Aulas de Contrabaixo Fernando Tavares
TRANSCRIÇÃO: KING CRIMSON – BOOK OF SATURDAY Por Fernando Tavares com John Wetton no Contrabaixo. Texto revisado em 2020. Publicado originalmente na edição 65 da revista Bass Player Brasil John Wetton (12 de junho de 1949 – 31 de janeiro de 2017) foi um famoso baixista e cantor atuante desde a década de 70, quando ingressou na banda King Crimson para formar uma das cozinhas mais poderosas do Rock Progressivo com o não menos genial Bill Bruford. Esta parceira pode ser conferida em álbuns como Larks Tongues In Aspic (1973), Starless and Bible Black (1974) e Red (1974), entre outros e que produziram canções como Easy Money, Starless, além das homônimas aos álbuns já citados. Vale salientar que é muito interessante conferir algumas performances da banda em registros ao vivo do período relatado para perceber a enorme capacidade de improvisação do baixista e dos outros membros da banda, estas podem ser conferidas em álbuns como USA (1975) e The Great Deceiver (1992). A dupla também gravou o primeiro álbum do supergrupo U.K. que além de Wetton e Bruford, contava com o tecladista e violinista Eddie Jobson, que participou da banda de Frank Zappa e o extraordinário guitarrista Allan Holdsworth. Com esta banda o baixista registrou dois álbuns e pouco tempo após o término do U.K. surgiu um novo supergrupo do qual John Wetton participaria, o Asia. A banda contava com os ex-Yes Steve Howe (guitarra) e Geoff Downes (teclados), além de Carl Palmer (ex-EL&P). Rapidamente o Asia se tornou uma das mais famosas do início dos anos 80, muito devido aos hits Only Time Will Tell e Heat of the Moment e que sem dúvida alguma o maior sucesso comercial da carreira de Wetton. Em todos os seus trabalhos, podemos conferir um baixista versátil e que trabalha muito bem as linhas do baixo, com ideias que fornecem ao instrumento muita vitalidade, além de proporcionarem uma sustentação harmônica muito consistente para a música. Assim, o baixista dispunha de diversas ferramentas, algumas características do Rock, como as famosas quintas e oitavas e as pentatônicas, mas ia além ao dispor de diversos tipos de escalas como a escala Domdim (Dominante Diminuta), entre outras, além dos cromatismos. Tudo isso aliado a ideias que se utilizavam de polirritmia e compassos diferentes dos tradicionalmente usuais, em suma, o baixista dispunha de um arsenal de elementos essenciais para contruir muitas variações em suas linhas.
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Para citar algumas canções gravadas pelo baixista que utilizam estas ideias, podemos citar como exemplo as canções do Asia ou da música Red do King Crimson, que se utilizam de poucas para construir as variações, mas que foram pensadas para dar uma maior sustentação e peso para as canções. Já linhas como as de Starless ou Larks Tongues In Aspic – Parte 2, trabalham com possibilidades variadas em uníssono ou com abertura de vozes, em parceria com as linhas de guitarra e violino e que apresentam variações muito interessantes para estas músicas. Para esta edição, escolhi uma das linhas de contrabaixo mais bonitas criadas por Wetton, a da música Book of Saturday do álbum Larks Tongues in Aspic. Nesta linha encontramos um músico maduro e no auge de sua criatividade. O músico cria uma linha com uma ideia complexa de contrapontos em relação a guitarra e a sua linha de voz. Vale lembrar que a canção é construída somente com baixo, voz e guitarra. Na introdução o baixista toca a fundamental e a quinta nos primeiros compassos. Na base de voz (compassos 5 ao 12) ele utiliza a escala da tonalidade (Am) para construir as frases. No compasso 9, além da fórmula de compasso variar para 5/4, o baixista utiliza um cromatismo para a nota E. Para o acorde de B7(b9) ele trabalha com a fundamental, a quinta e a oitava. Preste atenção ao sinal Let Ring, que indica para deixar as notas soando. Na repetição da base de voz (compassos 13 ao 20) o baixista explora novas melodias e cria uma linha completamente diferente da primeira. Nela, ele trabalha com a escala da tonalidade, mas compare as duas linhas e veja que cada uma segue por um caminho próprio. No final o baixista utiliza uma tríade invertida de B sobre o último acorde. A partir do compasso 21 temos a ponte da música. Esta se inicia com o V grau da tonalidade em uma ideia harmônica pouco usual. A linha de baixo trabalha com a escala de E mixolídio, veja como o baixista trabalha com a tríade sobre o acorde de Bm, inserindo ainda uma passagem com a nona. No interlúdio, no qual ocorre um pequeno solo de violino, o baixista explora basicamente a fundamental, quinta e oitava dos acordes, sendo estes semelhantes aos usados na base de voz. Para as outras bases da canção, as ideias são as mesmas, porém o baixista sempre insere um novo caminho utilizando os elementos já apresentados. Por fim, podemos dizer que esta é uma daquelas linhas que só podem ter sido criadas por uma pessoa muito musical e que estudou música com muito afinco. Bons estudos e abraços à todos!
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