Figueira 14 c

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Governador Valadares terá tempo bom no fim de semana. Não chove. www.climatempo.com.br

30o 19o

MÁXIMA

ANO 1 NÚMERO 14

Não Conhecemos Assuntos Proibidos

MÍNIMA

FIM DE SEMANA DE 27 A 29 DE JUNHO DE 2014

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00

VAMOS, BRASIL!

Gabriel Sobrinho

Rafael Ribeiro - CBF

PARLATÓRIO

A garantia de cotas para estudantes de escolas públicas e por origem étnica nas universidades é positiva para a sociedade brasileira?

Neymar quer disparar na artilharia da Copa. Ele já marcou quatro vezes neste mundial

Brasil enfrenta o Chile neste sábado no Mineirão A Seleção Brasileira tem uma partida decisiva neste sábado no Mineirão. O adversário é o Chile, que tem feito grandes partidas nesta Copa do Mundo. A torcida valadarense vai lotar os bares e a Praça dos Pioneiros, onde está montado um telão que exibe as partidas do Brasil. O jogo começa às 13h. Página 12

Esta questão foi respondida com SIM e NÃO, na seção Parlatório. Quem defendeu a implantação das cotas foi a estudante de Pedagogia, Rosi Santiago, que vê na medida uma forma de restabelecer BRAVA GENTE prejuízos que a população negra teve no passado. A secretária executiva Edileusa Esteves Lima, da Regiane venceu! UFMG, disse “não”. Para ela, a adoção das cotas Conheça um pouco da história vitoriosa de Regiaé um improviso do governo, que tenta solucionar ne Souza, uma menina filha de trabalhadores rurais sem-terra, que foi para o exterior e voltou médica. problemas sociais profundos com esta medida. Página 9

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Ações de saúde chegam a 200 mil valadarenses Essas ações são desenvolvidas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). O município de Governador Valadares atende a 52% de sua população, com 41 equipes credenciadas e ativas da ESF. Entre os meses de julho que se inicia e agosto próximo, 16 novas equipes entrarão em atividade e a cobertura do programa na cidade chegará a 72%. Serão, ao todo, 57 equipes assistindo a pouco mais de 200 mil valadarenses em seus meios urbano e rural. Os bairros Pérola, São Paulo, São Raimundo, São Pedro, Nossa Senhora das Graças, Novo Horizonte e Esperança, além dos distritos de Itapinoã, Nova Floresta, Goiabal e Pontal ganharão novas equipes da Estratégia. Páginas 6 e 7

COMÉRCIO NA COPA

Copa aquece o comércio “Promoção! Duas camisas do Brasil por trinta reais”. Este é o grito de Felipe Augusto, camelô que trabalha na Rua Israel Pinheiro. Para ele não existe pessimismo e seu ponto de venda está “bombando” com a Copa. Saiba o que mais está vendendo muito neste período da Copa do Mundo 2014. LEIA MAIS

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ENTREVISTA

Padre Assis fala sobre a TV Kefas Valadares tem um novo canal de TV, cuja história revela a obstinação do Padre Antônio Geraldo de Assis Pereira, o Padre Assis, em participar e ganhar a concessão para esta emissora. Saiba mais lendo a entrevista do Padre Assis.

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OPINIÃO

Editorial

10 de junho de 2014, fim de tarde, em frente à 8ª Companhia da Polícia de Meio Ambiente e Trânsito, na Ilha. Centenas de civis convidados e policiais militares perfilados. Na cerimônia comemorativa dos 239 anos da Polícia Militar de Minas Gerais, o coronel Sérgio Henrique Soares Fernandes, da RISP, ataca a PEC 51, do senador petista Lindbergh Farias, do Rio. Faz o discurso contra a proposta de desmilitarização das polícias e arregimenta a tropa contra o que considera agressão à corporação. O discurso do coronel não será reproduzido neste Figueira, mas decerto está disponível na Assessoria de Comunicação Social da PM a quem queira acesso. Mais importante é o que o coronel não disse: - que além da PEC do senador Lindbergh, tramitam a PEC 102 do senador Blairo Maggi, do PR do MT, que autoriza os Estados a desmilitarizarem e unificarem as suas polícias, e a PEC 430, do ex-deputado federal pelo PRB de São Paulo, Celso Russomano, para unificação da PM com a Polícia Civil e a desmilitarização do Corpo de Bombeiros, além de ampliação das funções das guardas municipais; - que os países que mantêm polícias militares, como a gendarmeria francesa ou os carabinieri italianos, as têm como corporações do governo nacional e não dos provinciais (estaduais no nosso caso), com ação restrita a áreas rurais e serviços especiais, não no policiamento urbano. Ainda assim, elas são polícias de ciclo completo, do policiamento ostensivo à investigação; - que o foco no treinamento militar, centrado na obediência e na submissão aos superiores, não considera as pessoas na farda como cidadãos, senhoras de direitos. Tal treinamento, que pode ser adequado a situações de guerra, resulta muitas vezes em tratamento brutal de civis e abordagens violentas dos grupos mais vulneráveis socialmente. No entanto, os cidadãos não veem que têm aceitado que os seus policiais sejam treinados de modo degradante e humilhante, o que muitas vezes resvala para traumas e até mortes. Não percebem que um treinamento pautado na obediência e na submissão não pode ser sustentado na sociedade democrática. Treinar policiais como militares significa dirigi-los a tratar a população civil como militar inimigo; - essa distorção das polícias e de suas funções foi promovida pelo governo ditatorial a partir de 1964, não tendo sido corrigida pela Constituição de 88, gerando a duplicidade de infraestrutura policial e à rivalidade entre colegas policiais de carreiras distintas. Tal distorção chega ao cúmulo de submeter policiais militares à Justiça Militar em vez de a um juiz criminal comum, em clara violação do princípio republicano da isonomia; - nas melhores polícias do mundo, o profissional é recrutado como civil para o policiamento ostensivo. Na medida do seu envelhecimento e da sua experiência, é promovido para a investigação, sendo a condição de detetive uma situação qualificada na qual a sua ação anterior é muito aproveitada; - para o quadro administrativo das polícias atualmente são promovidos profissionais que tiveram a capacitação complexa que o policiamento ostensivo e a investigação exigem. Ora, pra tais cargos da administração burocrática bastaria concurso que recrutasse profissional com habilidades bem mais simples que as exigidas de um policial.

Da mesma forma, não cabe ao coronel arregimentar policiais para a sua pregação. Ele não recebeu o voto da população para isso. Ele recebe o seu soldo para proteger e cuidar da população de Valadares e região da melhor forma possível.

Se o presidente Fernando Henrique tivesse deixado nas mãos dos militares das Forças Armadas decidirem, não teríamos a unificação dos antigos três ministérios (Exército, Marinha e Aeronáutica) em um só Ministério da Defesa, o que colocou o Brasil entre os países civilizados, nos quais a população civil define como quer a organização das forças armadas. Da mesma forma, não cabe ao coronel arregimentar policiais para a sua pregação. Ele não recebeu o voto da população para isso. Ele recebe o seu soldo para proteger e cuidar da população de Valadares e região da melhor forma possível. Nos 239 anos da nossa PM, esperávamos um plano de resposta à violência descontrolada em nossa cidade, que registra em cinco meses deste ano quase 90 homicídios reconhecidos pelas polícias, afora as agressões que evoluíram para óbito e as mortes indicadas como do enfrentamento da polícia. Para o jurista Dalmo Dallari, “no Brasil há muita polícia e pouco policiamento.” Talvez seja este o ponto a partir do qual a sociedade deve discutir o valor de suas polícias, a sua expectativa de ser protegida pelas polícias e o seu dever de proteger e honrar homens e mulheres que estão na farda, tratando-os como cidadãos e não os envolvendo na crendice da “obediência e submissão”.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3277.9491 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo Diretora Comercial Leila Fernandes

FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

Tim Filho

A FIFA pegou pesado

Não cabe à caserna definir qual polícia é adequada à sociedade

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Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Áurea Nardely de Magalhães Borges Edvaldo Soares dos Santos Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Parlatório A garantia de cotas para estudantes de escolas públicas e por origem étnica nas universidades é positiva para a sociedade brasileira?

A abolição da escravatura não foi suficiente para garantir direitos SIM

Rosi Santiago

Discriminação positiva ou ação positiva é um conjunto de posturas para estabelecer políticas compensatórias para um determinado grupo social, étnico ou que historicamente tenha sofrido algum tipo de discriminação e/ou injustiças sociais. Estabelece um tratamento preferencial no acesso à distribuição de certos recursos ou serviços, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de grupos desfavorecidos e reparar os prejuízos que sofreram no passado ou que ainda se estendem no presente. Neste 2014, completou-se 126 anos da Lei Áurea, que aboliu a escravatura. Porém, a lei não trouxe consigo mecanismos para inserir os antigos escravos na nova ordem social em condições de igualdade de oportunidades e direitos. Assim, os afrodescendentes ficaram à margem de direitos básicos como moradia, saneamento, saúde e educação. Essa situação ainda permanece, apesar dos grandes avanços na democracia racial que a sociedade brasileira tem conseguido. A Lei 12.711/2012 garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas universidades e institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público. Esta reserva é subdividida, levando em conta o percentual mínimo correspondente à soma de negros, pardos e indígenas em cada Estado, estabelecendo assim, as cotas raciais. Agora, o Senado aprovou o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 29/2014 que garante aos candida-

tos negros 20% das vagas de concursos a serem realizados por órgãos da administração pública federal. Atualmente, apenas 30% dos funcionários públicos federais são negros ou pardos e quanto aos cargos com melhores salários este índice despenca até para 5,9%, como no caso dos diplomatas. Mas, quem são os negros brasileiros? Muitos daqueles que são contra as cotas alegam que não há como distingui-los, pois somos todos frutos de intensa miscigenação. Bom, não deveria ser difícil saber quem são os negros quando é tão fácil não vêlos nas direções das grandes empresas ou estudando nos melhores colégios particulares. Dê uma volta em nossa cidade. Nos colégios particulares, quantos negros você vê lá? Quantos juízes e médicos negros você conhece? Esse cenário demonstra claramente que a desigualdade racial ainda é uma realidade a ser mudada. Em uma sociedade ideal não precisaríamos de cotas, mas, hoje, para que todos nós possamos ter participação real em todas as esferas da sociedade, as cotas são instrumentos válidos para alcançarmos uma sociedade igualitária. Há uma reparação histórica a se fazer para a parte da população que abrange 50,7% dos brasileiros. Os negros querem sair dos morros, dos guetos, da margem e as políticas públicas específicas podem tornar este caminho menos árduo. Rosi Santiago é estudante de Pedagogia na Uniube

Cotas para quem e para quê? NÃO

Edileusa Esteves Lima

A presidenta Dilma Rousseff sancionou em 9 de junho deste ano a lei que trata das cotas raciais no serviço público federal. O documento reserva 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos a pessoas que se autodeclararem pretos ou pardos. Essa mesma política de cotas raciais também já foi adotada pelas universidades públicas e muitas discussões surgiram em torno desse tema. O fato é que, concordando ou não com essa medida, estamos assistindo a uma improvisação do governo na tentativa de sanar problemas sociais profundos que não serão solucionados apenas com políticas de cotas. A dificuldade de ingresso de cidadãos negros nas universidades e também nos concursos públicos não se dá por conta da cor de sua pele, mas sim por uma deficiência educacional que atinge a todas as pessoas de classes sociais desfavorecidas, há anos. O sistema de cotas apenas minimiza a situação que é bem mais problemática, já que ele atinge somente aqueles alunos que conseguem concluir o ensino médio. Considerando que o número de concluintes na educação básica é muito aquém do número de ingressantes, fica evidente que grande parte da população que depende de educação pública para cursar a educação básica continua sem qualquer tipo de apoio. Uma medida eficaz deveria ser aquela que garantisse um ensino de qualidade indistintamente a toda população, dando a ela a qualificação necessária para ingressar nas universidades públicas e/ou concorrer de forma igualitária nos concursos públicos. Mas, para que isso aconteça, é necessário investir na educação

básica, desde a alfabetização até o ensino médio. O governo tem adotado medidas modestas com o Plano Nacional de Educação (PNE), mas as metas estipuladas ainda estão longe de serem atingidas. Mudança efetiva demanda tempo e nem sempre os políticos estão dispostos a esperar o tempo necessário para que a mudança ocorra. Em vez disso, buscam soluções paliativas que pouco alteram a crise educacional na qual estamos inseridos. As universidades assim como os concursos públicos querem selecionar os melhores candidatos e essa intenção é legítima. Afinal, se quisermos que o nosso país se desenvolva, precisamos ter os melhores profissionais nas diferentes áreas. Não quero dizer aqui que a política de cotas seleciona os piores candidatos, mas que as cotas não fazem deles os melhores. Apenas lhes garantem a vaga e, depois, eles que se ajeitem para se manter naquele espaço tão almejado. Sabemos que o primordial é uma educação de qualidade que dê a todos as mesmas oportunidades, mas, se for preciso adotar medidas emergentes, que se atenham às cotas sociais nas universidades. Pelo menos, um número maior de pessoas carentes poderá ser beneficiado. Quanto aos concursos públicos, as cotas raciais podem ser entendidas como uma medida eleitoreira, cuja intenção primeira é promover o atual governo em ano de campanha eleitoral e não necessariamente a igualdade entre as raças. Edileusa Esteves Lima, Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (UNA/BH), secretária executiva na Faculdade de Medicina da UFMG.


CIDADANIA & POLÍTICA Expansão do IFMG

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FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

Sacudindo a Figueira

O reitor Caio Mário Bueno Silva, do IFMG, assegurou à prefeita Elisa Costa que no vestibular de final de ano para o Campus de Valadares, dois novos cursos de graduação serão ofertados: Engenharia Civil e Arquitetura, com cursos técnicos novos em áreas afins a estas graduações. Declarou que um novo prédio de salas de aula e laboratórios começa a ser construído ainda neste ano no campus local, para receber a expansão. A construtora Diretriz, de Valadares, já está construindo o Ginásio Poliesportivo do IFMG.

A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

Reconstrução da Sede do Parque A sede administrativa do Parque Municipal, que foi destruída por incêndio provocado, no dia 13 de novembro do ano passado, será reconstruída pela VALE, a partir do mês de julho. O novo projeto foi aprovado pelo governo municipal e pela VALE e a obra está em fase de contratação. Enquanto isso, é possível para grupos organizados o agendamento de passeios no parque. Escoteiros, grupos da terceira idade e pesquisadores têm sido frequentadores assíduos enquanto o parque não é totalmente aberto para a população.

Racha no PSB/REDE de Minas Apolo Heringer, entrevistado deste Figueira como pré-candidato ao governo do Estado, mandou ver no twitter: “Final da Convenção do PSB: Os sinos dobram. Como já sabíamos, a farsa chegou quase ao final. Deixaram um restinho para depois da Copa. O presidente Júlio Delgado, o Laranja-Mór de Minas Gerais, não saiu candidato, não deixou a questão da candidatura ao Governo ir a debate, delegou a uma comissão de amigos do PSDB e da Executiva Estadual a tarefa de definir se o PSB vai ter candidato a governador ou não, se vai apoiar Pimenta da Veiga e Aécio. A Convenção decidiu não decidir. Foi um rolo compressor sobre a cabeça dos presentes. Assim, as instâncias nacionais da Rede Sustentabilidade e do PSB, que nos prometeram construir a terceira via ou alternativa política para o Brasil, devem explicar ao povo o que já estamos sabendo: a chapa Eduardo e Marina não está sendo capaz de nos representar. Não conhecem a realidade dos estados da federação, fazem alianças espúrias, acabam por fortalecer o jogo dominante PT/PSDB. Neste sábado, os sinos tocaram encerrando um ciclo, de ilusões para uns de esperanças fundadas para outros. Todo este processo vivido, nós da REDE MG, apoiadores e amigos, desenvolvemos sabendo do nosso papel pedagógico de que só na participação podemos produzir esclarecimentos, desvelando o oculto, arrancando as máscaras e criando a consciência nova. Cumprimos o nosso papel e muito bem, a sociedade viu, torceu, se indignou. E máscaras estão caindo. Vamos agora ao próximo capítulo. Vamos conversando e produzindo novas intervenções. Viva a vida. Vamos viver e transformar este mundo num ambiente melhor. Muito grato a todas as manifestações de carinho que temos recebido na rua.”

PM desguarnecida pela própria burocracia Uma mostra de como a burocracia vence pelo cansaço quem quer trabalhar, a Secretaria de Defesa Social do Estado, há seis meses definiu que as infrações de menor potencial ofensivo só podem ser registradas nas delegacias em horário de expediente administrativo. Isso obriga os PMs em serviço fora de Valadares nas cidades atendidas pelos 6º e 43º Batalhões, a terem de trazer agressores e agredidos até Valadares, em finais de semana e feriados. Ao chegarem aqui, depois de ouvidos, os agressores são deixados ao Deus dará, sem passagem de volta e sem rumo. Ao mesmo tempo, os policiais que saem das cidades vizinhas, algumas delas a mais de 150 quilômetros de Valadares, para trazerem vítimas e agressores para cá, deixam tais cidades desguarnecidas. Nenhuma explicação racional, apenas ordem de cima, dos gabinetes da RISP, para homens que aprenderam a honrar a farda, a proteger a população.

Maria da Penha e o Choque de Gestão Como são comuns os casos de agressões previstas na Lei Maria da Penha, os PMs muitas vezes não conseguem que a mulher agredida aceite vir a Valadares, pois ela teria de deixar as crianças com vizinhos ou sozinhas. Há casos em que as mulheres retiram a queixa para não terem de acompanhar o PM. A burocracia vence a eficácia da Lei e expõe os vulneráveis a mais violência.

Retrocesso na proteção à infância? Em 2010 todas as mais de 22 mil crianças matriculadas nas mais de 50 escolas municipais passaram a estudar o dia inteiro. Em 2011, mais um Conselho Tutelar foi criado e passou a funcionar. Disso decorre que há alguns anos não se vê mais na cidade crianças em situação de abandono, trabalhando ou pedindo nas ruas. De repente, nas duas últimas semanas, pelo menos três garotos, entre 10 e 13 anos, perambulam pelo Centro da cidade, a esmo. É possível vê-los na Sá Carvalho, na Omar Magalhães, no entorno de supermercados do Centro, da primeira hora da manhã, à madrugada. Passam fome e frio, abordam motoristas pedindo dinheiro. Um deles, abordado por transeuntes alega estar fugindo de ameaça de morte. Acionada, a Secretaria Municipal de Assistência Social limita-se a indicar o celular dos conselhos tutelares. O que parecia uma joia da coroa neste atual governo municipal corre o risco de resvalar para a pior referência do passado – o descuido com as crianças – por inércia dos agentes públicos ou falta de dar a gravidade necessária. Cabe à SMAS, aos Conselhos Tutelares, ao CMDCA, à Vara da Infância e ao MP fazer a busca ativa, mobilizar seus agentes em favor das crianças, fazer a cidade acreditar que as políticas de proteção que foram implantadas são para valer..

A mordida

Medicina da Univale

Suárez foi punido pela FIFA com afastamento do restante dos jogos da Copa. Mas, a mordida que deu em um jogador inglês foi motivo de comentário até do presidente de seu país, o Uruguai: “Não escolhemos o Suárez para ser filósofo, mecânico ou para ter bons modos.” Pepe Mujica, decerto, traduziu o que pensam os patrícios, movidos pelos bons resultados nesta Copa do Mundo.

Desde 28 de dezembro de 2009 corre o processo 200909036 no Ministério da Educação, para abertura do curso de Medicina da Univale. Os impedimentos passam pela insegurança quanto à capacidade da Fundação Percival Farqhuar manter um curso de Medicina, quando não consegue manter salários em dia dos docentes dos cursos já existentes na Univale. Passam também pela falta de leitos do SUS para o ensino dos estudantes. O MEC tem exigido das faculdades e universidades particulares, preferencialmente, terem hospital próprio para justificar a criação de cursos novos de Medicina. Como a FPF não tem hospital próprio e o curso de Medicina da UFJF já se apropriou dos leitos SUS existentes, o processo vai de setor em setor sem solução.

Curupiras no Hospital Municipal O folclore brasileiro tem no Curupira um de seus entes mais perturbadores. Filho da floresta, com corpo de criança e cabelos vermelhos, é marcado por ter os pés voltados para trás, o que lhe permite enganar caçadores e viajantes, fazendo-os perder o rumo certo, transviando-os dentro da floresta, com assobios e sinais falsos. Por qualquer equação matemática, não há como explicar os salários de até 50 mil reais de alguns médicos no Hospital Municipal, pois não têm como fazer tantos plantões caberem no dia de 24 horas. Mas, assim como no caso dos pés invertidos do Curupira, escapa à Matemática o fato de plantões médicos terem se tornado padrão monetário para qualquer serviço imprevisto, além da possibilidade de médicos residentes serem usados para cobrir serviços no lugar de seus preceptores. São frequentes as denúncias de agenciamento de pacientes do SUS por médicos no HM, para os seus serviços particulares. Mas, o que há de novo nas denúncias são as narrativas de pacientes à espera de cirurgias e tratamentos mais complexos, deixados no corredor ou em leitos provisórios por dias, com o médico afirmando para a família que “não há vagas no sistema”. De fato, a vaga que não existe naquele momento no Municipal, existe em outros hospitais de Valadares, o que poderia ser constatado no SUS Fácil. Mas, aí entra o Curupira. Conforme esses relatos, quando a família chega ao desespero, a oferta aparece. O médico indica disponibilidade de vagas em hospitais de Divinópolis, Muriaé, Belo Horizonte, até Uberlândia. Funciona em casos em que o paciente só pode viajar acompanhado de médico.

Blog da Pesquisa

Na Unimed, essa prática não interessa a esses médicos, pois é tabelada. No Hospital Municipal, não é tabelada. A moeda de troca são os plantões: o valor de tantos plantões por uma viagem com o paciente. A cada viagem dessas, o médico embolsa de 4 a 5 mil reais – que aparecem no contracheque como plantões. Como os plantões não cabem nas 24 horas do dia, em muitas dessas viagens, como as vítimas relatam, quem acompanha o paciente é o médico residente. A Residência Médica, atividade nobre, pode estar se tornando no HM iniciação ao crime.


GERAL 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

Serviço ao Cidadão

Memória

O SESP no Médio Rio Doce - o caso de Governador Valadares, um território endêmico

Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) completa 10 anos de muito trabalho

Parte (III) Maria Terezinha Bretas Vilarino e Patrícia Falco Genovez/Pesquisadoras A leitura e análise destes relatórios indicam que para resolver os problemas das endemias, da água tratada e escoamento do esgoto ruas foram abertas e possibilitouse condição de pavimentação das mesmas, lagoas foram esgotadas, áreas pantanosas foram limpas, as moradias puderam servir-se de instalações sanitárias mais adequadas. Estas novas condições agregaram valor às construções já existentes e às suas adjacências fazendo crescer também as taxas municipais correspondentes. A disponibilidade de serviços médicos e dentários, aliados a amplas campanhas de conscientização e educação sanitária mudou hábitos e práticas cotidianas quanto à higiene e cuidados com a saúde. Os relatórios do SESP indicam como causa dos muitos problemas de saúde existentes na cidade e arredores a “ignorância e superstição da população” e defendem uma ampla campanha de educação sanitária e orientação quanto aos “milagres do saneamento”. O mais curioso, para não dizer trágico, é que este contexto calamitoso que acabamos de traçar para as décadas de 1940 e 1950, em Governador Valadares e região, não parece ter ficado no passado. Estas informações servem de balizamento para pensarmos porque, desde aquela época, a cidade e a região apresentam recorrentemente um quadro preocupante em termos das endemias e do saneamento. Seria possível resgatar as causas apontadas pelos relatórios da década de 1940, pautadas na ignorância e na superstição? As manifestações atuais estão aí para mostrar que se o quadro da saúde pública na região mudou pouco, ao que parece, a população dá sinais de que está deixando para trás qualquer resquício do que se possa considerar superstição e ignorância. Será que a nova forma de lidar com a ausência de saúde e saneamento representa uma mudança? Será que após 70 anos podemos contar com uma população mais participante? Num primeiro momento, tínhamos uma população que recebeu as ações como benesses do Estado, sem questionamentos. Hoje, as manifestações apresentam uma população que requer seu protagonismo e iniciou um processo reivindicatório nas ruas. Estaríamos, finalmente, diante do delineamento de um novo cenário?

Hoje, as manifestações apresentam uma população que requer seu protagonismo e iniciou um processo reivindicatório nas ruas. Estaríamos, finalmente, diante do delineamento de um novo cenário?

Legenda da foto: Primeiro corpo de funcionários do SESP em Governador Valadares – 1943 De pé, na parte mais alta, da esquerda para direita: Luis Augusto (Almoxarife), José Pedro (Datilógrafo), Dr. Durval Bustorff, Dr. Bezerra Filho, Rubem Correia (Secretário). Na parte baixa, da esquerda para direita: Nilo (Servente), Levi (Servente), Lenita e Terezinha (Secretárias), Petronilho* (Servente) Fonte: Acervo Sr. Petronilho Alcântara Costa. Patrícia Falco Genovez é professora do Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT e Pesquisadora do Observatório Interdisciplinar do Território – OBIT/ Univale. Maria Terezinha Bretas Vilarino é professora do curso de História/Univale, doutoranda PPGHIS/UFMG. Leia o artigo completo, com as fontes de pesquisa, no site deste Figueira: www.figueira.jor.br

A Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) completa dez anos de criação neste sábado. Quem viveu no tempo em que a Central não existia deve se lembrar da dificuldade para se fazer qualquer solicitação na Prefeitura. O cidadão tinha que saber a qual setor específico se dirigir para tratar de determinado assunto. Feita a descoberta, era preciso chegar lá, de elevador ou de escada. A CAC acabou com tudo isto. Basta chegar ao térreo, que estão concentrados ali todos os serviços disponíveis ao cidadão. São cerca de cem mil atendimentos e 30 mil processos por ano. “Antigamente, o mesmo cidadão enfrentava três filas diferentes no mesmo dia. Desde que a CAC foi criada, não é mais assim. A Central cumpre o objetivo da sua criação, oferecendo um atendimento único, humanizado e eficiente”, conta a responsável pelo setor desde a sua criação, a servidora Magali Fernandes, que guarda, com carinho, o jornal que noticiou a criação da Central. O servidor Antônio Marcos, funcionário na portaria da Prefeitura há 23 anos, confirma. “Antes da CAC, o movimento no prédio era muito maior. A pessoa tinha que, às vezes, buscar vários setores. Hoje é muito mais confortável e rápido para o cidadão”, comenta. Inaugurada em 28 de junho de 2004, a CAC foi instituída por lei em 27/4/2004 (lei 5.330/2004) como parte da reforma administrativa e começou a funcionar com 28 servidores efetivos, capacitados e, em sua maioria, recém-aprovados em concurso. Atualmente, a equipe é formada por 35 servidores – grande parte ainda da equipe inicial. Presta serviço de vários setores, já que, desde a criação, encampou a responsabilidade e competência de quatro gerências da administração. A Central funciona em horário diferenciado: de 7h30 às 17h. A demanda atual de atendimentos é quatro vezes maior que a demanda de dez anos atrás, pela diversidade e responsabilidade de novos serviços. “Houve um crescimento considerável no número de processos devido ao crescimento natural da cidade, principalmente nos últimos anos”, explica Magali, ressaltando que a Central, subordinada à Secretaria da Fazenda, acaba sendo grande responsável pela receita direta do Município, já que é lá onde se negociam muitas dívidas. Serviços prestados: - Emissão de guias de impostos, auto de infração, taxas e tarifas diversas (IPTU, ITBI, ISS, auto de infração, ISS), Posturas, Obras, Taxa de Fiscalização e Funcionamento, Taxa de Publicidade, Tarifa de Uso e Ocupação de Solo, Taxa de Coleta de Resíduos Sólidos; Negociação, parcelamento de dívidas de impostos e taxas, emissão de Nota Fiscal Avulsa, emissão de alvará, comprovantes de quitação; Montagem de processos e distribuição aos setores desta Prefeitura e Secretarias; Emissão de certidões: Lançamento, Único Imóvel, Negativa, Positiva com efeito de Negativa, Discriminativa, Taxista e de Inscrição; Análise situação de empresas para enquadramento Simples Nacional; Protocolo, requerimento de serviços administrativos e tributários.

Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília

Foi medo Nem idade (84 anos), nem necessidade de cuidar da saúde da mulher. Foi por medo de ser derrotado na última eleição que disputaria que o ex-presidente José Sarney (PMDB) abriu mão de brigar por mais oito anos como senador. A decisão não foi tomada da noite para o dia, segundo um assessor de Sarney. Foi com base em resultados de pesquisas de intenção de votos e na análise de vários cenários que levaram em conta, inclusive, a carreira da filha, Roseana Sarney.

Medo e cautela As pesquisas, segundo essa fonte, mostram que o senador poderia ser facilmente derrotado em todos os possíveis cenários, independentemente dos apoios que receberia. E até os apoiadores de Sarney teriam minguado, ao logo dos anos. Derrotado nas urnas, ele poderia comprometer ainda mais o nome da filha. Achou melhor sair por cima.

Recuerdo Em 2009, acusado de um esquema de contratações irregulares no Senado, quando presidia a Casa, Sarney foi defendido pelo então presidente Lula. Na época, Lula disse que Sarney tinha história e não poderia ser tratado como uma pessoa comum.

Ciro simpático Alívio No PMDB, segundo um parlamentar do partido, a sensação é de certo alívio, embora os cabeças da legenda façam questão de reconhecer a contribuição do ex-presidente para a política. A análise é de que a saída de Sarney vai permitir oxigenar o PMDB.

Caso diferente Situação um pouco diferente é a do senador Pedro Simon (RS). Um dos fundadores do PMDB, desde o MDB da época da ditadura, ele desistiu de se lançar em mais uma disputa porque disse querer sair vivo do Senado. Aos 84 anos, Simon, que é considerado uma reserva moral na política brasileira, admitiu que vai sentir falta da convivência no Congresso e do cotidiano da política, mas disse que em determinado momento, todo mundo tem de ceder.

“Traição” Perguntado se não haverá prejuízo para o Congresso com a saída dele da política, o senador brincou com este jornalista: “traição foi do [ex-presidente] Tancredo Neves e do doutor Ulysses Guimarães. Eles não tinham o direito de morrer.” (risos)

Conhecido pelo temperamento forte e pelo pavio curto, o ex-ministro Ciro Gomes fez a alegria de uma ala petista e do mercado financeiro nesta semana. Ao anunciar o apoio do Pros à candidatura Dilma Rousseff, ele pediu a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mais um engrossando o coro.

Teve Copa

Por falar em Copa, o senador Álvaro Dias (PSDBPR), que disse torcer para que a seleção perdesse, para o Brasil voltar a discutir política, foi fotografado no estádio em dia de jogo. Só não se sabe se torcendo a favor ou contra.

Um colega da equipe de campanha da presidente Dilma estava todo eufórico com o sucesso da Copa, até agora. Disse que no Palácio do Planalto o clima está até aprazível, já que ainda não houve nenhuma das situações de caos anunciadas antes do evento. Nem as manifestações ocorreram como antes. O governo acredita que vai poder tirar proveito disso, depois.

No mercado

Spray de pimenta

Recém saído da presidência e da carreira de magistrado do Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro Joaquim Barbosa está na mira de grandes escritórios de Advocacia e cursos de Direito pelo país. Estima-se que o trabalho de Barbosa esteja avaliado em R$ 50 mil por página de parecer. Como os pareceres são bem mais longos, a carreira na iniciativa privada vai agregar bastante à aposentadoria do ex-ministro.

Recebeu parecer favorável do deputado Guilherme Campos (PSDSP) o projeto de lei que permite que qualquer cidadão brasileiro possa comprar e portar o spray de pimenta, para se defender em casos de assalto e agressões. A crítica que o projeto vem recebendo é em relação à possibilidade de o produto ser usado por assaltantes e sequestradores para desequilibrar as vítimas e facilitar os crimes.

Ele foi

José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.


METROPOLITANO

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FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

Festa da Copa na Praça dos Pioneiros Torcida valadarense se reúne em dias de jogos do Brasil no anfiteatro da Praça dos Pioneiros para torcer pela Seleção Brasileira

Smcel

Gabriel Sobrinho / Repórter

Quatro horas da tarde. Uma hora antes da partida entre Brasil e Camarões, a Praça dos Pioneiros já começa ser tomada pelo verde e amarelo. Nesta edição da Copa do Mundo, no Brasil, os valadarenses ganharam uma opção diferente para torcerem pela seleção. Uma Fan Fest montada na praça com um telão de LED, por uma empresa de cerveja, virou o grande atrativo para os torcedores durante os jogos de Neymar e companhia. Além de muita agitação entre os torcedores, bares e vendedores ambulantes próximos ao local comemoram o aumento nas vendas e animação dos valadarenses. Apitos, bandeiras, balões e muita alegria. Aqui, o que não falta é torcedor empolgado com a seleção canarinho. A cidade sede da FIFA mais próxima de Governador Valadares está a 315 quilômetros, Belo Horizonte, com o estádio do Mineirão. Uma distância considerável para quem não tem recursos financeiros e nem ingressos para as partidas. A solução é mandar energia daqui mesmo, diretamente da praça. O local já exibiu três jogos do Brasil, contra Croácia, México e Camarões. No sábado, 28, apresentará a partida contra o Chile. Em cada um desses eventos, o local tem recebido mais de mil pessoas. A bola rola e as emoções unem e dividem os torcedores. Há quem se enrole na bandeira do Brasil, e outros que cantam e gritam sem parar. Muitos ficam nos cantos, calados, com os olhos fitos no telão. A estudante de Direito, Luciana Alves Dias, 19 anos, quase não pisca, rói as unhas sem parar. A Fan Fest da Praça dos Pioneiros serviu como um incentivo para que ela e as suas amigas acompanhassem os jogos da Seleção Brasileira. “Confesso que eu não sabia como ia ver os jogos. Não sou de Valadares, estou aqui para estudar,

Centenas de pessoas se reúnem no anfiteatro da Praça dos Pioneiros para assistir em um telão os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo

há menos de um ano. Conheço poucas pessoas na cidade e gosto de ver os jogos com uma galera animada. Fiquei sem saber o que fazer. Mas quando soube da organização desse espaço na praça não pensei duas vezes, chamei as amigas mais animadas e viemos para cá. Já assisti os três jogos aqui e espero ver todos, até a final”. Atrás do balcão, Marcelo de Lima, 53 anos, quase não tem tempo para nos dar entrevista. A movimentação não para, em menos de dez minutos o comerciante vendeu mais de 20 latinhas de cerveja. Ele não reclama. “Esse ano parecia

que o povo ia ficar desanimado com a Copa. Mas foi só impressão, o povo foi pra rua, mas foi para torcer. Aqui na praça fica tudo cheio, duas horas antes dos jogos os torcedores começam a chegar e pedir cerveja. É o famoso ‘esquenta’. O lucro que já tive nos três jogos equivale a um mês de funcionamento. Estou bastante animado. Estou na torcida para que o Brasil chegue à final”. Trabalhar, assistir os jogos e se divertir. Esse é o lema da dona Santa de Souza Lima, 53 anos. Nos dias de partida do Brasil ela chega cedo à praça, quase duas horas antes, para montar a

barraca de bebidas e aguardar os torcedores. Mas, além da empolgação e das festividades, a vendedora ambulante reclama da segurança no local. “Tá tudo muito organizado, mas sempre temos alguns problemas. Sempre tem uns mais espertos que na hora do gol pegam as latas de cerveja e saem sem pagar. Até mesmo os torcedores já reclamaram de terem as carteiras roubadas. É muito animado e gostoso assistir os jogos aqui, mas é preciso que as pessoas que vierem redobrem a atenção para não passarem por nenhuma situação desagradável”, alerta dona Santa. Gabriel Sobrinho

Otimismo dos camelôs e cautela dos lojistas marcam o comércio na Copa Gabriel Sobrinho / Repórter

Ainda faltam algumas horas para o Brasil entrar em campo. Nas ruas, um corre-corre. Uns se agilizam para chegar em casa mais cedo, outros passam nos vendedores ambulantes para comprar os últimos adereços. Nas calçadas, no centro da cidade, a venda está movimentada. Mas, para outros segmentos do comércio valadarense, a Copa do Mundo 2014 era esperada com mais otimismo. A opinião quanto aos lucros que o evento tem gerado na cidade divide opiniões. “Promoção! Duas camisas do Brasil por trinta reais” Em alto e bom som grita Felipe Augusto, camelô na Rua Israel Pinheiro. Para ele não existe pessimismo. As vendas não param. A réplica da camisa da seleção canarinho e as famosas cornetas de plástico são as mais procuradas. A expectativa é que o Brasil avance para as próximas fases para as vendas dispararem. “Antes da estreia do Brasil contra a Croácia eu já estava vendendo bem. Meu irmão teve que ir a São Paulo, duas vezes, buscar mais mercadorias, não estávamos dando conta. Uma camisa oficial do Brasil nas lojas custa quase R$ 200,00. Muito caro. Neste ano, os torcedores parecem não querer gastar muito, querem economizar. Com R$ 50,00 o torcedor sai da minha barraca com duas camisas e quatro cornetas”. Com o objetivo de oferecer um atendimento rápido e prático, os telecervejas atendem também aqueles que deixam para comprar as bebidas em cima da hora. Ao contrário de alguns pontos comerciais, as entregas desses estabelecimentos não param durante os jogos do Brasil. “Está sendo muito atípico. Os torcedores estão colocando menos ‘a mão no bolso’. Acho que não acreditavam muito nesse time do Brasil. Mas quando a bola rola, não tem jeito, o telefone não para. Sem dúvida, nas outras Copas as vendas, até essa fase da competição, foram melhores. Mas ainda acredito que vão melhorar, ainda mais se chegarmos à grande final”, confia o proprietário de um telecerveja, Adalto Luiz. Para Paulo Henrique Fernandes, dono de açougue no Mercado Municipal, os comerciantes esperavam mais das vendas e dos lucros nesta Copa. “Todos reclamam que está mais devagar do que nas outras. Ao longo da semana não há grande procura, os torcedores deixam para comprar em cima da hora, momentos antes de começar o jogo. Muitos estão preferindo assistir jogos em barzinhos e restaurantes. Minha estratégia será de promoções relâmpagos, tudo para atrair os torcedores”. “Se compararmos a Copa do Mundo 2014 com a de

Camisas verde e amarelas, imitando a camisa oficial da Seleção Brasileira, são muito procuradas nas barracas dos camelôs pelas ruas de Valadares

2010 os números despencaram”. Essa foi à primeira resposta da vendedora de um depósito de bebidas da cidade, Tâmara Alves. Ela afirma que quase não houve diferença. Se comparar com os últimos meses do ano, houve um aumento de aproximadamente 20%, mas nada relevante. “Os nossos clientes, que são o pequeno comércio e o consumidor final, preferem comprar diretamente dos supermercados, pois a AMBEV fez para todo o segmento varejista preços promocionais nas latinhas de 350 ml e nos latinhas maiores, de 475 ml. A venda melhora um pouco com as cervejas de casco (600 ml) gelada, pois nos supermercados não vendem”, ressalta a vendedora. Para comemorar os gols da Seleção Brasileira, muitos torcedores soltam os tradicionais fogos de artifício. No centro da cidade, a venda no estabelecimento especializado ainda não decolou. No primeiro jogo do Brasil a venda foi próximo do esperado, com maior procura por bombas de pequeno porte e rojões. Mas os números caíram nos jogos seguintes. “Festas de final de ano e festas juninas são os principais eventos que

movimentam o nosso comércio, em seguida vendemos muito na Copa do Mundo. A competição é de quatro em quatro ano, sempre é aguardada com muita ansiedade. Mas, neste ano tem sido um pouco frustrante. Ainda confiamos numa melhora”, acredita a vendedora Viviane Nunes. Copa tranquila também para o Corpo de Bombeiros O reflexo da pouca empolgação dos torcedores refletiu nas ocorrências do Corpo de Bombeiros. Não houve nenhuma ocorrência grave ligada aos jogos do Brasil. Durante as duas horas de partida contra Camarões ocorreram três atendimentos. “Tivemos um resgate de ciclista em colisão com um automóvel, nada grave. Transporte inter-hospitalar e socorro a um parto. É bom lembrar que houve um trabalho de conscientização sobre os cuidados a serem tomados, principalmente no manuseio dos fogos de artifício. Nesta Copa, os valadarenses não estão cometendo exageros. Vamos ver agora nas próximas fases como será”, completa o tenente Ricardo.


SAÚDE 6

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Fábio Moura

Todas as vinte semanas de gestação da segunda gravidez de Michele Cristina são acompanhadas pelo pré-natal do grupo de gestantes da unidade do bairro Ipê. Hipertensos e diabéticos também têm espaço garantido na agenda dos grupos fixos. Tem, ainda, espaços de vacina e outro grupos esporádicos promovidos pelo NASF.

Estratégia de Saúde da Família chega a 200 mil valadarenses Fábio Moura / Repórter

É discurso comum entre os gestores da saúde no município e entre os integrantes das equipes das ESFs o fato de que os atendimentos desse setor perpassam diversas questões sociais. Esse vínculo com a comunidade é relevante não só por empregar centenas de profissionais, mas também pelas atividades que reúnem vários segmentos da população do bairro em ações de prevenção à saúde. “Tratei de catapora até o pré-natal da minha segunda gestação. Venho aqui resolver de tudo. De vez em quando tem a ver com a minha saúde”, conta sorrindo a Michele Cristina, lá do bairro Ipê.

- E os remédios? Tem tomado direitinho? - Claro! - Tem tomado mesmo, dona Maria? E essa caixa vencida aqui? - Tenho, sim, minha filha. Isso aí eu esqueci... de jogar fora. - Olha lá, hein? Eu tô de olho na senhora. Vou levar essa caixa comigo. Passo aqui até o fim da semana pra ver se você voltou a andar na linha. Não pode brincar com isso, dona Maria. Isso é a sua saúde. E se esse coração aí quiser te dar um susto? - Sabe, minha filha, se ele quiser me dar um susto, eu nem sei não, viu. Fico pensando que minha hora pode chegar a qualquer momento. E se chegar... acho que além d’ocê, ninguém vai dar falta, não... - Não chora, dona Maria. Para, vai. Deixa eu enxugar esse rosto... assim... fica calma. Passa um cafezinho pra gente, hein? - Sabe, filha. Minha neta já não volta pra casa há mais de uma semana. Meu filho tá envolvido com essas coisas erradas aí que você bem sabe quais. Vem aqui só pra tentar carcar minha aposentadoria. Aí você chama minha atenção por não tomar o remédio? Esse é o meu menor risco. O problema mesmo é...

disse ao abrir o portão e conferir o movimento da rua. Era só a primeira visita do dia. Mensalmente, a agente vai à casa de cerca de 150 famílias. Ela é uma das seis ACSs desse grupo da Estratégia de Saúde da Família - ESF. Ao todo, cada equipe assiste a uma média de 3.500 pessoas. As agentes são o fio condutor entre a comunidade e os profissionais da Atenção Básica à Saúde. São elas as responsáveis por estabelecer os primeiros contatos – e também os rotineiros, posteriormente – com as famílias da área assistida por aquela equipe. Devem mapear, cadastrar e acompanhar cada uma das 750 pessoas - em média, por agente – dentro da sua alçada de atuação. E, pra isso, o Ministério da Saúde acredita que é de fundamental importância que elas vivam, convivam e conheçam todas as minúcias sociais, econômicas e geográficas daquela região, daquele povo. Portanto, preconizam que essas profissionais devam residir ou manter algum tipo de relação íntima com a região atendida. Nas visitas, elas devem orientar, dar dicas de prevenção e observar tudo aquilo que destoa da normalidade. Aqueles que aparentam desenvolver alguma enfermidade são encaminhados à Unidade Básica de Saúde (UBS) que atende à região. Caso a pessoa tenha dificuldades de locomoção, esteja acamada, recém acidentado ou diante de qualquer outro impediDeu pra sentir na primeira golada: três colheres a mais de café e três a mento, o técnico de enfermagem, o enfermeiro ou o médico - profissionais menos de açúcar. Desceu lento pela garganta, amargou tudo que via pelo que também compõem a equipe da ESF - vão à sua casa aplicar vacinas, caminho e chegou ao estômago queimando feito uma chaleira. Ela, por sua injeções, fazer curativos ou realizar uma consulta mesmo. Puérperas e alvez, nem atinou praquilo. Tomou logo um segundo gole e adormeceu as guns idosos recebem o mesmo tratamento. As equipes contam, ainda, com poucas papilas gustativas que haviam restado da primeira prova. Estava atendimento odontológico, com um cirurgião-dentista, um técnico e um perplexa com o desalento de dona Maria. Conhece a senhora de setenta e auxiliar em saúde bucal. poucos anos há décadas e desde que se tornou Agente Comunitária de SaúÉ discurso comum entre os gestores da saúde no município e entre os de visita a sua casa todos os meses. Mora na rua debaixo, há cinco minutos integrantes das equipes das ESFs o fato de que os atendimentos desse setor dali, e cresceu recebendo os seus mimos. Nunca havia visto ela daquela perpassam diversas questões sociais. Esse vínculo com a comunidade é reforma. Estava preparada pra atendê-la, mas por um momento sentiu-se levante não só por empregar centenas de profissionais, mas também pelas desnorteada. Olhava para o nada, enquanto a consolava com um leve cari- atividades que reúnem vários segmentos da população do bairro em ações nho em seu cabelo. de prevenção à saúde. “Tratei de catapora até o pré-natal da minha segun“Dona Maria... semana que vem um psicólogo vai atender ao pessoal da gestação. Venho aqui resolver de tudo. De vez em quando tem a ver com do bairro lá no postinho. Vou passar aqui pra irmos juntas até lá, tudo a minha saúde”, conta sorrindo a Michele Cristina, lá do bairro Ipê. bem?”. Ainda com a voz trêmula arriscou um “tudo, sim, minha filha”. Para eles, compreender as peculiaridades da população e encontrar forMais uma xícara e alguns biscoitos de polvilho até que a Agente de Saúde mas de inserção na comunidade é o único modo de desenvolver um trabasoltasse: “mas a senhora errou a mão, hein? Pelo amor de deus. Que café lho eficaz. “É uma disputa pelo território, para retirá-lo do poder informal. é esse... completa minha xícara aqui que a caminhada hoje é longa”. Dona Se a gente não se preparar pra isso, não vamos conseguir intervir naquela Maria levou-a às gargalhadas até o portão. “Te espero, hein, minha filha”, comunidade. Então, estar ao lado dessas pessoas para tentar compreender


SAÚDE a dinâmica da região é muito mais benéfico do que se fechar, como se isso não fosse problema dos profissionais de saúde. Veja só: se há alguém envolvido com o tráfico de drogas precisando de atendimento médico, mas não pode atravessar a rua pra ir até a unidade, pois corre o risco de entrar em conflito com outras facções; não iremos até a casa dele, para atendê-lo?”, questiona a enfermeira gestora da atenção básica, Maria Augusta. E o postinho? A sigla ESF pode até soar estranha para você, leitor, mas trata-se de algo comum ao seu dia a dia. O Programa de Saúde da Família - PSF, criado na década de 90, consolidou-se e passou a ser uma Estratégia presente na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) do Ministério da Saúde. “A atenção primária é a principal porta de entrada do sistema de saúde. “É aqui que avaliamos todas as pessoas e, se necessário, encaminhamos para outros espaços de tratamento como a Policlínica ou o Hospital Municipal. A equipe tem que ter 80% de resolutividade dos casos. Se não tiver, ela não está exercendo o seu papel. Conseguimos filtrar aqui viroses, dengue, entre outros casos. Além disso, temos grupos de atendimento regulares com hipertensos, diabéticos e gestantes; o que faz que boa parte da comunidade tenha condição de se tratar por aqui mesmo”, conta a enfermeira da unidade do bairro Ipê, Andréia Ferreira. Há Unidades Básicas de Saúde que abrigam uma, duas, três, quatro (...) equipes da ESF. Abrigam, no caso, como referência e não como o seu único ponto de atuação. Sair das unidades de atendimento e ir até a casa das pessoas é uma tentativa de reduzir o fluxo desnecessário nas unidades, por desinformação ou pela busca de orientações primárias, além de estreitar os laços e personalizar o atendimento àquela região.“Há grupos de atendimento comuns a todas as unidades,mas as comunidades não seguem um único padrão. Há especificidades em cada uma delas. Às vezes, você vai encontrar um grupo muito fortalecido de saúde mental em uma unidade específica, outra com exercícios laborais e assim por diante. A gente se adapta ao que a população demanda”, explica a coordenadora do Programa de Saúde da Família e das Unidades de Atenção Primária à Saúde, Poliana Lidtig. Essa carga de serviços – como o acompanhamento de grupos específicos - que extrapola o campo de atuação das ESFs é oferecida pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família. É uma forma de ampliar o escopo de ações da atenção básica. São oito equipes que contam, cada uma, com psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, educador físico, nutricionista e farmacêutico. Eles peregrinam pelas unidades de saúde de toda a cidade, semana a semana, atendendo um a um, durante um período previamente agendado. Era através do NASF que a dona Maria teria contato com um psicólogo na unidade da sua região. Amanhã vai ser maior 70%: essa é fatia mínima da população que deve ser atendida pelas equipes de Estratégia de Saúde da Família de acordo com a Política Nacional da Atenção Básica do Ministério da Saúde. A pasta da União entende

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que cerca de 30% da população tem acesso a planos particulares e não dependem estritamente do Sistema Único de Saúde. “O ideal é visitar a casa de 100% dos valadarenses, mas o trabalho é de formiguinha e temos de começar pela população que mais necessita do serviço”, explica a secretária municipal de saúde, Kátia Barbalho. Hoje, o município de Governador Valadares atende a 52% de sua população, com 41 equipes credenciadas e ativas da ESF. Entre os meses de julho que se inicia e agosto próximo, 16 novas equipes entrarão em atividade e a cobertura do programa na cidade chegará a 72%. Serão, ao todo, 57 equipes assistindo a pouco mais de 200 mil valadarenses em seus meios urbano e rural. Os bairros Pérola, São Paulo, São Raimundo, São Pedro, Nossa Senhora das Graças, Novo Horizonte e Esperança, além dos distritos de Itapinoã, Nova Floresta, Goiabal e Pontal ganharão novas equipes da Estratégia. “Ganharão, não. Consolidarão”, retruca a referente técnica em Unidades Básicas de Saúde, Fernanda Magalhães. “Isso, porque boa parte dessas áreas já era assistida por enfermeiros e agentes nas Equipes de Agentes Comunitárias de Saúde - EACS. Esses grupos, agora, passam por adequações e têm integrados ao seu time médicos, técnicos em enfermagem e profissionais da saúde bucal”. As EACS são uma espécie de modelo de inserção na comunidade, algo transitório. São as bases para se conhecer, mapear e interpretar todas as peculiaridades da comunidade. Na prática, prepararam o terreno para a chegada de uma equipe integral da ESF. Na outra ponta, estão as Unidades Básicas de Saúde que contam com clínicos gerais, enfermeiros, ginecologistas, pediatras, odontólogos, mas não dispõem de agentes comunitárias. Ou seja, não iam até a população que reside nos seus arredores. Faziam todos os procedimentos e atendimentos dentro das unidades e não funcionavam, portanto, como preconiza a Estratégia de Saúde da Família. Além da contratação de agentes, a expansão do programa torna-se viável com a chegada de 33 médicos pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica e mais 29 do Programa Mais Médicos. “Eles têm uma especialização própria em saúde da família, salário com um bom piso e têm de cumprir a sua carga horária. Vamos conseguir fixá-los na comunidade e eles passarão a ter uma relação mais íntima com a população. Algo que não ocorria antes”, relata num tom esperançoso a coordenadora do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Cristiane Esteves. Essa ausência de vínculo acontecia, em parte, segundo as gestoras da saúde no município, devido ao descumprimento da carga horária de trabalho pelos médicos no modelo antigo. “Os médicos que nós tínhamos antes da entrada dos profissionais do PROVAB e do Mais Médicos eram daqueles que iam à unidade e não ficavam mais do que uma hora. O que ele fazia: encaminhava. Dor no peito vai para o cardiologista, dor no pé vai para o ortopedista e assim por diante. Pouca coisa era resolvida na própria unidade. Com a mudança, já é possível perceber a chegada de uma assistência mais personalizada e humanizada. O Nolan, médico cubano, em entrevista ao próprio Figueira, disse que eles ‘atendem é com as mãos’. Ou seja, eles tocam, ouvem as pessoas”, conta Kátia Barbalho, a secretária municipal de Saúde.

Hoje, o município de Governador Valadares atende a 52% de sua população, com 41 equipes credenciadas e ativas da ESF. Entre os meses de julho que se inicia e agosto próximo, 16 novas equipes entrarão em atividade e a cobertura do programa na cidade chegará a 72%. Serão, ao todo, 57 equipes assistindo a pouco mais de 200 mil valadarenses em seus meios urbano e rural. Os bairros Pérola, São Paulo, São Raimundo, São Pedro, Nossa Senhora das Graças, Novo Horizonte e Esperança, além dos distritos de Itapinoã, Nova Floresta, Goiabal e Pontal ganharão novas equipes da Estratégia.

Além da contratação de agentes, a expansão do programa torna-se viável com a chegada de 33 médicos pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica e mais 29 do Programa Mais Médicos. “Eles têm uma especialização própria em saúde da família, salário com um bom piso e têm de cumprir a sua carga horária. Vamos conseguir fixá-los na comunidade e eles passarão a ter uma relação mais íntima com a população. Algo que não ocorria antes”, relata num tom esperançoso a coordenadora do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Cristiane Esteves.

Fábio Moura

Fábio Moura

Conseguir uma consulta corriqueira ainda é uma labuta nas Unidas Básicas de Saúde. A Estratégia de Saúde da Família tem, entre as suas propostas, o objetivo de atenuar e direcionar o fluxo de pessoas na unidade ao conceder orientação, prevenção e atendimento na casa dos moradores da comunidade.


GERAL

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Política Pública de Saúde

ESPORTE ESPECIALIZADO Divulgação Futsal

Derli Batista da Silva

Qualidade e eficácia na Atenção à Saúde (II) É reconhecido o potencial do Sistema Único de Saúde (SUS) de gerar solução aos problemas de saúde da população. Mas, há pessoas que ainda encontram dificuldades no acesso às ações assistenciais de muitos profissionais, como enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e outros. Mesmo com a consciência de que estes serviços lhes são de direito, esbarram em entraves alimentados por desinteresse ou despreparo de parte de gestores e gestoras dos serviços de saúde pública. Um dos caminhos que podem melhorar a atenção à saúde da população é aquele destacado pelo Ministério da Saúde (acesse www.saude.gov.br) em seus protocolos assistenciais - que devem ser respeitados e cumpridos em todas as cidades brasileiras - que o enfermeiro (por ter formação universitária), de acordo com o Decreto nº 94.406/87, deve realizar as seguintes ações em seu trabalho, especialmente nos postos de saúde: Consulta de Enfermagem; solicitação de exames laboratoriais e complementares; prescrição de medicamentos previstos nos programas de Saúde Pública, inclusive alguns antibióticos (vide www.corenmg.gov.br , www.portalcofen.gov.br), palestras educativas em saúde, coordenação do serviço de auxiliares e técnicos de Enfermagem; dentre outras. Para que estes serviços sejam efetivados e assegurados às pessoas é preciso enfrentar seriamente o que por vezes ocorre: ora a falta de compromisso de alguns profissionais; ora a falta de vontade política de gestores e gestoras com a saúde comunitária, cedendo aos interesses de pequenos grupos corporativos do setor privado da Saúde, o que prejudica seriamente as condições de saúde das famílias e das comunidades. O sistema de saúde brasileiro é Único, nas três esferas de governo. Isto quer dizer, também, que a maior autoridade sanitária no país é o Ministério da Saúde (MS); assim, os protocolos assistenciais elaborados pelo MS devem ser respeitados e cumpridos por todos os governos - federal, estaduais ou municipais - para garantir a melhor atenção e qualidade da saúde das pessoas. O que gestores nos municípios podem fazer, caso entendam que algum protocolo do MS não atende a tudo o que precisam em seus serviços de saúde, é elaborar um protocolo assistencial complementar, ampliando, em suas respectivas cidades o que

está previsto pelo Ministério da Saúde, sem jamais descumprirem os protocolos deste órgão federal, que é a maior autoridade sanitária do país. No entanto, o que se tem verificado é a prática de alguns gestores e de algumas gestoras do SUS dificultando, por exemplo, a prescrição de medicamentos e a solicitação de exames por enfermeiros, o que é inadmissível porque desrespeita o direito de cidadãos e cidadãs ao atendimento à sua saúde e distancia a população do acesso à assistência integral, com qualidade e maior resolução. É muito importante que a população lute pela garantia de seu direito à saúde, que esteja atenta, informada e exija serviços de saúde com qualidade, interdisciplinaridade e não aceite o descaso de parcela de gestores ou profissionais. Denúncias à Ouvidoria Geral do SUS podem ser feitas via telefone - basta discar o nº 136 -, que é um canal direto com o Ministério da Saúde. A enfermeira Taka Oguisso, pós-doutora, livre-docente e doutora em Enfermagem e em Saúde Pública, em seu livro Ética e Bioética: desafios para a Enfermagem e Saúde, nos ensina que reconhecer o outro, estabelecer relações com ele e admitir a existência de valores são componentes da ética (...). O Código de Ética do Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE) tem na promoção da saúde, na prevenção de enfermidades, no restabelecimento da saúde e no alívio do sofrimento a definição do seu éthos, ou conjunto de valores da profissão. O éthos envolve ação visando ao bem, mas não como um movimento mecânico e sim como expressão do Ser, de uma individualidade permeada pela relação consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Assim, profissionais e gestores (as) precisam refletir seus atos à luz da ética, fazendo o movimento para redirecionar o cuidado com a saúde para a essência do ser humano, numa perspectiva sistêmica e de responsabilidade maior com a vida e com a saúde coletiva.

Derli Batista da Silva é enfermeiro, mestre com pesquisa sobre Corporeidade e Saúde, professor universitário.

Ombudsman José Carlos Aragão

Desconfiem Tenho visto, com certa frequência, repórteres, articulistas, blogueiros (ou qualquer um que manifeste sua opinião pessoal, nas redes sociais, sobre algum fato e diz que o que está fazendo é jornalismo), ou até mesmo a torcida do Flamengo dizer que a polícia cerceia o direito de ir e vir do cidadão. Isso estaria acontecendo quando ela reprime as manifestações de rua associadas ao Mundial da Fifa (uai, não deveria “do Brasil”, como já foi da Inglaterra, do México, da Suécia ou do Chile?), e impede os manifestantes de seguirem na direção A ou B, durante os protestos. Poucos falam, no entanto, das outras violações ocorridas nesses incidentes, como a violação cometida por parte dos manifestantes contra os patrimônios público e privado que ficam no caminho por onde querem ir ou vir. Jornalistas – ou ditos “jornalistas” – que assim agem, esquecem a ética do seu ofício, manipulam a informação e traem o leitor/espectador/ouvinte. Em geral, o fazem porque tomam, intencionalmente ou inocentemente, partido da notícia, do fato, ou dos que nele estão envolvidos. Não é que o jornalista não possa tomar partido ou ter uma opinião pessoal sobre algum assunto ou acontecimento. Apenas, ele deve separar o joio do trigo, a informação da sua opinião pessoal. São instâncias e abordagens distintas, água e óleo e, como tal, devem ser oferecidas ao leitor/espectador/ouvinte. Afinal, o receptor final, na outra ponta da linha, quer ter a liberdade de formar também seu próprio juízo sobre um tema – e o fará com isenção ou não, paixão ou não, temperança ou não. É seu direito. Há duas semanas, o próprio Figueira

publicou em sua capa uma foto sobre manifestações no Centro de BH, às vésperas da Copa, com milhares de participantes que pararam a cidade. Fecharam algumas ruas, sim, a partir da Praça 7. Mas, eram só uns gatos pingados – que a legenda da foto quis fazer parecer que eram mais. A cobertura de alguns veículos de comunicação sobre as manifestações contra a Copa têm, não raro, distorcido a verdade dos acontecimentos. Ora douram a pílula e omitem fatos que poderiam manchar a imagem do evento, do governo ou do país lá fora; ora metem no mesmo saco manifestantes e vândalos; ora se calam e não assumem de que lado estão (mesmo tendo um!). O melhor que pode fazer o leitor/espectador/ ouvinte é sempre desconfiar – principalmente do que trafega livre e irresponsavelmente pelo “democrático” ciberespaço.

Nem Freud Figueira flagra carro chapa branca entrando em motel em um dia útil e em horário de trabalho. Afinal de contas, batom e dólares na cueca não são as únicas coisas difíceis de explicar de que se tem notícia. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

As meninas do Futsal Feminino continuam no topo

Futsal feminino de Valadares a um passo do hepta nos Jogos de Minas A equipe feminina de futsal de Valadares venceu a etapa regional dos Jogos de Minas (JEMG), realizada na última semana (18 a 22) em Juiz de Fora. As meninas vão tentar o hepta na etapa estadual, que será realizada no período de 7 a 12 de outubro em Varginha. A equipe valadarense masculina de basquete ficou com o terceiro lugar e também está classificada para a disputa estadual. O time de futsal valadarense se manteve invicto durante toda a competição. A última vitória foi sobre o Juiz de Fora, no último domingo (22), quando golearam as adversárias em 3 a 0. O Juiz de Fora ficou com o segundo lugar e o Viçosa com o terceiro. A jogadora valadarense Rosilene Souza foi a artilheira da competição, com sete gols. A equipe de basquete masculino também fez bonito e acabou conquistando o terceiro lugar ao vencer o Viçosa por 72 a 26. A equipe ficou a cinco pontos do primeiro colocado – Ubá. O segundo lugar ficou para o Juiz de Fora. O cestinha da competição foi o valadarense Daniel Ladeira Batista, que marcou 61 pontos.

Direitos humanos Paulo Vasconcelos

Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil Bem cedo, arranca de seu ponto o ônibus que atende à população do bairro Jardim do Trevo, em Governador Valadares. Por obra do destino, embarquei nesse ônibus no bairro Vila Bretas e viajava no sentido Centro da cidade, quando uma movimentação aconteceu entre alguns passageiros. Um homem de meia idade informava a uma senhora aparentando uns 65 anos — difícil ser exato considerando as marcas do tempo — que ela deveria descer na próxima parada. A senhora se levanta rapidamente e caminha em direção à porta falando com uma adolescente e um garoto para ficarem atentos, a jovem se desliga do alumbramento que a janela lhe causa e puxa o garoto na direção da idosa. No mesmo instante, a cobradora corrige a todos: “se a senhora quer realmente ir à policlínica deverá descer no outro ponto”. Com o esboço de um sorriso a senhora explica que há muito não andava por aquelas bandas. Daí me veio o questionamento íntimo de qual a interação destas pessoas com a cidade onde vivem e da necessidade urgente que há em fazer Estado e sociedade civil se encontrarem mais vezes na construção de uma democracia. Assim, percebo o primeiro eixo orientador do Programa Nacional de Direitos Humanos-PNDH como numa frase atribuída a Vitor Hugo dizendo que “não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”. E chegou para fortalecer a participação ativa da sociedade civil no monitoramento, avaliação e formulação de ações que garantam a aproximação com o Estado. O orçamento participativo (década

de 1990) foi um precursor desse processo, desde lá se avançou fundamentalmente na compreensão de que os Direitos Humanos constituem condição para a prevalência da dignidade humana, e que devem ser promovidos e protegidos por meio de esforço conjunto do Estado e da sociedade civil. As diretrizes deste capítulo discorrem sobre a importância de garantir os instrumentos de participação social, o caráter transversal dos Direitos Humanos e a construção de mecanismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação. Isso inclui a construção de sistema de indicadores de Direitos Humanos e a articulação das políticas e instrumentos de monitoramento existentes. Aperfeiçoar a interlocução entre Estado e sociedade civil depende da implementação de medidas que garantam à sociedade maior participação no acompanhamento e monitoramento das políticas públicas em Direitos Humanos. Contrapondo essa ideia existe a realidade daquela senhora que há muito não saía de seu bairro, da adolescente que possivelmente jamais veio ao Centro da cidade e do garoto que talvez sequer um dia houvesse andado de ônibus. Além de muitos outros, aos quais foi imposto, por questões sociais, étnicas ou culturais o distanciamento da possibilidade de participação e do controle social das políticas públicas para uma cidadania com estruturas permanentes. Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e presidente do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos.


ENTREVISTA Ele foi ordenado padre no dia 28 de junho de 1987 e faz questão de lembrar que neste sábado completa 27 anos de sacerdócio. Natural do distrito de Granada, município de Abre Campo, MG, Antônio Geraldo de Assis Pereira, o Padre Assis, como é conhecido, está em Governador Valadares desde 1990, na Igreja de São José Operário, na Vila Bretas. Ao longo desses anos, o seu trabalho rendeu bons frutos, como a criação do Instituto de Missionários Leigos e da Fundação Dom José Heleno, que possibilitaram o surgimento da mais nova emissora de televisão da cidade, a TV Kefas, que pode ser sintonizada no canal 7, na TV aberta. Este Figueira conversou com o Padre Assis sobre o seu trabalho e o desafio de criar uma emissora de TV católica.

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FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

Entrevista Padre Assis

O jornalismo é uma forma de prestar serviço ao próximo e isso é um ato de amor Diocese de Governador Valadares

milhões e R$ 2.510.000,00. Os demais fizeram propostas menores. Além disso, contratamos um engenheiro que fez um projeto técnico de alto nível. Vencemos a concorrência e tivemos de enfrentar o desafio de pagar este preço pela concessão. Figueira - Bem, sem dinheiro algum, a Fundação Dom José Heleno deve ter tido um desafio e tanto pela frente para pagar esta concessão. O que foi feito para captar recursos?

Figueira - Como se deu a criação do Instituto de Missionários Leigos e porque você decidiu criá-lo?

Padre Assis - Fizemos várias ações beneficentes para levantar recursos. Além disso, contamos com o apoio de vários colaboradores fiéis, que sempre colaboraram com o Instituto de Missionários Leigos. Eles contribuíram muito para que pudéssemos honrar o compromisso de pagar, primeiramente, a metade do valor da concessão. Tenho de ser justo e reconhecer publicamente o esforço de pessoas que não são católicas e que nos ajudaram. Várias pessoas de igrejas protestantes contribuíram conosco, acreditando no nosso trabalho.

Padre Assis - O nosso objetivo é evangelizar e o Instituto de Missionários Leigos é uma associação de leigos, fundada em 27 de novembro de 1994, que se reúne uma vez por mês e promove três retiros espirituais por ano. Nossos leigos são capacitados e realizam trabalhos espirituais na cidade e região. Temos também um núcleo do Instituto em Vila Velha, ES. A capacitação é feita na nossa escola, a Escola Kefas, que ministra um curso de Iniciação à Teologia, com duração de dois anos. Figueira - A sua paróquia também realiza trabalhos sociais importantes, que revelam um compromisso com as pessoas das comunidades. Quais são eles? Padre Assis - Bem, nós temos aqui na paróquia algumas conferências da Sociedade São Vicente de Paula, que dão assistência às famílias pobres. A nossa Pastoral da Criança é bem estruturada e atende não só aqui, mas na zona rural, a mais de 100 famílias pobres, e no mínimo a umas 150 crianças. As outras equipes da igreja, como a de Liturgia, realizam campanhas anuais, como a doação de brinquedos no Natal. Os círculos bíblicos, que levam assistência espiritual e estudo da Bíblia, de casa em casa, em muitas situações ajudam as famílias necessitadas. Figueira - E a TV Kefas, como surgiu o interesse em sua implantação? Padre Assis - Surgiu por meio do trabalho desenvolvido no Instituto de Missionários Leigos. Inicialmente, o interesse maior do instituto era evangelizar em vários lugares, tanto que entre 1996 e 2006 nós mantivemos 5 leigas missionárias no estado do Amazonas, evangelizando. Nosso sonho era enviar leigos e leigas pelo Brasil e até para o exterior. Continuamos com esse sonho até hoje, e vamos realizá-lo, mas no momento nossa prioridade é consolidar a implantação da nossa TV, que surgiu da necessidade de ampliar o nosso trabalho de evangelização na cidade e na região. Figueira - Então a TV Kefas nasceu no meio do Instituto de Leigos? Padre Assis - Sim. Veja, em 1998 estávamos desenvolvendo o nosso trabalho no instituto quando recebemos um convite do Odilon Lagares, que à época era diretor da Rádio Mundo Melhor, para disputar uma concorrência por um canal de TV em Governador Valadares. Ele explicou que a nossa Diocese

Figueira - Passado todo esse sufoco, a TV Kefas já é uma realidade. Quais são os planos da Fundação Dom José Heleno para este canal se consolidar de vez?

A nossa TV manterá um diálogo aberto e permanente com a sociedade, com os diferentes grupos religiosos, com os movimentos sociais, sem fazer fazer distinções. Seremos um canal que vai ter compromisso com a tolerância, vai respeitar as pessoas que são diferentes, mesmo que a gente não concorde com os pensamentos dos outros, sempre vamos respeitá-los.

não poderia concorrer, afinal, a Fundação João XXIII, que é ligada à Diocese, já possuía três concessões para emissoras de rádio, em AM, FM e Ondas Tropicais. No caso, a fundação perderia pontos por possuir estas concessões. Então, o nosso instituto criou a Fundação Dom José Heleno para entrar na concorrência. Disputamos com 14 concorrentes, de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Foi uma disputa muito difícil. Figueira - Mas a Fundação Dom José Heleno venceu a concorrência. O que foi determinante, na opinião do senhor, para esta vitória? Padre Assis - Eu acredito que foi uma ação de Deus. Nós tivemos uma inspiração divina, tenho certeza disso. Não tínhamos experiência alguma nessa área de comunicação e também não tínhamos dinheiro. Mesmo assim, com coragem, fizemos uma proposta de R$ 3,2 milhões pela concessão. Outros dois concorrentes fizeram propostas de R$ 2,5

Padre Assis - A nossa concessão nos dá todos os direitos de um canal de televisão, podemos ser uma geradora e até formarmos uma rede de emissoras, mas isso requer um investimento muito grande. Então, nossos planos são amplos, mas a prioridade é ter uma grade de programação própria. No momento, fizemos uma parceria com a TV Século 21, emissora católica localizada em São Paulo, e retransmitimos a programação dessa emissora, com alguns programas locais. Mas, no final de julho ou no começo de agosto deste ano teremos programação própria. Figueira - Nesta grade própria, a TV Kefas prevê um telejornal? Padre Assis - Sim, teremos o Jornalismo na nossa grade. A TV católica, a meu ver, deve prestar um bom serviço à população, e um destes serviços é o Jornalismo. Não vemos o Jornalismo como uma coisa não religiosa, afinal, é uma forma de prestar serviço ao próximo, e isso é sim sinal de amor. Vamos praticar um Jornalismo honesto, abrindo espaço para todos. Figueira - O Papa Francisco defende uma igreja próxima das pessoas, principalmente das mais humildes, com o pastor sentindo o cheiro das ovelhas. A comunicação amplia esta aproximação? Padre Assis - É claro que sim. A nossa TV manterá um diálogo aberto e permanente com a sociedade, com os diferentes grupos religiosos, com os movimentos sociais, sem fazer distinções. Seremos um canal que vai ter compromisso com a tolerância, vai respeitar as pessoas que são diferentes, mesmo que a gente não concorde com os pensamentos dos outros, sempre vamos respeitá-los.

BRAVA GENTE Arquivo pessoal

Regiane, uma médica brasileira no “Mais Médicos”

Regiane, de “sem-terrinha” a médica do Programa Mais Médicos

Regiane de Souza tinha oito anos em 1996 quando, junto com a família de camponeses sem terra, participou da conquista da Fazenda Experimental do Ministério de Agricultura, coroando com sucesso uma luta que os trabalhadores rurais começaram nos anos sessenta e que foi tragicamente interrompida no último dia de março de 1964. Pertence à primeira geração de sem-terrinhas criada no Assentamento Oziel Pereira do MST em Governador Valadares. Nascida em 1988, em Bom Jesus do Galho - MG, já estava na luta pela reforma agrária desde os sete anos quando a família se uniu ao MST, e foram partícipes a partir de 1994 das sucessivas ocupações e despejos que culminaram na conquista da terra e fundação da comunidade. Como é costume no MST, desenvolveu desde jovem compromissos organizativos, como parte do Setor de Formação. Em 2004, viajou a Cuba para estudar medicina a convite do MST e do governo cubano, junto a mais cinco jovens mineiros, três de Governador Valadares. A formação era parte dos programas de solidariedade com outros povos e movimentos sociais que o governo da ilha caribenha promove. Ganhou bolsa completa, incluindo viagem e moradia. Estudou em Camaguey e Havana, formandose em 2010 em uma das faculdades de medicina mais

conceituadas no mundo, a Escuela Latinoamericana de Medicina ELAM Cuba. A experiência rendeu não só um diploma, mas o convívio com outra realidade e com jovens solidários de todo o mundo.

Pertence à primeira geração de semterrinhas criada no Assentamento Oziel Pereira do MST em Governador Valadares.

A aceitação da bolsa de estudos contemplava, depois de se formar e voltar ao Brasil, ter que trabalhar em projetos de benefício social. Assim, Regiane trabalha agora na Supervisão Regional do Ministério da Saúde, no Projeto Mais Médicos do Governo Federal, na qual coordena a equipe de médicos cubanos que trabalha na região de Governador Valadares, e demonstra que levar a saúde aonde mais se necessita não é só coisa de estrangeiros, senão compromisso de muitos brasileiros. Regiane mora agora na cidade, mas não esquece a família, os companheiros do MST, e participa ativamente sempre que pode nas atividades comunitárias e especialmente nas atividades da igreja do assentamento. Regiane é brava gente!


COTIDIANO

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FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014 José Peixe

D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa

Futebol, sociedade, economia e esperança Como é sabido, a Grécia é um dos países da Europa Mediterrânica que está a braços com uma das maiores crises financeiras e sociais de toda a União Europeia. A inflação na sociedade grega não abrandou e o desemprego não para de subir, apesar de no verão o país helénico ser procurado por milhões de turistas provenientes de todos os continentes. Mas, com a passagem aos oitavos de final no Campeonato do Mundo que se disputa no Brasil (jogando contra a Costa Rica, no próximo dia 29 de junho, no Recife), a seleção grega fez com que os gregos esquecem a crise e saíssem às ruas de forma eufórica, para agitar bandeiras, cantarem e festejarem. O futebol tem destes mistérios que nem o próprio Criador consegue explicar. E muito menos os Deuses do Olimpo. Essa alegria grega conquistada em solo brasileiro também acabou por se refletir na economia interna do país. Os bares e o pequeno comércio em Atenas e noutras cidades da Grécia voltaram a ganhar vida. E as bandeiras foram afixadas nas janelas, nos veículos automóveis e até nas residências universitárias. A sociedade grega voltou a ganhar outro colorido. Os gregos estão cientes que será uma alegria efémera, mas como diz um velho provérbio popular: “tristezas não pagam dívidas”. E agora vive-se um momento muito especial no país dos Deuses. A torcida grega acredita que a sua seleção, apesar de jogar à defesa e de não ter um futebol bonito, ainda pode ir mais longe na Copa do Mundo. E os tecnocratas de Bruxelas que tenham paciência. Na França, onde nas últimas eleições a extrema direita voltou a ganhar terreno aos partidos de esquerda e, sobretudo, aos socialistas de François Hollande, também se vivem momentos de grande euforia em torno da seleção gaulesa. Curiosamente, uma seleção onde a maio-

ria dos jogadores são negros e descendentes de pais norte africanos. Ou seja, a extrema direita e a xenofobia impregnadas na sociedade francesa, têm festejado as vitórias da França na Copa do Mundo, mas graças à dedicação e ao profissionalismo esportivo de jogadores negros. Uma matéria que devia merecer alguma reflexão por parte de Marine Le Pen e seus seguidores. É que nem tudo o que abana o rabo é o Diabo, como os extremistas xenófobos muitas vezes pensam. A própria Alemanha que costumava aparecer nas Copas do Mundo apenas com jogadores germânicos, também apareceu no Brasil com Jerome Boaeteng de origem ganesa. Certamente que no tempo de Adolfo Hitler, Boaeteng nem sequer viveria na Alemanha. Os tempos mudaram e apesar de os conservadores extremistas que ainda existem em muitos países de uma União Europeia que se diz evoluída, ainda existe muito trabalho educacional pela frente de forma a combater o racismo e a xenofobia. Há muito que a Holanda (um país conservador e da Europa Central) percebeu que tinha que aceitar todas as raças na sociedade. Não só por causa do seu passado colonizador, mas também pela história pacifista e harmoniosa do país das tulipas. E não é por acaso que a Holanda é um dos melhores países europeus para se viver. É porque ali se respiram os valores que tanto ambicionamos: liberdade, fraternidade e paz. E cuidado com esta seleção holandesa cuja maioria dos seus jogadores são negros. Eles vieram descontraídos. Chegaram com toda a energia do mundo. Afirmam que ainda falta muito para a “laranja” voltar a ser mecânica. Mas a verdade é que os resultados provam exatamente o contrário. A Holanda é um sério candidato à final no Rio de Janeiro.

Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo

Aécio é confirmado candidato a presidente E o senador Aécio Neves é o candidato do PSDB à presidência da República. A confirmação deu-se em evento realizado em São Paulo no último dia 14, que contou com cerca de cinco mil pessoas, das quais 451 foram os delegados que votaram: 447 a favor, três brancos e um contra. A decisão sobre o candidato a vice foi adiada para 30 de junho. Reportagem de O Estado de São Paulo, exalta o fato de Aécio unir o partido e conseguir o apoio de correligionários de São Paulo (ou seja, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alckmin e o ex-governador e ex-candidato a presidência José Serra). Ainda de acordo com a mesma reportagem, “Além de militantes, era grande o número de pessoas que compareceu “pela festa”. Três moradoras de Cotia, na Grande São Paulo, disseram que ainda não têm título de eleitor e que cada uma recebeu R$ 25 pela presença”. Representantes da equipe tucana negaram o pagamento. É com este “time” e com estas práticas que Aécio quer promover as “mudanças” no País. Torcida internacional A Vila Madalena, um dos bairros boêmios de São Paulo, com bares, restaurantes, livrarias e outros espaços ‘descolados’ tornou-se o ponto de encontro das torcidas dos diversos países que disputam o Mundial no Brasil. A cada partida milhares de pessoas ocupam os bares e ruas da região para fazer a festa. Outro ponto bastante procurado é o Fifa Fan Fest SP, no Vale do Anhangabau, local por onde milhões de pessoas circulam todos os dias, no coração do Centro Velho da Capital paulista. O espaço, que tem capacidade para 40 mil pessoas, com entrada gratuita, a cada dia, e não só nos dias dos jogos do Brasil, milhares de torcedores acompanham as partidas da Copa em um imenso telão instalado em um palco que recebe ainda série de shows musicais e outras atrações antes e após as disputas.

Férias Aproveito alguns dias de férias para viajar. Em Vila Velha (ES), conheci o Museu Ferroviário da Vale, que resgata a história da ferrovia centenária que liga Belo Horizonte à capital capixaba. Instalado na antiga estação Pedro Nolasco, o museu mostra, entre outras, a construção e a operação da ferrovia através de equipamentos, fotos, mapas e outros objetos. Entre as fotos, uma da estação de Governador Valadares, de 1952, e outra da construção da ponte sobre o rio Doce. Os destaques ficam para a velha locomotiva Baldwin, da década de 1940 e os vagões de época que transportaram milhares e milhares de passageiros; E a maquete que reconstitui o trajeto da ferrovia, com miniaturas dos trens de carga e de passageiros. O local conta ainda com um vagãorestaurante. Vale a pena a visita, que é gratuita.

#Vaiterlegado Este é o título do artigo de Ricardo Freire, turista profissional responsável pelo blog Viaje na Viagem. Ele ele afirma: “Sediar uma Copa do Mundo significa garantir 30 dias de exposição contínua do Brasil para milhões de pessoas do mundo inteiro. Quando se soma a isso uma Olimpíada, dois anos mais tarde, o resultado é o mais espetacular plano de mídia que um país pode comprar (...) Some todas as obras e ainda, assim terá sido um bom negócio comprar dois meses de cobertura mundial sairia muito mais caro.” Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.

Futebol é esperança contra o racismo e a xenofobia

Para concluir, convém dizer sem mácula que esta Copa das Copas até poderá não ser a melhor do Mundo. Mas se todas as infraestruturas que foram iniciadas no Brasil por causa da Copa um dia chegarem a ser finalizadas, posso afiançar-vos que este país vai dar melhores condições de vida às pessoas. Disso eu não tenho dúvidas. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

Associativismo Antônio Carlos Borges

O decreto federal da participação social Em 23 de Maio de 2014, foi lançado pela presidenta Dilma um decreto que prevê, autoriza e reconhece oficialmente a participação popular, por meio de movimentos sociais organizados, em caráter consultivo, para fins de discussão sobre decisões do poder executivo. O decreto tem alcance em todas as instâncias de governo, do federal ao municipal. Nada de novo, já que a Constituição brasileira é clara com relação a esta possibilidade, no seu artigo mais fundamental, o primeiro: “Todo poder emana do povo, que o exerce indiretamente, por representantes eleitos, ou diretamente nos termos desta Constituição”.

A característica conservadora de parte do Brasil se estampa em manifestações encabeçadas por partidos como DEM, PSDB, PPS, PSD, e Solidariedade. Já se cogita um decreto legislativo para anular os efeitos do decreto presidencial!

No entanto, o decreto da presidenta gerou uma cadeia de reações, que descortina o cenário político brasileiro, cada vez mais polarizado, e com tendências conservadoras de parte da sociedade. E demonstra com clareza quem compõe realmente a direita brasileira. Da parte de representantes deste segmento político, com relação ao decreto, podemse ler manifestações do tipo: “tenebroso decreto; artigo ditatorial; barbárie; sovietizar o Brasil; ou até: a Venezuela chegou ao Brasil”. E isso, porque o decreto prevê participação social de caráter apenas consultivo! A característica conservadora de parte do Brasil se estampa em manifestações encabeçadas por partidos como DEM, PSDB, PPS, PSD, e Solidariedade. Já se cogita um decreto legislativo para anular os efeitos do decreto presidencial! Não seria uma oportunidade para que as manifestações de rua tivessem uma instância legal para suas reivindicações? Uma oportunidade para a juventude se organizar e dialogar com os governos? Não estariam os parlamentares contrários ao decreto temerosos do povo, defendendo o distanciamento ou a manutenção de um sistema representativo que tem dado mostra de falhas? E a Constituição, como fica com a tentativa de anular o decreto presidencial? Anular a participação direta do povo? O que a atual oposição brasileira tem contra a nossa Constituição? É uma pergunta relevante neste momento eleitoral. Antônio Carlos Linhares Borges é administrador rural, advogado e diretor geral do CIAAT – Centro de Informação e Assessoria Técnica.


CULTURA & LAZER PERSONAGEM

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AGENDA CULTURAL

SILVIO PIAZZAROLLO

Silvinho, o nosso grande ator Seu nome já foi lembrado para o Teatro Atiaia, que passaria a se denominar Teatro Silvio Piazzarollo Cristina Assunção

Tempos atrás, alguns setores da área cultural de Governador Valadares, defenderam a mudança do nome do teatro municipal, de Teatro Atiaia para Teatro Silvio Piazzarollo. Mas quem foi ele? A mudança seria justa? Silvinho, como era conhecido, desde criança participava das peças de teatro produzidas na escola onde estudava. Aos 16 anos de idade montou sua primeira peça. Com o texto de Maria Clara Machado nas mãos, encenou o espetáculo infantil “A Bruxinha que Era Boa”. Ele atuou e dirigiu a peça, apresentada no ano de 1969, no Colégio Estadual. Na época, a cidade ainda não tinha o Teatro Atiaia. As peças eram encenadas nos auditórios dos colégios, como o Imaculada, Lurdinas e Estadual. Em 1976, um grupo de jovens liderados por Silvinho sentiu a necessidade de aprofundar mais nas artes cênicas. Dessa forma, conseguiram trazer para Valadares um curso de teatro ministrado pelo diretor Henrique Simões. O grupo Termucorda foi formado a partir daí. O produtor comercial da TV Rio Doce, Geraldo Silva Chaves, o Gererê, vivenciou essa época. “Termucorda significa teatro, música, coreografia e dança. Até então o grupo era formado por mim, Marcelo Byrro, Magda Cipriano, Sílvio Piazarollo, Raquel Damasceno, Guay, entre outros. No mesmo ano nós montamos uma peça, que foi uma criação coletiva”. A peça chamada “Tá Pra Nascer”, encenada com músicas de João Bosco, MPB 4 e Chico Buarque, retratava o cotidiano. “O grupo chegou a alugar um ônibus e apresentou a peça nas cidades de Frei Inocêncio e Outro Preto”, afirma Zilda Piazzarollo, irmã de Silvinho. O segundo espetáculo montado pelo grupo, dirigido pelo diretor teatral Henrique Simões, se chamava “Termucorda conta Zumbi”, escrita pelo ator, falecido, Gian Francesco Guarnierie. A peça contava a história do Zumbi dos Palmares e da escravidão no Brasil. Para montar as peças, o grupo procurava ajuda nos estabelecimentos locais. “Os comerciantes doavam móveis para compor o cenário, além de tecidos para o figurino. Silvinho conhecia pessoas de várias classes sociais, que sempre o ajudavam a montar as peças”, lembra Zilda. Além de atuar e cantar, os integrantes também criavam os cenários e desenhavam o figurino. E para a peça sair perfeita, todos participavam do processo de produção. Silvinho dividia o tempo entre a profissão de bancário e os palcos. No ano de 1978, ele foi transferido para trabalhar em Belo Horizonte. Na capital mineira, ele montou a peça infantil “A Menina e o Vento”, também da autora Maria Clara Machado. Na capital, Silvinho assistiu a peças, shows e aproveitou para estudar. Por ser “gordinho” em 1979, Silvinho foi consagrado Rei Momo do Carnaval de Belo Horizonte.

Revista Benedita

Nader e Simin divergem sobre a possibilidade de deixar o Irã. Simin quer deixar o país para dar melhores oportunidades a sua filha, Termeh. Nader, no entanto, quer continuar no Irã para cuidar de seu pai, que sofre do Mal de Alzheimer. Chegam a conclusão de que devem se separar, mesmo ainda estando apaixonados. Sem uma esposa para cuidar da casa, Nader contrata uma empregada para ser responsável pelos afazeres domésticos e por tratar da rotina de seu pai. A empregada, que está grávida, aceita o trabalho sem avisar o seu marido. Data de lançamento: 16 de março de 2011 (Irã) Direção: Asghar Farhadi Roteiro: Asghar Farhadi Fotografia: Mahmoud Kalari Assista: Av. Veneza, 877 - Grã Duquesa

As muitas faces de Silvinho incluiu esta, como Rei Momo de BH

Com alguns amigos, Silvinho montou um novo grupo: A Insistente Cia. O grupo se formou pela união de pessoas que já tinham se apresentado em peças infantis e adultas. Além de Silvinho, o grupo também trazia os atores: Márcia Capella, Vânia Araújo, Maria Paulina, Diógenes Freitas, Isaías Carvalho, Jurandir Rodrigues, José Maria Oliveira. A primeira peça a estrear no palco do Teatro Atiaia trouxe como principais personagens um gato que se apaixona por uma andorinha. “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, peça infantil do texto de Jorge Amado, foi dirigida por Sílvio que também interpretou o Gato Malhado. O espetáculo chegou a ser visto por 18 mil crianças. “Silvinho divulgava as peças na rádio, na TV, colava cartazes na cidade, ia às escolas e distribuía ingressos para as crianças. Ele tentava incentivar as pessoas de todas as formas”, recorda Zilda. Outro espetáculo de destaque da Insistente Cia foi inspirado na história de alguns dos habitantes de Valadares. “O Último a Sair Apague a Luz” retratava com o mais fino humor, o fenômeno da emigração que empurrava (e ainda empurra) os valadarenses rumo aos braços do Tio Sam. A peça assinada por Maria Paulina Freitas, Cleber Gabriel e Silvinho contava a história de João Tostão (personagem interpretado por Sílvio) que deixa a esposa para tentar melhorar de vida nos Estados Unidos. “A peça tinha um lado cômico e um lado triste. Mostrava a família que ficava e que sentia saudades, o sofrimento das pessoas na travessia do México e as humilhações que sofriam no consulado”, disse O retorno a irmã do ator. O espetáculo “O Último a Sair Apague a Luz” foi enceA volta do artista a Governador Valadares foi marcada pelo início da construção do Teatro Atiaia. Ele acompanhou nado no ano de 1988. “Nas duas vezes que eu fui o teatro a obra e imaginava como iria ficar o teatro. “Aquele lugar é estava lotado”, disse Zilda. A peça chegou a ser apresenum pedacinho dele. Para o meu irmão, foi o maior prazer tada em outras cidades do estado e ganhou destaque na pisar no palco do Teatro Atiaia”, declarou Zilda. Gererê lem- imprensa nacional. No ano de 1995 Sílvio Piazarollo deixou bra que o teatro trouxe um incentivo a mais para os jovens a vida teatral para sempre. Ele morreu vítima de um acidenque sonhavam em ser atores. “O movimento teatral ganhou te automobilístico. Seu nome sempre é lembrado, como o efervescência e vários grupos surgiram liderados por Ma- de um cidadão que fez muito pela cultura de Governador nuel Edelberto, Celsa Rosa e outros. A construção do novo Valadares. espaço aumentou o entusiasmo dos jovens. Vários cursos e oficinas foram oferecidos na cidade”. O Teatro Atiaia foi Matéria publicada na Revista Benedita, em 2101, inaugurado em 1982. pela jornalista Cristina Assunção.

Bairro Santa Rita ganha unidade do CRAS A Prefeitura inaugurou nesta quinta-feira (26), bairro Santa Rita, mais uma unidade do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) em Valadares. Com a nova estrutura, Valadares passa a contar com cinco CRAS que integram a rede municipal de serviços e programas na área da assistência social e aumenta para 25 mil o número de famílias referenciadas para atendimentos. A ampliação do atendimento faz parte das ações do Plano Valadares Sem Miséria, cujas ações serão apresentadas em um evento paralelo à inauguração. “Trata-se da materialização da ampliação da cobertura do atendimento às famílias com acesso aos benefícios socioassistenciais e acompanhamento psicossocial”, destaca o Secretario Municipal de Assistência Social, Jaime Luiz Rodrigues Junior.

Cine Sesc exibe “A separação” Dia 5 de julho, 15h

Outras quatro unidades já funcionam nos bairros São Raimundo, Jardim do Trevo, Santa Efigênia e Jardim Pérola. Cada CRAS tem cinco mil famílias referenciadas em territórios, que reúnem vários bairros, para atendimentos nos serviços ofertados. O que são os CRAS? Os CRAS são considerados a porta de entrada do cidadão às Políticas Públicas de Assistência Social e ofertam, como principais serviços, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Familiares e o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). Realizam também outras ações de acompanhamento, orientação e encaminhamentos dos usuários na própria rede de assistência ou de saúde do município

Leila Hatami, atriz de “A Separação”, em cartaz no Cine Sesc

Este Figueira indica o Domingo da Quinquilaria, um espaço para venda e troca de disco de vinil, CDs, roupas, coleções, enfim, quinquilarias variadas. Na Praça Júlio Soares, entre 9h e 12h. Ilha dos Araújos.

Valadares Sem Miséria reforça trabalho para superar condições de extrema pobreza A inauguração de mais um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no Município, no bairro Santa Rita, na quinta-feira (26), faz parte das ações do Valadares Sem Miséria, plano que marca o fortalecimento das ações executadas pelo Poder Público Municipal para a superação das condições de extrema pobreza. O plano municipal acompanha o Brasil Sem Miséria, do governo federal. O CRAS a ser inaugurado no Santa Rita é o quinto no Município e terá cinco mil famílias referenciadas para receber atendimento na rede de serviços ofertados. O secretário municipal de assistência social Jaime Luiz Rodrigues Júnior disse que o Valadares Sem Miséria deve ser entendido “como uma ferramenta de gestão que tem como principal estratégia a articulação entre as políticas sociais, num esforço conjunto para a superação da extrema pobreza.” O público prioritário para as ações são as famílias cadastradas no Programa Bolsa Família (PBF). Serão consideradas, principalmente, as que têm renda per capita familiar que varie entre R$ 70,00 e R$ 140,00 ou que tenham a condição familiar agravada por registros de algum tipo de deficiência, uso de drogas e/ou trabalho infantil. Brasil sem miséria O plano Brasil Sem Miséria do governo federal propõe estratégias e metas para erradicação da pobreza extrema com diretrizes voltadas para a garantia de acesso aos serviços públicos bem como articulação de ações de garantia de renda, melhoria das condições de vida da população extremamente pobre e atuação transparente, democrática e integrada dos órgãos da administração pública federal com os governos estaduais, distrital, municipal e com a sociedade.


ESPORTES

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FIGUEIRA - Fim de semana de 27 a 29 de junho de 2014

QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO

Em família Quem trabalha na área de comunicação sabe que as chamadas são instrumentos muito bem utilizados pela Globo para alavancar a audiência de seus programas. São craques no assunto, mas na Copa têm errado a mão. Acompanhávamos Itália e Uruguai numa das salas aqui do trabalho. Jogo duro, sobretudo de assistir, metade do pessoal torcia pelos italianos, metade pelos uruguaios e quase nada acontecia. Suárez ainda não mordera o ombro esquerdo de Chiellini, Godin ainda não errara a cabeçada para fazer esquisitamente, de costas, o gol salvador, quando o narrador Luís Roberto anuncia, dramático: “Hoje, a novela Em Família pega fogo. Juliana está sendo acusada de assassinato. Depois do Jornal Nacional, Em Família.” Anticlímax total. Mas, como estamos num blog sobre futebol, não é dessa família que quero falar e sim das famílias dos nossos treinadores. Em 2010, a lista de Dunga para a Copa na África do Sul provocou polêmica. Neymar e Ganso estavam jogando uma barbaridade, mas eram muito novos, ainda não tinham sido testados na seleção principal e, contrariando o país inteiro, Dunga e Jorginho, uma espécie de Murtosa fundamentalista, acharam por bem deixá-los de fora. Decisão discutível, mas o pior foi ter levado outros jogadores por critérios esdrúxulos. A convocação de Doni e Felipe Melo provocou espanto na Itália, onde ambos atuavam. Foram chamados, ainda, Gilberto Silva, Michel Bastos, Kléberson, Josué, Grafite, em escolhas que deixavam o futebol de lado e levavam em conta fidelidade (Doni foi à Copa por ter desafiado seu clube, a Roma, numa convocação anterior) e afins. A Família Dunga não rolou. Agora em 2014, estamos diante de um remake da Família Scolari – que funcionou na conquista do penta. Só não vale esquecer que, em 2002, tínhamos Rivaldo e Ronaldo arrebentando, Ronaldinho Gaúcho resolvendo quando foi preciso, Cafu e Roberto Carlos em grande forma, Gilberto Silva e Kléberson oito anos mais moços do que com Dunga. Não houve grandes contestações quanto aos atuais 23 selecionados por Scolari. Alguns jornalistas tentaram criar um climinha pela ausência de Miranda, preterido por Henrique, mas há que se admitir que isso é muita vontade de tumultuar. A convocação de Miranda – para ser reserva, registre-se – não mudaria absolutamente nada. Entretanto, é inexplicável a insistência do técnico em não corrigir o que não vem funcionando. Questionado sobre Paulinho, numa das entrevistas antes do jogo de segunda-feira, Felipão declarou que tinha total confiança no meio-campista. Eu também acho Paulinho muito bom, mas a Copa tem apenas sete jogos – e não podemos perder nenhum dos próximos quatro. Fica a impressão de que alguns jogadores registraram em cartório suas vagas na seleção brasileira. Dali não saem, dali

Olé, Brasil! Ana Paula Barbosa

Quero o Bernard!

ninguém os tira. E com isso desprezamos a vantagem de, numa Copa do Mundo, poder dispor dos 23 melhores jogadores de futebol nascidos no país. Concordo: grandes times costumam ser forjados pela repetição dos onze escalados, mas oportunidades na seleção brasileira precisam ser agarradas de cara. Não dá para esperar dez jogos até o bonitão se firmar. É óbvio que, se Neymar tivesse jogado mal contra Camarões, ninguém pensaria em sacá-lo contra o Chile. Mas até quando o Daniel Alves vai continuar jogando mal? O Marcelo, abaixo do que a gente sabe que ele joga? O Paulinho parado, sem encostar nos zagueiros para sair com a bola e obrigando-os a sucessivos lançamentos longos? Fred não precisa fazer gols em todas as partidas, mas é obrigação se mexer mais, procurar jogo, abrir espaços. Foi um pouco melhor contra Camarões, mas ali o sarrafo estava muito baixo. A esperança é que, pegando confiança, volte a colaborar. Convocar ou manter jogadores no time em nome de uma tal família, e por outro critério que não seja o de jogar futebol, é um risco. Para competições longas e que premiam a regularidade, faz sentido. Numa Copa do Mundo, pode ser fatal. Jorge Murtinho é redator de agência de progaganda e, na definição dele mesmo, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que adotou o seu blog Questões do Futebol. Os seus artigos são publicados neste Figueira como contribuição dele e com autorização da piauí.

Confesso que não estou vendo todos os jogos da Copa por causa do trabalho. Se eu parar pra ver um do Japão, de Honduras, Costa do Marfim, tá danado. Meu patrão me manda embora sem direito a nada e quem vai pagar minhas contas? O Honda? O goleiro Valladares? O Yaya Touré? É ruim, hein? Mas quando o jogo é do Brasil e o Neymar está em campo, eu mando fechar a loja. Até meu patrão vai pra casa, rs. Neymar tá demais. É o craque da Copa. Vai ser o artilheiro deste mundial. Falando sobre o próximo jogo, penso que o Felipão deveria escalar o Bernard. Ele é bem melhor que o Fernandinho, vai encostar mais no Fred, que a meu ver está perdido em campo. E do ponto de vista tático, o Neymar dispensa comentários. Ele já fez quatro gols neste mundial. Mas não é só por isso, por ter feito estes gols. Neymar é importante, sabe jogar, tem um passe perfeito. Com ele vamos levantar essa taça. E a moçada está levantando o copo de cerveja...rs. No último jogo teve churrasco, cerveja e outras “cositas mas...” Assisti ao jogo com minhas primas e fizemos muita festa. Esta copa está massa demais. Neste sábado devo me unir às primas novamente. A torcida feminina do Brasil é a melhor. Se bem que no dia apareceu um primo nosso, usando um bigodinho fajuto, igual ao do Fred...rs. Esse jogo contra o Chile vai ser nervoso, afinal, quem perder tá fora. O time chileno é muito bom, mas eu estou confiante. Vai ser 2 x 1 pra “Brasa”...rs. Vai pegar fogo, mas o Neymar vai arrebentar de novo, como sempre. Olé, Brasil! Ana Paula Barbosa é comerciária, fanática pela Seleção Brasileira e pelo Brasil

Rafael Ribeiro - CBF

Toca da Raposa Hadson Santiago

Seleção em campo, sempre com a presença de crianças, que representam um incentivo a mais para o time

Seleção já está em Belo Horizonte Da Redação Com informações da CBF

De olho no duelo contra o Chile pelas oitavas de final da Copa do Mundo, marcado para o dia 28 de junho às 13 horas, a comissão técnica da Seleção Brasileira elaborou uma programação para se adequar ao horário da partida. Desde a quarta-feira, os treinos da equipe até a disputa das oitavas de final foram realizados às 13 horas, na Granja Comary. Na quinta-feira, a Seleção deixou a Granja Comary rumo a Base Aérea do Galeão às 17h30. A decolagem do voo aconteceu às 9h30, e chegou em Belo Horozinte às 20h30. Na capital mineira, a delegação está hospeda no Hotel Ouro Minas. Sexta-feira, véspera do duelo contra o Chile, a Seleção Brasileira treinará no SESC

Venda Nova, também às 13 horas. Antes haverá uma visita ao Estádio Mineirão, palco da partida do dia seguinte. O atendimento à imprensa, inclusive, será feito no estádio, às 11h30. No sábado, o time deixa o Hotel Ouro Minas rumo ao Estádio Mineirão às 11 horas. Logo após a partida, a delegação retorna para o Rio de Janeiro. O voo de volta está marcado para as 17h30. CBF TV O artilheiro Fred gravou depoimento na TV CBF pedindo apoio do torcedor belorizontino. Disse que no Mineirão ele vai atuar à vontade. “Estarei na minha cabeça, perto da minha família, que estará presente no Mineirão me incentivando o tempo todo”.

Saudações celestes, leitores do Figueira! O Cruzeiro iniciou bem a sua excursão aos Estados Unidos com duas vitórias sobre o Miami Dade. No jogo realizado em Framingham, cidade irmã de Governador Valadares, a Raposa goleou por 5 x 1, com três gols de Marlone, um de Júlio Baptista e o outro do estreante Manoel. O pequeno Bowditch Stadium estava lotado de cruzeirenses ávidos para ver o time celeste em ação. Na terça-feira, 24/06, com gols de Lucas Silva e Egídio, o Cruzeiro venceu o Miami Dade por 2 x 1. A partida aconteceu na cidade de Lawrence, no Veterans Memorial Stadium. A excursão ainda terá mais três jogos no Texas, todos contra equipes mexicanas. Que esses jogos sirvam para dar ritmo à equipe, pois o importante mesmo é retornar ao Campeonato Brasileiro com força máxima. O Vitória-BA é o próximo adversário. O jogo será no Mineirão, no dia 17/07. É necessário manter a liderança da competição e tentar aumentar a vantagem sobre os adversários. O Mineirão voltou a ser badalado por ocasião da partida Brasil x Chile, jogo válido pelas oitavas de final da Copa do Mundo 2014. Nos 8 anos que morei em Belo Horizonte, de 1984 a 1992, a Seleção Brasileira só atuou duas vezes na capital mineira. Foram partidas amistosas contra a Colômbia (vitória por 2 x 1, em 1985) e contra o Uruguai (triunfo por 1 x 0, em 1987). Os tempos eram outros (que saudade!) e o Gigante da Pampulha tinha capacidade para 120.000 torcedores. Portanto, não havia dificuldade alguma para se comprar ingresso ou chegar ao estádio. Fui

assistir ao jogo contra o Uruguai. Cheguei cedo, comprei meu bilhete e me sentei na velha arquibancada de cimento. A partida era especial porque era a estreia do técnico Carlos Alberto Silva, até então, treinador do Cruzeiro. Outros profissionais celestes também faziam parte da comissão técnica, como o médico Ronaldo Nazaré e o massagista Teotônio Teodoro. Carlos Alberto Silva convocava com frequência jogadores do Cruzeiro, como Douglas, Ademir e Careca, e fez um bom trabalho no comando da Seleção Brasileira. Em 1987, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (EUA) e arrebatou a Copa Stanley Rous, no Reino Unido. No ano seguinte, nas Olimpíadas de Seul, o Brasil perdeu a final do futebol para a URSS, mas o mineiro Carlos Alberto Silva montou um grande time onde despontavam Romário e Taffarel, dentre outros. Ainda em 1988, a Seleção Brasileira venceu o Torneio Bicentenário da Austrália. O truculento Ricardo Teixeira assumiu a CBF em 1989 e, sem motivo aparente, demitiu Carlos Alberto Silva, alçando Sebastião Lazaroni à condição de treinador da Seleção Brasileira. Uma injustiça! Lazaroni comandou o Brasil na Copa do Mundo de 1990, na Itália, e deu no que deu. Caniggia que o diga... Abraços!

Hadson Santiago Farias é cruzeirense, democratense e fã das músicas de Antônio Carlos & Jocafi.


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