiro mapa (figura 42) realça o que foi analisado na pesquisa de campo, sendo comprovado que, em quase todas as quadras, pelo menos um terreno é direcionado a área livre de estacionamentos, estabelecendo muitas barreiras e proporcionando um aglomeramento desproporiconal para a área.

71


0

72

100

400


Observa-se, também, que pelo levantamento do Geo Sampa, o reconhecimento da realidade existente no que se refere a quantidade de cortiços na região é duvidosa, visto que pelo levantamento realizado por Paula Souza em 2006 (figura 43), é possível perceber que muitos cortiços não foram incluídos, gerando dúvida sobre o fato de minimizar a real situação em que a região se encontra. Nos mapas seguintes (figuras 44 e 45), demonstra-se o cruzamento de informações sobre os espaços residuais com as instituições sociais presentes no Glicério, significando um primeiro movimento em direção a uma ação projetual para conexão durante o percurso. Como mencionado por moradores da região, observa-se a falta de espaço público e livre, sendo as poucas áreas existentes em estado pouco conservado, impossibilitando gerar conforto e interação social.

> Figura 42: Mapa com levantamento de estacionamento Fonte: Elaborado pela autora

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> Figura 43: Mapa com levantamento de cortiço Fonte:: Elaborado pela autora com base no mapa digital de São Paulo (2004) e mapa de levantamento de Paula Souza (2016)

74

0

100

400


> Figura 44: Mapa com levantamento de equipamentos públicos

100

0

400

Fonte: Elaborado pela autora com base no mapa digital de São Paulo (2004).

4

15 13

16

14 3

12 1

1. EMEF Duque de Caxias 9

11

10

8

6 7

5 17 2

75

2. CEI Divina Providencia 3. CEI Quintal da Criança

4. SESC Carmo 5. CCA Irmã Derly 6. Cooper Glicério 7. Street Boxing Glicério

8. Igreja Petencostal Deus é Amor 9. Missão de Paz 10. Igreja Presbiteriana Han-In 11. Igreja Petencostal 12. Igreja Fé no Brasil 13. 1 Sede Nacional Deus é Amor 14. Igreja Cristã Petencostal em Cristo

15. Praça Ministro Costa Manso 16. Praça fechada ao público 17. Praça José Luiz de Melo


> Figura 45: Mapa com levantamento áreas potenciais 0

Fonte: Elaborado pela autora

6

100

400

7

5 1

2 4

76

3 17 16

8

15

9 10

14 13

11 12

1. Estacionamento 2. Escadaria Anita Ferraz 3. Estacioanamento 4. Terreno abandonado 5. Praça Ministro Costa Manso 6. Estacionamento 7. Praça fechada ao público 8. StreetBoxing Glicério 9. Cooper Glicério 10. Praça José Luiz de Mello 11. Terreno Vazio 12. Terreno vazio 13. Casa abandonada 14. Rua sem saída 15. Sobra de terreno 16. Sobra de terreno 17. Fundo de galpão (terreno vazio)


O percurso definido juntamente com os quatro espaços selecionados (figura 46) envolve um critério de relação com o entorno de pontos de referência para os moradores, a opção de cada terreno com sua característica dentro dos interstícios urbanos, os espaços com capacidade de convívio, focando em novas centralidades no bairro e buscando melhor distribuição de equipamentos e serviços que dinamizam a vida urbana, densidades e usos dos locais, propondo, assim, maior área útil de diversidade projetual.

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> Figura 46: Mapa com levantamento รกreas escolhidos Fonte: Elaborado pela autora

0

100

400

3

78

2 1

4

1. Estacionamento na esquina 2. Terreno abandonado (Potencial de Galeria) 3. Praรงa Ministro Costa Manso 4. Terreno vazio


Na cartografia a seguir (figura 47) produzida no início do ano para ajudar no processo de fundamentação do trabalho, foi possível ter uma percepção inicial depois de realizar a primeira visita ao local, mas que serve para conclusão de informações dos levantamentos e a relevância de informações coletadas. Para construção desta imagem, foi necessário que se tivesse informações determinantes do local, evidenciadas por meio de fotos autorais, trechos de música e mapas. Entre as camadas existentes, o mapa da região está marcado pelo trecho de uma das visitas na região, deslocado disso estão alguns terrenos subutilizados, a faixa representando o marco principal da barreira do viaduto e consequentemente a demolição do teatro, um dos maiores cortiços da região, algumas portas de residências antigas que permanecem e dão cor ao lugar e um dos principais atores sendo crianças brincando em vielas que se formaram pelo viaduto. E por fim, um trecho da música de Chico Science, que gera uma crítica à cidade, reforçando a ambição e que a cidade - de fato - nunca para, cresce cada vez mais.

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O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas Que cresceram com a força de pedreiros suicidas Cavaleiros circulam vigiando as pessoas Não importa se são ruins, nem importa se são boas E a cidade se apresenta centro das ambições Para mendigos ou ricos e outras armações Coletivos, automóveis, motos e metrôs Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade se encontra prostituída Por aqueles que a usaram em busca de saída Ilusora de pessoas de outros lugares A cidade e sua fama vai além dos mares No meio da esperteza internacional A cidade até que não está tão mal E a situação sempre mais ou menos Sempre uns com mais e outros com menos A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce

+ PONTES - MUROS

Eu vou fazer uma embolada, um samba, um maracatu Tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu Pra a gente sair da lama e enfrentar os urubu (Chico Sciencie- A cidade)


O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas Que cresceram com a força de pedreiros suicidas Cavaleiros circulam vigiando as pessoas Não importa se são ruins, nem importa se são boas E a cidade se apresenta centro das ambições Para mendigos ou ricos e outras armações Coletivos, automóveis, motos e metrôs Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade se encontra prostituída Por aqueles que a usaram em busca de saída Ilusora de pessoas de outros lugares A cidade e sua fama vai além dos mares No meio da esperteza internacional A cidade até que não está tão mal E a situação sempre mais ou menos Sempre uns com mais e outros com menos

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A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce A cidade não pára, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce Eu vou fazer uma embolada, um samba, um maracatu Tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu Pra a gente sair da lama e enfrentar os urubu (Chico Sciencie- A cidade)

> Figura 47: Cartografia da Baixada do Glicério Fonte: Elaborado pela autora > Figura 48: Ampliação da letra de música de Chico Sciencie



CONCEITO

é a busca pela construção do módulo comum – os desafios encontrados, as estratégias utilizadas para alcançá-lo.


“As intervenções efêmeras, apesar de temporárias, pode ser de impacto duradouro, pois é o poder da experiência, mas que sua duração, o importante pra que se meça seu efeito na cidade.” (KRONENBURG, 1998).


módulocomum O conceito de adaptação e integração de objetos que não são propriamente usados para sua função já está inseridos no cotidiano de muitas pessoas que transformam diferentes objetos para suprir suas necessidades, seja para trabalho como vendedor ambulante ou para sobrevivência na rua, como nômades, que vão da criação de móveis até opções para transportar objetos pessoais. Assim, torna-se evidente a busca por um módulo comum que proporcionasse diferentes elementos com a mesma base, se ajustasse a quem mais precisa – os próprios usuários. A elaboração do processo de criação para esse projeto tem a intenção de reproduzir de diferentes formas, as distintas necessidades de adaptação que a estrutura do andaime pode proporcionar – não somente nos espaços propostos, mas, também e até mesmo, em toda cidade. Com a flexibilidade do módulo estrutural, tem relação com a arquitetura do espaço já que o design do objeto permite a facilidade de montagem

85


e de encaixes para diversas variações (figura 49 e 50) que só é permitido pelo material de aço galvanizado e suas diversas formas de conexões. Nessa condição, o projeto a segu uniu-se à análise das áreas potenciais e sua capacidade de gerar um espaço público como articulador social e estipulou algumas possibilidades para o suporte à vida cotidiana e eventuais práticas alternativas de como preencher um espaço vazio.

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construção da atmosfera que pode ser constituída com a colaboração de todos, em uma pausa no cotidiano e de poder se sentir pertencente a um lugar com sua identidade local.

Abílio Guerra (2018), arquiteto e editor do portal Vitruvius, escreveu uma crônica sobre os andaimes na qual concluiu sobre a semelhança entre nós e o módulo comum. O autor afirma que, para muitos, o elemento próprio pode ser apenas a estrutura provisória da verdadeira arquitetura, fazendo jus da forma a sua função, mas que na verdade, metaforicamente, expressa que as construções têm mais semelhanças com nós mesmos em relação a arquitetura – já que damos o suporte para fazê-la. “Paulo Mendes da Rocha afirma que objetivo da arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida. Se ele está certo – e creio que está -, a história da arquitetura é a história do andaime” (GUERRA, 2018, n.p.). Acrescenta-se, ainda, a relação estabelecida por Kronenburg (1998) que explora o tempo com o impacto que a intervenção pode ter na cidade e para a cidade, incentivando a

^ Figura 49: Módulo base Fonte: Elaborado pela autora


87

< Figura 50: Elevação frontal (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora < Figura 51: Planta baixa e detalhes do módulo (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora


MODULO FECHADO MODULO FECHADO

módulofechado

modelo multifuncional

88

nível +0.50 PlantaPlanta nível +0.50 escala 1:20 escala 1:20

nível +0.60 PlantaPlanta nível +0.60

escala 1:20 escala 1:20


Grelha Metálica

módulo conexão

módulo venda

/integrar/

/celebrar/

Perfil metálico para suporte de painel

módulo conexão Grelha Metálica

módulo permanência

módulo venda

/integrar/

/celebrar/

/integrar/

Perfil metálico para suporte de painel

módulo lúdico módulo exposição /acolher/

Montante metálico Placa OSB

módulo permanência

/entender/

módulo palco módulo biblioteca /celebrar/ /entender/

/integrar/

módulo lúdico

módulo apoio

/acolher/

/acolher/

módulo palco det.01

Montante metálico Placa OSB

/celebrar/

módulo venda (aberto) /celebrar/

e= 30mm

e= 30mm

Elevação Frontal escala 1:20

Corte A.A

Corte A.A

escala 1:20

escala 1:20

AÇÕES INDIVIDUAIS

Cantoneira Cantoneira

Manta Alwitra Rosetas d= 0,80cm Isolante Térmico

Rosetas d= 0,80cm

Sapata ajustável em aço galvinizado 0,70cm Travessa estabilizadora

Sapata ajustável em aço galvinizado 0,70cm

e= 25mm

Travessa estabilizadora Barreria dee=vapor 32mmpolietileno

e= 32mm

Placa de base

Placa de base 200 x 200 x 5 mm

Grelha metálica

Placa OSB

200 x 200 x 5 mm

Perfil guia “U” de teto para acabamento

e= 18mm

(30x20mm) / e= 0,05mm detalhe detalhe 02 03 detalhe 04 conexão das travessas conexão contraventamento cobertura do módulo

detalhe 01 detalhe 02 base conexão das travessas

detalhe 01 base

módulo exposição

módulo biblioteca

/entender/

/entender/

módulo apoio módulo exposição /entender/

/acolher/

módulo biblioteca módulo venda (aberto) /entender/

/celebrar/

módulo apoio módulo conexão /acolher/ /integrar/

detalhe 03 detalhe 05 conexão contraventamento entrada de ar

módulo venda módulo venda (aberto) /celebrar/

módulo conexão /integrar/

/celebrar/

módulo lúdico

módulo permanência módulo conexão /integrar/

/acolher/

/integrar/

Placapolicarbonato policarbonatoaoveolar aoveolar Placa (500x2500mm)/ e= / e=40mm 40mm (500x2500mm)

PainelOSB OSB Painel 18mm e=e=18mm

Manta Alwitra

Manta Alwitra

Isolante Térmico

Isolante Térmico Térmico- Lã de Rocha Isolante

e= 25mm

e= 25mm

Sapata Placaajustável OSB em aço galvinizado

Barreria de vapor polietileno

Barreria de vapor polietileno Grelha metálica Placa OSB Perfil guia “U” de teto para e= 18mm acabamento

Grelha metálica Placa de base 200 xPerfil 200 xguia 5 mm“U” de teto para acabamento

Placa OSB e= 18mm

escala1:20 1:20 escala

detalhe 04 cobertura do módulo

detalhe 04 05 detalhe cobertura do módulo entrada de ar

d= 0,80cm

Placa OSB e= 18mm Travessa estabilizadora

0,70cm e= 18mm

e= 32mm

(30x20mm) / e= 0,05mm

(30x20mm) / e= 0,05mm

Plantanível nível+0.60 +0.60 Planta

Cantoneira Rosetas Metalica

Cantoneira Metalica

detalhe 01 detalhe detalhe 05 06 base entrada de ar acabamento

detalhe 02 detalhe 06 conexão das travessas acabamento

cone


+

+

variações-

90

SUPORTE DE VENDA

HORTA VERTICAL

Módulo vendas paralalelas a rua principal de comércio da região.

Apoio de horta comunitária


91

FEIRA LIVRE

PERMANÊNCIA

Módulo base para suporte de vendas paralalela a rua principal de comércio da região.

Lugares de permanência nos espaços públicos


variações-

corte A.A escala 1:20

92

VENDA

EXPOSITOR

Módulo de suporte para vendas ambulantes com diversas funções como café ou ponto de informação.

Painéis de chapa metálica como suporte para exposições e/ou informações na região.


corte A.A escala 1:200

orte para ião.

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CONECTOR

PERMANÊNCIA

Escadaria para permanência ou conexão com mirante no patamar superior

Elemento de suporte para descanso durante o percurso.


+

+

variações-

94

SINALIZADOR

FEIRA LIVRE

Painéis de chapa metálica como suporte para exposições e/ou informações na região.

Módulo base para suporte de vendas paralalela a rua principal de comércio da região.


lalela

95

PALCO

MÓDULO LÚDICO

Suporte para eventos aos finais de semana

Elemento lúdico para gerar interação entre os usuários.


variações-

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MIRANTE MIRANTE de metálica chapa metálica como suporte PainéisPainéis de chapa como suporte para para exposições e/ou informações na região. exposições e/ou informações na região.

PERMANÊNCIA PERMANÊNCIA Elemento de suporte para brincadeiras no espaço. Elemento de suporte para brincadeiras no espaço.


paço.

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MÓDULO LÚDICO

ARMAZENAGEM

Elemento de suporte para descanso durante o percurso.

Painéis de chapa metálica como suporte para exposições e/ou informações na região.


1

4


3

2


< Figura 52: Variações do módulo base (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora < Figura 53: Variações do módulo base (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora < Figura 54: Variações do módulo base (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora < Figura 55: Variações do módulo base (sem escala) Fonte: Elaborado pela autora < Figura 56: Perspectiva das áreas de intervenção Fonte: Elaborado pela autora


EXPERIÊNCIA III:

MOVIMENTO Construção de um lugar


Como reinventar o conceito de temporário e permanente para garantir que a paisagem urbana esteja em sincronização com as rápidas mudanças de culturas urbanas?


Procurou-se trabalhar uma arquitetura como resultado das investigações e análises que vão além do resultado projetual, por meio de potencialidades dos espaços e tensões programáticas, criando um suporte no percurso de ligação, tornando os espaços mais flexíveis e adaptáveis ao tempo, para atividades espontâneas e imprevistas. Como é introduzido no livro Microplanejamento práticas criativas, organizado por Marcos Rosa (2011), a falta de registros de projetos que focam na escala local define a invisibilidade de como possíveis táticas na escala do microplanejamento deveriam ser necessárias para se pensar a cidade. Portanto, as ações propostas têm como princípio a elaboração de um sistema que consiste em compreender as demandas e não somente respondê-las, mas também propor atividades que impulsionem maiores relações entre novos moradores com uma população consolidada na região. O intuito é de tentar elaborar essas atividades visando interesses comuns dos frequentadores e moradores, as quais podem ser identificadas como as potencialidades dessas áreas e criar uma troca entre os grupos. Espera-se, portanto, estimular as pessoas do bairro a elaborar eventos e situações

centradas na criação, desenvolvimento e construção das suas próprias concepções, com o intuito de desenvolver um projeto que traga possíveis experiências urbanas ao cotidiano que permeiam todo o percurso. Nas quatro propostas, as intervenções têm a utilização do elemento como conjunto de uma dinâmica urbana. As áreas trabalhadas visam direcionar o olhar à cidade e tem como importância a possibilidade de qualificar e requalificar situações urbanas dentro do espaço urbano contemporâneo. Essa qualificação provoca, em cada indivíduo, diferentes sensações, capazes de incentivar o exercício da liberdade em ações e interações lúdicas com o espaço construído. Normalmente, é preciso de muito pouco (além de imaginação e alguns poucos materiais) para potencializar as interações em um espaço. As práticas sociais neles realizadas, e o tensionamento gerado entre a relação público e privado, são resultantes de um processo de produção desenfreado da cidade. As discussões não se limitam apenas aos espaços públicos, mas também na relação com o entorno e o impacto gerado sobre eles. É fundamental, portanto, o incentivo às práticas socioespaciais que podem se estabelecer em novas formas de apropriação ao espaço.

103


terreno n.01 VIELA

terreno n.02 GALERIA


> Figura 57 e 58: Perspectivas isométricas da áreas 01 e 02 Fonte: Elaborado pela autora

contextoÁrea densamente construída, com grande concentração de comércio religioso, uma das mais extensas quadras e com a com topografia elevada. Encontra-se ao meio da escadaria da Rua Anita Ferraz, sendo uma viela pequena e utilizada pelas crianças para espaços de brincar. Configura-se em um ambiente de alta densidade para tipologias mistas e sobrepostas, porém, com espaços abertos subutilizados devido ao receio de usar as vielas como passagem, deixando grandes espaços residuais.A segunda abertura seria uma opção voltada para as vilas existentes, com a intenção de que o percurso tenha uma segunda possibilidade e seja uma extensão da rua como ativador da área.

Integrar

Acolher

Entender

+

+

105


terreno n.01

fragmentação

integração

terreno n.02

investigação

investigação

fragmentação

integração


> Figura 60 e 61: Perspectivas da área 01

problemáticas

Fonte: Elaborado pela autora > Figura 62: Perspectiva isométirica da área 01 Fonte: Elaborado pela autora

- Terreno vazio; - Viela sem iluminação; - Lixo acumulado; - Muros; - Quadra extensa.

soluçõesA inserção de um jardim comunitário irradia ações, articulando objetos existentes nos espaços adjacentes, até então caracterizados por uma única função (passagem). A proposta prioriza: identificar os vazios; plantar hortas; proporcionar uma nova paisagem com equipamentos que sejam impactados pelos usuários da área e inserir em um trecho específico novas articulações de um projeto que reconhece uma nova estrutura e proporciona suporte para o desdobramento de situações rotineiras.

> Figura 59: Esquema de ánalise do terreno 01 e 02 Fonte: Elaborado pela autora com base no Google Earth

107


108



possibilidades de usos - suporte de horta comunitรกria

110


vista escala 1:50


112

vista lateral escala 1:50


estante de chapa OSB

variações de uso escala 1:100

chapa metálica


114

^ Figura 63: Perspectiva da área 02 Fonte: Elaborado pela autora > Figura 64: Perspectiva isométirica da área 02 Fonte: Elaborado pela autora



A.A


A.A

implantação escala 1:200



corte A.A escala 1:200


terreno n.03 PRAÇA


> Figura 65: Perspectiva isométrica da áreas 03 Fonte: Elaborado pela autora

contextoUm dos poucos espaços públicos na área, porém com seu entorno mais adensado com cortiços verticais e próximo à entrada principal da área (Rua do Glicério) com um alto fluxo de diversidade, abriga a Igreja Nossa Senhora da Paz, importante templo católico que data de 1940 e desde 1978 realiza um trabalho de acolhimento de imigrantes. No mesmo terreno, o CEI Quintal da Criança (Creche) atende cerca de 250 crianças. Esta rua comporta, ainda, os fundos da EMEF Duque de Caxias e a sede da Associação Minha Rua Minha Casa, que acolhe moradores de rua.

Integrar

Acolher

Celebrar

+

+

121


investigação

fragmentação

integração


> Figura 67 e 68: Perspectivas da área 03

problemáticas

Fonte: Elaborado pela autora > Figura 69: Perspectiva isométirica da área 03 Fonte: Elaborado pela autora

- Barreiras visuais; - Área verde ameaçada. - Lixo acumulado; - Iluminação pública

soluçõesAdicionar relações, aumentar a complexidade: articular objetos existentes, ativando espaços caracterizados sem função. Proporcionar suporte local aos vendedores concentrados na região e dar novos pontos de contato em nichos de encontro como plataforma de lazer em diferentes momentos dos dias.

> Figura 66: Esquema de ánalise do terreno 01 e 02 Fonte: Elaborado pela autora com base no Google Earth

123


124



possibilidades de usos - suporte de feira livre

126


estante de chapa OSB

vista escala 1:100

variações de uso escala 1:100

chapa metálica


10.50 1.50

1.50

1.50

1.50

1.50

1.50

1.50

3.00 3.00 12.00

3.00 3.00

planta inferior escala 1:25


vista escala 1:50


terreno n.04 TERRENO VAZIO


> Figura 70: Perspectiva isométrica da áreas 04 Fonte: Elaborado pela autora

contextoA rua Lins é uma das pequenas ruas sem saída e segue em contraste com um grande edifício habitacional em oposição à qualidade do bairro ainda existente. Foi completamente pintada pelas crianças da escola em uma ação socioeducativa. O outro lado do muro que dá fim à Rua Lins é, atualmente, um grande terreno vazio posto à venda há alguns anos. A Rua Sinimbu tem sua ocupação marcada por edifícios encortiçados e o CEI Liberdade. O trecho entre as Ruas São Paulo e Lins é o mais ativo durante o dia e a tarde, um espaço de consolidada sociabilidade que sobrepõe o fluxo de crianças, pais e moradores dos cortiços que ocupam a rua. O CCA Irmã Derly é outro projeto na área da Associação Maria Flor Carmeli, o Centro da Criança e do Adolescente oferece atividades extraescolares aos jovens da região. Integrar

Acolher

Entender

+

+

131


r. são paulo

r. lins

investigação

fragmentação

integração


> Figura 72: Perspectiva da área 04

problemáticas

Fonte: Elaborado pela autora > Figura 73: Perspectiva isométirica da área 04 Fonte: Elaborado pela autora

- Muros; - Estacionamento;

- Terreno Vazio;

- Lixo acumulado;

> Figura 71: Esquema de ánalise do terreno 04 Fonte: Elaborado pela autora com base no Google Earth

soluçõesAs ações propostas nesse terreno serão espaços de brincar e estar, bibliotecas, locais para contemplar o novo espaço, escadaria para arquibancada de teatro ou cinema e suporte para eventuais atividades como aulas externas das escolas próximas.

133


134





21.00

1.50 1.50 1.50

7.50

1.50

1.50

3.00

3.00

3.00

3.00

3.00

3.00


variações de uso - módulo suporte

3.00

grade de piso galvenizado de aço

Proposta de cinema ao ar livre suporte noturno

planta superior escala 1:100 Proposta de suporte a aula externa suporte para CEIs


140

vista escala 1:100


chapa metálica

estante de chapa OSB

141

variações de uso escala 1:100



Foi proposto também, pensando na junção entre o módulo comum e todos os terrenos, uma possível solução entre as problemáticas citadas entre todos, a questão da acessibilidade até como um fator comum entre as intervenções, uma proposta de piso e mobiliários urbanos que pudessem ser replicados e expandidos em diversos pontos do bairro.

143 acabamento em aço inoxicidável


Proposta de mobiliário urbano escala 1:25

Coluna de iluminação com fixação por aterramento


Concreto Intertravado

Piso + Área Verde

Área Verde

Proposta de combinação de pisos sem escala



consideraçõesfinais O principal objetivo deste trabalho foi relacionar o desenho urbano, de uma forma mais sensível, ao ambiente, por meio de intervenções propostas nos espaços já utilizados, mas que pudessem proporcionar um modelo urbano aberto e social. Ao mesmo tempo, com a investigação de todo o contexto histórico da área e identificação das suas potencialidades, sendo uma transeunte da região, a construção do lugar foi considerada uma co-criação e foi estabelecida a fim de criar uma infraestrutura como suporte para colaborar com um espaço dinâmico e gerador de relações por diversos deslocamentos de um bairro com tanta pluralidade. Ao invés de um cenário de passagem entre um ponto e o outro de um deslocamento, o espaço da cidade passa a ser um espaço vivido. É evidente que a cidade, tal qual se organiza hoje, é absolutamente hostil a essa prática, uma vez que claramente a prioridade no espaço público é a cir-

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culação de automóveis. Entretanto, quem busca conhecer a cidade a pé tem a oportunidade de se reconectar com a cidade, sendo capaz de fazer a crítica desse modelo e exigir outro, no qual estar será tão importante – ou mais – do rolque passar (ROLNIK, 2013, n.p.)

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É necessário entender a responsabilidade de propor uma perspectiva nova do modo de “pensar a cidade”, dentro da intervenção no projeto urbano, como um instrumento de política pública. Os espaços residuais que tanto mencionamos, só terão uma transformação de âmbito social quando a consciência do espaço for o próprio ato. Neste contexto, a arte pode ajudar a encontrar, em um espaço público, uma variedade de novas possibilidades que irão ajudar a construir uma nova percepção e uma consolidação da nova área. O projeto proposto, no entanto, não é uma solução definitiva e, sim, uma busca por respostas em um debate urbano e aberto para possíveis soluções nos fragmentados na cidade, que estão em constantes mudanças, e que carecem de atenção, mas que, quando pensados juntos, são essenciais para integração do bairro, promovendo ambientes mais seguros e que podem proporcionar um impulso de colaboração entre diferentes grupos, potencializando o sentimento de pertencimento que contribui, também, para a consciência do espaço habitado.


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< Figura 74: Cortiรงo na Rua Sinimbu Fonte: Acervo Pessoal


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