Dos encontros, encontrei um artista. Dos presentes, a amizade. Da amizade, um carinho, um quadro. Cores quentes, movimentos, texturas, abraços. Uma capa, um caderno, uma história, uma formação. Um sonho. Uma felicidade. Fernanda Prenholato, 2019
Esse caderno foi elaborado nas oficinas de design gráfico e visual, além da oficina de costura da Fábrica de Artes e Ofícios. Imagem de capa: Rafael Zafalon
Centro Universitário Central Paulista – UNICEP Trabalho de Graduação Interdisciplinar II – Ateliê
Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Cerávolo
São Carlos I SP Dez I 2019
FÁBRICA DE ARTES E OFÍCIOS Requalificação de área histórica e centro de artes cênicas
FERNANDA PRENHOLATO
Agradeço: Aos professores pelos ensinamentos, em especial à Ana Lúcia, pela generosa orientação. Aos amigos, que fizeram dessa jornada inesquecível.
As reflexões que motivam esse trabalho têm inicio no interesse pelas edificações históricas e os espaços públicos urbanos, seus aspectos configuracionais, as práticas sociais neles realizadas e seus relacionamentos com o indivíduo, além da inquietação gerada entre as dimensões do uso público e do uso privado. O processo de formação das cidades e suas consequências na distribuição e no acesso à esses espaços, assim como a disseminação da importância histórica das edificações e sítios pertencentes as mesmas, portanto um patrimônio, não podem ser desconsiderados, não se limitando apenas aos espaços públicos em si, mas à forma como se relacionam com o entorno e com as pessoas, considerando ainda o impacto gerado por diferentes formas de uso e ocupação. Observa-se criticamente a atual tendência do abandono patrimonial e de seus espaços públicos, além da falta de possibilidades do uso democrático e livre dos mesmos, principalmente enquanto acessíveis ao uso não limitados ao consumo. Tal dinâmica gera novas formas de relação entre a população e as cidades que habitam, tornando evidente a constante segregação e a busca por democratização desses espaços. A dificuldade na tradução do imaginário ligado a estes espaços enquanto forma projetual, efetivo nas cidades, também se mostra uma questão, fazendo com que a arquitetura seja um atrativo, possibilitando a permeabilidade entre essas relações, pois é no uso dos espaços públicos que se revelam a diversidade de interesses entre grupos sociais distintos. Portanto, o incentivo ás praticas sócio espaciais se faz fundamental, estabelecendo novas formas de apropriação desses espaços. Nesse sentido, destaca-se a importância do lazer, do flanar e das atividades culturais. Essas preocupações se concretizam na intervenção proposta para a antiga Fábrica de Tecidos Santa Magdalena e suas adjacências junta à Estação Cultura, localizados na região central de São Carlos. O novo objeto arquitetônico, volume que abriga um teatro e o núcleo administrativo do equipamento cultural, dialoga com o passado, através de um programa voltado às artes cênicas e oficinas artesanais, implantando também nos antigos galpões da fábrica, respeitando a história do local, tornando-se um espaço paisagístico e promotor, um pano de fundo para fazer, reunir, trocar, um grande centro social, que acomoda espacialmente encontros, relaxamento, experimentação, educação, cultura e coletivismo.
VAZIOS URBANOS, ESPAÇOS CATALIZADORES [14] O LOCAL, PASSADO E PRESENTE [16]
ABRIGO DE NOVAS IDEIAS [26]
LEITURAS URBANAS
TEMA E QUESTÕES DE PROJETO
REVITALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO [13]
A RELAÇÃO COM O ENTORNO [28]
CENTRO CULTURAL E A VERGUEIROS [42] ARTES EM AMSTERDAN [45]
O EXISTENTE E SUAS PROBLEMÁTICAS [50] INTERVENÇÃO NO ESPAÇO URBANO [53] NOVAS FORMAS DE APROPRIAÇÃO [59] PAISAGEM INDUSTRIAL [62] INTERVENÇÃO NO PATRIMONIO HISTÓRICO [71] FÁBRICA DE ARTES E OFÍCIOS [76]
BIBLIOGRAFIA
APONTAMENTOS PROJETUAIS
TIPOLOGIA E PROGRAMA
LINA E O SESC POMÉIA [39]
PESSOAS, ESPAÇOS, RELAÇÕES [49]
TEMA E QUESTÕES DE PROJETO REVITALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO Partindo do pensamento de que as cidades são o resultado de inúmeras modificações ocorridas ao longo do tempo e de que seus processos de construção estão diretamente ligados às construções sociais e políticas, é possível afirmar que a compreensão da arquitetura e urbanismo e as relações do indivíduo com as cidades mostram a importância de se ter uma eficiente infraestrutura urbana para assim evitar uma cidade deficiente. Ao se expandirem, as cidades geram muitos vazios urbanos e deixam suas estruturas subutilizadas, tendo muitos imóveis sem usos, os quais acabam entrando em ruínas. Segundo o IPHAN¹, as práticas de requalificação e revitalização visam recuperar o espaço ou construção, assim como melhorar o seu aspecto através de novas funções, estando ambas ligadas à ideia de transformar espaços, zonas ou áreas urbanas com o intuito de renová-las para que a população possa então usufruir dessas áreas de forma positiva. Com o objetivo de ocupar esses vazios urbanos, evitando a expansão horizontal desnecessária e requalificando áreas centrais degradadas, o uso de uma edificação de interesse histórico, modelo fabril do início do século XX, localizado na área central da cidade, especificamente os galpões da antiga fábrica de tecidos Sta. Magdalena, conhecida como “Tecidão”, adaptada para atividades culturais e de formação, potencializa sua preservação e sua importância para a comunidade, adotando soluções como a revitalização dos espaços públicos para espaços de qualidade e programações diversas, que visam oferecer valores compartilhados pela população, capturando as características locais, como os serviços oferecidos na região, evidenciando suas especificidades socioculturais e estimulando a demanda e o fluxo de pessoas, atribuindo assim, novos significados a esses lugares. ¹ IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
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Através da implantação de espaços para artes e ofícios é possível suprir uma demanda cultural voltada para atividades que requerem técnica e habilidades específicas, mas também incentivam o pensar, criar e fazer, encorajando a troca de experiências através da convivência em oficinas, as quais estimulam a preservação e memória de um dos mais importantes espaços de trabalho da cidade de São Carlos, constituindo novas atividades econômicas que possam gerar rendas. Além disso, os espaços arquitetônicos, tanto de intervenção como o novo objeto, oferecem ambientes para artes como dança, circo, teatro e multimídias, além de exposições e eventos, buscando então a convivência e o uso do espaço como uma indispensável consequência social.
TEMA E QUESTÕES DE PROJETO VAZIOS URBANOS, ESPAÇOS CATALIZADORES
O direito à cidade tem se mostrado uma discussão importante não só no meio sociológico, mas também no meio arquitetônico e urbanístico, apontando a necessidade de garantir o direito de deslocar-se por ela e ter acesso ao que ela oferece nas mais diversas esferas. Lefebvre (1991) defende que o direito à cidade é o direito à vida urbana, à centralidade renovada, aos locais de encontro e trocas, aos ritmos da vida e usos do tempo que permitem o aproveitamento pleno e inteiros desses momentos e locais. A forma como as cidades são planejadas mudou consideravelmente no Brasil no decorrer do século XX, sendo que até a década de 1950, as cidades se desenvolviam principalmente com base nas experiências dos séculos anteriores e eram construídas seguindo as tradições de parcelamento e organização do espaço urbano antes utilizadas. Contudo, em sintonia com a expansão urbana, derivada da industrialização, o desenvolvimento das cidades passou a ser pensado através de novas teorias e ideologias que começaram a substituir a tradição como base para a evolução das cidades, tentando garantir as melhores condições de uso dos espaços, com a visão de cidades como organismos funcionais, como é relatado na Carta de Atenas (1933)². Rapidamente, as cidades tiveram que lidar com um grande número de pessoas e seus espaços, além do tráfego para veículos, considerando que elas se expandiam sentido às periferias, tendo também que conduzir e gerenciar a infraestrutura adequada a esses locais, o que quase sempre demora e muitas vezes não acontece, tendo como consequência bairros afastados e desestruturados. Ao decorrer desse crescimento horizontal, onde a especulação imobiliária é estruturante, os grandes centros começaram a sofrer uma deterioração dos seus espaços devido a mudanças de usos e até mesmo a falta deles, surgindo então, grandes vazios urbanos³.
²Carta de Atenas, 1933: elaborada como manifesto urbanístico resultante do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em Atenas no ano de 1933, a Carta apresenta teorias e ideologias sobre o planejamento e formação das cidades modernas. ³Vazios Urbanos são espaços não construídos ou áreas construídas sem uso, caracterizados como remanescentes urbanos, áreas ociosas. Estes espaços vazios existem devido à ausência de ocupação funcional, de interesses sociais e transformadores do uso urbano.
Jan Gerl (2010) ressalta que as cidades são uma função urbana vital que exige consideração e grande planejamento por partes dos profissionais e que o século XXI é a época em que temos o maior acúmulo de conhecimentos em relação à conexão entre forma física e o comportamento humano. As cidades e seus habitantes tornaram-se muito ativos no papelchave do planejamento urbano e de áreas edificadas, onde os espaços de qualidade são fatores essenciais para cidades mais vivas, mais seguras, sustentáveis e saudáveis.
Em geral, o grande potencial para uma cidade com esses quatro objetivos acontece quando mais pessoas se movimentam por ela e permanecem nos seus espaços urbanos. Uma cidade que convida as pessoas a utilizá-la, deve ter uma estrutura de qualidade e coesa, com espaços públicos atrativos e uma variedade de funções urbanas, com bons sistemas de transporte que as conectem, tornando-se sustentáveis e vivas.
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Sendo assim, os vazios urbanos, considerados espaços ociosos, devem ter funções específicas que articulem locais estruturados e seus usos, levando em conta os espaços de transição e de permanência e a sensação de pertencimento entre as pessoas e essas áreas, tornando-se espaços catalizadores e de transformação urbana e social.
TEMA E QUESTÕES DE PROJETO O LOCAL, PASSADO E PRESENTE
A cidade de São Carlos apresenta um cenário de degradação da área central, com vários imóveis fechados, sem uso ou funcionamento, com praças e equipamentos de lazer e cultura com pouca qualidade e sem cuidados ou manutenções, com ruas e calçadas em más condições e com um planejamento urbano voltado para os veículos. Existem inúmeros vazios urbanos, principalmente dentro do seu centro histórico e na área próxima ao seu 4 Patrimônio Ferroviário , onde está localizada a antiga Companhia de Fiação e Tecidos Magdalena, a “Tecidão”, a maior fábrica de São Carlos no período da formação industrial da cidade, que, conforme Truzzi (2008), teve, entre 1911 e 1950, seus tempos áureos de alta produção para os grandes centros, a qual foi escolhida para a intervenção do projeto deste trabalho.
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Patrimônio Ferroviário de São Carlos: nessa área específica existem vários vazios urbanos, como o caso da vasta área da Estação Ferroviária, a antiga rodoviária, o prédio que abrigava a antiga fábrica de lápis Faber Castell, a área que compreende a antiga Companhia de Fiação e Tecidos Santa Magdalena e ainda áreas com galpões menores de outras antigas fábricas.
Mancha Urbana de São Carlos TERRITÓRIO PRÉ-ESTABELECIDO RAIO DE 1KM CENTRO HISTÓRICO ÁREA DE INTERVENÇÃO AV. SÃO CARLOS RUA JOSÉ BONIFÁCIO RUA AQUIDABAN RUA MARCOLINO PELICANO AV. TEIXEIRA DE BARROS LINHA FÉRREA CÓRREGO DO GREGÓRIO ROD. WASHINGTON LUIZ
Imagem elaborada pela autora
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Fundação Pró-Memória de São Carlos foi criada através da Lei nº 10.655, de 12 de julho de 1993, com a finalidade de preservar e difundir o patrimônio histórico e cultural do Município de São Carlos e funciona atualmente na antiga Estação Ferroviária da cidade, onde também funcionam o Arquivo Público, Museu da Pedra e Museu de São Carlos.
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Foram consultados os processos: 10569/2005 (imóvel de interesse histórico); 13687/2009 e 7454/2013 (alvará de demolição, diretrizes de uso e ocupação do solo, requerimento de construção de estacionamento – negado, declaração de interesse histórico, vistorias de condições do imóvel); 17036/2013 (certidão positiva, diretrizes de uso e ocupação do solo, imóvel em zona de interesse histórico); 25225/2014 (aprovação de projeto – reforma e restauração sem aumento de área construída, recuperação de fachada) e 813725/2016 (imóvel declarado de interesse histórico, IPTU histórico).
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Beco do Magdalena: é como ficou conhecida popularmente uma ruela, atual Rua Mario Constanzo, localizada a duas quadras da fábrica, onde foram construídas cerca de 15 casas de operários. Essas casas têm características ecléticas, próprias das construções residenciais da época. Atualmente são usadas como residências e permanecem com algumas de suas características intactas.
Em 1957 a fábrica enfrentou uma crise financeira, consequente das dificuldades do período pós-guerra, e teve uma de suas seções desativada, especialmente por ter teares muito antigos, que não condiziam mais com a fabricação dos tecidos. Todas as outras seções foram, ao passar dos anos, sendo desativadas e no início dos anos 70 a fábrica parou seus serviços.
A partir daí ela começou a entrar em ruínas. Pouco tempo depois de fechada, em 1980, por falta de manutenção, parte do prédio desmoronou, vindo abaixo parte de sua fachada na Rua José Bonifácio, atingindo pedestres que transitavam pela calçada. Entre os anos 90 e 2000 mais alguns muros vieram abaixo devido a um incêndio em um prédio assobradado, construindo pouco antes do fechamento da fábrica, ocorrendo muitos registros de pedidos de vistorias na prefeitura da cidade, onde os vizinhos relatavam o abandono da edificação e sua degradação, sendo sua área foco de proliferação de animais transmissores de doenças, tornando-a insalubre, além do uso do espaço por pessoas em situação de rua.
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Segundo documentos consultados no Arquivo Público e Histórico da Fundação Pró-Memória 5 6 de São Carlos e também em processos da Prefeitura Municipal, a Fábrica de Tecidos Santa Magdalena foi construída entre 1904 e 1911, com uma área de aproximadamente 22.000m², sendo composta por um total de 11 galpões, dos quais, encontram-se ainda no local 5 deles, abrangendo uma área construída de 8070m². A fábrica, fundada por Germano Fehr, juntamente com outros empresários, como Argêo Vinhas e Silverio Ignarra, teve como responsável pelo seu projeto e instalação técnica o engenheiro Pietro Roservi, imigrante italiano lembrado nos meios industriais são-carlense. Alguns anos depois de sua inauguração ela foi incorporada à Companhia Fiação e Tecidos São Carlos, grupo empresarial gaúcho, e teve um período de alta produção, vendendo tecidos nos comércios da cidade e exportando para grandes centros, oferecendo trabalho para um grande número de empregados, tanto que, mantinha, próximo a fábrica, 7 uma vila de casas para os operários conhecida como “Beco da Magdalena” , a qual ainda hoje tem uso majoritariamente residencial.
Acima, a esquerda, a estação da cidade, o viaduto e a praça Antônio Prado, região de principal acesso à fábrica. Acima, a direita, vista aérea da antiga Fábrica de Tecidos e antiga Faber Castell. Abaixo, também a direita, foto aérea da igreja São Benedito, com os galpões ao fundo. E abaixo, a esquerda, vista dos galpões da fábrica com ferrovia ao fundo. – Fotos acervo Pró-Memória.
Acima, a esquerda, imagem dos galpões visto do pátio interno da fábrica. Acima, a direita, fachada da fábrica na Rua José Bonifácio. Abaixo, também a direita, vista da José Bonifácio sentido norte. E abaixo, a esquerda, vista da Rua José Bonifácio, sentido sul. - Fotos acervo Pró-Memória.
Entre os anos de 2007 e 2009 os proprietários tentaram pôr em prática um projeto que visava derrubar o restante dos galpões para usar a área como estacionamento e posteriormente outras edificações seriam erguidas. Contudo, a Fundação Pró-Memória de São Carlos esforçava-se para conservar o conjunto de galpões, em função da importância da edificação como patrimônio industrial da cidade. A “Tecidão” foi a primeira fábrica do gênero a ser construída em São Carlos, um exemplar marcado pela sua volumetria e escala, com aberturas de janelas ritmadas, pelo cuidado na sua composição, com uso de novas técnicas e materiais construtivos, avançados para a época, com presença das águas do telhado de tamanhos distintos e sua empena resultante aproveitada com a instalação de “sheds” , que geram iluminação8 e ventilação no interior dos galpões. Edificações como essas tiveram papel relevante na disseminação da alvenaria de tijolo e de outros materiais industrializados, tal como ferro, sendo exemplos de racionalização que auxiliaram no estabelecimento de uma renovada técnica construtiva. Portanto, mais de uma vez, foram negadas as solicitações para o desmanche completo das edificações e em 2010 o imóvel foi declarado de Especial Interesse Histórico 9, não podendo ser demolido e sim realizada a sua recuperação e conservação. Isso não significa que não pode haver modificações nas edificações e que as mesmas estariam congeladas, pelo contrário, segundo o IPHAN e a Carta de Veneza (1964)10, um projeto de revitalização visa um novo uso para as edificações, com as adaptações necessárias para o mesmo. Dessa forma, em 2017 os novos proprietários iniciaram um projeto de reforma e restauro no local, visando recuperar seus telhados, os quais 2 dos 5 galpões se encontravam arruinados, resgatar suas fachadas, reforçar seus pilares e as tesouras de suas coberturas, realizando travamento da parede para evitar ações dos ventos, além de reaver os vales para escoamento de água. Atualmente, com o projeto ainda em andamento, 2 dos seus 5 galpões estão em funcionamento, abrigando um coletivo de co-working.
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Sheds: caracterizados como dispositivos de iluminação zenital que surgem a partir da geometria em dente de serra dos telhados, com inclinações estrategicamente dispostas de modo a receber determinada quantidade de luz e ventilação, vedadas com caixilhos de vidro para evitar infiltrações.
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Lei nº 15.276 de abril de 2010, Imóveis de Interesse Histórico: Institui a Planta Genérica de Valores do Município, define critérios para lançamento de imposto predial, territorial e dá outras providencias. –Desconto de até 50% no IPTU e incentivo de preservação do imóvel.
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Carta de Veneza (1964): Carta internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios, realizada durante o II Congresso Internacional dos Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, Veneza, 1964.
Levantamento Fotogrรกfico
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Imagem elaborada pela autora
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1: 2018, foto aérea (foto Onovolab); 2: 2019, foto aérea (foto Onovolab); 3 e 4: 2018, edificação anexa; 5. 2018, entrada coworking; 6: 2019, entrada coworking; 7. 2019, vista lateral galpão usado pelo coworking; 8: 2019, portão de acesso rua José Bonifácio; 9: galpão visto do pátio interno da fábrica. – fotos acervo pessoal
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10 e 11: 2019, galpões vistos do pátio interno; 12: 2019, muro de arrimo entre fábrica e área férrea; 13 e 14: 2019, galpões vistos da área livre do lote da fábrica; 15: 2019, piso em pedra; 16: 2019: patamares em níveis diferentes, ruínas; 17 e 19: 2018, pórtico existente, ruínas. – fotos acervo pessoal.
TEMA E QUESTÕES DE PROJETO ABRIGO DE NOVAS IDEIAS A importância do patrimônio histórico como bem cultural torna-se um suporte de memória e elemento central da reflexão sobre a cidade, sendo que como espaço ela é sempre produto e meio de produção de memórias, individuais e coletivas. De acordo com Kull (1998), o passado, nas suas múltiplas formas narrativas, é uma das dimensões mais poderosas neste processo de significação espacial. A narrativa histórica, nas suas formas discursiva, performativa, ritual ou material, tem um papel crucial na constituição dos territórios urbanos e alimenta, de múltiplas formas, o sentimento que tem sido designado como “de pertencimento” a espaços particulares, revelando sua identidade. Assim, pensar a cidade a partir dos lugares concretos que as constituem leva-nos a considerar o conceito de localidade urbano como uma boa ferramenta para a observação concreta da vida citadina, respeitando as dinâmicas espaciotemporais particulares de cada caso e recuperando suas especialidades, concebendo ao lugar um valor acrescido através da sua visibilizarão pública, onde, nesse ponto espacial se cristaliza uma história local, da rua, do bairro, da cidade. Para ressaltar a importância histórica das edificações da “Tecidão” e a imprescindível revitalização dos mesmos, levando em conta sua qualidade espacial, boa localização e sua memória afetiva, é necessário lhe apresentar um novo uso, o qual, segundo Tuan (2013), possa contribuir para a criação de um sentido de continuidade histórica e de integração entre as várias escalas da cidade, tendo a apropriação destes espaços pela comunidade, gerida por instituições locais bem enraizadas no território, que funcionam como nós de articulação entre a pequena escala comunitária e a escala citadina, com um protagonismo social e político relevante na estratégia de recuperação da sua identidade. Dessa forma, a proposta é de adaptar e transformar a antiga fábrica de tecidos em uma Fábrica de Artes e Ofícios, onde as artes cênicas, através da expressão corporal e criativa do indivíduo está de mãos dadas com oficinas que têm o poder de vincular as variadas memórias e potencializar a preservação do conjunto, contribuindo também com o desenvolvimento socioeconômico e cultural, abraçando toda a população, sem restrições para o uso, atendendo o público geral, de crianças a idosos, proporcionando a liberdade social das pessoas e agregando valores além dos espaços da fábrica, mas sim a todo o município, concedendo ao projeto um caráter catalizador do espaço público, convidativo à diferentes níveis de permanência, que transformam o local e seu entorno.
LEITURAS URBANAS A RELAÇÃO COM O ENTORNO Borde (2008) afirma que as características dos lugares moldam a ação local, da mesma forma que a ação coletiva, mediada por instituições e indivíduos, molda os lugares, física, social e simbolicamente. A identidade social é, do mesmo modo, um processo continuo de atribuição de significados aos lugares que se constroem num equilíbrio sempre renovado entre aquilo que permanece e aquilo que se muda. Segundo Lima (2007) e Truzzi (2008), a cidade de São Carlos, fundada em 1857, surge da expansão agrícola do café, passando, na década de 1930 por uma migração do campo para áreas urbanas, abrindo suas portas para o desenvolvimento das industrias na região, que se consolidaram como atividade econômica local. Décadas mais tarde, com a implantação de duas universidades¹¹ públicas e uma privada, a cidade se estabelece como eixo tecnológico, tendo atualmente sua economia ligada às universidades e ao polo industrial. Apesar do notório progresso econômico, pouco se evoluiu quando observamos os seus espaços públicos, que, como identifica Lima (2007), sofreram um descompasso na sua malha urbana e teve seu planejamento desorganizado, perdendo seu traçado original, que hoje se reduz ao seu centro histórico e poucos bairros ao seu redor.
¹¹ USP São Carlos – EESC (Escola de Engenharia de São Carlos), foi implantada em dezembro de 1952, dedica-se ao ensino, pesquisa e extensão e está entre as melhores e mais qualificadas instituições de engenharia do Brasil; UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), fundada em 1968, hoje abrange mais de 50 cursos superiores, dedicando-se também ao ensino, pesquisas e extensão. Além disso, possui um hospital universitário e tem em seu campus flora e fauna do serrado brasileiro; UNICEP (Centro Universitário Central Paulista), foi fundada em 1972 e oferece atualmente cursos de graduação e pós-graduação, capacitação gerencial e extensão universitária, além de incentivo a pesquisas.
Expansão Urbana de São Carlos CENTRO HISTÓRICO ATÉ 1940 1940 A 1950 1950 A 1970 1970 A 1980 1980 A 1990 1990 A 2002 LINHA FÉRREA ROD. WASHINGTON LUIZ
Imagem adaptada pela autora. Fonte: Lima, 2008.
De acordo com Gehl (2010) os centros das cidades são geralmente onde elas se iniciam, caracterizando-se por um tecido social diversificado, com presença sucessivas de grupos sociais diversos, pela associação entre emprego e moradia, entre espaços de produção e de comercialização, espaços culturais e de lazer, e pela reconstrução continua, através da permanência e adequação de suas estruturas físicas. No caso da cidade de São Carlos, sua região central, que já chegou a abrigar vários cinemas de rua e até uma piscina pública em um dos seus bulevares, a degradação física e afetiva dos seus bens e espaços é uma vertente que precisa de atenção.
Percebe-se, apesar de iniciativas interessantes, como festivais e eventos que acontecem ao decorrer do ano na cidade (Contato, Chorando sem Parar, Matsuri, Saia para Jantar, etc), aliado à falta de cuidados com o espaço público, uma diminuição significativa do uso de equipamentos públicos culturais e dos espaços de praças e áreas verdes.
CIDADE VIVA x CIDADE NÃO ATRATIVA
Parque do Bicão: Festival Contato 2019 (fotos: acervo do evento)
Parque do Kartódromo, 2019: uso do dia-a-dia, Festa da Família e Aulas de Circo. Praça XV, 2018 e 2019: Feira Solidária aos domingos, Festival de Orquídeas e Festival Chorando sem Parar. Praça dos Voluntários - Mercado Municipal, 2019: Festival Matsuri. - Fotos: acervo pessoal
Parque do Bicão, Praça dos Voluntários e Praça Antônio Prado, 2019. No dia a dia, sem grandes atrativos, mal cuidados e com vias preferenciais para veículos, esses espaços tornam-se somente local de passagem e não de permanência, como nas fotos de uso durante eventos. - Fotos: acervo pessoal
Ao se fazer uma análise urbana do entorno do conjunto histórico da antiga Fábrica de Tecidos, nota-se que não existe uma grande variedade de equipamentos públicos de cultura e lazer, assim como espaços qualificados de encontros e permanência da população, e também bons espaços de transição, sendo que esses percursos são elaborados em sua maior parte para os veículos. Observa-se também a proximidade da localização entre os equipamentos existentes, entretanto, limita-se ao ambiente físico, replicando a lógica encontrada na cidade, que segue o pensamento dentro de um universo micro e não das possíveis articulações com o entorno e a escala humana, apontada por Gehl (2010) como uma da mais importantes para trazer qualidade urbana às ruas, como no sistema viário, como quadras e edificações, conectando seus usos.
Rua Josê Bonifácio, fachada da fábrica; Cruzamento da Rua Santa Cruz com Aquidaban (atual acesso á fábrica); Rua Marcelino Pelicano e plataforma da estação – possíveis acessos á fábrica. Entorno da área de intervenção com prioridade para veículos e má condições de passeios e calçadas. - Fotos: acervo pessoal
Equipamentos Públicos RAIO DE 1KM CENTRO HISTÓRICO ÁREA DE INTERVENÇÃO CULTURAIS EDUCACIONAIS PRAÇAS E PARQUES MANCHA URBANA LINHA FÉRREA CÓRREGO DO GREGÓRIO ROD. WASHINGTON LUIZ
Imagem elaborada pela autora
Acima, a esquerda, Estação Cultura (Fundação Pró-memória, Museu de São Carlos, Museu da Pedra, Acervo Digital e Arquivo Público). Acima, a direita, atual cede da Biblioteca Amadeu Amaral (Praça Pedro de Toledo) . Abaixo, também a direita, Museu da Ciência e Praça Coronel Salles. E abaixo, a esquerda, cede do CDCC. – Fotos: acervo pessoal.
Nestes mesmos espaços é notável a existência de inúmeras edificações de interesse histórico, apontadas pela Fundação Pró-Memória como patrimônio da cidade, assim como outras edificações fabris, algumas delas ainda em funcionamento. Apesar disso, verifica-se que os usos desses imóveis são em sua maioria voltados para comércio ou uso institucionais, principalmente para departamentos públicos da prefeitura. Em entrevista realizada no ano de 2018 com a arquiteta Mariana Lucchino, funcionária da Fundação Pró-Memória, questões como o uso desses imóveis foram levantadas, apontando que em vez de obstáculos a modernização que devem ser superados, os prédios históricos são uma forma de riqueza cultural, que podem ser utilizados para mudar o caráter moral de regiões abandonadas, atraindo novos grupos de interesse. Tais soluções mostram como funciona atualmente o uso da cidade e de seus espaços, com projetos pensados em lotes que pouco se articulam com a malha urbana, ou pior, pouco se propõem a conjugar novas experiências urbanísticas. Borde (2008) aponta que a dinâmica urbana resulta de uma multiplicidade de processos, onde são as pessoas que dão sentido aos espaços que as rodeiam, dando significado e transformando os espaços em lugares únicos através das formas cotidianas de apropriação de lugares. Logo, observado a desconexão dos equipamentos e a retração de espaços públicos culturais na região, o enfoque para o centro urbano, que faz parte da história e dos espaços da vida pública da cidade, é necessário, e a reutilização e requalificação desses espaços, além de sustentável, deve ser interpretada como um meio para a preservação e não como fim.
Uso Histórico
ÁREA DE INTERVENÇÃO IMÓVEIS TOMBADOS IGREJAS E PREÇAS INSTITUCIONAIS COMERCIAIS RESIDENCIAIS INDUSTRIAIS
Imagem adaptada pela autora. Fonte: acervo pró-memória
TIPOLOGIA E PROGRAMA LINA E O SESC POMPÉIA As pessoas são detentoras da cultura popular, são elas quem definem o patrimônio imaterial através de seus costumes e o patrimônio material através do uso dos espaços e edificações, proporcionando relações de pertencimento e comunidade. Em sua experiência realizando projetos no Brasil, Lina Bo Bardi afirma que o povo brasileiro e sua cultura de ficar juntos, com seus costumes de danças e brincadeiras, foi o que a inspirou para propor ambientes que pudessem ser utilizados por jovens, crianças e a terceira idade, todos juntos. Ferraz (1993) aponta que a arquiteta pensava no uso dos espaços pelas pessoas do entorno e que dedicava os ambientes à experiências de sentido artesanal, que exprimissem comunicação e dignidades através do simples. Para ela, ambientes com bem-estar são um ecossistema diversificado, estimulante e acolhedor, no qual cada habitante faz parte de um grupo ao mesmo tempo em que tem espaços privativos para que possa obter uma pausa dos ritmos gerais.
No Sesc Pompéia, em São Paulo, Lina propõe o uso dos espaços como uma cidadela, onde as pessoas tem a liberdade de usá-los da maneira que achar mais agradável, tendo ambientes, que, apesar de abrigar um programa bastante complexo, se articulam. Segundo documentos do Instituto Bardi¹², quando a arquiteta assume o projeto e faz suas primeiras visitas ao local, ela percebe o uso do espaço pelo público, que joga bola dentro das grandes áreas dos barracões, no chão de lama, que brincam de pega-pega ao ar livre, que descansam e conversam, e assim, decide que o ambiente deve ser simples e ao mesmo tempo potencializar as atividades e a vidas das pessoas que o frequentavam. Dessa forma ela pensa em um programa que fomente a convivência através da produção cultural e do esporte recreativo, trazendo a vida pública para o interior do Centro.
¹² Instituto Bardi: O Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, no início Instituto Quadrante, foi criado em 1990 com objetivo de promover o estudo e a pesquisa em especial nas áreas de arquitetura, design, urbanismo e arte popular brasileira.
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Entender o que o edifício consegue dizer do lugar em que se insere e as relações que ali se dão, através da articulação dos elementos arquitetônicos e a noção dos seus percursos, que são meios comunicativos de intenções, foi algo primordial para o projeto e o programa de necessidades criados por Bardi. Ferraz (1993) diz que as soluções das circulações, percursos, permanências, atividades recreativas, culturais e esportivas geraram um centro de convivência, onde o que realmente acontece é o ajuntamento de pessoas, assim como os diálogos estabelecidos entre esses espaços e o espaço urbano, criando uma relação de permeabilidade e harmonia entre os edifícios históricos, a intervenção contemporânea e o entorno do conjunto.
Entrada Sesc Pompéia, Rua Célia. Ruela dentro da fábrica, que da acesso aos galpões, ao deck e aos anexos. Deck de madeira, sobre o Córrego Água Preta e Complexo Esportivo. Área de conivência, biblioteca e exposições. Teatro. – fotos acervo pessoal.
Eixos circulação
de
Acesso principal Área de conivência com intervenções que tem sua materialidade oposta ao já existente. Hoje é um espaço de comunidade
Área esportiva construída com em concreto armado. Material que contrapõem a área já existente Deck em madeira, acima de um córrego. É um dos marcos do local, sendo um espaço de expressão livre e tendo múltiplas funções Galpão de oficinas, todas construídas em blocos de concreto, contrapondo o já existente, com altura de 2,80m, sem laje, utilizando a iluminação vinda das sheds da fábrica
Teatro construído em concreto armado
Palco centralizado, fugindo do convencional Croquis de estudo,, realizados pela autora
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Plateia em caixas laterais e na arquibancada, com cadeiras de madeira
TIPOLOGIA E PROGRAMA CENTRO CULTURAL E A VERGUEIROS Os espaços podem ser hora de passagem, hora de permanência, mas, segundo Gehl (2010), se não houver qualidade, tornam-se locais ociosos aos quais as pessoas não dão atenção e não se sentem seguras para usufruir. Na cidade de São Paulo existem inúmeros exemplos da apropriação desses espaços pela arquitetura, como o Centro Cultural São Paulo, que integra-se à paisagem da capital, não se impondo visualmente, e constituindo-se como passagem e ponto de encontro para uma variada gama de pessoas diariamente, de idades, classes sociais e interesses diversos, sendo um espaço democrático. O lote público, com cerca de 300 metros de comprimento, 70 de largura e 10 de desnível, resultou das desapropriações de terrenos residenciais para a construção da linha e estação do Metrô Vergueiros e o projeto, realizado pelos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, tem como principal partido o diálogo com o entorno, buscando uma inserção no cotidiano dos usuários, de forma a permitir o contato direto do frequentador com o acervo e da própria edificação com a rua e as pessoas. A vivência de diferentes percursos e formas de caminhar pelo edifício é colocado pelos arquitetos como ponto chave para que as pessoas pudessem se encontrar e exercer sua liberdade. Volumetricamente, há a exploração dos espaços longitudinais e das diferenças de piso implantadas nos desníveis, concebendo um espaço público pensado como espaço que abriga seres públicos, proporcionando qualidade ao equipamento e à cidade através de espaços multidisciplinares.
Um dos quatro acessos pela Av. Vergueiro. Pátio interno e acessos às oficinas. Rampas de acesso, circulação e percursos. Rampa com vista para biblioteca e pátio interno. – fotos site centrocultural.pagina-oficial
Eixo de circulação que corta toda a edificação, através de rampas e passarelas, vencendo as diferentes cotas do terreno Terraço jardim: vistas da cidade
Acesso principal, Av. Vergueiros
Acesso Av. 23 de Maio
Programa disposto parte no subsolo, parte ao nível das ruas e parte em patamares superiores
Acervo no subsolo. Área administrativas e oficinas nos patamares superiores
Espaços para convivência próximos a jardins
Croqui de estudo,, realizado pela autora
TIPOLOGIA E PROGRAMA ARTES EM AMSTERDAM A vivência dos espaços são o que realmente caracterizam os seus usos e, conforme Gehl (2010), a arquitetura tem papel fundamental para proporcionar a qualidade necessária para que as pessoas sintam segurança em apropria-los. Ao projetar uma nova edificação no campus da academia Gerrit Ritveld, em Amsterdam, a equipe de arquitetos e designs da Hootsmans buscaram evidenciar o caráter de comunidade que já havia no local. A academia de artes incentiva a experimentação como algo fundamental em seus espaços, o que, para a instituição, significa essencialmente olhar através das fronteiras e disciplinas. O ambiente é coletivo e interdisciplinar, com locais compartilhados além de salas de aulas e oficinas, mas inclusive para a comunidade, tendo usos abertos ao público, possibilitando oportunidades de trabalhar e experimentar livremente.
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A edificação, de 2019, está centralizada entre outras mais antigas dentro da instituição e seu partido arquitetônico vem da conexão entre diferentes espaços e usos, além de ser um centro social que acomoda e conecta espacialmente educação e encontros num cenário interativo e dinâmico. Para isso, seu programa foi distribuído em 3 camadas, uma abaixo do solo, com espaços comunitários em torno da base do edifício, e as outras duas em dois pavimentos, incluindo o terraço, que funciona como um local de exposições, performances e construções temporárias, além de ser um local de acesso através de uma escadaria interligada à outro prédio.
Edificação em estrutura metálica e concreto, vista do terraço com acesso livre do público. Vista das edificações interligadas através da caixa de escada. Vista interna da área de convivência e biblioteca e oficinas de artes - fotos site www.archdaily.com/ gerrit-rietveld-academy
Caixa de escada anexa à edificação mais antiga. Acesso de um prédio a outro. Melhor distribuição do programa
Terraço usado exposições, contemplações. comunidade.
Estrutura em pilares e vigas metálicas, vedação com placas pré-fabricadas de concreto e vidro como área encontros Aberto
de e à
Caixa d´água
Acessos em níveis diferentes
Acesso e circulação verticais Croqui de estudo,, realizado pela autora
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Praça aberta à comunidade
APONTAMENTOS PROJETUAIS PESSOAS, ESPAÇOS, RELAÇÕES A Fábrica de Artes e Ofícios, que abraça uma significação dialética do trabalho e lazer, tem um ambiente coletivo, baseado na participação e na gestão do trabalho social, na sociabilidade e nos objetivos e valores compartilhados, tendo espaços relacionais, que segundo Ceppi e Zini (2013), contemplam várias atividades especializadas que podem ser conduzidas neles e os filtros de informação e cultura que podem ser ativados nestes espaços, estabelecendo ligações com a cidade ao seu redor através dos ambientes urbanos projetados para destacar as suas qualidades espaciais. Gehl (2010) define alguns pontos para garantir espaços de qualidade, sendo o primeiro passo distribuir cuidadosamente as funções entre os prédios para garantir menores distâncias entre elas, contando que seu uso será por uma massa de pessoas e eventos. Deve-se integrar essas funções para garantir versatilidade, riqueza de experiências, sustentabilidade social e sensação de segurança. É necessário criar espaços convidativos para pedestres e ciclistas – o carro fica em segundo plano, sendo os espaços de transição entre cidade e edifícios abertos, para que funcionem conjuntamente. E o mais importante, deve-se reforçar convites para permanência através de atividades recreativas e opcionais, deixando que as pessoas definam os espaços e não o contrário.
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Dessa maneira, o programa de necessidades da Fábrica abrange ambientes caracterizados pelas relações que conseguem estimular ou possibilitar, sendo base para espaços ricos em informações, sem regras rígidas, promovendo encontros, trocas, empatia e reciprocidade. O uso dos antigos galpões para as atividades artísticas e oficinas é interligado ao uso de novas construções, que juntos criam um novo e grande núcleo cultural, com ambientes de aprendizado passíveis de receber manipulações e transformações, tanto de adultos como de crianças e serem abertos para diferentes usos, como consequência das experiências vividas pelos usuários. Além disso, acontece a integração do programa com praças e áreas livres, requalificando os espaços ao redor, garantindo conforto e bem-estar, transformando o local existente em um atrativo urbano-cultural, garantindo aos citadinos que eles se sintam parte do espaço, assim como o espaço possa fazer parte da comunidade.
APONTAMENTOS PROJETUAIS O EXISTENTE E SUAS PROBLEMÁTICAS A antiga fábrica de tecidos, assim como o Beco do Magdalena, localizados na área central da cidade, na divisa entre o bairro Vila Prado e Centro, fazem parte da Zona 1, Zona de Ocupação Consolidada, segundo o Plano Diretor da cidade de São Carlos, estando dentro do Zoneamento de Macrozona Urbana e Perímetro Urbana, fazendo parte das AEIs (Área de Especial Interesse Histórico). Sua edificação, apesar de ter sofrido modificações ao longo do tempo, preserva suas principais características construtivas, necessitando apenas de reforços em relação a sua estrutura e adaptação à novos usos. Dentro do seu espaço encontra-se também uma edificação assobradada, construída posteriormente ao período dos galpões históricos, a qual sofreu incêndios e perdas estruturais e não possui relevância histórica e arquitetônica. Na área externa, o chão de terra se mescla à ruinas dos antigos galpões e à muros de arrimo construído em pedras, os quais mostram a riqueza dos matérias construtivos do patrimônio. No interior dos galpões ainda existentes, mesmo os que são usados atualmente pelo coletivo de coworkings, existe a vedação posterior das suas aberturas com alvenaria, assim como a vedação de passagens arcadas, descaracterizando algumas de suas qualidades arquitetônicas. Acessos: Com a utilização dos galpões da antiga fábrica pelos coworkings, o acesso principal para o público se da pela Rua Aquidaban, onde antes ficava a entrada de funcionários da “Tecidão” e também o desvio para a linha férrea. Essa entrada fica no fim da rua, que tem sua quadra usada como estacionamento de carros e caminhões de serviços de empresas ao redor, onde o calçamento de acesso não existe, sendo necessário atravessar um estacionamento improvisado para chegar aos galpões. Isso mostra o uso do espaço com prioridade para veículos. A proposta de intervenção busca inverter esses papéis, dando total acesso aos pedestres. Na Rua José Bonifácio, uma via arterial de trânsito intenso, existem mais duas entradas, uma de cada lado da grande fachada horizontal do conjunto fabril, com portões, as quais eram usadas como áreas de serviço e técnicas durante o funcionamento da fábrica. Atualmente, a primeira entrada não está sendo utilizada, estando com seu portão vedado e a segunda funciona como uma área técnica, recebendo, eventualmente, caminhões na obra (somente quando esses não conseguem acessar pela Rua Aquidaban).
Praça Antônio Prado: A praça, que faz parte do inicio da formação da cidade, juntamente com a Estação Ferroviária, encontra-se hoje mal cuidada. Apesar do seu uso intenso como pontos de ônibus e apoio à empresa de transporte, o local tem poucos espaços acessíveis e de qualidade. Ela é um espaço receptor do público alvo da Fábrica de Artes e Ofícios, pois recebe um grande fluxo de linhas de transporte público. Tem-se como diretriz requalificar os seus espaços e usos, tornando-a mais atrativa.
¹³Ferrovia Paulista S/A - Fepasa: foi uma empresa estatal paulista de transporte ferroviário de cargas e de passageiros, sendo constituída mediante a unificação das empresas Companhia Paulista de Estradas de Ferro, Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, Estrada de Ferro Sorocabana, Estrada de Ferro Araraquara e Estrada de Ferro São Paulo e Minas. Permaneceu em atividade de outubro de 1971 até maio de 1998, quando foi extinta e incorporada à Rede Ferroviária Federal.
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Patrimônio Ferroviário: O local, de grande extensão e com usos diversificados, inclusive como percursos, apesar de ter sua linha férrea ativa e de guardar a antiga Estação Ferroviária, a qual funcionam o Pró-memória e museus da cidade, assim como locais específicos para oficinas, está sofrendo com abandono e o não uso de todo o seu acervo físico, tendo cerca de 2 galpões (de carga) usados como depósitos municipais e mais 2 (tulha e antiga Fepasa¹³) sem uso e sem o cuidado necessário para a sua preservação, podendo, com o passar do tempo, ficarem comprometidos. Além disso, sua área livre, até mesmo próximo ao prédio da estação, exceto seu jardim e plataforma, não é bem cuidada, estando com mato alto e sofrendo em alguns pontos específicos com descarte de lixo, entulho e móveis, tendo acessos impróprios direto à linha férrea, tornando-se um local inseguro. Assim são também os acessos viários ao seu entorno, que acontecem através do viaduto 4 de Novembro, o qual tem sua sob área utilizada como estacionamentos de ônibus e acessos à Estação, e pela Avenida Itália, a qual tem acesso ao local também por escadarias e ruas de terra, ambas ruas com passagens de pedestre estreitas e muito próximas aos veículos. A travessia direta pela linha férrea, através da Rua General Osório também é perigosa para os pedestres, que competem direto com a passagem priorizada aos carros.
Área de intervenção e entorno imediato ACESSOS EXISTENTES BECO DO MAGDALENA ESTAÇÃO CULTURA BARRACÕES ÁREA FÉRREA PLATAFORMA VIADUTO 4 DE NOVEMBRO AV. ITÁLIA, PONTILHÃO PRAÇA ANTONIO PRADO LINHA FÉRREA
Entrada Veículos
Entrada Veículos
Entrada Veículos Pedestres
Imagem elaborada pela autora
APONTAMENTOS PROJETUAIS INTERVENÇÃO NO ESPAÇO URBANO Uma das premissas apontada por Gehl (2010) para uma cidade de qualidade (viva, segura, sustentável e saudável) é a ação urbanizadora, que deve ser realizada tanto por espaços públicos como por espaços privados, assim como pelas pessoas, mantendo uma postura crítica sobre os rumos das cidades. O arquiteto demonstra que espaços de transição suaves e iluminados significam mais atividades ao ar livre e segurança, assim como linhas de visão descontruídas ao passar por esses ambientes, tendo contato visual entre exterior e interior e estímulos no caminho de transitar (estares, arborização, lojas, comércios, artes) aumentam as oportunidades de boas experiências.
Jacob (2011) fundamenta que as cidades, a partir da década de 1950, assumiram um caráter meramente funcionalista, setorizado, e que a alta prioridade ao tráfego e estacionamento de veículos criou condições pouco favoráveis aos pedestres. A ausência de vitalidade que esse modo de planejamento impõe a cidade, da falta de vivência entre as pessoas, reconhecendo a rua como espaço primário da vida urbana, gera uma precariedade da qualidade do espaço.
As diretrizes urbanísticas, paisagísticas e projetuais desse trabalho, têm o intuito de estabelecer funções coletivas através de novos eixos de circulação, que, além de articular bairros, estimulam uma reestruturação do terreno com uma multiplicidade de acessos entremeados com jardins abertos, áreas de convívio e passagem, atividades de lazer e estar, que fazem com que esses espaços adquiram qualidade em relação a escala urbana e a escala do usuário, resgatando o valor do espaço público.
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A recuperação do espaço público, como aberturas de ruas para pedestres e fechamento para carros, jardinagem no ambiente urbano, onde lugares subutilizados são revertidos em áreas verdes e praças, valorizando a vegetação existente e intensificando a massa arbórea, acessibilidade aos locais, entre outros, ainda segundo Jacob, estimulam a conscientização do cuidado da cidade, proporcionam cultura e qualidade de vida e revelam a presença do espaço e sua qualidade, promovendo o reconhecimento do bairro pelos moradores, articulando o espaço público e cultural, resgatando o valor do entorno e garantindo conexões na relação com o espaço e a apropriação das histórias locais.
TRANSITAR O projeto Ruas Completas trabalha o conceito de que as ruas são desenhadas para dar segurança e conforto a todas as pessoas, de todas as idades, usuários de todos os modos de transporte, distribuindo o espaço de maneira mais democrática, sendo que todas as alternativas cabíveis de desenho urbano podem ser incorporadas, desde que respondam ao contexto local da área onde se localizam, reflitam a identidade da rua e as prioridades daquela comunidade. A WRI Brasil, umas das responsáveis pelo projeto, afirma que esse conceito viabiliza alguns impactos básicos, comuns a todas as configurações, já que elas estimulam melhorias na igualdade, segurança, saúde, tornando os espaços urbanos mais compartilhados e vivos, com muitos benefícios indiretos. Com acesso a ruas mais completas, as pessoas se sentem seguras para adotar padrões de deslocamento mais sustentáveis e com menos impacto climático, como a bicicleta e a caminhada, existindo ganhos relevantes de acessibilidade, onde crianças e idosos se relacionam melhor com a cidade e muitas áreas degradadas podem começar a ser revitalizadas a partir desse conceito de desenho urbano. Com o crescimento das cidades brasileiras, principalmente a partir da década de 1950, percebe-se a degradação do sistema de mobilidade urbana. A ênfase na utilização do automóvel como principal meio de locomoção tornou a malha urbana algo voltado para veículos e não mais para pessoas. Gehl (2010) aponta a notoriedade da deficiência no desenvolvimento de projetos urbanísticos voltados ao pedestre: os passeios públicos tornam-se, em sua maioria, estreitos e com pouca (ou nenhuma) arborização, são apenas espaços de passagem. O arquiteto e urbanista defende que para além do deslocamento puro e simplesmente, a mobilidade urbana caracteriza-se como agente democratizante do acesso à cidade e que a apropriação do espaço pelo uso e transformação se faz necessária para que a cidade volte a ser de todos. A partir do conceito de resgatar a identidade histórica, arquitetônica e urbana do local e devolve-lo às pessoas, com os usos dos espaços de forma coletiva, tem-se como diretrizes urbanísticas a qualificação dos espaços do entorno, tanto os espaços de transitar, como os de passagem e de permanência, trazendo nova visibilidade à região.
Proposta Viária ELEVAÇÃO DAS RUAS AV. ITÁLIA RUA JOSÉ BONIFÁCIO RUA JULIEN FAUVEL RUA RAIMUNDO CORRÊA RUA MANCOLINO PELICANO ROTAS DE ÔNIBUS EXISTENTES ROTAS DE ÔNIBUS PROPOSTAS LINHA FÉRREA
Imagem elaborada pela autora.
Praça Antônio Prado: O uso dessa região, que é receptora do público alvo da fábrica, além da população que utiliza a área central da cidade, abrangendo ainda as pessoas que usam o local como passagem ou conector à outros bairros é bastante intenso e, para torná-lo atrativo, seguro e integra-lo ao programa projetual, as ruas ao redor da praça foram elevadas ao nível da calçada, tornando-se num calçadão (uso de concreto poroso), que se estende à rua Aquidaban, chegando ao acesso principal da Fábrica de Artes e Ofícios, dando prioridade ao pedestre. A retirada do apoio ao transporte público da praça, agora locado em um vazio urbano vizinho, assim como a diminuição dos pontos de ônibus em suas calçadas, que foram locados em pontos estratégicos dentro de faixas preferências aos veículos, abrangendo novas rotas que tem a intensão de diminuir o intenso tráfego das ruas coletoras próximas à fábrica, com travessias seguras e bem marcadas para o caminhante, proporciona novos espaços para a praça, que faz parte do patrimônio são-carlense, e influência ainda o uso de edificações históricas para o comércio também noturno, existindo bares e restaurantes. Dessa maneira, com o resgate do uso da praça como um local de estar, ela e seu entorno imediato tornam-se vivos, tendo acessos de veículos em horários flexíveis, sofrendo uma metamorfose dos seus espaços devido a diversidades de usos ao longo do dia.
Uso de vazio urbano para apoio de transporte público Ruas elevadas, torna-se um calçadão e proporciona segurança ao percurso, além de poder ser privado do uso de veículos em horários específicos Nova rota de ônibus, deixando de dar a volta total na praça. Croqui de estudo,, realizado pela autora
Rua José Bonifácio: é nela que se encontra a maior fachada da antiga fábrica de tecidos, com mais de 350m de comprimento, além de muros de arrimo em pedras, sendo um marco na paisagem. Atualmente, ao começar a quadra de acesso â fábrica, ela torna-se uma via contrária de mão única até o viaduto da Avenida Itália, abarrotando as vias ao seu redor em horários de pico. Portanto, para ter-se uma tráfego de veículos mais fluido e para e oferecer novos percursos e acessos às edificações da fábrica, a mão da via agora é dupla a partir do cruzamento com a Rua Santa Cruz até a nova rotatória próximo ao viaduto na Av. Itália, abrangendo também novas rotas de ônibus, com paradas em frente à fábrica. Rua Julian Fauvel, rua Raimundo Correria e Avenida Itália: ainda para suavizar o tráfego da área central, entorno da área de intervenção, é proposto algumas mudanças viárias. Através da desapropriação de um lote comercial (barracão sem uso há alguns meses) a rua Julian Fauvel, via local de mão dupla, de acesso à vias coletoras, sofre ligação com a avenida São Carlos, distribuindo o trânsito e possibilitando novos fluxos. A rua Raimundo Correia passa a ser mão dupla também no trecho entre a avenida São Carlos e rua Dona Alexandrina, dando continuidade ao seu fluxo e possibilitando acesso a ruas de trânsito mais rápido. O mesmo acontece na avenida Itália, que passa a ser mão dupla na quadra entre a rua Ana Prado e avenida Doutor Teixeira de Barros, tendo assim mais acesso entre bairros. Avenida Itália
Rua José Bonifácio Rua Fauvel
Julian
Croqui de estudo,, realizado pela autora
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Rua Raimundo Correia
Rua Marcolino Pelicano: A rua, de mão dupla, que hoje abrange 3 quadras e tem uso misto residencial e institucional, sofre expansão, se ligando com a Rua Desembargador Júlio de Faria, a qual dá acesso ao antigo galpão da Fepasa, e está paralela à Avenida Itália. As ruas São Pio X e Antônio Botelho, perpendiculares à Marcolino Pelicano também sofrem expansão, tornando-se ruas abertas que cruzam com a mesma, mantendo suas mãos de trânsito originais. Dessa forma surge um núcleo viário na ala oeste da área da fábrica, o qual possibilita novas formas de acessar e permear os espaços, inclusive com locais exclusivos para pedestres, transpondo a área férrea e interligando bairros.
Rua Antônio Botelho Avenida São Pio X Rua Desembargador Júlio de Faria Rua Marcolino Pelicano Avenida Itália
Croqui de estudo,, realizado pela autora
APONTAMENTOS PROJETUAIS NOVAS FORMAS DE APROPRIAÇÃO Após a leituras e diagnósticos da área, assim como a estruturação teórica e conceitual da intervenção patrimonial e também da abordagem do relacionamento entre cidades e pessoas, a proposta de intervenção se estabelece em 3 âmbitos: da paisagem, dos percursos e dos espaços. O primeiro surge a partir das inquietações sobre os processos de formação das cidades e suas paisagens urbanas, além das consequências na distribuição democrática dos espaços e dos acessos à eles, assim como o seus usos sustentáveis, levando em consideração seu passado, presente e futuro. O segundo nasce da leitura do terreno e do seu entorno, considerando suas problemáticas e suas características mais ricas, estruturando-se pela diminuição de barreiras físicas e traçando eixos de intervenção com diferentes programas e funcionalidades a partir do projeto. Por último, o que diz respeito ao objeto arquitetônico, que abrange a intervenção na edificação histórica e a sua adaptação as novos usos e também os novos objetos, que complementam o programa e se desenvolvem em paralelo aos outros dois, numa trama que permeia todo o projeto.
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Em termos de programa, a infraestrutura construída a partir do patrimônio existente, tanto urbano, como das edificações, se configuram com o respeito ao já consolidado e a valorização e criação de espaços que possam ser apropriados de diferentes maneiras, em diferentes momentos e horários do cotidiano, sendo usados por diferentes públicos, tendo, portanto, uma flexibilidade e adaptabilidade constantes e as condições de projeto pensadas em rede, enquanto reforço de uma centralidade linear (trazida pelo patrimônio industrial) e pontual (apresentada pelos galpões da antiga fábrica), construindo novas formas de apropriação dentro do tecido urbano.
LEITURA E USO DO LOCAL + CONEXÃO E CRIAÇÃO DE FLUXOS + DIMINUIÇÃO DE BARREIRAS + PÁTRICA DO CAMINHAR
PERCURSOS
RELAÇÃO CIDADE-PATRIMÔNIO + RELAÇÃO INDIVÍDUO-CIDADE + LINEARIDADE E TRAVESSIA + CONTEMPLAÇÃO
ESPAÇOS
PARQUES E PRAÇAS + ESPAÇOS ABERTOS + OBJETOS ARQUITETÔNICOS + EQUIPAMENTOS CULTURAIS + USO CULTUAL, DE LAZER E CONTEMPLATIVO
APONTAMENTOS PROJETUAIS PAISAGEM INDUSTRIAL A área de intervenção, com visuais urbanos já consolidados, vai muito além dos galpões da antiga fábrica de tecido, abrangendo não somente o patrimônio fabril são-carlense, mas também o seu patrimônio ferroviário e industrial, estando dentro de espaços de formação da cidade. Abordando as características únicas desses espaços, de como eles fazem parte do cotidiano dos cidadãos e de como proporcionar novas experiências, é proposta uma diretriz de uso linear, que acompanha a linha férrea: um parque urbano. O trem, que cria o eixo que dá origem à distribuição das edificações e acessos ao redor, é um importante objeto para a formação e expansão da cidade de São Carlos, assim como para a formação da antiga fábrica de tecidos. O trem é também um grande atrativo, que faz brilhar os olhos de adultos e crianças e que dita o fluxo linear encontrado no parque, o qual almeja o uso coletivo de um espaço urbano livre e público, ser um lugar de encontro e lazer, além de trazer qualidades ambientais e de infraestrutura (drenagem, renovação dos ares, participação no clima, etc.), conduzindo a população à percepção de sua (do trem) vitalidade na cidade, criando a integração dos espaços, conectando bairros através de um deslocamento funcional, do caminhar e desenvolver por percursos diferenciados e arborizados, dentro de uma atmosfera mais intimista.
A ferrovia também é um elemento que uni os programas das edificações do seu entorno com os objetos arquitetônicos propostos, tanto para a intervenção nos galpões como para a nova edificação, tendo assim uma percepção da paisagem que remete ao partido arquitetônico, reiterando sua própria linguagem.
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A intenção é para além de criar um espaço funcional, criar espacialidades que possibilitem o sentimento de pertencimento desses locais com a cidade e sua população. As diretrizes de uso do entorno, assim como o projeto, criam diferentes áreas que podem ser utilizadas ora com funções designadas, ora com liberdade de apropriação. Dessa forma, vale a pena apresentar alguns pontos chaves para entender as potencialidades da intervenção.
A. PASSARELAS As passarelas, que vencem os desníveis da área, foram os primeiros objetos arquitetônicos pensados para esse trabalho e, ao ligar duas áreas, potencializam a coletividade, encontros e vistas. Elas surgiram a partir da premissa de interligar os espaços e transformá-los em locais de permanência, além de proporcionarem percursos e acessos seguros aos pedestres, que não precisam mais utilizar o viaduto, fazendo com que a fábrica deixasse de ser vista como uma barreira urbana e voltasse a fazer parte do cotidiano da população. A primeira, locada estrategicamente após o jardim da Estação Cultura, pousa sobre o muro de arrimo existente e liga-se à rua Marcolino Pelicano próximo ao cruzamento com a rua Ananias Evangelista de Toledo. A acessibilidade entre as duas ruas é realizada por patamres, com escadarias e estares, rampas e elevador, vencendo a diferença de aproximadamente 3 metros de altura entre a fábrica e o parque e entre o parque e a Vila Prado, bairro ao sul da área de intervenção. A segunda, parte de uma rampa no calçamento da Rua Marcelino Pelicano e chega em nível ao mirante do novo objeto arquitetônico (abordado mais a frente), segue as diretrizes de valorização, observação e contemplação da paisagem.
Chapa de aço --------Ambas são vedadas com chapas perfuradas, mantendo a visão do parque mesmo ao caminhar por ela e, estruturadas com duas grandes vigas metálicas em perfil i, com 2,3m de altura, as quais fazem também o papel de guarda-corpo, travadas a cada 2 metros com vigas menores, também metálicas, tendo seu contraventamento abaixo do piso. Com bases em concreto que solidificam sua estrutura, servindo de apoio para a mesma. Elas vencem respectivamente vãos de 38 e 49m de um ponto a outro sem o uso de pilares, não ocupando ainda mais o piso da área férrea, acrescentando à paisagem novas volumetrias que dialogam com a linguagem da ferrovia e da Estação Ferroviária.
Viga -----------Piso --------------viga ----------------
viga ------------
B. PATAMARES Para vencer a topografia foi necessário criar acessos verticais através de patamares. Há 4 diferentes níveis, organizados da seguinte maneira: primeiro patamar ou nível, considerado 0, na Rua José Bonifácio, o segundo, com mais 3 metros na Rua Aquidaban e em toda a extensão do terreno da fábrica, o terceiro, acima 6,20m, em todo o parque e o último, à 10,40m, na rua Marcolino Pelicano. Existem no local 3 grandes arrimos estruturados em muros de pedra, o primeiro sustenta a edificação da fábrica e os outros dois estão nas bordas da área férrea. Com a implantação das passarelas esses patamares ganharam vida, estando propositalmente locados em suas extremidades, tendo assim um acesso de cada lado do parque, sendo continuos para a fábrica, possibilitando ainda novos percursos para a Estação Cultura e os galpões da área férrea, além de acesso direto ao parque.
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Os patamares acontecessem entre rampas e escadas que se tornam locais de estar, os quais mesclam diferentes materiais, como concreto e madeira plástica, e estão equipados com guarda-sóis entre sua vegetação, possibilitando a permanência e não somente a passagem das pessoas, servindo também como locais de apoio ao parque e à fábrica.
C. PLATAFORMA E LINHA FÉRREA Após a criação de novos percursos sobre o patrimônio ferroviário e estabelecer novos acessos à fábrica, ainda se mostrava importante conectar os programas das edificações do entorno. Dessa forma, a Estação Cultura, que abriga museus e acervos, oferecendo diversas oficinas, e que tem na sua plataforma um grande local de exposições e encontros, além da visibilidade do trem, que é um marco urbano da cidade, não poderia deixar de fazer parte do conjunto de intervenções. Para articular os equipamentos culturais, a plataforma foi continuada através de um desenho linear e orgânico, seguindo paralelamente à linha do trem e ao muro de arrimo do patamar onde está a fábrica, com descida pontual para o pátio da mesma através dos patamares de acesso e com pontos estratégicos de travessia da linha férrea, que fica envolta por uma área de manutenção vedada por barreiras naturais de vegetação arbustiva. Essas passagens dão acesso direto ao parque e aos seus galpões, que passam a ter diretrizes de usos, as quais definem o eixo de circulação do parque.
D. GALPÕES e ESTAÇÃO CULTURA Os galpões que estão na área férrea fazem parte do patrimônio ferroviário e industrial da cidade e já funcionaram como tulhas, carga e descarga, manutenção de trem e também como empresas, como a Fepasa. Há alguns anos alguns deles não são mais usados e outros tornaram-se depósitos, o que vem comprometendo sua estrutura e importância histórica. Ao propor a intervenção patrimonial, agindo de forma a recuperar a identidade do local, a importância de adaptar esses espaços a novos usos é clara. A Estação Cultura, que abriga, além do acervo do pró-memória, museus e oficinas, é hoje uma edificação tombada da cidade de São Carlos e, tendo a oportunidade de poder melhor distribuir o seu programa e utilizar os seus espaços , foi adotado como diretriz o uso desses galpões. O galpão mais próximo à plataforma do trem, do seu lado direito, torna-se uma Oficina de Ferromodelismo, atividade crescente na cidade, com associações e eventos anuais, os quais são realizados na própria estação. As edificações ao seu lado, hoje apoio do funcionamento do trem, continuam com a mesma função. Do lado esquerdo da plataforma, em frente ao jardim da Estação e do lado da plataforma de acesso, está o galpão da antiga tulha, o qual é transformado em um bicicletário, onde as pessoas podem guardar suas bicicletas ou alugar outras para usufruir no parque. Já o antigo galpão da Fepasa, na extremidade sul da área, é adequado para receber todo o acervo do Pró-Memória, que necessita de mais espaço do que possui atualmente, alterando também o funcionamento do prédio da Estação Cultura, que tem a possibilidade de usar o seu segundo pavimento também para os seus museus.
Oficina de Ferromodelismo, antigo galpão de carga Bicicletário, antiga tulha Estação Cultura, uso dos museus em ambos os pavimentos superiores
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Pró-memória, antiga Fepasa
E. VEGETALIDADE Em toda a extensão do parque, assim como nos calçamentos do local de intervenção, que tem pisos drenantes para preservar a permeabilidade do solo, incluindo o pátio interno da fábrica, foi pensada uma abordagem ambiental. A diretriz é por meio da vegetação transformar os espaços a partir de diferentes ambiências através das espécies arbóreas, as quais procuram associações de valores estéticos que potencializam a formação de um novo olhar para esta parte da cidade. Com a implantação de diferentes espécies, a passagem das estações do ano ocasionam modificações nessa fisionomia, aumentando os aspectos de percepções. Considerando as diferenças de níveis e a proximidade do parque e da fábrica com o trem e com outros veículos e o ideal de espaços coletivos, a salvos do contato direto com o tráfego, com paisagens sem barreiras ou obstáculos, alambrados, grades, muros e cercamentos foram evitados sempre que possível, sendo usadas barreiras vegetais, gerando proteção em relação ao urbano circundante ao mesmo tempo em que está inserido no mesmo.
Nas bordas do parque e entre os espaços culturais, assim como de ambos os lados da linha férrea encontram-se vegetação arbustivas. Nas proximidades das edificações, dos eixos de circulação e nos calçamentos foram implantadas vegetação arbóreas, proporcionando percursos e estares sombreados. E os seus miolos estão preenchidos com vegetação rasteira, que possibilita diferentes apropriações dos espaços, desde o estar, descansar, apreciar e brincar, até criar o seu próprio percurso. Na extremidade do muro de arrimo existente entre o nível do conjunto histórico e a linha férrea foi implantado um espelho d´água junto ao deck, voltados para o pátio interno da fábrica. Dessa maneira, o muro, em pedra, fica protegido ao mesmo tempo em que pode ser apreciado, considerando estares no espelho d´água, que é raso e pode ser usado como molha pés. Além disso, a mescla de vegetação e água proporciona um microclima para todo o ambiente, tendo uma atmosfera mais tranquila em dias de muito calor.
Ixora (Ixora coccínea) – arbustivas – parque e fábrica
Begônia-Cerosa - arbustivas – parque e fábrica
Cheflera-pequena - Schefflera arboricola ‘Variegata’ – arbustivas – parque e fábrica Begônia-Cerosa - arbustivas – parque e fábrica
Amor-Perfeito - Viola tricolor - a arbustivas – parque e fábrica
Cássia do Nordeste (Acássia) - Senna Spectabilis - parque
Chapéu de couro – Echinodorusgrandiflorus – espelho d´água
VERÃO – DEZ A MAR
Ipê Amarelo - Handroanthus ochraceus ou Tabebuia ochracea - calçadas Chapéu de couro – Echinodorusgrandiflorus – espelho d´água
INVERNO – JUN A SET
PRIMAVERA – SET A DEZ
OUTONO – MAR A JUN Ipê roxo - Handroanthus impetiginosus - calçadas Cássia do Nordeste (Acássia) Spectabilis - parque e fábrica
Ipê roxo - Handroanthus impetiginosus - calçadas
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Senna
Amor-Perfeito - Viola tricolor - arbustivas Begônia-Cerosa – arbustivas – parque e fábrica Ixora (Ixora coccínea) - arbustivas – parque e fábrica Chapéu de couro – Echinodorusgrandiflorus – espelho d´água
Ipê Branco - Handroanthus roseoalba ou Tabebuia roseoalba calçadas Jacarandá - jacaranda mimosifolia - parque
Jabuticaba – Myrciaria cauliflora - parque Begônia-Cerosa - arbustivas – parque e fábrica Cheflera-pequena - Schefflera arboricola ‘Variegata’ - arbustivas – parque e fábrica Chapéu de couro – Echinodorusgrandiflorus – espelho d´água
APONTAMENTOS PROJETUAIS INTERVENÇÃO NO PATRIMONIO HISTÓRICO Para Kuhl (2006), o patrimônio industrial é um campo de investigação vivo, pois trata-se, além de bens arquitetônicos e sítios cheios de objetos (máquinas, equipamentos, instalações), da recolha e do tratamento de um patrimônio técnico de uma sociedade e de uma comunidade, e esse processo está sempre em transformação, pois envolve as pessoas e a ocupação dos espaços. O conjunto de galpões da antiga Fábrica de Tecidos Magdalena é uma herança do processo de industrialização da cidade de São Carlos e torna-se hoje um monumento. A Carta de Veneza (1964), diz que: “conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento fundamenta-se no respeito pelo material e pelos documentos autênticos” e que “a conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade”. Kuhl (2006) afirma ainda que o que é valido para a produção da memória é valido para a produção do espaço e vice-versa: o passado não se conserva e não ressurge idêntico, existindo transformações relacionadas com seu uso em cada época. Ao abordar a requalificação de uma área de interesse histórico é necessário interpretar e apresentar o passado para torná-lo parte ativa do presente, criando relações e inter-relações com a cidade, transmitindo suas principais características para as gerações futuras. 14 O Restauro Crítico tem por base o respeito absoluto por aquilo que o monumento ou conjunto representam como poética da interpretação moderna da continuidade histórica, procurando não embalsamar, mas integrar ao máximo na vida contemporânea. Kuhl (2006) expõe que o projeto arquitetônico habilitará esse reconhecimento, eliminado acréscimos ou adicionando novos elementos a edificação, sem pretender recuperar o espírito criador do artista, iludindo leigos, sendo essas, identificadas, ou seja, o novo deve contrastar com o antigo e os materiais necessários para tal devem ser sempre reconhecíveis.
14 O Restauro Crítico, na visão Brandiana, é um ato crítico no qual se expõe o valor de uma ideia, de uma apreciação, sendo decisivo na escolha do que deve ser preservado, o que no caso da arquitetura é a solução arquitetônica alicerçada na solução estética e histórica.
Portanto, a abordagem do restauro da antiga fábrica de tecidos busca respeitar o já existente através da sua história, evidenciando sua matéria original, suas marcas da passagem do tempo e suas fases de obra arquitetônica, dando aos espaços da fábrica uma destinação, realizando as modificações necessárias para que o novo uso reestabeleça as edificações como parte da cidade. Dessa forma, serão mantidas as construções relativas à época de consolidação da fábrica de Tecidos Magdalena, desconsiderando edifícios que foram construídos posteriormente, como é o caso do edifício da administração – de estilo eclético e que se encontra estruturalmente abalado devido ao um incêndio ocorrido nos anos 1990 – construído na década de 1960, cerca de 50 anos após o início da construção da fábrica. O partido arquitetônico de todo o projeto trata-se da articulação entre a arquitetura e a comunidade, relacionando os vazios urbanos e a cidade, o patrimônio cultural e histórico e as pessoas, assim como as atividades propostas, recuperando o sentimento de pertencimento de um para o outro. O intuito é tratar o local como um espaço de qualidade da cidade e para as pessoas e não como uma barreira urbana. Assim, transpor os ambientes que fazem parte do conjunto da fábrica foi o início dessa abordagem, surgindo, além de novos fluxos, um novo volume, que representa um ganho real na aproximação entre as edificações e lugares destinados à convivência, desenhados a partir do lançamento de eixos principais de circulação, destacados no desenho paisagístico da área externa, onde estão locadas novas praças e áreas de contemplação.
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O projeto pretende, além do simples aproveitamento e adaptação de instalações que originalmente atendiam a usos de natureza tão diversos ao que estão agora propostos, contribuir de forma afetiva na recuperação de área tão notável da cidade, assim, os objetos arquitetônicos possibilitam a melhor distribuição do programa de necessidades e interligam centros urbanos de São Carlos, localizados no bairro Vila Prado e Centro, com eixos de circulação exclusivo para pedestres, viabilizando o acesso da população por e para ambas as regiões, tornado o espaço público e de interação social.
A adaptação do conjunto histórico para um local de artes e ofícios contempla o uso de todo o espaço dos seus cinco galpões, com 8070m² de área construída, além de seus espaços livres, para diversas atividades culturais e de aprendizado, sendo os seus núcleos voltados para o uso público, podendo ser acessados por qualquer pessoa, independente desta fazer ou não parte de algum programa proposto pela Fábrica. A distribuição desses núcleos artísticos e de suas oficinas giram em torno da diluição dos limites entre interior e exterior, criando uma intensa dinâmica espacial e a articulação entre as várias ações culturais propostas, seguindo o conceito de uso de espaço para educação, apresentado por Ceppi e Zini (2013), onde o sentido de comunidade gera as características dos espaços, sem hierarquia, sendo ambientes diferentes dispostos no mesmo local. Os espaços para as expressões artísticas e oficinas tornam-se espaços de pesquisa e experimentação, um laboratório para o aprendizado individual e em grupo, um local de construtivismo, assim como ateliês e salas de aulas juntos tornam-se laboratórios para a observação e a documentação. E o campus resultante, com diversidade de espaços, inclusive os espaços em branco, moldados conforme sua ocupação, fornecem a este nobre local um novo cenário.
FÁBRICA DE ARTES E OFÍCIOS De acordo com Leite (2004) a cidade é algo indefinível, seguindo o esforço de avançar nos esclarecimentos das aproximações e distanciamentos que cada área, cada recorte teóricoconceitual e cada objeto acabam produzindo sobre ela. O autor define que pensar estes espaços leva-nos à sua história/memória e a análise das relações complexas que se estabelecem entre as diferentes dimensões da vida social e cultural urbana, tanto material como imaterial, ao nível espacial (rua, esquinas, quarteirão, bairro, cidade), social (individual, coletivo, informal, institucional) e simbólico (discursivo, performativo, sensorial). O aspecto comunitário da vizinhança da fábrica e até mesmo de toda a cidade é muito importante para a apreciação do patrimônio industrial, pois reestabelece o contato com a área e o seu entorno como uma continuação do espaço público através do desejo de construir uma outra realidade, onde o processo de apropriação do território contribui para recuperar paisagens urbanas. Portanto, se faz necessário apresentar uma forma sutil de configurar um novo espaço público e coletivo sem, contudo, descaracterizá-lo, tornando-o um espaço de ajuntamento de pessoas, partindo das atividades que ali se desenvolvem.
15 Programa de qualificação em artes é um Programa da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo que atua desde 1986 na formação e na vivência da população no campo da cultura. O Programa é administrado pela organização social POIESIS – Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura.
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15 As atividades do equipamento cultural, voltadas para as artes cênicas, fundamentadas no Programa de Qualificação em Artes , da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, de que o aprendizado técnico, teórico e conceitual inerente ao universo das artes da cena se dá no palco, influenciam no relacionamento entre indivíduo-criador e grupo, e entre o grupo e comunidade. Dessa forma, o programa abrange nos galpões da fábrica um núcleo de qualificação em dança e expressões corporais, voltados para apresentações cênicas, articulado com o Teatro, novo objeto arquitetônico, tendo como ação principal a orientação artística a grupos, companhias ou coletivos da cidade, dentro de ações que envolvem formação de repertório, criação, experimentação, articulação, aperfeiçoamento artístico e mediação cultural. A qualificação dos grupos pressupõe a preparação de seus integrantes para desempenhar funções específicas de um grupo artístico, dentro de paradigmas estabelecidos na linguagem de interesse, sobretudo, em atividades voltadas para os processos de criação e montagens de espetáculos, a relação com a comunidade e com os demais agentes do campo artístico e cultural (críticos, festivais, curadores, etc.).
Para Viola Spolin (2012) o teatro, mais do que um espaço físico onde se vê, é o lugar da vivência das ambiguidades e paradoxos, onde as coisas são tomadas em mais de uma forma ou sentido, onde o espetáculo tem como objetivo apresentar uma situação e despertar os sentimentos das pessoas, tanto do artista como do público. Criar oportunidades para o diálogo, de artista para artista, do artista para o espectador e dos espectadores para os artistas é criar laços de comunicação, reforçando suas estruturas organizativas, estabelecendo pontes básicas para acesso às oportunidades de expansão. 16
Inspirado no Projeto Ademar Guerra , o Teatro da Fábrica de Artes e Ofícios, assim como toda a sua estrutura, oferece ferramentas para o desenvolvimento e ampliação das atividades cênicas de diferentes grupos, acompanhando seus projetos de pesquisa e montagem de espetáculos, possibilitando o intercâmbio de informação e experimentação de novas linguagens (diretores, produtores, atores, cenógrafos, iluminadores e figurinistas), visando à valorização desses, fomentando a formação de plateia e a vida cultural das comunidades que não dispõem de escolas ou cursos na área artística, fortalecendo, assim, a produção teatral na cidade. Segundo Ceppi e Zini (2013), nas diversas áreas do desenho profissional, as oficinas são locais de atividades laborais, manual e artesanal, e, através de diferentes tipos de equipamentos e materiais para ensino e aprendizagem, tornam-se espaços desenvolvedores de aptidões e habilidades. A relação entre o trabalhador e instrumento, essencial para o sentimento de obrar algo, ou seja, conferir forma, recupera a memória do trabalho na fábrica e, mais que isso, pode ser útil para resolver problemas do presente, considerando o movimento de cooperativas e autogestão, que traz de volta o ideal de ofício, com as máximas do saber fazer e da autonomia do trabalho artesanal. Dessa maneira, através de ateliês de artes e oficinas, a fábrica passa a ser um espaço que nasce com um conceito colaborativo, para trocar experiências, onde muitos dos moradores da região podem ensinar compartilhando seus conhecimentos com os mais jovens, e viceversa, conectando a comunidade aos estudantes e profissionais, podendo também enaltecer o empreendedorismo como opção de renda para a população, referenciando antigos usos ao mesmo momento em que consolida novos.
16 Projeto Ademar Guerra: Faz parte do Programa de Qualificação em Artes e foi criado em 1997. Tem como ação principal a orientação artística a grupos, companhias ou coletivos de teatro e de dança no interior, litoral e região metropolitana de São Paulo, exceto capital.
GALPÕES Os galpões da antiga fábrica de tecidos, que têm sua estrutura em alvenaria de tijolos de barros, com telhados duas águas, com sheds voltadas para o lado sul, que proporcionam iluminação e ventilação ao espaço, cobertos por telhas também de barro, se encontravam com muitas das suas janelas e portas, assim como as passagens arcadas em seu interior, vedadas com alvenaria de tijolos baianos. Toda a sua área está em nível (cota 3) e seus grandes vãos são sustentados por pilares metálicos distribuídos ao longo do espaço.
Galpões antes usados pela fábrica, subdividido em 5 ambientes, construídos em alvenaria de tijolos, com aberturas arcadas, pilares dispostos em secção 8,5mx8,30.m e cobertura duas águas com sheds.
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A proposta de intervenção tem o intuito de respeitar suas histórias e realizações arquitetônicas anteriores, portanto, o programa é distribuído de forma a utilizar as melhores características do espaço, adaptado somente em casos pontuais. Os acessos se dão por portas já existentes, a ventilação cruzada e a generosa iluminação se reestabelece com a abertura de janelas e portas, agora vedadas com vidros pivotantes que com proteção termo acústica, além da implantação de vidros com sistema de venezianas em suas sheds. Suas tesouras treliçadas em madeira são recuperadas, assim como sua vedação, que, após estudos de fotos históricas já apresentadas, acontece com argamassa e pintura na fachada da rua Jóse Bonifácio e em paredes internas nas suas extremidades, sendo suas passagens arcadas internas e todas as fachadas voltada para sua área externa em tijolos aparentes.
Planta baixa área existente, sem escala.
Para compor os espaços e distribuir o programa dentro da fábrica, foram criados núcleos que pudessem interagir entre si, evitando a divisão interna por meio de paredes sólidas, mantendo a amplitude visual da arquitetura existente. A intenção projetual é que o indivíduo, ao entrar no conjunto dos galpões históricos, tenha a maior compreensão espacial possível dos espaços. Esses núcleos, estruturados em madeira, exceto o núcleo do restaurante, que foi concebido em concreto armado, são combinados em diferentes modelos para formar áreas de convivência, circulação e exposição, assim como abranger os ateliês e oficinas. São, em sua maioria, totalmente abertos, conectando os espaços em posições estratégicas, recebendo a luz e ventilação que preenche os galpões e criando um interior amplo e uma transição suave através de micro ambientes.
Por existir um pé-direito bastante generoso, com 9 metros de altura, a fábrica permitiu explorar varias condições espaciais através desses núcleos, que tem 3m de altura, com volumes que variam de escala, sendo alguns vedados com cobertura enquanto outros não, dependendo do seu uso. Eles criam ritmo, abrangendo jardins, áreas de estar e convivência e até mesmo mezaninos locados em suas coberturas. A madeira, que é um material forte e rígido, além de proporcionar um equilíbrio cuidadoso entre durabilidade, calidez e propriedade acústica, importante para as diversas atividades do programa, faz referencia à antiga função industrial do edifício. Especificamente para os núcleos foram usadas chapas pré-fabricadas de madeira laminada cruzada (CLT - Cross-laminated timber), que destacam-se por sua resistência, aparência, versatilidade e sustentabilidade. O material é composto por tábuas (ou lamelas) de madeira serradas, coladas e prensadas em camadas, onde cada camada de lamela orienta-se perpendicularmente à anterior. Ao unir camadas de madeira em ângulos perpendiculares, obtém-se uma maior rigidez estrutural para o painel em ambas as direções, tendo assim boa resistência para tração e compressão, sendo sua espessura e comprimento adaptáveis às demandas do projeto. Estes painéis sólidos compostos de um único material, têm a estrutura como seu acabamento, ou seja, a própria parede que recebe os esforços estruturais, permanecem expostas, criando espaços experimentais e não convencionais, onde as pessoas tem a liberdade do uso.
TEATRO Para melhor atender o programa proposto para o equipamento cultural e manter o intuito de uma intervenção mínima nos antigos galpões da fábrica, o partido do novo objeto arquitetônico apoia-se na compreensão de que o edifício restabelece a articulação entre as áreas históricas e o seu entorno, definindo uma nova paisagem. Suas localização em pontos estratégicos para receber os usuários de ambos as extremidades do terreno, tanto ao nível da calçada (cota 0), na Rua José Bonifácio, como no nível do acesso pela rua Aquidaban (cota 3), como sustentando a ligação, através da passarela, com a Rua Marcelino Pelicano (cota 10,40), tornando-se um mirante, através de uma praça alta, para a contemplação da cidade, traduzindo-se em um espaço que promove integração entre as pessoas e estabelece também a relação de comunidade com o espaço urbano. Este, por sua vez, apresenta uma materialidade e volumetria totalmente diferentes do conjunto dos galpões existentes, a fim de demarcar na paisagem o “novo” do “antigo”, sendo nítida a sua distinção por materiais industrializados contemporâneos, como concreto, aço e vidro, em seus acabamentos naturais, garantindo leveza ao conjunto e preservando as construções existente ao mesmo tempo em que se reporta a elas.
O plano de ação para a implantação seguiu alguns condicionantes: a formulação de um modelo de ocupação do solo, com ênfase na integração dos usuários com a paisagem construída, a estruturação e hierarquização do térreo, na cota inferior, inscrita na volumetria da base, dividindo o programa em duas cotas e o posicionamento da lâmina, que busca transferir, para dentro do corpo construído, as vistas para a paisagem, incorporando a presença do entorno ao seu uso cotidiano, sendo a disposição dos elementos construídos uma resposta direta à distribuição do programa no lote.
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As especificidades do terreno - como a topografia - confirmam o necessário cuidado com a implantação do edifício anexo para que este não obstruía a visualização dos edifícios de interesse histórico presentes na quadra e não destoe do gabarito da área, garantindo também acessibilidade a todos os usuários. Dessa forma, seguindo as linhas horizontais do edifício existente, o teatro e o núcleo administrativo, compostos pelo novo volume, tomam a forma de uma paisagem modelada, que respeita a escala humana, sendo um local de reunir, trocar e compartilhar.
O projeto estrutural do edifício adotou dois modelos através de um sistema construtivo misto. No térreo, locado na cota mais baixa (cota 0, rua José Bonifácio) foi utilizada estrutura de concreto armado convencional com lajes, vigas, paredes e pilares moldados in loco, correspondendo ao nível das fundações. Essa estrutura segue uma modulação de pilares distribuídos, aproximadamente, a cada 5 metros com altura de 3 metros, formando pórticos de travamento no formato de uma “caixa”. A partir do primeiro pavimento (cota 3, área externa da fábrica, rua Aquidaban) o corpo do edifício recebeu estrutura metálica, que se apoia em alguns dos pilares de concreto do nível inferior e é composta por perfis metálicos em “i” soldados de 20x40cm e vigas treliçadas de 1,60m de altura, exceto as caixas de elevador e escada, que são de concreto. A estrutura periférica da caixa metálica, que se deu pela modulação de grandes vãos, elimina completamente a interferência de pilares dos planos do teatro, permitindo área livre ao auditório e ao palco. Já no embasamento há diversas paredes que delimitam os volumes da estrutura e servem como apoios. Tratam-se de pilares parede que sustentam o volume do auditório e estão alinhados com as divisórias, que delimitam as salas utilizadas como depósitos e também os vestiários. A vedação dos pavimentos superiores é distinta da estrutura do edifício e foi realizada através de placas pré-moldadas de concreto, com aberturas estratégicas de portas e janelas (que possuem venezianas blackout para momentos de espetáculos), utilizando a ventilação cruzada para promover conforto ambiental e reduzir o uso dos equipamentos de ar condicionado. Após estudos de incidência solar nas fachadas e coberturas, ambas receberam elementos de sombreamento, que visualmente fazem o prisma metálico parecer flutuar sobre o embasamento de concreto. O tecido arquitetônico, distante da edificação aproximadamente 2 metros e fixado em estrutura secundaria, ligada à estrutura das fachadas, protege as mesmas da incidência direta dos raios solares e cria um colchão de ar que auxilia na diminuição do calor no interior da edificação.
Pele arquitetônica: elemento em placas de aço perfurado, com aberturas estratégicas para promover ventilação, iluminação e visuais.
Teto verde. Vedação com placas em concreto préfabricadas. Interno com vedação em madeira e manta acústica. Estrutura metálica: pilares e vigas perfis “i” soldados de 20x40cm e vigas treliçadas de 1,60m de altura. Vencem vão de 34m a 13m de largura e proporcionam auditório e palco livres de barreiras.
Auditório estrutura em vigas e pilares metálicos, vedado com madeira (CLT). Proporciona pé direito duplo para a área térrea. Laje em concreto. Circulação do teatro e abertura do auditório.
Base em estrutura de concreto armado convencional com lajes, vigas, paredes e pilares moldados in loco. Térreo da edificação.
Área existente, aterro parcial do terreno. O recorte, que é uma ruína de um antigo galpão foi usado para a base da edificação.
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