COTIDIANO
COTIDIANO Wilma Martins
MAIS UMA VEZ, nas suas hesitações confusas, o que a tranquilizou foi o que tantas vezes lhe servia de sereno apoio: é que tudo o que existia, existia com uma precisão absoluta e no fundo o que ela terminasse por fazer ou não fazer não escaparia dessa precisão; aquilo que fosse do tamanho da cabeça de um alfinete, não transbordava nenhuma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete: tudo o que existia era de uma grande perfeição. Só que a maioria do que existia com tal perfeição era, tecnicamente, invisível: a verdade, clara e exata em si própria, já vinha vaga e quase sensível à mulher. Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Sabiá, 1969.
ENTRE 1975 E 1984, Wilma Martins realizou uma série de trabalhos denominada Cotidiano. Cada subtema da série foi desenvolvido primeiro em desenho (nanquim e aquarela, 70 x 50 cm) e a seguir em pintura (tinta acrílica, 100 x 70 cm). A partir de certo momento, para seu próprio controle e registro, decidiu redesenhar todos os desenhos em um único caderno, este, aqui fac-similado, indicando abaixo, a primeira data e os meios de expressão. E assim, enquanto lapidou a joia mais bonita do seu acervo criador, confirmou o que acabamos de ler em Clarice Lispector: “Tudo o que existia, existia com uma precisão absoluta e o que ela terminasse por fazer ou não fazer não escaparia dessa precisão”.
WILMA MARTINS nasceu em 1934, em Belo Horizonte, onde, entre 1953 e 1956, frequentou a Escola do Parque, tendo como professores Alberto da Veiga Guignard, Franz Weissmann e Misabel Pedrosa. Além de pintora, desenhista e gravadora, exerceu atividades como ilustradora e diagramadora em jornais e revistas de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Destacou-se também como ilustradora de livros infantis. Integrante da Geração Complemento, em Belo Horizonte, desenhou figurinos para coreografias do Balé Klauss Vianna e para o Teatro Experimental, dirigido por João Marschner. Casada com o crítico Frederico Morais, mudou-se, em 1966, para o Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Esteve presente nos principais salões de arte brasileiros, a partir de 1954, realizados em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Vitória, Niterói, Campinas, Ouro Preto e Goiânia. Como gravadora e desenhista, participou das bienais internacionais: São Paulo (1967),
Ljubljana/Iugoslávia (1967), Santiago/Chile (1968), Xylon V/ Genebra e Berlim (1969), Capri/Itália (1969), Porto Rico (1970 e 1972), Veneza (1978) e Cali/Colômbia (1980), assim como do Prêmio Internacional de Gravura de Biella (1967 e 1971). Figurou em mostras de arte brasileira na América Latina, Estados Unidos e Europa. Realizou exposições individuais em Belo Horizonte, Ouro Preto, Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Buenos Aires. Recebeu cerca de duas dezenas de prêmios, entre os quais, o Prêmio Itamaraty, na Bienal de São Paulo de 1967; o de Viagem ao Exterior, no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1975; e o Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1976. Uma ampla retrospectiva de sua obra, cobrindo 60 anos de atividade foi realizada no Paço Imperial (Rio de Janeiro) e no Minas Tênis Clube (Belo Horizonte), em 2013/2014.
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) M386c Martins, Wilma, 1934Cotidiano : caderno de desenho / Wilma Martins ; [organizador] Frederico Morais – 1. ed. – Rio de Janeiro : F. G. Gomez de Morais, 2015. 144 p. : il. color ; 17 cm. ISBN 978-85-919029-0-3 1. Desenho brasileiro – Séc. XX. 2. Desenho brasileiro – Séc. XXI. I. Morais, Frederico, 1936- II. Título.
CDD- 741.981 Roberta Maria de O. V. da Costa – Bibliotecária CRB7 5587
apoio
Este projeto foi contemplado pelo
Andréa Luiza Paes
Prêmio Funarte Mulheres nas Artes
Coordenadora do Centro de Artes
Visuais – 2ª edição
Visuais
Distribuição Gratuita / Venda Proibida
Ana Paula Santos Coordenadora do Prêmio Funarte
FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES
Dilma Vana Rousseff Presidenta da República SECRETARIA DE POLÍTICA PARA AS MULHERES
Eleonora Menicucci Ministra de Estado Chefe da Secretaria
Mulheres nas Artes Visuais
Ana Paula Siqueira Assistente de Coordenação do Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais PUBLICAÇÃO Organização e pesquisa
Frederico Morais
de Políticas para as Mulheres
Coordenação geral
Fernanda Lopes Stefania Paiva
MINISTÉRIO DA CULTURA
Juca Ferreira Ministro de Estado da Cultura FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTES
Francisco Bosco Presidente
Reinaldo da Silva Veríssimo Diretor Executivo
Design gráfico
Adriana Cataldo Noni Geiger Foto Wilma Martins
Alexandre Martins Assessoria de imprensa
Meise Halabi
Francisco de Assis Chaves Bastos (Xico Chaves)
Revisão
Diretor do Centro de Artes Visuais
Tratamento de imagem e impressão
Rosalina Gouveia Trio Studio
Composto nas fontes Archer e Akkurat. Impresso por Trio Studio em papel Couché fosco 170g/m², capa, e papel Pólen bold 90g/m², miolo.