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Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais e Banco Votorantim apresentam
PATROCÍNIO MÁSTER
Sábados, 18h
P. 5 P. 12 P. 20 P. 26
21 MARÇO
P. 39
CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti BEETHOVEN, do mito ao homem OS CONCERTOS de Beethoven AS SINFONIAS de Beethoven FABIO MECHETTI, regente RONALDO ROLIM, piano Abertura A Consagração da Casa, op. 124 Concerto para piano nº 1 em Dó maior, op. 15 Sinfonia nº 1 em Dó maior, op. 21
11 ABRIL
P. 45
FABIO MECHETTI, regente SONIA RUBINSKY, piano A Grande Fuga em Si bemol maior, op. 133 Concerto para piano nº 2 em Si bemol maior, op. 19 Sinfonia nº 2 em Ré maior, op. 36
23 MAIO
P. 51
FABIO MECHETTI, regente NATASHA PAREMSKI, piano Abertura Namensfeier, op. 115 Concerto para piano nº 3 em dó menor, op. 37 Sinfonia nº 3 em Mi bemol maior, op. 55, “Eroica”
20 JUNHO
P. 57
ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidado CRISTINA ORTIZ, piano As Criaturas de Prometeu, op. 43: Abertura Concerto para piano nº 4 em Sol maior, op. 58 Sinfonia nº 4 em Si bemol maior, op. 60
15 AGOSTO
P. 65
FABIO MECHETTI, regente JEAN-LOUIS STEUERMAN, piano Abertura Leonora nº 1, op. 138 Concerto para piano nº 5 em Mi bemol maior, op. 73, "Imperador" Sinfonia nº 5 em dó menor, op. 67
26 SETEMBRO
P. 71
FABIO MECHETTI, regente TEO GHEORGHIU, piano Abertura Leonora nº 2, op. 72a Concerto para piano nº 6 em Ré maior, op. 61a Sinfonia nº 6 em Fá maior, op. 68, "Pastoral"
24 OUTUBRO
P. 77
FABIO MECHETTI, regente ROMMEL FERNANDES, violino ARA HARUTYUNYAN, violino Abertura Leonora nº 3, op. 72b Romance nº 1 em Sol maior, op. 40 Romance nº 2 em Fá maior, op. 50 Sinfonia nº 7 em Lá maior, op. 92
21 NOVEMBRO
P. 85
MARCOS ARAKAKI, regente TRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, piano A Vitória de Wellington, op. 91 Concerto para violino, violoncelo e piano em Dó maior, op. 56, "Tríplice" Sinfonia nº 8 em Fá maior, op. 93
19 DEZEMBRO
P. 93
FABIO MECHETTI, regente PABLO ROSSI, piano MARIANA ORTIZ, soprano DENISE DE FREITAS, mezzo-soprano FERNANDO PORTARI, tenor STEPHEN BRONK, baixo-barítono CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS Fantasia Coral, op. 80 Sinfonia nº 9 em ré menor, op. 125, "Coral"
P. 106
POEMAS DA FANTASIA CORAL E DA SINFONIA Nº 9
P. 108
PARA ASSISTIR, OUVIR E LER ACOMPANHE a Filarmônica PARA APRECIAR um concerto
P. 112 P. 113
CAROS
amigos e amigas
Há muito esperávamos ansiosos
quase qualquer outro instrumentista individual), nada
pela oportunidade de, pela
melhor do que o repertório do período clássico. Esse
primeira vez desde a criação da
repertório demanda precisão rítmica, uniformidade de
Filarmônica, ensaiarmos e tocarmos
articulação, atenção detalhada às dinâmicas, apego à
no mesmo espaço. Essa dinâmica é
estrutura da obra e fidelidade ao compositor. Foi com
extremamente importante para
esse intuito que escolhemos começar a série Fora de Série
se construir uma orquestra
explorando a magnífica obra de Ludwig van Beethoven.
de excelência. Através desse
Com suas impressionantes sinfonias, aberturas, concertos,
continuado trabalho, consolidamos
Beethoven foi talvez o primeiro compositor na história
aspectos técnicos e expressivos
da música a ver a orquestra sinfônica como instrumento
que caracterizam todas as
virtuoso, capaz de uma gama imensa de possibilidades
grandes orquestras.
expressivas. Ao construirmos uma série inteira baseada em sua obra, nossos músicos terão a oportunidade de
Agora, com a abertura da Sala Minas
conhecer melhor sua nova Sala e também a si mesmos.
Gerais, e com essa oportunidade única de maximizarmos nossos
Convidamos todos a participar desse descobrimento,
ensaios e apresentações, para que
paradoxalmente através de um repertório dos mais
a Filarmônica possa corresponder
conhecidos e apreciados. Todos ganham: a Filarmônica,
ainda mais às expectativas e ao
na sua busca contínua de qualidade, e o público, que
orgulho de nosso público, criamos
certamente irá reviver as grandes emoções que a
uma série especial que irá focar
obra beethoveniana desperta em todos nós: do apelo
exatamente na implementação desses
à democracia expresso em sua Eroica, ao humanismo
aspectos. Junto a isso, oferecemos
revelado nas eloquentes palavras de Schiller que
aos nossos ouvintes a oportunidade
Beethoven utilizou em sua Nona Sinfonia.
de vivenciar obras consagradas do repertório sinfônico que vêm,
Bem-vindos.
há séculos, impactando gerações e gerações de amantes da música. Para o aperfeiçoamento técnico de uma orquestra (assim como para
FABIO MECHETTI
Diretor Artístico e Regente Titular
5 FORA DE SÉRIE CAROS AMIGOS E AMIGAS
FABIO MECHETTI
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor
diretor artístico e regente titular
tornou-se o primeiro brasileiro a ser convidado a
Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. Recentemente, dirigir uma orquestra asiática, sendo nomeado Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse, da Orquestra Sinfônica de Spokane e da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, sendo, agora, Regente Emérito destas duas últimas. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus,
6 FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
entre outras. É convidado frequente dos festivais de
Brasília e Paraná e as municipais de
verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park
São Paulo e do Rio de Janeiro.
em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson,
Realizou diversos concertos no México, Peru e
Frederica von Stade, Arnaldo Cohen,
Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas
Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil
de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Na Europa regeu a
Shaham, Midori, Evelyn Glennie,
Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia e a Orquestra
Kathleen Battle, entre outros.
da Rádio e TV da Espanha. Dirigiu também a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, a Orquestra
Igualmente aclamado como regente
Sinfônica de Quebec, Canadá, e a Filarmônica de
de ópera, estreou nos Estados Unidos
Tampere, na Finlândia.
dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se
Vencedor do Concurso Internacional de Regência
produções de Tosca, Turandot,
Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige
Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte,
regularmente na Escandinávia, particularmente a
Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha,
Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg,
La Traviata e As Alegres Comadres
Suécia. Recentemente, estreou na Itália conduzindo
de Windsor.
a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2015 dirigirá a Orquestra Sinfônica de Odense, também na Dinamarca.
Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em
No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira,
Composição pela prestigiosa
a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre,
Juilliard School de Nova York.
7 FORA DE SÉRIE FABIO MECHETTI
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9 FOTO RAFAEL MOTTA
10
LUDWIG VAN BEETHOVEN Bonn, Alemanha, 1770 – Viena, Áustria, 1827
11
Beethoven
DO MITO AO HOMEM Se pudéssemos passar da história da
sofrer pelos excessos do marido – de
música à história dos homens – não
tudo isso Beethoven fez matéria para
à história política, nem mesmo à
construir-se a si próprio e à sua música.
história das mentalidades, mas a uma “história dos exemplos humanos”,
Os abusos da infância não o fizeram
desses que a literatura de Dickens
voltar-se contra o pai ou tomar
soube pintar com raro otimismo;
ojeriza pela música, mas, ao contrário,
se pudéssemos, pois, realizar esse
fortaleceram em Beethoven o
movimento, diríamos, em primeiro
sentido da sua individualidade e,
lugar, que Ludwig van Beethoven foi
com isso, a consciência de que sua
um grande homem.
obra não deveria servir aos desejos e caprichos da aristocracia, nem
Sob uma perspectiva humana, ele
mesmo às expectativas de um público
foi exemplo de autossuperação e de
habituado a apreciar somente o que
entrega determinada ao cumprimento
tinha costume de ouvir. Sua música
da missão da qual acreditava estar
deveria ser testemunha dele próprio,
investido: a de ser, pela música,
como homem, como ser social e
testemunha da humanidade. Por
político, como indivíduo – com suas
isso mesmo, ambas as coisas, em
contradições e angústias. Assim,
Beethoven, se confundem.
por testemunhar o homem, ela testemunharia, deste, a humanidade.
De sua infância infeliz e trágica, marcada pela brutalidade de um pai
Já não se diga de seus infortúnios
alcoólatra que dele quis fazer – sem
amorosos. Não parecem ter sido o
sucesso, como pianista – um segundo
fato mais determinante em sua
Mozart; marcada, também, pelas
obra, como, por exemplo, na obra
responsabilidades que teve de assumir
de Schumann. Não fosse a trágica
ainda muito jovem, em razão da
solidão em que voluntária ou
decadência do pai e da perda da mãe, a
involuntariamente se isolava
quem amava profundamente e que via
(note-se, por exemplo, este trecho
12 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
FOTOS: BOHN TESTAMENTO CASA FUNERAL
Beethoven nasceu nesta casa, hoje um museu dedicado a ele.
do Testamento de Heiligenstadt,
na companhia dos homens, não terei
redigido em 1802: “falem mais alto,
mais conversas inteligentes nem
gritem, sou surdo (...). Por isso,
mútuos desabafos.”), não fosse isso,
perdoem-me, se me veem viver
os amores de Beethoven passariam
isolado, quando eu, com prazer,
à margem de sua obra e de sua vida.
estaria no meio de vocês. Minha
Até mesmo a famosa Carta à Amada
desgraça me é duplamente penosa
Imortal (que, ao que tudo indica,
porque, por ela, devo tornar-me
foi dirigida a Josefina von Brunswick)
ignorado; não terei mais estímulo
merece o devido desconto do exagero
13 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
romântico que procurou pintar
e mais proveitoso foi o contato
o retrato de um artista maldito e
com Salieri, com quem estudou
incompreendido.
de 1794 a 1800. A partir de então, começa a se firmar como compositor
Vindo de Bonn – cidade alemã,
e instrumentista. Sua fama de
medíocre política e culturalmente à
grande improvisador ao piano já é
época – para, em 1792, estabelecer-se
notória. Sua ascensão é progressiva e
em Viena, o maior centro cultural
ininterrupta. De uma obscura cidade
e musical da Europa de então,
do principado de Colônia, esse jovem
Beethoven soube construir seu lugar
de origem humilde soube se impor ao
entre vultos já lendários como os
maior centro musical da Europa e se
de Mozart e Haydn, cuja música
tornar lenda ainda em vida.
era renomada internacionalmente. Com Mozart, a quem admirava
A maior tragédia de Beethoven
profundamente, Beethoven havia
foi, sem dúvida, a sua progressiva
travado contato em Viena, em
surdez. Os primeiros sinais
1787, ano da morte de sua mãe,
aparecem ainda em 1798, ano de
motivo que o fez regressar a Bonn.
composição da sonata para piano
Desse primeiro contato – Mozart
op. 13 (a “Patética”). Ainda assim,
trabalhava, então, em Don Giovanni
mesmo com o agravamento do
– vieram, diz-se, palavras proféticas
mal, que o levará à total perda de
do prodígio de Salzburgo: “este jovem
audição, Beethoven não sucumbe à
ainda vai dar o que falar”. No seu
fatalidade, nem se furta a manter-se
retorno definitivo a Viena, cinco
firme em seu propósito de, pela
anos depois – Mozart havia morrido
música, testemunhar o homem.
em 1791–, Beethoven vem munido de
Sua surdez não explica sua obra,
uma carta de recomendação do conde
é certo, mas talvez a densidade de
Waldstein para estudar com Haydn.
seu pensamento musical nunca chegasse a grau tão exponencial
A convivência com Haydn não foi
se, como nas palavras de Roland de
nem longa nem proveitosa. Beethoven
Candé, “o silêncio exterior não lhe
aprende muito mais no contato
tivesse imposto a concentração de
com a obra de Haydn do que de sua
sua vontade numa música ideal”.
pedagogia. Conservará, entretanto,
Escreverá, por isso, Victor Hugo:
por toda a vida, profunda admiração
“Esse surdo ouvia o infinito”.
pelo mestre, embora as relações entre ambos sejam de mera cordialidade
Para Beethoven, compor nunca
e nunca de confiança. Mais longo
é uma tarefa ligeira ou fácil:
14 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
A pequena cidade de Bonn, às margens do rio Reno, onde Beethoven nasceu e viveu até os 22 anos. (Imagem de Laurenz Janscha e J. Ziegler)
seus muitos cadernos de notas o
com a responsabilidade de ser!...
atestam. Exemplo claro disso é
E, sendo, de mostrar, ao homem, o
Fidélio, sua única ópera. Muitas
Homem. Talvez seja esse aspecto o
versões e um trabalho árduo de
que garanta a sempre tão veemente
revisões e correções (inclusive do
atualidade de sua música. A trágica
libreto) marcam a trajetória de
consciência de um propósito
sua elaboração, desde sua estreia
voluntariamente abraçado terá
em 1806 até sua publicação em
ascendência direta e profunda sobre
1826, sem mencionar o antes.
todas as gerações de compositores
Pode-se, erroneamente, atribuir
posteriores a Beethoven, em maior
essa laboriosidade à dificuldade de
ou menor grau. Cite-se somente
Beethoven em lidar com a linguagem
um exemplo: Johannes Brahms só
vocal. Trata-se de uma inverdade:
concluiu a sua primeira sinfonia aos
suas canções, a Nona Sinfonia,
quarenta e três anos de idade, tendo
a Missa Solemnis o comprovam.
levado vinte e um anos para compô-
Trata-se, sobretudo, do grande senso
la! Igualmente, essa consciência e
de responsabilidade que norteia o
esse propósito se refletem na própria
trabalho criativo do compositor.
obra de Beethoven, se comparada
Cada obra sua nasce com a missão
à de seus contemporâneos: Mozart
de ser mais que mero divertimento
compôs vinte e sete concertos para
para outrem, mais que meras
piano; Beethoven, apenas cinco.
ideias musicais lançadas sobre uma
Haydn compôs mais de uma centena
estrutura formal já estabelecida.
de sinfonias; Mozart, quarenta e
Cada obra de Beethoven nasce
uma; Beethoven, apenas nove.
15 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Desde muito cedo Beethoven
Sobre esta última obra cabe um
assume essa postura de grande
breve comentário. Embora
responsabilidade diante do ofício
Beethoven faça frequentemente
de artista criador. Por isso a clássica
uso do contraponto e da fuga em
tripartição das fases de Beethoven,
obras de sua última fase (notem-se,
proposta por F. J. Fétis e W. von Lenz,
por exemplo, o ciclo dos últimos
se mostra frágil. Nessa tripartição,
quartetos de cordas e a sonata
a primeira fase, que iria de 1800
op. 110), há críticos que veem na
a 1802, mostra um Beethoven que
Missa Solemnis uma releitura,
ainda se atém à linguagem clássica,
consciente ou não, muito peculiar
sob a ascendência de Haydn, embora
– muito beethoveniana – da grande
já demonstre aspectos muito pessoais.
polifonia franco-flamenga de
Anterior a essa fase, porém, estão,
Josquin des Prez e Ockeghem.
por exemplo, três sonatas para
Outros críticos, porém, associam
piano, compostas entre 1782 e 1783
essa obra à tradição polifônica pela
– portanto, não incluídas na série
exploração que o compositor aí faz do
canônica das trinta e duas sonatas
sentido de espacialidade. Associações
para piano –, que já ensaiam, dentre
à parte, é certo que Beethoven
outras obras, a própria Sonata
mais uma vez logra transcender
Patética, op. 13, a qual, por sua vez,
a linguagem clássica, dessa vez
em muitos aspectos distancia-se da
propondo um olhar contemporâneo
linguagem genuinamente clássica.
sobre o passado musical de que é herdeiro, reelaborando-o.
A segunda fase iria de 1803 a 1815. Nela, notam-se certas investidas
A tripartição das fases de Beethoven
formais, alterando a forma sonata, a
é, portanto, uma organização
substituição do minueto pelo scherzo
esquemática e cômoda, que agrupa
e uma série de experiências na
a sua obra de forma didática. Mas,
linguagem pianística e na linguagem
para um observador atento, há nela
orquestral. Na última fase, que
muitas contradições.
vai de 1815 a 1826, Beethoven, já completamente surdo, demonstra
É de se mencionar ainda que, ao
certa abstração e maior ruptura
contrário de Mozart, a quem tanto
em relação às formas clássicas,
admirava, e cujo gênio dramático-
criando obras às vezes de proporções
vocal se mostrava quase que em cada
monumentais, como a Grande Fuga,
uma de suas inflexões, Beethoven
as sonatas op. 106 e 111, a Nona
encontra seu caminho mais genuíno
Sinfonia e a Missa Solemnis.
de expressão na música instrumental.
16 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Milhares de vienenses foram se despedir de Beethoven em seu funeral. (Aquarela de Franz Xaver Stöber)
Nesse campo, ele foi determinante para
maneira as formas tradicionais, que
os gêneros mais significativos: sem
elas pareceriam eternas às gerações
falar das sonatas para piano, citem-se
que o sucederam.
categoricamente seus quartetos de cordas, suas sonatas para violino e
Beethoven foi o grande fantasma
piano, suas sonatas para violoncelo
do Romantismo... E somente com
e piano, seus trios com piano, para
Debussy e Stravinsky a música do
não mencionar as sinfonias. Destas, a
Ocidente conseguiu, definitivamente,
última, pelo uso das vozes humanas, o
com grande deferência, afastar-se
que, dentre outros aspectos, transcende
dele. Beethoven é o primeiro músico
o conceito clássico.
cuja atividade criadora foi assumida e não delegada e, cônscio disso,
Beethoven foi o grande surdo que
subverteu as relações entre a música
a civilização ocidental fez entrar
e a sociedade, nas palavras de Roland
em sua mitologia. Paradoxalmente
de Candé, “desviando sua arte de seu
o último dos clássicos e o primeiro
destino aristocrático para se dirigir à
dos românticos, foi testemunha da
humanidade inteira”.
fronteira entre duas eras. Seu papel histórico é capital: transcendendo o Classicismo, foi o norte e o farol do Romantismo, dando exemplo de todas as superações e ampliando de tal
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
17 FORA DE SÉRIE BEETHOVEN, DO MITO AO HOMEM
Litogravura de Joh. P. Lyser (cerca de 1823).
Ilustração de Joh. Ne. Hoechle (1823).
20
OS CONCERTOS 21
OS CONCERTOS de Beethoven
Na época de Beethoven, dois eram
de uma renda estável como professor
os espaços disponíveis em Viena
de música, para os membros da
para apresentações musicais públicas:
alta sociedade.
os teatros, destinados às óperas; e as igrejas, que abriam suas portas para
A partir do século XVIII praticamente
apresentações de obras sacras.
todo compositor soube valer-se
Como não existissem salas de
das potencialidades artísticas e
concerto, as apresentações públicas de
profissionais do concerto. Com
música instrumental, chamadas
Beethoven não foi diferente. Mas, se
de Academia, aconteciam,
no início do século XIX a aristocracia
geralmente, em teatros, cassinos
ainda exercia uma grande influência
ou apartamentos particulares.
na formação do gosto do público, a classe média, que constituía
Nessas Academias, um gênero gozava
uma grande parcela da plateia, já
de destaque, pelo seu caráter quase
vinha conseguindo fazer valer suas
sempre espetacular: o concerto.
preferências. Beethoven era bem
O concerto é um tipo de composição
consciente das oscilações do público
surgida na Itália por volta da
em Viena. Algumas de suas obras,
segunda metade do século XVII
tais como a Sinfonia Eroica, foram
que consiste, grosso modo, em um
compostas tendo o autor em mente,
diálogo musical entre um ou mais
em primeiro lugar, algum membro da
solistas e a orquestra. Os concertos
aristocracia, que detinha, por algum
eram a via perfeita de apresentação
tempo, os direitos de execução privada
dos talentos de um músico, tanto
da obra. Quanto aos concertos, foram,
como compositor e como intérprete.
de forma geral, compostos para o
Se como compositor o concerto o
consumo da classe média.
ajudava a abrir as portas da fama, o sucesso adquirido como intérprete,
Das obras acabadas de Beethoven,
a partir do concerto, lhe abria as
restaram-nos, para solistas e
portas dos salões aristocráticos,
orquestra, apenas cinco concertos
assim como efetivas possibilidades
para piano, um concerto para
22 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
Beethoven também era admirado como pianista de interpretação enérgica. Na imagem, fortepiano presenteado por Thomas Broadwood, importante fabricante da época.
violino (Beethoven criou também
do qual mais integralmente
uma versão desse concerto para
Beethoven se expressava.
piano e orquestra), o Tríplice concerto – para violino, violoncelo
Curiosamente, além de serem
e piano solistas e orquestra – e dois
pouco numerosas, trata-se de obras
romances para violino e orquestra.
compostas quando Beethoven era ainda relativamente jovem, entre
Sua opção preferencial pelos
os anos 1789 e 1810, isto é, dos
concertos para piano se explica
dezenove aos quarenta anos de
pelo fato de ter sido o piano seu
idade. Não se deve, com isso,
instrumento de predileção, através
inferir que ele não apreciasse
23 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
o gênero, ou que tenha deixado de
pelo compositor, respectivamente,
apreciá-lo com a idade.
ao solista e à orquestra.
É bom lembrar que Beethoven ficou
Os dois romances para violino e
surdo relativamente cedo, havendo
orquestra (1798 e 1802) serviram a
suas aparições como solista, por
Beethoven como uma importante
essa razão, se tornado cada vez mais
preparação para o Concerto para
escassas. Os esforços do compositor
violino. Os romances também
se voltaram então para os gêneros em
possuem numeração invertida,
que o exibicionismo dos solistas cedia
assim como no caso dos dois
lugar ao conteúdo expressivo da
primeiros concertos para piano.
obra, tais como a sinfonia e a música de câmara, de modo especial
A partir do terceiro concerto para
o quarteto de cordas. A música
piano (1801) a voz interior, muito
tornava-se mais importante do que o
pessoal, de Beethoven começou a se
intérprete que a executava.
fazer presente. Embora se trate, ainda, de uma obra dos chamados anos de
Os dois primeiros concertos para
juventude, as inovações desse concerto
piano foram compostos como veículo
fizeram dele um modelo para o
para o jovem compositor apresentar-
gênero, graças ao equilíbrio formal e
se como pianista virtuoso, tanto em
à associação entre o virtuosismo do
Bonn quanto, mais tarde, em Viena.
solista, que passa a ser o protagonista
O Concerto para piano nº 2 foi
da cena, e o papel da orquestra, que,
composto em 1789, aos dezenove
com seu sinfonismo exuberante, deixa
anos de idade, e o Concerto para piano
de ser um mero acompanhador para
nº 1 em 1797, aos vinte e sete anos –,
assumir um papel de destaque no
sendo que a numeração refere-se
discurso musical.
à data da publicação. É evidente a influência de Haydn e Mozart em
Com o Concerto Tríplice (1803), obra
seus primeiros concertos, tanto na
contemporânea à Sinfonia Eroica, à
forma como nos papéis destinados
Sonata Kreutzer e à Sonata Waldstein,
24 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
Três dias após a morte de Beethoven, Hoechle ilustrou seu estúdio, em sua casa, no Schwarzspanierhaus. (Historical Museum, Viena)
piano op. 61a). Trata-se de duas obrasprimas que se encontram entre as mais importantes do gênero em todos os tempos. Embora extremamente virtuosísticos, o equilíbrio entre solista e orquestra encontra seu ponto alto com estes dois concertos. A estreia do Concerto para piano nº 4, em 22 de dezembro de 1808, marca a despedida de Beethoven dos palcos como solista. Sua surdez já se encontrava bem avançada. O Concerto para piano nº 5, em Mi bemol, composto em 1810, é seu último concerto. Completamente encontramos um Beethoven no início
surdo, Beethoven jamais o executará
de seus anos de maturidade. Aqui o
em público. Aos quarenta anos de
domínio da forma e a liberdade do
idade Beethoven nos presenteia
criador são evidentes. O século XVIII
com o mais grandioso, mais
ficou para trás e poder-se-ia dizer
imaginativo e mais original de seus
que, em 1803, Beethoven inaugura o
concertos. Uma música composta
século XIX.
para toda a humanidade. Uma vida dedicada a enriquecer o mundo com
No ano de 1806 Beethoven compõe
uma beleza da qual ele já não pode
dois importantes concertos: o
mais desfrutar.
Concerto para piano nº 4 e o Concerto para violino (o arranjo, para piano e orquestra, feito pelo próprio Beethoven, data da mesma época, e veio a se denominar Concerto para
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
25 FORA DE SÉRIE OS CONCERTOS DE BEETHOVEN
26
AS SINFONIAS 27
AS SINFONIAS de Beethoven
As sinfonias de Beethoven
cantata) diferem significativamente do
figuram hoje entre as obras mais
modelo de Haydn. Planejadas para o
consagradas pelo público de
grande público, as sinfonias não eram
concertos. Entretanto, a maioria
obras tão adequadas à experimentação
dos ouvintes contemporâneos do
formal quanto os gêneros mais
compositor reagiu com assombro e
intimistas das sonatas para piano e
incompreensão às suas inovações –
dos quartetos de cordas, em que o
as primeiras críticas julgaram-nas
compositor exercitou mais largamente
intermináveis e fatigantes! De fato,
sua liberdade em todos os parâmetros
essas sinfonias, concebidas em
da composição. Quanto ao formato da
grandes dimensões, exigiam do
orquestra, por exemplo, ele manteve
público uma concentração sem
o estabelecido pelas últimas sinfonias
precedentes. As nove sinfonias só se
de Haydn. Excepcionalmente,
impuseram no repertório a partir de
Beethoven usa trombones, como
meados do século XIX, até ocuparem
nas Sinfonias números 5, 6 e 7; na
definitivamente um espaço ímpar
Eroica, acrescentou uma trompa; no
no cânone da música sinfônica. Elas
final da Quinta emprega o flautim
iluminaram as anteriores realizações
e o contrafagote; na Nona, eleva
de Haydn e Mozart como limites
para quatro o número de trompas e
da perfeição clássica e, transcendendo
amplia a percussão com o uso da então
corajosamente tais modelos,
chamada música turca – triângulo,
criaram nova referência musical,
pratos e bumbo, somados aos dois
com novos padrões formais e
tímpanos habituais. O pensamento
inusitado poder emocional.
orquestral de Beethoven excedeu os recursos dos instrumentos da época e
Entretanto, de maneira
sofreu desvantagens, por exemplo, no
geral, Beethoven não alterou
emprego das trompas e dos trompetes.
substancialmente a forma básica do
Ao contrário, seu uso do fagote e dos
gênero; apenas a Sexta Sinfonia (com
tímpanos mostrou-se particularmente
seus títulos descritivos) e a Nona
original. O tratamento beethoveniano
(com elementos de uma verdadeira
dos sopros, considerado excessivo
28 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
Beethoven compondo a Sinfonia Pastoral. (Autor desconhecido. Publicado no Almanach der Musikgesellschaft, 1834)
à época, causou espanto – alguns
entre eles, ciente de sua eficácia
críticos o condenavam pela inclusão
sobre os ouvintes.
de uma banda no domínio orquestral. Foi principalmente na busca da A grande novidade orquestral de
expansão do conteúdo espiritual
Beethoven, sobretudo a partir da
e emocional de suas obras que
Terceira Sinfonia, constitui-se no uso
Beethoven ampliou a arquitetura
de maciços blocos sonoros, realizados
formal da sinfonia. A própria natureza
através da separação dos timbres.
do pensamento composicional
Movimentando-os, o compositor
do compositor tornou quase
manipula com precisão seus ataques,
inevitável sua excelência no
a densidade, a potência, os contrastes
gênero, permitindo-lhe explorar
29 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
ao máximo as possibilidades
um discurso onde a exposição
expressivas da música puramente
dos temas e o desenvolvimento se
instrumental. E é interessante
apresentam em conjunto). Nesses
observar que, sob esse aspecto,
primeiros movimentos, o pensamento
o talento beethoveniano diferia
instrumental do compositor interfere
radicalmente das características da
principalmente na articulação das
personalidade deseu ídolo Mozart,
duas ideias constituintes da forma.
autor eminentemente teatral e vocal
Haydn frequentemente os relacionava,
em qualquer gênero que abordasse.
derivando o segundo do primeiro.
O músico de Bonn, em pleno século
Beethoven, ao contrário, valorizou a
XVIII, imbuído de um conceito
diferenciação entre o caráter dos dois
já romântico, empenhou-se em
temas principais pelo contraste
demonstrar que as formas
rítmico, instrumental e pela distância
puramente instrumentais seriam
das relações tonais entre eles.
capazes de exprimir ideais e
Explorando o conflito das ideias
sentimentos profundos.
antagônicas contidas em dois temas opostos, o compositor transforma
Quanto ao número de movimentos,
seus desenvolvimentos em um
Beethoven seguiu o modelo das
processo dialético de grande tensão.
sinfonias londrinas de Haydn (apenas
Os movimentos tornam-se assim
a Pastoral tem cinco movimentos,
necessariamente longos – a Eroica é
com os últimos três encadeados
muito mais longa e mais complexa
sem interrupção). Outra herança
do que qualquer sinfonia composta
haydniana são os prelúdios lentos, que,
antes dela, com o imenso primeiro
utilizados anteriormente em sonatas
movimento repleto de material
para piano do próprio Beethoven,
temático e extraordinária amplitude
iniciam as Sinfonias números 1, 2,
tonal. No final de cada primeiro
4 e 7. A Terceira usa apenas dois
movimento, a coda beethoveniana
acordes introdutórios. As Sinfonias 5
ganha proporções de um segundo
e 6 não têm introdução, e a Nona se
desenvolvimento, ressaltando a
inicia com dezesseis compassos que
última aparição do tema vitorioso
preparam nebulosamente a súbita
com insistentes afirmações tonais
explosão da primeira ideia.
(a Quinta, por exemplo, apresenta uma série bombástica de redundantes
Os primeiros movimentos das
acordes de tônica).
sinfonias de Beethoven estão escritos na forma de sonata clássica (com
Na sequência das várias seções
exceção da Nona, que apresenta
dos outros andamentos, há uma
30 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
Theater an der Wien, onde foram apresentadas muitas obras de Beethoven. (Gravura contemporânea)
lógica motriz que continuamente
moto é um conjunto de variações
impulsiona a música, construindo a
ligadas por misteriosas passagens
totalidade da obra como expressão
modulantes. A “Cena às margens
completa e única. Essa coerência
do riacho”, Andante molto mosso
interna, perceptível em cada uma
da Pastoral, abre espaço a algumas
das sinfonias, desde a Primeira
intenções descritivas e intervenções
até a Nona, acentua-se ainda mais
imitativas (o próprio Beethoven
pela ligação direta entre alguns
menciona na partitura o canto
movimentos (os dois últimos da
dos pássaros: a flauta se faz de
sinfonia 5 e os três últimos da 6).
rouxinol, o oboé imita a codorniz e o clarinete, o cuco). As duas
Os movimentos lentos mantêm, nas
sinfonias seguintes não possuem
sinfonias de Beethoven, o caráter
movimentos lentos: o Allegretto da
essencialmente melódico, mas
Sétima, com caráter de marcha,
se adaptam formalmente a uma
mantém em primeiro plano o
função bem determinada pelo
interesse rítmico que domina toda
contexto da obra – daí, portanto,
a sinfonia. O Allegretto scherzando
serem tão diferenciados (ou mesmo
da Oitava, deliciosamente divertido,
suprimidos). A visionária e trágica
traz um acompanhamento mecânico
Marcha fúnebre, Adagio assai da
para a saltitante melodia, provável
Terceira, talvez seja o movimento
homenagem a Mälzel, inventor do
lento mais célebre de todas as
metrônomo. Finalmente, o Adagio
sinfonias. Na Quinta, o Andante con
molto e cantabile, terceiro movimento
31 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
da Nona, tem uma forma comum aos
dos finais da Primeira e da Quarta
últimos quartetos do compositor –
sinfonias (que se inscrevem na
consiste em um lied de profundidade
tradição vienense) e o da Sexta (com
e intensidade inigualáveis, formado
seus títulos descritivos), os restantes
pela alternância de dois temas, suas
possuem uma tensão e um clímax
variações e interlúdios.
incontestáveis.
O movimento de dança dentro
Em 1824, em Viena, com a estreia da
da sinfonia sofre uma sensível
Nona Sinfonia, Beethoven assinalava
modificação em Beethoven. O
para o grande público mais uma
inevitável minueto das antigas
transformação em sua obra, após
sinfonias lhe parecia socialmente
solitário e prolongado silêncio de
obsoleto e bem acanhado
quase uma década – comentava-
musicalmente. O compositor
se que, surdo e mergulhado em
o substitui então pelo Scherzo,
problemas pessoais, ele se tornara
mantendo a mesma estrutura, ou seja,
incapaz de compor. Durante o
com o Trio intermediário e o retorno
concerto, realizado no dia 7 de maio,
da capo, mas com conteúdo diferente
o compositor ficou no palco, seguindo
– agitado, fantástico, impetuoso, livre
a partitura, enquanto o maestro
– e de dimensões maiores. Beethoven
Ignaz Umlauf regia a orquestra.
usou pouco o termo scherzo, mesmo
Ao final da sinfonia, Beethoven
para definir movimentos que
permaneceu imóvel; a cantora
claramente são scherzi. Nas sinfonias
Caroline Unger tomou-o pelo braço
usou-o apenas na Segunda e na
e virou-o de frente para o público,
Terceira, normalmente limitando-se
para que ele pudesse ver com que
à indicação do tempo.
entusiasmo era aplaudido.
O último movimento adquire, nas
Musicar o poema de Schiller era
sinfonias de Beethoven, notável
um antigo sonho do compositor.
importância, como ponto culminante
A leitura das Cartas sobre a educação
da construção musical. Com exceção
estética do homem fora decisiva
32 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
em sua reflexão sobre a função
à expressão mais intimista do
pública e o poder instrutivo da Arte
Romantismo – reduzindo as
para a sociedade e os indivíduos,
proporções dos movimentos
conduzindo-os a níveis mais elevados
intermediários, tomaram como
de comportamento e convivência.
modelo principalmente a Quarta e a Oitava. Em outra vertente, Berlioz
Depois do sucesso da estreia da Nona
e Liszt, muito influenciados pela
Sinfonia – com sua conclamação
Sexta, adotaram os programas
urgente e circunstancial pela
extramusicais para os poemas
fraternidade entre os homens –,
sinfônicos. A última grande sinfonia
o compositor, do alto de sua glória,
de Schubert, escrita sob o impacto
dispôs-se ainda a mudar seus códigos.
da Nona de Beethoven, aponta para
Retorna às técnicas contrapontísticas
o futuro e possui atributos comuns
bachianas, estuda a música
às obras posteriores de César Franck
renascentista e a harmonia modal.
(1822-1890), Anton Bruckner (1824-
Serenamente, desvencilhava-se da
1896) e Gustav Mahler (1860-1911),
tendência ao retórico, libertava-se
valorizando a tendência para a
dos efeitos fáceis e buscava sua
unidade cíclica e disposição formal
voz mais íntima e atemporal.
em amplos espaços harmônicos.
Derradeiras obras-primas de
Mesmo para os compositores
Beethoven, os últimos quartetos
contemporâneos, que adotam
e sonatas para piano pareceram
processos diametralmente opostos
incompreensíveis para seus
aos de Beethoven, suas nove sinfonias
contemporâneos e só a modernidade
permanecem imprescindíveis.
revelou-lhes toda a grandeza. Após Beethoven, os sinfonistas
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
românticos se viram diante de
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
um desafio. Em uma direção, Mendelssohn, Schumann e Brahms adaptaram a sinfonia
dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
33 FORA DE SÉRIE AS SINFONIAS DE BEETHOVEN
Início do manuscrito do Testamento de Heiligenstadt. Em um de seus retiros de verão, Beethoven, desesperado com a surdez crescente, escreveu uma carta sofrida aos dois irmãos, mas nunca a entregou.
36
37
38
FABIO MECHETTI, regente RONALDO ROLIM, piano
PROGRAMA
1
21 DE MARÇO ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA, OP. 124 CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15 Allegro con brio Largo Rondo: Allegro scherzando — INTERVALO —
SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21 Adagio molto – Allegro con brio Andante cantabile con moto Menuetto – Allegro molto e vivace Adagio – Allegro molto
39 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
Brasileira, Filarmônica de Minas Gerais, Sinfônica de Campinas, Sinfônica da USP e Sinfonia Cultura; na Europa, Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, Orchestra Sinfonica della Repubblica de San Marino e da Orquestra do Norte (Portugal); nos Estados Unidos, sinfônicas de Phoenix, Pontiac e Peabody. Um ávido camerista, é fundador do FOTO YI WANG
RONALDO ROLIM
Trio Appassionata e com o grupo gravou compositores dos Estados Unidos (Odradek Records). Ronaldo é convidado de festivais como Folle Journée, Accademia Musicale Chigiana, Ravinia Festival e Holland Music Sessions.
Com uma “especial capacidade de comover através de suas interpretações”
Nascido em 1986 em Votorantim, São Paulo, Ronaldo Rolim
(El Norte, Monterrey, México), o brasileiro
iniciou seus estudos musicais com a mãe, Miriam Correa, e
Ronaldo Rolim vem se firmando como
fez sua primeira apresentação pública aos quatro anos.
um dos músicos mais completos de
Bolsista integral da Fundação Magda Tagliaferro de São Paulo,
sua geração. Laureado em concursos
foi aluno de Zilda Cândida dos Santos e Armando Fava Filho.
no Brasil e exterior, recentemente
Após vencer os concursos Nelson Freire e Magda Tagliaferro,
ganhou o 1º lugar no Bösendorfer
estudou com Flavio Varani na Oakland University, Estados
International Piano Competition e o 2º
Unidos. Foi premiado como Outstanding Student in Piano
lugar no Concurso Internacional de Piano
Performance pela universidade e também pela Detroit Mu
República de San Marino.
Phi Epsilon Music Association. No Peabody Conservatory de Baltimore foi admitido na classe de Benjamin Pasternack e
Ronaldo se apresenta em recitais e
completou Bacharelado e Mestrado em Piano Performance e
concertos no Brasil, Estados Unidos,
o Artist Diploma. No conservatório, recebeu o Pauline Favin
México, Coreia do Sul, Portugal,
Memorial Award in Piano, o 1º Lugar no Harrison Winter
Espanha, Inglaterra, Holanda, Suíça,
Piano Concerto Competition, a Douglas and Hilda Goodwin
Itália e Áustria, em salas como
Scholarship for Chamber Music e o Presser Award. Ronaldo
Carnegie Hall, Steinway Hall, Seoul
vem estudando com alguns dos mais distintos músicos da
Arts Cente, Thêatre de Vevey, Friedberg
atualidade, como Leon Fleisher, Richard Goode, Menahem
Hall, além das mais importantes salas
Pressler, Jeremy Denk e Lilya Zilberstein. Em 2014, foi um dos
brasileiras. É solista convidado de
poucos pianistas selecionados para o programa de Doutorado
diversas orquestras, como a Sinfônica
da Yale School of Music, onde estuda com Boris Berman.
40 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
ABERTURA A CONSAGRAÇÃO DA CASA, OP. 124 1822 | 11 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 15 1798 | 36 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
A
Abertura A Consagração da Casa integrava a música de cena que Beethoven compôs para a peça teatral homônima do escritor Carl Meisl, apresentada nas festividades de
reinauguração do Teatro de Viena, em outubro de 1822. É a última das onze Aberturas de Beethoven, contemporânea de obras severas e de grande fôlego, como a Missa Solemnis, a Nona Sinfonia, as Variações Diabelli e as três derradeiras
SINFONIA Nº 1 EM DÓ MAIOR, OP. 21 1799/1800 | 23 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
Sonatas para piano. A ocasião festiva exigia, evidentemente, uma música mais leve. Beethoven tomou então como modelo a forma barroca das ouvertures de Haendel, compositor que muito admirava, para compor uma introdução lenta e majestosa (com seus característicos ritmos pontuados, à francesa), seguida de um Allegro (dominado por uma engenhosa fuga dupla). Independente de sua gênese, a Abertura manteve-se no repertório e foi reapresentada em maio de 1824, no concerto de estreia da Nona Sinfonia. Três anos depois, morria o compositor, aos 56 anos. Beethoven fixara-se em Viena aos 22 anos e, inicialmente, foi como pianista que ele se afirmou frente à sociedade vienense. Algumas obras dessa fase apresentam o jovem compositor buscando a admiração do público e de seus patronos. Os dois primeiros concertos para piano se incluem nesse propósito (e logo seriam julgados “ultrapassados” pelo próprio compositor). A publicação, em 1801, inverteulhes a ordem – o Concerto em Dó maior nº 1 foi o segundo concluído, e sua partitura já apresenta inegáveis detalhes beethovenianos. No Allegro con brio inicial, a longa introdução orquestral expõe os dois temas principais, sobre os quais o piano desenha
41 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
ornamentos em terças ascendentes e
ideais. Uma introdução, Adagio molto,
descendentes. O movimento central,
abre a partitura com inesperado acorde
Largo, é um lied dominado inteiramente
dissonante (sétima da dominante de
pelo solista. O piano se responsabiliza
Fá maior). Esse começo em tonalidade
pela condução melódica, pelos períodos
incorreta foi considerado muito audacioso
de transição e pela ornamentação.
e reprovado pela crítica da época. A
A orquestração valoriza o clarinete
indecisão tonal dos acordes iniciais
solo, pontuando um clima delicado e
persiste por quatro compassos,
intimista. O final, Allegro scherzando,
mascarando a tonalidade principal, até
é um rondó formado pelo refrão e duas
que uma escala descendente das cordas
coplas. Possui surpreendente entusiasmo
conduz ao primeiro tema do Allegro con
rítmico, certa rudeza de ataques e
brio. Apresentado pelos primeiros
contratempos, concluindo a partitura em
violinos no registro grave, esse tema,
clima de humor e alegria.
com seu ritmo enérgico, lembra o começo da Sinfonia Júpiter de Mozart.
Beethoven tocou o Concerto nº 1 no
O segundo tema (Sol maior) tem caráter
Teatro Imperial de Viena, a 2 de abril
melódico e é formado por um diálogo do
de 1800; no mesmo programa, regeu
oboé com a flauta, sobre arpejos das
a estreia de sua primeira sinfonia.
cordas. Há um momento mais reflexivo,
Tinha então trinta anos e, mesmo
quando o fagote desce à tonalidade
reconhecendo sua dívida enorme para
menor, servindo de base para um
com Haydn e Mozart, não se via
contraponto triste desenhado pelo oboé.
apenas como um talentoso imitador.
Mas a alegria do primeiro tema reaparece e empresta seus elementos para as
A Sinfonia nº 1 revela um artista
passagens imitativas que constroem o
inquieto, em busca de seus próprios
desenvolvimento. Uma vigorosa coda
42 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
de 38 compassos conclui o movimento
nas madeiras e passagens de notas
com insistente afirmação tonal.
rápidas nos violinos.
O Andante cantabile con moto também
O Finale inicia-se de maneira engenhosa:
tem forma sonata, com dois temas
o Adagio de seis compassos apresenta
principais. O primeiro recebe um
uma série de partidas em falso dos
tratamento quase fugato – apresentado
primeiros violinos – trata-se de uma
pelos segundos violinos e imitado
escala de Dó maior, retomada cinco
primeiramente pelas violas e violoncelos,
vezes, a cada vez ganhando um grau –
depois pelos fagotes e contrabaixos. O
até formar a escala completa. Essa dá
segundo tema caracteriza-se pelas notas
acesso ao primeiro tema do Allegro molto,
repetidas e pontuadas, intercaladas com
de contagiante alegria, com suas notas
pausas. Durante todo o movimento é dado
em staccato. O segundo tema, em Sol
um papel de destaque para os tímpanos.
maior, tem um caráter mais dançante. O desenvolvimento fundamenta-se,
O Menuetto: allegro molto e vivace,
sobretudo, em fragmentos do primeiro
certamente o movimento mais
tema. A coda, com um ritmo de marcha,
original da sinfonia, é, de fato, o
destaca as trompas e os clarinetes e
primeiro dos característicos scherzi
conduz a um final luminoso.
sinfônicos beethovenianos. O tempo é bem mais rápido do que o de um minueto tradicional e seu tema possui um formidável impulso ascendente, cujo dinamismo contamina todo o andamento. O Trio central é igualmente original, com belos blocos de acordes
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
43 FORA DE SÉRIE 21 DE MARÇO
44
FABIO MECHETTI, regente SONIA RUBINSKY, piano
PROGRAMA
2
11 DE ABRIL A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133 CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 19 Allegro con brio Adagio Rondo: Molto Allegro — INTERVALO —
SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36 Adagio molto – Allegro molto Larghetto Scherzo Allegro molto
45 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
Elogiada por Arthur Rubinstein e
foi nomeado para o Grammy Awards, e o quinto foi Editor’s
Murray Perahia, Sonia começou sua
Choice da revista Gramophone.
carreira no Brasil, seu país natal. Estudou sete anos em Israel, na
Sua discografia solo inclui obras de Mozart, Scarlatti, Debussy,
Rubin Academy, e posteriormente em
Messiaen, Mendelssohn (Canções sem Palavras, integral). Foi
Nova York, cidade onde, em 1984,
dedicatária de várias obras, entre elas as Cartas Celestes XII
recebeu o 1º Prêmio do concurso Artists
(2000) e a Sonata para Violoncelo e Piano (2004), ambas de
International de New York e o título de
Almeida Prado, sendo a última junto com Antonio Meneses.
Doctor of Musical Arts pela Juilliard School. Atualmente, reside em Paris.
Por três vezes recebeu o Prêmio Carlos Gomes – em 2006 na categoria Pianista do Ano e, em 2009 e 2012, como
Recitalista nas grandes salas de
Instrumentista do Ano.
concerto nova-iorquinas, como Carnegie Hall, Weill Recital Hall,
Nomeada por Murray Perahia como artista residente no
Alice Tully Hall, Merkin Hall e Miller
Edward Aldwell Center, em Jerusalém, ministra regularmente
Theatre, Sonia Rubinsky tem se
masterclasses neste centro. Também atua no Jerusalem
apresentado nos Estados Unidos, Israel,
Music Center, a pedido do maestro Perahia, desenvolvendo
Europa e Brasil. Solicitada como solista
cursos de Análise para Performers.
de orquestra, já se apresentou com a Osesp, Orquestra de St. Luke’s, OSB, Sinfônica de Jerusalém, Filarmônica de Minas Gerais, entre outras. Sonia Rubinsky foi vencedora do Grammy Latino 2009 de Melhor Álbum de Música Clássica com o oitavo volume da integral da obra para piano de Heitor Villa-Lobos, selo Naxos (1994/2007, Estados Unidos, Canadá, França). Mais de dez anos de pesquisa, em estreita colaboração com o Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, fazem dessa integral a mais completa jamais
SONIA RUBINSKY
gravada, incluindo várias peças inéditas
46 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
FOTO GUY VIVIEN
e a mais premiada – o primeiro volume
A GRANDE FUGA EM SI BEMOL MAIOR, OP. 133 1825 | 16 min Cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 19 1795, revisões 1798 e 1801 | 29 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
F
oi apenas a partir de 1798 – ano de composição da Sonata Patética e em que aparecem os primeiros sinais de sua progressiva surdez – que Beethoven voltou decididamente sua
atenção para os quartetos de cordas. Esse fato não é difícil de explicar: ao chegar pela segunda vez a Viena, para
SINFONIA Nº 2 EM RÉ MAIOR, OP. 36 1802 | 34 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
estudar com Haydn, este já havia composto uma série muito importante de obras do gênero e preparava outras três séries de quartetos, lançadas em 1791 e 1793, antes mesmo de Beethoven começar a compor os seis quartetos op. 18. Além disso, havia também o legado de Mozart a enfrentar.
tímpanos, cordas.
É compreensível, portanto, que Beethoven tivesse priorizado outros gêneros. No entanto, trabalhou desde 1790 em exercícios de composição usando aquela formação camerística. O fato de que quase todos esses exercícios lidem com a linguagem contrapontística também não é de se estranhar. Mostra-nos Nicholas Marston que “para o quarteto, como veículo, a importância de uma técnica contrapontística fluente, a capacidade de contrastar e combinar muitas vozes polifônicas, necessita pouca explicação” (Barry Cooper). Daí, talvez, a presença da fuga em diversos movimentos dos quartetos de Beethoven. Para citar apenas alguns exemplos, o movimento final do op. 59 nº 3, o primeiro movimento do op. 131 e, é claro, a Grande Fuga. Para, porém, falar desta obra monumental, é preciso lembrar as investidas criativas que Beethoven já realizara nos quartetos op. 59 (intitulados Razumovsky porque dedicados ao Conde Andrei Razumovsky, diplomata russo residente em Viena e mecenas de Beethoven). Neles, Beethoven exibe um aprofundamento de seu estilo, ampliando as dimensões
47 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
de cada um dos movimentos e
por outro movimento, por razões não
trabalhando muitas vezes o quarteto de
esclarecidas. O fato é que, mesmo
cordas em uma concepção sinfônica.
sem ela, o quarteto já tem proporções
Pode-se considerar a série dos seis
monumentais. Por isso é improvável
últimos quartetos de Beethoven como
que a razão tenha sido a indiferença do
um dos mais genuínos exemplos da
público diante de sua estreia. Dizem
linguagem de sua última fase. Neles,
as más línguas, porém, que Beethoven
a preocupação com a fuga e com a
cogitou publicá-la separadamente,
variação (no caso da Grande Fuga,
na forma original ou em versão
a presença de ambas as técnicas), o
para piano a quatro mãos, a fim de
contraste de atmosferas e andamentos
angariar uma renda extra. Qualquer
muito distintos em um mesmo
que tenha sido o motivo, a peça foi
movimento e, ainda, a exploração
desvinculada do quarteto (embora
de texturas instrumentais até então
hoje algumas execuções voltem a
inusitadas revelam um Beethoven tão
incluí-la) e transformada em obra
abstrato que essas obras lhe valeram
separada... que se sustenta por si só.
severas críticas: considerava-se que o
A concepção orquestral no trabalho de
grande Beethoven estava perdendo
seus quartetos de cordas, inaugurada
o seu estilo.
com os Razumovsky, aparece, aqui, em grau exponencial. Por isso, é legítima
Nesse grupo, há nitidamente o
a proposta de executá-la com uma
compartilhamento de material temático
formação orquestral completa.
entre as obras: notem-se, por exemplo, as semelhanças entre os temas
Composta em 1825, A Grande Fuga
e motivos do primeiro e último
foi publicada separadamente em
movimentos do op. 131, do primeiro
1827, dois meses após a morte de
movimento do op. 132 e da própria
Beethoven, tanto em versão para
Grande Fuga. Por isso, é de se
quarteto de cordas quanto para
considerar que Beethoven tenha
piano a quatro mãos. Estreada em
concebido toda a série com uma
1826, em Viena, como movimento
unidade subjacente.
final do quarteto op. 130, ela não voltou a ser executada até 1853, em
A Grande Fuga foi composta
Paris. Obra de grande complexidade,
inicialmente como movimento final do
repleta de contrastes e que revela um
quarteto op. 130, segundo da série.
trabalho contrapontístico e temático
Mais tarde, após a primeira execução
de habilidade rara e técnica muito
da obra, o compositor substituiu-a
avançada, talvez mesmo em confronto
48 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
com a Nona Sinfonia, é o exemplo
O Segundo Concerto para Piano
mais impactante da abstração e da
foi composto entre 1787 e 1789,
transcendência que Beethoven atinge
sete anos, pois, antes do início
em sua última fase.
da composição do primeiro, mas publicado depois deste. Por isso,
Bem diferentes são a Segunda
Beethoven e a posteridade o
Sinfonia e o Segundo concerto para
consideraram o segundo. Ele foi
piano. Ambos revelam nitidamente a
crucial para afirmar Beethoven em
personalidade musical de Beethoven,
Viena como instrumentista e como
mas mostram-no ainda um tanto
compositor: sua estreia se deu em
intimidado pelos padrões clássicos,
29 de março de 1795, no
formal, estrutural, timbrística e
Burgtheater, tendo o autor como
tematicamente. Ambas as obras são
solista. Escrito nos moldes clássicos,
características de sua primeira fase.
bem à maneira dos concertos de
A Sinfonia, entretanto, já mostra
Mozart, a obra, no entanto, já revela
claramente o afastamento de
os contrastes e certos aspectos
Beethoven da ascendência de Haydn.
dramáticos que marcarão o
É tida como uma das últimas obras
Beethoven da fase seguinte.
desse período. Notam-se nela, por
Embora estreado em Viena, apenas
isso, algumas particularidades:
o último movimento (em que revela
Beethoven já substitui, aí, o minueto
forte ascendência de Haydn) foi
clássico pelo scherzo. “Plena de ideias
composto nessa cidade. Os dois
novas, originais e poderosas” é como
primeiros datam de quando Beethoven
a descreve em 1804 um crítico do
ainda residia em Bonn. A cadência
Musikalische Zeitung de Leipzig. Talvez
do primeiro movimento – de grande
por isso mesmo ela tenha sido um
virtuosismo – foi composta bem
choque em sua estreia, antecipando a
depois do concerto propriamente
Heroica, que haveria de vir.
dito: em caráter e estilo, ela já revela um Beethoven de fases posteriores,
A obra foi terminada no verão de 1802,
anunciando aquilo que assombraria
durante a estada de Beethoven em
o mundo.
Heiligenstadt. Em outubro do mesmo ano, ele escreve o patético Testamento, que comprova a consciência trágica da sua ainda incipiente surdez. A Segunda Sinfonia foi estreada em cinco de abril de 1803 no teatro An der Wien.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
49 FORA DE SÉRIE 11 DE ABRIL
50
FABIO MECHETTI, regente NATASHA PAREMSKI, piano
PROGRAMA
3
23 DE MAIO ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115 CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37 Allegro con brio Largo Rondo: Allegro — INTERVALO —
SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55, “EROICA” Allegro con brio Marcia funebre: Adagio assai Scherzo: Allegro vivace Finale: Allegro molto
51 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
Minnesota e Orquestra NAC em Ottawa. Realizou turnês na Europa com a Filarmônica Real, Sinfônica Bournemouth, Tonkünstler de Viena, Nacional Real Escocesa, orquestras de Bretagne e de Nancy, Filarmônica Real de Liverpool, Tonhalle Orchester em Zurique e Filarmônica de Moscou, com maestros como Peter Oundjian, Andres Orozco-Estrada, Jeffrey Kahane, James Gaffigan, Dmitri Yablonski, Tomas Netopil, JoAnn Falletta, Yuri Botnari, Fabien Gabel, Andrew Litton. Também viajou com Gidon Kremer e a Kremerata Baltica e tocou com a FOTO ANDREA JOYNT
NATASHA PAREMSKI
Sinfônica Nacional de Taiwan. Entre outras salas, fez recitais no Wigmore Hall de Londres, o Auditorium du Louvre, Schloss Elmau, Seattle Meany Hall, Teatro Lensic em Santa Fé, Teatro Colón de Buenos Aires, Musashino Performing Arts Center em
Com performances marcantes e
Tóquio, além dos mais importantes festivais.
dinâmicas, a pianista de 26 anos Natasha Paremski revela um virtuosismo
Seu repertório na nova música é crescente. Por sugestão do
impressionante e habilidades
compositor, interpretou o Concerto para Piano de John Corigliano
interpretativas vorazes. Em temporada
com a Sinfônica do Colorado; tem executado peças de Fred
recente, sua gravação de obras de
Hersch e estreou sonata escrita para ela por Gabriel Kahane.
Tchaikovsky e Rachmaninov com a Royal Philharmonic Orchestra e o maestro
Nascida em Moscou, Natasha mora nos Estados Unidos
Fabien Gabel foi saudada como uma
desde criança. Iniciou seus estudos de piano aos quatro
"performance eletrizante e poderosa"
anos com Nina Malikova na Escola de Música Andreyev,
(The Herald). Seu álbum solo, lançado
em Moscou. Estudou no Conservatório de Música de San
anteriormente, estreou em nono lugar
Francisco e no Mannes College of Music, onde formou-se
na parada Billboard Classical Tradicional.
com Pavlina Dokovska.
Natasha já tocou com muitas das
Estreou aos nove anos com a El Camino Youth Symphony, na
principais orquestras da América do
Califórnia; aos quinze apresentou-se com a Filarmônica de
Norte, incluindo a Sinfônica de Dallas,
Los Angeles e gravou dois discos (Bel Air) com a Filarmônica
a Filarmônica e a Orquestra de Câmara
de Moscou, sob condução de Dmitry Yablonsky e participação
de Los Angeles, as sinfônicas de
de Anton Rubinstein. Aos dezoito anos recebeu o prêmio
San Francisco, San Diego, Toronto,
Gilmore Young Artists, seguindo-se o Montblanc Prix, o
Baltimore, Houston, Nashville, Virginia,
Orpheum Stiftung e Jovem Artista do Ano da Fundação
Oregon e do Colorado, Orquestra de
Classical Recording.
52 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
ABERTURA NAMENSFEIER, OP. 115 1814/1815 | 12 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM DÓ MENOR, OP. 37 1799/1803 | 35 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
A
Abertura Zur Namensfeier (Para o Dia do Onomástico) foi composta entre os anos 1814 e 1815. A estreia se deu em Viena, em 1815, provavelmente no concerto de caridade do
dia 25 de dezembro, na Redoutensaal, quando Beethoven apresentou, também, a cantata Meeresstille und glückliche
Fahrt (Mar calmo e viagem feliz) e o oratório Christus am
SINFONIA Nº 3 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 55, “EROICA” 1802/1804 | 45 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 3 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
Oelberge (Cristo no Monte das Oliveiras). A tradição de se comemorar o dia do onomástico era prática corrente nos países de tradição católica, nos séculos XVIII e XIX. Assim, sabemos por uma nota de Beethoven, na partitura original, que a obra era inicialmente destinada a ser executada no dia 4 de outubro daquele ano (1814), dia de São Francisco de Assis, "na noite do onomástico de nosso Imperador”. O Imperador era Francisco I da Áustria, pai da jovem princesa Leopoldina, futura esposa de D. Pedro I e futura Imperatriz do Brasil. Mas a composição não ficara pronta a tempo de servir à comemoração. A Abertura, em Dó maior, após brevíssima introdução marcial e festiva, é construída em fortes contrastes entre a célula rítmica dominante e suaves e curtos motivos melódicos, ligados por grandes crescendos e diminuendos, linhas ascendentes e descendentes. Composto entre 1799 e 1803, o Concerto para piano e orquestra nº 3, em dó menor, foi estreado em Viena, no Theater an der Wien, no dia 5 de abril de 1803, tendo o próprio compositor como solista. Trata-se de uma das poucas peças da primeira fase de Beethoven – os anos de juventude – a gozar de uma aceitação ampla por parte tanto dos músicos como do grande público. Provavelmente não apenas
53 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
pela beleza evidente de seus temas,
orquestra pontua seus temas aqui e ali.
mas também pelo fato de ser uma peça
Quando a música parece terminar em
chave que serve como referência para a
pianissimo, Beethoven nos surpreende
compreensão do conjunto de sua obra.
com um ataque final. O tema principal
O Concerto para piano nº 3, único
do terceiro movimento (Rondo – Allegro),
escrito em modo menor, deixa para trás
um tema agitado, é logo ouvido ao
o estilo mozartiano até então adotado
piano. Após reapresentações e
por Beethoven, ao mesmo tempo em
desenvolvimentos temáticos, o
que aponta para os novos horizontes
Concerto se encerra com uma das
que seriam ainda conquistados.
codas mais brilhantes de todos os concertos beethovenianos.
O primeiro movimento (Allegro con brio) contém grande força dramática,
A Sinfonia nº 3, "Eroica", é um marco
resultante dos meios expressivos que
fundamental de toda a produção
o compositor utiliza na primeira ideia e
sinfônica do século XIX. Com ela
no contraste entre os temas. Inicia-se
Beethoven altera não apenas o modo
com a exposição do primeiro tema,
como uma obra deveria ser apreendida,
pela orquestra. O segundo tema será
como o público a quem ela se destina.
logo executado pelos clarinetes. O
Se, antes, o gênero sinfônico servia de
piano apresenta o material antes ouvido
entretenimento, dentro de um ambiente
na orquestra. Após intenso diálogo
aristocrático e, de certa forma,
entre solista e orquestra, o piano
controlado, com a Terceira Sinfonia
executa uma cadenza virtuosística e o
Beethoven compõe uma música que se
movimento termina majestosamente.
destina a toda a humanidade. Trata-se da mais longa e mais complexa das
O piano inicia, sozinho, o segundo
sinfonias até então compostas por
movimento (Largo), para o qual
qualquer autor. Ao expandir os limites
Beethoven escolhe com ousadia
do gênero, Beethoven acaba renovando
inusitada a luminosa tonalidade de
a linguagem sinfônica ao ponto de sua
Mi maior. Com extrema delicadeza, a
nova sinfonia exigir um público mais
54 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
ativo e crítico, o contrário do público
vivace) é um Scherzo rápido e alegre.
habitual da época. Com isso, a música
O Finale (Allegro molto) é um
deixa de ser apenas música e passa a
conjunto de variações sobre dois
ser, também, objeto de reflexão.
temas: o primeiro, uma singela linha melódica exposta pelos contrabaixos,
Composta entre 1802 e início de 1804,
e o segundo, apresentado pelo
a primeira apresentação pública se deu
naipe das cordas, é uma melodia
no dia 7 de abril de 1805, no Theater
de caráter popular.
an der Wien, em Viena, sob a regência do compositor, no concerto beneficente
Quando Beethoven recebeu a notícia
organizado pelo violinista Franz Clement.
de que Napoleão havia coroado a si
A obra já havia sido apresentada
próprio imperador, rasgou o
numerosas vezes em concertos
frontispício da Sinfonia, que continha
privados, especialmente naqueles
os dizeres “Intitulata Bonaparte”.
organizados pelo Príncipe Franz Joseph
O subtítulo – Heroica – que hoje
von Lobkowitz em seu palácio.
conhecemos foi cunhado em 1806, quando, na primeira edição, a
O primeiro movimento (Allegro con
referência direta a Napoleão foi omitida
brio) é grandioso em suas dimensões
e a Sinfonia ganhou então o seguinte
e no material musical que porta. Nele,
epíteto: “Sinfonia eroica composta
as ideias temáticas são germinadas
per festeggiare il sovvenire di un
uma a partir da outra, ao invés de se
grand’uomo”. Os ideais revolucionários
encadearem por contraste ou
que tinham estado por trás de sua
oposição. O segundo movimento
composição continuavam acesos.
(Marcia funebre – adagio assai) é dividido em duas seções. A primeira é a marcha fúnebre propriamente dita, enquanto a segunda, com seu caráter
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de
fugato, é nobre e de uma intensidade
Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos
ímpar. O terceiro movimento (Allegro
floridos não voam e Música menor.
55 FORA DE SÉRIE 23 DE MAIO
56
ROBERTO TIBIRIÇÁ, regente convidado CRISTINA ORTIZ, piano
PROGRAMA
4
20 DE JUNHO AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58 Allegro moderato Andante con moto Rondo: Vivace — INTERVALO —
SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60 Adagio – Allegro vivace Adagio Menuetto: Allegro vivace – Trio: Un poco meno allegro Allegro ma non troppo
57 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
de São Bernardo do Campo, regente titular da Sinfônica de Minas Gerais e da Ossodre, de Montevidéu, Uruguai. No Rio de Janeiro, onde realizou várias primeiras audições, foi eleito pela crítica Músico do Ano de 1995. Na Orquestra Petrobras Pró Música (hoje Petrobras Sinfônica) teve elogiadas FOTO DIVULGAÇÃO
ROBERTO TIBIRIÇÁ
iniciativas para divulgação e estímulo à música brasileira, como concertos com repertório de compositores nacionais contemporâneos e concursos para jovens solistas, jovens regentes e jovens compositores. Com a orquestra, Tibiriçá
Nascido em São Paulo, Roberto Tibiriçá
gravou dois CDs de obras brasileiras, sendo um deles – com
recebeu orientações de Guiomar
peças de Villa-Lobos e Hekel Tavares e Arnaldo Cohen ao
Novaes, Magda Tagliaferro, Dinorah de
piano – considerado um dos melhores de 2003. Dirigida por
Carvalho, Nelson Freire, Gilberto Tinetti
Tibiriçá, a orquestra recebeu duas vezes o Prêmio Carlos
e Peter Feuchwanger. Foi discípulo do
Gomes de Melhor Conjunto Orquestral.
maestro Eleazar de Carvalho. A convite da própria artista, participou do Festival Martha Duas vezes vencedor do concurso
Argerich, em Buenos Aires, no Teatro Colón, regendo Martha e,
Jovens Regentes da Orquestra Sinfônica
em outra ocasião, a Filarmônica de Buenos Aires com o pianista
do Estado de São Paulo, foi maestro
Nelson Freire. Há alguns anos é convidado para o Festival
convidado da orquestra por dezoito anos.
Villa-Lobos, na Venezuela, regendo concertos com a Orquestra
Foi regente assistente no Teatro Nacional
Simón Bolívar. Entre muitos outros artistas, trabalhou também
de São Carlos, em Lisboa, Portugal, e
com Barry Douglas, Lilyan Zilberstein, Sergio Tiempo, Joshua
em 1994 tornou-se diretor artístico da
Bell, Shlomo Mintz, Stefan Jackiw, Erik Schumann, Frederieke
Orquestra Sinfônica Brasileira. Também
Saeijs, David Aaron Carpenter, Gabriela Montero, Antonio
foi diretor artístico e regente titular da
Meneses, Mikhail Rudy, Jean-Louis Steuerman, Boris Belkin,
Orquestra Petrobras Pró Música e diretor
Dmitry Sitkovetsky, Mariana Ortiz, Geza Hosszu-Legocky.
artístico da Sinfônica Heliópolis/Instituto Baccarelli, cujo patrono é o maestro
Desde 2003 Tibiriçá ocupa a Cadeira nº 5 da Academia
Zubin Mehta. Ocupou ainda os cargos
Brasileira de Música. Conquistou o Prêmio Carlos Gomes
de regente titular e diretor artístico da
duas vezes como Melhor Regente Sinfônico e o Prêmio da
Sinfônica de Campinas e da Filarmônica
Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
58 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Filarmônica de Hong Kong, a Sinfónica del Principado de Asturias e com a Staatstheater Kassel. Destaques em próximas temporadas incluem estreias com as orquestras filarmônicas do Catar e Nacional da Hungria, a Haydn Orchestra Bolzano and Trento, a Orquestra Presidencial New West Symphony, bem como
FOTO SUSSIE AHLBURG
recitais no Southbank Centre – na Série Internacional de Piano – e também por todo o Reino Unido e França.
CRISTINA ORTIZ
Cristina Ortiz gravou cerca de trinta álbuns com uma ampla gama de repertório pelos selos EMI Classics, Decca, Collins Classics, Intrada, Naxos e BIS. Sua mais recente gravação
A musicalidade natural de Cristina Ortiz,
para o selo Naxos, em parceria com o Fine Arts Quartet, é de
sua arte magistral e seu compromisso
música de câmara de Saint-Saëns, sobre a qual The Observer
com uma performance sempre refinada
publicou: "Cristina Ortiz foi extraordinária na execução da
garantiram-lhe um lugar entre os
composição para piano do Quinteto em lá menor e no feroz
pianistas mais respeitados do mundo.
segundo movimento do Quarteto em si bemol maior". Seu
Ao longo de sua extensa carreira, ela
álbum anterior, de música de câmara por Franck, foi nomeado
se apresentou com as filarmônicas
Escolha do Editor da revista Gramophone. Sua gravação da
de Berlim e Viena, com a Sinfônica
música de câmara de Fauré foi descrita pela mesma revista
de Chicago e com as orquestras
como "simplesmente a melhor: uma versão sem rival, o ponto
Filarmônica e Real do Concertgebouw,
forte do catálogo". Pela Naxos, Ortiz lançou a gravação de
entre muitas outras. Ortiz colaborou
peças solo para piano compostas por York Bowen.
também com maestros como Neeme Järvi, Mariss Jansons, Kurt Masur,
Cristina Ortiz é também uma professora dedicada e
André Previn e David Zinman.
comprometida, dando aulas por todo o mundo.
De posse de uma técnica notável e
Ela começou seus estudos em sua terra natal, Brasil, antes
um agudo senso de aventura musical,
de se mudar para Paris com uma bolsa de estudos, onde
particularmente evidente em seu amplo
trabalhou com Magda Tagliaferro. Depois de ganhar uma
repertório, Ortiz é uma artista popular
medalha de ouro na terceira competição Van Cliburn, no Texas,
entre produtores e público de todo o
dedicou-se a completar um período de aulas sob a orientação
mundo. Trabalhou recentemente com
do lendário Rudolf Serkin no Curtis Institute of Music, na
a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar,
Filadélfia, antes de escolher fixar residência em Londres.
59 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
AS CRIATURAS DE PROMETEU, OP. 43: ABERTURA 1801 | 5 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 4 EM SOL MAIOR, OP. 58 1805/1806 | 34 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
B
eethoven escreveu a música para o balé As Criaturas de Prometeu, de Salvatore Viganò, entre a composição de suas duas primeiras sinfonias. A música de cena, por princípio,
deveria ser mais fácil do que a destinada às salas de concerto, e o Prometeu mostra Beethoven explorando efeitos orquestrais que jamais apareceriam em suas sinfonias.
SINFONIA Nº 4 EM SI BEMOL MAIOR, OP. 60 1806 | 33 min
Porém, mais tarde, ele usaria material do balé nas Variações para piano op. 35 e no Finale da Sinfonia Eroica. A Abertura op. 43 é construída com um exuberante Allegro, precedido de pequena introdução.
Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
No percurso entre o balé Prometeu e o Concerto para piano nº 4, Beethoven deixará de ser um jovem compositor talentoso para se impor como grande mestre inovador. O Concerto op. 58, em Sol maior, abre um novo capítulo na história desse gênero. O Allegro moderato é notável por começar somente com o piano, a descoberto. Sua serena frase inicial determina o caráter expressivo de todo o movimento. Inúmeras ideias secundárias aparecem; as modulações levam a distantes regiões harmônicas; a estrutura sincopada dos dois temas é explorada à exaustão – mas a arte de Beethoven sempre encontra o melhor caminho; e o primeiro movimento, apesar da variedade de seus elementos, permanece essencialmente lírico. No segundo movimento, Andante con moto, em mi menor, Beethoven estabelece um impressionante diálogo entre as cordas e o piano. Inicialmente, a orquestra domina, impondo um discurso áspero e resoluto; o solista responde tímido e submisso. Gradualmente, entretanto, as frases delicadas do
60 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
piano reduzem a agressividade das
a nota tônica Si bemol, enquanto
cordas. No final, a voz da orquestra se
as cordas desenvolvem figurações
resume a uma lembrança em pianissimo
tateantes, como que inseguras da
e o solista tem a última palavra.
tonalidade. Os primeiros violinos prosseguem em pizzicato e toda a
Sem interrupção, passa-se ao terceiro
passagem produz um efeito curioso,
movimento, Rondo vivace, que
entrecortado, ofegante, até chegar
começa em Dó maior. A orquestra, a
ao tutti com um acorde de sétima
princípio cautelosa, apresenta o tema.
da dominante. Só então a orquestra
O piano logo o adota, demonstrando
liberta o Allegro vivace, cujos principais
que todas as oposições anteriores
motivos são constituídos de fragmentos
foram suplantadas. Piano e orquestra
retirados da própria introdução. O
formam um todo cheio de contrastes
primeiro tema é uma melodia saltitante
e o virtuosismo do solista se insere no
exposta no staccato dos primeiros
contexto sinfônico. O movimento lembra
violinos. O segundo tema é apresentado
às vezes uma marcha, característica
pela flauta, oboé e fagote com um
que se acentua pelo uso dos trompetes
desenho de terças descendentes que
e dos tímpanos.
logo se reafirma em delicioso diálogo canônico entre o clarinete e o fagote.
No mesmo ano do Concerto op. 58,
Antes da reexposição do tema principal,
Beethoven compôs a Sinfonia nº 4, que
há uma notável passagem de transição
tem um clima otimista, completamente
– inacreditáveis e longínquos rufos
diverso do espírito dramático da Eroica
dos tímpanos mantêm, durante vários
e da Quinta. Ela reflete sentimentos
compassos, um longo trêmulo, sempre
intimistas, com um aparato discreto.
em pianíssimo.
Entretanto, suas inovações e maestria desmentem qualquer afirmativa de ser
O belíssimo segundo movimento, Adagio,
uma sinfonia menor.
possui o caráter de um longo lied, com melodias amplas e flexíveis.
A longa introdução, Adagio, começa
A figura rítmica apresentada no
com flauta, clarinetes, fagotes e
primeiro compasso pelos segundos
trompas sustentando, em oitavas,
violinos servirá de fundo para todo o
61 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
movimento. Reaparecerá em diversos
O quarto movimento, Allegro ma non
instrumentos, tratada em ostinato
troppo, mostra um bom humor irresistível
por todas as estantes. Sobre ela, o
desde o torvelinho sinuoso do arabesco
primeiro tema é exposto em cantabile
inicial. O primeiro tema, enunciado pelos
pelos primeiros violinos. O segundo
violinos, é retomado pelas madeiras. O
tema será apresentado pelo clarinete.
oboé apresenta em Fá maior o segundo
A coda recorda o tema principal na
tema, dolce, bastante haydniano. Mas
suavidade das madeiras. Após um
todos os engenhosos pormenores do
fortíssimo orquestral sucede um
desenvolvimento são puro Beethoven.
repentino silêncio... E os tímpanos em
Na coda, o tema inicial é retomado
pianíssimo fazem ouvir, pela última vez,
pelos primeiros violinos, em seguida
a mesma figuração inicial das violas.
entregue ao fagote, depois aos segundos
Um crescendo conduz ao tutti de dois
violinos e às violas. Essas mudanças
acordes conclusivos.
instrumentais da linha melódica são retidas por fermatas que seguram sua
O Allegro vivace é um duplo scherzo (A)
marcha, tornando-a cada vez mais
em que o Trio (B) também se repete,
lenta. Subitamente, o tema retoma
seguindo a forma A, B, A, B, A.
sua vivacidade habitual e as vigorosas
O tema do scherzo constrói-se
cadências em tutti fecham a sinfonia.
sobre acordes quebrados e cria uma interessante ambiguidade rítmica, pois o habitual compasso ternário é aqui frequentemente deslocado por um acento binário. O tema do trio, Un poco meno allegro, evoca uma dança campestre.
62 FORA DE SÉRIE 20 DE JUNHO
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
63 FOTO EUGÊNIO SÁVIO
FABIO MECHETTI, regente JEAN-LOUIS STEUERMAN, piano
PROGRAMA
5
15 DE AGOSTO ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138 CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 73, “IMPERADOR” Allegro Adagio un poco mosso Rondo: Allegro — INTERVALO —
SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 67 Allegro con brio Andante con moto Allegro Allegro 65 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
Jean-Louis Steuerman ganhou
Sinfônica do Estado de São Paulo, Petrobras Sinfônica,
grande reconhecimento como solista
Sinfônica Brasileira, Dallas Symphony, Seattle Symphony,
e recitalista internacional depois de
Baltimore Symphony e Indianapolis Symphony Orchestra.
conquistar, em 1972, o segundo lugar no Concurso Johann Sebastian Bach,
Jean-Louis Steuerman fez grandes turnês na Europa,
em Leipzig.
América do Norte e Japão, apresentando-se nas principais séries de recitais. Como camerista, tem tocado com alguns
Steuerman se apresentou como
dos mais renomados músicos internacionais.
solista com a London Symphony, sob regência de Claudio Abbado, com a
Suas gravações para a Philips Classics incluem a obra para
Royal Philharmonic sob a batuta de
piano solo de Scriabin, a obra completa de Mendelssohn
Lord Menuhin e Vladimir Ashkenazy.
para piano com a Moscow Chamber Orchestra, os concertos
Com este último, tocou o Concerto
para piano de Bach com a Chamber Orchestra of Europe e as
de Britten no Festival de Atenas.
Seis Partitas de Bach, gravação que lhe rendeu o prestigioso
Jean-Louis debutou nos Concertos
Diapason d'Or.
Promenade BBC em 1985 com grande sucesso de crítica tocando o Concerto em ré menor de Bach com a Polish Chamber Orchestra. Apresentou-se também com a English Chamber, Hallé, Royal Liverpool Philharmonic, City of Birmingham Symphony Orchestra e a Bournemouth Sinfonietta. Jean-Louis tem se apresentado junto à Orquestra Gewandhaus de Leipzig com Kurt Masur, Basel Symphony com Heinz Holliger, Helsinki Philharmonic (Tippett Piano Concerto), Zurich Tonhalle, Berlin Symphony, Nouvel
JEAN-LOUIS STEUERMAN
Orchestre Philharmonique, a Orchestra
66 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
FOTO SHEILA ROCK
Sinfonica di Milano, Orquestra
ABERTURA LEONORA Nº 1, OP. 138 1804/1805 | 9 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 5 EM MI BEMOL MAIOR, OP. 73, “IMPERADOR” 1809 | 38 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
A
Abertura Leonora nº 1 é uma das quatro aberturas independentes que Beethoven compôs para Fidélio, sua única ópera. Concluída em setembro de 1805, a ópera, em sua primeira versão, foi
estreada com a abertura hoje conhecida como Leonora nº 2. Em dezembro do mesmo ano Beethoven revisou Fidélio e compôs uma nova abertura, hoje conhecida como Leonora nº 3. A abertura conhecida como Leonora nº 1 foi composta no outono
SINFONIA Nº 5 EM DÓ MENOR, OP. 67 1804/1808 | 31 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
de 1807, provavelmente para uma apresentação da ópera em Praga, que acabou não acontecendo. A quarta e última abertura, hoje conhecida como Fidélio, só ficaria pronta em 1814. Leonora nº 1 ficou esquecida desde então e veio à luz apenas no leilão dos bens de Beethoven, após sua morte. Por não possuir muita relação com o material temático da ópera, ela se encaixa bem na concepção beethoveniana de que a Abertura deveria preparar o público para o acontecimento, ao invés de impedir a surpresa da trama. Sua estreia se deu em 7 de fevereiro de 1828, onze meses após a morte do compositor. O Concerto para piano e orquestra nº 5 em Mi bemol maior foi composto nos anos 1808/1811. Teve sua estreia no dia 28 de novembro de 1811 pela orquestra da Gewandhaus de Leipzig, sob a regência de Johann Philipp Christian Schulz. O pianista Friedrich Schneider foi o solista, uma vez que a surdez do compositor encontrava-se já bem avançada. Beethoven, que nunca nutriu simpatia por imperadores, jamais atribuiu ao seu Concerto o subtítulo “Imperador”. O primeiro a utilizá-lo foi, provavelmente, seu editor em Londres, o pianista de origem alemã Johann Baptist Cramer. No Quinto Concerto o piano é frequentemente mais um colaborador, com grandes passagens de caráter improvisatório,
67 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
do que propriamente solista, apesar
Beethoven trabalhou assiduamente na
da escrita altamente virtuosística. No
obra apenas em 1807 e terminou a
início do primeiro movimento (Allegro),
composição no início de 1808. Foi
o piano interrompe a orquestra, por
executada, pela primeira vez, no dia
três vezes, para executar uma breve
22 de dezembro de 1808, no Theater
cadência. Apesar da grandiosidade
an der Wien, por um grupo de
desse primeiro movimento, as
músicos recrutados para a ocasião,
passagens do piano são muitas vezes
sob a regência do próprio Beethoven.
extremamente leves. No segundo
Nesse célebre concerto em que foram
movimento (Adagio un poco mosso),
estreadas várias obras importantes e
de um lirismo ímpar, piano e orquestra
longas, Beethoven ainda sentou-se ao
travam um dos mais belos diálogos da
piano para uma série de improvisações.
história da música, naquele que Berlioz dizia ser o maior modelo de integração
O primeiro movimento da Quinta
entre piano e orquestra. Sem intervalo
Sinfonia, Allegro con brio, extremamente
algum, entramos no terceiro movimento
vigoroso, inicia-se com uma breve
(Allegro), um rondó, com caráter ao
introdução, em que ouvimos, pela
mesmo tempo incisivo e gracioso, onde
primeira vez, o tão famoso motivo de
a sonoridade do piano oferece algumas
quatro notas. O primeiro tema, nas
antecipações surpreendentes de
cordas, é elaborado a partir desse
Chopin. Por toda a obra destaca-se o
motivo, que será ouvido por toda a
contraste entre o heroísmo da orquestra
sinfonia (no primeiro movimento ele é
e a delicadeza do piano.
repetido mais de duzentas vezes). O segundo tema, expresso pelos primeiros
Embora os muitos esboços da Quinta
violinos e repetido no clarinete e na
Sinfonia datem já do início de 1804,
flauta, tem caráter doce e resignado.
68 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
Viena em gravura de Franz Karl Zoller (cerca de 1795).
Beethoven confere ao primeiro movimento,
(Scherzo) é reapresentada, os temas
mas também à Sinfonia como um todo,
são executados delicadamente nas
uma extraordinária unidade.
cordas em pizzicato, com algumas intervenções das madeiras. Uma
O segundo movimento (Andante con
transição nos conduz, sem interrupção,
moto), escrito em forma de variação
ao movimento seguinte.
dupla, ou seja, dois temas variados alternadamente, apresenta seu primeiro
Para o Finale grandioso (Allegro)
tema, lírico, nas violas e violoncelos.
Beethoven acrescentou um flautim,
O segundo tema, marcial, é apresentado
um contrafagote e três trombones à
em seguida pelos clarinetes, fagotes,
orquestra. O primeiro tema, majestoso,
primeiros e segundos violinos.
abre o movimento, executado por toda a orquestra. O segundo, lírico, porém
O terceiro movimento (Allegro) é um
ainda vigoroso, é apresentado pelas cordas
scherzo. A primeira seção (Scherzo)
e madeiras. Após o desenvolvimento
inicia-se com o primeiro tema, em
de trechos já apresentados ressurge,
pianissimo, nos violoncelos e
inesperadamente, o segundo tema do
contrabaixos. O segundo, enérgico,
Scherzo, delicadamente executado
apresentado primeiramente nas
pelas madeiras e cordas em pizzicato.
trompas, em fortissimo, é derivado do
Beethoven encerra a Quinta Sinfonia com
motivo de quatro notas que inicia a
uma coda grandiosa.
sinfonia. A seção central (Trio) possui apenas um tema, inicialmente apresentado nos violoncelos e contrabaixos e imitado por toda a orquestra. Quando a primeira seção
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
69 FORA DE SÉRIE 15 DE AGOSTO
70
FABIO MECHETTI, regente TEO GHEORGHIU, piano
PROGRAMA
6
26 DE SETEMBRO ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a Allegro ma non troppo Larghetto Rondo — INTERVALO —
SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL” Allegro ma non troppo Andante molto mosso Allegro
Erwachen heiterer Empfindungen bei der Ankunft auf dem Lande O DESPERTAR DOS SENTIMENTOS ALEGRES COM A CHEGADA AO CAMPO Szene am Bach CENA À BEIRA DO RIACHO Lustiges Zusammensein der Landleute A ALEGRE REUNIÃO DOS CAMPONESES
Allegro
Gewitter, Sturm TEMPESTADE
Allegretto
Hirtengesang – Frohe und dankbare Gefühle nach dem Sturm CANTO DOS PASTORES – SENTIMENTOS DE ALEGRIA E GRATIDÃO DEPOIS DA TEMPESTADE
71 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
FOTO ROSHAN ADHIHETTY
Moscou (com Vladimir Fedoseyev) e com a Sinfônica de Evergreen (Gernot Schmalfuss). Também gravou o álbum Piano Quintet Dvorák com o Carmina Quartet (Sony). O pianista já se apresentou com as sinfônicas de Tóquio e de Pittsburgh, com a Luzerner Sinfonieorchester, com a Orchestra della Svizzera Italiana, Sinfonieorchester Basel, Berner Sinfonieorchester, Philharmonie der Nationen, State Hermitage Orchestra, Brandenburgisches Staatsorchester Frankfurt, orquestras de câmara de Zurique e de Genebra
TEO GHEORGHIU
e orquestras Nacional Dinamarquesa e de Câmara Inglesa. Esteve no Wigmore Hall de Londres e Barbican, no Verbier e nos festivais Mecklenburg-Vorpommern e Ohrid.
Destinatário do prêmio Beethoven-Ring
Desde sua estreia no Tonhalle Zürich, tem participado de
do Beethovenfest de Bonn em 2010,
concertos de Mozart, Beethoven, Chopin, Rachmaninoff e Bach,
Teo Gheorghiu inclui em seus planos
trabalhando com maestros como James Gaffigan, Howard
futuros performances das obras de
Griffiths, Arild Remmereit, Justus Frantz, Christopher Warren-
Rachmaninov com Musikkollegium
Green, Carolyn Kuan, Mario Venzago e Muhai Tang. Em recitais
Winterthur no Tonhalle, em Zurique,
esteve em Milão, Istambul, Bad Kissingen, Berna, Basileia e
e de Beethoven com a Royal
Santiago. Seu primeiro CD pelo selo Deutsche Grammophon
Philharmonic Orchestra no Royal
tem concertos de Schumann e Beethoven, em parceria com o
Albert Hall de Londres, bem como
Musikkollegium Winterthur e condução de Douglas Boyd.
com a Orquesta Sinfónica de Bilbao e a Orquesta Sinfónica del Principado
Nascido em Zurique em 1992, Teo Gheorghiu foi pupilo de
de Asturias. Inclui também música de
William Fong na Escola Purcell de Londres. Passou a estudar
câmara no Meisterzyklus Bern, recitais
no Instituto Curtis, na Filadélfia, com Gary Graffman, e
na América do Sul e em Taiwan e o
atualmente estuda na Royal Academy of Music, em Londres.
lançamento de seu segundo disco pela
Em 2004, foi primeiro lugar no Concurso de Piano San Marino
Sony (Liszt e Schubert).
International e, no ano seguinte, primeiro prêmio no Concurso Internacional de Piano Franz Liszt, em Weimar, Alemanha.
Na última temporada, Teo se apresentou no Festival de Lucerna e teve estreias
Teo Gheorghiu também é um ator talentoso. Em 2006,
no Louvre e no Festival Dvorák, em
contracenou com Bruno Ganz no papel-título de Vitus,
Praga. Apresentou-se com a Orquestra
premiado filme de Fredi Murer que conta a história de um
Sinfônica Tchaikovsky da Rádio de
jovem prodígio do piano.
72 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
ABERTURA LEONORA Nº 2, OP. 72a 1804/1805 | 13 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 6 EM RÉ MAIOR, OP. 61a 1806 para violino 1807 transcrição para piano | 42 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 6 EM FÁ MAIOR, OP. 68, “PASTORAL” 1808 | 39 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 trombones, tímpanos, cordas.
F
oi por causa da recepção apática do público na estreia de seu concerto para violino, que, a pedido de Muzio Clementi, Beethoven fez, dele, uma versão para piano e orquestra, publicada no
mesmo ano que a versão para violino (1808) como Concerto para piano nº 6, opus 61a. Por isso, não se pode falar dessa
versão sem primeiro falar-se sobre a concepção original da obra. O Concerto op. 61, para violino e orquestra, data de uma fase em que, por um lado, são geradas obras decisivas da linguagem beethoveniana (as sinfonias de três a oito, a Appassionata, os dois últimos concertos para piano) e, por outro, Beethoven sofre crises pessoais e o avanço inexorável da surdez. A gênese desse concerto não foi menos trabalhosa que o mais de toda a sua obra: ainda em Bonn, Beethoven já se aventurara em tentativas de compor um concerto para violino, mas não é senão em 1806 que ele conclui e estreia o concerto em ré maior, que vem a ser impresso definitivamente em 1808. Não tendo causado escândalo nem entusiasmo, mas havendo provocado algumas recriminações em relação ao tamanho do primeiro movimento, a obra teve poucas execuções nas décadas seguintes e só foi ressuscitada efetivamente em 1844, quando o então jovem violinista Joseph Joachim o interpreta sob a batuta de Mendelssohn. No entanto, a despeito do frio acolhimento inicial, a obra encerra, entre outros aspectos, algumas ousadias experimentais que revelam algo da originalidade inventiva de Beethoven e de sua vinculação ideológica à mentalidade romântica: uma postura de liberdade, que não nega a sua herança clássica, mas que faz dela fermento para a livre expressão individual. Exemplo disso é o início inusitado do
73 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
primeiro movimento, aberto com a
público se mostra mais uma vez
intervenção nua de cinco batidas de
apático, certamente por não reconhecer
tímpano. Hoje peça importante da
o gênero de prazer a que estava
literatura violinística, o Concerto op. 61
habituado. Essa reação do público
pode não estar entre as obras mais
demonstra claramente a adoção de
emblemáticas do monumento
uma nova postura estética em
beethoveniano, mas é expressão genuína
Beethoven, que o desvincula do
de sua inventividade e de sua linguagem.
continuísmo clássico e cria laços estreitos com a ideologia romântica,
A versão para piano tem um aspecto
especialmente no que concerne ao
interessante. Beethoven compôs, para
direito quase revolucionário de uma
ela, novas cadências. A do primeiro
expressão individual: a expressão de
movimento, maior em tamanho e de
um gênio criador, consciente de sua
aspecto bastante virtuosístico, faz o
missão diante de um status quo que
piano solista dialogar com os tímpanos
precisa ser modificado.
da orquestra. Mais tarde, essa cadência retornou ao violino, em transcrições de
A Sexta Sinfonia, op. 68, foi composta
importantes instrumentistas como Max
entre os anos de 1806 e 1808, mas já
Rostal e Eugène Ysaÿe. Não se sabe
se encontram esboços dessa obra em
ao certo quando a versão para piano
blocos de notas que datam de 1802.
foi executada pela primeira vez, mas,
O próprio título da sinfonia deu a
segundo Hans-Werner Küthen, que faz
Beethoven certo trabalho: pensou chamá-
o prefácio da edição de 2005, pela
la inicialmente “Sinfonia Característica,
editora Henle, ela não foi executada
ou Lembranças da Vida Campestre”.
durante a vida de Beethoven.
Imaginou depois chamá-la “Sinfonia Pastorella”, mas optou finalmente pelo
É dessa mesma época a Sinfonia
nome que conhecemos hoje: Sinfonia
Pastoral. Em 1808 Beethoven oferece
Pastoral. Experiência única em
ao público vienense um concerto
Beethoven, o conceito dessa sinfonia
extraordinário, em que, além de várias
funda-se no movimento de se tentar
outras estreias importantes, apresenta
utilizar a música dita pura para expressar
suas Quinta e Sexta sinfonias. O
realidades e conteúdos extramusicais.
74 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
Não se deve, porém, associar esse
angustiosa que sempre perpassa o
conceito ao de música programática. A
processo criador de Beethoven. Sintoma
rigor, não há um texto ou um programa
desse duro processo da gênese de Fidélio
literário que explicite o desenrolar
é o fato de Beethoven ter composto
musical. A música da Pastoral não narra
não apenas uma, mas quatro aberturas
qualquer história. O próprio Beethoven
para a ópera. Composta em primeiro
afirma que “a descrição é inútil” e faz
lugar, Leonora nº 1 não foi executada na
estampar à testa da partitura a indicação
estreia e, sim, Leonora nº 2, que foge
de que a música, aí, era “mais expressão
grandemente ao modelo tradicional das
de sentimentos do que pintura”. Tal
aberturas de ópera até então utilizado e
afirmação vincula Beethoven declarada e
que, por isso mesmo, não foi bem recebida
conscientemente à ideologia romântica,
pelo público. Fidélio, ou Leonora nº 4,
e faz reconhecer que a arte musical
composta para as récitas de 1814, é
só pode referir-se ao mundo enquanto
mantida como a abertura oficial da ópera.
existência sonora. As impressões
Das diversas tentativas de reintegrar à
campestres são, na Pastoral, impressões
ópera essas quatro obras sinfônicas, não
do próprio compositor, que as transfigura
deixa de ser curiosa a de Gustav Mahler
e elabora em realidades musicais. Não
que, quando diretor artístico da Ópera de
há, na Pastoral, descrição. Há, isso sim,
Viena, utilizou-as todas, em uma única
evocações pessoais processadas e
récita de Fidélio. No entanto, também
elaboradas conscientemente e finalmente
introduzida por Mahler, a prática mais
sublimadas em linguagem musical.
comum, pelo menos até a metade do século XX, era inserir Leonora nº 3 entre as
Beethoven nunca se dedicou com afinco
duas cenas do segundo ato. Estreada no
ao gênero lírico. A submissão das ideias
mesmo ano de sua composição, Leonora
musicais a um libretto seria insustentável
nº 2 é um grande testemunho da liberdade,
para um gênio criador tão vigoroso quanto
audácia e inventividade beethovenianas.
o seu. Estreada em 1805, a ópera Fidélio passou, após suas primeiras récitas, por várias revisões e alterações até que chegasse à versão definitiva, tal como a conhecemos. Isso revela a laboriosidade
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
75 FORA DE SÉRIE 26 DE SETEMBRO
FOTO ALEXANDRE REZENDE
FABIO MECHETTI, regente ROMMEL FERNANDES, violino ARA HARUTYUNYAN, violino
PROGRAMA
7
24 DE OUTUBRO ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b Ara Harutyunyan Rommel Fernandes
ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40 ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50 — INTERVALO —
SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92 Poco sostenuto – Vivace Allegretto Presto, assai meno presto Allegro con brio
77 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
Boyce (Floruit Egregiis, para violino e cello) e Silvio Ferraz (Partita II, para violino solo), além de estreias brasileiras de obras de Pierre Boulez (Anthèmes I, para violino solo) e Mario Mary (Aarhus, para violino e eletrônica), entre outros.
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
Mestre e doutor em Música com Honors pela Northwestern
ROMMEL FERNANDES
University, Estados Unidos, na classe de Gerardo Ribeiro, Rommel frequentou também o Lucerne Festival Academy, Suíça, e o Tanglewood Music Center (TMC), onde estudou música de câmara com membros dos quartetos de cordas
Rommel Fernandes é spalla associado
American, Cleveland, Concord, Juilliard e Muir. Foi spalla da
da Orquestra Filarmônica de Minas
Orquestra do TMC sob regência de Bernard Haitink e James
Gerais e mantém intensa atividade
Levine. Ainda nos EUA, foi músico convidado das sinfônicas
como recitalista e músico de câmara.
de Boston (em Tanglewood) e Chicago (na série MusicNOW
Foi solista frente a diversas orquestras,
de música contemporânea), apresentou-se em transmissões
incluindo a Filarmônica de Minas Gerais,
ao vivo pela rádio WFMT, colaborou com o grupo Fifth House
a Osesp (como vencedor do concurso
Ensemble e fez parte do corpo docente da North Park
Jovens Solistas), Orquestra Unisinos,
University. Como membro da Chicago Civic Orchestra, trabalhou
Orquestra de Câmara da Unesp, Advent
com Charles Dutoit, Christoph Eschenbach, Daniel Barenboim,
Chamber Orchestra (ao lado de Jacques
Gidon Kremer, Lorin Maazel, Pierre Boulez e Pinchas Zukerman.
Israelievitch, ex-spalla da Sinfônica de Toronto) e Northwestern University
Natural de Maria da Fé, MG, Rommel iniciou seus estudos
Chamber Orchestra. Elogiado pela
musicais no Conservatório Estadual de Pouso Alegre e obteve
crítica por sua "execução soberba e
o Bacharelado em Violino pelo Instituto de Artes da Unesp,
musicalidade aristocrática", bem como
como aluno de Ayrton Pinto. Em São Paulo foi membro da
por sua "releitura vibrante, modernista,
Orquestra Experimental de Repertório e spalla da Orquestra
porém elegante" do repertório tradicional,
de Câmara da Unesp. Recebeu também orientação dos
destaca-se ainda como intérprete de
violinistas Alberto Jaffé, Almita Vamos, Andrés Cárdenes,
música contemporânea, atuando com os
Jerrold Rubenstein, Joseph Silverstein, Kurt Sassmanshaus,
grupos Oficina Música Viva e Sonante
Leon Spierer, Leonard Felberg, Malcolm Lowe, Marcello
21. Em anos recentes, realizou primeiras
Guerchfeld, Pamela Frank, Ruggiero Ricci, Sidney Harth e
audições mundiais de obras de Douglas
Viktor Danchenko.
78 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
FOTO EUGÊNIO SÁVIO
ARA HARUTYUNYAN
Ara Harutyunyan nasceu em uma
Harutyunyan obteve Bacharelado e Mestrado no
família de músicos em Yerevan, na
Conservatório Estadual Yerevan Komitas. Estudou durante
Armênia, onde começou a estudar
um ano na Suíça, na Universidade de Artes de Zurique,
violino aos oito anos. Ao longo de sua
com o professor Rudolf Koelman. Foi membro do Quarteto
carreira venceu várias competições
de Cordas Yerevan e violinista da Orquestra Filarmônica
nacionais e internacionais, participou
da Armênia.
de muitos festivais e masterclasses e apresentou-se como solista e
Em 2011, transferiu-se para os Estados Unidos. Foi aluno
músico de câmara na Armênia,
de John Fadial na Universidade de Wyoming, onde recebeu
Rússia, Geórgia, Quirguistão, Suíça,
seu certificado de Performance em Violino em 2013.
Líbano, Síria e Estados Unidos.
Como solista, músico de câmara e spalla da orquestra
Recentemente venceu o Jacoby
da Universidade, realizou muitos concertos nos Estados
Soloist Competition da Universidade
Unidos; lecionou violino como membro do String Project da
de Wyoming e foi nomeado finalista
instituição. Harutyunyan foi spalla assistente da Orquestra
nacional do MTNA Young Artist
Sinfônica de Cheyenne durante um ano, antes de se mudar
String Competition, ambas nos
para o Brasil, em 2014, para assumir o cargo de spalla
Estados Unidos.
assistente da Filarmônica de Minas Gerais.
79 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
ABERTURA LEONORA Nº 3, OP. 72b 1805/1806 | 14 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
ROMANCE Nº 1 EM SOL MAIOR, OP. 40 1802 | 8 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas, cordas.
A
Abertura Leonora nº 3 foi composta para uma reapresentação da ópera Fidélio, em 1806. Inicia-se com um Adagio, rico em modulações, que introduz o Allegro seguinte,
em forma de sonata bitemática. O desenvolvimento inclui material referente às peripécias do drama, como a ária do
ROMANCE Nº 2 EM FÁ MAIOR, OP. 50 1798 | 9 min Flauta, 2 oboés, 2 fagotes,
prisioneiro Florestan e os toques imponentes dos trompetes que lhe anunciam a liberdade. Mas a Abertura possui autonomia – seu estilo sinfônico e a realização concisa e equilibrada garantiram-lhe, com justiça, a permanência nas salas de concerto.
2 trompas, cordas
Os dois Romances para violino e orquestra foram publicados
SINFONIA Nº 7 EM LÁ MAIOR, OP. 92 1811/1812 | 34 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
em 1802. O primeiro, em Sol maior (provável movimento lento concebido para o inacabado Concerto Wo05), foi composto em 1802. Seu tema principal, em Andante lento, tem caráter pastoral e o desenvolvimento constrói um diálogo permanente entre o solista e a orquestra O segundo Romance, Adagio cantabile, foi escrito em 1798. A forma alterna o lirismo do tema, em Fá maior, com a energia do motivo secundário, em fá menor. O final reintroduz o tema principal e conclui a peça com uma longa coda. No dia 8 de dezembro de 1813, Beethoven realizou na Universidade de Viena a primeira audição da Sétima Sinfonia. A pedido do público, o segundo movimento foi bisado. Tal sucesso teve um significado especial para o compositor, pois, ao eleger o ritmo como elemento dominante da Sinfonia, Beethoven o idealizou como fator socializante, capaz de moldar os sentimentos coletivos (coincidentemente, a estreia ocorreu por ocasião de um concerto beneficente para os inválidos das guerras napoleônicas). Sob o aspecto da
80 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
predominância do elemento rítmico,
ritmo do Vivace. Este é apresentado
a Sétima Sinfonia se assemelha à
pelas madeiras e só toma uma forma
Quinta. Entretanto, há entre elas
melódica no quinto compasso, com
uma diferença estrutural. Na Sinfonia
as flautas. O desenvolvimento, com
nº 5, a força e a unidade advêm da
mudanças incessantes de tonalidade,
recorrência da mesma célula rítmica
apresenta uma espécie de luta entre
em todos os movimentos; na Sétima, ao
as cordas e as madeiras, sobre a
contrário, cada andamento é modelado
simples célula rítmica inicial. A seguir,
e diferenciado por um padrão rítmico
há uma bela passagem com uma
próprio. A estratificação de uma
variante do primeiro tema, em fugato.
figura rítmica persistente, facilmente
Na reexposição, compassos de silêncio
perceptível em cada parte, define o
quebram a continuidade rítmica. Na
perfil da Sinfonia como um todo.
coda, um surpreendente pedal das violas e cordas graves move-se por 22
A Sinfonia op. 92 inicia-se com
compassos sobre um mesmo desenho.
importante introdução de 62
(Carl Maria von Weber, referindo-
compassos, Poco sostenuto. O acorde
se a essa extraordinária passagem,
da tônica Lá maior ressoa em forte e
sugeriu que Beethoven fosse internado
curto tutti orquestral, contrastando com
no manicômio municipal!). Com um
a entrada do oboé solo. O processo se
lento crescendo, o ritmo invencível
repetirá com os ataques da orquestra
do movimento se reanima até o
no terceiro, no quinto e no sétimo
resplandecente Lá maior final.
compassos e, entre os acordes, o canto será confiado cada vez a um novo
O Allegretto, com seu ritmo de
timbre (primeiro uma trompa, à qual se
caminhada lenta (dáctilo: uma
junta uma flauta, depois os violinos).
semínima, duas colcheias – espondaico:
A modulação para Dó maior traz um
duas semínimas) é o movimento mais
novo motivo, dolce, exposto pelo oboé,
célebre da Sinfonia. Quanto à forma,
com caráter de rústico cortejo pastoril.
explora a oposição de dois temas, em
A introdução termina com a nota
lá menor e em Lá maior. O melancólico
pedal Mi que, hesitando em valores
primeiro tema aparece nos violinos e se
cada vez mais longos, recebe o novo
enriquece com um contrassujeito dos
81 FORA DE SÉRIE 24 DE OUTUBRO
violoncelos. O segundo é apresentado
afirmativo, com acentos nos tempos
no clarinete e no fagote. Possui um
fortes. O segundo é leve e staccato.
duplo acompanhamento – a suave
No solene tema do Trio, Assai meno
ondulação em tercinas dos violinos
presto, Beethoven relembra um canto de
e o pizzicato das cordas graves, que
peregrinos da Baixa Áustria.
repetem a primeira metade (dáctilo) da célula rítmica fundamental.
O final, Allegro con brio, anuncia sua violência rítmica com dois explosivos
O Presto é, de fato, um scherzo duplo.
acordes em fortissimo – dois trovões,
Começa com vigoroso tutti e seu tema
separados por um breve silêncio. Os
contém dois motivos: o primeiro é
primeiros violinos lançam o tema
82
rápido em semicolcheias, acentuadas
uma solidez incomparável e serve de
pela orquestra no tempo fraco do
suporte para a sensação de irresistível
compasso. O segundo tema, também
ímpeto tão característico dos finais
apresentado pelos violinos, contém
de Beethoven.
a indicação de piano; mas logo a orquestra lhe responde com um esses dois temas, o Allegro con brio se constrói dentro da forma sonata. A quadratura rigidamente simétrica dos períodos e das frases dá ao movimento
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor dos livros Músico, doce músico e O grão perfumado – Mário de Andrade e a arte do inacabado. Apresenta o programa semanal Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
83
FOTO ANDRÉ FOSSATI
violento acorde dissonante. Com
84
MARCOS ARAKAKI, regente TRIO CERESIO ANTHONY FLINT, violino JOHANN SEBASTIAN PAETSCH, violoncelo SYLVIANE DEFERNE, piano
PROGRAMA
8
21 DE NOVEMBRO A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91 A Batalha A Sinfonia de Vitória
CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ MAIOR, OP. 56, "TRÍPLICE" Allegro Largo Rondo alla polacca — INTERVALO —
SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93 Allegro vivace e con brio Allegretto scherzando Tempo di menuetto Allegro vivace
85 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes, promovido pela Orquestra Petrobras Sinfônica (2001), e do 1º Prêmio Camargo Guarnieri, realizado pelo Festival Internacional de Campos do Jordão (2009), Arakaki também foi finalista do 1º Concurso Latinoamericano de Regência Orquestral da Osesp (2005) e semifinalista no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na Cidade do México (2007). Em 2005, foi o principal regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Entre 2007 e 2010, trabalhou como titular da FOTO RAFAEL MOTTA
MARCOS ARAKAKI
Orquestra Sinfônica da Paraíba e assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira. Como regente titular, Arakaki promoveu a reestruturação da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre os anos de 2008 e 2010, recebendo grande reconhecimento da crítica especializada e
Marcos Arakaki é o Regente Associado da
do público na cidade do Rio de Janeiro.
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e tem colaborado com a Filarmônica desde a
Gravou em 2010 a trilha sonora do filme Nosso Lar, composta por
Temporada 2011.
Philip Glass, juntamente com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Arakaki já fez a estreia mundial de mais 40 obras para orquestra.
Arakaki tem dirigido importantes
Paralelamente, tem desenvolvido atividades como coordenador
orquestras no Brasil e no exterior. Dentre
pedagógico, professor e palestrante em diversos projetos culturais
elas a Orquestra Sinfônica do Estado
e em importantes instituições, como Música na Estrada, Casa
de São Paulo, a Orquestra Sinfônica
do Saber do Rio de Janeiro, Universidade Federal da Paraíba e
Brasileira, as sinfônicas de Minas Gerais,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
do Paraná, da Paraíba, de Campinas e da Universidade de São Paulo, a Petrobras
Marcos Arakaki é bacharel em Música pela Universidade Estadual
Sinfônica, Orquestra do Teatro Nacional
Paulista (Unesp, 1998), concluindo seu mestrado em Regência
Claudio Santoro, a Orquestra Experimental
Orquestral pela Universidade de Massachusetts em 2004, com
de Repertório, a Camerata Fukuda, a
apoio da Fundação Vitae. Participou de masterclasses com os
Orquestra Filarmônica de Buenos Aires,
maestros Kurt Masur, Charles Dutoit, Alan Hazendine, Kirk Trevor,
Orquestra Filarmônica da Universidade
Dante Anzolini, John Neschling, Roberto Minczuk, Roberto Tibiriçá,
Nacional Autônoma do México,
Nelson Nirenberg e Lanfranco Marcelletti. Em 2005 participou do
Sinfônica de Xalapa (México), a Kharkov
Aspen Music Festival and School, tendo aulas com David Zinman na
Philharmonic (Ucrânia) e a Bohuslav
American Academy of Conducting at Aspen, nos Estados Unidos.
Martinu Philharmonic (República Tcheca). Desde 2013, Arakaki também é professor de Regência na Sua trajetória artística é marcada por
Universidade Federal da Paraíba e Regente Titular da Orquestra
diversos prêmios. Vencedor do 1º Concurso
Sinfônica da mesma instituição.
86 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
O Trio Ceresio é composto por três
Beethoven no Japão. Para comemorar o bicentenário de Felix
artistas de renome internacional,
Mendelssohn, o grupo gravou três obras de trio para piano
apaixonados por levar repertórios para
deste compositor sob o selo Doron, incluindo uma primeira
trio ao público de todo o mundo. O
gravação de seu trabalho de 1822. Um novo lançamento
violinista Anthony Flint e o violoncelista
pela Doron inclui composições para trios de Shostakovich,
Johann Sebastian Paetsch, ambos
Beethoven e Arensky.
intérpretes experientes do gênero, conceberam a ideia de um grupo
Trio Ceresio continua a causar um impacto impressionante
enquanto estavam em suas casas às
no cenário musical, proporcionando uma experiência
margens do Lago Lugano – conhecido
inesquecível onde quer que se apresente. Como o Corriere del
tradicionalmente como Ceresio. Logo
Ticino, da Suíça, comentou: "... por trás de sua performance,
depois, se uniram à famosa pianista
supõe-se haver uma longa preparação, de outra forma não se
suíça Sylviane Deferne, e a combinação
poderia explicar o conjunto maravilhoso, a precisão e atenção
entre o talento e a qualidade artística
aos mínimos detalhes. Há um maravilhoso equilíbrio entre as
ímpar do Trio tem garantido um sucesso
vozes, sem nunca renunciar à liberdade e à responsabilidade
instantâneo, tanto entre promotores de
que se atribui a grandes músicos".
eventos quanto com o público. Concertos realizados na Itália durante o festival de verão Verona, em Cremona e na Suíça, nos festivais de Schubertiade, Fribourg e na Suíça romanda foram aclamados pela crítica especializada. Depois de uma série de concertos de sucesso em Lugano, o Trio Ceresio foi convidado para gravar composições para trio de Arensky e Beethoven para a Rádio Svizzera italiana. Atividades recentes incluíram uma apresentando composições de Shostakovich e Dvorák e uma performance do Concerto Triplo de
FOTO DIVULGAÇÃO
produção para a TV suíça TSI
TRIO CERESIO 87 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
A VITÓRIA DE WELLINGTON, OP. 91 1813 | 14 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 6 trompetes, 3 trombones, tímpanos, percussão, cordas.
B
eethoven compôs a Abertura A Vitória de
CONCERTO PARA VIOLINO, VIOLONCELO E PIANO EM DÓ MAIOR, OP. 56, “TRÍPLICE” 1804 | 36 min Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 8 EM FÁ MAIOR, OP. 93
Wellington a pedido de Johann Nepomuk Mälzel (1772-1838, inventor do metrônomo e amigo de Beethoven), para celebrar a vitória
das tropas chefiadas pelo Duque de Wellington sobre as tropas napoleônicas, em 21 de junho de 1813, na cidade de Vitória, Espanha. A composição se deu no verão de 1813, originalmente para o Panharmonikon, então a mais recente invenção de Mälzel, que consistia em uma máquina enorme e uma espécie de teclado, capaz de reproduzir, mecanicamente, os sons de quarenta e dois instrumentos. No início do outono Beethoven orquestrou a Abertura.
1812 | 25 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
A Vitória de Wellington requer um grande efetivo orquestral,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
além de tiros de canhão e fuzil (atualmente substituídos por
tímpanos, cordas.
dispositivos eletrônicos disparados pelo percussionista). A primeira seção (A Batalha) apresenta as forças francesas e inglesas e descreve a batalha. A segunda seção (A Sinfonia de Vitória), que busca enaltecer as forças inglesas, é amplamente baseada no hino britânico God save the King. Graças ao sentimento patriótico que tomou conta da Áustria na época, a estreia, em Viena, no dia 8 de dezembro de 1813, foi um sucesso estrondoso e teve não apenas Beethoven na regência, como Schuppanzigh nos primeiros violinos, Salieri, Sphor e Hummel na percussão. O Concerto Tríplice foi composto nos anos 1803/1804. Dedicado ao príncipe Lobkowitz, teve sua primeira publicação em julho de 1807, em Viena, pelo Bureau des Arts et d’Industrie, e sua primeira apresentação ocorreu apenas em abril de 1808, em Leipzig. Segundo uma crítica publicada no Allgemeine musikalische Zeitung, de 27 de abril, sabemos
88 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
que os solistas foram Sra. Müller,
Embora os primeiros esboços da
Sr. Matthäi e Sr. Dozzauer. A primeira
Sinfonia nº 8 datem de 1811, foi
apresentação em Viena se deu em
apenas a partir de maio do ano seguinte
maio do mesmo ano, na Augartensaal,
que Beethoven pôde realmente se
provavelmente com os mesmos solistas.
dedicar à obra. No final de setembro a composição já estava pronta e em
O Concerto Tríplice tem um caráter
outubro Beethoven confeccionava
camerístico e, consequentemente,
a partitura definitiva. A estreia se
intimista, o que faz dele um concerto
daria dois anos mais tarde, em 27 de
inusitado para a época, especialmente
fevereiro de 1814, em um concerto em
se levamos em conta o fato de ter sido
Viena regido pelo próprio compositor.
composto por Beethoven no mesmo ano de duas obras grandiosas, a
Sob vários aspectos, a Sinfonia nº 8
Sinfonia Eroica e a Sonata Waldstein.
nos remete às sinfonias de Haydn,
Embora não apresente, ao contrário
especialmente à Sinfonia nº 101
dessas outras obras, passagens
(“O relógio”): por suas dimensões,
individuais de dificuldade extrema, a
no colorido e, principalmente,
execução do Concerto Tríplice requer
pelo tratamento temático. O
grande concentração por parte dos
primeiro movimento (Allegro vivace
solistas, maestro e orquestra. A
e con brio) é, curiosamente, em
expressividade dos temas e o fino
compasso ternário, assim como
equilíbrio entre os solistas são a
a Sinfonia nº 101 de Haydn (em
chave desse belíssimo concerto. O
Beethoven, apenas as Sinfonias
primeiro movimento (Allegro) inicia-se
números 2 e 3 têm o primeiro
calmamente. Apenas aos poucos os
movimento em ternário). A forma
temas são apresentados. O segundo
com que Beethoven expõe as seções
movimento (Largo) é bem tranquilo
é extremamente clara: o início da
e funciona como uma espécie de
obra marca o início do primeiro
introdução ao Finale. Este, um Rondo
tema, e um compasso de silêncio
alla polaca, atacado após o segundo
marca a entrada do segundo tema. O
movimento, sem interrupção, é uma
movimento termina, inesperadamente,
polonaise de caráter aristocrático.
em pianissimo.
89 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
Muito já se disse que o segundo movimento (Allegretto scherzando) teria sido escrito em homenagem a Johann Nepomuk Mälzel, mas o certo é que o tique-taque das madeiras e a leveza do tema das cordas são quase uma citação do segundo movimento da Sinfonia nº 101 de Haydn. O terceiro movimento é, curiosamente, um Minueto (Tempo di Menuetto). Desde sua Sinfonia nº 2, Beethoven substituíra o minueto, tão comum em Haydn e Mozart, pelo scherzo. E o quarto movimento (Allegro vivace) mais parece uma brincadeira musical à moda de Haydn. Nesse movimento, após apresentar os dois temas, Beethoven deixa clara cada uma de suas reaparições, como que desejando que o ouvinte não se perca ao longo do caminho. Uma longa coda nos leva a um final brilhante. Trata-se da Ilustração de Josh. Dan. Boehm (cerca de 1820).
mais curta de suas sinfonias e, talvez, a mais descompromissada de todas.
GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Música pela Unicamp, professor na Escola de Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos floridos não voam e Música menor.
90 FORA DE SÉRIE 21 DE NOVEMBRO
91 FOTO ANDRÉ FOSSATI
92
FABIO MECHETTI, regente PABLO ROSSI, piano MARIANA ORTIZ, soprano DENISE DE FREITAS, mezzo-soprano FERNANDO PORTARI, tenor STEPHEN BRONK, baixo-barítono CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS LINCOLN ANDRADE, regente
PROGRAMA
9
19 DE DEZEMBRO FANTASIA CORAL, OP. 80 Adagio Allegro Meno allegro Adagio ma non tropo Marcia, assai vivace Allegretto ma non tropo Presto — INTERVALO —
SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL” Allegro ma non tropo, un poco maestoso Molto vivace Adagio molto e cantabile – Andante moderato Finale: Presto – Allegro assai
93 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
FOTO RUDI BODANESE
PABLO ROSSI
Pablo Rossi é o vencedor do 1º Concurso
Filarmônica, Orquestra Experimental de Repertório,
Nacional Nelson Freire para Novos
Orquestra Sinfônica da Bahia, sinfônicas do Paraná, do
Talentos Brasileiros de 2003.
Sergipe, de Ribeirão Preto. Nos últimos anos, Pablo Rossi apresentou mais de vinte recitais nos Estados Unidos e em
Conquistou seu primeiro prêmio aos
vários países da Europa e da América Latina.
sete anos de idade, no IV Concurso Jovens Intérpretes de Lages. Desde
Gravou seu primeiro CD aos onze anos de idade, com obras
então, venceu também o Concurso
de Chopin, Bartók, Schumann, Tchaikovsky, Rachmaninoff,
Magda Tagliaferro 1998, o Encuentro
Shostakovich e Nepomuceno. Em 2008 lançou o CD Pablo
Internacional de Jóvenes Músicos,
Rossi – Live at Steinway Hall, com obras de Mozart, Villa-
em Córdoba, Argentina, 2001, e o
Lobos, Prokofiev e Chopin – gravado ao vivo em Londres.
Concurso Internacional Ciutat de Carlet, Espanha, 2002.
Pablo é bacharel e mestre pelo Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde estudou com Elisso Virsaladze, com
Rossi atuou como solista frente à
patrocínio do Governo do Estado de Santa Catarina e do
Orquestra de Câmara do Kremlin,
empresário Roberto Baumgart.
Orquestra Sinfônica de Kirov, Osesp, Sinfônica Brasileira, Amazonas
94 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
Atualmente, Pablo vive em Bruxelas, Bélgica.
fan Tutte (Mozart); Salud, La Vida Breve (Falla); Poppea, L’Incoronazzione di Poppea (Monteverdi). No gênero da Zarzuela interpretou Lota em La Corte del Faraón, Aurora em FOTO JOSE LUIS FREITES
Las Leandras e a Duquesa Carolina em Luisa Fernanda, esta última em uma coprodução entre o Teatro Teresa Carreño, o
MARIANA ORTIZ
Teatro Real de Madrid e a Fundação SaludArte, sob direção de Pablo Mielgo. Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn, Carmina
Considerada uma das melhores vozes
Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2 de Mahler e
venezuelanas de sua geração, Mariana
a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou também Canções
Ortiz estudou canto no Conservatório de
Negras de Montsalvatge.
Música do Estado de Aragua com Lola Linares. Fez licenciatura em Educação
Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como o
Musical na Universidade de Carabobo
Teatro Teresa Carreño, Thèatre des Champs Elysées (Paris),
e obteve um master degree em Canto
Staatsoper (Berlim), Thèatre de la Monnaie (Bruxelas),
no Koninklijk Conservatorium Brussel,
Royal Danish Opera de Dinamarca, Palácio das Artes (Belo
Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento
Horizonte), Hollywood Bowl (Los Angeles), cantando sob a
foram feitos com os maestros Isabel
batuta de reconhecidos maestros, como Gustavo Dudamel,
Palacios (Venezuela), Mirella Freni e
Diego Matheuz, Christian Vásquez, Renè Jacobs, Simon
Vittorio Terranova, entre outros.
Rattle, Lars Ulrik Mortensens, Roberto Tibiriçá, Manuel Hernández Silva, Andrés Orozco Estrada, José Luis Rodilla,
Entre os papéis que interpretou estão
Rafael Frühbeck de Burgos, Helmuth Rilling, Evelino Pidò.
Proserpina y Messagera, L’Orfeo (Monteverdi); Mimí, La Bohème
Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera Bolívar,
(Puccini); Comtessa, Bodas de Figaro
de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da revista
(Mozart); Donna Anna, Don Giovanni
francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto, o
(Mozart); Mimi y Musetta, La Bohème
canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de
(Puccini); Micaela, Carmen (Bizet);
pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que
Violeta Valery, La Traviata (Verdi);
empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela, última
Gilda, Rigoletto (Verdi); Fiordiligi, Cosi
companheira do Libertador”.
95 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
por suas interpretações em 2011 em A Valquíria e L’enfant et les sortilèges (o Menino) no Theatro Municipal de São Paulo, Nabucco, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e Les Dialogues des Carmélites, como Irmã Marie, no Festival Amazonas de Ópera. Recentemente, apresentou uma série de concertos com a ópera Yerma, de Villa-Lobos, em Berlim, Paris e Lisboa.
FOTO HELOISA BORTZ
Conquistou o Prêmio Carlos Gomes nos anos 2004 e 2009,
DENISE DE FREITAS
neste último por suas atuações como Dalila (Sansão e Dalila) e o Compositor (Ariadne auf Naxos), para o Municipal de São Paulo. Seu repertório operístico inclui também Cherubino (Le Nozze
Denise é uma das mais importantes
di Figaro), Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Hänsel
artistas líricas do Brasil na atualidade.
(Hänsel und Gretel), Siebel (Fausto), Orfeu (Orfeu e Eurídice),
Com voz de grande extensão e timbre
Marquise de Berkenfield (La Fille du Régiment), Suzuki
escuro, ela tem conquistado o público
(Madame Butterfly), Angelina (La Cenerentola), Rosina
e a crítica com intensas e sensíveis
(Il Barbiere di Siviglia), Laura (La Gioconda), Carmen
atuações tanto no drama como na
(Carmen), Adalgisa (Norma) e Charlotte (Werther).
comédia. "...Denise é uma das maiores cantoras e maiores artistas do Brasil",
Como concertista interpretou obras como El Amor Brujo de
escreveu Arthur Nestrovski no jornal
Manuel de Falla; Das Lied von der Erde, Sinfonias números
Folha de São Paulo.
2 e 3, Kindertotenlieder e Des Knaben Wunderhorn de Mahler; Stabat Mater de Dvorák; Stabat Mater de Pergolesi;
Em 2013 estreou com sucesso como
Shéhérazade de Ravel; O Messias de Haendel; Magnificat de
Azucena em Il Trovatore durante o
Bach; Magnificat-Aleluia de Villa-Lobos; e Sinfonia nº 9 de
Festival de Ópera do Teatro da Paz,
Beethoven. Seu CD Lembrança de Amor, com composições
cantou em A Valquíria (Fricka) no
de Osvaldo Lacerda e Eudóxia de Barros ao piano, recebeu,
Theatro Municipal do Rio de Janeiro e
em 2003, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos
O Ouro do Reno no Theatro Municipal
de Arte) de Melhor CD do Ano.
de São Paulo. Em 2012, brilhou em O Crepúsculo dos Deuses como
Denise nasceu em São Paulo e teve como orientadora a
Waltraute no Theatro Municipal de
renomada cantora Lenice Prioli. Em Nova York, aperfeiçoou-
São Paulo e recebeu o Prêmio Carlos
se com Catherine Green e Patricia McCaffrey e, na
Gomes de melhor solista feminino
França, com Sylvia Sass.
96 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
FOTO JOSE LUIZ LAMOSA
FERNANDO PORTARI
Com uma carreira internacional em
Portari atuou também em Anna Bolena com Mariella Devia
franca ascensão, Fernando Portari
no Teatro Massimo de Palermo e em La Traviata, na Opera
estreou em 2010 com grande sucesso
de Hamburgo e em Colônia, Alemanha. Apresentou se em
no mítico Teatro alla Scala de Milão
La Boheme em Berlim e em Sevilha e representou Werther
em Fausto de Gounod, ao lado de
no Teatro Bellini de Catania e em La Coruña.
Roberto Scandiuzzi. Recentemente esteve ao lado de Anna Netrebko
Fernando Portari recebeu o Prêmio APCA (Associação
na Staatsoper de Berlim na ópera
Paulista de Críticos de Arte) e por duas vezes o Prêmio
Manon de Massenet, sob a direção
Carlos Gomes, tornando-se rapidamente nome presente nas
do maestro Daniel Barenboim.
temporadas líricas em Manaus, São Paulo, Belo Horizonte,
Apresentou-se nos teatros La Fenice
Rio de Janeiro e outros centros artísticos.
de Veneza, na Ópera de Roma, no Teatro São Carlos de Lisboa, na
Em São Paulo interpretou a maioria de seus papéis:
Deutsche Oper de Berlim, Comunale
Rodolfo, Romeo, Hoffmann, Nadir, Des Grieux, Ernesto,
de Bologna, Novaya Theater de
Nemorino, Almaviva, Ramiro, Ottavio, Cassio, Fenton,
Moscou, Theatro Municipal de
Rake, Edipo, Roderick Usher. Também em São Paulo
São Paulo, Theatro Municipal do
cantou as estreias mundiais das óperas A Tempestade,
Rio de Janeiro, Teatro Amazonas e
de Ronaldo Miranda, sobre texto de Shakespeare, e Olga,
também em Tokyo, Helsinki e Varsóvia.
de Jorge Antunes, baseada na vida de Olga Benario.
97 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
Finlândia; na Filadélfia e em Palm Beach, Estados Unidos; em Taipei, Taiwan, e Xangai, China. No Brasil, apresentou-se no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (Don Giovanni, Il Guarani, Carmen, Il Barbiere di Siviglia, Turandot, O Castelo do Barba Azul, requiem de Brahms e de Verdi); no Teatro Castro Mendes, Campinas (Don Giovanni), no Teatro da Paz em Belém (A Flauta Mágica, Bug Jargal, Il Barbiere di Sivigla, Carmen); no Teatro Amazonas em Manaus (O Anel do Nibelungo, O Navio Fantasma, Lady Macbeth de FOTO DIVULGAÇÃO
STEPHEN BRONK
Mzensk); no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Carmen, Requiem de Brahms, Te Deum de Bruckner e concertos); no Theatro Municipal de São Paulo (Lohengrin, As Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, O Castelo de Barba Azul, Rigoletto, Requiem
Nascido em Massachusetts, Estados
de Brahms e a Missa Solemnis de Beethoven); no Teatro São
Unidos, Stephen Bronk formou-se em
Pedro, em São Paulo (The man who mistook his wife for a hat)
Música e Canto no Conservatório de
e no Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Colônia, Alemanha, aperfeiçoando-se com Herbert Mayer em Nova York.
Seu repertório operístico inclui papéis principais em Mozart, Beethoven, Weber, Bizet, Offenbach, Rossini, Gomes, Verdi,
Em mais de trinta anos de palco,
Puccini, Strauss e todas as óperas de Wagner.
cantou com consagrados cantores, como Dame Gwynneth Jones, Plácido
Com seu repertório de oratórios, missas e cantatas, de
Domingo e Sherill Milnes, nos principais
Monteverdi à música moderna, apresentou-se com grandes
teatros da Alemanha (Aachen, Bonn,
orquestras da Alemanha, Noruega, Holanda, Suíça e Brasil
Bremen, Dortmund, Duesseldorf-
(Osesp, OSMSP, OSB, OSMRJ, OPS, OSPA, OSMG, entre outras)
Duisburg, Frankfurt, Freiburg,
e gravou com as sinfônicas de WDR, NDR, MDR, SDR e SWF da
Hamburgo, Hannover, Karlsruhe,
Alemanha, RAI italiana e NHK do Japão, cantando com maestros
Mannheim, Muenchen, Nuernberg e
como Kent Nagano, Krzysztof Penderecki, Helmuth Rilling,
Saarbruecken); no Grand Teatre del
Dennis Russell-Davies, Cláudio Cruz, Isaac Karabtchevsky, Ira
Liceu em Barcelona, Espanha; nos
Levin, Jamil Maluf, John Neshling, José Maria Florêncio, Luis
teatros de Nancy, Strasbourg e Lyon,
Malheiro, Roberto Minczuk, Roberto Duarte e Silvio Viegas.
França; em Copenhagen, Dinamarca; em Praga, República Tcheca; em St.
Ganhador do Prêmio Carlos Gomes 2006, como destaque
Gallen e Genebra, Suíça; nos festivais
vocal masculino, Stephen Bronk é membro do ensemble da
de Salzburg, Áustria, e Savonlinna,
Deutsche Oper Berlin desde 2008.
98 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
99 FOTO ANDRÉ FOSSATI
CORAL LÍRICO DE MINAS GERAIS Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais, corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado, é um dos raros grupos
Lincoln Andrade
corais que possuem programação artística permanente e um repertório
Lincoln Andrade possui doutorado em
diversificado, incluindo motetos, óperas,
Regência pela University of Kansas
oratórios e concertos sinfônico-corais.
e mestrado em Regência Coral pela University of Wyoming, ambas nos
Estiveram à frente do Coral os maestros
Estados Unidos. Em Wyoming também
Luiz Aguiar, Marcos Thadeu, Carlos
foi professor assistente e ministrou
Alberto Pinto Fonseca, Angela Pinto
aulas de canto coral e regência coral.
Coelho, Eliane Fajioli, Silvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda e
Premiado nos Estados Unidos e na
Márcio Miranda Pontes. Seu atual regente
Europa, o maestro foi diretor musical
titular é o maestro Lincoln Andrade.
do grupo Invoquei o Vocal, maestro titular do Madrigal de Brasília e do
O grupo se apresenta em Belo Horizonte,
Coral Brasília. Ainda na capital federal,
interior de Minas e em capitais
foi professor e diretor da Escola de
brasileiras com o objetivo de contribuir
Música de Brasília. Regeu concertos na
para a democratização do acesso de
Alemanha, Argentina, Chile, Espanha,
diversos públicos ao canto coral. As
Estados Unidos, França, Grécia, Hungria,
apresentações têm entrada gratuita ou
Paraguai, Polônia, Portugal e Turquia.
preços populares. O Coral participa das temporadas de óperas e concertos da
O maestro é produtor musical,
Fundação Clóvis Salgado, ao lado da
apresentador e entrevistador do
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais,
programa Conversa de Músico,
tendo se apresentado também com a
produzido e veiculado pela TV Senado.
Orquestra Sinfônica do Estado de São
Também é professor de regência e
Paulo e a Filarmônica de Minas Gerais.
coordenador da Orquestra Sinfônica da Escola de Música da Universidade
O Coral Lírico desenvolve também diversos
Federal de Minas Gerais (UFMG).
projetos que incluem Concertos no Parque,
Ministra palestras sobre regência e
Lírico na Cidade e Concertos Didáticos,
canto coral em festivais brasileiros.
em que o público pode conhecer e fruir a música coral de qualidade e vivenciar
Lincoln Andrade é regente titular do
o contato com os artistas.
Coral Lírico de Minas.
100
FOTO PAULO LACERDA
REGENTE
CONTRALTOS
Hélcio Rodrigues
Judson Freitas
Lincoln Andrade
Ana Carolina de Paula
Igor Ferreira
Leandro Braga
Bruno Thadeu **
Lúcio Martins
Rafael Capossi
REGENTE ASSISTENTE
Carolina Rennó
Marcelo Salomão
Ramiro Souza e Silva **
Lara Tanaka
Consuelo Varella
Márcio Bocca
Robson Lopes
Déborah Burgarelli **
Petrônio Duarte*
Thiago Roussin **
SOPRANOS
Enancy Gomes
Rogério Francisco
Urbano Lima *
Aline Amaral de Castro
Iaiá Drumond
Rubens do Carmo
Anelise Claussen
Jennifer Imanishi **
Sandro Assumpção
PIANISTA
Annelise Cavalcanti
Júnia Jáber
Wagner Soares
Hélcio Vaz
Cátia Neris
Kissya Andrade
Welington Nascimento
Clara Guzella
Maria Helena Nunes *
Wellington Vilaça
Clarisse Girotto
Rosa Silveira
Conceição Nicolau
Talita Cotta
BAIXOS
Daiana Melo
Tereza Cançado
Alex Schimith
ARQUIVISTA
Érica Mendes
Vanessa Piló
André Fernando
Robert Avelino
Gislene Ramos
Vanya Soares
Antônio Marcos Batista **
GERENTE Celme Valeiras
Carlos D’Elia
SECRETÁRIA
Lilian Assumpção
TENORES
Cristiano Rocha **
Carmem Magalhães
Marta Nichthauser
André Felipe
Guilly Castro
Melina Peixoto *
Eduardo Cunha Melo
Israel Balabram
Nabila Dandara
Evandro Silva
Iuri Michailowsky
* chefe de naipe
Penha Vasconcelos **
Carlos Átila
José Carlos Leal **
** músico convidado
Izabel Carmônia
101
FANTASIA CORAL, OP. 80 1808 | 20 min 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 9 EM RÉ MENOR, OP. 125, “CORAL” 1822/1824 | 65 min Piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpanos, cordas.
P
oucas obras de Beethoven tiveram gênese tão trabalhosa quanto a última das nove sinfonias. Ao que parece, a ideia de pôr música na Ode à Alegria de Schiller já aparece em 1792, poucos
anos após o grande poeta romântico ter publicado seus versos. Em 1807 Beethoven concebe a Fantasia op. 80 para piano, coro e orquestra, concluída no ano seguinte, a qual revela aspectos que aparecem como uma espécie de ensaio para procedimentos que serão utilizados na Nona. Em 1823, Beethoven já havia composto os três primeiros movimentos da Sinfonia, e, ao final desse mesmo ano, ganha corpo a ideia de concluí-la com o uso de vozes humanas e o emprego do poema de Schiller. O uso das vozes (coro e solistas) e as citações dos movimentos anteriores, dentre outras ousadias estilísticas, são procedimentos que, usados na Nona Sinfonia, ganharam significado e importância especiais na música instrumental, na música sinfônica e na música dramática do século XIX, não exatamente na geração que sucede Beethoven, mas numa geração posterior, da qual participam Mahler, Franck, Bruckner e o próprio Wagner. No entanto, a voz humana, na Nona, não aparece como veículo expressivo de ideias poéticas: ela contribui para a realização de uma ideia musical. A dialética que surge disso denota uma tensão entre os procedimentos clássicos da forma sonata e a insubmissão criadora da própria personalidade beethoveniana, levada a um grau de abstração que a última fase de sua obra, determinada pela surdez, conseguiu atingir. Esse monumento da música ocidental só foi completado em 1824. A Nona foi estreada em maio do mesmo ano
102 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
Beethoven dedicou a Nona Sinfonia ao rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III.
em Viena, no Theater am Kärntnertor,
E Beethoven foi o solista, tanto no
com a Abertura A Consagração da
Concerto quanto na Fantasia.
Casa, op. 124 e três partes da Missa Solemnis (Kyrie, Credo e Agnus Dei).
A própria ideia de associar o piano
Foi um evento emocionante, em
solista à formação de coro e orquestra
que Beethoven, após doze anos sem
já se mostra como grande ousadia e
subir ao palco, dividiu-o com Michael
verdadeira insubordinação aos padrões
Umlauf, que dirigiu a récita. Por esta,
clássicos: a obra, com isso, não se
e pela obra, Beethoven foi várias
submete à estrutura de um concerto,
vezes ovacionado!
nem aos procedimentos da música vocal acompanhada. O solo de piano que
A Fantasia para Piano, Coro e Orquestra,
abre a obra evoca, de Beethoven, a sua
no entanto, pertence à fase anterior.
grande capacidade de improvisador, pois
Ela fora estreada naquele concerto
diz a lenda que, na estreia da obra, ele
assombroso, em dezembro de 1808,
improvisou essa seção. A Fantasia foi
em que Beethoven fez executar, além
composta em pouco tempo, o que em
dela, nada menos que a Quinta e
Beethoven é fato raro: a data da estreia
Sexta sinfonias e o Quarto Concerto
foi 22 de dezembro, e o compositor
para Piano, entre várias outras peças!
a elaborou na segunda metade desse
103 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
mesmo mês. Por isso, devido ao pouco tempo de ensaio, durante a primeira récita parece ter havido um incidente, em meio à execução, que fez com que ela fosse retomada do começo. A autoria do texto cantado na Fantasia Coral é incerta: segundo Carl Czerny, ele foi escrito por Christoph Kuffner. De acordo, porém, com Gustav Nottebohm, é de autoria de Georg Friedrich Treitschke, que trabalhou com Beethoven no texto final de Fidélio. A Fantasia Coral talvez tenha sido a maior transgressão de Beethoven em relação aos padrões clássicos e suas estruturas. Por isso mesmo, é exemplar no sentido de mostrar a mentalidade insubmissa desse surdo que mudou os rumos da história da música.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, professor da Universidade do Estado de Minas Gerais e da Fundação de Educação Artística.
104 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
Imagem do século XIX retrata Beethoven na primeira apresentação da Nona Sinfonia.
105 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
FANTASIA CORAL, OP. 80 POEMA Cristoph Kuffner (1780 – 1846) TRADUÇÃO Amancio Cueto Junior
Com graça, charme e doçura soam as harmonias de nossas vidas, e do sentido da beleza geram as flores que eternamente florescem. Paz e alegria deslizam alegremente, como o jogo alternado das ondas; Tudo o que é bruto e hostil transforma-se num sublime sentimento. Quando a mágica da música reina e as palavras sagradas são ditas, O glorioso deve ser concebido, Noite e tempestade se tornam luz. Paz exterior e bênção interior reinam para os afortunados. O sol da primavera da arte deixa a luz surgir de ambos. Grandeza, que entrou no coração, floresce como novo em toda sua beleza, Quando um espírito levanta voo, ecoa em resposta um coro de espíritos. Então aceitem, ó belas almas, alegremente os dons da bela arte: Quando amor e força se juntam, a graça de Deus recompensa os homens.
106 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
SINFONIA Nº 9, OP. 125 ODE À ALEGRIA POEMA Friedrich von Schiller (1759 – 1805) TRADUÇÃO livre
Oh, amigos, mudemos de tom!
Todos os bons, todos os maus,
Entoemos algo mais prazeroso
Seguem seu rastro de rosas.
E mais alegre!
Ela nos deu beijos e vinho e Um amigo leal até a morte;
Alegre, formosa centelha divina,
Deu força para a vida aos mais humildes
Filha do Elíseo,
Deu força para a vida aos mais humildes
Ébrios de fogo entramos
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Em teu santuário celeste! Tua magia volta a unir
Alegremente, como seus sóis corram
O que o costume rigorosamente dividiu.
Através do esplêndido espaço celeste
Todos os homens se irmanam
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Todos os homens se irmanam
Alegremente como o herói diante da vitória.
Ali onde teu doce voo se detém. Alegre, formosa centelha divina, Quem já conseguiu o maior tesouro
Filha do Elíseo,
De ser o amigo de um amigo,
Ébrios de fogo entramos
Quem já conquistou uma mulher amável
Em teu santuário celeste!
Rejubile-se conosco!
Abracem-se, milhões!
Sim, mesmo se alguém conquistar
Enviem este beijo para todo o mundo!
apenas uma alma,
Irmãos, além do céu estrelado
Uma única em todo o mundo.
Mora um Pai Amado.
Mas aquele que falhou nisso
Milhões se deprimem diante Dele?
Mas aquele que falhou nisso
Mundo, você percebe seu Criador?
Que fique chorando sozinho!
Procure-o mais acima do céu estrelado! Sobre as estrelas onde Ele mora.
Alegria, bebem todos os seres No seio da Natureza: 107 FORA DE SÉRIE 19 DE DEZEMBRO
para
ASSISTIR CONCERTOS
SINFONIAS
Concerto nº 1
DVD – Beethoven – Symphonies – Berliner
Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regência e piano. Acesse fil.mg/bconc1
Philharmoniker – Claudio Abbado, regente – EuroArts Music International GmbH, Canadá – 2002
Concerto nº 2 Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard Haitink, regente - Vladimir Ashkenazy, piano. Acesse: fil.mg/bconc2
Sinfonia nº 1
Concerto nº 3
Sinfonia nº 2
Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária – Mariss Jansons, regente – Mitsuko Uchida, piano. Acesse: fil.mg/bconc3
Filarmônica de Berlim – Herbert von Karajan, regente. Acesse: fil.mg/bsinf2
Concerto nº 4
Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bsinf3
Filarmônica de Viena – Daniel Barenboim, regência e piano. Acesse: fil.mg/bconc4
Concerto nº 5 Orquestra Sinfônica de Jerusalém – Alexander Schneider, regente – Arthur Rubinstein, piano. Acesse: fil.mg/bconc5
Concerto nº 6 Filarmônica Eslovaca – Kaspar Zehnder, regente – Jingge Yan, piano. Acesse: fil.mg/bconc6
Concerto Tríplice Filarmônica de Berlim – Daniel Bareinboim, regência e piano – Itzhak Perlman, violino – Yo-Yo Ma, violoncelo. Acesse: fil.mg/btriplice
108 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
Orquestra Sinfônica de Chicago – Georg Solti, regente. Acesse: fil.mg/bsinf1
Sinfonia nº 3
Sinfonia nº 4 Orquestra Real do Concertgebouw – Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf4
Sinfonia nº 5 Academia Nacional de Santa Cecília – Claudio Abbado, regente. Acesse: fil.mg/bsinf5
Sinfonia nº 6 Orquestra Real do Concertgebouw – Bernard Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bsinf6
Sinfonia nº 7 Orquestra Real do Concertgebouw – Carlos Kleiber, regente. Acesse: fil.mg/bsinf7
Sinfonia nº 8
A Vitória de Wellington
Filarmônica de Berlim – Claudio Abbado, regente. Acesse: fil.mg/bsinf8
Orquestra Sinfônica da Radio di Stoccarda – Hermann Scherchen, regente. Acesse: fil.mg/bwellington
Sinfonia nº 9 Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bsinf9
ABERTURAS E OUTRAS OBRAS A Consagração da Casa Orquestra do Teatro La Fenice – Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/bcasa
Abertura Leonora nº 2
Romance nº 1 Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente – Renaud Capuçon, violino. Acesse: fil.mg/bromance1
Romance nº 2 Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente – Renaud Capuçon, violino. Acesse: fil.ng/bromance2rc
Orquestra Filarmônica de Londres – Bernard Haitink, regente. Acesse: fil.mg/bleonora2
Orquestra Filarmônica da Rádio Alemã – Christoph Poppen, regente – Augustin Hadelich, violino. Acesse: fil.mg/bromance2ah
Abertura Leonora nº 3
Fantasia Coral
Orquestra Gewandhaus de Leipzig – Kurt Masur, regente. Acesse: fil.mg/bleonora3
Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente. Acesse: fil.mg/bfcoral
As Criaturas de Prometeu Anima Eterna – Jos van Immerseel, regente. Acesse: fil.mg/bprometeuji Boston Symphony – Charles Munch, regente. Acesse: fil.mg/bprometeucm
A Grande Fuga Orquestra Sinfônica NDR de Hamburgo – Christoph von Dohnányi, regente. Acesse: fil.mg/bfuga
109 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
para
OUVIR CONCERTOS
ABERTURAS E OUTRAS OBRAS
CD Beethoven – Triple concerto; Brahms:
CD Beethoven – Ouvertüren [Leonora nº 1 e
Double concerto – Berliner Philharmoniker
Zur Namensfeier] – Berliner Philharmoniker,
– Herbert von Karajan, regente – David
Herbert von Karajan, regente – Deutsche
Oistrakh, violino – Mstislav Rostropovich,
Grammophon – 1989
violoncelo – Sviatoslav Richter, piano – Warner Classics – 2012
CD Beethoven – Egmont; Wellingtons Sieg; Märsche – Berliner Philharmoniker –
CD Beethoven – The five piano concertos
Herbert von Karajan, regente – Deutsche
– Chicago Symphony Orchestra – James
Grammophon – 1987
Levine, regente – Alfred Brendel, piano – Phillips – 1997
CD Beethoven – Complete Overtures – Gewandhausorchester Leipzig – Kurt Mazur,
CD Beethoven – Die Klavierkonzerte;
regente – Phillips Classics Productions, EUA
Choralfantasie op. 80 – Chor und
– 1993
Symphonieorchester des bayerischen Runfunks – Rafael Kubelik, regente –
CD Beethoven – The complete Overtures &
Rudolf Serkin, piano
other Works – Gewandhausorchester Leipzig – Academy of Saint Martin in the Fields – Kurt
SINFONIAS
Masur, Neville Marriner, regentes – Phillips – 1994
CD Beethoven – The Sympnonies –
CD Beethoven – The String Quartets; Grosse
Berliner Philarmoniker – Claudio Abbado –
Fugue – Guarneri Quartet – RCA – 2003
Deutsch Grammophon 4775864 – 2000 CD Beethoven – The Violin Romances – Royal CD Beethoven – The Complete Symphonies
Concertgebouw Orchestra – Bernard Haitink,
and Selected Overtures – Arturo Toscanini –
regente – Henryk Szeryng, violino – Phillips
NBC Symphony Orchestra – Music and
Classics Productions, EUA
Arts – 2007
110 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
para
LER Barry Cooper (org.) – Beethoven, um compêndio – Mauro Gama e Claudia Martinelli Gama, tradução – Jorge Zahar – 1996 Emil Ludwig – Beethoven – Maria Vieira, tradução – Aster – 1978 François-René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
Legendas das imagens PÁGINAS 10 E 11
Assinatura de Beethoven, poucos dias antes de sua morte, sobre uma das primeiras páginas da Sonata para piano em fá menor, “Apassionata”. (Bibliothèque Nationale, Paris) PÁGINAS 20 E 21
Trecho de um caderno de conversas que Beethoven usava para se comunicar. PÁGINAS 26 E 27
Manuscrito da Nona Sinfonia. PÁGINA 38
Anúncio do primeiro concerto de Beethoven, realizado em Colônia, em 26 de março de 1778. PÁGINA 44
Friedrich Schiller – A educação estética do homem – Iluminuras – 1995
Primeira obra impressa de Beethoven,
Lewis Lockwood – Beethoven, a música e a vida – Códex – 2004
PÁGINA 50
Maynard Solomon – Beethoven, vida e obra – Álvaro Cabral, tradução – Jorge Zahar – 1994 Roland de Candé – História Universal da Música – vol. 1 e 2 – Eduardo Brandão, tradução – Martins Fontes – 1994
Variações para cravo. Mannheim, 1782.
Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 3, op. 55, “Eroica”. PÁGINA 56
Beethoven, por Christian Horneman (1802). PÁGINA 64
Beethoven em gravura de Blasius Höfel (1814). PÁGINA 70
Sergio Magnani – Expressão e Comunicação na Linguagem da Música – UFMG – 1989
Manuscrito da partitura da Sinfonia nº 6, op. 68, “Pastoral" (1808). PÁGINA 76
Beethoven em pintura de Josef K. Stieler (1819/1820). PÁGINA 84
Beethoven em ilustração de August v. Kloeber (1817/1818). PÁGINA 92
Anúncio da estreia da Nona Sinfonia, em 7 de maio de 1924, informa a presença de Beethoven.
111 FORA DE SÉRIE PARA ASSISTIR, OUVIR E LER
Acompanhe a Filarmônica em outros concertos CONCERTOS PARA A JUVENTUDE
LABORATÓRIO DE REGÊNCIA
Realizados em manhãs de domingo,
Atividade pioneira no Brasil, este
são concertos dedicados aos jovens e
laboratório é uma oportunidade
às famílias, buscando ampliar e formar
para que jovens regentes brasileiros
público para a música clássica. As
possam praticar com uma orquestra
apresentações têm ingressos a
profissional. A cada ano, quinze
preços populares.
maestros, quatro efetivos e onze ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e
CLÁSSICOS NA PRAÇA
ensaios com o regente Fabio Mechetti.
Realizados em praças da Região
O concerto final é aberto ao público.
Metropolitana de Belo Horizonte, os concertos proporcionam momentos
TURNÊS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
de descontração e entretenimento,
Com essas turnês, a Orquestra
buscando democratizar o acesso da
Filarmônica de Minas Gerais
população em geral à música clássica.
busca colocar o estado de Minas dentro do circuito nacional e
CONCERTOS DIDÁTICOS
internacional da música clássica.
Concertos destinados a grupos de crianças e jovens da rede escolar e a instituições
TURNÊS ESTADUAIS
sociais, mediante inscrição prévia. Seu
As turnês estaduais levam a música
formato busca apoiar o público em seus
de concerto a diferentes cidades e
primeiros passos na música clássica.
regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado
FESTIVAL TINTA FRESCA
tenha contato direto com música
Com o objetivo de fomentar a criação
sinfônica de excelência.
musical entre compositores brasileiros e gerar oportunidade para que suas obras
CONCERTOS DE CÂMARA
sejam apresentadas em concerto, este
Realizados para estimular músicos
Festival é sempre uma aventura musical
e público na apreciação da música
inédita. Como prêmio, o vencedor recebe
erudita para pequenos grupos. A
a encomenda de outra obra sinfônica
Filarmônica conta com grupos de
a ser estreada pela Filarmônica no
Metais, Cordas, Sopros e Percussão.
ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje.
112 FORA DE SÉRIE ACOMPANHE A FILARMÔNICA
Para apreciar um concerto
PONTUALIDADE
CONVERSA
Uma vez iniciado um concerto, qualquer
A experiência do concerto inclui o
movimentação perturba a execução
encontro com outras pessoas. Aproveite
da obra. Seja pontual e respeite o
essa troca antes da apresentação e no
fechamento das portas após o terceiro
seu intervalo, mas nunca converse ou
sinal. Se tiver que trocar de lugar ou sair
faça comentários durante a execução
antes do final da apresentação,
das obras. Lembre-se de que o
aguarde o término de uma peça.
silêncio é o espaço da música.
APLAUSOS Aplauda apenas no final das obras, que,
APARELHOS CELULARES
muitas vezes, se compõem de dois ou
Confira e não se esqueça, por favor,
mais movimentos. Veja no programa
de desligar o seu celular ou qualquer
o número de movimentos e fique de
outro aparelho sonoro.
olho na atitude e gestos do regente.
TOSSE
FOTOS E GRAVAÇÕES EM ÁUDIO E VÍDEO
Perturba a concentração dos músicos
Não são permitidas durante o concerto.
e da plateia. Tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha.
CRIANÇAS
COMIDAS E BEBIDAS
Caso esteja acompanhado por criança,
Seu consumo não é permitido no
escolha assentos próximos aos corredores.
interior da sala de concertos.
Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.
113 FORA DE SÉRIE PARA APRECIAR UM CONCERTO
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti REGENTE ASSOCIADO
Marcos Arakaki
PRIMEIROS VIOLINOS
Marcelo Nébias
Andrew Huntriss
GERENTE
Anthony Flint – Spalla
Nathan Medina
Cláudio de Freitas
Jussan Fernandes
Rommel Fernandes – Spalla Associado
VIOLONCELOS
TROMPAS
INSPETORA
Ara Harutyunyan – Spalla
Elise Pittenger ****
Alma Maria Liebrecht *
Karolina Lima
Assistente
Camila Pacífico
Evgueni Gerassimov ***
Ana Zivkovic
Camilla Ribeiro
Gustavo Garcia Trindade
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Arthur Vieira Terto
Eduardo Swerts
José Francisco dos Santos
Débora Vieira
Baptiste Rodrigues
Emilia Neves
Lucas Filho
Bojana Pantovic
Eneko Aizpurua Pablo
Fabio Ogata
Dante Bertolino
Lina Radovanovic
Hyu-Kyung Jung
Robson Fonseca
Marcio Cecconello
ARQUIVISTA
Sergio Almeida TROMPETES
Marlon Humphreys *
ASSISTENTES
Megumi Tokosumi
CONTRABAIXOS
Érico Fonseca **
Ana Lúcia Kobayashi
Rodrigo Bustamante
Colin Chatfield *
Daniel Leal ***
Claudio Starlino
Rodrigo Monteiro Braga
Nilson Bellotto ***
Tássio Furtado
Jônatas Reis
Rodrigo de Oliveira
Brian Fountain Marcelo Cunha
TROMBONES
SUPERVISOR DE MONTAGEM
SEGUNDOS VIOLINOS
Pablo Guiñez
Mark John Mulley *
Rodrigo Castro
Frank Haemmer *
William Brichetto
Diego Ribeiro **
Leonidas Cáceres ***
Wagner Mayer ***
MONTADORES
Renato Lisboa
André Barbosa
Jovana Trifunovic
FLAUTAS
Leonardo Ottoni
Cássia Lima *
Luka Milanovic
Renata Xavier ***
TUBA
Marija Mihajlovic
Alexandre Braga
Eleilton Cruz *
Martha de Moura Pacífico
Elena Suchkova
Mateus Freire
Klênio Carvalho
TÍMPANOS
Radmila Bocev
OBOÉS
Rodolfo Toffolo
Alexandre Barros *
Tiago Ellwanger
Ravi Shankar ***
PERCUSSÃO
Valentina Gostilovitch
Israel Muniz
Rafael Alberto *
Moisés Pena
Daniel Lemos ***
Patricio Hernández Pradenas *
VIOLAS
Sérgio Aluotto
João Carlos Ferreira *
CLARINETES
Roberto Papi ***
Marcus Julius Lander *
Flávia Motta
Jonatas Bueno ***
HARPA
Gerry Varona
Ney Campos Franco
Giselle Boeters *
Gilberto Paganini
Alexandre Silva
Juan Castillo FAGOTES
Luciano Gatelli
Catherine Carignan *
114
Werner Silveira
TECLADOS
Katarzyna Druzd
* PRINCIPAL
Risbleiz Aguiar
** PRINCIPAL ASSOCIADO
Ayumi Shigeta *
*** PRINCIPAL ASSISTENTE
**** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO
Instituto Cultural Filarmônica Conselho Administrativo PRESIDENTE EMÉRITO
Jacques Schwartzman PRESIDENTE
Roberto Mário Soares CONSELHEIROS
Berenice Menegale Bruno Volpini Celina Szrvinsk Fernando de Almeida Ítalo Gaetani Marco Antônio Pepino Marcus Vinícius Salum Mauricio Freire Octávio Elísio Paulo Brant Sérgio Pena
Diretoria Executiva DIRETOR PRESIDENTE
Diomar Silveira DIRETOR ADMINISTRATIVOFINANCEIRO
Estêvão Fiuza DIRETORA DE COMUNICAÇÃO
Jacqueline Guimarães Ferreira DIRETORA DE MARKETING E PROJETOS
Zilka Caribé DIRETOR DE OPERAÇÕES
Ivar Siewers
DIRETOR DE PRODUÇÃO
ASSISTENTES DE MARKETING
MENSAGEIROS
MUSICAL
DE RELACIONAMENTO
Jeferson Silva
Marcos Souza
Eularino Pereira
Pablo Faria
Equipe Técnica GERENTE DE COMUNICAÇÃO
Rildo Lopez
Equipe Administrativa
Merrina Godinho Delgado GERENTE ADMINISTRATIVO-
MENOR APRENDIZ
Diego Soares
Sala Minas Gerais
GERENTE DE PRODUÇÃO
FINANCEIRA
GERENTE DE
MUSICAL
Thais Boaventura
INFRAESTRUTURA
Claudia da Silva Guimarães
Renato Bretas ANALISTAS ADMINISTRATIVOS
ASSESSORA DE
João Paulo de Oliveira
TÉCNICO DE ILUMINAÇÃO
PROGRAMAÇÃO MUSICAL
Paulo Baraldi
E ÁUDIO
Carolina Debrot
Rafael Franca ANALISTA CONTÁBIL
PRODUTORES
Graziela Coelho
Geisa Andrade
ASSISTENTE OPERACIONAL
Rodrigo Brandão
Luis Otávio Rezende
ANALISTA DE
Narren Felipe
RECURSOS HUMANOS
Quézia Macedo Silva ANALISTAS DE COMUNICAÇÃO
Andréa Mendes (Imprensa)
SECRETÁRIA EXECUTIVA
Marciana Toledo (Publicidade)
Flaviana Mendes
Mariana Garcia (Multimídia) Renata Romeiro (Design gráfico)
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Cristiane Reis ANALISTA DE MARKETING DE RELACIONAMENTO
AUXILIARES
Mônica Moreira
ADMINISTRATIVOS
Pedro Almeida ANALISTAS DE MARKETING
Vivian Figueiredo FORA DE SÉRIE
E PROJETOS
Beethoven 2015
Itamara Kelly
RECEPCIONISTA
Mariana Theodorica
Lizonete Prates Siqueira
ASSISTENTE DE
AUXILIARES DE
COMUNICAÇÃO
SERVIÇOS GERAIS
Renata Gibson
Ailda Conceição
EDIÇÃO DE TEXTO
Nayara Assis
Berenice Menegale
COORDENADORA DA EDIÇÃO Merrina
Godinho Delgado
115
PATROCÍNIO MÁSTER
APOIO INSTITUCIONAL
DIVULGAÇÃO
HOTEL OFICIAL
INCENTIVO
w w w. i n c o n f i d e n c i a . c o m . b r
Projeto executado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais
CA: 0231-001/2013
REALIZAÇÃO
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COMUNICAÇÃO ICF
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