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O fim de semana em Governador Valadares será com sol entre nuvens. Não chove. climatempo.com.br
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26o 15o
MÁXIMA
Não Conhecemos Assuntos Proibidos
MÍNIMA
ANO 1 NÚMERO 8
FIM DE SEMANA DE 15 A 18 MAIO DE 2014
FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS
EXEMPLAR: R$ 1,00 Fábio Moura
A maquete digital mostra um dos blocos de salas de aula do Campus da UFJF/Governador Valadares, cuja construção está em ritmo acelerado. Depois de pronto, o campus terá ambientes modernos e confortáveis
UFJF: Um novo tempo para Valadares Campus da UFJF em Valadares sai do papel, e para quem sempre perguntou “uai, tem campus?”, o Figueira responde “tem campus, sim!”
PÁGINAS 6/7
LEIA NESTE FIGUEIRA
Você é a favor da estadualização da Univale? O debate acerca da estadualização da Universidade Vale do Rio Doce, tão necessário ao meio acadêmico e à sociedade valadarense, continua tendo espaço neste Figueira. Na seção Parlatório, o professor e administrador de empresas José Francisco de Lima Graciolli, defende a estadualização, respondendo SIM à pergunta do debate. Já o advogado Arilson Ribeiro, responde NÃO, defendendo o patrimônio comunitário dos valadarenses. PÁGINA 2
UPI de biscoitos da Caiubi tem venda autorizada pela Justiça e vale R$ 35 milhões A Justiça concedeu, na sexta-feira (9), a autorização para o prosseguimento da etapa final de recuperação judicial da Caiubi Indústria de Alimentos Ltda, e deve publicar nos próximos dias no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, o edital para a alienação judicial de uma das unidades de produção industrial (UPI) do grupo, informalmente conhecido como “Massas Periquito”. O valor da UPI de biscoitos, que será vendida, é de R$ 35 milhões. Quem fizer proposta de compra terá de oferecer um valor mínimo de 90% do valor estimado para a venda. PÁGINA 4
Joaquim Nicolau é lembrado mais uma vez pelo Ombudsman PÁGINA 8
Dança Valadares no 3o Dance in Rio
Novo site no ar
Fernanda Gonzales quer fazer bonito no Rio Site do Figueira está
Arquivo Pessoal
PARLATÓRIO
Fernanda Gonzales é bailarina e professora da Escola de Dança Imaculada Conceição. Ela está preparando um grupo de alunas para representar Governador Valadares no 3o Dance in Rio Competição de Dança, no Rio de Janeiro. No ano passado, as alunas de Fernanda Gonzales representaram a cidade de forma brilhante no 2o Dance in Rio e trouxeram 5 troféus. Conheça o trabalho de Fernanda Gonzales na PÁGINA 9
de cara nova e com notícias em tempo real
Este Figueira está com um novo site no ar, com notícias em tempo real, além do conteúdo de cada edição impressa. O leitor também tem espaço de interação, no link “contato” e nos comentários dos textos. No link “vídeos”, poderá assistir ao gol de Amilton, que colocou o Democrata no Módulo I do Campeonato Mineiro. O endereço continua o mesmo: www.figueira.jor.br
Memória da cidade vira entulho e é lançada em bota-fora O primeiro sobrado do distrito de Figueira (atual Governador Valadares) foi descaracterizado recentemente, com a retirada do suntuoso frontão de cartela, que tinha entre os florais do semicírculo, as iniciais de seu proprietário, OSF (Octávio Soares Ferreira), farmacêutico que lutou bravamente pela emancipação de Governador Valadares. Esta joia da nossa arquitetura virou entulho, foi lançada em um bota-fora e revoltou a família Soares. PÁGINA 9
Tim Filho
Fábio Moura
No semicírculo, entre as flores, estavam as iniciais OSF, de Octávio Soares Ferreira, pioneiro da cidade
RIVALIDADE ETERNA
E o Galo virou “Galourenço” A eterna rivalidade entre Cruzeiro e Atlético teve mais um capítulo na noite de quartafeira, quando o San Lorenzo (Galourenço) tirou o Cruzeiro da Taça Libertadores. O atleticano Pedro Zacarias abriu o sorriso, mas a cruzeirense Ana Paula Barbosa disse que não tá nem aí pros atleticanos. PÁG. 12
OPINIÃO
Editorial
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio 2014
Tim Filho
Reportagem do Figueira dá medo
As usinas do conhecimento Esta edição do Figueira tem cheiro de academia. Não, não é aquele cheiro da frase maldosa da Marina Silva na semana passada: “a candidatura do Aécio tem ‘cheiro’ de derrota no segundo turno”. Que coisa, hein? A Marina parece tão meiga. O propósito desta edição é o de puxar o assunto sobre as universidades, o que as universidades podem fazer pela cidade e pela região. A UNIVALE continua em silêncio, mas a cidade está no debate, sem pedir licença, pois trata-se de uma universidade comunitária. O Parlatório traz o Sim e o Não para a discussão da estadualização, se pode ser um mecanismo que ajude a UNIVALE a se tornar viável. Outro deputado estadual, José Bonifácio Mourão, compareceu e se manifestou contrário. A capa e a reportagem central mostram que o Campus da UFJF/ GV está em construção, sim. Dá a dimensão da grandiosidade do que está sendo feito, apresenta o campo de obras para a cidade. Mas, mostra também os problemas dos locais atuais de funcionamento e o debate interno da campanha de eleição para a Reitoria. Indica o volume dos recursos aplicados na construção – 150 milhões de reais e marca prazo para conclusão – fim de 2015, quando as situações que hoje preocupam alunos e professores poderão ser superadas, no campus definitivo. Mostra também o potencial impacto na economia de Valadares, com os mais de 550 professores e técnicos previstos no Campus e os mais de quatro mil estudantes. Tem sido reproduzidas aqui falas do pioneiro Laércio Byrro, na criação da UNIVALE, quando ele declarava que a universidade deveria ser a indústria de Valadares, a reinventar a cidade e mover a economia. Nesta edição, a pretexto do que seria o seu aniversário, há memória também do ex-vereador, prefeito e deputado federal João Domingos Fassarella, um homem da universidade.
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O propósito desta edição é o de puxar o assunto sobre as universidades, o que as universidades podem fazer pela cidade e pela região. A UNIVALE continua em silêncio, mas a cidade está no debate, sem pedir licença, pois trata-se de uma universidade comunitária.
Não ficou de fora a Universidade Aberta do Brasil – UAB, que teve a sua construção viabilizada por emenda parlamentar da exdeputada estadual Elisa Costa, atual prefeita. A UAB oferece hoje cursos de graduação, sendo oito deles de licenciatura – formação de professores. Conta com mais de dois mil alunos, nos cursos oferecidos em Valadares pela UFMG, UFOP, UFLA e UFJF: licenciaturas em Pedagogia, Química, Física, Matemática, Biologia, Filosofia, Geografia, além da Administração Pública. A educação universitária é usina também de formação de lideranças para o país e ambientes de inovação tanto tecnológica quanto dos costumes. Na entrevista da semana, Cristiano Cabral, jovem valadarense no governo da presidenta Dilma, em Brasília, discorre sobre a real possibilidade do Hospital Municipal se tornar federal, como hospital universitário e fala do papel da universidade no desenvolvimento regional. Com ele, demos uma trégua na apresentação dos pré-candidatos ao governo de Minas, que será retomado na próxima edição com o pré-candidato do PSDB, Pimenta da Veiga. Boa leitura, bom debate.
Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3277.9491 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo
Conselho Editorial Áurea Nardely de Magalhães Borges Edvaldo Soares dos Santos Jaider Batista da Silva Lúcia Alves Fraga Luiz Eduardo Simões de Souza Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Silvia Perim Sueli Siqueira Maria Terezinha Bretas Vilarino Artigos assinados não refletem a opinião do jornal
Parlatório
A estadualização pode solucionar a crise na Univale?
Razões para estadualizar SIM
José Francisco Graciolli
Conheço a UNIVALE por dentro, onde atuei por mais de duas décadas, inicialmente como funcionário administrativo, ainda quando se iniciava a construção do atual Campus Antônio Rodrigues Coelho e, num segundo momento, como professor, coordenador de curso, presidente de comissões de trabalho inclusive dos exames vestibulares, diretor de faculdade e de centro. Em todos os tempos, sempre esbarramos com o problema financeiro que induz o sucateamento dos laboratórios e demais ambientes acadêmicos, impede a expansão do ensino, da pesquisa e da extensão, pilares que sustentam uma universidade. A própria manutenção predial fica prejudicada e enormes ônus trabalhistas pesam sobre a instituição. As prioridades acadêmicas não podem ser atendidas e a autonomia universitária sofre, ante uma gestão financeira e patrimonial centralizada, que regimental e estatutariamente reside em sua entidade mantenedora, a Fundação Percival Farqhuar. São constantes os atrasos nos pagamentos a pessoal administrativo, corpo docente e fornecedores, acarretados pela deficitária relação entre as receitas auferidas e as obrigações a pagar, em cujo mérito não entrarei. Por que estadualizar? Não apenas pela gratuidade do ensino (o que já seria indicador expressivo), mas também pela ampliação das pesquisas e artigos publicados que são minimamente realizados na atualidade, com reflexo na academia; a qualificação do corpo docente com maior titulação, não somente para atender aos requisitos mínimos exigidos pelo MEC/ INEP, mas buscando a excelência. Para a economia do município, os recursos até então despendidos pelas famílias no pagamento das mensalidades (que não são de valor baixo) seriam canalizados para o comércio e outros investimentos produtivos, um verdadeiro boom econômico. Para o corpo docente e administrativo, talvez gere apreensão, pois certamente haverá concurso, que deve ser entendido como um processo natural e democrático, aliado ao pensamento altruísta como educadores, e antevendo que os que permanecerem terão os salários em dia, além de um plano de carreira que hoje inexiste, e os que saírem terão preservados seus direitos trabalhistas. Além disso, a estadualização trará a reboque a necessidade de mais contratações para suprir a expansão, seja pelo aumento do número de vagas, seja pela oferta de novos cursos. Será decisiva a atuação dos nossos representantes, eleitos com os nossos votos, para buscarem o governo estadual que deverá encampar os pesados encargos pretéritos, atuais e futuros, alicerçados nas normas legais e jurídicas, pelas quais deverá ser avaliada a associação à Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, que tem sido ponto de partida para outras situações similares no Estado, para se chegar à estadualização. O projeto de lei que autoriza o Governo de Minas Gerais a absorver as instituições que compõem a UEMG foi aprovado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais no ano passado. Coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, há um Grupo Executivo responsável por elaborar projeto, para incorporar seis fundações que hoje são associadas à UEMG: Fundação FAFILE, de Carangola; Fundação Educacional de Divinópolis (FUNEDI); Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha (FEVALE), de Diamantina; Fundação Cultural Campanha da Princesa (FCCP), de Campanha; Fundação Educacional de Ituiutaba (FEIT); e Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP), No dia 3 de abril deste ano, o ex-governador Antônio Anastasia assinou decreto anunciando o cronograma de incorporação de três dessas fundações de ensino superior: Ituiutaba, em 3 de junho; Divinópolis, em 3 de setembro e Passos, em 3 de novembro, o que permite inferir que a educação superior virou, definitivamente, política de governo e não podemos ficar de fora. A UNIVALE já possui estruturação física (carecendo de reforma de ambientes desgastados e de modernização tecnológica), apta à expansão que virá com a estadualização, justificada pela oferta de novos cursos e mesmo a ampliação de vagas. Os ambientes acadêmicos da UNIVALE, por convênio de parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), abrigam cursos desta, que está construindo seu próprio campus e para onde se transferirá, chegou para consolidar a cidade como pólo educacional, graças à atuação política municipal/federal. Essa ocupação temporária ratifica a existência de espaço construído com relativa ociosidade na UNIVALE, apto a receber a expansão que acompanhará a estadualização. Não se pode ficar na zona de conforto, pensando que tudo vai bem, que há garantia de
emprego, mantendo a situação que se arrasta e que aparentemente não será solucionada, assistindo a desativação de vários cursos, o que implica redução de pessoal, e convivendo com a incerteza e com o expressivo volume de ações trabalhistas. A estadualização depende da vontade dos dirigentes, seja da UNIVALE, onde pontifica a ação decisiva de mobilização dos alunos, direção, professores e pessoal administrativo, agentes que fazem acontecer a Universidade; seja, especialmente da mantenedora, com o pensamento que dirige uma universidade de cunho comunitário e como tal deve ser efetivamente conduzida, permitindo a interveniência de agentes públicos, com espaço e ambiente para participarem efetivamente do processo, que não é rápido, mas não sendo iniciado, nunca acontecerá. Aí, há de haver união e sinergia positiva entre os dirigentes da instituição de ensino, dispostos a pensarem no futuro na UNIVALE, irmanados com o poder público e todos os agentes que compõem o cenário político, sem bandeira político-partidária, despidos de vaidades pessoais, sem ambição de granjear simpatia ou se intitularem como os donos da empreitada. O ideal dos pioneiros de visão futurista, que gestaram a atual UNIVALE, um projeto grande e audacioso que trouxe profunda mudança no panorama socioeconômico regional, não pode ser posto em risco e a luz no fim do túnel passa pela estadualização. José Francisco de Lima Graciolli é administrador e advogado, consultor, professor, diretor da Regional Leste do Sindicato dos Administradores no Estado de Minas Gerais – SAEMG
Um ato contra o patrimônio comunitário NÃO
Arilson Ribeiro
A UNIVALE, para a grande maioria dos valadarenses, já foi, em época remota, motivo de orgulho, em virtude de sua projeção nacional e formação profissional de filhos ilustres em diversas áreas do conhecimento humano. Hoje, todavia, em virtude dos problemas que a assolam no campo das finanças, bandeiras têm sido levantadas em favor da estadualização da instituição. O debate comunitário encontra-se acalorado no tocante à possibilidade x viabilidade de se estadualizar. No campo da possibilidade jurídica, vislumbra-se o lastro legal contido nos artigos 81, 82 e §1º do artigo 129 das disposições transitórias da Constituição Mineira de 1.989, bem como na Lei Estadual nº 20.807 de 2013 que dispõe sobre a absorção das fundações estaduais de ensino superior associadas à Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. Juridicamente, tem-se que a pedra de toque para a estadualização da UNIVALE inicia-se prioritariamente com a associação da instituição à UEMG, através do preenchimento de dois requisitos fundamentais: a) manifestação expressa do órgão deliberativo da instituição (no caso em análise a Fundação Percival Farqhuar); b) decreto do Governador. No campo da viabilidade, entende-se que transmutar o status jurídico de privado para público apenas deslocaria responsabilidades, dívidas e muitos outros problemas administrativos. A UNIVALE é patrimônio da comunidade valadarense, sendo também, e por consequencia, responsabilidade da comunidade zelar e gerir a consecução de seus fins. A ineficiência da gestão pública é um fator prejudicial à estadualização, considerando que os entraves burocráticos, financeiros e a pouca probidade dos gestores prejudicariam ainda mais a expansão do ensino em nossa cidade. Mostra-se evidente que a proposição de estadualizar a Univale é medida facilitadora, mas de pouca razoabilidade visto transferir ao governo do estado a responsabilidade administrativa e financeira de instituição privada. A hipotética transferência geraria um passivo financeiro de alto custo que inarredavelmente cairia no bolso do povo mineiro. Exemplificativamente, para absorver e manter as fundações de Passos e de Divinópolis, o Governo do Estado gastará a cifra aproximada de R$ 100 milhões por ano. Outro grande problema é a situação do corpo docente das instituições privadas, o que ficaria indefinido, posto que a investidura em cargo ou emprego público depende previamente de aprovação em concurso público, ou seja, ocorreriam demissões em massa. Seguindo a linha de raciocínio do adágio popular que “roupa suja se lava em casa”, entende-se que é tempo de retomada, a comunidade precisa unir forças e conhecimento para auxiliar a fundação mantenedora a achar saídas menos dolorosas para colocar novamente a nossa UNIVALE nos trilhos do sucesso educacional. Arilson Ribeiro é advogado e consultor jurídico
CIDADANIA & POLÍTICA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio de 2014
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Da Redação
Sacudindo a
CPI de encomenda
Figueira
Primeiramente, fizeram circular que o vereador e précandidato a deputado estadual Paulinho Costa, do PDT, patrocinava uma CPI para apurar “irregularidades” na Liga de Futebol Amador, no uso de recursos públicos. A boataria vendida como verdade levou à rota de colisão com o vereador Chiquinho, seu colega de bairro, no plenário da Câmara, por estar com a informação falsa. Elucidada a situação, quem colheu assinaturas dos colegas para a CPI foi o vereador Milvinho e, mais injustificável, a denúncia que dá origem à CPI já estava no Ministério Público, para onde ela seria dirigida após apurações na CPI. Ou seja, a CPI não passava de manobra diversionista para tirar o Paulinho do foco na campanha. Tem gente com muito medo – não da CPI, mas das eleições.
A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino
“Todos somos macacos” pode
ser ofensivo para os macacos – João Pereira Coutinho, escritor português, sobre a campanha na internet após o episódio de racismo contra o jogador Daniel Alves.
As empresas XPEC e MRT são de Valadares e têm os contratos do SAAE e da Secretaria de Obras para tapar os buracos nas ruas da cidade. A XPEC recupera os que exigem asfalto e a MRT, unistein e pedra. Os números são expressivos: em média, 120 buracos são tapados na cidade a cada dia, cobrindo uma área de 240 metros quadrados. Ruas como a Ana Néri e a Israel Pinheiro na altura do Colégio Ibituruna não “pegam” mais reparação. O subleito de várias ruas está tão gasto que elas terão de ser refeitas. O que explica a reparação dos buracos durar tão pouco. As empresas indicam que a frota de veículos em Valadares, que era de menos de 70 mil em 2009, agora já ultrapassa 122 mil, circulando nas mesmas ruas, o que aumenta o desgaste.
Pó de Mico Pra não ser visto? Enquanto o filme Homem-Aranha passa 5 vezes ao dia, por três semanas consecutivas, o solicitado filme nacional “Hoje eu Quero voltar Sozinho”, que apresenta um romance adolescente gay, ganhou o direito de ser exibido em GV... Só que em horários nada razoáveis! 14h20 e 21hs... A intenção é não ser visto entrando no cinema ou provar que o gênero não tem público na cidade?
Apparício Torelly, o Barão de Itararé
Google images
Haja buraco
SEÇÃO
Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo…
Do suor do teu rosto - again
Responsabilidade I
É grande a indignação da vasta maioria dos profissionais médicos do Hospital Municipal com as estripulias dos colegas que acumulam vencimentos de até 47 mil reais por mês. Alguns deles sequer são vistos no hospital, cabulam os plantões da madrugada, em que três ou quatro médicos são escalados, mas depois da meia noite apenas um permanece no famoso “rodízio”. Tem também “plantão de SVO” – da verificação de óbitos, além da autoatribuição de plantões no SAMU. O sentimento da maioria é de vergonha com a situação, pois joga contra a categoria médica e contra o bom funcionamento do hospital.
Os médicos têm dificuldade de aceitar que somente os seus colegas estejam faturando com isso – a conhecida turma que compra apartamentos de dois em dois a cada empreendimento na cidade – mas, entendem que há ramificações no hospital de mais gente que se aproveita da situação. Só pode, pensam eles.
Solidariedade A tentativa de greve no Hospital Municipal passa por uma disputa surda entre a Força Sindical e a CTB pela representação dos trabalhadores da Saúde em Valadares. Nada a ver com qualidade dos serviços nem com as condições de trabalho. Empenhados em fechar o hospital e não deixar nada funcionar, Robertinho, que a cada eleição tem a sua vaga garantida para candidatar-se a vereador pelo PT, uma ex-candidata a vereadora e a vereadora do Solidariedade, partido do Paulinho da Força Sindical.
Responsabilidade II A Lei de Acesso a Informação continua a ser descumprida pelo Executivo Municipal, ao não publicar no portal da transparência os vencimentos de todos os servidores. A publicação evidenciaria para a população que a determinação do Supremo Tribunal Federal de corte de teto – não pagamento de vencimentos acima do da prefeita – não vem sendo cumprida. A quase totalidade dos altos salários é de profissionais médicos, mas há um caso de excesso na Contadoria Geral, um de servidor da Procuradoria Fiscal, um da SEPLAN cedido para a Saúde. Destaca-se que fiscais tributários que apareciam com vencimentos excessivos já não aparecem neste ano, por causa de medida corretiva aplicada pelo secretário da Fazenda, Valter Luís, e pactuada com os fiscais. Se um consegue corrigir, por que não há esforço de governo para que a farra tenha fim?
Congresso e simpósio sobre saúde movimentam a semana na Unipac-GV A Unipac - Universidade Presidente Antônio Carlos e a coordenação do curso de Enfermagem, promoveram nesta semana um encontro aberto para diversos profissionais da área saúde de Governador Valadares. O 2o Congresso de Bioética e Saúde Coletiva e o 4o Simpósio de Enfermagem ocorreram paralelamente, na sede da universidade, no Bairro Vila Bretas. O evento abordou temas como prevenção e assistência às pessoas usuárias de álcool e outras drogas numa percepção coletiva; gestão de serviço de enfermagem em saúde indígena; biossegurança e a promoção do trabalho e temas como a promoção da saúde do Homem. O coordenador do rurso de Enfermagem da Unipac, professor Derli Batista, disse que encontros como este oferecem à comunidade outra percepção sobre a saúde. “A ideia é estabelecer uma relação com a sociedade. Para que possamos dar uma colaboração da universidade na melhoraria da saúde da população, saúde individual e coletiva. A bioética tem como princípios a justiça, a autonomia, a não maleficência e a benevolência. Esse diálogo entre saúde coletiva e bioética, nos remete a vários temas interdisciplinares. Enfermeiros, profissionais da educação física, médicos e também administradores, advogados e vários profissionais passaram por aqui ministrando palestradas e contribuindo com o conhecimento”. Entre os alunos a aceitação do Congresso e Simpósio foi vista como um grande avanço para o conhecimento e para a carreira profissional. “É muito importante e valioso quando a universidade proporciona encontros como estes. Temos a mentalidade, às vezes, de absorver só o que aprendemos em sala de aula. Quando temos acesso a temas variados, nosso conhecimento se amplia, gostei muito e espero que no ano que vem tenha novamente”, disse Luana de Almeida, estudante de Educação Física.
Pop Comunicação
Alunos de vários cursos da Unipac e representantes das comunidades participaram do Simpósio e do Seminário sobre saúde
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GERAL
Associativismo
Justiça autoriza venda da UPI de biscoitos Caiubi
Antônio Carlos Linhares Borges
Descentralização do poder como alternativa para o desenvolvimento social e econômico
A Unidade de Produção Industrial (UPI) de biscoitos Caiubi será vendida para quem apresentar proposta de no mínimo 90% do valor de venda: R$ 35 mi
Teoria e prática nem sempre andam no mesmo compasso. Discursos muitas vezes ocultam intenções, interesses e conveniências que influenciam práticas distorcidas. Não seria diferente quanto ao tema Associativismo, incluindo nele o Cooperativismo, como instrumento da descentralização de poder. A descentralização, de acordo com a teoria do economista Ignacy Sachs, possibilitaria as parcerias público-civis em diversas áreas como, por exemplo, paisagismo, limpeza urbana, coleta seletiva de lixo, campanhas de combate a doenças e uso de drogas, projetos de construção de casas populares, de segurança alimentar e abastecimento, projetos esportivos, de transportes, de turismo e muitas outras possibilidades, que podem vir a significar um novo rumo, um direcionamento diverso para o desenvolvimento da sociedade humana. A direção, para que ocorra a descentralização de poder, deve ser dada pela instancia governamental. Ao propor essa forma de relacionamento entre poder público e sociedade civil organizada, Sachs alerta para a diferença entre a descentralização de poder e a desconcentração de poder, que ocorre com a terceirização de serviços por parte do poder público. Na terceirização o poder público transfere recursos financeiros para a execução de serviços, por meio de empresas especializadas. Na descentralização, o poder público transfere não só serviços, mas o poder decisório sobre determinada temática à sociedade civil organizada - associações populares, cooperativas, etc, compartilhando com elas o uso dos recursos municipais. A descentralização conjuga participação popular em processos decisórios – já conhecemos o orçamento participativo – com a aplicação de ações públicas através da parceria público-civil. Por exemplo, a arrumação e conservação de praças públicas com a participação de associações de bairro. O governo coloca à disposição estrutura física e equipamentos para a execução dos serviços e transfere recursos e responsabilidades dos serviços mediante convenio com a associação do bairro. Na terceirização, estabelece-se uma relação puramente econômica entre poder público e sociedades empresariais. Na descentralização, o poder público estabelece uma relação com a população, pela qual a prestação de serviços se insere em um contexto educacional, de capacitação profissional e formação cidadã. Na parceria público-civil nos moldes indicados por Sachs, o poder público atua nos espaços comunitários em ações de interesse da coletividade, com fins de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população local. O certo é que, programas de participação público-civil trazem a possibilidade da criação de ambientes de educação para a cidadania, que seria o grande
Da Redação
A Justiça concedeu, na sexta-feira (9) a autorização para o prosseguimento da etapa final de recuperação judicial da Caiubi Indústria de Alimentos Ltda, e deve publicar nos próximos dias no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, o edital para a alienação judicial de uma das unidades de produção industrial (UPI) do grupo, informalmente conhecido como “Massas Periquito”. A alienação judicial é termo jurídico que significa a venda da UPI de biscoitos. A UPI de macarrão continuará sobre o controle da atual diretoria do grupo. Este Figueira apurou que o valor da venda está estimado em R$ 35 milhões, podendo o comprador oferecer um lance mínimo de 90% deste valor. Em 30 dias após a publicação do edital, será realizada a audiência de alienação judicial com abertura dos envelopes com as ofertas, na 6ª Vara Cível de Governador Valadares. A decisão judicial agradou a direção da empresa, que finalmente ficará livre da parte “necrosada”, ou seja, a UPI de biscoitos, que levou o grupo a este processo de recuperação na justiça. Os novos administradores, que vencerem o processo de venda, cuidarão de incrementar a produção na unidade. Na Caiubi, todos esperam e confiam que esta UPI será recuperada e a contratação dos demitidos é praticamente certa, já que todos eles conhecem o funcionamento da unidade. A direção do grupo Caiubi está otimista, principalmente com o processo de recuperação da UPI de macarrão. Recentemente foi iniciada a produção de lasanha, e o número de pedidos deste novo produto foi expressivo. Para dar conta da produção, 49 novos trabalhadores foram contratados. Ao final do processo de recuperação judicial, a direção espera que os cerca de 550 empregos de outrora, nas duas unidades, seja alcançado. Dependendo da produção e das vendas, este número pode chegar a 600 empregos. A história grupo Caiubi registra que a fundação se deu em 1963, quando cinco irmãos, liderados por José Carlos de Oliveira, arregaçaram as mangas e deram início à produção de biscoitos. Depois começaram a produzir macarrão, o carro chefe do grupo, que o fez ser conhecido como “Massas Periquito”.
Reprodução BandNews
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio 2014
ganho, mais que a economia em recursos econômicos. Na prática, a descentralização ainda é um tema desacreditado pela sociedade brasileira e desacreditado pelo poder público, a despeito de muito discurso. Em alguns casos, associações e cooperativas aptas para atuarem nas áreas a que se propõem tornam-se incômodas, ameaçando relações entre governo e empresas. Há um discurso político, geralmente de quem não está no Executivo, favorável ao associativismo e cooperativismo. Uma vez no Executivo, alguns políticos mudam de opinião, e a exemplo do “rei” Pelé, em declaração sobre a participação popular no voto direto, também consideram que “o povo não tem capacidade”. De uma forma mais branda, diriam: “As responsabilidades são muitas; não seria simples uma cooperativa assumir tal volume de serviços e obrigações”. Nessa posição embute-se um conservadorismo que muitas vezes onera grandemente os cofres públicos e impede a participação popular.
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Na terceirização, estabelece-se uma relação puramente econômica entre poder público e sociedades empresariais. Na descentralização, o poder público estabelece uma relação com a população, pela qual a prestação de serviços se insere em um contexto educacional, de capacitação profissional e formação cidadã.
Diferente disso, um bom exemplo nos deixou o ex-prefeito João Fassarella, que possibilitou algumas ações na direção indicada por Sachs, da descentralização de poder. Em seu período de governo, foi implantada a coleta seletiva de lixo urbano, em parceria com a própria população que ocupava o antigo lixão, com a criação da ASCANAVI, que ainda hoje funciona. Fassarella também enviou à Câmara um projeto de lei, hoje lei, de apoio ao cooperativismo no município, que permite privilegiar cooperativas em certas situações de concorrência pública. Essa lei tem sido desconsiderada pelos governos que se seguiram.Também criou o OP - Orçamento Participativo do município, que já não mais funciona. Fassarella teve concepção e coragem! E mostrou, na prática, que a teoria apresentada por Sachs pode ser uma realidade. Antonio Carlos Linhares Borges é administrador rural e advogado, coordenador geral do CIAAT – Centro de Informação e Assessoria Técnica
Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília
Pec da probidade
Recuerdo
Apontada como possível candidata a vice de Aécio Neves, a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, tem ligação antiga com o PSDB. Apesar de ter se filiado apenas no ano passado, é bom lembrar que ela foi indicada ao STF pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aliás, a exministra chegou a andar de mãos dadas com o ex-presidente no shopping Higienópolis, em São Paulo, onde FHC mora. Na época, eles teriam tido um affair. Depois que ficou viúvo, o ex-presidente se assumiu namorador. Em Brasília, dizem a mesma coisa de quando ele ainda era casado.
Pesquisa encomendada?
Na cúpula da campanha petista, há quem jure de pés juntos que a pesquisa que aponta a queda da presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Aécio Neves na preferência do eleitorado é coisa encomendada, que a pesquisa atende aos interesses “da turma da Fiesp”. Fiesp é a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, entidade que reúne megaempresários que estariam descontentes justamente com a política econômica atual e de olho na possível vitória tucana.
Providências tomadas
Mas mesmo que tente desqualificar as pesquisas, a cúpula da campanha petista resolveu se cercar de cuidados e vender esperança para o eleitorado, em vez das notícias negativas da oposição. A primeira cartada foi o vídeo comparando a “situação atual” com um passado recente. Antes mesmo de estrear na TV, o vídeo já havia sido disseminado pela equipe de comunicação da campanha pelas redes sociais.
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Falta bandeira
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A estratégia das duas frentes está correta, segundo um consultor de marketing de um importante escritório de Brasília. Segundo ele, a redução da desigualdade tirou várias bandeiras das mãos de candidatos. Resta agora voltar a um passado ainda mais longínquo: os candidatos terão de voltar a vender esperança.
Uma vitória para o Movimento Nacional pela Advocacia Pública. Passou pela comissão especial da Câmara a PEC que dá autonomia funcional aos procuradores federais, estaduais e municipais, nas ações que moverem, sem risco de sofrer pressões de nenhuma esfera do Executivo. Assim, eles terão liberdade para processar gestores que descumprirem leis. Mas a PEC ainda tem de passar pelo Plenário, antes de seguir para o Senado.
Escudo Soou como escudo a mudança no código eleitoral aprovada pela Câmara, no dia 8. A proposta classifica como crime a denúncia contra um candidato inocente. Nada que já não exista na legislação. Foi uma maneira de tentar coibir acusações contra quem disputa as eleições. Uma turma já assustada com a lei da ficha limpa
Voto facultativo
A mesma pesquisa que aponta os números da corrida presidencial mostra também que passa de 60% o número de eleitores que são a favor do voto facultativo, o que assusta o PT. É que os adultos são os que mais rejeitam o voto obrigatório. É exatamente quem tem memória e condições de comparar governos. Quem passou a votar nos últimos 12 anos não tem memória para isso. PARA ESCLARECER - Vale lembrar que, em tese, o voto já é facultativo. Quem não votar, nem justificar a ausência, basta pagar uma multa que em 2012 foi de R$ 3,50 e fica tudo certo.
Ciência e tecnologia A aprovação da PEC 290, na Câmara, que acrescenta os termos ciência, tecnologia, pesquisa e inovação em artigos da Constituição ainda não resolve o abismo que atravanca o avanço das pesquisas no Brasil. A PEC é um apêndice do que seria o Código Brasileiro da Ciência, que teve de ser desmembrado em projetos de lei que agora estão emperrados. Câmara e Senado discutem o problema de formas diferentes. No Senado o assunto segue em uma única proposta. E a queda de braços entre as duas casas, o governo e os partidos ficou evidente, porque no desmembramento chegou-se à conclusão de que seria preciso um Regime Diferenciado de Contratação para o setor de C&T. É que muitas compras são travadas pela lei 8666 e no setor científico tudo tem de ser acelerado, porque experimentos envelhecem e produtos deterioram rápido. O projeto do RDC também está pronto. Mas cadê o acordo?
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.
REPORTAGEM
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio de 2014
Tim Filho
O primeiro sobrado de Figueira, cujas sacadas serviram para protagonistas de nossa história assistirem ao nascimento de Governador Valadares, foi descaracterizado depois da destruição de seu belo frontão de cartela
Cidade permite que sua história seja apagada Tim Filho / Repórter Em 1930, quando Governador Valadares ainda nem existia, a planície localizada entre o Rio Doce e a estrada de ferro abrigava as casas e a vida social do distrito de Figueira, que pertencia ao município de Peçanha, MG. Os cidadãos da Figueira, os figueirenses, tinham o sentimento de pertencimento com marca principal, e sonhavam com a emancipação do distrito. Entre as poucas casas, todas de um único pavimento, começou a ser construído o primeiro sobrado, pela equipe do pedreiro José Tibustino, vindo de Aimorés, MG, contrato por Octávio Soares Ferreira, farmacêutico formado na Universidade Federal de Ouro Preto, vindo de Piunhy, MG. Octávio era o primeiro farmacêutico formado a atuar em Figueira. Sua farmácia funcionaria no andar térreo do sobrado e sua família iria morar no andar de cima. Anos depois, em 1938, quando Figueira deixou de ser o distrito de Peçanha, da sacada do sobrado, a família Soares assistiu ao momento mais importante da história de Figueira: o pequeno distrito se transformar em cidade, recebendo o nome de Governador Valadares. O sobrado, localizado no número 736 da Rua Marechal Floriano (em frente ao prédio do Fórum), importante marco da história de Governador Valadares, foi descaracterizado pelos atuais proprietários. “Foi um absurdo o que fizeram com o imóvel, com a história da minha família e a de meu bisavô. Foi mais um golpe. O primeiro, ocorreu em 1964 quando ele foi covardemente assassinado, e agora, a cidade apenas assiste sua memória ser apagada”, disse a bisneta de Octávio Soares, a arquiteta e urbanista, Ingrid Cabral Soares. Valente, Ingrid mora em São João del-Rey, e quando soube da descaracterização do imóvel, veio a Governador Valadares para denunciar o fato ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico e Cultural, à Prefeitura de Governador Valadares, ao Ministério Público. As denúncias foram feitas e tiveram o mesmo efeito de uma “pregação no deserto”. O imóvel, por não ser tombado e não possuir inventário, não tinha a proteção do patrimônio histórico municipal, e por este motivo, nenhuma das 13 perguntas feitas pelo promotor público Leonardo Castro Maia, em 09/12/2013, foram respondidas. “Não respondemos porque o imóvel não havia sido inventariado”, disse Gabriela Almeida, presidente do Conselho. A 10ª promotoria pública agiu depois que Ingrid fez a denúncia, que pode ser lida na íntegra na edição online deste Figueira. Ingrid também fez um pedido para que o imóvel fosse tombado pelo município, negado pelo Conselho, sob a alegação de que já havia sido descaracterizado e não atendia aos critérios de tombamento. “Os critérios vigentes são deliberativos, a sociedade é quem define a importância do bem a ser tombado, não importan-
do o seu tempo de existência. É necessário que uma comunidade se reúna e faça o pedido de tombamento, como aconteceu no processo de tombamento da caixa d’água do Carapina”, disse. Sem o tombamento e o inventário, a descaracterização do imóvel pelos proprietários atuais não é ilegal. Mesmo assim, ninguém fala abertamente sobre o ocorrido. No setor de cadastro de imóveis da Prefeitura, o sobrado pertence à família Policarpo. Os proprietários dizem que venderam o imóvel e quem pode falar sobre o seu destino é quem administra o sobrado para o novo proprietário. A Vasconcelos Imóveis, nova administradora, se limitou a informar que o sobrado será reformado para receber uma loja, e que o atual proprietário não reside em Governador Valadares. O sobrado A construção do sobrado começou em 1930, lembra Aracy Soares Cabral, 86 anos, filha de Octávio Soares Ferreira. Ela também se lembra de parte infância vivida no sobrado, num ambiente familiar cercado de muito carinho. Em 1939, Aracy diz que seu pai, Octávio, deixou o sobrado por uns tempos e se mudou para Belo Horizonte, levando os filhos menores para estudar. “Na Figueira só havia as Escolas Reunidas Figueira do Rio Doce, que não oferecia condições dos meus irmãos menores seguirem os estudos. Cuidadosa, Aracy tem fotos, documentos e recortes de jornal, registros importantes da história familiar. Entres estes registros estão informações preciosas sobre o sobrado, construção que se destacava na paisagem do distrito de Figueira, que possuía apenas imóveis com características rurais, telhados com telhas cumbucas, pilares de madeira e janelões. O sobrado possuía algumas daquelas características rurais dos anos de 1930, mas com algumas diferenças, como a ornamentação invertida: ao invés de ser interna, esta ornamentação foi colocada na parte externa. Esta ornamentação foi destruída em 2013. O frontão que foi retirado e virou entulho, era chamado de “frontão de cartela”, um semicírculo em alto relevo, característico das obras barrocas de Minas Gerais. Na torre estava aplicado o distintivo com data de 23 de janeiro de 1930, e entre os florais, as iniciais do proprietário do imóvel: OSF, de Octávio Soares Ferreira. Aracy lamenta a destruição do frontão principal e dos outros que emolduravam as janelas. “As sacadas também foram descaracterizadas. Antes, apenas a do meio era fechada totalmente, as outras duas tinhas os balaústres”, reclama Aracy. Mas ela sabe que agora não há mais o que fazer, apenas lamentar. “Espero que o poder público seja mais zeloso com outros registros da nossa história, só isso”.
Uma cidade sem memória Ingrid Cabral Soares Nascida e criada em Governador Valadares, tenho dentro de mim o orgulho de pertencer a uma das famílias que ajudou a escrever a história da antiga Figueira do Rio Doce. Esse assunto veio até a mim de uma maneira muito natural, ainda adolescente, estudante do Instituto Imaculada Conceição (atual Colégio Franciscano Imaculada). Após uma aula de História Regional, o professor mencionou diversos nomes que contribuíram para a emancipação da cidade e dentre as fotos mostradas, uma me pareceu extremamente familiar. Com o papel em mãos e a caminho da casa da minha avó, perguntei quem era aquele senhor que dividia comigo o mesmo sobrenome. Reconheci a foto em meio de outras existentes nos álbuns de família; eu estava aprendendo sobre meu bisavô Octávio Soares Ferreira. Mesmo surpresa, me senti confusa sobre os motivos pelos quais eu estava aprendendo sobre um parente tão próximo na escola – e não em casa. Foi assim, tão cedo, que tive a oportunidade de ouvir a história de vida do meu bisavô. Dos lábios de minha avó e mãe – e também do silêncio e olhos tão expressivos do meu avô – que fui exposta a uma situação complicada que envolvia minha família e a ditadura militar. Em meio a fotos e muita cautela, o assunto foi entregue a mim de uma maneira muito imparcial; ao invés de ter uma opinião entregue a mim, fui deixada para que criasse a minha. Porém eu não estava satisfeita com a história contada por meus familiares, precisava ainda formar minha opinião sobre tudo que tinha ouvido. Após procurar meu professor e conversar sobre a história local e o cenário vivido por todos no ano de 1964, estava compreendendo melhor tudo que havia acontecido. Com a ajuda da internet e de longas tardes passadas em meio aos recortes amarelos de jornais colecionados pela minha avó, eu já tinha uma opinião. Depois mudar de cidade duas outras vezes, me encontro hoje fixada em São João del-Rei, onde me formo – ainda neste ano – em Arquitetura e Urbanismo, na UFSDR. Desde o ano de 2002 muita coisa aconteceu, minhas ideias amadureceram e vejo todo assunto de uma maneira diferente. Mas foi em 2013, após voltar à Governador Valadares, que me deparei com mais um capítulo – ainda desconhecido – da vida do meu bisavô, andando pelas esquinas da Rua Marechal Floriano, no centro da cidade, onde passo sempre que posso, em frente ao sobrado que pertenceu ao senhor Octávio Soares da Cunha. A casa sempre foi ponto certo de passagem quando estava ao lado de minha mãe, Iramaya, que sempre dizia:
‘’essa casa foi do seu bisavô, vê lá em cima as iniciais do nome dele?’’. Para mim, a fixação pela construção era somente dividida entre minha família, mas eu estava errada. O casarão de estilo eclético, construído nos anos de 1930, carregava em seu frontão, a abreviatura do nome Octávio Soares Ferreira (OSF) e a data de início de sua construção. Fui descobrir somente no ano passado que minha admiração era dividida por diversos moradores da cidade. Após a completa descaracterização da fachada e de toda a história cravada ali, vi pelo Facebook, a indignação de moradores de longa data com o ocorrido. Quando analisei a situação por mim mesma, veio um sentimento de dúvida – qual o objetivo de reforma que não para melhor? A total modificação da fachada e adição de características Romanas vai além da minha compreensão como arquiteta. Por morar numa cidade onde o patrimônio e as antigas lembranças são valiosos como ouro, não existe justificativa cabível de como o poder público ainda não catalogou os imóveis e os marcos que contam a história de Governador Valadares. Compreendo também, como urbanista, que minha cidade natal escolheu crescer em meio à preservação de sua história concreta, mas como as futuras gerações vão seguir mantendo uma conexão com sua vizinhança se tudo que as lembra do passado for apagado? A situação é mais séria do que uma simples reforma. Após fazer parte e ter morrido para entrar na história da antiga Figueira do Rio Doce, as últimas marcas deixadas pelo meu bisavô foram apagadas. A história de meus tios e de minha querida avó Aracy era deixada para trás a cada caractere lixado de um frontão trabalhado em volutas. Todos os casos, histórias e acontecimentos juntos ao sobrado e à primeira farmácia da cidade eram esquecidos juntamente com a memória de quem era Octávio Soares Ferreira. As ações de solidariedade e simpatia por ele espalhadas foram retiradas das ruas da cidade, em especial da Rua Marechal Floriano. Este cenário não parece ser somente uma realidade para minha família, mas também para tantas outras que veem suas histórias apagadas por uma reforma ou para dar espaço para mais um prédio mal pensado e mal projetado – enfeitado por uma oferta que não se aproxima do valor histórico que essas casas possuem para a cidade. Que todos esses acontecimentos sejam para Governador Valadares uma lição, uma prova de que sua história jamais é esquecida por uma população que ama sua cidade. Ingrid Cabral Soares é arquiteta e urbanista Tim Filho
Tim Filho
O sobrado ficou assim, sem o frontão que o tornava suntuoso, totalmente descaracterizado
Aracy, que tem 86 anos de idade, morou no sobrado desde a sua inauguração, em 1930
METROPOLITANO
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Tem campus,
Bastou uma semana para que tivéssemos outro panorama. O topo da montanha, no terreno doado pelo empresário Edvaldo Soares dos Santos, vai se tornando uma planície. Aqui, serão erguidos 12 prédios. Sete mil metros cúbicos de terra são retirados todos os dias e levados para a plataforma, onde será construído o complexo esportivo do campus.
sim!
Tem, também, movimentação na economia, vagas sobrando e um quadro de funcionários que cresce exponencialmente.
Fábio Moura/ Repórter / Texto e fotos
Prof. Henrique Duque, reitor da UFJF, otimista com o andamento das obras de construção do campus
“
Olha, se aguardássemos as condições necessárias, até hoje não haveria professores, técnicos administrativos e, muito menos, alunos. O campus, então, estaria só no papel. Há experiências, onde esse processo é executado de forma um pouco mais lenta. Não era o caso de Valadares. A demanda, segundo o Governo Federal, era urgente e tínhamos de implementá-lo o quanto antes
Prof. Henrique Duque Reitor da UFJF
No fim de semana, já se observava uma mudança na movimentação da cidade que já foi Figueira. Dezenas de homens com caras de maus, trajando terno perambulavam pela cidade. Equipes da Polícia Militar recebiam orientações e passavam por treinamento. O trânsito estava sendo estudado para ser modificado durante a visita de terça-feira, dia 9 de fevereiro de 2010. É assim, onde quer que a comissão presidencial vá. Luís Inácio Lula da Silva e alguns ministros chegariam a Governador Valadares em alguns dias para inaugurar a UAB – Universidade Aberta do Brasil, além de obras de saneamento e habitação do Programa de Aceleração do Crescimento. Quem não sabia que viria pra essas bandas era o Henrique Duque, reitor da UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Já era noite de segunda-feira, quando seu telefone tocou. Do outro lado da linha, Fernando Haddad, então Ministro da Educação, convidou-o para vir ao Leste mineiro. Pediu, também, que ele chegasse duas horas antes do início da programação presidencial do município. Pela manhã, ainda sem saber do que se tratava, Henrique foi recebido por Haddad que, ao lado de Lula, disse: “O MEC realizou um estudo geográfico das limitações no alcance da educação superior no Brasil e a região de Valadares está entre as mais necessitadas. A Federal de Minas Gerais e a de Ouro Preto não toparam o desafio. E aí, o que você me diz?”. A sorte estava lançada. Sorte mesmo. Isso, porque Minas Gerais é a unidade da federação com o maior número de instituições federais de educação superior. São 17, no total: 11 universidades, o CEFET em processo de transformação em universidade, mais 5 institutos federais. Vários estados brasileiros não têm mais de duas. É o caso do Acre, de Alagoas, do Amapá, do Amazonas e do nosso vizinho, o Espírito Santo. Uma nova Universidade Federal deve ser discutida e aprovada pelo Congresso Nacional; e, com tantos estados mais necessitados, Minas Gerais não seria contemplada com uma nova universidade federal. A Governador Valadares restava, então, fazer parte da expansão de uma das instituições já consolidadas no estado. Horas mais tarde, em frente ao polo da Universidade Aberta do Brasil, na rua Sete de Setembro, Haddad comunicou e Lula chancelou: “Valadares receberá um Campus da UFJF”. Daí pra frente, leitores... Daí pra frente, a história é longa. Colocando e tirando o projeto do papel Para se instalar um campus de uma universidade, há dois pontos que requerem um esforço grandioso, a priori: uma sede física e um projeto acadêmico-pedagógico. Claro, diversas ramificações surgem disso, mas é aqui que se concentram os principais esforços. Tudo correu muito rapidamente. Rápido até demais. A administração da UFJF assume que o projeto elaborado teve suas deficiências. “Olha, se aguardássemos as condições necessárias, até hoje não haveria professores, técnicos administrativos e, muito menos, alunos. O campus, então, estaria só no papel. Há experiências, onde esse processo é executado de forma um pouco mais lenta. Não era o caso de Valadares. A demanda, segundo o Governo Federal, era urgente e tínhamos de implementar o campus o quanto antes”, afirma o reitor Henrique Duque. Diferentemente de boa parte das expansões das instituições de educação superior para além dos limites da sua cidade sede, Governador Valadares iria receber um campus amplo, chamado tecnicamente de “avançado”. Em suma, esse tipo de unidade se caracteriza por dispor de um leque de cursos mais recheado, uma unidade administrativa mais robusta e autônoma, além de uma equipe de técnicos administrativos e de um corpo docente maior. Isso influencia diretamente o projeto de instalação da estrutura físi-
ca e acadêmica da UFJF/GV. Quando voltou a Juiz de Fora, o reitor Henrique Duque levou com ele a proposta de expansão de alguns cursos da sede para a nova filial no Leste de Minas. A ampliação do número de alunos e professores, bem como as peculiaridades e demandas de cada departamento deveriam integrar um projeto que seria discutido e avaliado pelos conselhos da instituição. Foram dez os cursos da área de Saúde e das Sociais Aplicadas a planejarem vir para Valadares, para compor o novo campus: Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Educação Física – este último acaba de ser instituído e receber a primeira turma. Alguns cursos se recusaram a vir, alegando ausência de estrutura básica para a expansão. “A Faculdade de Enfermagem opera com 43 professores em Juiz de Fora. Todos já saturados e com demandas extrapoladas. Não havia possibilidade de trazermos o curso pra cá pra operar com o que nos foi oferecido: 33 professores”, afirma a diretora da Enfermagem e candidata de uma chapa de Oposição à vice-reitoria, Girlene Alves. No entanto, os entraves não foram impostos por nenhum dos outros cursos e eles seguem operando normalmente na cidade, desde novembro de 2012. De lá pra cá foram quatro vestibulares e quase 1.600 vagas oferecidas para o campus da UFJF/GV. “Hoje, temos cerca de mil alunos matriculados aqui em Valadares. São quase seiscentas vagas ociosas. Nós, da administração, atribuímos isso ao desconhecimento quanto à existência da nova unidade. Mal, mal os valadarenses sabem que há uma Universidade Federal operando na cidade. Mas existe. E da melhor qualidade. Dos cursos avaliados pelo Enade – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes todos alcançaram cinco pontos, o máximo – exceto a Odontologia que tem a nota quatro, também alta”, relata o gerente administrativo da UFJF/GV, Ricardo Grunewald. Paralelamente a isso, foram reunidos esforços, também, na elaboração de um projeto para construção do campus na cidade. Desafiados pela Prefeita Elisa Costa, três empresários rurais da cidade ofereceram parte de seus terrenos para receber a estrutura que abrigaria a Universidade. O mais viável deles, e escolhido para a execução da obra, foi doado pelo empresário Edvaldo Soares. Totaliza hoje quase um milhão de metros quadrados: 532 mil m² no primeiro ato de doação e mais de 400 mil no segundo ato, e está situado à direita do prolongamento da Av. Minas Gerais, após o anel rodoviário da BR-259. Em linha reta, as obras estão sendo executadas a 3,5 quilômetros da avenida, de onde sairá um braço de estrada que levará até ao campus. Mas, as obras só começaram no último dia 6 de janeiro, com um ano de atraso. Isso, em função da denúncia de uma das empresas que perdeu a licitação ao Tribunal de Contas da União. O recurso foi considerado infundado e o Tribunal mandou tocar a obra. Porém, já estávamos no fim de 2013, época em que a construção do campus já deveria ter alcançado quase um ano de atividades. A belorizontina Tratenge Engenharia Ltda é a empresa vencedora da licitação das obras do campus. Cerca de R$150 milhões serão investidos nessa obra. Ela opera gerando uma média de 150 empregos diretos e indiretos. Ao dar início à construção dos prédios, a previsão, de acordo com o engenheiro chefe, Haroldo Figueiredo, é de que esse número salte para 400. Até meados de agosto, o terreno será totalmente terraplanado. São quatro “plataformas”. A maior delas abrigará os doze prédios que irão receber salas de aulas e laboratórios. Todo o montante de terra retirado dessa plataforma está sendo usado no aterramento de outra superfície, onde será instalado um complexo esportivo. Há, ainda, duas planícies: a da sede ad-
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Assessoria da UFJF
A maquete digital mostra como será o campus da UFJF, construído em local privilegiado, e dentro dos padrões arquitetônicos mais modernos da atualidade, dando conforto a toda a comunidade acadêmica ministrativa e a do Restaurante Universitário. Os prédios começam a ser levantados ao longo do próximo mês de julho. A previsão de entrega de todo o complexo está agendada para o fim de 2015. Outra estrutura que passaria a pertencer à UFJF é a do Hospital Municipal. Ele deve passar a operar como Hospital Universitário. A oportunidade é bem vista pela administração do município, pois os 25% do orçamento, hoje investidos em Saúde, poderiam ser canalizados para a atenção primária. O projeto de lei está em fase de elaboração e será enviado para discussão e votação na Câmara de Vereadores. Enquanto isso, a UFJF/GV tem duas casas alugadas: a Faculdade Pitágoras e o Campus II da UNIVALE. Como você pode acompanhar no último parlatório deste Figueira, esse é o maior ponto de conflito entre a administração da UFJF e seus docentes e discentes. Em suma, alegam falta de estrutura: climatização das salas, ambientes inadequados para estudo, além das instalações laboratoriais. “Há duas coisas a se ponderar aqui. A primeira é a de que os técnicos administrativos das UFs estão em greve desde o início do ano, o que compromete alguns serviços prestados. A outra é que a UNIVALE tem algumas pendências fiscais e isso dificulta a execução do contrato celebrado entre as instituições, por se tratar de dinheiro público; apesar disso já estar quase sanado. Porém, 33 aparelhos de ar-condicionado foram adquiridos e serão instalados, onde houver necessidade. O laboratório do curso de Odontologia passa a funcionar na Associação Brasileira de Odontologia. Ou seja, estamos tomando providências para corrigir as deficiências”, afirma o assessor da Reitoria e responsável pela implantação do campus da UFJF/GV, Rubens de Oliveira. “No quesito sala de aula, nossas condições são adequadas. Creio que toda a nossa infraestrutura é ideal. Mas, a situação das bibliotecas ainda é inadequada. A oferta é pequena, o xerox é incipiente e o material online não está disponível. Fora isso, há problemas com o corpo docente. No meu curso, vários professores se transferiram ou saíram para qualificação. A reposição é lenta e em todos os períodos tive disciplinas que só começaram a ser ministradas um mês e meio após o início das aulas. Esse é o primeiro semestre em que não enfrento esse problema”, descreve Leonardo Battestin, aluno da 1ª turma de Ciências Econômicas. “Tínhamos que ter estrutura pra começar o curso e não tivemos. Faltava Restaurante Universitário, faltavam livros, lâminas, laboratórios. O funcionamento do Brasil é burocrático e isso atrasa o cumprimento da estrutura. Várias das nossas solicitações já foram atendidas e, hoje, o prejuízo é mínimo. Mas, ainda falta o planejamento futuro: que se contrate os professores dos próximos períodos, que se compre os livros do próximo período, o material laboratorial do próximo período. Porque aí, quando chegar lá já não vai faltar nada. Já o corpo docente é fantástico. Quase todos são doutores, bem preparados e com garra pra fazer a coisa acontecer. Eu me formo em quatro anos. Se alguns pontos estão prejudicados, é possível recuperar isso à frente”, relata Rinaig Yanniz, aluno da 1ª turma de Medicina. “O único prejuízo, creio eu, está no conforto. A qualidade da formação desses alunos não será afetada. Com o decorrer do tempo serão superadas as deficiências oriundas da falta de estrutura inicial. Ninguém sairá daqui com uma formação deficiente ou devendo em alguma coisa para outras instituições”, garante o reitor Henrique Duque.
SUS, no tratamento de doenças como a leishmaniose, nas atividades educativas de uso racional de medicamentos e nas salas de aula da rede pública, em que professores recebem orientações sobre atualização de conteúdos relacionados à bioquímica e à genética. Mas, o potencial de influência de uma instituição de ensino superior sobre uma comunidade extrapola o tripé que a caracteriza como universidade, os benefícios econômicos e a formação pública e gratuita. Os benefícios estão, também, na alçada do desenvolvimento de uma cidade, tanto cultural, quanto político. Há aqui uma reunião de pessoas de diferentes pontos do país, de correntes ideológicas distintas e em processo de formação em diversas áreas. A famigerada crítica ao baixo número de espetáculos de arte na cidade pode, também, ser atenuada. Isso porque entre os novos técnicos administrativos da UFJF/GV estão promotores culturais. Da arte clássica à contemporânea, promete-se à comunidade valadarense eventos que sairão dos limites do campus e alcançarão as ruas da cidade. “Depende muito da forma como será feita a implementação do campus em Valadares. A universidade, por si só, não gera desenvolvimento. Isso tem que ser planejado e construído. A oportunidade está dada e a UFJF pode fazer isso, desde que haja espaço para essa inserção na cidade; que haja troca, diálogo. Não podemos repetir o exemplo de Viçosa, um polo de excelência em meio ao subdesenvolvimento. É até cômico, pois é uma região agrária ainda pautada pela enxada e a subsistência”, alerta o graduando Leonardo Battestin.
A todo vapor
Reitoria em disputa
A estrutura humana da UFJF/GV, a exemplo da física, segue crescendo exponencialmente. Até o fim do ano serão 170 professores e 165 técnicos administrativos. Em pleno funcionamento, o corpo docente alcançará 266 profissionais e os cargos administrativos chegarão a três centenas. Estima-se que sejam injetados R$ 76 milhões anuais na economia valadarense através da folha de pagamento dos funcionários da universidade. A exemplo de outras cidades mineiras que receberam instituições desse porte, o setor imobiliário e de serviços tem se aquecido com a chegada de uma comunidade acadêmica tão numerosa. Numerosa mesmo. Somados aos mais de 550 profissionais estarão quatro mil alunos dentro do que já foi planejado e está sendo construído. A universidade ainda tem capacidade de expansão para outros cursos da graduação e também para a implementação de programas de pós-graduação. Junto com a UFJF não vem só o ensino. Vem também a extensão e a pesquisa. Até que se consolide a estrutura física do campus, a pesquisa segue ainda a passos curtos. O que não quer dizer que ela não aconteça. O edital de 2013 do CT-INFRA/FINEP contemplou quatro projetos de pesquisa da Federal de Juiz de Fora. Um deles foi elaborado e será executado no campus de Governador Valadares. Trata-se da implantação do Núcleo de Pesquisa, Vigilância e Diagnóstico em Saúde (N-VIDAS), no qual os esforços serão canalizados para problemas da saúde pública local; e o primeiro deles será a dengue. Coordenado pela doutora em Genética e professora da UFJF, Cibele Velloso, este núcleo receberá a bagatela de R$1 milhão. Já a extensão vem caminhando a passos bem largos. Proporcionalmente ao corpo docente, a UFJF/GV já oferece mais programas de extensão do que a sua sede, em Juiz de Fora. São 29, ao todo. Foram firmados convênios com cerca de 20 instituições do Vale do Rio Doce, pelos quais mais de 15 mil pessoas são atendidas. Boa parte deles está relacionada a atenção primária à saúde de idosos, deficientes e pessoas com transtorno de desenvolvimento. Há, também, experiências na agricultura, no atendimento pelo
Após oito anos de gestão, Henrique Duque está de saída do comando da Universidade Federal de Juiz de Fora. Três chapas concorrem às eleições em junho. Na última terça-feira, dia 13, o Teatro Atiaia foi palco do debate entre os candidatos a reitores e vice-reitores. Ficou claro que a expansão da UFJF até Governador Valadares não foi um consenso interno. Ou, ao menos, não da forma como foi feita. Até havia alguns partidários, mas, em sua maioria, a comunidade acadêmica mostrava-se desconfiada diante das promessas. Autonomia. Ouviu-se essa palavra uma porção de vezes. Foi esse o tom inicial da fala de Paulo Vilela, candidato a reitor, junto a Helio Silva. “Estamos vivendo uma espécie de miniuniversidade. É necessária uma grande reforma administrativa, em que a direção do campus alcançaria status de Pró-Reitoria, garantindo assentos nos principais conselhos da UFJF. Coordenador de curso em Valadares não tem assento no conselho universitário e por aí vai”. A outra chapa de oposição é formada pelo candidato a reitor Marcus Davi, ao lado de Girlene Alves. “A autonomia devia ter sido condição fundamental desde o começo; e não começar a ser pensada pela administração apenas dois anos depois do início das atividades por aqui. A expansão foi feita de forma desordenada. Agora, precisamos corrigi-la”. “Concordamos com tudo que foi dito pelas duas chapas. Mas, as propostas são totalmente vagas. Fala-se em reorganizar a estrutura administrativa sem que se considere que o campus de Valadares pertence à UFJF. Boa parte do que as outras chapas prometem já será feito, mas dentro da lógica. Temos a responsabilidade de estruturar e consolidar a unidade daqui do Leste. Aí, sim, ela poderá ter total autonomia. Enquanto isso, ela terá uma Unidade Orçamentária própria e toda uma estrutura administrativa autônoma trabalhando aqui e criando uma identidade local. Mas, não fará isso sozinha”, encerra o candidato a vice-reitor, Marcos Chein, na chapa da situação, junto a Júlio Chebli.
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A autonomia devia ter sido condição fundamental desde o começo; e não começar a ser pensada pela administração apenas dois anos depois do início das atividades por aqui. A expansão foi feita de forma desordenada. Agora, precisamos corrigi-la.
Prof. Marcus Davi Candidato a reitor
Professores e alunos lotaram o Teatro Atiaia para ouvir as propostas dos candidatos à reitoria da UFJF. Aplaudiram e desconfiaram
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Estamos vivendo uma espécie de miniuniversidade. É necessária uma grande reforma administrativa, onde a direção do campus alcançaria status de Pró-Reitoria, garantindo assentos nos principais conselhos da UFJF. Coordenador de curso em Valadares não tem assento no conselho educação e por aí vai.
Prof. Paulo Vilela Candidato a reitor
GERAL
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KIÉM EREHÉ
Deputado estadual José Bonifácio Mourão manifesta-se ao Figueira sobre estadualização da UNIVALE:
Geilson Krenak / da Área Indígena Krenak
Mulheres indígenas e violência banal Segundo noticiários internacionais, na semana passada, um suposto grupo terrorista islâmico identificado como Boko Haram é o responsável por sequestrar mais de 200 meninas estudantes com idade entre 12 a 15 anos em uma aldeia na Nigéria. Ainda, há possibilidade de ter ocorrido desaparecimento de outras 300, que teriam sido estupradas no cativeiro e provavelmente vendidas como escravas. Há estudos a indicar que uma menina nascida no continente africano tem mais chances de ser violentada do que de aprender a ler. Segundo relatório da ONU de 2010, uma em cada três mulheres de uma das muitas etnias indígenas do Brasil é estuprada durante a vida. Agressões físicas, atos de violência psicológica, moral, patrimonial, intimidação, preconceito, discriminação e até mesmo violência sexual. Estima-se que o inchaço das cidades próximas às aldeias tem trazido impactos às sociedades indígenas e especialmente à vida das mulheres. Atualmente, as constantes visitas de não índios às aldeias, o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, empreendimentos de grande porte, como estradas de ferro, hidrelétricas e rodovias, estão entre os fatores de grande repercussão no impacto da vida indígena. As mulheres indígenas sofrem há séculos, assim com tem acontecido com as mulheres do Brasil: a cada 5 minutos, uma mulher brasileira é agredida e a cada 2 horas uma é assassinada. Uma pesquisa realizada entre 2009 e 2011 vem reforçar estes dados assustadores sobre o feminicídio no pais: “Entre 2009 a 2011 a taxa de feminicídios foi 5,82 óbitos por 100.000 mulheres, no Brasil. Estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas e as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte apresentaram as taxas de feminicídios mais elevadas, respectivamente, 6,90, 6,86 e 6,42 óbitos por 100.000 mulheres. 61% desses óbitos foram de mulheres negras. No Brasil, 50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34% de instrumento perfurante, cortante ou contundente. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura)” A violência do feminicídio escolhe gênero e não grupos étnicos. No caso das mulheres indígenas, por exemplo, ocorre em caráter escravista e avassalador. Historicamente, são elas as primeiras vitimas da violência contra mulheres em nosso país. A igreja teve seu papel, pois combateu, por meio de seus missionários, alguns costumes indígenas, entre eles a nudez e a liberdade religiosa. Já o casamento entre mulheres indígenas e homens europeus teve como foco a miscigenação, condição considera inferior.
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Isso tem trazido consequencia drástica para a vida da mulher indígena além de baixa estima, saúde precária e inclusive baixo rendimento escolar. A história da mulher indígena é a história da mulher brasileira. Os maus tratos, a escravidão, a violência domestica e a violência sexual da mulher brasileira começa nos tempos coloniais com as indígenas. Em tempos atuais, surgem movimentos para combater a violência e o feminicídio no Brasil. A Lei Maria da Penha, denominação popular da Lei número 11.340, é o que há de mais novo neste sentido: “Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.” Apesar de importante, ao que se sabe indígenas não participaram da elaboração dessa Lei, de tal forma acreditasse que não há um olhar específico para a questão da violência contra a mulher indígena. Dia da mulher, dia do índio, dia das mães, chega de demagogia, pois todo dia é dia de respeitar e amar o que há de mais importante na vida, o ser humano.
O projeto tramitou na ALMG a partir de 12/04/2013, sendo que nenhum dos 77 Deputados Estaduais aventasse qualquer ideia na linha do que agora nos é apresentado, até porque seria matéria inconstitucional, por aumentar despesa do Estado. Por outro lado, a UNIVALE é uma instituição particular, possuidora de valiosos ativos, de propriedade da mantenedora. Iguais a ela outras tantas escolas, universidades ou faculdades existem em Valadares. Talvez, em Minas sejam mais de 500 as escolas particulares que oferecem o ensino superior. Na verdade, pelo número de alunos, a nossa UNIVALE se coloca ao lado das maiores escolas superiores do Estado, no nível das centenárias Escola de Medicina e PUC, bem como de UNIPAC, UNIUBE, Pitágoras, Newton Paiva, UNA, dentre outras.”
Geilson Batista Krenak é cientista social
Ainda o Joaquim José Carlos Aragão mos a nossa História e como a preservamos – se é que a preservamos. Joaquim era negro, pobre, de pouca instrução, “condutor de veículo de tração animal” e trafegava pela esquerda. A História não gosta muito desse tipo de gente. Fala muito Quando a diagramação adota tipografias diferentes para perguntas e respostas na publicação de uma entrevista, facilita muito para o leitor. Facilita até pra que ele perceba – mesmo antes de ler a matéria – quem fala mais: entrevistado ou entrevistador. Malufada Na entrevista com o candidato ao Governo de Minas, Fernando Pimentel, publicada na última edição, fica evidente que o entrevistador se empenhou muito mais em expor suas ideias e tentar direcionar as respostas do entrevistado, que extrair dele as informações que interessam ao (e)leitorado. O entrevistado, por sua vez, deixa transparecer em algumas respostas que não deseja falar de determinadas questões, preferindo aproveitar o “palanque” do jornal para falar do que lhe convém. Perguntado sobre infovias, o entrevistado aproveitou a deixa pra falar de rodovias, por exemplo. Ao melhor estilo Paulo Maluf. Curto e grosso Percebo que muitos títulos dos artigos assinados são curtos, diretos, objetivos e instigantes. O mesmo ocorre, às vezes, com as grandes reportagens. Não era a hora das manchetes e títulos do noticiário seguirem o – bom – exemplo? Voltarei ao assunto.
José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, escritor e jornalista Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com
Está concluído o processo legislativo que culminou na sanção da Lei 20.807, em 26 de julho de 2013. A Lei dispõe sobre a absorção das fundações educacionais de ensino superior associadas à UEMG. O projeto objetivou aprimorar o ensino ministrado por fundações públicas estaduais, instituídas antes da atual Constituição Mineira, projeto que tive a honra de relatar, custeadas pelo Estado, e reduzir despesas, centralizando a gestão. Dentre aquelas, talvez a mais conhecida, para exemplificar, é a Fundação Helena Antipoff.
As mulheres indígenas sofrem há séculos, assim com tem acontecido com as mulheres do Brasil: a cada 5 minutos, uma mulher brasileira é agredida e a cada 2 horas uma é assassinada. Uma pesquisa realizada entre 2009 e 2011 vem reforçar estes dados assustadores sobre o feminicídio no país.
Ombudsman
Questionei, na edição passada, a foto do saudoso líder sindical Joaquim Nicolau, publicada pelo Figueira à guisa de lembrá-lo e homenageá-lo. O jornal então, prontamente, foi em busca de uma imagem mais honrosa e, já na edição seguinte, publicou uma foto “oficial” de Joaquim, usada em santinho de sua campanha eleitoral a vereador. Ainda não me dei por satisfeito. De um sindicalista histórico e atuante que foi, militante e fundador do Partido dos Trabalhadores na cidade, seria de se esperar uma foto mais representativa de sua atuação política e sindical e à altura de sua real importância histórica. Sem querer levantar bandeiras de ocasião, ouso dizer que, até involuntariamente, o Figueira corrobora omissões e distorções típicas das elites que costumam escrever a História com o vício e o ranço dos opressores, vencedores, ricos ou brancos. Custo a crer que inexista em algum arquivo de família, sindicato ou do partido que ele ajudou a fundar, uma fotografia de Joaquim discursando em um palanque eleitoral, por exemplo. Ou em uma assembleia sindical. Num encontro de apoiadores da candidatura de João Domingos Fassarella a vereador e, depois a deputado, na União Operária. Ou à frente da histórica “carroceata” que ele organizou para recepcionar a maior liderança sindical do país e futuro presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma de suas visitas à cidade. Essas imagens não existem mesmo (sei que ainda não havia celulares e selfies ainda, mas...) ou faltou maior empenho do jornal em buscá-las? Aposto que fotos de velhos coronéis, grandes fazendeiros e ricos empresários com lideranças políticas nacionais em visita à cidade, devem ser encontradas aos borbotões nos arquivos públicos e privados. Afinal, muitos ex e futuros governadores e presidentes passaram pela cidade, quer fosse para inaugurar uma ou outra obra, quer fosse para anunciar, em campanha eleitoral, obras que nunca fariam. E, em todas essas ocasiões, os “papagaios de pirata” da elite política local sempre se fizeram presentes, postados estrategicamente diante dos flashes da História. O fato nos provoca uma reflexão profunda sobre a memória da cidade. Sobre como registra-
“A ‘possível estadualização da Univale’ está sendo imaginada sem análise dos fatos. Também precisa ser analisada a informação de que a SETEC está conduzindo o processo e que o debate se reabriu.
É importante frisar que, tais casamentos aconteceram somente por falta de mulheres portuguesas, forçando assim uma política de aportuguesamento da população. Não havia dúvidas de que a mulher indígena deveria ser inferiorizada e tratada como desprezível e submissa ao homem europeu. Tanto que, ao longo da história a mulher indígena tem sofrido negligência, exploração, trabalho forçado, tortura e escravidão sexual.
Além do arco-íris
O nome dela é Waldemar NUDI’s Nos anos 80, fez enorme sucesso uma músicasátira dos radialistas Ronilson Luiz e Eládio Sandoval, “Eu hoje vou me dar bem”, que é lembrada até hoje, por quem viveu aquela época, pelo refrão “O nome dela é Valdemar”. A brincadeira, que pode ser encontrada e ouvida no youtube, ajudou o povo brasileiro a discutir de modo bem humorado o “nome de guerra” das travestis, atualmente denominado Nome Social. Para quem ainda não se familiarizou com o termo, é o nome adotado pelas pessoas Trans que adotam nomes diferentes dos quais foram registrados em cartório ao nascerem, que fazem melhor referência à aparência física e à sua identidade de gênero. Agora, no edital do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio de 2014, o Ministério da Educação se apropriou um pouco mais do Inciso III, do 1º artigo da Constituição Federal, “A Dignidade da Pessoa Humana”, tornando possível a utilização do Nome Social por candidatos transgêneros, na realização das provas e no ingresso futuro nas universidades. Transgêneros são aquelas pessoas com identidade sexual diferente do seu sexo biológico e engloba a categoria dos Transexuais e Travestis, que são coisas distintas. As/os transexuais possuem identidade de gênero divergentes às do seu sexo de nascimento. Grande parte destas pessoas trazem em seu discurso o desejo de adequar seu corpo físico, por meio de intervenções cirúrgicas, à identidade sexual constituída psiquicamente. É comum ouvirse destas pessoas o relato de terem nascido em corpos errados, muitos se autodenominam heterossexuais. Ignoram o prazer oferecido ou sentem repulsa aos seus próprios órgãos sexuais. Já as/os travestis podem até se submeter a algumas mudanças físicas, pois se identificam e assumem papeis de gêneros diferentes dos impostos socialmente ao seu sexo de origem, porém privilegiam seus órgãos como fonte de prazer e em alguns casos sentem-se ‘homem’ e ‘mulher’. Desde 2013, o Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais – DSM/5 e o Código Internacional de Doenças CID descartam como patologia o “Transtorno de Identidade de Gênero”, o que corrobora a adoção do Nome Social, ou seja, o reconhecimento da identidade sexual assumida socialmente pelo indivíduo. O ENEM permite a qualquer pessoa que tenha concluído o ensino médio ou queira a sua
certificação, testar seus conhecimentos e ingressar, caso aprovado, na educação superior pública em todo o país. Permite também obter benefícios de acesso a instituições universitárias privadas, por meio do Prouni. Sim, é pela educação que as transformações podem acontecer. A evolução da qualidade de vida e bem estar de uma sociedade se dá essencialmente através da transformação cultural. E esta, a cultura, tem ganhos significativos com o amplo acesso à educação. Parece discurso político e é. Mas não é partidário, pois é certo que qualquer pai ou mãe gostaria de dar um futuro de mais oportunidades e realizações aos seus filhos.
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O Brasil é um país rico em biodiversidade, com uma ecologia variadíssima. Igualmente rica é a sociodiversidade do Brasil. Diferentes formas de vida e de viver coabitam este espaço que dividimos geograficamente.
O respeito às diversas identidades é um dos caminhos de promoção da igualdade e de valorização das diferenças. Ações como essa do Ministério da Educação sinalizam avanços na inferência da temática LGBTT na execução de políticas públicas, no enfrentamento da lesbo/ trans/homofobia na Educação Brasileira e na ampliação das oportunidades. O Brasil é um país rico em biodiversidade, com uma ecologia variadíssima. Igualmente rica é a sociodiversidade do Brasil. Diferentes formas de vida e de viver coabitam este espaço que dividimos geograficamente. Variadas e complexas formas de existir... é isso que promove a nossa cultura! NUDI’s – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades. A próxima reunião aberta será dia 21 de maio, quarta-feira, às 18h24, no Centro Cultural Nelson Mandela. O CineNUDI’s terá sessão no dia 31 de maio, sábado, às 15h44.
ENTREVISTA Cristiano Cabral é filho da cidade de Valadares, mas o encontramos em Brasília, responsável nacionalmente pela gestão de processos e tecnologia da informação na EBSERH – a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. A EBSERH foi criada pela presidenta Dilma Rousseff para administrar os hospitais universitários em todo o país. Em Valadares, está para ser enviado à Câmara de Vereadores, pelo Executivo, projeto de lei que autoriza a doação do Hospital Municipal à UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora, o que levará o hospital a ficar sob a administração da EBSERH. Cristiano é jovem, de 1978, tendo nascido na casa da rua Prudente de Morais, que foi a antiga sede da fazenda de seu bisavô Euzébio Cabral nos tempos de Figueira. Filho de Lizânias Cabral e Ângela Dorigatti, estudou nos colégios Imaculada e Ibituruna, formou-se na ETEIT em Processamento de Dados, área na qual se firmou profissionalmente. Casou-se com a também valadarense Helena Bonesi, com quem tem os filhos Cristiano e Ângela. Em 2002, foi contratado para desenvolver projeto de sistema para o Ministério da Saúde, o que resultou em mudança para Brasília, quando aproveitou para formar-se em Tecnologia da Informação na UnB. Logo depois, transferiu-se para o Ministério da Educação, onde trabalhou com os ministros Fernando Haddad e Aloísio Mercadante, desenvolvendo e gerenciando por oito anos o SIMEC – Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do MEC, que é referencia nacional de modelo de gestão pública, agora transformado em software livre, com mais de um milhão de usuários.
Figueira - A EBSERH é responsável por fazer a gestão de todos os HUs - Hospitais Universitários Federais, que antes ficavam no encargo de cada universidade federal, em alguns casos com muita instabilidade e crise. Quais são as propostas da empresa e em que ela resolve os problemas dos hospitais universitários? Cristiano - A EBSERH se baseia em três pilares: administração e gestão dos Hospitais Federais Universitários, apoio ao ensino e pesquisa no âmbito dessas unidades e a prestação de serviços de atenção à saúde integral, exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. O modelo garante a autonomia universitária, ou seja, a universidade é que decide sobre a adesão e contratação da EBSERH. Atualmente, dos 46 HUs Federais temos 23 sob nossa gestão. As propostas e benefícios são inúmeros, assim como os desafios encontrados, uma vez que cada HU possui características próprias: físicas, regionais, pessoal, modelo de gestão, etc. Trabalhamos para encontrar alternativas e oferecer aos hospitais projetos de excelência em infraestrutura, administração, compras compartilhadas, gestão de pessoas, tecnologia e saúde pública. O objetivo da gestão EBSERH é gerar qualidade, economia, eficiência e melhoria em escala, uma vez que estamos criando a maior rede de hospitais públicos do Brasil. Figueira - O Hospital Municipal tem quase 300 leitos, 210 médicos, quase mil servidores entre efetivos e contratados. A atenção exigida pelo hospital impede o município de dedicar-se com mais foco à atenção primária à Saúde. A transferência do HM para a UFJF e a consequente transferência para a gestão da EBSERH provoca quais impactos para o Hospital? Em que a gestão da EBSERH torna o hospital mais moderno, mais eficiente, mais próximo ao cidadão? Cristiano - A decisão sobre a adesão e contratação da EBSERH para administração em HUFs cabe à universidade. Com base nas informações das unidades que já assumimos, existe um caminho a percorrer até que a EBSERH possa definitivamente assumir o compromisso de gestão do hospital, pois cada caso é um caso. Primeiramente, é feito um dimensionamento da força de trabalho do hospital, respeitando os vínculos públicos (concursados) ali existentes; com essas informações é traçado um plano de ação e um plano de transição pactuado em contrato. A admissão de pessoal é por meio de concurso público, o modelo de contratação é a CLT. Existe um plano de cargos, carreiras e salários disponível em nosso site (www.ebserh.gov.br) aprovado pelo Ministério do Planejamento. Nossa previsão é uma média de ampliação em cerca de 70% do efetivo nos HUs que já efetuaram a adesão até o momento e que tiveram autorização de contratação pelo Governo Federal. Os HUFs
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio de 2014
Entrevista Cristiano Cabral
“O Hospital Municipal de Valadares poderá compor a maior rede de hospitais públicos do Brasil, gerando qualidade, economia e eficiência” Arquivo Pessoal
Figueira - Qual o passo a passo até a transferência para a EBSERH, em quanto tempo é possível fazer a transferência, como apresentar a transferência como um avanço e uma vantagem para a população de Valadares? Cristiano - A decisão local depende mais do município, pois tem que passar pela Câmara dos Vereadores, e da universidade, com a concordância da Secretaria de Educação Superior do MEC. Com certeza, um Hospital Universitário traz avanços importantes para a região onde está inserido, para a população e para os estudantes da área de saúde. Figueira - As manifestações de rua de junho passado exigiram Saúde padrão Fifa. Podemos falar de Saúde e Hospitais padrão EBSERH? Que padrão é esse? Está conectado aos anseios do povo brasileiro e reforça o Sistema Único de Saúde?
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Cristiano Cabral, valadarense que atua no governo federal, em Brasília
Quando eu morava em Valadares, nosso sonho era ter uma universidade federal local. Lembro-me de muitos amigos que se mudaram para estudar em uma universidade fora. Isso ficou no passado, hoje os mais jovens podem estudar perto de seus familiares.
são referência em alta e média complexidade na região onde estão inseridos, dessa forma a rede pública municipal pode focar seus esforços na atenção primária. Figueira - O HM atende a quase cem municípios da região do Médio Rio Doce. Um Hospital Regional está em construção, pelo Estado, na cidade. A federalização do HM altera esse quadro de atendimento regional? Cristiano - Um Hospital Universitário Federal na região beneficia não somente a população, mas também as práticas de ensino e pesquisa desenvolvidas na região. Estudantes, professores e pesquisadores terão à sua disposição um campo de prática e ensino para todas as áreas do conhecimento em saúde pública, consequentemente ampliação de vagas nos cursos e aumento de qualidade na área. Figueira - A Secretaria Municipal de Saúde encaminhou ao Ministério da Educação o processo de classificação do Hospital Municipal como Hospital de Ensino, entendendo isso como uma etapa da transferência do HM para a UFJF e para a gestão da EBSERH. É um passo necessário? Cristiano - Independentemente do hospital ser universitário ou municipal ele pode ser certificado como hospital de ensino. O que caracteriza essa condição é ele possuir a certificação, que atualmente é realizada por uma comissão conjunta dos Ministérios da Educação e da Saúde. Em seguida, o Hospital deve passar pelo processo de certificação para ser considerado hospital de ensino. É importante ressaltar que isto não é condição de sua transferência para a universidade. Critérios de contratação têm sido discutidos sobre este tema e a maioria dos HUFs atualmente possui essa certificação.
Cristiano - Estamos criando a maior rede de hospitais públicos universitários 100% SUS do Brasil. Em sua maioria, não estamos construindo novos hospitais, apenas assumindo situações pré-existentes e efetuando adequações, o que torna a tarefa exponencialmente mais complexa. Diferentemente de um estádio de futebol, um hospital não pode parar para ser demolido e reconstruído, vidas dependem da continuidade dos serviços. É preciso que tudo seja feito com o mínimo de interrupções, como abastecer um avião em pleno voo. Encontramos em cada hospital situações bem particulares, momentos e níveis de maturidade diferentes. Ao estudar cada caso, diagnosticamos e entendemos a nossa rede, para definir melhores práticas de gestão e assistência. Dessa forma, essas ações serão replicadas em toda a rede para melhorar de forma qualitativa e sustentável os processos através de modelos de referência. Por se tratar de hospitais públicos 100% SUS, reforça o sistema uma vez que se integra e torna-se referência para toda a rede de saúde pública da região. Figueira - Valadares está com 62 profissionais médicos no Mais Médicos e alcançará ainda neste ano 72% da população coberta pela Estratégia da Saúde da Família. Uma UPA 24 horas está por ser inaugurada na Região da Ibituruna. Em que a cobertura ESF e a UPA impactam o Hospital? Cristiano - A melhoria e a ampliação dos serviços públicos de saúde na atenção primária, principalmente em regiões mais necessitadas, desoneram muito as emergências e os atendimentos ambulatoriais de um hospital de referência, uma vez que problemas de baixa complexidade são resolvidos in loco sem a necessidade de encaminhamento para o hospital. Com isso, o hospital foca o seu atendimento em problemas mais complexos que não poderiam ser resolvidos nas unidades locais. O HUF por outro lado também apoia toda a rede, por exemplo, oferecendo treinamentos, consultoria, supervisão, resultados de exames, imagens e segunda opinião com o uso e integração de tecnologias em saúde. Figueira - Há alguma informação que você entenda ser necessária e relevante para a compreensão desse processo pela população? Cristiano - Quando eu morava em Valadares, nosso sonho era ter uma universidade federal local. Lembro-me de muitos amigos que se mudaram para estudar em uma universidade fora. Isso ficou no passado, hoje os mais jovens podem estudar perto de seus familiares e ainda aproveitar os benefícios que o ENEM trouxe para substituir o antigo vestibular das federais. Valadares já possui mais de 100 vagas no curso de medicina, ainda conta com cursos públicos federais nas áreas de Nutrição, Farmácia, Fisioterapia e Odontologia, além de outras áreas. São dezenas de profissionais que irão ampliar a atual oferta de serviços para a população, gerando demanda por campo de prática de qualidade para ensino, estágio e residência, principalmente em saúde pública, e contribui significativamente para o desenvolvimento da região.
Arquivo Pessoal
BravaGente
Fábio Moura
Fernanda Gonzales vai brilhar no Rio de Janeiro Fernanda Gonzalez (foto) é professora e coreógrafa, formada na Escola de Ballet Clássico Roselita Faria, em Governador Valadares, em 1994. Dirige com rara competência a Escola de Dança Imaculada Conceição, que iniciou suas atividades no ano de 1994 com aulas de ballet clássico nas dependências do Instituto Imaculada Conceição, hoje Colégio Franciscano Imaculada. Ela está preparando um grupo de alunas para representar Governador Valadares no 3o Dance in Rio Competição de Dança, evento cultural importante, realizado anualmente na cidade do Rio de Janeiro, com participação de grupos de dança de várias cidades e estados brasileiros. Governador Valadares é uma das representantes de Minas Gerais. Para ir ao Rio de Janeiro, Fernanda e suas alunas estão empenhadas em uma campanha de captação de recursos para custear a viagem. Conseguindo o apoio, as meninas vão dançar e brilhar no Rio de Janeiro, como fizeram no ano passado, quando conquistaram 5 troféus para Governador Valadares. A partir da próxima semana, os empresários de Valadares receberão o book de patrocínio e poderão viabilizar o show das meninas no Rio. Elas prometem brilhar sob o comando de Fernanda Gonzales. Bravo!
Eterno artilheiro! Gilmar Estevam escreveu seu nome na história do Esporte Clube Democrata de forma gloriosa. Em 1991, vestindo a camisa da Pantera, ele foi o artilheiro do Campeonato Mineiro, marcando 12 gols. Estes gols deram ao Democrata o título de vicecampeão Mineiro daquele ano. Depois, Gilmar foi Campeão da Taça Libertadores, vestindo a camisa do São Paulo FC. Jogou no futebol árabe e europeu. Voltou a Valadares e jogou novamente no Democrata nos anos de 1990. Mas em 2014, sua glória maior foi ser técnico da Pantera e levar o time de volta ao Módulo I do Campeonato Mineiro. Gilmar Estevam, orgulho da torcida democratense. Este é “Brava gente!”.
COTIDIANO Quando falta menos de um mês para o início do Campeonato do Mundo de Futebol do Brasil, os Média internacionais arrasam a organização do evento e culpabilizam a FIFA e o governo de Dilma Rousseff, pelos atrasos nas obras na maioria dos estádios que vão acolher os jogos da Copa. A revista germânica “Der Spiegel” dedicou a capa desta semana, à Copa do Mundo da FIFA 2014 e não poupa o Brasil pela desorganização e incumprimento de todos os prazos que tinham sido definidos, para concluir os estádios e todas as obras relacionadas com o evento. O jornal “Folha de São Paulo” também analisou a situação caótica em que se encontram a maioria dos estádios, dá-nos conta de que mais de 50% das obras previstas ainda não foram cumpridas e outras nem sequer vão ter continuidade a seguir à Copa do Mundo. Em 2004, Portugal caiu na asneira de organizar o Campeonato Europeu de Futebol, o governo fez investimentos descomunais na construção de alguns estádios de futebol que depois da competição ficaram às moscas. Ou seja, construíram-se três estádios (Aveiro, Leiria e Algarve) desnecessariamente. E foi a partir daí que a economia nacional quebrou. Atualmente, alguns dos estádios atrás referenciados estão à venda, mas não surgem investidores interessados. É verdade que nessa época, Luís Filipe Scolari conseguiu reanimar a população portuguesa para o Europeu Nacional e deu vida à seleção nacional que se encontrava moribunda. Mas no final do evento fizeram-se as contas e percebeu-se que alguns estádios não deveriam ter sido construídos. Já tive a oportunidade de visitar alguns estádios de futebol que vão acolher os jogos da Copa do Mundo de 2014. Fiquei chocado com o atraso nas obras circundantes aos estádios e a falta de segurança com que a maioria dos operários efetuam os trabalhos. A melhoria dos transportes públicos e a mobilidade urbana transformou-se num verdadeiro caos. Muitos dos aeroportos não vão ficar concluídos a tempo de receber os
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio 2014
D’outro lado do Atlântio
Os elefantes brancos pós-Copa José Valentim Peixe / De Lisboa milhares de turistas que vão chegar ao Brasil para acompanhar as seleções e a maioria das obras vão ficar inativas quando terminar a Copa. À semelhança do que se passou em Portugal em 2004, o Brasil vai ficar com alguns “elefantes brancos” a seguir à Copa, como é o caso da Arena Amazónica em Manaus, Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e a Arena de Cuiabá. Ou seja, a organização do Mundial podia ter poupado alguns biliões de reais na construção destes três estádios. Quem poderá ser culpabilizado por esta situação caótica que se está a viver no Brasil? O Governo naturalmente. A FIFA porque não fez uma fiscalização muito apertada. E a própria organização da Copa que demonstrou uma inabilidade no cumprimento dos prazos. Para além disso, fala-se em corrupção, desvio de verbas e falta de profissionalismo. Vão acontecer muitos protestos no Brasil antes, durante e depois da Copa do Mundo de 2014. Mas tudo isso poderá ser benéfico para o progresso e o futuro do próprio Brasil. É que às vezes os governantes aprendem imenso com os erros cometidos. Estou certo que esta Copa acabará por ser um grande aprendizado para muitos governantes brasileiros e para a própria FIFA. E partindo do princípio que Deus é brasileiro, havemos de ter Copa no Brasil mesmo que a maioria das obras nos estádios não estejam concluídas. A fé é a última a morrer. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação
FIFA Getty Images
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Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha
Quem poderá ser culpabilizado por esta situação caótica que se está a viver no Brasil? O Governo naturalmente. A FIFA porque não fez uma fiscalização muito apertada. E a própria organização da Copa que demonstrou uma inabilidade no cumprimento dos prazos. Para além disso, fala-se em corrupção, desvio de verbas e falta de profissionalismo.
Café com Leite
Cotidiano
Marcos Imbrizi / De São Paulo 50 anos de ditadura – “Hoje Santo André é a Capital do Mercosul”. Foi com estas palavras que o ex-presidente e atual senador paraguaio Fernando Lugo abriu a sua participação no encontro internacional 50 anos de ditadura no Cone Sul, que contou com a participação de representantes de países da região, que enfrentaram regimes militares. Além de depoimentos acerca das dificuldades enfrentadas durante o período, os participantes, como Rafael Follonier, secretário da presidência argentina, trataram de temas como a importância de a região se fortalecer de forma conjunta como democracia, para evitar novos golpes, a necessidade de se refletir sobre o papel das Forças Armadas na sociedade e, no caso brasileiro, de se rever a lei que anistiou os responsáveis pelos crimes de tortura. Presente ao evento, o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão Verdade no Estado de São Paulo, elogiou a realização: “É admirável o trabalho que os companheiros de Santo André e São Bernardo realizam. Ao trazer pessoas como o filho de Jango e todos os participantes, recuperam a história da América Latina”, concluiu. Café com Leite, será? – Recentemente a grande imprensa ventilou a possibilidade de o senador Aécio Neves ter como vice na chapa à presidência da República o ex-governador paulista José Serra, derrotado no segundo turno do pleito presidencial de 2010. O mineiro já teria até visitado Serra em São Paulo. Mas a retomada da política do Café com Leite entre Minas Gerais e São Paulo como na República Velha, parece, ao menos por enquanto, mais um balão de ensaio. São “especulações naturais” como disse o neto de Tancredo Neves à reportagem do jornal O Estado de São Paulo na semana passada.
A reportagem informa ainda que depois de uma série de nomes cotados para o cargo de vice, Aécio priorizaria a aliança com o Partido Progressista, tendo como vice a atual senadora Ana Amélia, do Rio Grande do Sul, estado onde o tucanato tem fraca representação. Um plano alternativo seria o senador paulista Aloysio Nunes. Vale lembrar que o orgulhoso José Serra, candidato a presidente em 2010, não contou com o apoio de Aécio, o que representou uma grande perda para sua candidatura. Além de tudo isso, o pré-candidato mineiro deve levar em conta também o alto índice de rejeição de José Serra junto ao eleitorado. Mas, assim como afirma a referida reportagem, a decisão deverá ser tomada aos 45 minutos do segundo tempo, e dependerá da real disposição do ex-governador paulista de compor a chapa. Ou seja, 14 de junho, data da convenção que confirmará Aécio Neves como candidato do PSDB a presidente e o seu vice. Copa Gringos – E em São Paulo, a Copa do Mundo de Futebol já começou. Por iniciativa do francês Stéphane Darmane, desde o mês passado está em disputa a Copa Gringos, que reúne 24 seleções de futebol society formadas por cidadãos estrangeiros que residem na capital paulista. Para as equipes que não contam com número suficiente de integrantes para formar um time é possível escalar até dois brasileiros. No próximo domingo (18) ocorrerão as oitavas de final com disputas entre Bélgica e Canadá, Portugal e Itália, Equador e Esperanto e Alpino (que reúne suíços e austríacos) e Congo. As finais do torneio estão previstas para 8 de junho.
Marcos Luiz Imbrizi é jornalista, mestre em Comunicação e ativista em favor de rádios livres
Vitória a Minas
Vadias de todo o Brasil, uni-vos! Vinícius Quintino / De Vitória Após o surgimento da Marcha das Vadias em 2011, a luta pelo direito das mulheres nunca mais foi a mesma. Em pouco mais de três anos, essas destemidas manifestantes ressuscitaram o movimento feminista e se fizeram ser ouvidas em todo o mundo. Aplaudido por uns e criticado por outros, esse polemico movimento ganhou notoriedade, marchando em nome da emancipação da mulher, pelo fim da violência sexual e contra qualquer prática machista. Aproximadamente oito anos antes, de forma comedida, porém não menos implacável, a pesquisadora mineira Miriam de Abreu Machado e Campos fundamentara importante Proposta de Emenda à Constituição (PEC n.º 93/03) na luta pela igualdade de gênero no Brasil: a inclusão do instituto da compensação de amparo na reforma previdenciária. O regime da compensação de amparo determina que todos os direitos previdenciários adquiridos na constância do casamento sejam somados e divididos em igualdade entre os cônjuges, independentemente de só um deles ter contribuído com a Previdência. Esse novo sistema pretende evitar a exclusão do cônjuge não contribuinte, por ocasião do divórcio, um dos mais perversos e sutis resquícios da tradição machista brasileira. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE, demonstrou que hoje 62% das famílias brasileiras ainda são sustentadas por homens. Dessa forma, somente eles acabam contribuindo com a Previdência Social e, consequentemente, adquirindo o direito de gozar de benefícios como o da aposentadoria. O problema ocorre quando, após anos de convivência,
o cônjuge ativo resolve por fim ao casamento, deixando o outro completamente desamparado. As consequências são graves. Vão desde sentimentos de impotência e sujeição até o abandono material propriamente dito. O objetivo da compensação de amparo seria o de, equiparando o trabalho da dona de casa àquele prestado fora do lar, garantir ao cônjuge inativo todos os benefícios previdenciários, e por direito próprio. Ocorre que a PEC 93 tramitou, ganhou atenção da mídia e após o desligamento de seu signatário, o ex-senador Augusto Botelho, encontra-se completamente esquecida na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.
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Aplaudido por uns e criticado por outros, esse polemico movimento ganhou notoriedade, marchando em nome da emancipação da mulher, pelo fim da violência sexual e contra qualquer prática machista.
A depender do Congresso Nacional, onde menos de 10% das cadeiras são preenchidos por mulheres, essa importante reforma jamais sairá do papel. Esperamos que o crescimento de manifestações como essas recoloque em destaque os projetos que lutam pelo fim da discriminação de gênero no Brasil. Certamente que não faltam causas à rebeldia dessas mulheres. Precisamos mais vadias nas ruas, precisamos de mais humanidade nas instituições. Vadias, mulheres, senhores e senhoras, a hora é agora, uni-vos!
Vinícius Quintino Oliveira é Mestrando em Gestão Pública e Servidor Público Federal.
Linchamentos, por quê? Paulo Vasconcelos A justiça feita com as próprias mãos continua fazendo suas vítimas país afora. Recentemente, um fato ganhou grande repercussão na mídia pela exposição à barbárie coletiva de um linchamento que culminou na morte da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos. Os casos de linchamento têm ganhado força atualmente, um dos motivos é porque as instituições do Estado estão deixando de ser referência para as pessoas que vivem em aglomerados urbanos e principalmente entre moradores de áreas menos favorecidas. A pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Ariadne Natal, em entrevista à Agência Brasil, declarou: “Não é qualquer pessoa que pode ser desumanizada e, portanto, linchada. As potenciais vítimas de linchamento carregam consigo a marca daquele que pode, em ultima análise, ser eliminado”, ainda sugere que pessoas com maior poder aquisitivo, estão mais bem protegidas. “Tanto que é muito raro identificarmos uma vítima de classe média entre as vítimas de linchamento. E não é porque não haja, entre a classe média, quem cometa crimes”. Não posso deixar de citar também José de Souza Martins, professor de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP, mesmo ao pontuar sua fala mais no assistencialismo e menos em uma sociedade igualitária, discorre sobre o fenômeno do linchamento com extrema habilidade. Martins diz. “Se você tem valores bem fundamentados, não vai participar de um linchamento. Ele envolve pessoas cuja referência social é frágil”. E continua: “As sociedades lincham quando a estrutura do Estado é débil”. O aspecto que mais me impressiona é o fato de que este caso em especial ganhou em notoriedade e causou espanto à maioria, por não ser Fabiane culpada de crime algum e, não pelo causticante erro de terem lhe tirado o dom mais precioso, que é a vida. Tocante às pessoas que participam deste tipo de tortura, são pessoas que se consideram melhores que a vítima e não enxergam a vítima como vítima, mas sim como uma entidade do mal que deve ser expurgada do meio em que vive a fazer o mal. As pessoas que participavam do linchamento chegaram ao ponto de considerar que a bíblia que a dona de casa carregava fosse um livro satânico, conforme conta a Carla Rosane Cunha Viana, de 47 anos, uma das poucas vozes que tentavam salvar Fabiane da loucura de seus algozes. “Eles falaram que era um livro satânico e tentaram rasgar. Não viram que era uma bíblia. Fui eu quem tirou o livro do chão”. Acho impossível que as pessoas não se sensibilizem com tais acontecimentos e continuem a propagar a violência pela violência. Dessas pessoas, a grande maioria tem como base de vida o cristianismo ocidental, mas age como se fosse regida pelo Código de Hamurabi, que prescreve, como regra, a pena de morte. Entendo como tolice e cegueira, reação desesperada dos que atiram a primeira pedra, convictos que seus erros simplesmente andam encobertos pela poeira do tempo ou a penumbra do esquecimento. Concordo com as bandeiras das causas legais e exijo o meu direito de cobrar daqueles que demos aval a nos representar. Diante da indignação capaz de fazer tropeçar essa parte da população brasileira, peço a Deus que não permita ao ser humano retroceder no tempo e perder as conquistas do próprio desenvolvimento, que devolva ao pensamento das pessoas o segundo mandamento de seu filho: “Amai ao próximo como a ti mesmo”. Porque, sendo inocente ou culpado, só tendo vida o ser humano poderá construir uma história eficaz em sociedade. Paulo Vasconcelos é educador, presidente do Conselho Municipal de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos
CULTURA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio de 2014
Cultura
Gabriel Sobrinho
O mundo que você idealiza João Bosco No mundo que você idealiza, seu filho estuda sete anos numa federal à custa de impostos, fazendo um curso que, se fosse numa faculdade particular do mesmo nível, custaria, no mínimo, sete mil reais mensais. Nesse seu mundo ideal, a globalização que interessa é somente aquela que gera prazer ou lucro para você. Nada de médicos estrangeiros que venham a interferir no futuro médico que a família está formando sem a ajuda de ninguém. É preciso ter uma boa reserva de mercado, ainda que ela custe a vida de milhares de brasileiros, e, muito menos você aceita trabalhar lado a lado com cubanos. Sim. Você critica tanto e não sabe informar como um país covardemente preso pelas artimanhas de outro, muito mais poderoso, consegue formar competentemente médicos e professores em abundância. Isso dói demais no seu coração amargurado, era tudo perfeito antes. Até o livro Quem mexeu no meu queijo era, para você, um best-seller a ser indicado aos que não conseguiram sucesso, mas agora, mexeram no seu queijo, e para complicar, estão repartindo a goiabada em parcelas de 74 reais mensais, com o singelo nome de Bolsa Família. O que para você é o fim do mundo, para milhões de brasileiros é sinal de esperança. Você quer uma bolsa mestrado e uma graduação gratuita, limitada a quem conseguir pagar dois mil reais de cursinho preparatório durante três anos, para o filho, mas uma bolsa alimentação para quem tem fome, você não quer. Você é demais, vai ao psicólogo pela manhã, à tarde passa pelo psiquiatra, passa feriados prolongados e férias a 1.500 km de casa, faz sua catarse matinal com personal trainer e critica veementemente quem bebeu cachaça e comeu torresmo com 74 reais que recebeu do governo para tentar acertar uma dívida social antiga. E você usa esse fato como se todos os outros recebedores do benefício fizessem assim.
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Gerson Sily é um artista genial, que soube superar as adversidades da vida por meio da arte, produzindo desenhos e pinturas
Artes Plásticas Gerson Sily
Um exemplo de superação pela arte Gabriel Sobrinho / Repórter Quem olha para as paredes da casa e observa os quadros pendurados imagina logo que as obras pertencem a grandes pintores nacionais. Em cada pintura é possível perceber a riqueza de qualidade e informações retratadas. Os temas são variados: Cultura indígena, viagens por diversas cidades do Brasil, linguagens abstratas, frutos, flores e até brincadeiras de criança. Tudo aqui vira tema para os quadros. Mas, por trás de cada um destes trabalhos, existe uma história de vida. Há 20 anos, Gerson Sily, 63 anos, teve um AVC (acidente vascular cerebral) e quinze dias depois um aneurisma, doença caracterizada pela dilatação anormal de um vaso sanguíneo no cérebro. A enfermidade deixou sequelas, o lado direito do corpo ficou paralisado. O diálogo com ele só é possível com intermediação da mãe, Maria Elizabeth Sily, uma simpática senhora com um pouco mais de 80 anos, pois o aneurisma deixou Gerson praticamente sem fala. As únicas palavras emitidas são “não”, “mamão” e “mama”, a última faz referência à mãe, que o ajuda desde quando teve os problemas de saúde. Tudo aconteceu de forma inesperada. Até os quarenta e três anos, antes de ser acometido pela as doenças, Gerson teve uma vida intensa. Formado em História e Filosofia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) foi trabalhar em Linhares, interior de Espírito Santo. Viajar e estar cercado de amigos e familiares eram os momentos mais prazerosos na vida de Gerson. Como diz o conhecido dito popular, ‘tem males que vêm para o bem’. Para o bem daqueles que são apaixonados por pinturas
e arte moderna. “Depois que ele teve a doença e passou aquele período do repouso, a ficha realmente caiu. Ele ainda era novo de idade, com pouco mais de quarenta anos. Alguma coisa tinha que ser feita, ele não podia ficar o resto da vida deitado em uma cama, ou dependente da cadeira de rodas. Foi então que o médico da família começou a nos orientar, nos mostrar que era importante para a saúde ele exercitar além do corpo, a mente também. A partir de então, procuramos um fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta e diversas terapias, isso tudo em cinco anos. Depois que os movimentos da mão começaram a voltar, o médico percebeu que ele tinha uma aptidão por pinturas, depois disto ele não parou mais, foi só aperfeiçoando”, conta a mãe. Em um pequeno e confortável cômodo nos fundos da casa, Gerson passa horas do dia em seu ateliê, aqui ele produz e pinta diversos quadros novos. Hoje, ele retrata com pincel trabalhos com qualidade e riqueza de detalhes. Em vinte anos, ele já pintou mais de quinhentas obras. O professor já as expôs em várias mostras culturais de Valadares, no Teatro Atiaia, Universidade Vale do Rio Doce, Praça dos Pioneiros e GV Shopping. “Hoje, graças a Deus ele tem uma vida normal. Não precisa de mim para mais nada. Acorda, toma banho, se alimenta e anda pela casa sem ajuda. Faz tudo sozinho. Ele tem uma cadeira de rodas elétrica. Acredita que ele sai para passear com ela e some? Isso mesmo. Sai e não tem horas para voltar. Hoje posso dizer que a pintura o curou. A pintura trouxe de volta para ele vontade de viver. Ele vive uma vida como de qualquer pessoa, claro dentro de suas limitações. Nunca deixamos de acreditar que ele daria a volta por cima e se recuperaria”, completa dona Maria Elizabeth.
Meu caro compatriota, uma nova mesa está sendo posta no país. Os farelos que você deixava cair da mesa e chamava de caridade aos que lambiam o chão de sua casa não servem mais como referência de amor ao próximo.
O mais interessante não é o fato de você fazer assim, você desde muito tempo está aí, nessa mesma posição, mas é o fato de muitos outros que sonhavam em fazer parte ou parecer fazer parte do seu grupo privilegiado, pagarem carros semiluxo em 48 prestações e viagens anuais em dez parcelas. Agora o que fazer? Isso não gera mais tanto ibope, isso não o coloca mais em destaque na sociedade, basta abrir uma página no facebook para presenciar algumas centenas de amigos fazendo faculdade e viajando para a praia. Seu pseudo ibope acabou, resta ainda fazer compras em Nova York. 14 novas universidades federais mais alguns institutos federais e mais de 200 mil vagas gratuitas em cursos a distância, colocam muita gente boa, para você nem tanto, lado a lado com você. Isso o incomoda, você está que não se aguenta. Sua cartada final é clamar pela ditadura e difamar os direitos humanos. Não, meu caro, direitos humanos não foram feitos para defender direitos de bandidos, como você vomita todo dia. Quando é o próprio Estado que erra, a quem se dever recorrer? Ao próprio Estado? Aos justiceiros, como quer você? Não, meu querido, você deve recorrer aos direitos humanos, entendeu, ou é para desenhar? Agora, na Ditadura Militar, quando o próprio “Estado” invadia as casas das pessoas, sumia com elas, torturava, matava, expulsava e não permitia a existência de grupos de direitos humanos, algumas pessoas se reuniam na clandestinidade para lutar por liberdade. Assim, os direitos humanos existem para que não se precise recorrer a um estado paralelo, mas o que você quer é meio estranho, não? Ditadura e justiça com as próprias mãos. Vai entender. Meu caro compatriota, uma nova mesa está sendo posta no país. Os farelos que você deixava cair da mesa e chamava de caridade aos que lambiam o chão de sua casa não servem mais como referência de amor ao próximo. Se andar de avião ao lado de professor de escola pública o incomoda, se deixar seu filho numa faculdade ao lado de um colega que não fez cursinho o incomoda, se prepare para o dia em que você dividirá com a sua empregada, o clube que você frequenta com a família em alguns fins de tarde e nos finais de semana. Colocar seu filho na mesma piscina com o filho dela vai ser duro para você, não vai? Liga não, seu filho nasceu em outra geração e, com certeza, está mais preparado do que você para viver a esperança de um tempo com menos fronteiras. João Bosco Pereira Alves é coordenador do Polo da UAB – Universidade Aberta do Brasil e membro da Academia Valadarense de Letras Dió Freitas
Cotidiano
Um exemplo e um legado Lucimar Lizandro No 12 de maio, lembramos a data de nascimento de um grande companheiro de várias lutas, que já não se encontra em nosso meio. João Domingos Fassarella marcou a existência daqueles que tiveram o prazer do seu convívio. Exercia a liderança de modo natural, conquistada no exercício diário, na relação política e social marcada pelo respeito e pela consideração àqueles que pensavam de forma diferente. Sempre expôs suas ideias com equilíbrio e bom senso, jamais fechando a porta na busca de soluções para as questões colocadas. Acreditava piamente na força dos argumentos, em oposição àqueles que viam na força o seu principal argumento. Na sua extensa jornada foi um construtor de pontes, ajudou na busca de consensos, portou-se de maneira digna e com a discrição necessária. A sua trajetória lhe conferiu amplo respeito e a estatura de um grande político, sendo admirado por seus correligionários, adversários e por vários setores da sociedade. Juntamente, com muitos de sua época, dedicou os melhores anos de sua vida à causa da democracia, enfrentando o regime autoritário de plantão. Não hesitou em colocar em risco a própria vida, além do sacrifício do convívio familiar. Num momento em que a vida política brasileira e os políticos enfrentam muito descrédito e questionamento, a sua memória e o seu legado nos fazem refletir e acreditar que outro modo de fazer política é possível. Ainda que não vivamos entre anjos e arcanjos. Ainda que saibamos que entre nós não baixou a perfeição. Mas, um pouco mais de discernimento, serenidade e uma separação mais nítida entre o público e o privado muito bem faria a nossa sociedade e à vida política brasileira, renovando a confiança na democracia e espantando em definitivo certos pendores autoritários que nos rondam nesses tempos difíceis que atravessamos. Também, no plano interno das instituições partidárias,
Fassarella era um homem do povo e esteve sempre ao lado dos trabalhadores. Respeitado pelos adversários políticos, era amado pelos seus pares o exemplo de altivez e desprendimento faz muita falta. Há lideranças que não conseguem dimensionar a importância do seu papel, que não conseguem conviver com as críticas e veem na disputa política interna e na ocupação irracional de espaços o seu objetivo principal. Esquecem-se dos compromissos maiores das instituições das quais participam e se esquecem da sociedade que tanto espera de suas ações. Ao lembrarmos de João Domingos Fassarella, o fazemos com um misto de alegria e saudade. Alegria pelo prazer do convívio e do aprendizado ao longo de tantos anos no Par-
tido dos Trabalhadores. Por outro lado, a saudade pela sua ausência física, há quase oito anos. Continuamos a nossa trajetória, na perspectiva da construção de uma sociedade mais justa e mais igualitária. O seu exemplo e o seu legado seguem a nos motivar e a nos encorajar nessa longa e árdua tarefa. Valeu, companheiro João Domingos Fassarella! Lucimar Lizandro Freitas é graduado em Administração de Empresas pela FAGV e Especialista em Gestão Pública pela UFOP
ESPORTES
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FIGUEIRA - Fim de semana de 15 a 18 de maio 2014
Copa do Mundo 2014
CBF diz que não pediu para pouparem Neymar AO HEXA, BRASIL!
Desmentido aconteceu porque vários órgãos de imprensa noticiaram que a CBF havia solicitado ao Barcelona que Neymar não jogasse contra o Atlético de Madrid
FIGUEIRA NA COPA
lipão quer receber os convocados no dia 26 de maio na Granja Comary, em Teresópolis, com “ritmo de jogo apurado”. “Não só quero que eles joguem como que sejam campeões. Isso vai aumentar o moral deles, a autoestima, e a Seleção Brasileira só tem a ganhar. Além de fazer com se apresentem em ritmo normal de jogo”, disse Felipão. Tudo bem com a nossa seleção. A O chefe do departamento médiCBF desmentiu notícias veiculada em co da Seleção Brasileira, José Luís vários órgãos de imprensa, que a en- Runco, também se manifestou sobre tidade teria feito um pedido para que a notícia improcedente. Runco vem o atacante Neymar não jogasse pelo acompanhando atentamente a situBarcelona no domingo, em partida ação de Neymar, em contato permacontra o Atlético de Madrid, decisiva nente com departamento médico do do Campeonato Espanhol. Mais: que, Barcelona, e por isso não vê sentido preocupada com o jogador, preferia na suposta vontade da comissão técque ele fosse poupado. nica de que o craque não atue no fim Segundo a CBF, a informação, de semana. “Essa é uma decisão que além de incorreta, é completamente cabe exclusivamente ao clube. Em oposta à orientação e ao pensamento momento algum existiu preocupação dos integrantes da comissão técnica com a escalação do Neymar, até porda Seleção Brasileira. que estamos cientes da sua condição O técnico Luiz Felipe Scolari já e não há motivo para temor”, disse. declarou, repetidas vezes, que vê de (Assessoria CBF) forma positiva a participação de joNão só quero que gadores convocados para a Copa do Mundo em partidas finais dos seus eles joguem como respectivos campeonatos. Ao contráque sejam campeões. rio, portanto, do que se noticiou, FeLuiz Felipe Scolari
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Assessoria de Imprensa CBF
A CBF enviou à FIFA, nesta terça-feira, a lista dos 30 jogadores selecionados pelo técnico Felipão, seguindo o protocolo da entidade internacional. Veja a lista completa: 1 - Alan Kardec (São Paulo) 2 - Bernard (Shaktar Donetsk) 3 - Daniel Alves (Barcelona) 4 - Dante (Bayern de Munique) 5 - David Luiz (Chelsea) 6 - Diego Cavalieri (Fluminense) 7 - Fernandinho (Manchester City) 8 - Filipe Luis (Atlético de Madrid) 9 - Fred (Fluminense) 10 - Henrique (Napoli) 11 - Hernanes (Inter de Milão) 12 - Hulk (Zenit) 13 - Jefferson (Botafogo) 14 - Jô (Atlético Mineiro) 15 - Julio Cesar (Toronto) 16 - Lucas (PSG) 17 - Lucas Leiva (Liverpool) 18 - Luiz Gustavo (Wolfsburg) 19 - Maicon (Roma) 20 - Marcelo (Real Madrid) 21 - Maxwell (PSG) 22 - Miranda (Atlético de Madrid) 23 - Neymar (Barcelona) 24 - Oscar (Chelsea) 25 - Paulinho (Tottenham) 26 - Rafinha (Bayern de Munique) 27 - Ramires (Chelsea) 28 - Thiago Silva (PSG) 29 - Victor (Atlético Mineiro) 30 - Willian (Chelsea) Tim Filho
Na tribuna, Edvaldo Soares disse que em breve o Democrata terá sua autonomia financeira e gestão moderna
Se Neymar vai jogar ou não no domingo, a decisão é do Barcelona, diz a CBF
Democrata recebe homenagem na Câmara pelo acesso ao Módulo I O Esporte Clube Democrata foi homenageado em sessão solene na Câmara Municipal, pela conquista do vice-campeonato mineiro do Módulo II e consequente conquista de uma vaga para a disputa do Módulo I em 2015. A sessão contou com a presença de dirigentes, membros da comissão técnica, funcionários, jogadores e torcedores. Após os discursos de praxe e do protocolo quebrado (o presidente da Câmara, Geovanne Honório, esqueceu de chamar o técnico Gilmar Estevam para compor a mesa), o presidente do Democrata, Edvaldo Soares dos Santos, fez um discurso marcado pelo otimismo e por uma alfinetada no seu grande rival no Módulo II, o Uberlândia E.C. Mais uma vez, Edvaldo Soares lembrou que o Democrata enfrentou algo mais que os adversários em campo, enfrentou forças estranhas no extra-campo. “Um torcedor nosso foi muito feliz
quando disse que o Democrata, quando enfrentava o Uberlândia, jogava contra 14. E era isso mesmo. Eles (o Uberlândia) tinham dinheiro e o Democrata tinha charme”, disse, arrancando gargalhadas de todos. O presidente disse ainda que o Democrata tem um projeto para tornar-se autônomo financeiramente e ter uma gestão moderna, e não um “paitrocinador” (referindo-se a ele próprio, que banca o clube). Este projeto, segundo Edvaldo Soares, será levado à Câmara em breve. “Como se trata de um projeto de interesse coletivo, conto com o apoio dos senhores vereadores e senhoras vereadoras para a sua aprovação”, disse. Ao final da solenidade, os gols da classificação da Pantera foram exibidos em um telão. A torcida presente vibrou e se divertiu com a narração de Domingos Neves, da TV Pantera.
Canto do Galo
Toca da Raposa
Pedro Zacarias
Ana Paula Barbosa
Imensa Nação Atleticana. Que felicidade. Semana passada, recebi a informação de que minha coluna teria, no máximo, 2.700 caracteres e eu que ainda não aprendi direito a escrever textos pequenos fiquei apavorado relembrando a recomendação do editor: “Vc pode ter textos maravilhosos e curtos”. Fácil pra ele que já faz isso há décadas, sempre traduzindo em belas palavras os pensamentos inteligentes que tem e não para esse simples escriba iniciante na arte midiática. Mas, nesta era de redução de palavras eu me rendo. Vou fazer essa coluna usando apenas três letrinhas. KKK. Só alegria. E a semana já prometia grandes emoções desde o domingo das mães quando o time dos “amigos do Marion” detonou o time do cruzcredo num jogo de superação e garra. Reclamações marianas à parte o que se viu foi um grande jogo e uma virada sensacional do Galo. Levir Culpi, o “Burro com sorte” vai dando ao Galo as feições de um time campeão e a mudança no esquema tático deu resultados. Lamentável mesmo apenas a forma preconceituosa como foi tratada a lindíssima bandeirinha Fernanda Colombo por um dirigente babaca do time perdedor. Por sinal, o mesmo que cobrou providências no caso do Tinga e que esbravejou aos quatro ventos que o seu time ia “atropelar” na Libertadores. Coisa de quem não gosta de mulher bonita mesmo, só pode... E para fechar com chave de ouro, na quarta-feira o meu secador “Ultra Power Tourmaline Ion Cerâmica 2000w – Taiff” voltou a funcionar bem e o Galo é o Brasil na Libertadores (pelo menos até que outro campeão seja declarado). A diferença é que nós atleticanos temos bom gosto e sabemos escolher os produtos de qualidade que existem no mercado. Ano passado as marias exauriram os estoques de secadores das Casas Bahia, compraram todas as velas pretas do mercado municipal, gastaram dinheiro com despachos e feitiços e nada impediu o Galo de ser campeão das Américas. Os foguetes que sobraram daquela final foram espocados pelos torcedores da “Galorenzo” no meio da semana. E como tem argentino em Valadares. Assim, os simpatizantes azuis pagaram pela língua afiada. Se em 2013 preponderou a força alvinegra do “Eu acredito”, esse ano a prepotência, a arrogância e a antipatia das marias ficaram perpetuadas pelo “eu tenho certeza”. Mas, futebol é a arte do imponderável e não há espaço para a certeza. Tudo se modifica o tempo todo dentro das quatro linhas e para superar resultados adversos é preciso ter raça, coragem e determinação, “objetos” que não são encontrados nas prateleiras da Toca. Pensando bem, aquele timinho fraco dos smurfs até que foi longe demais. Bem feito... Quem saiu por último é mulher do Papa.
Salve, salve, nação estrelada. Cheguei “chegando”, atendendo a um pedido (quase ordem) de Dona Assunta, a vizinha do Tim Filho, editor deste Figueira. Ela, que azucrina a vida da vizinhança no Grã-Duquesa, disse que não tinha mais tempo para escrever esta coluna. Cruzeirense doente, ela confiou a mim esta missão. E disse: “Vai lá, nega, senta o pau”. Eu aceitei por um motivo: meu pai, que é mais cruzeirense que Dona Assunta, vai ficar todo orgulhoso ao me ver aqui falando do Cruzeiro. Então, segura aí, meu povo, porque eu vou entrar de sola.
Conchavo no céu
Ai que povo chato são esses atleticanos. Saíram doidos pelas ruas gritando “Galourenço”. Que isso? Soltaram foguetes de tudo quanto foi jeito. Até fogos de artifício eles soltaram. E fizeram buzinaço, gritaram. Chatos de galocha. E o diagramador ainda põe um deles do meu lado? Ah, me poupem!
Pedro Zacarias de Magalhães Ferreira é Galo Doido e raulzito maluco beleza
O time do Papa ganhou. Deus é argentino, só
Ana Paula Barbosa é comerciária
O roubo no Horto Bem, vamos falar do clássico de domingo passado. O juiz passou a mão no Cruzeiro. E a bandeirinha Fernanda Colombo também... aiaiai. Não vou falar mal dela porque senão vão dizer que uma mulher está discriminando outra mulher. Mas a prova do roubo foi tamanha, que mandaram a bandeirinha para a reciclagem. Que isso? Pensei que reciclagem fosse apenas pra latinha de cerveja, papel, plástico...
pode. Deve existir um conchavo no céu para esse time ganhar e só a presidenta Dilma crê que Deus é brasileiro. Mas o Cruzeiro jogou muito mal. Aquele gol do San Lorenzo logo no início da partida desestabilizou o time dos Marcelos, o Oliveira e o Marcelo Moreno, que jogou com raça. Me lembrou o Felipe Augusto, da Pantera. A bola não entrava nem por reza. Ave, Maria! O Cruzeiro tava com uma zica danada. Bola na trave, bola nas duas traves, bola raspando a trave, bola batendo na rede pelo lado de fora, ninguém aguenta uma coisa dessas. E o juiz mais uma vez deu o ar da graça contra o melhor de Minas. Ele tava bem assanhado pro meu gosto. Confesso que eu pensei que o Cruzeiro ia fazer igual ao Demô contra o Social. Galourenço é a...