Temporada 2015 | Fora de Série: Beethoven

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Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Banco Votorantim apresentam

PATROCÍNIO MÁSTER


Sábados, 18h

P. 5 P. 12 P. 20 P. 26

21 MARÇO

P. 39

CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti BEETHOVEN, do mito ao homem OS CONCERTOS de Beethoven AS SINFONIAS de Beethoven FABIO MECHETTI, regente RONALDO ROLIM, piano Abertura A Consagração da Casa, op. 124 Concerto para piano nº 1 em Dó maior, op. 15 Sinfonia nº 1 em Dó maior, op. 21

11 ABRIL

P. 45

FABIO MECHETTI, regente SONIA RUBINSKY, piano A Grande Fuga em Si bemol maior, op. 133 Concerto para piano nº 2 em Si bemol maior, op. 19 Sinfonia nº 2 em Ré maior, op. 36

23 MAIO

P. 51

FABIO MECHETTI, regente NATASHA PAREMSKI, piano Abertura Namensfeier, op. 115 Concerto para piano nº 3 em dó menor, op. 37 Sinfonia nº 3 em Mi bemol maior, op. 55, “Eroica”

20 JUNHO

P. 57

ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidado CRISTINA ORTIZ, piano As Criaturas de Prometeu, op. 43: Abertura Concerto para piano nº 4 em Sol maior, op. 58 Sinfonia nº 4 em Si bemol maior, op. 60

15 AGOSTO

P. 65

FABIO MECHETTI, regente JEAN-LOUIS STEUERMAN, piano Abertura Leonora nº 1, op. 138 Concerto para piano nº 5 em Mi bemol maior, op. 73, "Imperador" Sinfonia nº 5 em dó menor, op. 67


26 SETEMBRO

P. 71

FABIO MECHETTI, regente TEO GHEORGHIU, piano Abertura Leonora nº 2, op. 72a Concerto para piano nº 6 em Ré maior, op. 61a Sinfonia nº 6 em Fá maior, op. 68, "Pastoral"

24 OUTUBRO

P. 77

FABIO MECHETTI, regente ROMMEL FERNANDES, violino ARA HARUTYUNYAN, violino Abertura Leonora nº 3, op. 72b Romance nº 1 em Sol maior, op. 40 Romance nº 2 em Fá maior, op. 50 Sinfonia nº 7 em Lá maior, op. 92

21 NOVEMBRO

P. 85

MARCOS ARAKAKI, regente TRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, piano A Vitória de Wellington, op. 91 Concerto para violino, violoncelo e piano em Dó maior, op. 56, "Tríplice" Sinfonia nº 8 em Fá maior, op. 93

19 DEZEMBRO

P. 93

FABIO MECHETTI, regente PABLO ROSSI, piano MARIANA ORTIZ, soprano DENISE DE FREITAS, mezzo-soprano FERNANDO PORTARI, tenor STEPHEN BRONK, baixo-barítono CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS Fantasia Coral, op. 80 Sinfonia nº 9 em ré menor, op. 125, "Coral"

P. 106

POEMAS DA FANTASIA CORAL E DA SINFONIA Nº 9

P. 108

PARA ASSISTIR, OUVIR E LER ACOMPANHE a Filarmônica PARA APRECIAR um concerto

P. 112 P. 113



CAROS

amigos e amigas

Há muito esperávamos ansiosos

quase qualquer outro instrumentista individual), nada

pela oportunidade de, pela

melhor do que o repertório do período clássico. Esse

primeira vez desde a criação da

repertório demanda precisão rítmica, uniformidade de

Filarmônica, ensaiarmos e tocarmos

articulação, atenção detalhada às dinâmicas, apego à

no mesmo espaço. Essa dinâmica é

estrutura da obra e fidelidade ao compositor. Foi com

extremamente importante para

esse intuito que escolhemos começar a série Fora de Série

se construir uma orquestra

explorando a magnífica obra de Ludwig van Beethoven.

de excelência. Através desse

Com suas impressionantes sinfonias, aberturas, concertos,

continuado trabalho, consolidamos

Beethoven foi talvez o primeiro compositor na história

aspectos técnicos e expressivos

da música a ver a orquestra sinfônica como instrumento

que caracterizam todas as

virtuoso, capaz de uma gama imensa de possibilidades

grandes orquestras.

expressivas. Ao construirmos uma série inteira baseada em sua obra, nossos músicos terão a oportunidade de

Agora, com a abertura da Sala Minas

conhecer melhor sua nova Sala e também a si mesmos.

Gerais, e com essa oportunidade única de maximizarmos nossos

Convidamos todos a participar desse descobrimento,

ensaios e apresentações, para que

paradoxalmente através de um repertório dos mais

a Filarmônica possa corresponder

conhecidos e apreciados. Todos ganham: a Filarmônica,

ainda mais às expectativas e ao

na sua busca contínua de qualidade, e o público, que

orgulho de nosso público, criamos

certamente irá reviver as grandes emoções que a

uma série especial que irá focar

obra beethoveniana desperta em todos nós: do apelo

exatamente na implementação desses

à democracia expresso em sua Eroica, ao humanismo

aspectos. Junto a isso, oferecemos

revelado nas eloquentes palavras de Schiller que

aos nossos ouvintes a oportunidade

Beethoven utilizou em sua Nona Sinfonia.

de vivenciar obras consagradas do repertório sinfônico que vêm,

Bem-vindos.

há séculos, impactando gerações e gerações de amantes da música. Para o aperfeiçoamento técnico de uma orquestra (assim como para

FABIO MECHETTI

Diretor Artístico e Regente Titular

5 FORA DE SÉRIE CAROS AMIGOS E AMIGAS


FABIO MECHETTI

Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor

diretor artístico e regente titular

tornou-se o primeiro brasileiro a ser convidado a

Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. Recentemente, dirigir uma orquestra asiática, sendo nomeado Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse, da Orquestra Sinfônica de Spokane e da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, sendo, agora, Regente Emérito destas duas últimas. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus,

6 FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI


FOTO EUGÊNIO SÁVIO

entre outras. É convidado frequente dos festivais de

Brasília e Paraná e as municipais de

verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park

São Paulo e do Rio de Janeiro.

em Chicago e Chautauqua em Nova York.

Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,

Realizou diversos concertos no México, Peru e

Frederica von Stade, Arnaldo Cohen,

Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas

Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil

de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Na Europa regeu a

Shaham, Midori, Evelyn Glennie,

Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia e a Orquestra

Kathleen Battle, entre outros.

da Rádio e TV da Espanha. Dirigiu também a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra

Igualmente aclamado como regente

Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de

de ópera, estreou nos Estados Unidos

Tampere, na Finlândia.

dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se

Vencedor do Concurso Internacional de Regência

produções de Tosca, Turandot,

Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige

Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte,

regularmente na Escandinávia, particularmente a

Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha,

Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg,

La Traviata e As Alegres Comadres

Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo

de Windsor.

a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2015 dirigirá a Orquestra Sinfônica de Odense, também na Dinamarca.

Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em

No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira,

Composição pela prestigiosa

a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre,

Juilliard School de Nova York.

7 FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI


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9 FOTO RAFAEL MOTTA


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LUDWIG VAN BEETHOVEN Bonn, Alemanha, 1770 – Viena, Áustria, 1827

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Beethoven

DO MITO AO HOMEM Se pudéssemos passar da história da

sofrer pelos excessos do marido – de

música à história dos homens – não

tudo isso Beethoven fez matéria para

à história política, nem mesmo à

construir-se a si próprio e à sua música.

história das mentalidades, mas a uma “história dos exemplos humanos”,

Os abusos da infância não o fizeram

desses que a literatura de Dickens

voltar-se contra o pai ou tomar

soube pintar com raro otimismo;

ojeriza pela música, mas, ao contrário,

se pudéssemos, pois, realizar esse

fortaleceram em Beethoven o

movimento, diríamos, em primeiro

sentido da sua individualidade e,

lugar, que Ludwig van Beethoven foi

com isso, a consciência de que sua

um grande homem.

obra não deveria servir aos desejos e caprichos da aristocracia, nem

Sob uma perspectiva humana, ele

mesmo às expectativas de um público

foi exemplo de autossuperação e de

habituado a apreciar somente o que

entrega determinada ao cumprimento

tinha costume de ouvir. Sua música

da missão da qual acreditava estar

deveria ser testemunha dele próprio,

investido: a de ser, pela música,

como homem, como ser social e

testemunha da humanidade. Por

político, como indivíduo – com suas

isso mesmo, ambas as coisas, em

contradições e angústias. Assim,

Beethoven, se confundem.

por testemunhar o homem, ela testemunharia, deste, a humanidade.

De sua infância infeliz e trágica, marcada pela brutalidade de um pai

Já não se diga de seus infortúnios

alcoólatra que dele quis fazer – sem

amorosos. Não parecem ter sido o

sucesso, como pianista – um segundo

fato mais determinante em sua

Mozart; marcada, também, pelas

obra, como, por exemplo, na obra

responsabilidades que teve de assumir

de Schumann. Não fosse a trágica

ainda muito jovem, em razão da

solidão em que voluntária ou

decadência do pai e da perda da mãe, a

involuntariamente se isolava

quem amava profundamente e que via

(note-se, por exemplo, este trecho

12 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


FOTOS: BOHN TESTAMENTO CASA FUNERAL

Beethoven nasceu nesta casa, hoje um museu dedicado a ele.

do Testamento de Heiligenstadt,

na companhia dos homens, não terei

redigido em 1802: “falem mais alto,

mais conversas inteligentes nem

gritem, sou surdo (...). Por isso,

mútuos desabafos.”), não fosse isso,

perdoem-me, se me veem viver

os amores de Beethoven passariam

isolado, quando eu, com prazer,

à margem de sua obra e de sua vida.

estaria no meio de vocês. Minha

Até mesmo a famosa Carta à Amada

desgraça me é duplamente penosa

Imortal (que, ao que tudo indica,

porque, por ela, devo tornar-me

foi dirigida a Josefina von Brunswick)

ignorado; não terei mais estímulo

merece o devido desconto do exagero

13 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


romântico que procurou pintar

e mais proveitoso foi o contato

o retrato de um artista maldito e

com Salieri, com quem estudou

incompreendido.

de 1794 a 1800. A partir de então, começa a se firmar como compositor

Vindo de Bonn – cidade alemã,

e instrumentista. Sua fama de

medíocre política e culturalmente à

grande improvisador ao piano já é

época – para, em 1792, estabelecer-se

notória. Sua ascensão é progressiva e

em Viena, o maior centro cultural

ininterrupta. De uma obscura cidade

e musical da Europa de então,

do principado de Colônia, esse jovem

Beethoven soube construir seu lugar

de origem humilde soube se impor ao

entre vultos já lendários como os

maior centro musical da Europa e se

de Mozart e Haydn, cuja música

tornar lenda ainda em vida.

era renomada internacionalmente. Com Mozart, a quem admirava

A maior tragédia de Beethoven

profundamente, Beethoven havia

foi, sem dúvida, a sua progressiva

travado contato em Viena, em

surdez. Os primeiros sinais

1787, ano da morte de sua mãe,

aparecem ainda em 1798, ano de

motivo que o fez regressar a Bonn.

composição da sonata para piano

Desse primeiro contato – Mozart

op. 13 (a “Patética”). Ainda assim,

trabalhava, então, em Don Giovanni

mesmo com o agravamento do

– vieram, diz-se, palavras proféticas

mal, que o levará à total perda de

do prodígio de Salzburgo: “este jovem

audição, Beethoven não sucumbe à

ainda vai dar o que falar”. No seu

fatalidade, nem se furta a manter-se

retorno definitivo a Viena, cinco

firme em seu propósito de, pela

anos depois – Mozart havia morrido

música, testemunhar o homem.

em 1791–, Beethoven vem munido de

Sua surdez não explica sua obra,

uma carta de recomendação do conde

é certo, mas talvez a densidade de

Waldstein para estudar com Haydn.

seu pensamento musical nunca chegasse a grau tão exponencial

A convivência com Haydn não foi

se, como nas palavras de Roland de

nem longa nem proveitosa. Beethoven

Candé, “o silêncio exterior não lhe

aprende muito mais no contato

tivesse imposto a concentração de

com a obra de Haydn do que de sua

sua vontade numa música ideal”.

pedagogia. Conservará, entretanto,

Escreverá, por isso, Victor Hugo:

por toda a vida, profunda admiração

“Esse surdo ouvia o infinito”.

pelo mestre, embora as relações entre ambos sejam de mera cordialidade

Para Beethoven, compor nunca

e nunca de confiança. Mais longo

é uma tarefa ligeira ou fácil:

14 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


A pequena cidade de Bonn, às margens do rio Reno, onde Beethoven nasceu e viveu até os 22 anos. (Imagem de Laurenz Janscha e J. Ziegler)

seus muitos cadernos de notas o

com a responsabilidade de ser!...

atestam. Exemplo claro disso é

E, sendo, de mostrar, ao homem, o

Fidélio, sua única ópera. Muitas

Homem. Talvez seja esse aspecto o

versões e um trabalho árduo de

que garanta a sempre tão veemente

revisões e correções (inclusive do

atualidade de sua música. A trágica

libreto) marcam a trajetória de

consciência de um propósito

sua elaboração, desde sua estreia

voluntariamente abraçado terá

em 1806 até sua publicação em

ascendência direta e profunda sobre

1826, sem mencionar o antes.

todas as gerações de compositores

Pode-se, erroneamente, atribuir

posteriores a Beethoven, em maior

essa laboriosidade à dificuldade de

ou menor grau. Cite-se somente

Beethoven em lidar com a linguagem

um exemplo: Johannes Brahms só

vocal. Trata-se de uma inverdade:

concluiu a sua primeira sinfonia aos

suas canções, a Nona Sinfonia,

quarenta e três anos de idade, tendo

a Missa Solemnis o comprovam.

levado vinte e um anos para compô-

Trata-se, sobretudo, do grande senso

la! Igualmente, essa consciência e

de responsabilidade que norteia o

esse propósito se refletem na própria

trabalho criativo do compositor.

obra de Beethoven, se comparada

Cada obra sua nasce com a missão

à de seus contemporâneos: Mozart

de ser mais que mero divertimento

compôs vinte e sete concertos para

para outrem, mais que meras

piano; Beethoven, apenas cinco.

ideias musicais lançadas sobre uma

Haydn compôs mais de uma centena

estrutura formal já estabelecida.

de sinfonias; Mozart, quarenta e

Cada obra de Beethoven nasce

uma; Beethoven, apenas nove.

15 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


Desde muito cedo Beethoven

Sobre esta última obra cabe um

assume essa postura de grande

breve comentário. Embora

responsabilidade diante do ofício

Beethoven faça frequentemente

de artista criador. Por isso a clássica

uso do contraponto e da fuga em

tripartição das fases de Beethoven,

obras de sua última fase (notem-se,

proposta por F. J. Fétis e W. von Lenz,

por exemplo, o ciclo dos últimos

se mostra frágil. Nessa tripartição,

quartetos de cordas e a sonata

a primeira fase, que iria de 1800

op. 110), há críticos que veem na

a 1802, mostra um Beethoven que

Missa Solemnis uma releitura,

ainda se atém à linguagem clássica,

consciente ou não, muito peculiar

sob a ascendência de Haydn, embora

– muito beethoveniana – da grande

já demonstre aspectos muito pessoais.

polifonia franco-flamenga de

Anterior a essa fase, porém, estão,

Josquin des Prez e Ockeghem.

por exemplo, três sonatas para

Outros críticos, porém, associam

piano, compostas entre 1782 e 1783

essa obra à tradição polifônica pela

– portanto, não incluídas na série

exploração que o compositor aí faz do

canônica das trinta e duas sonatas

sentido de espacialidade. Associações

para piano –, que já ensaiam, dentre

à parte, é certo que Beethoven

outras obras, a própria Sonata

mais uma vez logra transcender

Patética, op. 13, a qual, por sua vez,

a linguagem clássica, dessa vez

em muitos aspectos distancia-se da

propondo um olhar contemporâneo

linguagem genuinamente clássica.

sobre o passado musical de que é herdeiro, reelaborando-o.

A segunda fase iria de 1803 a 1815. Nela, notam-se certas investidas

A tripartição das fases de Beethoven

formais, alterando a forma sonata, a

é, portanto, uma organização

substituição do minueto pelo scherzo

esquemática e cômoda, que agrupa

e uma série de experiências na

a sua obra de forma didática. Mas,

linguagem pianística e na linguagem

para um observador atento, há nela

orquestral. Na última fase, que

muitas contradições.

vai de 1815 a 1826, Beethoven, já completamente surdo, demonstra

É de se mencionar ainda que, ao

certa abstração e maior ruptura

contrário de Mozart, a quem tanto

em relação às formas clássicas,

admirava, e cujo gênio dramático-

criando obras às vezes de proporções

vocal se mostrava quase que em cada

monumentais, como a Grande Fuga,

uma de suas inflexões, Beethoven

as sonatas op. 106 e 111, a Nona

encontra seu caminho mais genuíno

Sinfonia e a Missa Solemnis.

de expressão na música instrumental.

16 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


Milhares de vienenses foram se despedir de Beethoven em seu funeral. (Aquarela de Franz Xaver Stöber)

Nesse campo, ele foi determinante para

maneira as formas tradicionais, que

os gêneros mais significativos: sem

elas pareceriam eternas às gerações

falar das sonatas para piano, citem-se

que o sucederam.

categoricamente seus quartetos de cordas, suas sonatas para violino e

Beethoven foi o grande fantasma

piano, suas sonatas para violoncelo

do Romantismo... E somente com

e piano, seus trios com piano, para

Debussy e Stravinsky a música do

não mencionar as sinfonias. Destas, a

Ocidente conseguiu, definitivamente,

última, pelo uso das vozes humanas, o

com grande deferência, afastar-se

que, dentre outros aspectos, transcende

dele. Beethoven é o primeiro músico

o conceito clássico.

cuja atividade criadora foi assumida e não delegada e, cônscio disso,

Beethoven foi o grande surdo que

subverteu as relações entre a música

a civilização ocidental fez entrar

e a sociedade, nas palavras de Roland

em sua mitologia. Paradoxalmente

de Candé, “desviando sua arte de seu

o último dos clássicos e o primeiro

destino aristocrático para se dirigir à

dos românticos, foi testemunha da

humanidade inteira”.

fronteira entre duas eras. Seu papel histórico é capital: transcendendo o Classicismo, foi o norte e o farol do Romantismo, dando exemplo de todas as superações e ampliando de tal

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

17 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM


Litogravura de Joh. P. Lyser (cerca de 1823).


Ilustração de Joh. Ne. Hoechle (1823).


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OS CONCERTOS 21


OS CONCERTOS de Beethoven

Na época de Beethoven, dois eram

de uma renda estável como professor

os espaços disponíveis em Viena

de música, para os membros da

para apresentações musicais públicas:

alta sociedade.

os teatros, destinados às óperas; e as igrejas, que abriam suas portas para

A partir do século XVIII praticamente

apresentações de obras sacras.

todo compositor soube valer-se

Como não existissem salas de

das potencialidades artísticas e

concerto, as apresentações públicas de

profissionais do concerto. Com

música instrumental, chamadas

Beethoven não foi diferente. Mas, se

de Academia, aconteciam,

no início do século XIX a aristocracia

geralmente, em teatros, cassinos

ainda exercia uma grande influência

ou apartamentos particulares.

na formação do gosto do público, a classe média, que constituía

Nessas Academias, um gênero gozava

uma grande parcela da plateia, já

de destaque, pelo seu caráter quase

vinha conseguindo fazer valer suas

sempre espetacular: o concerto.

preferências. Beethoven era bem

O concerto é um tipo de composição

consciente das oscilações do público

surgida na Itália por volta da

em Viena. Algumas de suas obras,

segunda metade do século XVII

tais como a Sinfonia Eroica, foram

que consiste, grosso modo, em um

compostas tendo o autor em mente,

diálogo musical entre um ou mais

em primeiro lugar, algum membro da

solistas e a orquestra. Os concertos

aristocracia, que detinha, por algum

eram a via perfeita de apresentação

tempo, os direitos de execução privada

dos talentos de um músico, tanto

da obra. Quanto aos concertos, foram,

como compositor e como intérprete.

de forma geral, compostos para o

Se como compositor o concerto o

consumo da classe média.

ajudava a abrir as portas da fama, o sucesso adquirido como intérprete,

Das obras acabadas de Beethoven,

a partir do concerto, lhe abria as

restaram-nos, para solistas e

portas dos salões aristocráticos,

orquestra, apenas cinco concertos

assim como efetivas possibilidades

para piano, um concerto para

22 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN

Beethoven também era admirado como pianista de interpretação enérgica. Na imagem, fortepiano presenteado por Thomas Broadwood, importante fabricante da época.


violino (Beethoven criou também

do qual mais integralmente

uma versão desse concerto para

Beethoven se expressava.

piano e orquestra), o Tríplice concerto – para violino, violoncelo

Curiosamente, além de serem

e piano solistas e orquestra – e dois

pouco numerosas, trata-se de obras

romances para violino e orquestra.

compostas quando Beethoven era ainda relativamente jovem, entre

Sua opção preferencial pelos

os anos 1789 e 1810, isto é, dos

concertos para piano se explica

dezenove aos quarenta anos de

pelo fato de ter sido o piano seu

idade. Não se deve, com isso,

instrumento de predileção, através

inferir que ele não apreciasse

23 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN


o gênero, ou que tenha deixado de

pelo compositor, respectivamente,

apreciá-lo com a idade.

ao solista e à orquestra.

É bom lembrar que Beethoven ficou

Os dois romances para violino e

surdo relativamente cedo, havendo

orquestra (1798 e 1802) serviram a

suas aparições como solista, por

Beethoven como uma importante

essa razão, se tornado cada vez mais

preparação para o Concerto para

escassas. Os esforços do compositor

violino. Os romances também

se voltaram então para os gêneros em

possuem numeração invertida,

que o exibicionismo dos solistas cedia

assim como no caso dos dois

lugar ao conteúdo expressivo da

primeiros concertos para piano.

obra, tais como a sinfonia e a música de câmara, de modo especial

A partir do terceiro concerto para

o quarteto de cordas. A música

piano (1801) a voz interior, muito

tornava-se mais importante do que o

pessoal, de Beethoven começou a se

intérprete que a executava.

fazer presente. Embora se trate, ainda, de uma obra dos chamados anos de

Os dois primeiros concertos para

juventude, as inovações desse concerto

piano foram compostos como veículo

fizeram dele um modelo para o

para o jovem compositor apresentar-

gênero, graças ao equilíbrio formal e

se como pianista virtuoso, tanto em

à associação entre o virtuosismo do

Bonn quanto, mais tarde, em Viena.

solista, que passa a ser o protagonista

O Concerto para piano nº 2 foi

da cena, e o papel da orquestra, que,

composto em 1789, aos dezenove

com seu sinfonismo exuberante, deixa

anos de idade, e o Concerto para piano

de ser um mero acompanhador para

nº 1 em 1797, aos vinte e sete anos –,

assumir um papel de destaque no

sendo que a numeração refere-se

discurso musical.

à data da publicação. É evidente a influência de Haydn e Mozart em

Com o Concerto Tríplice (1803), obra

seus primeiros concertos, tanto na

contemporânea à Sinfonia Eroica, à

forma como nos papéis destinados

Sonata Kreutzer e à Sonata Waldstein,

24 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN


Três dias após a morte de Beethoven, Hoechle ilustrou seu estúdio, em sua casa, no Schwarzspanierhaus. (Historical Museum, Viena)

piano op. 61a). Trata-se de duas obrasprimas que se encontram entre as mais importantes do gênero em todos os tempos. Embora extremamente virtuosísticos, o equilíbrio entre solista e orquestra encontra seu ponto alto com estes dois concertos. A estreia do Concerto para piano nº 4, em 22 de dezembro de 1808, marca a despedida de Beethoven dos palcos como solista. Sua surdez já se encontrava bem avançada. O Concerto para piano nº 5, em Mi bemol, composto em 1810, é seu último concerto. Completamente encontramos um Beethoven no início

surdo, Beethoven jamais o executará

de seus anos de maturidade. Aqui o

em público. Aos quarenta anos de

domínio da forma e a liberdade do

idade Beethoven nos presenteia

criador são evidentes. O século XVIII

com o mais grandioso, mais

ficou para trás e poder-se-ia dizer

imaginativo e mais original de seus

que, em 1803, Beethoven inaugura o

concertos. Uma música composta

século XIX.

para toda a humanidade. Uma vida dedicada a enriquecer o mundo com

No ano de 1806 Beethoven compõe

uma beleza da qual ele já não pode

dois importantes concertos: o

mais desfrutar.

Concerto para piano nº 4 e o Concerto para violino (o arranjo, para piano e orquestra, feito pelo próprio Beethoven, data da mesma época, e veio a se denominar Concerto para

GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

25 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN


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AS SINFONIAS 27


AS SINFONIAS de Beethoven

As sinfonias de Beethoven

cantata) diferem significativamente do

figuram hoje entre as obras mais

modelo de Haydn. Planejadas para o

consagradas pelo público de

grande público, as sinfonias não eram

concertos. Entretanto, a maioria

obras tão adequadas à experimentação

dos ouvintes contemporâneos do

formal quanto os gêneros mais

compositor reagiu com assombro e

intimistas das sonatas para piano e

incompreensão às suas inovações –

dos quartetos de cordas, em que o

as primeiras críticas julgaram-nas

compositor exercitou mais largamente

intermináveis e fatigantes! De fato,

sua liberdade em todos os parâmetros

essas sinfonias, concebidas em

da composição. Quanto ao formato da

grandes dimensões, exigiam do

orquestra, por exemplo, ele manteve

público uma concentração sem

o estabelecido pelas últimas sinfonias

precedentes. As nove sinfonias só se

de Haydn. Excepcionalmente,

impuseram no repertório a partir de

Beethoven usa trombones, como

meados do século XIX, até ocuparem

nas Sinfonias números 5, 6 e 7; na

definitivamente um espaço ímpar

Eroica, acrescentou uma trompa; no

no cânone da música sinfônica. Elas

final da Quinta emprega o flautim

iluminaram as anteriores realizações

e o contrafagote; na Nona, eleva

de Haydn e Mozart como limites

para quatro o número de trompas e

da perfeição clássica e, transcendendo

amplia a percussão com o uso da então

corajosamente tais modelos,

chamada música turca – triângulo,

criaram nova referência musical,

pratos e bumbo, somados aos dois

com novos padrões formais e

tímpanos habituais. O pensamento

inusitado poder emocional.

orquestral de Beethoven excedeu os recursos dos instrumentos da época e

Entretanto, de maneira

sofreu desvantagens, por exemplo, no

geral, Beethoven não alterou

emprego das trompas e dos trompetes.

substancialmente a forma básica do

Ao contrário, seu uso do fagote e dos

gênero; apenas a Sexta Sinfonia (com

tímpanos mostrou-se particularmente

seus títulos descritivos) e a Nona

original. O tratamento beethoveniano

(com elementos de uma verdadeira

dos sopros, considerado excessivo

28 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN


Beethoven compondo a Sinfonia Pastoral. (Autor desconhecido. Publicado no Almanach der Musikgesellschaft, 1834)

à época, causou espanto – alguns

entre eles, ciente de sua eficácia

críticos o condenavam pela inclusão

sobre os ouvintes.

de uma banda no domínio orquestral. Foi principalmente na busca da A grande novidade orquestral de

expansão do conteúdo espiritual

Beethoven, sobretudo a partir da

e emocional de suas obras que

Terceira Sinfonia, constitui-se no uso

Beethoven ampliou a arquitetura

de maciços blocos sonoros, realizados

formal da sinfonia. A própria natureza

através da separação dos timbres.

do pensamento composicional

Movimentando-os, o compositor

do compositor tornou quase

manipula com precisão seus ataques,

inevitável sua excelência no

a densidade, a potência, os contrastes

gênero, permitindo-lhe explorar

29 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN


ao máximo as possibilidades

um discurso onde a exposição

expressivas da música puramente

dos temas e o desenvolvimento se

instrumental. E é interessante

apresentam em conjunto). Nesses

observar que, sob esse aspecto,

primeiros movimentos, o pensamento

o talento beethoveniano diferia

instrumental do compositor interfere

radicalmente das características da

principalmente na articulação das

personalidade deseu ídolo Mozart,

duas ideias constituintes da forma.

autor eminentemente teatral e vocal

Haydn frequentemente os relacionava,

em qualquer gênero que abordasse.

derivando o segundo do primeiro.

O músico de Bonn, em pleno século

Beethoven, ao contrário, valorizou a

XVIII, imbuído de um conceito

diferenciação entre o caráter dos dois

já romântico, empenhou-se em

temas principais pelo contraste

demonstrar que as formas

rítmico, instrumental e pela distância

puramente instrumentais seriam

das relações tonais entre eles.

capazes de exprimir ideais e

Explorando o conflito das ideias

sentimentos profundos.

antagônicas contidas em dois temas opostos, o compositor transforma

Quanto ao número de movimentos,

seus desenvolvimentos em um

Beethoven seguiu o modelo das

processo dialético de grande tensão.

sinfonias londrinas de Haydn (apenas

Os movimentos tornam-se assim

a Pastoral tem cinco movimentos,

necessariamente longos – a Eroica é

com os últimos três encadeados

muito mais longa e mais complexa

sem interrupção). Outra herança

do que qualquer sinfonia composta

haydniana são os prelúdios lentos, que,

antes dela, com o imenso primeiro

utilizados anteriormente em sonatas

movimento repleto de material

para piano do próprio Beethoven,

temático e extraordinária amplitude

iniciam as Sinfonias números 1, 2,

tonal. No final de cada primeiro

4 e 7. A Terceira usa apenas dois

movimento, a coda beethoveniana

acordes introdutórios. As Sinfonias 5

ganha proporções de um segundo

e 6 não têm introdução, e a Nona se

desenvolvimento, ressaltando a

inicia com dezesseis compassos que

última aparição do tema vitorioso

preparam nebulosamente a súbita

com insistentes afirmações tonais

explosão da primeira ideia.

(a Quinta, por exemplo, apresenta uma série bombástica de redundantes

Os primeiros movimentos das

acordes de tônica).

sinfonias de Beethoven estão escritos na forma de sonata clássica (com

Na sequência das várias seções

exceção da Nona, que apresenta

dos outros andamentos, há uma

30 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN


Theater an der Wien, onde foram apresentadas muitas obras de Beethoven. (Gravura contemporânea)

lógica motriz que continuamente

moto é um conjunto de variações

impulsiona a música, construindo a

ligadas por misteriosas passagens

totalidade da obra como expressão

modulantes. A “Cena às margens

completa e única. Essa coerência

do riacho”, Andante molto mosso

interna, perceptível em cada uma

da Pastoral, abre espaço a algumas

das sinfonias, desde a Primeira

intenções descritivas e intervenções

até a Nona, acentua-se ainda mais

imitativas (o próprio Beethoven

pela ligação direta entre alguns

menciona na partitura o canto

movimentos (os dois últimos da

dos pássaros: a flauta se faz de

sinfonia 5 e os três últimos da 6).

rouxinol, o oboé imita a codorniz e o clarinete, o cuco). As duas

Os movimentos lentos mantêm, nas

sinfonias seguintes não possuem

sinfonias de Beethoven, o caráter

movimentos lentos: o Allegretto da

essencialmente melódico, mas

Sétima, com caráter de marcha,

se adaptam formalmente a uma

mantém em primeiro plano o

função bem determinada pelo

interesse rítmico que domina toda

contexto da obra – daí, portanto,

a sinfonia. O Allegretto scherzando

serem tão diferenciados (ou mesmo

da Oitava, deliciosamente divertido,

suprimidos). A visionária e trágica

traz um acompanhamento mecânico

Marcha fúnebre, Adagio assai da

para a saltitante melodia, provável

Terceira, talvez seja o movimento

homenagem a Mälzel, inventor do

lento mais célebre de todas as

metrônomo. Finalmente, o Adagio

sinfonias. Na Quinta, o Andante con

molto e cantabile, terceiro movimento

31 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN


da Nona, tem uma forma comum aos

dos finais da Primeira e da Quarta

últimos quartetos do compositor –

sinfonias (que se inscrevem na

consiste em um lied de profundidade

tradição vienense) e o da Sexta (com

e intensidade inigualáveis, formado

seus títulos descritivos), os restantes

pela alternância de dois temas, suas

possuem uma tensão e um clímax

variações e interlúdios.

incontestáveis.

O movimento de dança dentro

Em 1824, em Viena, com a estreia da

da sinfonia sofre uma sensível

Nona Sinfonia, Beethoven assinalava

modificação em Beethoven. O

para o grande público mais uma

inevitável minueto das antigas

transformação em sua obra, após

sinfonias lhe parecia socialmente

solitário e prolongado silêncio de

obsoleto e bem acanhado

quase uma década – comentava-

musicalmente. O compositor

se que, surdo e mergulhado em

o substitui então pelo Scherzo,

problemas pessoais, ele se tornara

mantendo a mesma estrutura, ou seja,

incapaz de compor. Durante o

com o Trio intermediário e o retorno

concerto, realizado no dia 7 de maio,

da capo, mas com conteúdo diferente

o compositor ficou no palco, seguindo

– agitado, fantástico, impetuoso, livre

a partitura, enquanto o maestro

– e de dimensões maiores. Beethoven

Ignaz Umlauf regia a orquestra.

usou pouco o termo scherzo, mesmo

Ao final da sinfonia, Beethoven

para definir movimentos que

permaneceu imóvel; a cantora

claramente são scherzi. Nas sinfonias

Caroline Unger tomou-o pelo braço

usou-o apenas na Segunda e na

e virou-o de frente para o público,

Terceira, normalmente limitando-se

para que ele pudesse ver com que

à indicação do tempo.

entusiasmo era aplaudido.

O último movimento adquire, nas

Musicar o poema de Schiller era

sinfonias de Beethoven, notável

um antigo sonho do compositor.

importância, como ponto culminante

A leitura das Cartas sobre a educação

da construção musical. Com exceção

estética do homem fora decisiva

32 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN


em sua reflexão sobre a função

à expressão mais intimista do

pública e o poder instrutivo da Arte

Romantismo – reduzindo as

para a sociedade e os indivíduos,

proporções dos movimentos

conduzindo-os a níveis mais elevados

intermediários, tomaram como

de comportamento e convivência.

modelo principalmente a Quarta e a Oitava. Em outra vertente, Berlioz

Depois do sucesso da estreia da Nona

e Liszt, muito influenciados pela

Sinfonia – com sua conclamação

Sexta, adotaram os programas

urgente e circunstancial pela

extramusicais para os poemas

fraternidade entre os homens –,

sinfônicos. A última grande sinfonia

o compositor, do alto de sua glória,

de Schubert, escrita sob o impacto

dispôs-se ainda a mudar seus códigos.

da Nona de Beethoven, aponta para

Retorna às técnicas contrapontísticas

o futuro e possui atributos comuns

bachianas, estuda a música

às obras posteriores de César Franck

renascentista e a harmonia modal.

(1822-1890), Anton Bruckner (1824-

Serenamente, desvencilhava-se da

1896) e Gustav Mahler (1860-1911),

tendência ao retórico, libertava-se

valorizando a tendência para a

dos efeitos fáceis e buscava sua

unidade cíclica e disposição formal

voz mais íntima e atemporal.

em amplos espaços harmônicos.

Derradeiras obras-primas de

Mesmo para os compositores

Beethoven, os últimos quartetos

contemporâneos, que adotam

e sonatas para piano pareceram

processos diametralmente opostos

incompreensíveis para seus

aos de Beethoven, suas nove sinfonias

contemporâneos e só a modernidade

permanecem imprescindíveis.

revelou-lhes toda a grandeza. Após Beethoven, os sinfonistas

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,

românticos se viram diante de

Doutor em Letras, professor na UEMG, autor

um desafio. Em uma direção, Mendelssohn, Schumann e Brahms adaptaram a sinfonia

dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

33 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN



Início do manuscrito do Testamento de Heiligenstadt. Em um de seus retiros de verão, Beethoven, desesperado com a surdez crescente, escreveu uma carta sofrida aos dois irmãos, mas nunca a entregou.


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FABIO MECHETTI, regente RONALDO ROLIM, piano

PROGRAMA

1

21 DE MARÇO ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA, OP. 124 CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15 Allegro con brio Largo Rondo: Allegro scherzando — INTERVALO —

SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21 Adagio molto – Allegro con brio Andante cantabile con moto Menuetto – Allegro molto e vivace Adagio – Allegro molto

39 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO


Brasileira, Filarmônica de Minas Gerais, Sinfônica de Campinas, Sinfônica da USP e Sinfonia Cultura; na Europa, Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, Orchestra Sinfonica della Repubblica de San Marino e da Orquestra do Norte (Portugal); nos Estados Unidos, sinfônicas de Phoenix, Pontiac e Peabody. Um ávido camerista, é fundador do FOTO YI WANG

RONALDO ROLIM

Trio Appassionata e com o grupo gravou compositores dos Estados Unidos (Odradek Records). Ronaldo é convidado de festivais como Folle Journée, Accademia Musicale Chigiana, Ravinia Festival e Holland Music Sessions.

Com uma “especial capacidade de comover através de suas interpretações”

Nascido em 1986 em Votorantim, São Paulo, Ronaldo Rolim

(El Norte, Monterrey, México), o brasileiro

iniciou seus estudos musicais com a mãe, Miriam Correa, e

Ronaldo Rolim vem se firmando como

fez sua primeira apresentação pública aos quatro anos.

um dos músicos mais completos de

Bolsista integral da Fundação Magda Tagliaferro de São Paulo,

sua geração. Laureado em concursos

foi aluno de Zilda Cândida dos Santos e Armando Fava Filho.

no Brasil e exterior, recentemente

Após vencer os concursos Nelson Freire e Magda Tagliaferro,

ganhou o 1º lugar no Bösendorfer

estudou com Flavio Varani na Oakland University, Estados

International Piano Competition e o 2º

Unidos. Foi premiado como Outstanding Student in Piano

lugar no Concurso Internacional de Piano

Performance pela universidade e também pela Detroit Mu

República de San Marino.

Phi Epsilon Music Association. No Peabody Conservatory de Baltimore foi admitido na classe de Benjamin Pasternack e

Ronaldo se apresenta em recitais e

completou Bacharelado e Mestrado em Piano Performance e

concertos no Brasil, Estados Unidos,

o Artist Diploma. No conservatório, recebeu o Pauline Favin

México, Coreia do Sul, Portugal,

Memorial Award in Piano, o 1º Lugar no Harrison Winter

Espanha, Inglaterra, Holanda, Suíça,

Piano Concerto Competition, a Douglas and Hilda Goodwin

Itália e Áustria, em salas como

Scholarship for Chamber Music e o Presser Award. Ronaldo

Carnegie Hall, Steinway Hall, Seoul

vem estudando com alguns dos mais distintos músicos da

Arts Cente, Thêatre de Vevey, Friedberg

atualidade, como Leon Fleisher, Richard Goode, Menahem

Hall, além das mais importantes salas

Pressler, Jeremy Denk e Lilya Zilberstein. Em 2014, foi um dos

brasileiras. É solista convidado de

poucos pianistas selecionados para o programa de Doutorado

diversas orquestras, como a Sinfônica

da Yale School of Music, onde estuda com Boris Berman.

40 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO


ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA, OP. 124 1822 | 11 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15 1798 | 36 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

A

Abertura A Consagração da Casa integrava a música de cena que Beethoven compôs para a peça teatral homônima do escritor Carl Meisl, apresentada nas festividades de

reinauguração do Teatro de Viena, em outubro de 1822. É a última das onze Aberturas de Beethoven, contemporânea de obras severas e de grande fôlego, como a Missa Solemnis, a Nona Sinfonia, as Variações Diabelli e as três derradeiras

SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21 1799/1800 | 23 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

Sonatas para piano. A ocasião festiva exigia, evidentemente, uma música mais leve. Beethoven tomou então como modelo a forma barroca das ouvertures de Haendel, compositor que muito admirava, para compor uma introdução lenta e majestosa (com seus característicos ritmos pontuados, à francesa), seguida de um Allegro (dominado por uma engenhosa fuga dupla). Independente de sua gênese, a Abertura manteve-se no repertório e foi reapresentada em maio de 1824, no concerto de estreia da Nona Sinfonia. Três anos depois, morria o compositor, aos 56 anos. Beethoven fixara-se em Viena aos 22 anos e, inicialmente, foi como pianista que ele se afirmou frente à sociedade vienense. Algumas obras dessa fase apresentam o jovem compositor buscando a admiração do público e de seus patronos. Os dois primeiros concertos para piano se incluem nesse propósito (e logo seriam julgados “ultrapassados” pelo próprio compositor). A publicação, em 1801, inverteulhes a ordem – o Concerto em Dó maior nº 1 foi o segundo concluído, e sua partitura já apresenta inegáveis detalhes beethovenianos. No Allegro con brio inicial, a longa introdução orquestral expõe os dois temas principais, sobre os quais o piano desenha

41 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO


ornamentos em terças ascendentes e

ideais. Uma introdução, Adagio molto,

descendentes. O movimento central,

abre a partitura com inesperado acorde

Largo, é um lied dominado inteiramente

dissonante (sétima da dominante de

pelo solista. O piano se responsabiliza

Fá maior). Esse começo em tonalidade

pela condução melódica, pelos períodos

incorreta foi considerado muito audacioso

de transição e pela ornamentação.

e reprovado pela crítica da época. A

A orquestração valoriza o clarinete

indecisão tonal dos acordes iniciais

solo, pontuando um clima delicado e

persiste por quatro compassos,

intimista. O final, Allegro scherzando,

mascarando a tonalidade principal, até

é um rondó formado pelo refrão e duas

que uma escala descendente das cordas

coplas. Possui surpreendente entusiasmo

conduz ao primeiro tema do Allegro con

rítmico, certa rudeza de ataques e

brio. Apresentado pelos primeiros

contratempos, concluindo a partitura em

violinos no registro grave, esse tema,

clima de humor e alegria.

com seu ritmo enérgico, lembra o começo da Sinfonia Júpiter de Mozart.

Beethoven tocou o Concerto nº 1 no

O segundo tema (Sol maior) tem caráter

Teatro Imperial de Viena, a 2 de abril

melódico e é formado por um diálogo do

de 1800; no mesmo programa, regeu

oboé com a flauta, sobre arpejos das

a estreia de sua primeira sinfonia.

cordas. Há um momento mais reflexivo,

Tinha então trinta anos e, mesmo

quando o fagote desce à tonalidade

reconhecendo sua dívida enorme para

menor, servindo de base para um

com Haydn e Mozart, não se via

contraponto triste desenhado pelo oboé.

apenas como um talentoso imitador.

Mas a alegria do primeiro tema reaparece e empresta seus elementos para as

A Sinfonia nº 1 revela um artista

passagens imitativas que constroem o

inquieto, em busca de seus próprios

desenvolvimento. Uma vigorosa coda

42 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO


de 38 compassos conclui o movimento

nas madeiras e passagens de notas

com insistente afirmação tonal.

rápidas nos violinos.

O Andante cantabile con moto também

O Finale inicia-se de maneira engenhosa:

tem forma sonata, com dois temas

o Adagio de seis compassos apresenta

principais. O primeiro recebe um

uma série de partidas em falso dos

tratamento quase fugato – apresentado

primeiros violinos – trata-se de uma

pelos segundos violinos e imitado

escala de Dó maior, retomada cinco

primeiramente pelas violas e violoncelos,

vezes, a cada vez ganhando um grau –

depois pelos fagotes e contrabaixos. O

até formar a escala completa. Essa dá

segundo tema caracteriza-se pelas notas

acesso ao primeiro tema do Allegro molto,

repetidas e pontuadas, intercaladas com

de contagiante alegria, com suas notas

pausas. Durante todo o movimento é dado

em staccato. O segundo tema, em Sol

um papel de destaque para os tímpanos.

maior, tem um caráter mais dançante. O desenvolvimento fundamenta-se,

O Menuetto: allegro molto e vivace,

sobretudo, em fragmentos do primeiro

certamente o movimento mais

tema. A coda, com um ritmo de marcha,

original da sinfonia, é, de fato, o

destaca as trompas e os clarinetes e

primeiro dos característicos scherzi

conduz a um final luminoso.

sinfônicos beethovenianos. O tempo é bem mais rápido do que o de um minueto tradicional e seu tema possui um formidável impulso ascendente, cujo dinamismo contamina todo o andamento. O Trio central é igualmente original, com belos blocos de acordes

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

43 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO


44


FABIO MECHETTI, regente SONIA RUBINSKY, piano

PROGRAMA

2

11 DE ABRIL A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133 CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 19 Allegro con brio Adagio Rondo: Molto Allegro — INTERVALO —

SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36 Adagio molto – Allegro molto Larghetto Scherzo Allegro molto

45 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL


Elogiada por Arthur Rubinstein e

foi nomeado para o Grammy Awards, e o quinto foi Editor’s

Murray Perahia, Sonia começou sua

Choice da revista Gramophone.

carreira no Brasil, seu país natal. Estudou sete anos em Israel, na

Sua discografia solo inclui obras de Mozart, Scarlatti, Debussy,

Rubin Academy, e posteriormente em

Messiaen, Mendelssohn (Canções sem Palavras, integral). Foi

Nova York, cidade onde, em 1984,

dedicatária de várias obras, entre elas as Cartas Celestes XII

recebeu o 1º Prêmio do concurso Artists

(2000) e a Sonata para Violoncelo e Piano (2004), ambas de

International de New York e o título de

Almeida Prado, sendo a última junto com Antonio Meneses.

Doctor of Musical Arts pela Juilliard School. Atualmente, reside em Paris.

Por três vezes recebeu o Prêmio Carlos Gomes – em 2006 na categoria Pianista do Ano e, em 2009 e 2012, como

Recitalista nas grandes salas de

Instrumentista do Ano.

concerto nova-iorquinas, como Carnegie Hall, Weill Recital Hall,

Nomeada por Murray Perahia como artista residente no

Alice Tully Hall, Merkin Hall e Miller

Edward Aldwell Center, em Jerusalém, ministra regularmente

Theatre, Sonia Rubinsky tem se

masterclasses neste centro. Também atua no Jerusalem

apresentado nos Estados Unidos, Israel,

Music Center, a pedido do maestro Perahia, desenvolvendo

Europa e Brasil. Solicitada como solista

cursos de Análise para Performers.

de orquestra, já se apresentou com a Osesp, Orquestra de St. Luke’s, OSB, Sinfônica de Jerusalém, Filarmônica de Minas Gerais, entre outras. Sonia Rubinsky foi vencedora do Grammy Latino 2009 de Melhor Álbum de Música Clássica com o oitavo volume da integral da obra para piano de Heitor Villa-Lobos, selo Naxos (1994/2007, Estados Unidos, Canadá, França). Mais de dez anos de pesquisa, em estreita colaboração com o Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, fazem dessa integral a mais completa jamais

SONIA RUBINSKY

gravada, incluindo várias peças inéditas

46 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL

FOTO GUY VIVIEN

e a mais premiada – o primeiro volume


A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133 1825 | 16 min Cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 19 1795, revisões 1798 e 1801 | 29 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

F

oi apenas a partir de 1798 – ano de composição da Sonata Patética e em que aparecem os primeiros sinais de sua progressiva surdez – que Beethoven voltou decididamente sua

atenção para os quartetos de cordas. Esse fato não é difícil de explicar: ao chegar pela segunda vez a Viena, para

SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36 1802 | 34 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,

estudar com Haydn, este já havia composto uma série muito importante de obras do gênero e preparava outras três séries de quartetos, lançadas em 1791 e 1793, antes mesmo de Beethoven começar a compor os seis quartetos op. 18. Além disso, havia também o legado de Mozart a enfrentar.

tímpanos, cordas.

É compreensível, portanto, que Beethoven tivesse priorizado outros gêneros. No entanto, trabalhou desde 1790 em exercícios de composição usando aquela formação camerística. O fato de que quase todos esses exercícios lidem com a linguagem contrapontística também não é de se estranhar. Mostra-nos Nicholas Marston que “para o quarteto, como veículo, a importância de uma técnica contrapontística fluente, a capacidade de contrastar e combinar muitas vozes polifônicas, necessita pouca explicação” (Barry Cooper). Daí, talvez, a presença da fuga em diversos movimentos dos quartetos de Beethoven. Para citar apenas alguns exemplos, o movimento final do op. 59 nº 3, o primeiro movimento do op. 131 e, é claro, a Grande Fuga. Para, porém, falar desta obra monumental, é preciso lembrar as investidas criativas que Beethoven já realizara nos quartetos op. 59 (intitulados Razumovsky porque dedicados ao Conde Andrei Razumovsky, diplomata russo residente em Viena e mecenas de Beethoven). Neles, Beethoven exibe um aprofundamento de seu estilo, ampliando as dimensões

47 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL


de cada um dos movimentos e

por outro movimento, por razões não

trabalhando muitas vezes o quarteto de

esclarecidas. O fato é que, mesmo

cordas em uma concepção sinfônica.

sem ela, o quarteto já tem proporções

Pode-se considerar a série dos seis

monumentais. Por isso é improvável

últimos quartetos de Beethoven como

que a razão tenha sido a indiferença do

um dos mais genuínos exemplos da

público diante de sua estreia. Dizem

linguagem de sua última fase. Neles,

as más línguas, porém, que Beethoven

a preocupação com a fuga e com a

cogitou publicá-la separadamente,

variação (no caso da Grande Fuga,

na forma original ou em versão

a presença de ambas as técnicas), o

para piano a quatro mãos, a fim de

contraste de atmosferas e andamentos

angariar uma renda extra. Qualquer

muito distintos em um mesmo

que tenha sido o motivo, a peça foi

movimento e, ainda, a exploração

desvinculada do quarteto (embora

de texturas instrumentais até então

hoje algumas execuções voltem a

inusitadas revelam um Beethoven tão

incluí-la) e transformada em obra

abstrato que essas obras lhe valeram

separada... que se sustenta por si só.

severas críticas: considerava-se que o

A concepção orquestral no trabalho de

grande Beethoven estava perdendo

seus quartetos de cordas, inaugurada

o seu estilo.

com os Razumovsky, aparece, aqui, em grau exponencial. Por isso, é legítima

Nesse grupo, há nitidamente o

a proposta de executá-la com uma

compartilhamento de material temático

formação orquestral completa.

entre as obras: notem-se, por exemplo, as semelhanças entre os temas

Composta em 1825, A Grande Fuga

e motivos do primeiro e último

foi publicada separadamente em

movimentos do op. 131, do primeiro

1827, dois meses após a morte de

movimento do op. 132 e da própria

Beethoven, tanto em versão para

Grande Fuga. Por isso, é de se

quarteto de cordas quanto para

considerar que Beethoven tenha

piano a quatro mãos. Estreada em

concebido toda a série com uma

1826, em Viena, como movimento

unidade subjacente.

final do quarteto op. 130, ela não voltou a ser executada até 1853, em

A Grande Fuga foi composta

Paris. Obra de grande complexidade,

inicialmente como movimento final do

repleta de contrastes e que revela um

quarteto op. 130, segundo da série.

trabalho contrapontístico e temático

Mais tarde, após a primeira execução

de habilidade rara e técnica muito

da obra, o compositor substituiu-a

avançada, talvez mesmo em confronto

48 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL


com a Nona Sinfonia, é o exemplo

O Segundo Concerto para Piano

mais impactante da abstração e da

foi composto entre 1787 e 1789,

transcendência que Beethoven atinge

sete anos, pois, antes do início

em sua última fase.

da composição do primeiro, mas publicado depois deste. Por isso,

Bem diferentes são a Segunda

Beethoven e a posteridade o

Sinfonia e o Segundo concerto para

consideraram o segundo. Ele foi

piano. Ambos revelam nitidamente a

crucial para afirmar Beethoven em

personalidade musical de Beethoven,

Viena como instrumentista e como

mas mostram-no ainda um tanto

compositor: sua estreia se deu em

intimidado pelos padrões clássicos,

29 de março de 1795, no

formal, estrutural, timbrística e

Burgtheater, tendo o autor como

tematicamente. Ambas as obras são

solista. Escrito nos moldes clássicos,

características de sua primeira fase.

bem à maneira dos concertos de

A Sinfonia, entretanto, já mostra

Mozart, a obra, no entanto, já revela

claramente o afastamento de

os contrastes e certos aspectos

Beethoven da ascendência de Haydn.

dramáticos que marcarão o

É tida como uma das últimas obras

Beethoven da fase seguinte.

desse período. Notam-se nela, por

Embora estreado em Viena, apenas

isso, algumas particularidades:

o último movimento (em que revela

Beethoven já substitui, aí, o minueto

forte ascendência de Haydn) foi

clássico pelo scherzo. “Plena de ideias

composto nessa cidade. Os dois

novas, originais e poderosas” é como

primeiros datam de quando Beethoven

a descreve em 1804 um crítico do

ainda residia em Bonn. A cadência

Musikalische Zeitung de Leipzig. Talvez

do primeiro movimento – de grande

por isso mesmo ela tenha sido um

virtuosismo – foi composta bem

choque em sua estreia, antecipando a

depois do concerto propriamente

Heroica, que haveria de vir.

dito: em caráter e estilo, ela já revela um Beethoven de fases posteriores,

A obra foi terminada no verão de 1802,

anunciando aquilo que assombraria

durante a estada de Beethoven em

o mundo.

Heiligenstadt. Em outubro do mesmo ano, ele escreve o patético Testamento, que comprova a consciência trágica da sua ainda incipiente surdez. A Segunda Sinfonia foi estreada em cinco de abril de 1803 no teatro An der Wien.

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

49 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL


50


FABIO MECHETTI, regente NATASHA PAREMSKI, piano

PROGRAMA

3

23 DE MAIO ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115 CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37 Allegro con brio Largo Rondo: Allegro — INTERVALO —

SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55, “EROICA” Allegro con brio Marcia funebre: Adagio assai Scherzo: Allegro vivace Finale: Allegro molto

51 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO


Minnesota e Orquestra NAC em Ottawa. Realizou turnês na Europa com a Filarmônica Real, Sinfônica Bournemouth, Tonkünstler de Viena, Nacional Real Escocesa, orquestras de Bretagne e de Nancy, Filarmônica Real de Liverpool, Tonhalle Orchester em Zurique e Filarmônica de Moscou, com maestros como Peter Oundjian, Andres Orozco-Estrada, Jeffrey Kahane, James Gaffigan, Dmitri Yablonski, Tomas Netopil, JoAnn Falletta, Yuri Botnari, Fabien Gabel, Andrew Litton. Também viajou com Gidon Kremer e a Kremerata Baltica e tocou com a FOTO ANDREA JOYNT

NATASHA PAREMSKI

Sinfônica Nacional de Taiwan. Entre outras salas, fez recitais no Wigmore Hall de Londres, o Auditorium du Louvre, Schloss Elmau, Seattle Meany Hall, Teatro Lensic em Santa Fé, Teatro Colón de Buenos Aires, Musashino Performing Arts Center em

Com performances marcantes e

Tóquio, além dos mais importantes festivais.

dinâmicas, a pianista de 26 anos Natasha Paremski revela um virtuosismo

Seu repertório na nova música é crescente. Por sugestão do

impressionante e habilidades

compositor, interpretou o Concerto para Piano de John Corigliano

interpretativas vorazes. Em temporada

com a Sinfônica do Colorado; tem executado peças de Fred

recente, sua gravação de obras de

Hersch e estreou sonata escrita para ela por Gabriel Kahane.

Tchaikovsky e Rachmaninov com a Royal Philharmonic Orchestra e o maestro

Nascida em Moscou, Natasha mora nos Estados Unidos

Fabien Gabel foi saudada como uma

desde criança. Iniciou seus estudos de piano aos quatro

"performance eletrizante e poderosa"

anos com Nina Malikova na Escola de Música Andreyev,

(The Herald). Seu álbum solo, lançado

em Moscou. Estudou no Conservatório de Música de San

anteriormente, estreou em nono lugar

Francisco e no Mannes College of Music, onde formou-se

na parada Billboard Classical Tradicional.

com Pavlina Dokovska.

Natasha já tocou com muitas das

Estreou aos nove anos com a El Camino Youth Symphony, na

principais orquestras da América do

Califórnia; aos quinze apresentou-se com a Filarmônica de

Norte, incluindo a Sinfônica de Dallas,

Los Angeles e gravou dois discos (Bel Air) com a Filarmônica

a Filarmônica e a Orquestra de Câmara

de Moscou, sob condução de Dmitry Yablonsky e participação

de Los Angeles, as sinfônicas de

de Anton Rubinstein. Aos dezoito anos recebeu o prêmio

San Francisco, San Diego, Toronto,

Gilmore Young Artists, seguindo-se o Montblanc Prix, o

Baltimore, Houston, Nashville, Virginia,

Orpheum Stiftung e Jovem Artista do Ano da Fundação

Oregon e do Colorado, Orquestra de

Classical Recording.

52 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO


ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115 1814/1815 | 12 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37 1799/1803 | 35 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

A

Abertura Zur Namensfeier (Para o Dia do Onomástico) foi composta entre os anos 1814 e 1815. A estreia se deu em Viena, em 1815, provavelmente no concerto de caridade do

dia 25 de dezembro, na Redoutensaal, quando Beethoven apresentou, também, a cantata Meeresstille und glückliche

Fahrt (Mar calmo e viagem feliz) e o oratório Christus am

SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55, “EROICA” 1802/1804 | 45 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 3 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

Oelberge (Cristo no Monte das Oliveiras). A tradição de se comemorar o dia do onomástico era prática corrente nos países de tradição católica, nos séculos XVIII e XIX. Assim, sabemos por uma nota de Beethoven, na partitura original, que a obra era inicialmente destinada a ser executada no dia 4 de outubro daquele ano (1814), dia de São Francisco de Assis, "na noite do onomástico de nosso Imperador”. O Imperador era Francisco I da Áustria, pai da jovem princesa Leopoldina, futura esposa de D. Pedro I e futura Imperatriz do Brasil. Mas a composição não ficara pronta a tempo de servir à comemoração. A Abertura, em Dó maior, após brevíssima introdução marcial e festiva, é construída em fortes contrastes entre a célula rítmica dominante e suaves e curtos motivos melódicos, ligados por grandes crescendos e diminuendos, linhas ascendentes e descendentes. Composto entre 1799 e 1803, o Concerto para piano e orquestra nº 3, em dó menor, foi estreado em Viena, no Theater an der Wien, no dia 5 de abril de 1803, tendo o próprio compositor como solista. Trata-se de uma das poucas peças da primeira fase de Beethoven – os anos de juventude – a gozar de uma aceitação ampla por parte tanto dos músicos como do grande público. Provavelmente não apenas

53 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO


pela beleza evidente de seus temas,

orquestra pontua seus temas aqui e ali.

mas também pelo fato de ser uma peça

Quando a música parece terminar em

chave que serve como referência para a

pianissimo, Beethoven nos surpreende

compreensão do conjunto de sua obra.

com um ataque final. O tema principal

O Concerto para piano nº 3, único

do terceiro movimento (Rondo – Allegro),

escrito em modo menor, deixa para trás

um tema agitado, é logo ouvido ao

o estilo mozartiano até então adotado

piano. Após reapresentações e

por Beethoven, ao mesmo tempo em

desenvolvimentos temáticos, o

que aponta para os novos horizontes

Concerto se encerra com uma das

que seriam ainda conquistados.

codas mais brilhantes de todos os concertos beethovenianos.

O primeiro movimento (Allegro con brio) contém grande força dramática,

A Sinfonia nº 3, "Eroica", é um marco

resultante dos meios expressivos que

fundamental de toda a produção

o compositor utiliza na primeira ideia e

sinfônica do século XIX. Com ela

no contraste entre os temas. Inicia-se

Beethoven altera não apenas o modo

com a exposição do primeiro tema,

como uma obra deveria ser apreendida,

pela orquestra. O segundo tema será

como o público a quem ela se destina.

logo executado pelos clarinetes. O

Se, antes, o gênero sinfônico servia de

piano apresenta o material antes ouvido

entretenimento, dentro de um ambiente

na orquestra. Após intenso diálogo

aristocrático e, de certa forma,

entre solista e orquestra, o piano

controlado, com a Terceira Sinfonia

executa uma cadenza virtuosística e o

Beethoven compõe uma música que se

movimento termina majestosamente.

destina a toda a humanidade. Trata-se da mais longa e mais complexa das

O piano inicia, sozinho, o segundo

sinfonias até então compostas por

movimento (Largo), para o qual

qualquer autor. Ao expandir os limites

Beethoven escolhe com ousadia

do gênero, Beethoven acaba renovando

inusitada a luminosa tonalidade de

a linguagem sinfônica ao ponto de sua

Mi maior. Com extrema delicadeza, a

nova sinfonia exigir um público mais

54 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO


ativo e crítico, o contrário do público

vivace) é um Scherzo rápido e alegre.

habitual da época. Com isso, a música

O Finale (Allegro molto) é um

deixa de ser apenas música e passa a

conjunto de variações sobre dois

ser, também, objeto de reflexão.

temas: o primeiro, uma singela linha melódica exposta pelos contrabaixos,

Composta entre 1802 e início de 1804,

e o segundo, apresentado pelo

a primeira apresentação pública se deu

naipe das cordas, é uma melodia

no dia 7 de abril de 1805, no Theater

de caráter popular.

an der Wien, em Viena, sob a regência do compositor, no concerto beneficente

Quando Beethoven recebeu a notícia

organizado pelo violinista Franz Clement.

de que Napoleão havia coroado a si

A obra já havia sido apresentada

próprio imperador, rasgou o

numerosas vezes em concertos

frontispício da Sinfonia, que continha

privados, especialmente naqueles

os dizeres “Intitulata Bonaparte”.

organizados pelo Príncipe Franz Joseph

O subtítulo – Heroica – que hoje

von Lobkowitz em seu palácio.

conhecemos foi cunhado em 1806, quando, na primeira edição, a

O primeiro movimento (Allegro con

referência direta a Napoleão foi omitida

brio) é grandioso em suas dimensões

e a Sinfonia ganhou então o seguinte

e no material musical que porta. Nele,

epíteto: “Sinfonia eroica composta

as ideias temáticas são germinadas

per festeggiare il sovvenire di un

uma a partir da outra, ao invés de se

grand’uomo”. Os ideais revolucionários

encadearem por contraste ou

que tinham estado por trás de sua

oposição. O segundo movimento

composição continuavam acesos.

(Marcia funebre – adagio assai) é dividido em duas seções. A primeira é a marcha fúnebre propriamente dita, enquanto a segunda, com seu caráter

GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de

fugato, é nobre e de uma intensidade

Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos

ímpar. O terceiro movimento (Allegro

floridos não voam e Música menor.

55 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO


56


ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidado CRISTINA ORTIZ, piano

PROGRAMA

4

20 DE JUNHO AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58 Allegro moderato Andante con moto Rondo: Vivace — INTERVALO —

SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60 Adagio – Allegro vivace Adagio Menuetto: Allegro vivace – Trio: Un poco meno allegro Allegro ma non troppo

57 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO


de São Bernardo do Campo, regente titular da Sinfônica de Minas Gerais e da Ossodre, de Montevidéu, Uruguai. No Rio de Janeiro, onde realizou várias primeiras audições, foi eleito pela crítica Músico do Ano de 1995. Na Orquestra Petrobras Pró Música (hoje Petrobras Sinfônica) teve elogiadas FOTO DIVULGAÇÃO

ROBERTO TIBIRIÇÁ

iniciativas para divulgação e estímulo à música brasileira, como concertos com repertório de compositores nacionais contemporâneos e concursos para jovens solistas, jovens regentes e jovens compositores. Com a orquestra, Tibiriçá

Nascido em São Paulo, Roberto Tibiriçá

gravou dois CDs de obras brasileiras, sendo um deles – com

recebeu orientações de Guiomar

peças de Villa-Lobos e Hekel Tavares e Arnaldo Cohen ao

Novaes, Magda Tagliaferro, Dinorah de

piano – considerado um dos melhores de 2003. Dirigida por

Carvalho, Nelson Freire, Gilberto Tinetti

Tibiriçá, a orquestra recebeu duas vezes o Prêmio Carlos

e Peter Feuchwanger. Foi discípulo do

Gomes de Melhor Conjunto Orquestral.

maestro Eleazar de Carvalho. A convite da própria artista, participou do Festival Martha Duas vezes vencedor do concurso

Argerich, em Buenos Aires, no Teatro Colón, regendo Martha e,

Jovens Regentes da Orquestra Sinfônica

em outra ocasião, a Filarmônica de Buenos Aires com o pianista

do Estado de São Paulo, foi maestro

Nelson Freire. Há alguns anos é convidado para o Festival

convidado da orquestra por dezoito anos.

Villa-Lobos, na Venezuela, regendo concertos com a Orquestra

Foi regente assistente no Teatro Nacional

Simón Bolívar. Entre muitos outros artistas, trabalhou também

de São Carlos, em Lisboa, Portugal, e

com Barry Douglas, Lilyan Zilberstein, Sergio Tiempo, Joshua

em 1994 tornou-se diretor artístico da

Bell, Shlomo Mintz, Stefan Jackiw, Erik Schumann, Frederieke

Orquestra Sinfônica Brasileira. Também

Saeijs, David Aaron Carpenter, Gabriela Montero, Antonio

foi diretor artístico e regente titular da

Meneses, Mikhail Rudy, Jean-Louis Steuerman, Boris Belkin,

Orquestra Petrobras Pró Música e diretor

Dmitry Sitkovetsky, Mariana Ortiz, Geza Hosszu-Legocky.

artístico da Sinfônica Heliópolis/Instituto Baccarelli, cujo patrono é o maestro

Desde 2003 Tibiriçá ocupa a Cadeira nº 5 da Academia

Zubin Mehta. Ocupou ainda os cargos

Brasileira de Música. Conquistou o Prêmio Carlos Gomes

de regente titular e diretor artístico da

duas vezes como Melhor Regente Sinfônico e o Prêmio da

Sinfônica de Campinas e da Filarmônica

Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

58 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO


a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Filarmônica de Hong Kong, a Sinfónica del Principado de Asturias e com a Staatstheater Kassel. Destaques em próximas temporadas incluem estreias com as orquestras filarmônicas do Catar e Nacional da Hungria, a Haydn Orchestra Bolzano and Trento, a Orquestra Presidencial New West Symphony, bem como

FOTO SUSSIE AHLBURG

recitais no Southbank Centre – na Série Internacional de Piano – e também por todo o Reino Unido e França.

CRISTINA ORTIZ

Cristina Ortiz gravou cerca de trinta álbuns com uma ampla gama de repertório pelos selos EMI Classics, Decca, Collins Classics, Intrada, Naxos e BIS. Sua mais recente gravação

A musicalidade natural de Cristina Ortiz,

para o selo Naxos, em parceria com o Fine Arts Quartet, é de

sua arte magistral e seu compromisso

música de câmara de Saint-Saëns, sobre a qual The Observer

com uma performance sempre refinada

publicou: "Cristina Ortiz foi extraordinária na execução da

garantiram-lhe um lugar entre os

composição para piano do Quinteto em lá menor e no feroz

pianistas mais respeitados do mundo.

segundo movimento do Quarteto em si bemol maior". Seu

Ao longo de sua extensa carreira, ela

álbum anterior, de música de câmara por Franck, foi nomeado

se apresentou com as filarmônicas

Escolha do Editor da revista Gramophone. Sua gravação da

de Berlim e Viena, com a Sinfônica

música de câmara de Fauré foi descrita pela mesma revista

de Chicago e com as orquestras

como "simplesmente a melhor: uma versão sem rival, o ponto

Filarmônica e Real do Concertgebouw,

forte do catálogo". Pela Naxos, Ortiz lançou a gravação de

entre muitas outras. Ortiz colaborou

peças solo para piano compostas por York Bowen.

também com maestros como Neeme Järvi, Mariss Jansons, Kurt Masur,

Cristina Ortiz é também uma professora dedicada e

André Previn e David Zinman.

comprometida, dando aulas por todo o mundo.

De posse de uma técnica notável e

Ela começou seus estudos em sua terra natal, Brasil, antes

um agudo senso de aventura musical,

de se mudar para Paris com uma bolsa de estudos, onde

particularmente evidente em seu amplo

trabalhou com Magda Tagliaferro. Depois de ganhar uma

repertório, Ortiz é uma artista popular

medalha de ouro na terceira competição Van Cliburn, no Texas,

entre produtores e público de todo o

dedicou-se a completar um período de aulas sob a orientação

mundo. Trabalhou recentemente com

do lendário Rudolf Serkin no Curtis Institute of Music, na

a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar,

Filadélfia, antes de escolher fixar residência em Londres.

59 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO


AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA 1801 | 5 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58 1805/1806 | 34 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

B

eethoven escreveu a música para o balé As Criaturas de Prometeu, de Salvatore Viganò, entre a composição de suas duas primeiras sinfonias. A música de cena, por princípio,

deveria ser mais fácil do que a destinada às salas de concerto, e o Prometeu mostra Beethoven explorando efeitos orquestrais que jamais apareceriam em suas sinfonias.

SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60 1806 | 33 min

Porém, mais tarde, ele usaria material do balé nas Variações para piano op. 35 e no Finale da Sinfonia Eroica. A Abertura op. 43 é construída com um exuberante Allegro, precedido de pequena introdução.

Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

No percurso entre o balé Prometeu e o Concerto para piano nº 4, Beethoven deixará de ser um jovem compositor talentoso para se impor como grande mestre inovador. O Concerto op. 58, em Sol maior, abre um novo capítulo na história desse gênero. O Allegro moderato é notável por começar somente com o piano, a descoberto. Sua serena frase inicial determina o caráter expressivo de todo o movimento. Inúmeras ideias secundárias aparecem; as modulações levam a distantes regiões harmônicas; a estrutura sincopada dos dois temas é explorada à exaustão – mas a arte de Beethoven sempre encontra o melhor caminho; e o primeiro movimento, apesar da variedade de seus elementos, permanece essencialmente lírico. No segundo movimento, Andante con moto, em mi menor, Beethoven estabelece um impressionante diálogo entre as cordas e o piano. Inicialmente, a orquestra domina, impondo um discurso áspero e resoluto; o solista responde tímido e submisso. Gradualmente, entretanto, as frases delicadas do

60 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO


piano reduzem a agressividade das

a nota tônica Si bemol, enquanto

cordas. No final, a voz da orquestra se

as cordas desenvolvem figurações

resume a uma lembrança em pianissimo

tateantes, como que inseguras da

e o solista tem a última palavra.

tonalidade. Os primeiros violinos prosseguem em pizzicato e toda a

Sem interrupção, passa-se ao terceiro

passagem produz um efeito curioso,

movimento, Rondo vivace, que

entrecortado, ofegante, até chegar

começa em Dó maior. A orquestra, a

ao tutti com um acorde de sétima

princípio cautelosa, apresenta o tema.

da dominante. Só então a orquestra

O piano logo o adota, demonstrando

liberta o Allegro vivace, cujos principais

que todas as oposições anteriores

motivos são constituídos de fragmentos

foram suplantadas. Piano e orquestra

retirados da própria introdução. O

formam um todo cheio de contrastes

primeiro tema é uma melodia saltitante

e o virtuosismo do solista se insere no

exposta no staccato dos primeiros

contexto sinfônico. O movimento lembra

violinos. O segundo tema é apresentado

às vezes uma marcha, característica

pela flauta, oboé e fagote com um

que se acentua pelo uso dos trompetes

desenho de terças descendentes que

e dos tímpanos.

logo se reafirma em delicioso diálogo canônico entre o clarinete e o fagote.

No mesmo ano do Concerto op. 58,

Antes da reexposição do tema principal,

Beethoven compôs a Sinfonia nº 4, que

há uma notável passagem de transição

tem um clima otimista, completamente

– inacreditáveis e longínquos rufos

diverso do espírito dramático da Eroica

dos tímpanos mantêm, durante vários

e da Quinta. Ela reflete sentimentos

compassos, um longo trêmulo, sempre

intimistas, com um aparato discreto.

em pianíssimo.

Entretanto, suas inovações e maestria desmentem qualquer afirmativa de ser

O belíssimo segundo movimento, Adagio,

uma sinfonia menor.

possui o caráter de um longo lied, com melodias amplas e flexíveis.

A longa introdução, Adagio, começa

A figura rítmica apresentada no

com flauta, clarinetes, fagotes e

primeiro compasso pelos segundos

trompas sustentando, em oitavas,

violinos servirá de fundo para todo o

61 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO


movimento. Reaparecerá em diversos

O quarto movimento, Allegro ma non

instrumentos, tratada em ostinato

troppo, mostra um bom humor irresistível

por todas as estantes. Sobre ela, o

desde o torvelinho sinuoso do arabesco

primeiro tema é exposto em cantabile

inicial. O primeiro tema, enunciado pelos

pelos primeiros violinos. O segundo

violinos, é retomado pelas madeiras. O

tema será apresentado pelo clarinete.

oboé apresenta em Fá maior o segundo

A coda recorda o tema principal na

tema, dolce, bastante haydniano. Mas

suavidade das madeiras. Após um

todos os engenhosos pormenores do

fortíssimo orquestral sucede um

desenvolvimento são puro Beethoven.

repentino silêncio... E os tímpanos em

Na coda, o tema inicial é retomado

pianíssimo fazem ouvir, pela última vez,

pelos primeiros violinos, em seguida

a mesma figuração inicial das violas.

entregue ao fagote, depois aos segundos

Um crescendo conduz ao tutti de dois

violinos e às violas. Essas mudanças

acordes conclusivos.

instrumentais da linha melódica são retidas por fermatas que seguram sua

O Allegro vivace é um duplo scherzo (A)

marcha, tornando-a cada vez mais

em que o Trio (B) também se repete,

lenta. Subitamente, o tema retoma

seguindo a forma A, B, A, B, A.

sua vivacidade habitual e as vigorosas

O tema do scherzo constrói-se

cadências em tutti fecham a sinfonia.

sobre acordes quebrados e cria uma interessante ambiguidade rítmica, pois o habitual compasso ternário é aqui frequentemente deslocado por um acento binário. O tema do trio, Un poco meno allegro, evoca uma dança campestre.

62 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.


63 FOTO EUGÊNIO SÁVIO



FABIO MECHETTI, regente JEAN-LOUIS STEUERMAN, piano

PROGRAMA

5

15 DE AGOSTO ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138 CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 73, “IMPERADOR” Allegro Adagio un poco mosso Rondo: Allegro — INTERVALO —

SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 67 Allegro con brio Andante con moto Allegro Allegro 65 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO


Jean-Louis Steuerman ganhou

Sinfônica do Estado de São Paulo, Petrobras Sinfônica,

grande reconhecimento como solista

Sinfônica Brasileira, Dallas Symphony, Seattle Symphony,

e recitalista internacional depois de

Baltimore Symphony e Indianapolis Symphony Orchestra.

conquistar, em 1972, o segundo lugar no Concurso Johann Sebastian Bach,

Jean-Louis Steuerman fez grandes turnês na Europa,

em Leipzig.

América do Norte e Japão, apresentando-se nas principais séries de recitais. Como camerista, tem tocado com alguns

Steuerman se apresentou como

dos mais renomados músicos internacionais.

solista com a London Symphony, sob regência de Claudio Abbado, com a

Suas gravações para a Philips Classics incluem a obra para

Royal Philharmonic sob a batuta de

piano solo de Scriabin, a obra completa de Mendelssohn

Lord Menuhin e Vladimir Ashkenazy.

para piano com a Moscow Chamber Orchestra, os concertos

Com este último, tocou o Concerto

para piano de Bach com a Chamber Orchestra of Europe e as

de Britten no Festival de Atenas.

Seis Partitas de Bach, gravação que lhe rendeu o prestigioso

Jean-Louis debutou nos Concertos

Diapason d'Or.

Promenade BBC em 1985 com grande sucesso de crítica tocando o Concerto em ré menor de Bach com a Polish Chamber Orchestra. Apresentou-se também com a English Chamber, Hallé, Royal Liverpool Philharmonic, City of Birmingham Symphony Orchestra e a Bournemouth Sinfonietta. Jean-Louis tem se apresentado junto à Orquestra Gewandhaus de Leipzig com Kurt Masur, Basel Symphony com Heinz Holliger, Helsinki Philharmonic (Tippett Piano Concerto), Zurich Tonhalle, Berlin Symphony, Nouvel

JEAN-LOUIS STEUERMAN

Orchestre Philharmonique, a Orchestra

66 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO

FOTO SHEILA ROCK

Sinfonica di Milano, Orquestra


ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138 1804/1805 | 9 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 73, “IMPERADOR” 1809 | 38 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

A

Abertura Leonora nº 1 é uma das quatro aberturas independentes que Beethoven compôs para Fidélio, sua única ópera. Concluída em setembro de 1805, a ópera, em sua primeira versão, foi

estreada com a abertura hoje conhecida como Leonora nº 2. Em dezembro do mesmo ano Beethoven revisou Fidélio e compôs uma nova abertura, hoje conhecida como Leonora nº 3. A abertura conhecida como Leonora nº 1 foi composta no outono

SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 67 1804/1808 | 31 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

de 1807, provavelmente para uma apresentação da ópera em Praga, que acabou não acontecendo. A quarta e última abertura, hoje conhecida como Fidélio, só ficaria pronta em 1814. Leonora nº 1 ficou esquecida desde então e veio à luz apenas no leilão dos bens de Beethoven, após sua morte. Por não possuir muita relação com o material temático da ópera, ela se encaixa bem na concepção beethoveniana de que a Abertura deveria preparar o público para o acontecimento, ao invés de impedir a surpresa da trama. Sua estreia se deu em 7 de fevereiro de 1828, onze meses após a morte do compositor. O Concerto para piano e orquestra nº 5 em Mi bemol maior foi composto nos anos 1808/1811. Teve sua estreia no dia 28 de novembro de 1811 pela orquestra da Gewandhaus de Leipzig, sob a regência de Johann Philipp Christian Schulz. O pianista Friedrich Schneider foi o solista, uma vez que a surdez do compositor encontrava-se já bem avançada. Beethoven, que nunca nutriu simpatia por imperadores, jamais atribuiu ao seu Concerto o subtítulo “Imperador”. O primeiro a utilizá-lo foi, provavelmente, seu editor em Londres, o pianista de origem alemã Johann Baptist Cramer. No Quinto Concerto o piano é frequentemente mais um colaborador, com grandes passagens de caráter improvisatório,

67 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO


do que propriamente solista, apesar

Beethoven trabalhou assiduamente na

da escrita altamente virtuosística. No

obra apenas em 1807 e terminou a

início do primeiro movimento (Allegro),

composição no início de 1808. Foi

o piano interrompe a orquestra, por

executada, pela primeira vez, no dia

três vezes, para executar uma breve

22 de dezembro de 1808, no Theater

cadência. Apesar da grandiosidade

an der Wien, por um grupo de

desse primeiro movimento, as

músicos recrutados para a ocasião,

passagens do piano são muitas vezes

sob a regência do próprio Beethoven.

extremamente leves. No segundo

Nesse célebre concerto em que foram

movimento (Adagio un poco mosso),

estreadas várias obras importantes e

de um lirismo ímpar, piano e orquestra

longas, Beethoven ainda sentou-se ao

travam um dos mais belos diálogos da

piano para uma série de improvisações.

história da música, naquele que Berlioz dizia ser o maior modelo de integração

O primeiro movimento da Quinta

entre piano e orquestra. Sem intervalo

Sinfonia, Allegro con brio, extremamente

algum, entramos no terceiro movimento

vigoroso, inicia-se com uma breve

(Allegro), um rondó, com caráter ao

introdução, em que ouvimos, pela

mesmo tempo incisivo e gracioso, onde

primeira vez, o tão famoso motivo de

a sonoridade do piano oferece algumas

quatro notas. O primeiro tema, nas

antecipações surpreendentes de

cordas, é elaborado a partir desse

Chopin. Por toda a obra destaca-se o

motivo, que será ouvido por toda a

contraste entre o heroísmo da orquestra

sinfonia (no primeiro movimento ele é

e a delicadeza do piano.

repetido mais de duzentas vezes). O segundo tema, expresso pelos primeiros

Embora os muitos esboços da Quinta

violinos e repetido no clarinete e na

Sinfonia datem já do início de 1804,

flauta, tem caráter doce e resignado.

68 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO


Viena em gravura de Franz Karl Zoller (cerca de 1795).

Beethoven confere ao primeiro movimento,

(Scherzo) é reapresentada, os temas

mas também à Sinfonia como um todo,

são executados delicadamente nas

uma extraordinária unidade.

cordas em pizzicato, com algumas intervenções das madeiras. Uma

O segundo movimento (Andante con

transição nos conduz, sem interrupção,

moto), escrito em forma de variação

ao movimento seguinte.

dupla, ou seja, dois temas variados alternadamente, apresenta seu primeiro

Para o Finale grandioso (Allegro)

tema, lírico, nas violas e violoncelos.

Beethoven acrescentou um flautim,

O segundo tema, marcial, é apresentado

um contrafagote e três trombones à

em seguida pelos clarinetes, fagotes,

orquestra. O primeiro tema, majestoso,

primeiros e segundos violinos.

abre o movimento, executado por toda a orquestra. O segundo, lírico, porém

O terceiro movimento (Allegro) é um

ainda vigoroso, é apresentado pelas cordas

scherzo. A primeira seção (Scherzo)

e madeiras. Após o desenvolvimento

inicia-se com o primeiro tema, em

de trechos já apresentados ressurge,

pianissimo, nos violoncelos e

inesperadamente, o segundo tema do

contrabaixos. O segundo, enérgico,

Scherzo, delicadamente executado

apresentado primeiramente nas

pelas madeiras e cordas em pizzicato.

trompas, em fortissimo, é derivado do

Beethoven encerra a Quinta Sinfonia com

motivo de quatro notas que inicia a

uma coda grandiosa.

sinfonia. A seção central (Trio) possui apenas um tema, inicialmente apresentado nos violoncelos e contrabaixos e imitado por toda a orquestra. Quando a primeira seção

GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

69 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO


70


FABIO MECHETTI, regente TEO GHEORGHIU, piano

PROGRAMA

6

26 DE SETEMBRO ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a Allegro ma non troppo Larghetto Rondo — INTERVALO —

SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL” Allegro ma non troppo Andante molto mosso Allegro

Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande  O DESPERTAR DOS SENTIMENTOS ALEGRES COM A CHEGADA AO CAMPO Szene am Bach  CENA À BEIRA DO RIACHO Lustiges Zusammensein der Landleute  A ALEGRE REUNIÃO DOS CAMPONESES

Allegro

Gewitter, Sturm  TEMPESTADE

Allegretto

Hirtengesang – Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm  CANTO DOS PASTORES – SENTIMENTOS DE ALEGRIA E GRATIDÃO DEPOIS DA TEMPESTADE

71 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO


FOTO ROSHAN ADHIHETTY

Moscou (com Vladimir Fedoseyev) e com a Sinfônica de Evergreen (Gernot Schmalfuss). Também gravou o álbum Piano Quintet Dvorák com o Carmina Quartet (Sony). O pianista já se apresentou com as sinfônicas de Tóquio e de Pittsburgh, com a Luzerner Sinfonieorchester, com a Orchestra della Svizzera Italiana, Sinfonieorchester Basel, Berner Sinfonieorchester, Philharmonie der Nationen, State Hermitage Orchestra, Brandenburgisches Staatsorchester Frankfurt, orquestras de câmara de Zurique e de Genebra

TEO GHEORGHIU

e orquestras Nacional Dinamarquesa e de Câmara Inglesa. Esteve no Wigmore Hall de Londres e Barbican, no Verbier e nos festivais Mecklenburg-Vorpommern e Ohrid.

Destinatário do prêmio Beethoven-Ring

Desde sua estreia no Tonhalle Zürich, tem participado de

do Beethovenfest de Bonn em 2010,

concertos de Mozart, Beethoven, Chopin, Rachmaninoff e Bach,

Teo Gheorghiu inclui em seus planos

trabalhando com maestros como James Gaffigan, Howard

futuros performances das obras de

Griffiths, Arild Remmereit, Justus Frantz, Christopher Warren-

Rachmaninov com Musikkollegium

Green, Carolyn Kuan, Mario Venzago e Muhai Tang. Em recitais

Winterthur no Tonhalle, em Zurique,

esteve em Milão, Istambul, Bad Kissingen, Berna, Basileia e

e de Beethoven com a Royal

Santiago. Seu primeiro CD pelo selo Deutsche Grammophon

Philharmonic Orchestra no Royal

tem concertos de Schumann e Beethoven, em parceria com o

Albert Hall de Londres, bem como

Musikkollegium Winterthur e condução de Douglas Boyd.

com a Orquesta Sinfónica de Bilbao e a Orquesta Sinfónica del Principado

Nascido em Zurique em 1992, Teo Gheorghiu foi pupilo de

de Asturias. Inclui também música de

William Fong na Escola Purcell de Londres. Passou a estudar

câmara no Meisterzyklus Bern, recitais

no Instituto Curtis, na Filadélfia, com Gary Graffman, e

na América do Sul e em Taiwan e o

atualmente estuda na Royal Academy of Music, em Londres.

lançamento de seu segundo disco pela

Em 2004, foi primeiro lugar no Concurso de Piano San Marino

Sony (Liszt e Schubert).

International e, no ano seguinte, primeiro prêmio no Concurso Internacional de Piano Franz Liszt, em Weimar, Alemanha.

Na última temporada, Teo se apresentou no Festival de Lucerna e teve estreias

Teo Gheorghiu também é um ator talentoso. Em 2006,

no Louvre e no Festival Dvorák, em

contracenou com Bruno Ganz no papel-título de Vitus,

Praga. Apresentou-se com a Orquestra

premiado filme de Fredi Murer que conta a história de um

Sinfônica Tchaikovsky da Rádio de

jovem prodígio do piano.

72 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO


ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a 1804/1805 | 13 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a 1806 para violino 1807 transcrição para piano | 42 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL” 1808 | 39 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tímpanos, cordas.

F

oi por causa da recepção apática do público na estreia de seu concerto para violino, que, a pedido de Muzio Clementi, Beethoven fez, dele, uma versão para piano e orquestra, publicada no

mesmo ano que a versão para violino (1808) como Concerto para piano nº 6, opus 61a. Por isso, não se pode falar dessa

versão sem primeiro falar-se sobre a concepção original da obra. O Concerto op. 61, para violino e orquestra, data de uma fase em que, por um lado, são geradas obras decisivas da linguagem beethoveniana (as sinfonias de três a oito, a Appassionata, os dois últimos concertos para piano) e, por outro, Beethoven sofre crises pessoais e o avanço inexorável da surdez. A gênese desse concerto não foi menos trabalhosa que o mais de toda a sua obra: ainda em Bonn, Beethoven já se aventurara em tentativas de compor um concerto para violino, mas não é senão em 1806 que ele conclui e estreia o concerto em ré maior, que vem a ser impresso definitivamente em 1808. Não tendo causado escândalo nem entusiasmo, mas havendo provocado algumas recriminações em relação ao tamanho do primeiro movimento, a obra teve poucas execuções nas décadas seguintes e só foi ressuscitada efetivamente em 1844, quando o então jovem violinista Joseph Joachim o interpreta sob a batuta de Mendelssohn. No entanto, a despeito do frio acolhimento inicial, a obra encerra, entre outros aspectos, algumas ousadias experimentais que revelam algo da originalidade inventiva de Beethoven e de sua vinculação ideológica à mentalidade romântica: uma postura de liberdade, que não nega a sua herança clássica, mas que faz dela fermento para a livre expressão individual. Exemplo disso é o início inusitado do

73 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO


primeiro movimento, aberto com a

público se mostra mais uma vez

intervenção nua de cinco batidas de

apático, certamente por não reconhecer

tímpano. Hoje peça importante da

o gênero de prazer a que estava

literatura violinística, o Concerto op. 61

habituado. Essa reação do público

pode não estar entre as obras mais

demonstra claramente a adoção de

emblemáticas do monumento

uma nova postura estética em

beethoveniano, mas é expressão genuína

Beethoven, que o desvincula do

de sua inventividade e de sua linguagem.

continuísmo clássico e cria laços estreitos com a ideologia romântica,

A versão para piano tem um aspecto

especialmente no que concerne ao

interessante. Beethoven compôs, para

direito quase revolucionário de uma

ela, novas cadências. A do primeiro

expressão individual: a expressão de

movimento, maior em tamanho e de

um gênio criador, consciente de sua

aspecto bastante virtuosístico, faz o

missão diante de um status quo que

piano solista dialogar com os tímpanos

precisa ser modificado.

da orquestra. Mais tarde, essa cadência retornou ao violino, em transcrições de

A Sexta Sinfonia, op. 68, foi composta

importantes instrumentistas como Max

entre os anos de 1806 e 1808, mas já

Rostal e Eugène Ysaÿe. Não se sabe

se encontram esboços dessa obra em

ao certo quando a versão para piano

blocos de notas que datam de 1802.

foi executada pela primeira vez, mas,

O próprio título da sinfonia deu a

segundo Hans-Werner Küthen, que faz

Beethoven certo trabalho: pensou chamá-

o prefácio da edição de 2005, pela

la inicialmente “Sinfonia Característica,

editora Henle, ela não foi executada

ou Lembranças da Vida Campestre”.

durante a vida de Beethoven.

Imaginou depois chamá-la “Sinfonia Pastorella”, mas optou finalmente pelo

É dessa mesma época a Sinfonia

nome que conhecemos hoje: Sinfonia

Pastoral. Em 1808 Beethoven oferece

Pastoral. Experiência única em

ao público vienense um concerto

Beethoven, o conceito dessa sinfonia

extraordinário, em que, além de várias

funda-se no movimento de se tentar

outras estreias importantes, apresenta

utilizar a música dita pura para expressar

suas Quinta e Sexta sinfonias. O

realidades e conteúdos extramusicais.

74 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO


Não se deve, porém, associar esse

angustiosa que sempre perpassa o

conceito ao de música programática. A

processo criador de Beethoven. Sintoma

rigor, não há um texto ou um programa

desse duro processo da gênese de Fidélio

literário que explicite o desenrolar

é o fato de Beethoven ter composto

musical. A música da Pastoral não narra

não apenas uma, mas quatro aberturas

qualquer história. O próprio Beethoven

para a ópera. Composta em primeiro

afirma que “a descrição é inútil” e faz

lugar, Leonora nº 1 não foi executada na

estampar à testa da partitura a indicação

estreia e, sim, Leonora nº 2, que foge

de que a música, aí, era “mais expressão

grandemente ao modelo tradicional das

de sentimentos do que pintura”. Tal

aberturas de ópera até então utilizado e

afirmação vincula Beethoven declarada e

que, por isso mesmo, não foi bem recebida

conscientemente à ideologia romântica,

pelo público. Fidélio, ou Leonora nº 4,

e faz reconhecer que a arte musical

composta para as récitas de 1814, é

só pode referir-se ao mundo enquanto

mantida como a abertura oficial da ópera.

existência sonora. As impressões

Das diversas tentativas de reintegrar à

campestres são, na Pastoral, impressões

ópera essas quatro obras sinfônicas, não

do próprio compositor, que as transfigura

deixa de ser curiosa a de Gustav Mahler

e elabora em realidades musicais. Não

que, quando diretor artístico da Ópera de

há, na Pastoral, descrição. Há, isso sim,

Viena, utilizou-as todas, em uma única

evocações pessoais processadas e

récita de Fidélio. No entanto, também

elaboradas conscientemente e finalmente

introduzida por Mahler, a prática mais

sublimadas em linguagem musical.

comum, pelo menos até a metade do século XX, era inserir Leonora nº 3 entre as

Beethoven nunca se dedicou com afinco

duas cenas do segundo ato. Estreada no

ao gênero lírico. A submissão das ideias

mesmo ano de sua composição, Leonora

musicais a um libretto seria insustentável

nº 2 é um grande testemunho da liberdade,

para um gênio criador tão vigoroso quanto

audácia e inventividade beethovenianas.

o seu. Estreada em 1805, a ópera Fidélio passou, após suas primeiras récitas, por várias revisões e alterações até que chegasse à versão definitiva, tal como a conhecemos. Isso revela a laboriosidade

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

75 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO


FOTO ALEXANDRE REZENDE


FABIO MECHETTI, regente ROMMEL FERNANDES, violino ARA HARUTYUNYAN, violino

PROGRAMA

7

24 DE OUTUBRO ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b Ara Harutyunyan Rommel Fernandes

ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40 ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50 — INTERVALO —

SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92 Poco sostenuto – Vivace Allegretto Presto, assai meno presto Allegro con brio

77 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO


Boyce (Floruit Egregiis, para violino e cello) e Silvio Ferraz (Partita II, para violino solo), além de estreias brasileiras de obras de Pierre Boulez (Anthèmes I, para violino solo) e Mario Mary (Aarhus, para violino e eletrônica), entre outros.

FOTO EUGÊNIO SÁVIO

Mestre e doutor em Música com Honors pela Northwestern

ROMMEL FERNANDES

University, Estados Unidos, na classe de Gerardo Ribeiro, Rommel frequentou também o Lucerne Festival Academy, Suíça, e o Tanglewood Music Center (TMC), onde estudou música de câmara com membros dos quartetos de cordas

Rommel Fernandes é spalla associado

American, Cleveland, Concord, Juilliard e Muir. Foi spalla da

da Orquestra Filarmônica de Minas

Orquestra do TMC sob regência de Bernard Haitink e James

Gerais e mantém intensa atividade

Levine. Ainda nos EUA, foi músico convidado das sinfônicas

como recitalista e músico de câmara.

de Boston (em Tanglewood) e Chicago (na série MusicNOW

Foi solista frente a diversas orquestras,

de música contemporânea), apresentou-se em transmissões

incluindo a Filarmônica de Minas Gerais,

ao vivo pela rádio WFMT, colaborou com o grupo Fifth House

a Osesp (como vencedor do concurso

Ensemble e fez parte do corpo docente da North Park

Jovens Solistas), Orquestra Unisinos,

University. Como membro da Chicago Civic Orchestra, trabalhou

Orquestra de Câmara da Unesp, Advent

com Charles Dutoit, Christoph Eschenbach, Daniel Barenboim,

Chamber Orchestra (ao lado de Jacques

Gidon Kremer, Lorin Maazel, Pierre Boulez e Pinchas Zukerman.

Israelievitch, ex-spalla da Sinfônica de Toronto) e Northwestern University

Natural de Maria da Fé, MG, Rommel iniciou seus estudos

Chamber Orchestra. Elogiado pela

musicais no Conservatório Estadual de Pouso Alegre e obteve

crítica por sua "execução soberba e

o Bacharelado em Violino pelo Instituto de Artes da Unesp,

musicalidade aristocrática", bem como

como aluno de Ayrton Pinto. Em São Paulo foi membro da

por sua "releitura vibrante, modernista,

Orquestra Experimental de Repertório e spalla da Orquestra

porém elegante" do repertório tradicional,

de Câmara da Unesp. Recebeu também orientação dos

destaca-se ainda como intérprete de

violinistas Alberto Jaffé, Almita Vamos, Andrés Cárdenes,

música contemporânea, atuando com os

Jerrold Rubenstein, Joseph Silverstein, Kurt Sassmanshaus,

grupos Oficina Música Viva e Sonante

Leon Spierer, Leonard Felberg, Malcolm Lowe, Marcello

21. Em anos recentes, realizou primeiras

Guerchfeld, Pamela Frank, Ruggiero Ricci, Sidney Harth e

audições mundiais de obras de Douglas

Viktor Danchenko.

78 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO


FOTO EUGÊNIO SÁVIO

ARA HARUTYUNYAN

Ara Harutyunyan nasceu em uma

Harutyunyan obteve Bacharelado e Mestrado no

família de músicos em Yerevan, na

Conservatório Estadual Yerevan Komitas. Estudou durante

Armênia, onde começou a estudar

um ano na Suíça, na Universidade de Artes de Zurique,

violino aos oito anos. Ao longo de sua

com o professor Rudolf Koelman. Foi membro do Quarteto

carreira venceu várias competições

de Cordas Yerevan e violinista da Orquestra Filarmônica

nacionais e internacionais, participou

da Armênia.

de muitos festivais e masterclasses e apresentou-se como solista e

Em 2011, transferiu-se para os Estados Unidos. Foi aluno

músico de câmara na Armênia,

de John Fadial na Universidade de Wyoming, onde recebeu

Rússia, Geórgia, Quirguistão, Suíça,

seu certificado de Performance em Violino em 2013.

Líbano, Síria e Estados Unidos.

Como solista, músico de câmara e spalla da orquestra

Recentemente venceu o Jacoby

da Universidade, realizou muitos concertos nos Estados

Soloist Competition da Universidade

Unidos; lecionou violino como membro do String Project da

de Wyoming e foi nomeado finalista

instituição. Harutyunyan foi spalla assistente da Orquestra

nacional do MTNA Young Artist

Sinfônica de Cheyenne durante um ano, antes de se mudar

String Competition, ambas nos

para o Brasil, em 2014, para assumir o cargo de spalla

Estados Unidos.

assistente da Filarmônica de Minas Gerais.

79 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO


ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b 1805/1806 | 14 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40 1802 | 8 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.

A

Abertura Leonora nº 3 foi composta para uma reapresentação da ópera Fidélio, em 1806. Inicia-se com um Adagio, rico em modulações, que introduz o Allegro seguinte,

em forma de sonata bitemática. O desenvolvimento inclui material referente às peripécias do drama, como a ária do

ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50 1798 | 9 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes,

prisioneiro Florestan e os toques imponentes dos trompetes que lhe anunciam a liberdade. Mas a Abertura possui autonomia – seu estilo sinfônico e a realização concisa e equilibrada garantiram-lhe, com justiça, a permanência nas salas de concerto.

2 trompas, cordas

Os dois Romances para violino e orquestra foram publicados

SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92 1811/1812 | 34 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

em 1802. O primeiro, em Sol maior (provável movimento lento concebido para o inacabado Concerto Wo05), foi composto em 1802. Seu tema principal, em Andante lento, tem caráter pastoral e o desenvolvimento constrói um diálogo permanente entre o solista e a orquestra O segundo Romance, Adagio cantabile, foi escrito em 1798. A forma alterna o lirismo do tema, em Fá maior, com a energia do motivo secundário, em fá menor. O final reintroduz o tema principal e conclui a peça com uma longa coda. No dia 8 de dezembro de 1813, Beethoven realizou na Universidade de Viena a primeira audição da Sétima Sinfonia. A pedido do público, o segundo movimento foi bisado. Tal sucesso teve um significado especial para o compositor, pois, ao eleger o ritmo como elemento dominante da Sinfonia, Beethoven o idealizou como fator socializante, capaz de moldar os sentimentos coletivos (coincidentemente, a estreia ocorreu por ocasião de um concerto beneficente para os inválidos das guerras napoleônicas). Sob o aspecto da

80 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO


predominância do elemento rítmico,

ritmo do Vivace. Este é apresentado

a Sétima Sinfonia se assemelha à

pelas madeiras e só toma uma forma

Quinta. Entretanto, há entre elas

melódica no quinto compasso, com

uma diferença estrutural. Na Sinfonia

as flautas. O desenvolvimento, com

nº 5, a força e a unidade advêm da

mudanças incessantes de tonalidade,

recorrência da mesma célula rítmica

apresenta uma espécie de luta entre

em todos os movimentos; na Sétima, ao

as cordas e as madeiras, sobre a

contrário, cada andamento é modelado

simples célula rítmica inicial. A seguir,

e diferenciado por um padrão rítmico

há uma bela passagem com uma

próprio. A estratificação de uma

variante do primeiro tema, em fugato.

figura rítmica persistente, facilmente

Na reexposição, compassos de silêncio

perceptível em cada parte, define o

quebram a continuidade rítmica. Na

perfil da Sinfonia como um todo.

coda, um surpreendente pedal das violas e cordas graves move-se por 22

A Sinfonia op. 92 inicia-se com

compassos sobre um mesmo desenho.

importante introdução de 62

(Carl Maria von Weber, referindo-

compassos, Poco sostenuto. O acorde

se a essa extraordinária passagem,

da tônica Lá maior ressoa em forte e

sugeriu que Beethoven fosse internado

curto tutti orquestral, contrastando com

no manicômio municipal!). Com um

a entrada do oboé solo. O processo se

lento crescendo, o ritmo invencível

repetirá com os ataques da orquestra

do movimento se reanima até o

no terceiro, no quinto e no sétimo

resplandecente Lá maior final.

compassos e, entre os acordes, o canto será confiado cada vez a um novo

O Allegretto, com seu ritmo de

timbre (primeiro uma trompa, à qual se

caminhada lenta (dáctilo: uma

junta uma flauta, depois os violinos).

semínima, duas colcheias – espondaico:

A modulação para Dó maior traz um

duas semínimas) é o movimento mais

novo motivo, dolce, exposto pelo oboé,

célebre da Sinfonia. Quanto à forma,

com caráter de rústico cortejo pastoril.

explora a oposição de dois temas, em

A introdução termina com a nota

lá menor e em Lá maior. O melancólico

pedal Mi que, hesitando em valores

primeiro tema aparece nos violinos e se

cada vez mais longos, recebe o novo

enriquece com um contrassujeito dos

81 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO


violoncelos. O segundo é apresentado

afirmativo, com acentos nos tempos

no clarinete e no fagote. Possui um

fortes. O segundo é leve e staccato.

duplo acompanhamento – a suave

No solene tema do Trio, Assai meno

ondulação em tercinas dos violinos

presto, Beethoven relembra um canto de

e o pizzicato das cordas graves, que

peregrinos da Baixa Áustria.

repetem a primeira metade (dáctilo) da célula rítmica fundamental.

O final, Allegro con brio, anuncia sua violência rítmica com dois explosivos

O Presto é, de fato, um scherzo duplo.

acordes em fortissimo – dois trovões,

Começa com vigoroso tutti e seu tema

separados por um breve silêncio. Os

contém dois motivos: o primeiro é

primeiros violinos lançam o tema

82


rápido em semicolcheias, acentuadas

uma solidez incomparável e serve de

pela orquestra no tempo fraco do

suporte para a sensação de irresistível

compasso. O segundo tema, também

ímpeto tão característico dos finais

apresentado pelos violinos, contém

de Beethoven.

a indicação de piano; mas logo a orquestra lhe responde com um esses dois temas, o Allegro con brio se constrói dentro da forma sonata. A quadratura rigidamente simétrica dos períodos e das frases dá ao movimento

PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

83

FOTO ANDRÉ FOSSATI

violento acorde dissonante. Com


84


MARCOS ARAKAKI, regente TRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, piano

PROGRAMA

8

21 DE NOVEMBRO A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91 A Batalha A Sinfonia de Vitória

CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ MAIOR, OP. 56, "TRÍPLICE" Allegro Largo Rondo alla polacca — INTERVALO —

SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93 Allegro vivace e con brio Allegretto scherzando Tempo di menuetto Allegro vivace

85 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes, promovido pela Orquestra Petrobras Sinfônica (2001), e do 1º Prêmio Camargo Guarnieri, realizado pelo Festival Internacional de Campos do Jordão (2009), Arakaki também foi finalista do 1º Concurso Latinoamericano de Regência Orquestral da Osesp (2005) e semifinalista no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na Cidade do México (2007). Em 2005, foi o principal regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Entre 2007 e 2010, trabalhou como titular da FOTO RAFAEL MOTTA

MARCOS ARAKAKI

Orquestra Sinfônica da Paraíba e assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira. Como regente titular, Arakaki promoveu a reestruturação da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre os anos de 2008 e 2010, recebendo grande reconhecimento da crítica especializada e

Marcos Arakaki é o Regente Associado da

do público na cidade do Rio de Janeiro.

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e tem colaborado com a Filarmônica desde a

Gravou em 2010 a trilha sonora do filme Nosso Lar, composta por

Temporada 2011.

Philip Glass, juntamente com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Arakaki já fez a estreia mundial de mais 40 obras para orquestra.

Arakaki tem dirigido importantes

Paralelamente, tem desenvolvido atividades como coordenador

orquestras no Brasil e no exterior. Dentre

pedagógico, professor e palestrante em diversos projetos culturais

elas a Orquestra Sinfônica do Estado

e em importantes instituições, como Música na Estrada, Casa

de São Paulo, a Orquestra Sinfônica

do Saber do Rio de Janeiro, Universidade Federal da Paraíba e

Brasileira, as sinfônicas de Minas Gerais,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

do Paraná, da Paraíba, de Campinas e da Universidade de São Paulo, a Petrobras

Marcos Arakaki é bacharel em Música pela Universidade Estadual

Sinfônica, Orquestra do Teatro Nacional

Paulista (Unesp, 1998), concluindo seu mestrado em Regência

Claudio Santoro, a Orquestra Experimental

Orquestral pela Universidade de Massachusetts em 2004, com

de Repertório, a Camerata Fukuda, a

apoio da Fundação Vitae. Participou de masterclasses com os

Orquestra Filarmônica de Buenos Aires,

maestros Kurt Masur, Charles Dutoit, Alan Hazendine, Kirk Trevor,

Orquestra Filarmônica da Universidade

Dante Anzolini, John Neschling, Roberto Minczuk, Roberto Tibiriçá,

Nacional Autônoma do México,

Nelson Nirenberg e Lanfranco Marcelletti. Em 2005 participou do

Sinfônica de Xalapa (México), a Kharkov

Aspen Music Festival and School, tendo aulas com David Zinman na

Philharmonic (Ucrânia) e a Bohuslav

American Academy of Conducting at Aspen, nos Estados Unidos.

Martinu Philharmonic (República Tcheca). Desde 2013, Arakaki também é professor de Regência na Sua trajetória artística é marcada por

Universidade Federal da Paraíba e Regente Titular da Orquestra

diversos prêmios. Vencedor do 1º Concurso

Sinfônica da mesma instituição.

86 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


O Trio Ceresio é composto por três

Beethoven no Japão. Para comemorar o bicentenário de Felix

artistas de renome internacional,

Mendelssohn, o grupo gravou três obras de trio para piano

apaixonados por levar repertórios para

deste compositor sob o selo Doron, incluindo uma primeira

trio ao público de todo o mundo. O

gravação de seu trabalho de 1822. Um novo lançamento

violinista Anthony Flint e o violoncelista

pela Doron inclui composições para trios de Shostakovich,

Johann Sebastian Paetsch, ambos

Beethoven e Arensky.

intérpretes experientes do gênero, conceberam a ideia de um grupo

Trio Ceresio continua a causar um impacto impressionante

enquanto estavam em suas casas às

no cenário musical, proporcionando uma experiência

margens do Lago Lugano – conhecido

inesquecível onde quer que se apresente. Como o Corriere del

tradicionalmente como Ceresio. Logo

Ticino, da Suíça, comentou: "... por trás de sua performance,

depois, se uniram à famosa pianista

supõe-se haver uma longa preparação, de outra forma não se

suíça Sylviane Deferne, e a combinação

poderia explicar o conjunto maravilhoso, a precisão e atenção

entre o talento e a qualidade artística

aos mínimos detalhes. Há um maravilhoso equilíbrio entre as

ímpar do Trio tem garantido um sucesso

vozes, sem nunca renunciar à liberdade e à responsabilidade

instantâneo, tanto entre promotores de

que se atribui a grandes músicos".

eventos quanto com o público. Concertos realizados na Itália durante o festival de verão Verona, em Cremona e na Suíça, nos festivais de Schubertiade, Fribourg e na Suíça romanda foram aclamados pela crítica especializada. Depois de uma série de concertos de sucesso em Lugano, o Trio Ceresio foi convidado para gravar composições para trio de Arensky e Beethoven para a Rádio Svizzera italiana. Atividades recentes incluíram uma apresentando composições de Shostakovich e Dvorák e uma performance do Concerto Triplo de

FOTO DIVULGAÇÃO

produção para a TV suíça TSI

TRIO CERESIO 87 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91 1813 | 14 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 6 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, cordas.

B

eethoven compôs a Abertura A Vitória de

CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ MAIOR, OP. 56, “TRÍPLICE” 1804 | 36 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93

Wellington a pedido de Johann Nepomuk Mälzel (1772-1838, inventor do metrônomo e amigo de Beethoven), para celebrar a vitória

das tropas chefiadas pelo Duque de Wellington sobre as tropas napoleônicas, em 21 de junho de 1813, na cidade de Vitória, Espanha. A composição se deu no verão de 1813, originalmente para o Panharmonikon, então a mais recente invenção de Mälzel, que consistia em uma máquina enorme e uma espécie de teclado, capaz de reproduzir, mecanicamente, os sons de quarenta e dois instrumentos. No início do outono Beethoven orquestrou a Abertura.

1812 | 25 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,

A Vitória de Wellington requer um grande efetivo orquestral,

2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,

além de tiros de canhão e fuzil (atualmente substituídos por

tímpanos, cordas.

dispositivos eletrônicos disparados pelo percussionista). A primeira seção (A Batalha) apresenta as forças francesas e inglesas e descreve a batalha. A segunda seção (A Sinfonia de Vitória), que busca enaltecer as forças inglesas, é amplamente baseada no hino britânico God save the King. Graças ao sentimento patriótico que tomou conta da Áustria na época, a estreia, em Viena, no dia 8 de dezembro de 1813, foi um sucesso estrondoso e teve não apenas Beethoven na regência, como Schuppanzigh nos primeiros violinos, Salieri, Sphor e Hummel na percussão. O Concerto Tríplice foi composto nos anos 1803/1804. Dedicado ao príncipe Lobkowitz, teve sua primeira publicação em julho de 1807, em Viena, pelo Bureau des Arts et d’Industrie, e sua primeira apresentação ocorreu apenas em abril de 1808, em Leipzig. Segundo uma crítica publicada no Allgemeine musikalische Zeitung, de 27 de abril, sabemos

88 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


que os solistas foram Sra. Müller,

Embora os primeiros esboços da

Sr. Matthäi e Sr. Dozzauer. A primeira

Sinfonia nº 8 datem de 1811, foi

apresentação em Viena se deu em

apenas a partir de maio do ano seguinte

maio do mesmo ano, na Augartensaal,

que Beethoven pôde realmente se

provavelmente com os mesmos solistas.

dedicar à obra. No final de setembro a composição já estava pronta e em

O Concerto Tríplice tem um caráter

outubro Beethoven confeccionava

camerístico e, consequentemente,

a partitura definitiva. A estreia se

intimista, o que faz dele um concerto

daria dois anos mais tarde, em 27 de

inusitado para a época, especialmente

fevereiro de 1814, em um concerto em

se levamos em conta o fato de ter sido

Viena regido pelo próprio compositor.

composto por Beethoven no mesmo ano de duas obras grandiosas, a

Sob vários aspectos, a Sinfonia nº 8

Sinfonia Eroica e a Sonata Waldstein.

nos remete às sinfonias de Haydn,

Embora não apresente, ao contrário

especialmente à Sinfonia nº 101

dessas outras obras, passagens

(“O relógio”): por suas dimensões,

individuais de dificuldade extrema, a

no colorido e, principalmente,

execução do Concerto Tríplice requer

pelo tratamento temático. O

grande concentração por parte dos

primeiro movimento (Allegro vivace

solistas, maestro e orquestra. A

e con brio) é, curiosamente, em

expressividade dos temas e o fino

compasso ternário, assim como

equilíbrio entre os solistas são a

a Sinfonia nº 101 de Haydn (em

chave desse belíssimo concerto. O

Beethoven, apenas as Sinfonias

primeiro movimento (Allegro) inicia-se

números 2 e 3 têm o primeiro

calmamente. Apenas aos poucos os

movimento em ternário). A forma

temas são apresentados. O segundo

com que Beethoven expõe as seções

movimento (Largo) é bem tranquilo

é extremamente clara: o início da

e funciona como uma espécie de

obra marca o início do primeiro

introdução ao Finale. Este, um Rondo

tema, e um compasso de silêncio

alla polaca, atacado após o segundo

marca a entrada do segundo tema. O

movimento, sem interrupção, é uma

movimento termina, inesperadamente,

polonaise de caráter aristocrático.

em pianissimo.

89 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


Muito já se disse que o segundo movimento (Allegretto scherzando) teria sido escrito em homenagem a Johann Nepomuk Mälzel, mas o certo é que o tique-taque das madeiras e a leveza do tema das cordas são quase uma citação do segundo movimento da Sinfonia nº 101 de Haydn. O terceiro movimento é, curiosamente, um Minueto (Tempo di Menuetto). Desde sua Sinfonia nº 2, Beethoven substituíra o minueto, tão comum em Haydn e Mozart, pelo scherzo. E o quarto movimento (Allegro vivace) mais parece uma brincadeira musical à moda de Haydn. Nesse movimento, após apresentar os dois temas, Beethoven deixa clara cada uma de suas reaparições, como que desejando que o ouvinte não se perca ao longo do caminho. Uma longa coda nos leva a um final brilhante. Trata-se da Ilustração de Josh. Dan. Boehm (cerca de 1820).

mais curta de suas sinfonias e, talvez, a mais descompromissada de todas.

GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.

90 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO


91 FOTO ANDRÉ FOSSATI


92


FABIO MECHETTI, regente PABLO ROSSI, piano MARIANA ORTIZ, soprano DENISE DE FREITAS, mezzo-soprano FERNANDO PORTARI, tenor STEPHEN BRONK, baixo-barítono CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS LINCOLN ANDRADE, regente

PROGRAMA

9

19 DE DEZEMBRO FANTASIA CORAL, OP. 80 Adagio Allegro Meno allegro Adagio ma non tropo Marcia, assai vivace Allegretto ma non tropo Presto — INTERVALO —

SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL” Allegro ma non tropo, un poco maestoso Molto vivace Adagio molto e cantabile – Andante moderato Finale: Presto – Allegro assai

93 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


FOTO RUDI BODANESE

PABLO ROSSI

Pablo Rossi é o vencedor do 1º Concurso

Filarmônica, Orquestra Experimental de Repertório,

Nacional Nelson Freire para Novos

Orquestra Sinfônica da Bahia, sinfônicas do Paraná, do

Talentos Brasileiros de 2003.

Sergipe, de Ribeirão Preto. Nos últimos anos, Pablo Rossi apresentou mais de vinte recitais nos Estados Unidos e em

Conquistou seu primeiro prêmio aos

vários países da Europa e da América Latina.

sete anos de idade, no IV Concurso Jovens Intérpretes de Lages. Desde

Gravou seu primeiro CD aos onze anos de idade, com obras

então, venceu também o Concurso

de Chopin, Bartók, Schumann, Tchaikovsky, Rachmaninoff,

Magda Tagliaferro 1998, o Encuentro

Shostakovich e Nepomuceno. Em 2008 lançou o CD Pablo

Internacional de Jóvenes Músicos,

Rossi – Live at Steinway Hall, com obras de Mozart, Villa-

em Córdoba, Argentina, 2001, e o

Lobos, Prokofiev e Chopin – gravado ao vivo em Londres.

Concurso Internacional Ciutat de Carlet, Espanha, 2002.

Pablo é bacharel e mestre pelo Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde estudou com Elisso Virsaladze, com

Rossi atuou como solista frente à

patrocínio do Governo do Estado de Santa Catarina e do

Orquestra de Câmara do Kremlin,

empresário Roberto Baumgart.

Orquestra Sinfônica de Kirov, Osesp, Sinfônica Brasileira, Amazonas

94 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO

Atualmente, Pablo vive em Bruxelas, Bélgica.


fan Tutte (Mozart); Salud, La Vida Breve (Falla); Poppea, L’Incoronazzione di Poppea (Monteverdi). No gênero da Zarzuela interpretou Lota em La Corte del Faraón, Aurora em FOTO JOSE LUIS FREITES

Las Leandras e a Duquesa Carolina em Luisa Fernanda, esta última em uma coprodução entre o Teatro Teresa Carreño, o

MARIANA ORTIZ

Teatro Real de Madrid e a Fundação SaludArte, sob direção de Pablo Mielgo. Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn, Carmina

Considerada uma das melhores vozes

Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2 de Mahler e

venezuelanas de sua geração, Mariana

a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou também Canções

Ortiz estudou canto no Conservatório de

Negras de Montsalvatge.

Música do Estado de Aragua com Lola Linares. Fez licenciatura em Educação

Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como o

Musical na Universidade de Carabobo

Teatro Teresa Carreño, Thèatre des Champs Elysées (Paris),

e obteve um master degree em Canto

Staatsoper (Berlim), Thèatre de la Monnaie (Bruxelas),

no Koninklijk Conservatorium Brussel,

Royal Danish Opera de Dinamarca, Palácio das Artes (Belo

Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento

Horizonte), Hollywood Bowl (Los Angeles), cantando sob a

foram feitos com os maestros Isabel

batuta de reconhecidos maestros, como Gustavo Dudamel,

Palacios (Venezuela), Mirella Freni e

Diego Matheuz, Christian Vásquez, Renè Jacobs, Simon

Vittorio Terranova, entre outros.

Rattle, Lars Ulrik Mortensens, Roberto Tibiriçá, Manuel Hernández Silva, Andrés Orozco Estrada, José Luis Rodilla,

Entre os papéis que interpretou estão

Rafael Frühbeck de Burgos, Helmuth Rilling, Evelino Pidò.

Proserpina y Messagera, L’Orfeo (Monteverdi); Mimí, La Bohème

Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera Bolívar,

(Puccini); Comtessa, Bodas de Figaro

de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da revista

(Mozart); Donna Anna, Don Giovanni

francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto, o

(Mozart); Mimi y Musetta, La Bohème

canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de

(Puccini); Micaela, Carmen (Bizet);

pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que

Violeta Valery, La Traviata (Verdi);

empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela, última

Gilda, Rigoletto (Verdi); Fiordiligi, Cosi

companheira do Libertador”.

95 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


por suas interpretações em 2011 em A Valquíria e L’enfant et les sortilèges (o Menino) no Theatro Municipal de São Paulo, Nabucco, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e Les Dialogues des Carmélites, como Irmã Marie, no Festival Amazonas de Ópera. Recentemente, apresentou uma série de concertos com a ópera Yerma, de Villa-Lobos, em Berlim, Paris e Lisboa.

FOTO HELOISA BORTZ

Conquistou o Prêmio Carlos Gomes nos anos 2004 e 2009,

DENISE DE FREITAS

neste último por suas atuações como Dalila (Sansão e Dalila) e o Compositor (Ariadne auf Naxos), para o Municipal de São Paulo. Seu repertório operístico inclui também Cherubino (Le Nozze

Denise é uma das mais importantes

di Figaro), Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Hänsel

artistas líricas do Brasil na atualidade.

(Hänsel und Gretel), Siebel (Fausto), Orfeu (Orfeu e Eurídice),

Com voz de grande extensão e timbre

Marquise de Berkenfield (La Fille du Régiment), Suzuki

escuro, ela tem conquistado o público

(Madame Butterfly), Angelina (La Cenerentola), Rosina

e a crítica com intensas e sensíveis

(Il Barbiere di Siviglia), Laura (La Gioconda), Carmen

atuações tanto no drama como na

(Carmen), Adalgisa (Norma) e Charlotte (Werther).

comédia. "...Denise é uma das maiores cantoras e maiores artistas do Brasil",

Como concertista interpretou obras como El Amor Brujo de

escreveu Arthur Nestrovski no jornal

Manuel de Falla; Das Lied von der Erde, Sinfonias números

Folha de São Paulo.

2 e 3, Kindertotenlieder e Des Knaben Wunderhorn de Mahler; Stabat Mater de Dvorák; Stabat Mater de Pergolesi;

Em 2013 estreou com sucesso como

Shéhérazade de Ravel; O Messias de Haendel; Magnificat de

Azucena em Il Trovatore durante o

Bach; Magnificat-Aleluia de Villa-Lobos; e Sinfonia nº 9 de

Festival de Ópera do Teatro da Paz,

Beethoven. Seu CD Lembrança de Amor, com composições

cantou em A Valquíria (Fricka) no

de Osvaldo Lacerda e Eudóxia de Barros ao piano, recebeu,

Theatro Municipal do Rio de Janeiro e

em 2003, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos

O Ouro do Reno no Theatro Municipal

de Arte) de Melhor CD do Ano.

de São Paulo. Em 2012, brilhou em O Crepúsculo dos Deuses como

Denise nasceu em São Paulo e teve como orientadora a

Waltraute no Theatro Municipal de

renomada cantora Lenice Prioli. Em Nova York, aperfeiçoou-

São Paulo e recebeu o Prêmio Carlos

se com Catherine Green e Patricia McCaffrey e, na

Gomes de melhor solista feminino

França, com Sylvia Sass.

96 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


FOTO JOSE LUIZ LAMOSA

FERNANDO PORTARI

Com uma carreira internacional em

Portari atuou também em Anna Bolena com Mariella Devia

franca ascensão, Fernando Portari

no Teatro Massimo de Palermo e em La Traviata, na Opera

estreou em 2010 com grande sucesso

de Hamburgo e em Colônia, Alemanha. Apresentou se em

no mítico Teatro alla Scala de Milão

La Boheme em Berlim e em Sevilha e representou Werther

em Fausto de Gounod, ao lado de

no Teatro Bellini de Catania e em La Coruña.

Roberto Scandiuzzi. Recentemente esteve ao lado de Anna Netrebko

Fernando Portari recebeu o Prêmio APCA (Associação

na Staatsoper de Berlim na ópera

Paulista de Críticos de Arte) e por duas vezes o Prêmio

Manon de Massenet, sob a direção

Carlos Gomes, tornando-se rapidamente nome presente nas

do maestro Daniel Barenboim.

temporadas líricas em Manaus, São Paulo, Belo Horizonte,

Apresentou-se nos teatros La Fenice

Rio de Janeiro e outros centros artísticos.

de Veneza, na Ópera de Roma, no Teatro São Carlos de Lisboa, na

Em São Paulo interpretou a maioria de seus papéis:

Deutsche Oper de Berlim, Comunale

Rodolfo, Romeo, Hoffmann, Nadir, Des Grieux, Ernesto,

de Bologna, Novaya Theater de

Nemorino, Almaviva, Ramiro, Ottavio, Cassio, Fenton,

Moscou, Theatro Municipal de

Rake, Edipo, Roderick Usher. Também em São Paulo

São Paulo, Theatro Municipal do

cantou as estreias mundiais das óperas A Tempestade,

Rio de Janeiro, Teatro Amazonas e

de Ronaldo Miranda, sobre texto de Shakespeare, e Olga,

também em Tokyo, Helsinki e Varsóvia.

de Jorge Antunes, baseada na vida de Olga Benario.

97 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


Finlândia; na Filadélfia e em Palm Beach, Estados Unidos; em Taipei, Taiwan, e Xangai, China. No Brasil, apresentou-se no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (Don Giovanni, Il Guarani, Carmen, Il Barbiere di Siviglia, Turandot, O Castelo do Barba Azul, requiem de Brahms e de Verdi); no Teatro Castro Mendes, Campinas (Don Giovanni), no Teatro da Paz em Belém (A Flauta Mágica, Bug Jargal, Il Barbiere di Sivigla, Carmen); no Teatro Amazonas em Manaus (O Anel do Nibelungo, O Navio Fantasma, Lady Macbeth de FOTO DIVULGAÇÃO

STEPHEN BRONK

Mzensk); no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Carmen, Requiem de Brahms, Te Deum de Bruckner e concertos); no Theatro Municipal de São Paulo (Lohengrin, As Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, O Castelo de Barba Azul, Rigoletto, Requiem

Nascido em Massachusetts, Estados

de Brahms e a Missa Solemnis de Beethoven); no Teatro São

Unidos, Stephen Bronk formou-se em

Pedro, em São Paulo (The man who mistook his wife for a hat)

Música e Canto no Conservatório de

e no Festival de Inverno de Campos do Jordão.

Colônia, Alemanha, aperfeiçoando-se com Herbert Mayer em Nova York.

Seu repertório operístico inclui papéis principais em Mozart, Beethoven, Weber, Bizet, Offenbach, Rossini, Gomes, Verdi,

Em mais de trinta anos de palco,

Puccini, Strauss e todas as óperas de Wagner.

cantou com consagrados cantores, como Dame Gwynneth Jones, Plácido

Com seu repertório de oratórios, missas e cantatas, de

Domingo e Sherill Milnes, nos principais

Monteverdi à música moderna, apresentou-se com grandes

teatros da Alemanha (Aachen, Bonn,

orquestras da Alemanha, Noruega, Holanda, Suíça e Brasil

Bremen, Dortmund, Duesseldorf-

(Osesp, OSMSP, OSB, OSMRJ, OPS, OSPA, OSMG, entre outras)

Duisburg, Frankfurt, Freiburg,

e gravou com as sinfônicas de WDR, NDR, MDR, SDR e SWF da

Hamburgo, Hannover, Karlsruhe,

Alemanha, RAI italiana e NHK do Japão, cantando com maestros

Mannheim, Muenchen, Nuernberg e

como Kent Nagano, Krzysztof Penderecki, Helmuth Rilling,

Saarbruecken); no Grand Teatre del

Dennis Russell-Davies, Cláudio Cruz, Isaac Karabtchevsky, Ira

Liceu em Barcelona, Espanha; nos

Levin, Jamil Maluf, John Neshling, José Maria Florêncio, Luis

teatros de Nancy, Strasbourg e Lyon,

Malheiro, Roberto Minczuk, Roberto Duarte e Silvio Viegas.

França; em Copenhagen, Dinamarca; em Praga, República Tcheca; em St.

Ganhador do Prêmio Carlos Gomes 2006, como destaque

Gallen e Genebra, Suíça; nos festivais

vocal masculino, Stephen Bronk é membro do ensemble da

de Salzburg, Áustria, e Savonlinna,

Deutsche Oper Berlin desde 2008.

98 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


99 FOTO ANDRÉ FOSSATI


CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais, corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado, é um dos raros grupos

Lincoln Andrade

corais que possuem programação artística permanente e um repertório

Lincoln Andrade possui doutorado em

diversificado, incluindo motetos, óperas,

Regência pela University of Kansas

oratórios e concertos sinfônico-corais.

e mestrado em Regência Coral pela University of Wyoming, ambas nos

Estiveram à frente do Coral os maestros

Estados Unidos. Em Wyoming também

Luiz Aguiar, Marcos Thadeu, Carlos

foi professor assistente e ministrou

Alberto Pinto Fonseca, Angela Pinto

aulas de canto coral e regência coral.

Coelho, Eliane Fajioli, Silvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda e

Premiado nos Estados Unidos e na

Márcio Miranda Pontes. Seu atual regente

Europa, o maestro foi diretor musical

titular é o maestro Lincoln Andrade.

do grupo Invoquei o Vocal, maestro titular do Madrigal de Brasília e do

O grupo se apresenta em Belo Horizonte,

Coral Brasília. Ainda na capital federal,

interior de Minas e em capitais

foi professor e diretor da Escola de

brasileiras com o objetivo de contribuir

Música de Brasília. Regeu concertos na

para a democratização do acesso de

Alemanha, Argentina, Chile, Espanha,

diversos públicos ao canto coral. As

Estados Unidos, França, Grécia, Hungria,

apresentações têm entrada gratuita ou

Paraguai, Polônia, Portugal e Turquia.

preços populares. O Coral participa das temporadas de óperas e concertos da

O maestro é produtor musical,

Fundação Clóvis Salgado, ao lado da

apresentador e entrevistador do

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais,

programa Conversa de Músico,

tendo se apresentado também com a

produzido e veiculado pela TV Senado.

Orquestra Sinfônica do Estado de São

Também é professor de regência e

Paulo e a Filarmônica de Minas Gerais.

coordenador da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da Universidade

O Coral Lírico desenvolve também diversos

Federal de Minas Gerais (UFMG).

projetos que incluem Concertos no Parque,

Ministra palestras sobre regência e

Lírico na Cidade e Concertos Didáticos,

canto coral em festivais brasileiros.

em que o público pode conhecer e fruir a música coral de qualidade e vivenciar

Lincoln Andrade é regente titular do

o contato com os artistas.

Coral Lírico de Minas.

100


FOTO PAULO LACERDA

REGENTE

CONTRALTOS

Hélcio Rodrigues

Judson Freitas

Lincoln Andrade

Ana Carolina de Paula

Igor Ferreira

Leandro Braga

Bruno Thadeu **

Lúcio Martins

Rafael Capossi

REGENTE ASSISTENTE

Carolina Rennó

Marcelo Salomão

Ramiro Souza e Silva **

Lara Tanaka

Consuelo Varella

Márcio Bocca

Robson Lopes

Déborah Burgarelli **

Petrônio Duarte*

Thiago Roussin **

SOPRANOS

Enancy Gomes

Rogério Francisco

Urbano Lima *

Aline Amaral de Castro

Iaiá Drumond

Rubens do Carmo

Anelise Claussen

Jennifer Imanishi **

Sandro Assumpção

PIANISTA

Annelise Cavalcanti

Júnia Jáber

Wagner Soares

Hélcio Vaz

Cátia Neris

Kissya Andrade

Welington Nascimento

Clara Guzella

Maria Helena Nunes *

Wellington Vilaça

Clarisse Girotto

Rosa Silveira

Conceição Nicolau

Talita Cotta

BAIXOS

Daiana Melo

Tereza Cançado

Alex Schimith

ARQUIVISTA

Érica Mendes

Vanessa Piló

André Fernando

Robert Avelino

Gislene Ramos

Vanya Soares

Antônio Marcos Batista **

GERENTE Celme Valeiras

Carlos D’Elia

SECRETÁRIA

Lilian Assumpção

TENORES

Cristiano Rocha **

Carmem Magalhães

Marta Nichthauser

André Felipe

Guilly Castro

Melina Peixoto *

Eduardo Cunha Melo

Israel Balabram

Nabila Dandara

Evandro Silva

Iuri Michailowsky

* chefe de naipe

Penha Vasconcelos **

Carlos Átila

José Carlos Leal **

** músico convidado

Izabel Carmônia

101


FANTASIA CORAL, OP. 80 1808 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.

SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL” 1822/1824 | 65 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.

P

oucas obras de Beethoven tiveram gênese tão trabalhosa quanto a última das nove sinfonias. Ao que parece, a ideia de pôr música na Ode à Alegria de Schiller já aparece em 1792, poucos

anos após o grande poeta romântico ter publicado seus versos. Em 1807 Beethoven concebe a Fantasia op. 80 para piano, coro e orquestra, concluída no ano seguinte, a qual revela aspectos que aparecem como uma espécie de ensaio para procedimentos que serão utilizados na Nona. Em 1823, Beethoven já havia composto os três primeiros movimentos da Sinfonia, e, ao final desse mesmo ano, ganha corpo a ideia de concluí-la com o uso de vozes humanas e o emprego do poema de Schiller. O uso das vozes (coro e solistas) e as citações dos movimentos anteriores, dentre outras ousadias estilísticas, são procedimentos que, usados na Nona Sinfonia, ganharam significado e importância especiais na música instrumental, na música sinfônica e na música dramática do século XIX, não exatamente na geração que sucede Beethoven, mas numa geração posterior, da qual participam Mahler, Franck, Bruckner e o próprio Wagner. No entanto, a voz humana, na Nona, não aparece como veículo expressivo de ideias poéticas: ela contribui para a realização de uma ideia musical. A dialética que surge disso denota uma tensão entre os procedimentos clássicos da forma sonata e a insubmissão criadora da própria personalidade beethoveniana, levada a um grau de abstração que a última fase de sua obra, determinada pela surdez, conseguiu atingir. Esse monumento da música ocidental só foi completado em 1824. A Nona foi estreada em maio do mesmo ano

102 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


Beethoven dedicou a Nona Sinfonia ao rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III.

em Viena, no Theater am Kärntnertor,

E Beethoven foi o solista, tanto no

com a Abertura A Consagração da

Concerto quanto na Fantasia.

Casa, op. 124 e três partes da Missa Solemnis (Kyrie, Credo e Agnus Dei).

A própria ideia de associar o piano

Foi um evento emocionante, em

solista à formação de coro e orquestra

que Beethoven, após doze anos sem

já se mostra como grande ousadia e

subir ao palco, dividiu-o com Michael

verdadeira insubordinação aos padrões

Umlauf, que dirigiu a récita. Por esta,

clássicos: a obra, com isso, não se

e pela obra, Beethoven foi várias

submete à estrutura de um concerto,

vezes ovacionado!

nem aos procedimentos da música vocal acompanhada. O solo de piano que

A Fantasia para Piano, Coro e Orquestra,

abre a obra evoca, de Beethoven, a sua

no entanto, pertence à fase anterior.

grande capacidade de improvisador, pois

Ela fora estreada naquele concerto

diz a lenda que, na estreia da obra, ele

assombroso, em dezembro de 1808,

improvisou essa seção. A Fantasia foi

em que Beethoven fez executar, além

composta em pouco tempo, o que em

dela, nada menos que a Quinta e

Beethoven é fato raro: a data da estreia

Sexta sinfonias e o Quarto Concerto

foi 22 de dezembro, e o compositor

para Piano, entre várias outras peças!

a elaborou na segunda metade desse

103 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


mesmo mês. Por isso, devido ao pouco tempo de ensaio, durante a primeira récita parece ter havido um incidente, em meio à execução, que fez com que ela fosse retomada do começo. A autoria do texto cantado na Fantasia Coral é incerta: segundo Carl Czerny, ele foi escrito por Christoph Kuffner. De acordo, porém, com Gustav Nottebohm, é de autoria de Georg Friedrich Treitschke, que trabalhou com Beethoven no texto final de Fidélio. A Fantasia Coral talvez tenha sido a maior transgressão de Beethoven em relação aos padrões clássicos e suas estruturas. Por isso mesmo, é exemplar no sentido de mostrar a mentalidade insubmissa desse surdo que mudou os rumos da história da música.

MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.

104 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO

Imagem do século XIX retrata Beethoven na primeira apresentação da Nona Sinfonia.


105 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


FANTASIA CORAL, OP. 80 POEMA Cristoph Kuffner (1780 – 1846) TRADUÇÃO Amancio Cueto Junior

Com graça, charme e doçura soam as harmonias de nossas vidas, e do sentido da beleza geram as flores que eternamente florescem. Paz e alegria deslizam alegremente, como o jogo alternado das ondas; Tudo o que é bruto e hostil transforma-se num sublime sentimento. Quando a mágica da música reina e as palavras sagradas são ditas, O glorioso deve ser concebido, Noite e tempestade se tornam luz. Paz exterior e bênção interior reinam para os afortunados. O sol da primavera da arte deixa a luz surgir de ambos. Grandeza, que entrou no coração, floresce como novo em toda sua beleza, Quando um espírito levanta voo, ecoa em resposta um coro de espíritos. Então aceitem, ó belas almas, alegremente os dons da bela arte: Quando amor e força se juntam, a graça de Deus recompensa os homens.

106 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


SINFONIA Nº 9, OP. 125 ODE À ALEGRIA POEMA Friedrich von Schiller (1759 – 1805) TRADUÇÃO livre

Oh, amigos, mudemos de tom!

Todos os bons, todos os maus,

Entoemos algo mais prazeroso

Seguem seu rastro de rosas.

E mais alegre!

Ela nos deu beijos e vinho e Um amigo leal até a morte;

Alegre, formosa centelha divina,

Deu força para a vida aos mais humildes

Filha do Elíseo,

Deu força para a vida aos mais humildes

Ébrios de fogo entramos

E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Em teu santuário celeste! Tua magia volta a unir

Alegremente, como seus sóis corram

O que o costume rigorosamente dividiu.

Através do esplêndido espaço celeste

Todos os homens se irmanam

Se expressem, irmãos, em seus caminhos,

Todos os homens se irmanam

Alegremente como o herói diante da vitória.

Ali onde teu doce voo se detém. Alegre, formosa centelha divina, Quem já conseguiu o maior tesouro

Filha do Elíseo,

De ser o amigo de um amigo,

Ébrios de fogo entramos

Quem já conquistou uma mulher amável

Em teu santuário celeste!

Rejubile-se conosco!

Abracem-se, milhões!

Sim, mesmo se alguém conquistar

Enviem este beijo para todo o mundo!

apenas uma alma,

Irmãos, além do céu estrelado

Uma única em todo o mundo.

Mora um Pai Amado.

Mas aquele que falhou nisso

Milhões se deprimem diante Dele?

Mas aquele que falhou nisso

Mundo, você percebe seu Criador?

Que fique chorando sozinho!

Procure-o mais acima do céu estrelado! Sobre as estrelas onde Ele mora.

Alegria, bebem todos os seres No seio da Natureza: 107 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO


para

ASSISTIR CONCERTOS

SINFONIAS

Concerto nº 1

DVD – Beethoven – Symphonies – Berliner

Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regência e piano. Acesse fil.mg/bconc1

Philharmoniker – Claudio Abbado, regente – EuroArts Music International GmbH, Canadá – 2002

Concerto nº 2 Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard Haitink, regente - Vladimir Ashkenazy, piano. Acesse: fil.mg/bconc2

Sinfonia nº 1

Concerto nº 3

Sinfonia nº 2

Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária – Mariss Jansons, regente – Mitsuko Uchida, piano. Acesse: fil.mg/bconc3

Filarmônica de Berlim – Herbert von Karajan, regente. Acesse: fil.mg/bsinf2

Concerto nº 4

Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bsinf3

Filarmônica de Viena – Daniel Barenboim, regência e piano. Acesse: fil.mg/bconc4

Concerto nº 5 Orquestra Sinfônica de Jerusalém – Alexander Schneider, regente – Arthur Rubinstein, piano. Acesse: fil.mg/bconc5

Concerto nº 6 Filarmônica Eslovaca – Kaspar Zehnder, regente – Jingge Yan, piano. Acesse: fil.mg/bconc6

Concerto Tríplice Filarmônica de Berlim – Daniel Bareinboim, regência e piano – Itzhak Perlman, violino – Yo-Yo Ma, violoncelo. Acesse: fil.mg/btriplice

108 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER

Orquestra Sinfônica de Chicago – Georg Solti, regente. Acesse: fil.mg/bsinf1

Sinfonia nº 3

Sinfonia nº 4 Orquestra Real do Concertgebouw – Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf4

Sinfonia nº 5 Academia Nacional de Santa Cecília – Claudio Abbado, regente. Acesse: fil.mg/bsinf5

Sinfonia nº 6 Orquestra Real do Concertgebouw – Bernard Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bsinf6

Sinfonia nº 7 Orquestra Real do Concertgebouw – Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf7


Sinfonia nº 8

A Vitória de Wellington

Filarmônica de Berlim – Claudio Abbado, regente. Acesse: fil.mg/bsinf8

Orquestra Sinfônica da Radio di Stoccarda – Hermann Scherchen, regente. Acesse: fil.mg/bwellington

Sinfonia nº 9 Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bsinf9

ABERTURAS E OUTRAS OBRAS A Consagração da Casa Orquestra do Teatro La Fenice – Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/bcasa

Abertura Leonora nº 2

Romance nº 1 Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente – Renaud Capuçon, violino. Acesse: fil.mg/bromance1

Romance nº 2 Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente – Renaud Capuçon, violino. Acesse: fil.ng/bromance2rc

Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bleonora2

Orquestra Filarmônica da Rádio Alemã – Christoph Poppen, regente – Augustin Hadelich, violino. Acesse: fil.mg/bromance2ah

Abertura Leonora nº 3

Fantasia Coral

Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente. Acesse: fil.mg/bleonora3

Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bfcoral

As Criaturas de Prometeu Anima Eterna – Jos van Immerseel, regente. Acesse: fil.mg/bprometeuji Boston Symphony – Charles Munch, regente. Acesse: fil.mg/bprometeucm

A Grande Fuga Orquestra Sinfônica NDR de Hamburgo – Christoph von Dohnányi, regente. Acesse: fil.mg/bfuga

109 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER


para

OUVIR CONCERTOS

ABERTURAS E OUTRAS OBRAS

CD Beethoven – Triple concerto; Brahms:

CD Beethoven – Ouvertüren [Leonora nº 1 e

Double concerto – Berliner Philharmoniker

Zur Namensfeier] – Berliner Philharmoniker,

– Herbert von Karajan, regente – David

Herbert von Karajan, regente – Deutsche

Oistrakh, violino – Mstislav Rostropovich,

Grammophon – 1989

violoncelo – Sviatoslav Richter, piano – Warner Classics – 2012

CD Beethoven – Egmont; Wellingtons Sieg; Märsche – Berliner Philharmoniker –

CD Beethoven – The five piano concertos

Herbert von Karajan, regente – Deutsche

– Chicago Symphony Orchestra – James

Grammophon – 1987

Levine, regente – Alfred Brendel, piano – Phillips – 1997

CD Beethoven – Complete Overtures – Gewandhausorchester Leipzig – Kurt Mazur,

CD Beethoven – Die Klavierkonzerte;

regente – Phillips Classics Productions, EUA

Choralfantasie op. 80 – Chor und

– 1993

Symphonieorchester des bayerischen Runfunks – Rafael Kubelik, regente –

CD Beethoven – The complete Overtures &

Rudolf Serkin, piano

other Works – Gewandhausorchester Leipzig – Academy of Saint Martin in the Fields – Kurt

SINFONIAS

Masur, Neville Marriner, regentes – Phillips – 1994

CD Beethoven – The Sympnonies –

CD Beethoven – The String Quartets; Grosse

Berliner Philarmoniker – Claudio Abbado –

Fugue – Guarneri Quartet – RCA – 2003

Deutsch Grammophon 4775864 – 2000 CD Beethoven – The Violin Romances – Royal CD Beethoven – The Complete Symphonies

Concertgebouw Orchestra – Bernard Haitink,

and Selected Overtures – Arturo Toscanini –

regente – Henryk Szeryng, violino – Phillips

NBC Symphony Orchestra – Music and

Classics Productions, EUA

Arts – 2007

110 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER


para

LER Barry Cooper (org.) – Beethoven, um compêndio – Mauro Gama e Claudia Martinelli Gama, tradução – Jorge Zahar – 1996 Emil Ludwig – Beethoven – Maria Vieira, tradução – Aster – 1978 François-René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990

Legendas das imagens PÁGINAS 10 E 11

Assinatura de Beethoven, poucos dias antes de sua morte, sobre uma das primeiras páginas da Sonata para piano em fá menor, “Apassionata”. (Bibliothèque Nationale, Paris) PÁGINAS 20 E 21

Trecho de um caderno de conversas que Beethoven usava para se comunicar. PÁGINAS 26 E 27

Manuscrito da Nona Sinfonia. PÁGINA 38

Anúncio do primeiro concerto de Beethoven, realizado em Colônia, em 26 de março de 1778. PÁGINA 44

Friedrich Schiller – A educação estética do homem – Iluminuras – 1995

Primeira obra impressa de Beethoven,

Lewis Lockwood – Beethoven, a música e a vida – Códex – 2004

PÁGINA 50

Maynard Solomon – Beethoven, vida e obra – Álvaro Cabral, tradução – Jorge Zahar – 1994 Roland de Candé – História Universal da Música – vol. 1 e 2 – Eduardo Brandão, tradução – Martins Fontes – 1994

Variações para cravo. Mannheim, 1782.

Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 3, op. 55, “Eroica”. PÁGINA 56

Beethoven, por Christian Horneman (1802). PÁGINA 64

Beethoven em gravura de Blasius Höfel (1814). PÁGINA 70

Sergio Magnani – Expressão e Comunicação na Linguagem da Música – UFMG – 1989

Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 6, op. 68, “Pastoral" (1808). PÁGINA 76

Beethoven em pintura de Josef K. Stieler (1819/1820). PÁGINA 84

Beethoven em ilustração de August v. Kloeber (1817/1818). PÁGINA 92

Anúncio da estreia da Nona Sinfonia, em 7 de maio de 1924, informa a presença de Beethoven.

111 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER


Acompanhe a Filarmônica em outros concertos CONCERTOS PARA A JUVENTUDE

LABORATÓRIO DE REGÊNCIA

Realizados em manhãs de domingo,

Atividade pioneira no Brasil, este

são concertos dedicados aos jovens e

laboratório é uma oportunidade

às famílias, buscando ampliar e formar

para que jovens regentes brasileiros

público para a música clássica. As

possam praticar com uma orquestra

apresentações têm ingressos a

profissional. A cada ano, quinze

preços populares.

maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e

CLÁSSICOS NA PRAÇA

ensaios com o regente Fabio Mechetti.

Realizados em praças da Região

O concerto final é aberto ao público.

Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos

TURNÊS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

de descontração e entretenimento,

Com essas turnês, a Orquestra

buscando democratizar o acesso da

Filarmônica de Minas Gerais

população em geral à música clássica.

busca colocar o estado de Minas dentro do circuito nacional e

CONCERTOS DIDÁTICOS

internacional da música clássica.

Concertos destinados a grupos de crianças e jovens da rede escolar e a instituições

TURNÊS ESTADUAIS

sociais, mediante inscrição prévia. Seu

As turnês estaduais levam a música

formato busca apoiar o público em seus

de concerto a diferentes cidades e

primeiros passos na música clássica.

regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado

FESTIVAL TINTA FRESCA

tenha contato direto com música

Com o objetivo de fomentar a criação

sinfônica de excelência.

musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras

CONCERTOS DE CÂMARA

sejam apresentadas em concerto, este

Realizados para estimular músicos

Festival é sempre uma aventura musical

e público na apreciação da música

inédita. Como prêmio, o vencedor recebe

erudita para pequenos grupos. A

a encomenda de outra obra sinfônica

Filarmônica conta com grupos de

a ser estreada pela Filarmônica no

Metais, Cordas, Sopros e Percussão.

ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.

112 FORA DE SÉRIE ACOMPANHE A FILARMÔNICA


Para apreciar um concerto

PONTUALIDADE

CONVERSA

Uma vez iniciado um concerto, qualquer

A experiência do concerto inclui o

movimentação perturba a execução

encontro com outras pessoas. Aproveite

da obra. Seja pontual e respeite o

essa troca antes da apresentação e no

fechamento das portas após o terceiro

seu intervalo, mas nunca converse ou

sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair

faça comentários durante a execução

antes do final da apresentação,

das obras. Lembre-se de que o

aguarde o término de uma peça.

silêncio é o espaço da música.

APLAUSOS Aplauda apenas no final das obras, que,

APARELHOS CELULARES

muitas vezes, se compõem de dois ou

Confira e não se esqueça, por favor,

mais movimentos. Veja no programa

de desligar o seu celular ou qualquer

o número de movimentos e fique de

outro aparelho sonoro.

olho na atitude e gestos do regente.

TOSSE

FOTOS E GRAVAÇÕES EM ÁUDIO E VÍDEO

Perturba a concentração dos músicos

Não são permitidas durante o concerto.

e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.

CRIANÇAS

COMIDAS E BEBIDAS

Caso esteja acompanhado por criança,

Seu consumo não é permitido no

escolha assentos próximos aos corredores.

interior da sala de concertos.

Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.

113 FORA DE SÉRIE PARA APRECIAR UM CONCERTO


Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR

Fabio Mechetti REGENTE ASSOCIADO

Marcos Arakaki

PRIMEIROS VIOLINOS

Marcelo Nébias

Andrew Huntriss

GERENTE

Anthony Flint – Spalla

Nathan Medina

Cláudio de Freitas

Jussan Fernandes

Rommel Fernandes – Spalla Associado

VIOLONCELOS

TROMPAS

INSPETORA

Ara Harutyunyan – Spalla

Elise Pittenger ****

Alma Maria Liebrecht *

Karolina Lima

Assistente

Camila Pacífico

Evgueni Gerassimov ***

Ana Zivkovic

Camilla Ribeiro

Gustavo Garcia Trindade

ASSISTENTE ADMINISTRATIVA

Arthur Vieira Terto

Eduardo Swerts

José Francisco dos Santos

Débora Vieira

Baptiste Rodrigues

Emilia Neves

Lucas Filho

Bojana Pantovic

Eneko Aizpurua Pablo

Fabio Ogata

Dante Bertolino

Lina Radovanovic

Hyu-Kyung Jung

Robson Fonseca

Marcio Cecconello

ARQUIVISTA

Sergio Almeida TROMPETES

Marlon Humphreys *

ASSISTENTES

Megumi Tokosumi

CONTRABAIXOS

Érico Fonseca **

Ana Lúcia Kobayashi

Rodrigo Bustamante

Colin Chatfield *

Daniel Leal ***

Claudio Starlino

Rodrigo Monteiro Braga

Nilson Bellotto ***

Tássio Furtado

Jônatas Reis

Rodrigo de Oliveira

Brian Fountain Marcelo Cunha

TROMBONES

SUPERVISOR DE MONTAGEM

SEGUNDOS VIOLINOS

Pablo Guiñez

Mark John Mulley *

Rodrigo Castro

Frank Haemmer *

William Brichetto

Diego Ribeiro **

Leonidas Cáceres ***

Wagner Mayer ***

MONTADORES

Renato Lisboa

André Barbosa

Jovana Trifunovic

FLAUTAS

Leonardo Ottoni

Cássia Lima *

Luka Milanovic

Renata Xavier ***

TUBA

Marija Mihajlovic

Alexandre Braga

Eleilton Cruz *

Martha de Moura Pacífico

Elena Suchkova

Mateus Freire

Klênio Carvalho

TÍMPANOS

Radmila Bocev

OBOÉS

Rodolfo Toffolo

Alexandre Barros *

Tiago Ellwanger

Ravi Shankar ***

PERCUSSÃO

Valentina Gostilovitch

Israel Muniz

Rafael Alberto *

Moisés Pena

Daniel Lemos ***

Patricio Hernández Pradenas *

VIOLAS

Sérgio Aluotto

João Carlos Ferreira *

CLARINETES

Roberto Papi ***

Marcus Julius Lander *

Flávia Motta

Jonatas Bueno ***

HARPA

Gerry Varona

Ney Campos Franco

Giselle Boeters *

Gilberto Paganini

Alexandre Silva

Juan Castillo FAGOTES

Luciano Gatelli

Catherine Carignan *

114

Werner Silveira

TECLADOS

Katarzyna Druzd

* PRINCIPAL

Risbleiz Aguiar

** PRINCIPAL ASSOCIADO

Ayumi Shigeta *

*** PRINCIPAL ASSISTENTE

**** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO


Instituto Cultural Filarmônica Conselho Administrativo PRESIDENTE EMÉRITO

Jacques Schwartzman PRESIDENTE

Roberto Mário Soares CONSELHEIROS

Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Octávio Elísio Paulo Brant Sérgio Pena

Diretoria Executiva DIRETOR PRESIDENTE

Diomar Silveira DIRETOR ADMINISTRATIVOFINANCEIRO

Estêvão Fiuza DIRETORA DE COMUNICAÇÃO

Jacqueline Guimarães Ferreira DIRETORA DE MARKETING E PROJETOS

Zilka Caribé DIRETOR DE OPERAÇÕES

Ivar Siewers

DIRETOR DE PRODUÇÃO

ASSISTENTES DE MARKETING

MENSAGEIROS

MUSICAL

DE RELACIONAMENTO

Jeferson Silva

Marcos Souza

Eularino Pereira

Pablo Faria

Equipe Técnica GERENTE DE COMUNICAÇÃO

Rildo Lopez

Equipe Administrativa

Merrina Godinho Delgado GERENTE ADMINISTRATIVO-

MENOR APRENDIZ

Diego Soares

Sala Minas Gerais

GERENTE DE PRODUÇÃO

FINANCEIRA

GERENTE DE

MUSICAL

Thais Boaventura

INFRAESTRUTURA

Claudia da Silva Guimarães

Renato Bretas ANALISTAS ADMINISTRATIVOS

ASSESSORA DE

João Paulo de Oliveira

TÉCNICO DE ILUMINAÇÃO

PROGRAMAÇÃO MUSICAL

Paulo Baraldi

E ÁUDIO

Carolina Debrot

Rafael Franca ANALISTA CONTÁBIL

PRODUTORES

Graziela Coelho

Geisa Andrade

ASSISTENTE OPERACIONAL

Rodrigo Brandão

Luis Otávio Rezende

ANALISTA DE

Narren Felipe

RECURSOS HUMANOS

Quézia Macedo Silva ANALISTAS DE COMUNICAÇÃO

Andréa Mendes (Imprensa)

SECRETÁRIA EXECUTIVA

Marciana Toledo (Publicidade)

Flaviana Mendes

Mariana Garcia (Multimídia) Renata Romeiro (Design gráfico)

ASSISTENTE ADMINISTRATIVA

Cristiane Reis ANALISTA DE MARKETING DE RELACIONAMENTO

AUXILIARES

Mônica Moreira

ADMINISTRATIVOS

Pedro Almeida ANALISTAS DE MARKETING

Vivian Figueiredo FORA DE SÉRIE

E PROJETOS

Beethoven 2015

Itamara Kelly

RECEPCIONISTA

Mariana Theodorica

Lizonete Prates Siqueira

ASSISTENTE DE

AUXILIARES DE

COMUNICAÇÃO

SERVIÇOS GERAIS

Renata Gibson

Ailda Conceição

EDIÇÃO DE TEXTO

Nayara Assis

Berenice Menegale

COORDENADORA DA EDIÇÃO Merrina

Godinho Delgado

115


PATROCÍNIO MÁSTER

APOIO INSTITUCIONAL

DIVULGAÇÃO

HOTEL OFICIAL

INCENTIVO

w w w. i n c o n f i d e n c i a . c o m . b r

Projeto executado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais

CA: 0231-001/2013

REALIZAÇÃO

SALA MINAS GERAIS Rua Tenente Brito Melo, 1.090 | Barro Preto | CEP 30.180-070 | Belo Horizonte - MG

COMUNICAÇÃO ICF

(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030

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@filarmonicamg

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