MILITIA SANCTÆ MARIÆ Província de S. Nuno de Santa Maria - Portugal Capítulo de 21 de setembro de 2016
Leitura da Regra: CAPÍTULO IV DO SERVIÇO DE NOSSA SENHORA 1. Ninguém é um verdadeiro cavaleiro se não estiver pronto a sacrificar-se totalmente pela honra da sua Dama. A Dama dos cavaleiros da Ordem é a Bem – Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, e a honra de Nossa Senhora é a glória de Deus. A Ordem é sobre a terra, a título especial, a Corte da Santíssima Virgem, como os Anjos no Céu lhe são uma escolta gloriosa.
Comentário: Caros irmãos, Por sugestão do nosso irmão Paulo Morais, que hoje não se encontra entre nós, vou utilizar como ponto de partida para esta reflexão, um post feito no facebook pelo nosso irmão Kleber Batista de Barros, do preceptorado de S. Paulo no Brasil. Dizia ele: «Na Divina Comédia, Dante Alighieri profliga aqueles que viveram nesta Terra evitando tomar posições sobre os grandes confrontos de sua época. Com isso levaram uma vida insignificante, “sanza infamia e sanza lodo” (sem infâmia e sem louvor). Por isso, não mereceram ser acolhidos no Céu, e o próprio Inferno, os recebeu com desdém, mantendo-os no vestíbulo dos antros infernais. Encontrando-os aí, e vendo-os desprezados por todos, Virgílio aconselha a Dante: “Non ragioniam di lor ma guarda e passa” (Não percamos tempo com eles, olhe apenas e passe adiante). Esse é o desprezo que merecem os que, numa hora grave para a Religião e a Pátria, preferem não se engajar na luta, mantendo-se numa preguiçosa e ignóbil indiferença. (cf Inferno, Canto III, vv.34 e 49)» Este comentário do nosso irmão trouxe-me à memória recentes palavras do Papa Francisco, proferidas aos milhares de jovens participantes na JMJ 2016 realizada na Cracóvia, em pleno Santuário dedicado a São João Paulo II, o Papa da Família, que nos mandou «abrir as portas dos nossos corações», o Papa Francisco diz-nos que «Jesus envia. Ele, desde o início, deseja
que a Igreja esteja em saída, que vá pelo mundo», o que nos mostra desde um enorme contraste que assenta no facto de que «enquanto os discípulos fechavam as portas com medo, Jesus os enviava em missão; [Jesus] quer que se abram as portas e se saia para espalhar o perdão e a paz de Deus, com a força do Espírito Santo». E termina dizendo que «este chamamento é também para nós». Diz-nos ainda que, independentemente da nossa condição de consagrados [à vida sacerdotal, religiosa, ou de leigos], somos muitas vezes levados pela tentação muito grande de permanecer fechados, «por medo ou comodidade, em nós mesmos e nos nossos setores» esquecendo que «a direção indicada por Jesus é de sentido único: sair de nós mesmos», uma direção que se encontra patente no Evangelho que nos diz o Papa ser o «livro vivo da misericórdia de Deus que devemos ler e reler continuamente, [e que] ainda tem páginas em branco no final: permanece um livro aberto, que somos chamados a escrever com o mesmo estilo, isto é, cumprindo obras de misericórdia». É preciso notar que este envio, esta Igreja em Saída não é uma invenção do Papa Francisco. Desde o Antigo Testamento que somos confrontados com um constante envio: Deus sempre enviou alguém. Enviou Abraão quando lhe disse: «Deixa o teu país, a tua família e a casa de teu pai e vai para o país que te mostrarei» (Gn 12,1). No livro do Êxodo, Moisés ouviu a chamada «Vai! Eu te envio» (Ex 3,10). Enviou também os profetas: Ezequiel: «Filho do homem, Eu te envio aos filhos de Israel» (Ez 2,3), ou Jeremias: «Irás onde eu te enviar» (Jr 1,7). E Jesus, na pessoa dos seus discípulos enviou cada um de nós, cada cristão e cada comunidade na procura de um caminho, de um bom combate, convidando-nos a sair da nossa própria comodidade e ter a coragem de alcançar aquilo que hoje o Papa Francisco define como sendo «as periferias que precisam da luz do Evangelho». O papel do Cristão no mundo de hoje, longe de ser o papel do guerreiro agarrado à sua espada, a impor pela força da arma a Fé, é o de um dialogante sobre as verdades da fé e as questões fundamentais da vida humana. George Augustin, na sua obra "Por uma Igreja em saída", editado pela Paulinas Editora, referese à coragem para falar de Deus dizendo que «os cristãos corajosos devem estar dispostos a encetar com o mundo secular um diálogo intenso sobre os temas centrais da fé cristã. Aqui, não se trata de aspetos de segundo plano, mas das questões fundamentais da vida humana: qual é o sentido da vida? Donde vimos e para onde vamos? Porque é que o ser humano deve agir moralmente? O que é a liberdade e qual é o fundamento que possibilita a verdadeira liberdade? O que significam a redenção e a consumação? E a ressurreição e a vida eterna?» realçando sempre o papel de Deus, anunciando-o «como amor infinito» mostrando que onde «estiver Deus, aí haverá futuro, aí reinará a confiança». Diz-nos ainda este mesmo autor que a nossa principal missão e que nos foi encomendada por Jesus se decide nas perguntas: «Deus existe? Se a resposta for positiva: Quem é Deus? Como é? Como é que o ser humano pode experimentar o seu amor e misericórdia?» e conclui: «Se não dermos resposta a estas perguntas, não vale a pena fazer mais perguntas». Posto isto, relembro a todos que a nossa Regra, a Regra dos Cavaleiros de Santa Maria é também um apelo à SAÍDA… já por várias vezes fomos confrontados com a palavra COMBATE. aparece muitas vezes… Livremente decidimos aceitar este combate. Façamo-lo com a força e o vigor que Deus nos impõe, procurando responder da melhor forma possível à pergunta que o Papa Francisco nos lançou ao terminar a sua homilia aos jovens em Cracóvia: «Como são as
páginas do livro de cada um de vós? Estão escritas todos os dias? Estão escritas a meias? Estão em branco?» Que com a força do Espirito Santo e a intercessão da Virgem Maria, Rainha dos Anjos, nossa suserana, que tudo fez por Deus e por nós, possamos um dia dizer tal como S. Paulo, «Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor sua aparição (2Timóteo 4,6-8)». Que assim seja. __ Braga, 21 de setembro de 2016, O Provincial Filipe Amorim