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27o 18o
MÁXIMA
Não Conhecemos Assuntos Proibidos
MÍNIMA
ANO 1 NÚMERO 18
FIM DE SEMANA DE 25 A 27 DE JULHO DE 2014
FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS
EXEMPLAR: R$ 1,00
Mobilidade urbana melhora com as bikes Fábio Moura
No fim dos anos 1970, o executivo municipal licitou uma empresa para elaborar um Projeto de Tratamento da Área Central e Ciclovias. Era a busca de uma alternativa para minimizar os problemas de trânsito na área central e nos principais acessos centro-bairro, além de proporcionar mais segurança aos ciclistas. Em 1986 foram inaugurados pouco mais de 23 quilômetros de ciclovias em todas as regiões da cidade. Os anos se passaram e hoje vê-se na bicicleta a saída para melhorar a mobilidade urbana, em um cenário onde predominam carros e motocicletas. Na página 6, veja como é saudável circular pela cidade de bicicleta. Página 6
Tim Filho
Cidade com grande parte das vias construídas em áreas planas, Governador Valadares tem nas bicicletas uma das soluções para os problemas de mobilidade urbana
NESTA EDIÇÃO
Divulgação SMCEL
Notícias do Poder Embora publicamente digam que estão tranquilos, porque as pesquisas de intenções de votos refletem apenas o momento, membros da equipe de campanha da presidente Dilma Rousseff estão com a pulga atrás da orelha. Saiba o motivo lendo a coluna do jornalista mais bem informado do Planalto Central: José Marcelo, que conta tudo em “Notícias do Poder”. Página 5
Educação A Rede de Educação Adventista vai investir em Governador Valadares, com a implantação de uma faculdade e a construção de um colégio de padrão internacional. Atualmente a Rede mantém em seu prédio da Avenida Brasil, o tradicional Colégio Adventista, há quase 40 anos, mas o local tornou-se pequeno para atender os atuais 700 alunos e não há como atender aos novos pedidos de matrícula. Por isso, a Rede abriu conversas com a Prefeitura de Valadares, buscando em parceria um terreno para a construção de novas e amplas instalações para o colégio. A faculdade ocuparia o atual espaço da Av. Brasil. Página 4
Parlatório O celibato dos padres católicos, hoje obrigatório, deve se tornar opcional? A questão, pra lá de polêmica, foi debatida em alto nível na seção Parlatório, pelo téologo Manuel Alfonso Muñoz, que defende o SIM, alegando que a vontade de Deus na Bíblia não é compatível com a proibição do matrimônio. Leonardo de Paula, jornalista católico, defende o NÃO. Para ele, críticos de dentro e fora da Igreja apontam o celibato como uma das causas da crise sacerdotal contemporânea. Mas ele questiona: o problema é o celibato, será? Página 2
FOLCLORE - A 13ª edição do Encontro Regional de Folclore de Penha do Cassiano, distrito de Governador Valadares, está marcada para os dias 22 e 23 de agosto e promete agitar a região deste distrito. Nas duas últimas edições houve o apoio do Fundo Estadual da Cultura, mas para este ano o recurso não veio. A Secretaria Municipal de Cultura teve de se mobilizar para o evento tradicional acontecer. Outra boa ação da SMCEL foi a implantação do Sistema Municipal de Cultura, que vai mudar o panorama cultural da cidade, em breve. Página 7 E MAIS...
ERRAMOS
Edição 17 Na semana passada a edição deste Figueira, que deveria ser numerada como 17, recebeu, inadvertidamente o número 16. A correção é necessária como forma de mantermos a numeração sequencial das edições.
Futebol Os sete a um deixaram claro: está mais do que na hora de ouvir a voz do Bom Senso. Jorge Murtinho elege os pontos positivos do Bom Senso F.C., Rosalva Campos está toda prosa com o seu Galo Cam- VINGANÇA - Veja na charge de Tim Filho peão, e Hadson Santiago exalta o seu que o futebol brasileiro está vingando o 7 x 1 sofrido para a Alemanha. Página 2 Cruzeirão, líder absoluto. Página 12
OPINIÃO
Editorial
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
Tim Filho
Finalmente alguém nos vinga da goleada de 7 x 1
Perdas e ganhos Em uma semana de pesar imenso para a vida cultural do país, em que perdemos João Ubaldo, Rubem Alves e Ariano Suassuna, o Figueira traz informação promissora de que um sistema municipal de Cultura está organizado, criando condição para perenizar experiências, valorizar artistas, reconhecer talentos. A matéria sobre o palhaço Fofoquinha retrata um tempo em que os artistas tinham de lutar contra todas as adversidades para oferecer alegria e emoção. Depois das entrevistas com os candidatos ao governo de Minas, o Figueira abre, nesta edição, a série de entrevistas com os candidatos a deputado estadual e federal, residentes em Valadares. Os primeiros entrevistados são candidatos a deputado estadual: o presidente da Câmara de Vereadores, Geovanne Honório, e o empresário candidato à reeleição Helio Gomes. Os entrevistados não fugiram de nenhuma questão mais impertinente formulada por nossos entrevistadores nem deixaram de declarar suas responsabilidades com a cidade. Vale a leitura! Mobilidade Urbana Como demonstração cabal de que para a grande mídia no Brasil, transporte público é sinônimo de veículo individual, a Folha de S. Paulo, na edição de 21 de dezembro do ano passado, quando a cidade de São Paulo discutia os corredores exclusivos de ônibus, estampou como manchete: “Trânsito piora, e ônibus anda mais rápido.” Como é que é? Para aquele jornal, se o ônibus anda mais rápido, o trânsito piorou. Há algo com os sinais trocados nesta posição. A urbanista Raquel Rolnilk aponta que comumente os ônibus ocupam nas cidades médias e grandes do Brasil apenas 8% das vias urbanas, mas chega a transportar 68% da população. A frota de automóveis particulares, na outra ponta, ocupa 80% das vias públicas e transportam 28% da população. É essa discussão extremamente atual, de fazer os ônibus serem mais seguros, pontuais e rápidos, garantir segurança de espaço adequado para os ciclistas e criar restrições para o uso abusivo de carros particulares, que nossa cidade de Valadares terá de fazer também agora, em sintonia com o mundo civilizado. Um Plano de Mobilidade Urbana está no forno, para ser anunciado pelo governo municipal. O Figueira abre a discussão com o povo de Valadares em uma série de reportagens, a começar desta edição. Nisso também, o Figueira tem lado. E não é o da Folha de S. Paulo. Abuso de crianças Abusar, molestar, assediar. Os verbos são muitos. A doença social é uma só. Como remédio tardio, o papa Francisco recebeu na semana passada, pela primeira vez, representantes das associações de sobreviventes da prática de pedofilia em ambientes eclesiásticos – colégios, internatos, hospitais, acampamentos, seminários e paróquias. O papa fez uma fala direta, forte, de condenação total e tolerância zero com tais práticas, como nunca antes se ouvira na Igreja. O abuso sexual na infância e na adolescência não é exclusivo do ambiente da Igreja, infelizmente nisso a Igreja apenas se assemelha à família no que há de pior – os abusos partem, no geral, de adultos muito próximos das crianças, da confiança delas: pais, tios, padrastos, padres. A nossa sociedade, a duras penas, tem chegado ao padrão moral da exigência mínima, básica, mas conceitual, de “relações consentidas entre adultos”. Em um grupo, os indivíduos podem nutrir diferentes exigências morais, mas nisso devem estar de acordo. Todas as relações não consentidas devem ser passíveis de punição, e nunca se deve presumir consentimento de quem não tem como dar consentimento – crianças e adolescentes. O consentimento mútuo é da relação entre pessoas adultas. Tudo o que fugir a isso: consentimento entre adultos, deve ser tomado como condenável. O contraponto é que todas as relações consentidas entre adultos não devem ser passíveis de intervenção do Estado, das Igrejas (a não ser com recomendação para o seu próprio rebanho), ou da sociedade. Nesta edição, o Parlatório traz a discussão, bem sustentada por ambos os expositores, sobre o celibato obrigatório do clero católico romano, apontado por muitos estudiosos com um dos indutores de patologias que resultam no abuso de crianças.
Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo Responsável pelo Portal da Internet Enio Paulo Silva http://www.figueira.jor.br
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Parlatório O celibato dos padres católicos, hoje obrigatório, deve se tornar opcional?
A vontade de Deus na Bíblia não é compatível com a proibição do matrimônio SIM
Manuel Alfonso Muñoz
A obrigatoriedade do celibato dos padres da igreja católica romana não se justifica do ponto de vista histórico, antropológico, teológico, eclesiológico e psicológico. A lei do celibato foi promulgada pela igreja latina de forma implícita no 1º Concílio de Latrão (1123) e mais tarde explicitamente nos cânones 6 e 7 do 2º Concílio de Latrão (1139). Foi criada para fazer cumprir outra lei de continência do final do século IV (na igreja de Roma), que recomendava aos sacerdotes não manterem relações sexuais com suas esposas antes de celebrar a eucaristia. Nas comunidades neotestamentárias e na igreja primitiva era considerado normal o matrimônio dos diáconos, presbíteros e bispos, tanto assim que no Novo Testamento recomenda-se que o ministro devia ser “homem de uma só mulher” (1 Tm. 3,2; 3,12; 2 Tm. 2,24; Tt. 1,6). Sendo assim, a pureza ritual é a razão histórica fundamental da obrigatoriedade do celibato. Neste sentido, podemos afirmar que o direito particular vigente na igreja latina, ao negar ordenação de casados permitida até hoje na igreja oriental, não é apostólico. Esta constatação leva a questionar a lei do celibato também desde a antropologia, pois se parte do pressuposto da impureza e pecaminosidade da sexualidade humana, infravalorizando o matrimônio (considerado um estado inferior) e a mulher. Desta forma, justificam-se, até hoje, atitudes discriminatórias numa estrutura eclesial patriarcal-masculina. Do ponto de vista teológico, a vontade criadora de Deus manifestada na Bíblia (Gn. 1,27-28; 2,18-25) não é compatível com a proibição do matrimônio e a obrigatoriedade do celibato. Igualmente, afirmar a inspiração evangélica do celibato pelo Reino de Deus não
deve nos levar a afirmar também sua obrigatoriedade, senão o contrário: sua voluntariedade. A alegada opção celibatária de Jesus não foi imposta aos seus discípulos (por exemplo, Pedro). O celibato cristão aparece no Novo Testamento como possibilidade, opção, humana dentro de um projeto de vida global de entrega à causa do Reino de Deus. Ganha significado e credibilidade intra e extraeclesial desde a voluntariedade. Também não podemos esquecer a realidade atual de muitas comunidades eclesiais que, na impossibilidade de contar com um ministro ordenado celibatário, renunciam ao direito sagrado de celebrar a eucaristia. Eclesiologicamente falando, o direito à celebração da eucaristia e o desenvolvimento pastoral da comunidade é muito superior a uma lei eclesiástica disciplinar específica. A lei menor pode e deve ser mudada. Devemos lembrar que o padre casado continua sendo ministro ordenado e que o seu afastamento do ministério é apenas por uma razão disciplinar, não teológica. Uma última razão para ser a favor do celibato opcional dos ministros católicos ordenados vem da realidade de sofrimento físico e psicológico que vivenciam muitos padres (e acreditem, não são poucos) que, sem renunciar ao exercício do seu ministério, não conseguem viver o celibato. As consequências dessa situação também são sentidas na comunidade em que trabalha. Isso sem falar do sofrimento de suas parceiras e filhos, que devem viver uma relação afetiva e familiar clandestina. Infelizmente, nos casos mais extremos, a deficiente e angustiosa vivência de um celibato imposto pode levar a patologias e até comportamentos criminosos como os denunciados nas últimas décadas entre alguns padres e bispos católicos . Manuel Alfonso Muñoz, Manolo, é psicólogo e teólogo, doutor em Teologia, professor universitário.
O problema é o celibato. Será? NÃO
Leonardo de Paula
Críticos de dentro e fora da Igreja apontam o celibato como uma das causas da crise sacerdotal contemporânea. Alegam que a continência não era exigida no tempo dos apóstolos e que o casamento não prejudicaria o exercício das funções ministeriais. Será mesmo? As Escrituras mostram que, entre os discípulos de Jesus, ao menos Pedro era (ou tinha sido) casado, pois tinha sogra. No entanto, após ser chamado pelo Mestre, “deixou tudo e o seguiu”, bem como os demais apóstolos. Deixando tudo, Pedro abdicou de seus bens, mas renunciou à família, o que inclui uma esposa, naturalmente. O próprio Cristo exalta aqueles que “se fazem eunucos por amor do Reino de Deus” (Mt. 19, 11-12), numa clara menção à excelência da virgindade e da castidade. Posteriormente, o apóstolo Paulo, celibatário, defende claramente a vantagem da continência na vida do homem (e mulher) de Deus, pois, enquanto quem se casa busca agradar seu cônjuge, o que se mantém casto cuida das coisas do Senhor (I Cor. 7). Além dos conselhos evangélicos, não nos chegaram outras normas escritas sobre a continência no tempo dos apóstolos e primeiros cristãos. Contudo, é razoável acreditar que estes, vendo o proceder dos discípulos, buscassem imitá-los, no intuito de conformar-se à vontade do Senhor e servir adequadamente à Igreja que, desde então, já exigia dedicação intensa de seus ministros. A exigência mais antiga do celibato aos sacerdotes vem do Concílio de Elvira (304), indicando que os ministros deveriam abster-se de suas mulheres e de conceber fi-
lhos, numa época em que ainda se ordenavam homens casados. Era comum que os sacerdotes, então, deixassem sua casa e passassem a viver constantemente no templo. Logo, a preferência por ordenar homens solteiros tornou-se natural e a regra na Igreja, o que é compreensível. Solteiro, sem vínculo com a carne, o eleito se coloca inteiramente à disposição de Cristo e de seu povo. Ao ser ordenado, o sacerdote realmente desposa a Igreja, agindo como um “novo Cristo”, que a amou e por ela se entregou. O sacerdócio não é um trabalho, mas uma vocação, que requer dedicação integral do ministro, pois os fieis o necessitam a todo o tempo. Ao fazer-se padre, o homem torna-se, realmente, pai, mas também, pastor, guia, conselheiro, modelo e, principalmente, assume a responsabilidade de conduzir a Deus os que lhe foram confiados. O padre deixa sua família carnal para ganhar cem vezes mais nesta terra e, no futuro, a vida eterna (Mt. 19, 29). Não se deve reduzir o homem a mero fantoche de suas necessidades carnais. Defender essa visão é colocar em dúvida o poder de Deus em assistir e preencher os que Ele chama. O modelo do padre é o Cristo, que se esvaziou em função de seu povo. Quando o sacerdote não aceita renunciar a si mesmo, seu sacerdócio perde o sentido. Se há crise no clero, a raiz é mais profunda e deve, sim, ser descoberta e sanada, mas abolir o celibato, certamente, não é e não será a resposta para essa questão. Leonardo de Paula é jornalista católico, da paróquia São José, de Conselheiro Pena.
CIDADANIA & POLÍTICA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
Da Redação
Sacudindo a Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto
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Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino
Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho.
Não é verdadeira a afirmação de que as Apaes são contrárias ao processo de inclusão
Mahatma Gandhi
Passagem aérea para o Aeroporto de Cláudio Em todos os sites das empresas aéreas brasileiras não consta como destino o Aeroporto da cidade de Cláudio, MG, que, segundo a Folha de S. Paulo do domingo, 20 de julho, foi construído pelo Governo de Minas na fazenda da família do Senador Aécio Neves. Nem Gol, nem TAM, nem Azul, nem Trip. Simplesmente, é impossível viajar ao pomposo Aeroporto da cidade mineira que custou 14 milhões de reais aos cofres públicos. Afinal, como o cidadão mineiro que pagou por sua construção vai ter acesso ao Aeroporto de Cláudio? Só a familia do Senador Aécio Neves, que tem as chaves, tem a resposta?
Mais Aeroporto de Cláudio Não conseguindo comprar passagem para esse Aeroporto, quem faz uso dele? Para a ANAC ele é irregular, não está licenciado para o funcionamento. Será que o helicóptero da família Perrella já pousou por lá?!
Mourão mais pobre O deputado Mourão encolheu o seu patrimônio. Na anterior declaração de bens à Justiça Eleitoral possuía quase 3 milhões de reais. Na declaração desta eleição de 2014, apareceu com 800 mil reais em bens. Para se ter ideia do patrimônio do deputado por Valadares, um apartamento no luxuoso bairro de Lourdes em Belo Horizonte está declarado com valor de pouco mais de 180 mil reais, o que equivaleria a um apartamento de dois quartos em Governador Valadares em bairro afastado do Centro.
Multiplicação dos peixes Apesar de possuir bens na ordem de 800 mil reais, o deputado Mourão declarou 4 milhões de reais de gastos para a sua campanha de agora. Não devem faltar amigos para ajudar, já que o seu patrimônio não comporta tal gasto. O valor é o mesmo que o deputado Hélio Gomes irá gastar em sua campanha, mas com um diferencial: ele declarou mais de 23 milhões de reais em bens.
Mais multiplicação dos peixes O vereador Geovanne Honório estipulou 3 milhões de gastos em sua campanha. Ocorre que o edil não possui nenhum bem, pois sua declaração de bens no TSE está zerada.
Haja amigos para contribuir Outro que também vai depender e muito da ajuda dos amigos é Gilson de Souza que possui apenas um veículo em seu patrimônio e projeta gastos de 3 milhões de reais em sua campanha à ALMG.
Primeira baixa em Valadares: ficha suja Nesta quinta-feira, na Coluna do Orion, página 3 do jornal Hoje Em Dia: Primeiro ficha-suja “O TRE mineiro cassou ontem a primeira candidatura listada como ficha suja pelo Ministério Público. O candidato a deputado federal pelo PT do B, Paulo Orlando Rodrigues de Mattos, o Paulo Maloca, foi considerado inelegível por condenação criminal. Ele havia sido condenado por homicídio em Governador Valadares ( Leste mineiro) em 2001. Cumpriu pena até 2009, mas, a partir desse ano, fica inelegível por mais oito, até 2017.”
Sérgio Sampaio Bezerra Com relação à matéria publicada neste jornal, intitulada APAE reluta em deixar a segregação, a Federação das Apaes do Estado de Minas Gerais (FEAPAES-MG) vem por meio desta manifestar-se com relação ao direito de resposta. As Apaes possuem uma história que surgiu em 11 de dezembro de 1954, fruto da iniciativa de pais e profissionais que se mobilizaram para reivindicar, para as pessoas com deficiência, uma cidadania plena.Essa é uma luta que vem sendo escrita nos diversos contextos político-sociais com o reconhecimento de ser a maior rede comunitária mobilizada em prol da defesa de direitos das pessoas com deficiência. Em mais de 2.000 municípios espalhados em todo o país são efetivadas ações não apenas voltadas à educação, mas também de acesso à saúde, trabalho, assistência social, com atendimento em média a 250 mil pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Assim sendo, as Apaes funcionam na condição de mantenedoras e orientadoras de projetos e ações em diversas áreas, como: defesa de direitos, trabalho em comunidade, promoção da saúde para o envelhecimento saudável, apoio à família, apoio à inclusão escolar, escola especial, inclusão no trabalho,autogestão e autodefensoria. A forma como se constitui e desenvolve uma APAE se expressa no respeito manifestado pela sociedade, resultante da seriedade e firmeza como são conduzidas as ações pela efetivação da conquista e qualidade de vida das pessoas com deficiência intelectual e múltipla, conquistados durante os 60 anos de sua existência. A própria sigla é suficiente para identificar sua história na educação especial, contribuindo para as decisões importantes e normativas que disciplinam os atendimentos especializados conforme as demandas de cada pessoa e o que determinam as políticas públicas. Durante anos foram as Apaes as principais militantes em prol dos direitos das pessoas com deficiência, especializando-se, ao longo do tempo, em um trabalho qualitativo voltado a esse público. Essa história não pode ser rasgada nem desconsiderada. Da mesma forma, fomos nós, as Apaes, as primeiras incentivadoras da educação inclusiva no Brasil, realizando interlocução entre as escolas comuns e especiais, de forma a garantir à pessoa com deficiência um ensino de qualidade que atendesse às suas necessidades, por entendermos que a política de inclusão escolar é uma responsabilidade não apenas do governo, mas também da sociedade civil. Não é verdadeira a afirmação de que as Apaes são contrárias ao processo de inclusão de pessoas com deficiência na rede regular de ensino. Acreditamos sim que existem escolas regulares que atendem a esse público, mas nem todos os alunos estão em condições de estudar no ensino comum, já que necessitam de um apoio intensivo e permanente para se desenvolverem e alcançarem maior autonomia e independência. Assim sendo, o Movimento Apaeano possui um posicionamento muito claro e responsável sobre a questão da inclusão escolar: Somos a favor de um processo de inclusão escolar gradativo (processual) e responsável, para o qual as escolas comuns sejam devidamente preparadas não apenas no que se refere aos recursos de acessibilidade física, mas, sobretudo na qualificação dos professores e na preparação dos
alunos, dentre outras ações. Além disso, defende o direito de escolha da pessoa com deficiência intelectual e de sua família sobre o local onde deseja estudar, pois acredita na legitimidade desses na busca da melhor opção para seus filhos, de forma a melhor atender às suas demandas. A discussão aqui, como se vê, vai muito além da mera questão da inclusão. Ela é feita em relação ao próprio direito à educação, de forma que todos tenham o direito de acesso e permanência a um ensino de qualidade. Defendemos, assim, que as escolas especiais não constituem uma escola segregada por que se destina a um determinado público. Muito além, elas são essenciais para que o direito à educação da pessoa com deficiência intelectual seja garantido. Sendo assim, considerando serem escolas inseridas e respeitadas no sistema regular de ensino, são também escolas inclusivas, constituindo uma modalidade que deve perpassar níveis e etapas de ensino, conforme preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Busca-se, dessa forma, com procedimentos cooperados e intersetoriais, construir uma rede unida e complementar para minimizar as seqüelas da deficiência e os atrasos no desenvolvimento por falta da oferta dos suportes, dos atendimentos e das tecnologias assistivas, diagnósticos e avaliações com intervenções necessárias. Essa é a única defesa das Apaes: um atendimento de qualidade à pessoa com deficiência intelectual e múltipla, de forma a atender todas as suas necessidades e promover sua qualidade de vida. Isso vai muito além de qualquer corrente política, de poder ou defesa de cargos públicos. É a consecução do fim a que se propõe a entidade enquanto uma associação de defesa de direitos. Cabe, aqui, também ressaltarmos que as Apaes são basicamente constituídas pela contribuição financeira da sociedade civil, bem como pela formalização de convênios junto ao poder público municipal, que entende ser a entidade essencial na realização de ações voltadas à pessoa com deficiência naquele município, não apenas na área da educação, mas principalmente na assistência social, saúde, dentre outros. Recursos, esses, que sequer se aproximam dos aludidos “milhões”, muito ao contrário, constituem-se recursos escassos diante da complexidade do trabalho desenvolvido e do muito que ainda resta ser feito. As Apaes – Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, que define os seus rumos e abraçam incondicionalmente a garantia de todos os direitos da pessoa com deficiência, inclusive o de ser respeitada nas suas escolhas e decisões, na luta pela eliminação das barreiras existentes, na essencialidade de seus apoios e na necessidade de um trabalho qualitativo que promova o seu desenvolvimento humano. Para melhor conhecer a realidade dessa instituição, mais do que palavras, convidamos todos os cidadãos para conhecerem a Apae de sua cidade, a realidade vivenciada por ela e se torne um colaborador dessa causa que há 60 anos, reconhecidamente no cenário nacional e internacional, luta pelos direitos da pessoa com deficiência. Essa é a nossa única relutância! Sérgio Sampaio Bezerra é presidente da Federação das Apaes de Minas Gerais.
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O otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso. Ariano Suassuna
João Ubaldo, Rubem Alves, Ariano Suassuna. Pelo visto, Sarney é o único imortal. José Simão, FSP.
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CIDADANIA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
EDUCAÇÃO
Valadares pode receber investimentos e expansão da educação adventista A expansão adventista prevê a implantação de uma faculdade no atual prédio da escola e a construção de um colégio de padrão internacional, como forma de atender ao muitos pedidos de matrículas para os alunos que chegam Gabriel Sobrinho
Gabriel Sobrinho / Repórter A Rede de Educação Adventista está decidida a investir em Valadares, a trazer uma faculdade e a construir um colégio de padrão internacional. No prédio da Avenida Brasil, onde o tradicional Colégio Adventista funciona há quase 40 anos, não há como atender aos novos pedidos de matrícula. O espaço começa a ficar insuficiente até para os atuais 700 alunos, além de não permitir a implantação de projetos sociais que a instituição quer oferecer. Por isso, a Rede abriu conversas com a Prefeitura de Valadares, buscando em parceria um terreno para a construção de novas e amplas instalações para o colégio. Caracterizada pela disciplina rígida e a busca incansável de ensino de qualidade, a educação adventista foi iniciada nos Estados Unidos em 1875. Dali em diante se espalhou pelo mundo, estando presente em 150 países. São mias de 7.600 escolas da Educação Infantil à Universidade, com um corpo docente de 80 mil professores para atender mais de 1,5 milhões de alunos. Além da responsabilidade social que a Igreja Adventista do Sétimo Dia exerce ao oferecer educação de qualidade, no colégio em Valadares 20% dos estudantes são bolsistas, conforme os critérios da filantropia. Responsável pelas questões burocráticas do projeto de investimento e expansão, o pastor Jimmy Cardoso, da Igreja Central, afirma que chegou o momento de crescer, de contribuir para um cenário novo na educação de Governador Valadares e região. Jimmy declara que “esse é um projeto grande, para o qual necessitamos de um espaço de 10 mil metros quadrados. Assim, teremos a oportunidade de ter um núcleo de educação completo, onde pretendemos ter dois mil alunos matriculados. Com área verde, centros de pesquisas, centros esportivos e principalmente espaços para execução de projetos sociais abertos para a comunidade. Temos estudado com a Prefeitura o local para isso. O projeto já está pronto, foi feito por arquitetos da sede principal da instituição, no Rio de Janeiro. Cada projeto é adaptado conforme o terreno e as suas dimensões”. Entre os pais, não falta otimismo. Com a oportunidade de ver os dois filhos estudarem
O prédio da Escola Adventista, na Av. Brasil, tornou-se pequeno para comportar os alunos que procuram a escola
em uma nova sede cheia de possibilidades acadêmicas e interativas, Valéria de Almeida, 43, não vê a hora do projeto sair do papel e começar as obras: “Meus filhos estudam na escola há três anos, tenho um rapaz de 11 e uma moça de 13. Essa prospecção da Escola Adventista me faz ter um descanso ainda maior quanto à qualidade do que está sendo passado para os meus filhos. Agora eu sei que se eles quiserem poderão permanecer na instituição até formarem no curso superior”. Na proposta da Rede Adventista de Educação, o espaço atual da Avenida Brasil não ficaria desativado. Muito pelo contrário. Na pauta
FÉ
Deus e o ursinho de pelúcia Plínio Viana Ana-Maria Rizzuto, psicanalista argentina naturalizada estadunidense, figura importante reconhecida entre os estudiosos da Ciência da Religião, desenvolveu uma tese interessante com base em teorias psicanalíticas da escola inglesa, na qual aborda em linhas gerais, como surge, se desenvolve e sofre transformações ao longo do tempo, a imagem psicológica de Deus na mente humana. É importante destacar que a referida autora não elabora um estudo religioso ou teológico de Deus ou da crença, mas desenvolve uma pesquisa científica estritamente psicanalítica. Do ponto de vista de Rizzuto, a imagem de Deus começa a se formar na psique humana a partir dos primeiros contatos do bebê com a mãe e outras figuras familiares, e sofre uma influência muito forte da figura paterna, na fase denominada edipiana. Ela procura mostrar que a relação que uma pessoa desenvolve com a figura de Deus internalizada, é similar à relação da criança com seu ursinho de pelúcia, que no caso trata-se de um objeto que marca uma fase de transição, na qual a criança se vê obrigada a lidar com a ausência da figura da mãe, e consequentemente com a ansiedade gerada pela insegurança, necessitando assim desenvolver a autoconfiança. Nesse momento, assim como a criança elege um objeto (um ursinho talvez), ao qual se apega para suportar essa separação materna e ao mesmo tempo construir sua autoconfiança; ela encontra nessa figura imaginária, que mais tarde é nomeada como Deus, um apoio emocional para lidar com as situações geradoras de ansieda-
de discussão já foi aprovada a criação de uma faculdade. Lá, estarão disponíveis cursos das áreas de Humanas e Exatas para aproximadamente 700 alunos. A unidade universitária de Valadares deve estar ligada à Faculdade Adventista de Lavras, MG. O pastor Jimmy avalia que “a cidade de Valadares está passando por um momento positivo em que se firma como polo educacional. Novas faculdades e universidades estão vindo para cá, agora temos uma Federal aqui. Isso é de uma riqueza tremenda, pois temos a oportunidade de ter vários jovens na cidade, e os jovens tem novas ideias, isso resulta em desenvolvimento.”
Três chapas disputam o comando do SINSEM/GV Fábio Moura / Repórter O Sindicato dos Servidores Municipais de Governador Valadares – SINSEM/GV - realizou ao longo dessa semana o processo eleitoral para a gestão dos próximos três anos. Três chapas concorreram. Dos quase nove mil servidores, 3.400 são sindicalizados, mas apenas três mil estão aptos a votar. O quórum, no entanto, fica na casa dos 50% de eleitores. Urnas fixas e itinerantes percorreram escolas, postos de saúde, o prédio da Prefeitura e outros espaços de trabalho do município. À boca miúda fala-se em uma chapa da educação, uma da saúde e outra do governo. A atribuição reducionista e pejorativa se dá em função dos cargos ocupados pelos candidatos que encabeçam cada uma delas. Na prática, todas as três chapas concorrentes têm integrantes nos mais diversos setores do funcionalismo público; e se empenham em deixar isso claro, de forma a garantir a abrangência de sua atuação. Por outro lado, tentam explorar a proximidade subjetiva com certos setores, ao indicar propostas direcionadas. É o caso da Chapa 1 – conhecida como a da educação –, por exemplo, com menções aos professores e à carga horária de seus módulos de ensino. Mas, as chapas têm, em suma, propostas semelhantes que perpassam reivindicações quanto ao Plano de Carreira e Salários, o reforço ou acréscimo de benefícios públicos e privados aos servidores, a aposentadoria, os programas de habitação; e, por fim, a garantia de apoio jurídico e sindical para as lutas de classe. Diferenciam-se, apenas, no que se refere à continuidade ou a renovação das lideranças e na postura de enfrentamento do sindicato. Pleiteando o terceiro mandato – fato inédito no SINSEM/ GV – a Chapa 1 é encabeçada por funcionários da Secretaria Municipal de Educação. Há quem aponte esse grupo político como permanente á frente do Sindicato desde a sua fundação, 25 anos atrás, com a mudança de uma ou outra peça. “Você não pode chegar à coordenação do movimento sindical sem o mínimo de experiência. Tem de participar do movimento e das assembleias. Já tivemos presidentes aqui que não tinham nada a ver com o nosso grupo. Tem pessoas que estão aqui desde o início. Eu estou há 16 anos e já ocupei vários cargos. Como presidente, considero que a minha gestão nestes últimos seis anos foi uma renovação no SINSEM. Já passaram por aqui o Reinaldo, o Fernandão e presidentes ligados a partidos da esquerda radical, ao PMDB, ao PT. Eu sou filiado ao PCdoB. Enfim, não houve uma unidade nesse percurso”, retruca o atual presidente e candidato à reeleição, José Carlos Maia. A Chapa 2 mobilizou-se, originariamente, nos espaços de atendimento à saúde do município. Especificamente, no Hospital Municipal, onde deflagrou-se uma greve em maio deste ano. “Após um desentendimento sobre o plano de carreira e a carga horária de trabalho com a Prefeitura, os servidores do Hospital Municipal decidiram entrar em greve. Protocolamos uma denúncia no Ministério Público, estabelecemos uma comissão de greve e só depois passamos a contar com a atenção do Sindicato. A sensação de falta de representatividade pelo SINSEM de hoje está próxima dos 100%”, relata o candidato a presidente, Waldecir Moraes, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde. No apagar das luzes, a Chapa 3 registrou a sua candidatura. À frente deste grupo, a agente administrativa, Rosimary Pereira, concorre pela segunda vez à presidência do SINSEM. “Nós sentimos que ao longo desses anos o Sindicato estabilizou, estagnou. Deixou de ter aquela cara de luta, de briga. As greves já foram mais acirradas e combativas. Hoje, o SINSEM está acomodado em uma posição longínqua em relação às necessidades dos servidores”, relata. As urnas foram recolhidas às 20h desta quinta-feira, 24, e a apuração começou cerca de uma hora depois na sede administrativa do SINSEM. O resultado será conhecido nas primeiras horas da madrugada de sexta-feira, 25.
Associativismo Antônio Carlos Borges
de e insegurança, face ao desenvolvimento e à progressiva construção da autonomia. Com base nessa pesquisa, é possível conjecturar sobre possibilidades advindas da influência decisiva dessa figura psicológica sobre o que o adulto conceitua como Deus. Algumas vezes, tal influência pode ser evidenciada em tipos de crenças mais “livres”, em que aquele que crê mostra uma relação bastante flexível com Deus, como se fosse alguém sempre disponível para socorrer ou consolar quando solicitado, mas que repentinamente poderia ser deixado de lado e esquecido, mediante a recuperação das condições necessárias de confiança e retomada da caminhada (assim como uma criança faz com o ursinho de pelúcia). Outras vezes, em comportamentos religiosos mais “infantilizados”, Deus se apresentaria como uma presença que abrange a totalidade da vida da pessoa de forma bastante intensa, não sobrando espaço para uma “participação” da razão e vontade humana nas decisões e escolhas mais triviais do cotidiano. O fato é que o estudo de Ana-Maria Rizzuto oferece pistas interessantes para uma compreensão mais abrangente da diversidade de experiências religiosas que nos cercam, nos ajudando a entender melhor comportamentos e situações de crença em Deus, que para decifrarmos com mais exatidão, precisamos, além da Teologia, contar com a ajuda de outras áreas do conhecimento como a Sociologia, a Psicologia ou a própria Psicanálise. Plínio Viana de Freitas Jr é teólogo, especialista em Ciências da Religião pela UFJF.
A ameaça da (falta de) água Novamente, neste ano, o SAAE de Governador Valadares inicia alerta à população sobre a possibilidade de termos racionamento de água, como tem alertado em anos anteriores. Sabemos que a dificuldade de abastecimento de água, seja pela qualidade, seja pela quantidade, é uma ameaça eminente, prevista e avisada. Pesquisa recente realizada sobre o Rio Doce, já confirma a mais que preocupante qualidade das águas que bebemos e usamos de diversas formas no nosso dia a dia. Com os níveis do rio decaindo próximo da inviabilidade de captação, e com a demanda aumentando a cada dia, pois Governador Valadares está crescendo, um futuro semelhante ao efeito Cantareira em São Paulo não é uma previsão exagerada. Em São Paulo, avisos e previsões anunciam a situação a que se chegou hoje há mais de 30 anos. Sugestões de medidas preventivas e saneadoras estão engavetadas no sistema burocrático do governo do estado de São Paulo desde então. Agora, se chegou a um ponto em que é dificílimo se alcançar soluções viáveis, pois a soluções e medidas preventivas passam por trabalhos preservacionistas nas fontes e nascentes dos rios que alimentam a Cantareira. Trabalho lento e de longo prazo. Alguma coisa foi tentada, porém tão timidamente, que se chegou ao ponto atual. A situação no Vale do Rio Doce é extremamente preocupante, diante do visível e até
escandaloso processo de erosão, que alguns afirmam se tratar já de um processo de desertificação a que a região está submetida. Uma enorme quantidade de terra é carreada para nascentes, córregos e rios, incluso o Rio Doce, assoreando tudo, e grande parte disso (erosão) causado pelo excesso de pisoteio nas fazendas e pelo sistema de exploração da bovinocultura, extensivamente. Sistema arcaico, inviável ambientalmente e inclusive economicamente, podendo nossas terras de um modo geral serem consideradas improdutivas, comparativamente com as mais simples tecnologias de produção na pecuária de corte ou de leite. Com a palavra, os organismos de governo ligados à preservação ambiental, os comitês de bacias, a prefeituras municipais e entidades de interesse a exemplo do SAAE e COPASA. Também perguntamos o que têm feito os organismos de assistência técnica ao produtor da região. Muitos estão achando boa a inclusão do Médio Rio Doce na área do IDENE, recentemente. Comemoramos o reconhecimento de que o nosso clima está alterado, para pior! Basta um olhar nos morros das fazendas que beiram as estradas da nossa região, para se comprovar a situação caótica que estamos vivenciando. Antonio Carlos Linhares Borges é administrador rural e advogado, diretor geral do CIAAT – Centro de Informação e Assessoria Técnica.
METROPOLITANO
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília
Golpe? Apanhado em flagrante recebendo dinheiro do propinoduto que abasteceu o mensalão do DEM e condenado pelo Tribunal de Justiça, o ex-governador José Roberto Arruda segue firme como candidato a um novo mandato no comando do DF. Na campanha, vai tratar o processo de cassação do mandato dele como golpe de estado. Vem dando certo. As pesquisas indicam que ele tem chances de ganhar do atual governador Agnelo Queiroz (PT).
Parceria
Otimismo e dossiê Embora publicamente digam que estão tranquilos, porque as pesquisas de intenções de votos refletem apenas o momento, membros da equipe de campanha da presidente Dilma Rousseff estão com a pulga atrás da orelha, diante da queda dela na preferência do eleitorado, frente ao crescimento do tucano Aécio Neves. Sem surpresa para ninguém, já estariam montando dossiês e mais dossiês sobre a vida do senador e ex-governador de Minas. De hábitos pessoais e dados patrimoniais, todo vem sendo cuidadosamente catalogado. A campanha promete. Roberto Moreira/Diário do Nordeste
Agnelo Queiroz, por sua vez, tem como aliado político o empresário Paulo Octávio, ex-vice de Arruda, também condenado pelo mesmo esquema.
Gabinetes
Transgênico
Arruda já era reincidente em fraude quando se envolveu no escândalo do mensalão do DEM. Já havia sido condenado por violar o painel eletrônico do Senado para descobrir quem havia votado a favor do colega de mandato, Luiz Estevão, também do DF. Quando se candidatou a governador, pediu desculpas ao eleitorado e reconheceu o erro, que classificou como momento de fraqueza. Desta vez, diz ser vítima de golpe.
O caso de Arruda e Paulo Octávio, megaempresário do setor de construção civil, vai servir de termômetro para saber se a população vai levar a sério o conceito de candidato ficha suja. Para a Justiça Eleitoral, é preciso ter condenação por decisão colegiada.
Não adianta. Por mais que prometam trabalho e ritmo para não comprometer o andamento dos projetos, deputados e senadores somem durante o chamado recesso branco. Na Câmara, apenas 70 projetos foram votados no primeiro semestre. E até as comissões, onde o quórum é mínimo, estão às moscas.
Mas, nos gabinetes a situação é bem diferente. Assessores estão com carga dobrada de trabalho. É que os chefes são candidatos à reeleição e, evidentemente, os assessores estão a serviço das candidaturas. Pagos, é claro, com dinheiro público.
Recuerdo
Ficha limpa?
Às moscas
Quando retornarem ao trabalho, os parlamentares devem apreciar o projeto de lei do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que proíbe a venda, o cultivo e a importação de sementes de plantas alimentícias transgênicas, resistentes a substâncias usadas na destruição de ervas daninhas. O projeto também proíbe a importação de produtos alimentícios in natura ou industrializados obtidos dessas plantas.
Volta, Lula!
Biodiesel de fumo
Mas, tem uma ala do PT que está gostando dos resultados das pesquisas, justamente porque acredita que se cair mais dois ou três pontos nas intenções do eleitorado, Dilma Rousseff vai ter de jogar a toalha, alegar problemas de saúde e trazer de volta o ex-presidente Lula para a disputa. O problema é que isso inviabilizaria o projeto do PT para 2018, quando Lula voltaria a disputar o Planalto.
Caratinga (MG) pode ser a cidade escolhida para receber uma empresa que pretende produzir biodiesel de fumo. A proposta vem sendo conduzida pelo deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), conterrâneo do ex-vice-presidente José Alencar e do escritor Ziraldo. José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.
Entrevista Hélio Gomes
deputado estadual, candidato à reeleição
“Valadares precisa de muito mais do que academias em praças” Aos 62 anos, o empresário Hélio Gomes chega, em 2014, ao fim do seu primeiro mandato em um cargo político. Concorre, agora, à reeleição para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, pelo PSD - Partido Social Democrático. Já em campanha, ele conversou com este Figueira sobre a conjuntura econômica do país, além dos projetos de seu primeiro mandato e o que muda em um possível novo mandato.
Fábio Moura
Figueira - Ao buscar novamente o voto dos valadarenses, nos indique projetos e causas que você apresentou e defendeu na Assembleia, em favor da cidade. Hélio Gomes - Em relação a Valadares e a outros municípios, na verdade. O parlamentar tem emendas no valor de R$ 1,5 milhão para atender aos municípios que ele representa – o que é pouco para uma cidade como Governador Valadares e sua região. Eu fiz o seguinte: tirei uma média de R$ 500 mil/ano para atender entidades valadarenses como a APAE, creches, sindicatos e todas as outras que tivessem um fim social, auxiliando com veículos, equipamentos, enfim. É a forma que eu encontrei de ajudar socialmente as entidades que são, de certa forma, deixadas de lado pela Prefeitura – o que não é exclusivo de Valadares. As prefeituras não dão nenhum tipo de apoio a essas entidades. A outra parte do montante das emendas foi direcionada aos municípios. Em Valadares, consegui implantar doze academias em praças públicas. Quase todas as praças da cidade, hoje, têm uma academia. Frutos de uma emenda parlamentar que indiquei pra cá. Outro objetivo pelo qual lutamos desde 2011 e agora alcançamos – com o apoio de outros deputados a o projeto de minha autoria – foi o acesso à telefonia celular em todos os distritos. Acredito que, até o início do ano que vem, todos os distritos do Vale do Rio Doce serão contemplados com torres de telefonia celular. As operadoras que fazem no distrito sede do município o seu ponto comercial por excelência - pois é lá onde vendem muito -, não se interessam em alcançar os distritos. Mas, agora, conseguimos aprovar uma lei, pela qual elas são obrigadas a colocar torres com sinal de telefonia celular em distritos de menor porte. Figueira - Você debutou na política durante este primeiro mandato como deputado estadual. Quais os desafios que a atividade parlamentar lhe impôs? Hélio Gomes - Encontrei coisas normais do próprio legislativo. São 77 deputados estaduais. Então, um projeto tem de passar por várias fases até que seja votado e aprovado. É até bom mesmo que seja assim, pois alguns projetos sem fundamento poderiam ser aprovados. Até hoje, leis impraticáveis são votadas e aprovadas e só depois verificam que aquela lei não é aplicável. O projeto de telefonia, por exemplo, tramita na casa desde 2011. Já as questões partidárias interferem, notadamente, em instâncias legislativas federais. No estado, isso é mais tranquilo. Figueira - O que muda e o que permanece na sua pauta política em caso de reeleição? Em que agenda política você se ancorará neste ano?
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Acho que o Aécio tem condições de vencer em Minas Gerais e até levar para o segundo turno no país. Quanto às gestões passadas, eu diria pra você que todas as empresas do país seguem a mesma linha. A cada cinco anos, mais de 50% das empresas que abrem, fecham. Sempre foi assim. Algumas sobrevivem. Evidentemente, quando o país está com a moeda mais estável, como está agora - e o Brasil já está assim há muito tempo -, há pouca especulação e as empresas com um princípio sólido tendem a se caminhar bem.
Hélio Gomes – Em caso de reeleição, pretendo continuar destinando um percentual das emendas para as entidades. Verifiquei que a demanda dessas entidades ainda é muito grande. São entidades que fazem um trabalho filantrópico muito bonito. Na APAE, por exemplo, você costuma chegar e não encontrar nada; elas estão sobrevivendo através da ajuda de parentes dos usuários do serviço. É um absurdo. Deveriam ter mais ajuda. Vou continuar fazendo isso em todas as entidades com fim social. Esse é o objetivo. Com relação aos municípios, as demandas são individuais e específicas. Figueira - A Assembleia Legislativa também foi alvo das pautas e de discussões nas assembleias que movimentaram as manifestações de junho do ano passado. Essa pressão alterou algo na dinâmica da casa? É possível observar uma alteração na postura de alguns deputados mesmo que momentaneamente? Hélio Gomes - Ninguém sabia o que os manifestantes queriam. Uma parte foi induzida politicamente. A outra era desinformada. Cada pergunta nossa tinha uma resposta diferente dos manifestantes. Em entrevistas, só diziam que queriam manifestar. Ninguém sabia o que queria, na verdade. Nada mudou dentro da Assembleia. Tudo permaneceu como antes. Começou na luta pelo vale-transporte – abaixar a tarifa do ônibus urbano. Depois, tudo quanto era besteira eles pediam nas manifestações. No mês passado, aprovamos na Assembleia a proibição do uso de máscaras em manifestações. Quem usa máscara é bandido. Até a Polícia Militar, no exercício do seu dever, é identificada – além do uniforme, há ainda a identificação nominal. Porque o manifestante vai usar máscara, então? Acho, inclusive, que a Polícia deveria ter agido com mais rigor. Em toda manifestação havia uma meia
dúzia de manifestantes bestas em meio a um monte de bandidos. Então, isso não poderia dar certo. Teria que dar no que deu mesmo. Quebrar patrimônio público e privado. É algo sobre o que deveriam agir com mais rigor. Figueira - Como empresário, no Grupo HG, você despontou em vários ramos nos últimos anos em Valadares. A política econômica dos dois mandatos do presidente Lula e do primeiro da presidente Dilma interferiram nisso? O que você acredita que o Aécio Neves poderia fazer de diferente? Hélio Gomes - O PSD está coligado nacionalmente com a Dilma. Em Minas, com o Pimenta da Veiga. A coligação com o PT em uma abrangência e com o PSDB em outra aconteceu em vários partidos. Principalmente, nos grandes. Aí, não depende de opção do parlamentar. A não ser a pessoal. Acho que o Aécio tem condições de vencer em Minas Gerais e até levar para o segundo turno no país. Quanto às gestões passadas, eu diria pra você que todas as empresas do país seguem a mesma linha. A cada cinco anos, mais de 50% das empresas que abrem, fecham. Sempre foi assim. Algumas sobrevivem. Evidentemente, quando o país está com a moeda mais estável, como está agora - e o Brasil já está assim há muito tempo -, há pouca especulação e as empresas com um princípio sólido tendem a se caminhar bem. Então, isso tem acontecido naturalmente. Não vejo nada que possa caracterizar esse desenvolvimento como fator político. Influencia, apenas, quando se trata de um fator muito significativo, como uma alta taxa de inflação. Eu poderia dizer que nos desenvolvemos como nos desenvolvíamos na época do Fernando Henrique Cardoso, do Lula, da Dilma. Nas três gestões, o equilíbrio comercial se mantém. Nada espetacular, de risco ou de prejuízo pras empresas.
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014 Fábio Moura
Governador Valadares é uma planície em meio ao mar de montanhas de Minas, e isso favorece o uso da bicicleta como meio de transporte
Vá de bike
Com a bike não tem custo financeiro ou ambiental. Sem gasto com combustível e sem a emissão de gases poluentes. Pesa menos no bolso do usuário e na conta do planeta. Fábio Moura / Repórter
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há lugares sem ciclovia, onde corremos mais risco. Por isso, prefiro não passar no cruzamento da avenida Minas Gerais com a rua Sete de Setembro, por exemplo. Aquilo é um risco constante
Nádia Jorge Professora
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Hoje, há uma guerra, uma competição entre motociclistas e ciclistas. Eles não andam atrás dos carros, mas, sim, ao lado. Utilizamos, então, o mesmo espaço. Fui fechado uma porção de vezes e, em algumas delas, não consegui manter o equilíbrio sobre as duas rodas. Outra coisa nova, à qual ainda não nos adaptamos, são as bicicletas elétricas. Elas são conduzidas a velocidades muito altas e na mesma linha dos ciclistas comuns. Creio que boa parte dos seus adeptos ainda não está preparada pra usá-las.
Diógenes Freitas Fotógrafo
Talvez, nem se usasse essa expressão nos anos 1980. Mas ia-se. E ia-se muito. Hoje, ainda vai. Mas não vai tanto assim mais. “Tem outro jeito não, ‘fi’. Qual transporte é de graça? Qual é mais rápido? Eu vou é na magrela”. Falou, gargalhou e impulsionou o guidão à frente. Trotando, deu um salto e caiu sentado sobre o quadro sem qualquer titubeio. Josué estava pegando uma carona com o Túlio numa poti azul de cano reto e banco de couro. “Aí, ficaí esperando o busão”, ironizava ao se distanciar. Mas, é verdade: pedalou na hora em que quis, na velocidade que deu e ganhou quinze minutos de frente até que o amarelão passasse. Saiu pela avenida JK abaixo. Iria desembocar lá no Grã-Duquesa, onde faz um bico numa padaria. Josué vai assim, porque é o único jeito que dá pra ele. Quase não foi. O pneu furou numa pedra pontiaguda a uns dez metros dali. Colocou no borracheiro e foi parar no ponto de ônibus. Bastou começar a reclamar, dizendo que “sem bicicleta não dá; ônibus é luxo”, e o Túlio apontou no horizonte vestindo a camiseta de uma drogaria do mesmo bairro. “Monta aí”. Dali até o trabalho faria pouco mais da metade do percurso em uma faixa exclusiva para ciclistas. Em outros tempos percorreria quase toda a rota dentro dela. No fim dos anos 1970, o executivo municipal licitou uma empresa para elaborar um Projeto de Tratamento da Área Central e Ciclovias. “Fui contratado pela empresa que faria a pesquisa sobre tráfego de veículos motorizados – tivesse o tamanho que fosse - e não motorizados, além dos pedestres e do transporte público. Fizemos pesquisas de rotatividade no estacionamento de Valadares e contagem volumétrica classificada de veículos. Tabulamos todos os resultados para alcançar um diagnóstico e entender o sistema viário da cidade. Olhamos, por exemplo, se seria interessante inverter ou duplicar a mão de uma rua ou, então, se era por ali ou por lá que o fluxo de ciclistas se mostrava mais intenso. Em 1982, concluímos os nossos estudos”, relatou o engenheiro Eustáquio Fernandes, hoje Técnico de Trânsito da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos. Não se criou novas rotas para as bicicletas da cidade. Apenas legitimou-se - ao fixar um espaço exclusivo - o itinerário demandado e utilizado pelos ciclistas da época. Com isso, em 1986 foram inaugurados pouco mais de 23 quilômetros de ciclovias em todas as regiões da cidade. Já na avenida JK um corredor central se esticava por toda a sua extensão. Ao fim da avenida, a Rua Rio Grande do Sul se encarregava de desaguar todo o fluxo na Rua Israel Pinheiro. De lá, ia-se para a avenida Minas Gerais, de onde os ciclistas eram distribuídos para a rua Marechal Floriano ou para a Sete de Setembro. Noutra rota, a ciclovia foi arrolada ao longo das avenidas Veneza e Tancredo Neves, num traçado paralelo ao canal que a acompanha. Dali, seguia pela Av. Moacir Paleta até o bairro Santos Dumont. Mais uma ou outra rua completava todo o trajeto das ciclovias. Àquela época a bicicleta era o principal meio de transporte dos valadarenses. Ao fim do projeto, foi contabilizada uma bicicleta para cada dois habitantes da cidade. O índice de motorização ainda não demandava largos espaços pelas ruas: um veículo para cada grupo de quatorze moradores. Nos anos 1990, Valadares chegou a ter uma frota de 200 mil bicicletas rodando cotidianamente do Morada do Vale à Ilha dos Araújos, do Santos Dumont ao Santa Rita e da Ponte do São Raimundo ao pé da Ibituruna. Mas, daí em diante, o cenário mudou. E mudou muito. Cerca de 8 quilômetros das ciclovias foram retirados para dar mais espaço às ruas e seus veículos ou às calçadas e seus transeuntes. Sob a alegação de ócio ou irrelevância perante outras demandas, nos anos 1990 e 2000, o trajeto original foi desfigurado. “Quem tinha uma bicicleta, comprou uma moto. Depois, um carro. À medida em que os automóveis tornaram-se mais acessíveis e o transporte coletivo ampliou a sua abrangência de atendimento, as bicicletas começaram a ser deixadas de lado como meio de transporte. Em determinados pontos da cidade, nós temos mais motos na rua do que bicicletas na ciclovia. Hoje, são pouco mais de 100 mil bicicletas e quinze quilômetros de ciclovias”, contextualiza o diretor do Departamento de Transporte, Trânsito e Sistema Viário, Marco Rios. Os números mostram que há quem resista e não negue a vocação valadarense para o pedal. Aqui, a calanga desliza pelos bloquetes ou pelo asfalto com mais facilidade. Quase não se sobe ou desce. O vale é plano. O Centro também. E são poucos os bairros morro acima. Com a bike não tem custo financeiro ou ambiental. Sem gasto com combustível e sem a emissão de gases poluentes. Pesa menos no bolso do usuário e na conta do planeta. Atraem, também, pelo valor de compra. Não que não haja bicicletas caras, mas há aquelas não tão belas ou equipadas assim e que
nos quebram o galho. Há, também, quem tenha os R$ 2,60 do ônibus ou, até mesmo, um carro na garagem e opte pela bicicleta. Vai nela por vários motivos; e nela faz de tudo. “Compra, feira, trabalho, cinema ou boteco. Tudo. Em tudo vale mais a pena a bicicleta. Tem muitos carros na rua. Está tudo congestionado. O ônibus também é demorado; chegava a demorar na base de uma hora entre o meu trabalho no Centro e a minha casa no final da rua Dezesseis, na ilha. De bicicleta, posso ir em casa almoçar, descansar tranquilo e voltar com folga para o trabalho. De ônibus, eu nunca consegui. Chego num, como rapidinho, volto noutro”, conta o fotógrafo grandalhão, o sexagenário Diógenes Soares. Diógenes não tem carro, nem moto. Tem outra magrela mais equipada e confortável para os rolês do fim de semana. Nádia Jorge tem carro; e ele pouco sai da garagem. “Hoje, eu sinto vergonha ao andar sozinha no carro. É um desperdício de combustível. O perfil do meu bairro não facilita os esquemas de carona. Então, prefiro optar por uma forma de transporte individual. O ônibus é uma alternativa complicada, também. O que passa perto do meu trabalho tem um horário ruim. Demoraria uma hora até a minha casa, quando não gasto mais de quinze minutos numa bicicleta. São, também, quinze minutos de exercício. Não andava de bike há 25 anos. Voltei, também, em função de um cuidado a mais com a saúde”, relata a professora universitária. Optam pelas bicicletas, mas sabem que não dispõem das melhores condições. Diógenes diz que “já me roubaram quatro bicicletas em pontos distintos da cidade. Não há uma forma 100% segura de mantermos nossas bikes em bicicletários nas calçadas públicas”. “Bicicletários? Há 25 anos tínhamos muito mais. Eles foram sumindo de perto das ciclovias”, lembra saudosa a Nádia. Quando destrancam as bicicletas e voltam a pedalar, os entraves os acompanham. Para ela, “há lugares sem ciclovia, onde corremos mais risco. Por isso, prefiro não passar no cruzamento da avenida Minas Gerais com a rua Sete de Setembro, por exemplo. Aquilo é um risco constante”. Diógenes também evita as ruas mais movimentadas, porém não conseguiu escapar de acidentes. “Estava na Rua Peçanha, quando a dona abriu a porta do carro em cima de mim. Caí, é claro. Mas, o problema do dia a dia mesmo está nas bocas de lobo dos cantos de rua. Há um grande desnível entre elas e a rua. Há um mês fui vítima de uma dessas bocas. Próximo ao shopping pedalava rente ao meio-fio, dando passagem aos carros. Com isso, não percebi que, além de estar mais baixa, uma delas tinha frestas maiores em sua grade. A roda enfiou e sai voando sobre o guidão. Antes isso do que tirar a bicicleta de lado num reflexo e entrar debaixo de um carro”. O trânsito mudou, e a mobilidade dentro da cidade também. Junto a isso, mudaram, ainda, as relações entre os condutores. Avançamos, em partes. “Depois de 25 anos longe do pedal encontrei motoristas mais cuidadosos com os ciclistas. Fora isso, antes eu morria de medo dos ônibus da Valadarense. Hoje, não. Buzinam, dão passagem, não pressionam mais”, relata Nádia. Em outras partes, ainda não encontramos um meio termo. “Hoje, há uma guerra, uma competição entre motociclistas e ciclistas. Eles não andam atrás dos carros, mas, sim, ao lado. Utilizamos, então, o mesmo espaço. Fui fechado uma porção de vezes e, em algumas delas, não consegui manter o equilíbrio sobre as duas rodas. Outra coisa nova, à qual ainda não nos adaptamos, são as bicicletas elétricas. Elas são conduzidas a velocidades muito altas e na mesma linha dos ciclistas comuns. Creio que boa parte dos seus adeptos ainda não está preparada pra usá-las”, reclama Diógenes. Tudo isso, acredita-se, pode mudar num futuro breve com um pacote de alterações no padrão de mobilidade urbana. Estuda-se, por exemplo, a alteração do trajeto das ciclovias, seja em extensão ou localização. O itinerário das ciclovias segue uma lógica dos anos 80. Desde lá, a cidade despertou novos vetores de desenvolvimento e consolidou algumas regiões originariamente residenciais, como comerciais. O fluxo de pessoas a caminho do trabalho sofreu alterações. Estima-se, ainda, que alcançaremos 30 quilômetros, o dobro da extensão atual – de ciclovias. Há, também, a intenção de construir os primeiros bicicletários públicos em algumas partes da cidade. Hoje, não contamos com nenhum. Temos, sim, bicicletários instalados em calçadas por comerciantes, com autorização e fiscalização da Secretaria de Planejamento. Todas as medidas de intervenção urbana ainda darão muito pano pra manga. Mas isso é assunto para as próximas edições deste Figueira.
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014 Divulgação SMCEL
O Encontro Regional do Folclore de Penha do Cassiano, tem apresentações artísticas e culturais que visam fortalecer a identidade cultural da região do Vale do Rio Doce. Em 2014, o encontro receberá o incentivo do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, do fundo do investimento.
Sistema Municipal de Cultura sai do papel em Valadares Sistema organiza as políticas culturais de forma descentralizada, dando continuidade a elas independentemente de mudanças de governantes. Também possibilita mecanismos de gestão e de investimento na cultura mais transparentes, por meio do controle social dos recursos e das políticas implementadas, promovendo a universalização do acesso a bens e serviços culturais e o fomento à produção.
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Gabriel Sobrinho / Repórter
O Sistema Municipal de Cultura (SMC) já é realidade em Governador Valadares. A aprovação do sistema foi feita em dezembro de 2011, por meio de lei própria. O programa, que segue os modelos do Sistema Nacional de Cultura (SNC), faz parte das metas e ações do Plano Nacional de Cultura (PNC), e estabelece diretrizes e ações de incentivo à cultura. O objetivo do SMC é organizar as políticas culturais de forma descentralizada, dando continuidade a elas independentemente de mudanças de governantes. Também visa possibilitar mecanismos de gestão e de investimento na cultura mais transparentes, por meio do controle social dos recursos e das políticas implementadas, promovendo a universalização do acesso a bens e serviços culturais e o fomento à produção. O SNC é baseado nas experiências de outros sistemas nacionais de articulação de políticas públicas, como por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre as semelhanças dos sistemas, estão os princípios e as diretrizes, a divisão de atribuições e responsabilidades entre os entes da federação (governos federal, estadual e municipal), o repasse de recursos e a criação de instâncias de controle social. O diretor do Departamento de Cultura, João Paulo Rocha, lembra que a lei que regulamenta o SNC dispõe que os SMC tenham, no mínimo, cinco componentes: Secretaria de Cultura ou órgão equivalente, Conselho Municipal de Política Cultural, Conferência Municipal de Cultura, Plano Municipal de Cultura e Sistema Municipal de Financiamento da Cultura, com Fundo Municipal de Cultura. “Estamos bem organizados com os componentes obrigatórios. Falta pouco para a sociedade começar a ver os resultados do Sistema Municipal de Cultura na cidade, estamos em fase de acabamento, o problema tem sido a participação da comunidade. A escolha dos membros para o Conselho Municipal de Política Cultural é feita pelo cidadão comum. Este componente é uma instância colegiada permanente, de caráter consultivo e deliberativo, integrante da estrutura político-administrativa do Poder Executivo, com membros do Poder Público e da Sociedade Civil. O Conselho deve ter na sua composição pelo menos 50% de representantes da sociedade civil, eleitos democraticamente pelos respectivos segmentos. Hoje são 38 cadeiras para o conselho. Cada grupo do setor de cultura, por exemplo, a dança, música e teatro, precisa eleger no meio da comunidade um integrante para compor. Mas, está complicado, a participação tem sido fraca, ainda falta interesse de alguns”. João Paulo aponta como as principais atribuições do Conselho Municipal de Política Cultural “propor e aprovar, a partir das decisões tomadas nas conferências, as diretrizes gerais do Plano de Cultura e acompanhar a execução; apreciar e aprovar as diretrizes gerais do Sistema de Financiamento à Cultura e acompanhar o funcionamento dos seus instrumentos, em especial o Fundo de Cultura; fiscalizar a aplicação dos recursos recebidos decorrentes das transferências federativas”. Projetos em andamento Mesmo antes do SMC ser aprovado na cidade, a Rede Ponto de Cultura incentiva cinco grupos há mais de dez anos. Todos os anos, esses grupos recebem entre 15 a 20 mil reais, com a responsabilidade de cumprir três etapas ao logo dos 12 meses. Para cada etapa concluída estão
O Sistema Municipal de Cultura é o avanço que esperávamos há anos. A cada administração que entra na cidade não tínhamos a certeza se o investimento permaneceria. Agora sabemos que os projetos que forem aprovados pelo conselho, receberão os recursos previstos. Nós, da capoeira, já escolhemos o nosso conselheiro, esperamos todos participando. Maycon Martins de Oliveira / Capoeirista
disponíveis 60 mil reais. Participam do projeto a Banda Lira 30 de Janeiro, que oferece aulas gratuitas de diversos instrumentos; o grupo Atrás do Palco com o teatro, dança e atividades circenses; a União Operária com os artesanatos; Raiz do Brasil que oferece aulas de capoeira; e o trabalho de documentário, Memórias do Campo, no Assentamento Oziel. Maycon Martins de Oliveira, 22 anos, pertence ao grupo de Capoeira Raiz do Brasil. Ele alerta quanto à necessidade da participação da comunidade, pois os movimentos culturais na cidade são fortes, todos unidos e engajados só trarão resultados positivos para a cidade. “O Sistema Municipal de Cultura é o avanço que esperávamos há anos. A cada administração que entra na cidade não tínhamos a certeza se o investimento permaneceria. Agora sabemos que os projetos que forem aprovados pelo conselho, receberão os recursos previstos. Nós, da capoeira, já escolhemos o nosso conselheiro, esperamos todos participando”. Festa cultural de Penha do Cassiano Este ano, a 13ª edição do Encontro Regional de Folclore de Penha do Cassiano, distrito de Governador Valadares, será nos dias 22 e 23 de agosto. Nas duas últimas edições houve o apoio do Fundo Estadual da Cultura, mas para este ano o recurso não veio. A Secretaria Municipal de Cultura teve de se mobilizar para o evento tradicional acontecer. O evento que conta apresentações artísticas e culturais que visam fortalecer a identidade cultural da região do Vale do Rio Doce, receberá o incentivo do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, do fundo do investimento. O diretor do Departamento de Cultura, João Paulo Rocha, afirma que objetivo do conselho é proteger o patrimônio cultural da cidade. “Para este ano o Estado afirmou, de maneira que ficamos sem entender, que o encontro é de pouca capacidade de continuidade, sendo que esta já é a 13ª edição. Mas isso não nos abateu, buscamos recursos e o evento está mantido.” O encontro, que é uma realização da comunidade do distrito, em parceria com a Prefeitura, terá shows musicais e apresentações teatrais, entre outras expressões artísticas. Várias pessoas de cidades como Ipatinga e Caratinga comparecem à festa. O evento é uma oportunidade de integração entre os membros da comunidade, dando destaque às suas manifestações e tradições culturais. Haverá também apresentação de grupos folclóricos, “contação de causos”, shows musicais com violeiros, sanfoneiros, bandas no melhor estilo de raiz e também barraquinhas com deliciosos quitutes. “Uma festa dessas é pra gente aproveitar. O folclore dos distritos de Valadares é muito rico e interessante. Não dá pra perder. Não consigo imaginar passar um ano sem o encontro”, declara Alvim Morais Batista, 62, morador do distrito de Penha do Cassiano.
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Estamos bem organizados com os componentes obrigatórios. Falta pouco para a sociedade começar a ver os resultados do Sistema Municipal de Cultura na cidade, estamos em fase de acabamento, o problema tem sido a participação da comunidade. A escolha dos membros para o Conselho Municipal de Política Cultural é feita pelo cidadão comum.
João Paulo Cirne Diretor de Cultura SMCEL
GERAL
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
TECNOLOGIA SOCIAL
Políticas Públicas de Saúde
Redes sociais como ferramentas de defesa do consumidor
Derli Batista da Silva
Ética, esporte e saúde A vida é repleta de mistérios e requer muitos cuidados, sendo ela apreciada por algumas pessoas e tratada com desgosto por outras; mas, independentemente das experiências de cada pessoa, todas precisam se cuidar para viverem bem. Assim, o cuidado com a saúde é um fator essencial para viver com qualidade e envolve as relações com os demais seres numa convivência ativa, responsável e ética. A expectativa de viver melhor exige um movimento no sentido de promover uma cultura de esmero com a saúde em todas as suas dimensões e não apenas na dimensão física e/ ou biológica como ocorre mais frequentemente em nossa sociedade. Para isso, o corpo precisa ser sentido e percebido de maneira diferente, que dista do “culto ao físico” e aproxima do cuidar e do conhecer o seu corpo. O cuidar é uma atitude ética, sendo considerado um ato de amor, neste caso, a si próprio e às pessoas de sua convivência. Ética pode ser pensada como a busca do bem comum, como o caminhar pela felicidade do outro ser, o que tende a gerar também em si uma sensação de êxtase. A ética caracteriza-se pelo respeito, devendo ser a base das relações, inclusive em práticas desportivas. Aqui, no Brasil, a gente costuma iniciar a prática esportiva muitas vezes em espaços de “peladinhas” nas comunidades, nutrindo fortemente o traço brasileiro de “país do futebol”. No entanto, o esporte abrange diversas modalidades, como Atletismo, Basquete, Canoagem, Ciclismo, Futsal, Ginástica, Handebol, Lutas, Natação, Rúgbi, Vôlei, dentre outras. Em todas elas, a ética deve direcionar as ações de quem as pratica e, também, de dirigentes, técnicos e respectivas comissões, que deveriam prezar pela felicidade coletiva, em detrimento de interesses escusos. No campo desportivo em nosso país, como política pública, destaca-se o Programa Esporte e Lazer da Cidade, criado pelo Ministério do Esporte (esporte.gov.br), que além de proporcionar a prática de atividades físicas, culturais e de lazer, estimula a convivência social, a socialização do conhecimento e contribui para que o esporte e o lazer sejam tratados como direitos de todos (as). Outros programas do governo federal, que também podem ser implantados por gestores e gestoras das cidades,
como Saúde da Família, Vida Saudável e Academias da Saúde, desde que desenvolvidos com a seriedade, a sensibilidade e a competência necessárias, ampliam a possibilidade de uma condição de saúde melhor para as pessoas e as comunidades, favorecendo o cuidado ético com a vida. Com estas reflexões, lembro-me do texto intitulado A Iniciação Esportiva, o Esporte... e a Saúde?, escrito, em parceria com outros companheiros no mestrado em São Paulo, pelo meu bom amigo goiano Jean Carlo Ribeiro, mestre em Educação Física, no qual afirmam: “Na sua gênese, o esporte está associado à diversão e ao prazer e, possivelmente, tentar promover saúde em uma prática dissociada destes aspectos seria uma empreitada com poucas chances de sucesso.” Então, pergunto: Que sensibilidade temos percebido em gestores (as) e profissionais no cuidado com a saúde comunitária? Têm acontecido ações efetivas de educação para a saúde com as famílias e comunidades? Que seriedade e competência temos encontrado no desenvolvimento (e não apenas na implantação) das políticas públicas focadas no esporte, visando promover a saúde? O que tem ocorrido com as Academias da Saúde em praças públicas? Há profissionais nas Academias da Saúde em espaços públicos orientando as pessoas acerca da prática de atividades físicas? O povo brasileiro é conhecido também pelo seu bom humor e pela paciência com as mazelas de determinados governos e de profissionais que distam da ética. O humor ajuda a manter a saúde, como podemos ver no escrito recente de Leonardo Boff em seu artigo O humor como expressão de saúde psíquica e espiritual, no Jornal do Brasil (jb.com.br): “No humor, se vive o sentimento de alívio do peso das limitações e do prazer de vêlas relativas e sem a importância que elas mesmas se dão. Por um momento, a pessoa se sente livre dos superegos castradores, das injunções impostas pela situação e faz uma experiência de liberdade, como forma de plasmar seu tempo, dar sentido ao que está fazendo e construir algo novo...” A prática de esportes ajuda a melhorar o humor e a promoção da saúde envolve, sim, a diversão e o prazer. Derli Batista da Silva é enfermeiro, mestre com pesquisa sobre Corporeidade e Saúde, professor universitário.
Ombudsman José Carlos Aragão
“Certa é a frase que, obedecidos o espírito da língua e as circunstâncias do discurso, comunique com a precisão possível, João Ubaldo Ribeiro
Hoje em dia, muito do que se publica a pretexto de ser informação noticiosa, chega ao leitor muito rapidamente. Há sites e portais dedicados à informação diária, muitos deles extensões de jornais e revistas tradicionais e impressos, que pululam no ciberespaço com impressionante velocidade. Em alguns casos, essa rapidez supera a já quase jurássica mídia eletrônica, dominada desde o século passado pelo rádio e pela televisão. Tamanha velocidade na transmissão e circulação da informação fez nascer um crônico descuido dos redatores com o “espírito da língua” e com as “circunstâncias do discurso”, de que nos fala o recém-falecido João Ubaldo. Tudo isso pode ser facilmente verificado com a leitura mais criteriosa de jornais e revistas (de blogs e redes sociais falarei oportunamente), ou quando somos meros espectadores de certos telejornais. Enquanto o fato está acontecendo, é comum vermos (e ouvirmos) entradas ao vivo de repórteres de plantão que não sabem organizar e ordenar seu pensamento ou uma sequência clara dos acontecimentos de que são testemunhas. Nem me refiro ao fato de que alguns se atrapalham apenas com o manuseio de suas próprias anotações, com o retorno do áudio ou com o posicionamento da câmera. Tudo isso é aceitável, pode acontecer a qualquer um que é jogado no meio do furacão de uma cobertura ao vivo. Triste mesmo é ver que alguns não sabem mesmo é como comunicar o que estão vendo, resumir o que ouviram de uma fonte ou informar com clareza e precisão ao ouvinte ou telespectador o que realmente está ocorrendo. Quando escrevem, o problema torna-se mais grave, porque a palavra impressa é, aparentemente e sob certas circunstâncias, um registro de maior impacto (Sim, há controvérsias sobre que impacto é maior: texto ou imagem?...). Talvez, porque se possa pressupor que texto escrito (particularmente o de natureza jornalística) exige maior objetividade, concisão e clareza que, por exemplo, a poesia e outros gêneros literários. Seja lá como for, o espírito da língua e as circunstâncias do discurso acabam por governar a notícia, que nada mais é que o veículo que transporta a informação, da fonte ao leitor/espectador/ouvinte. Falar bem, escrever corretamente e usar as palavras exatas são, assim, condições sine quibus non para o exercício do bom jornalismo.
Enio Paulo da Silva
Sem chuvas O nível crítico do volume de água do Rio Doce indica que pode haver necessidade de racionamento. O assunto foi manchete de capa da edição passada do Figueira. Alguns aspectos da notícia, porém, chamam a atenção, como, por exemplo, o uso da palavra “racionamento” na manchete. Praticamente é um palavrão (nem tanto por ser palavra polissílaba)! Em vésperas de eleições, o termo é evitado por candidatos e partidos, como alho e luz do sol o são pelos vampiros clássicos. A palavra é citada apenas uma vez no corpo da notícia – talvez por acidente. Sim, porque não apenas os governantes a evitam, temendo perder votos necessários à sua reeleição; mas a própria mídia a rejeita, para não ser acusada de fomentar o pânico entre a população ou de influenciar o voto do eleitor. Daí, uma horda de eufemismos é logo convocada para substituir ou camuflar a odiosa palavra e outras associadas à questão: “desabastecimento”, “racionalização de uso”, “uso consciente”, “economia”, “combate ao desperdício”, “interrupção do abastecimento”... Acontece com os políticos e com grande parte da mídia nacional. Basta ver como ela noticia a escassez de água que também afeta São Paulo, a maior cidade do país. Com chuvas e trovoadas Uma situação curiosa aconteceu na página 2 da edição passada do Figueira. Vizinhos do topo da página, o Editorial e a Charge, ironicamente, meteram-se a fazer previsões antagônicas sobre o clima. Enquanto a Charge do Tim Filho anunciava uma queda de temperatura para o fim de semana, o Editorial versava sobre as eleições vindouras e a cobertura que o jornal prepara para o pleito. Alguém duvida de que a temperatura vai subir?
José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com
Não se atenha ao título, você não vai ver aqui uma defesa aberta desta prática cada vez mais utilizada por clientes cansados do mau atendimento que alguns comerciantes e prestadores de serviço dispensam a eles, mas sim uma análise das consequências que esse comportamento pode trazer. As redes sociais, em especial o Facebook, vêm trazendo à tona a total falta de critério de seus usuários, ao compartilharem noticias que leem no mundo virtual. Some a isso a necessidade crescente de emitir opiniões sobre qualquer assunto, espalhando sua visão do mundo para todos. Considere que essa visão tem se tornado cada dia mais extremada, assuntos antes polêmicos são debatidos com desenvoltura e, algumas vezes, exagera-se na dose causando prejuízo a pessoas e empresas.
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As redes sociais, em especial o Facebook, vêm trazendo à tona a total falta de critério de seus usuários, ao compartilharem noticias que leem no mundo virtual.
Para complicar ainda mais a vida desses incautos, muita gente vem criando notícias falsas para se aproveitar desse fato, alguns por brincadeira, outros por maldade. Em ambos os casos, a pessoa que espalha pode deixar de ser vítima para se tornar criminosa, correndo o risco de processos e até prisão, pois quase sempre incluem opiniões carregadas de preconceito e total falta de respeito com o próximo. No caso do tema deste texto, a atitude em momento de raiva ou sentimento de desamparo pode causar prejuízos à imagem da empresa citada, levando a uma crise que, em casos extremos, pode causar até a falência, causando desemprego entre outras conseqüências. O caminho a ser seguido é o do diálogo, ir ao fornecedor e negociar uma solução. O Código de Defesa do Consumidor e o PROCON dão todo amparo para o cliente que se sente prejudicado. Se não houver acordo, ainda temos o tribunal de pequenas causas, ou seja, existem ferramentas mais eficazes que uma rede social para encaminhar a sua reclamação. Em muitas situações, as redes sociais, em vez de ajudar, podem atrapalhar, pois a exposição depreciativa pode ser usada como argumento de defesa e podemos não ter o final feliz que tanto desejamos. Enio Paulo Silva, conselheiro do Figueira, é jornalista e empresário do Setor de Internet.
Direitos Humanos Paulo Vasconcelos
Universalizar os direitos em um contexto de desigualdades Talvez, eu devesse abordar o terceiro capítulo do Programa Nacional de Direitos Humanos-3 trazendo referências clássicas como as frases de Nelson Mandela. — “Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da pele, origem ou religião. Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” — E ainda, — “Por que nesta sala enfrento um juiz branco, sou acusado por um fiscal branco e escoltado por um oficial branco? Alguém pode dizer que aqui a balança da Justiça está equilibrada?” Porém, em nenhum momento me ocorreu perguntar se os leitores querem conhecer o PNDH-3, se têm o interesse de entender a abrangência dos direitos humanos em nossas vidas ou mesmo, se lhes importa que direitos humanos não existam apenas para defender bandidos. Ocorreu-me, também, que para universalizar direitos em um contexto de desigualdades não necessariamente é preciso pedir permissão a seja lá quem for. Não por acreditar que alguma imposição possa ser benéfica ou justificável. Mas, porque a realidade social transgride esses direitos através dos pontos de vista individuais, não coletivos. Com que olhar você leitor enxerga as desigualdades? — com o olhar marcado historicamente por aceitar o genocídio indígena e a escravidão, por entender que os períodos ditatoriais não foram “bem assim”? Ou, com o olhar cético de uns que reproduzem a lógica do “isso não é comigo”. Mudar a maneira como falamos sobre os problemas não faz que eles deixem de existir. Então, convido-os a observar a ótica de alguns escritores, aos quais me recuso não reverenciar. João Ubaldo Ribeiro nos deixou na madrugada de sexta-feira, dia 18, mas, o fragmento a seguir fica: “Não mais é, essa repentina não-forma do nada, que uma almazinha nova, inexperiente e inocente como todas as criaturas muito jovens, por isso mesmo sujeita a grande número de percalços, pois a única coisa que sabe é que
deve ir para o Poleiro das Almas, empoleirar-se com as outras e esperar a hora em que terá de encarnar para aprender”. Acabar com as desigualdades começa por construir em nossas crianças a consciência que as pessoas são aquilo que trazem dentro. Os saberes devem sobrepor o possuir. Em outra vertente, será que o que fazemos no papel é realmente universalizar direitos? O questionamento deve sempre estar presente, como nas palavras de Rubem Alves, caladas no sábado, dia 19: “Todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua: toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!” Para tanto, precisamos estar com o sentimento interligado à realidade. Não há como administrar o tempo; então o homem incumbiu-se de inventar uma maneira de contá-lo. Mesmo assim, inútil, porque o tempo não se importa com isso. Como se importaria também? Ele é o tempo. No exato momento em que descrevo diferenças, perdemos também, no dia 23, outro ícone da nossa literatura. Aruano Suassuna, vitimado esta semana por um AVC. Tem muito a contribuir com nosso mote: “… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.” Contudo, entendo ser difícil explicar às futuras gerações, como pode milhares de anos depois que Platão nos deixou ideias de que “democracia é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade indiferentemente a iguais e desiguais”. Ainda não conseguimos entendê-la assim dentro do conceito de cada ponto de vista. A não ser que aceitemos um pouco de poesia.
Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos
ENTREVISTA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
Entrevista Geovanne Honório
presidente da Câmara de Vereadores e candidato a deputado estadual pelo PT.
“Sou firme. Tenho as minhas convicções e as defendo.” Gabriel Sobrinho
O Geovanne da farmácia – do bairro Ipê – ou Geovanne Honório é um dos candidatos do Partido dos Trabalhadores à Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Aos 47 anos, ele está no seu quarto mandato pela Câmara de Vereadores. Está lá desde 2001, onde já foi líder do governo e da oposição. Hoje, preside a Casa do legislativo municipal. Ao lançar a sua primeira candidatura de alcance estadual, ele conversou com este Figueira sobre a sua personalidade, agenda política e, também, sobre parceria com a militância do PT e a dobradinha com deputado federal. Figueira - O PT lhe deve o enfrentamento ao governo Mourão na Câmara e um tanto de atitudes corajosas, mas você é visto também como irascível e autoritário, o que fere a tradição na qual o PT gosta de se incluir, de horizontalismo e democracia aberta. Você é visto como isolado, sem grupo, sem amigos. Isso é apenas uma visão a partir do coletivismo do PT ou é traço de personalidade? Geovanne Honório - Eu sou firme. Tenho as minhas convicções e as defendo. Eu sou daqueles que cobram que o que está escrito precisa ser cumprido. Então, tenho uma postura mais firme com as pessoas, quando percebo que elas estão erradas – e, por vezes, insistem no erro. Quero que elas enxerguem o que eu estou enxergando. É uma postura de mais personalidade mesmo. Eu entendo isso. Por exemplo: estou na gestão desta casa legislativa, onde cobro dos servidores tudo aquilo que preciso cobrar: fazer o seu trabalho com responsabilidade e zelo. Eu, também, procuro fazer o meu trabalho com todo o zelo, vontade, determinação e carinho para que o resultado seja positivo. Então, a minha firmeza, minha franqueza... diria, mesmo, que não sou autoritário. Sou franco. Às vezes, ao ser franca, a pessoa paga um preço muito alto, pois nem todo mundo gosta de ouvir a verdade. Isso é meu, da minha personalidade. Aprendi muito do primeiro mandato até aqui. O nosso objetivo é um só: a busca do bem comum da população. Foi importante, por exemplo, a minha postura firme no trabalho da CPI que investigou o desvio de quase R$ 2 milhões na Prefeitura. Fui firme. Se eu não fosse firme, não teria alcançado bons resultados com aquela CPI. Um resultado fundamental para a cidade, que trouxe à tona a realidade do que aconteceu. Então, quando o momento exigir ou quando for necessário agir com mais firmeza, eu vou ser firme como tenho sido na Câmara de Vereadores. Às vezes, um colega quer sair do regimento interno da casa e eu, como gestor – ou guardião – dos trabalhos do legislativo, tenho que exigir do vereador o seu cumprimento. ‘Isso não pode, não aceitamos, vou cortar o microfone’. São essas atitudes que podem soar antipáticas. Quem está do lado de fora pode não perceber a necessidade desse pulso firme. Sou uma pessoa como todas as outras. Sou um ser humano. Dentro da minha casa, cuido e brinco com os meus filhos. Quem está comigo no dia a dia sabe como sou. Sou firme, cobro, exijo, mas também tenho meus momentos de brincadeira e conversa. Figueira - Como e com quais apoios você tem encarado o desafio de viabilizar-se eleitoralmente para deputado estadual? Geovanne Honório - Estou contando com a militância do meu partido. Uma militância que tem um histórico de luta, que já foi marcada por importantes vitórias e que está à frente do governo da nossa cidade. Foi essa mesma militância que fez com que várias políticas públicas fossem implementadas em Governador Valadares. Nós tivemos grandes avanços com o Fassarella; e tivemos de 2009 pra cá, com a prefeita Elisa, um avanço imensurável na educação, na urbanização de bairros e na construção de casas populares - fundamentais para o combate à desigualdade social em nossa cidade. Nós queremos e vamos contar com essa militância do Partido dos Trabalhadores. Ao longo desses quatro
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Estou preparado para ser deputado estadual. Vou manter a mesma firmeza. Vamos cobrar que o estado olhe para a nossa região e que os investimentos cheguem até aqui. Vou agir com toda essa firmeza, transparência, determinação, conhecimento e experiência que adquiri nos quatro mandatos como vereador.
Geovanne Honório quer pautar seu trabalho na Assembleia Legislativa no desenvolvimento regional
mandatos como vereador construímos, também, uma boa base. Contamos, ainda, com esse apoio para alcançar uma vitória. Figueira - Para se eleger deputado estadual é necessário dobrar com um ou mais candidatos a deputado federal, a fim de buscar votos em outras cidades. Isso já está acertado com alguém? Geovanne Honório - Aqui em Valadares, o Partido dos Trabalhadores definiu duas candidaturas. Eu como deputado estadual e o Leonardo Monteiro como deputado federal. Estamos acertando essa dobradinha. Temos, também, outras candidaturas colocadas: uma pra federal e outra para estadual. Um dos objetivos é alcançar a nossa vitória, mas o principal deles é alcançar a eleição do Fernando Pimentel para o governo de Minas, além da reeleição da presidenta Dilma. Obedecendo à nossa ideologia, temos a intenção de construir uma base de apoio numa composição com outras candidaturas federais alinhadas com o que acreditamos. Então, podemos fazer uma dobradinha com todos os candidatos a deputado federal que tenham a mesma linha de raciocínio, o mesmo pensamento e o mesmo projeto que defendemos. Isso não impede que eu faça uma dobradinha com o deputado Leonardo Monteiro ou com outro deputado que esteja conosco dentro do partido em Valadares. Não vejo nenhum problema nisso. Eu acho que o objetivo do Leonardo Monteiro, do Pedro Zacarias, do Gilson de Souza são os mesmos: a eleição do Fernando Pimentel e da presidenta Dilma. É lógico que todos querem ganhar e nós vamos trabalhar pra isso. Mas, o que ganha mesmo é o projeto no qual acreditamos. Figueira - Quais os principais projetos que você tem em mente para a Assembleia Legislativa? Geovanne Honório - A história da região do Médio Rio Doce mostra um povo rico que empobreceu. A extração da madeira, da mica e outros ciclos, como o do dólar, por exemplo, acabaram não se sustentando, pois não era um desenvolvimento sustentável. Paralelamente a isso, o estado mostrou-se ausente nos investimentos para a região. Entro com a convicção e a firmeza de que nós precisamos de um representante que seja a voz dessa região de maneira ativa e efetiva. Com isso, vamos fazer que o desenvolvimento chegue até a nossa região e, especialmen-
te, a Valadares e aos municípios no nosso entorno. Então, precisamos ter em mente que é essa será a minha primeira ação como deputado estadual. É com esse sentimento de garra e vontade que queremos alcançar o legislativo estadual, defendendo a nossa região e cobrando do Governo do Estado um olhar diferente. A realidade de cada região de Minas Gerais exige tratamentos diferentes. O saldo do Médio Rio Doce tem sido muito negativo. A ausência do Governo do Estado com suas políticas públicas para segurança, saúde, habitação e para a educação é visível. A maior marca do Governo do Estado aqui é a ausência. Então, temos de recuperar este tempo perdido. O estado deve muito e essa dívida só vem crescendo. Eu sempre digo que a maior dívida do estado não é financeira. A maior dívida que o governo estadual tem com a região do Médio Rio Doce é a dívida social. Nós queremos superar este atraso com propostas para que a Assembleia Legislativa ouça a voz do Médio Rio Doce; e eu quero ser essa voz. Figueira - Caso eleito, você terá na Assembleia Legislativa a mesma postura que tem na Câmara de Vereadores ou baixará a guarda em um território desconhecido? Geovanne Honório - Estou preparado para ser deputado estadual. Vou manter a mesma firmeza. Vamos cobrar que o estado olhe para a nossa região e que os investimentos cheguem até aqui. Vou agir com toda essa firmeza, transparência, determinação, conhecimento e experiência que adquiri nos quatro mandatos como vereador. Tudo isso em prol da criação de uma proposta que seja atendida pela Assembleia e pelo Governo do Estado; e que eles possam realizar tudo aquilo que esperamos e acreditamos que precisa ser feito. Tive de aprender muito desde que cheguei ao legislativo valadarense no primeiro mandato. Ou seja, já vou com uma bagagem pronta, preparada. Vou chegar lá com uma bagagem que me dará toda a condição para ser um bom articulador. Quando se exigir uma postura mais maleável, que sejamos maleáveis. Mas quando for necessária uma postura firme, que sejamos firmes, como sempre nos portamos aqui na Câmara de Vereadores. Fui vereador da base do governo Fassarella, quando liderei por três anos consecutivos. Na sequência, fui vereador de oposição e líder por dois anos. Fui, ainda, líder de governo no primeiro mandato da prefeita Elisa e hoje sou presidente da Câmara. Então, nós temos condições de agir na Assembleia Legislativa.
BRAVA GENTE Arquivo Pessoal
Wilson Lambari ao piano. São nestes momentos de inspiração que nascem as mais belas melodias
A música de Wilson Lambari Wílson Lambari nasceu Wílson de Oliveira Junior no dia 26 de agosto de 1952, em Caratinga. Músico talentoso, cantor e compositor, ao chegar em Governador Valadares, logo se integrou ao grupo musical Temucorda. E a estreia foi um batismo de fogo. Lambari apresentou ao grupo suas músicas e logo conquistou a confiança dos outros integrantes, que as incluíram no LP Sangria, gravado em 1979, e lançado nacionalmente pelo selo Copacabana. A música que deu título ao disco, Sangria, foi composta por Lambari. Depois do sucesso inicial, Lambari deixou o Temucorda e foi para o Grupo Estrada, que lançou um compacto simples com duas músicas, que fizeram grande sucesso em Governador Valadares. Os dois trabalhos ampliaram seu horizonte e ele foi para São Paulo, onde trabalhou como backing vocal em shows do cantor Zé Geraldo. Voltou a Governador Valadares e lançou dois discos solos e um com os parceiros Sérgio Seidel e Carlos Guerson, todos independentes. Atualmente, apesar de ter como atividade principal o trabalho em uma empresa de projetos imobiliários, Lambari continua compondo suas músicas. Inscreveu suas composições em um concurso nacional promovido pela Sony Music, que pretende selecionar novos talentos da MPB. Neste concurso, suas composições foram feitas em parceria com o amigo Adriano Maia. Quem quiser conferir o trabalho da dupla pode entrar no link: http://youtube/ Il8uKytHo1o e também pode entrar na página do Breakout da Sony: http://www.breakoutbrasil.com/breakoutBrasil2014/entry/Adriano-Maia-e-Wlson-Lambar, escutar as músicas e votar ajudando-os a continuar no concurso.
COTIDIANO
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
UE
D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa
Guerra na Europa e eu aqui na praça dando milho aos pombos O abate de uma aeronave civil, no Leste da Ucrânia, vitimando 298 passageiros inocentes, entre os quais muitas crianças, deixa os líderes europeus e mundiais em estado de choque. A invasão terrestre israelense na Faixa de Gaza já provocou mais de 650 mortos e prova a inoperância e a incapacidade logística e diplomática da Organização das Nações Unidas (ONU). No momento em que escrevo este artigo, estão reunidos em Bruxelas (Bélgica), os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia com o intuito de analisarem os conflitos no Leste da Ucrânia e a carnificina que está a acontecer na Faixa de Gaza (Oriente Médio). Objetivo: repensar a aplicação de novas sanções econômicas à Rússia. Quanto ao conflito na Faixa de Gaza, os líderes da diplomacia europeia vão remeter para as Nações Unidas a resolução de um tratado de paz. Ou seja, os líderes europeus já demonstraram diversas vezes que não estão nada interessados em fazer frente a Israel. Limitam-se a fazer alguns comunicados à imprensa, mas não passa disso. A filosofia da maioria dos políticos europeus resume-se à seguinte postura: “eles que se comam uns aos outros”. A preocupação da União Europeia é a guerra que alastra-se no Leste da Ucrânia entre separatistas pró-russos apoiados por Moscovo e o exército ucraniano. Desta vez, o primeiro-ministro britânico David Cameron fez questão de afirmar publicamente que “chegou o momento de a Europa mostrar os dentes a Vladimir Putin”. Esta postura de Cameron faz-nos recordar Winston Churchill. Londres, Paris e Berlim entre si reclamam mão mais pesada relativamente à Rússia, pelo alegado apoio de Moscovo aos separatistas ucranianos pró-russos presumivelmente responsáveis pela queda do avião da Malaysia
Rebeldes separatistas pró-russos do Leste da Ucrânia
Airlines, no Leste da Ucrânia. Entre os países que consideram que é altura de a União Europeia intensificar a pressão sobre Moscovo encontra-se também a Holanda, o Estado-membro diretamente mais atingido pela queda do avião comercial da Malaysia Airlines, supostamente abatido por forças pró-russas, já que, entre as 298 vítimas mortais, 193 eram de nacionalidade holandesa. A Bélgica, os países nórdicos e mediterrânicos também não vão poupar Moscovo. Os principais responsáveis das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk foram adicionados, esta sexta-feira, pela União Europeia (UE) à lista das personalidades ucranianas pró-russas que vão ser alvo de sanções pela sua implicação no conflito ucraniano. Mas resta saber se na realidade estas sanções vão intimidar os líderes russos e afetar a economia da Rússia. Alexandre Borodai, “primeiro-ministro da República Popular de Donetsk (RPD)”, chefe da região separatista pró-russa no Leste, é a principal personalidade entre os 11 nomes adicionados à lista e divulgados pelo jornal oficial da UE. Mas o mesmo já se demonstrou indiferente às sanções europeias e fez questão de sublinhar que não deixará de lutar pela independência de Donetsk. Além de Alexandre Borodai, constam também da lista o “ministro da Segurança” da RPD, Alexandre Khodakovski, o “vice-primeiro-ministro” Alexandre Aleksandrovich e o “ministro da Informação”, Alexandre Khriakov, que tem sido apresentado como o “responsável das atividades de
Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo
Aeroporto de titio Tancredo Neves, velha raposa da política nacional, deve ter se revirado no caixão ao saber da mais nova do neto, Aécio, candidato tucano à Presidência da República. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo do último domingo informa que o Governo de Minas Gerais gastou R$ 13,9 milhões na construção de um aeroporto em uma fazenda no município de Cláudio, a 150 quilômetros de Belo Horizonte, de propriedade de Múcio Guimarães Tolentino, tio-avô de Aécio. A obra foi realizada no fim do segundo mandato ex-governador e atual senador mineiro. De acordo com a reportagem, a família de Múcio, ex-prefeito de Cláudio, guarda as chaves do portão do aeroporto e autoriza pousos na pista. Um dos filhos de Múcio informa que seu primo, Aécio Neves, usa o aeroporto sempre que visita a cidade, onde está seu refúgio predileto, a Fazenda Malta. De acordo com a reportagem, a obra foi executada pelo Departamento de Obras Públicas do Estado e integrou um programa lançado pelo ex-governador para aumentar o número de aeroportos de pequeno e médio porte no Estado. O texto informa ainda que o Governo do Estado desapropriou a área de Múcio Tolentino antes da licitação do aeroporto por R$ 1 milhão, valor contestado pelo proprietário na Justiça atualmente. Prefeitos do Grande ABC com Dilma O jornal ABCD Maior informa que os prefeitos das cidades do Grande ABC paulista devem apoiar a reeleição da presidente Dilma. Dos sete chefes do poder executivo municipal da região, seis deles já declararam o apoio. São eles os petistas Carlos Grana, de Santo André, Luiz Marinho, de São Bernardo do Campo e Donisete Braga, de Mauá; Os peemedebistas Saulo Benevides, de Ribeirão Pires e Paulo Pinheiro, de São Caetano do Sul; e o tucano Gabriel Maranhão, de Rio Grande da Serra. O verde Lauro Michels, prefeito de Diadema, declarou apoio à presidenta no início do ano depois de receber R$ 200 milhões do Governo Federal, mas sofre pressão interna para apoiar o candidato do PV à Presidência.
Futsal
Meninas disputam final do Campeonato do interior Neste fim de semana, a equipe adulta de futsal feminino Prefeitura/Univale/Filadélfia disputará a final do Campeonato do Interior. A disputa será realizada no Ginásio do Clube Filadélfia, que fica na Rua Israel Pinheiro, 1316, bairro São Pedro. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes, Lazer e Juventude (SMCEL). Na sexta (25), a partir das 20h30, a equipe valadarense enfrenta o Gouveia. No sábado (26), a partir das 16h30, as meninas voltam à quadra para encarar o time perdedor do primeiro jogo. No domingo (27), às 10h30, o time de Valadares jogará contra o vencedor do primeiro jogo. A entrada é gratuita.
Caixa Belas Artes No sábado passado, o público paulista recebeu de volta um dos principais cinemas de rua da cidade: o Belas Artes, fechado em 2011 após um desentendimento entre o proprietário do prédio e o administrador quanto ao reajuste do valor do aluguel. Depois de uma longa batalha, na qual o antigo responsável contou com o apoio da sociedade civil e do prefeito paulistano Fernando Haddad, o local foi reaberto depois de passar por uma reforma completa. Com o apoio da Caixa Econômica Federal, o agora Caixa Belas Artes resgatará a tradição de um dos principais espaços de exibição de filmes de arte e alternativos da cidade.
Brasil campeão do Mundo Para encerrar a coluna desta semana trago uma notícia que, infelizmente, foi pouco veiculada pela grande mídia: o Brasil foi Campeão do Mundo. Não no futebol, mas na redução da mortalidade infantil entre os países que participaram da Copa das Copas. Segundo o site Diário do Centro do Mundo, no início de julho a Organização Mundial da Saúde (OMS), órgão ligado à ONU, divulgou documento intitulado ‘Mortalidade infantil: qual é o placar?’, que englobou os 32 países que disputaram o torneio de futebol. O documento mostra um significativo progresso na diminuição dos casos de morte de recém-nascidos e de crianças com até cinco anos de idade. E, no Brasil, a redução chegou a 77%, o que garantiu o primeiro lugar entre os países que avançaram nessa questão desde 1990, ano em que a Copa do Mundo foi realizada na Itália. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.
propaganda pró-separatista” em Donetsk. A UE decidiu também aplicar sanções ao “presidente do Conselho Supremo da República Popular de Lugansk”, Alexei Kariakine, e aos “ministros” do Interior e da Defesa daquela cidade do Este da Ucrânia. O Governo canadense decidiu aplicar uma nova série de sanções econômicas e interdições de viajar a 14 responsáveis ucranianos pró-russos, indicou um comunicado do primeiro-ministro, Stephen Harper. “A ocupação ilegal pela Rússia da península da Crimeia, na Ucrânia, e a sua atividade militar provocatória continuam a preocupar seriamente o Canadá e a comunidade internacional”, indicou Stephen Harper. E, enquanto os principais líderes europeus e mundiais andam entretidos com reuniões, a Faixa de Gaza vai ficando em fanicos e já é na realidade a “Faixa da Morte” para centenas de crianças e civis inocentes. No Leste Europeu, os líderes pró-russos e soldados ucranianos entraram num conflito bélico assustador que já é considerado por alguns especialistas como uma guerra feia entre a Rússia e o Ocidente. Ou seja, depois da guerra étnica na ex-Jugoslávia, a Europa vê-se, de novo, perante um conflito sem fim à vista. Enquanto isso, as agências de notícias mundiais informam que o comboio frigorífico que transporta os corpos dos passageiros do voo MH17, abatido no Leste da Ucrânia por um míssil de fabrico russo, já chegou à cidade de Kharkiv, cidade controlada pelo governo de Kiev. Os corpos das vítimas devem ser entregues a uma delegação holandesa que os transportará de avião para Amesterdam, onde as suas identidades vão ser verificadas, antes de serem entregues às famílias, de todas as nacionalidades. Segundo um líder rebelde pró-russo, 282 corpos, dos 298 passageiros que seguiam a bordo do avião da Malaysia Airlines, foram encontrados, bem como partes de outros 16. O Boeing 777, que fazia a ligação entre Amesterdam e Kuala Lumpur, caiu na quinta-feira (dia 17 de julho) no Leste da Ucrânia, tendo sido abatido por um míssil disparado, segundo informações dos Estados Unidos, de uma zona controlada “pelos rebeldes apoiados pela Rússia”. A humanidade pós-moderna parece ter entrado numa espiral de violência sem precedentes. Ficamos com a sensação que o Homem não se sente bem vivendo em paz. E como cantava o moço de Valadares, Zé Ramalho, “tudo isto acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”. Impotente, mas atento ao pulsar do mundo. Esperançado que um dia a humanidade viva realmente em paz.
José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação
Vitória a Minas Vinicius Quintino / De Vitória
Alea jacta est No último dia 5, começou oficialmente a campanha eleitoral 2014. Segundo estudo inovador desenvolvido pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES espera-se uma das mais agressivas batalhas já vistas na história da Internet brasileira. Pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da UFES (Labic) desenvolveram um sistema capaz de mapear informações publicadas sites, blogs e redes sociais. O projeto, que une profissionais da Comunicação e Tecnologia, tem como objetivo representar graficamente as conexões entre os internautas, criando uma espécie de cartografia virtual. Segundo o coordenador do Labic, Fabio Malini, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) já utilizou tecnologia similar à da UFES para investigar ameaças contra o então presidente Lula e utiliza agora com a presidente Dilma. Para se ter ideia, somente em dois dias de coleta, foram encontradas mais de 48.481 conexões envolvendo mensagens ostensivas à presidente. O perfil da campanha Anti-Dilma revela que esses ataques estão mais relacionados ao Partido dos Trabalhadores (PT) do que à sua gestão propriamente dita. Levando-se em consideração que esse fato se repete nos Estados e nos Municípios, é possível concluir que essas mensagens apareceriam independentemente do nome escolhido pelo PT para disputar as eleições. Os principais personagens dessa vertente são @robertofreire, @faxinanopoder, @joapaulom, @blogdonoblat, @ mirandasa_, @blogolhonamira, @lidpsdbsenado, @rede45. Por outro lado, a rede Pró-Dilma assume dimensão menor do que a de seus opositores. É um grupo que pretende construir pontos de vista mais defensivos do que contra-atacar (não obstante existir número considerável de combatentes). Os principais perfis que aparecem ligados a essa corrente são: @ zedeabreu, @stanleyburburin, @ptnacional, @blogdilmabr, @emirsader, @rogeriocorrea. Analistas apontam que as redes sociais terão um peso muito grande na campanha deste ano. Porém, ao que tudo indica, o eleitor brasileiro está mais interessado em compartilhar mensagens de ódio e boataria, do que em discutir propostas políticas. É assustador o número de comentários do tipo: “Aécio Neves é viciado em cocaína”; “Dilma Rousseff já foi condenada nos EUA por sequestro”; e “Eduardo Campos vai privatizar o Banco do Brasil”. A exposição a informações dessa natureza reduz a Internet a um mecanismo de manobra eleitoral que acaba sendo nociva ao eleitor. A sensação é de que se lê de tudo na Internet, mas não se tem certeza de nada. Os candidatos, ao passo que tentam se blindar – criando centrais de combate à boataria – continuam se beneficiando com a divulgação de mentiras contra seu oponente. É uma verdadeira ciranda irracional de ataques e defesas. No fim, o que realmente importa para eles é ganhar as eleições a qualquer custo. A sorte está lançada e que sobreviva o mais forte. Vinícius Quintino de Oliveira é pesquisador em Administração Pública e Servidor Público Federal.
COTIDIANO 11
FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
Arquivo Pessoal dos palhaços
Aquele abraço!
Janaína de Castro Alves / Do Rio de Janeiro
Democracia, cadê você?
Na sequência de fotos, Thiago Vinícius, Fofoquinha e Edy Malabares. Três nomes que deixaram e deixam um sorriso no coração da cidade
Valsa dos Clowns Para que o coração da cidade nunca amadureça Rosi Santiago
“Abra o coração Do palhaço da canção Eis que salta outro farrapo humano E morre na coxia Dentro do seu coração de pano Um palhaço alegre se anuncia.” (Chico Buarque/Edu Lobo) Um menino pobre que viveu nas ruas e conheceu de perto as desigualdades de nossa sociedade. Sofreu tanto com isso que um dia uma lágrima desceu pelo seu rosto. Mais uma de tantas, mas dessa vez ele fez diferente. Não a enxugou como das outras vezes. Pintou-a de branco e expandiu esta pintura por toda a face. Na boca, tinta vermelha e no nariz uma bola. E a lágrima se transformou em gargalhadas, muitas gargalhadas. Foi assim que nasceu o Palhaço Fofoquinha, o palhaço educador. Nasceu de dentro de um artista chamado Silvestre Pereira de Oliveira, capixaba, que fez de Governador Valadares sua morada e seu santuário de alegria. Brincalhão, sonhador, preocupado com a vulnerabilidade social dos jovens e crianças, levou amor em forma de risadas a muitas escolas públicas, hospitais e associações da cidade e região. Criava seus próprios números, reinventava os tradicionais, compunha músicas e passava sua mensagem a todos que o encontravam. Um dia, se apresentando em uma escola da cidade, foi visto e admirado por um menino em especial. O “Thiago doidão”. Era assim que as outras crianças o chamavam, pois estava sempre com uma aventura diferente. Gostava de pintar a cara e sair na rua como uma figura misteriosa, inventava brincadeiras, fazia danças malucas e cantava. Do artista Thiago Vinícius Lopes de Oliveira nasceu o Palhaço Graveto. Movido pela inquietude que sentia sobre a realidade cotidiana das relações sociais e superficiais do dia a dia, usou sua arte como forma de desconstruir, reinventar, de ser um provocador do riso. Começou como mímico de rua e aprofun-
dou-se no tema participando de vários cursos livres e pesquisas. Thiago acredita na urgência da arte ocupando todos os territórios. “Uma arte cidadã que intervenha nas questões da nossa cidade, de nosso tempo.” Quando mergulhou neste mundo estava acompanhado por Wesley Cipriano que até então não imaginava ser palhaço, mas se descobriu em uma oficina em 2005 e hoje é o Edy Malabares. Atualmente está com um projeto chamado “Edy Malabares - De Valadares pelas ruas do Brasil”, com o objetivo de levar a solidariedade em forma de abraços, sorrisos e amor ao próximo, por onde passa contribui com grupos artísticos de igrejas locais, ministrando cursos de artes circenses e intervenções urbanas. O projeto começou em janeiro deste ano no Estado do Espírito Santo e se estendeu para outras regiões do país. Hoje, Edy Malabares está em Campina Grande, proporcionando momentos de diversão e alegria aos paraibanos. “Ser artista de rua no Brasil não é fácil, nossa função é tornar o fluxo da cidade, tão corrido, um lugar mais humano e levar um pouco de bom humor aos cidadãos. E também vejo a função de democratizar a arte levando-a a todas as pessoas”, conta Edy. Fofoquinha, Graveto e Edy Malabares já dividiram o picadeiro uma vez. “Foi lindo!” - descreve Thiago. Hoje, já não é mais possível ver os três saltitando juntos por aí. Silvestre, o Palhaço Fofoquinha, faleceu em 2013. Tinha problemas cardíacos. “Fofoquinha tinha um coração enorme. Coisa de palhaço grande! E olha a ironia, faleceu dormindo. Foi encontrado com um semblante sereno, problema de coração!”, conta Thiago. Três palhaços, três artistas, que de maneira lúdica enriquecem a cultura da nossa cidade. Fofoquinha não está mais entre nós, mas toda vez que Graveto e Edy Malabares nos arrancam uma risada o palhaço se eterniza. Edy vai de canto a canto do país levando o nome de Governador Valadares, enquanto Thiago permanece aqui, cuidando para que o coração da cidade nunca se endureça. Rosimeire Santiago Gonçalves é ativista cultural e estudante de Pedagogia.
Recado Capital Edileide Bausen / De Belo Horizonte
As flores são um sinal Desde a minha chegada à capital mineira, diariamente sou surpreendida pelas singularidades que vão além do Belo Horizonte. E - entre as tantas - quero compartilhar com vocês uma que traz beleza e cor ao nosso cotidiano. Por aqui, as férias de julho são anunciadas pelo florescer dos Ipês. Sim, eles são o sinal de que a pausa escolar está chegando, de que o trânsito ficará mais ameno e de que alguns turistas visitarão a cidade. Como este tem sido um ano atípico, a beleza dos Ipês surge na retomada das atividades escolares e porque não dizer, no retorno ao trabalho contínuo que, há pouco, estava pequeno diante da grandiosidade da Copa do Mundo. A Praça da Liberdade se transforma num imenso jardim. A Avenida Brasil, também na região Centro-Sul – por onde vou e volto diariamente – deixa de ser somente uma avenida da capital e vira um corredor de flores. Tudo isso, graças ao Jardim Botânico de Belo Horizonte que, do total de 9 mil mudas produzidas durante o ano, cerca de 2,2 mil são ipês roxo, rosa, amarelo e branco. E, apesar de todo esse quê a mais durar apenas 15 dias, eles são suficientes ficar em nossa memória até o próximo sinal. Aliás, esse tempo ainda pode ser reduzido pela ação das maritacas que num gesto de euforia, quase infantil, cortam o caule das flores e transformam o chão em verdadeiros tapetes coloridos. O sinal já chegou. Inaugurando algo novo neste ano. Só nos resta curtir a paisagem dominada pelos buquês de ipês-roxo-bola. Eis as épocas do ano em que cada tipo de ipê floresce: - Ipê-amarelo da mata (Handroanthus serratifolius): agosto a novembro; - Ipê-branco (Handroanthus roseo-albus): julho e setembro;
- Ipê-roxo-de-bola (Handroanthus impetiginosus): julho e agosto; - Ipê-roxo (Handroanthus avellanedae): agosto e setembro; - Ipê-roxo-sete-folhas (Handroanthus heptaphyllus): junho a setembro; - Ipê-tabaco do cerrado (Handroantus chrysotrichus): julho e agosto. Flor nacional - Desde 1961, quando o então presidente Jânio Quadros declarou o pau-brasil a Árvore Nacional, o ipê-amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, também foi declarado a flor nacional e se tornou símbolo do país. Os ipês pertencem à família das bignoniáceas, da qual faz parte o jacarandá. São um grupo de cerca de 10 espécies de árvores com características semelhantes de flores brancas, amarelas, rosas, roxas ou lilás. Sua madeira foi muito usada na construção de telhados de igrejas dos séculos 17 e 18. Nas matas, as árvores chegam a 30 metros de altura; nas cidades, de 8 a 10 metros, ideais para o paisagismo. O ipê-amarelo foi declarado árvore de preservação permanente e imune de corte em Minas Gerais pela Lei Estadual nº 9.743, de 1988. Bem perto dos Ipês - Além dos belos ipês da Praça da Liberdade, a suntuosidade da prata italiana e o esplendor do ouro brasileiro se encontram na exposição Barroco Itália Brasil – Prata e Ouro na Casa Fiat de Cultura. A mostra é exibida até o dia 7 de setembro, de terça a sexta de 10h às 21h e aos sábados, domingos e feriados de 14h às 21h. A exposição reúne 40 esculturas, sendo 20 em prata, provenientes de importantes museus e coleções da Itália, que apresenta ao público brasileiro a face luminosa da escultura barroca italiana do século XVII. E mais 20 obras policromadas de grandes artistas do Barroco mineiro e brasileiro, que traduzem a riqueza histórica e artística do período colonial. Saiba mais em: http://www.casafiat.com.br/?p=109 Edileide Bausen é jornalista e publicitária, mestre em Administração e professora universitária.
Nos últimos meses, o Brasil assiste ao maior processo de criminalização dos movimentos sociais vistos desde a redemocratização do país, em 1988. Diversos ativistas foram presos em diversas capitais do país por fazerem parte de manifestações populares. Esse processo de criminalização põe em risco o Estado Democrático de Direito e os princípios fundamentais da Democracia. Em Junho de 2013, o país presenciou um momento político histórico, em que milhares de pessoas foram às ruas protestar por direitos. O levante inicial, causado pelo aumento das passagens de ônibus nas principais capitais do país, teve a adesão de diversas pautas oriundas dos movimentos sociais, tais como melhorias nas questões de habitação, saúde, educação, financiamento público de campanha, desmilitarização da polícia militar, fim da criminalização da pobreza e do genocídio da juventude negra por agentes do Estado, democratização dos meios de comunicação. A resposta do Estado foi a criminalização do direito de organização política e popular. E, para isso, conta com o apoio da grande mídia. Todas as manifestações populares foram violentamente reprimidas pela polícia usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e por vezes armas de fogo. À mídia coube a construção da figura do “vândalo” como inimigo público do Brasil. Os ativistas presos na última semana no Rio de Janeiro são pessoas idôneas, e contra eles não há nenhuma evidência clara de qualquer crime. A Polícia Civil entregou a denúncia ao Ministério Público, que leu o inquérito de duas mil páginas em duas horas e decretou a prisão preventiva de 23 ativistas. Eles foram acusados de organização criminosa por um suposto planejamento de crimes, que não ocorreram. Muitos desses ativistas não se conhecem, e não há provas de que tenham de fato cometido alguma ação criminosa, além de escutas telefônicas vagas. Nessas escutas, não há nenhum indício de que haveria compra de qualquer tipo de material explosivo ou de porte proibido por lei. Numa das escutas, uma ativista sugere para outra pessoa que se compre “líquido”, sem determinar onde e quando deve ser usado. Para manifestações populares, é comum o uso de gasolina para geradores elétricos. Em outra escuta, uma ativista comenta com o pai que deve se afastar de cidades em que existam manifestações populares. A ativista seguiu orientações de seu advogado e o delegado da Delegacia de Repressão a Crimes de Internet, que cuida do caso, estava ciente do local em que ela se encontrava - foi presa em Porto Alegre. Apesar de o processo correr em sigilo de justiça, a Rede Globo teve acesso ao inquérito, enquanto os advogados de defesa foram impedidos.
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A resposta do Estado foi a criminalização do direito de organização política e popular. E, para isso, conta com o apoio da grande mídia. Todas as manifestações populares foram violentamente reprimidas pela polícia usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e por vezes armas de fogo. À mídia coube a construção da figura do “vândalo” como inimigo público do Brasil.
Entre os presos estão professores universitários, professores da rede pública de educação, professores do Grupo de Educação Popular - que ministra aulas gratuitas para alfabetização de adultos e em pré-vestibular - produtores culturais, artistas plásticos e uma advogada. São ativistas que dedicam a vida a mudar a sociedade, seja pela educação, pela cultura ou pela assistência jurídica popular. A suposta líder dos ativistas, que atende pelo nome de Sininho, é uma jovem produtora cultural, sonhadora e pró-ativa, com perfil extremamente similar a esta que vos escreve. Essas prisões são uma anomalia jurídica e política para o país, e remetem a tempos sombrios de nossa História recente, em que qualquer pessoa que erguesse sua voz contra o Estado pagava com a vida. Nossa jovem democracia nunca havia presenciado tantas prisões fundadas apenas na repressão do direito constitucional de livre organização e manifestação de pensamento. Manifestações de repúdio surgiram de diversas instituições respeitadas, como a UFRJ, UERJ, Uni-Rio, UFF, Abrasco, Associação de Juízes pela Democracia, entre outras. Formou-se no Rio de Janeiro um Comitê Popular contra o Estado de Exceção, do qual são signatárias 115 entidades, entre elas ONGs, partidos políticos, federações e organizações da sociedade civil de diversas áreas de atuação, além de aproximadamente 300 pessoas com atuação política não organizada. É absurdo perceber que a democracia está escorregando pelas nossas mãos, deixando um rastro lastimável de retrocesso. Essas prisões são políticas, frutos de perseguição aos que questionam o status quo e não estão satisfeitos com a ordem social vigente. O progresso, em seu significado mais puro, advém do equilíbrio de forças sociais, e as vozes populares fazem parte da diversidade de forças desse país. Não nos esqueçamos da máxima contida em nossa constituição: todo poder emana do povo. Janaína de Castro Alves é midiativista, integrante do Coletivo Rio na Rua.
ESPORTES
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FIGUEIRA - Fim de semana de 25 a 27 de julho de 2014
QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO “Agora a coroa é de espinhos. As feridas, profundas, vão custar a cicatrizar. A mudança se quer necessária. E a renovação, profunda”. Parece uma sentença sobre as certezas que se fixaram a respeito do futebol brasileiro, após os sete a um escancararem os problemas que todos conhecíamos e empurrávamos para debaixo do tapete. Mas, não. Extraído do jornal espanhol El Público, o trecho foi citado por Germán Labrador Méndez no ensaio “O rei e o esporte-rei”. Publicado na edição da piauí que está nas bancas, o ótimo texto de Germán liga o fim do reinado da seleção espanhola à abdicação do rei Juan Carlos I e trata da necessidade urgente de se encontrar novos rumos – tanto para a seleção quanto para o país. A impressionante foto que ilustra o artigo mostra, no rosto de jovens espanhóis que acompanhavam o jogo numa praça pública, incredulidade semelhante à que acometeu duzentos milhões de pessoas no Brasil – e mais de dois bilhões no mundo –, na tarde de oito de julho. Atordoados, passamos a conviver com a convicção de que tudo em nosso futebol precisa mudar, e exigimos que tudo mude. Só que é impossível querer mudar tudo de uma vez, o que quase sempre gera justamente a não-mudança. Precisamos de algo palpável para começar. Felizmente, desta vez entendemos que não se trata de sacrificar este ou aquele jogador. Há críticas aos laterais, a Hulk, a Fred, aos meio-campistas, mas nenhum deles foi diretamente responsabilizado à moda Barbosa, mesmo porque todos fazem sucesso em seus clubes e sete a um não permitem individualizações. Modernizar a nossa parte tática é urgente, daí a necessidade de se optar por um treinador cujo nome represente um choque à zona de conforto habitada por abéis bragas, tites, luxemburgos. (Não me impressiona a pesquisa feita pelo Datafolha que dá a Tite a preferência. Fosse feita no final de novembro do ano passado, talvez o indicado fosse Jayme de Almeida. Recorro, mais uma vez, a Arthur Muhlemberg: torcedor de futebol tem idade mental de três anos.) Entretanto, além do atraso tático que requer correções imediatas, muito mais há que ser feito a médio prazo. No dia seguinte ao perturbador massacre alemão, Juca Kfouri publicou em seu blog uma carta aberta de Paulo André. No trecho mais significativo, o ex-zagueiro corintiano critica os dirigentes incapazes de formular propostas para o futuro simplesmente porque “não entendem bulhufas do que deve ser feito. Entendem de política, de se manter no poder, de explorar o futebol, de mamar nas tetas da vaca.” Paulo André reproduz o que disse José Maria Marin na primeira reunião com o Bom Senso: “Posso afirmar que não temos nada a aprender com ninguém de fora, principalmente no futebol. Sempre tivemos os melhores do mundo no Brasil. Já vencemos cinco vezes a Copa”.
Os sete a um deixaram claro: está mais do que na hora de ouvir a voz do Bom Senso. Bom Senso F.C.
apontaram a necessidade de dar, imediatamente, os primeiros passos. E uma boa maneira de começar a mudar é dar ouvidos às falas e olhos aos textos do Bom Senso F.C. Eles informam que a maioria dos clubes de futebol do país disputa, em média, 17 jogos por temporada. No outro lado do problema, os times de elite chegam a participar de 85 partidas. As consequências disso são as intransponíveis dificuldades para os pequenos se estruturarem, enquanto os grande sofrem com as lesões causadas pelo excesso de jogos e os torcedores com a visível diminuição do prazer de acompanhar as partidas. O Bom Senso defende um calendário que permita a sustentabilidade dos pequenos e mais qualidade no futebol apresentado pelos grandes. Mais: o Bom Senso prega a adoção do fair play financeiro e alerta que, mesmo com o significativo crescimento da receita dos principais clubes brasileiros, suas dívidas aumentaram 90% nos últimos 5 anos. E, apesar de ser um movimento lançado e liderado pelos jogadores, reconhece que reduzir salários é necessário para a devida adequação às novas regras. Por fim, o Bom Senso lembra que, apesar de ser o único pentacampeão do mundo, de ter presenteado o planeta com o maior jogador de todos os tempos e de tantos outros etcéteras, o futebol Sim, todos nós já ouvimos belas frases como brasileiro ocupa a 18ª posição no ranking de média de público “a seleção é do povo”, “o futebol é um nos estádios. Estamos atrás da Ucrânia, da Austrália e, inclusive, patrimônio do torcedor brasileiro”, mas tudo das segundas divisões da Alemanha e da Inglaterra. é decidido por esses 47 cidadãos, muitos Vale a pena entrar no site do Bom Senso, ver e ouvir o que dos quais os tais 200 milhões que são donos têm a dizer Rogério Ceni, Dida, Juan, Gilberto Silva, Zé Roberto, D’Alessandro, Barcos, Rivellino, Muricy Ramalho, Oswaldo de do patrimônio jamais ouviram falar. Oliveira e Gílson Kleina, além de jogadores menos conhecidos e Seguindo a lógica do raciocínio mariniano: já que perdemos outros desempregados. Mesmo que aquelas ideias não resolvam tudo – até porque, isso não há quem faça –, ali está um bom de sete, agora temos muito a aprender. Cinco dias depois, Paulo André voltou ainda mais afiado, caminho. No exato instante em que eu acabava de escrever esse post, publicando uma seleção com 11 caras que controlam as federaa CBF anunciava Gilmar Rinaldi como o novo coordenador de ções estaduais há décadas – um deles, José Gama Xaud, manda e desmanda na Federação de Roraima há 40 anos. Alguém pode seleções. Um nome distante da credibilidade que seria alcançaperguntar: mas qual a importância da Federação de Roraima da por outros caras anteriormente sugeridos – Leonardo, Raí, para o futebol brasileiro? Deveria ser nenhuma, mas os 11 caras será que Tostão não toparia? A sensação que se tem é de que, citados por Paulo André fazem parte de uma lista de 47 pessoas mais uma vez, convidaram a raposa. Tomara que eu me estrepe, que elegem o presidente da CBF e definem os regulamentos das mas tudo leva a crer que nossas mudanças começaram calçando aquele pé de sandália que Romário mandou para Maradona. competições organizadas pela entidade.
“
Sim, todos nós já ouvimos belas frases como “a seleção é do povo”, “o futebol é um patrimônio do torcedor brasileiro”, mas tudo é decidido por esses 47 cidadãos, muitos dos quais os tais Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na própria defi200 milhões que são donos do patrimônio jamais ouviram falar. nição, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que Os sete a um tiraram o nosso chão, nos deixaram tontos e adotou o seu blog e autoriza a sua contribuição a este Figueira.
Canto do Galo Rosalva Campos Luciano,
na madrugada de 23 para 24 de julho
Aqui tem emoções! Aqui é Galo! E o Mineirão mais uma vez conheceu a verdadeira forma de amar um time, quartafeira, 22h, noite fria e tudo, tudo ficou tomando pelas cores preto e branco. Lagoa da Pampulha, avenidas no entorno, restaurantes, bares, carrinhos de sanduíches num grito uníssono de Galo. No palco central mais de 54.000 apaixonados. Mais uma vez Ronaldinho serve a um amigo, cede a batida do pênalti aos 100 gols do Tardelli e com a categoria dos mestres ele foi e mostrou como se faz. Momento de Glória para ele e para nós que vemos um grande torcedor em tudo que ele faz.Viva o Tardelli! E mais uma das bençãos de Deus,força divina quis que o apito final do juiz tenha sido guardado para o príncipio do dia 24/07...comemoramos um título máximo com outro de grande importância. Libertadores e Recopa estão agora na sala de troféus. Viva as maravilhas conquistadas! Escolher um time para torcer é provavelmente a primeira decisão realmente importante que alguém toma na vida. Não me lembro quando a minha escolha foi feita, mas tenho certeza de ter sido a melhor, a mais acertada, umas das que mais me orgulha. Pouca coisa amo mais que o CLUBE ATLÉTICO MINEIRO. Emoções a toda hora. Me pego algumas vezes pensando neste meu estado de paixão. Não se explica por que o futebol envolve um sentimento que não tem a menor lógica: é um amor puro, incondicional, arrebatador. Não consigo ficar indiferente diante da bandeira do Atlético tremulando, de um simples escudo num adesivo, de uma man-
chete do jornal da segunda-feira. Me fascina essa minha identificação com uma entidade à parte, uma organização que não é nação, não tem ideologia, nem é política. É o amor por um time de futebol e só. Emoções a toda hora. Mas como pode ser algo tão gigantesco? O que me faz deixar para trás casamentos, batizados, aniversários, viagens, enfim, de muitas coisas não participei, “dia de jogo do Galo”. O que me faz organizar minhas horas do final de semana para estar nas arquibancadas, o que me faz desprezar áreas vips para ficar bem pertinho da massa, o que me faz dividir quando necessário banco de ônibus com a Galoucura, que loucura! Emoções a toda hora. Se você é atleticano, sabe do que eu estou falando. Se não é, não adianta tentar explicar por que você nunca vai entender. O Atlético produz uma energia única, que mistura sofrimento e redenção, sucesso, e superação. Hoje foi mais uma noite de Galo, com todos os ingredientes para a massa suspirar, sofrer e chorar. Nosso sangue nas artérias e veias tem listras, tem duas cores, carrega uma paixão, caso contrário não teríamos vida, morreríamos de emoções a toda hora. Galo Campeão da Recopa. Aqui vai a minha homenagem a todos que eternizam seu amor no dia a dia, vestindo orgulhosamente este manto sagrado, a todos que saíram cantando a mais linda das sinfonias: GalôÔÔÔÔÔ!!!!!!!!!!! GalôÔÔÔÔÔ!!!!!!!!!!!!!!!!! !!!!!É Campeão!!!!!!É Campeão! Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.
Toca da Raposa Hadson Santiago
Vencer e jogar bem Saudações celestes, leitores do Figueira! No retorno ao Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro conseguiu dois bons triunfos, vencendo Vitória (3 x 1) e Palmeiras (2 x 1). Além disso, manteve a liderança da competição e abriu 5 pontos de vantagem em relação ao vice-líder. Contra o rubro-negro baiano a equipe celeste apresentou um bom futebol, apesar dos gols terem saído só na etapa derradeira. Já no Pacaembu, diante do Palmeiras, o Cruzeiro atuou de maneira convincente até a metade do primeiro tempo, quando fez os dois gols. Depois disso, os comandados de Marcelo Oliveira tomaram muita pressão e levaram um gol, mas conseguiram segurar o placar e trouxeram a vitória para Minas Gerais. Vencer e jogar bem é o sonho de todo torcedor. Nem sempre dá, principalmente nos dias de hoje, quando a técnica e o futebol-arte foram substituídos pela força física e pela marcação cerrada. O torcedor cruzeirense é assim mesmo, o mais exigente do Brasil, quiçá, do mundo. Faz parte da nossa cultura. Lembrome de um jogo ocorrido em 1987, no Mineirão, entre Cruzeiro e Internacional, partida válida pela Copa União. Eu estava nas arquibancadas do Gigante da Pampulha e vi o Cruzeiro vencer por 3 x 0, com dois gols de Cláudio Adão e um de Heriberto. Cláudio Adão ainda desperdiçou um pênalti, ao bater na bola com muita displicência e sem tomar distância. Foi o suficiente para que a China Azul começasse a pegar no pé do centroavante e o vaiasse, mesmo tendo feito dois gols. Cláudio Adão não gostou das vaias, claro, mas ficou evidente que a torcida cruzei-
rense exigia comprometimento total durante os 90 minutos. Pois, assim continua sendo o nosso torcedor. Fiel, mas extremamente crítico e exigente com aqueles que envergam a camisa estrelada. Há poucos dias, faleceu o ex-árbitro de futebol Armando Marques. Famoso no futebol brasileiro nas décadas de 1960 e 1970 e tendo apitado nas Copas de 1966 e 1974, Armando Marques tirou do Cruzeiro a chance de conquistar o título brasileiro de 1974, ao anular um gol legítimo de Zé Carlos, no Maracanã. O Vasco venceu a decisão por 2 x 1. Desde então, esse senhor passou a ser persona non grata ao Cruzeiro. Ele nunca teve humildade para admitir o erro. Antes da partida Cruzeiro x Vitória, foi concedido um minuto de silêncio em respeito ao seu falecimento, mas a torcida celeste não perdoou e aplicou uma sonora vaia. Se analisarmos com a razão, a vaia foi desrespeitosa. Mas, a emoção falou mais alto e a torcida celeste demonstrou todo o seu ressentimento que já dura 40 anos. Coisas do futebol... E as perdas de 2014 continuam. Agora, partiram os escritores João Ubaldo Ribeiro (“O Sorriso do Lagarto”) e Rubem Alves, além do ator James Garner, famoso por seus filmes de faroeste. Morrer, realmente, não tem graça... Abraços!
Hadson Santiago Farias é cruzeirense e incorrigível saudosista.