A BATALHA DAS
LETRAS
Marcos Albuquerque
A BATALHA DAS
LETRAS de Marcos Albuquerque
Ilustrações de Fernando Lima 2022
Copyright © 2022 Marcos Venicio Teixeira Albuquerque Texto: Marcos Venicio Teixeira Albuquerque Ilustrações e capa: Fernando Lima Impressão: Gráfica e Editora Imprece
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Albuquerque, Matos. A Batalha das Letras / Marcos Albuquerque; Ilustrações de Fernando Lima - Fortaleza: Imprece, 2022.
20p. : il. ISBN: 1. Literatura infantil. 1. Título
CAPÍTULO I
AS VOGAIS Num universo muito, muito distante do nosso, existia um mundo que tinha moradores diferentes uns dos outros e que, por isso, moravam cada um em seu mundinho próprio. Eles moravam separados não porque queriam, pois, na verdade, embora fossem diferentes, eram parecidos uns com os outros. E este mundo, ainda que num universo distante, pode estar bem perto de cada um de nós. Para vê-lo, só com o conhecimento, pois NINGUÉM VÊ PORQUE NÃO SABE E SÓ VAI VER QUANDO APRENDER. Esse era o enigma. E a história começa assim: O mundo das letras estava muito, muito frio. Era um inverno glacial e os Vocais moravam num descampado, numa pequena casinha, e eram o A, E, I, O e U.
O A, que era a primeira letra de todas as vogais, teve uma ideia maravilhosa no inverno para sentir-se aquecida, juntava-se ao I, ao O e ao U e ficavam assim: AI-AO-AU, e o E disse: — Que legal, também vou fazer isso. — E fez, e ficou assim: EI, EU. Os amigos, então, toda vez que sentiam frio, juntavam-se; era o OI, OU, e assim por diante. Num certo dia, o A parecia descontente. Ele chegou para os quatro amigos e falou: — Turma! Vocês notaram que toda vez que nos juntamos parece que ganhamos uma força extra. — É mesmo! — Disse o E. — Sinto menos frio. — Falou o I. O U e o O também concordaram e resolveram sair para o mundo para buscarem novas conquistas. As outras vogais se juntaram a eles e foram em busca de novos horizontes. Mesmo no frio intenso, tiveram coragem de aprender dentro do mundo das letras. Em suas mochilas: água e alimentos diversos com ingredientes de: obediência, assiduidade, compromisso, disciplina, algumas bebidas energéticas cheia de amor, amizade, caráter, altruísmo... Eram garrafas com tudo isso, e assim foram... Logo que caminharam umas léguas, avistaram um povoado onde moravam os Abraçados, que, de longe, notaram a aproximação das Vogais. Um dos Abraçados, chamado C, olhou para o outro, chamado G, com medo, e perguntou: — G, quem são aqueles carinhas que vêm se aproximando?
CAPÍTULO II
AS CONSOANTES — Não sei, C, mas logo vão chegar aqui e saberemos. — Respondeu. — Se for bronca, eu vou me zangar. — Disse C aperreado. — Tenha calma, C, vamos falar com eles. — Falou G tranquilo. As vogais foram chegando, chegando, e A, de forma bem educada, apresentou-se: — Bom dia! Somos os vocais! Viemos de nossa terra para descobrir novos povos neste mundo. Achamos que só existíamos nós e que nos tornamos mais fortes quando nos unimos. Gostariam de juntar-se a nós? — Perguntou. Os Abraçados eram prestativos, gostavam de ajudar as pessoas, pois eram altruístas por natureza. C, desconfiando, cutucou G e disse: — Por que devemos nos unir assim simplesmente? — Porque ficaremos mais fortes e encontramos sentido em existir neste frio. É só nos juntarmos. Vamos fazer um teste? — Perguntou A. — Está legal! Vivemos muito tempo só a gente aqui neste povoado. — Concordou G. E, assim, foram se juntando, se fortificando, se aquecendo, se solidarizando, dando sentido às suas novas vidas. O A chamou o C e o I e ficou assim: CAI. Depois chamou o C e o O, colocaram um tapete enrolado nas cabeças e ficou na forma de CÃO. Nem tudo era felicidade, pois o G estava contrariado, já que não se fortalecia, por mais que se juntasse. Ficou chorando, já que não formava nenhuma palavra. Às lágrimas, perguntou ao C: — Por que você consegue se unir e eu não? — Não sei, G, mas vou falar com as Vogais para saber por quê. — Falou, acalmando G. C foi se reunir com as Vogais para falar sobre a lamentação de G. Sua intenção era não abandonar seu amigo naquela situação. Eles praticavam muito o companheirismo.
— A, responda-me! Por que eu me fortifico e o G não? — Perguntou. — Olha, C, quando começamos a nos juntar foi porque estávamos com frio, aí me senti forte sem frio e fui me juntando com meus amigos, aí depois saímos para procurar outras letras que achamos existir neste mundo. Vimos que sozinhos não ficaríamos fortes e, às vezes, ficávamos até mais fracos. — Respondeu A com toda propriedade. — E agora, o que fazemos? — Questionou G. — Já sei! Vamos atrás de mais letras. Devem ter muitas por este mundão. — Alegremente, interveio U. Não pensaram duas vezes. Saíram em busca de novos mundos. Caminharam e caminharam por noite e dia. É claro que dormiam. Passadas algumas semanas, avistaram em um vale as terras dos Barrigudos.
Os Barrigudos eram B, D e Q, que eram músicos. Não tinha um dia que não pegassem seus instrumentos e tocassem suas melodias. Gostavam de comer e beber muito, talvez por isso fosse tão “fofinhos”. E, assim, num dia musical, as Vogais e os Abraçados chegaram sem ser notados na casa deles. TOC, TOC, TOC, TOC... Bateram. — Quem é? — Gritou B. — Queremos falar com vocês! — Gritou uma voz lá de fora; parecia ser a voz do O. Pararam de tocar imediatamente e D foi até a porta para saber quem estava atrapalhando sua cantoria assim do nada. — Pois não! Quem são vocês? — Perguntou. O A se apresentou, como também seus amigos, os Vocais, juntamente com os Abraçados, que, após serem convidados, entraram na casa dos Barrigudos. Os Barrigudos estavam preparando o almoço: onde come um, come dois, come três; no caso aqui, dez letrinhas. A explicou tudo para os Barrigudos, que imediatamente concordaram em se juntar para se fortificarem. E, assim, toda vez juntos se formavam como: CABO, BAGO, DIA, GADO.
Então G começou a ficar feliz, pois pela primeira vez se fortificava e se unia. Com tudo isso, notava que isso acontecia poucas vezes e pensou falando: — Turma, que tal irmos atrás de mais letras? O A, que estava dançando com a música dos Barrigudos, parou e disse: — Agora não, G. Deixe para outro dia. — Não, A! Esperar para quê? Quanto mais letras, melhor. Nós éramos dois; vieram vocês, os Vocais, que são cinco, juntaram-se aos Barrigudos, que são três, e somos agora dez. Ficaremos mais fortes! Quanto mais, melhor. — Disse G magoado. Q interferiu na conversa a favor de G, talvez por sentir-se também sem muita opção. — A, o G tem razão. Passando este vale, logo depois das montanhas, deve ainda morar lá o povo chamado de Pernaltas, um povo arisco e trigueiro, muito, muito ligeiro. Por que não vamos uma parte de nós chamá-los? E assim foi feito. Foram o G, o B e o D das Consoantes e o O e o U das Vogais atrás das terras dos Pernaltas. Os Pernaltas eram sete. Quanto mais gente, mais confusão. Eles eram assim chamados porque tinham uma ou duas perninhas. Essa turma era composta pelas letras: F, H, N, M, T, V e X. Eram descuidados, gostavam de brincar, nadar, pescar, correr, enfim, não paravam. Sempre tinham uma brincadeira, uma piada, uma charada. Eram felizes, pois viviam brincando. O engraçado é que foi assim, na brincadeira, que conheceram os Barrigudos, os Abraçados e as Vogais. Foram dar um baita susto neles. A turma que veio atrás dos Pernaltas resolveu acampar, já que era noite. Quando se preparavam para dormir, os Pernaltas, vestidos de fantasminhas, aos gritos, assustaram a turminha toda. — BUUU, BUUU, BUUUU...
Foi uma correria só. G foi para um lado; D para o outro; O e U subiram numa árvore; B ficou parado: com o susto, não saía nem do canto. De cima da árvore, U perguntou: — Quem são vocês? — Somos os Pernaltas. — Falou toda sorridente a letra M. — Vocês quase nos mataram de susto. Estamos reunidos no vale após estas montanhas e viemos convidá-los para se unirem ao nosso grupo e nos fortificarmos ainda mais. — Comentou o O. — Muito bem! Sigam-nos até a nossa casa. — Concordou M. Todos caminharam para o povoado. G, que tinha corrido léguas depois do susto, foi encontrado e falou para os Pernaltas o motivo da aventura. Depois G se juntou a algumas letras e formaram: GUMO, MAGO, GEMA. Mas G continuava achando que era pouco e todos foram para a casa dos Barrigudos. Chegando lá, G se juntou de novo com os novos amiguinhos e formou: FIGA, VIGA... Tudo bem! Quando X se juntou e formou a palavra XAVECO, aí G ficou triste de novo. Foi aí que A pensou numa solução para G. Que tal se eles pudessem ser dois, três ou mais, quem sabe?
Uma lenda contava que o povo dos Vocais, para ajudar os outros, tinha um poder para se multiplicar, mas A não sabia como fazer. Muito tempo passou e as gerações se esqueceram desse poder, por não praticarem a escrita e a leitura. Sem prática, não se chega à perfeição. Resolveram ir atrás de outro povo que habitava perto dos mares: os Sentados. Eram o J, o L e o Z. Os habitantes deste povo viviam na praia. Desta vez, só o A foi com o G, mais os Pernaltas, que adoravam caminhar. Andaram, caminharam, subiram e desceram montanhas até avistarem uma praia linda, onde moravam os Sentados. Quando já desciam, ouviram um silvo: — SSSSSSSSSSS. Ficaram assustados e, de repente, na sua frente, estava uma letra, que se chamava Sinuoso; era o S. Ele juntou-se ao grupo. Passaram pelo rio que deságua na praia e viram outra letra passeando, era o Enrolado, a letra R, assim chamado porque tinha uma perninha do lado e era muito misturado. Ele também se juntou ao grupo.
Os Sentados moravam propriamente ao relento. Eram observadores, estudavam as estrelas e sonhavam um dia viajarem pelo espaço. E foi assim que o grupo os encontrou: ao relento. Juntaram-se todos ao redor de uma fogueira, pois já era noite, e muitas piadas, brincadeiras e conversas rolaram durante a madrugada toda. G ainda estava descontente, já que, com todas essas letras, não conseguia se formar muitas vezes para se fortificar. Foi dormir triste, muito triste ainda, porque A não havia achado uma forma de ajudá-lo. Todos foram dormir e A acabou sonhando com a história da lenda da multiplicação. G acordou muito cedo e foi acordar A: — Acorde, meu amigo! Temos que nos reunir no vale. — Disse cutucando A. — Ah! Bom dia, G! — Falou bocejando. G foi numa cascata próxima para tomar banho. Quando foi chegando, A já estava lá tomando banho. Achou estranho e pensou: — Ué! Como chegou aqui tão rápido? — E foi tomar seu banho. Rápido foi o seu banho. Ele retornou pelo rio para pescar o jantar e quem ele encontrou já pescando? O A. Ficou mais pensativo ainda. Olhou para A pescando e disse: — Fique aí e não saia! Ele saiu correndo de volta à cascata e quem estava lá? O A. Não pensou duas vezes e começou a gritar: — A, A, A, A, A, A, A! Em algum momento, o A aparece na sua frente: uma, duas, três vezes, e foi aí que o A original veio e viu que podia se multiplicar. Ele tinha sonhado com isso, e o segredo era o desejo de outra letra com seu desejo, e G ficou muito, muito feliz com o acontecimento.
Foram tantos os gritos de G que atrás da cascata morava uma letra que se chamava Cabeçudo. Imediatamente ele pegou este Cabeçudo, o A e o R e formou GARAPA. O Cabeçudo era a letra P. Foi só felicidade de G o resto do dia. O A tocou sem querer no R e se transformou em dois. G, mais rápido do que um raio, formou: GARRAPA. Opa! Está errado! Tirou o Cabeçudo e chamou o Pernalta F e ficou assim: GARRAFA, e se fortificaram mais ainda.
G e os amigos venceram uma batalha, formaram as palavras. E muitos amigos ficaram e formaram duas famílias: as Vogais e as Consoantes, que unidas formaram uma só família, forte e sábia. Assim tratavam-se intimamente por serem todas letras. Não eram os Pernaltas, os Cabeçudos, os Abraçados, o Enrolado, o Sinuoso, os Sentados ou os Vocais, nem o povo diferente, composto pelas letras K, W e Y, eram o ALFABETO.
O Alfabeto: essa é a grande família que unida forma um mundo novo que agora você vê. Vê porque aprendeu as letras que formam as palavras. Esse universo, na verdade, não era tão distante quanto parecia. Ele está bem ao seu alcance, à medida que seu desejo de aprender seja igual ao de G por formar palavras. Que o poder de ler e de escrever seja igual aos superpoderes das Vogais, que se multiplicam para formar palavras mais complexas e até emprestam seu poder para algumas letras para facilitar seu entendimento. Na história, sempre as letras falavam de união e força. Lembram-se do enigma do começo da história? “NINGUÉM VÊ PORQUE NÃO SABE E SÓ VAI VER QUANDO APRENDER”. Para que melhorem ainda a desenvoltura da leitura e da escrita, usem o poder dentro do seu coração. Este poder é o SABER. Texto de:
Marcos Venicio Teixeira Albuquerque Ilustrações de:
Fernando Lima
Marcos Venicio Teixeira Albuquerque
Poeta, compositor, hoje professor da rede pública de ensino do município e nascido em Itapipoca, Ceará. Graduado em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia pela Faculdade Ateneu (FATE), em Gestão e Coordenação Pedagógica pela Faculdade Padre Dourado (FACPED) e em Educação Especial, com ênfase inclusiva, pela Faculdade Metropolitana de Horizonte (FMH). Desenvolve há anos dinâmicas envolvendo os conceitos de lúdico com a aprendizagem. Neste conceito, diz que o lúdico se relaciona mais com desafios do que com a forma prazerosa da ludicidade, embora ambos caminhem juntos. Participou da Feira Científica da FATE defendendo o trabalho “Práticas pedagógicas para aplicar jogos em sala de aula: uma nova perspectiva do lúdico”. Apresentou na VIII Feira Municipal de Ciências e Cultura como orientador os trabalhos “Montagem da tabuada de multiplicação utilizando a propriedade distributiva” e “Alfabetizando com recursos textuais A batalha das letras, utilizando o teatro de fantoche com palitos” Participou de artigo publicado na obra Educação brasileira: trajetórias históricas, filosóficas em relatos, pesquisa de ensino para uma educação em tempo de mudanças, intitulado “Vivências pedagógicas afrocentradas no contexto da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental”.
O PASSO QUE EU FAÇO No passo que ando, eu faço, Mesmo nos acidentes das trilhas Que caminho, Vou indo, vou indo, vou indo... Mesmo causando embaraços. No passo que ando, eu laço, Os habitantes do admirável mundo novo. Caminho, caminho, caminho... Mas eu vou nesse compasso. No passo que ando, acho engraçado, A virtude das crianças em seu desprendimento Pela vida. Vou rindo, vou rindo, vou rindo... Mas vou deixando seus espaços. No passo que ando, transpasso: Obstáculos, preconceitos, paradigmas, transcendo Até razões e emoções. Vou indo, vou indo, vou indo... Com a imaginação até o infinito do espaço. No espaço onde o homem viu que a Terra era azul, Outro homem na Lua deu um passo. Esse passo que pode ser enorme para A humanidade, Mas na educação para formar as razões O maior passo sou eu que faço. Marcos Venicio Teixeira Albuquerque
Esta história se passa em um mundo, que embora esteja num universo distante, pode estar bem perto de cada um de nós. Para vê-lo, só com o conhecimento, pois NINGUÉM VÊ PORQUE NÃO SABE E SÓ VAI VER QUANDO APRENDER. Este é o enigma desta história.
Marcos Albuquerque