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Fim de semana com sol entre nuvens. Vai chover no sábado e no domingo. www.climatempo.com.br
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31o 21o
MÁXIMA
ANO 1 NÚMERO 26
Não Conhecemos Assuntos Proibidos
MÍNIMA
FIM DE SEMANA DE 19 A 21 DE SETEMBRO DE 2014
FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS
EXEMPLAR: R$ 1,00
Natália Carvalho
Comportamento
Cosplayers, Lolitas, jogadores de eSports e outros fãs de Animes dominaram a cena no Valadares Power
A garota Sara (de Goth Annie), à esquerda, foi uma das muitas garotas que desfilaram pelo evento
O Valadares Power, evento voltado para a cultura Nerd contou com diversas atrações como competições de Cosplay e Bandas de Pop Rock, campeonatos de jogos e apresentações de Hip Hop. Até o R2-D2, o robô da saga “Guerra nas Estrelas” (Star Wars) apareceu por lá. O espaço também foi dominado pelos Cosplayers e Lolitas. Saiba quem são estes saudáveis e divertidos personagens, na reportagem assinada por uma fã de Anime, a repórter deste Figueira, Natália Carvalho. Página 9 Fábio Moura
Água
Cada vez mais suja e escassa PÁGINAS 6 E 7
Esgoto despejado no Rio Doce e seus afluentes, como o Córrego Figueirinha (foto) traz grandes problemas ao ecosistema. Problema é agravado no período de estiagem, quando o nível da águas baixa consideravelmente
NESTA EDIÇÃO
Sacudindo a Figueira Debate dos presidenciáveis na TV Aparecida teve Deus e o Diabo em pele de cordeiro
Cidadania Pastorais da Paróquia do SIR combatem a obesidade infantil
Notícias do Poder
Página 3
Página 4
Página 5
Divulgação ou não das pesquisas eleitorais é polêmica no Senado
Clássico vai lotar o Mineirão neste domingo Cultura Sérgio Lopes Filho Se você assiste ao desenho animado do Sítio do Pica Pau Amarelo na TV Globo ou no canal Cartoon Network, saiba que ali tem o talento de um valadarense que é um cara meio “super herói”: Sérgio Lopes Filho. Sérgio está em São Paulo, integrando a equipe de animadores do Studio Split, que trabalha em parceria com a produtora Mixer, que faz grande parte dos trabalhos da Globo Filmes. Fugiu do mercado voraz da propaganda e faz o que gosta, o que sempre sonhou: desenho animado. Neste trabalho, elabora os cenários do desenho animado com os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo. Página 11
Rosalva Luciano, atleticana, e Hadson Santiago, cruzeirense, falam de seus times na véspera do grande clássico. Página 12
OPINIÃO
Editorial
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Tim Filho
Pescaria inovadora no Rio Doce
Nem fome, nem tolerância com a fome Desde a redemocratização, com a passagem do poder a um presidente civil, em 1985, a sociedade brasileira colocou a questão da fome no topo da sua agenda. O que parecia naturalizado durante a ditadura gerou na democracia movimentos como o Natal sem Fome, liderado pelo Betinho, que se espalhou por todo o país. Do Natal para todos os dias sem fome, foi uma lenta, mas segura transição que o país fez, até chegar ao relatório das Nações Unidas publicado nesta semana. O relatório foi noticiado com destaque, mundialmente, mostrando o Brasil como exemplo. The Washington Post, um dos mais influentes jornais dos Estados Unidos, trouxe no dia 16 de setembro: “Brazil removed from UN World Hunger Map”. Ao discorrer sobre como o Brasil saiu do mapa mundial da fome, o jornal aponta que isso foi parte dos avanços ocorridos nos últimos dez anos, em que as políticas sociais e a melhoria do emprego e da renda encerraram o ciclo de séculos em que a fome e a desnutrição humilharam e abateram milhões de brasileiros. Para que essa conquista se torne irrevogável é preciso não apenas manter as políticas públicas que a tornaram possível, mas gerar na população o sentimento de intolerância com a fome do outro, de modo que não haja espaço para o seu retorno.
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Ao discorrer sobre como o Brasil saiu do mapa mundial da fome, o jornal aponta que isso foi parte dos avanços ocorridos nos últimos dez anos, em que as políticas sociais e a melhoria do emprego e da renda encerraram o ciclo de séculos em que a fome e a desnutrição humilharam e abateram milhões de brasileiros.
O mapa da fome foi um instrumento orientador de ações de governos sérios em municípios do Brasil inteiro durante duas décadas. Também serviu às universidades e às pastorais sociais das igrejas. No início da década de 90, Valadares registrava no mapa da fome 17 mil famílias em situação de insegurança alimentar. Hoje, esse ciclo acabou, sem que se faça festa. Mas, deve ser motivo de orgulho pátrio este avanço da condição humana. Em matéria sobre o novo campo de atuação da pastoral da criança no bairro SIR, nesta edição, lê-se que a pastoral, criada e liderada nacionalmente por Zilda Arns, a abnegada brasileira que morreu no terremoto no Haiti, agora tem o seu foco na orientação para a alimentação saudável, de modo a evitar a obesidade de crianças. Um salto em uma geração. Este é o saldo da democracia. Esta é afirmação dos direitos humanos.
Parlatório O financiamento público das campanhas é a solução para se evitar que as grandes empresas mandem nos governos? Financiamento público de campanhas democratiza o processo SIM
Leonardo Battestin
Sou a favor do financiamento público das campanhas políticas, mas em um modelo específico, pois sabemos que não existe somente um. Acredito em uma proposta na qual o eleitor seja o grande financiador, mas também o principal detentor do poder, afinal, quem banca deve ter o direito de cobrar e ver as necessidades da sociedade supridas pela gestão do país. Hoje, vemos um desfavorecimento das minorias no Congresso Nacional, vemos as campanhas políticas mais como marketing do que propriamente como política. Temos um cenário de venda de um produto e não de um sujeito político. Não há representatividade da grande massa da população, do conjunto de cidadãos. Temos minoria de mulheres, quase não vemos negros, jovens e trabalhadores nos parlamentos. Isso precisa ser mudado e convertido para colocar o poder nas mãos do eleitor e não do empresariado. O sistema político brasileiro deveria centralizar-se no cidadão como eleitor, e essa conscientização é fundamental para que o financiamento público funcione de forma consciente. No entanto, queremos uma mudança, queremos a Reforma Política do Brasil, e o financiamento público é uma das vertentes dessa reforma. Queremos um modelo em que as eleições tenham condições justas para todos. A situação atual, no Bra-
sil, acaba por favorecer os candidatos bancados pelo poder econômico. Em muitos casos, esse sistema cria uma relação incestuosa entre os parlamentares eleitos e seus financiadores, de tal forma que os interesses da população se tornam secundários, isso quando não são totalmente desprezados nos debates e na formulação de políticas públicas, tanto nos parlamentos quanto nos cargos executivos. Com o financiamento público será possível equilibrar o processo eleitoral e criar um ambiente mais justo e democrático durante as eleições. Com a proibição das empresas financiarem campanhas eleitorais, os candidatos e partidos terão que abandonar as estratégias baseadas no poder de compra pelo poder de convencimento dos eleitores.
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O sistema político brasileiro deveria centralizar-se no cidadão enquanto eleitor, e essa conscientização é fundamental para que o financiamento público funcione de forma consciente.
Leonardo Battestin é estudante de Economia na UFJF e presidente do Diretório Municipal do PT em Governador Valadares, MG.
É preciso estabelecer teto para investimento privado nas campanhas NÃO
Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-81 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo
Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira
Responsável pelo Portal da Internet Enio Paulo Silva http://www.figueira.jor.br
Artigos assinados não refletem a opinião do jornal
Cinthia Pinheiro
Não sou a favor do financiamento de campanhas políticas pelo governo, e por uma razão muito simples: a corrupção causada ao nosso sistema de gestão política pode se fortalecer com este financiamento público. E também não acredito que ficaremos livres deste mal que é o famoso “caixa dois” das campanhas, que só prejudica o sistema eleitoral. Acredito que o processo eleitoral deve funcionar de forma transparente e que todos os candidatos devem ter a mesma oportunidade. Para isso, penso que a saída seria a criação de um teto para limitar a um valor “X” os investimentos feitos nas campanhas eleitorais. Dessa forma, poderia ser evitada a superexposição de alguns candidatos, endinheirados, dando igualdade de condições aos demais. E temos outro entrave: os poderes Executivo e Legislativo começam a defender os interesses das grandes empresas financiadoras das campanhas. E o sistema que deveria ser democrático toma outra proporção. Os eleitos pelas grandes empresas privadas se envolvem em acordos e ficam presos a elas. Se tivéssemos um teto para investimento, mesmo
que seja privado, não teríamos a figura desses grandes financiadores. No modelo que aí está, o eleitor fica prejudicado. Isso é injusto, pois os empresários não pagam tantos impostos como nós, e têm muito mais direitos que o eleitor comum. E tem mais: acredito que esses privilégios sejam só uma uma poeirinha debaixo do tapete, cheio da sujeira que envolve o grande sistema “democrático” brasileiro. Se queremos realmente uma reforma política no Brasil, esse é um mal que deve ser eliminado imediatamente.
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Se tivessemos um teto para investimento, mesmo que seja privado, não teríamos a figura desses grandes financiadores. No modelo que aí está, o eleitor fica prejudicado. Isso é injusto, pois os empresários não pagam tantos impostos como nós, e tem muito mais direitos que o eleitor comum.
Cinthia Pinheiro é publicitária
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CIDADANIA & POLÍTICA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Da Redação
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O pior analfabeto é o analfabeto político, pois ele não entende as nossas piadas.
Arquivo Pessoal
Sacudindo a Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino
Panorama Brasil Luciana Genro e Aécio na CNBB
Bertold Brecht Teatrólogo
PM e Polícia Civil nas eleições de Minas Enquanto, em Valadares, é possível ver banners da campanha eleitoral em residências de policiais civis, nas casas dos PMs não há nada. O que é dito na tropa é que o castigo é forte para quem se manifestar fora do esquadro. Fora do esquadro significa admitir não compactuar com a continuidade dos tucanos no governo de Minas.
Choque de Gestão no IML? De choque em choque, servidores do Instituto Médico Legal contam que lidam agora, no que se indica como fim do ciclo tucano no governo de Minas, com a total falta de condições de trabalho – faltam equipamentos, materiais de segurança e higiene. Fala-se até que, por último, cadáveres estão sendo lavados com vassoura.
Censura A pedido de Marina, o TSE retirou do ar o site www.mudamais.com que exibia propaganda eleitoral pró Dilma. O site não é registrado no TSE, pois fora registrado o www.dilma.com.br. Ambos são de propriedade de pessoa jurídica pertencente ao ex-ministro Franklin Martins. Realmente houve afronta à legislação eleitoral. É possível inteirar-se do assunto no link http://www.tse.jus.br/noticias-tse/2014/ Setembro/tse-determina-retirada-imediatado-ar-de-site-ilegal-com-propaganda-dedilma-rousseff
Evangélicos com Dilma O link https://docs.google.com/ forms/d/19FgYbTAsQs3cNGUAstSxAUdTpR7RzjTkfUniwiXEFI/ viewform?c=0&w=1 é de um manifesto de evangélicos em apoio à presidente Dilma. Está aberto a adesões, sendo divulgado em todo o país, como forma de se contrapor à ampla identificação desse segmento da população com a candidatura de Marina Silva.
A candidata Luciana Genro, do PSOL, no debate dos presidenciáveis da TV Aparecida, promovido pela CNBB, partiu para o confronto com o candidato Aécio Neves, do PSDB. Para quem tem mais idade, foi inevitável comparar com os debates em que estavam Brizola e Maluf, por exemplo, no início da redemocratização do Brasil. Uma aparentemente ingênua pergunta de Aécio sobre educação desencadeou os torpedos de Genro. Não tocou no assunto educação, mas conseguiu levar Aécio para o ringue. Declarou que Aécio acusando corrupção do PT equivalia ao sujo falando do mal lavado, lembrou que nesta campanha Aécio foi o primeiro a trazer a corrupção para o noticiário, com a questão dos aeroportos feitos com dinheiro público em terras de sua família. Lembrou que o mensalão começou com Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas, e como o FHC comprou deputados para garantir o direito de se candidatar à reeleição.
Genro X Aécio Na réplica, ao ser provocada por Aécio que ela estava ali como linha auxiliar do PT, ela não perdeu tempo: “linha auxiliar do PT, uva ova!”. E declarou mais um monte de denúncias que pesam sobre Aécio e o PSDB, inclusive indicando que as empresas envolvidas no “escândalo Petrobrás” como vem sendo noticiado estão ligadas a financiamento de campanha do PSDB de Aécio, do PSB de Marina e do PT da Dilma.
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Foi ao ar na noite passada o debate presidencial promovido pela CNBB, entidade máxima da Igreja Católica no Brasil. Deus esteve no controle até o terceiro bloco. Zelou para que as regras engessadas inibissem as possibilidades de confronto. No quarto bloco, Ele, que já não é full time, foi dormir. E o Diabo assumiu, ateando fogo no evento. O Coisa-Ruim proporcionou à platéia alguns dos mais eletrizantes momentos da atual temporada eleitoral. Passou a impressão de estar fechado com a evangélica Marina Silva. (Josias de Souza/Jornalista da Folha de S. Paulo)
Guerra jurídica Depois que Marina subiu nas pesquisas a eleição tornou-se uma guerra jurídica no TSE. Após o corpo jurídico da campanha Marina Silva errar na ação contra a propaganda considerada a mais emblemática na virada da presidenta Dilma (em que o prato de comida some da mesa do cidadão ao falar da autonomia do Banco Central), vem o procurador geral da República, Rodrigo Janot, requerer que seja a propaganda retirada do ar. Janot alega que a referida propaganda deve ser proibida e não tratada como direito de resposta como fez a campanha Marina Silva, por trazer meios artificiais que induzem eleitor à erro, causam estados psíquicos errôneos etc.
Caso semelhante em Valadares Na campanha de 2008 em Valadares, a assessoria jurídica da então candidata Elisa Costa conseguiu liminar que suspendeu uma propaganda do Mourão, em que abordava a vinda da Aracruz: após uma mulher retirar a camisa azul (PSDB) e vestir uma vermelha vinha a narrativa: “não troque o certo pelo duvidoso”. No caso, foi sabido depois que a Aracruz já havia suspendido a decisão de vir para Valadares, em meio a uma crise, já em junho daquele ano. No entanto, Mourão e o governo do Estado mantinham a propaganda e a promessa. No link a seguir é possível ler a iniciativa do procurador geral da República: http://politica.estadao.com.br/noticias/ eleicoes,janot-defende-suspensao-de-propagandas-com-criticas-a-marina,1560980
Marcelino Ribeiro, à direita, fotografando a cidade no Pico da Ibituruna, durante aula prática do curso de Fotografia, do fotógrafo Leonardo Morais, autor desta foto
Tristeza não tem fim O atelier da Rua Sá Carvalho era cheio de vida. Muitas crianças aprenderam ali a desenhar, a pintar, a conviver. Era possível encontrar pessoas se dedicando à pintura para superar traumas e projetarem suas vidas para além das enfermidades de momento. Regendo tudo, Marcelino, um mestre da paciência, do traço, da delicadeza. Ele partiu nesta semana, deixando um vazio enorme na vida de tanta gente a que ele se dedicou. Saudades!
CIDADANIA 4
FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
AÇÃO SOCIAL
Associação de Proteção e Bem Estar Animal precisa de mais ajuda da sociedade para ampliar suas ações Associação resgata animais das ruas e realiza trabalho de conscientização para evitar que cães sejam abondonados, mas precisa de apoio das autoridades Gina Pagu /Repórter
Arquivo Pessoal
A Associação de Proteção e Bem Estar Animal de Governador Valadares (Aprobem) completa dois anos, sendo a única associação deste segmento a atuar no município. Com trabalho ativo de resgate de animais das ruas, a Aprobem é formada por 15 mulheres voluntárias, que contam com recursos próprios para promover o bem estar daqueles que na maioria das vezes foram desprezados. Silvana Soares, presidente da Aprobem, explica que lutar contra o abandono é a grande dificuldade da associação. “Nós acreditamos que não existem animais de rua, e sim animais abandonados nas ruas. E o que vemos, infelizmente, é um índice muito alto de abandono, e também de tutores que não agem com responsabilidade com seus animais, não fazendo a devida identificação e deixando-os soltos em qualquer lugar.” Silvana destaca também outro problema: a leishmaniose. A lei brasileira, aplicada pelo Ministério da Saúde, prevê a eutanásia de animais que tenham contraído a doença. “Nossa primeira grande preocupação é o índice da doença em Valadares. Sabemos que a lei brasileira prevê a eutanásia em cães positivos. Aqui, o número de animais sacrificados é grande, e também o número de errantes, que são os considerados de rua.” Linhas de ação A Aprobem tem por objetivo resgatar ani- Ilma Maria da Silva, dona de Frida, conta que a cadelinha chegou em um excelente momento e troxe muita alegria para a sua casa. Frida foi adotada mais das ruas, fazer um trabalho de conscientização da população e discutir políticas públicas resgatados que precisam de cuidados veterinários ajuda é bem vinda. Ajuda financeira para custe- a todos, e apesar da bagunça que faz, por ser um relacionadas ao tema. A presidente da associação necessitam de um lugar pra ficar até que estejam ar banhos, transporte, passeios, medicamentos e cão de grande porte, só nos traz alegria. Estamos explica como o trabalho é feito: “Num primeiro saudáveis para a adoção. Encontrar esse lugar é ração. Mas, pedimos que as pessoas sejam cons- muito felizes com a presença da Frida. Ela é espemomento, fazemos o resgate do animal e o leva- uma luta diária”, diz. cientes e participem das feiras. Até hoje, já reti- cial, é o nosso xodó.” mos para um lar temporário, pois não temos sede ramos 400 animais das ruas, mas podemos fazer Silvana deixa um pedido aos órgãos públicos: própria com canil. Em seguida, cuidamos do animais. Quem quer ter um cão ou gato em casa, que “Apesar de ainda não termos uma parceria formal Redes Sociais mal e o colocamos para adoção. Custeamos todos faça uma adoção responsável. E contribua para com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), soos gastos dos animais resgatados, como consulta, Embora o número de voluntárias pareça pe- uma vida melhor desse animal.” mos parceiros em alguns eventos promovidos pelo cirurgia e castrações, para, assim, termos um ani- queno, a grande força da Aprobem vem das redes Frida é um dos casos com final feliz. A cade- CCZ. No entanto, peço que órgãos como Corpo de mal novamente saudável.” sociais. Só no Facebook, a Aprobem tem mais de linha mestiça que foi deixada na porta da casa de Bombeiros, Prefeitura, Ibama, IEF, Polícia MiliSegundo Silvana, não há muita disponibilida- 7.600 seguidores, que contribuem com doações e um tutor, ainda filhote, hoje tem uma nova famí- tar Ambiental, olhem mais para nós e contribuam de de lares temporários, onde tutores possam cui- compartilhamentos. A presidente pede para que lia. Ilma Maria da Silva, dona de Frida, conta que para o nosso trabalho. Precisamos de forças como dar provisoriamente de um animal até o momen- além de contribuir por meio das redes sociais, os a cadelinha chegou em um excelente momento. essas ao nosso lado, e muito mais ao lado dos anito da adoção. “Como não temos sede, os animais cidadãos participem das feiras de adoção. “Toda “Ela veio ainda bem pequena e foi conquistando mais abandonados.”
COMUNIDADES
Pastoral da Criança desenvolve ações para combater a obesidade infantil Arquivo Pessoal
Gina Pagu / Repórter Com mais de 20 anos de história e trabalho voluntário dedicado à comunidade do Conjunto SIR, a Pastoral da Criança, vive uma realidade diferente. A falta do que comer na mesa das famílias não é mais uma deficiência. Hoje a meta é combater os excessos no consumo de alimentos. De acordo com a coordenadora da Pastoral, Tereza Martins, os casos de desnutrição não fazem mais parte da vida das crianças do SIR. “Hoje, atendemos 35 crianças, e focamos nosso trabalho na prevenção de todas as doenças, inclusive da obesidade. Criança gordinha não é criança saudável. Há mais de cinco anos não temos casos de desnutrição no bairro. Trabalhamos com as gestantes para que a gestação seja saudável e a criança não ganhe peso além do que deveria.” Tereza explica que a famosa multimistura não é mais usada. “O que fazemos hoje é incentivar as mães a usar uma alimentação saudável, rica em verduras e pouca carne vermelha. Para que os filhos também acompanhem esse tipo de dieta e tenham uma saúde de qualidade.” Unidades Básicas de Saúde A Pastoral objetiva cuidar da criança e das mães mesmo antes do nascimento. Em parceria com as UBSs, as voluntárias da Pastoral da Criança fazem o acompanhamento dos primeiros dias de gestação até o nascimento das crianças. Tereza afirma que todas as gestantes que procuram a Pastoral são atendidas e assistidas. “Visitamos as famílias em casa, vamos aos postos de saúde e fazemos as medições de útero e barriga da mãe para ver como está a saúde do feto. Se o crescimento é normal
TOME NOTA
Valadares vai disputar Copa Saúde de vôlei Neste fim de semana (20 e 21), o time da Praça de Esportes/MVC-GV de vôlei masculino adulto vai disputar a Copa Cidade Saúde de Vôlei, em Guarapari (ES). As partidas serão realizadas no Ginásio Poliesportivo Carlos Fernandes Maria de Oliveira. O time da Praça de Esportes abrirá a competição no sábado (20) encarando o Espera Feliz, às 9h. Ao meio-dia, a equipe da Praça volta à quadra para enfrentar o Linhares. Às 16h, é a vez de pegar o Cachu Vôlei. A semifinal será realizada no domingo (21), a partir das 9h, e a final, às 13h. O campeão será premiado com troféu e medalha, e o vice, apenas com medalha. Também haverá prêmio para o jogador destaque. Além de Valadares e dos times capixabas, participam da disputa Manhuaçu, Espera Feliz e Linhares.
UFJF inscreve para curso a distância sobre política de igualdade racial em ambiente escolar Bárbara Santos disse que o objetivo das Pastorais á assistir às famílias dos bairros da região do SIR
ou não. E orientamos se houver algum problema com a saúde de ambos.” Pastoral da Saúde Principal parceira da Pastoral da Criança, a Pastoral da Saúde faz o trabalho com as famílias. A coordenadora da Pastoral da Saúde, Bárbara Santos, explica que o objetivo dessas pastorais é semelhante, e estão juntas no auxílio às famílias. “Hoje nosso principal ad-
versário é também a obesidade. Pais que estão acima do peso geram filhos com o mesmo problema. Fazemos um trabalho de prevenção aos excessos.” Bárbara diz que os assistidos são orientados de acordo com o grupo sanguíneo. “Cada pessoa tem um tipo de sangue diferente, então adequamos as dietas de reeducação alimentar para cada grupo, e encaminhamos para atividades físicas, como ginásticas e caminhadas. E fornecemos medicamentos naturais quando necessário.”
Estarão abertas até 6 de outubro as inscrições para o curso de aperfeiçoamento UNIAFRO – Política de igualdade racial no ambiente escolar, promovido pela Universidade Federal de Juiz de Fora no Polo de Educação a Distância de Valadares. O curso tem por objetivo capacitar professores e gestores em educação para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em atendimento às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Informe-se: www.ufjf.br
POLÍTICA 5
FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Notícias do Poder
PDT do Lupi
José Marcelo / De Brasília
Moreira Mariz / Agência Senado
Desconcertante Embora não decole nas pesquisas de intenções de votos, não dá para negar que a presidenciável Luciana Genro (Psol) é o grande sucesso da campanha, na corrida pelo Palácio do Planalto. Com a liberdade de quem nunca esteve no governo, é ela quem tem dado o tom mais agressivo nos debates, até agora. Manteve a postura no debate promovido na terça-feira pela TV Aparecida, quando atribuiu ao PSDB a paternidade do mensalão e ao PT o papel de continuar com o sistema. Sobra pra todo mundo.
Um dos principais nomes do PDT no país, o senador Cristovam Buarque (DF) confessou a este jornalista que está desolado e sem esperanças com relação ao futuro do partido. Segundo Buarque, o PDT tornou-se “o partido do Lupi”, em referência ao ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que segundo o senador faz o que bem entende com a legenda. Cristovam Buarque disse que foi o ex-ministro e candidato a senador pelo Rio de Janeiro quem vetou a indicação do colega Felipe Peixoto para vice de Pezão, do PMDB. Mais uma escolha errada, segundo o senador. O senador disse ainda que o futuro do partido, que só encolhe, está em risco. Portal PDT
Reencontro Depois de deixar a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a jornalista Helena Chagas foi coordenar a comunicação da campanha do candidato ao governo de SP, Paulo Skaff, e foi lá que ela reencontrou a presidente Dilma Rousseff pela primeira vez. Helena deixou o cargo brigada com a presidente e sentiu-se apreensiva ao revêla. Mas como em época de campanha nenhum candidato tem gaveta para guardar más lembranças ou rancor, a presidente abriu os braços, e com o melhor sorriso que pode estampar, chamou Helena Chagas de “minha querida amiga”. Foi meigo.
Por falar em Dilma Assessores próximos da presidente avaliam que os primeiros ataques à principal oponente, Marina Silva (PSB), já deram o resultado que precisavam dar, mas que é hora de mudar novamente o tom da campanha. Marina Silva, que de início começou a responder aos ataques e perder pontos em pesquisas de intenção de votos, passou a se comportar como vítima fragilizada. Pesquisas internas de tendências, encomendadas pelo PT, teriam mostrado que isso reforça a imagem de heroína da ex-seringueira. Um importante parlamentar petista, que pediu para não ter a identidade revelada, diz que vai tentar convencer os colegas usando um antigo ditado popular, que pode beneficiar Marina: “só se joga pedras em árvores que dão bons frutos”. Portanto...
Educação
Vânia Marília Ferreira
Ensino Religioso na educação básica: Sim? Não? Por quê? O objetivo deste texto não é esgotar possibilidades e limites de discussão da forma de implementação de tema tão polêmico mas, sim, refletir sobre como se tornou polêmico e que ponderações podemos fazer ao nos depararmos com os questionamentos sobre a necessidade ou forma de implementação do Ensino Religioso na Formação Básica. A história pode colaborar com o nosso entendimento da razão pela qual, sobre o Ensino Religioso, foi efetivada a primeira emenda à LDBEN/96. Pero Vaz de Caminha, em seu primeiro relato sobre a terra descoberta, conta que, “no dia 22 de abril de 1500, no oitavo dia da páscoa cristã, os tripulantes tiveram um primeiro contato visual com um elevado que logo ganhou o nome de Monte Pascoal” (http://blogdoepg. blogspot.com.br/2009/04/dia-do-descobrimento-do-brasil.html). Em terra firme, os colonizadores lusitanos organizaram uma missa pascoal dirigida pelo Frei Henrique de Coimbra. A celebração, que oficializou a descoberta das novas terras, cingiu a conquista material da Coroa Portuguesa e abriu caminho para mais espaço de conversão
As pesquisas Já que falei de pesquisas eleitorais, ganha cada vez mais apoio no Senado a PEC 57, que proíbe a divulgação delas a menos de 15 dias das eleições. A proposta é o senador Luiz Henrique (PMDB-SC). Ele acredita que as pesquisas tendem a influenciar negativamente os eleitores indecisos e aqueles que ainda votam em quem está à frente, por não querer “perder o voto”. Com isso, segundo o parlamentar, a democracia sai perdendo. Há quem defenda a divulgação em qualquer tempo da disputa.
Fantasmas Ainda sobre o Senado, a tentativa de fazer sessão deliberativa esta semana não surtiu muito efeito. Nem o depoimento do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, na CPMI que investiga suposto desvio de dinheiro da estatal para parlamentares e partidos aliados do governo, atraiu senadores a Brasília. Eles continuam nos estados, tentando a reeleição ou disputando o governo, como é o caso de Lídice da Mata (PSB-BA), que esperou até o último minuto para saber a lista das propostas que seriam votadas antes de dizer se deixaria ou não o estado, rumo à Praça dos Três Poderes. Ficou na Bahia.
Rebeldia Embora o PDT faça parte da coligação que apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o senador Cristovam Buarque disse que não faz campanha pela chapa e confidenciou que vai votar mesmo é em Marina Silva. A mulher do senador, no entanto, reclamou com ele que ainda não sabe em quem votar. Cristovam Buarque diz que entendeu o drama da companheira.
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.
religiosa para a Igreja. Desta forma, seguiu-se a colonização. O processo de colonização levou à extinção de muitas sociedades indígenas e determinou a efetivação do domínio político, econômico e religioso dos dominadores sobre os que viviam no território dominado. Estabeleceuse que a educação moral daquele povo deveria ser de exclusiva competência da Igreja Católica. Em 1891, foi promulgada a primeira Constituição republicana brasileira. Foi abolida a religião oficial com a separação entre o Estado e a Igreja, cuja unidade era fixada pela antiga Constituição Imperial, e foi garantida a laicidade do ensino ministrado nos estabelecimentos públicos. Um projeto conservador e tradicionalista se desdobrou nos anos de 1930, pressionando o Governo Provisório, e, em 1931, conseguiu a inclusão do Ensino Religioso nas escolas primárias, normais e secundárias do país, ainda que em caráter facultativo. Evidentemente, houve, naquela época, uma forte reação entre intelectuais, políticos e educadores desejosos de uma educação moderna, eficaz na formação do perfil de cidadania, condizente com as novas relações sociais que se objetivavam no país. Muito tempo se passou... Estamos em 2014 e a discussão continua. De acordo com o art. 33 da LDBEN/96 o Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. Entende-se por proselitismo o intento, zelo, a diligência, o empenho de converter uma ou várias pessoas, ou determinados grupos, a uma determinada causa, ideia ou religião (neste último caso, proselitis-
mo religioso, que é a tentativa de convencer alguém a se converter às suas ideias ou crença). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Ensino Religioso deveria valorizar o pluralismo e a diversidade cultural, além de promover esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção de culturas religiosas que tem na liberdade o seu valor inalienável. É na disciplina Ensino Religioso que os nossos educandos poderiam aprender a diversidade religiosa de nosso país e do mundo, a função da religião na formação da cultura e a necessidade de respeito a todas as possibilidades de crenças e Não Crença. Todo o ensino deveria ter compromisso com a ética da consciência, da dignidade humana, da liberdade, da cidadania e da alteridade. O contexto do ensino religioso deverá ser a cultura. Necessitamos viver democraticamente em uma sociedade plural que questione a insensibilidade e a intolerância. Pergunto: qual é o ensino religioso que se apresenta em nossas escolas? Seria possível que outras disciplinas abordassem conteúdos e reflexões sobre as diferentes culturas religiosas? Religião pressupõe comportamento ético? Fico com as palavras de Marisa Monte em “Gentileza”: Por isso eu pergunto a você no mundo/ Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria/ O mundo é uma escola/ A vida é um circo/ Amor palavra que liberta/ Já dizia um profeta. Vânia Marília Ferreira é professora de crianças e na universidade.
ECOS DE PALMARES / Ana Afro
Agora é moda? Gosto de começar meus escritos sempre com uma pergunta e dessa vez não faço diferente. Agora é moda? É nome de música né, mas também é uma pergunta para refletir e muito sobre o que estamos vendo acontecer e ser noticiado na grande mídia constantemente. A externalização do racismo que vem crescendo a cada dia mais. Pra nós, negros, que convivemos com ele dia a dia, não é nenhuma novidade. O que difere nesses casos é que os negros em questão são famosos e aí a história toma outro rumo, muda de foco. Racistas sempre existiram e existirão. Então qual o problema? O problema, no caso, pode começar a se tornar solução, pois quando se comete racismo contra um negro comum, a coisa
tende a cair no esquecimento e ser varrida pra debaixo do tapete e acaba sendo ‘engavetada’ deixando de se tornar referência para aqueles que sofrem com tais crimes. O que temos visto acontecer é que quando a grande mídia vê lucro com reportagem de fatos acontecidos cotidianamente com cidadão comuns, quando o protagonista é famoso, isso se torna forçosamente positivo para os negros desse país. Para alguns porque os incentiva a não calar a dor sofrida pelo crime sofrido, para outros porque os leva a tomar “CONSCIÊNCIA” do que de fato acontece e que é vivenciado por nós sem que tenhamos noção da dimensão do estrago que tal crime faz em nós e nos nossos e também para os próprios criminosos que se acham no direito
de o serem sem meditar nas consequências malignas para todos. Quanto mais trabalhamos, nós dos movimentos sociais e outros que conosco alinham-se, mais presente e soberbo se faz o racismo e a tal injúria racial, que pra mim são as mesmas coisas, pois fazem o mesmo estrago nas pessoas. O lado bom disso, repito, é que as pessoas, negras ou não, estão vendo literalmente o racismo brasileiro de todo dia e, a partir do que se vê, podem tomar atitudes para mudar essa cruel verdade. Como diz o ditado, “O que os olhos veem o coração tem de sentir e levar a agir”. Ana Aparecida Souza de Jesus é pedagoga, especialista em Diversidade na Escola, Gênero e Raça pela UFMG, membro do Conselho de Promoção de Igualdade Racial.
MEIO AMBIENTE
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Fábio Moura
Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), no bairro Santos Dumont. Obra executada com financiamento do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), um investimento de R$ 50 milhões nesta primeira etapa
ÁGUA Poluição
e escassez
Índice de tratamento de esgoto em Valadares é zero. Prefeitura vai solucionar o problema com a implantação de duas estações de tratamento de esgoto.
Dilvo Rodrigues / Repórter No final de agosto, o Instituto Brasil colocou Governador Valadares em último lugar em um ranking de saneamento básico, que avalia o tratamento de esgoto. O “Ranking do Saneamento 2014” avaliou 100 municípios em todo Brasil e constatou que por aqui o volume de esgoto tratado é zero. Uma das medidas que poderiam alterar essa realidade é a construção de Estações de Tratamento de Esgoto, as ETE, fiscalização permanente, além de uma política de educação ambiental. Mas, muitos municípios ainda sequer têm um Plano Municipal de Saneamento Básico, algo que o Governo federal pretende resolver com a exigência de que os entes municipais elaborem seus planos de saneamento básico até dezembro de 2015. Outra demanda que os municípios devem atender é a implementação de uma estrutura de controle social do saneamento básico, que deve ser concluída até dezembro de 2014. O descumprimento dos prazos pode acarretar bloqueio dos repasses federais para a realização de projetos nessa área. Segundo a Lei Federal nº 11.445/07, saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólido, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. A Prefeitura informa que já começou a construção da primeira ETE da cidade, três quilômetros abaixo do bairro Santos Dumont, que está sendo executada com financiamento do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), um investimento de R$ 50 milhões. Já a segunda etapa vai ser financiada pelo Governo Federal, com investimento de R$ 70 milhões a fundo perdido. A primeira etapa deve estar pronta até junho de 2015. A segunda etapa deverá ser aprovada pela Caixa Econômica Federal, com previsão de licitação da obra até dezembro de 2014. A ETE do bairro Elvamar, considerada como a terceira etapa, já tem recursos garantidos no valor de R$ 20 milhões, que virão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A ETE Santos Dumont tratará 75% do esgoto. A ETE do bairro Elvamar, que será construída entre o Minas Clube e o Parque Municipal, vai tratar 25% do esgoto da cidade. O diretor adjunto do Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Vilmar Rios Dias Júnior, disse que a implantação do sistema de tratamento de esgoto é uma prioridade da atual gestão e indica que os benefícios surgirão a curto prazo. “Sem dúvida, o tratamento do esgoto vai contribuir com a melhoria da qualidade de vida da população, evitando a proliferação de doenças. A qualidade da água será melhor e o meio-ambiente também sairá ganhando.” O ideal é que todos os municípios tratem seu esgoto, já que aqueles que estão à jusante, abaixo de Valadares, por exemplo, sofrem com o esgoto despejado aqui. E quem está à montante, antes de Vala-
dares, faz que o valadarense sofra com a qualidade da água que chega a cidade, além de poluir o rio. Impactos O professor da Alexandre Sylvio, que leciona disciplinas relacionadas ao meio ambiente e recursos hídricos, na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), afirma que o descarte do esgoto não tratado nas águas do Rio Doce é a principal causa da mortandade da fauna e flora aquática. Além disso, a poluição da água compromete a saúde da população. “A primeira questão é a ambiental. Em Valadares, o rio recebe tudo o que é produzido por mais de 270 mil pessoas. Então, isso inclui matéria orgânica, elementos minerais e patógenos, que são vermes e coliformes fecais. Isso faz que haja proliferação muito grande de bactérias. Essas bactérias consomem o oxigênio dissolvido na água, dificultando a respiração do peixe, que tenta buscar o oxigênio na superfície. Este oxigênio é muito concentrado, e o peixe não consegue respirar esse ar. A gente sabe que sem respirar, qualquer animal acaba morrendo”, disse. Um problema recente, que as estações de tratamento de água da Bacia do Rio Doce estão enfrentando, é a disseminação das cianobactérias. “Entre 2011 e 2012 identificou-se que a disseminação das cianobactérias deveria ser levada mais a sério e que os sistemas convencionais de tratamento da água não eram suficientes para retirar esses organismos da água que chega à torneira do consumidor. Há ainda a questão das bactérias que não utilizam oxigênio. Elas encontram território ideal para se reproduzir quando o nível da substância diluída na água está baixo. “Essas bactérias, que a gente chama de anaeróbicas, são responsáveis pelo mau cheiro da água, pois liberam compostos a base de enxofre”. Os compostos sulfurados dão aquele cheiro de esgoto à agua.” Problemas da Bacia do Rio Doce A qualidade da água é uma das questões que mais preocupam as autoridades e especialistas que estudam a Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Segundo dados do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, em 2006, dos 211 municípios cortados pela bacia, somente nove em Minas Gerais e 11 no Espírito Santo apresentavam sistemas de tratamento de esgoto. Além disso, a deficiência de tratamento dos resíduos sólidos acarreta na contaminação dos mananciais pelo chorume, produto da degradação do lixo nos lixões. A bióloga e conselheira do CBH-Suaçuí, Waleska Bretas, conta que o processo de degradação pelo qual vem passando a bacia do Rio Doce é histórico. “Com a retirada das matas ciliares, a calha onde o rio corre sofreu um processo de assoreamento devido à erosão, que
leva a terra para dentro do rio. Outro ponto agravante é o esgoto jogado sem tratamento nos mananciais, o que afeta diretamente na qualidade da água. Esta é uma questão importante porque o rio não consegue mais estabelecer um ponto de equilíbrio, ou seja, a natureza não consegue degradar os materiais despejados e voltar às condições naturais. Nós entendemos que isso só vai acontecer com a ação de impedir que o esgoto chegue sem tratamento ao rio e com uma fiscalização permanente”, explicou. Para Waleska, o processo de degradação do Rio Doce contribuiu para que grande parte de sua biodiversidade fosse reduzida a níveis baixíssimos e a intensidade dos impactos ambientais só é suportada devido aos investimentos realizados nas Estações de Tratamento de Água (ETA).
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Um problema recente, que as estações de tratamento de água da Bacia do Rio Doce estão enfrentando, é a disseminação das cianobactérias. “Entre 2011 e 2012 identificou-se que a disseminação das cianobactérias deveria ser levada mais a sério e que os sistemas convencionais de tratamento da água não eram suficientes para retirar esses organismos da água que chega à torneira do consumidor.
De acordo com Luciane Teixeira, presidente do CBH-Suaçuí e membro da Diretoria Colegiada do CBH-Doce, muitos municípios não possuem recursos financeiros para executar os planos de saneamento. Assim, os 10 Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Doce determinaram como prioridade de investimento nos Planos Municipais de Saneamento Básico a utilização de recursos da cobrança pelo uso da água. A cobrança é um instrumento de gestão de recursos hídricos previsto na Lei 9.433/97 e é um preço cobrado de prestadores de serviços de saneamento básico urbano, indústrias, mineradoras, irrigantes, agricultores e demais usos que requerem captação de água ou lançamento de efluentes nos rios. O valor é investido na recuperação e preservação das bacias hidrográficas. Dos 228 municípios que compõem a bacia hidrográfica do Doce, 156 planos municipais serão elaborados com os recursos da cobrança. Os atos convocatórios para contratação das empresas que vão executar os planos serão publicados em setembro e outubro. Segundo ela, cerca de 57 já estão em processo de elaboração, num total de mais de R$ 9 milhões de investimento. A expectativa é que o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce invista mais de R$ 25 milhões nos 156 entes municipais. Os demais 72 munícipios que fazem parte da CBH- Doce estão elaborando seus planos com recursos do Ministério das Cidades, Funasa e outros entre governamentais.
MEIO AMBIENTE
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Tim Filho
O RIO EM NÚMEROS
800 litros/segundo Cerca de 800 litros de esgoto são despejados por segundo no Rio Doce, sem nenhum tratamento. O número é relativo ao município de Governador Valadares, um dos mais de 220 municípios situados ao longo de toda a Bacia.
2021 é a meta O Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce, apenas dez destas cidades contam com algum tipo de tratamento. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, em contrapartida, estabeleceu o ano de 2021 como meta para que os mais de duzentos municípios passem a tratar todos os seus resíduos antes de despejá-los no curso do rio.
600 pontos de coleta Estudo publicado em março deste ano pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas, as nove bacias que cortam o estado foram avaliadas em mais de 600 pontos de coleta. O Rio Doce apresentou o segundo maior índice de piora em relação ao ano anterior, ficando atrás, apenas, do Rio Jequitinhonha. Mas, nem tudo piorou. O Rio Doce saltou de 20% para os 26% de águas avaliadas como de boa qualidade. O que puxou a Bacia pra baixo foi o aumento de 5% para 15% das águas consideradas ruins pelo levantamento. A maior parte, 58% do volume avaliado, porém, ainda está num nível mediano.
100% até 2016 Desde o início de 2014, duas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) estão sendo construídas na cidade: uma na região após o bairro Santos Dumont, outra depois do bairro Elvamar – esta segunda no aguardo de solução de um problema identificado no projeto. A partir de 2016, 100% do esgoto e dos resíduos sólidos despejados nos córregos de Governador Valadares serão tratados por essas duas estações. A ETE Santos Dumont tratará os dejetos dos 78% da população situados à margem esquerda do Rio Doce; enquanto os resíduos provenientes da outra margem do rio, 22%, serão tratados na ETE Elvamar.
Sujeira aumenta Tratar o esgoto, porém, não é a única medida a ser adotada para contribuir com a melhora na qualidade das águas da Bacia do Rio Doce. Sem vegetação no topo dos morros, nem matas ciliares, qualquer chuva provoca uma turbidez elevada. Só pra se ter uma ideia: em valores, uma turbidez provocada por uma O nível das águas do Rio Doce está muito baixo, principalmente neste ponto, cheio de pedras e com muita areia, onde é feita a captação de água pelo SAAE chuva eleva os valores da sujeira na água de 40 pra 3 mil.
Rio Doce atinge marca de 19 centímetros negativos na régua do SAAE Na quarta-feira, dia 15, o nível do rio Doce foi o mais baixo desde o início da seca, registrando a marca de 19 centímetros negativos na régua do SAAE. Esta marca determinou que uma das quatro bombas de captação fosse desligada, evitando que areia e dejetos fossem sugados, por causa do nível crítico do rio. A medida preventiva alterou o volume captado, de 1.100 litros por segundo para 900 litros por segundo. Alguns bairros já sentem o desabastecimento, que até agora estava sob controle. Desde o mês de julho, a direção do SAAE vem alertando para a necessidade de a população economizar água. O SAAE informou que o desligamento de uma bomba só aconteceu agora, em meados de setembro, porque os técnicos da autarquia estão trabalhando com medidas de melhoria da captação mesmo com o rio baixo. O SAAE dragou areia, desassoreando o rio, fez uma pequena barragem para que a água se acumulasse e ampliou a captação. Além disso, tem feito contato permanente com a Usina de Baguari para monitorar o controle da vazão do rio. Com a diminuição, para não haver desabastecimento, a equipe do SAAE tem trabalhado 24 horas, fazendo manobras na distribuição de água para os diversos reservatórios da cidade. A manobra é a seguinte: envia água para um reservatório, fecha e envia para outro, e assim sucessivamente, para que todos tenham água para o consumo indispensável. Por isso, a água não chega todo o tempo simultaneamente em todos os reservatórios, apenas uma parte do dia. O maior problema acontece quando a residência tem uma caixa d’água pequena ou não tem nenhuma e conta apenas com a água direta bombeada pelo SAAE.
Dicas para
economizar água 1 Não lavar carros: uma lavagem com mangueira gasta 600 litros de água; 2 No banho: molhar o corpo, fechar o chuveiro, ensaboar-se e depois abrir para enxaguar. Não deixar o chuveiro aberto. O consumo cairá de 180 para 48 litros. Tomar apenas um banho por dia e rápido. Cinco minutos a menos no banho significam uma economia de 45 litros de água; 3 Não lavar calçada nem quintal com mangueira. Usar vassoura; 4 Ao escovar os dentes: enxaguar a boca com a água do copo. Economiza 3 litros de água; 5 Descarga: verificar se a válvula não está com defeito, apertar uma única vez e não jogar lixo e restos de comida no vaso sanitário;
6 Torneira: uma torneira aberta gasta de 12 a 20 litros/ minuto. Pingando, 46 litros/dia. São 1.380 litros por mês. Fechar bem as torneiras; 7 Vazamentos: um buraco de 2 mm no encanamento desperdiça cerca de 3 caixas d’água de mil litros; 8 Caixa d’água: não deixar transbordar e mantê-la tampada; 9 Lavagem de louças: lavar louças com a torneira aberta o tempo todo desperdiça até 105 litros. Ensaboar a louça com a torneira fechada e depois enxaguar tudo de uma vez. Na máquina de lavar são gastos 40 litros. Utilizar somente quando estiver cheia. 10 Regar jardins e plantas: no inverno, a rega pode ser feita dia sim, dia não, pela manhã ou à noite. Usar mangueira com esguicho-revólver ou regador; 11 Deixar acumular a roupa para lavar, seja na máquina ou no tanque.
Ailton Catão
GERAL
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BRAVA GENTE
Ombudsman
FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
GUILHERME FROSSARD FILHO
Arquivo Pessoal
José Carlos Aragão
Fartura Hoje, a safra está boa para este ombudsman. Não faltaram, na edição passada do Figueira, erros crassos ou prosaicos de ortografia ou decorrentes do mau uso das normas gramaticais. Como os títulos se destacam no aspecto geral da página, erros em títulos são, em geral, mais gritantes que os que ocorrem no miolo da matéria. Selecionei, portanto, quatro deles, para esmiuçar – e espicaçar. Caso 1 “Virada Cultural de BH e Fest Rock em No meu tempo Valadares são os destaques na cultura.” Era uma das chamadas de capa da última edição. A frase, lida em sua íntegra como um título ou chamada, faz lembrar o clássico Samba do Crioulo Doido, do saudoso Stanislaw Ponte Preta, tal o estado de confusão que causa. Consegui deduzir, até com certa facilidade, que Virada Cultural e Fest Rock são nomes de dois eventos. E que teriam sido destaques entre eventos culturais recentemente realizados. Foi-me impossível atinar, entretanto, o que seria a expressão “No meu tempo Valadares” inserida entre o sujeito e o predicado. Seria um evento maior, em que os outros dois estariam inseridos? – cheguei a pensar. O jeito for ir à página chamada e tentar descobrir com a leitura da matéria. Não funcionou: não há nada lá. Especulei a colocação de alguma pontuação no interior da frase, tentando, com possíveis pausas e variações de inflexão, quando lida em voz alta, decifrar o enigma. Também não funcionou. De modo que continuo sem saber o que poderia ser “No meu tempo Valadares”. Eu e, certamente, o leitor. Em geral, os manuais de redação dos principais jornais do país, preconizam o uso do itálico ou grifo para destacar os nomes de obras artísticas ou literárias em um texto. (Já abordei esse tema aqui, anteriormente.) É uma medida simples e que evita muita confusão e erros de entendimento. No caso citado, Virada Cultural e Fest Rock em itálico, teria facilitado a compreensão – embora ainda reste esclarecer que diabos seria “No meu tempo Valadares”. Há quem se valha do uso de aspas para destacar nomes de obras artísticas, literárias, eventos e similares. Em jornalismo, não é a melhor alternativa, embora alguns veículos mais tradicionais ainda persistam no seu uso. Com o advento de novas tecnologias na área editorial e gráfica, jornais mais modernos têm preferido o uso de uma variação tipográfica (geralmente itálico ou VERSALETE), deixando as aspas apenas para indicar citações, transcrições literais e gírias; destacar ambiguidades de certas palavras ou expressões; e para realçar o emprego em sentido figurado. O Figueira, no entanto, ainda não se posicionou quanto a isso.
Guilherme Frossard Filho, o pai de uma grande família Da Redação Ele é comerciante, tradicional em Governador Valadares, mas é um apaixonado pelos esportes. E transformou sua paixão em uma entrega de corpo e alma ao futsal feminino, conduzindo suas meninas à jornadas gloriosas. Seu nome: Guilherme Frossard Filho, o comandante do time de futsal feminino que conquistou o pentacampeonato mineiro na semana passada, e uma série de outros títulos ao longo de quase 20 anos. Guilherme faz de tudo pelas meninas do futsal e pelo time: cuida da parte técnica e tática, busca parcerias financeiras e institucionais, aconselha, age como pai. E assim que as meninas o consideram: um verdadeiro pai. Ana Ferreira, jogadora do time vê isso e algo mais. “Gratidão é uma palavra com significado muito bonito, mas não tem palavras no mundo que expressem a gratidão e o amor que sentimos pelo Guilherme. Agradecer a ele por tudo que nos fez e faz é pouco perto de tudo que sentimos o quanto somos gratas a ele. Pessoa humilde, inteligente, amorosa e que pensa mais no próximo do que nele mesmo. Para muitos uma pessoa qualquer, para nós um pai, um amigo, muitas vezes um confidente, alguém com quem podemos contar sempre, alguém que sempre nos ensina os valores da vida, das pessoas e das coisas a nossa volta, alguém que não deixaremos de amar jamais...” A goleira Elgita Lima, a Gigi, também reverbera o pensamento e o sentimento de Ana. “Pessoas como Guilherme Frossard Filho merecem todo o nosso respeito. Um homem com a alma limpa, disposto a ajudar sem pedir nada
Caso 2 “Saiba qual é a campanha de deputado estadual que é a mais endinheirada.” Outra chamada de capa, logo abaixo da anterior. O caso aqui é de redundância – ou abundância, melhor dizendo. Não há a menor necessidade de se repetir um mesmo verbo – e na mesma flexão! A forma mais enxuta e adequada seria: “Saiba qual é a campanha de deputado estadual mais endinheirada.” Três palavras a menos e dizendo a mesma coisa. Simples assim. Caso 3 “Vale e Fundação Vale lançam concurso de curta-metragens na Estrada de Ferro Vitória a Minas”. No plural de substantivos compostos formados por um adjetivo qualificante de um outro substantivo, os dois elementos vão para o plural. Assim, o correto é curtas-metragens. Mas tem mais. Pelo novo Acordo Ortográfico, quando a posição do hífen de uma palavra composta coincide com o final de uma linha, a linha seguinte deve começar também com um hífen, para caracterizar que se trata de uma divisão original de palavra composta e não uma divisão silábica fortuita. Caso 4 Por fim, destaco um erro que não é gramatical, mas de redação jornalística: não se usa colocar ponto ao final de um título, o que só é aceitável em casos muito especiais. Dois títulos da capa passada incorreram no uso inapropriado do ponto. Além do Caso 1, cuja chamada foi transcrita e analisada acima, uma outra: “Cartório Eleitoral tem trabalho dia e noite para preparar as urnas.” Caso bônus A gente vai analisando os casos com foco em questões mais evidentes e acaba descobrindo mais problemas... Na chamada do Caso 1, se já havia o antetítulo (ou “chapéu”, no jargão jornalístico) “CULTURA”, não era preciso dizer que os eventos citados foram destaque da... cultura! E, sobre a chamada do Caso 4, o verbo “trabalha” seria muito mais direto e objetivo que a expressão “tem trabalho”. É o que pede o bom texto – e não só jornalístico!
em troca. Possui garra, força e atitude. É merecedor de toda importância de valor incalculável. Sua luta vai além das paredes das quadras. Luta por educação, inclusão, justiça e reconhecimento, não dele, mas de todos nós, atletas da cidade de Governador Valadares. Quem conhece e convive com essa pessoa solidária e apaixonada pelo o esporte, sabe do que eu falo”. Guilherme Frossard faz questão que todas as meninas estudem e conciliem o estudo com as atividades esportivas. Para ele, a educação abre caminhos para a formação futura de todas elas. Se preocupa com o alojamento das meninas que vêm de fora e com a assistência médica destinada ao grupo. O resultado de tudo isso é grande número de titulos conquistados, no âmbito estadual e nacional. Guilherme Frossard é brava gente!
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Gratidão é uma palavra com significado muito bonito, mas não tem palavras no mundo que expressem a gratidão e o amor que sentimos pelo Guilherme. Agradecer a ele por tudo que nos fez e faz é pouco perto de tudo que sentimos o quanto somos gratas a ele. Pessoa humilde, inteligente, amorosa e que pensa mais no próximo do que nele mesmo. Para muitos uma pessoa qualquer, para nós um pai, um amigo, muitas vezes um confidente...
Ana Ferreira, sobre Guilherme Frossard Filho
José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com
Direitos Humanos Paulo Vasconcelos
Educação e Cultura em Direitos Humanos I Quando numa roda de conversas, alguns dias atrás, com amigos das mais variadas linhas de pensamento, a discutir Direitos Humanos, fui interpelado por um deles com a questão: “E os Direitos Humanos dos animais, como ficam?” Achei muito engraçada, e confesso, inicialmente, busquei uma resposta que pudesse, além de responder, também explicar algo mais. Parti do princípio que tais direitos são exclusivos aos seres humanos, posto que, humano seria radical de húmus, que por sua vez tem origem no latim e significa solo, terra; especialmente na camada superior onde ocorre a decomposição da matéria orgânica e também, forma-se o pó do qual todos nós viemos. Assim, costuramos perguntas em respostas até ficarem todos satisfeitos. Menos eu! Acontece que, enquanto fazia considerações sobre o ser humano percebi que, nem todo o mundo é ser humano considerando a teoria de que o homem veio do pó. Temos ainda, a árvore da vida na cabala. Existe também, uma lenda recolhida pelo general Rondon entre os índios Pareci, no centro de Mato Grosso em que, Enorê, o ente supremo, cortou um pau: esculpiu nele uma figura humana, e fincou-o no solo. Depois, cortou uma varinha e deu pancadas nele; o pau virou homem. Segundo a mitologia do antigo Egito, no início havia apenas águas, então, tudo surgiu a partir delas. Além de muitas outras. A diversa cultura existente, em diferentes povos no planeta, força-nos a considerar também que; para que os Direitos Humanos sejam universalizados, falta muito e, educação e cultura
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Existe também, uma lenda recolhida pelo general Rondon entre os índios Pareci, no centro de Mato Grosso em que, Enorê, o ente supremo, cortou um pau: esculpiu nele uma figura humana, e fincou-o no solo. Depois, cortou uma varinha e deu pancadas nele; o pau virou homem. Segundo a mitologia do antigo Egito, no início havia apenas águas, então, tudo surgiu a partir delas. Além de muitas outras.
em (ou para) Direitos Humanos não passam, por enquanto, de uma utopia do Estado brasileiro. Pois, a educação ainda é um auxílio para o evolucionismo social, não uma garantia de que se formará na sociedade uma consciência cultural em Direitos Humanos. Mesmo havendo mudanças curriculares, incluindo a educação transversal e permanente nos temas ligados aos Direitos Humanos como versa o texto oficial do PNDH-3. Quando confrontado o direito do “eu” e do outro, então, as divergências culturais começam. Quando, no PNDH-3 é exposto o eixo “Educação e Cultura em Direitos Humanos”, devemos observar pontos que confundem a maior parte das pessoas, e erros dessa natureza vêm sendo compartilhados há muito tempo. O antropólogo britânico Edward Burnett Tylor, considerado o pai do conceito moderno de cultura,
afirma que a cultura é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. O mesmo Tylor, porém, vê a cultura humana como única e defendia que povos diferentes sofreriam convergência de suas práticas culturais ao longo de seu desenvolvimento. Aqueles que escreveram o eixo V do PNDH-3 podem dizer que eu estou errado. Mas, a grande maioria alimenta esse tipo de pensamento. Ao longo dessa construção, educação e cultura não terão necessariamente que andarem juntas. O fato, por exemplo, de encontrar-se com uma pessoa que concluiu todas as etapas da educação regular e ainda, tem em seu currículo pós-graduações, doutorados e mestrados; e assim afirmar, que: “Hoje me encontrei com uma pessoa que tem muita cultura”, não garante, porém, que essa afirmação estará sempre correta. E, por conta de um passado escravista, subalterno, elitista e excludente, nos dias de hoje, ainda é natural ouvir a máxima popular; “o direito de um só vai, até onde o direito do outro começa”. Mas, na prática, frequentemente o que acontece é que, “o direito do outro só pode chegar, até onde o meu começa”. Falar de cultura em Direitos Humanos é bem mais fácil do que vivê-la.
Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos
COMPORTAMENTO
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Festival Valadares Power anima a cidade O evento Valadares Power reuniu no último sábado (13), os fãs da cultura Nerd em Governador Valadares. Pessoas de todas as idades e regiões se juntaram na Praça de Esportes para a quinta edição do evento, que acontece todos os anos no mês de setembro Arquivo Pessoal
Natália Carvalho /Repórter O Valadares Power contou com diversas atrações como competições de Cosplay e Bandas de Pop Rock, campeonatos de jogos e apresentações de Hip Hop. Até o R2-D2, o robô da saga “Guerra nas Estrelas” (Star Wars) apareceu por lá. De acordo com o organizador Cristofer Rodrigues, o objetivo do evento é suprir a falta de entretenimento para o mercado Nerd, não só em Governador Valadares, mas em toda a região dos Vales. “O Valadares Power também tem células em outras cidades, como Teófilo Otoni e Timóteo, afim de realizar festividades culturais de inserção social”, disse.
Cosplay Já pensou em encontrar o seu personagem de desenho animado favorito andando por aí, tomando um refrigerante? Isto é algo normal nos eventos de Anime, os famosos desenhos japoneses. O termo é a abreviação de “Costume”, que se traduz por fantasia e Play ou Roleplay, que significa atuar, representar. Ou seja, o cosplayer é a pessoa que se veste e age como um personagem de desenho animado, mangá, quadrinhos ou outro personagem fictício. Os cosplayers foram a principal atração do evento cultural Valadares Power deste ano. Várias pessoas de Governador Valadares e região se reuniram na Praça de Esportes para dar vida aos seus personagens favoritos. Mas nem tudo é diversão. O Valadares Power também promove o Concurso de Cosplay, que premia os participantes com base na apresentação, confecção da roupa e carisma. Arthur Coelho é cosplayer desde 2012, mas desde pequeno se interessava pela cultura japonesa. No Valadares Power ele foi o vencedor do Concurso Cosplay na Categoria “apresentação”, caracterizado de Rin Okumura, personagem do anime Ao no Exorcist. “Desde pequeno eu sempre assistia aos animes que passavam na televisão, e Menino vestido de Mario do Jogo Mario Bros e a repórter deste Figueira, Natália Carvalho, de Cosplay de Kikkawa You, cantora japonesa por volta dos meus 10 anos, descobri o que era o tal do cosplay. Meu irmão também gostava um pouco da cultura japonesa e me incentieSports Guerra nas Estrelas vou. Eu achei incrível poder ver os personagens de que eu tanto gosOs eSports (Esportes Eletrônicos) têm se tornado cada vez mais E não é só de animes que se faz um evento. O Valadares Power tada ganhando vida. Isto me incentivou a começar a juntar o dinheiro populares. A empresa Valve Corporation, criadora da plataforma Ste- teve a participação especial do R2-D2, o robô dos filmes Guerra nas para fazer o meu primeiro cosplay”, disse. am, que visa distribuir games digitalmente sem impostos, realiza anu- Estrelas (Star Wars). Douglas Baroni, de 32 anos, veio de Ipatinga O primeiro cosplay foi feito em 1939, nos Estados Unidos, mas almente o torneio internacional do jogo Defense of the Ancient 2, em trazer a sua criação até Governador Valadares. Técnico em Eletrônia arte só se tornou popular por volta dos anos 1980, quando chegou tradução livre, Defensores do Anciente 2, mais conhecido como Dota 2. ca e Engenheiro de Produção, juntou a sua profissão com o hobbie e ao Japão e ficou conhecida mundialmente. O Brasil não é exceção, O campeonato The International é o maior evento de jogos eletrônicos criou uma réplica exata do robô. e já foi três vezes campeão do “WCS” (World Cosplay Summit), o do mundo. Neste ano, a premiação bateu o recorde de 10 milhões de O projeto começou quando Douglas começou a reunir informacampeonato mundial de Cosplay que acontece anualmente no Japão. dólares, o maior prêmio já pago em um campeonato de jogos digitais. ções para construir um outro robô, o J5 do filme Um Robô em Curto O Brasil também sedia o maior evento do gênero da América Latina, Percebendo o crescimento do público, a Valve também lançou Circuito. Mas o seu objetivo mudou quando se deparou com um R2o Anime Friends, em São Paulo. em março deste ano, o filme Free to Play, um documentário que mos- D2 construído em escala real. Ele se juntou a um grupo de construtra a realidade dos jogadores profissionais Benedict Hyhy Lim, Danil tores americanos que também tinham interesse em construir uma A Moda Lolita Dendi Ishutin e Clinton Fear Loomis. O filme foi aclamado pela críti- réplica do robô e após 2 anos o R2-D2 estava pronto. “Na realidade, Outra atração do Valadares Power foi a Moda Lolita, um estilo ca, considerado um dos melhores documentários já feitos. somos apenas um bando de loucos pela saga Guerra nas Estrelas que alternativo que nasceu nas ruas do Japão, nos anos 1980. Ao contráMas esta nova realidade está bem mais perto do que imagina- tem a liberação da Lucas Films e os desenhos originais de construrio de como o termo ficou conhecido, devido a história de Vladimir mos. No Valadares Power, equipes de várias regiões se reuniram ção“, disse. Nabokov, o estilo não envolve nenhuma conotação sexual. Pelo con- para competir em um campeonato de Dota 2. No entanto, não foi nada fácil chegar ao objetivo final. Foram trário, as Lolitas se vestem de maneira elegante, modesta, e às vezes, O Valadarense Bruno Couto joga Dota há nove anos e há dois, finais de semanas e feriados inteiramente focados no projeto: “Passei até infantil. por convite de amigos, ingressou no time Pandemia, no qual joga por vários obstáculos, mas a minha maior dificuldade foi o domo, que O estilo é inspirado no Rococó e na Era Vitoriana, e possui quatro profissionalmente. Mesmo com os compromissos diários, ele e sua é a cabeça do robô. Eu não consegui nenhuma máquina no Brasil caestilos principais: O Sweet Lolita, que é estilo mais “doce”, conhecido equipe treinam todos os dias. “Estudo e trabalho das 7h às 22h30 e paz de fazer esta peça nas medidas oficiais, por isto ela foi trazida dos pelas cores suaves e decorações que relembram a infância; O Classic treino das 23 às 2h. Dormir não dá XP (experiência)”, disse. EUA. Quando chegou eu tive de cortar, lixar, fazer furações, e por fim Lolita, que é o estilo clássico e mais maduro, onde mais se percebe Os jogos do gênero MOBA (Multiplayer Online Battle Arena), ca- pintar, instalar as janelas, e ainda fazer toda a parte eletrônica.” as inspirações de época; O Gothic Lolita, que possui uma inspiração racterizados pela estratégia em tempo real, como o Dota 2, alcançaram Mas mesmo com as dificuldades, o R2-D2 ficou pronto em um Gótica, onde as cores escuras predominam nas peças; E o Punk Loli- uma enorme popularidade. Starcraft 2 e League of Legends são outros tempo menor do que esperava. Douglas agora começa a trabalhar no ta, onde é muito usado o xadrez, listras e sobreposições, lembrando o jogos de sucesso mundial. Sara Iwazawa começou a jogar o famoso seu novo projeto, o simpático robô Wall-e, do filme da Disney. Este e estilo Punk. E a partir destes quatro estilos são criados criados vários LOL (League of Legends) em 2013, e no Valadares Power foi uma das seus outros projetos estão disponíveis no seu site: www.lampadinhaoutros Sub-estilos, como o Country Lolita, Casual Lolita, Hime, que vencedoras do Concurso de Cosplay com a sua fantasia de Goth Annie, mg.webnode.com tem inspiração nas princesas europeias, entre outros. uma das personagens do jogo. “Eu escolho as personagens pela persoE para quem perdeu o evento, o ano que vem tem mais! Além Lettícia Gabriella é estudante de Jornalismo e Classic Lolita des- nalidade, faço o cosplay das que são um pouco parecidas com a minha, do Valadares Power, o Anime GV acontece todo o mês de Abril em de 2012. Ela conheceu o estilo através de blogs sobre moda urbana como a Annie e a Karuta, que eu também estava de cosplay no dia. Governador Valadares. Mais informações estão disponíveis no site: japonesa e desde então segue à risca as regras do estilo: “Para mon- Ambas são fofas e macabras ao mesmo tempo”, disse. www.valadarespower.com Natália Carvalho tar minhas roupas, ou coordinates, como chamamos, busco inspirações em Lolitas já veteranas, tanto brasileiras quanto estrangeiras. A maioria de minhas roupas são as chamadas offbrand, que não são de marcas próprias da Moda Lolita. Algumas peças são handmade, feitas por costureira, e até mesmo selfmade, feitas por mim. O Movimento SteamPunk Nos tempos atuais, o dia a dia das pessoas foi tomado por uma variedade incontável de objetos tecnológicos, como notebooks, tablets e celulares. Mas, e se todos estes objetos tivessem sido criados há muito tempo, quando o motor a vapor era o principal meio de produção de energia? Esta é a proposta do Steampunk, um subgênero de ficção científica que nasceu na literatura, a partir de escritores como Júlio Verne (autor de Vinte Mil Léguas Submarinas e Viagem ao Centro da Terra) e H. G. Wells (autor de A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra dos Mundos). O termo vem de Steam, que significa vapor em inglês, e Punk, retirado do outro subgênero CyberPunk. Hoje, o SteamPunk é a produção da Ficção Científica do Século XIX no Século XXI, através de qualquer forma de expressão. Um exemplo são filmes de sucesso como De volta para o Futuro III e Sucker Punch – Mundo Surreal que levaram a estética do estilo para dentro das telas. Nina Luft é uma das integrantes do Conselho SteamPunk de Minas Gerais, que fica em Belo Horizonte. Ela conheceu o estilo a partir dos amigos e, desde então, junto ao conselho, realiza projetos com a finalidade de divulgar a cultura pelo estado. “Além de Governador Valadares também já passamos por cidades próximas a Belo Horizonte, como Contagem e Ribeirão das Neves. Participamos de eventos oferecendo oficinas de customização e também realizamos intervenções teatrais”, disse Nina, lembrando que este foi o nosso terceiro ano consecutivo que ela participou do Valadares Power.” Durante o evento, Nina e os outros integrantes do Conselho personalizaram as roupas das Lolitas Lettícia Gabriella e Natália Lima, misturando os dois estilos. Lolita e Steampunk se juntaram para fazer uma apresentação durante o evento.
Nina (primeira da esquerda para a direita), com o pessoal do Conselho, mais Natália Lima (de branco) e Lettícia Grabriella (de vestido preto)
CORRESPONDENTES 10
D’outro lado do Atlântico
FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
EI
José Peixe / De Lisboa
Frente Unida Ocidental contra extremistas do Estado Islâmico Na segunda-feira, dia 15 de setembro, Paris foi palco de um encontro internacional de chefes de estado ocidentais, em representação de 40 países, com o objetivo de se formar uma frente unida ocidental que seja capaz de enfrentar os jihadistas radicais que pretendem implementar o Estado Islâmico (EI) instalado na Síria e no Iraque. Este encontro de países da “Frente Unida” contra o Estado Islâmico reuniu de urgência na cidade luz, na sequência da decapitação do refém britânico David Haines. Haines, tinha 44 anos, cresceu em Perth, na Escócia e estava a trabalhar numa organização não-governamental francesa, no campo de refugiados sírio de Atmeh, junto à fronteira da Turquia, desde março de 2013, quando foi feito refém pelos fanáticos jihadistas que na verdade não representam o Islão. Depois de assistir ao vídeo que mostrava a decapitação de David Haines, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu “perseguir e caçar os jihadistas do Estado Islâmico tanto a nível doméstico como no estrangeiro”. “O Reino Unido está em condições de tomar todas as medidas estratégicas para pressionar, desmantelar e extinguir um grupo de fanáticos radicais que estão determinados em implementar um Estado Islâmico extremista”, prometeu David Cameron, três dias antes do referendo na Escócia. Na abertura do encontro internacional de Paris, o Presidente da França, François Hollande, fez questão de apelar à unidade internacional para derrotar os jihadistas, esclarecendo que “o Estado Islâmico instalado na Síria e no Iraque constitui uma ameaça global que exige uma resposta, pois não há tempo a perder”. E a provar essa celeridade, sabe-se que o secretário de Estado norte-
Governo inglês promete vingar a morte de David Haines
americano, John Kerry, anda há mais de uma semana a fazer contatos, na Europa e no Oriente Médio, com o objetivo de se conseguir montar uma coligação internacional para travar o avanço da organização radical sunita do Estado Islâmico na Síria e no Iraque. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama já tinha anunciado em direto desde Washington que “o poderio militar americano não tem paralelo, mas este combate contra os jihadistas radicais do Estado Islâmico não poderá ser só um objetivo nosso, uma vez que é o futuro do Ocidente que está em causa”. Os islamistas radicais sunitas souberam aproveitar muito bem a guerra civil da Síria para terminarem com a fronteira que existia com o Iraque. Ou seja, instalaram-se numa zona estratégia de difícil acesso para as tropas ocidentais e foram conquistando território no Iraque e na Síria. Neste momento os jihadistas do Estado Islâmico ocupam cerca de
Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo
Onda vermelha Nestas últimas semanas a região da Grande São Paulo tem contado com uma série de mobilizações a favor da candidatura da presidenta Dilma Rousseff. E a partir desta semana as atividades serão estendidas também ao interior do Estado. Tudo isto na tentativa de reverter a vantagem da candidata Marina Silva na preferência dos eleitores. De acordo com o Painel da Folha de S. Paulo, nem o candidato a vice de Dilma, o peemedebista Michel Temer, será poupado, sendo o responsável pela organização de atos na Baixada Santista. Jogou a toalha Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo do último domingo, o filósofo José Arthur Gianotti “referência teórica entre integrantes do PSDB”, afirmou que o partido não conseguiu se articular como oposição durante os governos petistas, razão pela qual está virtualmente fora do segundo turno da eleição presidencial. Na opinião de Gianotti, após o pleito o PSDB enfrentará uma divisão ideológica, com José Serra mais à esquerda, e Geraldo Alckmin mais à direita. Ainda segundo o filósofo, Aécio Neves deixará o topo da pirâmide partidária. Estudo sobre Minas Gerais Está no ar já há algum tempo no sítio da Fundação Perseu Abramo um vídeo que faz uma análise sobre o estado de Minas Gerais. Participaram da gravação, além de representantes do Partido dos Trabalhadores mineiro, o professor Otávio Dulci, do Departamento de Relações Internacionais da PUC/MG e o economista Cézar Medeiros. O vídeo, com cerca de três horas de análises, está disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=-ptE2SQfH0k&feature=share&list=UUm8hYR ZHUdJsmOtc3jjYPRQ&index=1
CIDADANIA
Semana do Trânsito terá atividades até o dia 26 de setembro Começou na quinta-feira (18) as atividades da Semana Nacional de Trânsito em Governador Valadares, que este ano tem como tema Cidade para as pessoas: proteção e prioridade ao pedestre. As atividades vão até o dia 26 de setembro por toda a cidade. Neste período, quem for ao shopping poderá utilizar um simulador de trânsito que estará à disposição das 10 às 22h até o dia 25. Em parceria com a Polícia Militar, serão realizadas blitze em horários e locais variados. No dia 23, das 8 às 13h, haverá uma blitz educativa no Mercado Municipal, onde serão apresentados vídeos impactantes sobre trânsito e será montada uma transitolândia (uma réplica do sistema de trânsito para crianças).
Missa pela chuva Há tempos não ouvia comentários sobre rezas e missas pedindo para a providência divina mandar chuva. E quando isto acontecia, era geralmente no Nordeste, região cuja população mais pobre enfrentava sérias dificuldades pela falta de água. Pois não é que no fim de semana li notícia sobre uma dessas missas? Só que desta vez, não era nos sertão nordestino, e sim em Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do interior paulista, grande produtora de cana-de-açúcar. 40 anos do Metrô de São Paulo
Nesta semana tem comemoração dos 40 anos do Metrô de São Paulo. O melhor sistema de transporte público da cidade, infelizmente, só não presta melhores serviços à população devido à falta de vontade dos últimos governadores em investir na sua expansão. Atualmente, há 75 quilômetros de linhas, dos quais 43 funcionam há mais de 20 anos. Ou seja, nos últimos 20 anos apenas 32 quilômetros entraram em funcionamento. De acordo com especialistas, seriam necessários ao menos 200 km de linhas para que o sistema funcionasse adequadamente. No atual ritmo de crescimento, este montante seria atingido em aproximadamente 80 anos. Só para termos uma ideia, o atual governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, prometeu em 2012 mais 30 km de novas linhas até 2014. No entanto, entregou à população apenas 4 km. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.
um terço do Iraque e da Síria e, controlam zonas petrolíferas importantes que lhes garante receitas na ordem dos três milhões de dólares diariamente. E o mais dramático e surreal de toda esta história é que o Estado Islâmico conseguiu comprar a maioria do seu armamento a países ocidentais e recrutou milhares de jovens estrangeiros. Muitos deles europeus, americanos e australianos. Aliás, o carrasco que aparece nos vídeos a decapitar os jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff, segundo alguns órgãos de comunicação parece ser o mesmo que degolou o escocês David Haines. Ou seja, um britânico que já foi apelidado pelos jornalistas como “Jihadi John”. O Estado Islâmico conseguiu montar centro de recrutamento em muitos estados árabes e do ocidente, incutindo nos jovens voluntários que o “futuro do mundo passa pela edificação de um califado e no combate e exterminação dos infiéis do Islão”. E por incrível que pareça conseguiram fazer com que muitos jovens ocidentais se voluntariassem para esta luta fanática e radical. Segundo os relatórios tornados públicos pelos serviços secretos americanos, o Estado Islâmico, neste momento, conta com mais de 32 mil militantes, oriundos de todas as partes do mundo. E é esse crescimento que assusta a maioria dos líderes ocidentais e árabes. Sabe-se que nas fileiras do Estado Islâmico estão mais de 15 mil combatentes voluntários estrangeiros (homens e mulheres), entre eles dois mil europeus e norte-americanos. E também existem 20 portugueses filhos de emigrantes que vivem na França e Holanda e que se alistaram nos centros de recrutamento, existentes nesses países. Ridículo mas real. E para que se tenha a noção desta ameaça fundamentalista, convém ter em conta a declaração que o Presidente do Iraque, Fouad Massoum fez em Paris: “Se a intervenção em apoio do Governo do Iraque tardar, os jihadistas do estado Islâmico podem ocupar ainda mais território e tornando-se assim uma ameaça ainda maior”. É caso para dizer, seja o que DEUS quiser.
José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação
Associativismo Antônio Carlos Linhares Borges
Política pobre Há alguns números deste Figueira, o assunto desta coluna era a pobreza que assola nossa região, considerando que os índices de pobreza material, diga-se econômica, da maioria dos municípios que compõem o território que circunda Governador Valadares, são certamente resultado de uma pobreza históricocultural que construiu o nosso ambiente social. Neste momento de campanha eleitoral, fica estampada a pobreza cultural da nossa região, diante das proposituras de muitos candidatos, ou das suas tentativas de propor alguma coisa interessante, chegando ao ridículo algumas vezes, ao absurdo de outras vezes e na maioria das vezes tudo regado a dinheiro solto. Alguns apelam pro tamanho do bigode – Collor apelou pro saco roxo – outros pro salão de manicure e perfumaria. Mas cabe uma reflexão sobre a situação das campanhas de um modo geral, pois nas alçadas estaduais e federais as coisas não são tão diferentes. Desde que a sociedade humana começou a chegar à conclusão de que as lideranças dos povos deveriam ser escolhidas por alguma forma de aclamação, pois a tomada do poder pela força sempre foi muito traumática para as sociedades, teve início o processo democrático, que embora a muito custo, se estabeleceu. Aos poucos, as estratégias para se chegar ao poder passaram a ser o convencimento. O exercício da democracia exige maturidade do eleitor para que se possa distinguir entre os montes de palavras e frases de efeito, o que é verdadeiro e o que é mentira deslavada em muitas das vezes. Como no caso do Brasil a democracia é bastante recente, ficamos sujeitos a situações de ridículo e também cômicas diante do horário eleitoral. Além de agüentar o maior partido de oposição brasileiro, as empresas de mídia, a todo momento criando fantasmas para assustar o brasileiro – uma hora era a Copa, outra a economia, de repente uma denúncia vaga, ou secreta com vazamento escandaloso, de mensalão na Petrobrás – temos que agüentar as mudanças de comportamento, de discurso e de propostas dos candidatos a presidente. A candidata Marina Silva, depois de postar de valente menina do seringal, repentina aliada do agronegócio, resolve dar uma de sub-Marina e mergulha no choro e no apelo barato do papel de vítima. No fim, tudo se resume em vender imagens, sonhos, fantasias e ilusão. O que se vende são aparências regadas de promessas. É o processo democrático. O eleitor tem que aprender a separar no meio de todo o aparato de aparências, o pouco que resta de verdade ou de sinceridade. A sociedade precisa aprender a lidar com tanta mentira e teoricamente este exercício leva a um amadurecimento da percepção na sociedade. Teoricamente! É uma corrida evolucionista entre o predador e a caça. Onde termina, só Deus sabe.
Antônio Carlos Linhares Borges é produtor rural e diretor do CIAAT - Centro de Informação e Assistência Técnica
CULTURA
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
Desenhos de Sérgio Lopes Filho / autorretrato
Fábio Moura
Sérgio Lopes Filho, o super-herói Honestidade, generosidade, altruísmo, inteligência, respeito às diferenças, esperança... tudo isso está na alma desse garoto em pele de jovem-adulto. Este é Sérgio Lopes Filho, um artista que tem a sua vida e o seu trabalho construídos com muitas cores e muitos coadjuvantes: bichos de estimação, super-heróis da TV e dos quadrinhos, músicas, brinquedos, livros... enfim, elementos que fazem sua arte ser criada e recriada em momentos de pura emoção. Teresa Najar Araújo Ele chegou no último dia do mês de outubro do ano de 1989, filho de Maria da Penha e Sérgio Lopes. Uma criança como as outras? Um super-herói? Expectativa. Todos os holofotes da família virados para aquele que veio para colorir e alegrar, animar e encantar. Desenhar e colocar magia em tudo. Tímido, saudável, alegre, sonhador. Este é Sérgio Lopes Filho. O garoto foi crescendo e, aos poucos, fazendo suas escolhas. Não teve dúvidas ao decidir quem seriam seus companheiros para a longa viagem da vida. Bichos de estimação, lápis de cor, papel e, bonecos super-heróis. Sérgio lembra que seu pai trazia do trabalho todos os dias, pacotes de papel para serem reusados. O menino aprendia desde cedo a arte da reciclagem, do respeito ao meio ambiente. Aproximava-se cada dia mais a ser como seus brinquedos que o encantavam salvando vidas, lutando contra o mal e fazendo companhia aos que se sentiam sozinhos por serem diferentes. Os desenhos de Hanna-Barbera que passavam no extinto canal Manchete permearam toda a infância de Sérgio. Assim como os de Genndy Tartakovsky. Tudo que era desenho animado ele amava. Aos 5 anos de idade ganhou de presente um boneco do Batman e, nasceu então, a paixão por esse personagem. Assistia a série, sem perder um único episódio. A partir daí, todo aniversário, dia das crianças, Natal, o pedido do menino sonhador era, bonecos para completar a sua coleção de super-heróis. O garoto tímido, sério, anti-social, encontrou nos personagens, a alegria da infância. Cresceu. Adolesceu. Relata ter sofrido bullying durante toda infância e adolescência. Conta sorrindo o jeito como se vestia para ir para a escola. “Imagina um garoto de óculos, com cordinha para pendurá-los, cabelo penteadinho, blusa pra dentro da calça, com cinto. Sapato limpíssimo, meias claras. Eu era o alvo mais perfeito para gozação do resto da escola e, na sala de aula, não era diferente.” Relata com sorriso maroto que, o aniversário mais feliz da vida dele, o que mais marcou, foi o temático do Batman. Estava fantasiado igualzinho. Brigou com os decoradores porque, segundo ele, estava tudo trocado. Tinha personagens errados na mesa de doces. Gotham City estava colorida demais. Desmanchou tudo, pegou seus próprios
brinquedos, bonecos dos heróis, vilões, armas, veículos, tudo mesmo e arrumou a mesa. Acontece que, tinha muito ciúme, era parte da sua história, então, ao invés de aproveitar o aniversário, ficou ao lado da mesa, vigiando pra não correr o risco de alguém mexer neles. Finalizado o Ensino Médio é hora de escolher o caminho a seguir. Sem dúvidas, escolheu cursar Design Gráfico, na Univale. Fez um curso brilhante. No convite de formatura, sua mensagem foi de agradecimento ao Batman, o que causou rebuliço, afinal, como agradecer a um herói imaginário? Não entendiam como isso podia ser possível, mas ele, não tirou o pé e, venceu. Agradeceu ao seu maior e melhor amigo, como desejava fazer.
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Imagina um garoto de óculos, com cordinha para pendurá-los, cabelo penteadinho, blusa pra dentro da calça, com cinto. Sapato limpíssimo, meias claras. Eu era o alvo mais perfeito para gozação do resto da escola e, na sala de aula, não era diferente.
Começou a fazer estágio na TV Univale, onde teve o primeiro contato com vídeo. Fazia o programa Balangandã. Nesse tempo, trabalhava na produção de vinhetas e animações, Sérgio pode pôr em prática o seu talento graças a confiança que foi depositada nele pelo professor Plínio Nunes Lacerda, que supervisionava o estágio, além de ser um dos produtores gráficos da emissora. Antes disso, Sérgio apenas desenhava, mas foi na TV que se envolveu no universo das animações. Aí, o crescimento profissional foi fantástico. Paralelo ao trabalho de criação e animação de vinhetas na TV Univale, ele começou a realizar o sonho de garoto, fazendo seus desenhos animados, e com o seu super-herói favorito, o Batman. Daí em diante, começou a fazer seu portfólio. Oferecia seus serviços a algumas empresas, sem qualquer ônus para elas, mas, nem todas acreditavam. Mesmo assim, não desistiu. Aprendeu com seus super-
Crônica Vendo bicicleta de dois amortecedores, frontal e central. Nas cores preta e vermelha, pesando 9 kg, com documentação em dia, vários arranhões de capotes noturnos. Vendo bicicleta com freio regulado, selim confortável, pneu da frente careca e pneu de trás em dia e, no guidão, escrito o nome da Josefina, minha antiga namorada. Vendo! Ela teve um único dono, tomava banho duas vezes por mês, mas era vista todas as sextas-feiras trancada na lixeira na frente do bar Manacá. Esnobada pela patricinha de cabelo de chapinha, que não quis sentar no quadro, bêbada, depois da festa Funk Deluxe. Deve ter seus 100 mil quilômetros rodados em 12 anos, foi a Alpercata e voltou numa velocidade incrível; subiu a Ibituruna com muito custo. Vendo! Às duas horas da madrugada foi vista dezenas de vezes indo aos encontros de porres homéricos. Uma vez, trouxe o sujeito com uma precisão milimétrica, mesmo que por milímetros ele quase tenha perdido a orelha. Isso, em um capote respeitável na ciclovia da Avenida JK. Desejava mudar de vida, partir para Curitiba. Viver ao lado do seu companheiro. Foi trocada por uma bugre italiana e viveu no terraço daquela casa silenciosa, debaixo de um pano
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heróis a arte da superação, do não desistir. Ofereceu para o dono de uma franquia de sanduiches a fazer um curta animado com a história de cada um dos sanduíches vendidos pela rede, contando a origem do nome. Desenvolveu o projeto. Disse que trocaria em lanches, mas o dono não acreditou. Disse que isso não funcionaria e rejeitou. Sérgio continuou sua batalha, sabia que encontraria quem apostasse nos seus sonhos. Saiu um edital da Editora Abril e ele se inscreveu. Mandou o que era necessário para a primeira etapa e foi aprovado. Chegou o dia da segunda etapa. Ele conta ter entrado na sala e, que, já foi cumprimentado em inglês. Foi nessa língua a entrevista e, ele não estava preparado nem avisado para isto. Ficou nervoso, derramou água na mesa. Foi reprovado. Voltou pra casa. Outros desafios viriam. Surgiu a chance de fazer vinhetas de carnaval para a TV Globo, por meio da agência/produtora Ovelha Negra. Mandou material pelo correio. Resolveu ir pessoalmente ver em que pé a coisa andava e, ao chegar lá, numa sexta-feira, foi imediatamente contratado. Precisavam do trabalho pronto na segunda-feira. Ele, então, disse que conseguiria, mas teria que dormir na própria agência, pois passaria noite e dia trabalhando. E assim o fez. Na segunda-feira a vinheta estava pronta e foi ao ar. Começava a sua realização. Fez um trabalho para a revista Zupi e, não sabia quando seria publicado. É uma revista só de ilustração. Recebem, escolhem e, guardam o material sem data marcada para publicar. Recebeu então um comunicado da Editora Abril, aquela que o reprovou na entrevista, dizendo que tinham visto um trabalho seu na Zupi e, queriam que desenvolvesse algo para eles para a revista Mundo Estranho. Mandaram o material de texto e, ele, realizou a arte. Enviou e, foi aprovado. Editado e publicado. Atualmente, Sérgio está em São Paulo, integrando a equipe de animadores do Studio Split, que trabalha em parceria com a produtora Mixer, que faz grande parte dos trabalhos da Globo Filmes. Fugiu do mercado voraz da propaganda e faz o que gosta, o que sempre sonhou: desenho animado. Neste trabalho, elabora os cenários do desenho animado com os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, exibido na TV Globo e no Cartoon Network.
Dilvo Rodrigues
Vendo bicicleta Vendo a crédito, a prazo e a vista. Vendo parcelado no boleto bancário do Banco do Povo. Vendo no cheque pré-datado, vendo no cheque-calção, vendo no dinheiro e na moeda corrente. Vendo bicicleta preta e vermelha, com aro desgastado e raios sujos de terra e graxa.
azul e empoeirada. Vendo! Vendo bicicleta, que foi emprestada algumas vezes para o vizinho viciado, desejoso de acalmar os terrores das vozes internas e insaciáveis da abstinência. Costumava parar por ali, na Ilha dos Araújos, fazer uma caminhada ou cooper, uma água de coco. Mas, adorava mesmo era o tal do caldo de cana, no Mercado Municipal. Uma vez o pedal esquerdo caiu, de velhice, e teve a roda traseira empenada por descuido de um motociclista passando velozmente no cruzamento. Enamorou-se de uma cargueira robusta, verde,
que trazia e levava compras de supermercado aos lugares mais distintos da cidade. Sentiu dores nas pastilhas do freios, quando a dita cuja nunca mais apareceu. Quis suicidar-se da vida dos veículos de tração humana, ser enterrada em um ferro velho digno e, talvez, ressuscitar vendo sua essência de ferro fazer parte de grandes ligas metálicas em obras importantes desse país. Porém, se conformou quando descobriu que a amada tinha sido roubada por um sujeito de bigode e boné de aba reta, conhecido como Pedro Catraca. Vendo! Vendo a crédito, a prazo ou a vista. Vendo parcelado no boleto bancário do Banco do Povo. Vendo no cheque pré-datado, vendo no cheque-caução, vendo no dinheiro e na moeda corrente. Vendo bicicleta preta e vermelha, com aro desgastado e raios sujos de terra e graxa. A corrente nunca estourou, são 21 marchas e mais de 100 mil quilômetros rodados, nunca perdeu um racha na Marechal Floriano, carregou 12 anos de sacolas de compras e sacos de carvão para churrasco. Foi pilotada ao mesmo tempo em que se falava no celular. Foi pilotada sem as mãos. Levou muita gente feliz, trouxe muita gente triste, fez um sujeito feliz e não quer partir. Vendo!
ESPORTES
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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 21 de setembro de 2014
QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO
Movimento antinatural Volta e meia recorro, nesses despretensiosos textos sobre futebol, às histórias que meu pai contava e tanto me encantavam. Uma delas vem do tempo do amadorismo e era protagonizada por um atacante botafoguense chamado Mimi Sodré, tido como um padrão de ética nos gramados. Segundo meu pai, Mimi erguia o braço e se acusava ao juiz, sempre que tocava com a mão na bola. Eu não entendia bem aquilo: se era para se acusar, por que Mimi ajeitava a bola com a mão? Mas nunca fiz esse questionamento, porque adorava as histórias e receava que meu pai perdesse o entusiasmo com que as reproduzia. Só fui compreender melhor quando li O negro no futebol brasileiro, clássico de Mario Filho. Mario explica: até a vinda ao Brasil do juiz inglês George Reader, dois anos antes da Copa de 50 – ele acabaria, inclusive, apitando a fatídica final em 16 de julho –, os juízes brasileiros paravam a jogada em qualquer lance que, com ou sem intenção, a bola batia na mão de alguém. Ou seja: o que Mimi Sodré fazia era acusar o toque da bola em sua mão, mesmo que involuntário. Foi preciso Mr. Reader vir lá do outro lado do oceano para nos ensinar que o que caracterizava a infração era a intenção, e casualidades não deveriam ser punidas. Nem um grama de exagero na história do meu pai. Um pouco antes de começar a Copa de 2014, houve um certo zunzum a respeito de uma determinação da comissão de arbitragem da Fifa. Não conheço o texto original, mas o sentido é esse: o juiz deveria marcar toda vez que a bola batesse na mão de alguém que tivesse feito um movimento antinatural. Alguém sabe explicar que diabo é isso? Vamos inverter a questão. Dar uma bicicleta – algo que não fere as regras do jogo – é um movimento natural? Invadir a área adversária controlando a bola com a cabeça feito uma foca, especialidade daquele sumido ex-jogador cruzeirense Kerlon, é um movimento natural? E para não escapar ao tema da mão na bola: existe algo mais antinatural do que um zagueiro que, na hora do cruzamento, põe os braços atrás do corpo? Pra mim, o que esse zagueiro faz com o gesto esdrúxulo é dizer ao juiz: olha, professor, eu não confio no senhor. Acho que, se o cara cruzar e a bola bater sem querer na minha mão, corro o risco de o senhor entender tudo errado e marcar pênalti. Não sei se a tal recomendação da Fifa vingou, e as próprias arbitragens da Copa não foram exatamente um sucesso. Pelo menos em tese, estavam ou deveriam estar aqui os melhores juízes do mundo, mas ocorreram desastres completos (México x Camarões), marcação de pênaltis inexistentes (Brasil x Croácia, Espanha x Holanda, Alemanha x Portugal) e outros pra lá de marotos, como os que eliminaram a Costa do Marfim na fase de grupos e o México nas oitavas. Não me lembro de outro, mas houve ao menos um pênalti marcado em um desses lances de bola na mão, a favor da Austrália no jogo com a Holanda. Eu achei que não foi pênalti, mas aqui no trabalho todo mundo achou que foi. Devo estar enganado.
Rafael Ribeiro / CBF
Neymar dando uma bicicleta – algo que não fere as regras do jogo – é um movimento natural? Eis a questão A Fifa não sabe o risco que está correndo com o rigor recomendado. Jogadores de futebol, sobretudo os latinos, costumam ser maliciosos e, se a moda pega e os juízes não abrirem o olho, teremos um festival de bolas propositalmente lançadas em direção aos braços adversários. Não esqueçamos que Pelé – claro, sei que foi o Pelé, e Pelé é Pelé – inventou a jogada em que fazia tabela nas canelas de seus marcadores, e também o pênalti em que ele mesmo enroscava o braço no do zagueiro.
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A Fifa não sabe o risco que está correndo com o rigor recomendado. Jogadores de futebol, sobretudo os latinos, costumam ser maliciosos e, se a moda pega e os juízes não abrirem o olho, teremos um festival de bolas propositalmente lançadas em direção aos braços adversários.
O pessoal da ESPN costuma brincar com os jornalistas Mauro Cezar Pereira e Arnaldo Ribeiro, atribuindo-lhes a criação de uma imaginária Liga Antipênalti à Brasileira. Se os dois levassem a ideia à frente, minha adesão seria certa. Arnaldo Ribeiro tem, inclusive, uma frase magnífica para o tema: “Pênalti, pra mim, é o gol do juiz”. Fato é que há pênaltis demais. E, como parecem preocupados com o excesso de câmeras em qualquer jogo da quarta divisão e com a
avidez por penalidades máximas que vitima narradores e comentaristas, os juízes têm andado com seus dedos muito nervosos, doidos para apontar a marca de cal. No último final de semana, não vi infração no pênalti marcado a favor do Fluminense e contra o Palmeiras, nem no pênalti marcado a favor do Flamengo e contra o Corinthians. Quatro dias antes, no último minuto do péssimo jogo com o Goiás, na Arena Pantanal, os jogadores rubro-negros já haviam pedido pênalti numa bola que, cruzada da esquerda, tocou no defensor do Goiás, quicou e, na volta, roçou-lhe o cotovelo. Um dos trechos da bela “Vozes da seca”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, regravada pelo Quinteto Violado na década de setenta, diz o seguinte: “Mas doutor, uma esmola / Para o homem que é são / Ou lhe mata de vergonha / Ou vicia o cidadão”. Como os jogadores do Flamengo não tiveram a menor vergonha em reclamar pênalti num lance como aquele, só podem estar viciados. Link para o grande Quinteto Violado interpretando “Vozes da seca”:https://www.youtube.com/watch?v=W8N77r0Rnq4 Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na própria definição, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que adotou o seu blog e autoriza a sua contribuição a este Figueira.
Canto do Galo
Toca da Raposa
Victor, um líder
Cruzeiro ainda com vantagem
Rosalva Luciano
Com um grande abraço... E começamos esta semana com a disputa do segundo turno do Campeonato Brasileiro de Futebol. Eu, particularmente, esperava mais do meu time, esperava estar num lugar da tabela que nos deixasse com esperança de título, é claro que ela existe também para o Galo, mas aponta um caminho mais difícil. Espero que tenhamos mais atletas em condições de jogo, o primeiro turno foi quase catastrófico, inúmeras contusões sérias, cartões amarelos etc. Victor é mesmo um líder, um motivador da rapaziada, um trunfo do técnico não só na proteção das áreas, mas na facilidade de colocar nas palavras sentido de determinação e confiança. Ele fala: “Eu conversei com a rapaziada, principalmente aqueles que não estavam jogando, para não trazer isso (ausências) como dificuldade ou peso, mas sim como oportunidade de brilhar, e assim sei que entrarão com dedicação e luta como no jogo contra o Botafogo”. Não precisa de esforço nenhum para reconhecer neste atleta uma inteligência apurada. Fomos dormir ao final da quinta-feira, dia 11, bem desolados. Eu, inclusive, esperava um placar de vitória com toda a dificuldade que sabemos existir para vencer o Timão dentro de São Paulo, em quaisquer dos estádios, pois é um time aplicado. O Atlético teve as melhores chances. O domínio do jogo foi notório durante quase toda a partida, destacando o alvinegro das Minas Gerais. De novo, nada da competência nas finalizações, as oportunidades cansaram de se oferecer, nenhum aproveitamento, e como para quem não faz alguém faz por ele, foi fatal. Viemos com 1 x 0 na bagagem de volta. Pagamos excesso de peso por excesso de erros. Estamos mais longe dos quatro melhores, aguardemos então o que virá por aí. A CBF define as datas e locais e horários de todos os jogos das quartas de final da Copa do Brasil e teremos pela frente de novo o adversário que nesta semana nos tirou três pontos: o Corinthians. O jogo que iniciará esta saga será em São Paulo, no primeiro dia de outubro às 22h, na Arena Corinthians. O segundo jogo vem para Belo Horizonte, muito, mas muito lon-
ge do Horto, no mesmo horário, no dia 15 de outubro, só que no Mineirão. Time que almeja título tem que vencer em qualquer terreiro ou puleiro. Vamos esperar com a força dos fortes. O vencedor desta disputa enfrentará na semifinal o vencedor de Flamengo x América-RN. Sinceramente, não entendo quando um técnico diz que o treino está sendo no jogo, que resultados ruins vêm de falta de treinamento, que seu time não vem encarando uma fase legal. Acho que isto não poderia acontecer, trabalhamos para quê? Que eu saiba todo trabalho tem que projetar produção, o que não está acontecendo. Claro que a responsabilidade é dele, nem precisa enfatizar. Parar de justificar em cima de “se” também já está na hora, se não existe. A opção de ataque encontrada para enfrentar o Grêmio não agradou e nem deu certo. Jogo morno, sem momentos de eficiência. A torcida é mais que paciente, mais que incentivadora, mais que companheira fiel, mas tudo tem uma razão de ser. Queremos ver uma luta em todas as batalhas e que as batalhas sejam vencidas com lutadores aguerridos. Orientados e dirigidos por estrategistas que procuram sempre vencer. Verdade mesmo no jogo foi o gol anulado feito pelo Luan, guerreiro dos poleiros, que de peixinho ameaçou deixar a torcida em estado de alegria, mas o árbitro viu uma falta do Leonardo Silva em Bargas. Uma bola na trave também deixou o Tardelli sem marcar. Fase ruim mesmo! Além dos fatos confirmados ainda temos atletas sem contratos ou por terminar. Sabemos que isto causa insegurança. As opções estão ficando poucas, temos que “vencer ou ganhar” do Goiás, do Cruzeiro, nosso maior contrário e de quem vier. Massa atleticana ainda espera o que merecemos... constância nas vitórias. Vai pra cima deles... bica Galoooo, sempre doido! Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.
Hadson Santiago
Saudações celestes, leitores do Figueira! Mesmo tendo conquistado, ao longo da história, dois títulos em cima do São Paulo, Copa Ouro da Conmebol (1995) e Copa do Brasil (2000), o Cruzeiro possui uma longa desvantagem nos confrontos com o tricolor paulista, tornando-se, infelizmente, um grande freguês. E isso ficou evidente na última derrota por 2x0, partida válida pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro. O time celeste não jogou mal, mas faltou uma maior pegada, faltou chegar junto mesmo. O pênalti infantil do atabalhoado Dedé foi uma ducha de água fria nas pretensões cruzeirenses. A equipe sentiu o gol e não conseguiu reagir. Aliado a isso, as substituições do técnico Marcelo Oliveira não surtiram efeito. Dagoberto entrou com uma preguiça danada e insistir com o Júlio Baptista é dar murro em ponta de faca. Lucas Silva não deveria ter saído, pois é melhor marcador do que o Nílton. Ou seja, deu tudo errado! Venhamos e convenhamos, a vantagem de 4 pontos ainda é considerável. Escrevo esta coluna na terça-feira e quando você, caro leitor, estiver passando os olhos neste minifúndio de papel, a 22ª rodada do campeonato já terá sido realizada. Portanto, dependendo dos resultados de Cruzeiro x Atlético-PR e Coritiba x São Paulo, a diferença para o segundo colocado pode ter sido alterada. Tomara que tenha aumentado... Com as contusões de Samudio (só deve voltar em novembro) e de Egídio, o Cruzeiro ficou sem lateral-esquerdo de ofício e tem improvisado o destro Ceará. Apesar do esforço do experiente jogador, a equipe está sentindo uma fra-
gilidade naquele setor. Gastando uma fortuna com as categorias de base, será que na Toca da Raposa I não existe um menino que possa entrar no time e assumir a lateral-esquerda? São com essas oportunidades que surgem os grandes jogadores. E na base do desespero, o Cruzeiro foi às compras e trouxe o lateral Breno Lopes, do Paraná Clube. Nunca ouvi falar desse bacana. Parece que foi compra de fim de feira, a famosa xepa. Tomara que ele chegue aqui, mostre futebol e seja um novo Nílton Santos. E queime a minha língua... Outro dia estava me lembrando de alguns valadarenses que já tiveram o privilégio de jogar no Cruzeiro e vestir o manto celeste estrelado. Lembrei-me do ponta-direita Carlinhos Pantera, do zagueiro Wildimark (Marquinhos) e dos irmãos Dutra, Tião (centroavante) e Geraldão (zagueiro). Geraldo Dutra foi o que fez mais sucesso. Emprestado ao futebol do Catar ainda menino, ganhou experiência e dinheiro no mundo árabe. Voltou ao Cruzeiro, foi titular e ainda disputou a Copa América de 1987 pela Seleção Brasileira. Depois foi vendido ao futebol europeu, tendo sido campeão mundial interclubes pelo Porto, de Portugal. Vi todos eles atuarem. É uma boa pauta para futuras colunas. Bons tempos em que Governador Valadares revelava talentos para o futebol brasileiro. Bons tempos...
Hadson Santiago Farias é cruzeirense da velha guarda.