#01 | 02.2012
ISSN 2182-4053
photography by Ana Catarina Pinho | Daniele Mattioli & Girolamo Marri | Davide Maione | Léo Delafontaine | Manuel Luís Cochofel | Salvi Danés | Stephane C.
#01 | 02.2012
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cover | capa © Davide Maione
Editorial 3
lomoville | life through plastic lenses UPTOWN | Manuel Luís Cochofel
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portfolios LES DISPARITIONS | Léo Delafontaine
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NOMADS | Ana Catarina Pinho
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PORTRAITS 2007-2009 | Davide Maione
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THEY NEVER ADOPTED THE NAME FOR THEMSELVES | Stephane C.
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THE GRAFT | Daniele Mattioli &Girolamo Marri
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multimedia DARK ISOLATION TOKYO | Salvi Danés
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About Flânerie distribution
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Colophon
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flânerie comes from the French verb flâner, which means “to stroll”. Charles Baudelaire developed a derived meaning of flâneur, that of “a person who walks the city in order to experience it”.
ISSN 2182-4053
flânerie do verbo francês flâner, significando passeio sem destino, deambulação, divagação. O hábito de vaguear pela cidade, sem objectivo preciso, atento a detalhes escondidos ou imperceptíveis aos olhos mais apressados. Baudelaire cunhou o termo flâneur como “a pessoa que caminha pela cidade de modo a experimentá-la, a vivenciá-la”.
Editorial FLÂNERIE | Possible Utopia
FLÂNERIE | Utopia possível
We are photographers - we live photography as something extraordinary, deliberate and consequent, allowing us to reflect on our role in contemporary society.
Somos fotógrafos - vivemos a fotografia como algo extraordinário, deliberado e consequente, que nos permite reflectir sobre o nosso papel na sociedade contemporânea.
We nurture daily the creative doubt that propels us towards a practice where divergent thinking prevails. We do not refuse the right to make mistakes. The door to random fortune is wide open. We believe in photography as a thoughtful and free practice, and as such, implicitly responsible. We know that photography is not dissociated from life and therefore we seize every opportunity to bring to life sensitive projects, designed on a human scale, which we should never lose from sight. We envisage FLÂNERIE as a project that reflects our experience of a mutating world, where the materiality of printed books now coexists alongside electronic publications. We like ‘ready-made’ art, ‘objets trouvés’ and committed readers so naturally, we have created a magazine that covers this territory and gives rise to our vision of utopia. As such, this collectable object is yours as much as it is ours. Because it is you, the readers, who will take this magazine on a stroll, between places you are attached to and others you traverse everyday thus becoming accomplices in its distribution.
Alimentamos diariamente a dúvida criativa que nos propulsiona no sentido de uma prática onde o pensamento divergente impera. Não recusamos o direito ao erro e abrimos, de par em par, as portas à possibilidade do acaso. Acreditamos na fotografia como uma prática reflectida e livre e, como tal, implicitamente responsável. Sabemos que a fotografia não se dissocia da vida e por isso arriscamos projectos sensíveis, desenhados a uma escala humana que nunca desejaremos perder de vista. Pensámos a FLÂNERIE como um projecto que espelha a nossa experiência de um mundo em plena mutação, onde a materialidade dos livros co-habita agora com a desmaterialização das publicações electrónicas. Gostamos de arte ‘ready-made’, de ‘objets trouvés’ e de leitores ‘engagés’ e, por isso mesmo, criamos uma revista tangente a esse território onde nascem as nossas utopias. Este objecto coleccionável é assim tanto nosso como vosso, pois sois vós, leitores, que farão esta revista deambular entre lugares de afeição ou do vosso quotidiano, tornando-se assim cúmplices na sua distribuição.
Susana Paiva
lomoville | life through plastic lenses
UPTOWN | Manuel LuĂs Cochofel
Cape Canaveral
Detroit
Memphis
Miami
UPTOWN* These images are the result of a work paralel to a greater one, which I made last summer during a 8000 km car trip, that lasted for three weeks, along the east coast of the United States of America. Due to that work, which involved small towns or places in that region, I inevitably had to cross and sometimes stay, in major cities.
Estas imagens são o resultado de um trabalho paralelo a um outro de maior envergadura, que realizei no verão passado durante uma viagem de carro de três semanas, ao longo de cerca de 8000 km, pelo lado oriental dos Estados Unidos da América. Por causa desse trabalho, que envolvia pequenas cidades ou locais nessa região, tive forçosamente de atravessar e por vezes ficar, em cidades maiores.
The appeal by the architecture of the cities, as an element wich shapes and restricts not only the pre-existing horizon, but also our way of life, is something that for me is unavoidable and has always been a matter of interest.
O apelo pela arquitectura das cidades, como elemento que molda e cinge não só o horizonte pré-existente, mas também o nosso modo de vida, é algo para mim incontornável e que sempre me interessou. Fotografando desde sempre com material analógico e realizando um percurso inverso ao das novas tecnologias, comecei pelo pequeno formato e hoje fotografo essencialmente com uma máquina de grande formato (4x5) e não possuo qualquer tipo de câmara fotográfica digital. No entanto, acabei por realizar a totalidade destas imagens com algo que me pareceria impensável utilizar, há alguns anos atrás: um telemóvel...
Always shooting with analogue material and making an inverted trip from the new technologies, I started with the 35mm format and nowadays I mainly use a large format camera (4x5) and do not own any kind of digital camera. However, I ended up shooting all these images with something that seemed unthinkable a few years ago: a mobile phone… Thus, this is the result of my short stay in cities like New York, Detroit, Memphis, New Orleans or Miami, equiped only with this small technological Swiss pocket knife that is now the mobile phone.
Este é pois o resultado dessa minha curta passagem por cidades como Nova Iorque, Detroit, Memphis, New Orleans ou Miami, e munido apenas desse pequeno canivete suiço tecnológico que é hoje o telemóvel.
* uptown and downtown are English terms that are believed to have been first used in New York. The first record of the word “downtown” appears in 1830 to designate the southern tip of Manhattan Island. The city grew north along the river, the only direction it could grow. Therefore, everything that was north of the small, original city was considered ‘uptown’ (upper Manhattan) and the original city, already a big business centre, was considered ‘downtown’ (lower Manhattan).
Manuel Luís Cochofel (translation by Beatriz Valle)
New Orleans
* uptown e downtown são termos ingleses que se pensa que tenham sido utilizados pela primeira vez em Nova Iorque. O primeiro registo de downtown aparece em 1830 para designar a ponta sul da ilha de Manhattan. À medida que a cidade cresceu, ela só o podia fazer para norte, subindo ao longo no rio. Assim, tudo o que se encontrasse a norte da pequena cidade original passou a ser ‘uptown’ (upper manhattan) e a cidade original, já então um grande centro de negócios, ‘downtown’ (lower Manhattan).
New York
www.cochofel.net/
portfolios
LES DISPARITIONS LĂŠo Delafontaine
Les Disparitions Pristina. The missing persons of the Kosovo war adorn the walls of the parliament. Slowly their image fades, like a second death.
Em Pristina. Os desaparecidos na guerra do Kosovo revestem as paredes do parlamento. Pouco a pouco a sua imagem apaga-se, como uma segunda desaparição.
Sevilha é, provavelmente, a cidade mais quente de Espanha, com temperaturas superiores aos 40º C durante a maior parte do verão. É também uma cidade turística, onde os locais evitam sair à rua durante a tarde. Apenas os turistas sedentos de monumentos o fazem. O final da tarde traz um equilíbrio entre locais e visitantes nas ruas, quando as temperaturas começam a ‘refrescar’. As pessoas refugiam-se na sombra, mas em alguns lugares não há abrigo. A caça começa.
Léo Delafontaine Léo Delafontaine was born in 1984. He lives and works in Paris. He graduated in photography (Paris 8 Saint-Denis) and French literature (Paris 10 Nanterre). He now devotes himself to documentary photography, without worrying about documenting. His photography focuses on contingent typologies and the contextualization of prerogatives. After a series in Texas, in Dubai as in Kosovo or Disneyland, he made a report curated by Les Photaumnales about the three monotheistic religions. The project was published in 2011, by Diaphane éditions, under the name “d’Abraham”, with texts by Christian Caujolle and Isy Morgensztern.
Léo Delafontaine nasceu em 1984. Vive e trabalha em Paris. Diplomado em Fotografia (Paris 8 Saint Denis) e em Literatura Francesa (Paris 10 Nanterre). Dedica-se actualmente à fotografia documental sem contudo se preocupar em documentar. A sua fotografia visa as tipologias contingentes bem como a contextualização das suas prerrogativas. Após ter realizado séries no Texas, Dubai, Kosovo e Disneylândia, efectuou, comissariado pelo Festival Photoaumnales uma reportagem sobre os três monoteísmos sendo o projecto publicado, em 2011, pelas éditions Diaphane, com textos de Christian Caujolle e Isy Morgensztern.
www.leodelafontaine.com
NOMADS | Ana Catarina Pinho
Nomads The search for something new or different implies the need to change. It doesn’t matter if it’s a positive or negative change, it will always be a shift on personal habits and routines. Nomads represent, visually and metaphorically, the relation between the search for a change and it’s inherent consequences. This photographic series translates the fine line between the search for a better future and the tough process of adaptation - by impersonating the classical portrait aesthetics - and its consequences - through the imperfection and disturbing details represented by the bruises on each model.
A busca de algo novo ou diferente implica uma mudança que, seja ela positiva ou negativa, representa uma alteração nos hábitos e rotinas pessoais. Nomads representa, visual e metaforicamente, uma possível relação entre a procura de mudança e as consequências que lhe estão adjacentes, por intermédio de uma série fotográfica que aproxima uma estética clássica de retrato à imperfeição expressa pelas marcas físicas dos retratados.
Ana Catarina Pinho 1983, Porto – Portugal. Professional documentary photographer. F i n i s h e d h e r M a st e r d e g re e o n Documentary Photography, in 2010, after taking her Degree in Fine Arts, in 2007. Founder of ARCHIVO, in 2011, where is currently working.
1983, Porto – Portugal. Fo t ó g ra fa p ro f i ss i o n a l n a á re a d o documental. Realizou, em 2010, um Mestrado em Fotografia Documental após ter finalizado, em 2007, o curso superior de Artes Plásticas. Fundou, em 2011, o ARCHIVO, onde trabalha actualmente.
www.anacatarinapinho.com
PORTRAITS 2007-2009 Davide Maione
Portraits 2007-2009 Only time can write a song that’s really really real. R. Hell
She came by an afternoon to see the house, it was early September, a sunny day and we were painting the walls. She was very young and I was about ten years older. We found out very soon that we had a lot in common. It was the evening we watched Vanishing Point that we discovered a similar taste for the vernacular kitsch and the mundane: Fast cars speeding through the landscape were a pure fantasy in which we could almost touch freedom. She left a year after. Sometime we write to each other and it’s always a good time. In that period I was photographing everyone who was around, as if I was seeking out something that I couldn’t see. Similarly, all these people have stories behind, but only time has revealed the real nature of the images. They depict friends and acquaintances that belonged to a period, some have stayed, others have gone, and these photographs perhaps are the vanishing point of our relationship.
Ela chegou num final de dia para ver a casa, no início de Setembro - um final de dia soalheiro, estávamos a pintar as paredes. Ela era muito nova e eu era cerca de dez anos mais velho. Cedo descobrimos que tinhamos muito em comum. Foi na noite em que vimos o Vanishing Point que descobrimos um gosto similar pelo kitsch vernacular e pelo mundano: carros rápidos a atravessar a paisagem eram uma pura fantasia, na qual quase podíamos tocar a liberdade. Ela partiu um ano depois. Às vezes trocamos correspondência e são sempre bons momentos. Nesse período eu fotografava toda a gente à minha volta, à medida que procurava algo que não conseguia ver. Na verdade, todas estas pessoas têm uma história por trás, mas apenas o tempo revelou a verdadeira natureza destas imagens. Elas mostram amigos e conhecidos que pertenceram a um certo período, alguns mantiveram-se, outros partiram, e estas imagens são talvez o ponto de desvanecimento da nossa relação.
Davide Maione Davide Maione was born in Casalpusterlengo - Milan, Italy. After relocating to London in his early twenties, in 2007 he graduated from a BA in Photographic Arts at the University of Westminster. In the same institute he completed an MA in Photographic Studies in 2011. Davide’s work has been exhibited internationally, including London, New York and St. Petersburg. He currently lives and works in London. Davide Maione nasceu em Casalpusterlengo Milão, Itália. Depois de se mudar para Londres por volta dos seus 20 anos, gradua-se em 2007 numa licenciatura em Artes Fotográficas na Universidade de Westminster. No mesmo instituto termina, em 2011, um mestrado em Estudos Fotográficos. O trabalho de Davide foi exibido internacionalmente em Londres, Nova Iorque e São Petersburgo, entre outras cidades. Actualmente vive e trabalha em Londres.
www.davidemaione.com
THEY NEVER ADOPTED THE NAME FOR THEMSELVES Stephane C.
One of the titles of Stephane C.’s photograph display describes a pathway into an ambiguous world. One could imagine this cycle has no beginning and no end. No matter where he is or what he does, Stephane C. is engaged in the haunting gesture that is photography. His goal is to extract the veil of uncertainty from things. As if the sum of appearances would show of the world only a fragmented and vague vision. Forever vibrant, alive. While these images do not reveal another world (it is definitely ours), the photographer attempts to bring its wounds and wrenches out in the open with touching sincerity. An extreme attempt to match, from a photographic point of view, real life with its double. As if hoping to turn day into night.
Amaury Da Cunha Um dos títulos de uma das fotografias de Stephane C. descreve um caminho para um mundo ambíguo. Poderíamos imaginar que este ciclo não tem um princípio nem um fim. Não interessa onde esteja ou o que faça, Stephane C. está envolvido no gesto assombroso que é a fotografia. O seu objectivo é o de remover o véu de incerteza das coisas. Como se a soma das aparências mostrasse do mundo apenas uma visão vaga e fragmentada. Sempre vibrante, viva. Embora estas imagens não revelem um outro mundo (é definitivamente o nosso), o fotógrafo tenta trazer à superfície as feridas e destroços desse mundo com uma sinceridade comovente. Uma tentativa extrema para juntar, de um ponto de vista fotográfico, a vida real com o seu duplo. Como se esperando conseguir transformar o dia em noite.
My photography is based on the idea that reality is an ambivalent structure, a mental frontier between things. An undefined border separating concrete and elusive fields, materiality and the invisible. It’s also a way to describe in a poetical way, our soul’s inner struggle between peace and animality, between light and darkness.
Stephane C. A minha fotografia é baseada na ideia de que a realidade é uma estrutura ambivalente, uma fronteira mental entre todas as coisas. Uma fronteira indefinida separando campos concretos elusivos, separando a materialidade e o invisível. É também uma forma de descrever, poeticamente, a luta interna da nossa alma entre a paz e a animalidade, entre a luz e a escuridão.
www.stephane-c.net
THE GRAFT Daniele Mattioli &Girolamo Marri
The Gratf The work attempts to portray the condition of the emigrant/immigrant and the process of settling in a new environment, made somehow more complex nowadays by global communication, which allows one to linger in between different cultures without ever making precise choices. This prolonged transition often gives birth to a sort of schizophrenia, a state of incoherence where one tries to absorb the local culture and customs, but at the same time refuses to give up his or her ancestral conduct, often ending up in a hybrid condition, unsatisfied and uncomfortable both with the country of origin and that of election. Bitter, tasteless or pretentious, like the fruit of an unsuccessful graft. Performance by Girolamo Marri Photographs by Daniele Mattioli O trabalho tenta retratar a condição do emigrante/imigrante e o processo de instalação num novo ambiente, que de alguma forma é tornado mais complexo pela comunicação global, a qual nos permite permanecer entre diferentes culturas sem nunca tomarmos decisões precisas. Esta transição prolongada dá muitas vezes azo a uma espécie de esquizofrenia, um estado de incoerência onde se tenta absorver a cultura e os costumes locais, mas ao mesmo tempo se recusa deixar para trás as condutas ancestrais, muitas vezes terminando numa condição híbrida, insatisfeito e desconfortável tanto com o país de origem como com o país de eleição. Amargo, insípido ou pretencioso, como o fruto de um enxerto falhado.
Daniele Mattiolli
Girolamo Marri
Born in Umbria, Italy, he started photography with some experiences in Toronto, Canada, and from 1992 in Vienna. He began frequent travel to the East and was based for five years in Sydney, Australia. From 2000 he started to work focusing in China and more precisely Shanghai, where after many assignments and features, he decided to relocate, in 2004.
Girolamo Marri was born in Rome in 1980 and was based in Belgium and the UK before moving to Shanghai, where he currently lives and works.
He has been represented by the Anzenberger Agency since 1992, and a 16-page printed portfolio of his work on Shanghai was published by the agency, in 2001, and the reportage on Chongqing featured in the Book East, edited in 2008. He is currently based in Shanghai but working in many locations in Asia, mainly under assignment to editorial, corporate and portrait projects. Nascido em Umbria, Itália, iniciou-se à fotografia a partir de experiências em Toronto, Canadá e, a partir de 1992, em Viena, Áustria. Começou a viajar frequentemente para Este, tendo residido durante 5 anos em Sidney, Austrália. A partir de 2000 focou o seu trabalho na China, mais precisamente em Shangai onde, após inúmeros trabalhos, se decidiu instalar, em 2004.
He uses many media in his practice, and tackles a variety of contingent subjects, although an interest in the ideas of “misunderstanding” and “miscommunication”, a sense of displacement and loss of identity, as well as a deliberate use of irony and humour, are common traits of most of his works. Girolamo Marri nasceu em Roma, em 1980, e viveu na Bélgica e no Reino Unido, antes de se mudar para Shangai, onde actualmente vive e trabalha. Utiliza uma grande variedade de Media no seu trabalho, e aborda uma variedade de assuntos contingentes, embora um interesse pelas noções de “mal-entendido” e “falta de comunicação”, um sentido de deslocamento e perda de identidade, bem como o uso deliberado de ironia e humor, sejam traços comuns à maioria dos seus trabalhos.
É representado pela agência Anzenberger desde 1992, tendo a agência publicado, em 2001, um portfolio de 16 páginas sobre o seu trabalho. A sua reportagem sobre Chongqing foi publicada no livro East, em 2008. Actualmente vive em Shangai mas trabalha em vários locais da Ásia, sobretudo em projectos editoriais, empresariais e de retrato.
www.danielemattioli.com www.girolamomarri.com
multimedia
DARK ISOLATION TOKYO Salvi Danés
DARK ISOLATION TOKYO There is an undeniable nucleus of initial interest, a question that from the occidental perspective is easy to think about. How does a society really live, each of its members, in a human and social organization which is apparently exemplary and with an enviable life-style? There is a feeling that despite enjoying all the comforts of a modern society, the inhabitants of Tokyo are far away from what was, conventionally, understood as an ideal of happiness. It is easy to find oneself isolated and alone among a crowd. Enjoying the comfort and economic safety is not a synonym of complete personal realization. A frenetic pace of life can ruin any personal initiative and any possibility of creative life. That can have a bearing on the personality of the individual and in their way of living and understanding the world, in their capacity of interrelation, in their own satisfaction, in their happiness, in their interior life, etc. It looks like if these behaviors were a consequence of the clash that is produced between the preservation of their cultural essence, their history and their identity and on the
other hand, a consequence of the incorporation of a new social model, which is highly technological and modern in all its aspects. From this clash, I could observe a dislocation of the people of this huge metropolis, as if they did not strike a balance between feeling isolated and alone among the crowd. To sum up, the paradox was solved in a manifestation of solitude, in a great distress, in a sensation of individual frustration. Was that possible to detect and turn it into images? A difficulty due to the fact that I had to face up a perception of a completely subjective and debatable reality. It is not easy to show the breathlessness of the Taboo, the passive attitude or the nightmare of routine. They are the attitudes, the behaviors, the personality, an introspective vision of difficult capture for its subtle and untactile quality. Thus, the photographic and plastic translation of this characterological and sociological singularity, which is the synthesis between the contemplation of life and the convulsion that the new social models impose compulsorily.
Há um inegável núcleo de interesse inicial, uma questão sobre a qual, a partir da perspectiva ocidental, é fácil pensar. De que forma vive realmente uma sociedade, cada um dos seus membros, numa organização humana e social que é aparentemente exemplar e que tem um estilo de vida invejável? Tem-se a sensação de que, apesar de desfrutarem de todos os confortos de uma sociedade moderna, os habitantes de Tóquio estão longe do que convencionalmente sempre se entendeu como o ideal de felicidade. É muito fácil encontrarmo-nos isolados e sozinhos no meio de uma multidão. Desfrutar do conforto e do desafogo económico não é um sinónimo de realização pessoal. Um ritmo de vida frenético pode arruinar qualquer tipo de iniciativa pessoal, qualquer possibilidade de ter uma vida criativa. E isso pode ter um peso significativo na personalidade do indivíduo e na sua forma de viver e entender o mundo, na sua capacidade de relacionamento, na sua satisfação pessoal, na sua felicidade, na sua vida interior, etc. É como se esses comportamentos fossem a consequência do choque que se produz entre a preservação da sua essência cultural, a sua história e
a sua identidade, e por outro lado, consequência também da incorporação de um novo modelo social, altamente moderno e tecnológico em todos os seus aspectos. Deste choque, pude observar um deslocamento das pessoas desta imensa metrópole, como se estas não conseguissem atingir um equilíbrio entre o sentirem-se isoladas e sozinhas entre a multidão. Este paradoxo parece resolvido numa manifestação de solidão, de grande aflição, numa sensação de frustração individual. Seria essa situação passível de ser detectada e transformada em imagens? Na realidade era difícil, uma vez que me confrontava com a percepção de uma realidade profundamente subjectiva e questionável. Não é fácil mostrar a irrespirabilidade do tabú, a atitude passiva do pesadelo que é a rotina. São as atitudes, os comportamentos, a personalidade, uma visão introspectiva difícil de capturar pelas suas qualidades subtis e não tacteáveis. Resulta assim a translação plástica e fotográfica desta singularidade sociológica e caracterológica, que é a síntese da contemplação da vida e da convulsão que os novos modelos sociais compulsivamente impõe.
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Salvi Danés My interest towards photography starts with the search for a means of physical expression that in turn is a means of representations of reality. Understood as a tool that adapts to the capture not only of the palpable and thus of the physic, but also of that which is intangible, of difficult capture due to its subtle and immediate nature, the capture of irrefutable moments in a concise way. Using a narrative tool to interpret and suggest through fractions of an own look. It is known that any means of expression, artistic or not, is also an introspective tool and of subsequent analysis of a content, usually more private than what the own creator thinks. In this sense, photography is able to establish a great degree of privacy, a narrow bond between the photographer, what s/he takes photos of and a possible spectator. This expressive dialogue is very attractive and suggestive, especially for the photographer or creator. The photograph gives you the basic tools to build, to capture scenes or ideas and give them a physical format. It is unquestionable that photography is
tied to an eagerness to discover, through the lens, a new world, sometimes very close to the real vision but sometimes closer to an imaginary personal world. It is a way of giving voice to those things that for any motive call our attention and of giving shape to this relation. For instance, landscapes do not exist by themselves, landscapes are an invention. Their interpretation asks for some eyes to observe and to value them, for somebody who shapes them visually and who gives them an aesthetic category. A photograph is never the exact evidence of the event, but the interpretation of the person who captures it and gives it significance. That possibility of creating stories is what really I am fond of photography. What I mean is the interest that the image has of the usurpation of reality, the interpretation of the reality and the recreation of a new world. Thinking that a world of images can “substitute” a real world is a utopia, but the function that the image has as echo of the reality contributes to create a new physical, magical and suggestive world. Besides,
photography achieves it in its highest degree, making it look like the model and paying tribute to it. Photography provides us, in the shape of echo, an extension of this model and it also gives us knowledge about this model beyond experience and independently from it. That is part of my thought about the possibilities of photography as a process of (re)creation and acknowledgment.
O meu interesse pela fotografia começa com a procura de um meio de expressão física, que, por sua vez, é um meio de representação da realidade. Interpretado como um instrumento que se adapta à captura não só do palpável e, consequentemente, do físico, mas também do que é imaterial, de difícil captura devido à sua natureza subtil e imediata, a captura de momentos irrefutáveis de uma forma concisa. Usando um instrumento narrativo para interpretar e sugerir através de fracções de um olhar próprio. É sabido que qualquer meio de expressão, artística ou não, é também um instrumento introspectivo e de análise imediata de um conteúdo, normalmente mais privado do que o próprio criador julga. Neste sentido, a fotografia permite estabelecer um elevado grau de privacidade, uma ligação estreita entre o fotógrafo, o que ele fotografa e um possível espectador. Este diálogo expressivo é bastante atractivo e sugestivo, especialmente para o fotógrafo ou criador. A fotografia dá-nos as ferramentas essenciais para construir, capturar acontecimentos ou ideias e dar-lhes um formato físico. A fotografia está inquestionavelmente ligada a uma vontade de descobrir, através da lente, um mundo novo, às vezes mais próximo da visão real, mas por vezes mais próximo de um mundo pessoal imaginário. É uma forma de dar voz àquelas coisas que, por qualquer
motivo, chamam a nossa atenção e de dar forma a esta relação. Por exemplo, as paisagens não existem sozinhas, as paisagens são uma invenção. A sua interpretação pede olhares que sejam observadores e que a valorizem, alguém que as molde visualmente e lhes atribua uma categoria estética. Uma fotografia nunca é a prova exacta do acontecimento, mas sim a interpretação da pessoa que o captura e lhe dá um sentido. A razão pela qual sou tão afeiçoado à fotografia é devido a essa possibilidade de criar histórias. Isto é, o interesse da imagem na usurpação da realidade, a interpretação da realidade e a recriação de um mundo novo. Pensar que um mundo de imagens pode “substituir” um mundo real é uma utopia, mas a função da imagem como eco da realidade contribui para criar um novo mundo que seja físico, mágico e sugestivo. Para além disso, a fotografia alcança esse mundo no seu grau mais elevado, fazendo-o parecer o modelo e prestando-lhe tributo. A fotografia proporciona-nos, na forma de um eco, uma extensão deste modelo, assim como conhecimento sobre ele para além da experiência e independentemente dela. Isso é parte da minha ideia sobre as possibilidades da fotografia como um processo de (re) criação e reconhecimento. (tradução de Beatriz Valle)
www.salvidanes.com
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#01 | 02.2012
Colophon Comments, questions and sub-
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ISSN | 2182-4053 editor | Susana Paiva, The Portfolio Project
authors | Ana Catarina Pinho, Daniele Mattioli & Girolamo Marri, Davide Maione, Léo Delafontaine, Manuel Luís Cochofel, Salvi Danés, Stephane C.
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editorial design | Luís Pinto
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cover image | Davide Maione
date | February 2012
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