Comentário à Regra da Militia Sanctae Mariae - 14 de janeiro de 2016

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MILITIA SANCTÆ MARIÆ Província de S. Nuno de Santa Maria Capítulo de 14 de janeiro de 2016

Leitura da Regra: CAPÍTULO XX DO SERVIÇO NAS PARÓQUIAS 3. [Os Freires] Trabalharão com gosto por inspirar aos cristãos que os rodeiam um ardente amor pela Bem-aventurada Virgem Maria. Esforçar-se-ão também por fazer nascer ou desenvolver neles o sentido do sagrado e da hierarquia uma fidelidade amante e indefectível para com a Santa Igreja, o seu chefe o Soberano Pontífice e os Bispos, o gosto da Sagrada Escritura e da autêntica Liturgia vivida, sem desprezo algum pelas devoções privadas e aprovadas pela Autoridade eclesiástica, nomeadamente o culto das santas imagens, dos objetos benzidos, círios; enfim, o espírito de caridade fraterna pela qual se reconhecem os verdadeiros discípulos de Cristo172. O seu apostolado tenderá sempre a levar os seus irmãos até às origens tradicionais da vida espiritual, que formaram com a alma cristã das épocas de fé, toda a civilização que os cavaleiros têm que defender e promover.

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Jo. XIII, 35

Comentário: Estamos na véspera da festa litúrgica de Santo Amaro. Segundo a tradição, era filho do senador romano Eutíquio e de Júlia, uma rica fidalga, Santo Amaro, nasceu no ano de 512, e aos doze anos, teve um sonho, onde uma voz lhe dizia para entregar sua vida ao serviço de Deus. Juntamente com São Plácido, seu primo, entrou em Subiaco, onde se tornou o discípulo predileto de São Bento.


Conta a história que certo dia, São Bento teve uma visão de Plácido que se estava a afogar no riacho onde tinha ido buscar água. Imediatamente, São Bento chamou Santo Amaro e mandou que ele corresse para lá e o tentasse salvar. Então, Santo Amaro concentrou-se de tal maneira e agiu tão rapidamente, que nem percebeu que andava sobre as águas daquele riacho, tendo salvado o seu primo. São Bento, vendo tamanha humildade e obediência, mandou que Santo Amaro fosse para França e abrisse um novo mosteiro, coisa que veio a acontecer, através da fundação do mosteiro de Granfeuil (Saint-Maur-sur-Loire), dando origem à Congregação Beneditina Francesa de Saint Maur, uma das mais importantes instituições católicas pela formação de seus monges. Santo Amaro acabou por falecer aos setenta e dois anos, a 15 de janeiro de 567, ao que parece, depois de uma peste que também levou à morte muitos de seus monges. Pareceu-me oportuno trazer-vos este pequeno resumo da vida de Santo Amaro. E pareceu-me porquê? A resposta poderá estar num comentário do nosso irmão Michel Pagiossi, feito em forma de balanço para fecho do ano 2014. E vou passar a ler o referido comentário: Dizia então o nosso irmão Michel: ---- “Deus, pelas mãos de Maria Santíssima, nos concedeu um santo e produtivo ano. Muita coisa aconteceu à Milícia de Santa Maria no Brasil durante este ano de 2014. Coisas todas muito boas. De nada que tínhamos em 2013, passamos a uma estrutura funcional com membros ativos e buscando santificar-se com a vivência da Regra em pouco tempo. Sim, houve percalços e desencontros. Mas, o pioneirismo tende a isso. Não há caminho anterior, por isso, todo passo oferece um risco. Porém, sem o primeiro passo e vários outros em seguida, não se faz o caminho. Diz o adagio, “O caminho se faz caminhando” e, devo dizer, é assim que temos vivido esse período de instalação da Milícia de Santa Maria no Brasil. Um ano. Doze meses. Tempo para se estruturar. Porém, agora o tempo para ficarmos metidos em processos, quase burocráticos, passou. Sim, ainda haverá reuniões, encontros formais, planos a serem traçados, porém, o momento atual e que devemos pensar é de como faremos nosso apostolado. A alma de todo apostolado é a oração, como bem explica o livro de Dom Chautard. Assim, o passo mais necessário nós já sabemos qual é: rezar. Rezar com insistência, rezar com muita fé. Implorar ao Senhor que nos conduza. Diz-nos São Josemaria Escrivá (Caminho, 82): “Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em ‘terceiro lugar’, ação”. Sem deixar de lado a oração, o que nos relegaria ao campo do ativismo, devemos partir para a ação. Devemos fazer um apostolado ativo, praticar as obras de misericórdia corporais ou espirituais, devemos trabalhar. Várias vezes se insistiu que a Milícia de Santa Maria não é honorífica, mas militante. Sim, milita-se primordialmente pela oração, que não apenas é ato de fé e de esperança, mas, especialmente, de caridade com Deus e com os irmãos. Porém, a militância pode também entrar no campo daquela bem-aventurança que fala dos que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (Mt 5,6). Ter fome e sede é estar em grande necessidade. Não se vive sem água, nem sem alimento. É assim que o cristão deve desejar a justiça e, essa justiça, a virtude cristã da justiça e não apenas aquela do campo moral que pode se restringir ao moralismo, deve ser enxergada sempre de dois lados: dá-se a Deus o que lhe pertence, sendo,


nosso afeto, nossa vontade, tudo que somos e temos, damos a Deus às aspirações que temos de nos santificarmos, cada vez mais, nos tornando mais como a imagem que Deus tem de nós desde que nos sonhou; também, dá-se aos irmãos o que lhe pertencem, e nisso podemos pensar que, se temos algum conhecimento ou algo que podemos fazer, não devemos acender a lâmpada e colocá-la embaixo do alqueire (Mt 5, 15), “mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa”. Essa é hora de militarmos com base na ação. Muito há de se fazer, mas muito urge-nos o tempo. Não podemos esperar. O momento é agora. Partamos para a ação, partamos para o combate. Como poderemos defender os valores perpétuos da verdadeira religião? Como defendemos a tradição de nossos antepassados? Como levamos o irmão a um saboroso conhecimento do Senhor na Liturgia? Como denunciamos a perseguição diabólica contra os cristãos no mundo? São perguntas que iniciarão uma nova fase. Não faremos por fazer, mas faremos porque cremos, faremos porque queremos deixar o Senhor, e apenas ele, brilhar. Endireitemos nossas intenções e arregacemos as mangas. Que esse ano que se inicia seja um onde, muitas vezes, repetiremos: “Dignare me laudare te, Virgo Sacrata. Da Mihi virtutem contra hostes tuos”, antes de começarmos um trabalho. Se não tivermos medo, seguindo o chamado do Senhor “Nolite timere” (Mt 15, 27), Ele nos concederá, segundo nossas disposições, as graças necessárias para terminarmos a obra que nos foi confiada (doutrina essa confirmada pelo Doutor Angélico [Santo Tomás de Aquino; este título foi-lhe atribuído pelo Papa São Pio V]). Irmãos, por Maria, mãos à obra! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Salve Maria!” ---Terminada a leitura do comentário do nosso irmão Michel, podemos neste momento estar a pensar em que é que isto se pode relacionar com Santo Amaro e com a nossa situação… A resposta é simples, talvez até simples de mais: temos que começar definitivamente a fazer aquilo que temos que fazer, ou seja, temos que combater e alargar o Reino de Deus. O nosso compromisso é de fazer como Santo Amaro e agir prontamente ao chamamento que nos foi feito quando livremente nos comprometemos com a Militia Sanctae Mariae. Temos que, sem medos, com força e coragem, com determinação e vontade colocar os nossos talentos ao serviço de Deus… e dessa forma, e tal como o Papa Francisco nos diz [na Bula O Rosto da Misericórdia, para proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia] “deixemo-nos surpreender por Deus. Ele [que] nunca Se cansa de escancarar a porta do Seu coração, para repetir que nos ama e deseja partilhar connosco a sua vida”, tornando-nos, com a ajuda de Nossa Senhora, como que “eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor”. Que Nossa Senhora nos acompanhe… __ Filipe Amorim, Braga, 14 de janeiro de 2016, véspera de Santo Amaro, irmão de São Bento


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