Temporada 2012 | Novembro

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novembro 2012

ADO POR MUITOS CRÍTICOS FÔNICO MAIS IMPORTANTE SIL NOS ÚLTIMOS TEMPOS, UM EXEMPLO PAÍS AFORA.” Rafael Rocha revista Veja BH_ out 2012


A família dos metais é composta por trompas, trompete, trompete piccolo, trombone alto, trombone tenor, trombone baixo e tuba, além de outros. todos são instrumentos de sopro que produzem as notas e a série harmônica por meio da vibração dos lábios contra o bocal. para produzir as demais notas e séries, eles se utilizam de válvulas, rotores, pistões e vara (trombones). os metais foram incorporados à orquestra já no período barroco, e o surgimento das válvulas e pistões ampliou a participação desses instrumentos no conjunto, por lhes permitir mais possibilidades sonoras. na Filarmônica de Minas Gerais, as trompas ficam logo atrás da família das madeiras. normalmente, os demais membros desta família estão no fundo da orquestra, à direita do maestro. A sua Filarmônica conta com seis trompas, três trompetes, três trombones e uma tuba.

A Filarmônica é toda sua.

estão falando sobre você. sobre você que é o motivo da orquestra Filarmônica existir. sobre você que é exigente com o que ouve. sobre você que às terças e quintas espera se surpreender. estão falando sobre você. Você que colabora para que a Filarmônica seja uma das melhores orquestras do país. Você que faz diferença a cada concerto. Você é a razão disso tudo. Quando falam sobre a orquestra Filarmônica estão falando de você. receba cada aplauso. Você é a orquestra. A Filarmônica é toda sua.

foto | Adriano Bastos

pode se orgulhar.


Ministério da Cultura e Governo de Minas apresentam

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série allegro 8 de novembro

Marcos Arakaki, regente Sergio Tiempo, piano MIGUEZ Prometeu VILLA-LOBOS Bachianas Brasileiras nº 8 RACHMANINOFF Concerto para piano nº 3 PÁG. 21

série vivace 20 de novembro

Fabio Mechetti, regente Paulo Szot, barítono MAHLER Blumine MAHLER Rückert Lieder WAGNER Os Mestres Cantores WAGNER Adeus de Wotan e Música do Fogo Mágico WAGNER A Cavalgada das Valquírias PÁG. 33

série allegro 29 de novembro

Carlos Miguel Prieto, regente convidado Daniel Lemos, percussão Sérgio Aluotto, percussão Werner Silveira, percussão REVUELTAS Redes MONCAYO Huapango PECK The glory and the grandeur SHOSTAKOVICH Sinfonia nº 6


Caros amigos e amigas, Depois de uma extraordinária turnê pela Argentina e Uruguai, que marca um importante momento histórico na vida da Filarmônica, nossa Orquestra volta a se apresentar nos palcos de Belo Horizonte e traz a vocês concertos de alta qualidade. Nas nossas séries principais recebemos primeiramente a visita do talentosíssimo pianista venezuelano Sergio Tiempo. Ele executará um dos concertos mais vibrantes do repertório pianístico, o desafiador Concerto nº 3 de Rachmaninoff. Em seguida, damos as boas-vindas ao grande nome do cenário lírico brasileiro atual, o barítono Paulo Szot, que vem se consagrando internacionalmente com apresentações no Metropolitan Opera de Nova York e realiza sua única apresentação no Brasil nesta temporada aqui em Belo Horizonte. Szot interpreta as belíssimas e profundas canções de Mahler baseadas em obras do poeta Rückert, assim como a cena final da ópera A Valquíria de Richard Wagner, dando início às celebrações do bicentenário do grande compositor alemão. O mês se encerra com a presença do regente convidado Carlos Miguel Prieto, que dividirá o palco com músicos do nosso excelente naipe de percussão executando uma vigorosa obra do norte-americano Russell Peck. Além desses concertos de assinatura, a Filarmônica irá participar do Festival Villa-Lobos, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde interpretará várias obras do célebre compositor brasileiro. Encerramos ainda neste mês nossos Concertos para a Juventude, realizados no Sesc Palladium, série esta que vem formando novas plateias e levando a riqueza da música sinfônica a um número cada vez maior de amigos da Filarmônica. Aproveito a oportunidade para agradecer a todos que renovaram suas assinaturas para 2013 e também convido aqueles que desejam se associar a esse relevante projeto cultural a avaliar nossa temporada para o próximo ano. Será um prazer vê-los em seus lugares preferidos em todos os concertos. Obrigado e bom concerto,

foto | Rafael Motta

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F ab i o M e ch e t t i

Diretor Artístico e Regente Titular Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

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FABIO

Mechetti Diretor Artístico e Regente Titular Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Natural de São Paulo, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Por esse trabalho, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na categoria Melhor Regente brasileiro. É também Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica de Jacksonville (EUA) desde 1999. Foi Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Syracuse e da Orquestra Sinfônica de Spokane, da qual é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norteamericanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York. Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere. No Brasil foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

foto | Rafael Motta

Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros. Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e As Alegres Comadres de Windsor. Fabio Mechetti recebeu títulos de Mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York. 5


20h30

8 novembro série allegro Grande Teatro do Palácio das Artes

Marcos Arakaki Sergio Tiempo

regente piano

PROGRAMA Leopoldo MIGUEZ Prometeu Heitor VILLA-LOBOS Bachianas Brasileiras nº 8 Prelúdio Ária (Modinha) Tocata (Catira batida) Fuga

foto | Rafael Motta ilustrações compositores | Mariana Simões

INTERVALO Sergei RACHMANINOFF Concerto para piano nº 3 em ré menor Allegro ma non tanto Intermezzo: Adagio Finale (Alla breve) Sergio Tiempo

Solista

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sÉRIE allegro 8 novembro

marcos

arakaki regente assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Conduziu ainda as filarmônicas de Boshulav Martinu na República Tcheca, Kharkov na Ucrânia, de Buenos Aires, da Universidade Nacional do México e também a orquestra da Academia Americana de Regência, em Aspen.

Formado pela Unesp em 1998, concluiu mestrado em Regência Orquestral pela Universidade de Massachusetts em 2004, com apoio da Fundação Vitae. À frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, gravou em 2010 a trilha sonora para o filme Nosso Lar, composta por Philip Glass.

Como regente titular, o maestro promoveu a reestruturação da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre os anos 2008 e 2010, obtendo grande reconhecimento da crítica especializada e do público na cidade do Rio de Janeiro.

Em 2001, Marcos Arakaki venceu o I Concurso Nacional Eleazar de Carvalho para Jovens Regentes, promovido pela Orquestra Petrobras Sinfônica e, oito anos depois, o I Prêmio Camargo Guarnieri, promovido pelo Festival Internacional de Campos do Jordão.

foto | Miguel Aun

Como regente titular, o maestro promoveu a reestruturação da Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem entre 2008 e 2010, obtendo grande reconhecimento da crítica especializada e do público na cidade do Rio de Janeiro.

Marcos Arakaki já esteve à frente de importantes orquestras no Brasil e no exterior, dentre elas as sinfônicas dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte e Paraíba, a Petrobras Sinfônica, as sinfônicas de Campinas, Recife, da USP e da Unicamp, a Orquestra de Câmara da Osesp e a Experimental de Repertório.

Marcos Arakaki atua como regente assistente da Filarmônica de Minas Gerais desde o começo da Temporada 2011, tendo conduzido a Orquestra em concertos nas cidades de Betim, Brumadinho, Tiradentes, Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei, Juiz de Fora, Governador Valadares, Ipatinga, Teófilo Otoni, Montes Claros, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Varginha, Itabira, Uberlândia e Diamantina, além das séries Vivace, Concertos Didáticos, Concertos para a Juventude e Clássicos no Parque.

Entre 2000 e 2002, Marcos Arakaki foi o principal regente convidado da Camerata Fukuda e regente assistente da Orquestra Sinfônica de Santo André. Em 2005, foi o principal regente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Entre 2007 e 2010, trabalhou como regente titular da Orquestra Sinfônica da Paraíba e 9


sÉRIE allegro 8 novembro

sergio

tiempo Alicia de Larrocha e Maria João Pires; La Roque d’Anteron, Colmar e Montpellier, bem como Martha Argerich e Amigos (Munique) e Arturo Benedetti Michelangelo. Anualmente apresenta-se no Proggetto Martha Argerich de Lugano. Tiempo também tem intensa atividade na música de câmara.

Anunciado por críticos e músicos como um dos talentos extraordinários de sua geração, o pianista argentino-venezuelano Sergio Tiempo tornou-se destaque internacional desde sua estreia aos 14 anos no Concertgebouw de Amsterdã. Apresentou-se em importantes salas pelo mundo, entre elas Kennedy Center, Davis Symphony Hall e Embaixador Hall, nos EUA; Philharmonie de Berlim, Palais des Beaux Arts, Salle Pleyel, Conservatório Verdi, Accademy de Liszt e Hall de Tchaikovsky, na Europa; Suntory Hall, Orchard Hall e Bunka Kaikan, no Japão; Teatro Colón e outras salas da América do Sul.

Le Monde de la Musique, França

Nascido na Venezuela em 1972, Sergio Tiempo começou seus estudos de piano com a mãe aos dois anos. Fez a primeira aparição pública aos três; aos sete anos deu recitais em Londres e na França. Também recebeu lições de Tessa Nicholson, Maria Curcio, Pierre Sancan, Michel Beroff, Jacques Detiege, Alan Weiss, Dimitri Bashkirov, Fou Ts’ong, Murray Perahia e Dietrich Fischer Diskau. Recebeu orientações musicais de Nikita Magaloff, Nelson Freire e Martha Argerich, uma de suas maiores apoiadoras.

Sergio Tiempo tocou, entre outras, com as sinfônicas de Chicago e de Houston com o maestro Christoph Eschenbach, Orquestra de Cleveland com Leonard Slatkin, Sinfônica do Novo Mundo com Michael Tilson Thomas, Montreal Symphony Orchestra com Charles Dutoit, Rotterdam Philharmonic com Vassily Sinaisky, com a Solistas de Moscou e Vladimir Spivakov, Sinfônica de Dallas com Hans Vonk, Filarmônica de Los Angeles com Emmanuel Krivine, Stavanger Symphony Orchestra com Alexander Dmitriev.

foto | Sussie Ahlburg

Fantástico! Esta é a palavra que salta imediatamente ao espírito quando se escuta um registro tão apaixonado. Não ouvi uma performance dos Quadros de uma Exposição tão pessoal, imaginativa e excitante como esta desde Moisseiewitsch, Horowitz, Richter...

Sua gravação ao vivo do recital em Concertgebouw ganhou aclamação mundial (JVC Victor). Gravou Beethoven, Schumann e Chopin. Seu registro mais recente é um CD completo de Mendelssohn com o violoncelista Mischa Maisky para a Deutsche Grammophon.

Suas premiações incluem o Prêmio Alex De Vries 1986 e quatro primeiros prêmios no Festival de Música de Ealing de 1980, onde, aos oito anos, foi homenageado como o participante mais talentoso. Em 2000, recebeu o Prêmio de Davidoff, na Alemanha.

Entre outros festivais, participou do Verbier, onde se apresentou com Martha Argerich, Mischa Maisky, Barbara Hendricks e sua irmã, pianista Karin Lechner; Festival de Toulouse, dividindo o ciclo de Beethoven com 11


sÉRIE allegro 8 novembro

leopoldo

miguez Brasil, 1850 – 1902

Prometeu, Poema Sinfônico nº 3, op. 21 Ano de composição_

16 min

1895

Seu poema sinfônico é baseado no mito grego de Prometeu, que, por diversas vezes, foi transposto em sons, pois não raro sua tragicidade inspirou obras de diferentes compositores. Para ouvir

CD L. Miguez – Prométhée, Poema Sinfônico nº 3 – Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro – Henrique Morelenbaum, regente – Gravação ao vivo – Arquivo de áudio: site Brazilian Concert Music – 2010 Para LER

Vasco Mariz – História da Música no Brasil – Nova Fronteira – 2000

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Embora nascido no Brasil, Leopoldo Miguez viveu toda a adolescência na Europa, onde, posteriormente, se aperfeiçoou em Composição. Foi um apaixonado pelos dramas musicais de Wagner e pelos poemas sinfônicos de Liszt, dos quais se tornou defensor convicto e grande difusor no Brasil. Seu poema sinfônico Prométhée é baseado no mito grego de Prometeu, que, por diversas vezes, foi transposto em sons, pois não raro sua tragicidade inspirou obras de diferentes compositores. Entre elas figuram a abertura As Criaturas de Prometeu (1801), de Beethoven, e a obscura canção Prometheus (1819), de Franz Schubert, sobre o poema homônimo de Goethe; além de obras orquestrais pertencentes ao século XX de Fauré, Scriabin, Carl Orff e Luigi Nono. Mas, certamente foi o Prometheus (1855) de Franz Liszt que inspirou o compositor brasileiro a criar a sua versão. No Prométhée de Miguez percebem-se lampejos da Sinfonia Fausto de Liszt, assim como de características da orquestração do criador do gênero “poema sinfônico”, obra orquestral escrita geralmente em um só movimento, originada na abertura sinfônica. O poema sinfônico é sempre descritivo e sua partitura é, por vezes, acompanhada de texto ou programa que tem por objetivo evocar ideias extramusicais na mente do ouvinte.

A ideia do poema sinfônico de Miguez se referencia no mito do rebelde titã Prometeu, que, com seu irmão Epimeteu, fora encarregado de criar os animais e o homem. Desobediente, Prometeu roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens para que pudessem firmar sua superioridade frente aos outros animais. A punição, outorgada por seu pai, Zeus – ou Júpiter –, fora mantê-lo eternamente amarrado a uma rocha enquanto abutres devorariam seu fígado. O compositor anexou à sua obra o seguinte programa: “Prometeu vai ser punido por ter-se condoído da ignorância e miséria dos homens. Ante a severidade da pena compadecem-se os deuses da sorte do titã e imploram a clemência de Júpiter, inflexível, entretanto, às suas súplicas. Acorrentado ao rochedo, ouvindo as mágoas doloridas das Oceanides e o esvoaçar dos abutres que adejam sobre a sua cabeça, Prometeu conserva-se altivo e sobranceiro às dores que o afligem, sufoca as amarguras do presente e prenuncia a sua glória futura. E quando, repelindo os conselhos e as ameaças do mensageiro de Júpiter, é arrebatado na voragem, sobreleva ao fragor do cataclisma o lamento dos deuses que o deploram”.

Miguez estruturou seu poema sinfônico em três partes: na primeira, são apresentados os dois temas do Prometeu acorrentado: o tema da introdução, triste, porém nobre, é seguido pelo segundo tema, mais agitado, de melodias insistentemente repetidas, sugerindo a indignação do herói. Na segunda parte, arpejos de flauta introduzem o tema lamentoso das Oceanides dado pelas cordas e logo cortado pelo tema dos vorazes abutres, musicalmente representados por trinados agudos e forte percussão. Na terceira parte, os temas já apresentados desfilam num hábil desenvolvimento: o segundo tema de Prometeu e os temas das Oceanides e dos abutres. A tensão da agitada batalha temática é arrefecida no grande finale: o primeiro tema de Prometeu, que fora exposto melancolicamente na introdução, reaparece como um hino de redenção, solene e grandioso, para encerrar a obra. Marcelo Corrêa

Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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sÉRIE allegro 8 novembro

heitor

villa-lobos Brasil, 1887 – 1959

Bachianas Brasileiras nº 8 Ano de composição_

25 min

1944

Cada uma das nove Bachianas destinase a um conjunto instrumental diferente. A Bachiana nº 8 requer grande orquestra e um papel importante é confiado à percussão. Para OUVIR

Heitor Villa-Lobos – Bachianas Brasileiras – Orchestre National de la Radiodiffusion Française – Heitor Villa-Lobos, regente – EMIOdeon – Série Angel – Brasil – 1967 Para ler

Bruno Kiefer – Villa-Lobos e o Modernismo na Música Brasileira – Editora Movimento – 1986

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Na vasta obra de Villa-Lobos, as séries dos Choros e das Bachianas Brasileiras se destacam pela merecida popularidade. Esteticamente, sinalizam caminhos diversos para o nacionalismo do compositor. Os Choros, compostos na década de 1920, demonstram sua preocupação com a Modernidade, enquanto as Bachianas, compostas entre 1930 e 1945, referenciam, na figura de Bach, a tradição da música ocidental. O contato de Villa-Lobos com o cânone musical europeu começou cedo – seu primeiro professor de música foi o pai, homem de grande cultura, que incentivou o filho de seis anos a tocar violoncelo, clarinete, piano, além de levá-lo a ensaios de orquestra, concertos sinfônicos e óperas. Ainda no ambiente familiar, tia Zizinha, pianista amadora, teve grande influência na formação musical do menino. Villa-Lobos gostava de ouvi-la tocar obras de Bach, principalmente O Cravo bem Temperado.

entre os “chorões”. (A amizade com o “capadócio” foi duradoura: anos mais tarde, Zé do Cavaquinho seria funcionário do Conservatório de Canto Orfeônico, organizado e dirigido pelo compositor).

Mas o Rio de Janeiro era a capital dos “chorões” e, após a morte prematura do pai, Villa-Lobos, a partir dos dez anos, livre da censura paterna, deixou-se fascinar pelo popular violão (instrumento associado à boemia, proibido nas salas de concerto). Tornou-se amigo do seresteiro Zé do Cavaquinho, hábil instrumentista, figura altamente conceituada

Em 1923, Villa-Lobos dava novo passo importante em sua carreira, trocando o Rio de Janeiro por Paris, a metrópole das vanguardas artísticas. Na voga de “exotismo selvagem” que dominava a capital francesa, os traços de primitivismo e energia telúrica presentes em sua música foram comparados às então recentes ousadias de Stravinsky e outros

ícones da modernidade. Chamado por Florent Schmitt de néo-sauvage, Villa-Lobos aceitou o epíteto com prazer e deixou circular inverossímeis estórias sobre sua convivência junto a tribos indígenas, em perigosíssimas viagens pelas selvas brasileiras. Assumindo o papel de “compositor dos trópicos”, Villa-Lobos normatizou sua estética nacionalista, sob a premissa de que a verdadeira música brasileira formara-se nos ambientes populares – indígenas, folclóricos, rurais ou urbanos. Por outro lado, soube avaliar o potencial dessa música como contribuição singular para o panorama musical internacional, associando-a aos procedimentos composicionais eruditos característicos do século XX.

Na década de 1910, Villa-Lobos reuniu muito material folclórico. Engajado em uma orquestra mambembe de operetas, viajou pelas capitais litorâneas até o Recife. Depois, na companhia do amigo Donizetti (pianista, saxofonista e grande boêmio), empreendeu, de Fortaleza a Manaus, uma fascinante aventura musical, à procura das vozes da natureza e dos habitantes da região. Orgulhoso desse aprendizado, o compositor gostava de afirmar que seu principal Livro de Harmonia fora o mapa do Brasil. Contudo, em sua obra dessa fase, são perceptíveis, também, fortes influências de modelos europeus como Wagner, Puccini, Vincent d’Indy e Debussy.

De volta ao Brasil, em 1930, Heitor Villa-Lobos exerceu uma atividade abrangente no cenário musical do país, desdobrando-se em múltiplas tarefas – estímulo ao ensino musical, criação de grupos de canto coral, organização e regência de concertos. E continuava compondo muito. As nove Bachianas Brasileiras foram escritas entre as vicissitudes das duas grandes guerras, época da ascensão política dos Estados totalitários. Nas artes, houve grandes desvios nos rumos das vanguardas do início do século, que agora substituíam a irreverência, as inovações e as ousa15


dias das décadas anteriores por uma tendência à institucionalização. Esse retorno à ordem corresponde à “fase neoclássica” de artistas cuja fama inicial associara-se a escândalos iconoclastas. No neoclassicismo de suas Bachianas, Villa-Lobos procura afinidades entre alguns procedimentos musicais brasileiros e a música do grande gênio alemão. Assim, os movimentos das Bachianas trazem, geralmente, dois títulos: um que remete às formas barrocas e outro, bem nacional, seresteiro, sertanejo.

e acompanhamento das demais cordas. A segunda parte da ária traz novo motivo, na forma de um “dobrado”, adaptação brasileira do paso-doble, marcha de origem espanhola. O espírito da modinha retorna com outro tema, vago e profundamente lírico. A Toccata assume o ritmo da “Catira batida”, dança ligeira que se assemelha à giga europeia. A segunda metade apresenta uma melodia cantabile, mas o caráter de toccata persiste no acompanhamento pizzicato dos violoncelos. A Fuga, caracterizada por ritmo bem nacional, poderia trazer o subtítulo brasileiro “Conversa”, como as fugas de outras Bachianas. O próprio Villa-Lobos regeu a estreia dessa peça, a 6 de agosto de 1947, em Roma.

Cada uma das nove Bachianas destina-se a um conjunto instrumental diferente. A Bachiana nº 8 requer grande orquestra e um papel importante é confiado à percussão. Divide-se em quatro movimentos. O Prelúdio possui um prolongado tema que contrasta com ritmos regionais brasileiros. A Ária, com seu subtítulo “Modinha”, é uma canção sentimental impregnada de melancolia, com expressivo tema no violoncelo

Paulo Sérgio Malheiros dos Santos

foto | André Fossati

Pianista, Doutor em Letras pela PUC Minas, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais, autor do livro Músico, doce músico.

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sÉRIE allegro 8 novembro

sergei

rachmaninoff Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943 Eclético e imaginativo, Rachmaninoff herdou o lirismo russo de Tchaikovsky, a proficiência pianística de Liszt e a liberdade emotiva e anticerebral de Grieg. Esta última ligada à doutrina do belo e à utilização dos elementos nacionais bem diferentemente de seus contemporâneos russos. Aos vinte e quatro anos, já era muito conhecido por toda a Rússia como compositor, regente e pianista. Conhecera, então, uma execução desastrosa de sua Primeira Sinfonia, sob a direção de Glazunov, aparentemente bêbado, seguida do fracasso de seu Concerto para Piano nº 1. Atingido por um desespero psicótico, desistira de compor temporariamente, permanecendo em profunda depressão. Somente depois de prolongado tratamento de hipnose com o Dr. Nicolai Dahl, Rachmaninoff pôs-se outra vez a compor. Seu Concerto para Piano nº 2, executado em 1901, devolveu-lhe todo o êxito e popularidade merecidos. Em 1909, compôs o Concerto para Piano nº 3, especialmente para sua primeira turnê nos Estados Unidos, país no qual veio a se estabelecer a partir de 1918. Saído da tranquilidade de uma confortável datcha nos arredores de Moscou, na qual escrevera a obra, Rachmaninoff teve somente nove dias para ensaiar a dificílima parte solista num teclado mudo durante a travessia do Atlântico, de navio. A obra foi estreada

Concerto para Piano e Orquestra nº 3 em ré menor, op. 30 Ano de composição_

46 min

1909

[...] este concerto é uma possibilidade permitida somente aos grandes pianistas que aprenderam a manejar o instrumento com absoluta economia e destreza. Para ouvir

CD Great Pianists – Rachmaninov – Piano Concertos Nos. 2 e 3 (Original RCA Victor) – The Philadelphia Orchestra – Eugene Ormandy, regente – Rachmaninov, piano – Naxos – 1999 Para ler

Attila Csampai e Dietmar Holland – Guia Básico dos Concertos – Civilização Brasileira – 1995

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em 1909 pela Orquestra Sinfônica de Nova York regida por Damrosch e reapresentada em 1910 pela Filarmônica de Nova York sob a regência de Gustav Mahler. O compositor foi o solista nas duas ocasiões e, após trinta anos, gravou a obra com a Orquestra da Filadélfia sob a batuta de Eugene Ormandy. Com andamento mais acelerado, alguns cortes e uma cadenza mais curta e scherzante para o primeiro movimento, o compositor, em sua gravação, tentou destituir sua composição dos rótulos de obra cavalar ou “concerto elefante”, segundo Arthur Rubinstein, referindo-se à grande extensão e às enormes dificuldades técnicas do concerto. Comparado a escalar o Himalaia, este concerto é uma possibilidade permitida somente aos grandes pianistas que aprenderam a manejar o instrumento com absoluta economia e destreza. Caso contrário, o solista seria engolido por densos acordes e incontáveis arpejos até um esgotamento físico e mental, como exposto no filme Shine, no qual o pianista David Helfgott desmaia após digladiar-se com a obra. O filme, ganhador de Oscar, contribuiu ainda mais para a fama de concerto inatingível e humanamente desgastante. Acredita-se que Rachmaninoff tocava grandes acordes com facilidade por possuir a síndrome de Marfan, doença dos “dedos de aranha”, visto

que sua extensão de mão alcançava trinta centímetros. Curiosamente, seu Concerto nº 3 fora dedicado ao pianista Josef Hofmann, de estatura mediana e mãos pequenas. Musicalmente, o Concerto nº 3 demostra que seu estilo se tornara cada vez mais arrojado e livre no uso dos recursos musicais, mas que o caráter emotivo e nostálgico se mantivera invariável. Rachmaninoff, em seus quatro concertos para piano, se esforçara para atingir uma severa unidade em seus temas, que nos prendem pela intensidade expressiva, e para combinar antigas tradições e novos ideais em seu pianismo exuberante, autêntico e de bom gosto. Marcelo Corrêa

Pianista, Mestre em Piano pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais.

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20h30

20 novembro série vivace Grande Teatro do Palácio das Artes Fabio Mechetti Paulo Szot

regente barítono

PROGRAMA Gustav MAHLER Blumine Gustav MAHLER Rückert Lieder (sobre textos de Friedrich Rückert) 1. Blicke mir nicht in die Lieder! (Não me contempla nas canções!) 2. Ich atmet’einen linden Duft (Respirei um suave aroma) 3. Um Mitternacht (À meia-noite) 4. Liebst du um Schönheit (Ama pela beleza) 5. Ich bin der Welt abhanden gekommen (Estou separado do mundo) Paulo Szot

Solista

INTERVALO Richard WAGNER

Os Mestres Cantores - Ato III Introdução Dança dos Aprendizes Procissão

foto | André Fossati

Richard WAGNER Adeus de Wotan e Música do Fogo Mágico

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Paulo Szot

Solista

Richard WAGNER A Cavalgada das Valquírias 21


sÉRIE vivace 20 novembro

paulo

szot em Bordeaux, Nice, Barcelona, Spoletto e Toulon; debutou na Ópera Garnier de Paris em 2011 em Cosi Fan Tutte.

Paulo Szot é natural de São Paulo e iniciou seus estudos musicais com quatro anos no piano e, em seguida, no violino. Estudou na Universidade Jaggiellonski, em Cracóvia, Polônia, onde começou sua carreira profissional como cantor lírico em 1990.

Cantou com a Filarmônica de Nova York no Avery Fischer Hall. No Carnegie Hall apresentou-se com a New York Pops em 2010 e com Deborah Voigt em 2011.

No Brasil, estreou como Figaro de O Barbeiro de Sevilha em 1997, em São Paulo; em Belo Horizonte, estreou no Palácio das Artes em 2003 no mesmo papel. Sua estreia internacional foi em Nova York como Escamillo de Carmen no New York City Opera. Desde então apresenta-se em diversos teatros de ópera e salas de concerto do mundo.

Revista Veja, Brasil 22

Em 2010 debutou no palco do Metropolitan Ópera House no papel protagonista de O Nariz de Shostakovich, com regência de Valery Gergiev. Também com Metropolitan Ópera cantou Escamillo em 2011 e nas próximas temporadas do MET cantará Lescault em Manon, Falke em O Morcego, retornará com O Nariz e, também na Ópera, A Dog’s Heart de M. Bulgakov. A produção de Manon de Massenet será transmitida ao vivo nos cinemas do Brasil em HD pela produtora MovieMobz, em 2012. foto | Divulgação

Aplaudem-no de pé. Presenteiam-no com ovações em cena aberta. Dão-lhe todos os prêmios. Fora o Tony, Szot arrematou o Drama Desk, como o melhor ator de musical, e os prêmios da crítica, o Outer Critics, e da indústria teatral, o Broadway League.

Recentes e futuras apresentações incluem Carmen em Tokyo e em São Francisco; Manon, O Morcego, O Nariz e A Dog’s Heart no Metropolitan Ópera; Le Nozze di Figaro no Festival de Aix-En-Provence e também em Dijon e Peralada; estreia em 2013 no La Scala de Milão de A Dog’s Heart, entre outras. Paulo Szot é vencedor de inúmeros prêmios decorrentes da excelência e versatilidade de suas performances. Destacam-se o Drama Desk, Outer Critics e o Tony Award de melhor ator em musical de 2008 por sua interpretação de Emile de Becque no musical South Pacific, na Broadway, onde ficou em cartaz por dois anos e meio. Ainda como Emile de Becque estreou no Barbican de Londres e em Oxford em 2011.

Na Europa, estreou em 2004 na Ópera de Marselha no papel título de Eugene Onegin. Em seguida cantou 23


sÉRIE vivace 20 novembro

gustav

mahler Áustria, 1860 – 1911

Blumine Ano de composição_

7 min

Gustav Mahler, como compositor de Lieder, inscreve-se na tradição romântica austro-germânica, no universo poético descortinado a partir das canções de Schubert e de Schumann. Como seus antecessores, mergulha, com sua música, nos sentidos do texto e subverte as características particulares dos domínios envolvidos: a linguagem musical parece dotada de conteúdo semântico e a obra revela a musicalidade da palavra. Nos Lieder com orquestra, essas características se evidenciam, de modo particular, através da paleta mahleriana, rica em matizes, contrastes, de uma inventividade que põe à prova a percepção do ouvinte. Nos Lieder, a orquestra também canta, dialoga com o poema; não acompanha apenas, como mera espectadora, mas participa do argumento literário. Nos Rückert Lieder, esse diálogo chega mesmo a se apresentar com um tratamento orquestral específico para cada peça. Isso se dá, sobretudo porque essas cinco canções não constituem um ciclo, como os Kindertotenlieder ou os Lieder eines fahrenden Gesellen, que propõem temáticas que lhes dão um sentido de unidade.

1888

Rückert Lieder Ano de composição_

21 min

1901/1902

Nos Lieder, a orquestra também canta, dialoga com o poema; não acompanha apenas, como mera espectadora, mas participa do argumento literário. [...] A inclusão de Blumine no programa desta noite dá ênfase ao canto que Mahler entrega à orquestra. Para ouvir

CD Blumine – Sydney Symphony – Vladimir Ashkenazy, regente – 2010 CD Mahler – Rückert Lieder – Orquestra Filarmônica de Viena – Leonard Bernstein, regente – Thomas Hampson, barítono – Philips – 2007

Blicke mir nicht in die Lieder é orquestrada para apenas alguns instrumentos de sopro – flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa –,

Para ler

Michael Kennedy – Mahler – Jorge Zahar Editor – 1988 24

da delicadeza do texto. Os mesmos sopros, as cordas reduzidas a violinos e violas, a harpa e, agora, a celesta, conferem ao todo leveza e brilho discreto – “perfume de ramo de tília, presente de alguém amado.”

harpa e um naipe de cordas sem os contrabaixos. O texto adverte o leitor quanto à curiosidade acerca do ato criador: diante de um olhar incisivo, o poeta baixa os olhos, como se cometesse uma má ação. Rückert, ao falar da atividade das abelhas, faz uma metáfora acerca da criação, de seus misteriosos processos que, conduzidos pelo artista, por um impulso interior, quase como uma necessidade inata, consubstanciam-se na obra acabada. Mahler estrutura o Lied, tomando como fio condutor um ostinato em colcheias, entregue ao clarinete, ao fagote, aos segundos violinos, violas e violoncelos. Esse perpetuum mobile confere à obra, de início, certa inquietude e uma expressão de fugacidade, coroadas, ao final, por um gesto melódico ascendente – uma interrogação de sopros e cordas conduzida pela harpa.

“Viver só, em meu céu, em meu amor, em meu canto”. As palavras finais – Himmel, Lieben, Lied – ecoam, lentamente, na frase em arco que conclui Ich bin der Welt abhanden gekommen. Nesse Lied não é apenas do tumulto do mundo que se refugia o poeta, em seu retiro ideal. Refugia-se também do destino humano, nessa obra que parece suspender a marcha inexorável do tempo. Desde a extensa introdução, pode-se estabelecer um paralelo com a melodia e com a atitude contemplativa do Adagietto da Quinta Sinfonia (1901/1902), contemporânea dos Rückert Lieder. A orquestração inclui sopros, agora sem a flauta – oboé, corne-inglês, dois clarinetes, dois fagotes e duas trompas –, harpa e cordas. Destacam-se os solos de corne-inglês, esse timbre nostálgico, como observou Berlioz em seu Tratado de Orquestração, caro aos românticos (Wagner, no Prelúdio do terceiro ato de Tristão e Isolda, e Berlioz, na Cena no campo, da Sinfonia Fantástica), cujo canto articula as três seções da canção e que, ao final, após recordar, secundado pelas cordas, a atmosfera do Adagietto, expira, serenamente.

Em Ich atmet’ einen linden Duft, entregue a violinos, com breves incursões pelas violas, o ostinato agora é todo suavidade. A árvore é a mesma tília que reconforta o caminhante nos Lieder eines fahrenden Gesellen, do próprio Mahler, ou na Winterreise de Schubert. A linha do canto, a evocar uma melodia schubertiana – ao contrário de algumas passagens do Lied anterior –, dialoga com o oboé e com a flauta e é secundada por uma orquestração que vai ao encontro 25


ca, comenta, solenemente, a entrega e a transfiguração.

A escolha do texto para o canto de amor de Liebst du um Schönheit, dedicado a Alma Mahler, retrata a hesitação do compositor em tomar como esposa a jovem, cerca de vinte anos mais jovem que ele. O Lied evolui, ao longo das quatro estrofes do poema, com a voz buscando, gradativamente, através de frases ascendentes, pontos culminantes melódicos, que fazem lembrar o Träumerei, de Schumann. Em dois desses pontos, o tempo parece ficar suspenso – Frühling, ao final da segunda estrofe, e immer, ao final da quarta. À exceção da presença de dois oboés e de quatro trompas, a orquestra é a mesma de Ich bin der Welt abhanden gekommen. Ao final da canção, a linha melódica do canto é continuada pelos sopros; a voz se cala, como no Dichterliebe de Schumann, e a orquestra fala.

A inclusão de Blumine no programa desta noite dá ênfase ao canto que Mahler entrega à orquestra. Esse movimento sinfônico, incluído como segundo movimento da Primeira Sinfonia, foi retirado desta, quando de sua publicação, em 1899. Ganhou vida própria, levando sua mensagem delicada, que se inicia com uma melodia singela, entregue a um solo de trompete que, após algumas intervenções, superpostas, das madeiras e das trompas, é concluída pelas cordas. Ecos da melodia, no trompete, fecham a primeira seção da obra. A seção central, em tonalidade menor, dá voz sobretudo às madeiras. A melodia principal da primeira seção, modificada, insinua-se nas trompas, passa por diversos timbres nas madeiras e é retomada pelo trompete solista para a conclusão da obra. A forma é simples, ternária, mas escapa de uma simples repetição, na seção conclusiva. Leveza, rarefação, lembram em Blumine o perfume da tília: um presente, despretensioso, com a sinceridade de uma Canção sem Palavras.

O mergulho na solidão e na noite dá a tônica de Um Mitternacht. A solenidade desse momento de encontro consigo mesmo tem correspondentes timbrísticos marcantes. Pela primeira vez, as cordas estão ausentes; a orquestra requer duas flautas, um oboé d’amore, dois clarinetes, dois fagotes, um contrafagote, entre as madeiras; quatro trompas, dois trompetes, três trombones e uma tuba, entre os metais; além de tímpanos, harpa e piano. Um motivo breve, nos clarinetes, associado ao Mitternacht, também breve, do canto, marca o início de cada uma das cinco seções. A imersão do poeta, desesperançado, na noite da dor humana e de seu próprio sofrimento, parece ter correspondência nas melodias graves, descendentes, de trompas, tuba, fagote e contrafagote. Só a confiança nas mãos poderosas do “Senhor da vida e da morte” fazem triunfar sobre a condição humana. A conclusão brilhante do Lied, com uma sonoridade organísti-

Oiliam Lanna

foto | Eugênio Sávio

Compositor e regente, professor da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

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sÉRIE vivace 20 novembro

richard

wagner Alemanha, 1813 – Itália, 1883 Ironicamente, a despeito de seu ideal de uma arte sintética, que unisse, em uma única manifestação, música, drama e palavra, Richard Wagner e sua música se tornaram conhecidos, em tempos mais recentes, principalmente pelos trechos sinfônicos de suas óperas. No entanto, esses excertos preservam tamanha coesão interna, que, ainda que isolados, não se desvirtuam esteticamente das proposições estéticas e linguísticas, por assim dizer, lançadas por Wagner. Com isso, foram beneficiados o repertório sinfônico e o público em geral: a este, nem sempre disposto a ouvir integralmente obras tão extensas e complexas como Parsifal ou Tristão e Isolda, foi dada a oportunidade de travar contato com um aspecto importante da linguagem da fase final do Romantismo. Àquele foi dada justamente a oportunidade de incluir nos concertos esse mesmo repertório, levando-o para além dos espaços um tanto restritos e “sacralizados” da ópera wagneriana, cujo maior exemplo são os espetáculos do Festival de Bayreuth. Assim integrados ao repertório sinfônico, caíram no gosto do público trechos como a Abertura de Tanhäuser, o Prelúdio de Tristão e Isolda (frequentemente sucedido, nos concertos sinfônicos, pela “Morte de Isolda”, ária final da ópera), a abertura de Os Mestres Cantores de Nuremberg e a Cavalgada das Valquírias.

Os Mestres Cantores Ano de composição_

14 min

1862/1867

A Valquíria Ano de composição_

20 min

1854/1856

Richard Wagner e sua música se tornaram conhecidos, em tempos mais recentes, principalmente pelos trechos sinfônicos de suas óperas. Para ouvir

CD Richard Wagner – Orchestral Music from Der Ring des Nibelungen, Die Meistersingen, Tristan und Isolde – Orquestra de Cleveland – George Szell, regente – Sony Classics – 1992 Para ler

Richard Wagner – Opera and Drama – Tradução inglesa (do original alemão) de William Ashton Ellis – Dodo Press – 2008

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No entanto, mais do que concretizar suas ideias a respeito do “Drama Musical”, O Anel dos Nibelungos é, para Wagner, o meio em que ele articula definitivamente aspectos fundamentais de sua linguagem. A técnica do leitmotif é aí ampla e explicitamente empregada, a orquestração toma novas dimensões (com a criação, inclusive, de novos instrumentos, como a “trompa wagneriana”) e o trabalho com o sistema tonal passa a ser de tal forma arrojado, que há quem diga que não se trata mais de tonalidade, mas de regiões tonais. Se esse tipo de trabalho, em que se explora a instabilidade do cromatismo, já havia sido levado exponencialmente a termo em Tristão e Isolda (1865), é explorado também nas óperas do Anel, como elemento já filtrado e transformado em fundamento da própria linguagem wagneriana, agora amadurecida.

À parte a famosa Marcha Nupcial (na verdade se trata de um coro nupcial inserido num momento apoteótico de Lohengrin, ópera de 1850), hoje torturada – em cerimônias de casamento do mundo todo – pelas mais bizarras formações instrumentais, o trecho instrumental das óperas de Wagner mais explorado pela mídia em tempos recentes talvez seja justamente a Cavalgada das Valquírias. Essa peça abre o terceiro ato de A Valquíria, segunda ópera de uma tetralogia intitulada O Anel dos Nibelungos, constituída por: O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses. Composto entre 1848 e 1874, O Anel dos Nibelungos é um marco definidor da linguagem wagneriana. Aí Wagner abraça definitivamente as propostas preconizadas em Ópera e Drama, grande ensaio publicado em 1851, em que ele define o que chama de “trabalho artístico do futuro”, no qual música, poesia e artes visuais deveriam se fundir numa única manifestação, a que ele nomeia “Drama Musical”. Assim, Wagner toma por base para o enredo do Anel (saga épica cujo libretto ele mesmo escreve) elementos da mitologia nórdica e germânica, cujo centro narrativo trata da luta pela posse de um anel mágico, forjado pelo anão Alberich, feito de ouro do Rio Reno.

A Valquíria foi concluída na primavera de 1856. Nessa segunda ópera do Anel é que se começa efetivamente a desenrolar o enredo da saga. Em A Valquíria o drama gira em torno do desentendimento da valquíria Brünhilde com o pai Wotan, chefe dos deuses, quando ela hesita em obedecer a uma ordem do pai. Na mitologia wagneriana, as valquírias eram encarregadas de levar as almas dos guerreiros mortos para o Walhalla. 29


Assim, abrindo o terceiro ato da ópera, A Cavalgada das Valquírias é dotada, na acepção wagneriana de drama musical, de certos elementos descritivos que procuram evocar a imagem dessas donzelas guerreiras, no papel que elas cumprem dentro da mitologia do Anel.

grandiloquência o futuro, mas mais engajado em posicionar-se a si e à sua linguagem numa tradição de que ele mesmo é herdeiro. Talvez por isso Os Mestres Cantores seja uma de suas óperas mais populares e mais interpretadas atualmente, e talvez daí a sua abertura ter se tornado uma das obras de referência do repertório sinfônico universal.

Também no terceiro ato, encerrando a ópera, estão a tocante ária hoje conhecida como o Adeus de Wotan e outro excerto instrumental, conhecido como a Música do Fogo Mágico. Nessa cena final, Wotan, compadecido da sorte de sua filha preferida, transformada em mortal, beija os olhos de Brünhilde e a coloca em um sono mágico. Ele ordena que Loge, o semideus nórdico do fogo, acenda um círculo de chamas que a irá proteger e então, cheio de tristeza, se retira. À parte a beleza da música e da cena, esse trecho é particularmente importante na composição do Anel porque aí é introduzido um leitmotif que mais tarde será identificado com a figura de Siegfried.

Igualmente importantes para o repertório sinfônico são certos excertos do terceiro ato: a Introdução, a Dança dos Aprendizes e a Procissão dos Mestres Cantores. Chega a ser desconcertante observar, nesses trechos (como também no todo da ópera), certa “leveza” que, principalmente se comparados a outros monumentos da obra wagneriana, parecem destoar da proposição de Drama Musical que o próprio Wagner construiu e advogou. O que deve ser considerado, porém, é que se trata de um Wagner, posto que já maduro, preocupado em sintetizar seu próprio passado musical e sua própria herança cultural, o que não deixa de ser um grande argumento para anunciar ou construir o futuro.

Os Mestres Cantores de Nuremberg, por sua vez, pertence a outra safra da produção wagneriana. Quase entrando em contradição com seus próprios preceitos, em Os Mestres Cantores Wagner parece resgatar uma tradição da ópera alemã que teve seu caminho aberto pela Flauta Mágica de Mozart e teve a sequência trilhada pelo Fidelio de Beethoven e, mais tarde, por Der Freischütz de Weber. Os elementos musicais e dramáticos estruturadores do Anel somente aparecem nos Mestres Cantores, em sua complexidade quase prolixa, de forma rarefeita. Isso lhe confere uma acessibilidade bem maior do que as obras do Anel ou do que o próprio Tristão e Isolda, que data da mesma década. Estreada em 1868, Os Mestres Cantores de Nuremberg revela um Wagner menos preocupado em “profetizar” e construir com

Moacyr Laterza Filho

foto | André Fossati

Pianista e cravista, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC Minas, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais e na Fundação de Educação Artística.

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20h30

29 novembro série allegro Grande Teatro do Palácio das Artes

Carlos Miguel Prieto

regente convidado

Daniel Lemos

percussão

Sergio Aluotto

percussão

Werner Silveira

percussão

PROGRAMA Silvestre REVUELTAS Redes José Pablo MONCAYO Huapango Russell PECK The glory and the grandeur Daniel Lemos, Sérgio Aluotto, Werner Silveira Solistas

foto | Eugênio Sávio

INTERVALO

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Dmitri SHOSTAKOVICH Sinfonia nº 6 em si menor, op. 54 Largo Allegro Presto

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sÉRIE allegro 29 novembro

carlos miguel

prieto no-americano para orquestra, sob o selo Urtext. Em 2006 iniciou um projeto de gravações com a Royal Philharmonic, em Londres.

Carlos Miguel Prieto é um dos jovens diretores mais interessantes e versáteis da atualidade. É diretor titular da Orquestra Sinfônica Nacional do México desde setembro de 2007 e com ela realizou uma turnê pela Europa em 2008, com 14 concertos em Berlim, Paris, Leipzig, Amsterdã e outras cidades.

Orange County Register, Estados Unidos 34

Carlos Miguel é também diretor titular das orquestras sinfônicas de Minería, de Louisiana e de Huntsville; foi diretor associado da Sinfônica de Houston, diretor titular da Orquestra Sinfônica de Xalapa e diretor associado da Filarmônica da Cidade do México. É fundador e diretor musical do Festival Mozart-Haydn. Desde 2004, o maestro Prieto é diretor principal da Orquestra Juvenil das Américas, com a qual obteve enorme êxito no Teatro Colón de Buenos Aires, no Kennedy Center de Washington e nas Nações Unidas, em Nova York.

foto | Peter Schaaf

Sua regência é vigorosa, direta e inspiradora, gerando uma agradável mistura de refinamento musical e fluidez livre e espontânea. Prieto conduziu ambas as obras com uma sensibilidade precisa de linha narrativa, verve rítmica e cor instrumental.

Carlos Miguel Prieto começou seus estudos de violino aos cinco anos, com Vladimir Vulfmann. Como violinista participou dos festivais de Tanglewood, Aspen, Interlochen, San Miguel de Allende e Cervantino. Desde muito jovem é membro do Quarteto Prieto, uma tradição musical de quatro gerações, com o qual se apresentou no México, Estados Unidos e Europa. Em 1996 tocou como solista com a Orquestra Sinfônica Nacional do México. Estudou regência com Jorge Mester, Enrique Diemecke, Charles Bruck e Michael Jinbo, e também em cursos na Escola Pierre Monteux, em Tanglewood e em Le Domaine Forget. Possui graduação nas universidades de Princeton e Harvard. Em 2002, Carlos Miguel Prieto recebeu o Prêmio da União Mexicana de Críticos de Música e em 1998 recebeu a Medalha Mozart, outorgada pelos governos do México e da Áustria. Por seu trabalho musical e educativo foi convidado a participar do Fórum Mundial de Davos, Suíça como Líder do Amanhã.

Além da sua exitosa estreia como diretor residente da Filarmônica de Nova York em outubro de 2005, apresentou-se com outras prestigiosas orquestras nos Estados Unidos. Em 2008, estreou com a Sinfônica de Boston e com a Sinfônica de Chicago, concertos com a presença do solista Yo-Yo Ma. Dirigiu a estreia mundial de mais de 50 obras e gravou seis discos de repertório mexicano e lati35


sÉRIE allegro 29 novembro

daniel

lemos Nacional Claudio Santoro, em Brasília, Orquestra Experimental de Repertório e Orquestra Sinfônica da USP, e também como timpanista na Orquestra Ouro Preto.

Desde muito cedo Daniel Lemos escolheu a bateria como primeiro instrumento musical. Ainda criança, tocava em casa com sua mãe ao piano e seu irmão no baixo, ambos alunos da Escola do Zimbo Trio em São Paulo.

ClickMinas.com.br, Brasil 36

foto | Marcelo Coelho

Quem comparecer terá oportunidade de assistir a uma apresentação inovadora e instigante. O volume e o número de instrumentos, as trocas de posições e a logística de palco só são possíveis graças à infraestrutura oferecida pela orquestra e uma sólida equipe de apoio.

De 1999 a 2007 foi timpanista da Orquestra Amazonas Filarmônica e com ela participou de nove edições do Festival Amazonas de Ópera, incluindo a montagem completa de O Anel dos Nibelungos de Richard Wagner.

Em 1992 ingressou na Escola Municipal de Música de São Paulo, onde estudou os fundamentos da percussão clássica com a professora Elizabeth Del Grande. Um ano mais tarde ingressou no bacharelado em Percussão do Instituto de Artes da Unesp, estudando com os professores John Boudler, Carlos Stasi e Eduardo Gianesella. Nesta época integrou o Piap – Grupo de Percussão da Unesp, tendo participado da gravação do CD Obras Brasileiras Inéditas para Percussão. Em 1997 concluiu o bacharelado e realizou o recital de formatura em Percussão no auditório da Unesp.

Em 2001 foi aprovado no concurso para professor de Percussão da Universidade do Estado do Amazonas, onde lecionou até 2007. Em Manaus lecionou também no Centro Cultural Claudio Santoro. Realizou diversos concertos como diretor dos grupos de percussão dessas instituições. Em 2009 e 2010, ao lado de Werner Silveira, Sérgio Aluotto, Rubén Zúñiga e Ambjorn Lebech, realizou concertos com o Grupo de Percussão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais em Belo Horizonte, São Paulo e Brumadinho (Inhotim), dentro do projeto de Concertos de Câmara da Filarmônica.

Participou de diversos festivais de música e encontros de percussão em várias cidades do Brasil, assim como de aulas e masterclasses com renomados professores de percussão, entre eles Vic Firth, Carlos Stasi, Ney Rosauro, Eduardo Leandro, Christopher Lamb, Eduardo Gianesella, John Boudler, Ricardo Bologna, Artur Lipner e Leigh Howard Stevens.

Atualmente, além de percussionista e timpanista assistente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, é professor do curso de Percussão do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Cefar).

Atuou como percussionista convidado na Orquestra Sinfônica do Teatro 37


sÉRIE allegro 29 novembro

sérgio

aluotto Neste ano estreou, com a Orquestra Ouro Preto, o Concertino para Vibrafone e Orquestra de Cordas, obra composta por Rufo Herrera. Participou da International Beatle Week, em Liverpool, Inglaterra; do espetáculo Valencianas, com o músico Alceu Valença; e da montagem de O sempre Amor, com Adélia Prado e a Orquestra do Sesiminas.

Natural de Belo Horizonte, Sérgio Aluotto cursou o bacharelado em Percussão e concluiu recentemente o mestrado em Performance Musical, ambos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob orientação de Fernando Rocha. Nessa mesma instituição participou da Orquestra Sinfônica, do Grupo de Percussão e do Grupo de Música Contemporânea Sonante 21. Estudou ainda na Drummers Collective, em Nova York, em 1995, e participou de cursos, oficinas e aulas com os percussionistas Rubén Zuñiga, Eduardo Gianesella, Ricardo Bologna, Eduardo Leandro, John Rilley, Michael Lauren, entre outros.

Estado de Minas, Brasil 38

Em 2004, foi o músico mineiro selecionado para participar do projeto Orquestra para Todos, junto à Orquestra Sinfônica Brasileira. Integrou a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais de 2001 a 2007 e foi professor do bacharelado em Percussão da UFMG de 2004 a 2006. Integra a Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008. Sérgio também participa da Orquestra Ouro Preto, sob regência do maestro Rodrigo Toffolo. foto | Marcelo Coelho

A originalidade do percussionista Sérgio Aluotto aparece primeiro na forma como ele apresenta seu trabalho e, depois, se confirma no conteúdo.

Além da atuação no meio sinfônico, Sérgio Aluotto desenvolve trabalhos como compositor e intérprete. Em 2005 gravou o álbum Incipit, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Participa do projeto Suíte para os Orixás, de Esdra Ferreira e Mauro Rodrigues, que consiste na releitura de cantos e melodias africanas. Também trabalhou com os músicos e grupos Rufo Herrera, Werner Silveira, Kristoff Silva, Dílson Florêncio, Eduardo Campos, Décio Ramos, Uakti e Skank. Dentre os espetáculos teatrais de que participou destacam-se Bricole, com direção de Marcelo Cordeiro, e Corpo, Carne e Espírito, de Paulo Chagas.

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sÉRIE allegro 29 novembro

werner

silveira elas Ionization, de Edgar Varèse, e Credo in us, de John Cage. Também realizou estreias de obras dos compositores Eduardo Campos, Guilherme Antônio e Maurício Ribeiro.

Werner Silveira é percussionista da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde a sua criação, em 2008. Concluiu o bacharelado em Música, com habilitação em Percussão, pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 2003, sob orientação do professor Fernando Rocha. Foi aluno do percussionista Rubén Zúñiga, realizando estudos voltados para o repertório orquestral. Em 2006 e 2007 fez cursos de aperfeiçoamento orquestral com os professores Eduardo Gianesella e Alfredo Toledo Lima, ambos percussionistas da Osesp. Werner participou de masterclasses com os percussionistas Ricardo Bologna, Carlos Stasi e Eugenie Burkett.

Nesse mesmo período formou, com o percussionista Sérgio Aluotto, o Duo Garavato, com o intuito de valorizar e disseminar o repertório para duo de percussão. Com o Grupo de Percussão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, realizou concertos em 2009 e 2010 nas cidades de Belo Horizonte e São Paulo e no Instituto Inhotim, em Brumadinho.

Sua formação voltada para o repertório orquestral inclui cursos com percussionistas como Rubén Zúñiga. 40

foto | Marcelo Coelho

De 2005 a 2010, foi professor da Escola de Música do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Cefar). Nesse período, foi coordenador do Grupo de Percussão do Cefar e, em 2010, coordenador do Departamento de Música da instituição. Werner Silveira foi integrante da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais entre 2001 e 2007. A partir de 1999, até 2002, integrou o Grupo de Percussão da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a direção do professor Fernando Rocha. Com o Grupo executou importantes obras do repertório para percussão, entre 41


sÉRIE allegro 29 novembro

silvestre

revueltas México, 1899 – 1940 Revueltas, um dos mais importantes compositores mexicanos, compôs nove trilhas sonoras, duas das quais pensadas também como música de concerto: Redes e Música para charlar, que passaram a figurar no repertório como suítes orquestrais, devido às versões de Erich Kleiber, regente austríaco.

Redes

1935 (Suíte orquestral de Erich Kleiber: 1943) 16 min Ano de composição_

Na realidade, fez-se o filme para a música, mais que a música para o filme. A música original é um poema sinfônico em três movimentos, estreado dois meses antes do filme.

Antes do projeto de Redes, Revueltas encontrava-se nos Estados Unidos. Voltou ao seu país para assumir o cargo de regente assistente da Orquestra Sinfónica de México, em 1929, a convite de Carlos Chávez (grande figura da música mexicana com quem trabalhou até 1935). Chávez propusera ao Departamento de Belas Artes, como seu diretor, a realização de um filme de orientação socialista inspirado nos pescadores de Veracruz. Endossado e financiado pelo governo mexicano, o projeto teria a direção de Paul Strand e Fred Zinnemann, e roteiro de H. Rodakiewicz. Numa resposta ao cinema comercial da época e sob influência do realismo socialista de Sergei Eisenstein, a proposta do filme propagandeava o espírito nacionalista e trazia aos espectadores questões sociais. Era a arte cinematográfica a serviço da conscientização do trabalhador mexicano.

Para ler

Silvestre Revueltas – Silvestre Revueltas por él mismo: apuntes autobiográficos, diarios, correspondencia y otros escritos de un gran músico – Ediciones Era – 1989 Para assistir

Redes – Emilio Gómez Muriel e Fred Zinnemann, direção – México – 1936

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O projeto de Redes foi proposto num período de mudanças políticas que acarretavam alterações nos cargos diretivos em todo o país. Chávez deixou a direção do Departamento de Belas Artes, perdendo também a oportunidade de compor a música de Redes. Castro Leal, novo diretor, indica então Revueltas para a composição da trilha, com o que a relação entre os compositores fica estremecida. Apesar de prazos estabelecidos, mas com problemas técnicos, o filme é deixado de lado. As mudanças constantes nos cargos de chefia levaram ao afastamento da equipe anterior, que retornou aos EUA. No final de 1935, o diretor mexicano Emilio Gómez Muriel retoma o projeto no intuito de reparar os problemas técnicos e, finalmente, lançar o filme. Revueltas decide, então, recompor toda a música para a nova versão.

Orquestra Sinfónica Nacional regida pelo autor. Em 1943 Erich Kleiber reelabora a partitura criando uma suíte em duas grandes seções, levando em conta o roteiro: I – Los pescadores. Funeral Del niño. Salida a la pesca; II – Lucha. Regreso de los pescadores con su compañero muerto. Nele, o pescador Miro dá a vida pela comunidade, trabalhando incessantemente. Seu filho adoece e Miro recorre ao mercador, que não o socorre. Sem dinheiro para os medicamentos, o filho morre. A dor do luto desencadeia no pai a revolta. Incita os pescadores contra o mercador que lhes compra os peixes por baixo custo. O mercador contrata um político profissional que divide os manifestantes, deflagrando violento confronto em que Miro morre. Sua morte reúne novamente os pescadores que, em cortejo, levam o corpo para a cidade em sinal de desafio. O filme e a suíte representam a morte, num primeiro momento, como dolorosa injustiça social e, subsequentemente, como o sacrifício a serviço da revolução.

Em dezembro de 1935 Revueltas já havia composto 85 páginas de música para orquestra, contínua e autônoma, pensada para ser igualmente efetiva num concerto ou articulada às imagens cinematográficas. Na realidade, fez-se o filme para a música, mais que a música para o filme. A música original é um poema sinfônico em três movimentos, estreado dois meses antes do filme, num concerto no Palacio de Bellas Artes, em maio de 1936, pela

Igor Reyner

Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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sÉRIE allegro 29 novembro

José Pablo

moncayo México, 1912 – 1958 A morte do compositor José Pablo Moncayo em 1958 é, para os mexicanos, o fim do nacionalismo musical. Em 1928 Carlos Chávez fundara a Orquestra Sinfónica de México, que foi um eficiente instrumento de difusão da música mexicana e que lançou o movimento nacionalista. A morte de Moncayo, última marca desse movimento, sublinha o enfraquecimento dos ideais nacionais da Revolução Mexicana.

Huapango Ano de composição_

8 min

1941

Moncayo fixou-se em Alvarado, onde a música folclórica se mantinha puramente preservada. Ali registrou os ritmos, as melodias e as instrumentações características.

Sugestionado por seus primeiros professores, Moncayo deixa Guadalajara rumo ao Conservatório Nacional, na Cidade do México. Em vias de renovação, o Conservatório oferecia em 1931 o curso de Criação, idealizado por Chávez, que mais tarde o transformou em Oficinas de Composição. Entre colegas e discípulos, os mais expressivos compositores mexicanos davam corpo ao curso: Vicente T. Mendonza, Candelario Huízar, Silvestre Revueltas; e os jovens, Daniel Ayala, Blas Galindo, Salvador Contreras e José Pablo Moncayo. Após a mudança presidencial que afastou Chávez do cargo de diretor do Conservatório Nacional, em 1934, os mais jovens se organizaram como um grupo artístico de resistência, o “Grupo de los Cuatro”. Inicialmente motivado contra o fim das Oficinas de Criação, o Grupo tornou-se, muito rapidamente, um

Para ouvir

CD Huapango – Orquestra Sinfônica de Xalapa – Herrera de la Fuente, regente – Guid – 2006 Para ler

Otto Mayer-Serra – Música y Músicos de Latinoamérica – Editorial Atlante S. A. – 1947

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conjunto expressivo junto aos ouvintes e músicos mexicanos, enquanto promotores da música de seu tempo. Seus concertos foram determinantes na elaboração de uma linguagem tipicamente nacional. Além da composição, Galindo e Moncayo desenvolveram um trabalho substancial como regentes da Orquestra Sinfónica de México. A partir de 1931, Moncayo trabalhou vários anos nessa orquestra como percussionista, tendo assumido sua direção artística em 1944 e, entre 1949 e 1954, o cargo de diretor musical e regente.

entretanto, confessou a dificuldade do trabalho, uma vez que os huapangueros – músicos da região – jamais repetiam as melodias, apresentado-as sempre de forma nova. Huapango é a elaboração criativa desse material, especialmente das danças folclóricas El siquisirií, El Balajú e El Gavilán. Por sugestão de Huízar, um de seus professores de Composição, Moncayo primeiramente expõe o material folclórico como escutado e elabora-o, em seguida, a partir de suas propostas estéticas, resguardando certa liberdade de ideias. A obra foi estreada em 15 de agosto de 1941, no Palacio de Bellas Artes. Huapango significa “sobre o tablado” e é uma dança mexicana das festas populares de algumas regiões costeiras. Ao longo do nacionalismo mexicano, o termo “huapango” foi usado diversas vezes como referência a um gênero musical típico de Alvarado. Contudo, “huapango” é, literalmente, festividade. Em Moncayo, a celebração da cultura mexicana.

Considerada a mais emblemática obra do nacionalismo mexicano, Huapango foi composta em 1941, a pedido de Chávez, que sugeriu que a peça se inspirasse na música popular da costa sudeste. Ele buscava completar o programa do concerto denominado Tradicional Música Mexicana, organizado para a Orquestra Sinfónica de México. Em busca da fidelidade às referências populares, Chávez enviou Moncayo para Veracruz, no desejo de que ele, numa pesquisa de campo, coletasse material de música popular da região. Moncayo fixou-se em Alvarado, onde a música folclórica se mantinha puramente preservada. Ali, trabalhando com Galindo, registrou os ritmos, as melodias e as instrumentações características. Moncayo,

Igor Reyner

Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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sÉRIE allegro 29 novembro

russell

peck Estados Unidos, 1945 – 2009

The Glory and the Grandeur – Concerto para trio de percussão e orquestra Ano de composição_

14 min

1988

Russell Peck desenvolveu um estilo vigoroso e eclético. Com leve influência das vanguardas e calcada na tradição, sua música se mescla à sonoridade pop do soul e do rock. Para ouvir

CD The Glory and the Grandeur – Russell Peck – Alabama Symphony – Paul Polivnick, regente – Tim Miller, Kevin Barrett, Bill Williams, solistas – Albany Records

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Devido às inúmeras montadoras de automóveis, Detroit foi apelidada de “motor town”. No cenário musical, a cidade dos motores tornou-se inesquecível em razão da Motown Records, gravadora que dominou as paradas de sucesso norte-americanas dos anos sessenta e setenta do século XX. Projetada para funcionar como uma linha de montagem, os músicos ali recebiam por hora; chegavam ao estúdio preparados, gravavam e eram dispensados. O resultado, um soul mais sofisticado, com arranjos mais complexos, texturas mais elaboradas: uma música mais planejada, mais pop, pensada para o sucesso. Para Russell Peck, a Motown foi inspiração, tanto como Mozart. Nascido em Detroit, Peck formou-se na Universidade de Michigan, onde cursou mestrado e doutorado em Composição. Aluno dos eminentes compositores Clark Eastham, Leslie Bassett, Ross Lee Finney, Gunther Schuller e George Rochberg, desenvolveu um estilo vigoroso e eclético. Com leve influência das vanguardas e calcada na tradição, sua música se mescla à sonoridade pop do soul e do rock. O colorido reconhecido de sua orquestração não abre mão de uma escrita idiomática que potencializa a expressividade dos instrumentos em jogo. Tal domínio, aliado

à fluente recepção de seu repertório, fez com que fosse executado por centenas de orquestras. Em 2000, compôs a obra Harmonic Rhythm, um concerto para tímpano, a pedido de um consórcio de 39 orquestras norte-americanas – a mais ampla experiência de encomenda na história da música.

presente na estreia. Essa preocupação desencadeou significativas e numerosas parcerias com redes de televisão, das quais resultaram trabalhos premiados. The Glory and the Grandeur tornou-se a obra mais televisionada do autor. Por sugestão de Al Otte, fundador do Percussion Group Cincinatti, Peck parafraseou sua famosa peça para trio de percussão, Lift-off!, na qual sugere decolagens de helicópteros. A partir desse material, desenvolveu uma cadência inicial enérgica. Intenso e vibrante, o Concerto faz, do teatro, ambiente apropriado à construção de um espaço sonoro complexo, dentro do qual os sons se cruzam em múltiplos pontos, excitando a escuta do público.

The Glory and the Grandeur foi composta por solicitação da Greensboro Symphony e estreada em 1988, tendo como solista o Percussion Group Cincinatti. A apropriação de ritmos populares norte-americanos e o uso de escalas blues garantem à obra um ethos levemente nacionalista. A definição de localizar o conjunto de percussão à frente da orquestra – além de reafirmar a posição destacada do grupo solista – revela o cuidado, declarado pelo compositor, com a inserção da movimentação dos músicos no palco como elemento dramático da obra. Para Russell Peck, o gestual e os deslocamentos dos instrumentistas em meio ao set de percussão são também componentes estruturais que agregam fluidez e auxiliam a expressão do discurso musical. Seu processo criativo não versa apenas sobre o som. Peck articula-o à imagem ao considerar o concerto como uma experiência de impacto, singular. Enquanto compõe, ele se imagina como o ouvinte

Igor Reyner

Pianista, Mestre em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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sÉRIE allegro 29 novembro

Dmitri

SHOSTAKOVITCH Rússia, 1906 – 1975 A vasta obra do russo Dmitri Shostakovitch foi composta em pleno stalinismo, regime com o qual estabeleceu relações dúbias – ao longo de sua carreira, duras advertências governamentais alternaram-se com honrarias e prêmios oficiais. A vocação política de sua música manifestou-se cedo. Neto de um revolucionário polonês exilado na Sibéria, Shostakovitch teve as primeiras lições de piano com a mãe e, criança prodígio, aos doze anos, escreveu uma Marcha Fúnebre em memória de dois líderes democráticos assassinados por marinheiros bolcheviques.

Sinfonia nº 6 em si menor, op. 54 Ano de composição_

30 min

1939

A recepção da Sexta Sinfonia foi apática. [...] O passar do tempo, entretanto, foi generoso com essa obra que, cada vez mais, desperta o interesse por sua originalidade.

Sua numerosa produção inclui três óperas, música de câmara, coros a capella e seis concertos, além de dois grandes ciclos: as quinze sinfonias e os quinze quartetos de corda. As sinfonias distribuem-se de forma bastante regular em sua carreira e foram suas peças “públicas”, às vezes revestidas de caráter oficial, dedicadas às grandes massas. Os quartetos, mais intimistas, concentram-se principalmente na fase criativa final e são mais experimentais.

Para ouvir

CD Shostakovich – Sinfonia nº 6 – Royal Concertgebouw – Bernard Haitink, regente – Decca – 2000 Para ler

Lauro Machado Coelho – Shostakovitch, vida, música, tempo – Editora Perspectiva – Coleção Signus – 2006

Shostakovitch estudou no Conservatório de Petersburgo, sob a direção de Alexander Glazunov. Como peça de graduação, o talentoso aluno apresentou sua Primeira Sinfonia, 48

O nariz (1928), baseada na famosa novela de Nicolau Gogol. Os ataques da censura stalinista tornavam-se frequentes. Shostakovitch, punido com a interrupção dos ensaios da Quarta Sinfonia (1936) e a interdição da ópera Lady Macbeth do distrito de Mzensk, foi forçado a se retratar publicamente. O músico penitenciou-se com a composição da Quinta Sinfonia (1937), obra de grande apelo popular cujo sucesso o reabilitou perante a censura. No mesmo ano, Shostakovitch foi nomeado professor do Conservatório de Moscou.

escrita aos dezenove anos de idade. Por essa época, dedicava-se igualmente ao piano e obteve uma menção honrosa na Primeira Competição Internacional Frédéric Chopin, na Polônia (1927). Com o sucesso da Primeira Sinfonia, regida por Bruno Walter em Berlim, Shostakovitch abandonou a carreira de pianista e se concentrou na Composição, estudando as fugas de Bach, os quartetos de Beethoven, as sinfonias de Mahler. Dos compositores russos, destacava Mussorgsky (cuja ópera Boris Godunov reorquestrou) e Tchaikovsky (como criador de belas melodias e brilhante orquestrador). Entre os modernos, Shostakovitch admirava particularmente Alban Berg e Bela Bartók. E tinha verdadeira adoração pela música de Stravinsky, embora desprezasse os hábitos cosmopolitas do ilustre compatriota.

A recepção da Sexta Sinfonia, escrita rapidamente no decorrer de 1939, ao contrário, foi apática. O próprio Shostakovitch criou uma falsa expectativa para a obra, a princípio planejada como uma homenagem a Lênin, com solistas, coros e textos de Maiakovski. Quando a sinfonia estreou, em novembro de 1939, os ouvintes se surpreenderam com uma peça relativamente pequena, em três movimentos encadeados de forma não habitual – Largo, Allegro e Presto. O passar do tempo, entretanto, foi generoso com essa sinfonia que, cada vez mais, desperta o interesse por sua originalidade.

No final da década de 1920, Shostakovitch filiou-se à Associação para a Música Contemporânea e, paralelamente, começou a escrever trilhas sonoras para cinema e para o Teatro da Juventude Proletária, trabalho que, por seu apelo social, mantinha-se imune a qualquer “heresia estética” e era muito bem visto pelos censores oficiais. Entretanto, a personalidade inovadora do compositor afirmou-se cedo, desde as duas primeiras sinfonias e na ópera

O Largo inicial possui o clima mórbido característico de muitos movimentos lentos do compositor. 49


Ao naipe das madeiras são destinados solos de grande beleza melódica (que evidenciam a declarada influência de Tchaikovsky) e se alternam entre o piccolo, o corne inglês, a flauta e o oboé. Na segunda seção, a flauta tece maravilhosos arabescos. Ao final, antes da reexposição do primeiro tema, a trompa apresenta um recitativo melancólico, sobre o fundo de trinados e acordes solenes. No Allegro central, o caráter é de um scherzo. A escrita clara, fluida e bastante efetiva possui uma ironia mordaz, cruel, com suas síncopes e frequentes mudanças de ritmo. A orquestração, extremamente virtuosística, torna-se agressiva na aspereza dos timbres. O humor do Presto final contrasta inteiramente com o sarcasmo do movimento anterior. Há espaço para pequenas citações espirituosas, referenciando obras de Mozart, Rossini e Verdi. O episódio central privilegia o fagote, a flauta e o piccolo, antes que o violino desenvolva um longo trecho e retome o primeiro tema. O final evolui para um clima de festa e saudável alegria.

Ao longo de sua carreira, Shostakovitch recebeu as mais altas condecorações governamentais e ocupou cargos de destaque. Em 1942, com a Sétima Sinfonia, inicia o ciclo heróico das grandes obras patrióticas, consagrando-se oficialmente como o sinfonista russo por excelência. Tal reconhecimento não impediu que, por ocasião da “jornada antiformalista” de 1948, o compositor tivesse, ao lado de muitos outros artistas, a maioria dos seus trabalhos condenados e banidos. Em suas memórias, publicadas postumamente, Shostakovitch revela o drama de um homem submetido a fortes pressões oficiais – o dilema do artista inovador condicionado a um academismo inevitável. Paulo Sérgio Malheiros dos Santos

foto | André Fossati

Pianista, Doutor em Letras pela PUC Minas, professor na Universidade do Estado de Minas Gerais, autor do livro Músico, doce músico.

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52 foto | AndrĂŠ Fossati

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24 de outubro a 17 de novembro de 2012 Todos os assinantes que renovaram e indicaram o desejo de trocar de lugar e/ou série poderão fazê-lo neste período. Não encontrando o lugar desejado, poderão manter os mesmos assentos e/ou série.

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ACOMPANHE A FILARMÔNICA EM OUTRAS

SÉRIES DE CONCERTOS exclusivamente a grupos de crianças e jovens da rede escolar pública e particular e instituições sociais. Serão realizados três grandes concertos no auditório do Sesc Palladium.

Concertos para a Juventude Realizados em manhãs de domingo, são concertos dedicados aos jovens e às famílias, buscando ampliar e formar público para a música clássica. As apresentações têm ingressos a preços populares e contam com a participação de jovens solistas. Local: Teatro Sesc Palladium Horário: 11 horas da manhã Datas: 25 de março 27 de maio 12 de agosto 30 de setembro 21 de outubro 11 de novembro

Festivais O Festival Tinta Fresca procura identificar e promover novos compositores brasileiros. O concerto de encerramento foi realizado no Sesc Palladium no dia 20 de setembro. O Laboratório de Regência tem por finalidade dar oportunidade a jovens regentes brasileiros, de comprovada experiência, de desenvolver, na prática, a habilidade de lidar com uma orquestra profissional. Concerto no Sesc Palladium, dia 8 de dezembro.

Clássicos no Parque Realizados em parques e praças da RMBH, proporcionam momentos de descontração e entretenimento, buscando democratizar o acesso da população em geral à música clássica. Em 2012 as datas são:

Turnês Estaduais As turnês estaduais levam a música de concerto a diferentes cidades e regiões de Minas Gerais, possibilitando que o público do interior do Estado tenha o contato direto com música sinfônica de excelência. Nove municípios serão contemplados em 2012.

6 de maio Praça do Papa, Mangabeiras, 19 horas 20 de maio Praça Floriano Peixoto, Santa Efigênia, 11 horas

Turnês Nacionais e Internacionais

2 de setembro Praça da Liberdade, Funcionários, 11 horas

Com essas turnês, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais busca colocar o Estado de Minas dentro do circuito nacional e internacional da música clássica. Em 2012, a Orquestra se apresentou no Festival de Campos do Jordão e fez sua primeira turnê internacional, com concertos no Teatro Colón, em Buenos Aires (26 e 27/10), Teatro Solís, em Montevidéu (28/10), Teatro del Libertador, em Córdoba (30/10) e Teatro Astengo, em Rosário (31/10).

15 de setembro Praça Duque de Caxias, Santa Tereza, 11 horas 16 de setembro Inhotim, Brumadinho, 15h30

Concertos Didáticos De caráter educativo, não são concertos abertos ao público, mas destinados 56


ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS novembro 2012

Cássia Lima* Renata Xavier ** Alexandre Braga Elena Suchkova

DIRETOR ARTíSTICO e REGENTE TITULAR

Alexandre Barros * Ravi Shankar ** Israel Silas Muniz Moisés Pena

Fabio Mechetti

REGENTE ASSISTENTE Primeiros Violinos

Anthony Flint spalla Rommel Fernandes assistente de spalla Ana Zivkovic Arthur Vieira Terto Bojana Pantovic Eliseu Martins de Barros Hyu-Kyung Jung Jovana Trifunovic Marcio Cecconello Mateus Freire Martha de Moura Pacífico Rodrigo Bustamante Rodrigo de Oliveira Tiago Ellwanger Segundos Violinos

Frank Haemmer * Leonidas Cáceres ** Gláucia de Andrade Borges José Augusto de Almeida Leonardo Ottoni Luka Milanovic Marija Mihajlovic Radmila Bocev Rodolfo Marques Toffolo Valentina Gostilovitch Fernanda Boaventura **** Violas

João Carlos Ferreira * Roberto Papi ** Cleusa de Sana Nébias Gerry Varona Gilberto Paganini Gláucia Martins de Barros Marcelo Nébias Nathan Medina Katarzyna Druzd William Martins Violoncelos

Matthew Ryan-Kelzenberg *** Robson Fonseca *** Elise Pittenger ** Ana Isabel Zorro Camila Pacífico Camilla Ribeiro Eduardo Swerts Lina Radovanovic Francisca Garcia **** Contrabaixos

Colin Chatfield * Nilson Bellotto ** Brian Fountain Hector Manuel Espinosa Marcelo Cunha Valdir Claudino

* chefe de naipe

concertos

Diretoria Executiva Diretor Presidente

Oboés

Diomar Silveira

Diretor Administrativo-financeiro

Tiago Cacique Moraes Diretora de Comunicação

Clarinetes

Marcos Arakaki

PRóximos

Instituto Cultural Filarmônica

Flautas

Marcus Julius Lander * Ney Campos Franco Alexandre Silva Fagotes

Catherine Carignan * Ariana Pedrosa Andrew Huntriss Trompas

Evgueni Gerassimov * Gustavo Garcia Trindade ** José Francisco dos Santos Lucas Filho Fabio Ogata Trompetes

Jacqueline Guimarães Ferreira

Diretor de Produção Musical

Marcos Souza

Equipe Técnica Gerente de Comunicação

Merrina Godinho Delgado Gerente de Produção Musical

Claudia Guimarães

Assessora de Produção Musical

Carolina Debrot Produtor

Luis Otávio Amorim Narren Felipe

Analista de Comunicação

Trombones

Analista de Marketing e Projetos

Andréa Mendes

Analista de Marketing de Relacionamento

Mônica Moreira

Mariana Theodorica

Assistente de Comunicação

Mariana Garcia

Auxiliar de Produção

Tuba

Lucas Paiva

Eleilton Cruz *

Auxiliar de Marketing e Projetos

Tímpanos

Patricio Hernández Pradenas*

11 de novembro domingo, 11h, Sesc Palladium Marcos Arakaki, regente Aleyson Scopel, piano Verdi / Smetana / Santoro / Korsakov

Produtor

Marlon Humphreys * Erico Oliveira Fonseca ** Daniel Leal Mark John Mulley * Wagner Mayer ** Renato Lisboa

Concertos para a Juventude

Fernanda Brescia e Marina Brandão Equipe Administrativa Analista Administrativo

Eliana Salazar

Analista Financeiro

Thais Boaventura

Harpa

Analista de Recursos Humanos

Giselle Boeters *

Quézia Macedo Silva Secretária Executiva

Teclados

Ayumi Shigeta *

Flaviana Mendes

Gerente

Auxiliares Administrativos

Inspetora

Recepcionista

Cristiane Reis, João Paulo de Oliveira e Vivian Figueiredo

Jussan Fernandes Karolina Lima

Lizonete Prates Siqueira

Assistente Administrativo

Débora Vieira

Auxiliar de Serviços Gerais

Ailda Conceição Mensageiro

Jeferson Silva

Arquivista

Sergio Almeida

Menor Aprendiz

Assistentes

Ana Lúcia Kobayashi Gisely Nascimento Klênio Carvalho

Pedro Almeida Consultora de programa

Berenice Menegale

Supervisor de Montagem

Rodrigo Castro

Série Allegro

29 de novembro quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Carlos Miguel Prieto, regente Daniel Lemos, percussão Sérgio Alluoto, percussão Werner Silveira, percussão REVUELTAS / MONCAYO / PECK / SHOSTAKOVICH

13 de dezembro quinta-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente Augustin Hadelich, violino GUARNIERI / DVORÁK / DEBUSSY / TCHAIKOVSKY

Turnê estadual 12 de novembro segunda-feira, 20h, Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima Marcos Arakaki, regente Aleyson Scopel, piano Verdi / Smetana / Santoro / Korsakov

Percussão

Rafael Alberto * Daniel Lemos ** Werner Silveira Sérgio Aluotto

Série Allegro

Série Vivace 20 de novembro terça-feira, 20h30, Palácio das Artes Fabio Mechetti, regente Paulo Szot, barítono MAHLER / WAGNER

Festival Villa-Lobos 24 de novembro sábado, 21h, Theatro Municipal do Rio de Janeiro Fabio Mechetti, regente Sonia Rubinsky, piano L. MIGUEZ / VILLA-LOBOS

DEZEMBRO Concertos de Câmara Memorial Minas Gerais Vale Grupo de Percussão 6 de dezembro quinta-feira, 19h30 e 21h CAGE / KUISMA / PECK / MIKI Laboratório de Regência – Concerto de encerramento 8 de dezembro sábado, 20h30, Sesc Palladium VERDI / MAHLER / SAINT SAËNS / BRAHMS

MONTADORES

Carlos Natanael Jussan Meireles Luan Maia

** assistente de chefe de naipe

*** chefe/assistente substituto

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**** músico convidado

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Concerto de Encerramento da Temporada 2012 14 de dezembro sexta-feira, 20h30, Sesc Palladium Fabio Mechetti, regente Augustin Hadelich, violino GUARNIERI / DVORÁK / DEBUSSY / TCHAIKOVSKY


aParelHoS celUlareS

Confira e não se esqueça, por favor, de desligar o seu celular ou qualquer outro aparelho sonoro.

A Filarmônica é toda sua.

ToSSe

PatrocÍNIO

perturba a concentração dos músicos e da plateia. tente controlá-la com a ajuda de um lenço ou pastilha. aPlaUSoS

Aplauda apenas no final das obras, que, muitas vezes, se compõem de dois ou mais movimentos. Veja no programa o número de movimentos e fique de olho na atitude e gestos do regente.

Apoio Cultural

PonTUalidade

uma vez iniciado um concerto, qualquer movimentação perturba a execução da obra. seja pontual e respeite o fechamento das portas após o terceiro sinal. se tiver que trocar de lugar ou sair antes do final da apresentação, aguarde o término de uma peça. crianÇaS

Caso esteja acompanhado por crianças, escolha assentos próximos aos corredores. Assim, você consegue sair rapidamente se ela se sentir desconfortável.

Divulgação

FoToS e gravaÇÕeS em ÁUdio e vÍdeo

não são permitidas na sala de concertos. comidaS e bebidaS

seu consumo não é permitido no interior da sala de concerto.

APOIO INSTITUCIONAL

CUIDE DO SEU PROGRAMA DE CONCERTOS o programa mensal impresso é elaborado com a participação de diversos especialistas e objetiva oferecer uma oportunidade a mais para se conhecer música, compositores e intérpretes. desfrute da leitura e estudo.

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REALIZAÇÃO

foto | eugenio savio

solicitamos a todos que evitem o desperdício, pegando apenas um programa por mês. se você vier a mais de um concerto no mês, traga o seu programa ou, se o esqueceu em casa, use o programa entregue pelas recepcionistas e devolva-o, depositando-o em uma das caixas colocadas à saída do Grande teatro. o programa se encontra também disponível em nosso site: www.filarmonica.art.br.


“O GRUPO, CONSIDERA O ACONTECIMENTO SINF OCORRIDO NO BRAS JÁ SE TORNOU U www.filarmonica.art.br R. Paraíba, 330 | 120 andar | Funcionários CEP 30130-917 | Belo Horizonte | MG Tel. 31 3219 9000 | Fax 31 3219 9030 contato@filarmonica.art.br

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