ALMANAQUE DO Aline albuquerque nubia agustinha
Aline albuquerque nubia agustinha
ZÉ ALMANAQUE DO Produção
Realização
PALAVRA DA PREFEITA Alfabetização não se restringe ao domínio da escrita e da leitura. Tão importante quanto construir palavras e frases é alcançar, dia após dia, um melhor entendimento sobre o mundo, ter instrumentos para saber “ler” as marcas da passagem do homem pela Terra, decodificar as artes e artimanhas que inventamos para tornar o nosso cotidiano instigante, desafiador e mais leve. Por considerar a arte como objeto de conhecimento e leitura sensível do mundo é que a Prefeitura de Fortaleza, através da Secultfor, lança o Almanaque do Zé, que vai cair nas mãos e povoar a imaginação de alunos da rede pública municipal. A arte é insubstituível na humanização da escola e na recuperação da educação brasileira. Portanto, o potencial criador inerente ao ser humano deve ser estimulado já em seus primeiros anos. Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. Ela ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. O PCN destaca ainda que o ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta. Isso porque o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética é que faz brotar em cada um de nós um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana. Portanto, sensibilidade, percepção e imaginação são engrenagens que estão na raiz da produção de qualquer tipo de conhecimento, seja ele científico, artístico ou técnico. Que essa publicação possa contribuir para o exercício do conhecer com prazer e assim levantar hipóteses sobre o nosso lugar no mundo, pergunta ontológica que nos acompanha desde sempre. Luizianne Lins Prefeita de Fortaleza
O regador de pedras A arte contemporânea pressupõe a flexibilidade do olhar e do espírito. Pede uma elástica disposição para enxergar além das formas convencionais de representação do mundo. É um convite para que o espectador não apenas observe, mas também vivencie a obra em questão, estabelecendo com ela uma atitude de interpelação. Definitivamente, ela não veio para explicar, mas para confundir, causar estranhamento, fazer perguntas, mexer com o que está aparentemente quieto, pronto e acabado. Ela veio para colocar o mundo de cabeça para baixo, às avessas. Encarada assim, como uma provocativa forma de reinvenção do mundo exterior e interior, a arte contemporânea tem todo o potencial para estabelecer um profícuo diálogo com o público infanto-juvenil. Naturalmente abertos à diferença e ao “novo”, a criança e o jovem podem e devem ter a arte como aliada em seu processo de educação visual e compreensão dos códigos de convivência e invenção. Aprender a ver para além da superfície e do convencional significa ampliar nossa capacidade de comunicação e percepção do mundo sob diferentes ângulos e nuances. Zé Tarcísio é mestre nisso: transformar o banal em extraordinário, o precário em sublime. Entortar o real com as ferramentas da imaginação é sua especialidade. Se no meio do caminho lhe surge uma pedra, ele rega. E regador e pedra, assim combinados, com certeza foram uma das respostas mais sensíveis que as artes visuais já deram aos tempos duros de cerceamento da liberdade e do pensamento. Que o Almanaque do Zé, produzido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, através de sua Secretaria de Cultura, possa tornar a vida e a arte tão complementares e poéticas quanto o regador e a pedra, nos fazendo enxergar o que é demasiado humano com todos os sentidos a um só tempo. Fátima Mesquita Secretária de Cultura de Fortaleza
Zé Tarcísio: um contador de histórias “A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.” Viver para contar, Gabriel García MÁrquez.
Dentro de uma política de incentivo às artes visuais, a Prefeitura de Fortaleza, em conjunto com a Coordenação de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Fortaleza - SECULTFOR, lança o Almanaque de Zé Tarcísio, um projeto voltado para as escolas públicas municipais, com o objetivo de levar para a sala de aula um olhar atual sobre a vida e a obra de um dos nossos maiores artistas cearenses. Uma vida inteira dedicada à arte e ao fazer artístico. Zé é anterior a qualquer tentativa de uma única definição, pois é múltiplo, diversificado, soube como poucos doar seu gênio criativo às várias linguagens. Atuou no cinema, na televisão, no rádio, também é um excelente contador de histórias. É o senhor de uma obra aberta, uma vida em constante processo, que, ao longo de setenta anos, continua intensa. Compreendendo a importância deste artista é que buscamos com este projeto atuar também no fortalecimento da memória como veículo para compreensão dos comportamentos e hábitos sociais da atualidade, sem perder de vista a educação e o fomento da prática do ensino transversal das artes visuais. Por isso, tivemos o cuidado em produzir um material capaz de despertar nos alunos um gosto pela pesquisa, pois a narrativa se desenvolve entre um “causo” e outro do artista, intercalado por curiosidades e propostas pedagógicas. Somos fisgados pelo desejo em desvelar os “causos” de Zé. A leitura é permeada de textos e imagens. Demos o primeiro passo, o subsequente é disseminar nas escolas este material didático, por meio de aulas demonstrativas de como aplicar os conteúdos. A partir daí, será colher os resultados do provável encantamento desses alunos com a obra de Zé, proporcionando, com este encontro, o fluir criativo de suas próprias histórias, inventadas ou não. Deixemos, então, que, na sala de aula, a obra de Zé ganhe outros sentidos, outras interpretações, fortalecendo-se na perspectiva do olhar transformador do outro. Maíra Ortins Coordenadora de Artes Visuais - SECULTFOR
Zé Tarcísio Observá-lo no que diz e faz é uma firme e constante lição de vida e arte, que não caminham desunidas. Multimídia muito antes da difusão do termo, Zé Tarcísio de fato pintou e bordou no mundo das artes: lidou com tintas das maneiras mais inusitadas, fotografou, desenhou, gravou, esculpiu, fez cenografia, figurinos, atuou como ator de cinema e TV, sempre como um iluminado distribuidor de energias (o que todo grande artista é) no aprendizado e no ensino das artes. Repórter plástico integral, como sugere sobre si mesmo, extraordinária usina de saberes, de generosidade, vivências e afinidades, ele se fez por conta e risco, desde menino, no sonho e ofício de se tornar artista. Nessa travessia contaram fortemente certas convivências, a exemplo de Antonio Bandeira e Inimá de Paula, e espaços conquistados na Escola Nacional de Belas Artes, na Galeria Bonino e na Bienal de Paris, sem esquecer os prêmios da Bienal de São Paulo e Salão Nacional de Arte Moderna. A primeira vez que ouvi falar em Zé Tarcísio foi em meados da década de 1980, em casa de Walmir Ayala, Rio de Janeiro. Ali, não demorei a descobrir mais sobre ele em catálogos, revistas e livros, até alcançar os acervos de museus, rastros que o tempo esculpe. E também em conversas com amigos comuns – além de Walmir, Lélia Coelho Frota, José Alcides Pinto, Luiz Carlos Lacerda. É muito forte a tentação de procurar recompor o passado, as marés montantes do passado sugeridas por Mário Quintana, que tanto nos inquietam e sobressaltam, mas a verdade é que nas primeiras viagens que fiz a Fortaleza não foi possível encontrá-lo, um pouco por conta das correrias da militância literária e de inesperadas dificuldades. E assim se passaram quase duas décadas sem o abraço e a conversa que hoje tanto nos animam. Sim, o esperado encontro acabou acontecendo, para consolidar laços de amizade muito anteriores, forjados e revelados além do tempo. Hoje somos amigos e a admiração por ele e por tudo que faz é uma de minhas poucas riquezas. Porque o universo do artista é uma longa construção de coisas perdidas e reencontradas, uma expressão que cresce na solidão do ateliê em busca do rumor das ruas. Um universo que se expande em arames, pedras, tecidos, borboletas, plumas, brinquedos, areia, pedaços de ferro ou madeira, espelhos, cerâmicas, folhas de carnaúba, trançados indígenas, fitinhas de devoção, e muitas figuras, ex-votos, pedaços de figuras – pernas, mãos, troncos, pés, cabeças, tudo com a simplicidade de quem conhece os caminhos da vida e seus segredos, o ofício mágico da arte e seus mistérios. Basta lembrar a magia do Regador, que alguns chamam Regando pedras, ícone do imaginário plástico brasileiro, hoje em exposição permanente no acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Assim é o José Tarcísio Ramos da convivência, mais conhecido como Zé Tarcísio, grande artista brasileiro. André Seffrin Rio de Janeiro, setembro de 2011
APRE
TAÇÃO
Prezados professores (as), alunos (as) e demais leitores, Os almanaques resistem ao tempo e se atualizam sob os mais diversos formatos e assuntos. O primeiro de que temos notícia foi o alemão “Praklic”, de 1454. No Brasil, eles foram trazidos pelos portugueses no século XIX, período que marca uma explosão de almanaques. Segundo Andreato e Rodrigues, o primeiro considerado genuinamente brasileiro foi o ”Almanaque da Bahia”, impresso em 1812. Nas palavras do escritor Machado de Assis acerca do assunto, “E hão de chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança os edita; é toda a oficina da vida”. Nas décadas de 1940 e de 1950 do século XX, Zé Tarcísio, ainda menino, tornou-se um grande leitor de Almanaques. Na sua casa, circulava o “Almanaque da Saúde da Mulher – A escola da experiência”. Esse almanaque trazia conselhos de saúde para as mulheres, mas, para o Zé, trazia notícias do mundo, gravuras interessantes, informações múltiplas que aguçavam a curiosidade do pequeno para o mundo do conhecimento. “O Almanaque do Zé” traz textos sobre diversos assuntos e sugestões de atividades para que vocês possam ter a liberdade de escolher e adequar aos diversos públicos, conforme o interesse de cada um. A ideia central é a informação, a diversão e a curiosidade, tríade essa que faz parte do espírito tanto da criança quanto do jovem. Podemos mantê-la viva, não restringindo a liberdade do pensar e do ato criador. Por que Zé foi o artista escolhido e não outro? Certamente, temos outros grandes nomes na história da arte cearense. Um desses nomes é, seguramente, Zé Tarcísio, o homenageado do 62º Salão de Abril1, pela importância de sua obra no cenário contemporâneo da arte brasileira e por seus “70 anos de vida no planeta e 50 anos de teimosia na arte”. Há um campo vasto a ser estudado e pesquisado sobre a vida e a obra do artista multimídia Zé Tarcísio, e certamente um almanaque não tem a pretensão de esgotar essa discussão. Queremos apenas iniciar através dessa publicação um exercício lúdico e reflexivo, características essas que fazem parte tanto do autor quanto de sua criação. Convidamos todos a mergulhar nas páginas deste almanaque dividido em seis capítulos que apresentam a infância e as atividades artísticas do Zé Tarcísio no Cinema, no Teatro e TV, nas Artes Plásticas, na Educação Via Arte e no Cotidiano. Cada um desses temas narram um pouco da vida e da obra desse cearense que, carinhosamente, ficou conhecido como Zé. Aline Albuquerque e Núbia Agustinha
1. Salão de Arte criado em 1943, pela União Estadual dos Estudantes (UEE). Em 1946 passa ser organizado pela Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), a partir de 1964 até o momento atual está sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), órgão da prefeitura. Em 2007 o Salão de Abril deixa de ser local e torna-se nacional, ao abrir inscrições para artistas de outras capitais brasileiras.
Zé já passou por muitos países: Brasil, França, Bolívia, Peru, Portugal, Argentina, Chile, Cuba, Alemanha, Espanha, Suécia, Itália. Agora, Vamos fazer esTa viagem juntos.
Capítulo 3
60 PÁGINAS Do teatro e da tv Capítulo 4
86 PÁGINAS Das artes plásticas
cAPítULO 1
20 PÁGINAS DA INFÂNcIA DO ZÉ cAPítULO 2
40 PÁGINAS DO cINEMA
ínDIcE cAPítULO 5
140 PÁGINAS DE UM OFIcINEIrO cAPítULO 6
166 PÁGINAS DO cOtIDIANO
ZÉÉ cAPítULO 1
PÁGINAS DA INFÂNcIA DO
PÁGINAS DA INFÂNcIA DO ZÉ
Site: www.suapesquisa.com/ segundaguerra Dicas de filmes: A Lista de Schindler e A vida é Bela
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1940 DÉcADA MArcADA PELA SEGUNDA GUErrA MUNDIAL
cOINcIDENtEMENtE, NEStE MESMO ANO, MÁrIO bArAtA FUNDA O cENtrO cULtUrAL DE bELAS ArtES – ccbA. PrIMEIrA ENtIDADE DEDIcADA ÀS ArtES vISUAIS EM FOrtALEZA, O cENtrO cULtUrAL DEScObrE NOvOS tALENtOS, cOMO ANtONIO bANDEIrA (1922 - 1967) E ALDEMIr MArtINS (1922-2006), ALÉM DE cONSOLIDAr ExPrESSõES LOcAIS, cOMO rAIMUNDO cELA (1890 - 1954).
Foi num período carnavalesco na cidade de Fortaleza em que veio ao mundo, no dia 8 de fevereiro de 1941, o menino José tarcísio ramos, que mais tarde tornou-se conhecido como Zé. ele viveu toda a sua infância na Vila Diogo, em companhia de uma família constituída por mulheres operárias que o adotara, oriunda da cidade de Viçosa, interior do Ceará. A capital cearense tornou-se um cenário bélico como uma das bases militares norte-americanas. Zé cresceu ouvindo histórias da guerra, do bode Yoyô, de milagres e tantas outras. Foi pelo rádio que o pequeno Zé ouviu pela primeira vez o final dessa sangrenta guerra. A vida de criança continuava entre a igreja de são benedito, escola e as calçadas da Vila Diogo, na qual, junto com outras crianças, ele desenhava cenas cotidianas ou sonhos infantis. entre brincadeiras, jogos, religiosidade, arte e imaginário popular, o menino foi constituindo-se nesse artista multifacetado.
enquanto o menino Zé engatinhava na casa nº 12 na Vila Diogo, quatro pescadores, Jacaré, Jerônimo, Manuel Preto e tatá, bravos tripulantes, aventuravam-se na Jangada são Pedro rumo ao rio de Janeiro com o objetivo de falar com o presidente da república, sobre as péssimas condições em que viviam os trabalhadores do mar, no Ceará, 1941. O brasil nesse momento vivia a ditadura do estado novo, comandada por getúlio Vargas, instituída desde 1937.
1. QUAtrO hOMENS EM UMA jANGADA, DE OrSON wELLES, 1942; 2. tUDO É vErDADE, DE OrSON wELLES; 3. NEM tUDO É vErDADE, DE rOGÉrIO SGANZErLA, MEADOS DOS ANOS 1980.
Foto: Zé Tarcísio
ALMANAQUE DO ZÉ
DIcAS DE FILMES SObrE A SAGA DOS PEScADOrES DA SãO PEDrO:
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podese diZer que Zé Começou 25 a FaZer arte na vila diogo. Freud expliCa!
AS cALçADAS DA vILA DIOGO FOrAM O PrIMEIrO SUPOrtE PArA OS DESENhOS DO MENINO ZÉ, QUE ErAM APAGADOS cOM bALDES DE ÁGUAS PELOS MOrADOrES DA vILA, QUANDO cENAS PrOIbIDAS ErAM ALI rEGIStrADAS PELO cArvãO DO ZÉ. SErÁ QUE O MENINO ZÉ PrEcEDEU A GrAFItAGEM EM FOrtALEZA?
PArA FrEUD AS ExPErIêNcIAS vIvENcIADAS NA INFÂNcIA SErãO DEtErMINANtES PArA A cOMPrEENSãO DO INDIvíDUO ADULtO.
Seu divã, hoje no Museu Freud em Londres
“eduque-o Como quiser; de qualquer maneira há-de eduCá-lo mal” (FREUD)
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dr. Zé tarCísio em: uma operação muito deliCada.
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em uma das casas geminadas da Vila Diogo, morava rosinha. Menina mimada, loira de olhos azuis, longas tranças adornadas com lacinhos. Destoava de toda a meninada, por ser assim, qual bonequinha de louça. Para aumentar sua diferença e atiçar a inveja da meninada, eventualmente era presenteada com brinquedos importados que o tio lhe trazia de além-mar. Certa feita o tio lhe trouxe uma boneca que chorava. Ah... todos queriam ver, ouvir, brincar com a boneca que chorava, mas rosinha, do alto de sua indiferença, não permitia. Foi então que Zé teve a ideia de oferecer seus serviços de cirurgião pois, ao que parece, a boneca estava com dor de garganta. rosinha, ingenuamente, levou sua boneca ao consultório do doutor, e ficou muito surpresa ao descobrir que o caso era mais grave do que ela imaginava. infelizmente era necessário que sua “filha” ficasse internada pra uma intervenção cirúrgica. e assim foi feito, rosinha deixou a “filha” com um aperto no coração e voltou muito triste para casa. enquanto isso, na sala de cirurgia, Dr. Zé descosturava a bichinha, tirava-lhe a caixinha que a fazia chorar e ao introduzir o bisturi, as entranhas da boneca que eram de algodão, saltaram para fora, os ligamentos foram rompidos e braços e pernas ficaram pendurados, enfim, o caso era mesmo muito sério e... não teve solução. no outro dia, quando rosinha foi buscá-la, Dr. Zé, muito sentido, informou: - sinto muito, rosinha, sua “filha” morreu. e entregou a pobrezinha toda descosturada, toda esculhambada! Foi um grande choque para rosinha que saiu correndo aos prantos para um lado, enquanto Dr. Zé saiu rindo para outro, pulando de quintal em quintal, fugindo dos castigos que fatalmente receberia.
Boneca da Estrela, de 1939
presepadas: a mágiCa das tranças e a operação da BoneCa de rosinha.
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Zé em:
o admirável mágiCo das tranças! POr SEr ASSIM tãO bONItINhA, tãO DELIcADA, tãO MIMADA, rOSINhA ErA SEMPrE ALvO DAS trAvESSUrAS DE ZÉ. EM OUtrA OcASIãO, ZÉ chAMOU rOSINhA PArA ASSIStIr A UM NúMErO DE MÁGIcA. rOSINhA, NOvAMENtE, INGENUAMENtE, AcEItOU O cONvItE. cOMO jÁ FOI DItO, rOSINhA tINhA DUAS cOMPrIDAS, LOIrAS E LINDAS trANçAS cOM LAcINhOS NAS PONtAS, E FOrAM jUStAMENtE AS trANçAS QUE ZÉ EScOLhEU PArA DEMONStrAr SEU rEcÉMDEScObErtO tALENtO PArA A MAGIA. PEGOU A tESOUrA E... ZÁS, cOrtOU UMA, ZÁS, cOrtOU OUtrA. - E AGOrA? - INDAGOU rOSINhA. - cOMO vOcê vAI cONSEGUIr cOLOcÁ-LAS DE NOvO NO LUGAr? - NãO SEI! - rESPONDEU ZÉ, MUItO GAIAtO - EU Só APrENDI A MÁGIcA AtÉ AQUI! ObS.: DEPOIS DESSA, A FAMíLIA DE rOSINhA rESOLvEU MUDAr-SE DA vILA DIOGO.
1943 EM FOrtALEZA É crIADO O SALãO DE AbrIL PELA UNIãO EStADUAL DE EStUDANtES (UEE). ENtrE OS
ArtIStAS cEArENSES QUE PArtIcIPArAM DO PrIMEIrO SALãO EStãO: ANtôNIO bANDEIrA, rAIMUNDO cELA, ALDEMIr MArtINS, MÁrIO bArAttA E O SUíçO jEAN PIErrE chAbLOZ.
1944 PÁGINAS DA INFÂNcIA DO ZÉ
É FUNDADA A SOcIEDADE cEArENSE DE bELAS ArtES, MAIS tArDE DENOMINADA SOcIEDADE cEArENSE DE ArtES PLÁStIcAS (ScAP),
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PELOS ArtIStAS INIMÁ DE PAULA, ANtONIO bANDEIrA, ALDEMIr MArtINS, jOãO MArIA SIQUEIrA, FrANcIScO bArbOSA LEItE.
Francisca leite Pedrosa, conhecida na Vila como D. Chiquinha e pelas crianças de vovó é a senhora que está sentada, Zé chama-a de “mamãe”, foi ela quem o adotou uma hora após ter nascido. um mês depois, Marieta, a mãe biológica, veio morar com eles (é a primeira mulher à esquerda) e acabou também sendo adotada pela matriarca. A segunda é luíza, filha de D. Chiquinha, a quem Zé chama de “bibi”, a terceira é iracema, filha da família, a quarta mulher é Alzira, filha de D. Chiquinha, administradora da casa. Zé chama-a de “titia”. Foi no aconchego desse lar de mulheres operárias que o menino Zé foi criado com amor e liberdade.
novena a são Benedito
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Família católica rezava novena a são benedito, Padroeiro da igreja freqüentada por Zé quando criança. A igreja possibilitou ao menino Zé conhecer a linguagem teatral (Dramas e Pastoril), e também um fotógrafo clandestino: ao descobrir o esconderijo da máquina do Padre Pedro, tirou fotografias, que foram elogiadas pelo pároco. Mas não escapou do castigo, por tal feito, rezou dezenas de Pai nosso e de Ave-Marias.
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Ó São BeNediTo, Modelo adMirÁVel de Caridade e HuMildade, Por VoSSo ardeNTe aMor a Maria SaNTÍSSiMa Que ColoCou Seu diViNo FilHo eM VoSSoS BraçoS, Por aQuela SuaVe doçura CoM Que JeSuS eNCHeu o VoSSo Coração, eu VoS SuPliCo: SoCorrei-Me eM TodaS aS MiNHaS NeCeSSidadeS e alCaNçai-Me, de Modo eSPeCial, a Graça Que NeSTe MoMeNTo VoS Peço (Graça), iNTerCedei Por MiM Que a VÓS reCorro CoNFiaNTe leMBraNdo de Toda a MiNHa FaMÍlia. aMÉM! São Benedito foi discriminado por sua cor
voCê ConheCe a lei Zé e “mamãe” (D. Chiquinha), a matriarca da família
?
10.639/2003? ESSA LEI FOI crIADA EM 2003 E tOrNOU ObrIGAtórIO O EStUDO DA hIStórIA E cULtUrA AFrO-brASILEIrA E AFrIcANA NO ENSINO bÁSIcO. SAbIA QUE NA ÉPOcA DE INFÂNcIA DO ZÉ NãO ExIStIA ESSA LEI, NEM AS DIScUSSõES ÉtNIcO-rAcIAIS, DO MOMENtO AtUAL? QUE tAL DEbAtEr cOM A SEU PrOFESSOr (A), A IMPOrtÂNcIA DESSA LEI.
Quantos Santos negros vocês conhecem?
Certa vez Zé participou de um jogo num programa de auditório, e ao decifrar um enigma, ganhou uma máquina de costura da marca singer, esta máquina possibilitou que sua mãe deixasse de trabalhar fora e passasse a costurar em casa. D.Marieta era uma artista, como tantas que existem por trás de tantas máquinas de costuras, e a convivência com o universo da criação, do fazer manual, das cores e retalhos, ficaria para sempre bordada em sua pele e em sua arte. Outros artistas cearenses também trazem em sua obra os vestígios de fadas costureiras com as quais conviveram, um deles era leonilson, você já ouviu falar dele? leo como é carinhosamente conhecido entre os amigos, tornou-se amigo do Zé, frequentava a casa do Zé, no rio de Janeiro.
Sala de costura do Educandário Eunice Weaver, em Maranguape
Você sabe onde fica o maior cajueiro do mundo?
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Resp.: Natal – RN
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Tapeçaria de Marieta (mãe do Zé) Triptico – 2, 80x 1, 84m de 1974
www.projetoleonilson.com.br
1947 crIAçãO DO MUSEU DE ArtE DE SãO PAULO (MASP), PELO jOrNALIStA ASSIS chAtEAUbrIAND, cOM A cOLAbOrAçãO DO crítIcO DE ArtE, GALErIStA E MArchAND ItALIANO PIEtrO MArIA bArDI.
www.masp.art.br/masp2010/ visiteomuseu_info.php
Zé e Estelita
1947 – Criação do Museu de Arte de são Paulo (MAsP), pelo jornalista Assis Chateaubriand, com a colaboração do crítico de arte, galerista e marchand italiano Pietro Maria bardi. nos primeiros Anos, o museu funcionou numa sala de 1.000 metros quadrados na sede dos Diários Associados, na rua 7 de Abril. em 1958, a arquiteta lina bo bardi projetou o prédio do MAsP, que fica Avenida Paulista, inaugurado em 1968. no ano seguinte, no pátio dessa instituição, Zé tarcísio apresentou a exposição “Zorra” constituída por brinquedos gigantes e da interação do público com esses objetos. em outras páginas deste almanaque, você saberá um pouco mais a respeito dessa mostra lúdica. O MAsP é considerado por especialistas, o museu de arte mais importante da América latina. que tal, pesquisar com os seus alunos para saber mais sobre esse espaço.
versos que Zé aprendeu Com estelita e guardo-o na memória. “da morte ninguém escapa escapa eu, como? entro num buraco tapo com um vintém e quando a morte passar, diz aí : - não tem ninguém!”
enquanto, em 1948, figuras de destaque na vida política e cultural brasileira, como o artista emiliano Di Cavalcanti e o arquiteto Oscar niemeyer, manifestaram apoio à campanha “O Petróleo é nosso”, morre nesse mesmo ano o escritor Monteiro lobato, que lutou, nos anos de 1930, a favor do petróleo brasileiro, enfrentando a ditadura Vargas. Porém, o fato que marcou a vida do pequeno Zé foi a morte prematura de estelita, neta de D. Chiquinha.
DESAFOrtUNADAMENtE, EStELItA, ALUNA DA EScOLA NOrMAL, MOrrErIA MUItO jOvEM, cOM APENAS 17 ANOS DE IDADE. ALÉM DE DEIxAr EM ZÉ O GOStO PELA LOcUçãO E PELA IMPOStAçãO DA vOZ, DEIxOU-LhE O QUArtO QUE SE trANSFOrMArIA EM ESPAçO LIvrE PArA A crIAçãO, ExPErIMENtAçãO E PArA QUE ALI ZÉ INIcIASSE O MUSEU DO tEMPO DE SEUS OLhOS. “NA MINhA INFÂNcIA EU rIScAvA A cASA tODA, AS MULhErES DE MINhA cASA rESOLvIAM tUDO cOM DIÁLOGO, hAvIA UM QUArtO, cOM GUArDA-rOUPA E bAú, NO QUAL EStELItA DOrMIA, O QUArtO ErA trANcADO cOM UMA chAvE ANtIGA, ESSA chAvE SIMbOLIZAvA O MEU ObjEtO DE DESEjO. – ELAS DIZIAM: ‘vOcê vAI FIcAr NO QUArtO, PODE FAZEr DELE O QUE QUISEr.’”
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A cAxINhA QUE FALAvA PArA O MENINO ZÉ
O mundo do menino foi cercado de carinho das mulheres que o criaram, de muitas aventuras, e boa parte foi mediada pelo rádio, objeto mágico que instigou-o nos caminhos da radiofonia cearense. Zé não perdia um programa de auditório.
Você sabia que a TV TUPI foi o primeiro canal de televisão da América Latina, inaugurado em setembro de 1950?
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Logo da TUPI acima foi criada por Mario Fanuccthi
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Ceará rádio Clube – ou Pre-9 – fundada no dia 30 de maio de 1934. A primeira sede ficava na Av. João Pessoa, bairro Damas. Posteriormente suas instalações passaram por vários outros espaços.
NO PrIMEIrO SEMEStrE DE 1951, NA “LOUrA DESPOSADA DO SOL”, AcONtEcIA O EcLÉtIcO SALãO DE AbrIL. NO SEGUNDO SEMEStrE, EM “SAMPA”, O FAtO MArcANtE NAS ArtES PLÁStIcAS ErA A 1ª bIENAL INtErNAcIONAL DE SãO PAULO, INAUGUrADA EM 20 DE OUtUbrO.
www.fbsp.org.br/bienais-pt.html
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A relação de Zé tarcísio com o rádio iniciou-se a ainda na infância, na Ceará rádio Clube, rádio Pre - 9, pioneira da radiodifusão cearense. O pequeno Zé, frequentador de Programa de Auditório, decidiu participar do programa dominical dirigido por Paulo Cabral de Araújo, intitulado de “Clube do Papai noel”. O menino gazeou aula (faltou) para se inscrever no calouro do programa. Fez tudo em segredo para que sua família não desconfiasse. Passou a semana inteira se preparando, isto é, cantarolando a marchinha de carnaval: “A MINhA POMbINhA brANcA FUGIU DO NINhO, DO NINhO AI cOMO SINtO FALtA DE SEU cArINhO...”
Locutor Paulo Cabral, ex-prefeito de Fortaleza ( 1951-1955)
O prêmio de participação era uma barra de Sabão Pavão que no Programa de Paulo Cabral era anunciado “estamos mais uma vez reunidos para mais um domingo alegre, graças ao sabão Pavão, o melhor sabão do brAsiiiiilllll”. Zé cantou em cima de um caixote de sabão Pavão, para pode alcançar o microfone. Cantou bem e ganhou uma barra de sabão. Depois disso, o inquieto menino foi atrás nas lojas de Fortaleza patrocínio para poder falar na ZYr7, a rádio iracema ele passou a frequentar o “Clube do bom Companheiro”, era dirigido por Matos Dourado e haroldo serra. uma de suas falas do Zé para as propagandas era: “singel, o suave perfume do seu banho.” uma das sequencias patrocinadas pela siqueira gurgel.
NESSE tEMPO, OS íDOLOS DE ZÉ ErAM OS cANtOrES O PEQUENO AyrtON E FÁtIMA SAMPAIO.
Zé foi à festa da Rádio Iracema e para sua alegria e, ganhou uma faixa por seu talento na radiofonia cearense. Quem quiser conhecer esse objeto é só ir ao atelier do artista.
O diretor da referida instituição esperava do bolsista Zé mais empenho nos estudos, mas o menino lhe dissera certa vez: “Olhe, mas eu não nasci pra ser doutor”.
Zé em desfile das comemorações do Dia 7 de Setembro
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Estampas eucalol (três figurinhas com noticias do estrangeiro)
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Zé colecionava figurinhas das perfumadas estampas eucalol. Esse foi o início do Zé como colecionador. Eram vários os temas das estampas: futebol, artistas do cinema e TV, entre outros. Aqui, trazemos uma figurinha que narra a história do 2º Ciclo da Borracha, na época da Segunda Guerra (1939-1945). Durante o governo Vargas, cerca 30.000 nordestinos foram convocados para a extração do látex na Amazônia. Ludibriados com promessas de uma vida melhor, eles se tornaram: “Os soldados da Borracha”. Zé estudava no Grupo Municipal Duque de Caxias, onde cursou até a 5ª série. Posteriormente, ganha uma bolsa de estudo no Ginásio 7 de Setembro. Contudo, o menino era avesso aos estudos, faltava às quartas-feiras, para ir à casa de D. Dinorá, sobrinha do padre Antônio Tomás, (príncipe dos poetas cearenses), para conhecer sobre a vida do referido padre, com o intuito de participar do programa da PRE-9 “O céu é o limite”, no qual responderia perguntas sobre o assunto. Certa vez, o Dr. Edilson Brasil, chamou-o a diretoria, por conta de suas faltas e de suas notas. O diretor queria saber a razão de suas ausências. Zé resistia sem querer revelar os seus segredos, mas não teve jeito. Dr. Edilson ficou surpreso ao saber a verdade. Mas, antes, fez uma investigação para certificar-se da história do menino Zé. Após a apuração dos fatos, deu-lhe de presente um livro de Dinorá. Dr. Edilson, apesar de austero, gostava do espírito festivo do Zé. Este gostava mesmo era de participar do Grêmio Escolar.
Entre livros e objetos cartográficos Zé posa para a foto em 1958. Ano em que o Brasil ganhou o 1º campeonato mundial na Copa da Suécia.
O menino Zé nem imaginava que, anos mais tarde, percorreria tantos países mostrando a sua arte com o seu jeito irreverente de ser.
Arquivos do Museu dos Esportes www.museudofutebol. com.br/cur_maraca.asp
1958 ANO EM QUE O brASIL GANhO O 1º cAMPEONAtO MUNDIAL NA cOPA DA SUÉcIA. jOGADOrES DA ESQUErDA PArA DIrEItA: DESOrDI, DIDI, PELÉ, ZAGALO, GArrINchA, ZItO, vAvÁ, OrLANDO, NILtON SANtOS, GILMAr E bELINI
o que signiFiCava a esCola para o menino Zé? “a escola, antes de ser um lugar para se aprender os conteúdos tradicionais, era para mim uma experiência de diversão e de contato com a diversidade. eu ia à escola para brincar, jogar e me relacionar com os outros” (DEPOIMENTO DADO, EM 2003, À ARQUIVISTA PATRÍCIA MENEZES).
ALMANAQUE DO ZÉ
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PÁGINAS DA INFÂNCIA DO ZÉ
O jogo dos gatos
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Nas práticas educativas tradicionais, a professora reproduzia desenhos nas capas dos cadernos e das provas das crianças. Zé, certa vez, recusou um ramalhete de flores desenhado pela professora na capa de seu caderno – chorou desesperadamente. Conforme as memórias do artista: “A professora, nervosa, disse que não ia fazer outra capa. Se eu quisesse outra que fizesse. Foi dito e feito. Desenhei, criei pela primeira vez. Saiu um jogo de futebol entre gatos”. A partir desse dia, Zé passou a ser colaborador da professora D. Leda Meireles, com as ilustrações. Outras professoras que ficaram nas lembranças do artista foram: Maria Abreu, Maria Alice e D. Regina.
ídolos do Zé na juventude.
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As moças da década de 1940, com a pressa de se tornarem modernas, tal qual atrizes do cinema americano, compraram tecidos para cortina de banheiro para fazer suas saias, ou seja, o produto era novo, elas não conheciam. O resultado não surtiu o efeito desejado. era a popularidade do plástico, da Coca-Cola e dos produtos de origem “made in usA”, e do jeito americano de ser, na capital cearense. enfim, era a invasão cultural norte-americana em território brasileiro.
ALMANAQUE DO ZÉ
QUAIS SãO OS SEUS íDOLOS? SE vOcê QUISEr cONSEGUIr ESSE EFEItO ESvOAçANtE DA AtrIZ hOLLywOODIANA, vÁ À NOItINhA NO crUZAMENtO DAS rUAS MAjOr FAcUNDO E GUILhErME rOchA (“ESQUINA DO PEcADO”), MAS NãO ESQUEçA UM MODELItO QUE FAcILItE tAL PrOEZA. EM FrENtE AO cINE SãO LUIZ, NA PrAçA DO FErrEIrA, vOcê tAMbÉM PODE ExPErIMENtAr O vENtO cOM UM vEStIDINhO.
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Propaganda de cigarro 1950 (Jornal Unitário)
NA FOtO EM QUE ZÉ brINcA cOM SEUS AMIGOS, PODEMOS NOtAr QUE UM DELES FUMA UM cIGArrO À MANEIrA DE jAMES DEAN. hOLLywOOD ErA O MÁxIMO! tODOS QUErIAM SEr cOMO AS EStrELAS (AINDA NEM SE FALAvA SObrE OS MALES QUE O tAbAcO cAUSA À SAúDE). jAMES DEAN NAScEU NO MESMO DIA DE ZÉ tArcíSIO, 8 DE FEvErEIrO, POrÉM DEZ ANOS ANtES. De que Zé está brincando com seus amigos? estão brincando de carrapeta2 2. ForMa BraSileira do Pião, FeiTo CoM PaliTo e SeMeNTe .
O brINcAr É UMA AtIvIDADE SócIOcULtUrAL PrESENtE EM tODAS AS SOcIEDADES. E vOcêS DE QUE brINcAM OU jOGAM, hOjE?
enquanto Fortaleza bailava aos sons das marchinhas carnavalescas de Dalva de Oliveira, lamartine babo, Dicinha batista, Carmen Miranda e irapuan lima com sua “Anágua”, Zé inventava com os amigos suas fantasias, alegorias no Carnaval do retiro da Congregação Mariana da igreja de são benedito em Fortaleza, no educandário eunice Weaver.
vOcê É bOA DEMAIS PrA QUE ANÁGUA, PrA QUê? ANÁGUA É PrA QUEM NãO É ASSIM bOA cOMO vOcê!
nas páginas deste almanaque voCê vai enContrar algumas adivinhas. o que é isso?
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O que são as adivinhas, popularmente conhecida por adivinhações ou ainda “o que é ou que é”? são perguntas provocadoras em forma de charadas, cujo objetivo é instigar as pessoas a se divertirem e a pensarem de forma lúdica. As adivinhas são apreciadas por todas as idades, principalmente pelas crianças. As adivinhações fazem parte da cultura popular e do folclore brasileiro.
O que é um monte de pontinhos coloridos no meio do mato? resposta: formigas treinando para o carnaval!
PÁGINAS DA INFÂNcIA DO ZÉ
trEchO DA LEtrA DE “ANÁGUA”
resumo da história do Bode yoyô
ALMANAQUE DO ZÉ
Acervo do Museu do Ceará
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Dizem os cronistas, historiadores e populares que o bode Yoyô chegou à cidade de Fortaleza fugindo da grande seca de 1915. ele veio com uma família de retirantes que vendeu o estimado caprino para a empresa inglesa rossbach brazil Company, que na época localizava-se na antiga Praia do Peixe, hoje Praia de iracema. Yoyô, como era carinhosamente chamado, ganhou tal nome por perambular todos os dias entre a Praia do Peixe e a Praça do Ferreira. lugar da boemia fortalezense do final do século XiX e primeiras décadas do século XX. entre as diversas histórias contadas sobre o famoso bode, vale destacar algumas. Dizem que ele levantava os vestidos das moças que passeavam por esse logradouro; bebia aguardente; frequentador assíduo do cinema, às vezes ia à missa etc. A popularidade de YoYô possibilitou ser eleito, em 1922, o vereador mais bem votado da capital cearense. O lendário bode morreu em 1931, a causa mais provável: velhice, embora diziam as más línguas que foi de cirrose. Outros diziam que foi assassinado por algum marido enciumado, ou mesmo perseguição política. hoje, quem quiser conhecê-lo é só ir ao Museu do Ceará, que fica na rua são Paulo, 51, Centro, ao lado da Praça dos leões.
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por que voCê aCha que a população de FortaleZa votou em yoyô?
www.secult.ce.gov.br/ equipamentos-culturais/ museu-do-ceara/espacos
são muitas histórias narradas sobre o afamado bode, talvez isso tenha despertado a curiosidade do Menino Zé, que foi visitá-lo no Museu do Ceará muitos anos atrás. nesse tempo, o acervo do referido espaço museológico ficava noutra sede. sede atual (foto acima).
o primeiro grande susto todo dia 15 do mês, Zé acompanhava D. Chiquinha até a secretaria da Fazenda, onde esta deveria receber pensão relativa a um filho que fora militar. Zé adorava o passeio pelo centro da cidade. Calçado com seus “fanabôs”*, o menino seguia contente. D. Chiquinha havia lhe prometido mostrar o bode Yoyô, no Museu do Ceará, porém, sempre apressada, deixava para outra ocasião. Até que um dia Zé conseguiu o que queria, foi ao museu e subiu correndo as escadas determinado a ver o bode. quando se deparou com o famoso caprino, ouviu um berro assustador:
PÁGINAS DA INFÂNcIA DO ZÉ
— MÉÉÉÉÉÉÉÉ!!!!! – (cErtAMENtE ALGUÉM QUErIA vEr A rEAçãO DO MENINO) — E A rEAçãO DO ZÉ FOI SAIr cOrrENDO DO MUSEU. EM DISPArADA, AtrAvESSOU A rUA cAStrO E SILvA, PASSOU PELO PASSEIO PúbLIcO E chEGOU À PrAçA DA EStAçãO. UFA! UMA SENhOrA, AO PErcEbEr QUE O MENINO EStAvA AFLItO E PErDIDO, cONDUZIU-O DE vOLtA À vILA DIOGO EM SEGUrANçA.
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DEPOIS DESSA cOrrIDA, Só MUItO bIOtôNIcO FONtOUrA PArA rEcUPErAr AS FOrçAS DO MENINO ZÉ!
Muito tempo depois estaria Zé, artista, expondo suas obras no Museu do Ceará. ele fez até o projeto de um vídeo documentário sobre o caprino om o amigo e cineasta tito Ameijeiras. Zé saiu do Ceará com destino ao rio de Janeiro em 1961, mas levou com ele estas sábias palavras de sua mãe Marieta, que sempre lhe dizia, em momentos difíceis, Zé: “olha, o mundo é nosso. Vá em frente”.
*FaNaBÔ – PriMeiroS TÊNiS do MerCado, PiNTadoS CoM alVaiade.
LEIA cOM A AjUDA DE UM ESPELhO
IOF OSOIrUc ONINEM O E AtSItrA MU UONrOt ES E :SEcAF SALPItLúM ED ,OrtAEt(ED rOtA ,OFArGótOF ,)OãSIvELEt E AMENIc ,AtSINIrUGIF ,OFArGóNEc ,ODUtErbOS ,E ,rODAcUDE MOc ,OcItSÁLP AtSItrA .LANOIcAN OtNEMIcEhNOcEr
Capítulo 2
CINEMA
PÁGINAS DO
PÁGINAS Do cinema
O Rio de Janeiro deixa de ser a capital do país, que passa a ser Brasília, cidade projetada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
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Cinematógrafo acervo do MIS – foto ao lado
O Rio significou a realização de muitos sonhos do Zé. Aqui ele se tornou esse artista visual contemporÂneo, atuante e consciente de seu papel social na arte.
Década de
1960
Zé
NO CINEMA
Bom, eu conheci o Zé Tarcísio numa tela de cinema por volta de 1964. Um amigo comum foi o Inácio de Almeida, que era do grupo de cinema, me falou que estava passando um filme na cidade e que o Zé Tarcísio era um dos atores. Eu não conhecia Zé Tarcísio, conhecia de nome por causa desses amigos que o conheceram antes dele ir para o Rio, no início dos anos 60. É... esse filme “Terra sem Deus”, do diretor pernambucano chamado José Carlos Burle. Foi um filme muito importante para o cinema brasileiro naquele período de transição entre a chanchada e o cinema novo. A partir daí nunca mais vi Zé Tarcísio, vi-o depois no Rio de Janeiro já nos anos 70 (...). Em 1980 nós trabalhamos juntos em um projeto chamado Soro do Fagner. Nesse show ele fez a ambientação, eu trabalhava na produção do show, e a partir daí nós ficamos amigos. Depois, vi o Zé novamente ligado ao cinema fazendo um filme chamado “Acetona”, produzido pelo Tito Ameijeiras, produtor argentino que esteve aqui. Esse filme eu não vi. Vi outros filmes em que o Zé aparece, como o filme do Jéfferson Albuquerque Júnior, o documentário sobre ele, o “Zé revelou”. Acho que é um documentário do final dos anos 80 e depois no filme do Luiz Carlos Lacerda (o Bigode), chamado “Zé.Com”. Bom, também o filme da Florinda, “Eu não conhecia Tururu”, nesse filme o Zé faz o papel de um vidente com um figurino muito interessante criado por ele. Inclusive, ele me disse que tinha aquele figurino, ainda. Esse figurino do papel dele me inspirou a escreve um roteiro de um curta em que o Zé fazia o papel principal como vidente. É uma comédia, esse curta eu nunca realizei (...). Mas o Zé Tarcísio é uma pessoa muito ligada ao cinema seja como ator, seja como figurinista, diretor de artes, cenógrafo, qualquer coisa. O Zé é um dos artistas que eu conheço mais versáteis, com uma capacidade criativa muito grande. A inquietação criativa do Zé Tarcísio é uma coisa maravilhosa, tem rendido muitos produtos magníficos que temos aqui no Ceará e espalhado no mundo inteiro. O Zé é internacional. Zé é um pé aqui e outro pé no mundo. Ninguém sabe onde ele para onde ele fica. (risos) Então, é uma pessoa muito ligada ao cinema, com o audiovisual. De uma maneira geral, ntem dado boas contribuições, tem esse outro lado no cinema que é de fazer troféus. O troféu do Cine Ceará, quando se inicia com este nome, vai ser desenvolvido pelo Zé Tarcísio. (...). Ele criou o primeiro e o segundo troféus para o “Festival de Jericoacoara: cinema digital”, em Jeri. Esse último em 2010, já modificado. Então, o Zé tá muito ligado, adora cinema, adora contribuir para o desenvolvimento do cinema, e é uma pessoa a quem o cinema cearense e brasileiro deve muito (...). Nós o homenageamos com o troféu de sua própria autoria e pretendemos que essa homenagem se estenda durante todo este ano que ele vira setentão.
2 ALMANAQUE DO ZÉ
O cineasta Francis vale nos concedeu um depoimento sobre a atuação do
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OS PrINcIPAIS cINEMAS QUE MArcArAM A vIDA cULtUrAL DE FOrtALEZA NO SÉcULO xx
Alguns filmes em cartaz, em 1950, em Fortaleza (Jornal “Unitário”)
Cine Diogo – inaugurado no dia 7 de setembro de 1940, na rua barão do rio branco. O prédio do Cine teve outros usos, entre os quais abrigou a navegação Aérea brasileira (nAb), o Palácio da Criança e a Ceará rádio Clube - este espaço muito frequentado pelo menino Zé. A última exibição cinematográfica aconteceu no dia 30 de janeiro de 1997. hoje, mantém estabelecimentos comerciais dos mais diversos.
OUtrO FILME QUE MErEcE DEStAQUE FOI “LAMPIãO”, DE bENjAMIN AbrãO, DE 1936, cENSUrADO PELO EStADO NOvO.
Curiosidade:
Em 1940 Orson Wells foi barrado, pois não usava paletó!
PÁGINAS DO cINEMA
DIcAS DE LEItUrAS:
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Cinema Cearence: algumas Histórias, de Francis Vale. Editora Assaré. Fortaleza, 2008. Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, de Glauber Rocha. Editora Cosac Naify. Firmino Hollanda, Benjamin Abrahão, edições Demócrito Rocha, Fortaleza, 2000.
Cine Moderno – Criado em 1921. nesse cine, em 1925 foi apresentado o documentário “O Juazeiro de Padre Cícero”, produção de Adhemar de Albuquerque, criador da Aba Film e pioneiro no ramo da fotografia e filmes no Ceará.
Fachada do Cinema Moderno, em Fortaleza. (Praça do Ferreira). Livro “Ah, Fortaleza!”, vários autores, 1ª edição, página 143.
cINE MAjEStIc – INAUGUrADO EM 14 DE jULhO DE 1917, MArcOU A cENA cULtUrAL DA cIDADE.
Zé assistiu muitos Filmes nesse Cinema e tamBém no Cine são luiZ do grupo severiano riBeiro. Localizado na Praça do Ferreira Cine São Luiz do grupo Severiano Ribeiro
Você conhece o Cine São Luiz no Centro da cidade? Que filmes já assistiu lá? Caso não conheça, não perca a oportunidade de conhecer esse cinema.
O bELO PrÉDIO SOFrEU DOIS INcêNDIOS, O PrIMEIrO EM 1955, O SEGUNDO EM 1968, QUE FEchOU SUAS MAGNíFIcAS POrtAS.
cArtAZ DO PrIMEIrO FILME ExIbIDO NA NOItE DE INAUGUrAçãO DO cINE SãO LUIZ, 26 DE MArçO DE 1958.
hoje, podemos enContrar em dvds versões inFantis da história da “anastasia a prinCesa esqueCida”
yul BorisoviCh Brynner, ator russo em quem Zé se inspirou para raspar tamBém a CaBeleira, depois que assistir “anastasia a prinCesa esqueCida”,
“QUANDO O ZÉ APArEcEU NA EScOLA cOM A cAbEçA rASPADA FOI UM FAtO INUSItADO, MUItO INtErESSANtE. FOI O MAIOr AUê, [...], NA hOrA DO rEcrEIO tODO MUNDO QUErIA PASSAr A MãO NA cAbEçA DO ZÉ. O MEU PAI MANDOU chAMAr A MãE DELE PArA ExPLIcAr O FAtO AcONtEcIDO E SOUbE QUE ZÉ FOI INFLUENcIADO PELO AtOr bryNNEr. ELE SEMPrE FOI MUItO ESPIrItUOSO, crIAtIvO, DIFErENtE. SEMPrE tEvE UMA vEIA ArtíStIcA, GOStAvA DE PArtIcIPAr DO GrêMIO LItErÁrIO DA EScOLA. ELE SEMPrE FOI MUItO AtUANtE. AS PESSOAS SãO DIFErENtES, UNS vãO SEr ENGENhEIrOS, ADvOGADOS, ZÉ FOI SEr ArtIStA. (EDNILtON SOArES)
PÁGINAS DO cINEMA
sinopse
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ELENCO Ingrid Bergman | Anastásia Yul Brynner | General Bounine Helen Hayes | Dowager Empress Akim Tamiroff | Chernov Martita Hunt | Baronesa von Livenbaum Felix Aylmer | Chamberlain Sacha Pitoëff | Petrovin Ivan Desny | Príncipe Paul Natalie Schafer | Lissemskaia Grégoire Gromoff | Stepan Karel Stepanek | Vlados Ina De La Haye | Marusia Katherine Kath | Máxime
cASA AMArELA EUSÉLIO OLIvEIrA ESPAçO DE FOrMAçãO A cASA AMArELA EUSÉLIO OLIvEIrA, LOcALIZADA NA Av. DA UNIvErSIDADE, 2591, bENFIcA. FOI crIADA EM 1971, É UM órGãO cULtUrAL DA UNIvErSIDADE FEDErAL DO cEArÁ. O ESPAçO OFErEcE cUrSOS DE ANIMAçãO, DE cINEMA E DE FOtOGrAFIA.
O general bounine (Yul brynner) foi expulso da rússia durante a revolução de 1917, e busca ainda a princesa Anastásia, sobrevivente do massacre da família do czar nicolau ii. em suas buscas, encontra uma moça que perdeu a memória e que parece com Anastácia (ingrid bergman). ele a prepara para que possa representar o papel da princesa desaparecida e assim tomar o poder. só que Anastácia começa a lembrar-se de fatos de sua vida como grã-duquesa e demonstra ser a verdadeira princesa desaparecida.
a Chegada do Zé à Cidade maravilhosa
2 ALMANAQUE DO ZÉ
em 1961, Zé, movido pelos conselhos do consagrado artista cearense, Antônio bandeira, chega ao rio de Janeiro. então ele alça voos, faz de sua arte um caminho de descoberta e redescoberta, num exercício infindo de criação. A sua estreia no mundo da arte na capital fluminense teve início em 1962, quando leu um anúncio de jornal sobre a seleção de atores para integrar o elenco do longa-metragem “terra sem Deus”, que seria rodado no sertão de Pernambuco. Zé foi selecionado, entre os mais de 200 concorrentes, para viver quinquim, um adolescente com problemas neurológicos.
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Cenas do Filme “terra sem deus” Durante as filmagens, morreu num acidente de caminhão o produtor Valença Filho. tal fato interrompeu as gravações, que são retomadas meses depois pelo diretor do filme, José Carlos burle, que concluiu “terra sem Deus” em 1964, ano da instalação da ditadura militar, no brasil.
PÁGINAS DO cINEMA
Você sabe como funciona um set de filmagem no cinema?
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PArA A rEALIZAçãO DA cENA MAIS SIMPLES À MAIS cOMPLExA, É NEcESSÁrIO UMA EQUIPE AFINADA PArA QUE tUDO SAIA cOMO DESEjA O DIrEtOr! ZÉ EStEvE AtrÁS E NA FrENtE DAS cÂMErAS! NO LONGA-MEtrAGEM “tErrA SEM DEUS”, ZÉ ALÉM DE AtOr FOI tAMbÉM FOtóGrAFO DO FILME StIL.
Cenas do filme “Terra sem Deus” na propriedade “ Fazenda Nova”, Brejo Madre de Deus, Pernambuco.
Quem é quem no set Núcleo de Direção
O diretor é o chefe geral do estúdio. Seus subordinados diretos são o assistente de direção, o elenco e o continuísta - sujeito que faz a marcação nos cortes para que, por exemplo, um personagem que usa óculos não apareça sem eles quando a filmagem for retomada. Núcleo de som
O engenheiro de som controla a captação dos diálogos, do som ambiente e de efeitos sonoros. Ele trabalha com um assistente e o microfonista, responsável pela instalação dos microfones de cena.
2 ALMANAQUE DO ZÉ
Núcleo de arte
O diretor de arte é o responsável pelo visual do filme. Sob sua batuta, trabalham o assistente de direção de arte, maquiadores, figurinistas, o cenotécnico (responsável pela construção dos cenários) e o contraregra (que zela pela conservação dos objetos de cena).
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elenco São as pessoas que aparecem no produto final: atores e figurantes.
Zé em cena
Núcleo de fotografia
Chefiado pelo diretor de fotografia, que determina o tipo de luz a ser usada, as lentes da câmera e a qualidade da película, entre outras coisas. Ele é assistido pelo operador de câmera e seus ajudantes. Neste núcleo, ainda trabalham os maquinistas (que operam gruas e outros aparelhos) e os eletricistas. Núcleo de produção
O diretor de produção é quem cuida da parte logística do filme: cronograma, negociação com fornecedores, contratação de pessoal. Com ele, trabalham alguns produtores e seus assistentes, que vão atrás de objetos que compõem o cenário, e até um produtor de alimentação para os trabalhadores do set. Também estão neste núcleo as equipes que fotografam e filmam o making of.
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FICHA TÉCNICA: Produtores: Wilson Afonso Valença e José Carlos Burle Direção: José Carlos Burle Argumento: Ismar Porto e Wilson Afonso Valença Diálos: Maria Wandeley Roteiro: José Carlos Burle e Ismar Porto Música: Nelson Ferreira Canções: José Carlos Burle, Alberico Bruno, Jerônimo Cangaceiro do Rojão e Severino Fortunato Diretor de fotografia: Ruy Santos Operador: Ruy Santos Diretor de Produção: Roberto Ribeiro Montagem: Máximo Barro Engenheiros de som: Juarez Costa e Ernest Hack Assistêntes de Direção: Cleide Azevedo e Alberico Bruno Cenografia: José de Melo Fotografia de cena: Tarcísio Ramos Maquinista de cena: Lenildo Martins Eletricistas: Aloísio e Mazola Laboratórios: Rex filme S.A
Cartaz do longametragem “Terra Sem Deus” Nesse tempo, Zé ficou conhecido como Tarcísio ramos
Cartaz de Lula Cardoso Aires
Sinopse:
O longa-metragem Terra sem Deus mostra com realismo a tragédia da seca e suas consequências diretamente imbricadas com indústria da seca. Apresenta “os que enriquecem a custa do terrível flagelo. O coronelismo feudal e impiedoso agravando a miséria e gerando revolta no espírito dos camponeses desprotegidos”. É um filme de contrastes que mostra os arranha-céus e os palacetes de Recife em face das moradias dos habitantes do sertão pernambucano.
Ao término das filmagens, todos os atores de Terra Sem Deus foram convidados a trabalhar na TV TUPI. Assim, Zé vira humorista dessa emissora que, em maio de 1963 fEz a primeira transmissão em cores da televisão brasileira.
Resp. Glaube Rocha
PÁGINAS Do cinema
De quem são estes olhos?
Dica: É um grande cineasta brasileiro, nasceu na Bahia e trabalhou com a chamada temática “Estética da fome”. Ver sites: www.suapesquisa.com/musicacultura/livros_cinema_brasileiro.htm http://cinemabrasil.org.br/searchpo.html
em 1990, Zé tarCísio elaBora um projeto videográFiCo, “viver ConFundir-se”, tendo Como inspiração um texto do CrítiCo de arte Walmir ayala aCerCa da produção artístiCa tarCisiana. a direção FiCou a Cargo de jeFerson alBuquerque, o FinanCiamento seria do BanCo do nordeste, todavia aCaBou sendo realiZado Com reCursos do próprio artista.
1994 NO 20º cINE cEArÁ.
EN cOMPEtENcIA y PrEMIAcIóN- 4º FEStIvAL DE víDEO DE FOrtALEZA.
2 viver, jEFFErSON DE ALbUQUErQUE jr. MEjOr DIrEccIóN DE ArtE: jOSÉ tArcíSIO
Zé e Ayala
“Transpassar-se no tempo, de todos os estímulos esboçados. Ser, como artista, uma sensitiva transitória e receptiva. Assim tem cumprido José Tarcísio, cearense de menos que quarenta anos, seu trânsito. Todos os que o conhecem há quase duas décadas têm visto como tem enfrentado a tirania do esquema, como tem dançado com o dragão e lustrado suas escamas. (...) O transplante Fortaleza /Rio, e a memória interiorana de poderoso resíduo e muito desgaste, empedraria as imagens do ciclo familiar, a cuja fonte voltaria muitas vezes para se abastecer (...). Em 1971 viaja para Paris. Como tem que vive,r resolve desenhar como qualquer pintor de calçada. Sua temática não interessa ao comprador e ele se condiciona à circunstância. Todos compram flores e ele desenha flores. Tem até hoje guardadas essas flores, com secreto orgulho, como salvadas da concessão. Criticamente encontramos nessas flores o mesmo nível de invenção de sempre, e numa retrospectiva elas teriam que ser cotejadas. Em Londres, a exacerbação é sexual (década de 70) - ficam os desenhos de conotação genital. Detalhes como modelos científicos, sem qualquer margem de sensualismo. (...) Começa então o aprendizado humilde e árduo da pintura. De uma viagem a Fortaleza, traz o acúmulo de imagens - as praias, areais, mato rasteiro (sobrevivência de uma natureza despojada e agressiva). O comportamento do pintor equilibra-se entre o racional de uma pintura elaborada e o ingenuísmo de um astracã cromático, liberdades a que José Tarcísio ainda e sempre se permite.”
ALMANAQUE DO ZÉ
cONFUNDIr-SE.
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Walmir Ayala BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 15. , 1979. Catálogo geral. Apresentação de Luiz Fernando Rodrigues Alves. São Paulo: Fundação Bienal, 1979.
Zé
um homem envolvido Com a sétima arte, seja atuando, produZindo ou ColaBorando noutras Frentes.
Ficha técnica título original: Corisco & Dadá Gênero: Aventura Duração: 103 min. lançamento (brasil): 1996 Distribuição: Riofilme Direção: Rosemberg Cariry roteiro: Rosenberg Cariry produção: Cariry Produções Artísticas Música: Toinho Alves e Quinteto Violado Fotografia: Ronaldo Nunes Desenho de produção: Walmir Paiva, Zé Tarcísio e Fabio Vasconcelos Direção de arte: Jefferson de Albuquerque Júnior Figurino: Renato Dantas edição: Severino Dada
elenco Chico Díaz - Corisco Dira Paes - Dadá Chico Alves Maira Cariry Virginia Cavendish Chico Chaves B. de Paiva Regina Dourado Antonio Leite Teta Maia Denise Milfont Luiz Carlos Salatiel
CartaZ do 1º Cine Ceará, 1991
PÁGINAS DO cINEMA
Direção Fábio barreto Ano da filmagem: 1997
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elenco: Natasha Henstridge Eduardo Moscovis Sophie Ward Letícia Sabatella Florinda Bolkan Andrew McCarthy Guilherme Karan Ângelo Antônio Odilon Wagner Jackson Costa
no filme de Fabio barreto “bela Donna”, Zé participou nas locações, nos contatos para a produção e figuração. esse longa foi realizado nas praias de Canoa quebrada, do Morro branco e cidade do Aracati.
ACETONA: uma interferência cinematográfica de Zé Tarcísio
ALMANAQUE DO ZÉ
2
O curta-metragem, tem roteiro e direção de Zé. O filme em 16mm tem um minuto de duração, rodado em Fortaleza, 1998.
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Sinopse: O tema central do filme é a solidão da alma feminina. A personagem, no seu silêncio, se angustia e se apega aos objetos de fé e do cotidiano, numa tentativa humana vã de preencher as sensações de vazios impregnadas no corpo e na alma da mulher.
Zé nos bastidores com Ana Marlene
Ficha técnica Roteiro e direção: José Tarcísio Produção: Sandra Nascimento e Tito Ameijeiras Direção de Atriz: Arthur Guedes Atriz: Ana Marlene Direção de fotografia: Jane Malaquias Assistente de câmera: Eusélio Gadelha Oliveira Trilha sonora: Falcão
“EU NÃO CONHECIA TURURÚ” O longa metragem “Eu não conhecia Tururú” roteiro e direção da atriz cearense Florinda Bolkan, de 1998, rodado no interior do Ceará. Zé interpretou o Vidente e participou também nas locações.
PÁGINAS Do cinema
O filme narra o encontro entre quatro irmãs numa cidadezinha do interior cearense, depois de longos anos de separação. O motivo do reencontro foi o casamento de uma delas. O cenário possibilitou fazerem reflexões sobre as relações humanas.
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Elenco Maria Zilda Bethlem Ingra Liberato, José Tarcísio Florinda Bolkan Valentina Vicario, Suzana Gonçalbves, Herson Capri, Marcelo Serrado
LUA CAMBARÁ: nas escadarias do palácio Sinopse: No Ceará século XIX, um poderoso coronel estupra uma escrava negra. Dessa violência, nasce uma bela menina, chamada de Lua. Numa sociedade profundamente machista e violenta, Lua tem de lutar com as mesmas armas dos homens para conquistar o seu espaço.
As Tentações do Irmão Sebastião é o segundo longa de José de Araújo, conquistou no 16º Cine Ceará os prêmios da crítica e da direção de arte e do Banco do Nordeste de melhor longa.
Cineasta Rosemberg Cariry
Título original: As Tentações do Irmão Sebastião Gênero: Drama Duração: 2 h 27 min Ano de lançamento: 2007 Site oficial: Estúdio: Ganesh Produções / Ritual Filmes / Tupa Films Distribuidora: Riofilme Direção: José Araújo Roteiro: José Araújo Produção: José Araújo Música: Fotografia: Antônio Luiz Mendes Direção de arte: Sérgio Silveira Figurino: Kate Chumley Edição: Anton A. Herbert
ELENCO Dira Paes – Lua Cambará Chico Díaz – João Índio Claudio Jaborandy – Idelfonso José Tarcísio – Padre Romoaldo Tono Silva – Escrava Cabimda W. J. Solha – Coronel Cambará
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Direção: Rosemberg Cariry Roteiro: Rosemberg Cariry Gênero: Drama/Histórico Origem: Brasil
A filmagem desse longa foi em 2001, em Maranguape, Cariri e Inhamuns, no sertão cearense inspirado na lenda “Lua Cambará”
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Em 2001, Zé criou o troféu “Eusélio de Oliveira”, para as premiações do Festival Nacional de Cinema e Vídeo (CineCeará). Como podemos observar na foto é uma representação de uma película de filme em metal, sob uma base de granito.
A ILHA DO MEDO – 2005 (projeto do cineasta Wolney Oliveira) Projetos importantes fazem parte do currículo do Zé, como é o caso do projeto para o documentário “Yoyô: Um Bode de Bem” (2001), que narra a história do bode Yoyô, animal que entrou para a história cultural de Fortaleza entre os anos de 1915 a 1931, permanecendo na atualização da memória popular. Foi embalsamado e doado ao Museu do Ceará. O roteiro e argumento são de Zé Tarcísio. Outro projeto importante foi “Imaginários” (19942000), vídeo documentário, rodado em Canindé-CE. O argumento e produção executiva é do próprio artista, sobre a prática de ex-voto. O roteiro de elaboração foi de Leila Moema. Zé dirige o enredo como colecionador de ex-voto desde os nove anos, quando foi fazer a sua primeira comunhão. Essa história contaremos em outras páginas.
“RIFA-ME”
Karim Ainouz
Direção: Karim Ainouz (foto) Ano: 2000 O curta-metragem foi inspirado num conto de literatura de cordel onde a personagem principal decide rifar a si mesma, numa noitada, com o intuito de juntar uma grana para ir embora da cidade natal, Quixeramobim-Ce e alcançar novos horizontes. A participação do Zé no filme é de um declamador de versos de cordel.
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Atividade: Cineminha
PÁGINAS Do cinema
Obs.: caro(a) professor(a), os alunos podem fazer essa atividade com os seus próprios desenhos ou uma releitura da obra do Zé, que tal?
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Use sua criatividade e crie uma historinha com o menino Zé, pode ser em quadrinhos ou numa fita cinematográfica.
Se você se interessa por cinema de animação então visite o site: www.animamundi.com.br
arte em teia
cAPítULO 3
TEATRO PÁGINAS DO
TV
PÁGINAS DO tEAtrO E DA tv
E DA
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Cemitério de automóveis” Arte, Vida e Morte se entrelaçam no palco do teatro ruth escobar, no rio de Janeiro em 1970, com a peça teatral “Cemitério de automóveis”, do argentino Victor garcia, coletânea de textos do espanhol Fernando Arrabal e figurinos e adereços realizados por Zé tarcísio. nas palavras do teatrólogo, ensaísta e um dos mais importantes críticos de teatro do brasil Yan Michalski:
“Cemitério de Automóveis é um selvagem poema esculpido no espaço pela sensibilidade de um artista total – Vitor Garcia – que também, e até mesmo essencialmente, é um artista plástico. Outro artista plástico, José Tarcísio, trouxe uma contribuição valiosa para o emocionante impacto visual da realização, encarregando-se da execução dos figurinos e adereços concebidos por Vitor garcia.
Num momento em que as distinções rígidas entre as artes tendem a ser abolidas, a adesão de José Tarcísio, à pesquisa de vanguarda teatral se dá através de um trabalho no qual a sua sensibilidade pictórica de artista plástico se fundem harmoniosamente com a linguagem do acontecimento cênico”.
Yan Michalski , s.d. Acervo Cedoc / FUNARTE Registro fotográfico autoria desconhecida
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Execução de figurinos equivale geralmente a uma tarefa predominantemente artesanal; neste caso, execução quer dizer – como poucas vezes no teatro – pesquisa artística. O elemento básico da linguagem do espetáculo é o corpo humano em movimento; e a expressividade desse elemento depende grandemente da roupagem que cobre. Se há um conflito dramático definido em Cemitério de Automóveis, é o conflito entre a morte e a vida; o trabalho de José Tarcísio torna esse conflito visualmente muito tangível. Os materiais e as cores que ele usou para as extravagantemente belas capas e roupas do espetáculo sugerem, irresistivelmente, algo podre, de amortecido pelo tempo e o gasto, algo que tivesse sido desencavado num cemitério. Mas esses panos meio mortuários não servem só para vestir os nus: eles passam no decorrer da ação, a despi-los, a revelar sua nudez, a projetar sua tensão erótica, símbolo da vida. Uma imagem que o espectador levará para casa é a figura do Necrófilo, exibindo uma estranhíssima roupa de medalhões metálicos que lhe sublinha a frieza fantasmagórica; e é esta figura, de um poderoso apelo visual, que trará à adolescente do episódio final, através da morte, a revelação de Eros e da vida.
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O depoimento a seguir narra o significado desse espetáculo para a vida de Sérgio Silveira, que ficou impactado com a poética e a plástica da peça, transformando anos depois o jovem adolescente num talentoso diretor de arte.
PÁGINAS Do teatro e da tv
Sérgio Silveira
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Não. Esse “pequeno herói mítico civilizador” não veio de longe, do panteão dos grandes mestres imortais, onde até hoje habitam Victor Garcia e Fernando Arrabal. O nosso “pequeno herói” era da cidade de Fortaleza, crescido nas pequenas vilas portuárias da cidade.
Submerso na perplexidade dos meus 17 anos de idade, vivi o risco de assistir à tão esperada montagem teatral “Cemitério de Automóveis”, do “herói modernizador do teatro internacional” Victor Garcia, no Rio de Janeiro, em 1970. Era um momento mundial de profunda transformação cultural, onde a intimidade, a verdade, a honestidade deveriam existir a qualquer custo, à flor da pele, impulsivamente, inclusive mortalmente se necessário. Assistir a um filme do Godard, ler um texto do Fernando Arrabal ou ver uma montagem teatral do Victor Garcia era como fazer parte de um rito de passagem para um novo Mundo inevitável. E ali estávamos nós, as gerações que sobreviviam à perspectiva de um apocalipse nuclear buscando um novo significado e pacto de vida, permitindo que fôssemos violados pelas máquinas emocionais prospectoras dos artistas, visceralmente invadidos por uma infinidade de perguntas sem respostas, de sínteses desintegradas, de caos, de Cosmos. Hendrix dizia que cada fio de seu cabelo era ligado a uma estrela do Universo. Uma época que aprendíamos que só existimos quando nos inventamos. Foi com este pensamento visionário que saí trêmulo e profundamente emocionado do “Cemitério de Automóveis”, percebendo que nos corpos frenéticos e olhos lacrimejantes da totalidade do público existia a mesma sensação. A sensação de termos sido escolhidos para uma missão salvadora, ressignificadora, restauradora de nossa civilização. Saímos todos apóstolos de uma nova era. Daí em diante nos tornamos o que somos e com certeza nesses últimos 41 anos mudamos a qualidade do Mundo. Mais de trinta anos depois, eu, um artista formado no impacto da construção cênica visual do Cemitério dos Automóveis, encontro um silencioso e doce artista no seu “exílio na terra natal” e reconheço nele aquele que fez belíssimos figurinos e adereços do espetáculo. É o Zé Tarcísio! Como pode? Cheguei a pensar durante anos que ele pertencia à Barca de Caronte que veio do Mundo da Imaginação e aportou no Brasil nos anos 70 para implodir nossas frágeis e elitistas estruturas culturais “antropofágicas” e nos fazer mergulhar numa única onda internacional orgástica que reestabelecia a união entre o desejo e a prática. Não. Esse “pequeno herói mítico civilizador” não veio de longe, do panteão dos grandes mestres imortais, onde até hoje habitam Victor Garcia e Fernando Arrabal. O nosso
o Zé é um desses Caras que pareCe que não teve pai. não preCisava. um desses raros seres Fundadores de si mesmo.
jornal estado de s. paulo divulga a seguinte matéria: “peça supera Crise no teatro e atrai púBliCo” O SUcESSO DO ESPEtÁcULO “vErDUGO” DA DrAMAtUrGA E POEtISA hILDA hILSt, DIrIGIDA POr rOFrAN FErNANDES, EM 1973, LOtOU O “tEAtrO OFIcINA”, EM SãO PAULO.
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sérgio silveira
“pequeno herói” era da cidade de Fortaleza, crescido nas pequenas vilas portuárias da cidade. Nem ao menos tinha vindo da região do Cariry, das regiões messiânicas, dos sertões abissais do Ceará. E ali mesmo, desde pequeno, jogou sua vida nas ventanias da arte. Hoje ainda quando o reencontro pelos cantos da cidade, fico ouvindo de seus olhos histórias belíssimas do inusitado, e no meu silêncio o aplaudo de pé como na noite que assisti chorando de encantamento o “Cemitério de Automóveis”.
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[...] ‘“O Verdugo’ enfoca o conflito de duas sociedades: uma marginal, que habita um vale e se chama “Os Coiotes”, e uma de consumo, ou a nossa. um porta-voz dessa sociedade marginal sai em pregação político-religiosa pelo mundo e, ao chegar à outra sociedade, sua antagonista, é considerado subversivo. Condenado à morte, consegue escapar, graças à intervenção de um verdugo, que se recusa a matá-lo. rofran Fernandes explica que a força do espetáculo está em que, ‘paralelamente ao conflito, procurei criar uma obra aberta a qualquer entendimento com um aspecto visual muito atraente, para o que contei com o trabalho de José tarcísio, responsável pelos cenários e figurinos’”(estado de s. Paulo, domingo, 10 de junho de 1973).
elenCo da peça: geraldo del rey, lourdes de moraes, osmano Cardoso, eraldo riZZo e roFran Fernandes.
“lampião no inFerno”, de jairo lima,
foi um musical dirigido por luiz Carlos Mendonça, no rio de Janeiro, 1975. nesse mesmo ano a peça, que discute o universo nordestino tematizado na literatura de cordel, foi apresentada em são Paulo, marcando a inauguração do teatro Aplicado.
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A vontade de fazer teatro resistiu à falta de apoio das instituições públicas e às dificuldades financeiras de um grupo de jovens atores/atrizes. O espetáculo “lampião no inferno” foi realizado com a participação do artista plástico Zé tarcísio, que criou o cenário e os figurinos, com refugos que a sociedade de consumo descarta.
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De quem são estes olhos?
A DONA DELES É MUItO AMIGA DO ZÉ. ELA trAbALhOU NA PEçA “LAMPIãO NO INFErNO”, NO cINEMA vIvEU MArIA bONItA, A MULhEr DO LAMPIãO. tAMbÉM É UMA AtrIZ GLObAL. jÁ SAbE QUEM É? Resp: Tânia Alves
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“a história do rei do Cangaço” tem inspirado literatos, historiadores, Cineastas, teatrólogos, e, soBretudo, Cordelistas.
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o jornal o gloBo, 17 de agosto, destaCa a liderança de Zé Frente ao espetáCulo no museu de arte moderna, no rio
proCesso do espetáCulo a ser realiZado no mam-rj para Criar o Cenário, além de traZer do Ceará redes de dormir, arame Farpado e pedras, Zé utiliZou restos de material de Construção das oBras do metrô.
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esta não é a CruZ de Cristo, esta é a CruZ do homem Comum, tão Caro ao nosso artista.
O poeta angolano Ruy Alpha dedicou o poema ao Zé :
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apanhar-a–pedra
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apanhar-a-pedra nas terras sem-donos sertões madrugadas nos Campos queimados os sonhos os medos os passos-assim (num silênCio Conseguido na véspera do outro!) a pedra guardada na Casa o som esCutado no Fundo um sol soBrando no gesto e os trens sempre –vão- sempre e tudo mesmo tudo tudo-o-tudo elemento-por-elemento nos preFixos são as pedras-lugares em Comunhão guardadas na Casa esCutado o som num silenCio os passos – assim galopes de Cavalo mansos vão os trens elemento-por-elemento nas terras FeChadas apanhar a pedra ir Continuar partir Correr seguir andar e proseguir!
O reconhecimento de um artista múltiplo
Amir Haddad
Amir Haddad - professor, pesquisador, ator e diretor consagrado da dramaturgia contemporânea. Prêmio
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Molière, em 1969 com o reconheceu a pulsão teatral de Zé Tarcísio, artista que sabe dialogar com as diversas linguagens da arte.
O olhar cenográfico de Zé procura selecionar coisas e cenas do cotidiano, trazendo-as para seu fazer artístico, pois sabe que a fugacidade do tempo apaga, mata, se alguém não registrar, não cuidar, não atualizar a memória através dos objetos, ela pode ser esquecida.
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espetáculo “Construção”. Ele
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a Criação e realiZação da CenograFia e dos Figurinos do artista plástiCo Zé tarCísio.
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O ESPEtÁcULO “NóS” FOI ENcENADO NO tEAtrO cANDIDO MENDES, NO rIO DE jANEIrO, EM 1980. A DIrEçãO FOI DE GLOrINhA bEUttENNMÜLLEr.
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entre tantos espetáCulos que reCeBeram o selo da Censura, “nós” tamBém Foi advertido por expor no palCo Corpos seminus.
que Zé iniciou na arte de representar.
A sua primeira atuação foi no monólogo “Entre a Cruz e o Pecado”, criado por padre Guilherme para os meninos do catecismo.
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Foi na década de 1950, na Igreja de São Benedito, em Fortaleza,
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Sinopse Entre a cruz e o Pecado narra a história de um jovem atormentado pelo pecado que se jogava ao mundo perturbado pelo satanás. Foi um sucesso entre a comunidade participante das atividades culturais da Igreja.
outra peça do tempo do CateCismo Foi “o mártir do Calvário”, realiZada em 1957, em FortaleZa. DIrEçãO DE wALDEMAr GArcIA, NA ASSOcIAçãO cEArENSE DE FOtOGrAFIA E cINEMA. Zé no papel de Judas Escariotes.
palavras do Zé:
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“DO PALcO DO cAtEcISMO AO DO GrUPO MUNIcIPAL DE DUQUE DE cAxIAS – PróxIMO AO MErcADO SãO SEbAStIãO – FOI FÁcIL – LÁ EStAvA SEMPrE NAS AtIvIDADES DO GrUPO, tAIS cOMO cOMPEtIçõES EM FEStIvIDADES DE DEcLAMAçõES – EM SEGUIDA cLUbE DOS SEZINhOS – MANtIDO PELO SESI E cASA jUvENAL GALENO, AtÉ chEGAr À rÁDIO IrAcEMA E cEArÁ rÁDIO cLUbE (PrE–9)”.
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IMAGENS FOtOGrÁFIcAS DOS AcONtEcIMENtOS cêNIcOS DA ÉPOcA DO cAtEcISMO NA IGrEjA DE SãO bENEDItO FAZEM PArtE DO AcErvO DO ZÉ. ESPAçO DE rELIGIOSIDADE QUE cONtrIbUIU PArA A FOrMAçãO. ELE AcOMPANhAvA SUA tIA LUíZA, “bIbI”, cOMO ELE cArINhOSAMENtE A chAMAvA, EM tODOS OS EvENtOS DA IGrEjA; PrOcISSõES, NOvENAS, MISSAS, Etc.
Desenho de Jesus que Zé fez para sua mãe Marieta
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77 Em 2002, Canindé-CE, foi encenado o auto de Natal “O menino de Belém”, de Ilclemar Nunes, uma releitura do evangelho de São Lucas. A infraestrutura do espetáculo teve o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Zé Tarcísio participou como diretor de produção.
Esse musical se apresentou em três versões geográficas. são elas: Menino de BeléM.
Zé partiCipou do menino de Belém do sertão.
Outro espetáculo que Zé participou foi a peça infantil “lix, o super lixeiro em chama minha mãe aí” realizada no teatro Dragão do Mar, em Fortaleza, 2002. Organizado pelo grupo garis. Direção e texto de Allan Duvale. O grupo balaio premiou Zé pela criação de adereços e como figurinista.
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O ESPEtÁcULO EDUcAtIvO QUE tEvE cOMO ObjEtIvO cONScIENtIZAr O PúbLIcO SObrE A IMPOrtÂNcIA DA PrESErvAçãO AMbIENtAL. cAUSA ESSA QUE ZÉ DEFENDE NA DÉcADA DE 1970.
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elenCo: allan duvale, Fernando Cattony e Castro segundo.
SINOPSE A PEçA NArrA A hIStórIA DE UM LIxEIrO QUE NAS hOrAS DE FOLGA É UM INvENtOr, cANSADO DE cUMPrIr OrDENS DO chEFE, QUE O ObrIGA A DESPEjAr LIxO tODOS OS DIAS NO rIAchO. UM DIA ELE rESOLvE SE rEbELAr, cOrrENDO O rIScO DE PErDEr O EMPrEGO, ELE tEM A IDEIA DE INvENtAr ALGUÉM QUE LUtE POr ELE. A PArtIr DESSE MOMENtO, MUItA cONFUSãO cOMEçA AcONtEcEr.
O espetáculo “O Natal na Praça”, produzido e dirigido por Osvaldo Neiva, texto de Henri Gheon.
Na peça “O Natal na Praça”, Zé Tarcísio representou quatro papéis (o Cigano Bruno, o anjo da anunciação, o pastorzinho e Jesus menino). O evento foi realizado no Maracanãzinho, em 1965. O espetáculo encerraria “A festa do presente de Natal, onde cada pessoa levaria um brinquedo novo ou velho, mas útil – que será oferecido às crianças dos asilos, orfanatos e de outras instituições assistenciais, segundo indicações dos padres dos bairros”. Assim, noticiou o Jornal “Última Hora”.
Troféu criado por Zé para o Festival de Teatro de Guaramiranga Troféu criado por Zé Tarcísio, com a participação de outro artista, Bosco Lisboa, para o III Festival Nordestino de Teatro, em Guaramiranga-CE, em 1996. A imagem móvel simboliza as máscaras da comédia e da tragédia. O material usado foi pó de pedra sobre base de granito.
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1999 MArcOU O INícIO DA ENcENAçãO DE UM GrANDE ESPEtÁcULO AO Ar LIvrE “FrANcIScO: O hOMEM QUE SE tOrNOU SANtO”, EM cANINDÉ-cE, PrODUçãO DE jOSÉ ALbErtO SIMONEttI.
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DESDE ESSA DAtA AtÉ 2002, ZÉ tArcíSIO PArtIcIPOU cOMO AtOr E vOZ DA PErSONAGEM “PrOFEtA”. EM 2010, POr FALtA DE INcENtIvOS GOvErNAMENtAIS, ESSE ESPEtÁcULO, QUE ENcANtOU O PúbLIcO E cONtrIbUIU PArA A FOrMAçãO tEAtrAL DE MUItOS jOvENS DE cANINDÉ, DEIxOU DE SEr ENcENADO.
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entre atores e Figurantes a peça Foi representada por 250 Cearenses enCenando, ao ar livre, a emoCionante história de Fé, de amor e humildade de são FranCisCo, um dos santos mais queridos da Cristandade. Zé partiCipou Como o personagem proFeta.
Zé profetizando na peça 1999
“NãO hÁ NADA, AcIMA OU AbAIxO, QUE tENhA PESO E FIrMEZA A NãO SEr O EtErNO.” “AbENçOADA SEjA A EtErNA LUtA ENtrE O IDEAL, cOM tODA A SUA PUrEZA, E AS crUAS rEALIDADES DA vIDA DIÁrIA ISSO trAZ ELEMENtOS DE INQUIEtUDE, MAS tAMbÉM DE vItALIDADE E rENOvAçãO”.
Cartaz e abaixo convite do Soro
MAIS UMA crIAçãO DE ZÉ FOI A AMbIENtAçãO DO ESPEtÁcULO PLUrAL “SOrO”, EM 1980, rEALIZADO NO tEAtrO jOSÉ DE ALENcAr, ESSE EvENtO rEUNIU ArtIStAS DE DIvErSAS LINGUAGENS DA ArtE. vEr cArtAZ AO LADO.
glauBer roCha
osCarito
grande otelo
grandes nomes da tv e do Cinema A tV tupi foi o primeiro canal de televisão da América latina, inaugurado, no dia 18 de setembro de 1950, na ocasião a jovem atriz Yara lins, que contracenou com Zé, no filme “terra sem Deus”, foi convidada para dizer apenas o prefixo da emissora - PrF3 Canal de são Paulo. Assis Chateaubriand, proprietário dessa emissora, importou dos estados unidos equipamentos para a realização de mais um de seus empreendimentos. Assim, foi criada a tV tupi Difusora.
Quer saber mais sobre história da TV TUPI? Entre no site: http://retrotv.uol.com.br/especiais/bonstempos/tupi/historico.html
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a experiênCia de Zé Com a teledramarturgia o programa humorístico “a rua do ri-ri-ri” teve início com a direção de Maurício Sherman, posteriormente com Carlos alberto Santos, tinha como cenário uma movimentada rua carioca na qual os tipos mais comuns se encontravam, como o vendedor de bilhetes, o pipoqueiro, o engraxate, o bicheiro, a madame, o guarda, o malandro, a doméstica, a criança, o fanático pelo futebol, e tantos outros. “Começa aqui, acaba ali, a rua do ri-ri-ri, Venha morar, ou passear Na rua do ri-ri-ri. Tem gente boa, tem gente à toa, as vezes tem rififi, Pra conhecer, venha aqui ver, a rua do ri-ri-ri ! dinorah Marzullo e Manoel Vieira eram Maria rita e Bina, um casal que toda semana se mudava para um bairro novo, porque eles sempre tinham enormes problemas com os vizinhos, os credores, com a falta d’água, a luz cortada, etc.” zé participou também desse programa.
Zé, que havia terminado as Filmagens de “terra sem deus”, atuou Com humorista no programa dominiCal a, e, i, o urCa, que marCou époCa.
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em 1965, a tV tuPi renovando o time de humoristas, escassos e valorizados por outras emissoras, as Associadas importaram da tV Ceará e tV rádio Clube de recife novos comediantes. Foi uma leva de artistas que vieram para o sul maravilha e arrebentaram. renato Aragão, José santa Cruz, lúcio Mauro, Arlete salles, Agnaldo batista, luiz Jacinto, Jomba, o escritor A.g.Mello Jr., tarcísio ramos e tantos outros.
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Zé recusou o convite da TV Globo Você sabia que Zé poderia ter sido um artista global, só que entre a Globo e a Escola Nacional de Belas Artes, Zé escolheu esta última, depois de três anos de estudos, abandonou-a por não se enquadrar no modelo acadêmico da escola?
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Seu espírito livre não se adequou ao academicismo da instituição. Nas páginas a seguir você, caro leitor(a), compreenderá que as Artes Plásticas é o cerne que dialoga com as outras linguagens da arte que pulsa nas veias do artista Zé Tarcísio.
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Escola Nacional de belas Artes - ENBA
Para finalizar essas páginas da dramaturgia e teledramaturgia, caro leitor(a), fique com as palavras do poeta, ensaísta e, sobretudo, dramaturgo Augusto Boal:
“No Teatro do Oprimido, refletimos sobre o passado, ensaiamos sua transformação no presente, para inventarmos o futuro desejado, porque ser cidadão é transformar a realidade e viver é mudar o mundo.” (Augusto Boal, poeta, ensaísta)
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PÁGINAS Do teatro e da tv
OFICINAS: Materiais
fita adesivas, papel-cartão ou cartolina, tesoura, tinta guache Modo de fazer
algumas dicas Tirar o molde da cabeça Cortar tiras do papel-cartão para fazer a armação Muita criatividade Colaboração em grupo como na foto
Curso de Cabeçudos ministrado por Constantino Teixeira, do Instituto Ida e Volta - Braga - Portugal
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Resulatado da Oficina na rua
Zé e os partiCipantes do Curso.
teatro de somBras
PÁGINAS DO tEAtrO E DA tv
Nos sites abaixo você pode encontrar dicas interessantes sobre o Teatro de Sombras, é só acessar: www.futura.org.br/azueladoazulay/teatro.htm http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula. html?aula=14514
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oFiCina de másCaras voCê pode FaZer tamBém Com os seus super heróis
Capítulo 4
ARTES PLÁSTICAS PÁGINAS DAS
PÁGINAS Das artes plásticas
Série Blá Blá Blás
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Zé Tarcísio - artista repórter, narrador do nosso tempo,
cronista do cotidiano. É tudo afeto. É o encontro natural da vida com a arte. No entanto, farei aqui uma distinção entre os vários artistas Zé Tarcísio. Deixarei de lado o multiartista de sempre, que já é bastante cultuado, para tratar do artista plástico, ou melhor, de sua obra plástica, sem a diferenciação aqui de terminologias, artes plásticas ou visuais é tudo a mesma coisa.
É chegada a hora de refletir sobre esta faceta e deixar de lado o caminho sinuoso-comunicante de sua obra que experimenta todas as linguagens disponíveis para o homem.
Uma obra visual que é menos razão, o que não quer dizer menos inteligente, e mais intuitiva. E não quero dizer aqui que sua arte seja menor do que aquela praticada pelos artistas “cerebrais” da matemática, da física com obras que resultam em cor e formas puras. Pelo contrário, tenho a tendência de gostar mais do que vejo na obra de Zé Tarcísio como compreensão da arte que cria significados e propõe perguntas. A arte é uma dicotomia, poderia se dizer, dividida em dois mundos. Aqueles que a tratam como manifestação racional - os concretos, os neoconcretos e os da vertente do abstracionismo geométrico - e os que buscam expressar suas emoções através das pinceladas, das cores em desacordo, nas imagens distorcidas ou que trazem as suas verdades e a dos seres humanos nas mais diversas formas.
É como uma dança sem ensaio. Zé desloca-se com leveza pelas ruas da cidade. É o que guardo em minha memória de quando o via da minha janela do Museu de Arte Contemporânea, deslocar-se pelas imediações do Centro Dragão do Mar nas manhãs ensolaradas e tardes quentes de Fortaleza. O artista é de pensamento vivo, perspicaz, inteligente e rápido. Está sempre bem-humorado, o que é imprescindível para a arte e para o pequeno corpo inquieto e ágil do artista. Tem também o seu lado colecionador a se destacar. Um dos maiores acervos de ex-votos que se tem conhecimento, e que volta e meia está presente em sua obra plástica. É uma busca de significantes naquelas imagens de fragmentos anatômicos rudemente esculpidos em madeira, e acumuladas no percurso de sua vida, feita de deslocamentos e encontros.
4 ALMANAQUE DO ZÉ
O Zé Tarcísio é desses artistas do segundo grupo. Trabalha com os sentidos humanistas do teatro, do cinematográfico, do folclórico, do artesanal, das tradições culturais e religiosas, da performance que beira uma quase coreografia.
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Zé tem o poder da transformação das coisas. Transforma um ex-voto em escultura, desenho, instalação. Esculturas de talhe refinado sobre a madeira, de linhas simples e que se assemelham à pureza da forma do mais célebre escultor das vanguardas modernas, o romeno Constantin Brancusi (1876 – 1957). Estas figuras ou caras aparecem desde os desenhos e gravuras dos anos 1960. Surgem hoje como esculturas ou instalações totêmicas, em uma organização que também lembra outro movimento artístico da primeira metade do século XX, o Futurismo. São também surrealistas. Trata-se de uma obra complexa. É política, é poética, é tradicional, tem um discurso ecológico, é antropológica e é etnográfica.
O interesse pela natureza e sua destruição pelo homem capitalista trouxe um viés político para suas pinturas, desenhos e gravuras ao denunciar lá nos anos oitenta quando ainda não se discutia as questões contemporâneas ambientais. Um discurso ecológico forte para a época e contundente para a atualidade quando se observa que a destruição da natureza e seus ecossistemas continuam velozmente.
PÁGINAS Das artes plásticas
Aponto aqui neste breve texto para leituras possíveis de sua obra que precisa ser estudada e trazida a público.
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A obra deste artista único que, como muitos cearenses, migrou para o mundo e foi bater no Rio de Janeiro, no começo dos anos sessenta, para criar uma obra instigante e consonante com a contemporaneidade, em que discute temas importantes para a arte contemporânea. Uma obra que questiona a relação do homem com o seu entorno, que acabou por ficar relegada ao estado do Ceará, motivada por questões geográficas, distante do eixo cultural Rio-São Paulo, nas últimas décadas. É hora de fazer um retrospecto. É hora de compreender mais a fundo o artista plástico José Tarcísio, e não ficarmos nos
BLÁ BLÁ BLÁS. Texto de Ricardo Resende
O que o que é? Qual é a piada do fotógrafo? Resposta: ninguém sabe, pois ela ainda não foi revelada.
A fotografia não nasceu como arte, mas a sua historicidade e sua plasticidade Fizeram-na ARTE. Nicéphore Niépe (1765-1833) produziu a primeira imagem fotográfica em 1826. O processo levou 8 horas de exposição numa placa de estanho polido. Seu colaborador Daguerre (1789-1851), por sua vez, inventou em 1837, um processo mais rápido e prático de fotografia, que ficou em exposição entre 10 a 15 minutos. Outros avanços no campo da ótica e da química impulsionaram ainda mais o processo fotográfico. Por volta de 1858, a fotografia instantânea substituiu o daquerreótipo. As câmeras portáteis de mão e o filme em rolo entraram em cena, surgem em 1880. E hoje, com as novas tecnologias digitais, qual o significado da fotografia em sua vida?
Primeira imagem fotográfica, 1826. Vista da Janela do sótão da casa de campo de Niépe, em Le Gras em Chalons-Sur-Saône, França. Quer saber mais sobre o processo fotogáfico? É só acessar o site www. photographia.com.br/fotograf.htm
De quem são estes olhos?
1958
Foi em Fortaleza, nos eStúdios da Aba Film, de propriedade de Antônio Albuquerque, que Zé inicia a vida profissional como fotógrafo.
Pista nº 1: Esses olhos foram os primeiros a perceber o talento artístico do Zé. Pista nº 2: É de um consagrado artista cearense que morou entre Paris e Rio de Janeiro, aconselhou Zé a deixar as dificuldades da Terra. Pista nº 3: Pintou a obra, que é uma homenagem À cidade de Fortaleza.
4 ALMANAQUE DO ZÉ
Zé, fotógrafo
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Cidade queimada de Sol (1959) Pedro Humberto (Acervo do Museu de Arte da UFC)
Acesse o site do MAUC e conhecerá outras obras de Antônio Bandeira e de outros grandes nomes da arte cearense visitando as exposições, desde a sua criação, em 1961, até os dias atuais. Este museu fez uma homenagem ao Zé Tarcísio em 1990, pelos 30 anos de atividades artísticas, é só clicar o ícone exposições e o ano para saber mais sobre a arte do Zé.
PÁGINAS Das artes plásticas
Zenon Barreto (1918-2002)
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www.mauc.ufc.br
Uma referência nas artes cearenses, colaborou diretamente com a criação do MAUC, juntamente com outros artistas. Zé chegou a ter algumas aulas com o mestre Zenon, como ele o chama.
Jangadas, mural em mosaico, de Zenon Barreto - MAUC
pelo reitor Antônio Martins, em 1961, significou um marco nas artes do Ceará. Este museu, segundo o pesquisador Gilmar de Carvalho, “tem a coleção de artes mais importante do Ceará, em processo de tombamento pelo IPHAN, e se inclui entre os museus universitários mais importantes do País”. O MAUC possui cinco salas de exposições de longa duração, em homenagem a nomes consagrados da arte: sala Aldemir Martins, Chico da Silva, Raimundo Cela, Antônio Bandeira e Descartes Gadelha. Além de uma sala especial sobre “Arte Popular” e outros espaços destinados às exposições temporárias. O diretor do espaço museológico, o professor, artista e arquiteto Pedro Eymar, embora com parcos recursos, mantém o museu funcionando com belas exposições, pesquisas acontecendo e site atualizado. A primeira exposição realizada no Mauc , foi do Antônio Bandeira, ocasião em que Zé o conheceu. No dia seguinte, lá estava Zé batendo a porta do artista para que ele visse os seus desenhos. Desse encontro, nasce uma amizade.
Fotos de autoria do Zé
4 ALMANAQUE DO ZÉ
1960
CRIAÇÃO DO MUSEU DE ARTE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - MAUC,
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NESSE MESMO ANO DA crIAçãO DO MAUc, ZÉ, MOvIDO PELOS cONSELhOS DO rENOMADO ArtIStA cEArENSE ANtôNIO bANDEIrA, chEGA AO rIO DE jANEIrO. AQUI, ELE ALçA vOOS, FAZ DE SUA ArtE UM cAMINhO DE DEScObErtA E rEDEScObErtA NUM ExErcícIO INFINDO DE crIAçãO.
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Zé Foi FotógraFo da revista manChete. veja-o na Foto Com outros artistas de diversas linguagens da arte.
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Os jovens mais comentados do momento (anos 60), entre eles: Paulo José, Marieta Severo, Carmela Gross, Helena Inês, Hélio Oiticica, Leila Diniz. Procure o Zé na foto. Ele é um desses jovens talentosos que estavam agitando o cenário carioca.
o pop do
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Zé
PrIMEIrA ExPOSIçãO INDIvIDUAL GALErIA G4–1. EMbOrA INFLUENcIADO PELA ArtE POP NOrtE-AMErIcANA, ZÉ UtILIZA IMAGENS DE SEU UNIvErSO PESSOAL, GENUINAMENtE NOrDEStINO, PArA cOMPOr OS trAbALhOS DEStA FASE: AS FEIrAS, OS brINQUEDOS ArtESANAIS, Ex-vOtOS E A FAMíLIA, ELEMENtOS INSPIrADOrES DE SUA ArtE.
A matéria da revista Manchete, de agosto de 1967, apresenta a série “Círculos”, que se destaca pelo colorido forte e pela originalidade na qual mergulha o jovem artista, é como se as figuras humanas se sobressaltassem dessa circularidade. A exposição foi inaugurada na galeria g4, em Copacabana. Para o crítico de arte gilberto Amado, Zé tarcísio “olha para o mundo como se o mundo tivesse nascido para sua visão exclusiva, com uma ingenuidade que é genuinidade”.
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Bienal pop FOI cOMO FIcOU cONhEcIDA A Ix bIENAL DE SãO PAULO, EM 1967. A PrESENçA DA POP Art EStADUNIDENSE DEStAcOU-SE ENtrE OS SESSENtA PAíSES rEPrESENtADOS NA bIENAL.
nessa Bienal Zé reCeBe o prêmio de aquisição.
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EM MEIO AO PEríODO DE tUrbULêNcIA POLítIcA, ZÉ vEM À tErrA NAtAL rEALIZAr SUA PrIMEIrA ExPOSIçãO “A exemplo de Antônio bandeira, INDIvIDUAL, 1968
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Aldemir Martins, barbosa leite e tantos outros artistas de talento, José tarcísio também emigrou do Ceará. A diferença é que não saiu de sua terra como pintor, que fotógrafo era, e jamais se exercitara ao pincel. sumiu em sua pequena estatura, em seu franzino corpo - mas sempre cordial -, nem ele nem nós o conhecíamos direito, sem atentar para o expressivo artista transbordante de cores.” (Fragmento do texto de eduardo Campos, do folder da exposição, na galeria raimundo Cela, em Fortaleza-Ce).
Obra da Série Círculo, 1967
A GALErIA bONINO, rEDUtO DA ELItE ArtíStIcA cArIOcA, AbrIU AS POrtAS PArA UMA NOvA MANEIrA DE FAZEr ArtE, QUANDO cONvIDOU ZÉ tArcíSIO PArA rEALIZAr A ExPOSIçãO “vAMOS AO PArQUE”, 1969, UM PúbLIcO DE vÁrIAS cAMADAS SOcIAIS PôDE ADENtrAr A FAMOSA GALErIA. A PArtIr DESSE MOMENtO OS LAçOS ENtrE ZÉ E A GALErIA IrIAM PErDUrAr POr 25 ANOS.
o Zé sempre Foi praFrentex
púBliCo presente na exposição “vamos ao parque” galeria Bonino - 1969
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“artista de vanguarda ” é um termo reCorrente para deFinir
Zé
tarCísio.
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Vanguarda pode ser definida como um momento de ruptura com o passado, ou seja, é uma arte que está à frente do seu tempo. Abertura ao novo.
a mostra Foi um suCesso de púBliCo e CrítiCa, vários jornais CarioCas notiCiaram o evento.
partiCipe da Zorra, uma Festa de liBerdade
títULO DA MAtÉrIA DO jOrNAL POPULAr DA tArDE – SãO PAULO, 6 DE NOvEMbrO DE 1969
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O que dizer de uma exposição intitulada “Zorra”? Coisas do Zé, criação que encantou crianças, jovens e adultos. não é que, até a grande intérprete de “Fascinação”, elis regina, estava presente com outros amigos artistas. não sabemos se fascinada, mas estava.
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segundo noticiou o Jornal Popular da tarde, a exposição Zorra “é um happening 1, um programa de improviso. É uma festa popular, em que o principal é a liberdade e a espontaneidade dos participantes”.
1. Termo inglês que significa acontecimento. Trata-se de uma forma de expressão das artes visuais que envolve a participação do público. Foi usado pela primeira vez, em 1959, pelo artista Allan Kaprow.
em meio à agitação Cultural, CientiFiCa e teCnológiCa, ditaduras eram impostas em diversos países da amériCa latina entre as déCadas de 1960 e 1970. Os avanços científicos e tecnológicos impulsionam a corrida espacial entre as duas superpotências na época, euA e urss. O primeiro astronauta a pisar em solo lunar foi o estadunidense neil Armonstrong, em 1969.
Zé, Como repórter plástiCo, atento aos aConteCimentos de seu tempo, registrou a Chegada do homem à lua através deste estudo de 1968. Técnica: mista sobre papel
“O tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e gilberto gil, além da participação da cantora gal Costa e do cantor-compositor tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro rogério Duprat. A cantora nara leão e os letristas José Carlos Capinan e torquato neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.” Visite o site organizado por Ana de Oliveira. Você vai se surpreender. http://tropicalia.com.br/ identifisignificados/movimento
lunik 9(gilBerto gil, 1967)
Imagem do cineasta George Meliès
[...] UM FAtO Só jÁ ExIStE QUE NINGUÉM PODE NEGAr, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, jÁ! E LÁ SE FOI O hOMEM cONQUIStAr OS MUNDOS LÁ SE FOI LÁ SE FOI bUScANDO A ESPErANçA QUE AQUI jÁ SE FOI NOS jOrNAIS, MANchEtES, SENSAçãO, rEPOrtAGENS, FOtOS, cONcLUSãO: A LUA FOI ALcANçADA AFINAL, MUItO bEM, cONFESSO QUE EStOU cONtENtE tAMbÉM A MIM ME rEStA DISSO tUDO UMA trIStEZA Só tALvEZ NãO tENhA MAIS LUAr PrA cLArEAr MINhA cANçãO O QUE SErÁ DO vErSO SEM LUAr? [...]
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vOcê SAbE O QUE FOI O trOPIcALISMO?
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Zé diZ em Cores o que não pode diZer Com palavras. ZÉ tArcíSIO PArtIcIPOU DA vII bIENAL jOvEM DE PArIS, cONvIDADO PELO crítIcO DE ArtE wALMIr AyALA, cOM A INStALAçãO “rÉQUIEM PArA O úLtIMO ArtIStA”, 1971.
enquanto seu loBo não tem (Faixa 9 do disCo tropiCália) Vamos passear na floresta escondida, meu amor Vamos passear na avenida Vamos passear nas veredas, no alto meu amor Há uma cordilheira sob o asfalto (Os clarins da banda militar…) A Estação Primeira da Mangueira passa em ruas largas (Os clarins da banda militar…) Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas (Os clarins da banda militar…) Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas (Os clarins da banda militar…)
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Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil Vamos passear escondidos Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou Vamos por debaixo das ruas
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(Os clarins da banda militar…) Debaixo das bombas, das bandeiras (Os clarins da banda militar…) Debaixo das botas (Os clarins da banda militar…) Debaixo das rosas, dos jardins (Os clarins da banda militar…) Debaixo da lama (Os clarins da banda militar…) Debaixo da cama © Warner Chappell Edições Musicais 60866039 BRMCA6800157
Em 1968,
o Regime Militar brasileiro instituiu o Ato Institucional nº 5, o AI-5. Tal ato arbitrário dava superpoderes ao presidente, para fechar o Congresso Nacional, cassar mandatos de parlamentares, perseguir, demitir, etc. Zé protestava com a sua arte que foi tributária à memória do estudante Edson Luís, morto pelas tropas do governo do General Costa e Silva. Muitos foram torturados e mortos nos porões da ditadura.
Obra: Enterro de Edson Luís Técnica: acrílica sobre tela
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e, Continua Com arte e resistênCia
www.vaicomtudo.com/maio-de-68-no-brasil-e-mundo.html
“O GrItO DO IPIrANGA”. O PASQUIM,1968/jAGUAr - É ISSO Aí: EU FUNDEI O PASQUIM E AFUNDEI cOM O PASQUIM
o que Foi o pasquim?
“se deus havia Criado o sexo, Freud Criou a saCanagem.” E jAGUAr crIOU O rAtINhO SIG, QUE SIMbOLIZAvA O EScULAchO.
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Foi um jornal humorístico que fazia oposição à ditadura militar. A sua criação foi em 1969, pelos cartunistas Jaguar, Ziraldo e pelos jornalistas tarso de Castro e sérgio Cabral. Outros colaboradores se juntaram a esses intelectuais no semanário: Millôr, Prósperi, Claudius e Fortuna. henfil, Paulo Francis, ivan lessa, Carlos leonam, sérgio Augusto e, eventualmente, ruy Castro e Fausto Wolff.
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O auge foi os primeiros anos da década de 1970. Cada vez mais politizado e com humor, a redação do O Pasquim foi para prisão por satirizar famoso quadro de Pedro Américo que narra o grito da independência do brasil às margens do ipiranga. quem escapou foi o Millôr Fernandes, que deu continuidade ao jornal com a colaboração de Chico buarque e outros intelectuais. Para saber mais, confira o artigo no site: www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica/artigosv1n1/12_tropicalia.pdf
ZÉ ErA LEItOr ASSíDUO DO PASQUIM, chEGOU AtÉ A DAr ENtrEvIStA PArA O SEMANÁrIO. www.cOLEcAOOPASQUIM.cOM.br Primeira Edição do Pasquim - 1969
1970 ENtrE tOrtUrAS E cOMEMOrAçõES,
O brASIL SEGUE AvANtE...
Comemoração do tricampeonato mundial de futebol (México) – enquanto isso, prisões, desaparecimento de presos políticos, tortura ocorrem em diversos lugares do brasil, sem o conhecimento da população, pois os meios de comunicação estão proibidos de divulgar qualquer coisa contra o regime ditatorial.
que milagre é esse da ditadura? milagre de derramar lágrimas e sangue
MILAGrE brASILEIrO cOMPOSIçãO: jULINhO DA ADELAIDE – PSEUDôNIMO DE chIcO bUArQUE
Cadê o meu? Cadê o meu, ó meu? Dizem que você se defendeu É o milagre brasileiro Quanto mais trabalho Menos vejo dinheiro É o verdadeiro boom Tu tá no bem bom Mas eu vivo sem nenhum [...]
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Carlos alBerto reCeBendo a taça das mãos do presidente médiCi
“esse é o país que vai pra Frente”, um pseudomilagre 105 eConômiCo masCarado por números. o CresCimento da dívida externa, a Crise do petróleo em 1973 desmistiFiCam o milagre proFanado pelo o governo dirigente.
O brasil vivia um período amargo, cinzento, mas os artistas resistiam com uma linguagem metafórica, para denunciar a falta de liberdade de expressão vivida naquele momento de tensões políticas. Observe o artista explicando detalhes de sua obra para os policiais na exposição realizada no Paraná. Após a explicação Zé é convidado a acompanhar os PMs, para prestar depoimento sobre a sua obra, que sugeria ideias políticas contrárias ao regime ditatorial. A lei da Censura segue os passos do Zé. ele foi detido nessa ocasião.
Pseudo suicídio do jornalista Vladimir Herzog
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o que voCê aCha que o Zé quis diZer?
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materiais da instalação: pedra soBre maCaCão de operário e Fitas amarrando-a. Zé envolve o púBliCo na ação artístiCopolítiCa.
ZÉ É AMIGO E cONtEMPOrÂNEO DE cILDO MEIrELES, QUE tAMbÉM SE POSIcIONOU POLItIcAMENtE cOM A SUA ArtE.
1975
QUEM MAtOU hErZOG? ObrA DE cILDO MEIrELES FAZ PArtE DA SÉrIE “cIrcUItOS IDEOLóGIcOS,” QUE DIScUtE O cONtrOLE DE INFOrMAçõES NUMA PErSPEctIvA crítIcA DA ArtE cONcEItUAL.
Zé
per For má tiCo
A ObrA “DIAbANjO” trAtA-SE DE UMA PErFOrMANcE DE 1972, QUANDO ZÉ tArcíSIO SAI DE bIcIcLEtA NA cONtrAMãO PELAS rUAS DO rIO DE jANEIrO cOM ASAS DE ANjOS E DE SUtIã (SEIOS POStIçOS). ESSA FOI UMA FOrMA IrrEvErENtE DE O ArtIStA cEArENSE USAr SUA ArtE PArA ENFrENtAr AS tENSõES IDEOLóGIcAS QUE tOMAvAM cONtA DO PAíS. ArtIStAS cONtEMPOrÂNEOS têM FEItO DO cOrPO ESPAçO DE ExPErIêNcIA ArtíStIcA. O cOrPO E O PENSAMENtO DE ZÉ tArcíSIO SE UNEM NESSA ObrA E NOUtrAS cOMO ESPAçO DE ArtE E DE LUtA. AO SIGNIFIcAr O ESPAçO cOM A SUA crIAçãO, ESSE ESPAçO tAMbÉM rEcONStróI OUtrOS SENtIDOS À SUA AçãO, NUM MOvIMENtO DE cONStrUçãO E DEScONStrUçãO, PróPrIO DA ArtE cONcEItUAL.
* hOrA DA ADIvINhA. o que é o que é que está sempre no meio da rua e de pernas para o ar?
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PIStA 1 – ZÉ FrEQUENtOU O AtELIê DESSE ArtIStA NO rIO DE jANEIrO. PIStA 2 – ErA MINEIrO E PArtIcIPOU DA crIAçãO DA ScAP. PIStA 1 – ESSE rEtrAtO DE ZÉ FOI PINtADO POr ELE.
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Resp. A letra U
De quem são esses olhos?
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Resp.. Inimá de Paula
Quadro da série “Blá-Blá-Blás”, realizado no ateliê de Inimá de Paula, na década de 60. Técnica: acrílica sobre tela.
O Pão de Açúcar visto da janela do Zé.
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Santa Teresa - Rio de Janeiro. Bairro apelidado de “colina dos artistas,” onde Zé instalou seu ateliê e durante 20 anos ali viveu e trabalhou intensamente. Até hoje podemos perceber vestígios de sua marcante morada na pintura dos bondinhos que por ali circulam, mas, principalmente, na memória dos habitantes.
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Luiz Henrique - olhares.uol.com.br
regador ou regando pedras (1974)
Zé tarcísio viveu um momento de efervescência cultural no rio de Janeiro. sua arte contribuiu para denunciar o regime ditatorial imposto no país. A obra regador, que faz parte do acervo do Museu nacional de belas Artes do rio de Janeiro, é um dos exemplos de sua inquietação. A pedra é a metáfora da resistência, a significação atribuída pelo artista à sua obra transcende a materialidade do objeto. A marca de seu dizer é acessada pela linguagem da arte. esse trabalho foi premiado e reconhecido por representar um ato singular de criação e por sua contemporaneidade. 1976, a empresa de Correios e telégrafos (eCt) reproduziu um selo dessa obra, prestigiando o talento do jovem artista.
QUE tIPO DE DItADUrA vIvEMOS hOjE?
EMPrESA brASILEIrA DE cOrrEIOS E tELÉGrAFOS (Ect) OU, SIMPLESMENtE, cOrrEIOS, É A EMPrESA EStAtAL DO brASIL OPErADOrA DOS SErvIçOS POStAIS. A Ect FOI crIADA EM 20 DE MArçO DE 1969.
o que é Filatelia? EtIMOLOGIcAMENtE A FILAtELIA É cONStItUíDA POr DUAS PALAvrAS GrEGAS: PhíLOS, QUE SIGNIFIcA AMIGO, AMADOr, E AtELêS, QUE SIGNIFIcA FrANcO, LIvrE DE QUALQUEr ENcArGO OU IMPOStO), A FILAtELIA É cOMUMENtE DEFINIDA POr UMA AçãO DE cOLEcIONAr SELOS, EM ESPEcIAL AQUELES cONSIDErADOS rArOS.
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série “pedras”
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A EDUcAçãO PELA PEDrA UMA EDUcAçãO PELA PEDrA: POr LIçõES; PArA APrENDEr DA PEDrA, FrEQÜENtÁ-LA; cAPtAr SUA vOZ INENFÁtIcA, IMPESSOAL (PELA DE DIcçãO ELA cOMEçA AS AULAS). A LIçãO DE MOrAL, SUA rESIStêNcIA FrIA AO QUE FLUI E A FLUIr, A SEr MALEADA; A DE POÉtIcA, SUA cArNADUrA cONcrEtA; A DE EcONOMIA, SEU ADENSAr-SE cOMPActA: LIçõES DA PEDrA (DE FOrA PArA DENtrO, cArtILhA MUDA), PArA QUEM SOLEtrÁ-LA.
OUtrA EDUcAçãO PELA PEDrA: NO SErtãO (DE DENtrO PArA FOrA, E PrÉ-DIDÁtIcA). NO SErtãO A PEDrA NãO SAbE LEcIONAr, E SE LEcIONASSE, NãO ENSINArIA NADA; LÁ NãO SE APrENDE A PEDrA: LÁ A PEDrA, UMA PEDrA DE NAScENçA, ENtrANhA A ALMA.
( FRAGMENTO DO POEMA “EDUCAÇÃO PELA PEDRA,” DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO, 1965 )
Nem Drummond nem João Cabral escreveram estes poemas pensando nessas obras. E você, ao observá-las, como as interpreta a partir de suas experiências?
[cArLOS DrUMMOND DE ANDrADE] NO MEIO DO cAMINhO tINhA UMA PEDrA tINhA UMA PEDrA NO MEIO DO cAMINhO tINhA UMA PEDrA NO MEIO DO cAMINhO tINhA UMA PEDrA. NUNcA ME ESQUEcErEI DESSE AcONtEcIMENtO NA vIDA DE MINhAS rEtINAS tãO FAtIGADAS. NUNcA ME ESQUEcErEI QUE NO MEIO DO cAMINhO tINhA UMA PEDrA tINhA UMA PEDrA NO MEIO DO cAMINhO NO MEIO DO cAMINhO tINhA UMA PEDrA.
quantas pedras têm no meio do teu Caminho?
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no meio do Caminho
111 O PENSADOr ItALIANO UMbErtO EcO DEFINIU O cONcEItO DE ObrA AbErtA: • tODA ObrA DE ArtE É AbErtA POrQUE NãO cOMPOrtA APENAS UMA INtErPrEtAçãO; • A “ObrA AbErtA” NãO É UMA cAtEGOrIA crítIcA, MAS UM MODELO tEórIcO PArA tENtAr ExPLIcAr A ArtE cONtEMPOrÂNEA; • QUALQUEr rEFErENcIAL tEórIcO USADO PArA ANALISAr A ArtE cONtEMPOrÂNEA NãO rEvELA SUAS cArActEríStIcAS EStÉtIcAS, MAS APENAS UM MODO DE SEr DELA SEGUNDO SEUS PróPrIOS PrESSUPOStOS. cADA UM DE NóS IrÁ INtErPrEtAr UMA ObrA DE ArtE DE UMA MANEIrA DIFErENtE, DE AcOrDO cOM NOSSA vIvêNcIA E NOSSOS cONhEcIMENtOS. cUIDADO cOM AS tOPADAS! www.UMbErtOEcO.cOM/EN/
O museu das coisas O crítico de arte Walmir Ayala, que escrevia na sua coluna Artes Plásticas, no Caderno B do Jornal do Brasil, no dia 29 de agosto de 1973, cedeu espaço ao artista e amigo Zé Tarcísio, para que este pudesse se expressar sobre a “majestade de cada coisa”.
PÁGINAS Das artes plásticas
Recorte do Jornal do Brasil- JB
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“_ Eu José Tarcísio, agora com 33 anos, tento estabelecer o meu ponto mais definitivo de comunicação visual, dentro da minha concepção do que deve ser mostrado e sentido em toda a sua liberdade. E o que se mostra agora é exatamente aquilo que sempre esteve em nossos corpos ou memórias, mas que deixamos passar sem lhes dar o real valor de vida e liberdade. Por isso, o trabalho de registrar aos olhos verdadeiras cenas cinematográficas, onde a tela e o movimento que nela existe são os olhos de quem vê, cabendo a minha participação na manipulação dos atores que dançam em redomas de acrílico. O registro definitivo onde aparecem os detalhes e fragmentos da vida depois de enclausurada em cúpulas de acrílico permitem um visão dimensionada irreal de cada coisa. É este trabalho, agora antes de tudo, um dever que assumi e a responsabilidade de dar sobrevivência às coisas que o cotidiano assassina tão rapidamente. Porque reviver uma asa, uma boneca ou uma borboleta, é muito mais dos olhos do homem do que da técnica do homem. É uma missão que explode no meu dever de criar e ressuscitar o fragmento colhido do campo, da rua, d uma loja de antiguidades, ou mesmo dos magazines mais requintados. É o museu do tempo dos meus olhos [...].
exposição josé tarCísio: galeria da praça ZÉ POr ele MesMO
“o meu tempo de visão é enContrado a Cada momento, quando eu enContro uma Coisa eu junto, não é tudo...” (Zé)
“tudo que vivi se incorporou, automaticamente, ao meu acervo de experiências vitais, estando de uma ou outra forma, expresso em meus trabalhos. tem gente que passa por um processo de dissociação entre passado e o presente. Minhas experiências, pelo contrário, se misturam todas, entre o sonho e a realidade, entre o que eu quis ser e o que sou. e dessa mistura renasço a cada dia e a cada trabalho criado, inteiramente liberto para viver tudo de novo, mas com uma predisposição diferente, sentindo que tudo me amadurece e me prepara para o exercício destas duas coisas maravilhosas: a vida e a arte, as duas tão entrelaçadas que já sei onde acaba uma e começa a outra”. (entrevista a Antônio Crisóstomo, 1969) Capa do cartaz em comemoração dos 10 anos de carreira
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1979 O úLtIMO GOvErNO MILItAr, O GENErAL jOãO bAtIStA FIGUEIrEDO SANcIONOU A LEI DE ANIStIA, vOtADA PELO cONGrESSO.
ALMANAQUE DO ZÉ
ObjEtO ExPOStO NA GALErIA DA PrAçA. O tErMO “rEADy MADE” É USADO PArA DENOMINAr ObjEtOS DE USO cOtIDIANO QUE, AO SErEM trANSPOrtADOS PArA O ESPAçO DA ArtE, PASSAM A SEr ENtENDIDOS cOMO tAL. AcIMA, À DIrEItA, DUchAMP E SEU “rEADy MADE” A rODA DE bIcIcLEtA” SAIbA MAIS SObrE EStE IMPOrAtANtE ArtIStA EM www.DUchAMP.cOM
113 Frei Tito
É tEMPO DOS ExILADOS vOLtArEM E DO ZÉ vOLtAr PArA FIcAr NO cEArÁ essa lei possibilitou o retornou dos exilados políticos expulsos do país durante a ditadura. Alguns não puderam voltar como foi o caso do Frade dominicano, o cearense Frei tito, vítima do regime ditatorial.
Ainda na década de 1970, Zé iniciou uma extensa série de desenhos que denunciavam a especulação imobiliária, especialmente das dunas da Praia do Futuro, em Fortaleza. Esta prática culminou na idealização e realização da emblemática obra S.O.S. Litoral, iniciada na XV Bienal Internacional de São Paulo, 1979 e concluída em 1992. A Luta em defesa da natureza
Um dos estudos do Zé sobre o loteamento das dunas da Praia do Futuro, 1981. Técnica: grafite sobre papel
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Atente para o traço que emoldura o desenho, ele é bastante recorrente na obra do Zé, é como se fosse uma reportagem de televisão que denunciasse a devastação das dunas.
1979
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inÍcio do processo da obra S.O.S litoral.
Bienal de São Paulo
Zé usava um macacão de operário todos os dias, e marcava o seu “ponto” de chegada e de saída do trabalho, na parede ao lado da obra. Num dos dias de faina, ao chegar, o seu macacão tinha sumido.
quem rouBou o maCaCão do Zé na Bienal de são paulo, em 1979. ninguém saBe, ninguém viu, mas sumiu!
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SS.O.S .O.S LItOrAL 116
Zé, mexeu com o público da 15ª bienal ao provocá-lo a participar com a seguinte frase acima do painel, “liberdade em todos os sentidos”, segundo a jornalista Carmen Cagno, tal espírito libertário, é incomum naqueles últimos 15 anos, o público presente no sisudo pavilhão de exposições tem-se esbaldado. Cagno no seu artigo, “tarcísio, remando contra a maré”, observou que: “um mês e pouco depois de inaugurada a bienal, o que se vê é uma radiografia da cabeça da população. Ali estão desde corações flechados e inscrições amorosas até uma carta aberta, assinada por entidades estudantis contra o governo, [...]”. Zé, também opinou registrando no painel: “já não vale o espaço individualista, isolado, elitizado. É tempo do espaço útil-coletivo, aberto às manifestações paralelas de cada um”. A jornalista afirma que o artista tem “uma filosofia diametralmente oposta à própria bienal”.
Zé gostaria de troCar a sua tela por um Caminhão para que pudesse perCorrer o Brasil em BusCa de outras inspirações para seu traBalho.
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OUtrAS FrASES EScrItAS NO PAINEL EM PrOcESSO DA GrANDE PAISAGEM cEArENSE: “O SIStEMA DE trOcA SErÁ SEMPrE MAIS hUMANO QUE O SIStEMA DE cOMPrA E vENDA” “O AMPArO À cULtUrA É DEvEr DO EStADO”
ALMANAQUE DO ZÉ
S.O.S LItOrAL - tÉcNIcA: óLEO/ AcríLIcA SObrE LINhO. DIMENõES: 10 x 2,30 M.
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Pร GINAS Das artes plรกsticas
ALMANAQUE DO ZÉ
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o proFessor e pesquisador gilmar de Carvalho num panFleto de 1984, esCreve um texto reFlexivo e poétiCo soBre a oBra s.o.s. litoral A PAISAGEM EM JOSÉ TARCÍSIO DA OBSERVAÇÃO À INTERFERÊNCIA GILMAR DE CARVALHO O COMPROMISSO DE JOSÉ TARCÍSIO COM UM
DUNAS/SENTINELAS, FORTALEZAS. AS DUNAS
TARCÍSIO NÃO TEME FAZER DA ARMA DA
NORDESTE DE VIVÊNCIA QUE ELE CARREGA
SEUS CAJUEIROS ATROFIADOS PELOS VENTOS,
AGRESSÃO SEU INSTRUMENTO DE TRABALHO, DE
CONSIGO É MUITO FORTE.
MURICIS, GENGIBRES, UBAIAS. AS UNAS COITOS
MAS O QUE LHE DÁ A
DIMENSÃO MAIOR DO ARTISTA É A NECESSIDADE
DE ANUNS, ESPETADAS DE CARDEIROS DE ONDE
INTERFERÊNCIA. ELE TRANSMUTA A ESTACA. EM SUAS MÃOS DE SONHADOR E GUERRILHEIRO
DA CONTÍNUA RECICLAGEM.
É ESTA MARCA DA
SE TIRAM OS ESPINHOS PARA O TRABALHO DA
ELA INCORPORA E REFLETE AS MIL NUANCES
INQUIETUDE DO ARTISTA.
RENDA.
E SE TORNA OBJETO, SUJEITO A VÁRIAS E
UM MERGULHO EM SEU PROCESSO CRIATIVO NOS COLOCA DIANTE DA QUESTÃO SOCIAL NA ARTE. EM JOSÉ TARCÍSIO TUDO É FEITO COM EXTREMA CONSCIÊNCIA, NADA É GRATUITO. NÃO QUE ELE SEJA ABSOLUTAMENTE PREVISÍVEL, MAS
OUTROS RUMOS TOMOU ZÉ TARCÍSIO: UM PRÊMIO DE VIAGEM À EUROPA QUE ELE DEIXOU CADUCAR, UMA INCURSÃO À “ANIMA” DA AMÉRICA LATINA, A TRANSFERÊNCIA PARA FORTALEZA, DEFINITIVA. HAVIA POUCO A FAZER EM TERMOS DE RESISTÊNCIA, A CIDADE CAPITULARA DIANTE DA ESPECULAÇÃO MOBILIÁRIA. DEPOIS, DE UMA POR UMA, AS PRAIAS CAÍRAM, INEXORAVELMENTE. O LITORAL CEARENSE TINHA NOVA FEIÇÃO. DO ICARAÍ À AMEAÇA DA NOVA ATLÂNTIDA (ITAPIPOCA), DO PORTO DAS DUNAS A CANOA QUEBRADA, UM LOTEAMENTO SÓ. INÚTIL USAR A PAISAGEM COMO SUPORTE DA DENUNCIA? INUTIL A DENUNCIA? A ARTE SE RETEMPERA NAS EXPLOSÕES E MANIFESTAÇÕES DA VIDA. PERMEÁVEL ELA ASSUME CONTORNOS, FORMAS COMO O VENTO QUE SOPRA TRANSPORTANDO AS DUNAS. O ARTISTA VIVEU, SOFREU, MAS NÃO CHOROU
POSSÍVEIS LEITURAS, VALENDO MAIS QUE TODAS
UM ACOMPANHAMENTO DE SEUS PASSOS ALÉM DE MOSTRAR UMA COERÊNCIA DE TRABALHO, NOS FAZ PREVER OS PRÓXIMOS PASSOS DE UM AMADURECIMENTO PROGRESSIVO, SEM A PERDA DA CONTESTAÇÃO E DO “BOULEVERSEMENT” QUE CONSTITUEM MARCAS DE ARTISTAS QUE SÃO
PÁGINAS DAS ArtES PLÁStIcAS
HOMENS DE NOSSO TEMPO.
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A PAISAGEM RETOMADA POR ZÉ TARCÍSIO É NATUREZA VIVA. E AS DUNAS CONSTITUEM A AMOSTRAGEM POR EXCELÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE SUA PROPOSTA. FOI NELAS - ELEMENTO MÓVEL POR EXCELÊNCIA - QUE ELE SE FIXOU. QUANDO ELE SUBIU ÀS DUNAS PARA UMA INDIVIDUAL NO SANDRA’S, EM 1975, O LOTEAMENTO ERA APENAS UMA EXPECTATIVA. MAS FOI UM TOQUE. DEPOIS VIERAM AS PLACAS, ARRUAMENTOS, LOTES, A VEREDA ATLÂNTICA ERA O “PORTAL DO MAR, O MIRANTE DA CIDADE”, NAS PEÇAS DA CAMPANHA PUBLICITÁRIA. O TRABALHO DE JOSÉ TARCÍSIO ERA O DO OBSERVADOR APAIXONADO, QUE TOMA PARTIDO E DENUNCIA, COM O VIGOR DE MANIFESTO ECOLÓGICO. ERA A CIDADE QUE ESTAVA AMEAÇADA NO QUE ELA TINHA DE RESERVA, AS
DIANTE DE UMA CIDADE QUE SE DEIXA INVADIR E DESFIGURAR, ANTES BUSCOU SUA SÍNTESE. NOS MARCOS DO LOTEAMENTO ELE ENCONTROU SEU SÍMBOLO. A ESTACA NO CHÃO ARENOSO ESTAVA PARA ZÉ TARCÍSIO CARREGADA DE SIGNIFICADOS. ELA QUER DIZER POSSE, NOS ERMOS DE UMA SOLIDÃO. É A PRESENÇA AGRESSIVA DO HOMEM. E É TAMBÉM TÓTEM, FETICHE, SIGNO. JOSÉ
AS PALAVRAS E PORVENTURA RECORRAMOS NA VÃ TENTATIVA DE DEFINI-LO.
ELE ASSUME (CAMALEÃO) SUA TEXTURA PRÓPRIA DE MADEIRA, O CARÁTER DE BALIZA, O NÚMERO DO LOTE, A DESCENDÊNCIA DA AREIA ONDE É FINCADO, A TRAMA DA RENDA, A COROA DE ESPINHOS DO ARAME FARPADO.
E MUITO MAIS QUE FOR POSSÍVEL VER E E MUITÍSSIMO MAIS QUE OUSE PROPOR
SENTIR.
ESTE ARTISTA QUE LUTA COM SUAS ARMAS EFICAZES E PROPÕE, NACIONALMENTE, ESSE JOGO DE DISCUSSÃO DE NOSSA REALIDADE E DESTINO. FINCA-SE NO CENTRO DA QUESTÃO O MASTRO E A BANDEIRA. É UM DISCURSO PÓS-APOCALÍPTICO PORQUE TRABALHA, SUICIDA, COM A PRÓPRIA ARMA AGRESSORA QUE DÁ AQUI E AGORA NOVAS INFORMAÇÕES E RESPOSTAS À QUESTÃO SEMPRE NOVA DO HOMEM DIANTE DOS ENIGMAS.
JOSÉ TARCÍSIO DECIFRA-NOS E DEVORA-NOS. ESTAMOS TODOS NESTA PAISAGEM, DIANTE DA DESOLAÇÃO E DA LUTA, PERSONAGENS QUE ESCAPAMOS DO SONHO DE UM ARTISTA E NOS FAZ HOMENS. CABE A NÓS DECIDIR.
FORTALEZA, 10 DE FEVEREIRO DE 1984.
[...] a Famosa expressão, diretas já! NAScEU DE UMA PrO-
vOcAçãO DO AtrEvIDO cArtUNIStA hENFIL AO DEPUtADO tEOtôNIO vILELA, DUrANtE UMA ENtrEvIStA AO PASQUIM: - ENtãO DEPUtADO, QUANDO É QUE SAEM AS DIrEtAS? - AS DIrEtAS SAEM jÁ!
Depoimento retirado do Documentário “Três irmãos de sangue”, de Ângela Patrícia Reiniger” Brasil, 2006. www.historiabrasileira.com/brasil-republica/diretas-ja http://historica.com.br/hoje-na-historia/diretas-ja www.itaucultural.org.br Comício das Diretas Já, Vale do Anhangabaú
Após anos de ditadura o povo garante o direito de escolher seu representante através do voto direto em 1984, e é promulgada a nova Constituição, em 1988. no cenário das artes plásticas há um retorno à pintura como expressão do sujeito/artista que não suportava mais ter sua voz abafada pela censura.
www.revistamuseu.com.br/galeria
ALMANAQUE DO ZÉ
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Família
Primeira mulher eleita prefeita de uma capital brasileira, Maria Luiza Fontenele, FortalezaCE, 1984.
PÁGINAS Das artes plásticas
www.cognitiva.com.br/7museu/ associados/7historia/Anos_80
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Na década de 1980 surge o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, herdeiro ideológico de outros movimentos sociais que o antecederam na luta pela terra. O 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra foi realizado no Paraná, em 1984, com o apoio da Comissão Pastoral da Terra.
A escultura MST tem 6 metros de altura e uma base triangular com 2 metros de cumprimento em cada lado. Zé diz que “a matéria-prima é carnaubeira, árvore de resistência, assim como os trabalhadores do Movimento Sem Terra”.
Zé é um artista preocupado com o social, portanto o seu pensamento se aproxima dos movimentos que lutam para atenuar as desigualdades sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST. O artista participou com outros artistas brasileiros, em 2000, da 4ª Mostra RB1 de Esculturas Monumentais, a convite do curador Paulo Branquinho. Esta escultura foi exposta na Os instrumentos de labuta Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro. do homem do campo: foices, pás, enxadas e etc. são fincados numa estaca de carnaúba, compondo a obra plástica.
Escultura “MST ou Guerra e Paz” faz parte da exposição V séculos Depois, realizada no RJ.
o último ano da déCada de 1980 é marCado pela queda do muro de Berlim, que representou um Fato históriCo mundial, apressando o Fim da guerra Fria entre eua e a ex-urss, na déCada seguinte. O muro foi erguido em 1961 e veio abaixo em 1989, ano da 1ª eleição direta pelo voto popular, depois de 25 anos de ditadura militar. Os presidenciáveis eram o operário luiz inácio lula da silva e o empresário Fernando Collor de Melo. este último foi eleito.
Quer saber mais sobre o que foi a Guerra Fria e a simbólica queda do muro, acesse o site: http://www.suapesquisa.com/pesquisa/queda_muro_berlim.htm
em 1990, Zé recebe homenagem do MAuC com uma exposição: “José tarcísio - 30 anos de atividades artísticas”. As obras mais expressivas e importantes na carreira desse “repórter plástico” foram mostradas ao público, dentre as quais destacamos: regador, réquiem para o último artista, s.O.s. litoral, Círculo. nas páginas anteriores deste almanaque, você pode encontrá-las.
cArtAZ DA ExPOSIçãO “círcULO FAMILIAr” NANQUIM/bIcO DE PENA/PAPEL
rEtrOSPEctIvA DE 30 ANOS DE ArtE NO MAUc
ALMANAQUE DO ZÉ
1990
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cAPA DO cAtÁLOGO http://www.mauc.ufc.br/expo/1990/
PÁGINAS DAS ArtES PLÁStIcAS
púBliCo presente na aBertura da exposição do mauC
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Zé Foi um artista pioneiro no engajamento na luta em deFesa da eCologia. DUNAS DO cUMbE, EM ArAcAtI-cE, 1969 tÉcNIcA: AcríLIcA SObrE tELA
o impeaChment (impedimento)
APóS DOIS ANOS DE MANDAtO O PrESIDENtE cOLLOr PErDE-O. AcUSADO DE cOrrUPçãO E IMPrObIDADE ADMINIStrAtIvA. O POvO vAI ÀS rUAS PrOtEStAr. OS jOvENS PINtArAM A FAcE E ENtrArAM PArA A hIStórIA cOMO OS cArAS-PINtADAS
síntese da Fase eCológiCa ExPOSIçãO INDIvIDUAL NO MUSEU NAcIONAL DE bELAS ArtES – MNbA, rIO DE jANEIrO, 1992. A ObrA “rEGANDO PEDrAS” FAZ PArtE DO AcErvO DESSE MUSEU
www.mnba.org.ar/el_museo.php
ALMANAQUE DO ZÉ
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no Final da déCada de 1990 é inaugurado o Centro Cultural dragão do mar de arte e Cultura – CdmaC É UM GrANDE cOMPLExO cULtUrAL MODErNO DA cIDADE, INAUGUrADO EM 7 DE AGOStO DE 1998. AS ExPOSIçõES DE AbErtUrA AO PúbLIcO FOrAM “cEArÁ E PErNAMbUcO: DrAGõES E LEõES”, NO MUSEU DE ArtE cONtEMPOrÂNEA – MAc E “SErtãO E LItOrAL”, NO MEMOrIAL DA cULtUrA cEArENSE – Mcc, UMA INStALAçãO DO ArtIStA PLÁStIcO ZÉ tArcíSIO. O ESPAçO DO cDMAc É cONStItUíDO POr tEAtrO, DOIS MUSEUS, cINEMAS, PLANEtÁrIO, AUDItórIO, bIbLIOtEcA, cAFÉ, LIvrArIA, ESPAçOS PArA OFIcINAS E LAZEr. OS ArQUItEtOS rESPONSÁvEIS PELO PrOjEtO FOrAM FAUStO NILO E DELbErG PONcE DE LEON. MAIS INFOrMAçõES SObrE A PrOGrAMAçãO, NãO hESItE, É Só cLIcLAr: www.DrAGAODOMAr.OrG.br
PÁGINAS DAS ArtES PLÁStIcAS
por que a Faixa de inauguração não Foi Cortada?
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Visitas de estudantes
Sertão e Litoral Exposição de abertura do Centro Cultural Dragão do Mar, espaço de arte, de sociabilidade e de cultura foi marcadA pela arte política, de Zé Tarcísio..
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O sociólogo Daniel Lins escreveu no período da exposição um artigo para o Jornal o Povo intitulado “O sertão e o litoral”. Em concordância com a crítica que o artista faz à política brasileira, o autor do texto diz: “[...] Foi nessa atmosfera de festividades que o artista plástico José Tarcísio criou, paralelamente ao ‘fato histórico’, o ‘dever acontecimento’, propondo uma interpretação do eu-cultural cearense, não através da história linear, mas da singularidade múltipla e multiplicadora de um povo que, marcado por um destino social trágico, aprendeu a tirar leite de pedras e a fazer cadáver cantar! A experimentação de José Tarcísio representa o embaralhamento dos códigos. Composição, aparentemente simples, o trabalho de José Tarcísio é composto de elementos fundamentais do imaginário cearense. Na primeira sala, o mar, a canoa, a areia e, soltos na atmosfera, labirintos brancos, de uma pureza que contrasta com a areia, também cristalina, marcada por uma segunda pele, a poluição: lixo, plástico, imundície, pegadas de emergentes incultos que deixam seus restos no mar, como outros deixam suor e cheiro de amor nos leitos clandestinos do ‘bordel divino’! Na segunda sala, o artista fura a tela do conformismo e engendra uma estética da lucidez. Sertão. Cactos. Seca. Uma vaca morta. Da carcaça emana, aqui e ali, uma pitada de carniça. José Tarcísio inaugura, assim, no branco da parede, o teatro da crueldade, a rebeldia necessária a toda arte. O mal cheiro do animal parece dizer, sem falar, o que muitos pensam: a política brasileira fede! A retórica política cheira a morte... A morte do outro, evidentemente. Mas a criatividade do artista atinge o paroxismo nas duas frases que ornam, como uma punhalada no âmago da atualidade política, as paredes centrais que delimitam a cartografia da exposição: ”Empenharei até a última pedra da minha coroa para que não morra nenhum cearense de fome” Dom Pedro II, Seca de 1877. “Não vou poder acabar com a seca porque isso depende de forças divinas” Fernando Henrique Cardoso, Seca de 1998.
A arte e a cultura agradecem. Obrigado, José Tarcísio! [...] Daniel Lins sociólogo e professor da UFC
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Frase do Fernando Henrique
Frase do imperador
Caros professores, alunos e demais leitores, como vocês podem ver nas imagens acima, o artista colocou lado a lado frases de dois governos, separados por mais de um século. Leiam atentamente cada uma dessas frases e se possível façam uma discussão em sala de aula sobre essa questão, o que mudou e o que permanece entre o tempo do Império e o da Nova República no que tange às SECAS.
PÁGINAS Das artes plásticas
Não precisa perguntar de quem são esses olhos, não é? Já viu o perfil.
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Outra instalação do Zé criada em 1998 para o Centro Cultural Dragão do Mar foi “Olhos nos Olhos”, exposta nos corredores do MCC.
2000 – Pense no que mudou e no que permaneceu na história política do Brasil
Nas eleições de 2001, um operário foi eleito presidente pela 1ª vez no país, Luiz Inácio Lula da Silva. Reeleito em 2005 e, para o mandato seguinte, elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, primeira mulher no comando do país.
Histórias encobertas Próximo das comemorações do suposto 500 anos de “Descoberta do Brasil,” Zé questiona com a sua arte a história encoberta. Os objetos representados na sua obra ressaltam a cultura ameríndia como o tacape, tapetes, instrumentos musicais e o colorido da América tropical. O filósofo e sociólogo Daniel Lins escreveu um reflexivo texto sobre a exposição do Zé intitulada “Cinco Séculos Depois”. Aqui, recortamos algumas passagens dessas reflexões:
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No final de 1999, na Oficina Maria Tereza Vieira, Rio de Janeiro, Zé realiza a Exposição “Cinco Séculos Depois”, com a temática indígena. A narrativa apresentada pelo artista se opõe a comemorações antecipadas dos 500 anos da conquista do Brasil pelos portugueses.
Desenho do Zé para o jornal “O Povo”
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“josé tarCísio, artista maior, garimpeiro Cultural, haBitado por uma geograFia dos devires, Cria uma veZ mais, Com sua mostra “CinCo séCulos depois”, o aConteCimento.
PÁGINAS DAS ArtES PLÁStIcAS
Seu trabalho, permeado por uma sucessão de invenções e encontros nômades, provoca uma núpcia entre multiplicidades. Numa relação isenta de dualismo e de oposições fácil, ele navega além da linearidade da história num passeio ‘como ato, como política, como experimentação da vida’, como devir e não como passado: o hoje é o ontem, o ontem é o amanhã, o amanhã é o presente do futuro! O artista trabalha com uma técnica mista, usa madeira policromada, cerâmica, ferro, pedra, areia; se apropria de plumas, fragmentos da fauna, pentes (material natural), brinquedos e uma bala assassina! A técnica xilo empregada como matriz que caracteriza esta fase é uma brecha de sua série Kaosmos, cuja linguagem intemporal é marcada por sua latinidade virtual-imaginária: mais real do que o real. [...]
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Com sua obra marcada por um mundo vegetal, animal, pré-histórico, por uma textura de caverna arenosa e corpos escarificados, tecido e tapete desenhados na epiderme da alma, Zé Tarcísio atinge sua proposta: o cego pode ver! Sua obra é um Braille plástico! O cego, ao tocar, ele tem a cor, ao apalpar, ele vê. É um devir-animal-faro, invenção ímpar de uma visão táctil eternizada pelo artista que fotografa a alma sem desnudá-la... A estética da morte, inserida como uma ferida da língua, entre grades, ouro e bala, promove o olhar desejando a liberdade: Zé Tarcísio, ao invés de mostrar a sua arte, a exprime. [...] O artista evita, assim, a fixação, a estabilidade, o olhar paralisado pela interpretação que tanto mata quanto salva. Instrumentos musicais, flechas, fósseis, brinquedo, tudo aqui é canto de vida numa atmosfera banhada, contudo, pelo devir-morte. Devir-morte logo transformado em devir-vida, em devir-acontecimento! [...] Em 1977, ao visitar o norte do Brasil, a Bolívia e o Peru, Zé Tarcísio fica grávido de uma cultura-outra, de um pensamento-outro. O índio, agora nele tatuado, nos seus poros e sonhos, como uma segunda pele, habita-o de alto a baixo![...] SÉRIE - ÍNDIOS Zé é um criador que desconstrói a própria desconstrução. Ele quer aqui significar o mundo: o ouro não apenas o ouro, mas o vale de lágrimas habitado por gritos de orgasmos que estraçalham as epidermes e amassam as consciências. A obra de arte não se fecha no seu sentido; ela só significa pelo uso que o receptor faz dela. [...] Há um devir-feiticeiro, um devir-criança, um devir-pássaro na obra de Zé Tarcísio, como na música de Mozart!”
daniel lins, FilósoFo, soCiólogo e proFessor da uFC
Série - Índios
o que quer diZer
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kaosmos?
Conceituá-lo não é fácil, contudo o termo encontrou respaldo nas palavras do escritor Carlos Walter Porto, quando visitou o atelier do artista na Praia de iracema, afirmou tratar-se de “registros de elementos megaurbanos, reminiscências pop, feiras livres, pinturas de carrocerias de caminhões, elementos indígenas arquivados na memória do artista quando visitou vários países latino-americanos. tudo isso levou o pintor a fixação de um tema sideral que o colocou a bordo de uma astronave que leva sua imaginação e criatividade a outras estações”.
131 PAINEL DE cOMUNIcAçãO INtErGALÁctIcO – cDL
a exposição “kaosmos” Foi realiZada no “la Boheme Bistro & galeria de arte, a Curadoria esteve soB os Cuidados do CrítiCo de arte olívio tavares de araújo.
Do desdobramento de Kaosmos, surge outra série apresentada na exposição “Voos Rasantes”, realizada na Galeria Vicente Leite – FA7, em 2004. O crítico de arte Paulo Klein palestrou sobre “Arte contemporânea – rumos e tecnologia.
PÁGINAS Das artes plásticas
“PAISAGENS DO BEM”
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Brazilian Cult: índio, negro, europeu, asiático = Mestiço. O pensamento mestiço é o que tangencia arte multiétnica, multipop e planetária de Zé Tarcísio. Agora, mais que cearense, nordestina, brasileira, a arte de ZT é global e reflete para além dela própria e da circunvizinhança. Magnética e infinitamente criativa, esta arte reflete suas verdades e ilusões, como pode-se observar em Regando Pedras, em Um olhar Sobre Canindé, em Kaosmos ou na dimensão cinematográfica de suas paisagens do bem, como as paisagens dos voos rasantes ou dos voos noturnos, como algumas desta exposição. Paulo Klein Crítico de Arte Association Internationale dês Crritiques D’Arte www.pauloklein.ert.br
GRUZINSKI Serge O Pensamento Mestiço/ Companhia das Letras 2001. Prêmio de Viagem ao Exterior- XXIII Salão Nacional de Arte Moderna, em 1974 e virou tiragem especial de selo da EBCT em 1976. Instalação permanente composta de ex-votos no módulo Arte Popular da exposição Brasil 500 anos, São Paulo. ANDRADE Mário Macunaíma Edição de Autor 1928.
Há muito a usufruir, muito que falar e escrever sobre a Arte de Zé Tarcísio, este valente artista do mundo, que nos parece dizer a todo instante, como Macunaíma: “Sou um tupi tangendo um alaúde”.
Ilusão, 2001
Você sabe em que lugar de Fortaleza se encontra esTa obra do Zé?
Fato que abalou o mundo 11 de setembro de 2001 Há dez anos as Torres Gêmeas (World Trade Center) foram destruídas por um ataque terrorista em Nova York, milhares de pessoas foram mortas. Há quem diga que a Al-Qaeda (A Base) recebeu ajuda da Agência Central de Inteligência Americana - CIA para ser fundada por Osama Bin Laden, em 1988, para combater os soviéticos que invadiram o Afeganistão, em 1979.
Será que o feitiço virou contra o feiticeiro?
PÁGINAS Das artes plásticas
O CLIC DA MÁQUINA ZÉ
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Foto: Zé
A Catedral de São Francisco em Canindé e o seu entorno transbordante de fé, de histórias, de vendedores ambulantes, foram fotografados por Zé. CLIC. Esse lugar enfeitiçou-o, desde a infância. Palavras do Zé: “Isso fica na memória e a gente vai botando para fora. É uma apropriação, transformada numa instalação. Aquilo é Canindé, isto é releitura. É um olhar pessoal, tendo como assunto central a coleção de ex-votos que eu iniciei a partir dos anos 50”.
cANINDÉ: LUGAr EM QUE O PEQUENO ZÉ SE PErDEU, SE ENcANtOU.
“um olhar soBre Canindé”
exposição realizada em 2002 no ateliê do artista. trata-se de uma instalação que reúne ex-votos*. Objetos intimamente relacionados com a história, a memória e a arte de Zé tarcísio.
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FOI AcOMPANhADO POr bIbI QUE O MENINO ZÉ cONhEcEU A cIDADE DE cANINDÉ, QUANDO FOI FAZEr A SUA PrIMEIrA EUcArIStIA. NO MEIO DOS FIÉIS, MOvIDO PELA cUrIOSIDADE DE cONhEcEr tELMA, A MULhEr GOrILA, QUE UM DOS POPULArES ANUNcIAvA PELO ALtO-FALANtE, O MENINO SOLtOU A “SAIA” DA bIbI E MErGULhOU NA MULtIDãO EM bUScA DE tAL MULhEr, QUE APArEcErIA NUM ESPAçO NO QUAL, crIANçA DESAcOMPANhADA NãO PODErIA ENtrAr. ZÉ trAtOU LOGO DE AGArrAr A MãO DE UM SENhOr QUE POr ALI PASSAvA E SE DIrEcIONAvA PArA vEr O tAL ESPEtÁcULO DA MULhEr GOrILA. O hOMEM SOLtOU A MãO DO ZÉ, QUE NãO PôDE SAcIAr SUA cUrIOSIDADE, QUE O LEvArA A SE PErDEr DE bIbI. ENQUANtO ISSO, ELA ANUNcIAvA POr OUtrO ALtO-FALANtE QUE O ESPErAvA NA cASA DOS MILAGrES. ZÉ, AO ADENtrAr NESSE LUGAr SAGrADO, FIcOU EM EStADO DE ENcANtAMENtO AO vEr tANtOS Ex-vOtOS. O ENcONtrO DO MENINO cOM AQUELES ObjEtOS MÁGIcOS O AcOMPANhA AtÉ hOjE. ZÉ tEM FEItO LEItUrAS DIvErSAS DESSES ObjEtOS DE FÉ. eles têm se transFormado pelas mãos do artista em desenhos, pinturas, instalações, gravuras, Colagens, etC.
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*Etimologicamente, ex-votos vem do latim” em consequência de um voto”. Representa uma graça alcançada. Por exemplo, uma parte do corpo afetada por uma doença, ao ser curada, o beneficiário solicita um artesão fazer em madeira essa parte do corpo sarada e faz uma doação à Igreja ou Casa dos Milagres. Outros exemplos de ex-votos podem ser cabelos, fotos e roupas
Palavras de um repórter plástico e garimpeiro desses objetos de fé: “Fiquei em estado de encantamento com aquele mundo mágico. Pequei um boneco, o Joãozinho, que se tornou meu amigo imaginário. Bibi disse ser pecado, não podia levar, pois dava azar. As lembrancinhas ela já havia comprado: medalhinhas, fitinhas. Chorei, pois não entendia, eu queria era o boneco. Todos os argumentos de Bibi foram em vão. Nessa peleja para a devolução do objeto, apareceu o Frei Teodoro, que eu conhecia da Igreja do Otávio Bonfim. Ele me perguntou para que eu queria aquele objeto, falei que era de lembrança, então ele disse: ‘Pode levar, mas enrole. Rá, rá, rá, rá’.
PÁGINAS Das artes plásticas
A garimpagem em Canindé fez de Zé um colecionador de ex-votos
Zé no seu atelier selecionando objetos para sua próxima exposição no Espaço Cultural dos Correios, em junho de 2006.
Nessa garimpagem sobre os ex-votos, Zé se dedica desde os anos 60. Esse trabalho se desdobrou em muitas leituras e reflexões sobre arte. Em 2005, as portas de seu atelier foram abertas para a exposição “Um olhar sobre Canindé” uma instalação sobre sua co136 leção, desse objetos de fé popular católica.
Cartaz da exposição
Exposição “promessa Paga” Eduardo Almeida (foto Diário do Nordeste)
O artista ressalta a importância cultural do ex-voto, focando a reprodutibilidade anatômica do ser humano. “As peças são uma representação imaginária do tipo físico nordestino, um testemunho das mazelas vividas pelo nordestino e a superação dos problemas através do agradecimento pelas graças alcançadas e promessas cumpridas. É a cara do povo”, afirma Zé.
Exposição “Rogai”
Os ex-votos da coleção do Zé já foram expostos em diversos eventos. Por exemplo, ECO – 92 no Museu de Arte Moderna (MAM) Rio de Janeiro; Mostra do Descobrimento - Brasil 500 anos, 2000, no Parque Ibirapuera - São Paulo. Também foram expostos no Japão sob curadoria do crítico de arte Walmir Ayala.
Como são feitas Realizada no Museu da Arte essas Contemporânea – MAC, do Cen- imagens? O processo é tro Cultural Dragão do Mar de constituído de colagem e imagens repetidas e Arte e Cultura, 2006. Zé, ainda utiliza-se das técnicas tradicionais como o desenho, a pintura e a gravura, contudo o artista se atualiza ao se apropriar das novas mídias como nesta série de gravuras digitais.
multiplicadas formando um caleidoscópio. A mostra foi em plotagem de lonas backights* com dimenções 5X5m
Francisco e Clara
Hari-bo
Todos os santos
*Espécie de lona que deixa transparecer a luz, causando um efeito parecido com os vitrais
ALMANAQUE DO ZÉ
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Próximo de completar 50 anos de carreira artística, O Museu do Ceará – MUSCE prestou homenagem ao Zé Tarcísio, em 2010. A exposição “Caminhos da Serigrafia” é o resultado de uma leitura de sua obra dos anos 60 e 70, através da linguagem serigráfica.
Caminhos da Serigrafia Museu do Ceará Ver sites: www.casadacultura.org/arte/Artigos_o_que_e_arte_
definicoes/gr01/gravura_conceito_hist.html www.secult.ce.gov.br/noticias/caminhos-da-serigrafia
PÁGINAS Das artes plásticas
Cartaz da exposição
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Zé foi convidado por Emanoel Araújo - artista plástico e diretor do Museu Afro Brasil-SP para participar, em 2011, da exposição “Elos da Lusofonia”, nesse espaço museal. A mostra foi coletiva e itinerante, foi apresentada também no Museu Histórico Nacional – RJ. 2011 foi declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o Ano Internacional dos Povos Afro-descendentes. Para esta exposição, Zé criou uma gravura digital, plotada em backlight, como as que vimos algumas páginas atrás, onde estavam representadas todas as entidades da Umbanda, religião brasileira criada à partir da mistura da religião católica com o candomblé. Um exemplo de sincretismo religioso
A exposição “Elos da lusofonia” “Apresenta a arte dos países de língua portuguesa a partir da obra de artistas contemporâneos do Brasil, Portugal e Angola e a ligação com a arte ancestral africana, passando pela tradição dos bijagós, da Guiné-Bissau; dos quiocos de Angola; e dos macondes de Moçambique. Todos os países de língua portuguesa estão representados nesta mostra que apresenta cerca de 200 obras, entre fotografias, pinturas, esculturas (máscaras, cerâmica e madeira) e bidimensionais (pinturas, gravuras e colagens) de artistas que compõem a Arte Tradicional dos países de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. A Arte Contemporânea apresenta o trabalho de Agnaldo M. dos Santos (Brasil), António Olé (Angola), Fernando Lemos (Portugal/Brasil), Francisco Brennand (Brasil), José Tarcísio (Brasil), José de Guimarães (Portugal), Matias Ntundu (Moçambique), Maurino Araujo (Brasil), Mestre Didi (Brasil), Renato Spindel (Brasil) e Rubem Valentim (Brasil). Até 29 de maio”. www.portocultura.com.br/2011/museu-afro-brasil-inaugura-no-dia-14-de-abril-a-exposicao-elos-da-lusofonia www.museuhistoriconacional.com.br/mh-2011-001.htm www.museuafrobrasil.org.br
Salão de Abril de 2011
Mais informação sobre o Salão de Abril acesse: www.salaodeabrilfortaleza.com.br
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Com uma Sala Especial, no 62º Salão de Abril, Zé é o homenageado por seus 50 anos dedicados À Arte, a curadoria desse espaço foi do museólogo, pesquisador de artes visuais Ricardo Resende, que no momento escreve um livro Do artista.
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Cartaz do Salão de Abril, 2011
FRAGMENTO DO TEXTO DE APRESENTAÇÃO DO ZÉ NA SALA ESPECIAL, UM RECORTE DA SÉRIE “PEDRAS”
Ricardo Resende
pesquisador de arte, museólogo e diretor do Centro Cultural São Paulo.
[...] uma de suas fases mais emblemáticas e de forte cunho político - a série das pedras. Poderíamos considerar esta, dentre as muitas fases do artista, uma das mais expressivas, ao representar uma época marcada por perseguições políticas aos intelectuais e artistas nos anos 70. As pedras, que se tornaram uma constante em sua obra no começo daqueles anos, poderiam ser interpretadas simbolicamente, como uma idéia de resistência por sua dureza e peso. Nos fazem lembrar ainda a aridez humana. Ou a geografia de um lugar sêco e desolado. Nestes anos de ditadura militar no Brasil, os artistas representavam um perigo iminente. A arte significava uma “revolução” subjetiva do pensamento, que poderia resultar em um levante contra uma situação imposta no silêncio e que não tinha lugar para o pensamento libertário, livre de dogmas. Nada portanto mais “silencioso” do que as pedras. Melhor, nada “menos” silencioso do que as pedras. Estes minerais estão carregados de significado e como matéria vulcânica, advindos das entranhas da Terra, acumulam toda a memória do mundo, inclusa a parte que desejamos esquecer.
PÁGINAS Das artes plásticas
Sugestões de atividades
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• Escolher obras do Zé de várias técnicas: desenhos, pinturas, objetos, gravura e construir um jogo da memória; • Fazer exercício de releitura da obra do artista; • Solicitar aos alunos uma das obras do Almanaque do Zé para fazer uma interferência; • Escolher uma ou mais obras e fazer um exercício escrito; • Trabalhar a intertextualidade de acordo com os objetivos de cada professor e que tenha significação para os alunos.
Caro(a) Professor(a), o Almanaque está nas suas mãos, use o seu potencial criador e invente outras atividades que você achar interessante e viável para a sua sala de aula.
Ajude-me a encontrar o caminho do ateliê do meu amigo Zé. A sequência correta é? 1
2
3
4
5
6
7
8
9
A seqUuncia corretá é 1, 9, 3, 7, 4, 2, 5, 8, 6
Conhecendo um pouco do atelier do artista
Educação Via Arte
Sebastião de Paula, conhecedor da arte e do trabalho social do Zé com as crianças e jovens de Fortaleza, escreveu na década de 1990 este texto para o Projeto “Educação Via Arte” criado por seu amigo Zé Tarcísio.
“A arte durante toda a existência da humanidade tem acompanhado o homem nas mais diversas atividades, sejam nas manifestações populares, eruditas, de caráter profissional, amador, de lazer ou educativas. Em quaisquer destas áreas citadas, ela tem atuado de forma marcante, com resultados inquestionáveis. Na educação, a arte tem proporcionado resultados significativos não somente na escola formal, sendo utilizada também em projetos de cunho social por várias instituições em diversos países, entre eles o Brasil. No Ceará a Casa da Juventude tem desenvolvido um trabalho expressivo na reintegração de crianças e adolescentes, contando com o trabalho de importantes profissionais, entre eles o Artista Plástico José Tarcísio, que durante toda a sua carreira, sua atuação e sua obra, contêm sempre uma preocupação com os aspectos sociais. E agora, de forma mais direta, ele atua no processo educativo utilizando a xilogravura como meio de ensino, para os freqüentadores desta casa. A didática empregada, não foi a de transformar imediatamente os alunos em artistas, mas de recuperar a auto-estima de muitos dos que ali frequentam, há muito perdida. Primeiro o ser humano, o artista virá depois, na minha modesta opinião, este é o método mais adequado quando se trabalha com arte educação, independente do público-alvo. Enalteço o uso da xilogravura com finalidades educativa, e en-
PÁGINAS De um oficineiro
PÁGINAS DE UM
OFICINEIRO
Capítulo 5
144
Sebastião de Paula Artista Visual e Professor de Arte
tendo que a escolha da mesma foi fundamental na concretização dos excelentes trabalhos obtidos. Este segmento artístico é atraente, envolvente, disciplinador, como também proporciona a possibilidade de se obter resultados estéticos surpreendentes, mesmo com iniciantes. Convêm ressaltar ainda, a grande tradição da produção da gravura em madeira, tanto popular quanto contemporânea, que tem o colocado o estado do Ceará em destaque, entre os centros mais importantes no Brasil e no exterior. É com grande entusiasmo que escrevo este texto, afirmando os bons resultados técnicos dos alunos como gravadores. Contudo, mais importante do que as gravuras realizadas, foi processo educativo, indispensável na valorização e crescimento dos educandos. É fundamental ainda observar, que não é só o emprego da arte na educação que trará bons resultados, mas também a qualidade dos professores, que além de artistas, de preferência também sejam pedagogos. No entanto, levando em consideração o contexto de cada região, quando os docentes não possuírem esta formação especifica, que seja colocado como ponto mais relevante nos programas das aulas, a formação do ser humano como filosofia de trabalho”.
O encontro de Zé com a Educação No Rio de Janeiro, o ateliê do Zé ficava em frente à Escola Pública Machado de Assis. As professoras pediam que as crianças não fizessem barulho, pois havia um artista ali próximo. Certo dia, na rua, Zé encontra um grupinho de alunos que lhe aborda perguntando: - Você não gosta de crianças? - Eu? Por quê? - Porque as professoras sempre nos pedem para fazer silêncio, dizendo que nosso barulho atrapalha o artista. - Que nada! Exclamou Zé – O barulho de vocês é inspiração para mim. A partir deste dia, Zé começa a receber uma série de correspondências, desenhos, bilhetinhos, que eram deixados pelos alunos por baixo de sua porta. Essa prática se estendeu durante muitos anos e Zé guarda na memória essa troca de afetos entre ele e as crianças do morro de Santa Teresa. Dessa experiência germinou o projeto “Educação via Arte”
Xilo de aluno Casa da Juventude
O Projeto “Educação Via Arte”, desenvolvido por Zé Tarcísio, compreende a arte numa perspectiva dialógica, para o exercício da cidadania, como também para liberdade do
PÁGINAS De um oficineiro
ato criador, diferentemente daquela arte
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ensinada na escola tradicional, que prioriza a reprodução e obscurece a reflexão, enquanto ato político e criativo. Zé ministrou muitos cursos e oficinas, com os mais diferentes públicos. Aqui, faremos uma síntese dessas atividades artísticas e educativas, com o intuito de apresentar esse outro lado do artista, preocupado com a educação para a formação humana.
em 1997, Zé tarcísio coordenou oficinas de produção e promoção cultural, em Aracati. entre essas destacamos: de teatro de rua com Amir haddad; de máscara, com tarcísio de Minas; de adereços e cenografia, com Marcelo santiago. um projeto de interiorização do instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura do Ceará.
araCati, a Cidade esColhida por Zé na déCada de 1980 QUANDO ZÉ vOLtOU DO rIO DE jANEIrO PArA FIcAr MAIS PErtINhO DE SUA MãE, MArIEtA, A OPçãO POr ArAcAtI FOI POr SEr MAIS PróxIMO DE FOrtALEZA E POr SEr UM PAtrIMôNIO hIStórIcO. A PrESENçA DO PrODUtOr cULtUrAL ZÉ tArcíSIO NA cIDADE DO ArAcAtI, NA DÉcADA DE 1990, DEIxOU AS rUAS DA cIDADE MAIS cOLOrIDAS E bELAS. ZÉ, cOM A SUA PrEOcUPAçãO EcOLóGIcA QUE O AcOMPANhA DESDE A DÉcADA DE 1970, UtILIZOU MAtErIAIS rEcIcLÁvEIS trANSFOrMANDO-OS cOM A SUA EQUIPE EM ArtE PúbLIcA.
5 ALMANAQUE DO ZÉ
a interioriZação do dragão do mar
O instituto Dragão do Mar criado, em 1996, pelo secretário de cultura Paulo linhares e sua equipe, representou um marco para a cidade de Fortaleza. era uma escola de formação nas diversas áreas das Artes. infelizmente, como diz o cineasta Francis Vale, “foi muito fácil acabá-lo, pois juridicamente o instituto funcionava como um projeto”.
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Que materiais foram utilizados para fazer este objeto?
Pร GINAS DE UM OFIcINEIrO
oFiCina de teatro de rua
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oFiCina de adereรงos e CenograFia
oFiCina de Figurino
oFiCina de mรกsCaras
oFiCina: tiras e ventos
Aproveitando os ventos do litoral, tiras de tecido branco e a criatividade dos participantes, Zé realiza em 1998, no recicriança, uma Organização não governamental (Ong), situada na Praia dos estevãos, em Canoa quebrada, Aracati-Ce, um happening.
nesse mesmo ano, tamBém uma experiênCia similar Foi realiZada no parque do CoCó, em FortaleZa-Ce. Zé denominou a oFiCina: um dia pela tira
ALMANAQUE DO ZÉ
5
149
PÁGINAS De um oficineiro
Para a realização desse happening da Fundação do Bem-Estar do Menor do Ceará–FEBEMCE. Zé precisou de uma Kombi e solicitou às fábricas de confecções têxteis tiras de tecidos que foram transformadas em objetos utilitários, divertidos e criativos, no Dia da Criança, de 1998.
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O curso “Xilogravura”
Foi realizado na Casa da Juventude, 2001. Instituição ligada à Secretaria Estadual de Trabalho Social e Ação Social – SETAS. O curso fazia parte de um projeto do Instituto Dragão do Mar e da Fundação Teleducação do Ceará.
O QUE É XILOGRAVURA?
Xilo - do grego quer dizer madeira; gravura – imagem, desenho. Sendo assim, é a arte de gravar em madeira. A xilogravura é uma técnica milenar que, segundo historiadores, passa pela China e é retomada na Europa, no século XV, contribuindo com os meios de reprodução de escrita da época. A xilogravura chega ao Brasil três séculos depois. No Ceará, temos um grande centro produtor de xilo: Juazeiro do Norte. Os artistas que fazem xilogravuras podem ser chamados de xilógrafos ou gravadores. ”a ser realizado no MAM“ www.centrovirtualgoeldi.com/paginas.aspx?Menu=agravura www.casadaxilogravura.com.br/xilo.html
5 ALMANAQUE DO ZÉ
Trabalhos alunos da Casa da Juventude
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essa oFiCina Foi desenvolvida nos jardins da Casa do artista em araCati, 2001.
Oficina de Xilogravura O resultado dela foi uma mostra coletiva dos trabalhos dos alunos: “Primeiras impressões: exposição didática de xilogravura”, realizada no espaço cultural Malazartes, em Aracati. Dessa oficina, surge o artista gérson ipirajá, e certamente muitos outros que não conhecemos.
proCesso de entintamento da matriZ
exerCíCio do olhar
PÁGINAS DE UM OFIcINEIrO
sobre o exercício do olhar, Zé diz o seguinte: “uma obra de arte não é como uma placa de aviso, que a gente entende em alguns segundos. É preciso tempo e dedicação para captar toda a sua complexidade”.
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Zé e seus alunos
Exposição: “Primeiras impressões”, 2001 Estas imagens apresentam a historicidade de Aracati e o cotidiano dos alunos, trabalhadores do mar, do litoral leste.
Xilogravuras dos alunos do Zé.
Oficina de estandarte
5 ALMANAQUE DO ZÉ
No II Encontro Estadual de Arte-Educação e Cidadania, em 2001, Zé realizou uma oficina de estandarte. o evento aconteceu no Teatro José de Alencar e no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura e Pommar-Usaid Partners.
153 Cartaz do evento
ESTANDARTE
“Os homens primitivos, mirando-se em plantas e animais, observam neles determinadas qualidades, a bravura das onças, a generosidade da oiticica, a esperteza da raposa etc. Logo, erigiram como totens animais e vegetais que expressavam os ideais do seu grupo, símbolos que os representavam. Pensavam, assim procedendo, atrair para si as qualidades que os invejavam. E nas batalhas ou rituais sagrados, os tentavam, inicialmente, peles ou galhos desses animais e plantas, como insígnias de seus grupos. Depois, passaram a representar os mesmos com esculturas, desenhos ou pinturas, que conduziam a frente de seus coletivos. Daí para o surgimento do estandarte foi um passo.
Símbolo sagrado, retrato de quem o conduz, o estandarte deve Ter a cara e a arte da genTe.
Oswald Barroso Escritor, teatrólogo e pesquisador
OFICINA DE PINTURA CASA DA JUVENTUDE
PÁGINAS De um oficineiro 154
Na verdade, o estandarte é uma espécie determinada de bandeira, ou de insígnia, como o escudo ou a camisa de um time de futebol, algo que sintetiza e expressa o espírito de uma coletividade, seja de um pequeno grupo, seja de uma nação de ente. Na definição da enciclopédia Barsa, o estandarte é uma “bandeira de tecido rico, adornada de franjas e cordões pendente de uma travessa perpendicular a haste”. No passado, ele foi usado tanto por corporações militares como religiosas, mas atualmente, pelo menos no Brasil, o estandarte é uma bandeira alegre, popular, conduzida principalmente por agremiações esportivas e carnavalescas.”
Na Casa da Juventude no período entre 2001 e 2002 Zé realizou inúmeros cursos nessa instituição.
Pintura da fachada da Casa da Juventude
Meninos desenhando a fachada
pintura de Formas geométriCas
esta oficina foi realizada em 2002, com professores no Projeto Formação Continuada de Professores da educação infantil – Polo tianguá, na serra da ibiapaba. Zé foi mediador em cinco cidades: Carnaubal, tianguá, são benedito, ipu e Viçosa do Ceará, em 19 turmas, totalizando 814 participantes. Ao término do Projeto, Zé construiu com os alunos de tianguá e Viçosa do Ceará painéis em locais de destaque destes municípios.
5 ALMANAQUE DO ZÉ
OFIcINA:
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oFiCina “Formas geométriCas”, em viçosa do Ceará, 2002
a BeleZa do painel reFletido na água da serra
Quer conhecer essa bela cidade do Ceará? Então é só clicar no site www.vicosadoceara.com/paginas11/acidade_/acidade.htm www.vicosadoceara.com/turismo/historio1.htm
PÁGINAS DE UM OFIcINEIrO
PrOcESSO DE crIAçãO DOS PArtIcIPANtES DA cIDADE DE vIçOSA
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que tal, Caro(a) proFessor(a) Convidar os seus alunos a FaZerem uma arte mural na sua esCola ou nos muros do Bairro? soliCitar apoio das instituições púBliCas
Oficina de pintura em Maracanaú Alguns passos para a pintura de um muro
muros da cidade da região metropolitana de Fortaleza também foram coloridos por Zé e seus alunos.
Oficina da Paz, em Portugal em Movimento Zé atravessa as fronteiras do Brasil para realizar uma oficina, além-mar. O evento foi organizado pela comunidade Shalon portuguesa, intitulado “Convívio Nacional 2003”, no castelo medieval Montemor-o-Velho”, em Coimbra.
5 ALMANAQUE DO ZÉ
Zé e seus alunos portugueses
Painéis coletivos dos participantes da oficina, expostos na muralha do castelo
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O papel do Zé na III Bienal Jovem de Vila Verde
PÁGINAS De um oficineiro
O papel do Zé foi de jurado da exposição.
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Essa Bienal foi organizada pela prefeitura de Vila Verde, de Portugal, em parceria com o Instituto Português da Juventude e Associação d’Arte desse país. A bienal reuniu somente artistas com menos de 30 anos. Além de ministrar oficinas, realizou uma murogravura, a primeira da série “Impressões da Europa”.
Processo da obra “Murogravura” realizada em Vila Verde, Portugal
NESSE MESMO PEríODO, ZÉ rEALIZOU UMA MOStrA xILOGrÁFIcA DE SEUS ALUNOS cEArENSES DA cASA DA jUvENtUDE, NO SALãO DO INStItUtO POrtUGUêS DA jUvENtUDE, EM brAGA, POrtUGAL. A DIvULGAçãO FOI FEItA AtrAvÉS DOS jOrNAIS: “cOrrEIO DO MINhO” E DIÁrIO DO MINhO” PúbLIcO POrtUGUêS vISItANDO A ExPOSIçãO DOS ALUNOS DO ZÉ, EM POrtUGAL, EM 2003.
Zé e a internet
em 2003, Zé partiCipou da “Bienal vila verde de portugal”, Com uma “murogravura” (gravura impressa no muro). durante uma semana Zé gravou, imprimiu, no muro da esCola proFissional amar terra verde. esta atividade iniCiou o programa das atividades da Bienal. assim, notiCiou o “jornal diário do minho”.
www.diariodominho.pt/ conteudo/728/Bienal
Entrevista do Zé no You Tube pela Revista Impressões da Universidade Federal do Ceará, 15 de junho de 2011.
Em 12 minutos e 42segundos, Zé fala em diversos assuntos que marcaram a sua vida. Para saber mais, acesse o site: www.youtube. com. A convite do cineasta Francis Vale, esta é a segunda vez que Zé cria o “Troféu Pedra Furada para o Festival Jericoacora: cinema digital” Notícias sobre o Zé no festival é só acessar www.youtube. com e buscar.
5 ALMANAQUE DO ZÉ
Professores(as), alunos (as) e demais leitores(as), o site do Zé está em construção www.zeTarcísio.art.br
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sugestão de atividade
cArOS(AS) PrOFESSOrES(AS), QUE tAL PrODUZIr cOM OS SEUS ALUNOS E OU OUtrAS AtIvIDADES DE ArtE? tENtAr ENvOLvEr DIrEçãO, cOMUNIDADE SObrE AtIvIDADES INtErESSANtES DESENvOLvIDAS PELOS ALUNOS NA EScOLA, NO bAIrrO OU EM OUtrOS LUGArES. PODE SEr, QUE NA SUA cLASSE tENhA ALGUM ALUNO (A) QUE tENhA ExPErIêNcIA cOM AUDIOvISUAL OU QUE tENhA vONtADE DE cONhEcEr OUtrOS cAMINhOS NA ArtE E NA vIDA.
Dicas de formação: Na Vila das artes instituição cultural da Prefeitura de Fortaleza, são ofertados cursos, oficinas, palestras sobre o assunto. Escola Pública de Audiovisual: Tel: (85) 3105-1404 escoladeaudiovisualfortaleza@gmail.com A Vila das Artes oferece cursos nas diversas linguagens da arte, escolha o que você gosta e entra em contato Rua 24 de Maio, 1221, Centro | Fortaleza | Ceará | Brasil Tel: (54xx85) 3252-1444 | 3253-7052 viladasartesfortaleza.blogspot.com comunicacaoviladasartes@gmail.com
PÁGINAS DE UM OFIcINEIrO
oFiCina “mãos do povo da serra”
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no Xi Festival nordestino de teatro, em guaramiranga, em 2004, Zé transformou o cenário urbano em flores, pelas “Mãos do Povo da serra”, oficina que mobilizou serranos (as) de várias faixas etárias para colorir a “Cidade das Flores”. O inquieto artista se incomoda e interroga o desaparecimento dos canteiros com margaridas e copos de leite girassóis, que foram trocados por jardins rasteiros que compõem a aridez cenográfica da Praça da Alimentação, em frente ao teatro rachel de queiroz. SObrE A OFIcINA “A MãO DO POvO DA SErrA”, ZÉ QUE: “INtENcIONALMENtE O SAbOr POPULAr tOMOU cONtA DA ÁrEA - OS POStES cOM SEUS LAMPIõES FOrAM ENtrEMEADOS DE FLOrES -, SE ESPALhArAM PELOS ALPENDrES ENtrE’ PLAcAS ArtESANAIS -, O cOLOrIDO vArIADO INvADIU E SE PrOPõE cOM ESSA LIbErDADE. UMA OFIcINA vIvENcIADA POr UM GrUPO DE 22 SErrANOS - DE 12 A 60 ANOS QUE ESPONtANEAMENtE SE INScrEvErAM PArA O PrOjEtO. NãO FOI DIFícIL ASSIMILAr A IDÉIA, ALGUNS DIAS DEPOIS 500 FLOrES ALEGórIcAS INvADIrAM O ESPAçO OcUPADO PArA O cOMÉrcIO PrODUZIDO PELO POvO DA SErrA”.
ÁrvOrE NAtALINA crIADA POr INIcIAtIvA DAS SErrANAS(OS), NO MESMO ANO EM ZÉ rEALIZOU A OFIcINA DAS FLOrES. ELA SIGNIFIcA UM DESDObrAMENtO crIAtIvO DA ExPErIêNcIA vIvIDA.
Oficina temática: “Grafite e nordestinidade” Zé participou como coordenador e curador dessa oficina criada pelo Fórum de Hip-Hop do Ceará, com a participação de jovens moradores do Poço da Draga e de integrantes do MH2O, resultando em 26 trabalhos com desenhos e pintura sobre a Nordestinidade e grafitismo, compondo Exposição Coletiva do mesmo nome. Os trabalhos foram realizados em folhas de compensado, apresentados como painéis, instalados no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
As cores dos grafiteiros em diálogo com o preto da gravura, embelezando os espaços do Dragão
Segundo Patrícia Bittencourt, integrante do MH20, “a exposição se mostrou ‘uma oportunidade para criar um link entre o movimento Hip-Hop e a cultura nordestina”.
Quer saber mais sobre o Hip-Hop, é só acessar o site: http://hiphop-t.tripod.com/id1.html
5 ALMANAQUE DO ZÉ
Painéis individuais em madeira, nas dimensões 2,10X 1, 60 metros realizados com grafite em spray e pincel.
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Oficina: Formas animadas
Oficina de produção coordenada por Zé Tarcísio. Essa oficina de máscaras Zé ministrou, em 2004, no município de Irapuã Pinheiro-CE, frente ao Projeto Nossos Talentos, em convênio com a Petrobras e Banco do Nordeste. além das Formas Animadas, fez a Ambientação para encerramento do Projeto – para o cortejo do programa, teve a participação de 100 pessoas entre crianças, jovens e adultos.
As máscaras eram feitas de papel-cartão, papel-machê.
PÁGINAS De um oficineiro
Ao serem complementadas por figurinos ganharam formas animadas.
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ZÉ EM SUAS MEMórIAS, FALA cOM cArINhO E ADMIrAçãO DA FIGUrA DO EDUcADOr EDILSON brASIL, Ex-DIrEtOr E FUNDADOr DO cOLÉGIO 7 DE SEtEMbrO. hOjE, EDNILtON NESSE cArGO QUE OUtrOrA FOI DO PAI, rELEMbrA DO cOLEGA DE SALA DE AULA E AMIGO DE INFÂNcIA ZÉ tArcíSIO, NUMA PASSAGEM DO SEU tExtO PArA A ExPOSIçãO “vOOS rASANtES”, EM 2004, NA FA7.
A galeria Vicente Leite e a Faculdade 7 da Setembro têm uma dupla satisfação em abrigar a sensibilidade artística de Zé Tarcísio. Primeiro porque se trata de um dos grandes expoentes da arte cearense. Sua obra é ao mesmo tempo: a expressão de sua gente e sua história, e também universal e multifacetada. O talento de Zé Tarcísio, reconhecido no Brasil e no exterior, muito nos envaidece, pois ele dividiu conosco a honra de ser aluno do grande Educador Edilson Brasil Soárez. Esta, portanto, é a segunda razão pela qual estamos fascinados com a possibilidade desta exposição. Como ex-aluno o Zé Tarcísio reafirma uma das mais sólidas vocação do Colégio 7 de Setembro, educar para viver, ser feliz e realizar-se em suas escolhas. Ele, nesta oportunidade, representa diversas gerações que construíram trajetória de sucesso profissional e pessoal, sem abri mão da ética e do caráter, tomando cada vez mais vivas as palavras do nosso fundador e que antes de tudo é meu pai. O Dr. Edilson sempre afirmava: “ o jovem entra no Colégio 7 de Setembro para educar-se e sai para vencer na vida. A principal lição que infundimos em nossos alunos é a da confiança em si mesmos e do aproveitamento de suas possibilidades individuais.” Parabéns Zé, como seu amigo de infância e companheiro de sala de aula, posso afirmar: você é exemplo vivo de que vale a pena acreditar em uma educação que fica para a vida inteira”
Ednilton Soárez Diretor Geral de Faculdade 7 de Setembro
palavras do Zé oFiCineiro Certa vez, na oficina intitulada “Composição geométrica” da Casa da Juventude, durante uma das aulas no atelier de artes plásticas criado na década de 1980. uma aluna de 11 anos, indagou: - O que é paisagem urbana? - Pergunta feita ao pé do ouvido, enquanto a turma toda realizava o tema da oficina. “em que paisagem eu gostaria de ter uma casa”. “naquele final de semana, tentei buscar resposta, começo a planejar nova oficina (Composição geométrica). na semana seguinte saímos numa Kombi da instituição a um passeio para observações na paisagem urbana, Fortaleza, por exemplo, quadrados, retângulos, triângulos e círculos, estas formas estão presentes entre elementos naturais, tais como árvores, montanhas, rios, mares etc. Começamos nossa busca das formas. Muitos apontamentos foram feitos em desenhos (lápis sobre papel), as janelas, portas, torres, os triângulos do Centro Dragão do Mar, blocos de edifícios juntos, formas triangulares de telhados. Material esse disponível para dar início a nova tarefa de pesquisa
NUMA PErSPEctIvA DIALóGIcA FrEIrIANA, ZÉ rEcONhEcE QUE O “ArtIStA tAMbÉM APrENDE cOM SUAS AULAS”. O OFIcINEIrO ErA SENSívEL NA SUA EScUtA cOM OS ALUNOS.
5 ALMANAQUE DO ZÉ
palavras de um eduCador soBre o Zé
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e conhecimento. Dando continuidade, na aula seguinte foram mostradas reproduções de obra de artistas; Mondrian, Kandinski, Paul Klee e dos brasileiros, hélio Oiticica, lígia Clarck os famosos bichos, formas metálicas em movimento, Alfredo Volpi, sérgio Camargo, João Carlos galvão contemporâneo da escola nacional de belas Artes no rio entre 1964 e 1966 e sérgio Pinheiro residente em Fortaleza com passagem por Paris.
SObrE PAPÉIS, rOUPAS USADAS, cOLAGENS, APLIcAçõES, FOrAM SUrGINDO cOMPOSIçõES cOM círcULOS, trIÂNGULOS, rEtÂNGULOS E QUADrADOS. A PArtIr DE 2000 OFIcINAS SIMILArES cOMEçArAM A SUrGIr NOUtrAS INStItUIçõES.”
“Ensinar exige escutar”,
PÁGINAS DE UM OFIcINEIrO
diz o educador brasileiro Paulo Freire.
164
“Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar, no sentido aqui discutido, significa disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro. [...]. A verdadeira escuta não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das idéias” FrEIrE, 1996.
pelas palavras de Freire, Zé esCutou esse outro, a Criança, e reFletiu soBre a sua prátiCa pedagógiCa.
Zé em
outras
mídias
Enquanto Zé passava uma temporada de seis meses pela Europa, o seu acervo estava sendo organizado, entre os anos de 2003 e 2004, pela arquivista Patrícia Menezes e auxiliada pelo artista plástico e pesquisador Gerson Ipirajá. O resultado da pesquisa foi o CD Rom “Zé Tarcísio Arquivo”, realizado através de um Edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará – Secult. O lançamento foi no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em 2005.
O CD Rom “Zé Tarcísio Arquivo” é um excelente material para estudo, pesquisa, etc. Pode ser usado tanto na Educação formal quanto na Educação não formal.
Ação educativa com a obra de Zé
Turma de Educação Infantil visitando o atelier do Zé
5 ALMANAQUE DO ZÉ
Ação educativa com um grupo de estudantes na exposição “Promessa Paga”, no Espaço Cultural dos Correios, em 2006.
No seu aniversário de 70 anos, o artista ganhou de presente, em 2011, este “Almanaque do Zé” — além de uma sala especial no Salão de Abril, como já reiteramos no capítulo anterior. Em 2012, outras ações museológicas e educativas estarão acontecendo em homenagem aos 50 anos de carreira artística do Zé Tarcísio. É uma “Retrospectiva”, que será realizada primeiramente no Museu Afro-Brasil - MAF, em São Paulo, depois no Museu de Arte Contemporânea — MAC, no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza e, por último, no Museu Nacional de Belas Artes – MNBA, no Rio de Janeiro
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CruZadinha do Zé
1
2 10 11
CruZadinha do Zé
9
8 3
1. Nome da peça dirigida por Vitor Garcia em que Zé criou o espaço cênico. 2. No filme de Florinda Bolkan “Eu não conhecia Tururu”, que papel Zé interpretou? 3. Qual das obras plásticas do Zé ganhou o prêmio de Viagem ao exterior, em 1974, conferido pelo Salão Nacional de Arte Moderna e dois anos depois foi reproduzida em selo? 4. Nome do filme produzido por Zé em que a atriz Ana Marlene atua. 5. Que objeto do Zé foi roubado na 15ª Bienal de São Paulo? 6. Nome da peça da dramaturga Hilda Hilst em que Zé produziu os figurinos e cenários. 7. Nome da rádio criada por Zé em Canoa-Aracati. 8. Nome do personagem em que Zé interpretou no filme “Terra sem Deus”, de José Carlos Burle. 9. Nome da Vila em Fortaleza em que nasceu o menino Zé Tarcísio, cujas calçadas foram desenhadas com carvão por Zé e seus amigos de infância. 10. Nome da revista em Zé atuou como fotógrafo. 11. Uma das obras de Zé que levou mais de 10 anos para ser concluída, por suas dimensões e por ser uma obra emblemática.
7 5
De quem são estes olhos?
6
PIStA 1. EScrEvEU O LIvrO “PEDAGOGIA DO OPrIMIDO” PIStA 2. É UM GrANDE EDUcADOr brASILEIrO
1. Cemitério de automóveis 2. Vidente 3. Regador 4. Acetona 5. Macacão 6. O Verdugo 7. Malazartes 8. Quinquim 9. Diogo 10. Manchete. 11. S.O.S Litoral.
4
Paulo Freire
Caça- palavra no regador do Zé ENcONtrE NO rEGADOr AS AtIvIDADES ArtíStIcAS ExErcIDAS POr ZÉ. cENóGrAFO, FOtóGrAFO, PrODUtOr cULtUrAL, AtOr, ArtIStA PLÁStIcO, OFIcINEIrO, hUMOrIStA, FIGUrINIStA, LOcUtOr.
proFessores apresentam:
quem é Zé tarCísio?
Conhecem alguma obra de arte do Zé. Sugestão: escolha nas páginas deste almanaque algumas das obras do Zé, para fazer um exercício do olhar
Capítulo 6
COTIDIANO PÁGINAS DO
Arte e cotidiano fazem parte de um mesmo plano: a vida - matéria básica da qual o artista se nutre para seu ofício de criação e, para compor esse desenho, não pode faltaR amizade, sentimento que fortalece nossa caminhada. Caro leitor (a) fique com as palavras do artista e arquiteto Fausto Nilo, sobre o Zé.
Vila Diogo, 2011
ZÉ TARCÍSIO, VELHO AMIGO FORTALEZENSE
PÁGINAS Do cotidiano
Fausto Nilo – cantor, compositor e arquiteto
170
Em 1955 quando em Fortaleza fui morar na Rua Princesa Isabel, próximo da indústria de cigarros Araken e defronte à Fábrica Diogo. Perto da fábrica Diogo havia, e ainda há, a Vila Diogo, inspirada nos modelos de casas operárias organizadas em comunidades urbanas próximo do trabalho. A vida dessa vizinhança era cheia de vibração. No carnaval desse ano e em outras festas importantes do bairro eu vi Zé Tarcísio, meninote, organizando a festa e orientando o movimento da vila. No São João ele enfeitava a Vila de bandeirinhas e se não me falha a memória, organizava lapinha e pastoril no natal. Tempos depois o encontrei no Rio de Janeiro consagrado no ambiente da arte de vanguarda e tenho em minha lem-
brança uma página dedicada a ele, com especial destaque, no Jornal do Brasil, coisa que muito me envaideceu. Lembro também, nos setenta, sua performance pioneira no espaço público carioca, quando ele próprio, transformou num anjo alado surgiu a navegar uma bicicleta pela contramão de Copacabana. Zé representa a herança mais refinada do talento artesanal fortalezense, enriquecida pela vivência cultivada em todas suas andanças. Hoje sinto com satisfação a permanência de sua generosidade e a serena sabedoria de quem preserva o que lhe é mais singular: sua arte, sempre surpreendente e única. Além de tudo Zé é um velho amigo fortalezense.
Zé e Tânia Alves, amizade que nasceu no espaço cênico
Nas décadas de 1960 e 1970, Zé viveu e trabalhou intensamente o seu ofício de artista no Rio de Janeiro, cidade que abriu as portas para a magia de sua arte.
Arte na rua – série Diabanjo
Os convidados estavam de branco e se divertiam ao sabor de vinho e pipoca numa mistura dionisíaca e lúdica. A festa pipocava!
A casa do Zé nesse bairro foi mais do que morada familiar, nela havia o “Espaço Aberto Santa Teresa”, espaço coletivo para as mais diversas manifestações culturais (música popular, poesia, culinária, tapeçaria, artes plásticas, artesanato, etc.). A noite inaugural foi a “Exposição síntese” de diversos desenhos do amigo Antônio Bandeira, das fases abstrata e figurativa, além de outros documentos fotográficos da vida e da obra do referido artista. Noutra sala da sua casa foram expostas “tapeçarias fantásticas de fabulação nordestina criada pela artista cearense Marieta Ramos”. A ideia de abrir as portas de sua casa foi precursora de um evento que ainda hoje acontece todos os anos no bairro, chamado “Santa Teresa de Portas Abertas”, ocasião em que os artistas abrem as portas de seus ateliês para o público.
ALMANAQUE DO ZÉ
Zé se encantou e se libertou no Rio - na geografia dos passos, das pedaladas legitimou o seu dizer na arte e na vida e se fez Zé Tarcísio. Artista atuante onde quer que habite, agita e faz acontecer, fez isso em Santa Teresa por mais de vinte anos e continua a fazer.
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6
PÁGINAS Do cotidiano
ARTE E VIDA SE ENTRELAÇAM...
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Em 1971 nasce Harumi, filha de Zé, uma linda menina mistura de japonês com brasileiro.
Harumi
Harumi com seu pai Zé comemorando aniversário
ALMANAQUE DO ZÉ
Marieta com Harumi, Bibi e Alzira, mulheres da vida do Zé
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Discurso de Saudação proferido por Abelardo Brandão quando da entrega da Medalha Boticário Ferreira ao Artista Zé Tarcísio.
Zé e Abelardo Brandão
PÁGINAS Do cotidiano
“Boa tarde, meu nome é Abelardo Brandão, cearense de Fortaleza, nascido numa época na qual vizinhança era parentesco. E por força desse laço me encontro aqui para, como na canção do Gilberto Gil, fazer uma louvação a quem deve ser louvado; no caso um filho ilustre que a cidade de Fortaleza, por iniciativa do vereador Rogério Pinheiro, com muita justiça, hoje reconhece e distingue com a comenda maior, a medalha Boticário Ferreira. Falo do Tarcisinho, que era como os meus pais chamavam o menino José Tarcísio Ramos, nosso vizinho e por conseguinte nosso parente. O flagrante mais remoto que minha memória resgata do Zé Tarcísio no trato com as coisas das artes me remete ao fim dos anos 50, na Rádio Iracema de Fortaleza, no programa Clube do Bom Companheiro, do apresentador Matos Dourado, onde o Zé era locutor mirim e andava às voltas com a sua paixão do momento: uma câmara fotográfica a congelar imagens e momentos. Boa sorte a nossa, meninos moradores do centro da cidade, nas cercanias das avenidas do Imperador e Duque de Caxias, paróquia de São Benedito.
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Festa da Congregação Mariana, fotografia de Zé Tarcísio
A afinidade que a vizinhança nos conferia facultava o nosso acesso a, dentre tantas outras, uma certa casa da rua Princesa Isabel, era a residência do patriarca de grande família, senhor Sabino Bandeira, proprietário da Fundição Santa Isabel (contígua à sua casa) e avô do Peinha, do Dodó, da Maninha, da Oscarina, do Antônio Zebu – nossos amigos. Era também o senhor Sabino pai do artista maior, o pintor Antônio Bandeira, nosso ídolo e motivo de nosso orgulho de parente [...]”.
Abelardo Brandão.
outras Cenas do Cotidiano de FortaleZa registrada por Zé ainda nos anos 50 do séC.xx.
vende-se uma Casa em santa teresa – rj
Zé, marieta e kojaCk na Casa da rua Carlos vasConCelos, nova morada em FortaleZa e loCal onde iria FunCionar a por hipótese, produtora que realiZou vários eventos Culturais na Cidade.
ALMANAQUE DO ZÉ
A volta do Zé ao Ceará na década de 1980 foi motivada pela vontade de cuidar e estar mais perto de sua mãe, Marieta, e das outras mulheres que também lhe deram carinho e possibilitaram ser o que é. ele afirma: “A vida é mais importante que a arte”. Mesmo com um lugar conquistado no rio de Janeiro, com destaque nos principais jornais cariocas, premiado em diversos salões e bienais de arte dentro e fora do brasil, Zé preferiu voltar para a sua terra natal, conforme os depoimentos dos amigos que acompanharam a trajetória do artista.
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6
Zé
a relação de
ZÉ NO cUMbE GArIMPANDO ELEMENtOS DA NAtUrEZA PArA rEcIcLAGEM, PrEOcUPAçãO EcOLóGIcA DESDE OS ANOS 70 DO SÉcULO xx, NAS SUAS ANDANçAS PELO LItOrAL LEStE.
Com a eCologia
Esculturas efêmeras 1974 Cumbe – Aracati
PÁGINAS DO cOtIDIANO
em 1987, Zé e sua mãe, Marieta, vivem uma temporada no litoral leste do Ceará – Cumbe, Canoa e Aracati –, espaços em que o artista deixa as marcas do seu pensar e de sua arte. Zé interferindo com a sua arte nos detritos que o cotidiano descartou. As tintas do artista dialogando com a paisagem natural de Canoa.
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Zé livre e solto em Canoa
Zé é um apaixonado por animais e plantas Cuida desses elementos da natureZa Com muito amor.
“O Zé sempre está criando um bicho. um dia eu cheguei lá, ele tava criando um bodinho, um cabritinho, ele batizou de Candinho. [...] houve um tempo em que ele criava as gatas (risos). eram três gatas que apareceram por lá e ele começou alimentá-las. elas ficaram e receberam os nomes de saúde, Fortuna e Felicidade (risos). um dia eu cheguei lá e perguntei: Zé cadê as gatas? ele disse: – Fui abandonado pela saúde, pela Fortuna e pela Felicidade (risos) “Zé é preocupado com a natureza, com a sociedade, com as pessoas que têm dificuldades, um artista muito consciente de sua arte, do seu tempo, um dos mais conscientes que conheço”.
ALMANAQUE DO ZÉ
narrativa por FranCis vale
harumi, por Favor levante-se daí, isso não é uma pedra, 177 isso é um jaButi.
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PÁGINAS Do cotidiano 178
Carta de Zé ao seu amigo François
Hoje, quantos meios e formas temos de nos comunicar?
O modelo da missiva de Zé foge Do modelo tradicional de carta. Ela é supercriativa. DiscutA com seus colegas sobre o assunto da carta. Você também pode inventar uma forma diferente de escrever e de se expressar. Que tal, caro(a) professor(a), propor a sua turma essa Aproveita o espaço abaixo e escolha uma das linguaidEia.
Bilhete – “forma de correspondência informal e breve, assim como um recado no facebook, Orkut ou e-mail.” Telegrama- “É o serviço que permite
encaminhamento de mensagens urgentes em âmbito nacional e internacional.”
Carta – “é o mais tradiconal serviço postal dos Correios. É o meio de comunicação que você dispõe para a troca DE escritas”. www.correios.com.br/voce/enviar/telegramas.cfm
Telegrama on-line é a forma dE OS Correios atualizar a tradição dessa correspondência, etc.
ALMANAQUE DO ZÉ
gens da arte. Pode ser desenho, pintura, poesia, crônica ou mesmo uma carta, fique livre para sua expressão criativa. Envie para o artista Zé Tarcísio. Rua Dragão do Mar, 22 A, Fortaleza – CE. Pode ser também via internet.
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“todas as máquinas torpedo 10 são dotadas de teClados anatômiCo e pintura CientiFiCamente estudada para evitar a Fadiga do datilógraFo”
(Jornal Unitário, 7 de setembro de 1958).
Você sabia que na década de 1960 a IBM lançou o 10 computador eletrônico, o RAMAC 303? E na década seguinte é a vez do lançamento do 10 vídeogame, o Odyssey 100.
PÁGINAS DO cOtIDIANO
olha! a Carteirinha de datilógraFo do Zé, no tempo em que ele era FunCionário do ministério da eduCação, no rio de janeiro.
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Com o avanço das novas tecnologias, a máquina de escrever ficou obsoleta. Os cursos de datilografia desapareceram e os de computação ocuparam a cena mercadológica. Desse advento técnico, surgem novas profissões: o digitalizador, o programador, o designer gráfico, o artista multimídia etc.
ALMANAQUE DO ZÉ
A vErSAtILIDADE do artista
voCê já tomou reCeita do Zé Chá de almas, Chá de alma: ou nunCa ingredientes: cAchAçA DE ALAMbIQUE, MEL, crAvO, ouviu Falar ENDrO, cANELA, GENGIbrE, IMbUrANA, IMbIrIbA E jENIPAPO. nessa BeBida? modo de FaZer: MIStUrAr tODOS OS INGrEDIENtES E rESErvÁ-LOS EM GArrAFAS MUItO bEM FEchADAS cOM rOLhAS DE cOrtIçA, PrOtEGIDAS DA LUZ, DUrANtE SEtE LUAS. PASSADO EStE PEríODO, cOLOcÁLAS EM LOcAL APrOPrIADO PArA QUE rEcEbAM A LUZ DOS PrIMEIrOS rAIOS DE SOL DA MANhã. ESSA ALQUIMIA FAZ PArtE DO rItUAL, PArA QUE O SAbOr NãO SEjA ALtErADO. A bEbIDA DEvE SEr SErvIDA GELADA E APrEcIADA cOM bAStANtE MODErAçãO.
181 ALErtA! O chÁ DE ALMA É cONtrAINDIcADO PArA MENOrES DE 18 ANOS, POr cONtEr ÁLcOOL NA cONStItUIçãO DE SUA FórMULA.
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Calendário lunar em 2012
janeiro: Jan Jan Jan Jan Jan
01 09 16 23 31
6:14 7:30 9:07 7:39 4:09
Fevereiro: Fev Fev Fev
07 21:53 14 17:03 21 22:34
março: Mar Mar Mar Mar Mar
01 08 15 22 30
1:21 9:39 1:25 14:34 19:40
aBril: Abr Abr Abr Abr
06 13 21 29
maio:
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Mai Mai Mai Mai
06 12 20 28
quarto Crescente lua Cheia (32,7’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente
3:35 21:46 23:47 20:16
lua Cheia (33,5’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente
04 11:11
Jun Jun Jun
11 19 27
Fonte: Astronomia.Org
lua Cheia (31,8’) quarto Minguante lua nova
lua Cheia (33,3’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente
Jun
10:41 15:02 03:30
julho: Jul Jul Jul Jul
03 11 19 26
18:51 1:47 4:24 8:56
agosto:
19:18 10:49 07:18 9:57
junho:
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quarto Crescente lua Cheia (30,9’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente
lua Cheia (33,3’) eclipse parcial quarto Minguante lua nova quarto Crescente
Ago Ago Ago Ago Ago
02 09 17 24 31
3:27 18:55 15:54 13:53 13:58
setemBro:
set set set set
08 16 22 30
13:15 2:10 19:40 3:18
outuBro: Out Out Out Out
08 15 22 29
7:33 12:02 3:31 19:49
novemBro: nov nov nov
07 00:35 13 22:08 20 14:31
nov
28 14:45
deZemBro: Dez Dez Dez Dez
06 13 20 28
15:31 8:41 5:19 10:21
lua Cheia (32,7’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente
lua Cheia (31,9’) quarto Minguante lua nova quarto Crescente lua Cheia (31,0’)
quarto Minguante lua nova quarto Crescente lua Cheia (30,2’)
quarto Minguante lua nova quarto Crescente lua Cheia (29,6’)
quarto Minguante lua nova quarto Crescente eclipse penumbral lua Cheia (29,4’)
quarto Minguante lua nova quarto Crescente lua Cheia (29,6’)
Z é
montou o “restaurante romance”, na cidade do Aracati, localizado a rua José de Alencar. O bom humor fazia parte do cardápio, cujos pratos eram nomeados com os títulos da obra alencarina, ou dos nomes dos personagens. Por exemplo, “Pata da gazela” ao molho pardo. sanduíche “iracema” (ingredientes: pão árabe, alface americana, tomates italianos, no ponto brasileiro para o consumo do freguês). Outros pratos eram “Ceci e Peri”, O sertanejo, lucíola, Demônio Familiar, etc.
EScrItOr cEArENSE, UM DOS MAIOrES NOMES DA LItErAtUrA brASILEIrA (1929-1977). SEGUNDO OS LINGUArUDOS Só NãO FOI AINDA MAIOr, POrQUE tINhA O rAbO PrESO NA POLítIcA DO IMPÉrIO. Esse romance, de 1865, narra o amor da índia tabajara pelo guerreiro branco Martim Soares Moreno.
Estampa eucalol de Iracema
o restaurante romanCe “Foi um sonho que não deu Certo”, mas enquanto durou agitou o Cenário Cultural da Cidade.
ALMANAQUE DO ZÉ
A cONSELhEIrA GAStrONôMIcA DO rEStAUrANtE “rOMANcE” FOI bEL cAStrO, QUE cUIDADOSAMENtE OrGANIZAvA UM MENU crIADO POr ZÉ, tEStANDO cADA INvENçãO cOM PrIMOr.
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“Se você não muda, nada muda” PÁGINAS Do cotidiano
DISCURSO DA CAMPANHA
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“TUDO AZUL COM O PARTIDO VERDE” SLOGAN CRIADO POR GILMAR DE CARVALHO
Zé se candidatou pelo Partido Verde e criou o diretório político do partido em Aracati. Hoje, não é filiado a nenhum partido. Foi ainda secretário de Cultura de Aracati, em 1997, mas abdicou
Caligrafia do Zé
ALMANAQUE DO ZÉ
Zé atrás das câmeras em Canoa
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Rua Cel. Alexanzito (Rua Grande) Aracati, 2011 “Museu Jaguaribano”
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a Criação da rádio malaZartes
PÁGINAS DO cOtIDIANO
Panfleto da Rádio
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A relação do Zé com a radiofonia vem desde o tempo da Pré-9, Ceará rádio Clube/ZYr7 – rádio iracema, na qual foi locutor mirim. A rádio Malazartes foi idealizada por esse artista inquieto, numa busca de mobilização consciente através da arte. A programação dessa emissora enfatizava as manifestações culturais da região, a música brasileira e a prestação de serviços para a comunidade, além de promover cursos. O envolvimento de Zé tarcísio com a instalação da rádio Malazartes instigou–o a procurar patrocínio, selecionar equipe, criar e apresentar programas, como mostra a foto abaixo. ele também cuidou de alguns aspectos técnicos da transmissão. Para Zé, essa criação representou uma experiência pessoal riquíssima. A rádio Malazartes funciona até hoje em Canoa quebrada.
Com pouCos equipamentos, mas Com muita vontade de ComuniCar e de FaZer aConteCer Zé inaugura a rádio Fm malaZartes
ZÉ E O hOMEM–ArANhA AINDA NOS ANOS 60, ZÉ tOrNOU-SE Fã DO hOMEM-ArANhA, IDENtIDADE SEcrEtA DE PEtEr PArkEr, FOtóGrAFO DO cLArIM DIÁrIO. ZÉ SE IDENtIFIcA cOM A PErSONAGEM POr SUAS cArActEríStIcAS hUMANIStAS E SEU OFícIO NO jOrNAL. O hEróI DOS QUADrINhOS É órFãO E O trAbALhO NO PErIóDIcO POSSIbILItA GANhAr DINhEIrO PArA AjUDAr A tIA.
histórias em quadrinhos - hqs são narrativas apresentadas em “balões” que narram de uma forma breve e sequenciada os diálogos que são desenhados em cada quadrinho, ou seja, as cenas em ação. Zé leu muitas revistinhas em quadrinhos, principalmente as do homem–Aranha.
ALMANAQUE DO ZÉ
ZÉ PASSEANDO NA PASSArELA DO DrAGãO cOM UMA AMIGA, AO ENcONtrO cOM SUA ObrA “ILUSãO”
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quer ver outras Capas, é só entrar no site: WWW.giBihouse.xpg.Com.Br/BloCh/marvel/ha/ha1.html
o novo homem–aranha “quando apareceu a oportunidade de criar um novo homem-Aranha, sabíamos que tinha que ser um personagem que representasse a diversidade, tanto pela origem como pela experiência, do século 21”, ‘disse em comunicado o editor-chefe da Marvel, Axel Alonso. Assim, pela primeira vez na história, será possível ver um novo homem-Aranha que não está vivido pelo fotógrafo Peter Parker, que morreu em junho pelas mãos do vilão Duende Verde na saga ultimate, embora Parker continue vivo na série de histórias em quadrinhos original, O incrível homem-Aranha.”
NOvO hOMEM-ArANhA SErÁ NEGrO E tErÁ OrIGEM LAtINA Foto: Divulgação
o artista plástiCo é Fã do “maluCo BeleZa” maluCo BeleZa rAUL SEIxAS
PÁGINAS DO cOtIDIANO
ENQUANtO vOcê SE ESFOrçA PrA SEr UM SUjEItO NOrMAL E FAZEr tUDO IGUAL
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EU DO MEU LADO, APrENDENDO A SEr LOUcO UM MALUcO tOtAL NA LOUcUrA rEAL cONtrOLANDO A MINhA MALUQUEZ MIStUrADA cOM MINhA LUcIDEZ [...]
http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias www.cranik.com/homemaranha.html
hora da piada, que tal, umas piadas? MODErNIDADE Um menino estava viciado em Orkut, MSN, Facebook e Twitter, então sua mãe preocupada levou-o para uma igreja. No culto o pastor fala pra ele: — Você aceita Jesus? — Só se ele me adicionar.
MUSEU Pedrinho está visitando o Museu Imperial, quando um guarda o repreende: — Não pode sentar aí, moleque! Essa é a Cadeira do D. Pedro II! E o garoto: — Então tá bom...quando ele chegar eu saio!
Zé completa “70 anos de vida
Ao som da orquestra Eleazar da Carvalho, no Sobrado José Lourenço, Zé comemora seu aniversário, uma festa do jeito Zé de ser, organizada por Dodora (Secult) e Germana (Sobrado) com a participação de muitos amigos do Zé.
ALMANAQUE DO ZÉ
planetária e 50 anos de teimosia na Arte”
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PĂ GINAS Do cotidiano
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PĂ GINAS Do cotidiano
Capas de livros e revistas por ZĂŠ
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Medalha - Amigos do SHALOM Homenagem da Comédia Cearense Comenda Boticário Ferreira
Medalha - Amigos de Vila Verde Medalha - Fã Clube Raulzito Rock Clube
Troféu Pedra Furada (Festival de cinema digital Jericoacoara)
Troféu Lua Estrela (Curta Canoa)
ALMANAQUE DO ZÉ
ESPAçO DAS MEDALhAS E trOFÉUS
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Troféu Artur Guedes (Festival Cinema da Diversidade Sexual)
6 Trofeu Eusélio Oliveira – Cine Ceará
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PÁGINAS Do cotidiano
Zé e seu cachorro Gayme, outubro de 2011
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PĂ GINAS Do cotidiano
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ALMANAQUE DO ZÉ
Artesanato cubano adquirido por Zé em viagem que fez a Cuba em 1997 - objeto do acervo do artista.
chE GUEvArA LíDEr rEvOLUcIONÁrIO ArGENtINO QUE LUtOU AO LADO DO FIDEL cAStrO PELA INDEPENDêNcIA DE cUbA, EM 1959. Caro (a) proFessor (a) quais seriam as raZões dessas proiBições de entrar na ilha CuBana registradas no passaporte do Zé? disCute tamBém Com os seus alunos soBre a revolução CuBana?
“hÁ QUE ENDUrEcEr-SE, MAS SEM jAMAIS PErDEr A tErNUrA.” (chE GUEvArA)
PÁGINAS DO cOtIDIANO
memórias de santa teresa por ruy lima
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Artigo no Jornal O Povo de 6 de outubro de 2011
vamos BrinCar de FaZer almanaque! Cada um pode FaZer o seu próprio almanaque ingredientes: papel, Caneta, Cola, tesoura, Cópias de Fotos e outros ingredientes que voCê aChar que sejam neCessários. mas não podem Faltar no seu almanaque: uma Boa dose de amor, de Criatividade e de humor, ingredientes que vão FaZer o maior suCesso na esCola e na sua Casa. modo de FaZer:
1. o almanaque é seu, use e aBuse da Criatividade; 2. seleCione aConteCimentos soBre sua vida, relaCionando Com o espaço geográFiCo e o tempo em que viveu e vive; 3. peça ajuda de sua Família, proFessores e amigos para organiZar e FaZer o seu almanaque; 4. Cópias de FotograFias suas e da Família, amigos, assim Como de outros doCumentos.
sugestões: esColha Filmes, poemas, músiCas, oBras de arte, BrinCadeira, FuteBol, Culinária, FotograFia ou outros assuntos que sejam signiFiCativos para voCê. oBs.: Cuidado! não vá reCortar as Fotos, tire
Cópias delas para usar no almanaque, Como tamBém de outros doCumentos que voCê aChar que sejam importantes para a Construção de sua narrativa.
referências LIVROS
Catálogos
ANDREATO, Elias e RODRIGUES, João Rocha. (Orgs). Brasil: almanaque de cultura popular: todo dia é dia. São Paulo: Ediouro, 2009. ESTRIGAS. O Salão de Abril: 1943 a 2009. 2. ed. revista e ampliada./ por Flávia Jordana e Janaína Muniz. – Fortaleza: La Barca Editora, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HERSKOVITS, Anico. Xilogravura: arte e técnica. Thê, Porto Alegre, 1986. NEVES, Berenice Abreu de Castro. Do Mar ao Museu: A Saga da Jangada São Pedro. Fortaleza: - Museu do Ceará/ Secult, 2001. (Coleção Outras Histórias, 4). ROLIM, Herbert (Org.) Salão de Abril 1980 - 2009: de casa para o mundo do mundo para casa. Fortaleza: Lumiar Comunicação e Consultoria, 2010. SILVA FILHO, Antonio Luiz Macêdo e. Paisagens de consumo: Fortaleza no tempo da Segunda Guerra. Fortaleza: Museu do Ceará; Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 2002. (Coleção Outras Histórias, 10). STRICKLAND, Carol. Arte Comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. VALE, Francis. Cinema Cearense: algumas histórias Fortaleza: Assaré, 2008
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Entrevistas e Depoimentos Entrevista concedida ao poeta e jornalista Antônio Crisóstomo, Rio de Janeiro, março de 1969. Depoimentos concedidos as pesquisadoras Aline Albuquerque e Núbia Agustinha, durante os encontros no seu atelier para o Almanaque do Zé, primeiro semestre de 2011. Depoimento concedido à arquivista Patrícia Menezes Maciel, na tarde de 27 de outubro de 2003, no atelier da Rua Dragão do Mar, 22 A, Fortaleza, Ceará.
Ficha técnica PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA Luizianne Lins – PREFEITA DE FORTALEZA SECRETARIA DE CULTURA DE FORTALEZA - SECULTFOR Fátima Mesquita – SECRETÁRIA MUNICIPAL DE CULTURA Márcio Caetano - SECRETÁRIO-EXECUTIVO MUNICIPAL DE CULTURA Coordenadora de Artes Visuais Maíra Ortins Coordenação de Comunicação da SECULTFOR Ethel de Paula Textos de convidados Abelardo Brandão, André Seffrin, Daniel Lins, Ednilton Soárez, Fausto Nilo, Francis Vale, Gilmar de Carvalho, Ricardo Resende, Ruy Lima, Sérgio Silveira, Sebastião de Paula Coordenação Editorial Dora Freitas Revisão de textos Orlando Bezerra Tradução Hamilton Moura Agradecimentos Juliete Sousa, Marcelo Magalhães, Lindemberg Freitas
pesquisa e textos
projeto gráfico
Aline albuquerque
nubia agustinha
fernando brito
diagramação e arte-final
Fotografia
ilustração
rubenio lima
jarbas oliveira
mário sanders
Esta publicação faz parte da homenagem do 62º Salão de Abril ao artista plástico Zé Tarcísio.
P Este Almanaque pretende contar a trajetória do artista Zé Tarcísio, desde sua infância na Vila Diogo em Fortaleza-CE, até os dias atuais. Traz informações específicas de sua vida e de sua produção plástica, mescladas a acontecimentos históricos que marcaram época. A vastidão de suas experiências evidentemente ultrapassa o conteúdo apresentado, tanto porque Zé continua trabalhando, como porque sua memória é incrivelmente dadivosa, e a cada encontro surgem novas/velhas lembranças que mereciam também estar aqui. Mas, como diria o poeta Waly Salomão, “a memória é uma ilha de edição”. Assim sendo, já que partimos da memória do Zé e da vasta documentação por ele guardada através de todos esses anos, nos coube também fazer uma edição, ou seja, nos coube a árdua tarefa de fazer escolhas. Temos consciência, portanto, de que este Almanaque não dá conta de tudo, tudo mesmo, mas acreditamos que por meio dele é possível vislumbrar a riqueza de sua existência neste planeta.
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PÁGINAS DA INFÂNCIA DO ZÉ
This almanac intends to show the trajectory of the artist Zé Tarcísio, from his childhood in Vila Diogo in Fortaleza - Ceará to this day. It has specific information about his life and work, mixed with significant historical events.
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Zé Tarcísio’s experience is so vast that it surpasses the content presented now, not only because Zé is still working, but also because his memory is incredibly powerful, and each meeting stirred up new/old memories which deserved to be here. However, as the poet Waly Salomão says, “memory is an editing room”, and as we started off from Zé’s recollection and the extensive documentation kept by him through all these years, we also had to edit out, that is, we had to do the arduous task of making choices. We are therefore aware that this almanac does not tell everything at all, but we believe that we can glimpse the richness of his existence on this planet.
Realização