Monografia - Edifícios Históricos e a Habitação no Centro de São Paulo

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EDIFÍCIOS HISTÓRICOS E A HABITAÇÃO NO CENTRO DE SÃO PAULO Fernanda Leite






Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação dezembro 2015 orientação Ana Marta Alexandre Ditolvo


Fernanda Leite

EDIFÍCIOS HISTÓRICOS E A HABITAÇÃO NO CENTRO DE SÃO PAULO



“É que quando cheguei por aqui eu nada entendi Da dura poesia concreta de tuas esquinas“

Caetano Veloso



À Cidade de São Paulo



Agradecimentos

Agradeço

à professora Ana Marta, pela orientação, incentivo e ensinamentos que tanto agregaram a esse trabalho e a minha formação; aos meus pais, Rosane e João Marcos, e minha irmã, Giovana, pelo apoio e por sempre acreditarem nos meus sonhos e meu sucesso; aos que me acompanharam durante esses anos de faculdade, me incentivando e me apoiando nos momentos difíceis, especialmente: Jose, Bianca e Carolina.

Muito obrigada.



Sumário

1. Considerações Iniciais

13

2. De Caminho a Avenida 2.1. Escritório Ramos de Azevedo 2.2. Giulio Micheli

17 26 28

3. Contexto 3.1. A Área de Estudo 3.2. O Centro e seus Vazios 3.3. A Questão da Habitação 3.4. Movimentos de Moradia e Ocupações

31 33 44 48 53

4. Os Edifícios Selecionados 4.1. Hotel Central 4.2. Hotel Colúmbia Palace 4.3. Cotonifício Paulista

57 74 78 81

5. Estudos de Caso

85

6. Conceitos e Propostas 6.1. Hotel Central 6.2. Hotel Colúmbia Palace 6.3. Cotonifício Paulista 6.4. Memorial de Projeto de Restauro

91 96 107 116 125

7. Considerações Finais

133

8. Bibliografia e Iconografia

135 11



1. Considerações Iniciais

A Cidade de São Paulo não costuma primar pelo seu patrimônio cultural edificado e passa por problemas graves de déficit habitacional. Mas ainda é possível reconstruir seu passado arquitetônico por meio de fragmentos que sobreviveram ao intenso processo de renovação urbana que a caracteriza. Grande parte destes fragmentos são os edifícios localizados no centro de São Paulo, este que, mesmo contendo grande disponibilidade de infraestrutura e atividades, tanto econômicas como culturais, sofreu um processo constante de esvaziamento e degradação ao longo das últimas décadas. Assim, acabou perdendo população residente e tendo aumento do número de edifícios vazios. Isso leva à discussão sobre uma política habitacional para o centro, aproveitando o estoque construído dos edifícios centrais, como uma contrapartida ao modelo de expansão linear, descontínuo ou 13


desprovido de urbanidade, fator essencial para o desenvolvimento urbano sustentável. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é desenvolver propostas de requalificação para os edifícios selecionados, localizados na Avenida São João e seu entorno imediato, uma região representativa da área central da cidade de São Paulo. Estes imóveis são de interesse patrimonial e apresentam tipologias arquitetônicas relevantes que devem ser preservadas, e encontram-se vazios, sub-utilizados ou ocupados. As habitações a serem implantadas serão de interesse social, de promoção pública, exemplificando formas de reabilitar edifícios para habitação, aproveitando-se da infraestrutura já presente e buscando requalificar a região.

14


“Ora, numa cidade onde não há mais área para expansão urbana e o déficit habitacional supera o milhão de unidades, pensar em utilizar esses edifícios ociosos para criar habitações parece uma ideia sensata“ Alejandra Maria Devecchi, 2010.

15



2. De Caminho a Avenida



No Século XVII, Henrique da Cunha e Cristóvão da Cunha, proprietários das terras compreendidas no trecho atual que se estende do Largo do Paissandú e a Avenida Ipiranga, abrem um caminho de acesso para facilitar a passagem dos colonos. Este foi o início da Avenida São João, um pequeno caminho que ligava a atual Praça do Correio ao Largo do Paissandú. No ano de 1725, é construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Rosário, atual Praça Antônio Prado, levando um fluxo mais intenso de pessoas à região. Foi aberta Mapa da evolução viária - 1810 (Mapa elaborado com base na Planta Imperial da Cidade de São Paulo, levantada em 1810 pelo Capitão de Engenheiros Rufino José Felizardo e Costa) área de estudo áreas verdes rio

então, uma rua desde a Ponte do Açu até a Rua São Bento e o Largo do Rosário. Esse trecho ficou conhecido como Ladeira do Açu. Essas modificações já delineavam a estrutura da São João até as proximidades da atual Avenida Ipiranga. A Ponte do Açu, sobre o Anhangabaú, estava em constante risco 19


pelas enchentes. Com a construção da nova ponte em pedra, ganhando seu nome em homenagem ao santo protetor das águas São João Batista, nome que acabou sendo adotado para o Caminho de São João. Que se tornaria Rua de São João, com seu início no então Largo do Rosário e término na antiga Rua Maria Thereza, atual LEGENDA:

Duque de Caxias.

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O Largo do Paissandú, segundo o descreve Cícero Marques, era um lugar sem calçamento e alagadiço, que servia de ponto para carros

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de praça — carros puxados a cavalo. Segundo o autor, não surpreende que fosse alagadiço, pois no local existira uma mina d’água, uma das fontes de abastecimento da população.

Mapa da evolução viária - 1855 (Mapa elaborado com base na Planta Imperial da Cidade de São Paulo, levantada em 1855)

Os Correios, que até então tinham seu escritório central no pátio do Colégio, mudaram-se para uma nova sede, projetada pelo escritório de Ramos de Azevedo, levantada na intersecção da avenida São João 20

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com o Anhangabaú. Junto a isso, algumas casas em seus arredores foram demolidas e criou-se ali a praça do Correio. Em 1810, a região da Rua de São João já apresentava um arruamento inicial com a divisão em grandes lotes, com exceção de uma grande área mais próxima do vale do Anhangabaú, na qual estava localizada uma massa verde, assim como nas margens do rio. Em 1855, foram abertas novas vias e algumas áreas verdes deixam de existir e o processo continua em 1890, com a redução quase total de áreas verdes, um processo que acompanha o crescimento da cidade de São Paulo. Mapa da evolução viária - 1890 (Mapa elaborado com base na Planta da Capital do Estado e seus arrabaldes, desenhada em 1890 por Jules Martin) área de estudo áreas verdes rio

No ano de 1920, já se estende ao cruzamento com a Alameda Goete, e em 1921 começa a ser alargada devido ao seu uso como caminho dos bondes. Segundo a urbanista Regina Prosperi Meyer (2004), a nova Avenida São João possuía o “compromisso explícito com a 21


racionalização do tráfego e, sobretudo, com o transporte coletivo”. Sua configuração é transformada em 1930, com o encanamento do rio e maiores transformações no sistema viário da região, abertura de praças e novas ruas. Em 1950, a região já se encontra configurada, LEGENDA:

desde os alargamentos de avenidas até suas praças.

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Renomeada Avenida São João no início do século XX, já tinha dimensões parecidas com as atuais. Até meados dos anos 60, a São João viveu seus anos de glória como local de concentração de diversas salas de cinema, para todos os gostos e classes sociais, sendo conhecida como a “Cinelândia Paulistana”. “A São João já vinha cevando a condição de “Cinelândia

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Mapa da evolução viária - 1930 (Mapa elaborado com base no Mappa Topographico do Municipio de São Paulo, executado em 1930 pela empresa SARA Brasil)

paulistana” desde a década anterior. Foi quando surgiram na avenida os primeiros “cinemas palácios” — salas amplas, suntuosas, de exuberantes fachadas. (Toledo, 2004) 22

área de estudo áreas verdes


Também na década de 60, ocorreram investimentos em galerias e edifícios multifuncionais, com comércio e serviços integrados à habitação. Em 1967, os bondes param de circular em toda a cidade, mudando novamente suas características. E em 1970, sua grande modificação, a construção do Elevado Costa e Silva, conhecido como LE

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“Minhocão”, sobre suas quadras finais.

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Mapa da evolução viária - 1950 (Mapa elaborado com base no Mapa Falk de São Paulo, de 1950 publicado pela editora Melhoramentos de São Paulo)

área de estudo áreas verdes

LEGENDA: Mapa Atual (Mapa elaborado com base no Mapa Digital da Cidade de São Paulo - MDC ) ÁREAS VERDES

ÁREA DE ESTUDO

área de estudo áreas verdes

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Evolução cronológica da área de estudo:

Teve início com o caminho às terras da região, depois foi aberta até as

XVII

proximidades da atual Avenida Ipiranga. A

1822

ponte

sobre

o

Anhangabaú

é

renomeada, dando o nome Caminho de São João para o trecho.

A Rua de São João já se estendia até o cruzamento com a Alameda Glete e

1920

começa a ser alargada para os bondes.

1960

Já renomeada Avenida, é um local de concentração de diversas salas de cinema e hotéis.

Passa por uma grande modificação com a construção do Elevado Costa e Silva sobre suas quadras finais . 24

1970


Planta Imperial da Cidade de S茫o Paulo, 1810

XVII Aquarela de J. B. Debret, 1820

1822 Acervo Eletropaulo,1900 e Dmitri Kessel, 1947

1920 Dmitri Kessel, 1947 e Francisco Lopes, 1960

1960 Sampa Hist贸rica, 1967 e Gilberto Rios, 1970

1970 25


2.1. Escritório Ramos de Azevedo Francisco de Paula Ramos de Azevedo foi um grande arquiteto paulista cujos projetos modernizaram a metrópole em crescimento. Ele viveu de 1851 a 1928 e instruiu-se na Bélgica na École Speciale du Génie Civil et des Arts et Manufactures Annescée da Universidade de Gand onde estudou engenharia demonstrando uma inclinação para arquitetura. Tinha uma excelente habilidade para manejar o poder público

Projeto de Domiciano Ramos e Ramos de Azevedo, Liceu de Artes e Ofícios, 1897.

Retrato do Arquiteto Ramos de Azevedo, Oscar Pereira da Silva.

juntamente com os interesses privados e por isso ocupou muitos cargos de alta importância durante sua trajetória, além de ser um homem muito ativo na política de sua época. Durante sua formação foi influenciado pelo estilo neoclássico e pelo ecletismo, tendo estes refletidos em suas obras. Estabelece seu maior escritório de projetos em São Paulo, “Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo”, quando é convidado para construir os 26


prédios da Tesouraria da Fazenda, da Secretaria da Agricultura e da Secretaria de Polícia coincidindo com o processo de construção do Teatro Municipal. Este escritório foi de extrema importância nas primeiras décadas do século XX, acompanhando as transformações urbanas. Nele foram desenvolvidos centenas de projetos. Após o falecimento de Azevedo, passa a ser denominado “Escritório Técnico F. P. Ramos de Azevedo – Severo & Villares e Cia. Ltda”. O conjunto de suas obras demonstra quase todos os estilos e transformações urbanísticas que passaram por São Paulo, deixando bem claro o desejo de progresso que havia se estabelecido naquela época.

Palacete da Marquesa de Itu. Foto: Otto Rudolf Quaas, 1900.

27


2.2. Giulio Micheli Giulio Micheli, nascido em 1862, foi um engenheiro e também conde florentino. Foi um dos primeiros fundadores da Câmara de Comércio Italiana. Foi premiado em Paris, viajou por toda a Europa antes de instalar moradia em São Paulo em 1888. Uma de suas obras na cidade de São Paulo foi o Viaduto Santa Ifigênia, em 1913. Era presidente da Companhia Ítalo-Paulista e foi um dos primeiros a estimular e ativar o comércio de mármore de Carrara em São Paulo. Micheli estudou e realizou um primeiro plano de urbanização e renovação do centro da cidade. Ampliou a rua Líbero Badaró, sistematizou o início da atual avenida Anhangabaú, nivelou as ruas do Morro dos Ingleses, renovou a Quinze de Março. Seu sócio Luigi Pucci, também florentino e atuante em obras 28


arquitetônicas e urbanas, entregou seu escritório, um dos mais importantes da cidade, para Micheli quando deixou a profissão. Realizou, em conjunto com Chiappori, várias obras de diversos estilos. Estão entre suas obras o Prédio da Previdência e o Palacete da Livraria Alves. Também elaborou os planos e construiu a igreja de Santa Cecília em estilo romântico e concluiu as obras da capela da Santa Casa de Misericórdia .

Vista Interna da Igreja de Santa Cecília, Marco Aurélio Funchal, 2007.

Não costumava adotar a reprodução de estilos arquitetônicos que conhecera na Europa e em outros países, mas algumas de suas obras foram exceção.

Vista Externa da Igreja de Santa Cecília, Marco Aurélio Funchal, 2007.

29



3. Contexto



3.1. A Área de Estudo O estudo da área selecionada, a Avenida São João e seu entorno imediato, levanta questões importantes sobre a cidade de São Paulo. Entre elas está a concentração de trabalho e de infraestrutura, a questão da habitação, os movimentos de moradia e o patrimônio histórico edificado. Sendo uma região densamente edificada, com poucos terrenos vazios e áreas verdes, seguindo as características do centro da Cidade de São Paulo. É um local de grande movimentação diária, que possui cerca de 368.753 pessoas trabalhando diariamente e, em contrapartida, somente 59.917 moram no centro. Ou seja, cerca de 84% das pessoas que trabalham nesta região se locomovem diariamente de suas casas, aumentando seu tempo de deslocamento, agravando

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.

problemas de circulação e diminuindo sua produtividade. A quantidade de comércio tem aumento e o número de pessoas 33


que frequentam o centro é cada vez maior. Esses frequentadores são pessoas com menor poder aquisitivo e que dificilmente moram no centro, visto que o custo da moradia está cada vez mais elevado, obrigando esta população a se direcionar para favelas, loteamentos irregulares e até outras cidades ao redor de São Paulo, cujo custo de vida é menor. “O centro é ocupado cada vez mais por uma população (residente e flutuante) de menor renda em comparação à demanda existente anteriormente.” (Metrô, 1998).

É possível verificar nos mapas a discrepância de quadras que são predominantemente residenciais das que são comerciais e de serviços, ou seja, é visível a necessidade de habitação no centro como forma de combater problemas de mobilidade assim como tirar proveito de uma infraestrutura existente.

34

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.


A região tem fácil acesso por grandes vias estruturais da cidade, e também por meio de três linhas de metrô e diversas linhas de ônibus. Essa dinâmica instalou-se em São Paulo e criou um paradoxo urbano, onde áreas plenamente equipadas de infraestrutura e transporte de massa encontram-se em processo de esvaziamento populacional enquanto são abertos novos e distantes setores de expansão urbana. “O centro de são Paulo, apesar de conter atividades econômicas relevantes

e

grande

disponibilidade

de

infra-estrutura,

vem sofrendo um significativo esvaziamento, ao mesmo tempo em que suas periferias crescem extensivamente.” (Grostein e Meyer,2004)

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.

A partir da análise da região quanto sua inserção na malha urbana da cidade de São Paulo e seu Plano Diretor Estratégico, constata-se que a área de estudo está inserida em uma Macrozona de Estruturação e 35


Qualificação Urbana, descrita como a área mais propícia para abrigar os usos e atividades urbanos. Inserida na Macroárea de Estruturação Metropolitana, esta que, por sua vez, possui papel estratégico na reestruturação de São Paulo. Além disso, a área de estudo está localizada no Setor Central, para o qual se prevê, de acordo com o Artigo 12 do Plano Diretor: o fortalecimento do caráter de centralidade municipal, aumentando a densidade demográfica e a oferta habitacional, respeitando o patrimônio histórico, cultural e religioso, otimizando a oferta de infraestrutura existente; renovando os padrões de uso e ocupação e fortalecendo a base econômica local. Além da valorização das áreas de patrimônio cultural com a proteção e recuperação de imóveis e locais de referência da população da cidade, estimulando usos e atividades compatíveis com a preservação e sua inserção na área central e também o estímulo à provisão habitacional de 36

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.


interesse social para a população de baixa e média renda de modo a aproximar a moradia do emprego. Dentro da área de estudo encontram-se áreas e lotes destinados à ZEIS, ou seja, Zona Especial de Interesse Social, destinadas, predominantemente, à moradia digna para população de baixa renda. Também encontram-se áreas de ZEPEC, ou seja, Zona Especial de Preservação Cultural, destinadas à preservação de bens de interesse cultural. O centro tem um significado simbólico, em função da presença do patrimônio histórico e cultural. A região estudada está parcialmente inserida na área de tombamento do Vale do Anhanbaú definida

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.

pelo perímetro discriminado na Resolução CONPRESP 06/91. Alguns edifícios tem tombamento em nível municipal e outros em nível estadual. 37


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3.2. O Centro e seus Vazios Quando se discute a questão da Cidade de São Paulo, suas transformações e crescimento urbano, chega-se ao esvaziamento da área central e o crescimento fragmentado e disperso da cidade. São utilizados dois termos para explicar esse fenômeno, vazio construído e vacância. São classificados por Valéria Bomfim (2004), sendo vazio construído, os imóveis que não estão abandonados, mas fechados ou vagos, sem uso, e vacância como a relação entre o número de espaços edificados vazios com os demais edifícios de uma determinada área. A cidade de São Paulo teve seu crescimento impulsionado nas últimas décadas do século XIX, com a economia cafeeira e também o processo de industrialização. De acordo com Bianchini (2013), ”entre 1890 e 1900 houve um crescimento exponencial que pode ser avaliado pelos dados de população quando a cidade passa de 64.934 para 239.820 habitantes, que por sua vez gerou uma 44


expansão física do território.” O Centro da Cidade passa por uma grande transformação a partir dos anos de 1930, data que marca o processo de esvaziamento de habitações na região, na medida que a população de mais alta renda passa a morar nos bairros novos. Também as funções culturais migram e criam novos núcleos na cidade. Esse fenômeno se estendeu durante os anos, auxiliado pela preferência do uso do automóvel para a locomoção. ”Esse processo teve inicio entre 1955 a 1960, período em que Juscelino Kubitscheck era Presidente do Brasil, e implementou uma política econômica ancorada na abertura de indústrias automobilísticas.” (Vilaça, 2001).

Ao longo do tempo, o centro passou pela perda de população residente e o aumento do número de edifícios vazios, o que ocorre 45


devido a fatores como o deslocamento da população, de usos e de órgão públicos, também a troca de demanda a partir da década de 1950, investimentos em outras áreas, valores menores em outras regiões e a possibilidade de verticalização fora do centro. Sendo assim, com o investimento sendo destinado para outras áreas de São Paulo, muitos proprietários na área central fecham seus edifícios e esperam uma valorização imobiliária para poder destinar um novo uso ou vender com lucros significativos. Porém, estes edifícios fechados acabam ficando degradados e abandonados, também outros proprietários param de pagar impostos, sendo inviável investimentos e vendas por conta das dívidas. Segundo o IBGE, a República está perdendo densidade populacional desde 1980. Conforme Bonfim (2004), o centro de São Paulo possui 18% de vacância de área construída, sendo que a grande maioria dos 46


imóveis é vertical e com proprietário único, sem desmembramento da propriedade e com um período de desocupação maior que um ano. Apesar do seu processo de deterioração, a área central apresenta uma grande oferta de trabalho, comércio e serviços para a população. Portanto, é cada vez mais comum ter notícias de edifícios vazios que foram ocupados, já que, com o descaso do Governo, os Movimentos de Moradia resolvem por conta própria os problemas de moradia, usando esses edifícios ociosos do centro para abrigar a população de baixa renda. “Se no período diurno milhões de pessoas usufruem das estruturas existentes, no período noturno, as mesmas são ociosas. Sem população fixa, sem vida noturna, sem segurança, torna-se território vazio, um não lugar” (Puntoni, 2000)

47


3.3. A Questão da Habitação Para compreender a dimensão da questão habitacional no Centro da Cidade de São Paulo, é necessário analisar quando tem início a discussão sobre Habitação social no Brasil, as ações governamentais e também os movimento de moradia. Sendo esses tão relevantes quanto as iniciativas públicas. Segundo Nabil Bonduk (2004), foi durante a ditadura Vargas (19301945) que as questões da habitação foram colocadas em cena, uma vez que os operários usavam parte significativa de seus salários para o pagamento do aluguel, o que refletia no seu modo de vida e nas questões ideológicas. Desde então os temas relacionados à habitação surgem em diferentes categorias, a habitação como meio de reprodução social e habitação como elemento de formação ideológica, política e moral. Dentro deste cenário, foram criadas entidades públicas e privadas, 48


para investigar e debater sobre o desenvolvimento nacional. Em 1931, o Instituto de Engenharia criou o primeiro ”Congresso de Habitação”e o IDORT (Instituto de Organização Racional do Trabalho) promoveu, em 1941, a ”Jornada de Habitação Econômica”, além disso, o Idort produziu debates sobre administração municipal, transportes, alimentação e desperdício, por quase 30 anos. Neste mesmo ano, foi construído o primeiro conjunto habitacional pelo IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões). Em 1942, com a Lei do Inquilinato, o Governo congelou os aluguéis, interferindo no mercado de locação. Contestada no Pós-guerra, por ser considerada como uma das causas da crise habitacional, mesmo que alguns especialistas a considerassem como uma das melhores soluções para a época. Os primeiros Órgãos Federais de Habitação Social se fortaleceram 49


no final do Estado Novo, com a crise habitacional entre 1945 e 1954, quando o país estava em processo de formular uma política habitacional, sem o predomínio dos interesses econômicos ou corporativos. Após a crise de moradia a elite incentivou que os cortiços fossem eliminados e os trabalhadores fossem morar na periferia, segregando a cidade. Até 1964, mesmo com a questão habitacional sendo considerada responsabilidade do governo, não houve implementação de uma política habitacional. Isso ocorreu pela existência de interesses contraditórios, descontinuidade administrativa e falta de prioridade. Esse descaso público para resolver os problemas habitacionais forçou a população a procurar alternativas por conta própria, o que resultou em soluções informais como favelas e os loteamentos precários.

50


Atualmente o Brasil tem um Déficit Habitacional de 5,5 milhões de moradias, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAB) 2008. Sendo que a Região Sudeste, concentra 36,9% do total do déficit habitacional do País, ou 2,05 milhões de moradias. Em 2010, o Censo apresentou dados de que 290.317 domicílios particulares estão vagos no município de São Paulo. ”Enquanto grandes terrenos eram ocupados com novas construções na periferia, as áreas centrais se tornavam cada vez mais vazias devido ao grande estoque de edificações sem uso” (Bianchini, 2013)

Hoje, segundo o Governo do Estado de São Paulo, o município de São Paulo concentra 53,6% da necessidade de Habitação do Estado. E tem sido foco de diversos projetos e intervenções públicas e dos movimentos de moradia.

51


São Paulo possui, de acordo com o Plano Diretor Municipal de Habitação, 10.724 habitações em favela e 11.086 em cortiços, totalizando 21.810 habitações em situações precárias ou informais, concentrando 4,7% somente na região central de São Paulo. Um estudo feito pela fundação Seade estima a existência de 163 mil famílias com renda até três salários mínimos, que comprometem 30% do seu salário pagando aluguel, outras 13 mil que estão em situação de rua aguardando a solução pelos programas da Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB). Embora desde os anos 70 existisse o discurso sobre a importância da reabilitação na área central, foi apenas no final dos anos 80 que o município começou a definir instrumentos para viabilizar intervenções nessa região.

52


3.4. Movimentos de Moradia e Ocupações O centro de São Paulo apresenta um grande índice de imóveis vazios e subutilizados, nos quais os movimentos de moradia têm papel fundamental denunciando e cobrando, através das ocupações, o cumprimento da função social da propriedade. Segundo Nabil Bonduki (1998), ”alguns edifícios abandonados tem sido ocupados, com muitos sacrifícios, pelos movimentos de moradia, na luta pelo direito ao centro; em alguns casos, eles obtêm sucesso na negociação com o poder público, viabilizando uma reabilitação dos imóveis como habitação social, trata-se mais de uma reação do que de uma ação pública.”

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.

A luta por moradia começou na década de 70, acompanhada pela busca de melhores condições de salários e moradia digna. Já na década de 80, grupos atuantes nas periferias se consolidaram e invadiram um terreno, com o intuito de transformá-lo em habitação 53


social. Na mesma década, no centro, nasciam os movimentos de moradia, com a mobilização do Movimento Unificação da Luta dos Cortiços, na década de 90. ”Desde 1996, a mídia falada e escrita apresenta manchetes sobre ações de grupos sociais organizados em movimentos de luta por moradia que ocupam imóveis vazios na área central de São Paulo. As ocupações foram estratégias adotadas pelos movimentos sociais para denunciar a falta de políticas habitacionais de interesse social e a presença de inúmeros imóveis vagos na área central em São Paulo.” (Bomfim, 2004)

Em

2014,

aconteceram

diversas

invasões,

manifestações

e

reivindicações de direitos, a partir disso é possível identificar que cada vez mais a população está debatendo com o Governo para cobrar não só promessas, mas resultados. É importante resolver tal problemática, porque o caso da habitação é muito grave e o ciclo 54

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.


de invasão e reintegração acontece muito rápido, e os programas habitacionais precisam acompanhar esse rítimo. “Essas ocupações têm sido feitas tanto para encontrar uma solução de moradia para as famílias ocupantes como para denunciar o problema habitacional e o abandono de edifícios públicos e privados no centro. A partir das ocupações, os movimentos,

em

cooperação

com

assessorias

técnicas,

desenvolvem projetos e buscam negociar com a Caixa e outros organismos alternativas de financiamento para reformar os Imagem FLM (Frente Luta por Moradia), 2012.

prédios e garantir seus direitos de moradores.” (Silva, 2007)

Imagem FLM (Frente Luta por Moradia), 2012.

55



4. Os EdifĂ­cios Selecionados



Inicialmente elaborou-se um levantamento de todos os imóveis de interesse patrimonial que se situam dentro dos distritos da Sé e República e que se apresentavam de alguma forma subutilizados na ocasião da coleta dos dados. A partir deste levantamento foi constatada a existência de aglomerados em determinadas regiões de edifícios segundo esses critérios, uma delas sendo a Avenida São João e seu entorno imediato. Seguindo a determinação da área de estudo, foram analisados os imóveis catalogados a partir da elaboração de fichas de inventário, conforme recomendado pelas instâncias de preservação. Sendo assim, foram realizados estudos em mapas indicando datas de construção, estado de conservação e uso atual.

59


Dessa forma justifica-se a escolha destes edifícios como objetos de estudo para a proposta de habitação social em imóveis de interesse patrimonial. Estes imóveis tem data de construção entre 1900 e 1930 e, de acordo com levantamento visual, podem-se distinguir prédios comerciais e residenciais que encontram-se em estado de conservação precário ou ruim e estão vazios, sub utilizados ou ocupados por movimentos de moradia.

60

Imagens de Acervo Pessoal, 2015.


61


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente 62

sem denominação 006.017.0039 Rua Conselheiro Crispiniano, 329 1910 não identificado Estrutura mista e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 3 Pavimentos Hotel Térreo: Estacionamento | Demais Pavimentos: Desocupado Tombado | NP 3


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente

sem deniminação 006.027.0193 Avenida São João, 235 1925 Albuquerque & Longo Concreto e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 7 Pavimentos Térreo: Comercial | Demais pavimentos: Comercial e Serviços Térreo: Comercial Demais pavimentos: Desocupado Tombado | NP 3 63


Denominação

Hotel Central

Setor/Quadra/Lote

001.058.0092

Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente 64

Avenida São João, 284 1915 Escritório de Ramos de Azevedo Concreto e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 3 Pavimentos + Mansarda Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Hotel Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Ocupado Tombado | NP 3


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente

Cotonifício Paulista 001.058.0047 Avenida São João, 340 1915 Engenheiro Giulio Micheli Estrutura mista e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 3 Pavimentos + Mansarda Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Residencial Multifamiliar Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Ocupado Tombado | NP 3 65


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente 66

sem denominação 006.027.0092 Avenida São João, 345 1926 A. Marchesini Concreto e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 5 Pavimentos Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Não identificado Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Desocupado Tombado | NP 3


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente

Hotel Dom José 001.055.0007 Avenida São João, 541 1913 não identificado Estrutura mista e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 3 Pavimentos Térreo: Comercial | Demais pavimentos: Comercial e Serviços Térreo: Comercial Demais pavimentos: Desocupado Tombado | NP 3 67


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente 68

Edifício Duque de Caxias } Hotel Colúmbia Palace 001.055.0004 Avenida São João, 578 1910 F. P. Ramos de Azevedo & Cia. Engenheiros Architectos Constructores Concreto e vedação em alvenaria Edifício isolado Térreo + 6 Pavimentos Térreo: Comercial | Demais pavimentos: Não identificado Térreo: Comercial Demais pavimentos: Desocupado Tombado | NP 3


Denominação Setor/Quadra/Lote Endereço Ano de construção Autor do projeto Técnica construtiva Caracterização Número de pavimentos Uso original Uso atual Proteção existente

sem denominação 001.055.0001 Avenida São João, 620 1922 Companhia Iniciadora Predial Concreto e vedação em alvenaria Edifício isolado Porão + Térreo + 3 Pavimentos Térreo: Comercial | Demais Pavimentos: Residencial Multifamiliar Desocupado Tombado | NP 3 69


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Estado de conservação dos edifícios selecionados (Mapa elaborado com base no REGULAR Mapa Digital da Cidade de São Paulo -BOM MDC e levantamento visual)

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Uso atual dos edifícios selecionados (Mapa elaborado com base no Mapa Digital da Cidade de São Paulo - MDC)

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1916 edifícios - 1920 Período de construção dos selecionados (Mapa elaborado com 1921 - base 1925 no Mapa Digital da Cidade de São Paulo - MDC) 1926 - 1930

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1910 - 1915

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ÁREA DE ESTUDO V

1910 - 1915 1916 - 1920 1921 - 1925 1926 - 1930

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área de estudo

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AVENIDA

IPIRANGA

73

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4.1. Hotel Central Projetado e construído pelo escritório de Ramos de Azevedo em 1915, para “renda” a pedido do Sr. Antônio de Pádua Salles. O edifício teria, inicialmente, armazéns e depósitos no térreo, e salas comercias ou de serviços nos pavimentos superiores. Tinha em vista uma função para escritórios, porém para o atendimento da demanda foi convertido a hotel. Essa demanda surgia dos fazendeiros e visitantes que se dirigiam à cidade a negócios e para desfrutarem de sua vida cultural e de seu comércio diversificado. É um edifício de grande importância documental, representando uma época em que se mesclava o ecletismo com o concreto armado, permitindo prédios com maior altura, sendo um dos primeiros hotéis de quatro pavimentos na cidade.

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Imagem de Acervo Pessoal, 2015.


Caracterizado por suas mansardas estilizadas, compondo bela paisagem da então moderna avenida, que também abriga, ao lado do Hotel Central, o Hotel Britânia e o prédio dos Correios, projetos também de Ramos de Azevedo. Dados Arquitetônicos De acordo com o relatório de bens protegidos realizado pelo DPH, o edifício tem linguagem eclética, possui duas fachadas, sendo a principal voltada para a Avenida São João e a posterior para a rua do lado oposto da quadra, Abelardo Pinto. A fachada principal possui composição simétrica em relação ao eixo vertical central, este reforçado por pequeno avanço sobre a via de pedestres, balcões

Fachada do projeto original. fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP).

diferenciados, fachada através da qual se dá o acesso ao edifício, cujo vão é emoldurado com granito ornamentado.

75


No pavimento térreo dessa fachada, ocupado por estabelecimentos comerciais, há a bossagem e o sócolo de granito rusticado (com bordas lisas). A bossagem continua nos pavimentos superiores, porém com menor saliência. Distribuem-se também pela fachada pilaretes, cártulas e cimalha com dentículos. O último pavimento configura-se em forma de mansarda, com cobertura em ardósia (ou em reprodução a esta), e com lucarnas encimadas por frontões. No pavimento térreo, os vãos comerciais possuem portas metálicas, de enrolar, com bandeiras de serralheria ornamental. A porta de acesso ao edifício tem duas folhas em serralheria ornamental, assim como sua bandeira. Nos pavimentos superiores, incluindo as lucarnas, as esquadrias são de madeira, externamente com duas folhas venezianas articuladas, internamente de madeira e vidro. Nos segundo e terceiro 76

Plantas do projeto original. fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP).


pavimentos, as esquadrias são acrescidas de bandeiras fixas de vidro em caixilhos de madeira; e na mansarda, as bandeiras são de venezianas fixas. No primeiro pavimento não há bandeiras, mas os vãos são ornamentados com peitoris em detalhada serralheria. A fachada posterior apresenta detalhamento menos requintado, mas com bossagem, balcões sustentados por consolos e limitados por guarda-corpo metálico. Difere também na disposição dos elementos sendo possível observar um corpo central, no eixo das quatro lucarnas com frontões em arco abatido e módulos nas extremidades laterais, no eixo das lucarnas com frontões triangulares. No térreo, o acesso central se dá por porta de madeira de duas folhas, com postigo de madeira e gradil metálico com serralheria ornamental, assim como sua bandeira. As demais esquadrias seguem a tipologia

Plantas do projeto original. fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP).

da fachada frontal.

77


4.2. Hotel Colúmbia Palace O Edifício Duque de Caxias, construído em 1927, preserva em sua fachada a inscrição “F. P. Ramos de Azevedo & Cia. Engenheiros Architectos Construtores”. Inicialmente foi nomeado Edifício Duque de Caxias, mas nunca exerceu função de habitação multifamiliar, sendo diretamente transformado para o seu uso como hotel. Situado na testada da quadra, na Avenida São João, próximo à Avenida Ipiranga, em paisagem caracterizada pela diversidade arquitetônica em estilos, períodos construtivos e gabaritos. Seu projeto original encontra-se no Arquivo Municipal de Processos, com alteração de plantas registrada em 1928 e sua regularização em 1947. Encontra-se abandonado a quase duas décadas e foi ocupado em 2010.

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Imagem de Acervo Pessoal, 2015.


Dados Arquitetônicos De acordo com o relatório de bens protegidos realizado pelo DPH, o imóvel consiste de dois volumes alinhados à via com um poço de iluminação e ventilação entre eles. A fachada principal é em estilo eclético com influências neoclássicas. O ritmo é estabelecido pelo jogo de planos criado pelas pilastras salientes com frisos e pelo recuo do plano das esquadrias em forma curva na parte superior. No primeiro pavimento, um balcão balaustrado abrangendo três vãos dá início à fachada dos pisos superiores, que são encimados por frontões triangulares e cimbrados. Acima do quarto piso, uma cimalha, ocupando toda a largura da fachada, antecede o quinto e último pavimentos, sendo então finalizada por cártula e frontão no

Fachada do projeto orginal. fonte: Divisão do Arquivo Municipal de Processos (DAMP).

eixo central.

79


O acesso é feito por porta de chapas metálicas recente. Os vãos comerciais abrigam portas metálicas de enrolar e os demais pavimentos apresentam dois planos: externamente, duas folhas de madeira veneziana, articuladas e de abrir; internamente, duas folhas de madeira e vidraça de abrir e com bandeira fixa com vidro. Os balcões apresentam guarda-corpo em serralheria artística.

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Plantas do projeto orginal. fonte: Divisão do Arquivo Municipal de Processos (DAMP).


4.3. Cotonifício Paulista No contexto do alargamento da Avenida São João, em 1915, foi apresentado à prefeitura o projeto executado pelo engenheiro Giulio Micheli para a construção de um prédio que contaria com térreo para estabelecimentos comerciais e mais três pavimentos para apartamentos residenciais. De acordo com documentação encontrada no Arquivo Histórico de São Paulo, o terreno original era de propriedade da Sociedade Previdência de Pensões e Pecúlios que, no mesmo ano, adquiriu o terreno voltado para o Largo do Paissandú e solicitou a substituição das plantas já aprovadas. Sendo assim, o edifício passou a ter mais uma fachada.

Imagem de Acervo Pessoal, 2015.

No ano de 1916, com o edifício já em construção, é apresentado à prefeitura outro projeto modificativo, no qual a cobertura passaria a ter uma mansarda, onde seriam alojados depósitos para os 81


apartamentos. Passou a ser de propriedade da Sociedade Anônima Cotonifício Paulista e também abrigo, por período desconhecido, o Hotel Municipal. Atualmente, no térreo, há estabelecimentos comerciais; os demais pavimentos encontram-se aparentemente ocupados por um movimento social. Dados Arquitetônicos De acordo com o relatório de bens protegidos realizado pelo DPH, o edifício apresenta duas fachadas: uma voltada para a Avenida São João e outra para o Largo do Paissandú. Concebido em linhas ecléticas, com rica e bem elaborada ornamentação. Suas fachadas são revestidas de argamassa com acabamento em pintura; na altura do pavimento térreo apresenta bossagens. 82


Além da ornamentação composta por cimalhas, consoles, painéis com folhagens sinuosas em alto relevo e molduras salientes nos vãos, destacam-se os planos ligeiramente salientes em relação ao alinhamento do térreo, os balcões com guarda-corpos em gradil de ferro e em alvenaria e, junto ao plano chanfrado do edifício, o frontão cimbrado interrompido em volutas no qual há a inscrição em alto relevo “PROPRIEDADE DO COTONIFÍCIO PAULISTA SA”.

Planta do projeto original. fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP).

No alto do edifício, há a mansarda e lucarnas encimadas por cimalha triangular. No térreo, servindo aos estabelecimentos comerciais, há portas metálicas de enrolar com bandeira em gradil metálico. Nos demais pavimentos, há esquadrias compostas, externamente, por venezianas de madeira de duas folhas articuladas de abrir e, internamente, de madeira e vidraça com duas folhas de abrir e

Planta do projeto original. fonte: Arquivo Histórico de São Paulo (AHSP).

bandeira aparentemente fixa.

83



5. Estudos de Caso



De Beco a Avenida Em seu trabalho, De Beco a Avenida: a História da Rua São Luiz, José Eduardo de Assis Lefèvre conta a história da Avenida São Luiz através de um levantamento de projetos que ali foram executados, remontando sua história através de sua arquitetura. Neste trabalho, é traçado um painel histórico das transformações da avenida São Luiz, desde sua origem como o Becco Comprido, passando pela fase da rua São Luiz, até chegar à atual avenida. O autor relaciona as transformações ocorridas na avenida com as

Imagem retirada de Vitruvius.

transformações na sociedade paulistana, baseando-se em diversas fontes, como plantas da cidade, projetos arquitetônicos e fotografias. Em sua conclusão, afirma que hoje não há um grande interesse pela área por não existirem vínculos diretos com ela, então não há interesse suficiente para reconfigurar seu espaço e qualificá-lo.

87


Red Bull Station Localizado na Praça da Bandeira, o Red Bull Station ocupa a antiga sub estação Riachuelo, construída nos anos 20 e desativada desde 2004. Foi classificada pelo Conpresp em 2002 como de importância histórica pelo tombamento do Bixiga, em NP3, ou seja, com obrigatoriedade de preservação de suas fachadas e cobertura. O projeto de restauro, realizado pela CO. Companhia de Restauro, contempla a restauração dos revestimentos das fachadas e cobertura e dos elementos compositivos e decorativos, com algumas adaptações necessárias à funcionalidade do novo uso proposto e o resgate da originalidade do projeto documentado. Outra premissa do projeto era não criar um falso histórico, possibilitando a compreensão do funcionamento da antiga subestação de energia. Além disso, pretende-se também sua reincorporação na cidade, beneficiando a ocupação da área central num processo impulsionador de desenvolvimento. 88

Imagem retirada de Archdaily, Foto por Pedro Kok.


Hotel São Paulo Localizado junto à Praça da Bandeira, o Hotel São Paulo, construído na década de 1940 para o uso de hotel, estava desocupado desde 1980 por sua localização problemática. Foi ocupado no final da década de 1990 por cerca de 400 famílias ligadas ao Fórum dos Cortiços. Além de proporcionar moradia, funcionou como forma de pressão e reivindicação na luta por moradia. Foi desapropriado em 2004, como parte do programa Morar no Centro, tendo seus três primeiros pavimentos e o térreo

Foto de Pierre Verger, 1945.

transformados em uma unidade básica de saúde e creche. O edifício, hoje completamente ocupado, conta com 152 unidades, sendo 15 quitinetes, 111 unidades de 1 dormitório, 20 unidades de 2 dormitórios e 5 apartamentos adaptados para deficientes físicos, com metragens entra 25,9 m2 e 44,38m2.

89



6. Conceitos e Propostas



O principal objetivo do trabalho é a requalificação de edifícios com importância histórica e conversão para o uso de habitação social, unindo duas questões relevates no contexto atual de São Paulo. A partir do levantamento realizado, foram escolhidos três imóveis com tipologias diferentes. O primeiro, o Hotel Central, tem tipologia em H, com uma fachada principal e uma posterior além de suas fachadas internas no foço central, permitindo a iluminação e a ventilação de todas as unidades propostas. Assim também é configurado o Hotel Colúmbia Palace, porém com somente uma fachada principal voltada para a Avenida São João. O último, o edifício do Cotonifício Paulista, tem tipologia típica de um edifício de esquina, com uma fachada para a Avenida São João e outra para o Largo do Paissandú, colocabdo a esquina como destaque com inscrições e elementos decorativos. Em sua planta, configura-se em dois eixos perpendiculares. Estes edifícios estão enquadrados pelo Conpresp como Nível de 93


Proteção 3, que corresponde a preservação de suas características externas, incluindo fachadas, cobertura e volumetria. Ainda considerando a legislação vigente, foram seguidas as normas do corpo de bombeiros para as escadas de incêndio e também a norma de acessibilidade, que determina que as pessoas devem chegar ao seu destino sem dificuldades e sem barreiras. Tendo em vista atender aos diferentes moradores, as unidades propostas são variadas, em quantidade de quartos e também em área útil, ao mesmo tempo em que aproveita-se ao máximo a estrutura existente. Esse cuidado também existiu na decisão de manter áreas molhadas e paredes hidráulicas para evitar mudanças e criação de novos shafts, assim como furos em lajes. Também são propostas lavanderias comunitárias para garantir melhor aproveitamento interno dos apartamentos. As intervenções propostas, tem como base a criação de novas divisórias 94

de

apartamentos,

com

materiais

leves

que

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sobrecarreguem a estrutura existente, como paredes drywall. Também são propostos novos rebaixamentos de forro para a passagem de novas tubulações quando necessário. Também considerando a função social da edificação, em todos os edifícios foram criadas áreas comuns para convivência e lazer. Essa é uma característica muito forte encontrada nas organizações de grupos de luta por moradia que hoje estão instaladas nesses imóveis. Além disso, foram mantidos os comércios existentes, mantendo assim suas características originais e a diversidade de atividades. “De maneira geral, pode-se afirmar que reabilitações e reconversões são sempre possíveis.” (Devecchi, 2010)

Com o projeto de intervenção pretende-se também, além da requalificação do artefato tombado objeto deste restauro, sua reincorporação

na

cidade

contemporânea,

beneficiando

a

ocupação desta área da cidade num processo impulsionador de desenvolvimento. 95


6.1. Hotel Central Plantas de levantamento

96


Plantas de demolição e construção

paredes a manter paredes a demolir paredes a construir

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A partir dos estudos realizados, o projeto proposto para o Hotel Central mantĂŠm em seu pavimento tĂŠrreo o comĂŠrcio existente. Neste pavimento foi retirada uma parte da escada de acesso para dar lugar a uma plataforma elevatĂłria, que garante o acesso universal.

paredes a manter paredes a construir

98


No pavimento do mezanino, onde atualmente encontra-se uma área sem uso, é proposta uma sala para cursos que podem ser oferecidos tanto para os moradores quanto para visitantes. Também é o pavimento onde está a lavanderia comunitária que servirá as unidades sem lavanderia interna.

paredes a manter paredes a construir

99


Tanto no primeiro pavimento quanto nos pavimentos tipos, encontram-se as habitacionais que totalizam 24 unidades habitacionais, sendo essas 06 de 1 dormit贸rio/conjugados de 37 a 40m2, 09 de 1 dormit贸rio de 40 a 57m2 e 09 de 2 dormit贸rios de 50 a 70m2.

paredes a manter paredes a construir

100


paredes a manter paredes a construir

101


A mansarda é o mais alterado com a proposta de demolição de paredes, pois seu novo uso proposto é uma área de convivência ou salão de festas, juntamente com sala de jogos e um apoio.

paredes a manter paredes a construir

102


Para

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cobertura,

preservada

de

tombamento se

sua

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que

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conservação

e

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ser o

propõerestauro/

recuperação. Que será realizada a partir da restauração do madeiramento e cobrimento, com técnicas similares as originais.

paredes a manter paredes a construir

103


Também foi realizada a identificação dos materiais de revestimento presentes nesta fachada para compreender o objeto de estudo e assim realizar uma proposta de restauro.

placas de ardósia madeira vidro base em pedra

104

argamassa raspada pintada argamassa fundida ferro fundido portas metálicas


A partir do diagnóstico visual, foram identificadas as patologias na fachada principal do imóvel, que se apresenta com sujidade generalizada, além de algumas descaracterizações, desprendimento do revestimento e algumas partes faltantes. O dano mais presente foram as pichações, como ilustrado na fachada ao lado.

sujidade generalizada descaracterização desprendimento do revestimento

pichação partes faltantes umidade

105


Detalhe do port達o em ferro fundido da entrada principal.

106

Detalhe do balc達o do quarto pavimento em argamassa raspada e detalhes em ferro fundido.


6.2. Hotel ColĂşmbia Palace Plantas de levantamento

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Plantas de demolição e construção

paredes a manter paredes a demolir paredes a construir

108


A partir dos estudos realizados, o projeto proposto para o Hotel Colúmbia Palace mantém em seu pavimento térreo o comércio existente e ganha uma área de praça no vazio existente entre a edificação e a divisa posterior. Esta praça garante o aproveitamento desta área e também cria um local de permanência. Neste pavimento foi retirada uma parte da escada de acesso para dar lugar a uma plataforma elevatória, que garante o acesso universal.

paredes a manter paredes a construir

109


No primeiro pavimento, são propostas salas para cursos que podem ser oferecidos tanto para os moradores quanto para visitantes. É proposta uma área de convivência ou salão de festas, juntamente com sala de jogos e um apoio. Também é o pavimento onde está a lavanderia comunitária que servirá as unidades sem lavanderia interna.

paredes a manter paredes a construir

110


Nos pavimentos tipos, encontram-se as unidades que totalizam 35 unidades habitacionais, sendo essas 10 de 1 dormit贸rio/conjugados de 29 a 42m2, 15 de 1 dormit贸rio de 40 a 47m2 e 10 de 2 dormit贸rios de 58 a 70m2.

paredes a manter paredes a construir

111


Para a cobertura, que deve ser preservada de acordo com o tombamento do edifício, propõe-se sua conservação e restauro/recuperação. Que será realizada a partir da restauração do madeiramento e cobrimento, com técnicas similares as originais.

112


TambÊm foi realizada a identificação dos materiais de revestimento presentes nesta fachada para compreender o objeto de estudo e assim realizar uma proposta de restauro.

portas metĂĄlicas madeira vidro

argamassa raspada pintada argamassa fundida ferro fundido base em pedra

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Sujidade generalizada

A partir do diagnóstico visual, foram identificadas as patologias na fachada

Descaracterização do

imóvel,

que

se

apresenta

com

sujidade generalizada, além de algumas Desprendimento do revestimento

descaracterizações e desprendimento do

revestimento. O dano mais presente foram Pichação as pichações, como ilustrado na fachada

Umidade

114

sujidade generalizada pichação descaracterização umidade desprendimento do revestimento

ao lado.


Detalhe da balaustrada do primeiro pavimento em argamassa fundida.

Detalhe do balcĂŁo com gradil em ferro fundido.

Fachada

0 1 2

5

115


6.3. CotonifĂ­cio Paulista Plantas de levantamento

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Plantas de demolição e construção

paredes a manter paredes a demolir paredes a construir

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paredes a manter paredes a construir

A partir dos estudos realizados, o projeto proposto para o edifício do Cotonifício Paulista mantém em seu pavimento térreo o comércio existente e ganha uma área de praça no vazio existente entre a edificação e a divisa posterior. Esta praça garante o aproveitamento desta área e também cria um local de permanência. Neste pavimento foi retirada uma parte da escada de acesso para dar lugar a uma plataforma elevatória, que garante o acesso universal.

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paredes a manter paredes a construir

Tanto no primeiro pavimento quanto nos pavimentos tipos, encontram-se as unidades que totalizam 15 unidades habitacionais, sendo essas 06 de 1 dormit贸rio/conjugados de 40 a 44m2 e 09 de 2 dormit贸rios de 70 a 80m2. Cada pavimento tem uma lavanderia comunit谩ria que servir谩 as unidades sem lavanderia interna.

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paredes a manter paredes a construir

A mansarda é o mais alterado com a proposta de demolição de paredes, pois seu novo uso proposto é uma área de convivência ou salão de festas, juntamente com sala de jogos e um apoio.

120


Para a cobertura, que deve ser preservada de acordo com o tombamento do edifício, propõe-se sua conservação e restauro/recuperação. Que será realizada a partir da restauração do madeiramento e cobrimento, com técnicas similares as originais.

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placas de ardósia caixilhos argamassa base em pedra

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argamassa raspada pintada argamassa fundida ferro fundido portas metálicas

Também foi realizada a identificação dos materiais de revestimento presentes nesta fachada para compreender o objeto de estudo e assim realizar uma proposta de restauro.


Fachadas

sujidade generalizada descaracterização desprendimento do revestimento

pichação partes faltantes umidade

0 1 2

5

A partir Sujidade do diagnóstico visual, foram identificadas as patologias nas fachadas do imóvel, que se apresentam com sujidade generalizada Desprendimento do revestimento Pichação generalizada, além de algumas descaracterizações nas portas dos comércios, desprendimento do revestimento e Partes faltantes Descaracterização Umidade algumas partes faltantes. O dano mais presente foram as pichações, como ilustrado na fachada ao lado.

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0 1 2 Argamassa pintada

Caixilhos

Argamassa fundida

Ferro

5

Portas metĂĄlicas

Detalhe do balcĂŁo do terceiro pavimento com gradil em ferro fundido.

Detalhe do balcĂŁo do segundo pavimento com gradil em ferro fundido.

124


6.4. Memorial de Projeto de Restauro O partido de restauro adotado prioriza a recuperação das fachadas e cobertura das edificações, com adaptações internas necessárias para o novo uso proposto e o resgate da identidade identificada na pré existência. Os pontos mais relevantes para obtenção do resultado desejado estão na conservação e restauro/recuperação das fachadas e cobertura e intervenção dos ambientes internos adaptados ao novo uso. A proposta de projeto procura respeitar o partido original do escritório projetista e a tipologia arquitetônica encontrada, porém adotando o uso de materiais e tecnologias contemporâneas para as intervenções, excluindo a possibilidade de criação de um falso histórico e possibilitando a compreensão e leitura da edificação.

125


Procedimentos Técnicos Gerais

Serviços Preliminares 01. Remoção de entulho 02. Serviços de Higienização (Aplicação e reaplicação de detergente nas áreas com sujidade e remoção de pichações com solvente químico) 03. Contenção da capilaridade ascendente e descendente 04. Retirada de todos os elementos estranhos à cobertura 05. Retirada de todos os elementos estranhos às fachadas Demolições criteriosas 01. Para evitar que as partes a serem conservadas e restauradas sofram os efeitos decorrentes de vibração ou outros impactos que possam trazer danos a edificação, as demolições deverão ser 126


criteriosas, feitas por partes e após proteção adequada das partes mantidas que serão restauradas. 02. As partes a serem conservadas deverão, antes do início da demolição, receber os tratamentos necessários para evitar qualquer efeito de desestabilização ou prejuízo ao patrimônio preservado. 03. As esquadrias, a serem restauradas, deverão ser retiradas de forma cuidadosa, de modo a permitir o eventual reaproveitamento para a substituição das peças faltantes nas faces a serem restauradas. As possíveis intervenções nas esquadrias deverão ser identificadas e mapeadas. 04. Deverão ser retirados para restauro e recomposição e/ou substituição todos os elementos de funilaria e condutores do sistema de escoamento de águas pluviais, após definição do projeto de instalações e compatibilizados com o projeto de restauro para que as ações não interfiram prejudicialmente 05. As demolições das paredes e pisos internos, estão descritos no projeto arquitetônico apresentado anteriormente. 127


Restauração 01. Limpeza criteriosa feita através do hidrojateamento para remoção do alto grau de sujidade generalizada provocada por intempéries e poluição atmosférica, além das camadas de tinta e da argamassa que estiverem desprendidas do substrato. 02. Limpeza criteriosa dos elementos hidrojateamento com pressão controlada.

decorativos

por

03. Substituição de todas as peças quebradas e/ou deterioradas por novas de mesmo modelo, coloração e dimensões das originais encontradas. 04. Consolidação da argamassa de revestimento nas partes comprometidas, desprendidas do substrato, através de injeção de material colante, sempre que necessário. 05. Refazimento da alvenaria de tijolos nas partes comprometidas, através da substituição das peças degradadas por novas , de mesma dimensão dos encontrados. 128


06. Restauração da argamassa raspada e restauração/recomposição dos elementos decorativos em argamassa raspada e fundida das fachadas com mesmo traço e coloração da original, identificados pelos teste in loco. 07. Restauração e recomposição dos elementos decorativos em argamassa fundida das fachadas com mesmo traço e coloração da argamassa original. 08. Restauração das esquadrias de madeira, substituição das partes deterioradas e posterior proteção. Substituição dos vidros quebrados por novos, transparentes, de mesma dimensão e espessura dos originais encontrados. 09. Remoção dos elementos espúrios fixados nas fachadas. 10. Restauração de pisos, paredes e forros das partes internas, que forem originais.

129


Projetos Complementares Projeto estrutural: avaliação da estrutura da edificação tombada e compatibilização estrutural ao novo uso caso seja necessário. Projeto de instalações hidráulicas: Desenvolvimento de um projeto de instalações hidráulicas que contemple a restauração a necessidade de escoamento das águas pluviais sem comprometimento as fachadas preservadas. Projeto de instalações elétricas: Desenvolvimento de um projeto de instalações elétricas que priorize a edificação tombada, com soluções que garantam a preservação de suas fachadas. Projeto de iluminação: O Projeto de iluminação deverá contemplar tanto a área externa do edifício quanto seu interior e procurar preservar e não interferir nas características originais dos espaços, considerando a valorização das características arquitetônicas do edifício e harmonização de seus espaços internos, além da enfatização da volumetria do conjunto arquitetônico no contexto urbano. 130


Este memorial de projeto de restauro foi desenvolvido com recomendações técnicas retiradas do memorial de restauro da Red Bull Station, elaborado pela CO. Companhia de Restauro para edifícios tombados semelhantes aos estudados.

131



7. Considerações Finais

São Paulo, assim como outras grandes metrópoles possui diversas questões que são percebidas por aqueles que a frequentam. Por meios de projetos que busquem requalificar a região, pela variedade de usos e inserção de novas atividades, é possível proporcionar um lugar para todos, com segurança, lazer, fácil acesso e infraestrutura. De uma maneira geral, a reabilitação de estruturas existentes para implantação de habitação social é um processo complexo, pois requer a preservação de um imóvel. Apesar de algumas limitações, tendo em vista a sustentabilidade e a preservação da história da cidade, a reabilitação dos edifícios, nos centros históricos, devem fazer parte de programas e projetos públicos. “Se, por um lado, há a busca da recuperação do Centro como referência patrimonial cultural e histórica, por outro, existe o anseio da reabilitação do centro como redução da espoliação urbana vivida pela população de baixa renda.” (Bomfim, 2014) 133



8. Bibliografia e Iconografia

ABNT - NBR 9050:2004 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Brasil, 2004. BIANCHINI, Ligya Hrycylo. Estado atual dos empreendimentos habitacionais no centro de são Paulo. Dissertação de mestrado, puc campinas. Campinas, 2013. BOMFIM, Valéria Cusinato. Os espaços edificados vazios na área central da cidade de são paulo e a dinâmica urbana. Dissertação de mestrado, poli usp, São Paulo, 2004. BOMFIM, Valéria. O Centro Histórico de São Paulo: a vacância imobiliária, as ocupações e os processos de reabilitação urbana. Cadernos Metrópole, N. 12. 2004. BOMFIM, Valéria; ZMITROWICZ, Witold e colaboradores. Projeto reabilita: diretrizes para reabilitação de edifícios para his – as experiências em são paulo, salvador e rio de janeiro. 2007. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 1998. BRUNA, Paulo; GOUVEIA, Sonia. Adaptive rehabilitation of the riachuelo building in the historical centre of são paulo. X Seminario Docomomo. 2008. 135


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capa | Google Earth.

página 32 | Edgard Mac. 2012.

página 04 | Acervo pessoal. 2015.

página 58 | Acervo pessoal. 2015.

página 06 | Sampa Histórica. 1950.

página 86 | Acervo pessoal. 2015.

página 08 | Acervo pessoal. 2015.

página 92 | Acervo pessoal. 2015.

página 10 | Acervo pessoal. 2015.

página 120 | Acervo pessoal. 2015.

página 12 | Gilberto Rios. 1970.

página 122 | Antônio Aguiar. 1950.

página 18 | Benassi. 1950.

página 126 | Acervo pessoal. 2015.

139


FERNANDA LEITE dezembro 2015






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