Figueira c 13

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Governador Valadares terá um feriadão com sol entre nuvens. Não chove. www.climatempo.com.br

24o 15o

MÁXIMA

ANO 1 NÚMERO 13

Não Conhecemos Assuntos Proibidos

MÍNIMA

FIM DE SEMANA DE 19 A 22 DE JUNHO DE 2014

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00

VAMOS, BRASIL!

Camarões é a bola da vez

Rafael Ribeiro - CBF

A Seleção Brasileira volta a campo na segunda-feira para mais um jogo difícil e decisivo. O adversário é Camarões, seleção que joga um futebol aguerrido, característico da escola africana. O empate com o México na terca-feira colocou o Brasil na obrigação de vencer Camarões para se classificar para as oitavas. Página 12

Giovani dos Santos, do México, deu muito trabalho à defesa do Brasil, que se manteve segura sob o comando de Thiago Silva. Ramires, que entrou no lugar de Hulk, deve voltar ao banco. Seleção precisa partir pra cima de Camarões Fábio Moura

RECADO CAPITAL

A VOZ DAS RUAS

Manifestante tenta conversar com policiais na Praça Sete, centro de BH

Protestos na Copa

O mundo em BH

Enquanto a bola rola no Mineirão e a torcida faz festa, as ruas de Belo Horizonte continuam sendo palco de manifestações. É a voz da ruas, reivindicando uma série de benefícios sociais. O repórter deste Figueira, Fábio Moura, continua em BH acompanhando tudo.

De Belo Horizonte, o jornalista Bob Villela conta que a cidade “está coalhada de colombianos, com pitadas de holandeses, australianos, chilenos, enfim, um mundo a desfrutar um Brasil além do Rio - e além do mar”.

Páginas 6 e 7

Página 7

LEIA MAIS Gabriel Sobrinho

Arquivo Pessoal

PARLATÓRIO

A mudança do estádio do Democrata é positiva para a cidade? O debate está lançado. O vereador Luciano de Oliveira e Silva não vê necessidade de mudança e diz que não está certo sobre a destinação do dinheiro gerado pela permuta dos terrenos da área central pela a área na qual se pretende construir o novo estádio. “O dinheiro arrecadado será para construir o novo estádio ou para pagar divídas passadas do Democrata?”, indaga. O cartunista João Marcos, muito bem acompanhado por seus “velhos” amigos de infância

João Marcos, o menino que virou desenhista Desde a infância, o sonho do garoto João Marcos Parreira Mendonça era ser desenhista. Seus pais o incentivaram e abriram para ele o caminho de uma carreira que hoje está consolidada nas páginas de livros e histórias em quadrinhos, e como roteirista da “Turma da Mônica”, dos estúdios Maurício de Souza. Página 11

Sinval Borges, vice-presidente da Torcida Organizada Pantera Cor-de-Raça, diz que a mudança é positiva para a cidade e para o Democrata. “Esta é uma forma do Democrata ter renda, ter uma gestão moderna, e não ficar dependendo apenas do presidente Edvaldo Soares, porque sozinho ele não dá conta”, disse. Página 2

CIDADANIA

Carapina dá exemplo de convivência comunitária Crianças e adolescentes do bairro Carapina (foto) se envolvem em projeto cultural com professores da Escola Estadual Carlos Luz e dão um show nas atividades sobre a Copa do Mundo. Página 5


OPINIÃO

Editorial

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Tim Filho

Deu a louca na escalação da Alemanha

Jornalismo do desassossego Este Figueira tem se firmado na defesa de que “tudo o que não pode ser feito à luz do dia atenta contra o interesse geral”. Mas, não se deve confundir esta posição como moralismos udenistas e pruridos lacerdistas. Seria muito retrô. Apenas se concebe, nesta Redação, que o cuidado com a coisa pública é essencial para a credibilidade da democracia. Sociedades com alto grau de confiança progridem mais e alcançam qualidade mais alta de desenvolvimento humano. A falta de confiança das pessoas umas nas outras e nos governantes que elas escolhem resulta em preço muito alto. Muita energia humana e muitos recursos financeiros são retirados da produção e dos investimentos para criar aparatos em que as pessoas se sintam seguras e confiantes. Aqui se faz um Jornalismo do desassossego. Nada da preguiça midiática, repetitiva, que menospreza a capacidade dos leitores. Aqui, você encontra a crítica aos costumes, para constranger o provincianismo e o pensamento estreito. O fato de Valadares não ser uma cidade grande não dá licença à imprensa para apequená-la e para reduzir o horizonte intelectual e de realização de quem escolheu viver aqui. Com o advento da Internet, acabaram-se, de vez, os conceitos de Jornalismo do interior e Jornalismo da capital. Jornalismo de alta qualidade e informações bem apuradas e elaboradas podem ser encontrados em todos os lugares e podem alcançar leitores no mundo todo, que não perguntarão pelo lugar, mas pela confiabilidade. O Figueira tem compromisso com a velha tradição do Jornalismo, pela qual tudo o que se publica deve servir “para confortar os que vivem em aflição e para afligir os que vivem em conforto.”

Na lei ou na marra Retrato de uma época, já se pode encontrar agora o documentário produzido pela TV da Assembleia Legislativa de Minas Gerais sobre o março e o abril de 1964 em Valadares. Basta fazer a busca no youtube pelo nome do documentário “Na lei ou na marra”, de 40 minutos de duração. É para assistir, compartilhar, usar como material de registro histórico da cidade e de seu povo.

O médico Bruno de Almeida, 27 anos, a enfermeira Kátia Santos Dias, 27, o engenheiro Leandro Rios de Faria, 28, foram detidos por vandalismo no Detran da Avenida João Pinheiro, em Belo Horizonte. Quebraram e incendiaram veículo público nas manifestações que antecederam ao jogo Brasil e Croácia. Para a catadora de materiais recicláveis Maria Sueli dos Santos, entrevistada em BH, o vandalismo não é uma questão de educação, mas de criação. Por “criação”, as pessoas que não têm diplomas neste país entendem a educação que vem de casa. Para muitos, o diploma é parte da classificação social que lhes dá licença para estarem acima do bem e do mal, para se imporem ao conjunto da sociedade.

O Figueira tem compromisso com a velha tradição do Jornalismo, pela qual tudo o que se publica deve servir “para confortar os que vivem em aflição e para afligir os que vivem em conforto.”

Quem atravessa a Praça da Liberdade, sempre se depara com o barulho característico das batidas dos cajados das pessoas cegas que querem chegar à Biblioteca Pública. É comum a abordagem desses deficientes visuais, pegando pelo braço quem enxerga e pedindo ajuda para atravessar. Aquela biblioteca, em prédio belíssimo da prancheta do Niemeyer, é um dos espaços dotados de orientação em Braile e instrumentos para facilitação do acesso à leitura, para quem não enxerga. No entanto, foi escolhida pelos manifestantes para a explosão do ódio: vidros quebrados, invasão, livros destruídos. Como conjugar uma manifestação que cobra dos governos mais investimentos em educação e ao mesmo tempo destrói um dos monumentos da Educação na capital? Por que dirigir a raiva a um ambiente tão amigável, aberto, acessível? No mesmo dia 12, a manifestação em São Paulo partiu da área VIP, do camarote do Banco Itaú no Itaquerão, contra a presidenta da República. Acompanhada da filha, Dilma ouviu o coro dos adinheirados, com xingamentos transmitidos para o mundo todo. A revistona Veja da semana comemorou na capa: “vaia à presidente foi um dos grandes momentos da Copa”. No dia seguinte aos xingamentos, Dilma declarou que perdoava quem se portou daquela forma, mas “perdoar não é esquecer ou aceitar. Perdoar é não deixar que entre em seu coração o veneno do ódio.” Esses três atos se alinham no risco que há em qualquer sociedade, conforme define a filósofa Hannah Arendt, de “banalizar o mal”. O mal existe, é feio, tem de ser chamado pelo nome, para que as pessoas façam as suas escolhas de modo livre e não sob tutela.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-83 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3277.9491 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Áurea Nardely de M. Borges MG 02464 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo Diretora Comercial Leila Fernandes

O Democrata precisa pensar no futuro e ter o seu novo estádio SIM

A turma da marra

Parlatório A mudança do estádio do Democrata é positiva para a cidade?

Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Áurea Nardely de Magalhães Borges Edvaldo Soares dos Santos Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Sinval Borges

O Democrata é um dos principais clubes do futebol brasileiro e patrimônio de Governador Valadares, desde os tempos do distrito de Figueira, que pertencia ao município de Peçanha. Possui uma torcida numerosa e apaixonada, a maior do interior de Minas. Seu passado é de glórias, conquistou títulos importantes, como a Taça Minas Gerais de 1981, o vice-campeonato Mineiro de 1991, o Campeonato Mineiro de Juniores de 2003 e o Campeonato Mineiro do Módulo II, em 2005. Já participou dos campeonatos brasileiros da Série B (1994) e Série C (2008). Disputou por três vezes a Copa do Brasil: 1992, 1995 e 2008. Eu faço esta apresentação do nosso Democrata e pergunto: isso basta? O Democrata pode viver do passado? Sem dúvida nenhuma, não. O que passou foi importante, são glórias que ficarão para sempre no coração dos democratenses, valadarenses acima de tudo. Mas o Democrata precisa ter presente e planejar o seu futuro, precisa de gestão moderna, sustentável, sem a figura do “paitrocinador”, como é o nosso presidente Edvaldo Soares. Sozinho, o nosso presidente não é capaz de manter o Democrata. A luta dele é muito grande. Ele sabe disso e quer que o Democrata tenha condições de se sustentar, sem a figura de um homem só. Para ser um clube forte, o Democrata precisa de um estádio, um centro de treinamentos, implantar as categorias de base, formar jogadores aproveitando os talentos de nossa cidade e região. E como é possível fazer isso? A resposta é simples: fazendo a permuta do

terreno onde hoje se localiza o glorioso Mamudão por uma área na qual seja possível erguer um estádio moderno, à altura da nossa torcida e de acordo com as normas de segurança e conforto que são exigidas atualmente. Além disso, não podemos atrapalhar a vida da vizinhança do Mamudão, que em dia de jogos, se vê privada de acesso à suas casas, quando a Rua Osvaldo Cruz é fechada. Tudo isso é muito claro, mas por desinformação de algumas pessoas, e má fé de outras, é importante destacar: a nossa intenção de permutar o terreno do atual estádio tem sido propagada nas conversas de rua e nas redes sociais da internet, como algo negativo, de quem quer levar vantagem pessoal. Para mim é positiva e eu digo sim, quero um novo estádio, como foi noticiado aqui no jornal Figueira.

Mas o Democrata precisa ter presente e planejar o seu futuro, precisa de gestão moderna, sustentável, sem a figura do “paitrocinador”, como é o nosso presidente Edvaldo Soares. Sozinho, o nosso presidente não é capaz de manter o Democrata. A luta dele é muito grande.

Sinval Narciso Borges Filho é comerciário, vice-presidente da Torcida Organizada Pantera Cor de Raça

O dinheiro será para construir outro estádio ou pagar dívidas antigas do Democrata? NÃO

Luciano de Oliveira e Silva

Eu acho que o Democrata não deve vender o seu terreno, pois considero ali um ótimo lugar para o campo de futebol. A alegação de estar no centro da cidade não é justificativa para a mudança, pois existem estádios em áreas muito mais densas em outras cidades, como o Independência, em Belo Horizonte, Morumbi, em São Paulo, Maracanã, no Rio de Janeiro. O Centro de Treinamentos não tem a necessidade de ser em frente ao estádio. Nas ruas Sete de Setembro, Francisco Sales e Afonso Pena e em grande parte da Osvaldo Cruz podem ser construídas mais arquibancadas, com lojas voltadas para as ruas. Na Rua Afonso Pena podem ser construídos vários edifícios, que junto com as lojas trariam renda para o Democrata. Se não tiver recurso para construir, devem existir muitos parceiros que fariam um empreendimento. Não acho que deve vender. No entanto, se as partes interessadas: Democrata, governo municipal (Executivo e Legislativo), Ministério Público e população de GV acharem que o terreno deve ser alienado, será necessário tomar todo o cuidado que um negócio desse porte merece. Serão necessárias várias avaliações com preço mínimo, leilão, para ver quem paga mais, projeto básico, projeto executivo, localização, distância do centro, tempo de entrega da obra, qualidade da obra, definição de quem fiscalizará. O outro terreno deve ficar alienado ao município. O dinheiro arrecadado será para construir outro está-

dio ou pagar dívidas antigas do Democrata? Quem emprestou dinheiro ao Democrata sabia que o terreno tem inúmeras dificuldades para alienação é não é passível de execução? Bens públicos são indisponíveis. Podem executar a renda do Democrata, mas não o imóvel. É um patrimônio muito valioso, o melhor imóvel da cidade. Vale 10 vezes o terreno que a União Ruralista Rio Doce vendeu há pouco tempo. Tem que haver cautela, zelo, negociação. Na dúvida, o melhor é não vender. Como tenho dúvidas, votarei contra. Será que conseguirão tirar as minhas dúvidas? E não é opinião política: mesmo no governo Mourão, recorri ao MP por causa desta alienação.

O dinheiro arrecadado será para construir outro estádio ou pagar dívidas antigas do Democrata? Quem emprestou dinheiro ao Democrata sabia que o terreno tem inúmeras dificuldades para alienação é não é passível de execução? Bens públicos são indisponíveis. Podem executar a renda do Democrata, mas não o imóvel.

Luciano de Oliveira e Silva é médico e vereador (PSDB).


CIDADANIA & POLÍTICA Novo acordo na Univale

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Da Redação

Sacudindo a

O acordo envolve R$ 14,5 milhões e beneficia 167 professores da Univale, ativos e inativos. Foi celebrado entre a FPF, mantenedora da universidade, e o Sinpro – Sindicato dos Professores, na semana passada, em audiência presidida pelo desembargador José Murilo de Morais, do TRT, em Belo Horizonte. Em 2008, a mantenedora já havia firmado uma conciliação e a descumpriu mais tarde, alegando dificuldades financeiras. A dívida com os professores decorre de diferenças salariais por reajustes previstos em convenções coletivas não atendidas. O processo corre desde 1997.

Figueira

FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Senso de humor

Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse a você.

A figueira precipita na flor o próprio fruto

Frase de Apparício Torelly “O Barão de Itararé”

Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

APAC Masculina Em maio, a Câmara de Vereadores aprovou lei autorizativa para o Executivo permutar terrenos, com vistas à implantação da unidade masculina da APAC em Valadares. A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados já atua na cidade, com uma unidade feminina, a indicar novos rumos na execução penal. Edgard Goulart, Luiz Alves e Abigail Correia têm desafio dobrado, agora, de manter o bom trabalho que já fazem e viabilizar a construção da nova unidade.

Mais candidatos a deputado estadual O PROS firmou o nome do vereador Adauto do Santa Rita como candidato a deputado estadual. O PDT já havia oficializado a candidatura do vereador Paulinho Costa. No final da semana passada, o PT estadual definiu que além da candidatura apontada pelo PT de Valadares, do vereador Geovanne Honório, o Médio Rio Doce contará com mais duas candidaturas: do Carlinhos Detetive, de Galiléia, e do advogado e ativista das questões de direito fundiário, Gilson de Souza. Gilson dirigiu o INCRA em todo o Estado de Minas, foi chefe de gabinete da prefeita Elisa Costa, coordenador regional da Defesa Civil e procurador fiscal adjunto.

Continuidade na UFJF O médico Julio Chebli é o reitor eleito e o advogado Marcos Chein o novo vice-reitor, na UFJF. Formaram a chapa apoiada pelo atual reitor Henrique Duque, responsável pela implantação do campus de Valadares. Com 64% dos votos, foram vitoriosos em primeiro turno.

Sua cidade vai virar um inferno As eleições da UFJF ocorreram em clima beligerante. O campo de guerra já estava armado no início do ano letivo, quando no Teatro Atiaia um grupo enfurecido de estudantes e pessoal administrativo gritava em coro para a prefeita, presente ali a convite: “a sua cidade vai virar um inferno”. O único grupo em que a oposição venceu as eleições no campus de Valadares foi o do pessoal administrativo em greve, que compareceu para votar. Com gritos e fúria, mas sem votos, não prevaleceram.

Todos os prazeres Nada contra os prazeres, mas o carro é de placa branca: Minas Gerais OPQ 9609. No dia 6 de junho, às 13h55, escapava das obrigações da burocracia do Estado em Valadares e dava entrada no motel Paris, porque ninguém é de ferro. A Ouvidoria do Estado teve o registro da denúncia, mas sequer deu resposta. Deve ser o tal choque de gestão.

A APAE reluta em deixar a segregação Durante os quase 50 anos de governo do Imperador Pedro 2º, em vez de o Brasil fazer o caminho que o Japão, os Estados Unidos e outras nações faziam, de universalização da educação de crianças, preferiu construir o elitista Colégio Pedro 2º, o Instituto de Cegos na Urca e o Instituto de Surdos em Laranjeiras. Educação para poucos, na contramão do mundo. Esse erro só começou a ser corrigido quando Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação em 1930. No longo período do mineiro Gustavo Capanema frente ao ministério, de 34 a 45, Vargas o desafiou a ampliar ao máximo a rede de escolas públicas. A universalização, iniciada com Vargas, só foi alcançada com FHC, sob a batuta do ministro Paulo Renato, com inclusão de mais de 98% das crianças ao sistema escolar. No caso das crianças especiais, a Constituição Federal de 88 assegurou no seu artigo 208: “garantia de atendimento educacional especializado para portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. A partir daí, tem sido impressionante o avanço da inclusão de crianças com deficiência na rede regular de educação, principalmente nas escolas públicas. Em 2001, 40% dos mais de 5.500 municípios brasileiros não contavam com serviço público de educação especial. Em 2006, esse número havia caído para 10% e hoje praticamente inexiste município que não promova educação especial. Em 98, 337 mil crianças especiais estavam matriculadas na rede regular de ensino. Em 2012 esse número já havia chegado a 820 mil. Mesmo na rede particular as classes separadas foram extintas e as crianças especiais foram incluídas nas turmas regulares. Os números são incontestes de como o país está no caminho certo, da inclusão. Muito antes da Constituição de 88, desde 1954, as APAEs prestam serviço inestimável no atendimento a crianças e adolescentes com deficiência. Segundo a Federação Nacional das APAEs existem 2.140 unidades em funcionamento em todo o Brasil, com 240 mil atendidos. As APAEs poderiam assumir a sua folha de contribuição à

SEÇÃO

Pó de Mico Rent a crowd

É isso mesmo. Nos Estados Unidos, a expressão define quando um grupo político ou social tem de pagar para juntar uma multidão por alguma causa ou contra. A Convenção do PSDB em São Paulo, que consagrou Aécio, ainda sem vice, candidato a presidente da República teve menos de 500 votantes, mas juntou quase cinco mil pessoas, a 25 reais por cabeça. Nesse realismo de alugar uma multidão, o que mais surpreende é o preço.

Corpo mole no lixo seco

A turma da coleta de lixo seco leva umas sacolas e deixa outras a cada rua no Grã-Duquesa. Quando os moços são perguntados da razão de terem deixado lixo para trás, exigem um agrado. Há estabelecimentos comerciais em que o agrado é litrão de refrigerante e lanche. Podem estar sabotando a coleta que o governo divulga. Podem apenas achar que são espertos. É bom que a chefia confira. São moços. Podem aprender o que é certo ainda.

história da educação no país e encarar o caminho modernizante da inclusão de crianças especiais nas escolas comuns. Tal inclusão pode ser atestada além dos números, conforme o depoimento de uma professora de escola pública: “posso afirmar que se os alunos com deficiências diversas não conseguem assimilar parte do conteúdo, uma coisa é inegável – a socialização e o sentimento de que eles são parte do todo. Recebem atenção dos colegas e dos profissionais da educação, compartilham o cotidiano da escola e raramente faltam. Não são vistos como coitadinhos.”

Em vez de abraçar a tese da inclusão, as APAEs têm mantido o projeto de segregação. Para isso, têm aceitado se tornar corrente de transmissão dos partidos e políticos mais conservadores, na sua luta por manter milhares de cargos, empregos e milhões de reais de verbas públicas destinados às suas unidades.

Em vez de abraçar a tese da inclusão, as APAEs têm mantido o projeto de segregação. Para isso, têm aceitado se tornar corrente de transmissão dos partidos e políticos mais conservadores, na sua luta por manter milhares de cargos, empregos e milhões de reais de verbas públicas destinados às suas unidades. Nisso tudo, as crianças são apenas um detalhe. Correm o risco, como o Instituto de Cegos e o Instituto de Surdos, de ficarem desconectadas da realidade e de terem toda a sua história meritória reduzida a asterisco em pé de página.

Mais espertezas

Nem tudo se resolve com refri e lanche. Com motoristas, o preço é mais alto. Um servidor público querido dos colegas, com uma doença crônica, teve de ser levado a Belo Horizonte para tratamento. A informação era de que não havia ambulância disponível. Após intervenção dos colegas, o secretário de Saúde disse ter conseguido liberar uma ambulância. O relato de seus colegas de trabalho é de que um médico seguiu na ambulância, sem que nada fosse dito. A família entendeu que ele aproveitava a carona na ambulância, por ser de Belo Horizonte. Ao chegarem, o médico e o motorista apresentaram a conta: 1.500 reais. Exigiram pagamento ali mesmo. A esposa do paciente não tinha o dinheiro todo. Pagou, constrangida, parte no ato e foi esperada pelo motorista da ambulância no dia seguinte para quitar o restante. O paciente morreu. Para trazer o corpo para o enterro em Valadares, foi colocado à disposição um carro funerário do município. O que aumentou a indignação dos colegas de trabalho foi que ao apresentar-se para o serviço, o motorista, mesmo recebendo diária, não se fez de rogado. Exigiu 200 reais do filho do falecido. Como, no desespero, quase todos pagam, a prática vai se tornando fácil e lucrativa. Como contam que a denúncia formal não será feita e se for feita contam com a lentidão dos processos administrativos, nesses casos parece que “o crime compensa”. A apuração do ocorrido pelas secretarias de Saúde e de Serviços Urbanos poderia mostrar o contrário aos infratores.


GERAL 4

Naquele ano, segundo levantamento feito pelo Serviço, 960 prédios entre os 3.000 construídos, não possuíam instalação sanitária. No relatório, fica explícito que “as necessidades fisiológicas são satisfeitas nas imediações das habitações muitas vezes próximo ao poço que fornece toda água usada na casa. Daí, provavelmente, a origem dos casos de febre tifóide que surgem. No mês de setembro deste ano foram confirmados 8 casos completando assim 42 em todo o ano de 1947

FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Memória

O SESP no Médio Rio Doce - o caso de Governador Valadares, um território endêmico Parte (II) Maria Terezinha Bretas Vilarino e Patrícia Falco Genovez/Pesquisadoras Os primeiros inquéritos sanitários realizados na área delimitada, em 1943, indicavam a existência de uma série de doenças (sífilis, tifo, úlcera tropical, ancilostomíase, bouba, malária e doenças nutricionais); a malária seria a que mais debilitava os trabalhadores, por isso mereceu atenção especial do Programa com distribuição de atebrina (droga química usada na prevenção dos sintomas da malária) em larga escala; a vacinação de todos os trabalhadores contra a varíola e a febre tifóide e a assistência médica emergencial foram realizadas pelo SESP. Os agentes do SESP, quando chegam à cidade de Governador Valadares, em 1942 encontram um quadro adverso: ausência de saneamento, incidência de endemias e um grave surto de malária agravada pela existência, na área urbana e adjacências, de inúmeras pequenas “coleções de água” (lagoas) e centenas de buracos e enormes áreas pantanosas. A cidade não possuía calçamento e a poeira ou lama eram transtornos constantes. Juntamente com a drenagem ou esgotamento de lagoas e outras “coleções de água” agentes do SESP conduziram um amplo trabalho de eliminação de focos na área urbana e rural do município com a finalidade de combater-se o “darling” (vetor da malária). Um projeto para instalação do sistema de fornecimento de água potável desenvolveu-se entre os anos 1944-1946. Até então, a água utilizada pelos moradores da cidade era inadequada para o consumo, pois era retirada diretamente do rio Doce, reservada de modo inconveniente em cartolas (tambor) e outros vasilhames, e não havia maiores preocupações por parte dos moradores em dar-lhe tratamento para uso doméstico, como filtragem ou fervura. Segundo o relatório do projeto esta situação era largamente responsável por um quadro grave de doenças, especialmente disenterias variadas inclusive com muitos óbitos. A instalação do serviço de

Acampamento de trabalhadores da CVRD, podendo-se observar ‘casas’ de sapê e outras com telhas; também se vê, em primeiro plano, uma fossa sanitária.

abastecimento de água abriu caminho para outro projeto complementar: o serviço de captação e escoamento de esgotos doméstico e em instalações comerciais e públicas, iniciado em agosto de 1943 com término previsto para final de 1944. O relatório referente à conclusão deste projeto é minucioso quanto ao convênio que lhe dá suporte, cita os responsáveis pelo mesmo, e enumera benefícios para a cidade através da sua execução. Também traz uma estimativa do número de moradores a serem atendidos pela obra: imediatamente, 4.000 beneficiados e a previsão de 12.000 beneficiados vindouros. A proposta do projeto era bastante ousada se ponderarmos que a população da cidade, em 1943, segundo relatório do Serviço, era de 7.000 habitantes estimando-se 12.000 em 20 anos/1963. Entretanto em 1950 a população saltou para 20.357. A aprovação do projeto pela população é atestada, segundo o documento, pela construção espontânea de mais de 300 conexões à rede de esgotos até 30 de junho de 1945. Em dezembro de 1947, foi assinado um Projeto para construção de privadas sanitárias na cidade, complementar àquele da instalação do serviço de escoamento de esgotos, que em áreas suburbanas, seria dispendioso e estruturalmente inviável. Estas áreas, que ficavam nos arredores da cidade, eram habitadas por operários das serrarias e serviços de mineração, sem condições econômicas de colocarem instalações sanitárias em suas casas. Naquele ano, segundo levantamento feito pelo Serviço, 960 prédios entre os 3.000 construídos, não possuíam instalação sanitária. No relatório, fica explícito que “as necessidades fisiológicas são satisfeitas nas imediações das habitações muitas vezes próximo ao poço que fornece toda água usada na casa. Daí, provavelmente, a origem dos casos de febre tifóide que surgem. No mês de setembro deste ano foram confirmados 8 casos completando assim 42 em todo o ano de 1947”. Até mesmo nas escolas da cidade a situação era precária: a que melhor se apresentava era o “Grupo Escolar” (atual Nélson de Sena) com 694 alunos e 13 latrinas (fossa sanitária seca), numa proporção de uma latrina para 54 alunos. A Escola Padre Anchieta com 154 alunos possuía duas latrinas e a Escola Bela Vista com 41 alunos não tinha nenhuma. O projeto se justificava pela urgência destas instalações. A proposta tinha como objetivos principais: prover com latrinas 500 casas localizadas em áreas sem rede de esgotos, fornecer 250 lajes para moradores com condições de instalar latrinas por conta própria, fazer mais 500 latrinas em cooperação com os proprietários dividindo os custos entre estes e o SESP. A execução deste projeto demandaria sete meses, a partir de 1º de dezembro de 1947, concluindo-se em 31 de junho de 1948. Além destes quatro projetos aqui resumidamente apresentados o SESP desenvolveu outros na cidade, com esta mesma orientação sanitária, mas também ampliando suas atividades para assistência médica e dentária, além de campanhas relacionadas com questões específicas da saúde pública.

Patrícia Falco Genovez é professora do Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT e Pesquisadora do Observatório Interdisciplinar do Território – OBIT/Univale. Maria Terezinha Bretas Vilarino é professora do curso de História/Univale, doutoranda PPGHIS/UFMG.

Notícias do Poder

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José Marcelo / De Brasília

Pá de cal A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) apostava todas as fichas na Copa do Mundo para convencer deputados, senadores e o governo federal a flexibilizar de vez o horário de transmissão da Voz do Brasil. Como vários jogos acontecem justamente às 19 horas, quando o programa vai ao ar, desde que foi criado, a Abert esperava conseguir aprovar em caráter definitivo o fim da obrigatoriedade de todas as emissoras entrarem em rede, às 19 horas. Não foi desta vez. A flexibilização que começou no dia 12 só vai até o fim da Copa. FAZ DE CONTA O Congresso até instalou uma comissão para analisar a MP 648/2014, mas depois entrou em recesso branco. A rigor, nada vai acontecer porque a MP editada pela presidente ainda estará dentro do prazo de validade em meados de junho, quando acabam os jogos da Fifa. A esperança do setor de radiodifusão é que a flexibilização temporária abra uma janela de discussão para atender a um desejo antigo dos donos de emissoras. A Abert defende que as rádios tenham a liberdade permanente de levar o programa ao ar entre 19 e 22 horas, de segunda a sexta-feira. O PORQUÊ DO NÃO A campanha pela flexibilização é antiga e A Voz do Brasil está no ar há mais de 70 anos. Mas o que o governo teme é que os radiodifusores simplesmente deixem de levar o programa ao ar, caso a regra seja mudada. É que seria impossível fiscalizar todas as emissoras de rádio espalhadas pelo país, caso cada uma passasse a levar A Voz ao ar em diferentes momentos. A Abert jura que a flexibilização aumentaria a audiência do programa.

Controle da mídia Entrou oficialmente no programa de governo do PT a meta de controle social da mídia, num segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O assunto é polêmico porque há risco de esse controle ser confundido com censura prévia, o que o PT nega. O secretáriogeral do partido, Geraldo Magela (DF) garantiu que tudo que está no programa foi feito com conhecimento da presidente e que o que o governo defende é o direito à informação. De qualquer maneira, a luz amarela está acesa.

Mais Lula

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Depois da luz amarela da queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas das intenções de votos, os marqueteiros da campanha petista resolveram antecipar a entrada do ex-presidente Lula na campanha. E uma das formas de mostrar que, apesar do desgaste, o atual governo tem um projeto para o país é que Lula deve começar a dizer mais claramente que estará mais próximo das decisões administrativas e políticas num segundo mandato de Dilma Rousseff.

Advogados públicos

Lei da anistia Outro assunto polêmico que entrou no programa foi a mudança da lei da anistia, para permitir que autoridades (militares, principalmente) possam ser punidas pelos crimes de tortura contra militantes, durante os anos de chumbo. A atual lei isenta todo mundo e por isso o Brasil sempre foi alvo de críticas internacionais. Há quem chame de revanchismo, porque os que estão no comando do país são justamente os que lutaram contra o regime. Muitos, torturados. Entre eles, Dilma Rousseff.

Caricatura do expresidente Lula, feita por Willian

Apenas 100 prefeituras de todo o país têm advogados públicos, profissionais concursados que têm a missão de orientar o Executivo na formulação de leis e projetos. Isso significa que a maioria dos prefeitos ou contrata escritórios de advocacia ou faz tudo segundo a própria intuição, o que segundo a União dos Advogados Públicos do Brasil abre brecha para irregularidades, ações na Justiça e insegurança jurídica.

José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.


METROPOLITANO

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Copa motiva interação entre Escola e Comunidade no Carapina Moradores do bairro Carapina dão exemplo de boa convivência comunitária e fazem belos trabalhos sobre a Copa do Mundo no Brasil Gabriel Sobrinho

Gabriel Sobrinho / Repórter

As famílias do Carapina enfeitaram as ruas e vielas do bairro. O clima de animação saltou das casas, ruas e calçadas e chegou à escola. As professoras da Escola Estadual Carlos Luz, lá no alto do morro, desenvolveram um projeto com os alunos do turno matutino. Não se limitaram a passar um recorte histórico da competição. Foi possível trabalhar noções de respeito, patriotismo, união e coleguismo. Na sala da turma do 6° ano, as carteiras deram lugar a um mini cinema. Nas paredes e até no teto, toda a simbologia do evento está aplicada, tudo sobre o universo do futebol está bem compreensível para os alunos. Empenhada no projeto, a jornalista e também professora na escola, Shirley Krenak, afirma que o trabalho não é apenas sobre a Copa do Mundo. É possível tratar de diversos valores da vida por meio do esporte. “Quando recebemos o direcionamento acadêmico do ano letivo, vimos que estavam em pauta projetos sobre o evento da FIFA. Na minha cabeça veio um monte de coisas, queria de alguma forma contribuir com algo que nunca foi feito na escola. Estava convicta que é possível falar de um assunto de que todos gostam de uma maneira nova, que provocasse interação de todas as turmas da escola. Fizemos apresentações de dança, recital, teatro, entre outras atividades”. Shirley lembra que o bairro tem muitas carências: “As crianças têm um contato muito próximo com as situações de risco. Esse trabalho permite a eles arejarem um pouco o convívio, relacionarem-se melhor com os outros colegas fora da escola.” 90% dos estudantes da Escola Estadual Carlos Luz residem no próprio bairro. “A base da formação de caráter dessas crianças e adolescentes começa aqui dentro. Procuramos desenvolver sempre

Crianças e adolescentes do Carapina durante atividade cultural na Escola Estadual Carlos Luz, apresentando trabalho sobre a Copa do Mundo

trabalhos que unam a escola com a comunidade.”, completa a diretora Nádia Ramos de Oliveira. Com a música tema da Copa do Mundo na ponta da língua, Eduardo Germano, 11 anos, garante que já levou para casa toda a agitação e garante que aprendeu muito sobre os países participantes da competição: “Na aula de geografia a gente aprende muita coisa, mas depois acaba esquecendo. Quando começamos a falar das seleções que vieram para o Brasil, para os jogos da Copa, comecei a me interessar mais. Hoje, chego em casa e conto tudo que aprendi

Copa do Mundo ao passar por aqui. Sentada em uma cadeira de palha, na calçada da porta de casa, a aposentada Maria de Lourdes Oliveira, 73 anos, observa o colorido da rua. De Carapina em ritmo de Copa quatro em quatro anos, ela lembra que é sempre Lá de baixo, ainda na Avenida Minas Ge- a mesma festa entre os vizinhos. “O povo aqui é rais, é possível ver o colorido. Subir lentamen- muito animado. Não troco minha vizinhança por te pela Rua Caratinga é quase uma obrigação. nenhuma nesta cidade. São todos animados. Este Tudo para admirar as pinturas temáticas nas ano, muitos estavam desanimados, mais foi um coparedes, calçadas e em toda extensão da rua. meçar a enfeitar que o outros foram atrás. Quando As bandeirolas verdes e amarelas enfeitam o é dia de jogo do Brasil todos vamos para o barzinho céu de quem passar por debaixo delas. É pra- que tem ali na esquina. O dono abre a garagem e ticamente impossível não entrar em ritmo de coloca a televisão lá dentro. É uma festa só.”

aqui. Até pedi para a minha mãe enfeitar a casa com bandeiras e bandeirolas.

Ainda há marcas das chuvas de dezembro

Gabriel Sobrinho

Gabriel Sobrinho / Repórter

Para a Prefeitura, a empresas contratadas emergencialmente para recuperar as áreas atingidas pelas inundações de dezembro, trabalham em ritmo acelerado. De fato, reconstroem os trechos dos canais das avenidas Lisboa, Veneza e Tancredo Neves, que haviam cedido à força das águas. As obras do canal da Avenida Lisboa já terminaram, assim como o desassoreamento. As margens do canal da Lisboa receberão a capina e o plantio de grama, além de ter partes cimentadas. No canal da Avenida Veneza, 80% da obra já estão concluídos, faltando apenas recuperar a pavimentação em frente ao Tiro de Guerra. No momento, a Secretaria de Obras (SMO) realiza a reconstrução das placas que caíram e a recuperação da parte erodida do canal. Na Avenida Tancredo Neves, faltam apenas 5% para que as obras de recuperação do canal sejam finalizadas. No Altinópolis, o canal passará por desassoreamento. Apesar das obras de revitalização, alguns moradores reclamam que há vestígios dos estragos por todos os lados. Na parede da garagem, Adalton dos Santos, 67 anos, aponta até onde foi a água transbordada da Avenida Tancredo Neves, no Santa Efigênia. Ele lembra que naquela garagem havia um fusca, relíquia da família, que foi danificado pelas cheias. Hoje, as máquinas da Prefeitura trabalham na porta de sua casa. A certeza é que a rua será reformada, mas o carro para passar ali ele não tem mais. “O fusca está no mecânico. Sempre dou uma passada lá para ‘namorar’ o carro, não sei quando vou ter condições de colocar ele para funcionar de novo, o problema foi no motor, fica muito caro mandar arrumar. Mas estou feliz, pois a minha rua está sendo arrumada, vai ficar melhor do que antes. Mas é assim mesmo, há danos que ficam por nossa conta”. Ali perto, a dona de casa Ana Luiza Socorro, 71 anos, não questiona a demora na pavimentação da rua danificada pela chuva. O grande problema para ela é a infestação de mosquitos que gera muito incômodo para os moradores da região. “Até que na minha casa eu não sofri nenhum dano material com aquele transbordamento, apenas fiquei ilhada por alguns dias. O que vem tirando o nosso sono é quantidade de mosquitos. Morar na beira de canal já não é fácil, mas antes estava controlável. Depois das cheias vieram as obras inacabadas, com isso muito carroceiro e até mesmo os moradores jogam lixo na beira do canal. É preciso ter conscientização, ainda mais por causa do risco de infestação de mosquito da Dengue.” Hoje, o canal não é mais a dor de cabeça dos moradores da Av. Lisboa. As máquinas trabalham a todo vapor para terminarem a limpeza do local. A esperança agora é que as margens sejam limpas, pois animais peçonhentos têm invadido a residência de alguns moradores. “Sempre quando chego aqui na mecânica me deparo com ratos, camundongos. Não posso reclamar do jeito que está agora, antes estava pior. Mas não adianta limpar só lá dentro do canal, tem que limpar as margens também”, completa o mecânico João Luiz, 48 anos.

Trecho do canal do Figueirinha que foi incluído no pacote de obras, finalmente recuperado e rua com trânsito restabelecido Gabriel Sobrinho

As obras também foram realizadas na avenida Lisboa, com recuperação de paredes laterais e limpeza do canal


HISTÓRIA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Fábio Moura

Depois de passar pela Prefeitura Municipal, os três mil manifestantes chegaram à Praça da Liberdade e foram surpreendidos pelo Batalhão de Choque. Fogo, porrada e bombas dispersaram o ato. O pau comeu em BH

O cerco está montado Há duas Belo Horizontes para se acompanhar ao longo da Copa do Mundo. A primeira envolve turistas, pontos de visitação, locais de festas, o Mineirão e seus arredores e todo um aparato policial nunca antes visto na capital mineira. A Beagá dos belo-horizontinos de todo o dia segue com os mesmos passos de outrora. A única diferença é que a segurança pública em seus bairros não é a mesma desde que o evento da Fifa chegou por aqui. O aparato policial de mais de 20 mil profissionais tem despendido grande atenção às manifestações e às exigências do evento e deixado de lado os bairros que não fazem parte da região Centro-Sul. A Copa começou. O Brasil entrou duas vezes em campo e Belo Horizonte já recebeu duas partidas do Mundial. Com ela, chegaram as tão aguardadas manifestações. Por três dias, a capital viu de perto conflitos e transgressões da lei em vários pontos da cidade. Fábio Moura / Repórter / Enviado especial a Belo Horizonte

Logo no amanhecer do último sábado, 14, lenta e ceticamente já se observava um clima de apreensão na cidade. Quem desembarcou na Estação Central do Metrô de Belo Horizonte passou pela abordagem policial para busca pessoal ao subir as escadas e avistar a Praça da Estação; e, se prosseguiu em direção à Praça Sete, pela Av. Amazonas, levou mais três ou quatro baculejos.

O terceiro dia de ato das manifestações também mostrou duas Savassis. A primeira é a de um centro comercial extremamente movimentado em função da presença de turistas nacionais e internacionais, além do Festival Savassi Cultural, que fecha parte da Praça da Savassi para um evento particular. Era dia de jogo do Brasil contra o México e, também, da segunda partida realizada na capital: Bélgica x Argélia. A outra Savassi era composta por 500 manifestantes que foram encurralados pela Polícia Militar e não puderam seguir adiante. Não houve conflito ou iminência dele. A atitude militar foi espontânea. Nada de novo. O “Caldeirão de Hamburgo” – aquele cerco feito pelos policiais da Alemanha em 1986, onde 800 manifestantes tiveram a sua livre circulação cerceada por 13h – já havia sido usado três dias antes, na Praça Sete. Logo no amanhecer do último sábado, 14, lenta e ceticamente já se observava um clima de apreensão na cidade. Quem desembarcou na Estação Central do Metrô de Belo Horizonte passou pela abordagem policial para busca pessoal ao subir as escadas e avistar a Praça da Estação; e, se prosseguiu em direção à Praça Sete, pela Av. Amazonas, levou mais três ou quatro baculejos. Mão na parede, mochila revirada e um quarteirão cheio de pessoas respondendo aos mesmos questionamentos das últimas quatro vezes. Alguns policiais reuniam os documentos de identificação pessoal, fotografavam, consultavam e arquivavam suas cópias. Enfim, chega-se ao obelisco erguido em meio à Praça Sete e à Av. Afonso Pena com o fluxo interrompido, naquela altura. A hora do almoço se aproximava e parte do comércio baixava as portas. Alguns gritos de ordem eram puxados em meio ao bolo de pessoas, acompanhados por uma percussão. A Assembleia Popular Horizontal do dia anterior – que contou com o Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa, a Assembleia Popular Horizontal, as Brigadas Populares, o Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas, o Tarifa Zero, além de alguns sindicatos - havia decidido caminhar sentido à Praça da Savassi, na região Centro-Sul da capital mineira. Outra opção, caso houvesse a possibilidade de conflitos, era marchar rumo à Praça da Estação. Na verdade, nenhum daqueles manifestantes escolheria por onde caminhar e protestar. Meio dia. Falta uma hora para o primeiro jogo da Copa do Mundo na cidade: Colômbia x Grécia. A Praça Sete já reúne seu maior número de manifestantes até o momento. Aqui, as coisas começam a mudar. Policiais Militares descem de alguns ônibus e viram as esquinas das ruas transversais. Tudo num movimento milimétrico e calmamente arquitetado. Forças especiais que iam da Tropa de Choque ao Grupo de Ações Táticas Militares, Bombeiros Militares, Força Nacional, Guarda Municipal, cavalaria, cães, armas de choque, balas de borracha, bombas de efeito moral, caveirão e mais um enorme aparato de armamentos. Um a um, todos os funcionários da segurança pública foram se posicionando na entrada de cada uma das ruas que davam acesso à Praça Sete. O cerco estava se fechando num “envelopamento”, como descreveu o Tenente-Coronel da Polícia Militar, Alberto Luiz,

em entrevista a uma emissora de televisão local. As avenidas Amazonas e Afonso Pena, além das ruas Carijós e Rio de Janeiro passam a ter restrição no fluxo de pessoas. Ninguém mais entra na Praça. A justificativa? “Haverá uma intervenção policial em instantes”, explica um cabo para a mulher que tenta chegar ao ponto de trabalho na Praça. A saída do cerco era permitida. Na dúvida, caso se optasse por ficar no obelisco, os policiais também tinham a resposta: “por sua conta e risco”, alertaram por diversas vezes. Aos poucos, os batuques tornaram-se menos perceptíveis e tomou conta a perplexidade quanto ao que estava ocorrendo ao redor. Algumas pessoas decidiram sair. Outras não podiam mais entrar. Começava ali um jogo estratégico e intimidatório montado pela Polícia. Foram cinco horas de fluxo restrito no cerco até que a assembleia convocada na Praça decidisse caminhar pelo único percurso permitido pela Polícia Militar: descer a Av. Amazonas até a Praça da Estação. As negociações eram feitas por um representante do Ministério Público e por um assessor da Presidência da República. O Tenente-Coronel deixou claro: “quando vocês se aproximaram da Tropa de Choque houve problema, correto? Então, não façam isso”. A fala do Alberto Luiz deixava claro que os manifestantes não poderiam seguir rumo à Savassi, ao Mineirão ou aonde quer que quisessem ir, fora a Praça da Estação. O tal direito de ir e vir seria violado, sem questionamentos ou ressalvas. Os quarteirões que desembocavam na Estação tinham suas calçadas tomadas por uma fila de policiais. Novamente ninguém saía, ninguém entrava. Os jornais da cidade falaram em 1.200 policiais atuando na região central naquele sábado. A olho nu era possível ver bem mais do que isso. Mas, pra quê tudo isso mesmo? Era necessário um motivo para agir com tamanha imposição da força e ele surgiu dois dias antes, na quinta-feira, dia12. O fim de tarde se aproxima. A cidade vive o caos da volta pra casa antes que o Brasil estreie na Copa contra a Croácia. Boa parte do comércio está fechado; a Praça Sete também. Três mil manifestantes se reuniam ali para caminhar até a Praça da Liberdade. Naquele dia, o contingente em contato com a manifestação não era de forças especiais, mas, sim, de Policiais Militares, apenas. Sob o olhar atento de mais de duas centenas deles a caminhada percorreu alguns quarteirões da Afonso Pena, passou pela Prefeitura Municipal e subiu a Av. João Pinheiro rumo à Praça da Liberdade, onde estava o relógio regressivo da Copa do Mundo. As palavras de ordem dos ativistas cessaram ao chegar à Praça e dar de cara com o batalhão de Choque. Alguns tentaram puxar uma reunião ou uma nova assembleia para decidir o que fazer ali e evitar conflitos. Não deu tempo. Pá! O estrondo ensurdecedor veio da explosão de uma bomba de efeito moral atirada por um policial atrás dos escudos do choque. A manifestação, então, volta à avenida e se dispersa por ali. De novo, não deu tempo. Uma, duas, três bombas são arremessadas no meio da multidão que corre desesperada. Os disparos com balas de borracha são incontá-


HISTÓRIA veis. Quem estava lá teve uma arma apontada em sua direção em algum momento – ou o tempo todo. A multidão já estava longe, mas os disparos continuavam. Uma mulher é atingida na perna e se revolta contra os policiais. Volta e fica em frente à tropa perguntando o porquê de tudo aquilo. A resposta veio de outra forma: “um, dois, três, quatro, cinco, CHOQUE!”. Um grupo de 30 policiais em bloco jogou-a no chão, passou sobre ela e parou dois metros adiante. Durante o conflito que perdurou alguns minutos, Sérgio Moraes, fotojornalista da Agência Reuters, tomou uma pedrada na cabeça. A ativista Karinny de Magalhães, repórter da Mídia Ninja, foi detida e, logo depois, agredida, segundo ela. Karinny afirma que recebeu “tapas, chutes, pancadas de cassetetes e até cuspe”. A corregedoria da Polícia Militar não irá averiguar o caso, que ficará a cargo do Ministério Público de Minas Gerais. Já o ator Jhonathan Oliveira levou um tiro de bala de borracha e várias cassetadas de um grupo de seis policiais. “Não teve abordagem, não perguntaram meu nome, não me revistaram”, relata. Enquanto isso, o cabo Renan, um dos militares destacados para a operação, mostra-se inquieto e irritado com o conflito. Mastiga com muita intensidade o seu protetor dentário e aponta várias vezes a arma em direção aos pedestres e repórteres. Logo, parte para cima dos repórteres e atinge uma coronhada no peito de um deles. A multidão de repórteres e de pessoas que esbravejavam ali acompanharam cada segundo com imagens. Um senhor manifestava-se indignado: “Por quê? Por que isso?” O cabo Renan parte para cima do senhor, joga-o no chão e o arrasta por toda a extensão da avenida que separa a calçada e a praça. Vendo o tumulto que o cabo havia criado, o tenente-coronel Alberto Luiz liberou o homem e colocou o seu subordinado numa viatura que saiu às pressas. Lá na linha de frente, dez pessoas tentavam, em vão, revidar as agressões ao arremessar pedras. Acuados, todos os manifestantes desceram a Av. João Pinheiro. E era só por lá mesmo que dava pra descer. O corredor de policiais fechou todas as ruas paralelas à avenida e os encurralou para que retornassem à Praça Sete, na Av. Afonso Pena. Estava só começando a destruição. Dez imóveis comerciais e residenciais, e quatro agências bancárias foram apedrejadas – sendo que uma teve quase todos os vidros quebrados – e alguns muros foram pichados. A manifestação, então, para em frente ao prédio do Detran-MG, onde havia uma viatura da Polícia Civil estacionada. Era o prato cheio para aqueles que desciam indignados. E nem só de black block foi feito esse revide. Na verdade, eles eram a minoria. Curiosamente, ao longo da descida regada a quebradeira, a Polícia Militar viu tudo acontecer sem mover uma arma, sequer. Do meio da Tropa de Choque, o grito: “todos em posição e parados. Ninguém vai descer. Deixa quebrar”. A preocupação despendida com o relógio regressivo da Copa do Mundo não foi a mesma com os imóveis da Av. João Pinheiro e da Av. Afonso Pena. O Cine Belas Artes e a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa também foram depredados. Porém, nenhum desses dois estabelecimentos está no percurso desenhado pelo cerco da Polícia Militar que os manifestantes tiveram de percorrer no caminho de volta; mas, a manifestação também levou a conta dessa arruaça. A atuação mais incisiva da Polícia Militar já era esperada desde a troca no comando da corporação há duas semanas. O tenente-coronel Antônio de Carvalho Pereira se desentendeu com superiores por não concordar com a ação repressiva em caso de manifestações de grupos politicamente engajados. Com isso, aposentou-se e descansou a mão branda que comandaria o período da Copa em BH. No seu lugar atua o popularesco tenente-coronel Alberto Luiz, que trata a todos os repórteres e manifestantes com um tom debochado e irônico – digno de quem sabe que pode repreender da forma que bem entender. 35 pessoas foram presas nos dois primeiros dias de manifestação. Apenas sete permanecem detidas, acusadas de depredação. Todas as outras foram liberadas por falta de provas ou evidências. No sábado, mesmo sem conflitos, a Polícia Militar deteve quinze pessoas. Há motivos dos mais diversos para justificar o enorme número de meliantes: porte de tintas e madeiras, objetos cortantes de menor potencial ofensivo e qualquer outra coisa que pudesse elevar o número de prisões. Algumas delas não aconteceram, sequer, na região do protesto. Há prisões registradas na Praça Raul Soares – a um quilômetro da Praça Sete – e em outros pontos da região central. Entre os dois atos, a imprensa demandou mais repressão, o tenente-coronel respondeu positivamente, e vimos o que vimos no sábado, 14 de junho. Um 14 de junho muito diferente daquele de 2013, quando uma massa de revoltados tomou as ruas depois de assistir às agressões e prisões infundadas da Polícia Militar. Hoje, demanda-se mais repressão e a reprovação aos atos é a opinião da maioria belo-horizontina. Do lado de fora do cerco Tem um bocado de latinos. Dezenas de milhares deles. Pra tudo quanto é lado se ouve falar espanhol. Em qualquer boteco, na rodoviária, no restaurante e perdidos pelas calçadas a pedir informações. Isso, porque há tempos os centro e sul-americanos não têm uma Copa do Mundo tão perto de casa. Fora isso, a região metropolitana de Belo Horizonte é a casa de três seleções da América do Sul: Argentina, Chile e Uruguai. A Argentina será a única a mandar um jogo da primeira fase aqui, no sábado, dia 21. Na terça-feira, dia 24, é a vez da Costa Rica chegar à capital mineira. Agora, quem já passou por aqui e deixou rastros de um bom relacionamento foram os colombianos. O sábado amanheceu colorido, apreensivos estavam os belo-horizontinos. Colorido de amarelo. Do Centro à Pampulha ouviam-se buzinas e gritos de apoio. Ônibus lotados, mais de 400 BRT Move e uma imensidão de táxis levaram nossos vizinhos de fronteira ao Mineirão. Lá, fizeram tão bonito quanto a torcida brasileira. Além de colorir o estádio, cantaram o hino, mesmo depois da execução oficial e mostraram que aqui é a casa de todos os latino-americanos. A Seleção Colombiana retribuiu e cravou três gols sobre o time grego. Na volta, lotaram a Praça da Savassi e continuaram perdidos por aí. Parecem não querer largar a capital mineira. Os argelinos e belgas também coloriram a cidade no início da semana. Agora, quem tá chegando por aí são os argentinos. Na verdade, a torcida do maior rival brasileiro está aqui desde o início da preparação da seleção, na Cidade do Galo. Alguns nem foram ao Rio de Janeiro acompanhar a estreia do time no Maracanã. Preferiram ficar por aqui e recepcionar a seleção junto com a massa azul que já toma as ruas da cidade. A rede hoteleira e o comércio da região Centro-Sul são alguns dos grandes beneficiados pela presença estrangeira na cidade. No alto falante da rodoviária, primeiro o português, depois o espanhol e, por último, o inglês. Tem até periódico diário da cidade trazendo caderno especial na língua dos nossos vizinhos. A Copa chegou a BH. Chegou diferente dos últimos anos. Há poucas ruas pintadas ou bandeirolas esticadas por aí, mas a cidade ainda para na hora do jogo do Brasil. E se tem gol... UAAHHH!!! O grito cresce pela cidade e inunda até mesmo as falas de ordem das manifestações. A Praça da Savassi, a Praça do Papa e o Expominas recebem grandes eventos particulares ligados à Copa do Mundo; e não tem capa de jornal na capital que não fale sobre futebol. Nem tudo que foi prometido foi entregue, há violação dos direitos dos moradores da Pampulha e dos manifestantes ao terem de obedecer as regras do evento da Fifa para circularem na cidade, há crimes e delitos cometidos, inclusive, pelos estrangeiros; mas, há também festa e expectativa de que a Copa traga muito mais do que possa levar daqui.

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Fábio Moura

Recado capital

Bob Villela/ de Belo Horizonte

Todos estão aqui A cidade está colorida e deliciosamente ininteligível. Na sexta-feira que antecedeu a partida entre Colômbia e Grécia, a Savassi estava coalhada de colombianos, com pitadas de holandeses, australianos, chilenos, enfim, um mundo a desfrutar um Brasil além do Rio - e além do mar. É preciso muita má vontade para chamar BH de “roça grande” - alguns ainda cometem tal equívoco. Primeiramente, porque roça não é ruim; e, sobretudo, porque nossos atributos salientam outra grandeza. Belo Horizonte é escancaradamente aprazível e pujante. Apesar dos inúmeros pontos a aprimorar, é acolhedora - peço perdão pelo clichê, mas é a mais pura verdade -; repleta de atrações e de espaços para a cultura e o lazer e sempre pronta para aprender, ensinar e encantar. Não há um período sem que haja novos teatros, mais botecos, shows inéditos, festas e outros esforços para que a vida seja mais gostosa. O último sábado serve como recorte eloquente dessa agitação. Em um único dia, o Mineirão recebeu 57 mil pessoas, as ruas viram a invasão de 40 mil colombianos, o encontro de Milton Nascimento e Criolo - duas gerações da nossa riquíssima música - foi aplaudido no Grande Teatro do Palácio das Artes e Zeca Baleiro - maranhense que já morou em BH - tocou de graça na Praça do Papa, um dos pontos mais exuberantes da capital. Destilar um tom pejorativo e chamar BH de roça é, portanto, ignorar o que há de bom no campo e tudo que aqui se faz e ressoa. É não saber que um dos dois escritórios do Google no Brasil está aqui. É não conhecer a história do Clube da Esquina, movimento que revolucionou a música. É nunca ter nem ouvido falar sobre a magia de grupos que nasceram aqui e são referências mundiais em suas áreas: o Corpo, na dança; o Galpão, nas artes cênicas; e o Giramundo, no teatro de bonecos. Compreender o tamanho de BH exige muito mais que um simples passeio por ruas e praças. Requer um desejo de surpreender-se, buscar sentidos e tentar sair de cada experiência mais afoito, questionador e grato. Isso pode acontecer em Inhotim, essa “roça grande” tão famosa, na região metropolitana, que é o maior centro de arte contemporânea a céu aberto do planeta e que recebe gente de todos os cantos. Pode ser também num jogo de Copa, com tantas etnias em festa, em casa. Outras imagens Para além do belo visual que a Copa apresenta, espero que os turistas e os habitantes da capital reservem um tempo para saborear a exposição Genesis, do fotógrafo Sebastião Salgado, que nasceu no Vale do Rio Doce, em Aimorés. As imagens, que dispensam mil palavras minhas, estão no Palácio das Artes (fcs.mg.gov.br), e exibem ambientes e grupos que se mantiveram inalterados pela vida moderna. Talvez nunca um paradoxo tenha caído tão bem em BH. Bob Villela é publicitário e jornalista. Fábio Moura

Cercados, os manifestantes se reuniram no centro da Praça Sete para decidir o que fazer: seguir em frente ou esperar a reação da PM


GERAL

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Política Pública de Saúde

Direito do Trabalhador

Caixa já pagou R$ 13,1 bilhões de benefícios do PIS em 2014 A Caixa Econômica Federal pagou, até o último dia 13 de junho, R$ 13,1 bilhões em abonos e rendimentos do Programa de Integração Social (PIS), relativos ao exercício 2013/2014, para 27,8 milhões de trabalhadores. Desse total, mais de 18,7 milhões de beneficiários sacaram o abono, o que já representa 94,84% do montante identificado e corresponde ao volume de R$ 12,6 bilhões. Os saques do abono salarial do PIS, neste exercício, já superam em 1,39 milhão a quantidade do exercício anterior. O prazo para retirada dos benefícios se encerra no dia 30 deste mês. De acordo com a superintendente nacional de Benefícios Sociais da CAIXA, Milena Vieira, a efetividade dos pagamentos do PIS mantem-se dentro do esperado para o exercício, mas ainda é possível uma maior procura, com a aproximação do encerramento do prazo. “A CAIXA continua seus esforços para chamar os trabalhadores que ainda não retiraram o benefício. Somente no mês de maio, foram enviadas mais de 1,3 milhão de malas diretas aos trabalhadores identificados. Até o final do mês, esperamos que mais de 140 mil beneficiários compareçam para efetuar o saque”, afirma. O trabalhador que não efetuar a retirada do abono salarial, dentro do prazo, perde o benefício referente a este exercício. Os valores referentes aos abonos salariais não retirados retornam ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Já os rendimentos não sacados do PIS irão para a conta de participação do trabalhador.

trabalhadores já podem iniciar os saques, de acordo com o calendário de pagamento, que é definido com base no mês de nascimento do trabalhador. Quem nasceu no mês de julho, poderá receber o benefício a partir de 15 de julho de 2014, quem nasceu em agosto, pode sacar a partir do dia 22 de julho de 2014, e assim por diante (confira o calendário). Até 31 de outubro de 2014, o saque do PIS estará liberado para todos os beneficiários. O saque do benefício, dentro do novo exercício, poderá ser realizado até 30 de junho de 2015. O que é o Abono/PIS: O Abono Salarial tem a finalidade de promover a integração do trabalhador na vida e no desenvolvimento das empresas, visando melhor distribuição da renda nacional. O valor do abono salarial corresponde a um salário mínimo. Os rendimentos variam conforme o saldo existente na conta PIS vinculada ao trabalhador. Quem tem direito:

Novo calendário:

Ao abono – Trabalhadores cadastrados no PIS até 2009 (cinco anos de cadastramento), que tenham trabalhado, no mínimo, 30 dias, consecutivos ou não, no ano de 2013, com carteira de trabalho assinada por empresa, e que tenham recebido, em média, até dois salários mínimos mensais, cujos dados foram informados corretamente pela empresa ao Ministério do Trabalho e Emprego, na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do ano-base 2013.

Este ano, foi antecipado o calendário de saques do Abono e do PIS, relativos ao exercício 2014/2015. A partir de 15 de julho, os

Confira no site deste Figueira o calendário completo de pagamentos do PIS: www.figueira.jor.br

Ombudsman José Carlos Aragão

Duas portas Semana passada, deixei no ar a questão da internet como alternativa de democratização do acesso à informação, em oposição à chamada “grande mídia”, sempre sob a suspeição de ter o rabo preso com o poder político ou econômico. Coincidentemente, nesse interregno, participei de um debate no qual estavam alguns jornalistas ligados ao movimento(?) “mídia livre”, que nasceu contestando a cobertura das grandes redes de TV e jornais aos protestos de rua que explodiram no país há um ano. Para esses jornalistas – e para boa parcela do público consumidor de informação – jornalismo independente e confiável é somente aquele que se vê nos blogs que infestam o ciberespaço e conseguem chegar ao leitor final sem a ingerência de um editor, de um grupo econômico ou de verbas de patrocinadores que o sustentem. Na realidade, isso não existe – pelo simples fato de que não existe almoço grátis. Muitos blogs têm, no entorno de seu conteúdo editorial, banners de anunciantes diversos e que estão permanentemente visíveis no campo visual do leitor. E o ingênuo internauta não faz a menor ideia de como aquela insuspeita mensagem visual impacta significativamente seu inconsciente e o leva, na primeira oportunidade, a escolher o iogurte da marca A ao da marca B ou a fazer um seguro do seu carro na companhia C, em lugar da companhia D. Se o leitor pode ser manipulado por uma mensagem comercial subliminar na tela de seu computador, por que não o seria, também, ideologicamente? Mas não é só isso. Muitos blogueiros supostamente independentes são ligados a tradicionais veículos de grandes redes de comunicação, que têm links permanentes para tais blogs em seus portais de notícias ou versões digitais de seus jornais. Outros blogs até têm um perfil de maior independência e autonomia. Muitos, porém, apenas publicam pontos de vista bem particulares de seus autores, nem sempre baseados em fontes confiáveis e isentas. Por isso, no fundo,

muitos não passam de apenas grandes propagadores de lorotas ou boatos que, repetidos à exaustão – e com a meteórica velocidade que a internet possibilita – podem causar distorções e danos quase irreparáveis à verdade. Pra terminar, o que a maioria dos internautas, que acreditam na lisura e independência das informações que frequentam o mundo virtual, se esquecem é que, mesmo a “internet grátis” é paga, já que só existe porque é sustentada por seus assinantes e anunciantes. Sabem nada, os inocentes. Assim, por mais que alguém se sinta à vontade pra publicar o que quiser – o que nem sempre seria possível em um jornal ou revista, por exemplo – compete ao leitor fazer uma avaliação pessoal crítica da opinião de quem escreveu ou da veracidade do fato narrado.

Ao anunciar em seu editorial, há duas semanas, que as portas de sua redação e de seu departamento comercial são distintas e não se confundem, o Figueira mostra que pretende estabelecer um novo padrão de conduta no jornalismo local. O leitor estava merecendo.

Então, será que podemos deduzir que não existe mídia “livre”? Ou é possível a convivência autônoma, isenta, independente e harmônica entre a informação e a publicidade que paga a sua difusão? Ao anunciar em seu editorial, há duas semanas, que as portas de sua redação e de seu departamento comercial são distintas e não se confundem, o Figueira mostra que pretende estabelecer um novo padrão de conduta no jornalismo local. O leitor estava merecendo. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

Derli Batista da Silva

Qualidade e eficácia na Atenção à Saúde (I) A Carta Magna de 1988 afirma a saúde como direito, iluminando os demais instrumentos que normatizam a gestão governamental e a atuação de servidores públicos para a efetivação de políticas sociais que visem à redução de agravos, à prevenção de risco de morte e à assistência em todos os níveis, abrangendo desde os postos de saúde até os hospitais. O acesso aos serviços de saúde deve ser para todas as pessoas e em condições iguais de atendimento, inclusive em ações multiprofissionais e interdisciplinares para a promoção, proteção e recuperação da saúde, como determina a Lei Orgânica da Saúde, com prioridade para as ações preventivas. O conceito de atenção à saúde apresentado pelos psicólogos Gustavo Matta e Márcia Morosini afirma que esta “designa a organização estratégica do sistema e das práticas de saúde em resposta às necessidades da população. É expressa em políticas, programas e serviços de saúde consoantes aos princípios e as diretrizes que estruturam o SUS - Sistema Único de Saúde.” Cidadãos e cidadãs têm direito a serviços de qualidade, conforme determina a Lei nº 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 22: “Os órgãos públicos (...) são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos... Nos casos de descumprimento (...) serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados...”. E, em seu artigo 6º, é possível identificar como um dos direitos básicos do consumidor: “... a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”. No entanto, a constatação é de que a ética ainda está distante da prática de muitos profissionais e gestores, lesando a população em muitos serviços a que tem o direito. Isso nos remete à reflexão proposta pela enfermeira Elma Zoboli, mestre em Bioética, e pelo médico Paulo Fortes, mestre em Pediatria, ambos doutores em Saúde Pública: “a concretização do

Direitos Humanos Flávio Froes Oliveira

Construindo catedrais Quando alguém que age por princípios éticos testemunha o sofrimento de outra pessoa costuma experimentar vivo sentimento de solidariedade. Que pode ser expresso de diversas formas, da prosa singela às artes refinadas. Nas grotas incultas dessas Minas ainda se ouve uma forma secular de condolências: “Sinto muito os seus incômodos!”. Mas Brasil afora há fórmulas menos solenes de solidariedade. Há quem empregue, em tais ocasiões, um sonoro – e solidário – “PQP”. Já Pablo Picasso (1881-1973), espanhol de temperamento exuberante, pintou a tela “Guernica”, em solidariedade aos moradores daquela sofrida localidade basca, vítimas na Revolução Espanhola. Se esse alguém referido na primeira linha se der à tarefa de analisar os termos do problema social que se manifesta, de forma concreta, crua e penosa, na pessoa a quem presta solidariedade, logo se verá comprometido com o universo dos que passam por tais adversidades. Querem alguns que este momento mágico e não buscado, análogo à conversão de um Paulo às portas de Damasco, tenha o nome de vocação. Palavra que o Latim legou ao Português com a plena significação de chamado. Querem outros que seja vocação divina: o próprio Senhor da vida determina a alguém sua missão de auxílio fraterno. Foi assim, por certo, com Dona Zulmira Pereira da Silva, figura inesquecível dessa terra, que doou o melhor de si àqueles e àquelas que, trazidos pelas próprias agruras, dela se aproximaram. Esse conceito de vocação ajuda a explicar porque determinadas instituições

SUS, em verdade, configura um processo que requer uma reviravolta ética com a reavaliação das posturas, dos direitos e das obrigações dos técnicos, dos gestores, dos políticos e dos usuários dos serviços de saúde...”. A qualidade e o acesso são percebidos como dois grandes problemas do SUS. Relatos sobre dificuldades para conseguir consultas e exames nos serviços de saúde são bastante comuns; sendo que esta situação tem ocorrido não somente no setor público. Os noticiários registram muitas queixas, também, relativas aos planos de saúde privados, já havendo inclusive penalidades às operadoras de planos, por exemplo, a suspensão de venda de planos de saúde, determinada pela ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar. Na busca da garantia dos direitos da população a serviços de saúde mais eficazes e de qualidade, urge que os Conselhos Municipais de Saúde cumpram os seus papéis com mais autonomia em relação ao Poder Público. Inclusive o de fiscalizar a execução das políticas de saúde focadas nos reais interesses e necessidades da população, criando canais mais rápidos e eficientes de comunicação e de interação com a sociedade. De fato, para garantir a saúde pública e de qualidade a que as pessoas têm direito, há muito se faz necessária uma revolução bioética que provoque a mudança de postura de todos os envolvidos no processo de construção e consolidação do SUS. Como nos ensinou o médico Ernesto Guevara, o Che: “Um verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor”. Então, que haja na prática de profissionais, de conselheiros e de gestores, além do conhecimento técnico/científico, mais comprometimento e amor à saúde e à vida. A sociedade quer muito, mas ainda aguarda governos que efetivem a Saúde como ponto forte de sua administração, demonstrando a sua capacidade de revolucionar nas questões essenciais à vida humana, o seu potencial de provocar condições salubres nas comunidades, a sua arte de gerar mais felicidade para as pessoas e suas famílias.

Derli Batista da Silva é enfermeiro, mestre em Educação Física e professor universitário.

de atendimento social alcançam funcionamento melhor que outras. Sem descartar a competência técnica aplicada no gerenciamento dos seus programas, surgirão, por certo, evidências de que as pessoas neles envolvidas consideram suas tarefas o cumprimento de uma vocação pessoal. Da diretoria a quem limpa os sanitários, em tudo se notará o empenho no puro exercício da vocação. Além da competência técnica dos colaboradores e da pronta disponibilidade dos associados, as instituições de atendimento necessitam contar em seus quadros com pessoas de ampla visão dos problemas ali tratados. A visão paroquial imediatista deverá ser ampliada e aprofundada: há que cuidar dos legumes para as refeições de hoje e das árvores copadas para garantir sombra e frescor nos dias quentes do futuro. Finalmente: o compromisso de vida com a causa ali defendida manterá o entusiasmo no cumprimento das tarefas rotineiras. Isto relembra uma historieta que, contada em versões variadas, circula em salas do Ensino Fundamental, nos grupos de ajuda mútua e nos púlpitos. Numa praça de uma cidadezinha erguia-se uma construção de grande porte. Vendo os operários a transportar as pedras do pavimento, alguém fez a três deles idêntica pergunta: “O que você está fazendo?” O primeiro indagado respondeu desconfiado: “Estou ganhando meu pão.” O segundo, mal-humorado, disse apenas: “Estou carregando pedras.” O terceiro indagado mal esperou o final da pergunta para declamar: “Estou construindo a catedral da minha cidade. Sei que não viverei bastante para vê-la, mas meus filhos, netos e bisnetos estarão aqui e terão orgulho de dizer que eu, pai, avô e bisavô deles, ajudei a construir”. Flávio Fróes Oliveira é teólogo, estudioso na Área de Direitos de Crianças e Adolescentes.


ENTREVISTA Figueira - Como surgiu a ideia da criação do NUDIs? Há uma preocupação de vocês em manter elevada a discussão sobre diversidade, que geralmente é um tema levado ao debate público de forma distorcida? Como isso é trabalhado? NUDI’s - Após a primeira parada do Orgulho Gay de Valadares, em abril de 2010, a população LGBT ganhou maior visibilidade no cenário social, com isso também foram percebidas reações homofóbicas, discriminação, críticas personalistas e um incômodo generalizado. Quem era a favor, queria algo para além da festa e dos estereótipos, os contra apregoavam moral e bons costumes. Dessa inquietação frutificou a primeira e, diga-se de passagem, única até o momento, ‘Conferência Regional de Políticas Públicas e Direitos Humanos LGBT’, em outubro de 2011. Na ocasião, parecia mais um protocolo a ser cumprido do que uma necessidade em se fazer algo de fato. O que ficou claro durante a participação na Conferência Estadual para o grupo de delegados da nossa cidade era: precisamos criar um espaço de discussão sobre o tema. A ideia latejou ainda sem corpo durante mais dois anos e enquanto isso a Parada Gay de GV vinha acontecendo cada vez menos visível e com menor adesão popular. Foi então que reunimos alguns dos envolvidos com o tema para a realização da 1ª Semana da Diversidade e com isso nasceu o NUDIs – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades. Queríamos levar o debate de maneira mais elaborada e humanizada aos mais diversificados espaços. Ocupamos espaços políticos, acadêmicos, culturais e populares. Fizemos um Seminário no 5º andar da Prefeitura com participação de uma representante, transexual, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República – Symmy Larrat; uma roda de conversa na universidade (UFJF/UNIVALE) sobre o Casamento Igualitário e ‘Cura Gay’, com uma das mais conceituadas advogadas da cidade, a doutora em Direito Teodolina Batista e o Psicólogo, doutor em Sexualidade, Carlos Alberto Dias; realizamos também um Cinema Comentado no teatro Atiaia, com o debate aberto pelo professor e jornalista Marcos Mendes, além da Parada da Visibilidade e Shows artísticos. Nossa proposta é a cultura da tolerância às diferenças, a manutenção do respeito mútuo, o incentivo a prática da cidadania, a conquista de direitos e a diminuição da violência. Por isso, a maior preocupação era no pós-semana da diversidade. A real visibilidade é conquistada no dia a dia e precisávamos de um grupo contínuo de pessoas interessadas em ações afirmativas. O núcleo é recente, mas pretende oferecer apoio informativo, emocional, jurídico e social à população LGBT. Pretendemos criar condições para que em nossa cidade tenha uma ONG dos direitos LGBT, um Conselho Municipal, uma coordenadoria, espaços de pesquisas e leis locais para a criminalização do comportamento homofóbico. Hoje o núcleo se reúne quinzenalmente para debates e agendas positivas, mensalmente para o Cinema Comentado, além do espaço também quinzenal neste Figueira. Temos como proposta para o segundo semestre de 2014, além da 2ª semana de debates, um movimento itinerante em que os diversos colaboradores do núcleo irão até as pessoas para ouvi-las e informá-las a respeito do tema e do nosso trabalho. Todos são voluntários da causa, educador@s, advogad@s, polític@s, assistentes sociais, psicólog@s, religiosos, jornalistas, estudantes, pais e mães de família... um grupo diverso, rico em possibilidades de trocas e atividades. Nos reunimos abertamente, acolhendo demandas e novos voluntários. Figueira - Na moral sexual brasileira há registros em todas as regiões do que restou denominado “estupro corretivo”, em que pais e irmãos de mulheres jovens que não demonstravam interesse por homens e casamento as estupravam para que elas “aprendessem a gostar de homem”. Tal procedimento, opressivo, mas resguardado pelo sigilo familiar, foi tolerado socialmente por séculos. Quais os tipos de violência mais comuns contra mulheres que preferem outras mulheres? Da mesma forma, neste ano, a cidade do Rio assistiu a um pai matar o filho de 8 anos por espancamento para que ele “tomasse jeito de homem”. O NUDIs acompanha registros dos Conselhos Tutelares e tem preocupação com a violência homofóbica dirigida a crianças? NUDI’s - Pretendemos com o tempo nos organizar melhor para esses acompanhamentos. Como o grupo é novo e com voluntários ainda não temos condições de fazer esses acompanhamentos, mas existe um órgão público, o CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social, que cuida desta demanda. Não só foi como ainda é tolerado socialmente o estupro corretivo. Segundo o Mapa da Violência 2012: Homicídio de Mulheres no Brasil, no qual grupos acadêmicos e dos movimentos socais relacionados a gênero puderam participar, o Brasil ocupa o sétimo lugar em um ranking de 80 países em que ocorrem notificações de violências diversas contra a mulher. Traduzindo em números, 5.600 mulheres são vítimas de feminicídio

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Entrevista NUDI’s

Queremos o debate humanizado das questões de orientação sexual A entrevista desta edição não teve um ou uma entrevitad@, mas procurou ouvir opiniões diversas dos integrantes do NUDI’s – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades, criado recentemente em Governador Valadares, e que se destaca pela maturidade e responsabilidade na discussão de questões sobre diversidade e garantia de direitos e cidadania LGBT. em nosso país a cada ano – quando a mulher é morta devido a algum conflito entre gêneros (IPEA, 2013). Trata-se de 15 casos por dia! Nesse índice macabro, observa-se um grande número de estupro corretivo, que são cometidos contra a integridade de mulheres lésbicas e bissexuais, com um embasamento preconceituoso de que uma orientação sexual pode ser “ensinada”, mesmo à força. Se uma orientação sexual pudesse ser “ensinada”, todos nós seríamos heterossexuais, uma vez que a heterossexualidade é majoritária na mídia, nos materiais escolares, na cultura... Não existe opção sexual, mas sim uma orientação, que a todo o tempo é remodelada de acordo com as experiências do indivíduo. Outras violências contra mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais são o assédio sexual e sua fetichização, em especial pelo homem heterossexual, que muitas vezes reproduz fetiches em torno das mulheres lésbicas e a sua submissão ao seus desejos; também há a exclusão dos espaços públicos das mulheres que fogem ao estereótipos de seu gênero como, por exemplo, as mulheres mais masculinizadas: a dificuldade de encontrar uma vaga na escola, uma vaga no mercado de trabalho formal ou poder andar pelas suas sem ser encarada e afrontada pelas pessoas é muito grande. Mulheres travestis e transexuais são extremamente marginalizadas, em especial do mercado de trabalho e educação: segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH, 2012), 95% dessas mulheres não estão com acesso à educação formal e 85% não trabalham no mercado formal. Violências contra crianças que fogem dos padrões da heterossexualidade de alguma forma são naturalizadas no seio de nossa sociedade. Segundo um estudo feito no Colégio Técnico da UFMG em 2012 entre os estudantes que se declaravam LGBT e estavam regularmente matriculados no ensino médio profissional, todos relataram ter sofrido algum tipo de violência de seus familiares, seja verbal ou mesmo física, em algum momento que expressaram sua orientação sexual ou identidade de gênero, ou seja, em algum momento que fugiam do que é o “padrão” para homens e mulheres. Figueira - O que você pensa em relação a essas manifestações que acontecem em prol da defesa dos direitos às diferenças, como a Parada Gay, por exemplo? Você acha que esses movimentos ajudam na conscientização e conquista de espaço na sociedade? NUDI’s - É importante que a Parada não seja apenas LGBT: também seja um dia importante de luta, festa e visibilidade para lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, seus familiares e amigos. Segundo o último censo do IBGE de 2011, são mais de 60 mil casais de lésbicas ou gays no país, e a parcela LGBT chega a 10% da população de acordo com alguns estudiosos sobre o tema. A partir do momento que toda essa comunidade vai para a rua, um espaço público, e a ocupa pacificamente em clima de reivindicação de diretos e festa, cria-se um momento oportuno para diálogo com a sociedade. A sociedade contemporânea está avançando paulatinamente em suas vivências sobre gênero e sexualidade, e as paradas e outras manifestações públicas LGBT estão a serviço de incrementar essas vivências. Figueira - Apesar do tema ser bastante difundido pelas redes de comunicação, principalmente em filmes e telenovelas, percebe-se um crescimento cada vez maior do preconceito dentro de algumas famílias. Existem pessoas, por exemplo, que não deixam seus filhos verem determinado programa porque tem gays. No entanto, os deixam livres para assistirem cenas de sexo ou violência, por exemplo. O que, em sua opinião, pode ser trabalhado com as famílias, em relação a essa postura?

Não existe opção sexual, mas sim uma orientação, que a todo o tempo é remodelada de acordo com as experiências do indivíduo.

NUDI’s - Algumas famílias escolhem tratar assuntos relacionados à sexualidade humana somente a partir de um padrão heteronormativo e permitem que seus filhos vejam cenas de sexo entre homens e mulheres nas novelas e nos filmes. Outras famílias não permitem que os filhos vejam as mesmas cenas e outras ainda, declaram sua indignação ao saberem de cenas de sexo, de amor, de beijos e abraços entre pessoas do mesmo sexo. Além de repudiarem o que está na televisão, fazem o mesmo quando se deparam com a situação na vida real. Mesmo impregnadas de amor e de boa intenção, são muitas as famílias que não sabem o que fazer quando têm de apresentar às crianças da casa o tio que chega com o namorado ou a amiga que vem visitar e traz a companheira. Mas, há famílias que escolhem não dar lugar ao silêncio, à dissimulação ou à segregação, não deixar que uma possível rejeição aos namorados que são apresentados às crianças cresça e se transforme em uma declarada homofobia. Muitas das nossas crianças aprendem com o consentimento da escola piadas, gestos e apelidos para se dirigirem aos que destoam dos padrões admitidos pela cultura. Abandonar o desprezo e a rejeição que podem ser a consequência desses comportamentos pode ser uma escolha de muitas famílias. Dar visibilidade às situações que nos cercam pode trazer como grata resposta a confirmação de que muitas vezes, as crianças se resolvem de melhor maneira do que os adultos. Figueira - Na sua opinião, o que pessoas livres de preconceitos podem fazer para que a violência contra a diversidade seja reduzida? Você acha que algum dia o ser humano olhará para o outro sem se preocupar com quem esse vai para a cama? NUDI’s - Antes de tudo, respeito. Não existem pessoas totalmente livres de preconceitos. Preconceitos são moldados cultural e socialmente, e é um trabalho constante questioná-los e revertê-los. Existem sim pessoas com mais e com menos preconceitos. Um exemplo que pode ser citado é o racismo que existe no interior da comunidade LGBT, onde muitas vezes o LGBT negro é colocado em segundo plano e invisibilizado. Também nós LGBT refletimos alguns preconceitos, e temos que combatê-los. Uma forma de reduzir a violência contra a diversidade de sujeitos é a atuação sistêmica positiva do Estado, o que ainda não acontece. Necessitamos de educação, saúde e segurança que estejam abertos para atender as especificidades dessa importante parcela da população, assim como ter políticas públicas que garantam sua assistência em momentos de vulnerabilidade. Outra forma de combater a violência é criminalizá-la: desde 2006, tramita no Congresso Nacional uma PEC que criminaliza a homofobia, seja a violência física, o discurso ou pregação de ódio a essa comunidade. Os movimentos sociais LGBT e algumas universidades já fazem o seu papel, agora falta ter subsídios do Estado para institucionalizar mecanismos de combate à violência contra orientação sexual e identidade de gênero. Particularmente, acredito em uma sociedade sem opressões. Ao resgatar estudos antropológicos de Freman e Morgan, observamos registros de uma sociedade sem opressões quando ainda éramos matriarcais; com o surgimento da ideia de propriedade e do patriarcado, estabelecem-se diversas relações de submissão de mulheres e LGBTs por um homem heterossexual. Acredito que, com muita luta, conquistaremos um patamar de desenvolvimento em que essas múltiplas opressões serão mitigadas. As respostas foram dadas de modo coletivo, por integrantes do NUDIs.

BRAVA GENTE Tim Filho

Leonardo Morais em “selfie”, na Praça Sete, área central de Belo Horizonte, durante cobertura de manifestações contra a Copa

Leonardo Morais, um repórter fotógrafico na linha de fogo Ele é, sem dúvida, um dos melhores repórteres fotográficos de Minas Gerais. Valadarense, começou sua carreira no jornalismo local, trabalhou no Estado Minas e atualmente está a serviço do Hoje em Dia. Suas fotos são publicadas em vários jornais brasileiros por meio das agências de notícias que têm acesso ao material que ele produz diariamente. Ele é Leonardo Vieira Morais, que durante a Copa está em Belo Horizonte, paramentado como se estivesse em uma guerra. De certa forma, ele está em uma guerra, no meio dos confrontos entre manifestantes do movimento “Não vai ter Copa”e a polícia. O trabalho de Leonardo Morais é cheio de desafios. Já subiu as montanhas do Santuário do Caraça para fotografar a caverna mais alta do mundo (a cerca de 1,8 mil de altitude), já enfrentou briga de torcidas organizadas em estádios de futebol, andou a pé subindo e descendo morros nas comunidades isoladas do Vale do Jequitinhonha, sob o sol escaldante do Vale. Mas também esteve em shows musicais, solenidades com a presença de chefes de estado, ou em eventos mais leves, como cerimônias de casamentos, que de vez em quando estão na sua agenda de trabalho. Moço simples e de boa prosa, Leonardo Morais é casado com Dirlene Laura e pai de Diego (estudante de Direito) e João Pedro, que é bom de desenho. Leonardo Morais é também colaborador deste Figueira. Bravo, Leo!

TAÍ!

Você sabe de onde vem a água que lava as nossas ruas? Durante todo o ano, a Prefeitura de Valadares realiza um trabalho de conscientização para que a população não desperdice água, evitando que este bem tão precioso venha a faltar. Por isso, são realizadas campanhas pedindo cautela na lavagem de calçadas e carros. Mas a Prefeitura não utiliza água para lavar algumas ruas? Ao contrário do que muitos pensam, a água utilizada nesta limpeza é captada diretamente no Rio Doce, sem qualquer tipo de tratamento químico. Além disso, o escoamento resultante da lavagem é o sistema de drenagem, cuja destinação é o próprio rio Doce, ou seja, não há desperdício de água e sim uma recirculação. Em outras palavras, um retorno da água à sua origem. A grande vantagem da lavagem sobre a varrição é o impacto positivo na saúde de quem circula pelas vias, sobretudo após o período chuvoso, quando se corre o risco de contrair leptospirose e outras doenças transmitidas por animais – as quais não são removidas no processo de varrição. Vale lembrar que dez pessoas escovando os dentes com a torneira aberta durante um ano gastam mais água do que o que comporta um caminhão-pipa. Fica a dica.


COTIDIANO A monarquia espanhola enfrenta dias conturbados e alguns protestos republicanos. Os escândalos provocados por Juan Carlos deixaram os pilares da monarquia enfraquecidos e o novo rei assumirá a coroa num ambiente de cepticismo, indignação e com exigências referendárias à monarquia. Felipe VI, ao assumir o trono, garante aos seus súbditos que irá empenhar-se ao máximo para servir a Espanha, que segundo o monarca “é uma comunidade social e política, unida e diversa”. Aproveitando estes arrufos na coroa espanhola, os republicanos espanhóis passaram a organizar manifestações um pouco por todo o país, reivindicando um referendo à monarquia. O que, de certa forma, não é bem visto por grande parte da população católica. Segundo o diário espanhol “El País”, um dos mais conceituados da imprensa mundial, “quase dois terços da população espanhola não quer que seja convocado um referendo” para decidir se a monarquia deve acabar para se instaurar uma república. Numa sondagem efectuada pelo periódico espanhol atrás referenciado, muitos espanhóis (quase 49%) dão indicações claras de quererem ser ouvidos e de forma democrática e transparente sobre a natureza do seu sistema político. Mas, afirmam que no caso de se avançar com um referendo votariam a favor da monarquia e contra a república, desde que o rei seja o Felipe VI. No passado fim de semana registaram-se algumas manifestações em Madrid e outras cidades espanholas com o objectivo de exigir um referendo à monarquia. Mas segundo os especialistas nesta matéria, não existem condições políticas actuais para se instaurar a república. A população mais jovem, aquela que está a ser mais afectada pelo flagelo do desemprego é quem exige o fim da monarquia porque entende que só serve para esbanjar, ainda mais, as tão frágeis finanças públicas. Ou seja, a maioria dos jovens que nasceram após 1978, altura em que a Constituição em vigor em Espanha foi referendada, é que contestam a monarquia e todos os escândalos provocados por “D. Juan”. Os partidos de esquerda e os seus eleitores são aqueles que mais exigem um referendo à monarquia. Já os socialistas estão muito divididos. Existe um grande distanciamento entre os eleitores socialistas

Vitória a Minas Vinícius Quintino / De Vitória

Deu a louca na paróquia Quem frequenta o bairro Jardim Camburi, em Vitória, já está se acostumando com a interminável onda dos protestos que ocorrem diariamente nas ruas da comunidade. Curioso é que o alvo dos manifestantes já não é mais o pedágio da 3ª Ponte e nem mesmo os R$ 0,20 do transporte público. Por incrível que pareça, a bola da vez parece ser a santa Igreja Católica. A mais nova cruzada tupiniquim iniciou-se há dois meses, quando membros da comunidade Sagrada Família resolveram exigir a saída do padre José Tozi, o Pe. Zezinho, deixando claro que nem mesmo os homens de Deus estão imunes à ira das manifestações populares. O imbróglio tem origem no final de 2013, quando Zezinho, recém-nomeado, adotou algumas medidas um tanto quanto impopulares: a redução do número de missas; a paralisação da catequese das crianças; e a suspensão da festa junina, realizada há três décadas no bairro. Desde então, a insatisfação foi generalizada. Os fiéis mais fervorosos iniciaram uma série de acusações contra o pároco nas redes sociais, principalmente diante da suposta obscuridade na prestação de contas da Igreja. O clima esquentou quando o pároco, incomodado pelas ingerências em sua administração, resolveu dissolver unilateralmente o Conselho Paroquial. A gota d’água teria sido a aquisição de um carro no valor de 80 mil reais, para uso pessoal do sacerdote. Inconformados com a medida, fiéis organizaram um protesto, que contou com cerca de 800 manifestantes, marchando com cartazes, pronunciando palavras de ordem e bloqueando as ruas de acesso à igreja. A medida, que contou com a adesão de crianças e idosos, acabou por esvaziar as missas em vários dias da semana. Como a cena se repetia, o pároco perdeu a compostura e resolveu retaliar. As ações foram desde interrupções verborosas no meio das missas, até a expulsão de manifestantes que ousavam adentrar a igreja. Afirma um jornal local, inclusive, que o padre teria chegado a dizer: “Quiséssemos também, nós padres, termos fiéis menos hipócritas. Quisera Jesus ter um ouvido com filtros para não ter de suportar tanta falsidade (...). Esse ‘povinho’ que honra com os ‘beiços’, mas seu coração está cheio de lixo”. Em resposta, os dissidentes elaboraram um dossiê com 714 páginas, relatando as peripécias do Pe. Zezinho, e a polêmica che-

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa

Monarquia espanhola é contestada por republicanos e os eleitos. Mas, mesmo assim, os socialistas espanhóis já deixaram que apesar dos “arrufos” que existem dentro do partido, defendem a convocação de um referendo. O Felipe VI terá uma tarefa hercúlea pela frente para demonstrar aos espanhóis que, afinal de contas, a monarquia serve os interesses da Espanha e não é nenhum “bicho” demoníaco. Só que os tempos que se vivem em Espanha actualmente são de grande austeridade, crise social e agitação política. Apesar de se encontrar bem preparado para assumir o trono da coroa espanhola, Felipe VI, a herança que o seu pai lhe deixou é excessivamente pesada e encontra-se embrulhada em muitos escândalos sexuais, corrupção e envolvimento político um pouco dúbio. Ou seja, a coroa que o príncipe das Astúrias herda goza de um expoente mínimo de popularidade. E isso não lhe augura um futuro sólido. O Partido Popular (PP), liderado pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy, já deixou claro por diversas vezes que está satisfeito com a actual solução, considerando ser dispensável e inusitado avançar-se para um referendo para decidir quem será o chefe de Estado em Espanha. Convém esclarecer que a maioria da população espanhola é católica, conservadora e acredita que o novo rei Felipe VI inspira grande confiança. E Juan Carlos tomou em consideração os pareceres que os seus conselheiros directos lhe deram para abdicar do trono neste momento. Esse gesto foi bem visto pela maioria dos espanhóis. A esquerda vai continuar a exigir um referendo à monarquia, porque entende que os cidadãos devem pronunciar-se sobre este assunto delicado: ou a manutenção da monarquia ou a implantação da república. Mas este processo não vai ser fácil. Será muito complicado e poderá

gerar tumultos sociais incontroláveis na sociedade espanhola a braços com uma crise económica terrível. O próprio primeiro-ministro Mariano Rajoy já deu o seu parecer sobre esta matéria: “Toda a gente em Espanha tem o pleno direito a pedir uma mudança das regras do jogo, mas tudo deverá ser feito respeitando a lei vigente no país. E para acontecer um referendo à monarquia primeiro é preciso rever a actual Constituição”. Felipe VI está ciente das suas responsabilidades e já recrutou bons conselheiros para o ajudarem a passar uma nova imagem da monarquia em Espanha. A sua mãe, a rainha Sofia, também tem sido fundamental nesta transição. Mas até quando a monarquia espanhola vai conseguir resistir às contestações populares lideradas por uma juventude sem esperança e a braços com uma das maiores taxas de desemprego da União Europeia? Eis a grande questão que se deve levantar. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

gou até o bispado. A Mitra Arquidiocesana, entendendo que as acusações se limitavam a ataques pessoais, decidiu não interferir. Os beatos perderam as estribeiras e iniciaram um panfletaço, com mais de 5.000 cópias de um resumo do dossiê. O padre, sem saber mais o que fazer, resolveu ingressar com ações criminais contra alguns manifestantes e, com o auxílio de apoiadores, encabeçou um contramovimento. Como era de se esperar, o clima de guerra se instalou entre os dois blocos cristãos e, já na saída da primeira missa de contrapanfletagem, o banzé foi generalizado. A liturgia de paz e de perdão foi por água abaixo e os manifestantes foram literalmente às vias de fato.

No momento, o belo sermão do Pe. Antônio Vieira, de 1654, nunca foi tão recente: “vós sois o sal da terra. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm o ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque os pregadores dizem uma coisa e fazem outra, ou porque os ouvintes em vez de servir a Cristo servem a seus apetites”.

Agora, enquanto os líderes do movimento articulam uma forma de recorrerem à terceira instância – Núncio Apostólico em Brasília – o padre cogita a possibilidade de contratar uma escolta policial para garantir a ordem nas celebrações. Realmente deu a louca na sacristia, e o pior é que ninguém consegue explicar onde foram parar os verdadeiros princípios cristãos. No momento, o belo sermão do Pe. Antônio Vieira, de 1654, nunca foi tão recente: “vós sois o sal da terra. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm o ofício de sal, qual será ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque os pregadores dizem uma coisa e fazem outra, ou porque os ouvintes em vez de servir a Cristo servem a seus apetites”. Vinícius Quintino é pesquisador em Gestão Pública e Servidor Público Federal.

Segundo o diário espanhol “El País”, um dos mais conceituados da imprensa mundial, “quase dois terços da população espanhola não quer que seja convocado um referendo” para decidir se a monarquia deve acabar para se instaurar uma república.

Café com Leite Marcos Imbrizi/ De São Paulo

A grande festa do futebol Como é comum nesta época do ano, o dia amanheceu cinzento em São Paulo no último dia 12. Mas, no início da tarde o sol já brilhava forte e eu decidi: vou conferir o clima da abertura da Copa no Itaquerão! Devido aos acontecimentos dos últimos meses pairava no ar um clima estranho. Um grande jornal anunciara dias antes “Black blocs prometem caos na Copa com ajuda do PCC”. Durante a manhã um colega de trabalho comentou: “O meu cunhado, que é bombeiro, disse que o PCC fará ataques aos bares onde tiver torcedores.” Estranho. Muito estranho. Tomei um ônibus de Santo André até a estação Artur Alvim do metrô. No trajeto, de cerca de pouco mais de uma hora, acompanhei as pessoas a se prepararem para o grande dia. A impressão era de que tinham deixado para a última hora os preparativos. Havia um grande movimento nas lojas e mercados. Os vendedores ambulantes nos faróis também ganhavam uns trocados vendendo bandeiras, chapéus e cornetas, entre outros badulaques verdes e amarelos. Ao chegar ao ponto final, percebi que a festa era grande. Mal pude esperar para saltar e me juntar à multidão que, a festejar, seguia rumo ao Itaquerão. A segurança era ostensiva, com a presença de policiais militares, guardas municipais e seguranças que tinham como único trabalho orientar algum turista perdido ou em busca de informação. Com certeza, assim como eu, muitos estavam ali só para conferir o clima, que era de muita alegria e confraternização. Os grupos de torcedores chilenos, alemães, colombianos, e croatas, que percorriam o caminho que levava à entrada do estádio eram parados por brasileiros e brasileiras, para registrar o momento. A equipe de uma TV mexicana que filmava a festa de um grupo de conterrâneos saiu toda molhada e cheia de espuma de carnaval. Havia ainda alguns ambulantes, pregadores com seus cartazes e revistas, cambistas e torcedores levemente atrasados com cartazes “compro ingresso”. Como pretendia assistir ao jogo em casa, mais tranquilo e contente com a festa (ao invés do caos prometido) tomei o metrô e depois o ônibus. No caminho, o clima alegre persistia. Ainda no metrô, grupos de brasileiros e estrangeiros registravam a festa, como um momento para a eternidade. Já perto de casa, momentos antes do jogo, alguns jovens corriam para terminar a pintura na rua. Naquele dia, o Brasil ganhou o jogo por três a um contra a Croácia. Algumas pessoas que talvez esperassem o caos, que não veio, reclamaram da festa da abertura no estádio. “Pobre”, ouvi algumas delas dizerem. Eu não assisti à abertura, pois estava na rua. Assim como não vi o xingamento à presidente Dilma. Xingamento que, de acordo com o que soube mais tarde, partiu de um setor das arquibancadas em que os ingressos chegavam a custar mil reais. Ou seja, um setor onde só a elite teve acesso. São os “White blocs”, como disse um amigo. E, nestes dias após a abertura, a festa prossegue em São Paulo, que abriga colônias de muitos dos países que participam do mundial de futebol. A Avenida Paulista, por exemplo, um dos pontos mais famosos da cidade, acostumada a receber estrangeiros, tornou-se nesses dias uma verdadeira passarela para os amantes da festa do futebol de todo o mundo. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.


CULTURA & LAZER

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Cotidiano

Artes Visuais João Marcos

Lucimar Lizandro

Traços quadro a quadro

O andar de cima avisa: “a brincadeira acabou, queremos o Estado de volta.”

Os traços do menino desenhista que virou roteirista dos estúdios Maurício de Souza Da Redação João Marcos Parreira Mendonça é um cara genial, como artista e pessoa. Todos que o conhecem e conhecem o seu trabalho sabem disso. Cartunista, chargista, artista gráfico, quadrinista, professor, mestre em Artes pela UFMG, enfim, João Marcos é tudo isso e mais alguma coisa, como por exemplo, roteirista dos estúdios Maurício de Souza, aquele cara que criou a Turma da Mônica. O interesse pelo desenho surgiu em casa, vendo sua mãe pintar roupas para crianças. Em cada peça surgia um desenho maravilhoso, segundo João Marcos. Outra fonte de inspiração e incentivo foi o material que seu pai deixava ao seu alcance: livros, jornais, revistas e histórias em quadrinhos. Foi lendo as mesmas coisas que o seu pai lia, que descobriu a turma da Mônica, de Maurício de Souza. Aí, ele decidiu fazer os quadrinhos. Quando escolheu cursar Arte na graduação, os pais não questionaram a sua opção por um curso que, de certa forma, é diferente dos cursos tradicionais e um tanto quanto incerto profissionalmente. O primeiro trabalho de João Marcos foi no jornal Diário do Aço, de Ipatinga, sua cidade natal. Ele tinha 14 anos de idade quando publicou suas primeiras charges e ilustrações. “O jornal foi minha primeira formação profissional, pois nem os materiais profissionais para desenho eu conhecia. Antes disso, só me lembro de uma exposição no colégio onde estudava, onde fiz o desenho do cartaz do evento”, lembra. A formação superior na Escola de Belas Artes da UFMG contribuiu muito para a evolução do seu trabalho. João Marcos diz que os estudos na EBA ampliaram a sua visão de mundo, o olhar e o conhecimento sobre a produção artística, que envolve técnicas, procedimentos, estilos e modalidades variadas, além de conhecer a arte pelo viés cultural, social, filosófico e histórico. “Pude conviver e aprender com colegas artistas e professores que, em sua maioria, também produziam arte”, disse. E o garoto bom de traço não ficou apenas na graduação. Cursou o mestrado em Artes, também na EBA. “O mestrado foi uma possibilidade de investigar, pesquisar e aprofundar sobre os processos metodológicos que envolvem a minha

Arquivo Pessoal

João Marcos realizou o seu sonho de garoto e hoje cria histórias para a “Turma da Mônica”

prática docente, em ensino de Arte, com foco nas histórias em quadrinhos e na prática do desenho”, disse. Os dilemas e dúvidas que tinha puderam ser estudados a fundo, sendo uma experiência muito rica para ele. Essa experiência o ajudou muito na compreensão da metodologia que utiliza em sala de aula, para várias disciplinas, afinal, João Marcos também é professor universitário e leciona na Univale. Atualmente, João Marcos publica diariamente as charges no jornal Diário do Aço e concentra seu trabalho na produção de livros em quadrinhos para crianças. Já são

nove publicações para esse público. Recentemente João Marcos realizou um sonho de criança. Tornou-se roteirista da “Turma da Mônica”, ou seja, ele cria roteiros de muitas histórias em quadrinhos cujos personagens são Cascão, Cebolinha, Mônica, Magali e outros personagens de Maurício de Souza. “Ser roteirista nos estúdios Maurício de Souza é a realização de um sonho. O Mauricio, desde a infância, foi a minha maior referência profissional na área. Trabalhar com ele era só um sonho que, confesso, parecia muito distante e ainda hoje esse trabalho é um tanto quanto surreal pra mim”

A radicalização política no Brasil assume proporções inimagináveis e nos remete aos primórdios da humanidade. Ao analisarmos os xingamentos e agressões verbais sofridos pela presidente da República podemos perceber que determinados grupos sociais estão ainda na pré-história, tamanha ignorância e estupidez do qual uma mulher foi vítima. Naquela tribuna, não estava só a mandatária primeira do nosso país. Estava ali também uma avó, uma mãe. Poderia ser a mãe ou a avó de qualquer um de nós. E então, qual seria a nossa reação diante de tal barbaridade? Assusta-nos mais ainda o endosso de veículos de comunicação e políticos a tamanha atrocidade. Alguns foram obrigados a recuar, ainda que da boca pra fora, dada a repercussão negativa. O episódio do Itaquerão só nos faz acreditar que engatamos uma marcha à ré e seguimos loucamente rumo às profundezas e aos tempos imemoriais da humanidade. Dizem que pra cima o céu é o limite e para baixo, onde será o limite? A presidente da República, como qualquer agente político, está sujeita ao escrutínio popular e deve receber com serenidade toda e qualquer crítica. Isso faz parte do jogo democrático. Mas, a mensagem que aquele grupo de endinheirados mal educado mandou foi a seguinte: “nós cansamos do seu governo, cansamos das suas idéias, queremos um governo que tenha a nossa cara e os nossos valores, você não nos representa e para bani-la do poder faremos qualquer coisa.” É isso, ali foi um grito de guerra, uma demarcação do território onde todas as armas e todas as formas de luta serão válidas. A democracia, até então um valor absoluto, será apenas uma lembrança de uma época em que a vontade de uma maioria se sobrepunha aos caprichos e mimos de um diminuto grupo social e econômico. A brincadeira acabou. Então, que fique bem claro: se alguém achou que o tom lacerdista vigente, a intolerância contra a política e contra os políticos e o tom belicoso das redações era o prenúncio de uma higienização dos modos e costumes do atual momento, não se engane. Os que hoje bradam contra a corrupção, contra os maus políticos entre outras contrariedades, são os mesmos que até pouco tempo atrás estavam no comando da nossa nação se lambuzando e tratando o estado como uma extensão do seu quintal. Querem retomar o controle do estado e para tal estão dispostos a tudo. Certamente, dispensarão ao povo brasileiro o mesmo tratamento que deram a uma mulher indefesa, num estádio lotado e diante de uma platéia mundial estimada em três bilhões de telespectadores.

Lucimar Lizandro Freitas é graduado em Administração de Empresas pela FAGV e especialista em Gestão Pública pela UFOP

COMPORTAMENTO

O Banco Itaú recolheu as agendas de 2014, que seriam distribuídas a clientes de todo o país, depois da denúncia de que nelas constava o dia 31 de março como o Dia da Revolução. Do camarote do Banco Itaú no Itaquerão, na tarde do dia 12 de junho, no jogo Brasil X Croácia, brotaram as vaias e os xingamentos ensaiados de “Dilma, vai tomar...”, o que sugere alterar a sigla inglesa VIP – Very Important Person, usada para pessoas que exercem influência, para Very Indecent Person. Em consonância com a atitude social que o Banco Itaú vem mantendo, saudoso da ditadura, dos tempos de privilégio, do tempo em que os ricos podiam ser sem educação, grosseiros, sem isso se tornar motivo de escrutínio público. Ainda neste ano, o senador Aécio Neves mencionou o dia 31 de março como o dia da Revolução, para depois recuar e fazer menção ao golpe, do qual o seu avô foi vítima. Naquele dia 31 de março, Tancredo e a sua geração de democratas tiveram todos os sonhos políticos adiados ou definitivamente frustrados. O moço Aécio, de vida fácil, não deve se lembrar que o jovem Tancredo foi o único político que estava no Palácio do Catete, na solidão extrema de Getúlio Vargas, no dia do suicídio. Ele e Alzirinha, filha de Vargas. Da mesma forma, foi quem fez de tudo para evitar o golpe de 64, inclusive formulando a janela do parlamentarismo, quando tentaram impedir a posse de Jango, na renúncia de Jânio. Pois, o Aécio foi pronto em elogiar as vaias e xingamentos à presidenta Dilma, declarando, em sintonia com Eduardo Campos um pouco depois, que Dilma colhia o que havia plantado. No dia 13, percebendo que os jornalistas esportivos haviam deplorado as ofensas à presidenta no estádio e que ficava claro como tinha sido uma ação orquestrada, ele recuou (novamente) e em vez do apoio à grosseria paulista, ele jurou que manteria o bom nível na campanha eleitoral, sem ataques pessoais. Esse descompromisso com a civilidade e com a democracia tem sido constante nas atitudes de pessoas que exercem liderança no país e em Valadares. O exemplo deles espalha-se como vírus pela sociedade, criando um espaço de permissividade. O “jogar pedras” em vez de participar da construção de uma sociedade, vai se tornando a norma, até nos espaços mais inusitados. Em 1835, quando o francês Alexis de Tocqueville publicou o seu clássico “Da Democracia na América”, destacou que em vez dos discursos e

A voz da cidade/Resende

Insulto ao Brasil Jaider Batista manifestações em praças, a cidadania nos Estados Unidos era garantida pela força moral do que se pregava nos púlpitos das suas igrejas. É de se imaginar o que Tocqueville registraria dos púlpitos se passasse por Valadares. No domingo anterior ao dia 30 de janeiro, na Catedral, o padre (Francisco Oliveira) Vidal anunciou que haveria missa no aniversário da cidade, fez menção às chuvas torrenciais que haviam resultado em muita destruição na cidade e declarou que era “necessário rezar porque esta cidade está cada vez pior”. Faltou deixar claro para os seus paroquianos se a cidade está cada vez pior porque pela primeira vez os mais pobres podem morar dignamente nas mais de 2 mil moradias já entregues no programa Minha Casa Minha Vida, ou pelas 22 mil crianças na escola de tempo integral com quatro refeições diárias, pelos milhares de jovens na Universidade Federal ou pela construção das Estações de Tratamento de Esgoto para livrar o Rio Doce da nossa ‘escatologia’*.

(*no grego, ÉsXatos é a palavra traduzida como último ou final; na Teologia é tomada como referente aos acontecimentos do final dos tempos. Skatá é uma das palavras para excrementos, fezes.) Ao mesmo tempo, o CONEP - Conselho Evangélico de Pastores marcou para o dia 3 de fevereiro o culto em ação de graças pelos 76 anos da cidade. Buscou em Belo Horizonte o pastor Jorge Linhares, para ser o mensageiro no evento. O texto bíblico sobre José foi apenas pretexto para um discurso purulento, típico da direita americana: receitas rasas de autoajuda no estilo “eu me amo”, narrativas de amor por um cachorro e de desprezo por seres humanos, reptos à homofobia e ao higienismo social, além de um tanto de dados errados para afirmar a supremacia dos judeus sobre outros povos. A vida piedosa, exemplar, de oração, dedicação e generosidade da ampla maioria dos pastores e das pastoras desta cidade não recomenda esse tipo de licenciosidade e encantamento com os pastores do marketing. Outra forma de alimentar o descompromisso é o anonimato. Na hora de fazer o convencimento em busca de parceiros e patrocinadores, a Associação Comercial apontava o projeto da árvore de Natal como idealizado pelo arquiteto Adolpho Campos, coisa fina. Na hora em que virou motivo de chacota e foi parar em um blog da Folha de S. Paulo como uma das árvores de Natal mais feias do país, não apareceu pai. O CDL publicou nota declarando que a árvore não era dele, dando nome a quem a concebera. Mas, o anonimato e a desinformação já tinham gerado as manifestações nas redes sociais, a imputar a fealdade toda ao governo municipal, que àquela altura estava sob a tormenta das chuvas e inundações. The short Christmas Tree foi instalada bem depois do início do Advento e acabou sendo desmontada discretamente bem antes do Dia de Reis. As pessoas que exercem liderança são, em boa medida, responsáveis pela fabricação do ódio social, seja alastrando-o pelo país, seja minando as bases do convívio respeitoso em nossa cidade. Na geração anterior houve a conclamação para a esperança vencer o medo. O desafio neste ano é que a esperança vença o ódio.

Jaider Batista da Silva é jornalista e mestre em Educação.


ESPORTES

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FIGUEIRA - Fim de semana de 19 a 22 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014 - Brasil x Camarões

Brasil precisa vencer e convencer

Ainda sem apresentar um futebol convincente na Copa, Brasil se vê na obrigação de vencer a seleção de Camarões em jogo decisivo,em Brasília Da Redação (*) Com informações da CBF Segunda-feira tem mais. A seleção brasileira vai enfrentar a seleção de Camarões com a obrigação de vencer e vencer bem, para garantir o primeiro lugar no seu grupo. O empate sem gols com o México, na terça-feira, frustrou a torcida brasileira, mas agora que tudo passou, as esperanças estão renovadas. Brasil e México fizeram um jogo muito disputado na Arena Castelão, em Fortaleza. A Seleção Brasileira jogou melhor e só não saiu vencedora graças à espetacular atuação do goleiro mexicano Ochoa. As duas seleções chegaram a quatro pontos ganhos, mas o Brasil lidera porque tem melhor saldo de gols. O jogo começou a mil, acelerado, em ritmo de disputa acirrada. Estimulados pelos torcedores, que gritavam o tempo todo - os mexicanos,

em menor número, evidentemente, faziam ainda assim bastante barulho -, os jogadores disputavam cada bola, em cada centímetro do gramado, como se fosse a última. A Arena em Fortaleza, a essa altura, virara um caldeirão. Jogo de Copa do Mundo, ao seu melhor estilo, com se fosse uma partida de final. Ânimos exaltados em campo, com os jogadores demonstrando excesso de vontade em alguns lances, mas com a bola rolando foi do Brasil a primeira oportunidade de marcar Fred concluiu na rede pelo lado de fora. Fred, inclusive, se movimentando bastante pelos lados da área, dava muito trabalho aos mexicanos e se tornava a melhor opção de gol do Brasil. O time de Felipão estava melhor, forçando o adversário a recuar, e rondava a sua área, mas sem conseguir levar muito perigo. Perigo quem tentou levar, mas para Julio Cesar, foi o México. Herrera chutou forte, da

entrada da área, a bola passou perto. Foi a senha para o Brasil responder. Daniel Alves cruzou e Neymar só não fez o primeiro gol porque o goleiro Ochoa impediu com defesa espetacular. Fred, novamente ele, conseguiu se antecipar à marcação e cabeceou, mas Ochoa defendeu. O jogo seguiu intensamente disputado. O México ameaçava com chutes de meia distância, mas o goleiro Ochoa foi quem evitou mais uma vez o gol do Brasil, ao defender quase nos pés de David Luiz, com Paulinho também no lance pronto para marcar. Quando Felipão trocou Fred por Jô, aos 22 minutos, a seleção mexicana andava bem no jogo, atacando com frequência, levando perigo com chutes de fora da área. O Brasil empurrou de vez o adversário para o seu campo, mas não era dia de Brasil. Agora é partir pra cima de Camarões. Rafael Ribeiro - CBF

Olé, Brasil! Ana Paula Barbosa

One Direction? Não aguentei e xinguei o Galvão Bueno de novo. Ah, não, tenha dó! Na hora que a seleção mais precisa e na hora que eu estou prestes a devorar minhas unhas (só não devorei porque o preço da manicure tá pela hora da morte) ele começa a falar aquele tanto de coisa. Aiaiai... cala a boca, Galvão! Mas eu já sei de quem é a culpa pelo empate sem gols contra a seleção mexicana: do “One Direction”. Sim, meus amigos e minhas amigas que batem ponto aqui nessa coluna do “olé”. A culpa é daquele grupo musical adolescente chamado “One Direction”, que tentou corromper o nosso craque Neymar, pedindo pra ele fazer uma dacinha com uma musiquinha deles, isso, claro, se tivesse saído gol. Gente, que grupo musical é esse? É aquele mesmo, de adolescentes? Cala, a boca “One Direction!” Aiaiai... Não, não, não e não. Chega de dancinha! Na abertura da Copa, a Cláudia Leitte já fez a dança da galinha azul, galinha pintadinha, sei lá... Nem vi. Vi depois, no Youtube. Coisa feia! Falando sério: fiquei agoniada naquele jogo contra o México. Ah, fiquei! Nada deu certo. Que coisa! Tudo deu errado. Agora o Felipão tem apenas “one direction”, ou seja, traduzindo, tem de seguir uma direção única: golear a seleção de Camarões. Mas que falta do que fazer desses moleques do “One Direction”! Deviam ficar quietos lá, lá não sei onde, sem vir com essa de “dancinha da musiquinha” deles. Agora só falta aparecer aquele roqueiro que tem um filho com a Luciana Gimenez... (nem quero falar o nome dele porque dá azar...) Ana Paula Barbosa é comerciária, fanática pela Seleção Brasileira e pelo Brasil

Imensa Nação Atleticana. Enquanto a melhor de todas as Copas acontece no nosso País, o Galão da Massa se prepara para disputar três partidas no continente asiático. É o retorno das grandes excursões atleticanas para mostrar ao mundo o que existe de mais lindo no futebol mundial. Jogos internacionais fazem parte da trajetória do Galo desde 1929 quando, em seus domínios, o Glorioso venceu o Victória de Setúbal, então Campeão Português, no primeiro jogo de um time mineiro contra uma equipe estrangeira. E esse pioneirismo sempre grassou pelos lados de Lourdes, passando pela Vila Olímpica até chegar à Cidade do Galo, o que deixa sempre desolados os “azules” sem passado e sem histórias pra contar. Um time que já se chamou Yale, que depois de uma goleada histórica mudou o nome para Palestra e, em pós, transmudou-se em Cruzcredo não é objeto de pesquisa de nenhum biógrafo. Também foi o pioneirismo que fez o Galo, ainda em 1950, empreender excursão pela Europa disputando partidas memoráveis contra equipes da Alemanha, Áustria, Bélgica e da França, o que acabou rendendo ao Glorioso o título de Campeão do Gelo, imortalizado na letra do nosso hino nacional mineiro. Mas, fiz esses prolegômenos todos apenas para lembrar aos apaixonados pelo futebol que o Atlético Mineiro é o único time do mundo que pode bater no peito e dizer que derrotou a Seleção Brasileira numa partida oficial já que em 1969, às vésperas da Copa do México, o Galo Carijó venceu a seleção de Pelé por 2 a 1, com um gol do Amaury e outro do Dadá Maravilha, o peito de aço, alegria da massa.

Canto do Galo

Toca da Raposa

Pedro Zacarias

Hadson Santiago

Desde então, por determinação da então CBD, nunca mais a Seleção Brasileira disputou partida oficial contra equipes profissionais.

Ver o menino Bernard, com alegria nas pernas, de novo em campo é também uma grata alegria. A Seleção, apesar do empate, está no caminho certo e vai se classificar em primeiro lugar para a felicidade dos mineiros.

E para nós, atleticanos apaixonados, a Copa do Mundo só começou mesmo no jogo contra o México, com a entrada em campo do Jô em substituição do Fred “Poste”. Pena que ele não teve tempo suficiente para mostrar todo aquele magnífico futebol que encantou o mundo na conquista da Taça Libertadores, ano passado. Ver o menino Bernard, com alegria nas pernas, de novo em campo é também uma grata alegria. A Seleção, apesar do empate, está no caminho certo e vai se classificar em primeiro lugar para a felicidade dos mineiros. Agora mudando de assunto, estou preocupado... Messi postou uma foto numa rede social usando o MSA (Manto Sagrado Atleticano). Que ele queira jogar no Galo, tudo bem e eu até admito que ele é bom de bola. Mas, venha sabendo que vai ter que disputar vaga para ser titular... Aqui não, pica-pau... Aqui é aroeira... Pedro Zacarias de Magalhães Ferreira é Galo Doido e “Meliponicultor”..

Saudações celestes, leitores do Figueira! Existe vida além da Copa do Mundo, por isso, vamos a ela. O Cruzeiro continua fazendo negócios. Além das contratações de Manoel e Neílton, chegou também o atacante Marquinhos, vindo do Vitória-BA. É mais uma aposta celeste. Para ser sincero, nunca prestei a atenção no futebol desse rapaz. Vamos aguardar suas atuações. De saída, está o atacante Luan. Sem chances no time titular, ele achou melhor procurar outro clube onde poderá ter mais oportunidades. A rescisão contratual foi amigável e Luan será lembrado, com certeza, pelos 3 gols que fez no São Paulo, em pleno Morumbi, na vitória do Cruzeiro por 3 x 0, jogo válido pelo Campeonato Brasileiro de 2013. A excursão do Cruzeiro aos Estados Unidos terá 5 jogos, uma ótima oportunidade para os mineiros que lá residem acompanharem a equipe celeste. Serão 2 jogos contra o Miami Dade (EUA), no dia 22/06, em Framingham, e dois dias depois em Lawrence, ambas as partidas no Estado de Massachusetts. Depois, o Cruzeiro embarca para o Texas e jogará somente contra equipes mexicanas. No dia 27/06, enfrenta o América, em Dallas; no dia 03/07, o jogo será Cruzeiro x Tigres, em Houston; e o último adversário será o Chivas, no dia 06/07, em El Paso. Esses jogos movimentam o time, trazem lucro aos cofres do clube e mantêm a marca Cruzeiro em evidência no exterior. Bem, na última coluna prometi falar sobre a Copa de 1978. Foi o Mundial que mais curti. Minha mãe presenteou a família com um televisor colorido da marca Telefunken, nos permitindo assistir aos jogos, finalmente, em cores. Eram

16 seleções e o Brasil estava no grupo 3, ao lado de Suécia, Espanha e Áustria. O time brasileiro era bom, mas o treinador Cláudio Coutinho só agradava aos cariocas. Não levou para a Argentina os craques Falcão (Internacional) e Joãozinho (Cruzeiro), por exemplo. Nelinho, único cruzeirense da Seleção Brasileira, teve uma participação muita boa e fez dois golaços, um de falta contra a Polônia e outro contra a Itália, gol este considerado um dos mais bonitos de todos os Mundiais.

A excursão do Cruzeiro aos Estados Unidos terá 5 jogos, uma ótima oportunidade para os mineiros que lá residem acompanharem a equipe celeste.

O Brasil poderia ter chegado à final, mas a toda poderosa FIFA cometeu o erro (ou foi proposital?) de marcar os jogos Brasil x Polônia e Argentina x Peru para horários diferentes, permitindo que os argentinos jogassem mais tarde e já sabendo de quanto precisariam vencer a boa seleção peruana para chegarem à final. A Argentina enfiou 6 x 0 no Peru e nos restou disputar o terceiro lugar (Brasil 2 x 1 Itália). Manchas do Mundial: a “entregada” do Peru, nada comprovado oficialmente, mas muitas suspeitas, e o uso da Copa pela ditadura argentina para desviar o foco e esconder as agruras do regime militar. Será que até hoje a Copa do Mundo é usada para outros fins? Não posso compactuar com isso... Abraços!

Hadson Santiago Farias é cruzeirense, democratense e um esforçado lateral esquerdo do Naque FC Veterano.


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