Fig 19

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Fim de semana com sol entre nuvens, sem chuva e com temperatura mínima de 11 graus centígrados. www.climatempo.com.br

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27o 11o

MÁXIMA

Não Conhecemos Assuntos Proibidos

MÍNIMA

ANO 1 NÚMERO 19

FIM DE SEMANA DE 1 A 3 DE AGOSTO DE 2014

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00

Taxistas estão na mira no MP No apagar das luzes de 2013, o Executivo Municipal enviou à Câmara de Vereadores um Projeto de Lei a fim de regulamentar a atividade dos taxistas no município, que dispõe sobre uma série de atribuições, que vão desde a padronização e identificação dos veículos até a conduta dos permissionários. Pela proposta, os táxis terão de ser padronizados na cor branca com uma identificação individual pela numeração; o permissionário passa a ter a obrigatoriedade de exercer a atividade, com até dois auxiliares, no máximo; e o fará no prazo de 25 anos, período improrrogável da concessão. A regulamentação do serviço é urgente, já que muitos usuários reclamam que alguns taxistas fazem corridas sem ligar o taximetro, cobrando preços exorbitantes. O Ministério Público diz que está atento e vai coibir os abusos. Páginas 6 e 7.

Fábio Moura

Tim Filho

Na Rodoviária, uma placa da Prefeitura, Ministério Público e sindicato da categoria, orienta os taxistas a não saírem para uma corrida sem ligar o taxímetro

NESTA EDIÇÃO

Gabriel Sobrinho DFB

O Sindicato dos Servidores Municipais de Governador Valadares (SINSEM/GV) tem novo presidente: Waldecir Morais. Ele e Wildes Araújo (vice-presidente) encabeçavam a Chapa 2, eleita no dia 24. A apuração durou quase 9 horas.A Chapa 2 foi vitoriosa com pouco mais de 50% dos votos. Dos três mil sindicalizados aptos a votar, mais de mil e seiscentos deixaram suas cédulas nas onze urnas distribuídas pela cidade. Os eleitos assumem o sindicato até o fim deste mês. Página 8

Mario Götze, da Alemanha, usa cabelo “comum”

Questões do futebol Brilhante como sempre, Jorge Murtinho aborda em sua coluna “Questões do Futebol”, uma série de assuntos interessantes, dentre estes, o corte de cabelo dos “boleiros”. E observa: os jogadores da seleção alemã entram em campo com penteados que qualquer barbeiro de trinta reais é capaz de fazer, estão se lixando para quem vai ser o artilheiro do time, não se atiram no chão a cada disputa de bola e jamais comemoram seus gols com provocações idiotas. Página 5

Saúde da Família Os moradores do bairro Turmalina estão tendo uma oportunidade ímpar nas ações de saúde da família. Uma parceria entre a Prefeitura e a Associação das Artesãs Força e Vida do Turmalina está proporcionando uma atividade terapêutica que transforma retalhos em arte. Os retalhos coloridos ganham formas diversas nas mãos dos membros do grupo de arte e terapia do Núcleo de Apoio à Saúde da Família IV (Nasf) de Valadares. Saiba mais sobre este projeto na Página 11

BRAVA GENTE

Felipe Augusto, ex-Democrata, está fazendo muitos gols pelo Madureira, na Série C do Brasileiro. Página 9

Chapa 2 vence eleição no Sinsem/GV

SACUDINDO A FIGUEIRA

O mercado com medo de Dilma? Após 12 anos não cola mais. PRAÇA DE ESPORTES - Uma parceria entre a Prefeitura e a Universidade Federal de Juiz de

Fora / Campus Governador Valadares pode salvar a Praça de Esportes do sucateamento. A administração da Praça disse que teve de se virar para impedir o pior. Reivindicou o decreto que liberou permutas com parceiros que utilizam a praça. Neste acordo não há pagamento em dinheiro, e sim troca de serviços. Saiba mais na Página 4

E mais: Aecioportos... Página 3

E MAIS...

Parlatório

Notícias do Poder

O Exame da OAB deve deixar de ser exigência obrigatória para o exercício da advocacia?

O perfil do eleitor brasileiro segundo relatório do TSE

O advogado Caio Mourão diz que NÃO. E diz mais: o exame não é nenhum bicho de sete cabeças. “O Exame de Ordem é um bastião do direito brasileiro”. O jurista André Souza não é contrário ao exame, mas é contra sua aplicação pela OAB. Para ele, a OAB “não possui natureza jurídica educacional e com isso ela não possui competência para aferir proficiência dos graduados em Instituições de Educação Superior credenciadas pelo MEC”. Página 2

O jornalista José Marcelo revela os números de um relatório do TSE, que mostram um crescimento do eleitorado em 5,19% também mostram dados que podem direcionar as estratégias de discurso e até o público a quem o candidato vai se dirigir. Na avaliação de um cientista político, de um dos mais importantes institutos de consultoria de Brasília, numa primeira leitura, a candidatura tucana é que tem mais a perder e a candidatura do PSB é a que tem mais a ganhar. Saiba mais lendo a coluna Notícias do Poder. Página 12


OPINIÃO

Editorial

FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

Tim Filho

Onda de frio continua em Valadares

E o “príncipe” vem a público dar explicações Contra fatos, nenhum argumento se sustenta, e é o que se pode verificar da explicação dada pelo ex-governador e candidato à presidência da República, o tucano Aécio Neves, o “príncipe das Gerais”, em edição de 31 de julho na Folha de S. Paulo. Apenas repetiu o que já havia sido dito, mas sem contestar a utilização de recursos públicos, primeiramente na década de oitenta, com a construção de uma pista de pouso em terras particulares de familiares da então primeira dama do Estado, Risoleta Neves – o que motivou a ação contra o tio-avô de Aécio Neves. Posteriormente, em 2003, a construção de um aeroporto de 13,9 milhões de reais naquelas mesmas terras, agora desapropriadas pelo Estado, num município de pouco mais de 25 mil habitantes e que fica a uma distância de apenas 36 quilômetros do aeroporto de Divinópolis. A denúncia foi publicada pela Folha de S. Paulo, pela primeira vez, em 20 de julho. Só 11 dias depois uma explicação do protagonista da matéria. Embora tardia, e mesmo sem explicar coisa alguma, a “explicação” valeu, pelo simples fato de ter sido necessária. Eleição é política. O resto é marketing... Até agora, campanha morna, eleitor desinteressado, ressaca de um ano que ainda não começou. A partir desta segunda-feira, 4 de agosto, quando a TV Globo passa a cobrir a rotina dos presidenciáveis, a campanha começa a esquentar. Cada um a seu modo e de acordo com sua estratégia de marketing, protagonizará fatos – reais ou induzidos, para estar na mídia. Mas, campanha mesmo, para valer, só com o início do programa eleitoral gratuito, na TV e no rádio. A TV é, sem dúvida, um agente de mudança de votos, sobretudo para os indecisos e os não partidários, de forma a que o eleitor só começa mesmo a se interessar por eleições quando começa a campanha na televisão, e nos últimos quinze dias a sua atenção redobra. O que para muitos pode parecer um mal, já que ao demonizar a política também deram de demonizar o marketing, como se esse fosse o responsável único por todas as mazelas eleitorais, nos parece um bem, pois a publicidade eleitoral é um dos principais elementos para o desenvolvimento da cultura política e da cultura cívica e um dos mais importantes para a decisão do voto, pelo menos para os segmentos sociais menos favorecidos economicamente, os quais representam a maior porcentagem de eleitores logo, de votos. É preciso desmistificar a ideia de que o Marketing ganha ou perde eleições. Eleição se dá, especialmente, no campo da política e, claro, o marketing eleitoral subsidia e se inter-relaciona com a política de modo a dar forma ao discurso, neutralizar resistências, romper a espiral do silêncio, criar clima de opinião. Mas, sem o fazer político, não há marketing que dê conta deste ou daquele candidato, pois que eleição é política, o resto é marketing.

Parlatório O Exame da OAB deve deixar de ser exigência obrigatória para o exercício da advocacia?

A OAB engana a sociedade e descumpre a Constituição SIM

Incrível como, mesmo aqueles que deveriam conhecer pesquisas, se envolvem na guerra de números que os diferentes institutos apresentam, até que, às vésperas da eleição, uma semana, dez dias antes, para não perderem a credibilidade, começam a se aproximar uns dos outros. Faz parte. Em Valadares isso já virou moda. Pesquisas as mais estapafúrdias ganham manchetes de jornais e se apresentam como a verdade absoluta. Depois, fazem água. Nestas eleições, não tem sido diferente. Uma pesquisa por dia, praticamente. Desde diferença de 10 pontos a empate técnico dos mesmos candidatos, tem de tudo um pouco. Sobram números, falta seriedade, com as raras e honrosas exceções de sempre. Então, é esperar pelo menos até o início de setembro e, para os iniciados, é só prestarem atenção ao movimento dos candidatos para saber se eles acreditam nos números que seus comitês divulgam.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Áurea Nardely de Magalhães Borges Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

André Souza

A Ordem dos Advogados do Brasil não pertence à administração pública direta ou indireta, não é uma autarquia ou um conselho de classe. Observe-se que os conselhos estão compelidos à prestação de contas ao TCU – Tribunal de Contas da União, o que não é o caso da OAB. A OAB não esta elencada na Constituição Federal no rol das Unidades Federativas e, por isso, não possui competência tributária para instituir taxa. A OAB não possui natureza jurídica educacional e com isso ela não possui competência para aferir proficiência dos graduados em Instituições de Educação Superior credenciadas pelo MEC. Fácil, simples, mas o tráfico de influência no Brasil vale mais que a nossa Constituição Federal. “É mais fácil enganar as pessoas, do que convencêlas que foram enganadas”, registrou o escritor Mark Twain. Por isso, luto contra o Exame da OAB, porque está mais fácil a OAB enganar toda uma sociedade, com argumentos sofistas, do que demonstrarmos a esta mesma sociedade que a OAB, sem natureza jurídica educacional, não possui prerrogativas para aferir proficiência dos graduados, dos bacharéis. A OAB transformou os cursos jurídicos que deveriam

ser respeitados pela formação acadêmica em cursinhos preparatórios para o seu exame, em prol de uma arrecadação sem prestação de contas, à custa dos sonhos de milhares de famílias em todo o país. É importante lembrar que, para que o Direito tenha efetividade, é necessário que se respeitem as formalidades. O que difere um vidro de carro para um copo Nadir Figueiredo é exatamente a forma! Sem respeito à Constituição Federal, acaba a advocacia. Dessa forma, perde a Democracia, perde a liberdade, perde a nossa nação!

A OAB não possui natureza jurídica educacional e com isso ela não possui competência para aferir proficiência dos graduados em Instituições de Educação Superior credenciadas pelo MEC. Fácil, simples, mas o tráfico de influência no Brasil vale mais que a nossa Constituição Federal.

André Souza é jurista e jornalista.

Exame de Ordem, o bastião do Direito brasileiro

Pesquisas eleitorais

Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo Responsável pelo Portal da Internet Enio Paulo Silva http://www.figueira.jor.br

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NÃO

Caio Mourão

Existe em torno do Exame de Ordem uma demonização injustificável. Lê-se, ouve-se dos mais variados argumentos para contestá-lo. Ocorre que a Ordem dos Advogados do Brasil, por meio desse exame, presta um serviço à sociedade brasileira ao exigir dos bacharéis de Direito a aprovação, como condição para o exercício profissional. O profissional do Direito (como qualquer outro) é um indivíduo que deveria buscar a qualificação diariamente, tamanha a exigência do mercado e a variação dos nossos códigos e leis. Nem sempre isso é o que se estabelece. Aliás, essa qualificação deveria vir desde os tempos dos bancos universitários. Com a proliferação de faculdades de Direito pelo Brasil, hoje, em diversas cidades (inclusive Governador Valadares), o número de vagas é quase igual ao de candidatos. O vestibular não serve de menor parâmetro em relação à apuração daqueles que realmente querem seguir no Direito, e principalmente, estão preparados para fazê-lo no momento. A partir daí, os professores e mestres se veem obrigados a ministrar um conteúdo compatível com o público receptor que, por sua vez, não foi filtrado de forma devida pelos nossos vestibulares. Se esses profissionais apenas desaguassem nos tribunais e audiências país afora, que tipo de qualidade de serviço estaríamos prestando? Quando um erro jurídico cometido por um advogado é percebido, certamente na maioria das vezes o seu constituinte já fora prejudicado de forma irreversível. Portanto, é um controle que a OAB faz, já que os órgãos educacionais fecham os olhos para a realidade. Aplicar essa espécie de vestibular para os bacharéis

é uma forma de salvar a credibilidade da classe com a sociedade, resguardando um mínimo de confiança no cidadão comum ao buscar um profissional da área. Aos que alegam ser uma reserva de mercado – o que concordo, vejo como um mal necessário. Além da já citada qualidade profissional que certamente sofreria um declínio vertiginoso, sem o exame seriam mais de 2 milhões de profissionais no mercado por ano. Se o sistema judiciário está muito longe de ser célere, com esse número seria o caos.

O exame não é nenhum bicho de sete cabeças. Talvez seja até uma deficiência. Qualquer universitário dedicado, que se condicione bem em um cursinho preparatório, terá acesso à “receita” e obterá aprovação.

Há quem critique o Exame por, supostamente, ser uma fonte poderosa de renda da OAB. Imagino que se a OAB ao invés de receber inscrições para a prova, recolhesse dois milhões de anuidades, seria uma instituição das mais ricas do país. Por fim, o exame não é nenhum bicho de sete cabeças. Talvez seja até uma deficiência. Qualquer universitário dedicado, que se condicione bem em um cursinho preparatório, terá acesso à “receita” e obterá aprovação. Mas, se não é a ferramenta ideal, é a de que hoje dispomos para manter um mínimo de qualidade técnica e a viabilidade do sistema judiciário nacional. Caio Henrique Mourão é advogado e estudante de Jornalismo

NOTA DA REDAÇÃO - O número de estudantes universitários no Brasil hoje beira 8 milhões, sendo 800 mil nos quase 1.300 cursos de Direito (apenas o curso de Administração tem matrícula maior). Só os Estados Unidos e a Índia têm mais estudantes de Direito que o Brasil (A China, por não viver um sistema democrático não apresenta forte demanda por formação na área do Direito). A diferença é que nos Estados Unidos e na Índia os estudantes de Direito concentram-se em um número muito menor de cursos (ou escolas). A cada ano, no Brasil, cerca de 250 mil novos estudantes de Direito se matriculam, mas o número anual de formandos é metade disso. Há 4 milhões de bacharéis em Direito no país, dos quais o número de 800 mil advogados (OAB) vem se mantendo estável. O Exame da Ordem apresenta um número bem maior de candidatos que o de concluintes do curso a cada ano, por causa do estoque de bacharéis.


CIDADANIA & POLÍTICA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

Da Redação

Sacudindo a Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto

Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

De onde menos se espera, daí é que não sai nada. Apparício Torelly Barão de Itararé

Sem Pimentel, mas com muito tempero Ao final da tarde do dia 25 de julho, foi inaugurado o Comitê de Campanha Dilma Presidente/Pimentel Governador/Josué Alencar Senador. Mais de mil pessoas se aglomeraram no espaço da Rua Benjamin Constant, 357, quase na Marechal Floriano. A visita prometida do candidato a governador Fernando Pimentel não ocorreu, pois ficou impedido de voar por causa das chuvas fortes, mas o clima no comitê era de festa, com presença de todos os candidatos a deputado estadual e federal dos partidos da coligação Minas pra Todos: PT, PMDB, PROS, PCdoB e PRB. Em Valadares o Comitê é gerido também pelo PV, PSB, PSD e PPL, espelhando a aliança do governo municipal. O casarão e a quadra coberta do Comitê estão abertos dia inteiro, com muita movimentação.

Muito mais pela nossa cidade O ex-presidente do Esporte Clube Democrata, Edvaldo Soares, inaugura o seu comitê, da campanha para deputado estadual pelo PMDB, no 1º de agosto, às 19h30. O Comitê é na Rua Barão do Rio Branco, 283, no Centro. Edvaldo é também o doador do terreno de quase um milhão de metros quadrados em que está sendo construído o Campus Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora.

O mercado com medo de Dilma? Após 12 anos não cola mais Reeditando falas do empresário brasileiro Mário Amato, em 89, de que se Lula ganhasse as eleições 800 mil empresários deixariam o país, e do megainvestidor internacional George Soros, em 2002, de que a eleição do Lula seria o caos nos mercados, o banco Santander, em aviso a clientes ricos afirmou que, “se a presidente Dilma subir nas pesquisas de intenção de votos os juros e o dólar subirão e a Bolsa cairá”. Depois, pediu desculpas “protocolares”, como as entendeu a presidenta. Ora, mesmo sendo inócuo, já que o percentual de “gente rica” não influencia em nada as eleições, difícil entender em que este governo ameaça os bancos cujos lucros trimestrais no Brasil são os maiores do mundo. Que os ricos não toleram o Partido dos Trabalhadores, nada de novo. O que há de novo: empresas que sempre jogaram com o conservadorismo às escondidas, colaborando com a ditadura, por exemplo, agora se sentem confortáveis para abrir o jogo.

Só para lembrar

Aecioporto 3

Também o Itaú teve que vir a público pedir desculpas. Na virada do ano entregou agendas com o 31 de março marcado como dia da Revolução. A reação partiu de clientes e ele teve de recolher as agendas. Ousou demais. Não fez conta que os tempos mudaram e que os correntistas não são os mesmos de antes.

Bom, questionados pela Folha de S. Paulo, “empresários da cidade de Cláudio afirmam que a demanda por voos na cidade é pequena, mas acham que o aeroporto local pode induzir o desenvolvimento local”. Ainda na Folha, foram identificadas apenas duas empresas que usam aviões particulares, mas é no aeroporto de Divinópolis que seus diretores embarcam e desembarcam. Bom, mas o aeroporto fica na fazenda do tio-avô e a apenas a 6 km da fazenda do ex-governador Aécio Neves, o seu “refúgio preferido”, ou, como ele prefere, o seu “Palácio de Versalhes”..

Aecioporto 1 Com pouco mais de vinte e cinco mil habitantes, Cláudio, passou as históricas Ouro Preto e Itabira, Sete Lagoas, Lagoa da Prata, Brumadinho onde está localizado o Inhotim, entre outras cidades de Minas que faziam parte do programa ProAero – lançado no governo Aécio Neves (2003/2010). De acordo com o Programa, 14 novos aeroportos seriam construídos. Só saíram do papel o de Rio Novo e o de Cláudio, “um município de pequeno porte econômico” (sic) como está dito na página oficial da Prefeitura. E mais, que fica apenas a 36 quilômetros do aeroporto de Divinópolis, bem menos que a distância entre a rodoviária e o aeroporto de Confins em BH. O que justificaria um investimento de quase 14 milhões de reais dos cofres do Estado num aeroporto que até hoje não foi homologado pela Anac e cujos portões ficam trancados com chaves sob os cuidados da família do proprietário da fazenda onde o aeroporto se localiza? Aecioporto 2

Força, Dilma! A Força Sindical deixou o Paulinho da Força falando sozinho. Ele havia forçado o apoio aos candidatos do PSDB nas eleições presidenciais mais recentes. Os dirigentes da Força declararam nesta semana apoio à candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição, para não haver retrocesso nas conquistas dos trabalhadores, especialmente, no valor do salário mínimo.

Força em Valadares O grupo da Força Sindical desalojou o da CTB que estava frente ao Sindicato de Servidores Municipais. O curioso é que no grupo novo, apoiado pela Força, há pelo menos cinco filiados ao PCdoB, partido que é base de sustentação da CTB. Para ver como é que fica...

PMDB e PSDB em dobradinha Fontes muito bem informadas contam que é forte a relação do deputado Leonardo Quintão, do PMDB, com o PSDB de Valadares. Se não vingou a ideia de aliança do seu partido com o tucano Aécio Neves, defendida por ele, nem por isso desistiu da dobradinha pouco ortodoxa. Vamos ver como a coisa evolui.

Um banco não produz nada, não é uma indústria de cimento ou ração. Vive da movimentação financeira de milhões de clientes. Ao indicar posição, está considerando que sua clientela o acompanha, não considera que há um terço entre eles que diverge e entende que o país está sob condução adequada. Ora, se o banco estivesse tão seguro da sua posição, não viria a público pedir desculpas. E ainda que estivesse, é inadmissível que se meta de forma tão tendenciosa nas eleições brasileiras, mesmo porque, na Espanha, que é a sede do Santander, e atravessa crise prolongada, o mesmo banco não se posiciona no processo eleitoral. Em tempo: o Santander é ligado à Opus Dei, um ramo conservadoríssimo, da direita católica. Nisso, os judeus banqueiros são melhores. Desenvolveram capacidade de atravessar os tempos conscientes de que estão lidando com dinheiro alheio e que o alheio pode não ter o mesmo modo de pensar do dono do banco.

Vejamos: - o dono da fazenda onde se localiza o aeroporto é tioavô do ex- governador Aécio Neves; - a desapropriação do terreno abriria a possibilidade para que o tio-avô, Múcio Tolentino, dono da fazenda, se livrasse de pendência judicial antiga com o Estado, devido à construção de uma pista de pouso executada em parceria da Prefeitura com o Estado quando era ele o prefeito da cidade e seu cunhado Tancredo Neves era o governador.

Ouve-se nas esquinas de Valadares:”cole um adesivo e concorra a um aeroporto particular”. Concorre com o José Simão, da FSP: “Sou contra a Bolsa Aeroporto. Em vez de dar aeroportos para os parentes, tem de ensinar a voar.”

Aecioporto 4 Para o governo de Minas, está tudo dentro da legalidade e, portanto, nada há para ser explicado. Para o ex-governador e atual candidato à presidência da República, está tudo devidamente explicado. Está? E para a imprensa mineira o assunto não merece relevância. Fora um ou outro articulista, de forma muito tímida, reina o silêncio. Que nos socorra Nossa Senhora do Perpétuo Espanto! Ou, como disse a presidenta Dilma “são dois pesos e umas 19 medidas”... “2 pesos e umas 19 medidas” “Nessa história da relação com o PT tem dois pesos e umas 19 medidas. Porque o mensalão (do PT) foi investigado. Agora, o mensalão mineiro (do PSDB), não”. Dilma Rousseff (em entrevista ao uol em 28 de julho de 2014). “O agronegócio é a FIFA do Brasil” “O território indígena está correndo um perigo imenso com o agronegócio, que é a FIFA do Brasil. Que poder é esse, que não foi eleito e que exerce uma grande coerção principalmente na imprensa? O agronegócio é responsável por 3% do PIB brasileiro, mas a impressão é de que é de 50%. Hoje botaram um punhado de deputados e senadores no Congresso para representar o interesse deles”. Sebastião Salgado (em entrevista ao jornal Hoje Em Dia, de 28 de julho de 2014).


CIDADANIA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

ESPORTE E LAZER

Prazer, Praça de Esportes! Espaço para a prática de esportes e ambiente para o lazer da comunidade, a Praça de Esportes, localizada na área central poderia ser bem mais cuidada, não fossem as limitações financeiras da Prefeitura. Uma parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), campus Valadares, vai garantir a reforma dos banheiros, dos vestiários do Ginásio Coberto e da sala de avaliação Gabriel Sobrinho

Gabriel Sobrinho / Repórter “Moço, como eu faço para jogar bola aí dentro? Preciso pagar alguma coisa?” O porteiro da Praça de Esportes afirma que dezenas de vezes por dia, a criançada que passa do lado de fora questiona como fazer para utilizar o local. Há mais de 20 anos a praça é referência na prática esportiva na cidade. Hoje, o cenário continua o mesmo, mas com outras características. Por aqui, as babás trazem as crianças para se divertirem nos parquinhos, os idosos utilizam a “academia da melhor idade”, ainda tem aqueles que exercitam o corpo nas aulas de natação e hidroginástica. Ocupando a metade de um quarteirão no centro da cidade, a Praça de Esportes recebe em média mais de 100 crianças por dia. Nas primeiras horas da manhã ou quando o sol está mais brando, no final da tarde, não há um horário específico, babás e mães levam as crianças para passearem de bicicleta, brincarem nos parquinhos e se esbaldarem no banco de areia. Balanços, escorregadores, gira-gira e labirinto, não faltam opções para os pequenos se divertirem. Lá encontramos crianças quase o dia inteiro. Babá de Paulo Vitor de quatro anos, Rosângela do Reis, 23, traz o pequeno até a praça todos os dias pela manhã. A exigência foi da mãe, que prefere o local devido ao contato com as outras crianças de diversas idades. “Cuido do Paulo há mais de um ano. Ele adora vir brincar aqui. Ele mora a um quarteirão da praça e, no Centro, faltam espaços como este. Aqui é diferente, o espaço é aberto e arejado. O único problema é a segurança dos brinquedos, temos de redobrar a atenção. Muitos não estão em uma condição boa de uso. Muita ferrugem e com pontas cortantes à mostra. Isso é perigoso”, conta Rosângela, que emenda: “também ouço mães reclamando que o motor que aquece a água da piscina, onde os alunos têm aulas, não funciona.” Realmente, manter toda essa estrutura não tem sido fácil para a Prefeitura, e administrar a Praça de Esportes não tem sido uma tarefa tranquila, explica o diretor, Geivison Patrocínio, para quem faltam recursos de manutenção. É verdade que o motor que aquece a água da piscina não funciona, por isso, nesse período frio, a solução foi fazer uma pausa geral para os alunos, aproveitando o período de recesso nas escolas. Mesmo porque, explica Geivison, muitos aproveitam as férias do meio do ano dos filhos para viajar. Nessa época, a frequência de alunos cai e, então, preferimos suspender as aulas”.

As babás se encontram na Praça de Esportes, onde há um pequeno parque com brinquedos para o lazer das crianças. Local precisa de manutenção e limpeza

A diretora do Departamento de Esportes da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Governador Valadares, Renata Lugão, ressalta que todo esforço para manter a Praça acessível à comunidade tem sido feito, com parcerias e permutas com instituições da cidade. “Aqui, no município, as dificuldades financeiras são grandes. Tínhamos que arrumar uma forma de nos mexer e não deixar a Praça virar uma sucata. Corremos atrás, e no final do ano passado saiu um decreto que liberou permutas com parceiros que utilizam a praça. Neste acordo não há pagamento em dinheiro, e sim troca de serviços. Quando precisam utilizar o Ginásio para um evento, por exemplo, o contratante fica com a responsabilidade de fazer um reparo na pintura onde for necessário, ou um ajuste na energia. A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), campus Valadares, é uma de nossas parceiras. Agora, farão a reforma dos ba-

nheiros, dos vestiários do Ginásio Coberto e da sala de avaliação física”, completa Renata. De acordo com o gerente administrativo do Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora, Ricardo Grunewald, a UFJF escolheu a Praça de Esportes para ser utilizada para aulas práticas do curso de Educação Física, por causa da qualidade da infraestrutura, localização central e pelo custobenefício. “Atualmente, utilizamos somente a piscina nas segundas-feiras e o Ginásio Poliesportivo, mas para os próximos semestres há uma previsão de utilização da quadra e da sala de dança. Foi acordado com a Secretaria de Cultura e Esportes que a UFJF utilizará as dependências da Praça até o Centro Esportivo do novo Campus de Valadares ficar pronto, e em contrapartida a universidade irá auxiliar na modernização da infraestrutura dos espaços públicos. Estamos utilizando a Praça desde o início do curso de educação física, em março deste ano”, conta Ricardo.

Problemas sempre aparecem, e estamos aqui justamente para solucioná-los, explica o diretor Geivison, mas muitas coisas boas acontecem aqui. A Praça está aberta para toda a comunidade valadarense, e muitos perdem a oportunidade de praticar um esporte acompanhado por profissionais de qualidade. É ele quem destaca: “Oferecemos aulas de natação, hidroginástica, alongamento, futsal, voleibol e basquete, isso tudo para todas as idades e diversos turnos ao longo do dia. Na natação, temos turmas para portadores de necessidades especiais. Tudo acompanhado por oito profissionais da Educação Física”. Geivison lembra que as aulas são totalmente gratuitas, e que ainda há vagas para quase todas as modalidades. “Basta que as pessoas interessadas venham até aqui portando seus documentos pessoais. Se for criança, precisa estar acompanhada dos pais”. Gabriel Sobrinho

Área que se destina aos vestiários e setores administrativos da Praça de Esportes, com a piscina em primeiro plano. Poucas pessoas sabem que podem usufruir deste espaço e praticar esportes como a natação


POLÍTICA 5

FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

EBC

Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília

Aécioporto Um empresário que acompanhou a entrevista do senador Aécio Neves (PSDB) após debate na Confederação Nacional da Indústria (CNI) em São Paulo, reclamou da recusa do candidato a presidente em falar do documento elaborado pela assessoria, em que o senador admite o “uso eventual” da pista para pousos e decolagens construída em terras do tio-avô do ex-governador, enquanto ele exercia o mandato em Minas. Segundo o empresário, que pediu para ter a identidade preservada, a recusa do tucano acende uma luz amarela entre os investidores, que, segundo ele, estão num mato sem cachorro, sem saber para onde correr.

Perfil do eleitor 1 Os estrategistas das campanhas dos candidatos que disputam o Palácio do Planalto estão debruçados sobre o relatório do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que traça um perfil do eleitor brasileiro. Os números que mostram um crescimento do eleitorado em 5,19% também mostram dados que podem direcionar as estratégias de discurso e até o público a quem o candidato vai se dirigir. Na avaliação de um cientista político, de um dos mais importantes institutos de consultoria de Brasília, numa primeira leitura, a candidatura tucana é que tem mais a perder e a candidatura do PSB é a que tem mais a ganhar.

De orelha em pé

Perfil do eleitor 2

Tá difícil

Enquanto o senador e presidenciável Aécio Neves fica sob ataque, os articuladores e estrategistas de campanha da presidente Dilma Rousseff ficam de orelha em pé, observando como Aécio Neves reage diante de cada assunto mais sensível ou constrangedor. Com base nisso, vão direcionar não só a campanha à reeleição de Dilma Rousseff, mas também os ataques à imagem do senador, já alvo de alguns dossiês petistas, segundo confidenciou um parlamentar do partido.

A pesquisa mostra que o número de eleitores jovens com voto facultativo caiu de 2.391.352 em 2010 para 1.638.751 este ano, ou seja: menos adolescentes fizeram os títulos. Ruim para a candidatura tucana, segundo o cientista político, porque seria o eleitor mais fácil de se encantar pela candidatura de Aécio Neves. O senador, além de ser oposição, tem perfil mais jovem, mais próximo desse eleitor que não acompanhou e não conhece outro governo. É justamente esse eleitor que faz parte de uma geração que gosta mais de novidade.

Já foi dito aqui neste espaço que a situação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, não é das mais confortáveis. E ficou ainda pior, depois que ele publicou uma portaria reduzindo a lista de isenções para turistas trazerem mercadorias compradas no exterior. O problema é que Mantega não combinou com ninguém e irritou todo mundo. Até a presidente Dilma Rousseff perdeu a paciência. Justo ela, que sempre o manteve no cargo por causa da passividade dele. Uma fonte do Planalto disse que reeleita ou não, Dilma se livrará do ministro assim que a eleição passar. Claro, o ministro teve de revogar o documento. Mas a pisada na bola estava feita.

Cara de tacho E a candidata a vice-presidente, Marina Silva, companheira de chapa de Eduardo Campos (PSB), não gostou de saber que o dono da primeira casa inaugurada como comitê de campanha, em São Paulo, esperava receber “unzinho” por ceder o imóvel. Marina levou para a campanha de Campos a mesma estratégia que adotou em 2010, quando os apoiadores dela transformavam a própria casa em comitê. Diante da situação, a candidata cobrou da equipe uma relação mais transparente com o eleitorado, na hora de fechar o acordo.

Perfil do eleitor 3

A candidatura mais beneficiada seria a do PSB de Eduardo Campos e Marina Silva porque a pesquisa mostra que a maior parte do eleitorado, 74.459.424 ou 52,13% do total, é formada por mulheres que poderão se identificar mais com o jeito Marina de fazer política. Para a candidatura petista, segundo o cientista político, não haveria grande impacto. O diferencial pode ser como cada candidato vai tratar desses diferentes perfis. Daí o empenho dos estrategistas em dar sentido aos números

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José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.

Aluguéis caros deixam portas de comércio fechadas Situação ocorre na área central de Governador Valadares, onde diversos pontos comerciais estão fechados e com a placa de “aluga” Gabriel Sobrinho / Repórter

Gabriel Sobrinho

Para abrir um ponto de comércio no Centro de Governador Valadares é necessário colocar um pouco mais a mão no bolso. Os preços dos imóveis estão altos, motivo que explica os diversos estabelecimentos fechados na parte central da cidade. Alguns comerciantes preferem abrir seus comércios pelos bairros, tudo em busca do preço mais em conta. Para auxiliar os profissionais, o Sebrae de Governador Valadares orienta por meio de palestras e cursos, os empreendedores da cidade a tomarem as decisões corretas de gestão do negócio. É só andar alguns minutos pelo Centro da cidade para encontrar diversos pontos de comércio de portas fechadas e com placa de “aluga”. A reclamação de diversos comerciantes aponta os valores exorbitantes que algumas imobiliárias têm imposto aos aluguéis. A insegurança surge principalmente na hora de fechar um acordo. O contrato chega a ser de 36 meses, a depender do ponto e da imobiliária, prazo que o comerciante precisa cumprir ou sujeita-se a pagar uma multa de rescisão. Oito horas da manhã em ponto, João AuImagem comum na área central de Governador Valadares, as portas de vários pontos comerciais permanecem fechadas e com a placa das imobiliárias indicando o aluguel gusto, 42, levanta as portas da loja de cosméticos, no bairro Santa Rita, para receber larem e eu arrumar uma dívida grande. Até comércio nos bairros da cidade, o comerciante tão de custos, pois é importante que entrem os primeiros clientes. O estabelecimento é que um dia eu resolvi procurar nos bairros com José Aquino do Reis, 58, é dono de loja de col- no mercado conhecendo de maneira detalhada recente, em agosto completa um ano e meio maior movimento da cidade. Quando vim aqui chões no Centro, na Rua Israel Pinheiro, há 15 seus custos fixos e variáveis e a partir destes que o empresário resolveu investir no bairro. no Santa Rita, rapidamente me encantei com o anos. Ele lembra que quando se instalou no lo- tomem suas decisões gerenciais. Isso vai defiO primeiro plano era de uma loja no Centro da bairro e com os valores dos aluguéis. Resolvi fi- cal pagava quase dois mil reais por mês. “Hoje, nir a formação do preço de venda e o estabelecidade, mas os valores fizeram com que João car por aqui mesmo”, completa João Augusto. a realidade é outra, a economia mudou, o sa- cimento de suas margens de lucro, levando em desistisse do investimento. O ponto mais em Gerente geral de uma das imobiliárias lário mínimo de um salto. O valor do aluguel consideração também que outros critérios que conta, com as características que procurava, de de referência na cidade, Everton Fernandes, aqui já sofreu mais de três reajustes. Hoje pago devem ser analisados e, sem dúvida alguma, o 100 metros quadrados, ele encontrou pelo va- garante que os preços atuais dos estabeleci- seis mil e quinhentos por mês. O valor é alto, custo de aluguel faz parte deste contexto. Telor de R$ 3.500. No Santa Rita, o comerciante mentos centrais não fogem da realidade. “Não mas esse é o preço que pago pela continuidade mos um cenário em que num passado recente alugou uma loja do mesmo tamanho, por R$ gosto de falar a palavra ‘caro’ uso sempre a e pela estabilidade. Todos sabem onde é minha cerca de 50% das empresas encerravam suas 1.800 mensais. palavra ‘justo’. Os valores dos aluguéis vão de loja. Mas, se fosse para eu montar minha loja atividades até dois anos depois de iniciado, “Não sou de Governador Valadares, sou de acordo com o patrimônio. Como pode uma loja nos dias atuais, por esse valor dos aluguéis, eu hoje estes números estão na ordem de 25%, Galiléia. Lá, eu já trabalho nessa área de cos- ter o valor calculado em um milhão de reais e pensaria diversas vezes”. mas mesmo com esta queda uma das princiméticos há mais de 10 anos, tenho duas lojas. nós colocarmos um aluguel de mil reais? Isso é O diretor regional do Sebrae, Ricardo Wag- pais causas do fechamento das portas é a falta Entendi que era hora de apostar em um novo impossível. A conta certa a ser feita no aluguel ner Ferregueti, lembra que ao locar um imóvel, de um bom planejamento do negócio”. mercado. Muitas pessoas se estruturam na ci- é usar meio por cento do valor do imóvel. Por dependendo do formato do contrato, o empreRicardo abre as portas do serviço de apoio: dade e depois vão para o interior, eu fiz o con- este exemplo, para um imóvel de um milhão de endedor assume compromissos financeiros por “O Sebrae tem um portfólio amplo para orientatrário. Pensei sempre em abrir a loja no Centro, reais o valor justo a ser cobrado é de R$ 5.000. um longo prazo e assim deve ter em mente a ção às micro e pequenas empresas e potenciais fiquei quase um mês procurando o ponto ideal, E a procura tem sido grande, todos os dias há sustentabilidade e a perenidade da empresa, empreendedores que queiram começar. São encontrei vários, mas tive medo. Os valores dezenas de solicitações de comerciantes procu- para fazer frente a estes custos. “Em nossos produtos disponíveis em nosso site, em nosso eram altos e o tempo de contrato esticado, não rando imóveis no Centro”. atendimentos a empresários e empreendedo- ponto de atendimento por meio de orientação, quis arriscar, por medo das vendas não decoNa contramão de quem optou montar o res, sempre focamos com eles uma boa ges- cursos, palestras, entre outros formatos”.


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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014 Fábio Moura

O Ministério Público adotou uma estratégia de abordagem a fim de investigar o uso do taxímetro, os preços tabelados e as corridas combinadas em Valadares, com fiscal à paisana. Assim, pretende coibir os abusos

Táxi à beira da regulamentação

Executivo Municipal enviou à Câmara, no final de 2013, um Projeto de Lei a fim de regulamentar a atividade dos taxistas no município. Usuários reclamam do preço das corridas e dos taximetros desligados Fábio Moura / Repórter

Às vezes fico quatro, cinco horas sem fazer uma corrida. Todo mundo parado. Os 120 táxis daqui de Valadares podem parecer poucos, mas são muitos. Abrir mais 60 vagas, você disse? A cidade não demanda isso. Taxista de bairro não dá conta de viver com as corridas de lá. Vão ficar em beira de hotel ou de hospital aqui no Centro. Eliomar Taxista

O sindicato está propondo nove emendas ao Projeto de Lei. As sugestões passam pelo tempo de adequação - três anos, em vez de seis meses apenas - e chegam até o tempo de concessão. Entendemos que 25 anos de permissão para atuar no táxi não são suficientes pra que se alcance o tempo de trabalho necessário para a aposentadoria. Propusemos, então, 35 anos.

Antônio Fernandes Presidente do Sindicato dos Taxistas

A labuta do taxista valadarense não é lá dos maiores martírios. E nem é das mais mansas, também. É um misto de correria desenfreada em meio ao caos do trânsito com longas horas sentado no banco do ponto em rodas de prosa. Rodinhas ou rodonas. Depende do assunto e do frenesi dos telefones. Mas, por mais que os clientes não parem de ligar, dá pra discutir de tudo ao longo do dia; no seu ponto, no de outros taxistas, enquanto espera o passageiro buscar um documento no escritório, ou nos pontos rotativos do Aeroporto e da Estação Ferroviária. Aqui, sim, nunca falha. A roda é das maiores que eles fazem ao longo do dia. Dá-se conta de tudo: do acidente que fechou a ponte da Ilha; do golpe que estão tentando dar lá pelas bandas do Nossa Senhora das Graças; da disputa por passageiros com os mototaxistas nas imediações da rodoviária; do balanço dos noticiários populares; do golaço do Ronaldo; do Projeto de Lei que regulamenta a atividade dos taxistas; do... do resto fica pra depois, porque o trem já encostou. Vem quase sempre lotado da capital capixaba; e é só o primeiro do dia. Em uma hora está todo mundo de volta para buscar os passageiros oriundos de Belo Horizonte, no sentido inverso. Dá tempo pra mais um dedo de prosa e pra entender melhor o que esse tal Projeto de Lei quer regulamentar na atividade deles, os taxistas. Até este momento a coisa funciona meio assim, ao léu. Há quase quarenta anos, a Lei 2.165 de 1975 estabeleceu o número de táxis em Governador Valadares e deu outras providências; deu tão poucas que couberam numa só lauda. Falou, basicamente, sobre as condições para se obter a concessão do alvará que permitiria explorar o serviço e em quais casos seria possível transferir a licença para terceiros. Definiu, também, a proporcionalidade entre o serviço de transporte individual de passageiros e o número de habitantes de Governador Valadares: um carro para cada 1.400 habitantes. De lá pra cá não foram expedidas novas concessões em função do aumento populacional nem foram propostas quaisquer emendas à lei que esmiuçassem os direitos e deveres destes profissionais – apesar de haver um controle do município sobre as tarifas praticadas e sobre as condições dos carros e taxímetros. Já no apagar das luzes de 2013, o Executivo Municipal enviou à Câmara de Vereadores um Projeto de Lei a fim de regulamentar a atividade no município. No caso, dar as outras atribuições que não se fizeram necessárias na década de 1970. O calhamaço de mais de vinte páginas dispõe sobre uma porção de atribuições, que vão desde a padronização e identificação dos veículos até a conduta dos permissionários. Fala-se de tudo no documento. Pela proposta, os táxis terão de ser padronizados na cor branca com uma identificação individual pela numeração; o permissionário passa a ter a obrigatoriedade de exercer a atividade, com até dois auxiliares, no máximo; e o fará no prazo de 25 anos, período improrrogável da concessão. Novas concessões de execução do serviço serão expedidas por meio de processo licitatório – a frota de 120 táxis de hoje pode chegar a 186, em função da adequação proporcional ao número de habitantes do município; instituição de novos pontos fixos em bairros como o Santa Rita e o Universitário, nos distritos de Governador Valadares, além de um ponto temporário no apoio da Gontijo na BR 116; alteração do perfil dos pontos da Estação Rodoviária e do Aeroporto, que passam a operar como pontos temporários livres e ponto executivo, respectivamente; além de estabelecer deveres, proibições e penalidades aos permissionários e seus auxiliares. “Só um minutinho”, respondeu enquanto observava ceticamente o horizonte, buscando compreender em que medida cada um desses pontos da regulamentação afetaria o seu dia a dia de trabalho. “Vou fazer uma corrida ali e já volto. Me dá dez minutinhos”, depois de colocar o celular na pochete. Saiu da boca da fila e retornou na sua cauda no tempo exato. Parece conhecer o trânsito valadarense na palma da mão. Eram quase duas da tarde. “Se fossem quatro, diria treze minutos. É que aí as vans escolares começam a chegar ao Centro e o trânsito vai ficando mais agarrado”. Vida de taxista é mais ou menos assim: atende telefone, desliga, abre porta, fecha, para no sinal, cochila, acorda numa buzinada do motorista impaciente logo atrás, abre a porta, pega a mala, fecha o porta-malas, abre a porta, liga o taxímetro, “pra onde?”, liga o ar-condicionado, conta uma piada, fica em silêncio, “aqui mesmo?”, R$ 8,30, mas pode me dar R$ 8, dá o troco, gira a chave na ignição, dá seta, coloca a cabeça pra fora, breca num susto estarrecedor ao ver o motoqueiro passar voando, “quer morrer, filho da puta?”, pega o caminho mais curto, evitando os sinais, liga o som, canta um verso, pula três e manda o refrão, para num hotel do caminho, abre a porta, deixa um cartão, toma um café, passa o olho no jornal, leva o do dia anterior,

entra no carro, fecha a porta, toca pro ponto e chega dizendo: “quero ver é o Galo dar conta sem o Ronaldo!” Enquanto ouvia as gargalhadas dos cruzeirenses e as provocações dos atleticanos, soltou: “Às vezes fico quatro, cinco horas sem fazer uma corrida. Todo mundo parado. Os 120 táxis daqui de Valadares podem parecer poucos, mas são muitos. Abrir mais 60 vagas, você disse? A cidade não demanda isso. Taxista de bairro não dá conta de viver com as corridas de lá. Vão ficar em beira de hotel ou de hospital aqui no Centro”, questionou meio ressabiado o Eliomar. Saulo ouvia atentamente e soltou um pitaco: “Sem contar os clandestinos. Dá uma volta na cidade e você vai ver mais trezentos carros fazendo transporte clandestino por aí com placa cinza local ou vermelha de outras cidades. Eles vêm trazendo alguém pra fazer uma consulta e ficam aqui ao longo do dia, trabalhando como um táxi local. Aí dá pra entender essa paradeira mórbida. Na Estação Ferroviária, há oferta de transporte clandestino pra qualquer lugar, num raio de 200 quilômetros daqui. Fazem corridas, também, dentro da cidade. Aí você cai na Estação Rodoviária. Ali você vê carros partindo pra qualquer lugar num raio de 400 quilômetros daqui. É quase uma minirrodoviária – fazem lista, anotam nomes. Na Gontijo da BR você tem um monte de carros trazendo pessoas pra dentro da cidade. E, por aí, vai...”. Sobram durante o dia, mas desaparecem durante a noite. Quem já precisou de um táxi depois do por do sol ou quando o tempo fechou e caiu aquele pé d´água, se não ficou na mão, passou uma magrela até conseguir encontrar um disponível. A chuva é um fenômeno atípico – ainda mais em Valadares – em que a demanda superaria a oferta de 120 ou de 186 táxis – e até dos “trezentos” clandestinos. O problema mesmo está no cair da noite. Boa parte dos taxistas se recolhe, leva seu veículo pra casa ou vai dar uma volta com a família. O Projeto de Lei não dispõe sobre a obrigatoriedade de uma frota mínima em atividade. Sem essa determinação, estamos à mercê de uma redução considerável da frota noturna. De segunda a quinta, então... “Quem tá na frente? O telefone tá tocando”. E sai pra mais uma corrida. Busca-se de tudo: cachorro pra levar ao pet shop, executivo pra levar ao aeroporto, idoso na periferia para levar ao Hospital Municipal, adolescentes nas casas noturnas, casais no motel, filho na escola, enquanto a esposa vai ao supermercado; um roteiro pragmático. “R$ 8,40, mas pode me dar R$ 8”. O roteiro só muda quando o cano de um trinta e oito toca a nuca. Os noticiários policiais dos últimos anos deram conta de, ao menos, dois sequestros. Num deles, o taxista foi deixado à margem da rodovia amarrado, enquanto o seu carro era utilizado para dar fuga a assaltantes no Centro da cidade. Sorte a dele. Seu companheiro de profissão foi jogado dentro do porta-malas e ficou lá por mais de cinco horas, enquanto os sequestradores iam sabe-se lá aonde. Ele estava mais preocupado em sair vivo daquele breu que se movia feito um liquidificador. Tudo isso à luz do dia. Também o cochilo da noite já foi interrompido por um toque suave no vidro dianteiro. Ajusta o corpo, abre a porta, liga o taxímetro, “pra onde?”, anda por alguns quilômetros e, novamente, o cano na nuca. Passasse o dinheiro e os celulares. O Projeto de Lei traz em um dos seus artigos a possibilidade do taxista abrir mão da corrida no período de 22h às 6h, caso o passageiro se negue a apresentar um documento de identificação. Um paliativo que não reduz a vulnerabilidade desses profissionais. Não só esse, mas todos os artigos do Projeto de Lei ainda serão objetos de discussão em audiências públicas na Câmara de Vereadores. Por ora, ainda segue fora da pauta de votação e das prioridades da Casa Legislativa. “O sindicato está propondo nove emendas ao Projeto de Lei. As sugestões passam pelo tempo de adequação três anos, em vez de seis meses apenas - e chegam até o tempo de concessão. Entendemos que 25 anos de permissão para atuar no táxi não são suficientes pra que se alcance o tempo de trabalho necessário para a aposentadoria. Propusemos, então, 35 anos”, explica o presidente do Sindicato dos Taxistas de Governador Valadares, Antônio Fernandes. Em caso de invalidez ou falecimento, desde a aprovação no ano passado em âmbito nacional da Medida Provisória 615, o permissionário tem por direito transferir a seus herdeiros a concessão para exploração do serviço de táxi pelo mesmo prazo original da outorga. Transferências para terceiros não poderão ser feitas por meio legal. “Os últimos processos de transferência foram concluídos em 2012, pois estavam em andamento há alguns anos. Agora, elas se dão apenas de acordo com os critérios estabelecidos pelo regimento federal”, complementou o diretor do Departamento de Transporte, Trânsito e Sistema Viário, Marco Rios.


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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014 Fábio Moura

Liga ou não liga o taxímetro? Pega a mala, abre o porta-malas, empurra a porta, gira a chave na ignição, engata a primeira, “pra onde?”, engata a segunda, vira à esquerda... esqueceu-se de ligar o taxímetro. Esqueceu nada. Não ligou por opção, mesmo. “As reclamações se tornaram cada vez mais constantes. Centenas, milhares, até. Por isso, o Ministério Público bolou uma estratégia de abordagem a fim de investigar o uso do taxímetro, os preços tabelados e as corridas combinadas em Valadares. O fiscal toma o táxi à paisana e se identifica apenas ao fim da corrida. Caso confirmada a infração, autuamos o taxista pela Lei de Defesa do Consumidor e pela Lei da Economia Popular”, esclareceu o promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Lélio Braga Calhau. Em dois anos, dez taxistas foram autuados e tiveram de pagar uma multa de R$ 900, em média. Fora o inquérito civil, é aberto um inquérito policial em função da contravenção penal prevista na Lei Federal da Economia Popular de n° 1.521: “transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias ou de serviços essenciais”. “Todos fizeram acordo no Juizado Especial e pagaram um salário mínimo, em média, além da multa de R$ 900. Acontece que um desses dez taxistas foi autuado pela segunda vez. A multa chega a mais que o dobro do valor cobrado na primeira infração. Fora isso, a Justiça só permite um acordo quanto ao inquérito policial a cada cinco anos. Dessa vez, só um salário mínimo não vai resolver o problema dele lá no Juizado Especial”, comentou o promotor. Em agosto de 2011, instituiu-se no país, pela Lei Federal 12.468, a profissão de taxista, bem como os direitos e deveres deste profissional. Entre outras atribuições, indicava-se a obrigatoriedade do uso do taxímetro em municípios com mais de cinquenta mil habitantes. “Cheguei à rodoviária de Valadares já depois da meia noite. Fui até um táxi e perguntei quanto ficava uma corrida, em média, até dois quarteirões dali. ‘R$10’, ele respondeu. Perplexa, questionei se daria tudo isso no taxímetro e ele disse que não ligaria. Sairia já com o preço estipulado. Coloquei a mala no ombro fui a pé até a minha casa”, relata a jornalista Luana Teixeira. “No fim da semana passada cheguei à rodoviária e tomei um táxi. Coloquei a mala no carro e entrei sem dar muita atenção ao taxímetro. Próximo ao Esplanada percebi que ele não estava ligado. Ao chegar ao destino, ele disse ‘R$15’, sem qualquer base de cálculo clara”, denuncia a engenheira civil, Ana Paula Moura. “Hoje, temos seis funcionários fiscalizando o transporte de qualquer origem em Valadares. É possível fiscalizar, mas precisamos estabelecer quais serão as regras, as proibições e as penalidades para que possamos agir de forma legal. E, para isso, o Projeto de Lei precisa ser aprovado”, conclui o diretor do DTTSV, Marco Rios. “O Projeto de Lei, porém, deixa uma brecha. Não está clara a obrigação do taxista em dar partida ao taxímetro na presença do usuário do transporte individual. O Ministério Público entende que o consumidor continua sendo lesado e não deixará de autuar aqueles que assumirem essa conduta”, retruca o promotor Lélio Braga Calhau. Um comunista na madrugada “Quem não correu, morreu”, contava imerso na certeza de que o golpe militar e os anos de ferro haviam deixado marcas irreparáveis. “Estávamos em Buriti na noite anterior à chegada dos militares. Nem o capitão Lamarca, nem a família do Zequinha farejava o que estava por vir. Eram mais de duzentos”. Filho de Ilhéus, Gaudioso Moraes cresceu em meio à intelectualidade baiana e vivia “comendo biblioteca”. Aos quatorze anos já tinha tido contato com todos os autores clássicos europeus. Era moda na roda dele. Quem não se esclarecia, estava por fora. “O baiano é muito culto; e já foi muito mais”.

“E, àquela época, não houve um esclarecido que não se opusesse ao sistema. Hoje é uma bosta, mas era uma merda”. Marx, Lenin e tantos outros apaixonavam os garotos pelo comunismo. Moraes era rico, filho de canteiro – vocábulo preferido por ele em vez de escultor, dono de pedreira, mas louco pelo ideal do bem comum, da igualdade. “Quando veio aquilo que chamaram de revolução, quem não se assumia como comunista, mas se opunha, era taxado como tal. E uma vez perseguidos, nos organizamos em guerrilhas”. Gaudioso era presidente do sindicato da construção civil e chegou a dirigir uma das facções de resistência da Bahia. Coordenava o sistema urbano nos fundos de um teatro, de onde retiravam deliberações sobre as trocas com o poder militar e sobre as execuções. “Se era pra matar, matava mesmo. Não tinha desse negócio, não. Estávamos em pé de guerra”. O capitão Lamarca chegou fugido naquelas bandas, no início dos anos 1970. Abrigou-se numa das bases rurais, em Buriti. “Eu era mensageiro. Levava pro mato as deliberações, projetos, jornais, encaminhamentos e mantimentos. Agora é por ali ou é melhor a gente dar um tempo aqui”. Passou a noite em Buriti, numa roda regada a preocupação, mas cheia de irreverência. Zombavam de tudo quanto é notícia antes de pegar no sono. No dia seguinte, Moraes daria o último abraço no capitão. Voltou pra cidade e lá ficou sabendo da chegada dos militares. Houve várias baixas, mas Lamarca deu no pé. Sumiu no mapa, mas, mesmo assim, o encontraram e o fuzilaram depois de vinte dias. Estava dado o toque de recolher. “Vários companheiros de luta foram parar na França e em outros países da Europa. A América Latina ficou cheia. Cada um espirrou pra um lado. Isso pra quem deu conta de escapar. Perdi vários companheiros de forma brutal, um primo alvejado por mais de uma centena de tiros, outros decapitados”. O amigo da livraria deu um jeito de tocá-lo para o Pará. Em Marabá, conheceu um garimpeiro que o ajudou na fuga. Refugiou-se por três anos no monte de Alto Bonito, na Amazônia brasileira. Quando a poeira baixou, voltou à civilização. Caiu em Governador Valadares, onde se abrigou na casa de Antônio Moraes, seu tio e dono da barbearia Majestic, na Rua Bárbara Heliodora. Foi dono de lotérica, ensinou capoeira ao lado da loja Talismã e, por fim, abriu a casa noturna Fossa, na esquina da Peçanha com a Prudente de Morais – de onde foi transferida para o Grã-Duquesa. Depois de casar-se, perdeu o pai e teve de assumir a pedreira da família, em Ilhéus. Já a administrava em parceria, entre idas e vindas. Teve de voltar em definitivo. Chegou a empregar quinhentos funcionários em dez cidades, simultaneamente. Passou a ser alvo de interesses políticos e financeiros. Por fim, deu-se conta de que estava rodeado por obras superfaturadas. Largou mão e experimentou pela primeira vez a sensação de ter os bolsos vazios. “Piquei pra América pra vender pedras preciosas, trabalhei na construção civil e, depois, toquei uma clínica de medicina oriental”. Voltou para o Brasil e, entre a Bahia e Minas, está há quatro anos como motorista auxiliar em um táxi da rodoviária valadarense durante as noites. “Já fui milionário, mas não fui perdulário. Isso me adestrou”, argumenta ao justificar que dá pra sobreviver no táxi. “Pago R$ 1,40 por quilômetro rodado ao permissionário. Tem corrida que me dá prejuízo, mas é isso aí. Ás vezes tiro R$ 50, R$ 60 ou R$ 100 numa jornada de trabalho”. Teve três filhas e escreveu três livros ao longo desses anos. A Você, “numa retratação à dívida social histórica que temos com as mulheres”; Prisioneiro dos seus sonhos, “num relato sobre as angústias e penúrias dos emigrantes brasileiros”; e Ouso, “onde meto o cacete na teoria freudiana”. Franzino e com algumas rugas que denotam os seus setenta e poucos anos de idade, Gaudioso Moraes segue viril e disposto a continuar na luta. “Estou dando um tempo aqui. Tenho alguns planos pra executar, ainda”.

No fim da semana passada cheguei à rodoviária e tomei um táxi. Coloquei a mala no carro e entrei sem dar muita atenção ao taxímetro. Próximo ao Esplanada percebi que ele não estava ligado. Ao chegar ao destino, ele disse ‘R$15’, sem qualquer base de cálculo clara. Ana Paula Moura Engenheira Civil

O Projeto de Lei, porém, deixa uma brecha. Não está clara a obrigação do taxista em dar partida ao taxímetro na presença do usuário do transporte individual. O Ministério Público entende que o consumidor continua sendo lesado e não deixará de autuar aqueles que assumirem essa conduta

Lélio Braga Calhau Promotor de Justiça

Fábio Moura

Vários companheiros de luta foram parar na França e em outros países da Europa. A América Latina ficou cheia. Cada um espirrou pra um lado. Isso pra quem deu conta de escapar. Perdi vários companheiros de forma brutal, um primo alvejado por mais de uma centena de tiros, outros decapitados. Gaudioso Moraes Taxista e comunista


GERAL

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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

ELEIÇÕES NO SINSEM

Avrah Kahdabra

Chapa de oposição vence a disputa no SINSEM

Paulo Vasconcelos

Albuquerque Após o término da Copa do Mundo, meio que as coisas voltam ao normal para a maioria das pessoas. Para Aquiles Esteves não poderia ser diferente, porém, algo veio a lhe afligir, mesmo que dentro da normalidade. Decerto, sempre entendido como um perito, ainda que apenas um curioso pesquisador da existência humana, incomodava-se facilmente com supermercados e seus corredores labirínticos onde, por mais que fizesse voltas e voltas a observar as diferentes preferências dos que naquele lugar buscam soluções para seus problemas diários de consumo, sempre terminava nas filas gigantescas dos caixas, e abismem: graças à necessidade de passar o tempo, essas pessoas insistem em examinar como andam as compras dos outros. Passou, então, a preocupar-se com as eleições que ocorreriam dentro de poucos meses e formulou algumas breves reflexões analógicas, em que corredores representam partidos, gôndolas servem como candidatos e produtos são promessas que deveriam ser pesquisadas. — Qual a relação entre o que é ofertado e o reconhecimento do consumidor de que aquilo seja realmente necessário ou supérfluo? — e continua, — os prazos de validade das promoções colocadas em pontos estratégicos estão de acordo com o tempo que esse consumidor fará uso do produto? — e enfim, — o preço a pagar justifica o que vai consumir? — Como filas de supermercado também promovem reencontros, Aquiles Esteves é tomado por repentino toque no ombro. — Caro amigo Aquiles! Acompanhado de largo sorriso, Zé Luiz, um motorista de táxi que por várias vezes atendeu Aquiles em suas necessidades de locomoção. Muito falante. Em todas as ocasiões tinha uma história para contar. — Olá, Zé Luiz. — Aquiles, que não é de perder tempo em suas pesquisas, busca logo por opiniões. — É bom vêlo num momento como esse, em que teremos eleições e o posicionamento político de todas as pessoas torna-se muito interessante. — Ih...! Rapaz! — Automaticamente emenda. — Conheço isso por demais... de onde venho mudamos nossa política diariamente. Vocês aqui é que ainda não se acostumaram.

— Diariamente é impossível. Não há tempo para o planejamento da campanha, para a construção de uma plataforma política apresentável, o financiamento e tudo mais. — Sorri Aquiles, com uma gota de sarcasmo. — Tá bom, — pausa para pensar — eu venho de um lugar chamado Albuquerque. Por certo tempo, antes de me mudar pra cá achava que aquilo era muito ruim, mas, não posso hoje concordar comigo mesmo. — Onde é que você quer chegar? — Em Albuquerque funciona assim... — Agora resgata sentimentos e depois de outra pausa relata. — Lembranças dessas me trazem uma saudade esquisita! Mas, lá em Albuquerque cada dia da semana é administrado de maneira diferente. Naquelas terras andam tão bem misturados sistema e forma de governo que, o que vocês conhecem aqui por plataforma, planejamento, campanha e outras, por lá jamais existiu. Conseguimos ainda na Idade Média desenvolver em Albuquerque o Terceiro Estado sem desprivilegiar o Primeiro e o Segundo. — Como pode isso acontecer? e os períodos históricos? os interregnos? — Nervoso de fato. Coisa que particularmente eu acharia difícil que acontecesse, Aquiles balança a cabeça em negativa e segue: — Isto é um descabido com os cidadãos de Albuquerque! Fale-me mais, Zé Luiz. — Preciso ir agora, minha mulher me espera em casa e não posso demorar. — Sua esposa também é de Albuquerque? — Não... Aquiles. Conheci minha mulher justamente aqui neste supermercado. Mas, me telefone para um próximo encontro quando lhe explicarei detalhadamente as peculiaridades de Albuquerque. — Estamos combinados. — Até mais.

Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos.

Ombudsman José Carlos Aragão

“Perdeste o senso”? Ao ler o título “Democracia, cadê você?”, de Janaína de Castro Alves, na coluna Aquele abraço, na edição passada, imediatamente pensei em responder à questão com algo como: “Procure a Livre Expressão da Opinião e a encontrará”. Ou: “Passou por aqui indagorinha, de braço dado com a Divergência e a Tolerância!” Ou ainda: “Foi ali, tomar uma cervejinha e jogar conversa fora com a Pluralidade de Ideias...” No artigo, a autora sai em defesa dos manifestantes presos (a maior parte, hoje, já livre), no Rio de Janeiro desde a véspera da final da Copa, sob a acusação de organizarem manifestações públicas de protesto relativas a diversas “pautas oriundas dos movimentos sociais”. De quebra, a articulista (que se identifica como “midiativista”) usa a tribuna que lhe foi concedida neste semanário, para denunciar que a mídia é responsável pela criação da figura do “vândalo como inimigo público do Brasil”. Embora defenda até a morte seu direito de dizê-lo – e parafraseando a mais conhecida falsa citação de Voltaire – não posso concordar com ela. Nunca antes, na história desse país, vivemos um momento tão pleno de democracia. Ora, direis: “Democracia”? - diante da repressão policial às manifestações de protesto que espocaram desde há um ano em nossas ruas. Certo perdeste o senso!” “E eu vos direi, no entanto, (...) pálido de espanto”: O que houve, andastes matando as aulas de História? Paráfrases à parte (agora, de Bilac), a realidade é que vivemos um momento especial e único de nossa História, em que qualquer um pode manifestar livremente sua opinião, de peito aberto, de cara pra câmera, num artigo assinado na mídia impressa ou em seu próprio blog. Pode ainda publicar um livro, dar uma entrevista, levantar cartazes com palavras de ordem defronte aos palácios e tribunais. Suspeito que quem tem menos de trinta anos não apenas andou faltando às aulas de História do Brasil, mas nunca leu um livro, acredita cegamente na onisciência do feicibuque e não imagina que, há bem pouco tempo, pessoas eram torturadas e assassinadas todo dia, nesse país, só porque clamavam por uma democraciazinha básica, com eleições livres e diretas, liberdades civis e direitos humanos. (Um parêntese, para um pouquinho de humor negro. Nessa época, era piada corrente alguém perguntar: “E então, o que achou do jogo da seleção, ontem?” E a resposta: “Não achei nada. Um amigo meu que achou al-

guma coisa, nunca mais acharam ele...”) É, “os dias eram assim”, como diz aquela canção de Ivan Lins. “Nos dias de hoje” - título de outra canção de Ivan (xiii, hoje extrapolei em citações e referências...) – vivemos numa verdadeira democracia, com todas as liberdades individuais asseguradas pelo pleno estado de direito vigente, reconhecido por todas as demais nações democráticas do mundo. O que não se pode confundir – para tentar justificar os protestos recentes – é democracia com justiça social. Temos uma, mas não há como negar que ainda nos falta a outra. Também falta muita coisa mais, inclusive vergonha na cara, pelos políticos que elegemos e reelegemos. Mas, a violência que tem marcado esses protestos os desqualifica e os esvazia. Quando a motivação eram apenas os vinte centavos, mesmo parecendo desproporcional ao valor monetário, eram manifestações que podiam provocar eco ou resultados efetivos. Com a reação de descaso da mídia e de grande parte da população pela “insignificância” dos vinte centavos, uma parcela dos manifestantes desacostumados a conviver com críticas e frustrações, reagiu com violência. Aí, uma pauta ampliada – aquela supostamente “oriunda dos movimentos sociais” – foi, a toque de caixa, levada às ruas. E com uma nova conduta, que incluía a destruição do patrimônio público e privado; enfrentamento físico direto da polícia, convocada para impedir a destruição desses patrimônios; e a demonização da “grande mídia”, por mostrar cenas que os manifestantes prefeririam censurar. Pois é, o bom de uma autêntica democracia, cada um pode ter a sua. Nos regimes totalitários, apenas uma. Ou seja: nenhuma. Em tempo Vândalo. Substantivo masculino. Derivação: sentido figurado. “Que ou aquele que estraga ou destrói bens públicos, coisas belas, valiosas, históricas etc.” E também: Derivação por extensão de sentido. “Que ou aquele cuja ação ou omissão traz prejuízo à civilização, à arte, à cultura.” Está no Houaiss. A grande mídia não inventou nenhuma palavra nova. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

Depois de quase nove horas de apuração na madrugada de sexta-feira, 24, a Chapa 2 garantiu a eleição com pouco mais de 50% dos votos na disputa pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Governador Valadares – SINSEM/GV. Dos três mil sindicalizados aptos a votar, mais de mil e seiscentos deixaram suas cédulas nas onze urnas distribuídas pela cidade. A chapa liderada pelos servidores Waldecir Moraes e Wildes Araujo venceu em nove delas. O grupo assume o sindicato até o fim deste mês. A primeira mudança vem no grupo sindical atrelado ao SINSEM/GV. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), base de apoio da Chapa 1, que tentava a segunda reeleição, dá lugar à Força Sindical. “A Força nos auxiliou no processo eleitoral com apoio jurídico e orientações diversas pro pleito. Eles têm um perfil de gestão mais moderno e uma visão política e social ampla. Mudaremos nesse sentido”, relata Waldecir Moraes, presidente eleito pela Chapa 2. O carro chefe para a eleição da chapa foi o Hospital Municipal, onde garantiu mais de 80% dos votos. Venceram também entre os profissionais vinculados à Secretaria Municipal de Educação. Juntas, as secretarias de Saúde e Educação reúnem mais de 50% do colégio eleitoral. Com estes resultados, conseguiram manter a frente sobre a Chapa 1 – com 40% dos votos – e sobre a Chapa 3 – com os 10% restantes. “Vencer nos dois setores foi primordial para que alcançássemos a frente. Mas, sem o apoio dos servidores de outras secretarias e autarquias não teríamos conseguido chegar lá”, enfatizou Wildes Araújo, vice-presidente da chapa eleita. A Chapa 2, que surgiu após a mobilização oriunda da greve do Hospital Municipal em maio deste ano, tem algumas metas “primordiais”. “O Plano de Cargos e Salários para a educação e para a saúde tem de ser acompanhado na sua aplicação. Depois de aprovado o plano, ele está sendo avaliado por uma comissão da Prefeitura. Nós iremos ficar de olho e propor algumas emendas de interesse do servidor, uma vez que o plano aprovado ficou aquém das nossas necessidades”, lembrou Waldecir Moraes. “Mas, estaremos atentos a todos os pontos da nossa proposta, como a luta pela sustentabilidade do IPREM e do PAM. Teremos uma comissão mapeando todas as demandas dos diferentes setores. Membros do sindicato estarão em cada uma das seções ou autarquias identificando problemas e possíveis mudanças”, concluiu Wildes Araujo.

Direitos Humanos Flávio Fróes

Territórios sagrados (I) A legislação social brasileira ora vigente não caiu do céu – como todos sabem – nem tampouco resultou da genialidade de uns poucos legisladores patrícios – como alguns leitores parecem acreditar. Na verdade, ela resultou de demorado processo político com fases alternadas de desespero e esperança que prenunciaram os trabalhos da Constituinte em 1987-1988. Os tempos bicudos inaugurados no Brasil em 1964 chegavam ao fim legando, para a geração de brasileiros que então se ocupavam em debater a situação política, a tarefa de exorcizar os demônios do autoritarismo. A doutrina da Segurança Nacional, engendrada na Escola Superior de Guerra, atribuía poder absoluto ao Estado e este ignorava limites éticos definidos por séculos de civilização cristã. A repressão do Estado aos opositores foi exercida em sua plenitude até os dias derradeiros daquele regime de exceção. Ignorava, por (mau) exemplo, a inviolabilidade de lugares que a religiosidade popular considerava sagrados, como templos e conventos. Foi em nome dessa doutrina que agentes da máquina repressora do Estado invadiram o convento dos Frades Dominicanos, nas Perdizes, em São Paulo (1969), levando os que ali residiam para a prisão e a tortura até alguns deles atingirem os limites da loucura. Foram tempos de desespero. No mandato do Presidente Geisel (1977), o governo brasileiro necessitava demonstrar à comunidade internacional sua face de democracia comprometida com os direitos humanos. Daí seu empenho em receber a visita do então presidente americano Jimmy Carter que, a par de suas elevadas funções políticas, cultivava a simplicidade de fervoroso pregador da Igreja Batista, que sempre foi. Disso se aproveitaram os integrantes de um grupo ecumênico informal, com base na capital paulis-

ta, do qual participaram o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e alguns pastores, que conseguiram entrevistar-se com Carter e entregar-lhe um documento sobre a situação de desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Renovavam-se as esperanças.

A doutrina da Segurança Nacional, engendrada na Escola Superior de Guerra, atribuía poder absoluto ao Estado e este ignorava limites éticos definidos por séculos de civilização cristã. A repressão do Estado aos opositores foi exercida em sua plenitude até os dias derradeiros daquele regime de exceção.

Foi também por essa época que o país, numa posição um tanto contraditória com relação aos excessos do regime, credenciou representantes de alto nível acadêmico para, no Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância, participar da série de conferências que aquele organismo promovia sobre direitos da criança e do adolescente. Iniciativa contraditória já que as áreas de Economia e Planejamento do governorecusavam-se a inserir recursos em políticas públicas voltadas para a maternidade e a infância. Viviam a repetir que o bolo do crescimento econômico do país somente ficaria pronto num futuro indefinido.

Flávio Fróes Oliveira é teólogo, estudioso na Área de Crianças e Adolescentes.


ENTREVISTA Nascido em Governador Valadares, Leonardo Monteiro fez até o quarto ano primário na Escola Carlos Luz, no bairro Carapina. Estudou os primeiros anos do Ginásio no Colégio Ibituruna, como bolsista. Participou da Pastoral da Juventude e do movimento estudantil secundarista. Passou pela ETEIT e trabalhou 19 anos na Cenibra como técnico em Química. Ali, se especializou em Meio Ambiente e tornou-se o primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Celulose. Naquela época, estava surgindo o novo sindicalismo, com a construção da CUT. Vários sindicatos no Brasil foram surgindo, no caso de São Bernardo do Campo com o Lula, João Monlevade com o João Paulo e o Leonardo Diniz, e sindicato de bancários em Belo Horizonte. Os sindicatos lutavam por democracia, por eleição direta, não pagamento da dívida externa. Nesse contexto, Leonardo participou da fundação da CUT, do PT, depois teve a oportunidade de ser vereador em Valadares por três mandatos, quando também concluiu o curso de Direito. Foi presidente da Câmara de Vereadores da cidade e criou condições para disputar uma vaga para deputado. Foi eleito deputado federal em 2002, coincidindo com o mandato do presidente Lula. Participou ativamente do processo de instituição da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri, com campus em Teófilo Otoni e sede em Diamantina e reivindicou também este projeto para o Leste de Minas.

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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

Entrevista Leonardo Monteiro

Deputado federal Leonardo Monteiro, do PT, candidato à reeleição

“Quero novamente ser deputado federal, para dar sustentação a um novo governo da presidenta Dilma e defender investimentos em Valadares e região.” Divulgação

Leonardo Monteiro - Nossa região diminuiu muito a população. Se tirarmos Valadares do contexto do Rio Doce a população fica escassa, as cidades são pequenas. São cidades de cinco mil habitantes, quatro mil habitantes. Portanto, a redução da população reduz também o número de votos. A nossa disputa eleitoral é muito ingrata, por que disputamos com outras regiões que têm um número maior de votos. Se você considerar o Sul de Minas, as cidades médias, com 50 a 100 mil habitantes, são várias, a poucos quilômetros umas das outras. Então, os deputados que disputam lá contra nós que disputamos aqui levam uma vantagem muito grande. Mesmo no Norte de Minas, nós temos um número significativo de cidades entre 60 e 80 mil habitantes. Eu sou praticamente o único deputado federal de todo este Leste, se você considerar de Ipatinga até o Vale do Jequitinhonha, Mucuri e Vale do Rio Doce eu sou o único. Os outros vêm aqui, trabalham parcerias, mas não são daqui. Por isso, é uma eleição cada vez fica mais difícil, e há necessidade de uma articulação melhor das nossas lideranças. Na hora da construção e discussão de chapas para deputado estadual e federal é preciso ter mais unidade. Por exemplo, eu vejo aqui em Governador Valadares uma grande quantidade de candidatos a deputados estaduais, da nossa base. Talvez, a gente conseguisse ter um candidato só, a partir de Valadares e toda região. Isso facilitaria a eleição de deputado.

Figueira – Como apresentar um balanço da sua atuação como deputado federal nesses três mandatos? Leonardo Monteiro – Eu acho que, neste último mandato, a obra de mais importância para Governador Valadares, pra nossa região aqui, foi a conquista do Campus da Universidade Federal. Nosso campus aqui será uma verdadeira cidade universitária, é importante a nossa comunidade conhecer, com mais de 200 milhões de reais em obras, é a maior obra que Valadares já conquistou. Conseguimos trazer para aqui o Instituto Federal. Além de outras obras na região, por exemplo, estamos acabando de conquistar, de acertar com Ministério da Educação a liberação de um campus para o Vale do Aço, da Universidade Federal de Ouro Preto, em duas áreas. A área de Saúde será em Ipatinga, inclusive com o curso de Medicina, e área técnica de Engenharia vai ser em Timóteo, inclusive com um curso inovador de Engenharia Ferroviária, tendo em vista a necessidade de recuperar a malha ferroviária do nosso país. Vai ter também o curso de Engenharia Urbana, focada nas questões de mobilidade urbana, tendo em vista uma dificuldade que atravessa as nossas cidades. Hoje as cidades são ocupadas por carros, grande problemas no trânsito, com isso a dificuldade de mobilidade. Este curso na universidade de Timóteo priorizaria este debate. Trouxemos aqui para a região alguns polos da UAB, Universidade Aberta do Brasil, tanto para Valadares quanto para algumas cidades da região. Para Valadares estamos para trazer o curso de mestrado em Administração Pública, e foi através do nosso mandato, com emenda parlamentar, que se viabilizou pela UFOP, a oferta em Valadares do curso de Administração Pública. E várias obras também nós conseguimos para cidades aqui da região. Hoje, a maior obra de Conselheiro Pena fui eu que liberei, para a captação da água do Rio João Pinto, por causa do problema da má qualidade da água do Rio Doce em alguns períodos do ano. Além de saneamento básico, como em Mantena e São Felix. Para Central de Minas, estamos trazendo uma Escola Família, com metodologia da alternância, que é uma grande reivindicação dos agricultores familiares dessa região. Participei da discussão de várias obras, para a liberação de recurso lá em Brasília, inclusive a ETE (Estação de tratamento de Esgoto) da nossa cidade, que é um projeto que vem da época do Fassarella, ampliado agora por nossa prefeita Elisa. Então, considero o balanço positivo, com êxito. Mas, temos muitos desafios, ainda temos de concretizar algumas obras importantes aqui na nossa cidade, da travessia urbana da BR 116, com a duplicação da ponte do São Raimundo, a estruturação definitiva do Instituto Federal e do Campus da Universidade Federal. Isso tudo me motivou a disputar o quarto mandato de deputado federal. Figueira - Nesses três mandatos, o senhor se manteve colado ao presidente Lula e agora com a presidenta Dilma, condição aparentemente cômoda e que lhe garante visibilidade. Em caso de derrota petista para a presidência, o que faria o seu mandato ter visibilidade? Leonardo Monteiro – Eu analiso pelo lado positivo. Dificilmente a presidenta Dilma será derrotada, por que são vários projetos importantes que nós realizamos neste país. Se considerar moradia popular, em Valadares, por exemplo, nós já passamos de três a quatro mil residências populares, a Elisa vai encerrar o segundo governo com o total de seis mil casas construídas e entregues. Coisa que jamais era imaginada antes do governo do PT, Lula e Dilma. Se a gente considerar a vinda universidade federal para cá, se não fossem Lula e Dilma, ela não ia existir. O governo anterior ia fazer as extensões e depois iriam privatizar as universidades federais, elas estavam sendo sucateadas para entrarem nesse processo, que era e é o projeto do PSDB. Então, o que motiva é essa perspectiva positiva: reeleição da presidenta Dilma e, assim, vamos poder concretizar definitivamente esses projetos importantes para nossa região. Também vejo como possiblidade real da eleição do nosso governador do estado, Fernando Pimentel, que foi um grande prefeito de Belo Horizonte, uma pessoa

Figueira - Como você vê a evolução do Partido dos Trabalhadores desde o início de sua participação no sindicato dos trabalhadores na celulose?

Leonardo Monteiro defende mais investimentos para a região qualificada e preparada, foi ministro da presidenta Dilma. O nosso estado precisa ser recuperado, sintonizar este estado com o projeto nacional. Nós não podemos ficar realizando paliativos, como por exemplo, a Lei 100, que o PSDB implantou aqui em Minas e jogou mais de 90 mil pessoas nas ruas, agora estão desamparadas e sem direção. Isso agora deu um “cano” na Previdência Social, por que o tempo que essas pessoas ficaram como servidores públicos, sem legalizar, não resultou em contribuição para a Previdência. Isto é uma forma de justificar o tal choque de gestão? Quer dizer, reduzir o gasto do estado, mas não contribuindo com a Previdência Social. Diante desses desacertos do Governo Estadual eu vejo que é uma oportunidade de nós do PT, com o Fernando Pimentel, trabalharmos com muita determinação. Não vai ser fácil, mas tentar recuperar este Estado de Minas Gerais, que é um estado importante, me motiva a ir para este processo eleitoral. Não vai ser fácil esta reeleição, para a qual preciso de mais de 100 mil votos, mas estou confiante. Figueira - Com quais lideranças você mais se identificou na Câmara nesses mandatos? De quais grupos e comissões participa? Leonardo Monteiro – Na Câmara, nós somos 513 deputados. Cada um tem que ser ajeitar de acordo com a prioridade de cada região, prioridade do estado e do mandato. Eu atuo sempre na comissão do orçamento, que é uma comissão que estando lá nós temos forças para ajudar a definir recursos e orçamentos para a nossa cidade e para a região. Sou membro efetivo da comissão do Meio Ambiente, desde o primeiro mandato, por ser uma comissão importante, porque temos de trabalhar desenvolvimento com sustentabilidade, sempre dialogando no sentido de promover desenvolvimento social. Sou membro também da comissão de Educação, por essa necessidade que nós temos de colocar o nosso país para competir no mundo. Só acredito que nós vamos conseguir colocar nosso país em condição de competitividade com as outras nações se a gente estudar, se nossa população, nossa juventude estudar. E como membro da Educação, eu participei agora do Plano Nacional da Educação. Participei ativamente do projeto de discussão das 20 metas que nós definimos para o PNE, na verdade é um plano plurianual, vai valer por 10 anos. É uma proposta que está acima do governo, é uma proposta de estado para este país. Garante, por exemplo, 10% do PIB para educação. Para se ter ideia, o Fernando Henrique Cardoso vetou 6 % do PIB para educação. Nós agora votamos, sintonizados com a presidenta Dilma, para que 70% do royalties do petróleo serão para a educação. Para melhorar a estrutura de escola, para garantir condição de qualificação dos nossos profissionais da educação, melhor salário, e garantir a universalização da Educação – desde a escola de tempo integral até a universidade federal. Isso é prioridade no nosso mandato. Figueira - Há cidades do mesmo porte de Valadares como muito mais representação na Câmara de Deputados. A que se deve a escassa presença de Valadares e da região?

Arquivo Pessoal /Reprodução SporTV

Leonardo – Eu participei da fundação do PT num momento difícil. A gente era enfrentamento na ditadura militar, reivindicando democratização, eleições diretas, mais transparência do governo, o não pagamento da dívida externa e outras coisas. O PT surgiu neste contexto de muita resistência e muita discriminação, o que justifica algumas pessoas nos taxarem de radicais, pois o enfrentamento foi muito duro a partir dos movimentos sociais, da luta sindical, da luta pela reforma agrária, pela democratização da terra neste país. Mas, mesmo assim, nós somos um partido que cresceu, estamos completando no governo federal 12 anos. Estamos governando várias cidades e alguns estados. Então, eu vejo que o PT cresceu com toda a contradição e às vezes oposição de alguns setores da sociedade e da própria grande imprensa. É o partido mais indicado na simpatia da população. Acho que neste período que estamos governando o Brasil nós fizemos uma revolução democrática, se a gente considerar que as condições para as pessoas todas melhoraram. O trabalhador mudou de vida. Hoje, as pessoas compram carros e casa com mais facilidade. Na zona rural, as pessoas moram melhor, vivem melhor. Fizemos um programa revolucionário, o programa Luz para Todos, nos quatro cantos deste país, e hoje as pessoas têm luz em suas casas. E a luz possibilita gerar mais empregos, gerar renda na sua propriedade. Até mesmo quem não tinha água, com a energia torna-se possível colocar um poço artesiano e ter uma água de boa qualidade. Programas como Minha Casa Minha Vida, investimento na educação, hoje são quase cem mil alunos que estão estudando lá fora no programa Ciência Sem Fronteiras. O nosso partido fez o dever de casa, mas ainda tem muita coisa pra fazer. Por isso, estamos reivindicando mais um mandato para a presidenta Dilma. Espero que a população irá compreender a nossa missão, o nosso compromisso com este país, com este estado, a nossa região e com o mais necessitados. Que possamos eleger para governador o Pimentel, para senador o Josué Alencar e, sobretudo, eleger a presidenta Dilma, dando continuidade ao projeto nacional. Figueira - Majoritário em Valadares, único representante da cidade em Brasília,seu nome já é citado, entres os valadarenses, como candidato a prefeito da cidade nas eleições de 2016, pelo PT. Caso indicado pelo seu partido, aceitará a incumbência de suceder a prefeita Elisa Costa, abandonando a representação da cidade em Brasília? Leonardo Monteiro – Acho que cada tarefa tem o seu momento. Agora estamos focados em discutir as eleições de 2014, estamos com o processo eleitoral já aberto. Minha prioridade neste momento é ser deputado federal para que possamos concretizar alguns projetos importantes para a nossa cidade e nossa região. Sobretudo, continuar dando sustentação política ao governo da presidenta Dilma. O ano de 2016, acredito, devemos discutir mais à frente, em um momento oportuno. Acho que a discussão para a Prefeitura daqui de Valadares precisa passar pelo conjunto de partidos que compõe o nosso governo aqui com a Elisa (PMDB e outros coligados). E, sem dúvida alguma, vai depender muito da opinião da prefeita. Acho que para a discussão da sucessão da Elisa, ela sem dúvida nenhuma é a principal liderança aqui e irá nos apontar o melhor caminho a seguir.

BRAVA GENTE

Felipe Augusto brilha nos gramados do Brasil

O garoto Felipe Augusto, valadarense, segue sua sina de ser artilheiro, agora no Madureira

O garoto Felipe Augusto Ferreira Batista, 22 anos de idade, cuja família mora no bairro Elvamar, na Região da Ibituruna, sempre sonhou em ser jogador de futebol. Começou na escolinha de futebol do Vila Isa Esporte Clube, na turma de dentes-de-leite do professor Dedé. Lá ele mostrou talento e habilidade com a bola, que lhe garantiram uma chance maior: treinar na escolinha de futebol do Esporte Clube Democrata. Da Escolinha da Pantera, Felipe Augusto avançou mais um importante degrau: foi para Belo Horizonte e brilhou no Clube Atlético Mineiro. Vestiu a camisa do Galo em 2010, disputando a Copa Sub-23, competição que reuniu 10 grandes equipes da Série A do futebol brasileiro. Em 2014, voltou a Governador Valadares para disputar o Campeonato Mineiro do Módulo II pelo Democrata. Vestiu a camisa 11 e no início da competição dava a impressão que seria o artilheiro do Mó-

dulo II, mas teve de dividir a artilharia com o baiano Rodrigão, também da Pantera. A boa atuação no Módulo II o colocou no Madureira, time tradicional do futebol carioca, que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro. Logo na estreia, contra o Guarani, Felipe Augusto deixou a sua marca, como mostra a reprodução das imagens do canal SporTV (foto). Bom de bola, gente boa, Felipe Augusto é muito apegado à sua família, especialmente com pai, mãe, irmãos, avós, e sempre que surge uma folga está em Governador Valadares. A torcida do Democrata marcou a sua carreira: “Não tem como a gente não dar sangue quando entra em campo e vê o Mamudão lotado, com aquela torcida maravilhosa ”, disse. Orgulho da torcida democratense, Felipe Augusto , que está arrebentando no Madureira, é brava gente!


GERAL 10

FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

AP

D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa

Ninguém para a chacina brutal na Faixa de Gaza Israel não acata as resoluções das Nações Unidas. Líderes do Hamas e do Hezbollah falam em vingança. A verdade é que o número de mortos não para de subir. Desde o dia 8 de julho, já se registaram mais de 1.300 vítimas. Muitas delas crianças e idosos. A Faixa de Gaza transformou-se no inferno. Uma terra sem lei. Há quem lhe chame a Faixa da Morte. Tudo fazia crer que o dia 28 de julho, final do Ramadão, seria um dia de tréguas na guerra entre Israel e a Palestina. Em vez de paz e um cessar-fogo, assistiu-se a um dos dias mais sangrentos na Faixa de Gaza. Israelenses e os grupos radicais do Hamas e Hezbollah parecem determinados em prosseguir com essa guerra irracional. O exército de Israel informou que 10 soldados foram mortos em combate naquela segunda-feira. As forças de defesa israelita anunciaram que mataram um membro do comando palestiniano que se infiltrou perto de Nahal Oz (Sul), na fronteira. Do outro lado da barricada, o Hamas diz que as tropas israelenses atacaram uma escola pública, um hospital e um campo de refugiados, fazendo mais de 200 vítimas em um dia. Aliás, do lado palestino o balanço das vítimas da operação “Margem Protetora”, iniciada por Israel no passado dia 8 de julho, altera-se a cada dia. Israel já perdeu um total de 48 soldados, o número mais elevado desde a guerra contra o Hezbollah libanês, em 2006. Entre as vítimas registadas em 21 dias de conflito há ainda três civis israelitas. E não se pense que esta guerra vai terminar nas próximas

Rebeldes separatistas pró-russos do Leste da Ucrânia

semanas. O primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu já alertou o seu povo que deve estar “preparado para uma longa campanha contra os extremistas do Hamas”. Segundo Netanyahu, a solução para o conflito na Faixa de Gaza consiste na desmilitarização do grupo radical islâmico palestino Hamas e dos seus aliados do Hezbollah. Os líderes do Hamas, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e do Hezbollah não se dão por vencidos e prometem vingar todos os “mártires” mortos até agora. Ou seja, não haverá paz no Oriente Médio nos próximos tempos. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), numa declaração aprovada por todos os membros apelou às partes envolvidas no conflito para “aplicarem totalmente” o cessar-fogo, durante a festa que assinala o fim do Ramadão e a estendê-lo além do período de celebrações. Ninguém ligou aos apelos da ONU e os ataques foram ainda mais violentos de ambas as partes. Em Roma, na missa dominical na Praça de São Pedro, o Papa Francisco voltou a apelar à paz na Faixa de Gaza. “Chegou o momento de por um ponto final numa guerra que parece não ter fim. Uma guerra que não para de ceifar vidas de cidadãos indefesos e inocentes”. Também o apelo papal foi ignorado.

Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo

Aeroporto de titio II TE a informação acerca do aeroporto construído em 2010 pelo então governador do Estado e atual candidato à presidência da República Aécio Neves, em área de fazenda de seu tio-avô na cidade de Cláudio, a 150 quilômetros da Capital mineira, teve enorme repercussão na semana que passou. Entre outras notícias, a de que, na verdade, o uso de recursos públicos estaduais para a realização de melhorias na pista de pouso teve início há mais de 30 anos, quando Tancredo Neves era o governador do Estado. E a própria Folha de S. Paulo, que deu a notícia em primeira mão, informou no meio da semana que, apesar de ainda não ter sido inaugurado, e não contar com permissão de uso, a lei n. 18.386, de autoria do atual deputado federal Domingos Sávio, aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em 2009, determina que o local seja denominado “Aeroporto Deputado Oswaldo Tolentino”, nome de outro tio-avô de Aécio. E, para finalizar (ao menos nesta semana, uma vez que esta história deve render ainda páginas e páginas), enquanto era governador do Estado Aécio Neves também garantiu o asfaltamento da pista de pouso do aeroporto da cidade de Montezuma, no Norte do Estado, onde mantém a empresa Perfil Agropecuária. O detalhe é que, assim como no caso da cidade de Cláudio, a região de Montezuma já contava com aeroportos em municípios vizinhos, como Espinosa e Janaúba. Apoio à mídia independente Uma das grandes dificuldades dos projetos alternativos de comunicação é justamente o financiamento. Projeto de lei da deputada federal Luciana Santos (PCdoB-PE), em análise na Câmara dos Deputados, prevê a criação do Fundo de Desenvolvimento da Mídia Independente (FDMI), que tem como objetivo financiar rádios e TVs comunitárias e educativas e veículos de comunicação de pequeno porte. O fundo seria formado por dotações previstas na Lei Orçamentária Anual da União, por parte dos recursos arrecadados com a outorga de concessão ou permissão de serviços de rádio e TV comerciais e do fundo de fiscalização das

Saúde

HM tem novo laboratório de análises clínicas O Hospital Municipal (HM) ganhou na quinta-feira um novo laboratório de análises clínicas, que vai funcionar no terceiro piso do HM, com espaço ampliado e climatizado, que vai agilizar os resultados dos exames, o que melhora o fluxo de pacientes, diminuindo o tempo nos atendimentos ambulatoriais. O laboratório do HM funciona 24 horas e dá suporte no diagnóstico dos pacientes de urgência/emergência, do hospital e dos atendidos no ambulatório Rui Pimenta. O laboratório agora tem equipamento que identifica bactérias e examina a sensibilidade aos antibióticos; o outro analisa hormônios e identifica substâncias liberadas no sangue quando existe uma lesão no coração.

Telecomunicações, entre outros. Segundo a autora, a proposta tem como base propostas elaboradas pela sociedade civil para permitir uma maior democratização dos meios de comunicação. De acordo com o projeto, caso aprovado, o fundo será destinado à instalação e à manutenção destes veículos. Determina ainda que cabe ao órgão responsável pela elaboração das políticas de Cultura definir e acompanhar a aplicação dos recursos do FDMI, além de propor o orçamento do fundo e prestar contas de sua execução orçamentária e financeira. A íntegra do projeto de lei está em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fich adetramitacao?idProposicao=611190 Instituto Brincante A especulação imobiliária está prestes a causar mais uma grande perda na área cultural na cidade de São Paulo. Um dos mais tradicionais espaços culturais da Vila Madalena, o Instituto Brincante, do pesquisador e multiartista pernambucano Antonio Nóbrega, depois de ser notificado pelo proprietário do local onde funciona, recebeu na semana passada a ação de despejo e pode ser obrigado a deixar o espaço, na Rua Purpurina, nos próximos dias. A intenção é erguer mais um empreendimento imobiliário no terreno. O Brincante, instalado há mais de 20 anos no local, já recebeu um público de mais de 80 mil pessoas. Promove uma série de atividades de pesquisa e formação da arte e da cultura brasileira, com cursos, oficinas, além de apresentações públicas. Movimento nas redes sociais tenta garantir a continuidade do trabalho. Festival Natura Musical em BH – E o Festival Natura Musical, que pelo quarto ano consecutivo será em Belo Horizonte, já tem data marcada. Será no domingo, 14 de setembro, com 12 horas do melhor da música popular brasileira em algumas das praças da cidade. A programação completa será divulgada em breve no sítio: http://www.naturamusical.com.br/. Marcos Luiz Imbrizi é historiador e jornalista, ativista da luta por rádios livres. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez questão de telefonar pessoalmente ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, apelando para um cessar-fogo imediato e duradouro na Faixa de Gaza. Não serviu de nada este telefonema. Os combates prosseguiram e o número de mortes aumentou. Aliás, por muito absurdo que pareça, os militares israelenses até se deram ao luxo de atacar uma escola protegida pelas Nações Unidas. O secretário de estado norte-americano, John Kerry, esteve uma semana no Oriente Médio, em Paris e no Egito com a esperança de conseguir terminar com a guerra na Faixa de Gaza, mas retornou ao seu país desanimado. Kerry percebeu que desta vez Israel e o Hamas não querem sentar-se à mesa para falar de paz. Para incendiar ainda mais o clima de guerra, o Irão (histórico rival de Israel) também decidiu defender o Hamas e incentivar o mundo árabe para ajudar o Hamas. Numa intervenção pública para assinalar o fim do Ramadão, o guia supremo iraniano, Ali Khamenei acusou os líderes de Israel de estarem a cometer um “genocídio” em Gaza, não acatando os apelos de cessar-fogo e de paz. Em direto para a televisão estatal, Ali Khamenei disse que Israel estava a agir como um “cão enraivecido” e um “lobo selvagem” que “ataca crianças e pessoas inocentes”, e cujas ações devem ser objeto de resistência. Lamentavelmente a guerra parece alastrar-se em algumas regiões do globo. Na Ucrânia, prosseguem os combates violentos entre os separatistas pró-soviéticos (que contam com o apoio da Rússia) e as milícias e os militares ucranianos. Na Síria, não se fala em tréguas. No Iraque, a disputa pelo poder continua a fazer centenas de vítimas todas as semanas. Na Líbia, registam-se conflitos violentos. E, no Afeganistão, a violência promete continuar nos próximos tempos. Ou seja, fico com a sensação que a humanidade não aprendeu nada com as guerras que tiveram lugar até agora. E, mais do que isso, tenho a certeza que existem países produtores de armamento que devem estar felizes por encaixarem milhões à custa destes conflitos diabólicos. O Homem é de facto um “bicho” muito estranho e complexo.

José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

Cotidiano Lucimar Lizandro

Horário eleitoral (nada) gratuito: a próxima estação A Copa do Mundo acabou e praticamente não alterou o humor da população quanto à eleição de outubro próximo. É o que mostram as últimas pesquisas de intenção de voto. Segundo o Ibope, Dilma Rousseff segue com 38% da preferência popular, Aécio Neves com 22%, Eduardo Campos com 8% e o Pastor Everaldo com 3%. Após, aparecem os outros candidatos com 1% ou menos, cada um(a). Em 19 de agosto, começa o horário eleitoral (nada) gratuito. A coligação governista terá 11 minutos e 48 segundos, os tucanos terão 4 minutos e 31 segundos, Eduardo Campos terá 1 minuto e 49 segundos em cada um dos dois blocos de 25 minutos. Os petistas imaginam alavancar a sua candidata apresentando as realizações dos doze anos do governo trabalhista, comparando-o com a gestão tucana. O objetivo não declarado é encerrar a eleição no primeiro turno, Por sua vez, tucanos e pessebistas buscarão se tornar mais conhecidos dos brasileiros, além de se colocar como opção aos petistas e assim tentar empurrar a eleição para o segundo turno, levando o apoio daquele que ficar pelo caminho. O PT apostará mais uma vez na força política de sua principal estrela, o ex-presidente Lula, que atuará como âncora do programa e parceiro indissociável de Dilma Rousseff. Tal estratégia está escorada na alta popularidade e no carisma de Lula, traduzido em impressionante capacidade de transferência de votos. Parece que, finalmente, Fernando Henrique Cardoso terá atuação ativa na campanha tucana, além da defesa dos seus dois mandatos. Pesa contra essa estratégia a altíssima rejeição do líder tucano. Já Eduardo Campos aposta suas fichas na transferência de votos da ex-senadora Marina Silva, associando-se à sua imagem. Essa será uma eleição em que os apoiadores terão papel tão importante quanto aos seus apoiados, sendo considerados verdadeiros avalistas para a população. Para nós eleitores, a esperança é que os programas de televisão suscitem o debate acerca dos grandes temas nacionais como, por exemplo, a reforma do estado e uma melhor gestão dos recursos públicos, permitindo a oferta de serviços públicos de qualidade; a manutenção e o aprofundamento das políticas de inclusão social e de transferência de renda; a melhoria da infraestrutura que torne nossa economia mais competitiva. Que trate também de uma reforma política que permita conciliar a democracia representativa com a participação direta do cidadão e, por fim, a reforma eleitoral que possa baratear as campanhas políticas, evitando-se assim o aprisionamento do estado brasileiro pelos financiadores de campanha, com seus nefastos efeitos para toda a sociedade. Lucimar Lizandro Freitas é graduado em Administração de Empresas pela FAGV e especialista em Gestão Pública pela UFOP.


COTIDIANO 11

FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014 SECOM/PMGV

Além do Arco-íris NUDIs

Encontro das Redes/GV: Participação, Confiança, Cooperação “Temos direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença nos inferioriza e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza.” Boaventura Souza Santos

A arte a serviço da saúde da família: em meio às mulheres, Robson Martins, deixou o preconceito de lado e também se envolveu no trabalho

Arte e terapia

Retalhos coloridos se transformam em artesanato nas mãos hábeis de mulheres do Turmalina Da Redação

U

ma parceria entre a Prefeitura e a Associação das Artesãs Força e Vida do Turmalina está proporcionando uma atividade terapêutica que transforma retalhos em arte. Estes retalhos coloridos ganham formas diversas nas mãos dos membros do grupo de arte e terapia do Núcleo de Apoio à Saúde da Família IV (Nasf) de Valadares. As mulheres usam linhas, tesouras, agulhas e cola quente para fazer as peças de artesanato. As mulheres também fazem também cachecóis tecidos nos dedos, cestinhas, decupagem em sabonetes, em toalhas de mãos e em garrafas. Todo o material é fornecido pela associação, que comercializa os trabalhos, investindo o valor da venda na compra de novos materiais. A ideia é realizar uma feira para mostrar que é possível vender os produtos, gerando renda para quem os produz. “O objetivo é fazer com que as pessoas exercitem o cérebro, esqueçam os problemas, não fiquem deprimidas, liberem a criatividade, estimulem a parceria e compartilhem experiências, transformando o ato de fazer arte em um momento de terapia, para depois começarem a lucrar com essa atividade”, explicou a psicóloga do Nasf IV, Tatiana Santiago. Adriana Almeida de Carvalho é uma das participantes mais antigas do grupo, que existe há um ano e meio, e conta que, além de aprender o ofício, acompanha o filho nas rodas de convivência, nas quais são discutidos assuntos como sexualidade, violência, drogas, dentre outros. “Atividades como essas são muito importantes porque distraem a cabeça e a gente ainda faz amizades. Gos-

to das oficinas de artesanato, mas prefiro o grupo de convivência – porque adoro conversar!”, diverte-se. No meio de 14 mulheres, Robson Martins se destaca. As mãos ágeis, logo exibem, orgulhosas, o trabalho concluído com capricho e sucesso. “Quando criança, via minha mãe costurar e me metia a tentar ajudar. Digamos que está no sangue essa habilidade manual. Há dois meses faço parte do grupo e posso afirmar que tem me ajudado bastante: esqueço os problemas, a ansiedade, divido experiências com pessoas que estão passando pela mesma situação e ainda estou vencendo a timidez. Nas primeiras vezes, fiquei meio constrangido porque sou o único homem do grupo. Mas, depois, deixei o preconceito de lado e curti”, contou. Os encontros acontecem sempre às quartas-feiras, às 8h, no Instituto Nosso Lar, que fica na Rua Mogno, 10, Turmalina, e são intercalados com as oficinas (em uma semana é realizada uma atividade e, na semana seguinte, outra). O Nasf IV compreende as Estratégias Saúde da Família (ESF) do Turmalina I, II e III, Jardim do Trevo e Xonin. Como participar A participação, na maioria das vezes, é sugerida pelos psicólogos de um dos oito Nasfs. Mas, interessados também podem participar, bastando para isso comparecer ao local nos dias e horários das oficinas – lembrando que os Nasfs V e VII também realizam os trabalhos de arte, terapia e convivência.

No dia 26 de junho, o NUDIs participou da reunião proposta pela Rede Fora do Eixo, em Governador Valadares. O encontro se constituiu num espaço de troca e partilha das experiências coletivas de atuação política sociocultural deste movimento e de como ele tornou-se uma referência em nosso país com repercussão internacional. Estiveram presentes educadores, ativistas e produtores culturais, militantes estudantis, coletivos diversos, agentes culturais com o intuito de debater o cenário cultural e social da cidade. O representante do Fora do Eixo atuou como mediador e auxiliou na construção de uma análise preliminar da conjuntura coletiva que ajudasse a avaliar trajetórias e linguagens, no intuito de visualizar como cada grupo constrói a sua prática cotidiana, considerando as barreiras locais. O encontro possibilitou o encaminhamento de uma proposta de construção do “Encontro das Redes - GV”. Será um evento com o objetivo de aproximação das várias experiências coletivas e individuais de fortalecimento dos movimentos, coletivos e atores/atrizes, como alavancas de transformação local. Intenciona incidir sobre a realidade sociopolítica e cultural de forma planejada e coletiva, respeitando a cada grupo e atuando de forma concêntrica nas demandas que estão colocadas em nossa cidade. Sabemos que um dos desafios da democracia consiste em consolidar um sistema pautado no desenvolvimento de uma cultura política que promova valores e hábitos como a participação, a confiança e a cooperação. A descrença e o afastamento dos cidadãos da esfera da política comprometem atitudes de respeito e reciprocidade demandadas pelo processo de formação cidadã. Considerando a participação, a confiança e o diálogo fundamentais para o fortalecimento de pressupostos decisivos na visibilidade e fortalecimento dos movimentos feitos pelas organizações sociais e de minorias, pretendemos ampliar as possibilidades de pronunciamento e de inclusão como formas alternativas de participação política, com objetivo de alcançar uma cidadania ativa e efetiva. Assim, não há com o NUDIs ignorar e não aderir ao Encontro das Redes- GV que se apresenta como uma alternativa favorável de estimulo à expressão, à participação e à organização, pois a nossa luta e o desejo é tornar palpável ao público LGBTTT os seus direitos civis, políticos e sociais. A concretização desses direitos, contudo, depende da existência de quadros institucionais específicos, como assistência jurídica, garantias constitucionais e serviços sociais. O Encontro de Redes, em sua fase inicial, já nos faz acreditar nestas possibilidades visto que parcerias estão sendo feitas, compromissos estão se efetivando. E o NUDIs aposta nas ideias, nas articulações e arrisca o impensável, que balança muitas das verdades estabelecidas. NUDIs – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades – texto produzido coletivamente.

JOGOS ESCOLARES

Etapa estadual dos JEMG começa na próxima terça Oito escolas valadarenses vão participar da etapa estadual dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), que começam na terça-feira (5), em Uberaba. Valadares terá representantes nos seguintes esportes: judô, ciclismo, futsal, basquete, peteca e natação. As equipes de futsal, basquete, judô e peteca já terão disputas antes mesmo da abertura oficial, que será realizada na terça-feira (5), às 20h, no ginásio do Centro Olímpico. Às 8h, a equipe feminina de futsal da Escola Estadual Professor Nelson de Sena, módulo II, vão encarar as garotas do Colégio Status, da cidade de Passos. Às 10h30, é a vez dos rapazes do time de basquete do Colégio Ibituruna, módulo I, entrarem em quadra contra a equipe do Instituto de Educação São João da Escócia

(Poços de Caldas). Os horários das disputas de peteca e judô da Escola Municipal Pio XII serão definidos no mesmo dia, durante o congresso técnico de cada modalidade. As competições de ciclismo e natação começam na quarta-feira (6). No ciclismo, Valadares contará com seis representantes. São eles: Colégio Ibituruna, E. E. Israel Pinheiro, Centro Interescolar Dr. Raimundo Soares de Albergaria Filho, E. E. Prefeito Joaquim Pedro Nascimento, E.E. Israel Pinheiro e Colégio Clóvis Salgado. As primeiras provas de natação estão previstas para começarem no período da manhã, a partir das 8h45, e à tarde, a segunda etapa, às 15h. O Colégio Ibituruna será único representante valadarense nessa modalidade.

www.figueira.jor.br A edição impressa do Figueira circula nos fins de semana, mas durante toda a semana você pode ler o Figueira na internet. Basta digitar o nosso endereço eletrônico, no celular ou no seu computador.


ESPORTES A partida entre França e Nigéria, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, foi mais difícil do que se imaginava e os franceses só abriram o placar aos 33 do segundo tempo, gol de Pogba. Um pouco depois, Valbuena recebeu um escanteio curto de Benzema, cruzou para a área e, sem ter como finalizar, Griezmann fez o corta-luz, a bola bateu na perna do zagueiro nigeriano Yobo e entrou, assegurando a vitória da seleção francesa. Apesar de ter colaborado de forma inteligente e decisiva para o gol, Griezmann saiu caminhando e sorrindo sem jeito, como se avisasse aos companheiros, a quem estivesse no estádio e à gigantesca audiência que assistia ao jogo pela tevê que o gol não fora dele.

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FIGUEIRA - Fim de semana de 1 a 3 de agosto de 2014

QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO

Pequenos gestos DFB.DE

No Campeonato Brasileiro do ano passado, o ex-atacante são-paulino Aloísio impediu que seu time empatasse a partida que perdia para a Portuguesa de Desportos, ao meter propositalmente a mão numa bola que entraria de qualquer jeito. Para Aloísio, o mais importante não era o São Paulo empatar, e sim que o gol fosse dele. Entre tantas das insuportáveis manias dos nossos jogadores, uma delas é a de cair semimorto no gramado quando seu time está vencendo. Não há um jogo de futebol no Brasil em que isso não aconteça. Entretanto, na Copa, pudemos ver o contrário. Jogavam Alemanha e Argélia pelas oitavas de final. Parada duríssima, prorrogação e a Alemanha vencia por um a zero, quando Schweinsteiger sentiu algo e caiu a dois metros da linha lateral. Como a bola estava em jogo, o melhor da Copa tomou a iniciativa de rolar para fora de campo, a fim de ser atendido sem interromper a partida. Se pertencesse a um clube brasileiro, Schweinsteiger seria chamado de burro pela torcida e repreendido pelo treinador no vestiário. E já que somos o povo mais esperto do mundo, passemos ao emocionante capítulo das simulações. Na desgraçada semifinal que nunca iremos esquecer, enquanto os alemães, eretos e equilibrados, enfiavam gol atrás de gol e transformavam a seleção brasileira num Taiti de camisa amarela, Hulk, Marcelo, Paulinho, Maicon, Oscar, Fred, todos se jogavam ao chão espalhafatosamente. Com exceção de Fred, os outros atuam na Europa e não acredito que lá ajam dessa maneira. Mas, aqui, a torcida pede pênalti. Os comentaristas de arbitragem pedem pênalti. Ô povo pra gostar de pênalti! Arnaldo César Coelho viu pênalti em Hulk no jogo contra o Chile, viu dois pênaltis a favor do Brasil no jogo contra a Holanda. Ainda bem que ele não apita há muito tempo, pois do contrário as partidas terminariam com placar de basquete. As diferenças entre o gesto de Griezmann e o de Aloísio, e entre o que fez Schweinsteiger e o que fazem nossos jogadores, podem não ser significativas, mas representam pequenos retratos dos problemas de formação no futebol brasileiro. Todos temos falado muito sobre isso. As mudanças promovidas no futebol alemão, o investimento na base – tanto em garo-

mos esquecer que, quando era técnico do Barcelona, Guardiola comeu Daniel Alves no esporro porque o lateral comemorou um gol com dancinha. Tem gente que acha exagero. Seedorf foi chamado de chato, ranzinza, metido a dono do time. A dancinha também tem defensores. Mas penso diferente, e para isso me apoio nos grandes. Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Careca, Zico, Falcão, Sócrates, Raí. Quando alguém viu qualquer um desses caras fazer gol e comemorar com dancinha ou mandando a torcida adversária calar a boca? Levar a bola para um canto morto do campo e rebolar à frente do zagueiro? Retardar uma jogada de ataque para dar uma caneta ou um lençol?

Em que o cabelo interfere na hora da bola rolar? Provavelmente, em nada. Os jogadores da seleção alemã entram em campo com penteados que qualquer barbeiro de trinta reais é capaz de fazer, estão se lixando para quem vai ser o artilheiro do time, não se atiram no chão a cada disputa de bola e jamais comemoram seus gols com provocações idiotas.

tos de talento quanto em treinadores que saibam lidar com eles –, a preocupação em moldar jogadores que reúnam capacidade individual, consciência coletiva, caráter, e que tenham facilidade para perceber como o jogo deve ser jogado.

O comportamento que muitos dos nossos jogadores têm na seleção ou nos grandes clubes brasileiros também são fruto do nosso jeito pueril de ver o jogo. Não se trata de desestimular o talento ou abortar a ousadia, mas de preparar a garotada para uma prática que, além de habilidade, exige aplicação e concentração nos noventa minutos. Querem ousar? Pois então, como fez Pelé, criem um drible no goleiro adversário sem tocar na bola. Deem um chute feito Didi, em que a bola parece ir reta mas, de repente, cai suave em direção ao gol. Apliquem elásticos como o que Rivellino deu em Alcir, numa jogada que parecia sem ter como evoluir e foi parar dentro do gol do Vasco. Isso é inventar o jogo, e não fazer firulas tolas. No outro final de semana, vi Fluminense e Santos. Um jogo sofrível, mas com penteados de impressionar. Fiquei com a sensação de que, se nossos treinadores permanecem no século passado, pelo menos nossos cabeleireiros estão batendo um bolão.

Em que o cabelo interfere na hora da bola rolar? Provavelmente, em nada. Os jogadores da seleção alemã entram em camQuando Seedorf estava no Botafogo, assisti pela tevê a um po com penteados que qualquer barbeiro de trinta reais é capaz episódio curioso. O atacante Vitinho dava uma entrevista na sa- de fazer, estão se lixando para quem vai ser o artilheiro do time, ída para o intervalo, quando Seedorf se aproximou, semblante não se atiram no chão a cada disputa de bola e jamais comemosério, pegou-o pelo braço e o conduziu ao vestiário. Depois do ram seus gols com provocações idiotas. jogo, questionado pelo gesto, Seedorf afirmou que não havia problema algum em dar entrevistas no final da partida, mas que, no Mas tudo isso é mera coincidência. E, mesmo, não temos intervalo, ajudava a tirar o foco. nada a aprender com eles. Um dos sonhos de consumo do torcedor brasileiro, desde a queda de Mano Menezes até a recente demissão do gaúcho de bigode, era ver Guardiola no comando da seleção. Pois não pode-

Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na própria definição, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que adotou o seu blog e autoriza a sua contribuição a este Figueira.

Canto do Galo

Toca da Raposa

Saudade boa de se sentir...

Avante, Cruzeiro!

Rosalva Campos

Não me constrange nem um pouco chorar, chorar com calma, em silêncio, com sentimento até doído, por que não? Afinal, ele fez parte de um sonho, agora realizado. Ronaldinho Gaúcho, atleticano R49 e ainda mais atleticano R10. Eu o perseguia pelos quatro cantos do mundo e dos gramados, sempre como o dono da arte que eu queria ver em forma de futebol. Encantava-me com o sorriso sem precedentes, o cabelo sedoso e o falar bem simples. Os malabarismos nos pés e no corpo me traziam uma vibração incontida. Confesso que na parada do Rio de Janeiro fiquei um pouco desmotivada em acompanhá-lo, mas não o perdia de vista. E, de repente, veio a aurora, o sol brilhante, o despertar de uma nova época, época de glórias para aquele que já se denomina “o glorioso”. Ronaldinho Gaúcho chega à cidade do Galo. Palavras no Aurélio são poucas para descortinar a minha alegria, o meu contentamento, o meu estado de boa perplexidade. Inacreditável! E a verdade se confirmou. Quando o vi pela primeira vez, ele já estava com aquela que me marca num amor infinito: a camisa alvinegra do Clube Atlético Mineiro. Foram dois anos, um mês e vinte e quatro dias de pura emoção. Chegou a hora da saída? Não sei. Chegou a hora de defender outras cores? Não sei. Chegou a hora de encerrar seu talento no futebol? Não sei...e nem quero saber, mesmo porque ele será eterno na nossa história, será eterno no que construiu, será eterno no legado alvinegro das Minas Gerais. Ele deixou aqui uma parte importante do seu sorriso, da sua liderança e da sua competência. Ele deixou aqui seu suor, sua vontade e sua alegria em fazer atleticanos campeões do Mineiro, da Libertadores e da Recopa. Ronaldinho, a você o nosso eterno agradecimento, reconheci-

mento, pois hoje o Atlético é do mundo. Sinto uma dorzinha de não tê-lo mais na Cidade do Galo, um ciúme comprovado, um gostinho de um amor perdido. Enfim, não podendo impedir que se vá, só desejo que seja sempre muito feliz. Todas as bençãos de Deus! E o Atlético traz um resultado ruim do Recife. Placar que mostra a dificuldade de se chegar ao gol com tranquilidade. Pelo conjunto dos nomes que foram escalados pelo técnico poderíamos ter mostrado um futebol melhor, mais eficiente e prático. Temos plantel para isto e a tática e a técnica têm que ser achadas com maior rapidez e facilidade. Disparam à frente times que teoricamente deveriam estar na tabela numa condição pior do que a nossa posição atual. Os jogadores terem consciência de que podem oferecer mais aos seus apaixonados torcedores seria um caminho certo. Quase parafreseando Drumond, eu digo: no meio do caminho entrou alguém, entrou alguém no meio do caminho. Ronaldinho Gaúcho antecipou-se aos escritos. Tinha pensado em escrever sobre Tardelli na coluna de hoje, homenagem como pessoa e pelo centésimo gol, mas fica para depois, mesmo porque falar do Tardelli é muito fácil e atemporal. No Galo, os assuntos são inesgotáveis pois o dinamismo que contorna esta vida quase inusitada de um time permite circularmos em várias notícias. Fomos escolhidos...somos ateticanos apaixonados.

Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.

Hadson Santiago

Saudações celestes, leitores do Figueira! Atuação convincente do Cruzeiro diante do Figueirense e vitória merecida por 5x0, com belos gols. Além disso, a liderança do Campeonato Brasileiro está mantida, com 5 pontos de vantagem sobre o segundo colocado. O torcedor está eufórico e a imprensa nacional exalta as atuações do time. O importante, contudo, é que o técnico Marcelo Oliveira e os jogadores estão conscientes de que a competição é longa, muito difícil e que cada partida deve ser encarada como uma decisão. Apenas 12 rodadas foram disputadas, faltam 26. Por isso, caros cruzeirenses, sejamos comedidos. Há muita água para passar debaixo da ponte. Aliás, essa é uma característica peculiar do torcedor celeste. Tropeços durante a competição ocorrerão, claro, isso é normal. Tenho certeza de que todo o plantel do Cruzeiro está focado no objetivo maior que é a conquista do título, mas todos dentro do clube são sabedores das dificuldades que enfrentarão. Concentração, trabalho e respeito aos adversários são as palavras de ordem. Avante, Cruzeiro! Sempre desejei que o Cruzeiro tivesse seu próprio estádio. Durante anos, isso nem era ventilado no clube. Afinal, havia o Mineirão, um gigante para 130.000 torcedores, apesar de pertencer ao Estado de Minas Gerais. Durante a administração do presidente Alvimar Perrella (2003-2008), o tema surgiu com força total e cheguei a acreditar que o meu sonho se tornaria realidade. Construir um estádio passou a ser prioridade. Os municípios de Contagem e Betim chegaram a oferecer a doação de terre-

nos para que o Cruzeiro lá construísse a sua casa. A diretoria chegou a avaliar uma área em Belo Horizonte, próxima ao município de Nova Lima, e tinha a intenção de comprála. Uma empresa portuguesa especializada já estava com um projeto quase pronto. Tal empresa construiria o estádio multiuso (com lojas, restaurantes, shopping, cinema etc.) e ficaria com parte dos lucros por alguns anos. Terminado o contrato, 100% dos direitos ficariam com o Cruzeiro. Estava bom demais para ser verdade. A partir do momento em que o Brasil foi escolhido para sediar a tal Copa (argh!), parece que alguém do governo mineiro cochichou para os Perrellas que o Mineirão seria reformado com dinheiro público e que seria bobagem o clube investir na construção de um estádio. Após o Mundial, os clubes poderiam administrar o Mineirão (o que não aconteceu). E assim, nunca mais se falou em estádio lá pelas bandas do Barro Preto. Acho (tenho quase certeza!) que vou morrer sem ver erguido o Estádio Presidente Felício Brandi, o Raposão. Sim, esse deveria ser o nome da casa do Cruzeiro, uma homenagem ao maior presidente da história celeste, o homem que colocou o clube no mapa do Brasil e do mundo. Sonhar não custa nada... Abraços!

Hadson Santiago Farias é cruzeirense e professor


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