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Fernanda Cristina Silveira Nascimento
A CONCEPÇÃO ESPACIAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS COM A INCORPORAÇÃO DA TECNOLOGIA Da INFORMAÇÃO Uma proposta para Montes Claros, MG
Trabalho Monográfico apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa como requisito para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Douglas Lopes de Souza
Viçosa, MG 2016 I
II
Fernanda Cristina Silveira Nascimento
A CONCEPÇÃO ESPACIAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS COM A INCORPORAÇÃO DA TECNOLOGIA Da INFORMAÇÃO Uma proposta para Montes Claros, MG
Trabalho Monográfico apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa como requisito para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
APROVADA: 29 de junho de 2016
Prof. Denise Mônaco do Santos (UFV)
Prof. Túlio Márcio de Salles Tibúrcio (UFV)
Prof. Douglas Lopes de Souza (Orientador) (UFV)
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Sumário
FOLHA DE APROVAÇÃO
III
AGRADECIMENTOS
IX
INTRODUÇÃO
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JUSTIFICATIVA
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OBJETIVOS
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METODOLOGIA
14
O FUTURO DAS BIBLIOTECAS
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BIBLIOTECA, ESPAÇO EM TRANSIÇÃO
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PERSPECTIVAS FUTURAS
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ONDE ESTAMOS
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QUAL O RETRATO DESTE USUÁRIO
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POSSÍVEIS BARREIRAS NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
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ALGUMAS ESTATÍSTICAS INTERESSANTES
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CONTEXTO
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NOVOS TERMOS E CONCEITOS VISÕES SOBRE A BIBLIOTECA DIGITAL
QUANTO AO CIDADÃO QUANTO À BIBLIOTECA
NO BRASIL NO MUNDO
IV
16 17
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26 27
28 28 28 29 30 30 31 32 32 33 34 34 34 35 36 37 38 39
O QUE PODE EXISTIR ACERVO FÍSICO APOIO À PESQUISA, INFORMAÇÃO E ESTUDO BIBLIOTECA SÃO PAULO (ESTUDO DE CASO) VIDEOTECA, MUSICOTECA E OUTRAS MÍDIAS DISCOTECA ONEYDA ALVARENGA (ESTUDO DE CASO) CASA DE LAS IDEAS (ESTUDO DE CASO) APOIO À EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO A DISTÂNCIA LABORATÓRIOS E SALAS DE APOIO E TECNOLOGIA BIBLIOTECA JULIAN STREET COWORKING FABLABS MAKERSPACE MAKER LIBRARY NETWORK (ESTUDO DE CASO) INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS FORA DA CAIXA (ESTUDO DE CASO) MAIS PRAÇAS E ÁREAS PÚBLICAS GREEN SPACE LIBRARY
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PROPOSTA
41
O QUE IRÁ EXISTIR
46
ANÁLISES
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
41 41 42 42 42 43 43 44 44 44 44
46 52 54 55
ACERVO FÍSICO ACERVO DIGITAL SALAS DE LEITURA E PESQUISA SALAS MULTIFUNCIONAIS ÁREA DE REPRODUÇÃO DE MÍDIAS ESPAÇOS DE TRABALHO AUDITÓRIO LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA ADMINISTRAÇÃO ÁREAS DE EQUIPAMENTO HALL E CIRCULAÇÃO
TERRENO LEGISLAÇÃO ESTUDO DE SOMBRA CONDICIONANTES SOBRE O TERRENO
V
VI
“You never change things by fighting the existing reality. To change something, build a new model that makes the existing model obsolete.� (Buckminster Fuller)
VII
VIII
agradecimentos
Figura 1 - Adormecer (Falling Asleep) Puuung, 2014 (Tradução própria)
A todos que acreditaram que um dia eu chegaria até o final, mesmo quando eu mesma não o exergava, o meu mais sincero obrigado. Como sempre diz a minha querida amiga Mariana: “A rapadura é doce mas não é mole não!”. E não é mesmo! Só quem trabalha com esforço e enfrenta as dificuldades sabe o gostinho que é concluir uma etapa tão grandiosa e importante de nossas vidas. E é por essa razão que agradeço aos que deram aquele empurrãozinho necessário. Aos meus amados pais, Adão e Ester, que me apoiam e encorajam em todas as decisões que desejo tomar na minha vida, mas que sabem dar o puxão de orelha quando necessário. Em especial a minha mãe, a melhor orientadora não oficial de trabalhos acadêmicos. À minha amiga Mari, ex-colega de quarto e psicóloga em tempo integral. Agradeço por todos cafezinhos motivacionais de estudo, aos sábios conselhos no momento certo, a companhia nas horas boas e nas horas não tão boas assim. Ao meu namorado Zoárd, primeiramente pelos conselhos de estética impressindíveis na formatação do trabalho. Pela paciência em namorar uma pessoa que cursa Arquitetura e ter seus finais de semanas resumidos a ficar em casa. Por não me deixar cair a peteca e por estar ao meu lado sempre, obrigada. A minha amiga Raissa, que dividiu comigo muitas lutas, angústias e vitórias nos últimos tempos. Obrigada pelas mensagens de incentivo nas horas de desespero. Ao meu orientador Douglas que, sempre muito perspicaz, mostrou os rumos certos de uma ideia que parecia um tanto quanto utópica. Sem você, o resultado deste trabalho seria muito diferente (diferente para pior). Aos meus amigos de curso que partilharam dos mais variados sentimentos, não só durante a monografia, mas em todos os períodos desse maravilhoso curso que é a Arquitetura e Urbanismo. Sofremos juntos, mas triunfamos juntos também! Em especial a melhor turma do DAU, ARQ2011: os queridinhos dos Profs, amados pelo povo, odiados pelos invejosos. A turma que mostrou que fazer projeto é dividir ideias, compartilhar conhecimento e se divertir sempre. Vou sentir saudades migos. A professora Aline Werneck, que me mostrou que sempre devemos adicionar amor e dedicação naquilo que fazemos. A todos os amigos que depositaram em mim gestos de carinho e atenção e que, de alguma forma, contribuiram para formar o que sou hoje. Agradeço de coração.
IX
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Figura 2 - A Fรกbrica de Ideias Inus Pretoriusas, 2013
Introdução A crescente evolução dos métodos de comunicação e informação, traz profundas mudanças no modo como a sociedade vive e se relaciona. Dentro de um cenário de constante transformação, a tecnologia tenta responder às atuais necessidades humanas. A consequência disso é o surgimento da chamada “sociedade da informação” que busca exponencialmente conhecimento afetando os diversos meios sociais como lazer, moradia e trabalho. As relações entre homem e espaço físico se transformam conforme a inserção de novas interfaces de conhecimento e comunicação. Algumas delas não exigem a deslocação espacial no alcance do conteúdo desejado. Paralelamente, a interação social também se modifica, pois não é mais obrigatória a materialização do encontro entre pessoas para haver interação social, podendo esta ser feita em meio a interfaces digitais. No que interfere os serviços de uma biblioteca: A relação física com a biblioteca ou com os seus livros não é neste momento obrigatória para o acesso à informação. As redes de computadores e os novos suportes de informação proporcionam grandes mudanças na relação entre as bibliotecas públicas e os seus leitores. (VIEIRA, 2003, p. 70)
É perceptível que as bibliotecas passam atualmente por uma crise quanto ao entendimento de sua função social. A internet como conteúdo imaterial ofusca alguns de seus serviços principais, como o contato direto com a informação. A questão que precisa ser repensada é o real papel dessa instituição hoje. Esta não deve ser entendida mais como somente um armazém de livros, pois este domínio não depende exclusivamente de arquivos físicos. Essa reflexão interfere diretamente no entendimento de seu espaço físico que, juntamente com a arquitetura sofrerá diversos questionamentos para que seja materializada. O primeiro grande impacto será a consequência da digitalização de seu conteúdo, interferindo no programa arquitetônico. Uma das grandes dificuldades para entender o impacto da digitalização sobre a arquitetura, visualizando-o como conteúdo imaterial, segundo Saskia Sassen (2001): [...] consiste na adoção constante de categorizações analíticas que foram desenvolvidas em outras condições espaciais e históricas isto é, condições anteriores às da era digital. Assim a tendência é conceber o digital como única e exclusivamente digital, e o não digital, representado tanto material quanto como real (e os dois conceitos são igualmente problemáticos), como única e exclusivamente isto: não digital. (SASSEN, 2001 p.137)
No caso das bibliotecas, a junção entre digital e não digital “traz consigo a desestabilização das hierarquias de escalas anteriores” (Sassen, 2001), ou seja, é preciso conectar as duas partes repensando o escopo do projeto e, principalmente, sua escala tanto física quanto imaterial. O programa, o dimensionamento, as necessidades, o conteúdo, os fluxos, deverão repensado para que venha atender a uma resposta social atual. 11
JUSTIFICATIVA Para Suaiden (2000): O livre acesso ao conhecimento é primordial para a formação de comunidades autoconscientes, integradas na cultura local e global, ajustadas ao seu tempo e aptas a formular críticas e posicionamentos ideológicos (SUAIDEN, 1979).
Figura 3 - Technology 12 Cristöbal Schmal, 2013
Portanto, é dever da biblioteca prover um espaço de livre acesso e que proporcione todo o serviço necessário para assistência da população. A cidade de Montes Claros, MG, apesar de demonstrar forte expressão cultural e grande orgulho pela história de seu povo, não dispõe de espaços físicos suficientes para a realização dessas manifestações. O Centro Cultural existente não consegue suprir às necessidades da população, com espaços insuficientes para todos os setores que dispõe. A pequena biblioteca presente não oferece nenhum serviço além de um pequeno acervo de livros. Os demais espaços como auditório e salões para exposição também se mostram pequenos e com um programa de necessidades ultrapassado. É evidente a demanda de uma instituição de caráter público como uma biblioteca. Além da rica cultura local, a cidade é reconhecida como polo universitário, atraindo vários estudantes de todo o país. Contabilizando, Montes Claros é hoje dotada de uma Universidade Estadual (Unimontes), uma Federal (UFMG) e treze instituições de ensino superior particulares, sem contar o número de instituições do ensino fundamental e médio. Outro ponto que vale ser ressaltado é a carência de lazer público por parte da cidade. Além de urbanismo carente de mobiliário urbano, praças e parques, poucos são os espaços institucionais destinados ao lazer e entretenimento. Entende-se que o projeto arquitetônico será amplamente estudado quanto a sua viabilidade considerando as formas atuais de acesso a informação. Por isso, o emprego de tecnologia, digitalização, criação e encontro serão foco no processo projetual. Isso não significa que serão os únicos. O contexto atual de disposição da informação se mostra de forma híbrida e em período de transição, ou seja, tanto por meios tradicionais quanto modernos. Por isso, é importante inclusão digital da sociedade por etapas. Diante das questões acima levantadas, esta pesquisa se justifica a medida que investiga algumas variáveis de relativa importância ao acesso da sociedade motesclarense à informação no âmbito da realidade brasileira, e como tal aspecto reflete no papel da arquitetura local.
OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Compreender uma nova conceituação para uma biblioteca adequada à atual era da informação, levando em consideração as interfaces de comunicação e informação existentes (tanto físicas como digitais) e as questões locais: simbólicas, sócioeconômicas e culturais.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS Compreender alguns dos conceitos necessários que fundamentem a abordagem do tema da digitalização e sua relação com a arquitetura; Enriquecer o referencial teórico acerca das bibliotecas híbridas e investigar seu papel social; Prever os possíveis impactos da inserção de uma biblioteca híbrida na cidade sobre os seguintes aspectos: resposta social, tráfego, efeito nos interesses econômicos da região, horário de atividades nolocal e impactos visuais. Verificar as leis e normas existentes aplicadas na construção de bibliotecas públicas no Brasil; Estudar os usuários e como eles atuarão no espaço construído; Elaborar um programa de necessidades e um fluxograma que possuam todos os serviços de uma biblioteca pública híbrida, atendendo aos diversos usuários;
qualidades espaciais permitidas por esta interação. Avaliar as condições locais como: ambientais, físicas (relevo e barreiras visuais) e simbólicas como a representação sócio-espacial do local; Adequação do programa de necessidades e da escala do projeto às condições analisadas; Prever os possíveis impactos da inserção de uma biblioteca híbrida na cidade sobre os seguintes aspectos: resposta social, tráfego, efeito nos interesses econômicos da região, horário de atividades no local e impactos visuais. Análise da legislação local referente à implantação e viabilidade do projeto; Pesquisar materiais e técnicas construtivas que permitam a realização da proposta; Elaborar um pré-dimensionamento dos ambientes a serem projetados
Estudar a relação espacial interior/ exterior do projeto do projeto e a Figura 4 - Vasos cultivando ideias
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METODOLOGIA Como referencial téorico para o trabalho serão realizados estudos de casos a cerca de bibliotecas públicas, principalmente aqueles inseridos num contexto brasileiro ou que apresente semelhança as condições socioeconômicas locais. O trabalho desenvolverá revisões, leitura e análise de uma bibliografia acerca do tema, como livros, artigos, pesquisas acadêmicas e documentários. A revisão literária ajudará principalmente na resposta teórica e em parte do programa, que desde já se mostra num âmbito difuso e heterogêneo. Tanto os estudos de caso como a revisão de literatura deverão se atentar ao modo de inserção da tecnologia e às novas interfaces de informação dentro dos serviços de uma biblioteca. O estudo do terreno também é parte importante para entendimento da concepção projetual. Nele far-se-á a investigação e compilação das diferentes condicionantes acerca do local. Serão realizados levantamentos de dados urbanísticos, tais como os usos dos edíficios próximos e a questão da mobilidade e disposição do tráfego; condicionantes climáticas; leis de uso e ocupação do solo e similares; análise da demanda de serviços; dentre outros.
Figura 5 - Foto Parede de Tijolos Tanakawho, 2012
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O futuro das bibliotecas Figura 6 - London Public Library Marco gatti, Filippo bruttol, 2015
O maior questionamento sobre o futuro das bibliotecas se deve principalmente pela a obsolência de seu modelo atual. A forma de disseminação da informação nas bibliotecas não corresponde mais ao modo como as pessoas buscam a mesma. Diante do rápido acesso à internet e do grande conteúdo virtual hoje, as pessoas cada vez mais deixam de procurar arquivos em papel para sustentar uma pesquisa. Há quem diga que o fim das bibliotecas públicas está próximo. Uma parte da literatura, seja na área da biblioteconomia ou na área das ciência da informação, prevê a morte do sistema de aprendizado pelo papel e, consequentemente, o desaparecimento dos espaços destinados a seu armazenamento. De fato, a revolução da eletrônica bate às portas das bibliotecas e centros de informação e parece acenar para muitos com o destino inexorável de seu desaparecimento. Aparentemente, não há mais futuro possível para essas instituições,algumas em prédios suntuosos, que armazenam prioritariamente livros e todos os outros materiais de informação produzidos no suporte papel [...].Da mesma forma, não parece haver mais futuro para os profissionais responsáveis pelos acervos armazenados nas bibliotecas. (VERGUEIRO, 1997, p. 1-2)
Por outro lado, existem os otimistas que acreditam somente na evolução do sistema. Se tudo e todos estão se transformando conforme a inserção de novas tecnologias de informação, cabe a biblioteca saber se reestruturar para atender ao público atual. Para esses críticos, uma biblioteca é vista cada vez mais como um lugar onde as pessoas podem criar conteúdo e compartilhá-lo com outros membros da comunidade. A grande tendência são espaços de encontro onde a disseminação da informação alcança todas as suas formas de expressão. A biblioteca passa por uma revisão do seu papel, servindo também como centro comunitário para lazer e encontro, laboratórios de mídia, espaços de expressão artística, incubadoras de empresas, dentre outros. (JOHNSON 2016). Para que se entenda melhor o cenário, é preciso listar o que é novo e o que ainda permanece. Seguindo essa linha de raciocínio, faz-se um estudo sobre as principais questões e dos rumos que as bibliotecas do mundo estão tomando atualmente.
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Biblioteca espaço em transição Uma das primeiras coisas que se pensa quanto as inovações no campo das bibliotecas é a questão da biblioteca digital (BD). Sua compreensão abrange, quase que em sua totalidade, os novos caminhos e recursos que uma instituição está tomando atualmente. Embora represente a principal vertente, sua definição ainda se mostra bastante imprecisa e confusa. As inovações geradas pelas Novas Tecnologias de Informação e Educação (NTIE), marcadas principalmente pela internet, faz surgir um novo modelo de acesso ao ensino e informação, focado no usuário. Dentro de uma informação eletrônica onipresente, imagina-se que cada indivíduo será capaz de acessar informação. Os profissionais da área, antes detentores do conhecimento, ampliarão o campo de trabalho garanta o acesso dessa informação e não apenas aponte para ela (SAYÃO, 2009). Agora, novos tipos de profissionais e serviços surgem para complementar e enriquecer os recursos de informação das bibliotecas tradicionais, com soluções inovadoras para a produção, armazenamento e difusão científicas. Isso implica diretamente nas formas de trabalho de autores e bibliotecários, ou seja, dos produtores e intermediadores do conhecimento.
novos termos e conceitos A partir deste cenário de crise do termo “biblioteca”, tenta-se criar terminologias para definir suas transformações, tais como biblioteca virtual, biblioteca digital. Mas ainda que se observe grandes expectativas e especulações acerca do tema, não há conceito preciso do que seria uma Biblioteca Digital (BD). Segundo Sayão (2009): A impossibilidade de uma definição de consenso acontece por vários motivos, porém, o mais importante deles é que o termo “biblioteca digital” é usado para denotar um número extraordinário de coisas – de coleções pessoais até a internet inteira. Na maioria das vezes essas coisas só têm em comum uma remota manipulação de recursos informacionais digitalizados (SAYÃO, 2009 p.9).
A Biblioteca Digital acaba por se tornar um espaço sinérgico representado por um grande número de áreas da tecnologia da informação e várias outras no campos de pesquisa, como biblioteconomia, ciência da informação, museologia, arquivologia e muitos outros dependendo do objetivo. 16
Figura 7 - Colagem Tristram Mason
Visões sobre a biblioteca digital Grande parte das definições criadas acerca do tema é fortemente influenciada pela perspectivas particulares de pessoas e de organizações. A pluralidade de conceitos criou, além de um rico repertório teórico, um campo vasto e indefinido. Cada um constrói o conceito conforme o interesse na área (político, econômico ou social). Levando em consideração o papel do arquiteto, é fundamental listar todos aqueles que se relacionam direta ou indiretamente na concepção do objeto final.
Figura 8 - Colagem Rosto em Jornal
CIENTISTAS DA COMPUTAÇÃO Os profissionais ligados a área da ciência da computação compreendem o termo “Biblioteca Digital” como uma extensão dos sistemas de computadores em rede, ou seja, reduz o conceito a um sistema informacional de busca, arquivamento de dados, interfaces digitais e de pesquisa web. A medida que se aprofunda a análise das diversas áreas específicas das ciência da computação, mais o conceito se diversifica e se fragmenta (SAYÃO, 2009). Porém, de forma geral, todos são encaminhados para uma visão mais de virtualização de sistemas, do que real ou tangível.
POLITÍCOS E POLÍTICAS De acordo com Sayão (2009), parte da infraestrutura tecnológica necessária para a superação da desigualdade informacional e de acesso e inclusão, é a biblioteca digital, entendida pela maioria dos governantes como um mecanismo de fácil disposição da informação. Consideram a BD como um insumo básico para pesquisas, produção científica, ensino superior e pós-graduação e mecanismo de inclusão digital da população. Os investimentos nesta área, por parte dos governantes, ocorre com intensidade variável pelo país e grande parte dos investimentos são em infraestrutura computacional e de redes de acesso, representando as iniciativas mais simples do que se propõe em uma biblioteca digital. “Grande parte dos projetos mais relevantes são iniciativas do poder público, financiados por suas agências e, não raro, apoiados por segmentos da iniciativa privada interessada em expandir suas áreas de atuação” (SAYÃO, 2009, p.10).
MERCADO
Muito semelhante a essa perspectiva, existe a visão pelo comércio eletrônico que acredita na biblioteca digital como um meio de apropriação da informação virtual, ou seja, todo o conteúdo em meio digital seria controlado e comercializado pela mesma. Na visão de organizações de comércio, A BD desvincula-se do conceito de espaço físico, criando um novo tipo de mercado global, seja pelo produto a ser vendido como a arquitetura de software. 17
AUTORES E EDITORES Para autores e editores, principiais responsáveis pela facilitação da produção e distribuição de informação, existem novas oportunidades mercadológicas a serem investidas. Neste o mundo editorial, a biblioteca digital constitui pode servir como novo modelo de distribuição de conteúdos e um novo mercado, dentro de um contexto de mudança da economia da informação. Para isso os editores estão se adaptando ao modelo da publicação eletrônica, integrando mídias, criando novos modelos de negócio. Segundo Keith Michael Fiels, diretor executivo da Associação Americana de Bibliotecas (ALA): Existem milhares de editores independentes que, sem o apoio das bibliotecas, não seriam capazes de permanecer existindo. Salvo de exceções, como Harry Potter e outros livros de sucesso, que conseguem arrecadar bilhões de dólares por ano, a maioria dos editores e publicações dependem das Bibliotecas Públicas. (JOHNSON 2016, Tradução própria).
BIBLIOTECONOMISTAS E CIENTISTAS DA INFORMAÇÃO Na visão da biblioteconomia e da ciência da informação, o universo das bibliotecas: [...] menos como um sistema de computação – uma máquina – e mais como uma instituição, como uma extensão lógica do que as bibliotecas vêm fazendo desde os tempos imemoriais, ou seja, adquirindo, organizando e disseminando conhecimento usando as tecnologias correntes. (SAYÃO, 2009. p.9).
A complexa definição do conceito de bibliotecas digitais em termos de tecnologia e organização somada do vasto e heterogêneo número de envolvidos (seja pelo público usuário ou por profissionais) e à diversidade de suas visões (reais e imaginárias), sobre as suas possibilidades e a sua extensão, impedem a construção de uma definição comum. Apesar da grande repercussão e estudo acerca das novas vertentes do problema, o assunto ainda se mostra muito recente. Figura 9 - IBM / Smarter Cloud Jing Zhang, 2013
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PERSPECTIVAS FUTURAS Muitas são as vantagens na aplicação prática de bibliotecas digitais. Micheal Lesk, responde de forma sintética: Existem muitas razões para que as bibliotecas digitais sejam algo desejável. Elas podem tornar as pesquisas mais fáceis para os acadêmicos. Elas podem aliviar a pressão orçamentária sobre as bibliotecas. Elas podem resolver nosso problema urgente e crescente de preservação, ou elas podem ajudar as bibliotecas a estender as coleções para novas mídias. Mas, talvez, a maior vantagem das bibliotecas digitais seja a capacidade de ajudar a sociedade a tornar a informação mais disponível, melhorando a sua qualidade e aumentando a sua diversidade. (LESK, 1995, p. 1, apud SAYÃO, 2008. p. 21).
Mas será que esse novo modelo poderá cumprir este papel? Isso irá depender de como as bibliotecas digitais serão financiadas, regulamentadas e gerenciadas quanto a sua infraestrutura de comunicação e suas novas tecnologias. O que se percebe é um caminho quase unânime de tornar as bibliotecas públicas públicas um pólo que concentre tecnologias e métodos de suporte educacional e disseminação de informações, de toda a natureza, para o cidadão comum. Seu objetivo principal é responder as necessidades do usuário, principalmente pela possibilidade de acesso a vários tipos de conhecimento humano que, por meio da tecnologia, pode ser realizado a qualquer momento e em qualquer lugar, de várias formas, de maneira efetiva e eficiente, rompendo as barreiras de espaço, da linguagem e culturais. Dentro do cenário nacional, poucos são os exemplos visíveis de uma realidade inovadora para bibliotecas. Ainda que se caminhe a passos lerdos, percebe-se, por parte dos profissionais envolvidos, a existência de uma preocupação com relação ao tema, principalmente no questionamento de seu modelo tradicional (Miranda, 2008). Na prática, o que se vê é um estado transicional das bibliotecas que não podem ser nem completamente em papel, nem completamente digitais (Miranda, 2008). As bibliotecas híbridas englobam as novas tecnologias ao cenário existente e ressuscitam mecanismos tradicionais, fornecendo a informação. Derivando o conceito de novas formas de aprendizado, a biblioteca pode se encontrar dentro de um cenário no qual passaria a ser também um ator no campo cultural, entendendo o contato do público com atividades culturais, como uma forma de educação e aprendizado. Um novo modelo de ensino e aprendizagem por experiências, sejam elas dadas pela inclusão tecnológica ou por métodos convencionais - oficinas, teatro, reuniões, workshops, exposições - coloca as funções da instituição na fronteira entre o que é entendido hoje como centro cultural e biblioteca. Suas distintas funções abrangem atualmente diversos tipos de aprendizagem e, neste cenário, a biblioteca híbrida, precupada em fornecer meios de acesso ao conhecimento, também abre as portas para a visibilidade global de suas manifestações antes circunscritas a uma comunidade restrita localmente e permite acesso remoto. O que podia ser expresso somente sob quatro paredes, hoje extrapola os muros, levando a comunicação para fora delas. 19
Onde estamos Muitas são as possibilidades para o campo da biblioteca pública hoje, principalmente por se situar num período de transição, onde novos usos e atividades podem surgir. A questão é saber se esses novos serviços respondem as necessidades do cidadão. Entender o que o indivíduo ou a comunidade procura é o primeiro passo para compreender os usuários de uma biblioteca. Há dois anos atrás, a Biblioteca Metropolitana de Columbus, EUA (Columbus Metropolitan Library), pediu para que seus seguidores no Facebook pensassem em dez palavras acerca das bibliotecas: cinco para descrever a biblioteca pública da sua infância e cinco para descrever a biblioteca do futuro, daqui vinte anos. Os resultados foram dispostos em uma nuvem de palavras:
Figura 10 - Descrição da biblioteca de suas infâncias Columbus Metropolitan Library, 2012
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Percebe-se que alguns termos estão presentes em ambos os diagramas, o que conclui que muito da biblioteca tradicional ainda é necessária para as pessoas. A questão do livro, leitura, pesquisa, aprendizado e informação não perde espaço para o novo universo das bibliotecas do futuro, pelo contrário, permanecem em destaque juntamente com uma infinidade de outras novas questões.
Figura 11 - Descrição de como será biblioteca daqui 20 anos Columbus Metropolitan Library, 2012
Na análise específica do segundo diagrama, as futuras bibliotecas ilustram um cenário surpreendente. A palavra ‘comunidade’ está acima das palavras informação, tecnologia e pesquisa, levando a crer que, mais do que inserir novas tecnologias, a biblioteca deve fortificar o senso de comunidade. E os mesmos esperam que o espaço seja dinâmico, social e divertido. A imagem de uma sala quieta, onde todos estudam sentados e em silêncio é substituída por um espaço de lazer, conhecimento e relacionamento integrados.
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qual o retrato deste usuário ? Para a concepção de uma biblioteca é primordial definir o perfil e as necessidades do cidadão, para que possa melhor atendê-los. Para Almeida (2000), os estudos de usuários são fundamentais para a avaliação dos serviços desenvolvidos pela biblioteca e fazem parte do processo de planejamento e da tomada de decisões. Mas, considerando que os interesses são diversificados e mutáveis, inúmeros fatores podem influenciar o comportamento do usuário com relação à informação, por exemplo: formação básica, treinamento na utilização dos produtos e serviços oferecidos, acessibilidade, condições de trabalho, tempo disponível, condição sócio-cultural, sociabilidade e experiências anteriores (GUINCHAT; MENOU, 1994).
Figura 12 - Colagem de Rostos Martin Nicolausson, 2010
[...] capacitar o indivíduo para formular e desenvolver procedimentos para caracterizar o usuário e o não usuário da informação; identificar, conhecer e ampliar as diferentes metodologias de estudo de usos e de usuários de serviços de informação, identificar a relação entre estudo de uso e de usuário com planejamento bibliotecário (DIAS; PIRES, 2004. p.5).
Como síntese de toda a literatura revisada, pôde-se agrupa-los em: USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO aqueles que buscam conhecimento e informação nos diversos serviços oferecidos. São eles: professores, alunos, pesquisadores, escritores, cidadãos. USUÁRIO A TRABALHO aquele que enxerga, na biblioteca, a possibilidade de iniciar ou progredir no trabalho. Pelo conteúdo, espaço, serviços, internet, ambiência e equipamentos, a biblioteca abre a possibilidade de profissionais de diversas áreas trabalharem sem ou com custo reduzido. Pode envolver atividades 22
público-privadas como coworking ou incubadoras de empresas, por exemplo. PÚBLICOS DE CULTURA aqueles que praticam atividades culturais, seja na produção ou no consum. Envolvem desde profissionais, até pes soas que buscam lazer e entretenimento. NÃO USUÁRIOS incluem cidadãos que não estão cientes dos serviços, não tem acesso a eles, não sabem usá-los, não possuem confiança, não não sabem onde adquirir a informação, ou desconhecem a importância dela.
Possíveis barreiras no processo de Comunicação A complexidade dos processos de comunicação, por parte dos usuários, pode derivar, segundo Dias e Pires (2004. p.15), de problemas: PESSOAIS Quando o usuário desconhece ou possui dificuldades quanto ao uso adequado do serviço, ou da plataforma tecnológica disponível; ou por julgamentos, emoções, valores, gostos, custos, custos.
FÍSICOS Fatores ambientais, localização, barreiras físicas, legais e políticas, disponibilidade de equipamentos.
LINGUÍSTICOS Dificuldades na compreensão de idiomas (nacional ou estrangeiro); complexidade da informação
disposta e de suas fontes.
ECONÔMICOS Custo.
TECNOLÓGICOS Recursos e serviços tecnológicos disponíveis (ferramentas, softwares, programas, apoio, acesso).
INFORMACIONAIS dificuldades para acessar, identificar, selecionar, utilizar e recuperar
informações relevantes dentre as oportunidades oferecidas.
Figura 13 - Outro Lado (Other Side) Eugenia Loli (Tradução própria)
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Algumas estatísticas importantes Figura 14 - Corrida de Cabeças de Balão (Balloon Headed Race) Raintree Chan, 1969 (Tradução própria)
Com base nas pesquisas: Públicos de Cultura, realizada em 2013 pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), juntamente com a Fundação Perseu Abramo, o Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais do Brasil, realizado em 2010 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e dados da Prefeitura de Montes Claros, ajudam na construção do perfil do cidadão brasileiro, quanto às atividades bibliotecárias.
{QUANTO AO CIDADÃO} Na percepção de 51% dos entrevistados nenhuma atividade cultural é feita por eles aos fins de semana. E em dias de semana, essa proporção chega a 85%. No que se refere à leitura a maior parte das pessoas não leu nenhum livro nos últimos 6 meses. Aquelas que leram possuem uma média de 1,2 livros por semestre.
58%
42%
Quanto as atividades culturais que produzem: Canta
15% 13%
Os principais lugares citados como atividade cultural nos fins de semana são os shoppings, cinemas, parques, igrejas, teatros, festas, restaurantes e outros espaços de alimentação e praças. Em linhas gerais, é pequeno o leque de atividades culturais realizadas pelos entrevistados. Reunindo as informações sobre os lugares visitados, têm-se que as parcelas da população que nunca visitaram um(a):
Dança
Exposição de arte
10% Toca algum instrumento musical 7% 5%
Faz pintura, gravura, desenho ou escultura
4%
Escreve (poemas, histórias roteiros)
3%
Faz vídeos ou filmes
1% 24
Faz fotografia
Faz teatro ou artes circenses
71% 89% 42% 75% 57%
Concerto de música clássica Biblioteca Peça de teatro Apresentação de Dança
{QUANTO A BIBLIOTECA}
Figura 15 - Proposta para Mälardalen University 3XN, 2014
O USUÁRIO O usuário, em média, frequenta a biblioteca 1,9 vez por semana. No Sudeste o número cai para 1,6 vez.
8% das pessoas que frequentam bibliotecas vão para lazer.
61% dos usuários utilizam
o espaço para pesquisas escolares O Sudeste têm a maior média de empréstimos 421/mês
A INSTITUIÇÃO
36%
O Sudeste é a região que tem a maior quantidade de Bibliotecas P ú b l i c a s Municipais (BPM) com acervos Minas Gerais tem em média 4,4 superiores a 10 bibliotecas para cada 100 mil habitante (melhor índice nacional). mil volumes.
MONTES CLAROS, MG 12% das bibliotecas nacionais funcionam aos sábados e 1% aos domingos.
No período noturno, somente 12% estão abertas aos usuários.
26% oferecem serviço de internet para o públicos.
Menos de 10% das BPMs oferecem serviço para pessoas com deficiência. Apenas 9% das BPMs oferecem serviços para deficientes visuais (audiolivros, livros em Braille, etc), índice igual ao nacional. No caso dos serviços especializados para surdosmudos, deficientes mentais ou físicos, o número cai para 8%.
A existente BPM de Montes Claros possui um acervo físico de 55 mil obras que atendem a todos os públicos, sendo composto exclusivamente de livros. Existe um considerável acervo de livros em braile, como atendimento ao público com deficiência visual. Mas inexiste outro recurso voltado para as demais deficiências (audiovisual, eletrônico, etc). Cerca de 20 mil pessoas frequentam mensalmente a biblioteca. O horário de funcionamento é de segunda a sextafeira, das 08 às 22 horas. 25
Contexto NO BRASIL,
as bibliotecas só tiveram um acesso direto com o público geral a partir do fim do século XVIII, quando o iluminismo levou brasileiros a clamar por ações do governo, criando nessa mesma época a primeira biblioteca pública, na Bahia (SANTOS, 2010). Porém, a imagem elitista Figura 16 - Shooting Bricks Kirkeby, 2009 da instituição sempre passou uma mensagem exclusiva à população. A criação do Instituto Nacional do Livro, em 1937, deu início a uma política pública de investimento, apoio e ampliação das bibliotecas públicas no país. Mas somente em 1992, quando o Sistema Nacional de Bibliotecas públicas foi instituído, vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), é que se percebe resultados concretos. De la pra cá, as políticas se mostram principalmente voltadas na ampliação do número de bibliotecas públicas no país. Talvez para que se perca a imagem exclusiva da instituição. Projetos como Programa Livro Aberto (2004) e Mais Bibliotecas Públicas (2013), são exemplos de ações governamentais que objetivam mais quantidade do que qualidade. Mesmo que os projetos afirmem objetivar a implantação e modernização de bibliotecas, seus resultados revelam uma preocupação maior em levar a instituição ao maior número de municípios possíveis. O que se vê atualmente são milhares de obras espalhadas no país, seja por grandes bibliotecas federais nas grandes cidades ou pela casinha no pequeno município com um tímido acervo. O último levantamento, realizado em abril de 2015, dentro do escopo do Projeto Mais Bibliotecas Públicas, afirma a existência de 6102 bibliotecas públicas municipais, distritais, estaduais e federais, nos 26 estados e no Distrito Federal, sendo: 503 na Região Norte; 1.847 na Região Nordeste; 501 na Região Centro-Oeste; 1958 na Região Sudeste; 1293 na Região Sul. Ultimamente, algumas ações conjuntas vem ganhando espaço, mesmo que timidamente, no intuito de qualificar as bibliotecas existentes, acessibilizá-las, implementar novas tecnologias e incentivar o cidadão a utilizar o espaço. São elas: Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas; Projeto Biblioteca em Rede; Projeto Tô na Rede; ações de incentivo a leitura, pesquisa, Figura 17 - Biblioteca Rikjsmuseum assessoria técnica; Foto por Duccio Malagamba, 2014 qualificação dos acervos. 26
NO MUNDO Ampliando a perspectiva do cenário atual das bibliotecas, as demais potências do mundo se mostram muito mais ativas e revolucionárias que o Brasil. Ainda que exista uma preocupação na qualidade das instituições, por meio de programas e ações governamentais, é preciso acompanhar as transformações pelas quais as bibliotecas do mundo estão passando e aplicá-las ao contexto nacional.
Figura 18 - Foto colagem para S Moda Andrew McConochie, 2014
[E quais são essas mudanças?]
Para Fiels, diretor executivo da Associação Americana de bibliotecas: Estamos começando a ver toda uma geração de bibliotecas que se parecem e agem muito diferentes das bibliotecas tradicionais. [...] Cada vez mais, uma biblioteca é um lugar onde as pessoas podem criar conteúdo e compartilhá-lo com outros membros da comunidade.
Os grandes pioneiros dessas transformações são os Estados Unidos, Europa e alguns países do mundo, interessados na formação cultural de seu povo. Observa-se, principalmente, que estes vêm adotando políticas de investimento expressivas quanto a questão da biblioteca durante a última década. A modernização caracteriza-se não só por reformas do espaço físico, mas também inclusão de diversos serviços inimagináveis para uma biblioteca. A justificativa é trazer a inserção de conhecimento àqueles que carecem, sendo grandes equalizadores locais. As parcerias público-privadas são uma das principais medidas listadas. Os serviços pagos, em teoria, ajudariam a manter o funcionamento da porção pública e, do contrário, o espaço institucional é cedido ao privado. Como vantagens têm-se: [ Fornecimento de atividade alternativas de implementação e gestão; [ Acréscimo de valores ao consumidor ou público em geral; [ Melhoria da identificação das necessidades e a otimização dos recursos; [ Melhoria da qualidade dos serviços. Além disso, um grande leque de possibilidades se abre, no qual todas as ações se voltam para ajudar as pessoas a ajudarem a si mesmos. Seja pelo apoio da literatura ou por espaços multimeios, atividades culturais, laboratórios diversos, ou qualquer outra ação que desperte a criação de conhecimento. Figura 19 - Foto colagem de um projeto utópico Rebecca Crabtree, 2012
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o que pode existir 1 ACERVO FÍSICO
Mesmo que a inovações em tecnologia ofereçam novos meios de acesso a informação, os serviços tradicionais de uma biblioteca ainda se mostram parcela necessária para o atendimento ao usuário. Por isso, a biblioteca atual ainda resiste a destinação de áreas para leitura, acervo físico, arquivos, etc. A questão é que, diferente do que se imagina, esses serviços tradicionais não se mostram inertes; eles se fundem conforme as novas evoluções humanas, transformando o espaço físico. Na prática, o que se vê são novos meios de armazenamento, mídias, disposição, e acesso aos acervos.
2 APOIO A PESQUISA, INFORMAÇÃO E ESTUDO
Figura 20 - Shadowy path Serge Najjar, 2014
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Assim como os acervos, os espaços destinados a pesquisa, estudo e leitura vêm sendo reestruturados conforme as transformações dos meios de comunicação e informação. Antes, o que se via era um programa individualista e e não integrado, delimitado por salas fechadas, hierárquicas, e silenciosas. O interesse agora são ambientes integrados, desimpedidos por barreiras físicas ou visuais e interessados no relacionamento humano comunitário. A Biblioteca São Paulo é um ótimo exemplo desses serviços. Nela, grande parte dos espaços é destinado a acervos e salas de leitura, estudo e pesquisa.
[BSP]
Figura 21 - Foto interior Biblioteca São Paulo Foto por Daniel Ducci, 2012
Como conceito principal da obra, a Biblioteca São Paulo serviria como um projeto piloto que possa ser replicado em outras cidades do Brasil. O que se destaca no programa é a diferente abordagem dos espaços tradicionais da biblioteca: os livros e as salas de estudo. O prédio possui uma área ampla com iluminação zenital, garantindo uma grande flexibilidade de layout interno. O mobiliário ganhou divertidos tons coloridos e serigrafias lúdicas foram propostas nos vidros para dar mais intimidade a quem lê ou pesquisa (Soledad Sambiasi, 2012).
O programa é composto por dois pavimentos. O primeiro voltado para um público infanto-juvenil, trabalha com ambientes lúdicos e coloridos. O segundo, voltado para um público mais adulto, dispõe o mobiliário de forma mais racional e disciplinada, trazendo a mensagem de um ambiente calmo e de trabalho. No térreo estão localizados a recepção, o acervo, um auditório para 90 pessoas e módulos de leitura para crianças e adolescentes. O terraço externo existente neste pavimento foi coberto por uma estrutura tensionada, e abriga uma cafeteria, áreas de estar e espaço para performances diversas. Em alguns lugares, principalmente no primeiro pavimento, os livros são dispostos Figura 22 - Terraço da BSP como em uma livraria - com estantes baixas e Foto por Daniel Ducci, 2012 de forma que o leitor visualize a capa do livro de forma a atrair um público não-leitor. Ainda no primeiro piso, alguns nichos são posicionados na parte central do salão, mobiliados com pufes e poltronas, criando um microambiente de leitura atraente ao público jovem. No pavimento superior encontram-se Figura 23 - Brinquedoteca, BSP outras áreas de acervo, diversos espaços de Foto por Daniel Ducci, 2012 leitura, voltados para um público adulto, áreas multimídia como salas de computadores e equipamentos destinados a deficientes físicos, uma varanda externa, para quem quer desfrutar de uma leitura ao ar livre. Existe ainda um espaço exclusivo para pessoas acima de 60 anos. Trata-se um ambiente mais silencioso, mais iluminado, com poltronas confortáveis, luminárias, lupas e estante baixas com livros direcionados a esse público específico. 29
3 VIDIOTECA, MUSICOTECA E OUTRAS MÍDIAS
Com o objetivo de atrair antigos e novos visitantes e, em muitos casos, virar um centro de referência sociocultural (e não apenas um local de leitura), as ambições da nova biblioteca, incorporam novas mídias e criam espaços multiuso em constante transformação (IDOETA, 2013). Novos ‘acervos’ são criados, ampliando o campo antes destinado somente a leitura. São espaços com discografias, filmes, músicas, arte, disponíveis em meios físicos ou digitais. A Discoteca Oneyda Alvarenga, disponível no Centro Cultural de São Paulo é um centro de informação especializado na música. Compõe-se pincipalmente de um acervo físico de livros (1), discos e partituras (2), vitrolas e outros aparelhos para audição de discos e CDs (3), computadores para pesquisa (4), plataformas paradas sonoras (5) e técnicos especializados para assistência.
1.
3.
2.
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5. Figura 24 - Compilado de Fotos do interior da Discoteca Oneyda Alvarenga Fotos por Sossô Parma
O usuário tem acesso a partituras e arquivos de música somente em base de dados virtuais. Os empréstimos são permitidos exclusivamente para livros e o acesso à discografia material deve ser realizada dentro do estabelecimento com auxílio profissional, já que trata-se de um acervo delicado.
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[
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Casa de las ideas
Figura 25 - Foto da Fachada Frontal CROstudio, 2012
Casa de las Ideas é um projeto de uma biblioteca digital localizada em uma área periférica de Tijuana, no México. A biblioteca é parte de um plano de desenvolvimento urbano, que fornece não só a canalização do rio, mas a integração de uma série de espaços públicos, parques, áreas de lazer, centro comunitário e uma biblioteca. O objetivo é melhorar a qualidade de vida da comunidade local e combater a criminalidade através da concepção de infraestrutura e programa culturais. Com apenas 220m², a proposta tem gerado uma nova tipologia de espaço: uma área de aprendizado coletivo, onde a interação de informações ultrapassa a simples acessibilidade dos serviços (Quintana, 2014). A própria forma do edifício foi pensada para a máxima integração dos serviços disponíveis, contendo, em seu interior, uma única sala polivalente em diferentes níveis de plataformas, para palestras, peças de teatro, oficinas, espaços de leitura e acesso ao computador. O emprego de novas mídias e aborgadens de conteúdo é a principal aposta para atrair mais Figura 26 - Perspectiva Axonométrica e mais usuários. CROstudio, 2012 A inclinação da sala multifuncional gera um vazio do lado externo do edifício, onde é proposto um cinema e um pequeno palco de apresentações, ambos ao ar livre. Consequentemente a praça ao redor se articula em níveis de arquibancadas para o público espectador. A intenção é que, mesmo fora do horário de funcionamento, o espaço continue vivo pela ocupação de atividades da comunidade. Figura 27 - Cinema ao ar livre CROstudio, 2012 Figura 28 - Corte CROstudio, 2012
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4 APOIO A EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO A DISTÂNCIA Educação a distância (EaD) é a modalidade educacional em que alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação (Ministério da Educação). Como suporte, o acesso às bibliotecas faz-se necessário especialmente na oferta de serviços aos utilizadores desta modalidade educacional. A maioria dos estudos que reportam à EaD apontam as bibliotecas universitárias e híbridas como as principais fornecedoras de produtos e serviços de informação para suprir as necessidades informacionais dos indivíduos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem a distância. (PEREIRA; SANCHEZ, 2009, p.3)
por meio de instrumentos de pesquisa que viabiliza o acesso à informação de forma rápida e imediata, criando oportunidades iguais de acesso às fontes informacionais, assim como aos estudantes do ensino presencial. A biblioteca também serve como forma de suprir necessidades informacionais dos usuários remotos. Os serviços de referência virtual estabelece uma via de acesso mais ágil, fornecendo ao usuário documentos digitais, desde a forma mais simples, como a referência de uma publicação, até a mais complexa, como acesso ao documento com texto completo (PEREIRA; SANCHEZ, 2009).
Porém, o atual modelo de EaD, disponibilizado em meio virtual e com uso de recursos e ferramentas da web, justifica a inserção de bibliotecas digitais e modernizadas nesse contexto. Elas ofertam produtos e serviços on-line
5 LABORATÓRIOS E SALAS DE APOIO E
“progressivamente as cidades são projetadas menos para as pessoas, [...] e a arte por consequência, é cada vez mais voltado para os problemas sociais, para a valorização dos espaços públicos e para o desaparecimento [...]. As artes aplicadas no espaço público, como o graffite, as festas na cidade, as instalações temporárias, o cinema, o teatro, o design, podem ser uma alternativa, no lugar de intervenções marcadas pelo erro” (PEREIRA, 2015, p.164).
TECNOLOGIA
Como já dito anteriormente, as novas formas de disposição da informação exigem novas soluções espaciais das bibliotecas. Os equipamentos, mobiliários, luz, material, layout e outros diversas constantes determinam o uso específico de cada ambiente composto. Salas voltadas para disposição de equipamentos multimeios, computadores, impressoras normais, a laser ou 3D e outros equipamentos eletrônicos é a grande aposta para alcançar o objetivo de ambiente de aprendizado por experiências. Além disso, a existência de ambientes informatizados nas bibliotecas públicas, fornecem espaço, material e serviço necessários para suprir àqueles que utilizam a modalidade de EaD, para pesquisa, estudo e acesso às aulas; ou para cursos de capacitação e similares. Figura 29 - City is a big scenario Adrian Lahoud, 2014
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Biblioteca Julian Street
Figura 30 - Interior da Biblioteca Peter Aaron, 2011
A recém reformada Bibliteca Julian Street, é um projeto que visou transformar um espaço essencialmente de leitura em um ícone de arte e aprendizagem multimedia. Situada dentro do campus da Universidade de Princenton (EUA) , a biblioteca funciona como um ponto de encontro para os estudantes. Reconhecendo que, com o advento das novas tecnologias, as bibliotecas se tornam espaços polivalentes de incentivo ao estudo e interação social, o projeto objetiva a criação de um ambiente articulado, onde os alunos podem trabalhar, sociabilizar, passar o tempo ou se divertir. Diversas paredes internas foram retiradas, melhorando o fluxo e interação entre os ambientes. A noção de limite do espaço não se vincula mais a barreiras físicas, mas a diferentes usos de cores e mobiliários. Como consequência, o projeto se divide em duas zonas de atividades sobrepostas. De um lado, painéis acústicos no teto, piso e paredes, em tons de madeira, propõem um ambiente calmo, onde os usuários trabalham em mesas comunitárias, ou em estações individuais de computadores. Do outro, poltronas e bancos estofados, definem um ambiente adjacente casual. Com a transição dos estudantes da leitura de livros para a leitura em seus laptops, a postura de estudo muda, exigindo diferentes níveis de foco, períodos de tempo e grau de envolvimento com outros estudantes. A biblioetca ainda conta com um grande hall de entrada e um estúdio de gravação de áudio. Os móveis, facilmente Sala de gravação de PROCESSAMENTO deslocáveis, e o emprego áudio de painéis móveis, permite [ tomar notas que o espaço se reconfigure [ esboços para que possa acomodar [ trabalhar vários eventos. Estação de computadores para trabalho ABSORÇÃO
Figura 31 - Planta com análises (à direita). Figura 32 - Corte (abaixo) Peter Aaron, 2011
[ ler e folhear [ ouvir música Mesa de trabalho [ assistir filmes conjunto
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Bibliotecas públicas como espaço de tabalho Figura 33 - Máquina de Cartões Perfurados B.H. Robinson, 1971
As bibliotecas sempre foram locais de trabalho para muitos dos seus utilizadores, porém condicionava os espaços, suas políticas de utilização e os demais utilizadores . Atualmente, as bibliotecas públicas abrem possibilidades de potencialização dos serviços, tais como a criação de espaços de trabalho fisicamente separados dos restantes, o que permite a utilização em um nível de ruído diferente de uma sala de leitura, por exemplo (Ferreira, Vieira, Correia, Marques, Mangas, 2013).
6 COWORKING
Os espaços de cowork são espaços de trabalho partilhados maioritariamente entre freelancers e trabalhadores independentes, mas também representa uma comunidade que, além de repartir os custos inerentes ao bom funcionamento do espaço, também coopera entre si (Ferreira, Vieira, Correia, Marques, Mangas, 2013). Algumas atendem expressamente para startups, dispondo serviços de apoio aos trabalhadores interessados. Outras vão por uma abordagem laissez-faire (Hammilton, 2014), destinada à profissionais que procuram um espaço com boa infraestrutura de apoio. Algumas ações, por parte da instituição, que podem contribuir para a afirmação do espaço como área ideal de trabalho, são: redução de burocracia; fácil disposição de material de consulta e apoio a rede digital ou livros; internete, softwares e ferramentas; infraestrutura adequada: salas, mesas, cadeiras, conforto ambiental.; Serviços de apoio ao trabalhador; Aluguel de estações de trabalho.
7 FABLABS
O termo FabLab é a abreviatura de Fabrication Laboratory (Laboratório de Fabricação) “e consiste num vasto conjunto de ferramentas industriais de prototipagem rápida (como fresadoras de pequeno e grande porte, máquinas de corte a laser) computadores, software open source e programas freeware reunidos no mesmo espaço e à disposição da comunidade” (Ferreira, Vieira, Correia, Marques, Mangas, 2013, p. 43)
8 MAKERSPACE
Muito próximo a esse conceito estão os Makerspaces. Define-se makerspace, lugares físicos operados comunitariamente, na configuração de laboratórios ou oficinas com ferramentas e recursos compartilhados, onde pessoas podem se reunir, compartilhar conhecimento e trabalhar em projetos, frequentemente vinculados à tecnologia. O Makerspace surgiu inicialmente como uma força de aprendizagem para a comunidade não acadêmica. Com suporte material, espacial e tecnológico, a comunidade poderia aprender, criar e produzir pelos princípios do “faça você mesmo” (Do it yourself, DIY). Como a única regra é aprendizado aplicado na criação, as ferramentas e produtos podem ser os mais variados possíveis: artesanato, corte e costura, marcenaria, oficinas, etc. 34
maker Library network Figura 34 - Compilados de fotos de Maker Libraries no mundo (à esquerda) Figura 35 - Ilustração de ferramentas e materiais para criação (acima) Site do Conselho Britânico, 2016
Mais que um edifício físico, Maker Library Network é um projeto criado pelo Conselho Britânico que objetiva conectar pessoas criativas em todo mundo. A proposta tem como objetivo facilitar o intercâmbio de conhecimento e habilidades entre profissionais e incentiva o envolvimento público com a criação. A Maker Library combina três elementos necessários ao projeto:
maker Library
BIBLIOTECA GALERIA MAKERSPACE Esses espaços são conectador tanto fisicamente como online através de um programa de compartilhamento de ideias, exposições e eventos. Os serviços envolvem as mais variadas formas de criar, desde os métodos artesanais tradicionais até processos de tecnologia digital. Até agora o projeto conta com instalações na Inglaterra, África do Sul, Turquia, México, Nigéria e Ucrânia. A rede oferece aos usuários um suporte material (ferramentas, maquinários, etc), recursos digitais (programas, computadores, internet), e suporte técnico (orientação de uso, supervisão e auxílio).
IZONE, KIEV, UCRÂNIA (UM EXEMPLO PRÁTICO)
Essencialmente configurado como um galpão, o Izone é um espaço que fornece oficinas - incluindo um FabLab e uma gráfica - uma galeria de exposição, um café, uma pequena biblioteca e um espaço de eventos. Seu objetivo é fomentar uma comunidade de criativos talentosos, incluindo artistas, designers, artesãos, escultores e programadores, através da promoção de um ambiente dinâmico e defendendo os talentos emergentes através da experimentação. Dentre as oficinas oferecidas tem-se: IZOLAB: O Izolab é um FabLab digital que visa popularizar tecnologias de ciência e de fabricação digital. Permite aos usuários produzir modelos e protótipos de praticamente qualquer objeto físico usando controle numérico (CNC), bem como ferramentas manuais e elétricas para trabalhar com madeiras , plásticos e metais. LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA: Um clássico estúdio de revelação de fotografias, oferece aulas de como tirar fotos, edição de imagem e revelação. MARCENARIA: Composta por um maquinário que trabalha com qualquer tipo de madeira e plástico - fresadoras, impressoras 3D, furadeiras, etc. SERIGRAFIA: Estúdio de serigrafia manual silk-screen, produzindo cartazes, roupas, revistas. 35
9 INSTALAÇÕES TEMPORÁRIAS Progressivamente as cidades são projetadas menos para as pessoas, [...] e a arte por consequência, é cada vez mais voltado para os problemas sociais, para a valorização dos espaços públicos e para o desaparecimento [...]. As artes aplicadas no espaço público, como o graffite, as festas na cidade, as instalações temporárias, o cinema, o teatro, o design, podem ser uma alternativa, no lugar de intervenções marcadas pelo erro. (PEREIRA, 2015. p.164) A falta de sensibilidade do ordenamento espacial somado com o crescimento urbano desordenado, reduz o sentimento social de viver a cidade, imprimindo traços característicos aos espaços da vida coletiva, como hostilidade, antissociabilidade e individualismo (FONTES, 2012).
Figura 36 - Abóboda paramétrica de metal Cassey Dunn, 2014
As intervenções temporárias funcionam, nesse sentido, como catalisadores de relações de proximidade e intimidade, tanto com o próprio espaço, quanto na relação entre os indivíduos [...], atuando reativamente contra esse desfavorável estado de alienação pura (FONTES, 2014, p.31).
Em dimensões gerais, o espaço intervindo pode ser:
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TRANSITÓRIO
São eventos que duram alguns dias
PEQUENO
Partem das possibilidades dos espaços disponíveis
PARTICULAR
Relação direta entre lugar e intervenção, ateliers e pátios
SUBVERSIVO
Subvertem os limites entre o público e o privado
ATIVO
Estimula os percursos pelo local. Muda a narração do espaço
INTERATIVO
Baseiam-se na relação usuário - lugar - descobertas
PARTICIPATIVO
São realizadas por associações e artistas locais
RELACIONAL
Incentivam a intimidade entre desconhecidos
Fora da caixa
Figura 37- Garoto sentado em caixas de madeira Foto por Telmo Afonso, 2015
O projeto de requalificação e reabilitação Fora da Caixa, tem como proposta trazer de volta o olhar a uma área central de Viseu, em Portugal. Formado essencialmente de caixotes de madeira, trata-se de uma instalação experimental de baixo custo concebido a partir de elementos modulares de composição do espaço. A obra surge, portanto, a partir da repetição do objeto, sujeito a diversas configurações e usos. Como resultado, diversas primissas foram respondidas, todas elas de igual relevância, contemplando um programa extenso, de baixo custo, desmontável, transportável, e editável (Archdaily, 2015). O módulo é composto de 3 caixas de madeira interligadas, que permitem a rotação entre si, formando diferentes configurações. Conforme são arranjados, o módulo desenvolvido assume várias funções de uso, com inúmeras valências. O programa apresentado compreende uma zona de mercado, uma zona de estar e uma estação de som/dj, onde cada uma se apresenta com uma ordenação própria e diferenciada das restantes, de modo a responder tanto a nível funcional, mas também estético (Archdaily, 2015). A flexibilidade dos espaços faz com que a peça funcione como um elemento polivalente que, apesar dos diferentes zoneamentos e usos Figura 38 - Arranjos do módulo em específicos da mesma, não se pode condicionar o perspectiva axonométrica André Alves, Ricardo Afonso, 2015 modo de apropriação das pessoas.
Figura 39- Compilado de fotos da praça intervida Fotos por Telmo Afonso, 2015
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10 MAIS PRAÇAS E ÁREAS PÚBLICAS
Figura 40- Campus de pesquisa em Singapura Foto por Tim Griffith, 2013
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Áreas de lazer e convívio social são um dos objetivos cobiçados na concepção das novas formulações de bibliotecas. Mais do que trazer as pessoas para dentro do edifício, a biblioteca pode voltar os olhos para a cidade e sua organização. Para isso, o projeto deve atentar-se as questões urbanas locais, trabalhando o entorno de forma contextualizada. Uma das possibilidades encontradas é trabalhar com um entorno amplo e atrativo, oferecendo alguns serviços urbanos como mobiliário, praças, brinquedos, jardins, etc. As possibilidades são infinitas, assim como as respostas positivas. O espaço pode ser usado para abrigar manifestações culturais (feiras, apresentações, exposições), servir de ponto de encontro, fortificar as relações da comunidade ou até mesmo trazer alguns dos serviços da própria biblioteca para fora do edifício. A intenção é dissolver a persepção de limite entre interno e externo, em que tudo possa ser chamado de biblioteca. A existência de espaços urbanos públicos como praças e parques traz vida ao local, mesmo quando o edifício inserido estiver fechado. Se existir uma parede, um projetor e um campo aberto, pode-se fazer um cinema ao ar livre; com alguns caixotes de feira, temse bancos e mesas; no gramado, um palco temporário para apresentações de música; as obras realizadas no Makerspace poderiam ser expostas ou até vendidas, e assim vai. Não existe muita regra para esses espaços. O que vale é a percepção do contexto urbano para a realização de uma obra contemporânea.
Figura 41- Perspectiva da Biblioteca ASPECT Studios, 2013
Green space library
A proposta para o concurso do Conselho de Sydney de 2013, feita pelo ASPECTO Studios, tem como ideia central unir as funções de parque urbano e biblioteca pública. A justificativa seria oferecer a comunidade local um espaço público contemporâneo amarrado a um edifício de criação. Os vários planos da paisagem criam ambientes de leitura, lazer e sociabilidade; lugares onde as pessoas desejam ficar, brincar e trabalhar. A paisagem inclui a Biblioteca Pública como o coração flexível do local, com salas de leitura, terraço-horta, pátio coberto sob os pilotis para eventuais apresentações. A ideia de criar um microclima traz, além de recursos para a população local, um refúgio do contexto caótico da cidade. Muitos aspectos foram levantados para a proposta final tais como: circulação de pedestres, mobiliário urbano, ecologia, experiências espaciais, hidrografia e arte pública.
Figura 42- Perspectivas da praça e da Biblioteca ASPECT Studios, 2013
Figura 42- Planta Baixa ASPECT Studios, 2013
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Proposta Figura 43 - Perspectiva do Museu Nicolas Brigand, 2015
A partir de todo o estudo levantado a cerca do tema, propõese uma biblioteca nos novos moldes que lhe é permitida. A ideia é trabalhar com um espaço onde o aprendizado extrapola os limites da leitura. Todo e qualquer recurso que seja propício ao aprendizado será analisado na proposta final do projeto arquitetônico. O projeto da biblioteca visará principalmente: INFORMAÇÃO E APRENDIZADO LAZER FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE AFIRMAÇÃO DA CULTURA LOCAL
Quanto ao edifício, pretende-se cumprir as seguintes condições: FLEXÍVEL - caracterizada por um espaço vivo e dinâmico, o espaço, estrutura e serviços deverão ser facilmente mutáveis; CONFORTÁVEL - afim de atender as necessidades do usuário sob quaisquer serviços; SEGURO - tanto para os usuários como para o patrimônio da instituição; ACESSÍVEL - de modo a safar qualquer dificuldade ou bloqueio de quaisquer usuários, seja ele deficiente ou não. Envolve soluções do espaço físico (circulação, ergonomia) e dos serviços dispostos (leitura de tela, braile, manuseio de equipamentos, etc); INTEGRADO - de forma que os ambientes conversem de maneira harmônica e sinérgica; AMPLIÁVEL - permissível de ampliação posterior a obra implantada; ORGANIZADO - permitindo contato fácil entre serviços e usuários ATRATIVO - com condições e atividades para atender um público heterogênio 40
O QUE IRÁ EXISTIR PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO Dentro das possibilidades levantadas sobre os usos que a biblioteca pública está incorporando atualmente, faz-se um levantamento espacial do que irá existir no Projeto Final de Graduação. O programa e o dimensionamento de um projeto de uma biblioteca nascem das necessidades da comunidade e são concebidos para atender à mesma. Devem ser analisadas as questões sociais, quantidade populacional e herança cultural para a formação de espaços e distribuição dos setores e fluxos. Outras questões como insolação, ventilação, vegetação e análise do entorno também devem ser levadas em conta. Tomando como embasamento as propostas de Milanese (2003), na obra “A casa da Invenção”, têm-se
SUGESTÕES PARA O DIMENSIONAMENTO PARA ESPAÇOS DE CULTURA BIBLIOTECA MÁXIMO MÍNIMO ÁREA TOTAL 30 hab/m² 100 hab/m² ACERVO 3 títulos/hab 8 hab/título CONVIVÊNCIA 1/3 da área total 1/6 da área total FUNCIONÁRIOS 1 a cada 2000 hab 1 a cada 20000 AUDITÓRIO 300 assentos ou mais 150 assentos Analisando o contexto da cidade de Montes Claros, que possui cerca de 400 mil habitantes, recomenda-se trabalhar na faixa entre 4000m² e 12000m².
1 ACERVO FÍSICO
O acervo físico poderá ser definido como: Área para disposição de arquivos em papel (livros, revistas, etc) e objetos de apoio em outras mídias: (CDs, DVDs, ebooks). O módulo foi pensado nas áreas mínimas de cirluação, permanência e mobiliário. Considerando a arrumação de 50 volumes/m, temos que para cada módulo abaixo, uma capacidade de 260 obras. Área do módulo: 9,62 m² Existem ainda outras áreas relacionadas como manutenção e renovação dos livros, áreas de empréstimo e áreas de devolução. Estima-se 2500m², onde: [ 700m² - disposição de documentos e arquivos, livros, revistas, fotografia, música e outros; [ 50m² - manutenção dos arquivos e documentos; [ 200m² - acervo privado e depósito; [ 50m² para empréstimos; Figura 44 - Módulo do acervo físico [ 50m² para devolução. 41
2 ÁREA DE ACERVO DIGITAL
A possibilidade de armazenar milhares de títulos em um só equipamento eletrônico interfere diretamente no espaço utilizado para o armazenamento de obras físicas. Espaços antes destinados a estantes de livros estensas, podem-se comprimir e integrar aos novos serviços da biblioteca digital. Computadores, laptops e e-books são as principais formas de acesso a esses serviços. É proposto para o projeto, áreas de empréstimos de e-books, laptops e alguns computadores fixos. As áreas correspondentes serão incluídas nas salas multifuncionais destinadas a pesquisa e estudo e laboratórios de computadores.
3 SALAS DE LEITURA E PESQUISA
Tradicionalmente, a biblioteca pública sempre forneceu espaços para leitura e estudo. A fórmula: acervo+sala de leitura foi, por muito tempo, a regra básica de execução de um projeto de biblioteca. Ainda que a instituição abrace novos usos, essas áreas ainda se fazem muito necessárias, até mesmo para pessoas que buscam um local trabalhar. Tem-se como pré-dimensionamento:
Área uso coletivo
Figura 45 - Módulos dos espaços de leitura e pesquisa
4 SALAS MULTIFUNCIONAIS
Área de uso individual
Áreas sugeridas: 500m² de estudo comum; 50m² de salas de estudo em grupo; 200m² de estudo individual.
As salas destinadas a leitura, pesquisa e aprendizado, caracterizadas por um espaço calmo, não são mais as únicas num edifício de uma biblioteca. Como já dito anteriormente, as bibliotecas abraçam novos usos, sob o conceito de inserção de novas experiências de aprendizado. Seguindo uma perspectiva do usuário como ator criativo, muitas são as possibilidades do espaço. Sugere-se portanto uma área flexível com layout variável de 200m².
5 ÁREA DE REPRODUÇÃO DE MÍDIAS
Sâo áreas de acesso a diferentes meios de informação e comunicação, como filmes, vídeos, música e recursos digitais. Áreas sugeridas: Sala de gravação de áudio 30m²; Sala de reprodução de música 50m²; 2 Salas de reprodução de vídeo 80m² cada; Salas de recursos digitais interativos 150m². 42
5 ESPAÇOS DE TRABALHO
Áreas que facilitem a execução de seu trabalho, seja ele artístico, intelectual, empresarial, experimental ou qualquer outro ramo. Coworking - Área sugerida 100m² FabLab e Makerspace - 200m²
6 AUDITÓRIO
Auditório maior: com capacidade para 500 espectadores, destinado à música, balé e teatro. Inclui serviços de apoio para artistas, um cenário que varia de dimensões segundo o espetáculo, câmara acústica, espaços destinados à equipe técnica e porão, sala de apoio, sala de máquinas. Área sugerida: 2000m². Auditório menor: com capacidade para 200 pessoas, destinado a apresentações menores, cursos e palestras. Área sugerida 500m².
Figura 46 - Corte com ângulos e espaçamentos para o público do auditório. Fonte: NBR 9050
Figura 47 - Planta Baixa com o posicionamento, dimensão e cone visual dos assentos. Fonte: NBR 9050
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8 LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA
Salas com disposição de computadores para pesquisa, cursos, trabalho, etc. 1 Sala com computadores desktops - Área sugerida: 80m² 1 Sala destinada ao uso de laptops pessoais: Área sugerida: 60m²
9 ADMINISTRAÇÃO
Essencialmente escritórios e algumas facilidades. Área sugerida: 150m²
10 ÁREAS DE EQUIPAMENTO
Dependendo da configuração da Biblioteca Pública, estes recintos de apoio podem ser concentrados ou dispersos. Inclui: Informação 20m² Guarda-volumes 50m² Livraria e loja especializada 50m² Cafeterias 100m² Restaurante 200m² Banheiros 100m²
11 HALL E CIRCULAÇÃO
O hall do edifício é a conexão entre o exterior e o interior da obra. Deverá ser projetado de forma a dissolver barreiras e atrair pessoas para o interior do edifício. Portanto dever-se-á caracterizar por um espaço descontraído, receptivo e orientado. Área de descanso e estar 30m² Salão de exposições 100m² Terminais de consulta 20m² (em todo o edifício) Extima-se que a área de circulação será 10% da área total do edifício.
12 ÁREAS EXTERNAS
O terreno muito amplo, de aproximadamente 8000m², abre as possibilidades de se trabalhar com espaços públicos como praças e parques, fortificando o conceito de sociabilização da comunidade. O espaço também preocupar-se-á com as condições urbanas locais, formulando um mobiliário urbano de qualidade, áreas de estacionamento, bicicletários, ponto de ônibus estruturado e etc. Espaços: Praça pública, contendo: Local para apresentações ao ar livre; Áreas de estar e ócio; Paisagismo; Área para manifestações culturais: feiras, exposições, etc; Estacionamento com 200 vagas; Bicicletário com capacidade para 150 bicicletas; Estruturação do ponto de ônibus existente
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somatório da áreas
ACERVO FÍSICO 1050m² SALAS DE LEITURA E PESQUISA 750m² SALAS MULTIFUNCIONAIS 200m² ESPAÇOS DE TRABALHO 310m² ÁREA DE REPRODUÇÃO DE MÍDIAS 300m² AUDITÓRIOS 2500m² LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA 140m² ADMINISTRAÇÃO 150m² ÁREAS DE EQUIPAMENTO 520m² HALL 150m² CIRCULAÇÃO +20%
ÁREA TOTAL 7284m²
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ANÁLISES Para melhor compreensão da obra a ser implantada, diversas análises foram realizadas a cerca das condicionantes de projeto.
O terreno
O terreno escolhido para concepção do projeto encontra-se no limite oeste da porção central da cidade de Montes Claros, MG, dado pela zona ZC-1 (Zona Central 1). Muito próximo a esta zona está a ZR2 (Zona Residencial 2), que circunda praticamente toda a zona central Figura 48 - Ícone de um terreno O entorno muito adensado contrasta com o em desenho gráfico grande vazio urbano de 8720m², representado pelo terreno. Segundo dados da Prefeitura, a ZC-1 está na faixa de 75% - 100% de adensamento. De um lado, as imediações expõme um grande crescimento habitacional, marcado por prédios de apartamentos de múltiplos andares. Do outro, edifícios do poder público, com gabaritos menores (três ou quatro andares) compõem a região, sendo eles a Prefeitura, o Tribunal de Justiça e o Senac. Ainda existem alguns poucos prédios comerciais, de poucos pavimentos, localizados principalmente na via secundária do terreno. Situado no cruzamento de duas grandes avenidas, uma principal e outra secundária, o terreno se torna anacrônico diante de uma região em constante transformação urbana. A propriedade pertence ao setor privado e não prevê nenhum tipo de construção futura para os próximos anos. Por estar inativo por quase uma década, supõe-se que o proprietário aguarda pela valorização da terra dada pela especulação imobiliária.
Figura 49 - Vista do Terreno a partir da Avenida Cula Mangabeira Foto por Fernanda Nascimento, 2016
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Figura 50 - Vista do Terreno a partir da Avenida Deputado Esteves Rodrigues Foto por Fernanda Nascimento, 2016
Figura 51 - Vista da Esquina do Terreno a partir da Avenida Deputado Esteves Rodrigues Foto por Fernanda Nascimento, 2016
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Figura 52 - Vista da Superior do Terreno Foto por Fernanda Nascimento, 2016
Figura 53 -Vista da Superior do Terreno Foto por Fernanda Nascimento, 2016
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Figura 54 - MAPA DA CIDADE DE MONTES CLAROS, MG ESC 1:75000 49
TERRENO
Figura 55 - MAPA FIGURA-FUNDO SITUAÇÃO DO TERRENO ESC 1:2000 50
Figura 56 - MAPA DOS USOS E CLASSIFICAÇÃO DAS VIAS ESC 1:2000 51
Legislação PLANO DIRETOR DE MONTES CLAROS, MG
Figura 57 - Ícone de uma balança de dois pratos em desenho gráfico
O novo Plano Diretor de Montes Claros foi realizado em janeiro de 2016, porém atualmente passa por um processo de aprovação. Por essa razão, foi utilizado como embasamento, o Plano Diretor de 2001 (o único disponível para o público). São objetivos do Plano Diretor: I - ordenar o pleno desenvolvimento do Município no plano social, adequando a ocupação e o uso do solo urbano à função social da propriedade; II - melhorar a qualidade de vida urbana, garantindo o bem-estar dos munícipes; III - promover a adequada distribuição dos contingentes populacionais, conciliando-a às diversas atividades urbanas instaladas; São diretrizes gerais de intervenção pública na área central, estabelecer instrumentos e incentivos urbanísticos e realizar obras que visem: [ preservar o traçado original do sistema viário; [ promover a recuperação de áreas públicas e verdes, restituindo-lhe condição de lugar de permanência e ponto de encontro; [ delimitar espaços públicos que funcionem como pólos de atividades culturais, construir abrigos nos pontos de ônibus; [ promover o restabelecimento dos passeios públicos e das áreas de circulação de pedestres;
Quanto as diretrizes da Política Cultural, visa-se: [ promover o acesso aos bens da cultura e incentivar a produção cultural; [ promover a implantação de centros culturais e artísticos regionalizados, bem como do Museu da Imagem e do Som; [ fazer levantamento da produção cultural, detectando suas carências; [ estabelecer programas de cooperação técnica e financeira com instituições públicas e privadas, visando a estimular as iniciativas culturais; [ promover e apoiar iniciativas destinadas a suprir o mercado de trabalho dos recursos humanos necessários à preservação e à difusão do patrimônio cultural; [ apoiar as iniciativas artísticas e culturais das escolas municipais, creches e centros de apoio comunitário; [ promover programação cultural, possibilitando a oferta de empregos e o desenvolvimento econômico do Município; [ estabelecer programa de divulgação e conhecimento das culturas tradicionais e populares. 52
LEI DE USO DE OCUPAÇÃO DO SOLO
Três são as categorias de uso institucional, compreendendo-os como: [ Institucional local: estabelecimentos, espaços ou instalações destinados à educação, cultura, lazer, culto religioso e compreendendo escolas, áreas de recreação e praças com área edificada até 1000m²; [ Institucional de bairro: estabelecimentos, espaços ou instalações destinados à educação, cultura, lazer, culto religioso, assistência social, saúde e administração pública, compreendendo atividades de escolas fundamentais, bibliotecas, instalções esportivas ou religiosas, com área mínima de 500m² e área edificada de até 2000m² [ Institucional metropolitano: estabelecimentos espaços ou instituições compreendendo, além das destinações descritas no item anterior, atividades universitárias, centros de pesquisa, museus, exposições de arte, clubes recrativos, praça de esportes, com área mínima de terreno de 5000m² e sem limitações de área contruída. Os modelos de assentamento urbano foram estabelecidos em função das respectivas taxas de ocupação, coeficiente de aproveitamento, afastamentos e área de estacionamento. Ao que compreende o objeto de estudo, tem-se: MA-14: edificação destinada à instalação de equipamentos de uso institucional local, podendo ter até dois pavimentos, com altura máxima de 9m² MA-15: edificação destinada à instalação de equipamentos para atendimento coletivo como escolas, hospitais, auditórios, bibliotecas, cinemas, clubes, estádios, sem limitação quanto ao número de pavimentos ou altura máxima. Os modelos de assentamentos permitidos segundo as zonas são:
ZONA
ZR-1
ZR-2
ZR-3
ZC-1
INSTITUCIONAL LOCAL
MA-14
MA-14
MA-14
MA-14
MA-14
MA-14
MA-15
MA-15
MA-15
MA-15
INSTITUCIONAL DE BAIRRO INSTITUCIONAL METROPOLITANO
ZC-2
MA-15
ZC-3
MA-15
Quanto às caracterírticas desses modelos de assentamento:
MODELO
TAXA DE COEFICIENTE DE AFASTAMENTO OCUPAÇÃO APROVEITAMENTO LATERAL
AFAST. FUNDOS
AFAST. FRONTAL
MA-14
50%
3,0
0,00m²
1,50m²
3,00m²
MA-15
50%
4,0
2,00m²
2,00m²
5,00m²
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CONDICIONANTES SOBRE O TERRENO A partir levantamentos, mapas e estudos anteriores faz-se, como forma de análise experimental, alguns croquis foram elaborados sob diversas condicionantes. São eles:
POSSÍVEL CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES NO TERRENO LIVRE
INSOLAÇÃO
NASCENTE
POENTE
FLUXO DE VEÍCULOS Em rosa, veículos a serviço em roxo, veículos pessoais
[ÁREA DE POTENCIAL PARQUE PÚBLICO (em verde)
ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO (em cinza escuro)
Em rosa: auditório e demais serviços; verde: acervos; azul: salas de estudo e leitura; vermelho: Fablabs e makerspace; em amarelo: café e restaurante; em marrom escuro: lojas e equipamentos. Branco: demais ambientes integrados
Figura 58 - Mapas de estudo em diversas condicionantes
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ESTUDO DE SOMBRA As imagens abaixo revelam o percurso da sombra no terreno ao longo do ano. SOLSTÍCIO DE VERÃO - 21/DEZ 9:00
12:00
EQUINÓCIOS - 20/MAR E 22/SET 9:00
12:00
SOLSTÍCIO DE INVERNO - 22/JUN 9:00
12:00
15:00
15:00
15:00
Figura 59 - Estudos de luz e sombra sobre o terreno em diversos horários no ano
A partir das análises das imagens acima, pode-se perceber o quanto a sombra projetada sobre o terreno varia ao longo do ano. Mesmo assim, ainda que de forma heterogênea, percebe-se que a porção norte do lote por diversas vezes permanece sombreada. Considerando que a cidade de Montes Claros é caracterizada por um clima muito quente e seco, o projeto poderá trabalhar com os potenciais sombreados para a disposição do edifício, de forma a criar microclimas apropriados a cada tipo de usuário. Por situar-se em um lote de esquina, a livre disposição do terreno, ou seja, sem muros ou barreiras que impeçam a circulação sobre o mesmo, induz o pedestre ou ciclista a cortar caminho no menor eixo possível. Considerando isso no espaço, a porção norte coincide com o menor caminho a ser percorrido, podendo-se tirar alguns partidos. A parte leste, insolada principalmente pelo sol da manhã configura-se um bom espaço para disposição do acervo físico, pois mantém condições favoráveis a preservação dos mesmos. No mais, o projeto deve estar atento as questões de insolação sobre as áreas de permanência do usuário, considerando as condições de clima da cidade. 55
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Figura 60 - MAPA DOS USOS E CLASSIFICAÇÃO DAS VIAS ESC 1:2000
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada durante o trabalho monográfico trouxe um forte embasamento para o projeto futuro de uma Biblioteca Pública para cidade de Montes Claros. Todos os capítulos levantados tiveram como finalidade prover um material base de consulta e apoio ao Trabalho Final de Graduação. A revisão literária forneceu o eixo teórico dos rumos atuais de uma biblioteca. O perfil do usuário esclarece o retrato do cidadão envolvido e seu respectivo Figura 58 - Segundo Portal (Arte colagem) consumo e produção de cultura. O con- Mariano Peccinetti, 2012 texto brasileiro e do mundo mostra como está a estruturação das instituições nacionais frente a produção estrangeira. O levantamento do que pode existir, sustentado por estudos de casos, ampliou a noção dos novos serviços viáveis ao espaço. Por fim, o programa de necessidades e pré-dimensionamento norteou os caminhos do que existirá para o caso de Montes claros, dentro das condicionantes previstas nas análises. Como resultante, faz-se possível a formulação do conceito e partido do projeto. O contexto atual das bibliotecas visam, como estratégia de sobrevivência, abraçar diversos usos, serviços e facilidades, na tentativa de atrair mais pessoas para dentro da obra. Todas essas alternativas tem em comum a produção de conhecimento, independente da forma de acesso a esta. Seja de forma passiva ou ativa, por leitura ou por criação, pelo trabalho ou por lazer, tudo que envolve disseminação de informação e ensino pode ser compreendido na espacialidade da biblioteca pública. O objetivo é que o usuário alcance o conhecimento por ele produzido. No caso da cidade de Montes Claros, a forte bagagem cultural e histórica de seu povo reflete diretamente no caráter do projeto. As comunidades devem se sentir refletidas nas características do lugar onde vivem e em seus ideiais e cultura. O equipamento deve prover espaços que facilitem o diálogo, a criatividade e manifestação da cultura local. Projetos deste tipo geram a participação da comunidade, promovem o intercâmbio social entre os usuários, fomentam o desenvolvimento de atividades formativas e comunitárias e a consequente responsabilidade da população no cuidado e desenvolvimento do meio disposto. Além disso, colabora na formação de focos de desenvolvimento urbano que permite incorporar num futuro outros serviços e equipamentos. O terreno escolhido fornece uma vasta área livre que, mesmo com um programa de necessidades completo, não preenche todo o espaço disponível. Como solução, o proposta será inserida nos moldes de um parque público, trazendo novas possibilidades de uso e requalificação do espaço urbano. A circulação do pedestre será pensada de forma a envolvê-lo no projeto, mesmo que de passagem, conectando as atividades do interior e exterior do edifício. 58
As condicionantes do comportamento ambiental da cidade, dado pelo clima seco e quente, sugerem uma preocupação em adotar estratégias climáticas que solucionem possíveis desconfortos de seus usuários. A prioridade é trabalhar com métodos passivos de climatização, reforçando ainda mais ao conceito de parque urbano. Por essas e outras questões, o projeto vai ganhando forma quanto a sua espacialidade e conceituação. É possível enxergar as potencialidades locais, os possíveis fluxos, usos e configurações, ainda que inexato.
Figura 59 - Foto da Maquete eletrônica do terreno e entorno com alguns estudos de volumes
Figura 60- Foto da Maquete eletrônica do terreno e entorno com alguns estudos de volumes
LEGENDA Usos
Multifuncional Serviços privados Auditório e respectivas salas de suporte
Cafés e Restaurantes Áreas de leitura e pesquisa Acervos 59
ReferÊncias bibliográficas Figura 61 - Garoto lendo em uma Biblioteca destruída Fotógrafo desconhecido, 1940
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