COMPLEXO CULTURAL RECREATIVO DO JARDIM PERI EDUCAÇÃO, CULTURA E LAZER PARA A PERIFERIA DE SÃO PAULO
ALUNO: FERNANDO LOPES CORDEIRO ORIENTADORA: MARIA GABRIELA CAFFARENA CELANI
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Agradecimentos A todos os docentes e funcionários da Unicamp pelo conhecimento transmitido e pelo apoio em cada dificuldade enfrentada. Em especial à minha orientadora Gabriela pela paciência, carinho e dedicação com que me orientou e ensinou, não somente durante o TFG, como em muitas outras disciplinas. Este trabalho não existiria sem sua enorme contribuição. Obrigado pelos ensinamentos de arquitetura e de vida. Aos meus colegas e amigos de faculdade que me fizeram companhia e serviram de inspiração nesses sete anos. Especialmente aos mais próximos, Fabiana, Giovanni, Giulia, Giusepe, Marina, Roberto e Tifani, que não só compartilharam o teto comigo, como também seus sonhos, anseios, alegrias e conquistas. À Juliana pela companhia nas horas de folga, pela paciência nos períodos de trabalho, pela motivação nos momentos difíceis, e por todo o amor e carinho com que tem me presenteado. À minha família por absolutamente tudo. Às minhas irmãs, Dayane e Andréa, pelo exemplo e amizade. À minha vó, Suleiga, pela afeição inacabável. À minha mãe, Silvana, e ao meu pai, Francisco, pela confiança depositada, por estarem sempre ao meu lado, e sobretudo pelo amor incondicional. Aos membros da banca por aceitarem o convite e me presentearem com seu tempo e atenção. E por fim, a todas as pessoas que de alguma forma contribuiram para a minha vida acadêmica, para o desenvolvimento do TFG e minha formação enquanto arquiteto. Obrigado a todos.
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“Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar.” (ZAHA HADID)
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Sumário Complexo Cultural Recreativo
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CONCEITOS 17 Teorias e estratégias projetuais contemporâneas
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O papel social da arquitetura e a escala urbana
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O estudo e a identidade do lugar
22
O programa aberto
23
O urbanismo sustentável
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LEVANTAMENTO 27 A escolha do lugar
29
O distrito da Cachoeirinha
32
Localização e histórico
32
Principais Vias
34
Comércio e serviços
36
Saúde
39
Lazer
40
Cultura 42 Situação Atual Jardim Peri
45 48
Pery Ronchetti Carlos (1901 – 1976)
48
Antônio Dias da Silva (1904 - 1981)
50 9
O processo de favelização
56
O córrego Guaraú, a Av. Afonso Lopes Vieira e as enchentes
60
Situação atual
67
Área de intervenção
70
Características físicas:
70
Dados climáticos:
72
Legislação urbana vigente:
75
Vistas atuais do terreno de intervenção
78
Áreas relevantes do entorno
82
PROPOSTA 87 Cultura, educação e lazer na periferia de São Paulo
89
Programas sociais
90
O Complexo Cultural Recreativo do Jardim Peri
92
ANÁLISE 97 Método SNAP:
98
Protocolo de Análise de Bairros Inteligentes
98
Participação popular
10
98
Usos e ocupação do solo
104
Análise do terreno
106
O inventário de um bairro ideal
108
Conclusões da análise SNAP:
114
PROGRAMA 117 Desenvolvendo o programa
120
Diretrizes da análise:
120
Abrindo o programa:
121
Dimensionamento e organização
125
Biblioteca 126 Cursos técnicos em biblioteca e informática
128
Curso técnico em cozinha e restaurante pedagógico
130
Curso técnico em organização esportiva
132
Administração e áreas comuns
134
Estacionamento 135 FLUXOGRAMAS 137 Biblioteca 138 Técnicos em informática e biblioteca
139
Técnico em gastronomia
140
Restaurante 140 Organização esportiva: Externo
141
Organização esportiva: Interno
141
Centro de informação
142
Centro de esporte e alimentação
143
PROJETO 145 11
Situação atual
146
Área de intervenção
148
Implantação 150 Térreo
152
1º Pavimento
154
2º Pavimento
156
Cobertura 158 Complexo Cultural Recreativo do Jardim Peri
160
Elevações 162 Cortes 163 PERSPECTIVAS 169 Implantação 172 Permeabilidade 194 Iluminação e ventilação natural
220
Estrutura 232 REFERÊNCIAS 239
12
Parque da Juventude e Biblioteca de São Paulo
241
Biblioteca Brasiliana
243
Musée national des beaux-arts du Québec
245
ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart
249
Escola de gastronomia do Senac
251
SUPSI 253 Olympic Sculpture Park
255
BIBLIOGRAFIA 257 Livros: 258 Teses: 258 Documentรกrios: 259 Documentos: 259 Sites acessados:
259
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14
Complexo Cultural Recreativo O Jardim Peri, localizado na zona norte de São Paulo, é um tipico bairro de periferia, que sofre com falta de infraestrutura, deficiências no saneamento básico e altos índices de violência. No entanto, durante anos, a maior preocupação dos moradores era com as contínuas enchentes que ocorriam devido às ocupações irregulares e o excesso de lixo sobre as águas do córrego Guaraú. Em 2010, após trinta anos de promessas e descaso por parte das diferentes administrações públicas que geriram São Paulo nesse período, o córrego Guaraú foi canalizado para dar passagem à Avenida Afonso Lopes Vieira, que conecta o bairro às zonas oeste e central da cidade. Com a canalização do córrego as enchentes acabaram e a região passou a ser alvo de investimentos tanto do setor público, que construiu novas escolas e conjuntos habitacionais, como do privado, que iniciou o processo de verticalização da área. Não obstante, o bairro ainda sofre com a completa ausência de equipamento públicos que promovam o convívio, o lazer e a cultura. Nesse contexto, a criação de edifícios capazes de suprir essa demanda é fundamental, visto que com a nova rede de escolas e o aumento da densidade, a necessidade por esses espaços tende a crescer cada vez mais. Com o papel social do arquiteto em mente, criou-se o escopo deste trabalho, que foi de estudar e aplicar teorias e estratégias projetuais de grandes mestres da arquitetura e do urbanismo contemporâneo para desenvolver um projeto de qualidade que traga cultura, educação e lazer para todos os moradores do Jardim Peri. Sendo assim, foi realizada uma análise cuidadosa e metódica da área de intervenção e de seu entorno, para assim criar um programa aberto e inclusivo, que leve em conta as características físicas, morfológicas, sociais, culturais, políticas, econômicas e climáticas de sua região. 15
“Uma nova arquitetura deveria ser ligada ao problema [...] do homem criador de seus próprios espaços, de conteúdos puros, conteúdos que criassem as próprias formas. [...] Esse tipo de arquitetura requer uma humildade absoluta da figura do arquiteto, uma omissão do arquiteto como criador de formas de vida, como artista. E a criação de um arquiteto novo, um homem novo, ligado a problemas técnicos, problemas sociais, problemas políticos, que abandone completamente toda aquela enorme herança do movimento moderno, que acarretam em amarras enormes, que são as amarras que praticamente produzem essa atual crise da arquitetura ocidental.” (LINA BO BARDI, 1972)
CONCEITOS
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Teorias e estratégias projetuais contemporâneas Um dos principais objetivos deste trabalho é levantar, estudar e aplicar teorias e estratégias projetuais utilizadas por grandes mestres da arquitetura e do urbanismo contemporâneo, para então desenvolver um projeto engajado e de qualidade, consciente das características históricas, sociais, políticas e econômicas do lugar no qual ele se insere. Em outras palavras, busca-se realizar um projeto capaz de atender às necessidades e demandas locais, e que ao mesmo tempo promova sustentabilidade e fluidez, sem restringir a liberdade de ação e o movimento que caracterizam a cidade contemporânea. Para tanto, foram estudados uma série de conceitos criados por ou relacionados a arquitetos famosos como Lina Bo Bardi, Álvaro Siza, Rem Koolhaas, ou a grupos como o CNU (Congress for the New Urbanism), que abordam temas variados e fundamentais para o desenvolvimento de uma boa arquitetura, como o papel do arquiteto na sociedade, a importância da compreensão da escala urbana e da análise fundamentada do entorno, o programa aberto, as relações figura x figura e figura x fundo, a interferência das culturas de “massa” e “congestão” na produção arquitetônica e a necessidade de se projetar cidades e edifícios sustentáveis.
Acima, à esquerda, Figura 01: Douglas Farr. Acima, à direita, Figura 02: Álvaro Siza Vieira.
Neste capítulo serão apresentados esses conceitos e seus autores, para que o leitor tenha um entendimento mais profundo de cada teoria e ideia, e para que assim possa identificar, no corpo deste trabalho, cada ideal ou ensinamento proferido por esses grandes profissionais, aplicados na prática, desde a escolha do lugar, passando pelo levantamento, definição do tema, análise, desenvolvimento do programa e criação da forma, até culminar neste projeto final de graduação.
Abaixo, à esquerda, Figura 03: Rem Koolhaas. Abaixo, à direita, Figura 04: Lina Bo Bardi. 19
O papel social da arquitetura e a escala urbana Ainda em 1972, ao ser entrevistada por Walter Lima Junior para o documentário “Arquitetura, A Transformação do Espaço”, Lina Bo Bardi já sabia explicar, com a genialidade que lhe era peculiar, o papel político-social do arquiteto e a sua importância enquanto criador de espaços: Uma nova arquitetura deveria ser ligada ao problema [...] do homem criador de seus próprios espaços, de conteúdos puros, conteúdos que criassem as próprias formas. [...] Esse tipo de arquitetura requer uma humildade absoluta da figura do arquiteto, uma omissão do arquiteto como criador de formas de vida, como artista. E a criação de um arquiteto novo, um homem novo, ligado a problemas técnicos, problemas sociais, problemas políticos, que abandone completamente toda aquela enorme herança do movimento moderno, que acarretam em amarras enormes, que são as amarras que praticamente produzem essa atual crise da arquitetura ocidental.1
Se naquela época o engajamento do arquiteto em assuntos políticos, sociais e econômicos já se fazia necessário, isso cresceu de forma estarrecedora nos últimos 40 anos. Estamos na era da informação; a Internet mudou completamente a forma como vivemos, a comunicação se tornou instantânea, transformações sociais e comportamentais ocorrem a cada instante. E não é só a informação que se movimenta com velocidade impressionante. Se cruzar oceanos tornou-se uma ação rotineira para
muitos indivíduos, o que dizer de atravessar cidades? O transporte tornou-se tema central do urbanismo, assim como o crescimento gigantesco na quantidade de automóveis e suas implicações negativas, tanto no congestionamento do sistema viário de nossas cidades, como no respiratório de todo o planeta, que também ganhou atenção especial no final do século XX. Seus recursos, cada vez mais escassos, e a ameaça do aquecimento global, fizeram com que a palavra sustentabilidade deixasse de ser apenas um conceito e passasse a ser um tema obrigatório em todas as áreas profissionais. Diante de tantas transformações sócio-políticas, é de se esperar que o papel do arquiteto e a própria produção arquitetônica devam se adequar à realidade vigente e incorporem conceitos de uma sociedade em contínua metamorfose. Poucos arquitetos compreenderam tão bem todas essas variáveis quanto Rem Koolhaas. Consciente das novas dinâmicas sociais e seguro da participação fundamental da economia e da tecnologia na formação de nossas cidades, Koolhaas fundou o OMA (Office for Metropolitan Architecture)2. Assim como Lina, ele sempre acreditou que o trabalho do arquiteto é parte de um esforço cooperativo, em contraponto à figura solitária do arquiteto-artista. Koolhaas entendeu desde o início de sua carreira, que as referências estáticas segundo as quais se produzia e se produz arquitetura já não fazem mais
1. “Arquitetura, A Transformação do Espaço”. Direção de Walter Lima Junior. Globo Shell Especial, 1972. 2. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 20
sentido nos dias atuais. Foi diante desse contexto que ele criou termos como “cultura de massa” e “cultura de congestão”, perfeitamente aplicáveis às grandes cidades brasileiras. Segundo Moneo, “para Koolhaas a cultura de massa é capaz de produzir, de construir uma cidade que tem lógica e uma razão de ser intrínseca, mesmo que nos seja apresentada sem rosto e como o resultado de intervenções em que o desejo do lucro prevalece e onde não há, de modo algum, vontade de forma.”3. Sendo assim, se torna evidente, que a única forma de construir uma arquitetura contemporânea de qualidade e devidamente engajada em grandes metrópoles, é a partir do estudo e entendimento das engrenagens do capital, da economia, da especulação imobiliária e da política na criação de nossas cidades.
jamais como um fato avulso da situação político-social na qual está inserida: A arquitetura não é um fato avulso de uma cultura ou de uma situação político-social, uma arquitetura falha é o resultado de uma cultura falha, de uma situação políticosocial falha. O arquiteto depende diretamente dessa situação político-social. O arquiteto não pode ser o homem, o artista, o criador isolado. Ele depende diretamente dessas situações político-sociais. A situação de uma arquitetura tem de ser julgada nesses termos.4
Esse olhar crítico derivado da compreensão da escala urbana, das dinâmicas econômicas e do papel político-social da arquitetura não se faz necessário somente no processo de projeto, mas também deve ser levado em consideração no momento da escolha e da análise do local, para que sejam desenvolvidos projetos verdadeiramente funcionais e que atendam de forma eficiente as reais necessidades e demandas de seus futuros usuários. Como dizia Lina, a arquitetura não pode surgir 3. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 4. “Arquitetura, A Transformação do Espaço”. Direção de Walter Lima Junior. Globo Shell Especial, 1972. 21
O estudo e a identidade do lugar Começo um projeto quando visito um sítio (programa e condicionalismos vagos, como quase sempre acontece). Outras vezes começo antes, a partir da ideia que tenho de um sítio (uma descrição, uma fotografia, alguma coisa que li, uma indiscrição). Não quer dizer que muito fique do primeiro esquisso. Tudo tem um começo. Um sítio vale pelo que é, pelo que pode ou deseja ser – coisas talvez opostas, mas nunca sem relação. Muito do que antes desenhei (muito do que outros desenharam) flutua no interior do primeiro esquisso. Sem ordem. Tanto que pouco aparece do sítio que tudo invoca. Nenhum sítio é deserto. Posso sempre ser um de seus habitantes. A ordem é a aproximação dos opostos.5
Álvaro Siza é outro arquiteto famoso por se preocupar com cada característica dos sítios em que projeta, gerando implantações inteligentes e articuladas a partir de eixos e fluxos, além de edifícios profundamente conectados com a realidade física, social e cultural de onde se inserem. Não por acaso, Siza evoca muitas vezes o histórico do local e a opinião dos moradores no desenvolvimento de seus projetos. O que torna claro que uma arquitetura de qualidade depende, e muito, do estudo cuidadoso das características de uma determinada região.
respeita a arquitetura tradicional que cerca seus projetos, mas sabe absorvê-la e transformá-la, misturando materiais e mão-de-obra local com novas técnicas e um jogo consciente e harmônico de gabaritos e formas: Dizem-me de obras minhas, recentes e antigas: baseiam-se na arquitetura tradicional da região. [...] A tradição é um desafio à inovação. É feita de enxertos sucessivos. Sou conservador e tradicionalista, isto é: movo-me entre conflitos, compromissos, mestiçagens, transformação.6
A partir da análise da obra dos arquitetos citados acima, pode-se concluir que é preciso não apenas compreender o sítio em que cada projeto se insere, mas também conhecer a realidade da construção local, para que a arquitetura construída não se torne um objeto estranho diante dos olhos da comunidade.
Entretanto, essa busca pela historicidade e pela arquitetura vernacular não impede que os projetos do arquiteto português sejam, por excelência, contemporâneos. Pelo contrário, Siza Vieira conhece, compreende, e 5. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 6. Idem. Ibidem. 22
O programa aberto Pessoalmente, quando eu fiz o projeto do museu de artes de São Paulo, minha preocupação básica foi a de fazer uma arquitetura feia, uma arquitetura que não fosse uma arquitetura formal, embora tenha ainda, infelizmente, problemas formais. Uma arquitetura ruim. E nos espaços livres que pudessem ser criados pela coletividade, assim nasceu o grande vão do museu, com a escadinha pequena. A escadinha não é uma escadaria áulica, mas uma escadinha tribuna que pode ser transformada num palanque. A maioria das pessoas acham o museu ruim, e é mesmo. Eu quis fazer um projeto ruim. Isto é, feio formalmente, arquitetonicamente, mas que fosse um espaço aproveitado, que fosse uma coisa aproveitada pelos homens.7
Mais uma vez os conceitos levantados por Lina parecem se mesclar perfeitamente às teorias desenvolvidas por Koolhaas. Defensor do “programa aberto”, o arquiteto neerlandês é famoso por suas frases de impacto, como: “Um máximo de programa e um mínimo de arquitetura”8 e “Onde não há nada, tudo é possível, onde há arquitetura, nada mais é possível.”9. No entanto, é preciso ser cuidadoso ao interpretar tal citação. Segundo Rafael Moneo: “Para Koolhaas o programa é muito mais difuso e menos diretamente relacionado com a obra a ser construída. O programa é uma categoria que propícia a construção de edifícios imprecisos e abertos. Poderíamos dizer que é
a excessiva dependência do programa o que Koolhaastenta evitar”10.
Ou seja, Rem não deseja que o arquiteto pare de atuar, mas sim que o faça de forma responsável, desenvolvendo uma arquitetura consciente das transformações e necessidades da sociedade contemporânea. Ele teme programas restritivos embasados em “arquétipos”, que eliminem as potencialidades que existiam antes de sua presença. Não basta construirmos escolas quando uma comunidade precisa de educação, uma biblioteca quando cultura é necessária. É preciso pensar mais alto. Em uma sociedade carente de recursos e que visa a verdadeira sustentabilidade, todo investimento em construção deve ser aproveitado. Para tanto, é imperativo que os edifícios não sufoquem essas potencialidades locais, mas sim as intensifique, abrigando uma grande variedade de usos que possam garantir sua utilidade em todos os períodos e dias, para que não sejam subaproveitados. Os espaços públicos existentes devem ser preservados e melhorados, para criar uma rede intersticial capaz de gerar densidade, segurança e interesse, configurando-se em áreas de passagem, permanência e reunião. O arquiteto deve atuar portanto, como um catalisador, capaz de interpretar e reorganizar as necessidades e anseios das comunidades contemporâneas.
7. “Arquitetura, A Transformação do Espaço”. Direção de Walter Lima Junior. Globo Shell Especial, 1972. 8. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 9. Idem. Ibidem. 10. Idem. Ibidem. 23
O urbanismo sustentável Assim como Le Corbusier e outros arquitetos modernistas se juntaram anos atrás para discutirem e redigirem a Carta de Atenas, um grupo numeroso de arquitetos e urbanistas contemporâneos fundaram em 1993 o CNU (Congress for the New Urbanism) e redigiram os “Cânones da arquitetura e urbanismo sustentável”, com o objetivo de criar um documento que listasse e propusesse de forma clara, quais deveriam ser as principais preocupações destes profissionais ao projetar nossas cidades. Com preceitos que focam na importância da longevidade dos edifícios, na relação com a natureza, na diversidade de usos, na eficiência, na permeabilidade, e na relação com o pedestre, o documento funciona como um guia eficiente na busca por uma arquitetura de qualidade. Dentre os principais defensores desse novo urbanismo, destaca-se Douglas Farr - integrante da Farr Associates - e sua obra “Sustainable Urbanism”, datada de 2007. Nela o autor apresenta conceitos e estudos de caso, discutindo uma série de padrões urbanos que precisam ser revistos. Farr chama a atenção para a importância do contexto ao se pensar arquitetura: Já não é aceitável construir uma edificação de alto desempenho em uma área ainda não urbanizada, em um contexto dependente de automóveis e certificá-la como sustentável. Já não é suficiente fazer um empreendimento com uma implantação responsável e construir um bairro
admirável, que respeite os pedestres e tenha usos mistos, se o nível de recursos necessários para a construção e a manutenção das edificações for ignorado. A época das meias medidas já passou. [...] O urbanismo sustentável é aquele com um bom sistema de transporte público e com a possibilidade de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho. A compacidade (densidade) e a biofilia (acesso humano à natureza) são valores centrais do urbanismo sustentável. [O urbanismo sustentável] engloba três elementos essenciais: bairros, distritos e corredores. [...] Os bairros são “compactos, respeitam os pedestres e têm uso misto”. Os distritos, como os bairros, deveriam ser compactos e respeitar os pedestres, mas ter, normalmente, uso único – tal como um campus universitário ou parque industrial. Os corredores, variando de “bulevares e linhas de metrô a rios e estradas -parque, intercomunicam bairros e distritos”
Fica claro, portanto, a importância de uma densidade considerável para justificar a implantação de determinados usos. Outro ponto abordado por Farr é a ineficiência do zoneamento focado no uso (assim como o Plano Diretor atual de São Paulo) e não na forma (Como as propostas para o novo Plano): O zoneamento convencional geralmente ignora a forma das edificações e foca apenas no uso. O resultado tem sido edificações genéricas [...] Os códigos baseados na forma focam na forma da edificação e como ela afeta os espaços públicos. Ao voltar as edificações para as ruas e os espaços públicos em vez de para estacionamentos e
11. FARR, Douglas. “Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza”. Porto Alegre: Bookman, 2013. 24
espaços privados, os espaços públicos são redefinidos da escala orientada para automóveis para a escala orientada para os serem humanos.12
Farr também propõem um protocolo de análise de bairros sustentáveis denominado SNAP (Sustainable Neighborhoods Analysis Protocol), que será utilizado como método para analisar a área de intervenção deste trabalho e estabelecer suas principais demandas. Nele, o autor define equipamentos fundamentais para um bairro ideal e os mapeia, identificando nós de atividade, marcos urbanos, barreiras e eixos de circulação. Para finalizar, Farr chama atenção para o “Terceiro Lugar”, outro conceito que será extremamente explorado ao longo deste memorial: O terceiro lugar é um termo usado no conceito de construção de uma comunidade para se referir ao ambiente social separado dos dois ambientes habituais da casa e do trabalho. Em The Great Good Place, Ray Oldenburg (1989) argumenta que terceiros lugares são importantes para a sociedade civil, democracia, participação cívica, e estabelecendo os sentimentos de um sentido de lugar. Terceiros lugares são “âncoras” da vida da comunidade e facilitam e promovem a interação mais ampla e criativa. Todas as sociedades já têm pontos de encontro informais, o que é novo nos tempos modernos é a intencionalidade de procu-
rá-los como vital para as necessidades da sociedade atual. As características de um “terceiro lugar” são as seguintes: •
Grátis ou de baixo custo;
•
Alimentos e bebidas, embora não essenciais, são importantes;
•
Altamente acessível: imediata para muitos (a pé);
•
Envolver regulares - aqueles que habitualmente se reúnem lá;
•
Acolhedor e confortável;
•
Ambos novos amigos e velhos devem ser encontradas lá;13
A obra de Douglas Farr, completa e extremamente detalhada, será utilizada como guia durante todo o processo de projeto, do estudo ao desenho final, para que assim, possa-se obter uma arquitetura verdadeiramente sustentável. Os preceitos e cânones listados por ele são inúmeros e serão citados cada vez que forem usados como referência de estudo ou definição projetual.
12. FARR, Douglas. “Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza”. Porto Alegre: Bookman, 2013. 13. Idem. Ibidem. 25
“Começo um projeto quando visito um sítio (programa e condicionalismos vagos, como quase sempre acontece). Outras vezes começo antes, a partir da ideia que tenho de um sítio (uma descrição, uma fotografia, alguma coisa que li, uma indiscrição). Não quer dizer que muito fique do primeiro esquisso. Tudo tem um começo. Um sítio vale pelo que é, pelo que pode ou deseja ser – coisas talvez opostas, mas nunca sem relação. Muito do que antes desenhei (muito do que outros desenharam) flutua no interior do primeiro esquisso. Sem ordem. Tanto que pouco aparece do sítio que tudo invoca. Nenhum sítio é deserto. Posso sempre ser um de seus habitantes. A ordem é a aproximação dos opostos.” (ÁLVARO SIZA VIEIRA)
LEVANTAMENTO
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A escolha do lugar O ponto de partida para desenvolver a proposta deste trabalho foi a escolha do lugar. O Jardim Peri, localizado próximo à Serra da Cantareira, no distrito da Cachoeirinha, na Zona Norte de São Paulo, é um bairro carente que sofre com problemas que afligem a maior parte das periferias paulistanas, como a falta de infraestrutura básica, pouco acesso à educação, falta de áreas de lazer, ausência de equipamentos culturais, grande quantidade de lixo nas ruas, altos índices de violência, tráfico de drogas intenso e um número alarmante de usuários. Esses indicadores negativos, juntamente com o desejo de projetar algo com forte caráter social em um local que evidentemente teve sua formação derivada do poder da cultura de massa e de sua capacidade de criar cidades espontâneas a partir da força do capital, da política e da necessidade, tornaram esse o local perfeito para o desenvolvimento deste projeto. Com o bairro situado em uma região de vale, os moradores sofreram durante anos com grandes enchentes - derivadas da enorme quantidade de lixo nas ruas, e das favelas que se desenvolveram sobre o córrego Guaraú - que não só levavam consigo seus bens materiais como os preparavam para o pior, com a certeza de que haveriam outras. Em 2010, após trinta anos de promessas de diferentes administrações públicas, o córrego foi canalizado, com a criação da Av. Afonso Lopes Vieira, que liga a zona norte à oeste da cidade, e a realocação de várias famílias para conjuntos habitacionais. A mudança trouxe consigo a especulação imobiliária e investimentos púAo lado, Figura 05: Córrego Guaraú após canalização. [2011]
blicos e privados para região, que começa a presenciar os primeiros sinais de
Na próxima página, Figura 06: Foto aérea do distrito da Cachoeirinha [2014].
mentos culturais e recreativos.
verticalização, mas que ainda sofre com a falta de infraestrutura e de equipa-
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O distrito da Cachoeirinha É impossível compreender verdadeiramente a área de estudo escolhida, assim como suas demandas e potencialidades, sem antes conhecer o contexto urbano no qual ela se insere. Com esse intuito, foi feita primeiramente uma breve análise acerca do distrito da Cachoeirinha, levantando sua localização, história, características físicas, sociais, culturais e econômicas, além dos principais equipamentos urbanos que o servem.
Localização e histórico Localizado no extremo norte da cidade de São Paulo, o distrito da Cachoeirinha é parte integrante da subprefeitura da Casa Verde e tem uma grande parcela de sua área de aproximadamente 13,30Km² ocupada pela Serra da Cantareira. Com população de mais de 143.000 habitantes, tem como distritos limítrofes: Brasilândia (à oeste); Freguesia do Ó (à sudoeste); Limão e Casa Verde (à sul); Santana (à sudeste); Mandaqui (à leste). Sua história está intimamente conectada com a da imensa colônia nipônica que habita suas terras há mais de 80 anos. Não por acaso, a data oficial de fundação do distrito é a mesma da Associação Cultural Esportiva Nipo Brasileira, 5 de agosto de 1933. Sediada na avenida Penha Brasil, a primeira organização popular local foi fundada por famílias tradicionais da região que visavam unir os moradores e preservar a cultura tradicional japonesa, através de atividades culturais e esportivas, como ensino do idioma e formação de equipes de vôlei, futebol de salão, tênis de mesa e judô. O nome do distrito, que também é conhecido por Vila Nova Cachoeirinha, a mesma denominação de um de seus bairros, tem sua origem em uma cachoeira que foi soterrada em 1976 para dar passagem à Avenida Inajar de Souza, que conecta os bairros da Freguesia do Ó, Limão, Cachoeirinha e Brasilândia.
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Ao lado, Mapa 01: Divisão territorial e administrativa de São Paulo.
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Principais Vias
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•
Av. Deputado Emílio Carlos: onde estão localizados o Hospital de Vila Nova Cachoeirinha, do Estado, e o Hospital Municipal Maternidade Escola, pontos referenciais da população, assim como o cemitério municipal;
•
Av. Parada Pinto: importante eixo comercial e de serviços, conta com uma grande variedade de lojas de pequeno porte, além do Hipermercado Andorinha e de um Shopping Center de mesmo nome É também o principal centro bancário do distrito e uma importante ligação com a região do Mandaqui;
•
Av. Imirim: outro importante eixo comercial, é também a principal ligação entre a Cachoeirinha e o terminal de metrô mais próximo, localizado em Santana;
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Avenida Inajar de Souza: onde está localizado o corredor e o único terminal de ônibus do distrito, o Vila Nova Cachoeirinha. Juntos são a principal opção de transporte público para muitos moradores que pretendem seguir para o centro da cidade. Entretanto, assim como a maior parte do transporte público e vias de São Paulo, ambos sofrem para atender com eficiência a alta demanda de todos os bairros próximos;
•
Av. Pery Ronchetti: Apesar de não possuir grande relevância para o distrito como um todo, é a principal avenida do Jardim Peri, onde está localizada a maior parte dos estabelecimentos comerciais e de serviços do bairro;
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Av. Afonso Lopes Vieira: Inaugurada em 2010 pelo então prefeito Gilberto Kassab, a avenida foi construída nas margens do córrego Guaraú que foi canalizado, sua história, assim como seu impacto para a região será mais detalhada ao longo deste trabalho;
Ao lado, Mapa 02: Principais vias e equipamentos do Distrito da Cachoeirinha.
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Comércio e serviços •
Largo do Japonês: Foi por volta de 1944, que nasceu no Largo do Japonês a primeira casa comercial do bairro, pertencente à família de imigrantes Sushiyama. Outra antiga “venda”, como eram conhecidos os mercadinhos daquela época, foi a de Shigheioshi Otiai, no Largo da Parada (onde funcionou o Supermercado Otiai). Desde então, o largo se transformou no principal centro comercial do bairro, grandes marcas de varejo passaram a construir suas lojas na região, assim como a Marabraz, as Casas Bahias, o Extra Electro, a Magazine Luiza e a Besni. Franquias famosas de lanchonetes, como o Mc’Donald’s, o Habib’s e Giraffas fizeram o mesmo. A área também conta com uma grande variedade de serviços básicos, como salões de beleza, barbearias, costureiras, lavanderias e sapateiros.
•
Hipermercado Andorinha: Localizado na Av. Parada Pinto, o mercado é um dos principais polos comerciais da região, atraindo pessoas de todos os bairros próximos. Com o crescimento financeiro decorrente do considerável volume de clientes que o frequentam, os proprietários puderam ampliar sua área e inaugurar um Shopping Center no terreno adjacente. Nos seus arredores encontram-se também outros comércios e serviços de menor porte, além do maior polo bancário do distrito, contando com mais de dez agências de diferentes bancos.
Acima, Figura 07: Largo do Japonês. [2014] Abaixo, Figura 08: Hipermercado Andorinha. [2014] 36
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Saúde •
Hospital Geral da Vila Nova Cachoeirinha: Localizado na Av. Deputado Emílio Carlos, é o maior hospital público do distrito. Oferece atendimentos nas áreas clinicas, ambulatoriais, de recursos de diagnóstico de imagem, análises clinicas, eletrocardiograma e serviço de informação ao cidadão (SIC).
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Hospital Municipal Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha: Localizado ao lado do Hospital Geral, foi fundado em 1972 e é considerado referência nacional no atendimento à Saúde da Mulher, da Gestante e do Recém Nascido de Alto Risco. Atende uma demanda de aproximadamente 3700 pacientes por mês.
À esquerda, Figura 09: Hospital Geral da Vila Nova Cachoeirinha. [2014] Nesta página, à direita, Figura 10: Hospital Municipal Maternidade Escola Vila Nova Cachoeirinha. [2014] 39
Lazer •
Horto Florestal: a opção de lazer mais próximo dos moradores da Cachoeirinha encontra-se fora dos limites do distrito e é um dos maiores espaços de ócio de toda a Zona Norte. O Parque Estadual Alberto Löfgren, mais conhecido como Horto Florestal, é famoso por suas extensas áreas de Mata Atlântica, assim como por suas trilhas e equipamentos de lazer e esporte. A biodiversidade do parque também é rica e representativa, possui importantes coleções arbóreas e inúmeras espécies exóticas, como o eucalipto e o pinheiro-do-brejo, com suas raízes esculturais (algumas centenárias), além de outras nativas, como o pau-brasil, o carvalho-nacional, o pau-ferro, o jatobá, entre outras. É comum observar bandos de tucanos, maritacas, jacus, capivaras, esquilos, bugios, macacos-prego, garças, socó, e mergulhões por todo o parque. Também existem lagos e bicas d’água potável que brotam de seu solo, o que juntamente com as belas alamedas, oferecem ao visitante um espaço acolhedor e vibrante para caminhar, andar de bicicleta, se divertir ou fazer piqueniques.
Nesta página, acima, Figura 11: Entrada principal do Horto Florestal. Acima, à esquerda, Figura 12: Pedalinhos do Horto Florestal. Acima, à direita, Figura 13: Trilha no Horto Florestal. Abaixo, Figura 14: Playground do Horto Florestal.
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Cultura •
Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso: localizado na av. Deputado Emílio Carlos, próximo ao Largo do Japonês. Foi inaugurado em 27 de março de 2006, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura. O local que possui área de mais 8.000m², reúne biblioteca, anfiteatro, teatro de arena, sala de projetos, Internet Livre em banda larga, laboratório de idiomas, laboratório de pesquisas, estúdio para gravações musicais, ilhas de edição de vídeo e de áudio, ateliê de artes plásticas, sala de oficinas e galeria para exposições, além de uma ampla área de convivência.
•
Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha: Fundada no dia 31 de março de 2012, na esquina da rua Franklin do Amaral com a Av. Conselheiro Moreira de Barros, ao lado da torre de água da SABESP, o projeto é de responsabilidade da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e conta com ampla grade de atividades de Ateliês de Criação e Trilhas de Produção, abordando as linguagens artísticas de teatro, circo, música, artes visuais, literatura, multimeios, dança e capoeira. Possui também uma biblioteca dotada de acervo selecionado e computadores para consultas na internet. Além de atender jovens e adultos da região, também proporciona sessões de contações de história, encontro de leitores e exibições de filmes. O Programa Fábrica Aberta promove shows, apresentações de grupos de teatro e dança, encontros de trocas culturais, eventos de difusão juvenil, e outras diversas atrações.
Acima, Figura 15: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso. Abaixo, Figura 16: Hall da Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha. 42
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Situação Atual Hoje a maior parte dos moradores do distrito pertencem à classe C (63%), enquanto uma pequena parcela faz parte da classe B (26%), e porções muito pequenas completam as demais classes. Não obstante, é importante ressaltar que esses marcadores sempre foram falhos em avaliar as condições de vida da população, visto que uma renda média de R$ 874,21 (Média do morador da Cachoeirinha) é extremamente baixo para sustentar uma família em uma cidade como São Paulo. Tal constatação se torna ainda pior se for considerado que muitos provavelmente recebem abaixo dessa média. A atual densidade demográfica de 10.791Hab/Km² pode ser considerada baixa em comparação com os maiores distritos paulistanos, como Bela Vista (26.715 Hab/Km²), República (24.774 Hab/Km²) e Santa Cecília (21.466 Hab/ Km²), entretanto, se for levado em consideração o fato de que quase metade da área em questão é ocupada pela Serra da Cantareira, é possível dobrar esse número que tende a aumentar cada vez mais. A grande oferta de comércio e serviços juntamente com o constante crescimento da capital paulista rumo à periferia, tem atraído muitos empreendimentos imobiliários que trazem consigo a verticalização e uma consequente transformação da paisagem local.
Ao lado, Figura 17: Lago do Horto Florestal.
Apesar desse crescimento ter resultado em uma série de benefícios, como melhorias na infraestrutura e no saneamento básico, pontos consideravelmente deficientes em alguns bairros, ele trouxe também o aumento do tráfego e consequentes congestionamentos na Avenida Parada Pinto, e no cruzamento com outras vias importantes, como as Av. Conselheiro Moreira de Barros, Rua Domingos José Sapienza e Rua Said Saad, todas importantes rotas de ônibus para as proximidades da Serra da Cantareira, como o Jardim Peri, o Jardim Antártica, e a Pedra Branca.
Na próxima página, Figura 18: Foto aérea do Jardim Peri. [2014] 45
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Jardim Peri Localizado no coração do distrito da Cachoeirinha, o Jardim Peri tem sua história intimamente conectada à vida de seu fundador, Pery Ronchetti, que dá nome a principal avenida do bairro, de seu mais antigo morador, Antônio Dias da Silva, e ao processo de favelização ao longo das margens do córrego Guaraú. São esses eventos e transformações que serão estudadas e apresentadas nas páginas seguintes deste trabalho, assim como a construção da Avenida Afonso Lopes Vieira e as transformações decorrentes dessa obra.
Pery Ronchetti Carlos (1901 – 1976) A história do Jardim Peri remonta ao século XIX e à chegada da família de seu fundador ao Brasil. Nascido em 1901 no bairro da Vila Prudente, Pery Ronchetti Carlos era filho de Carlos Ronchetti e Aída Buzzani Ronchetti, imigrantes italianos que vieram ao Brasil em busca de novas oportunidades e com a intenção de instalar suas primeiras tecelagens em terras tupiniquins. Assim como seu pai, Pery dedicou-se a tecelagem, tendo iniciado sua vida profissional na Indústria de Tecidos Nascimento & Pelosini Ltda., na Rua Marechal Deodoro, fabrica essa que ele mesmo compraria anos mais tarde, em sociedade com seu irmão Pensier Ronchetti e seu cunhado José D’Angelo, e rebatizaria com o nome de Tecelagem de Seda Sul-Americana, iniciando dessa forma, sua vida de empresário e industrial. No dia 7 de maio de 1951, Pery adquiriu de Sylvia Ferreira de Barros, uma grande Gleba de 1 milhão de metros quadrados na Zona Norte da cidade, Gleba essa que viria a se tornar o bairro do Jardim Peri, antes conhecido como Bairro do Guaraú e parte do 4º Subdistrito da Nossa Senhora do Ó. Lá fez o primeiro loteamento do bairro que tinha como ruas originais a Estrada de Santa Inês, a Avenida Pery Ronchetti, e as ruas Paulo Martins, Rosa Martins, Dirce Arcuri, Nadir Campos Camargo, Índio Pery, Moacir Fogo, Helena dos Santos e Durval 48
Acima, à esquerda, Figura 19: Pery Ronchetti Carlos. [1952] Acima, à direita, Figura 20: Ruas sendo abertas no início da fundação do Jardim Peri. [déc.50] Abaixo, Figura 21: Cruzamento das avenidas Estrada Santa Inês com a Av. Parada Pinto, no entroncamento da linha férrea - Estação Parque Modelo - do antigo Tremway da Cantareira, importante meio de transporte coletivo na época. [déc.50]
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Barreto. Em 1952, Pery casou-se com Marianna Caligiuri Ronchetti e se mudou para São Bernardo, onde os irmãos Ronchetti compraram do industrial Ítalo Setti, o prédio da antiga Cia. Tecelagem de Sede Villa de São Bernardo, situada na atual Av. Brigadeiro Faria Lima, 1790. Transferindo para lá as instalações da indústria de Tecidos Sul Americana, que passou a chamar-se Tecelagem Aída, tendo Pery Ronchetti como presidente e seus irmãos Pensier e Bruno, além de seu cunhado José D’Angelo, como sócios. A tecelagem que encerrou suas atividades em 1968 fabricava principalmente tecidos de seda para gravatas. Pery Ronchetti foi um dos pioneiros da industrialização de São Bernardo e passou seus últimos dias dividindo seu tempo entre sua casa e uma fazenda que possuía em Itapetininga. Faleceu em São Bernardo do Campo no dia 30 de janeiro de 1976.
Antônio Dias da Silva (1904 - 1981) Muito da história do Jardim Peri se confunde com a do seu primeiro morador, e talvez o homem mais importante para o seu consequente desenvolvimento. Antônio Dias da Silva nasceu no dia 16 de Janeiro de 1904, na cidade do Porto em Portugal. Foi em busca de melhores oportunidades, que após o período de guerras, veio ao Brasil, mais especificamente ao bairro de Santana, onde iniciou os negócios da família. Construtor e comerciante, o jovem Dias da Silva chegou ao Jardim Peri em 1948, antes mesmo do loteamento receber o nome que conhecemos hoje, e em 1950 construiu o primeiro armazém e a primeira residência do bairro, no atual número 763 da Avenida Pery Ronchetti, Muitas das benfeitorias de sua época foram reivindicadas a partir das cobranças que Antônio Dias organizava junto aos moradores locais em busca do progresso do Jardim Peri. Sua luta trouxe, entre outras coisas, o primeiro apa50
Acima, Figura 22: Família Dias da Silva em passeio pelo córrego Guaraú. [1949] Abaixo, à esquerda, Figura 23: Sr. Antônio Dias da Silva em frente a sua residência na Av. Peri Ronchetti, 763. [1973] Abaixo, à direita, Figura 24: Primeiro armazém construído na Av. Peri Ronchetti por Antônio Dias da Silva. [1950]
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relho de telefone do bairro, a luz elétrica e o primeiro serviço de microfone que servia à comunidade. A primeira ambulância do bairro foi doada pelo próprio Dias da Silva. Em uma de suas propriedades na avenida Pery Ronchetti, funcionou a primeira escolinha primária de admissão e de datilografia, voltada para a alfabetização dos moradores da região, assim como a primeira capela do bairro, a de Nossa Senhora de Aparecida, local onde todo o dia, às seis horas da tarde, rezavam-se missas pelo serviço de microfone instalado. Em 1953, a pedido de Antônio Dias, o também português, Berlamino de Ascenção, inaugurou a Brasil Luxo, empresa de ônibus responsável por disponibilizar o primeiro circular do bairro, com a linha Pery/Santana, que partia da frente do armazém do sr. Dias, na Av. Pery Ronchetti, até a Av. Voluntários da Pátria em Santana. O comerciante português era também um promotor de festividades, como quermesses e outras festas típicas. Nos fins de semana era comum, nos fundos de sua residência, em um paredão, a projeção de filmes de forma gratuita para toda a população. Na década de oitenta uma rua do bairro recebeu o nome Antônio Dias da Silva em sua homenagem. Faleceu no dia 21 de novembro 81.
Acima, à esquerda, Figura 25: Capela de Nossa Sra. Aparecida, primeira capela do bairro. [1958] Acima, à direita, Figura 26: Primeiro ônibus do Jardim Peri. [1953] Abaixo, Figura 27: No centro da foto, de bolsa, está a mulher do governador, Sra. Leonor Mendes de Barros,com o casal Antonio Dias da Silva e Maria Luisa, juntamente com moradores pioneiros do bairro durante visita à Capela de Nossa Sra. Aparecida. [1958] Na próxima página, Figura 28: Favela do Sucupira vista da Av. Afonso Lopes Vieira. [2011]
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O processo de favelização
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•
Favela do Flamengo: Instalada no alto da cabeceira do córrego Guaraú e a 100 metros da boca adutora da Sabesp e bem próxima ao pé da serra, a favela tem sua origem vinculada a construção do sistema da Cantareira e da Estação de Tratamento de Água (ETA) em 1969. Os trabalhadores braçais que haviam participado dessa construção, a maioria deles vindos de outras regiões do país, como Centro-Oeste, Norte e Nordeste, acabaram, por falta de condições financeiras ou melhores opções, construindo suas moradias às margens do córrego de forma retilínea, seguindo-o curso abaixo e se unindo às outras favelas da região;
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Favela do Sucupira: Em 1979, precisando de um terreno extenso para construir o complexo de prédios do Fórum da Barra Funda, o então governador Paulo Maluf optou pela solução mais fácil, rápida e barata, pelo menos para a administração pública. Ele realocou centenas de famílias de uma favela no bairro, para um terreno próximo que seria utilizado para a construção da área de lazer do Jardim Peri, próximo ao córrego do Guaraú. A promessa do prefeito Olavo Setúbal era de que a favela seria temporária e de que mais tarde seriam criadas habitações populares para todas as famílias removidas, entretanto isso nunca aconteceu e devido à falta de opção da população carente, ela cresceu cada vez mais, em direção às margens do córrego e em todos os terrenos próximos que estivessem desocupados, ficando conhecida como Favela do Sucupira. O prefeito seguinte, Reinaldo de Barros nada fez para mudar a situação, e a comunidade seguiu sofrendo com o descaso das administrações públicas por anos, até a chegada das obras de canalização do Guaraú e do asfaltamento da Av. Afonso Lopes Vieira.
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Favela do Peri Velho: Incrustada entre as duas favelas supracitadas, surgiu como resultado natural da expansão delas.
Ao lado, Mapa 03: Localização das favelas antes da canalização do córrego Guaraú.
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Nesta página, acima, à esquerda, Figura 29: Enchente na rua Brasiluso Lopes. [2008] Nesta página, à esquerda, Figura 30: Enchente na rua José Carlos Rodrigues. [2009] Acima, à esquerda, Figura 31: Trecho da favela do Sucupira sobre o córrego Guaraú. [2006] Acima, à direita, Figura 32: Trecho à céu aberto do córrego Guaraú. [2011] No centro, à esquerda, Figura 33: Barracos da favela do Sucupira sobre o córrego Guaraú. [2007] No centro, à direita, Figura 34: Córrego Guaraú cortando a Rua Antonio Dias da SIlva [2009] Abaixo, à esquerda, Figura 35:Transbordamento do córrego Guaraú na rua Brasiluso Lopes devido ao excesso de lixo. [2007] Abaixo, à direita, Figura 36:Transbordamento do córrego Guaraú na rua Brasiluso Lopes devido ao excesso de lixo. [2007] 58
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O córrego Guaraú, a Av. Afonso Lopes Vieira e as enchentes Margeado e completamente tomado pelas favelas construídas sobre suas águas, o córrego Guaraú, que antes dava nome ao bairro e era um importante espaço de lazer, transformou-se em uma espécie de lixão à céu aberto. Essa transformação, decorrente da falta de um serviço de coleta eficiente, da inexistência de saneamento básico e da ausência de conscientização por parte dos moradores, fez com que o curso d’água não mais pudesse conter as chuvas, gerando enchentes periódicas. Os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro passaram a ser sinônimos de tragédia para as famílias que chegavam a perder todos os seus bens nos frequentes alagamentos. Para minimizar essas perdas, há mais de 30 anos criou-se um projeto de urbanização da Favela do Sucupira. Porém, foi somente na gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2005) que a pavimentação da Avenida Afonso Lopes Vieira seguiu com maior velocidade. Foi também em sua gestão que muitos barracos e palafitas sobre as águas foram desapropriados para dar passagem à continuação da avenida e possibilitar a recuperação do córrego. Essas famílias foram realocadas para conjuntos habitacionais construídos na região do Jaraguá. Entretanto, com o completo descaso da administração José Serra (2005-2006) para com as obras em questão, e as dificuldades financeiras enfrentadas pelos moradores para pagar contas e taxas, muitos acabaram voltando a ocupar áreas abandonadas próximas ao córrego. Em 2007, já na gestão de Gilberto Kassab, a obra de canalização do córrego ganhou novo fôlego. Com a promessa de acabar com as enchentes, o prefeito passou a executar as obras em caráter de emergência com o objetivo de finalizá-la em julho de 2008. Assim como seus antecessores, ele não teve sucesso em cumprir o prazo, conseguindo inaugurar as obras, ainda inacabadas e sob denúncias de falta de segurança durante sua execução, somente em 2010. Não obstante, a inauguração das obras não foi um completo sucesso. Ape60
Ao lado, Mapa 04: Córrego Guaraú antes das obras na avenida Afonso Lopes Vieira.
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sar de alegar que a pavimentação e extensão da Avenida Afonso Lopes, juntamente com a canalização do córrego Guaraú, beneficiariam diretamente cerca de vinte mil pessoas que não mais sofreriam com enchentes, o prefeito sofreu duras críticas por parte dos moradores, indignados pelo fato da obra não estar totalmente concluída. ‘’Não há iluminação na pista, cadê a passarela para atravessarmos de um lado para o outro? E as crianças para chegarem à escola como será? Eles têm que andar mais de 1Km para dar a volta e chegar à escola”1. – indaga Ivanildo, morador do bairro. Desde a conclusão da obra a região não registrou mais nenhuma enchente. Com mais de 1Km de extensão, a nova via de duas pistas e três faixas de rolamento por sentido, foi realizada pela Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB), e conecta a avenida Afonso Lopes Vieira à praça Dom Helvécio Gomes de Oliveira, e às avenidas Maria Antonieta Martins, Mariana Caligiori Ronchetti e Peri Ronchetti, melhorando o acesso aos bairros do Jardim Peri e Vila Amália, além de configurar-se como um importante eixo de circulação em direção à Marginal Tietê. Além das canalizações a SIURB em conjunto com a Subprefeitura de Casa Verde e com o Departamento de Iluminação (ILUME), executou as obras de remodelação do Largo do Jardim Peri, com reurbanização, plantio de 2.240 espécies de mudas de árvores. No total foram gastos mais de R$ 15 milhões desde julho de 2007.
Ao lado, Mapa 05: Configuração das favelas e do córrego Guaraú após as obras na avenida Afonso Lopes Vieira.
1. fonte: http://perinews2009.blogspot.com.br, acesso em maio/2014 62
Na próxima página, Figura 37: Trecho da avenida Afonso Lopes Vieira após a canalização do córrego Guaraú. [2014]
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Situação atual Atualmente o Jardim Peri se caracteriza como uma zona predominantemente residencial, mas com grande quantidade de estabelecimentos comerciais e de serviços, que se concentram sobretudo na Av. Peri Ronchetti. A principal avenida do bairro abriga uma considerável variedade de estabelecimentos, além de igrejas e um posto de saúde. O transporte público, por sua vez, pode ser considerado satisfatório, ao menos nas principais vias. A maior parte das linhas se dirigem até Santana, estação de metrô mais próxima que está à 40 minutos de viagem. Caso o passageiro queira acessar os trens da CPTM, os ônibus disponíveis seguem em direção à Lapa ou à Barra Funda, em trajetos que demoram cerca de 50 minutos. Apesar desses indicadores positivos, há uma completa ausência de equipamentos culturais e de lazer, obrigando os habitantes a se locomoverem até o Horto Florestal ou ao Centro Cultural Ruth Cardoso, deslocamento que só é possível a partir do transporte público, visto que ambos situam-se à quilômetros de distância em um terreno em aclive, íngreme e acidentado. Os moradores também sofrem com problemas graves, como a carência de saneamento básico em algumas áreas, o excesso de veículos em vias estreitas e mal pavimentadas, o lixo nas ruas, a falta de serviços públicos básicos e os altos índices de violência, derivados sobretudo do tráfico e consumo de drogas.
Ao lado, Figura 38: Favela do Sucupira a partir da Av. Afonso Lopes VIeira. [2011] Na próxima página, Figura 39: Foto aérea do área de intervenção. [2014]
As obras de canalização do córrego e a extensão e pavimentação da Avenida Afonso Lopes Vieira trouxeram consigo grandes transformações. O fim das enchentes juntamente com a nova conexão cidade-bairro valorizaram a região e atraíram investimentos tanto do setor público como do privado. Dois conjuntos habitacionais do CDHU foram construídos próximos à avenida, assim como uma nova rede de escolas públicas. Edifícios altos também começaram a surgir, trazendo consigo os primeiros indícios de uma futura verticalização. 67
68
69
Área de intervenção A opção pelo terreno localizado no centro da Avenida Afonso Lopes Vieira é simbólica. Sua construção e a consequente canalização do córrego Guaraú deram fim as enchentes, que eram até então, o principal problema da área. No entanto, a obra foi entregue ainda inacabada, e apesar de inúmeras reivindicações e apelos, grande parte da avenida não recebeu iluminação pública, e como se não fosse o suficiente, não há formas de pedestres atravessarem a via, exceto contornando-a, o que demanda muito tempo devido a sua longa extensão.
Características físicas: Com área de aproximadamente 27.000m², a quadra está ocupada por algumas casas térreas geminadas (localizadas na Rua Augusto Gil), pelo casarão da família Watanabe (conhecida no distrito por suas lojas de materiais de construção), com acesso através de uma rua sem saída, e por um imenso vazio urbano, subaproveitado como depósito e ocupado por pequenos galpões com alguns materiais de construção. Dessa forma, esse vazio é rotineiramente utilizado como ponto de consumo de drogas, visto a falta de iluminação pública e a ausência de usos que tragam movimento e segurança. Tudo isso é alarmante, já que o terreno em questão é claramente uma área de potencialidades infinitas. Situada em frente à avenida recém aberta e que aos poucos vem se tornando o principal eixo viário do bairro, o sítio está rodeado por equipamentos públicos importantes, como escolas, posto de saúde, e conjuntos habitacionais de interesse social, o que o transforma em um ponto vital para a construção de um bairro sustentável. Com acessos possíveis em todas as suas faces e uma topografia levemente em aclive, o local é perfeito para a instalação de qualquer equipamento de grande porte, já que sua localização privilegiada facilitaria o acesso tanto na escala local como na regional. 70
Mapa 06: Área de intervenção Escala 1:2000
71
Dados climáticos: Para analisar o clima de São Paulo, foram consultados dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)1, coletados a partir da estação meteorológiData VelocidadeVentoMedia DirecaoVento ca do Mirante de Santana, próximo JAN 3,05 SE à área de estudo, entre 1 de janeiro de 2013 FEV e 31 de dezembro de 2013.2,50 Ao SE observar os dados, não há grandes surpresas MAR 2,83 SE com relação ao que já é conhecido ABR 2,47 SE sobre o clima da cidade. MAI 2,27 SE JUN Considerando os ventos,2,05 NW podemos ver no gráfico 01 que nos meses de inJUL 2,26 NW verno há uma inversão na direção predominante, que passa de SE (Sudeste) AGO 2,53 NE para NO (Noroeste), assim 2,58 comoSE um diminuição da velocidade, o que é extreSET OUT 2,96 SE mamente positivo para se planejar a ventilação cruzada no período do verão NOV 2,90 SE sem correr o risco de ambientes muito frios no inverno. DEZ 3,25 NW velocidade média dos ventos (m/s) 3,50 3,00
SE
SE SE
2,50
SE
SE
2,00
NO
NO
NE
SE
AGO
SET
NO
SE
SE
OUT
NOV
1,50 1,00 0,50 0,00
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
DEZ
No caso dos gráficos de temperatura e umidade (gráfico 02), é possível averiguar que São Paulo possui as estações do ano relativamente bem definidas e com temperaturas amenas na maior parte do tempo, assim como um clima predominantemente úmido. 1. fonte: <http://www.inmet.gov.br/portal/>, acesso em maio/2014 72
Nesta página, Gráfico 01: Velocidade e direção dos ventos. [2013]
35
90 80
30
temperatura (°C)
60
20
50
15
40 30
10
umidade relativa %
70 25
20 5
10
0
JAN
FEV
MAR
ABR
umidade relativa %
MAI
JUN
JUL
temp. máx.
AGO
SET
OUT
temp. média
NOV
0
DEZ
temp. min.
Com relação ao gráfico de precipitação e dias de chuva (Gráfico 03), podese perceber um volume muito maior de chuvas no período do verão, com um pico secundário no mês de junho, as famosas chuvas de verão, que por anos trouxeram enchentes aos moradores do Jardim Peri. 300
20 18
Nesta página, acima, Gráfico 02: Umidade relativa e temperatura. [2013] Nesta página, abaixo, Gráfico 03: Dias de chuva e precipitação. [2013]
16 14
200
12 10
150
8 100
dias de chuva
preciptação (mm)
250
6 4
50
2 0
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
dias de chuva
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
0
preciptação total
73
No gráfico de insolação e nebulosidade média (Gráfico 04), fica evidente a relação inversamente proporcional dos dois dados, e que o período entre julho e setembro é o mais crítico visto a maior inclinação nesses meses. 250
10 9
insolação (hs/dia)
7 6
150
5 4
100
3
nebulosidade 0-9
8
200
2
50
1 0
JAN
FEV MAR ABR MAI JUN
JUL AGO SET OUT NOV DEZ
nebulosidade média
0
Insolação
Nesta página, abaixo, Gráfico 04: Nebulosidade média e insolação.[2013] 74
Legislação urbana vigente: O Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, datado de 2002, tem sido alvo de duras críticas por parte de urbanistas e outros estudiosos da cidade. Com mais de 10 anos de vigência, o plano segue na contramão dos preceitos do urbanismo sustentável, utilizando o zoneamento focado nos usos e não na forma das edificações e como ela afeta os espaços públicos, o que acaba por gerar edifícios genéricos e pouco integrados com a paisagem. Mais recentemente, no dia 30 de abril de 2014, a nova versão do plano diretor, que incentiva a construção de edifícios altos ao longo dos grandes eixos viários com infraestrutura de transporte público e restringe a verticalização no miolo dos bairros, foi aprovada em 1ª votação na câmara, graças, em parte, ao protesto de sem-teto por mais de 24 horas na sede do legislativo.2 Para o desenvolvimento deste trabalho, foi considerado o plano vigente, mais especificamente, a Lei de Zoneamento da subprefeitura da Casa Verde, que estabelece normas complementares ao Plano Diretor Estratégico e institui um Plano Regional Estratégico para a área. Primeiramente, vale ressaltar que como o mapa de usos e ocupação do solo da subprefeitura data de 2004, a Avenida Afonso Lopes Vieira ainda não havia sido construída, tendo, inclusive, sua construção destacada como uma importante diretriz do plano da região. Sendo assim, o lote escolhido para a realização deste trabalho exibia uma conformação muito diferente daquela que possui agora e provavelmente terá os usos revistos, isso se o plano continuar trabalhando dessa forma. 2. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/163864-plano-diretor-e-aprovado-em-1-votacao. shtml 75
Mesmo assim, para efeito deste trabalho, foi realizada uma sobreposição entre os usos definidos pelo plano e o novo mapa da região, o que resultou na imagem ao lado. A área pertence à macrozona de estruturação e qualificação urbana, e como é possível notar, a área pertence a duas diferentes zonas, a ZM-1 (Zona Mista de Baixa Densidade) e a ZCP-a (Zona de Centralidade Polar-a). Ambas permitem a construção de edifícios de usos variados, desde que respeitem critérios gerais de compatibilidade de incômodo e qualidade ambiental. As principais diferenças estão no coeficiente de aproveitamento máximo, nas taxas de ocupação e permeabilidade, e no gabarito máximo, todos mais restritivos na ZM-1. Coeficiente de aproveitamento
Taxa de ocupação
Mínimo Básico Máximo
Máxima
Usos e ocupação do solo
Macrozona
Zona
Uso
macrozona de estruturação e qualificação urbana
zona mista de baixa densidade
Misto
0,2
1
1
0,5
macrozona de zona de estruturação e centralidade Misto qualificação urbana polar A
0,2
1
2,5
0,7
Taxa de permeabilidade Mínima
Características de dimensionamento do lote Lote Frente Gabarito mínimo mínima de altura Frente (m²) (m) máx. (m)
Altura da Altura da edificação edificação maior ou superior a 6,00m* igual a 6,0m
0,25
125
5
15
5
não exigido
R = (H - 6) ÷ 10
0,15
125
5
sem limite
5
não exigido
R = (H - 6) ÷ 10
*Respeitando o recuo mínimo de 3 metros
76
Recuos mínimos
Nesta página, Quadro 01: Usos e ocupação do solo [2004] À direita, Mapa 07: Usos e ocupação do solo Plano Diretor Regional [2004] Escala 1:2000
77
Vistas atuais do terreno de intervenção A seguir são dispostas algumas fotos da situação atual do terreno. Nelas é possível perceber a evidente subutilização da área de intervenção, um grande vazio urbano ocupado por alguns pequenos galpões (fotos A, C e I). Também é evidenciada a ausência de iluminação pública na Av, Afonso Lopes (fotos A e C), a vista da favela do Sucupira (foto B) e as diversas residências geminadas que compõem a área de estudo (fotos D, E, F e G), assim como o Casarão da Família Watanabe (foto K). Já ao lado do terreno, pode-se observar o campo de futebol do EC União Jardim Peri (foto H) e a EMEF Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha (foto L), que podem ter seus usos integrados ao projeto.
A
78
B
C
79
D
E
F
G
H
80
I
J
K
L
81
Áreas relevantes do entorno
82
•
Favela do Sucupira: Iniciada em 1979 a partir de uma jogada política do então governador Paulo Maluf, que realocou centenas de família da Barra Funda para o Jardim Peri (como visto no capítulo 2), a favela sofreu um grande impacto com a construção da avenida Afonso Lopes Vieira. Uma consideravel parcela dos seus moradores que viviam em barracos improvisados sobre as águas do córrego foram realocados para conjuntos habitacionais no Jaraguá, enquanto aqueles que permaneceram no bairro continuam sofrendo com a falta de saneamento básico e a ausência de equipamentos culturais e de lazer;
•
CDHU Vila Nova Cachoeirinha: Inaugurado em 2008 pelo prefeito Gilberto Kassab, o conjunto habitacional da Vila Nova Cachoeirinha fez parte, juntamente com as obras da avenida Afonso Lopes Vieira e da construção da EMEF Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha de uma série de iniciativas do governo com o intuito de melhorar as condições de vida na região e suprir parte da demanda por habitação de qualidade. São ao todo 330 famílias divididas em seis edifícios de onze andares cada;
•
EMEF Conjunto Habitacional Vlia Nova Cachoeirinha: Também inaugurada em 2008 como equipamento de suporte para o conjunto habitacional de mesmo nome, a escola atende jovens de todo o bairro e tem seu acesso dificultado devido à falta de passarela que cruze a avenida Afonso Lopes Vieira;
•
CEI Jardim Peri: O centro de educação infantil é uma creche localizada na Avenida Afonso Lopes Vieira que atende 111 crianças entre zero e 3 anos de idade;
•
EMEF Osvaldo Quirino Simões: Outro colégio de ensino fundamental
Mapa 08: Áreas relevantes no entorno.
83
nas redondezas, completa um “triângulo de educação” ao redor do terreno de projeto; •
EC União Jardim Peri: Localizado na Rua Santa Lucrécia de Aguiar, em frente ao terreno de projeto, o campo de futebol que abriga os jogos do Esporte Clube União do Jardim Peri, se encontra em péssimo estado de conservação e é um dos pouquíssimos equipamentos de lazer públicos do bairro;
•
UBS Vila Dionísia: A unidade básica de saúde da Vila Dionisia, localizada ao lado da EMEF Osvaldo Quirino Simões, é um dos poucos postos de saúde do bairro que também é atendido pela UBS Jardim Peri, localizada na Av. Peri Ronchetti;
•
Inocoop Vila Dionísia: Os seis edifícios de 17 pavimentos surgem como o primeiro indício de verticalização do bairro. Rodeados por sobrados de dois pavimentos, e localizados em uma cota alta do terreno, configuram um importante marco na paisagem urbana devido ao seu gabarito.
Nesta página à esquerda, Figura 40: Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha. [2014] Acima, Figura 41: Favela do Sucupira vista a partir do Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha. [2014] Abaixo, Figura 42: EMEF Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha. [2014] 84
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“A arquitetura não é um fato avulso de uma cultura ou de uma situação político-social, uma arquitetura falha é o resultado de uma cultura falha, de uma situação político-social falha. O arquiteto depende diretamente dessa situação político-social. O arquiteto não pode ser o homem, o artista, o criador isolado. Ele depende diretamente dessas situações político-sociais. A situação de uma arquitetura tem de ser julgada nesses termos.” (LINA BO BARDI, 1972)
PROPOSTA
88
Cultura, educação e lazer na periferia de São Paulo Com o local devidamente escolhido, o programa da proposta de intervenção deveria surgir naturalmente como resultado de uma leitura cuidadosa do lugar, não só de suas características físicas, mas sobretudo de suas dinâmica política, social, cultural e histórica. Entretanto, mesmo antes de um estudo mais detalhado, qualquer arquiteto munido com o mínimo de pesquisa ou contato com a região, consegue perceber que em meio a tanta carência, temas fundamentais como educação, cultura e lazer ganham força gigantesca. Porém, é preciso ter cuidado para não cair na armadilha da escolha óbvia. Optar pelos arquétipos básicos, uma escola para melhorar a educação, um teatro para trazer cultura, um parque para propiciar lazer, seria ignorar diversos conceitos anteriormente abordados e restringir de maneira irremediável uma área de grande potencial, justificando as palavras de Koolhaas: “Onde não há nada, tudo é possível, onde há arquitetura, nada mais é possível.”1.
Ao lado, Figura 43: Crianças participando de atividade do programa Histórias em Movimento. [2013]
1. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 89
Programas sociais A falta de equipamentos culturais e de lazer no Jardim Peri é tão clara que algumas ONGs (Organizações não Governamentais) e até mesmo a prefeitura de São Paulo tem feito esforços para trazer diversão, distração, leitura e conhecimento para os jovens do bairro. O programa “Histórias em Movimento” e o “Ônibus Biblioteca” são exemplos de iniciativas que já tiveram a região como foco de suas ações: •
Histórias em Movimento: Realizado em alguns vazios urbanos do Jardim Peri e Jardim Peri Alto, esse é um projeto social criado por Monalisa Lins e Evelson Freitas que leva contação de histórias, brincadeiras populares e livros para as crianças do bairro, que sofrem com a ausência de equipamentos nessas áreas. Iniciado em abril de 2013 o programa tem evoluído, e com encontros semanais, criou um público fiel. Atualmente a dupla possui uma biblioteca circulante que empresta livros às crianças que já possuem um repertório de brincadeiras populares de dar inveja. Para 2014, o projeto tem objetivos maiores, com programação de saraus e encontros com autores e ilustradores;2
•
Ônibus Biblioteca: O projeto da prefeitura busca possibilitar que pessoas de regiões periféricas da cidade tenham acesso a livros, periódicos e gibis. Em julho de 2011, o ônibus passou pelo Jardim Peri e trouxe consigo um espetáculo repleto de brincadeiras tradicionais, como trava -línguas, adivinhas e mímicas, além de dança e literatura. As atividades encantaram as crianças e adultos do bairro que carece de atividades desse tipo;3
2. Fonte: www.historiasemmovimento.com.br, acesso em maio/2014. 3. Fonte: http://onibus-biblioteca.blogspot.com.br, acesso em maio/2014. 90
Acima, à esquerda, Figura 44: Evelson Freitas em atividade do Histórias em movimento. [2013] Acima, à direita, Figura 45: Monalisa Lins e crianças do Jardim Peri brincando em atividade do Histórias em Movimento. [2013] Abaixo, à esquerda, Figura 46: Crianças reunidas em visita do ônibus Biblioteca ao Jardim Peri. [2011] Abaixo, à direita, Figura 47: Apresentação do ônibus Biblioteca no Jardim Peri. [2011]
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O Complexo Cultural Recreativo do Jardim Peri Os projetos sociais supracitados ajudam a evidenciar a falta de equipamentos de cultura e lazer na área de estudo e justificam, em parte, a proposta deste trabalho. Ao mesmo tempo, servem como alerta para o cuidado que deve ser tomado para não diminuir as potencialidades da área de intervenção. Já que mesmo uma praça com terra batida e nenhum equipamento pode ser o lar de programas que trazem alegria e diversão para comunidades carentes. Portanto é necessário criar algo que não somente aborde esses temas, como não restrinja a liberdade de ação. Para isso, conceitos contemporâneos como o urbanismo sustentável e o programa aberto passam a ser imprescindíveis. A seleção de uma área de intervenção de aproximadamente 27.000 m², que ocupa uma quadra inteira e conta com uma grande quantidade de possíveis acessos, não por acaso, possibilita uma série de experiências de implantação, tornando a organização dos espaços intersticiais, o direcionamento dos fluxos, a exploração das conexões, a relação público x privado, a distribuição dos espaços de permanência e a configuração dos vazios, temas norteadores de qualquer projeto que venha a ser produzido. Diferentemente do que ocorre costumeiramente na maior parte da produção arquitetônica nacional, em que esses aspectos são renegados e aparecem somente como resultado residual do programa adotado. Espera-se que com tal postura seja possível planejar uma arquitetura mais conectada com o homem e com a realidade sociopolítica local, assim como defendia Lina. O programa aberto, por sua vez, teria uma participação igualmente determinante na arquitetura produzida. Em uma sociedade em constante transformação e com recursos materiais e econômicos cada vez mais escassos, é alarmante saber que uma série de estruturas extremamente caras e bem localizadas são subutilizadas em toda parte. Não é de hoje que iniciativas como o uso do espaço escolar para outras atividades nos finais de semana é veementemente 92
defendida. No entanto, a arquitetura construída a partir de programas extremamente fechados e a falta de planejamento na ocupação dos espaços faz com que a maior parte das incursões nesse sentido tenham resultados frustrantes. Como diria Koolhaas: “Um máximo de programa e um mínimo de arquitetura”4. Certamente, teríamos outro efeito se essas características multiusos fossem discutidas desde o início do processo projetual. Fatos como esses dão força a afirmações do tipo “Onde não há nada, tudo é possível, onde há arquitetura, nada mais é possível.”5. Tendo tudo isso em mente, a proposta deste trabalho é criação de um Complexo Cultural Recreativo para o Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo. O objetivo é projetar equipamentos que possam trazer mais educação, cultura e lazer para a região. Esses equipamentos terão seus programas definidos a partir do estudo minucioso das características físicas, sociais, culturais, politicas, históricas e ambientais do local. Quadras, pistas de skate, biblioteca, aulas de esporte, dança, atividades recreativas, cursos profissionalizantes, alfabetização para adultos, cinema ao ar livre, espaço para pipas, piscinas, são algumas possibilidades que surgem após os primeiros olhares. O ponto mais importante é que o complexo possa trazer benefício para toda comunidade, funcionando nos três períodos e tendo como base uma arquitetura inclusiva e de programa aberto, com atividades para todas as idades, que se conectem entre si em edifícios híbridos capazes de abrigar usos diferentes entre si e, porque não, complementares. Espera-se que o potencial transformador da educação, da cultura e do lazer seja capaz de modificar a vida das pessoas tanto quanto a força do capital ou a passagem de uma via. Para isso, será necessário um entendimento ainda mais profundo das dinâmicas político-sociais do bairro e de seu entorno imediato. A 4. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 5. Idem. Ibidem. 93
aplicação de teorias e práticas típicas dos grandes mestres da arquitetura contemporânea, não só se fará extremamente necessária, como será o principal objetivo do projeto. A ideia é produzir uma arquitetura transformadora que englobe em sua formação o máximo de temas e estratégias contemporâneas sem negar suas características nacionais. Uma arquitetura que reflita a realidade político-social local em seu desenho, nos seus materiais e até mesmo em sua construção. É impossível prever qual será o resultado final, mas é seguro dizer que a complexidade técnica, construtiva, social e cultural de um projeto desse porte não só justifica o tema escolhido, como, juntamente com a realidade do bairro, atesta sua relevância.
EDUCAÇÃO
CULTURA
LAZER Nesta página, Figura 48: Educação, cultura e lazer. À direita, Figura 49: Crianças do Jardim Peri brincando em atividade do Histórias em Movimento. [2013]
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“Já não é aceitável construir uma edificação de alto desempenho em uma área ainda não urbanizada, em um contexto dependente de automóveis e certificá-la como sustentável. Já não é suficiente fazer um empreendimento com uma implantação responsável e construir um bairro admirável, que respeite os pedestres e tenha usos mistos, se o nível de recursos necessários para a construção e a manutenção das edificações for ignorado. A época das meias medidas já passou. [...] O urbanismo sustentável é aquele com um bom sistema de transporte público e com a possibilidade de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho. A compacidade (densidade) e a biofilia (acesso humano à natureza) são valores centrais do urbanismo sustentável.” (DOUGLAS FARR, 2013)
ANÁLISE
Método SNAP: Protocolo de Análise de Bairros Inteligentes Na obra de Douglas Farr (membro fundador do Congress for the New Urbanism), “Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a Natureza”, Carolee Kokola apresenta um método para análises de bairros conhecido como SNAP. Esse método, que pode ser traduzido como Protocolo de Análise de Bairros Inteligentes, foi criado como parte de uma estratégia de estudo de caso de bairros de Toledo, e tem como objetivo avaliar as características de áreas urbanas existentes e propostas de renovação de vazios urbanos de acordo com os princípios do urbanismo sustentável. Acredita-se, que com a realização de tal análise, seja possível compreender as reais necessidades de uma dada região, e então priorizar empreendimentos imobiliários que resultem em bairros inteligentes e que, ao mesmo tempo, maximizem os esforços de renovação urbana de uma cidade. Tendo isso em mente, escolheu-se utilizar o SNAP como método principal para analisar a área de estudo. Pois, com sua aplicação é possível definir de maneira fundamentada quais são as reais necessidades da região e quais equipamentos devem ser projetados para atender a população, e concomitantemente, contribuir para a criação de um bairro mais inteligente e sustentável.
Participação popular Uma das características primárias do SNAP é envolver a comunidade no processo de levantamento de informações acerca do bairro. Para isso, se faz necessário coletar as opiniões dos moradores sobre os pontos fortes e fracos da região, para que assim, seja possível propor equipamentos que vão de encontro as necessidades dos usuários. Entretanto, considerando as limitações de um trabalho de TFG, a dificuldade de deslocamento, e sobretudo as complicações para conseguir agendar reuni98
ões com membros da comunidade, optou-se por levantar essas informações através de pesquisas em diferentes meios de comunicação, como blogs, jornais e canais de vídeo online. Foram encontradas algumas entrevistas e textos de moradores relatando a realidade e os principais problemas do bairro. Em uma dessas entrevistas, na ocasião da inauguração da Av. Afonso Lopes Vieira, em 2010, o canal de notícias online “Perynews” conversou com o então subprefeito da região da Casa Verde/Cachoeirinha, Walter Abrahão Filho, acerca da obra em questão e de seus pontos positivos e negativos: Primeiro passo muito importante, é natural que, no meu pensamento, ainda falte terminar essa obra junto com a SABESP, falta uma passarela pra facilitar a vida das pessoas, e falta iluminação da avenida. A gente não quer que esta avenida fique parada porque é um equipamento público de extrema importância, mas a comunidade pode contar com nosso apoio a respeito de iluminação e de acesso para que as pessoas possam chegar de forma mais tranquila à escola onde estudam.1
Indagado sobre quais projetos ele teria em mente para controlar a alta velocidade dos automóveis, o subprefeito respondeu: Nós vamos começar instalando uma lombada eletrônica. Nós primeiro vamos fazer um teste junto com a companhia de engenharia de tráfego, mas o importante, inclusive a realocação das famílias daqui, era já pra prevenir acidentes. A gente quer uma avenida nova, não um problema novo. Nós queremos uma avenida nova. Isso vai ter que ter que ter faixa de pedestres, passagem para as crianças irem pra escola, iluminação à noite. e tudo isso está sendo cuidado, pessoalmente por mim.2
Além de ouvir o subprefeito, a reportagem também conversou com diversos moradores com o intuito de averiguar o que eles acharam da obra e levantar as maiores deficiências da região. Os principais depoimentos estão distribuídos a seguir: 1. Depoimento extraído de vídeo disponível em <http://perinews2009.blogspot.com.br/2010/05/ inauguracao-do-sistema-viario-e.html>, acesso em maio/2014 2. Idem. Ibidem. 99
“Ela (Av. Afonso Lopes Vieira) vai proporcionar para nós, facilidade de comunicação e de transporte. Nós temos uma grande preocupação. Porque ela ficou muito tempo fechada até a inauguração, Então as crianças acostumaram muito a andar de bicicleta, soltar pipa. Então neste primeiro período, nós estamos prevendo alguma possibilidade de atropelamentos.”
“Iluminação aqui não tem, meu! Dá seis horas da noite, aqui é tudo escuro. Não dá desse jeito. Tem que por uma passarela pras crianças passar. Por iluminação pra abrir a avenida.”
“Nós queremos passarela, porque nós temos escola, aqui do outro lado, como que pode abrir a avenida hoje, se as crianças não tem como atravessar pra vim pra escola.”
“Tiraram a favela, mas ali, e a iluminação daquele buraco lá (terreno à leste do CDHU Vila Nova Cachoeirinha), Não tem iluminação lá.” 100
’‘Não há iluminação na pista, cade a passarela para atravessarmos de um lado para o outro? E as crianças para chegarem à escola, como será? No bairro não existe ainda uma área de lazer com quadras poliesportivas e equipamentos para a pratica de esportes, falta uma biblioteca, telecentro, escola profissionalizante, segurança e etc. E estas necessidades não serão supridas apenas com a pavimentação de uma ou duas pistas e a canalização do córrego. A pavimentação, em geral, sabemos que é uma necessidade exigida pelo progresso, entretanto, o que de praticidade fica às nossas comunidades senão o bairro transformado em uma nova estrada de rodagem? E o córrego Guaraú, este jamais deveria ser canalizado, mas sim tratado, despoluído e preservado. Quem sabe servisse até para o lazer.”
“Bom, as promessas foram inúmeras. Até mesmo ônibus, coisa que nós não temos aqui, precisa realmente de ônibus aqui, circulando, porque só temos uma linha circulando. E foi colocada iluminação até a metade da rua, o final da rua não tem iluminação, ou seja, ele fez uma promessa e não fez aquilo que tinha prometido.”
“Tem que dar uma volta de 1Km pra cima e 1Km pra baixo, tá! Não tem acostamento, como é que as crianças vão dar a volta por lá, e vim aqui? A escola é ali ó!”
“É muito longe, as crianças chegam lá atrasado. Ontem mesmo levei a criança atrasado. Cheguei lá e a diretora falou: Ó vai ter que chegar mais cedo. É muito longe pra gente. O ponto final lá em cima também é muito longe, é uns 30 minutos pelo menos. pelo menos.” 101
Resumidamente, as principais preocupações dos moradores, eram com relação à falta de iluminação pública, a ausência de uma forma segura e rápida para atravessar a avenida, a inexistência de equipamentos de lazer e cultura, e as poucas linhas de ônibus que atendiam a avenida. Quatro anos se passaram desde as entrevistas, e nenhum dos problemas levantados foi solucionado, nem mesmo aqueles que o subprefeito havia prometido resolver. Grande parte da avenida continua sem iluminação, principalmente no trecho em frente a área escolhida para o desenvolvimento deste projeto, e não existe nenhuma faixa de segurança ou passarela para que as crianças possam acessar as EMEFs Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha e Osvaldo Quirino Simões sem precisarem caminhar por quase 1Km para contornar o córrego Guaraú. Além disso, como um dos entrevistados já reclamava, a região ainda não conta com nenhum equipamento cultural e pouquíssimos espaços de lazer, todos em péssimo estado de conservação (como já constatado no capítulo anterior). Esse descaso do poder público para com as condições de vida no bairro gera uma série de desabafos da população, como esse que se segue, realizado por um morador anônimo durante o período de férias escolares de 2008 no blog “Perynews”: O bairro Jardim Peri, desde a sua fundação até hoje tem sido precariamente atendido por setores públicos. O atendimento é muito reduzido e diferenciado comparado com outras regiões vizinhas. Se em alguns bairros o atendimento é VIP, pra outros inexiste!!!!. A falta de instalações públicas e espaço cultural à comunidade é notória e faz jus à desorganização e falta de urbanismo local. Apesar da sua dimensão, o Jardim Peri é um bairro onde tem sido descumprida a obrigatoriedade de construções de utilidade pública, a estes, espaços de lazer e área verde complacente ao numero de habitantes. Direito concedido na constituinte. Andando pelas dependências vê se que só sobrou o asfalto como área de lazer. As crianças, ou brincam nas lajes ou no meio da rua. Se em alguns bairros da cidade o favorecimento dispensado é de qualidade exemplar, noutros é parco ou quase nulo. Mal vemos um bom exemplo 102
do cumprimento a estes. A falta de espaço cultural e biblioteca, e área verde para o lazer fica como a maior demonstração do abandono e a falta de preocupação do poder público. Aqui neste bairro, Jardim Peri, não tem Lions e nem Rotary Cluber´s. Não tem SESC, CEUS, Posto Policial e nem Saneamento Tratado, Palácio só o do Governador (no horto). Aqui é JARDINS, mas é PERI, não é jardim do centro, da menina dos olhos da prefeitura! Não é Pinheiros, não é Santana, é periferia. Quadra é na rua, piscina só quando tem enchentes. No Peri, criança, adolescente, juventude e terceira idade não tem vez! Não é preocupação da gestão municipal, estadual, nem federal.3
Todas essas reivindicações dos moradores são extremamente compreensíveis e vão de encontro aos dados levantados anteriormente e ao programa aberto desenvolvido até aqui. O clamor por áreas de cultura e lazer é claro, assim como a falta de infraestrutura básica, a ausência de iluminação pública e a falta de uma passarela para cruzar a nova avenida tornam a área de intervenção uma região insegura e explica o porquê de muitos usuários de drogas ocuparem esse espaço.
3. Texto extraído de http://jardimperi.blogspot.com.br/2008/01/apesar-de-ser-perodo-de-frias-as. html, acesso em maio/2014 103
Usos e ocupação do solo Outro ponto crucial para a utilização correta do método SNAP é o levantamento dos usos e ocupação do solo do bairro. Tomando como base um raio de 250m a partir da área de intervenção, pode-se perceber que há uma predominância dos usos residenciais, associados principalmente a sobrados de dois à três pavimentos. Uma grande variedade dos estabelecimentos comerciais e de serviços que se encontram distantes das principais avenidas da região e atendem muito bem o entorno imediato, se distribuem por edifícios de uso misto, configurando o tradicional comércio de bairro das periferias paulistanas. Podemos resumir as impressões do mapeamento de usos e ocupação do solo da seguinte maneira:
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•
A região em estudo tem predominância de usos residenciais, com um grande número de sobrados geminados à sul da Av. Afonso Lopes Vieira e com construções improvisadas na Favela do Sucupira, ao norte da avenida;
•
Os usos comercial e de serviços se distribuem por diversas residências de uso misto, tendo poucos edifícios de uso exclusivamente comercial ou de serviços, sendo a maioria supermercados;
•
A maior parte dos edifícios institucionais são escolas de ensino infantil e fundamental, tendo como únicas exceções o campo de futebol do CEI Jardim Peri e a UBS Vila Dionisia;
•
Há duas construções de uso industrial de pequeno porte, uma ao lado do terreno em estudo, a “Metal Corte”, que realiza corte e dobra de chapas, e outra na Rua José Carlos Rodrigues, que manipula vidros.
•
Existem alguns poucos vazios urbanos, sendo que a área escolhida para o desenvolvimento do projeto se destaca por sua grande área;
Mapa 09: Usos e ocupação do solo.
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Análise do terreno O passo seguinte é a análise do terreno, para tanto, se faz necessário localizar no bairro uma série de características determinadas pela Farr Associates para obter uma leitura precisa e proveitosa da área de estudo. •
Nós de atividade: são todos os lugares que costumam ser movimentados com pedestres, como escolas, estações de transporte público, interseções onde se cruzam várias linhas de ônibus, centros comunitários, etc;
•
Limites: quaisquer barreiras ou elementos naturais que serviam de limites ao bairro, como as rodovias ou um curso de água;
•
Marcos urbanos: marcos ou monumentos proeminentes, como locais de culto ou edifícios históricos importantes para a comunidade;
•
Eixos de circulação: principais eixos de movimento, tanto de veículos como de pedestres;
Após a análise foram tiradas as seguintes conclusões:
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•
As escolas configuram a maior parte dos nós de atividade, visto a grande quantidade de equipamentos educacionais nas redondezas da área de intervenção;
•
A maior parte dos marcos urbanos da região são igrejas, existentes aos montes, entretanto destaca-se a presença do CDHU Vila Nova Cachoeirinha como um importante marco;
•
Ao mesmo tempo que são responsáveis pelos maiores fluxos da região, a Av. Afonso Lopes Vieira e o córrego Guaraú são também a principal barreira para que os moradores da comunidade do Sucupira possam acessar os equipamentos à sul da avenida;
Mapa 10: Análise do terreno.
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O inventário de um bairro ideal O inventário de um bairro ideal é uma lista de equipamentos criada pela Farr Associates no seu estudo de caso de Toledo. Nessa lista, os urbanistas levantam quinze equipamentos considerados fundamentais para o funcionamento harmônico de um bairro sustentável. Inventário de um Bairro Ideal - Farr Associates Legenda Equipamento 1 loja de conveniência 2 restaurante familiar 3 cafeteria 4 banco 5 lavanderia/lavagem a seco 6 farmácia 7 consultório médico 8 consultório odontológico 9 creche 10 escola de ensino fundamental 11 biblioteca 12 centro comunitário 13 local de culto 14 correios 15 parque
Para definir de forma fundamentada quais equipamentos devem ser projetados neste trabalho, sem esquecer dos usos anteriormente consideradas essenciais para o bairro durante a definição do tema (cultura, educação e lazer), assim como dos estudos previamente realizados e das reivindicações da população, optou-se por mapear um raio de 500m a partir do terreno da intervenção, afim de levantar quais desses equipamentos essenciais não estão presentes na região. 108
À esquerda, Quadro 02: Inventário de um bairro ideal segundo a Farr Associates.
Entretanto, antes de iniciar esse levantamento, foi necessário adaptar a lista para a realidade brasileira, visto que existem muitas diferenças culturais entre Brasil e Estados Unidos, país de origem da Farr Associates. Cafeterias, por exemplo, não são tão comuns em solo brasileiro, assim como lavanderias, já que é costume no país lavar as roupas em sua própria residência. Sendo assim esses usos foram substituídos por padarias e salões de beleza/barbearia, equipamentos amplamente necessários em qualquer bairro brasileiro. Outra alteração foi a limitação de escolas somente a instituições de caráter público, afinal a presença de colégios particulares não garante o acesso à educação para grande parte da comunidade do Jardim Peri.
Inventário de um Bairro Ideal - Farr Associates Legenda Farr Associates Brasil 1 loja de conveniência mercado 2 restaurante familiar restaurante familiar 3 cafeteria padaria 4 banco banco 5 lavanderia/lavagem a seco salão de beleza/barbearia 6 farmácia farmácia 7 consultório médico posto de saúde 8 consultório odontológico consultório odontológico 9 creche escola infantil (público) 10 escola de ensino fundamental escola fundamental (público) 11 biblioteca biblioteca 12 centro comunitário centro comunitário 13 local de culto local de culto 14 correios correios 15 parque parque
À direita, Quadro 03: Inventário de um bairro ideal modificado para a realidade brasileira. 109
Inventário de um Bairro Ideal (Raio de 0,5Km) Legenda Equipamento Quantidade Estado 1 mercado 4 presente 2 restaurante familiar 1 presente 3 padaria 15 presente 4 banco 0 ausente 5 salão de beleza/barbearia 6 presente 6 farmácia 1 presente 7 posto de saúde 1 presente 8 consultório odontológico 0 ausente 9 escola infantil (público) 6 presente 10 escola fundamental (público) 2 presente 11 biblioteca 0 ausente 12 centro comunitário 0 ausente 13 local de culto 11 presente 14 correios 0 ausente 15 parque 0 ausente
Como já citado, o bairro possui uma ampla variedade de serviços e estabelecimento comerciais, mesmo que grande parte se concentre em edifícios de uso misto. A quantidade de escolas, tanto fundamentais como infantis, é relevante, o que denuncia o grande número de jovens e crianças residentes na região e justifica, mais uma vez, a necessidade de equipamentos recreativos e culturais, o que é intensificado se levarmos em conta a inexistência de parques e bibliotecas no entorno. Não obstante, limitar a análise à um raio de 500m seria um erro, visto que alguns equipamentos não encontrados, como os supracitados, além de correios, bancos e centros comunitários, podem estar a apenas mais 100m de distância, o que não seria um problema para o pronto atendimento aos moradores da área. Sendo assim, o raio de análise foi ampliado para 1Km, já que existem uma série de conceitos que defendem que bairros podem ser considerados susten110
À esquerda, Quadro 04: Inventário de um bairro ideal no raio de 0,5Km da área de intervenção À direita, Mapa 11: Equipamentos ideais no raio de 0,5Km da área de intervenção
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táveis quando o tempo gasto entre a residência e qualquer equipamento não é superior à 20 minutos, o que provavelmente, levando-se em conta a topografia acidentada do Jardim Peri, seria o tempo gasto por uma pessoa para percorrer a distância especificada. Inventário de um Bairro Ideal (Raio de 1Km) Legenda Equipamento Quantidade 1 mercado 11 2 restaurante familiar 5 3 padaria 28 4 banco 3 5 salão de beleza/barbearia 19 6 farmácia 6 7 posto de saúde 2 8 consultório odontológico 2 9 escola infantil (público) 9 10 escola fundamental (público) 6 11 biblioteca 0 12 centro comunitário 1 13 local de culto 25 14 correios 2 15 parque 0
Estado presente presente presente presente presente presente presente presente presente presente ausente presente presente presente ausente
Com a nova análise, é possível perceber que existe um centro comunitário localizado a apenas 700m do terreno escolhido para a intervenção, além de que a maior parte dos equipamentos, incluindo agências dos correios e bancos, não presentes no raio de 500m, se concentram nas principais avenidas, sobretudo na Peri Ronchetti e na Parada Pinto. No entanto, não há nenhuma biblioteca ou parque dentro do raio de 1Km, sendo a mais próximos a biblioteca do Centro Cultural Ruth Cardoso, há aproximadamente 1,7Km de distância e o parque estadual Alberto Löfgren, o Horto Florestal, fora dos limites do distrito. 112
À esquerda, Quadro 05: Inventário de um bairro ideal no raio de 1,0Km da área de intervenção À direita, Mapa 12: Equipamentos ideais no raio de 1,0Km da área de intervenção
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Conclusões da análise SNAP: Para melhor entendimento dos resultados da análise foi feito um apanhado com as principais constatações de cada uma das leituras realizadas:
construções improvisadas na Favela do Sucupira, ao norte da avenida; •
Uma gigantesca quantidade e variedade de usos comerciais e de serviços que atendem muito bem a área se distribuem por diversas residências de uso misto, tendo poucos edifícios de uso exclusivamente comercial ou de serviços, sendo a maioria supermercados;
•
A maior parte dos edifícios institucionais são escolas de ensino infantil e fundamental, tendo como únicas exceções o campo de futebol do CEI Jardim Peri e a UBS Vila Dionisia;
•
Há duas construções de uso industrial de pequeno porte, uma ao lado do terreno em estudo, a “Metal Corte”, que realiza corte e dobra de chapas, e outra na Rua José Carlos Rodrigues, que manipula vidros.
•
Existem alguns poucos vazios urbanos, sendo que a área escolhida para o desenvolvimento do projeto se destaca por sua grande área;
Reivindicações da População: •
•
Muitos moradores reclamam da falta de iluminação pública ao longo da Av. Afonso Lopes Vieira e da ausência de uma passarela ou faixa de pedestres para que as crianças possam atravessar e acessar as EMEFs ao sul da avenida; A população sofre com a falta de equipamentos culturais e de lazer, o que faz com que muitos jovens não tenham opções de atividades após ou antes do período letivo, sobrando somente brincar na rua ou se submeter à atividades perigosas, como o consumo de drogas e o crime;
•
Alguns moradores reclamaram da falta de escolas profissionalizantes;
•
Existe uma preocupação muito grande com a segurança, seja devido ao risco de atropelamentos, à falta de iluminação pública ou à preocupação com a utilização de drogas;
Análise dos usos do solo: •
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A região em estudo tem predominância de usos residenciais, com um grande número de sobrados geminados ao sul da Av. Afonso Lopes Vieira e com
Análise do terreno: •
As escolas configuram a maior parte dos nós de atividade, visto a grande quantidade de equipamentos educacionais nas redondezas da área de intervenção;
•
A maior parte dos marcos urbanos da região são igrejas, existentes aos montes, entretanto destacase a presença do CDHU Vila Nova Cachoeirinha como um importante marco;
•
Durante a análise foi encontrada somente uma farmácia no raio de 500m, o que poderia justificar sua incorporação no programa do projeto, visto que seu uso é muitas vezes emergencial;
•
Ao mesmo tempo que são responsáveis pelos maiores fluxos da região, a Av. Afonso Lopes Vieira e o córrego Guaraú são também as principais barreiras para que os moradores da comunidade do Sucupira possam acessar os equipamento à sul da avenida;
•
Dois consultórios odontológicos foram encontrados na Av. Peri Ronchetti, o que pode ser considerado satisfatório, já que assim como no caso dos bancos e correios, a visita ao dentista é muitas vezes semestral e uma distância de 10 minutos caminhando é perfeitamente aceitável;
•
Existe uma considerável quantidade de escolas de ensino infantil e fundamental na área, o que por si só justifica a criação de equipamentos de suporte para essa rede de edifícios educacionais;
•
Não existe um único parque ou biblioteca no raio de 1Km, levantando mais uma vez a necessidade urgente de construir edifícios de uso cultural e recreativo. Os mais próximos são o Horto Florestal, a 2,6Km de distância, e o Centro Cultural Ruth Cardoso, a 1,7Km;
•
Durante a busca pelos equipamentos do bairro ideal, foi possível perceber que o bairro conta com uma ampla variedade de comércios e serviços concentrados nas principais avenidas e ao longo de todo o bairro, através de edifícios de uso misto. Esses equipamentos variam desde papelarias e bancas de jornais, a oficinas mecânicas, eletricistas e assistências técnicas.
Análise do inventário ideal: •
A região possui um grande número de padarias, salões de beleza, locais de culto e mercados;
•
Agencias de bancos e correios, assim como o centro comunitário do bairro, apesar de não estarem presentes nas redondezas imediatas da área de intervenção, ainda podem ser encontrados no raio de 1Km, concentrando-se, sobretudo nas principais avenidas comerciais (Av. Peri Ronchetti e Av. Parada Pinto). O que pode ser considerado aceitável, visto que essas não são atividades realizadas quase que diariamente, como ir à padaria, ao supermercado, ou ao colégio;
•
A região é servida por duas unidades básicas de saúde, estando uma nas proximidades do terreno de intervenção e a outra localizada na Av. Peri Ronchetti;
115
“Onde não há nada, tudo é possível. Onde há arquitetura, nada mais é possível.” (REM KOOLHAAS)
PROGRAMA 117
urbano CONTEXTO
programaABERTO Econômia
violência
CONGESTÃO
MASSA
SUCUPIRA CLIMA pobreza
CANÔNES
LUGAR jardim
PERI
Levantamento densidade
GUARAÚ fluxos RECURSOS 118
RESPONSABILIDADE
ENCHENTE
história
ANÁLISE
CÓRREGO
Mestres sociedade
SNAP
POPULAÇÃO transporte
ENTREVISTA
ônibus
Favela
FORMA
função
urbanismo
TEORIA
SUSTENTÁVEL
infraestrutura SÓCIOPOLÍTICO contemporâneo
conceitos ARQUITETURA
TOPOGRAFIA
TECNICO
PROFISSIONALIZANTE
AUDITÓRIO biblioteca
empinarPIPA quadras
malhação CICLOFAIXA
DANÇA
diversão
INTERNET
CULTURA INFORMÁTICA
Lutar
laje BRINCAR
LAZER
cinema
TABULEIRO
piscinas
parque AR
movimento PLAYGROUND iluminação
CONEXÕES
SAÚDE restaurante
INFORMAÇÃO
LER
ÁGUA
Reunião ÓCIO
esporte
exposições
estudar
infantil
Jovens ADULTOS
EDUCAÇÃO
cursos
alfabetização
redeESCOLAS fundamental
skate PÚBLICOlivre
PASSARELA gastronomia
119
Desenvolvendo o programa Pode-se dizer que o programa de necessidades deste projeto de TFG, emergiu não somente da análise da região estendida, mas também do estudo das potencialidades físicas, morfológicas e territoriais do local e de seu entorno imediato. Sendo assim, é apresentado a seguir tanto as diretrizes resultantes das análises já realizadas, como o processo de compreensão da área de intervenção e de ampliação do programa, tendo como base os principais preceitos do urbanismo sustentável e as ideias defendidas pelos arquitetos contemporâneos que serviram como referência para este trabalho.
Diretrizes da análise: A partir de tudo que foi levantado até aqui, e considerando o objetivo de trazer cultura, educação e lazer para o Jardim Peri, foi possível destacar algumas diretrizes fundamentais para o desenvolvimento do programa de necessidades: Levantamento histórico: •
Resgatar de maneira positiva a relação com a água e o córrego;
•
Trazer equipamentos de apoio capazes de prover segurança e educação para as comunidades das locais;
•
Trazer exibições de filmes em lugares públicos;
Método SNAP (Participação popular e análises):
120
•
Criar passarela para que os moradores possam cruzar o córrego Guaraú e acessar de forma rápida os equipamentos existentes e os que serão criados;
•
Planejar a iluminação pública da Av. Afonso Lopes Vieira;
•
Projetar uma biblioteca como equipamento de apoio a grande rede de
escolas do entorno; •
Criar um parque que supra a ausência de equipamentos de lazer é ócio no bairro, servindo tanto como equipamento de apoio para as escolas como para o uso de todos os habitantes;
•
Trazer cursos profissionalizantes para os moradores;
•
Explorar os novos fluxos advindos da abertura da Av. Afonso Lopes Vieira e da criação dos novos equipamentos do projeto;
Abrindo o programa: É preciso tomar cuidado com essas diretrizes iniciais para que o programa não caía na armadilha do arquétipo, citada no início deste trabalho. Resumir lazer à um parque e cultura à uma biblioteca seria um erro fatal que negaria ao local da intervenção todas as possibilidades que o pertencem. Como diria Koolhaas: “Onde não há nada, tudo é possível. Onde há arquitetura, nada mais é possível.”1. Partindo desse pressuposto, torna-se essencial explorar o potencial do lugar ao máximo, e trazer não só uma variedade de usos, mas também a possibilidade de que ele possa ser aproveitado por todos os moradores, de qualquer idade ou classe social, e que esteja sempre ocupado, tornando-se um “terceiro lugar”, capaz de gerar densidade, movimento e segurança. Afinal, em uma sociedade tão escassa de recursos e onde a sustentabilidade surge como tema dominante, é imperativo que todo e qualquer recurso seja aproveitado ao máximo. Para tanto, foi feita uma reflexão acerca dos dois principais equipamentos resultantes da análise a partir do método SNAP. Que usos poderiam acompanhar a biblioteca e o parque que seriam criados e ao mesmo tempo aproveitar 1. MONEO, Rafael. “Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos”. São Paulo: Cosac Naify, 2008. 121
as capacidades da região? Em uma das entrevistas apresentadas no capítulo anterior, um dos moradores destacou a falta de cursos profissionalizantes, tema diretamente relacionado à educação, categoria essa presente desde a proposta primária deste trabalho. É natural que em um local tão carente de infraestrutura, grande parte dos adultos não tenha formação superior, ou que muitas vezes, nem sejam alfabetizados. Portanto, apesar da considerável rede de escolas locais destinadas aos jovens, fica claro que existe uma demanda de equipamentos educacionais voltados aos adultos. Então por que não unir a biblioteca e o parque resultantes da análise do entorno com o uso educacional? A partir desse questionamento surgiu a ideia de trazer cursos profissionalizantes capazes de se integrar de forma harmônica com os equipamentos originais e que pudessem não só aproveitar a infraestrutura desenvolvida como complementá-la. Por exemplo, no caso da biblioteca, seria possível aliar ao seu uso um espaço de acesso à internet e cursos técnicos em biblioteca e informática. As mesmas salas de aula poderiam ser utilizadas para ministrar cursos livres de curta duração que utilizem o mesmo tipo de estrutura, como informática básica ou até mesmo alfabetização. Garantindo o uso contínuo do equipamento desenvolvido, aproveitando os recursos ao máximo e de forma planejada desde o início do processo de projeto. Além disso, os profissionais formados e em formação poderiam ser capazes de suprir a longo prazo a demanda rotativa de funcionários especializados. Dessa forma, a educação, pilar fundamental da sociedade, estaria presente em qualquer equipamento criado. Para poder organizar as ideias e possibilidades, o programa foi separado em três núcleos segundo as diferentes áreas do conhecimento, o que não necessariamente representa uma divisão espacial: • 122
Núcleo de informação: Essa área abrigaria a biblioteca juntamente com
um local para acesso gratuito à internet. Tais usos poderiam ser complementados por atividades comerciais relacionadas, como papelaria e revistaria, e por cursos que aproveitassem a infraestrutura desenvolvida dos quais os primários seriam os técnicos em biblioteca e informática, juntamente com toda a variedade de cursos livres capazes de aproveitar a mesma infraestrutura. Também seria interessante criar um espaço de exposições para os trabalhos (artísticos, acadêmicos, esportivos, etc.) desenvolvidos na comunidade e um auditório onde os moradores pudessem realizar reuniões e apresentações; •
Núcleo esportivo/recreativo: Esse núcleo se configura como um misto entre equipamentos completamente públicos - como quadras poliesportivas, piscina pública, playground, grandes espaços livres para brincadeiras infantis, espaços de permanência para reunião, pistas de skate e ciclofaixas - e atividades recreativas e esportivas coordenadas - como aulas dos esportes anteriormente citados, espaços para aulas de artes marciais, dança, jogos de tabuleiro e academia. Tudo isso geraria uma grande demanda de profissionais capacitados, assim como uma infraestrutura que provavelmente seria subaproveitada se utilizada somente para a recreação. Sendo assim, o espaço deve ser projetado para tornar possível também a realização do curso técnico em organização esportiva, o que juntamente com os cursos livres, tiraria o máximo proveito dos espaços criados. Outro fator fundamental levantado já no programa, é integrar as áreas de lazer com a rede de colégios próximos e com o campo de futebol do EC União do Jardim Peri;
•
Núcleo de alimentação: Um complexo desse porte não gera só densidade e fluxos, como também cria novas demandas. É impossível pensar em uma grande área de lazer e esporte sem equipamentos de suporte apropriados, como locais para alimentação. Sendo assim, pensou-se em projetar não somente um restaurante familiar, equipamento pouco 123
presente no raio de 1Km (apenas 5), como trazer o curso técnico relacionado, cozinha, e muitos cursos livres da mesma área. O equipamento poderia servir também para que os próprios moradores e moradoras do bairro trocassem experiência entre si na área da culinária; É possível resumir essa primeira versão do programa de necessidades com a seguinte tabela: Setorização Núcleos
Atividades
Cursos Técnicos
Biblioteca Exposição Núcle de Informação
Biblioteca
Auditório Acesso à internet Livraria/Papelaria
Informática
Quadras Piscina Playground Núcleo Esportivo/Recreativo
Pista de Skate
Esporte e atividade física
Ciclofaixas Salas de luta/acadêmia/dança Jogos de tabuleiro/aulas teóricas Núcleo de alimentação
Restaurante Cantina
Cozinha
Vale ressaltar novamente que essa divisão em núcleos de conhecimento não necessariamente representa uma separação espacial, pelo contrário, espera-se que todas as atividades se conectem entre si da forma mais harmônica possível e que a divisão física entre os usos seja resultado de um desenho de projeto cuidadoso. Não se pode esquecer também, que aos usos supracitados, juntam-se também as diretrizes da análise e outros pontos que só surgirão com o processo de projeto. 124
À esquerda, Quadro 06: Setorização do programa de necessidades.
Dimensionamento e organização Com todas as ideias amadurecidas e listadas, é natural que o passo seguinte seja compreender, dimensionar e organizar os espaços propostos. Um considerável desafio tendo em vista a grande complexidade e variedade do programa. Para que essa tarefa fosse realizada de maneira responsável e assertiva, foram utilizados diferentes métodos para levantar as características e particularidades de cada uso, desde pesquisa em sites, jornais, livros, revistas, dissertações e teses, até visitas técnicas a diferentes edifícios. Para estruturar o programa, pensou-se em subdividi-lo, agora fisicamente, em dois edifícios interligados, o centro de informação, que abrigaria a biblioteca e os cursos de biblioteca e informática, como anteriormente planejado, e o de esporte e alimentação, que uniria os dois núcleos restantes em uma única edificação. Obviamente, alguns equipamentos como as quadras poliesportivas, a pista de skate e a ciclofaixa estarão presentes no terreno do parque e não no prédio em si. Não obstante, é importante ressaltar, que para melhor compreender cada espaço, foi feito primeiramente o dimensionamento de cada uso de forma isolada para depois organizá-los de forma combinada nos dois edifícios, o que será evidenciado pelos fluxogramas apresentados no próximo capítulo. Dessa forma, o maior desafio foi pesquisar e expor as peculiaridades de cada curso técnico. Compreender o funcionamento geral das escolas que os oferecem, foi o primeiro passo para dimensionar o programa. Ao pesquisar diversas instituições, como ETECs, SENACs e CEFETs, ficou claro que todos os cursos dividem-se em módulos semestrais com duração 3 semestres e com média de 40 vagas por período, geralmente vespertino ou noturno. Sendo assim, todos os ambientes aqui propostos foram dimensionados para atender turmas de até 40 alunos e com ingresso semestral, o que resulta em uma demanda de até 120 alunos por curso frequentando as instalações no mesmo período. 125
Biblioteca Para dimensionar a biblioteca e definir o tamanho de seu acervo, foi feita primeiramente uma pesquisa no Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo2. Com o banco de dados disponibilizado no site, foi possível levantar que a média de livros por biblioteca na Zona Norte da capital paulista é de 35 mil. Com esse número em mente, o próximo passo foi encontrar um projeto referencial que abrigasse quantidade semelhante de livros e possuísse uma linguagem arquitetônica contemporânea. Por um conjunto de fatores, a Biblioteca de São Paulo foi escolhida. Localizada no Parque da Juventude, a biblioteca de 4527m², projetada pelo escritório Afalo & Gasperini, não só possui dimensões próximas àquelas desejadas neste trabalho, com acervo de 30 mil livros, como também é uma referência de projeto para muitos arquitetos desde sua inauguração em 2010. Adotando o mesmo conceito da Biblioteca Pública de Santiago do Chile e a da Biblioteca Nacional da Colômbia, o projeto abriga um programa contemporâneo e se organiza como uma livraria, com grandes áreas que integram acervo e espaços de leitura, sem isolar cada área. Conta também com auditório para 90 pessoas, cafeteria, área de estar, espaço para exposições e performance, áreas multimídias, mais de 100 computadores com acesso à internet, brinquedoteca e equipamentos especiais para deficientes físicos e visuais. Para criar o quadro de áreas da biblioteca (Quadro 01) e elaborar o fluxograma, foram feitas visitas técnicas à Biblioteca de São Paulo, no dia 24/05/2014, e à Biblioteca Central da Unicamp, no dia 21/05/2014, além da medição por computador das plantas da Biblioteca de São Paulo e da Biblioteca Brasiliana, projetada por Rodrigo Mindlin Loeb e Eduardo de Almeida para o Campus da Usp.3 2. http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/, acesso em maio/2014 3. Plantas obtidas em http://www.archdaily.com.br/br, acesso em maio/2014 126
À direita, Quadro 07: Quadro de áreas da biblioteca.
Setor
Acesso
Leitura|Acervo (30.000 Livros)
Administração
TOTAL
Biblioteca | Quadro de áreas Ambiente Qtd. Área (m²) Área Total (m²) exposição 1 582,00 582,00 auditório (90 pessoas) 1 123,00 123,00 livraria/papelaria 1 50,00 50,00 hall principal 1 94,00 94,00 guarda-volumes 1 49,00 49,00 controle 1 36,00 36,00 conj. sanitários* 2 51,00 102,00 acervo/leitura (infanto-juvenil) 1 705,00 705,00 acervo/leitura (adulto e midiateca) 1 1108,00 1108,00 acervo cursos técnicos 1 77,76 77,76 acesso internet (100 computadores) 1 90,00 90,00 brinquedoteca 1 59,00 59,00 terraços para leitura 1 330,00 330,00 despensa 1 11,34 11,34 cozinha func. 1 30,00 30,00 conj. sanitários func. 1 41,00 41,00 almoxarifado 1 12,96 12,96 diretor 1 27,00 27,00 reunião 1 18,00 18,00 staff 1 27,00 27,00 recepção 1 16,00 16,00 apoio 1 80,00 80,00 sala do servidor 1 13,00 13,00 Sub-total 24 3631,06 3682,06 Área de circulação 30% Área total construída 4786,68
* 1 conjunto por pavimento
127
Cursos técnicos em biblioteca e informática Os cursos técnicos em biblioteca e informática foram pensados para juntamente com a área de biblioteca pública, integrarem o centro de informação do Complexo Cultural Recreativo do Jardim Peri. A ideia é de que além de trazer cursos profissionalizantes para os jovens e adultos do bairro, a escola possa formar profissionais capazes de suprir parte da demanda de funcionários gerada pelo próprio complexo. Outro ponto fundamental do projeto, é aproveitar a infraestrutura criada para ministrar cursos livres na área e fora dela. Segundo o SENAC “o técnico em biblioteca é o profissional que desenvolve atividades relacionadas à organização, geração, recuperação, disseminação, utilização e preservação da informação, contida nos mais variados suportes, sejam impressos ou digitais (...), com visão empreendedora e intra empreendedora dentro de suas possibilidades de atuação.”4 Com duração de 3 semestres, o curso não pede nenhuma infraestrutura especial, apenas salas de aula adequadamente mobiliadas com cadeiras móveis para a composição de diferentes arranjos. Sendo assim, pensou-se em 3 salas de aula (para atender até 3 turmas ao mesmo tempo), além de uma sala de estudo e pesquisa e laboratórios de informática que também serão usados pelos estudantes do técnico de informática. Ao contrário do curso de biblioteca, a área de informática pede ainda alguns laboratórios especializados, para compreender seu funcionamento e estimar dimensões, foram consultados os sites de diversas escolas, com destaque para o portal da CEFET5 que detalha a capacidade de cada sala e a visita à ETEC Albert Einstein na Casa Verde. Para obter áreas fidedignas de ambientes como salas de aula, administra4. Texto extraído de http://www.sp.senac.br, acesso em maio/2014 5. http://portal.cefet-rj.br/maracana-ensino/tecnico/104-curso-tecnico-de-informatica.html, acesso em maio/2014 128
À direita, Quadro 08: Quadro de áreas dos cursos técnicos em informática e biblioteca.
ção, salas de professores, e outros comuns em escolas, foram consultados os catálogos da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação)6, adaptando os valores para as características do complexo multifuncional. Acredita-se ainda, que ambientes como a biblioteca dos cursos, auditório e os espaços de convivência possam ser utilizados de forma integrada com a biblioteca pública. A diretoria estará localizada no edifício de esporte e alimentação. cursos técnicos em informática e biblioteca | Quadro de áreas Setor Ambiente Qtd. Área (m²) Área Total (m²) laboratório de software 3 51,84 155,52 Pedagógico Misto sala de aula 3 51,84 155,52 Téc Biblioteca + sala de estudos e pesquisas 1 51,84 51,84 Informática depósito 1 12,96 12,96 lab. de rede/hardware 1 45,00 45,00 Exclusivo Informática apoio TI 1 25,00 25,00 conj. sanit. Alunos* 2 51,84 103,68 Vivência espaço de convivência 1 200,00 200,00 dep. mat. limpeza 1 9,72 9,72 Serviços conj. sanit. func. 1 12,96 12,96 almoxarifado 1 12,96 12,96 professores 1 51,84 51,84 Administração conj. sanit. adm 1 25,92 25,92 secretaria 1 32,40 32,40 coordenador 2 12,96 25,92 Sub-total 21 649,08 921,24 TOTAL Área de circulação 30% Área total construída 1197,61 * 1 conjunto por pavimento
6. http://www.fde.sp.gov.br/, acesso em maio/2014 129
Curso técnico em cozinha e restaurante pedagógico Projetar uma escola de gastronomia é uma tarefa tão complexa que muitas vezes surge como tema central de alguns TFGs. É evidente portanto, que não se espera chegar com este trabalho em um grau de detalhamento tão grande quanto em um TFG dedicado exclusivamente a esse tipo de edifício. Entretanto, para desenvolver um anteprojeto de qualidade, é necessário compreender minimamente as dinâmicas, as demandas e as particularidades desse uso específico. Para isso, foram consultadas diversas fontes, das quais a de maior destaque foi a tese de doutorado da arquiteta Renata Zambon Monteiro, “Escolas para cursos de gastronomia: espaços, técnicas e experiências”7, datada de 2009. Nela a autora apresenta um estudo sobre projetos para escolas de gastronomia, fazendo um apanhado sobre a história da profissão e de cursos no Brasil e no mundo, expondo detalhes sobre o planejamento e projeto desse tipo de edificação, chamando atenção para questões como flexibilidade, modularidade, insolação, ventilação, circulação e fluxos, além de realizar entrevistas com grandes nomes da área e fazer uma série de estudos de caso de escolas nacionais e internacionais. Para estimar as áreas necessárias para cada ambiente e desenvolver o fluxograma foram utilizados como referências os projetos do Campus Águas de São Pedro (curso técnico) e Santo Amaro (curso superior), ambos cursos pertencentes ao Senac, aprovados pelo MEC, além do projeto da ETEC Santa Ifigênia, inaugurada em 2013 e projetada por Francisco Spadoni, que conta com equipamentos de última geração. Juntamente com a escola, este trabalho propõe a criação de um restaurante pedagógico, que pode ser gerido por alunos e professores, com toda sua renda destinada ao próprio complexo multifuncional, prática comum no exterior e que traz uma experiência completa de cozinha e gestão para o estudante de gastronomia. 7. MONTEIRO, R. “Escolas de gastronomia: técnicas e experiências”. 2009. 294f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. 2009. 130
Técnico em cozinha | Quadro de áreas Setor Ambiente Qtd. Área (m²) Área Total (m²) Pedagógico sala de aula 1 51,84 51,84 enologia 1 125,00 125,00 panificação e doçaria 1 95,00 95,00 cozinha 2 128,00 256,00 Laboratórios bar e restaurante 1 61,00 61,00 cozinha de demonstração 1 93,00 93,00 câmara fria 1 30,00 30,00 controle/monta-cargas 1 18,54 18,54 Área técnica depósito 1 50,29 50,29 Sub-total 10 652,67 780,67 TOTAL Área de circulação 30% Área total construída 1014,87
Restaurante pedagógico | Quadro de áreas Ambiente Qtd. Área (m²) Área Total (m²) salão (90 pessoas) 1 233,70 233,70 Público conj. sanit. clientes 1 15,30 15,30 administração 1 25,00 25,00 Administração antesala 1 39,00 39,00 bar 1 14,25 14,25 copa 1 9,97 9,97 cozinha 1 26,91 26,91 Cozinha lavagem 1 7,81 7,81 despensa 1 7,90 7,90 câmara fria 1 7,00 7,00 vestiários 1 20,19 20,19 Serviços lixo seco 1 2,47 2,47 lixo orgânico 1 3,93 3,93 Sub-total 13 413,43 413,43 TOTAL Área de circulação 30% Área total construída 537,46 Setor
Acima, Quadro 09: Quadro de áreas do curso técnico em gastronomia. Abaixo, Quadro 10: Quadro de áreas do restaurante pedagógico.
131
Curso técnico em organização esportiva Segundo o Centro Paula Souza, “o técnico em organização esportiva é o profissional que desenvolve e organiza programas de atividades físicas e esportivas, desde a captação e otimização de recursos financeiros, materiais e humanos, a realização de eventos e atividades rotineiras até a disseminação da prática da atividade física e do esporte na sociedade. Planeja espaços e a utilização de equipamentos, de acordo com a atividade ou evento. Identifica necessidades e potencialidades da área esportiva. Presta atendimento ao público e a empresas e instituições. Trabalha em equipe e proativamente, respeitando os princípios da ética profissional, das relações humanas e ambientais, sob a supervisão de um profissional de nível superior de Educação Física.”8 Fundado juntamente com a ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart9, primeira escola técnica voltada ao esporte, localizada na Vila Maria e projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake, o curso que na época possuía o nome de esporte e atividade física foi foco de polêmicas entre profissionais de educação física. Hoje com sua área de atuação devidamente definida e com o curso consolidado, a ETEC é referência na área de esporte e de espaços de convivência. Para determinar os laboratórios necessários e estimar suas áreas foi estudado o projeto da ETEC em questão, assim como foram realizadas visitas técnicas ao Parque da Juventude, em São Paulo, e à Faculdade de Educação Física da Unicamp. Espera-se aproveitar a infraestrutura interna e externa da escola para a realização de cursos livres e para uso público da população. Outra proposta do projeto é recuperar o campo de futebol do EC Jardim Peri, localizado no terreno ao lado, além de construir uma pista de atletismo ao seu redor.
8. https://www.vestibulinhoetec.com.br/unidades-cursos/curso.asp?c=1335,acesso em maio/2014 9. http://www.etecdeesportes.com.br/, acesso em maio/2014 132
À direita, Quadro 11: Quadro de áreas do curso de organização esportiva.
curso técnico em organização esportiva | quadro de áreas Ambiente C (m) L (m) Área (m²) Qtd. Área Total (m²) Externo campo de futebol 90 45 4050,00 1 4050,00 EC Jardim Peri pista de atletismo 1 quadra poliesportiva 27 16 432,00 2 864,00 pista de skate 30 15 450,00 1 450,00 ciclofaixa 1 pista caminhada 1 Parque playground 1 laje para empinar pipa 1 bicicletário 1 cantina 9,72 1 9,72 conj. vestiários 51,84 1 51,84 TOTAL Área total ocupada 5425,56 Interno Pedagógico piscina semi-olímpica 25 20 500,00 1 500,00 laboratório de tênis de mesa 100,00 1 100,00 laboratório de artes marciais 100,00 1 100,00 laboratório de boxe 100,00 1 100,00 laboratório de dança e fitness 100,00 1 100,00 laboratório de pilates 100,00 1 100,00 academia 100,00 1 100,00 labaratório de informática 51,84 1 51,84 laboratório de línguas 51,84 1 51,84 sala de aula 51,84 2 103,68 Sub-total 0,00 11 1307,36 TOTAL Área de circulação 30% Área total construída 1699,57 Setor
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Administração e áreas comuns Por questões de logística, planejou-se que toda a área de administração e direção dos cursos técnicos, com exceção de secretaria e coordenadoria de biblioteca e informática, ficaria localizada no centro de esporte e alimentação. Outro fator importante é que o cursos de organização esportiva e gastronomia podem compartilhar espaços de vivência, vestiários e sanitários. Todo o conteúdo de biblioteca dos cursos estará localizado no centro de informação, assim como o auditório para eventuais palestras e apresentações. O que é perfeitamente viável, visto que escolas técnicas que disponibilizam muito mais cursos contam com apenas um auditório. Há de se destacar também que espera-se uma integração constante entre os edifícios e o próprio parque, para isso, será criada uma conexão coberta entre os dois edifícios a partir de uma marquise. Todas as áreas e fluxos dos espaços de serviço e administração foram estimados tendo os catálogos da FDE10 como base, levando em consideração cursos semestrais de duração de 3 semestres. O que significa que todo o complexo poderá atender até 3 turmas de 40 alunos de cada curso acontecendo ao mesmo tempo, totalizando 120 alunos por curso. É importante relembrar que também está previsto no programa uma passarela que cruze o Córrego Guaraú e Av. Afonso Lopes Vieira, além de uma conexão direta entre o parque proposto e a EMEF Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha. Espera-se que toda a infraestrutura desenvolvida para os cursos possa ser aproveitada para cursos livres em suas determinadas áreas e que todo o investimento seja convertido em maior acesso à educação, cultura e lazer, além da formação de profissionais competentes oriundos do próprio bairro. 10. http://www.fde.sp.gov.br/, acesso em maio/2014 134
Administração e áreas comuns | Quadro de áreas Setor Ambiente Qtd. Área (m²) Área Total (m²) conj. vestiários. alunos* 2 51,84 103,68 Vivência espaço de convivência 1 200,00 200,00 dep. mat. limpeza 1 9,72 9,72 Serviços conj. vestiários. func. 1 25,92 25,92 copa/professores 1 12,96 12,96 almoxarifado 1 12,96 12,96 professores 1 51,84 51,84 diretor 1 9,72 9,72 Administração vice-diretor 1 9,72 9,72 secretaria 1 32,40 32,40 coordenador 2 12,96 25,92 Sub-total 13 430,04 494,84 TOTAL Área de circulação 30% Área total construída 643,29 * 1 por pavimento Estacionamento
No programa não há a previsão de construção de um estacionamento, pois esse não é um dos objetivos deste projeto. Cada vez mais raro nos grandes empreendimentos sustentáveis internacionais, o carro vem perdendo espaço e em cidades de transito caótico como São Paulo, incentivar o uso de outros meios de transporte é fundamental.
À direita, Quadro 12: Quadro de áreas da administração e das áreas comuns.
Outro fator importante para justificar a ausência de estacionamento é que desde o início, o projeto foi pensado para anteder a demanda do próprio bairro em que está localizado, mais especificamente o raio de 1Km, equivalente à uma caminhada de 10 minutos, indicada pelos defensores do urbanismo sustentável como ideal. Ainda assim, se pessoas de outros bairros quiserem acessar o complexo, há uma grande quantidade de linhas de ônibus que passam em frente ao sítio de projeto. 135
“Forma segue função: isso tem sido mal interpretado. Deveriam ser um só, juntos em uma união espiritual.” (FRANK LLOYD WRIGHT)
FLUXOGRAMAS
Biblioteca
carga|descarga
despensa
conj. sanitários func.
recepção
cafeteria (cozinha)
copa func.
staff
Serviços
sala do servidor
cafeteria (convivência)
terraços para leitura
conj. sanitários
acervo técnicos
brinquedoteca
adulto-midiateca
diretor
infanto-juvenil
acesso internet
almoxarifado
Leitura|Acervo
Administração
livraria|revistaria
controle
auditório
hall principal
exposição
guarda-volumes
acesso ao público 138
apoio
reunião func.
conj. sanitários
Acesso
Técnicos em informática e biblioteca
acesso ao público
coordenador
secretaria
professores
almoxarifado
copa professores.
conj. sanitários adm.
Administração
lab. rede
sala do servidor
lab. apoio
estudos|pesquisas
sala de aula
informática
Téc. Inform. depósito
Ped. Misto Pedagógico
dep. mat. limpeza
conj. sanitários alunos
espaço de convivência
conj. sanitários func.
despensa
cantina
Serviços
acesso ao público
Vivência carga|descarga 139
Técnico em gastronomia enologia
Pedagógico
sala de aula
acesso ao público
carga|descarga
depósito galeria técnica
confeitaria|padaria
Controle
equipamentos acesso ao público
vestiários
câmara fria
Laboratórios
Área técnica
espaço de convivência
cozinha
Vivência
controle|monta-cargas
professores
Restaurante pedagógico
Restaurante carga|descarga
acesso serviços
Serviços câmara de lixo
dep. retornáveis
vestiários
Cozinha lavagem
cozinha
despensa
bar
copa
caixa
salão
conj. sanitários clientes
Público
acesso ao público 140
Organização esportiva: Externo
EC Jardim Peri
campo de futebol
pista de atletismo
quadra poliesportiva
playground
ciclofaixa
bicicletário
pista de skate
laje pipa
pista caminhada
conj. vestiários
Parque
cantina
acesso ao público
Organização esportiva: Interno lab. artes marciais
lab. de tênis de mesa
lab. de dança e fitness
sala de aula
lab. de boxe
piscina semi-olímpica
lab. de pilates
lab. línguas
acadêmia
informática
Pedagógico
conj. vestiários
espaço de convivência
Vivência acesso ao público 141
Centro de informação acesso ao público
carga|descarga
exposição
despensa
conj. sanitários func.
recepção
cafeteria (convivência)
cafeteria
copa func.
staff
conj. sanitários público
dep. mat. limpeza
lab. apoio
conj. sanitários
acervo técnicos
apoio
lab. rede
brinquedoteca
adulto|midiateca
reunião func.
lab. informática
infanto-juvenil
acesso internet
Serviços
Biblioteca
sala do servidor
diretor professores
estudos|pesquisas
papelaria|xerox
controle
coordenador
sala de aula
auditório
hall principal
almoxarifado
depósito
livraria|revistaria
guarda-volumes
secretária
Técnicos
Acesso
acesso ao público 142
sala do servidor
ADM
acesso ao público
Centro de esporte e alimentação acesso ao público
lab. artes marciais
acesso ao público
diretor
secretaria
vice-diretor
almoxarifado
lab. de boxe
espaço de convivência
coordenador
professores
piscina semi-olímpica
conj. vestiários
copa funcionários
conj. sanitários adm.
lab. de dança e fitness
Vivência
lab. de pilates acadêmia lab. de tênis de mesa lab de línguas
Administração
sala de aula
enologia
Área técnica
confeitaria|padaria
cozinha
galeria técnica
câmara fria
depósito
controle|monta-cargas
carga|descarga
Gastronomia
lab. de informática sala de aula
Esporte
equipamentos
Controle Restaurante pedagógico
acesso ao público 143
“Nunca me preocupei com o futuro. Eu tenho uma obsessão com o agora, com o presente.” (REM KOOLHAAS)
PROJETO 145
Situação atual 1. córrego Guaraú 2. CEI Jardim Peri 3. EMEF Conjunto Habitacional Vila Nova Cachoeirinha 4. CDHU Vila Nova Cachoeirinha 5. EC Jardim Peri 6. UBS Vila Dionísia 7. EMEF Osvaldo Quirino Simões
área de intervenção galpões a demolir
0 5
0 5
146
0
0
20
10
50
20
escala: 1:2000
10
50
7
5 6
4
3
1
147 2
Área de intervenção Área = 19.922m² CAmáx= 1 TOmáx = 50% TPmín = 0,25 Gabarito máx = 15m Recuomín = 5m
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0 5
148
0
0
20
10
50
20
escala: 1:2000
10
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149
Implantação 1. centro de informação 2. centro de esporte e alimentação 3. acesso passarela 4. apoio quadras 5. conj. vestiários 6. cantina 7. segurança/guarita 8. bicicletário 9. pista de skate
10. quadra poliesportiva 11. playground 12. acadêmia ao ar livre 13. convívio
0 5
0 5
150
0
0
20
10
50
20
escala: 1:2000
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10 12 13 11 4
10 9
5 6 7 8
1
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TĂŠrreo Cota 0,00m - Altitude: 745m
0
5
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escala: 1:800 152
C 1
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C
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H
B
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F
G
H
LEGENDA:
1. diretor 2. reunião 3. staff 4. recepção 5. cozinha func. 6. apoio 7. sala do servidor 8. auditório 9. livraria/papelaria 10. guarda-volumes 11. foyer 12. acervo infantojuvenil 13. abrigo/área técnica 14. área técnica/manutenção
15. professores 16. coordenador 17. vice-diretor 18. diretor 19. secretaria 20. guarita/segurança 21. recepção 22. administração restaurante 23. antesala de estudo 24. câmara fria 25. despensa 26. cozinha 27. restaurante popular
153
1ยบ Pavimento Cota 4,00m - Altitude: 749m
0
5
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escala: 1:800 154
C
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B
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9
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C
D
E
F
G
H
LEGENDA:
1. sala de estudos/pesquisa 2. sala de aula 3. secretaria 4. circulação 5. mezanino/convivência 6. acervo/leitura 7. terraço 8. piscina semi-olímpica 9. mezanino/convivência 10. lab. informática
11. lab. línguas 12. almoxarifado 13. dep. mat. ed. física 14. lab. tênis de mesa 15. lab. de pilates 16. lab. de dança e fitness 17. lab. boxe 18. lab. de artes marciais 19. lab. de musculação
155
2ยบ Pavimento Cota 8,00m - Altitude: 753m
0
5
20
escala: 1:800 156
C
D
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5
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0
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G
9
9
9
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2
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F
1
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5 10
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3
C
D
E
F
G
H
LEGENDA:
1. área técnica 2. lab. de software 3. lab. de redes e hardware 4. professores 5. coordenador 6. apoio/ti 7. exposição temporária 8. convivência/lazer 9. sala de aula
10. mirante/convivência 11. lab. enologia 12. lab. panificação 13. lab. cozinha 14. lab. de bar e restaurante 15. cozinha de demonstração 16. almoxarifado 17. câmara fria 18. equipamentos
157
B
Cobertura Cota 13,00m - Altitude: 758m
0
5
20
escala: 1:800 158
C
0
D
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A
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G
4
H
CAIMENTO 3%
B
B
C
D
E
F
G
H
LEGENDA:
1. telha translucída em fiberglass incolor 2. estrutura treliçada h=2,50m 3. perfis de aço / 50x100mm 4. calha coletora em perfil "U" / 10x10cm
159
Complexo Cultural Recreativo do Jardim Peri Área = 19.922m² CA = 0,48 TO = 31,21% TP = 0,38 Gabarito = 13m Recuo = 8m
0 5
0 5
160
0
20
10
0
50
20
escala: 1:2000
10
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Elevações
ELEVAÇÃO NOROESTE
ELEVAÇÃO NORDESTE
ELEVAÇÃO SUDOESTE
ELEVAÇÃO SUDESTE esc.: 1:800 0
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5
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Cortes
CORTE AA
CORTE BB
CORTE CC
CORTE DD
CORTE GG
CORTE HH esc.: 1:800 0
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CORTE EE esc.: 1:800
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0
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CORTE FF esc.: 1:800
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0
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“O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar” (OSCAR NIEMEYER)
PERSPECTIVAS 169
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Implantação Seguindo os ensinamentos de Siza, o primeiro passo antes de iniciar o projeto do edifício e do parque que o circunda foi estudar e compreender o sítio em que seria implantado. Sendo assim, o edifício foi posicionado com sua principal fachada voltada para a Av. Afonso Lopes Vieira e para a Favela do Sucupira, criando um contraste formal e proporcionando uma nova vista para os moradores do aglomerado e das pessoas que trafegam pelas vias paralelas ao córrego do Guaraú. Entretanto, houve também uma grande preocupação em não dar as costas para as demais ruas e para seus moradores, posicionando a frente do restaurante para a Travessa Luís Machado, o que garante a visualização de sua frente por quem trafega pela avenida e ao mesmo tempo proporciona um acesso tranquilo para carga e descarga, ações tão frequentes em um restaurante. O parque e suas quadras, por sua vez, se interligam com o campo de futebol do EC Jardim Peri, formando um grande complexo esportivo, o que permite uma circulação contínua e fluída para quem o acessa a partir da Rua Lucrécia de Aguiar. A topografia original foi considerada e convertida em uma série de platôs de 50cm de altura que se organizam sobre as curvas de nível que se interligam a partir de rampas. Tal solução respeita o perfil natural do terreno e cria uma série de nichos capazes de abrigar diferentes funções e proporcionar interações entre os frequentadores do parque e sua arquitetura. Contornando as paredes dos terrenos vizinhos, agora utilizadas para grafite, foi implantada uma sequência de espelhos d’água que podem ser usados pelas pessoas em dias de calor, com o intuito de resgatar a história do córrego Guaráu, transformando a relação com a água, outrora negativa, em um simbolo da mudança e da transformação do bairro nos últimos anos. 172
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Permeabilidade Desde o início do desenvolvimento deste trabalho foram levantados conceitos como o “Programa Aberto”, de Rem Koolhaas e o “Terceiro Lugar” do urbanismo sustentável. Para que tais preceitos funcionem na prática é necessária uma análise meticulosa da distribuição dos fluxos e das funções do projeto, de forma a intensificar as interações sociais e convidar as pessoas à utilizar e adentrar a obra arquitetônica. Sendo assim, uma das principais preocupações do projeto foi garantir a permeabilidade física e visual do complexo. Para tanto os acessos dos edifícios acontecem por meio de grandes halls que atravessam de norte a sul os volumes, facilitando o fluxo permanente pelos dois lados do parque e gerando vistas desobstruídas e convidativas. Os halls ainda contam com mezaninos que permitem enquadramentos também na vertical. Parte do objetivo foi separar cuidadosamente as diferentes funções dos edifícios, mas ao mesmo tempo permitir a visibilidade, convidando os frequentadores da escola técnica, por exemplo, a visitar a biblioteca, que por sua vez, possui uma bela vista da piscina semiolímpica, quase tão interessante quanto àquela que podem desfrutar os frequentadores da escola de esportes. A separação do projeto em dois volumes abrigados por uma grande cobertura, não por acaso, garante também a permeabilidade física e visual aos frequentadores do parque, criando três eixos paralelos de circulação contínua. Há ainda a passarela, tão pedida pelos moradores do bairro. Foi planejada de forma conjugada ao edifício do CI (Centro de Informação), proporcionado uma série de vistas dos mais variados usos do complexo, com o intuito de convidar o transeunte a visitá-lo, mas permitindo ao mesmo tempo a rápida circulação e passagem para àqueles que desejam chegar de forma veloz ao seu destino.
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Iluminação e ventilação natural Todos os usos que exigem maior permanência foram planejados nas laterais dos edifícios para intensificar a ventilação e iluminação, entretanto, a forma muito profunda dos prédios, aliada a necessidade de brises para as salas de aula, laboratórios e biblioteca reduz a entrada de luz e dificulta a ventilação cruzada. Para solucionar tal problema foram projetados dutos de luz que rasgam os volumes, permitindo a entrada da iluminação zenital e proporcionando o efeito chaminé da ventilação que entra pelas laterais dos edifícios. Para que tal solução funcionasse sem causar problemas, optou-se pela utilização de uma cobertura elevada translúcida e a utilização de telhas perfuradas em áreas com lanternis, garantindo a entrada da luz indireta, de forma semelhante aos brises laterais. Tal elevação da cobertura, permitiu ainda que a última laje possa ser utilizada como área técnica. Os brises horizontais em madeira foram instalados para filtrar a radiação direta na maior parte do ano, além de criar uma identidade formal para o edifício. A preocupação com a luz direta também foi levada em consideração no desenvolvimento do layout da biblioteca, concentrando o acervo principal no centro da edificação, reservando as laterais para mesas de estudo e informática, criando ambientes agradáveis e repletos de visuais, além de proteger o acervo e distribuí-lo de forma lógica, intensificando o wayfinding do usuário da biblioteca, que também conta com um terraço ao ar livre. A área infantil, localizada no térreo e inspirada na biblioteca pública de Amsterdam e biblioteca técnica de Praga, conta com visualização total por parte dos usuários do salão principal e dos alunos do curso de informática. Esses, por sua vez, possuem laboratórios inspirados no modelo TEAL (Technology Enabled Active Learning) do MIT, projetados para aproveitar a tecnologia ao máximo e melhorar a relação professor/aluno em sala de aula. 218
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Estrutura A estrutura de cada edifício foi pensada de forma isolada com o intuito de resolver as particularidades derivadas das funções que cada um abriga e do aspecto formal desejado. O edifício do CI (Centro de informação) foi planejado com um grande balanço de vinte metros, criando uma praça coberta à frente da biblioteca. Para suportar tal balanço foi pensada uma estrutura composta por treliças metálicas e uma série de vigas em perfil “I” dispostas de cinco em cinco metros. A inspiração para tal solução foi o projeto do “Museu Nacional de Belas Artes de Quebeque”, do escritório OMA, não por acaso, liderado por Rem Koolhaas e citado no capítulo de referências deste memorial. Para completar a estrutura foram utilizadas lajes aparente em Steel Deck, realizou-se tal escolha para aumentar a racionalidade e consequentemente a velocidade da construção, facilitando a passagem das demais instalações prediais. Para solucionar eventuais problemas acústicos utilizou-se forros verticais recheados com mantas acústicas ensacadas, mantendo a ventilação da laje por massa térmica. O prédio do CEA (Centro de esportes e alimentação), por sua vez, foi projetado em concreto armado pré-moldado, com lajes alveolares protendidas. Isso porque tal edifício não necessita vencer um grande balanço e a escolha pelo concreto garante maior facilidade de mão-de-obra. Para tanto, optou-se por realizar as instalações prediais sob piso elevado, evitando recortes desnecessários no concreto e não reduzindo o pé-direito com relação ao CI, visto que a altura das vigas é consideravelmente menor com a ausência do balanço. A cobertura translúcida foi pensada para criar uma unidade entre os dois volumes. Visto o vão de sessenta metros entre os apoios nos dois edifícios, foi projetada uma estrutura em treliças metálicas com 2,5m de altura, respeitando o gabarito máximo de 15m da região e ao mesmo tempo criando uma relação harmônica entre os dois edifícios. 230
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“Pessoalmente, quando eu fiz o projeto do museu de artes de São Paulo, minha preocupação básica foi a de fazer uma arquitetura feia, uma arquitetura que não fosse uma arquitetura formal, embora tenha ainda, infelizmente, problemas formais. Uma arquitetura ruim. E nos espaços livres que pudessem ser criados pela coletividade, assim nasceu o grande vão do museu, com a escadinha pequena. A escadinha não é uma escadaria áulica, mas uma escadinha tribuna que pode ser transformada num palanque. A maioria das pessoas acham o museu ruim, e é mesmo. Eu quis fazer um projeto ruim. Isto é, feio formalmente, arquitetonicamente, mas que fosse um espaço aproveitado, que fosse uma coisa aproveitada pelos homens.” (LINA BO BARDI, 1972)
REFERÊNCIAS 237
238
Parque da Juventude e Biblioteca de São Paulo Aflalo & Gasperini Arquitetos, São Paulo, Brasil, 2003
Localizado na zona norte da capital paulista, o parque foi implantado onde antes ficava parte do maior presídio do Brasil, o Carandiru. Em frente à estação de metrô, o complexo cultural recreativo de 240 mil m² conta com espaços variados para prática de esportes e acesso gratuito à internet, além de abrigar a ETEC Parque da Juventude e a Biblioteca de São Paulo. O projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos é um dos raros vencedores de concursos públicos de arquitetura que foram construídos e é possível dividi-lo em: Parque Esportivo: Primeiro a ser inaugurado, possui 35 mil m² onde é possível praticar esporte em uma das 10 quadras poliesportivas, sendo duas de tênis e oito de vôlei, basquete, handebol e futsal, na pista de skate ou aproveitando a pista de corrida. O parque também faz empréstimo de bolas, raquetes e bolinhas de tênis. Além de contar com aulas gratuitas de esporte de segunda a sábado em diversos horários. Parque Central: Com 95 mil m² de área verde, esse espaço possui alamedas, jardins, bosques, árvores ornamentais e frutíferas. Além de contar com 16mil m² de Mata Atlântica e permitir a entrada de animais de estimação. Parque Institucional: Nessa área está localizado o prédio das Escolas Técnicas Estaduais (ETEC), com vagas para ensino médio gratuito e cursos técnicos de 5 diferentes áreas, o posto do Acessa SP, que tem mais de 100 computadores e oferece cursos e oficinas gratuitas, e a Biblioteca de São Paulo, principal biblioteca da cidade.
Figura 50: Parque Central no Parque da Juventude. [2014]
Com programa semelhante ao proposto neste trabalho, assim como a situação de implantação, com acessos possíveis em todas as faces da quadra, o Parque da Juventude surge como um exemplo de sucesso deste tipo de iniciativa, transformando o passado problemático em um presente melhor. 239
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Biblioteca Brasiliana Rodrigo Mindlin Loeb + Eduardo de Almeida, São Paulo, SP. 2013
Construída para abrigar o raro acervo de 17 mil títulos doados pelo bibliófilo José Mindlin, à USP (Universidade de São Paulo), a biblioteca de 21.950m² está localiza dentro do campus da Cidade Universitária e foi projetada por Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, neto de José. Mindlin faleceu em fevereiro de 2010, com 95 anos, quando a obra já avançava. Inspirado em conceituadas bibliotecas internacionais, o complexo também abriga o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), e conta com livraria, cafeteria, sala de exposições e auditório para 300 pessoas. Também conta com um bosque no entorno que possui algumas árvores que foram remanejadas. Apesar da semelhança programática da biblioteca e do interessante uso da segunda pele, a principal referência aproveitada é a grande cobertura que liga todos os espaços e se assemelha muito com àquela que foi proposta neste trabalho. Além de um lanternim central de vidro laminado que permite a entrada de luz natural, promovendo economia de energia, a cobertura do edifício também conta com filtros UV e um plano de chapa perfurada que protege os livros de radiação solar direta. O Instituto de Elétrica da e Eletrônica (IEE) da USP desenvolveu um projeto de geração de energia fotovoltaica na cobertura do edifício. Com potência de 150kw, que deve suprir a demanda do complexo durante o dia.
Figura 51: Pátio central da Biblioteca Brasiliana. [2013]
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin consumiu cerca de R$ 130 milhões. Além dos recursos orçamentários da USP, a construção do edifício contou com o apoio do Ministério da Cultura, da Fundação Lampadia e do BNDES, e com o patrocínio (por meio da Lei Rouanet) da Petrobras, CBMM, CSN, Fundação Telefônica, Suzano Papel e Celulose, Votorantim, Grupo Santander, Raízen, Cosan, Natura e CPFL. 241
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Musée national des beaux-arts du Québec OMA, Quebec, Canadá. 2009
Vencedor do concurso para o novo Museu Nacional de Belas Artes de Quebec, o projeto desenvolvido pelo OMA ocupa uma área de aproximadamente 10.310m² e se destaca principalmente por sua forma marcante capaz de abrigar um programa complexo, além de harmonizar os diferentes usos e obter o máximo desempenho estrutural e bioclimático. Principal referência estrutural, juntamente com a Biblioteca Brasiliana, o projeto composto por três “caixas” sobrepostas sustenta um balanço de 20m com apoio em apenas uma de suas faces. Para tanto, é necessário o uso de estrutura metálica composta por treliças com vãos de 5 metros entre pilares, reforçados por “caixotes” de 2,5x2,5m compostos por vigotas de madeira e localizados sob as lajes. Acredita-se que tal solução possa ser reproduzida para superar vãos semelhantes neste trabalho. Outros métodos visíveis no projeto do OMA que foram aproveitados, e anteriormente destacados durante a fundamentação teórica, são o programa aberto e o projeto em corte. Tais métodos possibilitaram o desenvolvimento de uma forma que não só se integra o edifício ao parque a partir de uma transição escalonada dos diferentes gabaritos, como também organiza o programa de modo a potencializar os acessos, a circulação, a ventilação e a iluminação do museu.
Figura 52: Perspectiva do Musée National des Beaux-arts du Québec. [2009]
A utilização de sheds e lanterins para resolver problemas de ventilação e iluminação, assim como o aproveitamento das lajes como espaços de convivência e a distribuição de acessos em diferentes níveis, são outras características comuns entre o projeto do escritório de Rem Koolhaas e o estudo preliminar apresentado neste memorial. Entretanto é importante destacar que algumas ideias, apesar de semelhantes, surgiram antes do contato direto com esse projeto referencial. 243
Figura 53: Sistema estrutural do Musée National des Beaux-arts du Québec. [2009] Figura 54: Corte esquemático. [2009] Figura 55: Infográfico da distribuição e dimensionamento do programa. [2009] Figura 56: Maquete física do projeto. [2009] 244
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ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart Ruy Ohtake, São Paulo, SP. 2013
Construído num terreno de 72.276,25m², cedido pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e inaugurado em 2013, o complexo arquitetonico projetado por Ruy Ohtake na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo, abriga a primeira Escola Técnica Estadual do Estado voltada ao esporte. A escola conta com cinco quadras (uma de vôlei de areia, duas poliesportivas, duas de tênis e paredão), dois campos para futebol society, pista de atletismo, instalações para arborismo e estacionamento para bicicletas, todos equipamentos também utilizados pela população e localizados em seu exterior. Já na área interna, o edifício possui uma biblioteca, salas de aula e laboratórios de línguas, informática, dança e fitness, musculação, boxe, artes marciais, pilates e tenis de mesa. Apesar das consideráveis diferenças no tamanho do programa, nas questões formais e na escala do equipamento com relação ao projeto deste TFG, que visa atender principalmente o entorno próximo e o bairro do Jardim Peri, a ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart surgiu como principal referência para elaboração e dimensiomento dos espaços do curso de organização esportiva, visto que o projeto tem atingido considerável sucesso na Zona Norte da capital paulista, além de contar com instalações modernas e funcionais.
Figura 57: Quadra poliesportiva ETEC de Esportes Curt Walter Otto Baumgart. [2013]
Cabe destacar também o objetivo de integrar a escola e a comunidade, promovendo a inclusão social através do esporte, assim como no Parque da Juventude. Tal conceito tem ganhado força em todo o mundo e traz sustentabilidade e variedade à construção, garantindo o uso contínuo e o máximo aproveitamento do edifício construído.
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Escola de gastronomia do Senac M/PA Pedreira de Freitas Arquitetos, Águas de São Pedro - SP. 2001
Parte do complexo do Hotel Escola Águas de São Pedro, formado por edifícios de épocas e autores distintos, a escola ministra desde 2001 o Curso Superior em Tecnologia da Gastronomia. A construção tem uma implantação que destaca o paralelismo com os blocos vizinhos e aproveita do desnível natural do terreno para acomodar dois pavimentos sem ligações interna entre eles. No térreo, que possui dimensões menores, estão o vestiário, duas salas de aula, uma delas utilizada para lições de enologia, sala de professores, depósito, equipamentos, restaurante pedagógico e a área técnica utilizada para conectar tais ambientes. Já o piso superior conta com três laboratórios, dois de cozinha e um de padaria e confeitaria, além de três câmaras fria. Esse layout criado pelo SENAC dá ênfase à exaustão realizada através de coifas cujos dutos são encaminhados para a chaminé situada sobre as câmaras. Acima, à esquerda, Figura 58: Cozinha para alunos. [2009] Acima, à direita, Figura 59: Laboratório de panificação e confeitaria. [2009] No centro, à esquerda, Figura 60: Fachada orientada para nascente. [2009] No centro, à direita, Figura 61: Fachada da escola. [2009]
Apesar de não se configurar como um exemplo formal ou mesmo estrutural, o edifício destaca-se pelo dimensionamento e distribuição dos ambientes e laboratórios, caracteristicas da escola que foram consideradas ótimas pela Drª Renata Zambon Monteiro, em sua tese de doutorado: “Escolas para cursos de gastronomia: espaços, técnicas e experiências.”1. Nela a arquiteta apresenta um estudo sobre projetos para escola de gastronomia a partir da metodologia de Avaliação Pós-Ocupação, com o uso de métodos e técnicas como walkthrough, registros fotográficos, entrevistas com perguntas abertas para participantes do projeto, questionários para alunos e professores e embasamento teórico de legislações.
Abaixo, à esquerda, Figura 62:Implantação da escola (ao centro). [2009] Abaixo, à direita, Figura 63:Perspectiva do edifício. [2009]
1. MONTEIRO, R. “Escolas de gastronomia: técnicas e experiências”. 2009. 294f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. 2009. 249
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SUPSI Kengo Kuma, Mendrisio, Suiça. 2013
Kengo Kuma foi chamado para, juntamente com o Studio d`Architettura Martino Pedrozzi, desenvolver um projeto para a Scuola Universitaria Professionale della Svizzera Italiana (SUPSI), uma faculdade de ciências aplicadas localizada na região de língua italiana da Suiça. O principal desafio do projeto foi superar a grande barreira urbana existente, um sistema ferroviário que liga a universidade à cidade de Mendrisio. Pode-se dizer que muitas referências deste projeto sensacional podem ser proveitadas, mas duas se destacam. Primeiramente, a maneira fluída e orgânica com que Kuma conecta o edifício projetado com o lado oposto da linha férrea, com uma passarela tão integrada ao edifico que parece fazer parte dele. Tal necessidade também existe neste trabalho, já que ficou evidente em todas as análises que o córrego Guaraú é uma barreira, entre o projeto e os moradores do outro lado, tão forte e delimitante quanto a linha férrea. O segundo ponto considerado, foram as grandes rampas que surgem naturalmente do terreno, seguindo a escola da “Landscape Architecture”, e valorizando o movimento e a liberdade, temas centrais do urbanismo sustentável. Esses planos inclinados foram inspirados pelos telhados locais, em uma inteligente reinterpretação da escala e do contexto urbano. É importante ressaltar ainda, que tudo acontece de maneira tão sútil que também traz a tona a importância da contemplação e do ócio. Os degraus cuidadosamente inseridos na rampa/cobertura criam espaços de permanência que são um ótimo exemplo de como aproveitar desníveis para criar espaços interessantes.
Figura 64: Perspectiva do projeto da SUPSI. [2013]
Outros fatores, como a distribuição dos ambientes e dos espaços livres, além da preocupação com as condições climáticas, podem ser aproveitados neste trabalho. 251
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Olympic Sculpture Park Weiss Manfredi, Seattle, EUA. 2013
Assim como no caso do projeto da SUPSI, a principal referência aproveitada desse projeto é a maneira orgânica e fluída que Manfredi planejou para cruzar grandes barreiras urbanas, demonstrando mais uma vez fundamentos básicos da “Landscape Architecture”. Previsto como um novo modelo para parques esculturais norte-americanos, o projeto está situado em um terreno de frente para o rio e cortado por trilhos de trem e uma importante via arterial da cidade. A estrutura criada por Mandredi conecta três locais diferentes, utilizando uma plataforma ininterrupta na forma de um grande Z “verde”. Tudo isso é feito de maneira inteligente, aproveitando diferentes vistas panorâmicas de pontos turísticos da cidade, enquanto emula as características da topografia original daquela região e atravessa faixas rodoviárias e ferroviárias. Vencedor de um concurso internacional, o projeto que possui uma altura total de 12 metros, desde o nível do rio até o nível final no qual se conecta com a rua, agora permite uma livre circulação dos pedestres e ao mesmo tempo traz um novo espaço de ócio para a região.
Acima, à esquerda, Figura 65: Situação antes da implantação do projeto.
Considerando que no terreno do trabalho final de graduação existe um desnível de 3m e a necessidade de uma passarela na face de menor cota, ligando a favela do Sucupira ao novo equipamento projetado, essa referência surge como um modelo muito bem vindo de como aproveitar a topografia e ao mesmo tempo criar conexões e espaços de convívio integrados com a paisagem, a natureza e o contexto urbano no qual se insere.
Acima, à direita e abaixo Figura 66-68: Perspectivas do Olympic Sculpture Park. (2013) 253
“A memória é a chave da arquitetura. Sem ela, não temos futuro” (DANIEL LIBESKIND)
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