JUNHO 2011
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Ministério da Cultura apresenta
PATRoCÍNIo
Caros amigos e amigas, Coerente com sua missão de divulgar a música sinfônica de qualidade, a Filarmônica percorre, no mês de junho, importantes cidades mineiras que terão – algumas delas pela primeira vez – a oportunidade de descobrir esse grande projeto cultural do estado. Além das visitas já realizadas, no mês de maio, a Ipatinga, Governador Valadares, Teófilo Otoni e Montes Claros, a Filarmônica se apresenta agora nas cidades históricas de Tiradentes, Mariana, Ouro Preto e São João del-Rei.
séries allegro e vivace
APoIo CulTuRAl Outro projeto
essencial da Filarmônica acontece neste mês no Teatro Klauss Vianna: o concurso Tinta Fresca, devotado ao fomento, divulgação e estímulo a jovens compositores brasileiros que não só terão a oportunidade de ver suas obras executadas pela nossa Orquestra, mas também uma obra encomendada para ser estreada na próxima temporada.
DIVulGAção
JUNHo 2011 A música sinfônica está em toda parte. Ela é presente não só na vida dos apaixonados por essa arte, como também no dia a dia de quem ainda não se sente íntimo dela. Você pode não ter percebido, mas a música sinfônica está no cinema antigo, no cinema contemporâneo, nas animações, nos comerciais de TV, nas discotecas dos anos 1970, em novelas, nas artes plásticas e até nos toques de aparelhos celulares do mundo todo. Em 2011, os cadernos das séries Allegro e Vivace vão recordar esses momentos e lugares inesperados em que a música sinfônica se apresenta para todos, mesmo aqueles que não costumam frequentar as salas de concerto. Assim, convidamos você a sempre voltar a esta sala, onde poderá sentir a força e a sutileza de obras criadas em períodos diferentes, conhecer compositores geniais e intérpretes que emocionam. São grandes as chances de você também se apaixonar.
Já no Grande Teatro do Palácio das Artes recebemos a visita de um dos maiores violonistas brasileiros, Fabio Zanon, executando o Concerto para Violão de Francis Hime, peça esta recentemente incluída no repertório nacional escrito para aquele instrumento.
Junho, portanto, simboliza uma amostra variada das muitas atividades de nossa Orquestra, que a tornam extremamente relevante no panorama cultural mineiro e nacional. Ficamos APoIo INSTITuCIoNAl contentes que vocês, com seu apoio e entusiasmo, façam parte deste processo tão significativo. Bom concerto,
Fabio Mechetti
REAlIZAção
Ao criar o Ciclo Portinari – obra para voz e piano composta sobre poemas de Candido Portinari – o compositor João Guilherme Ripper provocou o encontro da poesia com a música e a pintura, dando nova vida ao texto que remete a alguns quadros do pintor. A obra Ciclo Portinari foi criada em 2003 para as comemorações do centenário do artista. Sua estreia se deu em julho daquele ano, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.
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Fabio Mechetti Diretor Artístico e Regente Titular Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville desde 1999. Foi também Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane da qual é, agora, Regente Emérito. Desde 2008 é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, trabalho que lhe deu o XII Prêmio Carlos Gomes na categoria Melhor Regente brasileiro em 2008. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere, com a qual voltará a realizar uma série de concertos em 2011. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.
foto | Rafael Motta
Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor.
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sÉRIE ALLEGRO 2 de junho 20H30 GRANDE TEATRO DO PALÁCIO DAS ARTES
Fabio Mechetti regência Fabio Zanon violão PROGRAMA João Guilherme RIPPER Psalmus (2002) [5 min] Primeira audição em Belo Horizonte Francis HIME Concerto para violão e orquestra (1994) [40 min] [*] I. Modinha II. Ibéria III. Ponteio Primeira audição em Belo Horizonte Solista: Fabio Zanon INTERVALO Ludwig van Beethoven Sinfonia nº 7 em Lá maior, op. 92 (1812) [36 min] I. Poco sostenuto – Vivace II. Allegretto III. Presto IV. Allegro con brio [*] Osesp – Edição Criadores do Brasil
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Fabio
Zanon
violão
Fabio Zanon ocupa uma posição de destaque no cenário internacional de violão clássico e é um dos mais respeitados músicos brasileiros, com uma diversificada atuação como solista, camerista, regente e comunicador. Iniciou seus estudos com o pai, um talentoso amador. Deve sua formação a Antônio Guedes, Henrique Pinto e Edelton Gloeden. Aos 21 anos já era detentor de vários prêmios nacionais e internacionais. Radicado em Londres, estudou com Michael Lewin na Real Academia de Música, onde também assistiu à masterclasses de Julian Bream e completou sua formação em regência, obtendo um mestrado pela Universidade de Londres.
Fabio Zanon tem que ser reconhecido como membro da elite dos violonistas contemporâneos. Revista Gramophone, 1998
Sua reputação internacional consolidou-se em 1996, ano em que venceu, por unanimidade, os dois maiores concursos internacionais de violão: o 30° Concurso Francisco Tarrega na Espanha e o 14° Concurso da Fundação Americana de Violão (GFA) nos EUA. Realizou sua primeira turnê nos EUA e Canadá e lançou seus primeiros CDs, com excelente repercussão crítica. O CD Guitar Recital foi escolhido entre os melhores do ano da revista Gramophone, que sentenciou: “Fabio Zanon tem que ser reconhecido como membro da elite dos violonistas contemporâneos”. Desde então, tem se apresentado por toda a Europa, América do Norte e do Sul, Austrália e Oriente, em teatros como o Royal Festival Hall e Wigmore Hall em Londres, Carnegie Recital Hall em Nova York, Philharmonie em São Petersburgo, Sala Tchaikovsky em Moscou, Sala Verdi em Milão, Musikhalle em Hamburgo, KKR em Lucerna e todos os maiores teatros do Brasil. Recebeu o Prêmio Moinho Santista (1997), o título de Associate da Real Academia de Música em Londres (1997) e o Prêmio Carlos Gomes (2005) como melhor solista instrumental. Seu extenso repertório inclui todas as maiores obras originais para violão, mais de trinta concertos para violão e orquestra, um sem-número de transcrições e todo o repertório camerístico, além de dezenas de estreias de obras contemporâneas, entre elas o Concerto para Violão e Orquestra de Francis Hime.
foto | Osmar Motta
Fabio Zanon ministra cursos por todo o mundo, incluindo a Academia Real e a Universidade Real de Música em Londres, Academia Gnessin em Moscou e a Universidade de Viena; visitou a maioria das universidades de prestígio nos EUA e foi professor visitante na Real Academia de Música de Estocolmo. Em 2008 foi apontado professor da Real Academia de Música de Londres.
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Inspirada na manifestação artística original do louvor judaico-cristão, Psalmus procura descrever a música incidental das metrópoles: catedrais de concreto a céu aberto por onde passam diariamente insensíveis procissões.
João Guilherme RIPPER (Brasil, 1959) Psalmus Nascido no Rio de Janeiro, o compositor João Guilherme Ripper graduou-se e cursou mestrado em Composição na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutorou-se na Universidade Católica da América, em Washington D.C. Realizou estudos adicionais em regência orquestral em Mendoza e Buenos Aires, na Argentina. É professor licenciado da Escola de Música da UFRJ, instituição que dirigiu entre 1999 e 2003. Ripper dirige a Sala Cecília Meireles, principal sala de concertos do Rio, desde 2004. Sua gestão caracteriza-se por uma ampla reforma artística e administrativa, culminando na atual obra de modernização. Ripper recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) em 2000 por sua ópera Domitila. Em dezembro de 2005, a revista Bravo, na 100ª edição, selecionou a sua ópera Anjo Negro como uma das cem melhores produções musicais realizadas no Brasil nos últimos oito anos. Figurando entre os compositores brasileiros de maior repercussão da atualidade, Ripper tem tido suas obras apresentadas nas principais salas de concerto do Brasil e também no exterior. Destacam-se as composições recentes Desenredo, escrita em 2008 (para solistas, coro e orquestra) sob encomenda da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e Olhos de Capitu, do mesmo ano, quando atuou como compositor em residência do 39º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.
foto | Rafael Motta
Ripper é membro da Academia Brasileira de Música e compositor em residência do Programa de Artistas Convidados 2011-2012 da Kean University, em Nova Jersey, EUA.
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Sobre sua obra Psalmus o compositor comenta: “Psalmus é uma obra de caráter religioso, inspirada na manifestação artística original do louvor judaico-cristão presente nos Salmos de David, que o compositor revestiu com uma linguagem musical contemporânea. Os dois primeiros versículos do Salmo 96: Cantate Domino canticum novum, cantate Domino omnis terra (Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor toda a terra) servem de base para o desenvolvimento da obra. Em Psalmus, as palavras do salmista encontram correspondência na predominância do elemento rítmico, na densa instrumentação que privilegia a percussão e metais e no caráter eminentemente minimalista que empresta à obra um aspecto quase dançante. Na seção central, há passagens que remetem ao jazz, algumas delas pontuadas por solo de sax soprano (ou clarinete). Elas contrapõem-se e atualizam a célula rítmica, percussiva e primordial, presente em toda a composição. O misticismo ainda é possível na vida cotidiana? Psalmus, de maneira concisa, breve e intensa, procura descrever a música incidental das metrópoles: catedrais de concreto a céu aberto por onde passam diariamente insensíveis procissões.
Psalmus foi escrita em novembro de 2002 e é dedicada ao maestro Henrique Morelenbaum.”
Para conhecer_ Ciclo Portinari – Poemas de Cândido Portinari musicados por João Guilherme Ripper Ouça em www.myspace.com/joaoripper
A experiência Multissensorial e a Interpretação Musical: um estudo do Ciclo Portinari – Sheila Franceschini – Tese de mestrado – 2010 – com partituras da obra – www.ia.unesp.br/pos/stricto/musica/teses/2010/dissertacao_ sheilafranceschini.pdf
Para ouvir_ CD João Guilherme Ripper – Desvelo – UFRJ Digital – 1997 CD João Guilherme Ripper – Songs of Innocence & Experience – Jeanné Digital Recordings – 2002 CD João Guilherme Ripper – A Portrait of Brazil – Jeanné Digital Recordings – 2011
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“Um violão é uma orquestra vista por um binóculo ao contrário”. Foi essa frase de Andrés Segovia que Francis Hime ouviu de Raphael Rabello quando este lhe encomendou o Concerto para Violão e Orquestra.
Francis HIME (Brasil, 1939) Concerto para Violão e Orquestra Músico de sólida formação, Francis Hime assumiu o papel de um dos principais protagonistas da música popular brasileira a partir da primeira metade dos anos 1960, quando iniciou suas parcerias com Vinícius de Moraes e Ruy Guerra. Na década seguinte compôs com Chico Buarque, seu mais prolífico parceiro, um sem-número de obras-primas do cancioneiro brasileiro. Dotado de grande versatilidade, Hime trabalhou como arranjador para grandes nomes da música brasileira como Gal Costa, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, compôs ainda várias trilhas sonoras para filmes, recebendo por diversas vezes premiações em festivais de cinema. A partir da década de 1980, Francis começou a se dedicar também à escrita de obras eruditas, destacando-se a Sinfonia nº 1, Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião e a Fantasia Para Piano e Orquestra. “Um violão é uma orquestra vista por um binóculo ao contrário”. Foi essa frase de Andrés Segovia que Francis Hime ouviu de Raphael Rabello quando este lhe encomendou o Concerto Para Violão e Orquestra. O violonista carioca acrescentou ainda que “cabia ao compositor sinfônico distribuir esta orquestra que existe dentro do violão para um enfoque mais amplo”. Hime, pianista de ofício e que não tinha um contato mais íntimo com o instrumento, comentou certa vez como se deu o processo da composição da obra: “passei seis anos com o violão embaixo do braço, no convívio com a complexidade que é a junção de um conjunto sinfônico com um instrumento de voz pequena, procurando me integrar na técnica violonística e em como fazer essa mistura funcionar”. Infelizmente Raphael faleceu prematuramente e o concerto ficou engavetado por alguns anos, até que, em 2009, foi realizada sua primeira audição com Fabio Zanon ao violão e a Osesp, sob a regência de Alondra Parra na Sala São Paulo.
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Com esta obra, Francis Hime se insere em uma rica e duradoura tradição de compositores brasileiros que contribuíram sobremaneira para o enriquecimento do repertório sinfônico com violão. Desde a atitude pioneira de Heitor Villa-Lobos em 1929, quando compôs a Introdução aos Choros e depois, em 1951, o Concerto Para Violão e Pequena Orquestra, passando pela farta e imaginativa criação do eclético Radamés Gnattali com suas quatro obras para violão e orquestra (1951, 1951, 1957 e 1967), lembrando também de Francisco Mignone com seu Concerto Para Violão e Orquestra de 1976, além de outros nomes não menos importantes, o instrumento sempre esteve presente no imaginário criativo de nossos compositores. Segundo o autor, o Concerto Para Violão e Orquestra é composto de três movimentos que se caracterizam por uma integração temática com motivos recorrentes e que exploram variações melódicas e rítmicas. O primeiro movimento – Modinha – possui um caráter introdutório da obra e nele destaca-se o tratamento que é dado à célula rítmica sincopada característica do samba. O segundo movimento – Ibéria – foi composto em ritmo ternário, no clima de uma valsa, lembrando às vezes a sonoridade do violão espanhol. O terceiro movimento – Ponteio – se caracteriza pelos contrastes criados com a alternância de diferentes andamentos, à maneira de um rondó. Celso Faria Violonista
PARA ouvir_ CD Francis Hime – Concerto Para Violão e Orquestra – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Alondra de la Parra, regente – Fabio Zanon, violão - e Nelson Ayres – Concerto Para Percussão e Orquestra – Percussionistas da Osesp – John Neschling, regente – 2009
PARA LEr_ História do Violão – Norton Dudeque – Editora da Universidade do Paraná – 1994
Música Contemporânea Brasileira – José Maria Neves – Contra Capa – 2008 Música Contemporânea Brasileira para Violão – Moacyr Teixeira Neto – Gráfica e Editora A1 Para visitar_ http://www.francishime.com.br/
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A melodia em Beethoven sempre demonstra trabalho árduo, que seus cadernos de notas atestam: já se encontram esboços melódicos da Sétima Sinfonia em apontamentos que datam de cerca de seis anos antes de sua composição.
Ludwig van BEETHOVEN (Alemanha, 1770 – Áustria, 1827) Sinfonia nº 7, op. 92 É curioso notar como certas obras, quando despidas de seus contextos circunstanciais, por assim dizer, revelam aspectos insuspeitos para a observação crítica e analítica. Essa observação crítica, que somente certo distanciamento cronológico pode garantir, acaba por situar essas mesmas obras em um contexto maior, o que não raro lhes confere sentido diverso daquele que produziram nos tempos primeiros de sua produção ou de sua exposição ao público. Assim poderia ser observada a Sinfonia op. 92 de Beethoven. Estreada em Viena, em 8 de dezembro de 1813, num concerto dado em benefício de soldados feridos na Batalha das Nações (ocorrida seis semanas antes contra as tropas de Napoleão Bonaparte), ela aí fez par com um dos raros exemplos de música programática em Beethoven: a A Vitória de Wellington, ou a Batalha de Vittoria, op. 91. Após essa estreia, cujo sucesso teve repercussões muito positivas e que conferiram ainda mais popularidade ao então já célebre compositor, ambas as obras foram consideradas, durante muito tempo, somente em conjunto: uma parecia representar a própria batalha (o op. 91) e a outra, a alegria e a celebração da vitória (o op. 92). Despojada desse fato circunstancial, porém, essa obra apresenta elementos fundamentais que norteariam a linguagem musical das gerações que sucederam Beethoven e que nele viram fonte substancial para novas posturas estéticas: pode-se dizer, assim, que na Sétima Sinfonia há marcadamente o início de um Beethoven anunciador da música do futuro. Nela o som adquire importância significante, para além de mero material de construção melódica. Timbre, densidade e intensidade assumem papéis quase autônomos, como elementos expressivos que falassem por si só. Basta um ligeiro golpe de vista sobre a primeira parte do segundo movimento para se notar que, a despeito da sobreposição de dois elementos melódicos, o que é aí trabalhado à exaustão não é exatamente o desenvolvi-
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mento temático, mas grandes diferenças de densidade, tessitura e timbre, encadeados com desenvoltura inovadora. O tratamento da exposição temática, da mesma forma, toma, na Sinfonia op. 92, uma nova feição. Se nas sinfonias de Haydn e Mozart, e nas primeiras sinfonias de Beethoven, os temas são expostos sem rodeios e com uma “asserção” inconteste, em motivos mais ou menos delineados e de clareza explícita, na Sétima Sinfonia há certa ambiguidade expositiva que garante, ao compositor, potencialidades múltiplas para o trabalho de desenvolvimento: há como que uma nova proposta conceitual para o elemento temático, que é mais germe ou embrião fomentador da liberdade criativa que proposta lógica a ser demonstrada. Se isso já pode ser observado na Sexta Sinfonia, talvez seja na Sétima que isso transpareça como proposta amadurecida.
campo da música sinfônica em geral. A angústia dialética que o acomete como compositor, fundamentada, por um lado, na ideologia romântica que lhe norteia o trabalho criativo e, por outro, na sua dificuldade em abandonar os modelos clássicos parece, aí, descortinar-lhe uma possibilidade expressiva até então pouco explorada. Assim, se Romain Rolland designou a Sinfonia op. 92 uma “orgia de ritmos”, é porque não teve totalmente a compreensão do artista criador, que busca seus próprios caminhos. Mais lúcida é a metáfora de Richard Wagner que a ela se referiu como “a apoteose da dança”. Moacyr Laterza Filho Pianista e cravista, professor na Escola de Música da UEMG e na Fundação de Educação Artística.
A própria ideia de melodia, que no classicismo sinfônico era quase sempre indissociável da ideia de tema e consequente desenvolvimento ou variação, aparece aqui modificada pelo gênio beethoveniano. É certo que, em Beethoven, quase nunca se pode observar a franqueza melódica tão acessível, por exemplo, de Mozart ou de Schubert. A melodia em Beethoven sempre demonstra trabalho árduo, que seus cadernos de notas atestam: já se encontram esboços melódicos da Sétima Sinfonia em apontamentos que datam de cerca de seis anos antes de sua composição. No entanto, o Beethoven da Sinfonia op. 92 parece subverter a noção clássica de melodia para dela poder explorar outros caminhos, em que a rítmica assume papel fundamental. Se Friedrich Wieck (pai de Clara Wieck, mais tarde esposa de Robert Schumann), ao assistir ao primeiro ensaio dessa obra considerou-a “pobre em melodias”, é certamente porque não conseguiu reconhecer, nela, o modelo clássico de melodia que Beethoven, aí, subverte. Observada no contexto maior da obra e vida de Beethoven, afastada do momento circunstancial de sua estreia, a Sinfonia op. 92 ainda assim se coloca numa posição sui generis. Beethoven concluiu a composição dessa sinfonia em 1812. Na década anterior foram produzidas obras do porte das duas sonatas para piano op. 27, da Apassionata, da Sonata a Kreutzer, do terceiro e quarto concertos para piano e da quinta e sexta sinfonias. Um lapso de quatro anos separa a Sexta Sinfonia (“Pastoral”) da Sinfonia op. 92. Se na década de 1800 a 1810 os insucessos amorosos e o avanço inexorável da surdez ajudam a fazer explodir o gênio criativo em Beethoven, a segunda década do século XIX vê a consolidação definitiva de sua linguagem e de suas posturas estéticas e ideológicas. O grau de abstração a que Beethoven submete os elementos formais da linguagem musical do classicismo posiciona a Sétima Sinfonia num lugar sem precedentes no todo de sua obra e no
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PARA ouviR_ CD Beethoven – Sinfonia nº 7 – Orquestra Filarmônica de Leningrado – Yevgeny Mravinsky, regente – Melodiya – 1996
PARA lER_ Para conhecer a inserção da vida e obra de Beethoven no contexto do Romantismo musical: História Universal da Música – v. 2 – Roland de Candé – Martins Fontes – 1994
Beethoven: A Música e A Vida – Lewis Lockwood – Códex – 2004 Beethoven – Edmund Morris – Objetiva – 2007 Os Cabelos de Beethoven – Russell Martin – 2001
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16 foto | Rafael Motta
PARA APRECIAR UM
CONCERTO Silêncio
Programa
Em uma sala de concerto, o silêncio é fundamental para que você possa ouvir cada detalhe da música. Ruídos incomodam e dificultam a apreciação das obras e a concentração dos músicos.
A leitura do programa oferece uma oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a música, os compositores e os intérpretes que se apresentam. Ele será seu guia para a boa compreensão das obras executadas. Você também poderá consultá-lo no site antes de vir para o concerto.
Aparelhos eletrônicos O celular perturba o silêncio necessário à apreciação do concerto. Tenha certeza de que o seu está desligado.
Aplausos O aplauso é o elogio da plateia. E, como todo elogio, faz toda a diferença usá-lo na hora certa. É tradição na música clássica aplaudir apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de duas, três ou mais partes. Quando uma dessas partes termina, não significa que a música chegou ao fim. Consulte o programa para saber o número de movimentos e o final de cada obra e fique de olho na atitude e gestos do regente e dos músicos.
Tosse Tosse chama a atenção. Como um apreciador da música, você não vai querer desviar os olhares para sua direção. Por isso, se estiver com tosse, experimente usar uma pastilha antes do concerto e aliviar alguma irritação na garganta antes de entrar na sala e durante os intervalos.
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Pontualidade Atraso e procura de lugares As portas do Grande Teatro são fechadas após o terceiro sinal. Depois do início da apresentação, a entrada só é permitida em momentos que não interrompam o concerto. Quando você puder entrar, escolha silenciosamente um lugar vago ao fundo da sala. Evite andar e trocar de poltrona durante a execução das músicas. Se tiver de sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça.
Outras recomendações Crianças Se você estiver com crianças muito novas, prefira os assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se a criança se sentir desconfortável. Registros Fotos e gravações em áudio e vídeo não são permitidas. Aproveite o concerto ao vivo.
Comidas e bebidas O consumo de comidas e bebidas não é permitido no interior da sala de concerto.
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SÉRIES E OUTROS
Concertos Qual a diferença entre Orquestra Sinfônica e Orquestra Filarmônica? Não existe diferença entre uma orquestra e outra se a dúvida é sobre seu tamanho ou composições que cada uma pode tocar. Uma orquestra pode ser de câmara se tem um número pequeno de instrumentos, mas, se for completa, com todas as famílias de instrumentos, ela será sinfônica ou filarmônica. Esses prefixos serviram, durante muitos anos, para designar a natureza da orquestra, se “pública” ou “privada”. Isso porque se convencionou chamar de filarmônica a orquestra mantida por uma sociedade de amigos admiradores da música, enquanto sinfônica era a orquestra mantida pelo estado. Hoje não se pode mais fazer essa distinção, seja no Brasil ou em outros países, já que ambas dependem do auxílio tanto da iniciativa privada como dos governos. Originalmente, a palavra orquestra vem do grego para se referir a um grupo de instrumentistas tocando juntos. Sinfônico quer dizer “em harmonia” e filarmônico, “amigo da harmonia”. Uma orquestra filarmônica é, portanto, sinfônica, pois seus músicos devem tocar em harmonia e ser capazes de executar as composições sinfônicas criadas pelos compositores de todos os períodos da música clássica, especialmente as mais complexas, a partir do século XIX. Queremos que a nova orquestra de Minas seja de todos nós, amigos da harmonia, o que motivou a escolha do nome Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Allegro e Vivace São séries realizadas em noites de terça (Vivace) e quinta-feira (Allegro), no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ambas apresentam repertório que inclui sinfonias e outras músicas de diferentes períodos históricos, trazendo frequentemente obras pouco conhecidas e inéditas, com a presença de convidados de renome internacional.
Concertos para a Juventude A iniciativa recupera a tradição de concertos sinfônicos nas manhãs de domingo, dedicados à família. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas.
Clássicos no Parque Com um repertório que abrange música sinfônica diversificada, os concertos proporcionam momentos de descontração e entretenimento a um público amplo e heterogêneo. Realizados aos domingos, nos parques da cidade.
Concertos Didáticos São concertos de caráter didático, com entrada franca, para grupos de crianças e jovens da rede escolar pública e particular, instituições sociais e universidades. Além de apreciar a boa música, o público recebe informações sobre a orquestra, os instrumentos e as diversas formas musicais.
Festivais São eventos idealizados para oferecer ao público experiências musicais específicas. O Festival Tinta Fresca procura identificar e promover novos compositores brasileiros. O Laboratório de Regência tem por finalidade dar oportunidade a jovens regentes brasileiros, de comprovada experiência, de desenvolver, na prática, a habilidade de lidar com uma orquestra profissional.
Turnês Estaduais As turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes regiões de Minas Gerais, possibilitando que novos públicos tenham o contato direto com música sinfônica de excelência.
Turnês Nacionais A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais percorre importantes regiões e centros culturais do Brasil, a fim de divulgar a boa música e representar o estado no cenário nacional erudito.
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PRÓXIMOS
Concertos JUNHO
Clássicos no Parque 5 de junho, domingo, 11 horas, Praça Milton Campos, Betim Marcos Arakaki, regência Renata Xavier, flauta CYRO PEREIRA / BEETHOVEN / VIVALDI / PIAZZOLLA / J. STRAUSS Festival Tinta Fresca 10 de junho, 21h, Teatro do Oi Futuro Klauss Vianna Marcos Arakaki, regência Programa a ser anunciado Turnê Estadual 16 a 19 de junho Cidades históricas – Tiradentes, São João del-Rei, Ouro Preto, Mariana Marcos Arakaki, regência Elisa Freixo, cravo NUNES GARCIA / PACHELBEL / HAENDEL / BACH / MOZART Concertos para a Juventude 26 de junho, domingo, 11 horas, local a ser anunciado Marcos Arakaki, regência Dominic Desautels, clarinete Catherine Carignan, fagote MOZART / R. STRAUSS / J. STRAUSS Concertos Didáticos 27 de junho, segunda-feira, local a ser anunciado Marcos Arakaki, regência Fausto Borém, contrabaixo/narrador GLINKA / FAUSTO BORÉM / CARLOS GOMES / BIZET
JULHO
Clássicos no Parque 3 de julho, domingo, 11 horas, Inhotim Marcos Arakaki, regência GLINKA / KATCHATURIAN / CARLOS GOMES / J. STRAUSS / BIZET Série Vivace 5 de julho, terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regência HAYDN/ WEBERN / SCHUBERT Série Allegro 14 de julho, quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regência Adriane Queiroz, soprano MOZART / MAHLER Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão 16 de julho, 21 horas, Teatro Cláudio Santoro Fabio Mechetti, regência Adriane Queiroz, soprano MOZART / MAHLER
foto | Rafael Motta
Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga 23 de julho, sábado, 20h30, Cine-Theatro Central, Juiz de Fora Marcos Arakaki, regência Elisa Freixo, cravo NUNES GARCIA / PACHELBEL / HAENDEL / BACH / MOZART
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Série Vivace 26 de julho, terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regência Lylia Zilberstein, piano C. SANTORO / STRAVINSKY / TCHAIKOVSKY
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ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS | Junho | 2011 Primeiros Violinos
Fabio Mechetti
REGENTE ASSISTENTE
Trombones
Camila Pacífico
Ministério da Cultura apresenta Lina Radovanovic
Anthony Flint spalla
Eliseu Martins de Barros concertino
Rommel Fernandes assistente de spalla
Arthur Vieira Terto Bojana Pantovic Leonidas Cáceres Carreño Luis Felipe Damiani Marcio Cecconello séries allegro Martha de Moura Pacífico Mateus Freire Patrick Desrosiers Rodolfo Marques Toffolo Rodrigo de Oliveira Edgar Leite **** Segundos Violinos
Frank Haemmer * Jovana Trifunovic ** Eri Lou Miyake Nogueira Gláucia de Andrade Borges José Augusto de Almeida Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Radmila Bocev Tiago Ellwanger A música sinfônica Valentina Gostilovitch Anderson Farinelli ****
JUNHo 2011
Matthew Ryan-Kelzenberg Pedro Bielschowsky Luiz Daniel Sales **** Sueldo Nascimento Franscisco **** Contrabaixos
Colin Chatfield * Mark Wallace ** Brian Fountain e Hector vivace Manuel Espinosa Marcelo Cunha Nilson Bellotto Valdir Claudino Flautas
Cássia Lima* Renata Xavier ** Alexandre Braga
Marcos Arakaki Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa Tuba
Eleilton Cruz * Tímpanos
Ambjorn Lebech * Percussão
Rafael Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto John Boudler **** Harpa
Mareike Burdinski * Teclados
Ayumi Shigeta *
Oboés
Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Moisés Pena
Gerente da Orquestra
Clarinetes
Karolina Lima
Dominic Desautels * Marcus Julius Lander ** Ney Campos Franco
estáFagotes em toda parte.
Jussan Fernandes Inspetora da Orquestra
Assistente Administrativo da Orquestra
Débora Vieira Arquivista
Vanderlei Miranda Catherine Carignan * Ela é presente não só na vida dos apaixonados por essa arte, como ** Laurence Messier Assistentes de Arquivista Violas também no dia a dia deRaquel quemCarneiro ainda não se sente íntimo dela. Klênio Carvalho João Carlos Ferreira * Ariana Pedrosa Sergio Almeida Bruno Leandro da Silva Você pode não ter percebido, mas **** a música sinfônica está no cinema Romeu Rabelo Yan Vasconcellos Cleusa de Sana Nébias antigo, no cinema contemporâneo, nas animações, nos comerciais Trompas Glaúcia Martins de Barros Supervisor de Montagem de TV, nas discotecas dos anos 1970, novelas, nas artes plásticas Evgueni Gerassimovem * Marcelo Nébias Rodrigo Castro Ailton Ramez Ferreira do mundo todo. e até nos toques de aparelhos celulares Nathan Medina MONTADORES Gustavo Garcia Trindade ** Katarzyna Druzd Carlos Natanael esses Em 2011, os cadernos das séries Allegro e Vivace vão recordar José Francisco dos Santos Vitaliya Martsinkevich Felix de Senna se momentos e lugares inesperados em que a música sinfônica William Martins Trompetes Matheus Luiz Ferreira Sofiaapresenta von Atzingen **** para todos, mesmo aqueles* que não costumam frequentar Marlon Humphreys Violoncelos as salas de concerto. Erico Oliveira Fonseca ** Daniel Leal Elise Pittenger ***
Assim, convidamos você a sempre voltar a esta sala, onde poderá sentir a força e a sutileza de obras criadas em períodos diferentes, Instituto Cultural Filarmônica conhecer compositores geniais e intérpretes que emocionam. SãoExecutiva grandes as chances de você também se apaixonar. Produtora Diretoria Equipe Administrativa Diretor Presidente
Carolina Debrot
PATRoCÍNIo
APoIo CulTuRAl *chefe de naipe **assistente de chefe de naipe ***chefe/assistente substituto ****músico convidado
DIRETOR ARTÍSTICO e REGENTE TITULAR
DIVulGAção
APoIo INSTITuCIoNAl
REAlIZAção
Analista de Recursos Humanos
Macedo Silva Produtor – obra para voz e pianoQuézia composta sobre o Ciclo Portinari Luis Otávio Amorim Diretor Administrativo-financeiro Analista Financeiro poemas de Candido Portinari – o compositor João Guilherme Tiago Cacique Moraes Thais Boaventura Ripper Auxiliar de Produção Diretor de Comunicaçãoo encontro Lucas AnalISTA ADMINISTRATIVO Paiva com a música e a provocou da poesia pintura, dando nova Fernando Lara Eliana Salazar analista de comunicaçÃO vida ao texto que remete a alguns quadros do pintor. Diretor de Marketing Secretária Executiva Diomar AoSilveira criar
E RELACIONAMENTO
Thiago Nagib Hinkelmann
Andréa Mendes
Analista de Comunicação
Flaviana Mendes
AuxiliarES AdministrativoS Marcela Dantés Diretor de produçÃO MUSICAL Vivian Figueiredo, Cristiane Reis A obra Ciclo Portinari foi criada emde2003 paradeas comemorações do centenário do artista. Analista Marketing Relacionamento Richard Santana e João Paulo de Oliveira Sua estreia se deu em julhoMônica daqueleMoreira ano, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo.
Equipe Técnica
Gerente de Produção Musical
Claudia Guimarães Gerente de Comunicação
Merrina Godinho Delgado
Auxiliar de Serviços Gerais
Analista de MARKETING E PROJETOS
Lizonete Prates Siqueira
Assistente de Programação Musical
Jeferson Silva
Mariana Theodorica
Francisco César Araújo
mensageiro ESTAGIÁRIO
Alexandre Moreira
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REALIZAÇÃO
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