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GUIA CULTURAL
from Flash Vip 100
by Flash Vip
As vidas imaginárias de Marcel Schwob
“Em todas as partes do mundo existem devotos de Marcel Schwob que constituem pequenas sociedades secretas”. J. L. Borges
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A“ s datas de 1867 e de 1905 abarcam sua vida”. Com essa frase, Jorge Luis Borges termina o seu breve texto em que apresenta a tradução argentina do Vidas Imaginárias, de Marcel Schwob. Resolvia assim, de forma direta, a apresentação deste curioso livro sobre vidas, mas que também poderia ser definido como um livro de leituras, uma obra sobre nossa relação com os livros. Apesar de Schwob ter tido relativo reconhecimento em seu tempo, Borges sabia que estava escrevendo sobre um autor desconhecido de seus contemporâneos.
Por isso, faria daquela apresentação, uma forma de criar seus próprios antecessores. Desde então, Schwob não só foi lido borgianamente, como grande parte das edições e traduções das Vidas Imaginárias passaram a vir acompanhadas com o texto do escritor argentino. Marcel Schwob nasceu em Chaville na França, de uma família culta de origem judaica. Seu pai, Isaac-Georges, além de proprietário de jornais, participou dos círculos parnasianos, inclusive, desenvolvendo amizade íntima com Flaubert. No entanto, a grande influência veio de seu tio, Léon Cahun, um erudito que se tornou famoso por escrever relatos de viagens e histórias do oriente. Ele viveu alguns anos sob tutela desse tio, imerso na coleção da célebre Biblioteca Mazarine em Paris, onde viajaria livremente entre as estantes, fascinado pelos livros de Julio Verne, traduzindo, ainda adolescente, a obra de Luciano de Samósata e estudando com afinco a filosofia de Schopenhauer. Essa formação inicial abriria as portas para os cursos de linguística com
Ferdinand Saussure sobre a fonética indo-europeia, ainda que, mantivesse, todos esses anos, trabalho constante na imprensa. Traduziu apaixonadamente e manteve contato com Robert L. Stevenson, ao ponto de, nos últimos anos de vida, ainda que doente, se lançasse em uma desesperada viagem em busca do túmulo do escritor escocês morto nas Ilhas Samoa. Desta viagem,
Schwob voltaria sem forças, entregue à morte, para ser enterrado em Paris.
Para viver de sua obra, Schwob encontrou seu lugar na imprensa, ocupando esse novo espaço possível para escritores profissionais, em narrativas cuja forma era indeterminada entre o conto e a crônica, cujos limites entre real e ficcional eram propositalmente imprecisos. Ao longo de 1894, começou a publicar nos jornais algumas histórias sobre “vidas de poetas, deuses, assassinos piratas, princesas e damas galantes”. Em 1896, organizou sob o título de Vies imaginaires relatos de 22 personagens e um interessante prefácio discutindo os limites da ciência histórica e a relação com a escrita biográfica. São textos curtos, baseados em fontes históricas e literárias, em que Schwob imprime sua narrativa particular sobre a vida de indivíduos como o poeta Lucrécio, a princesa Pocahontas, do herege Frate Dolcino e do pirata Capitão Kid. São histórias RICARDO MACHADO doutor em História, professor na UFFS e curador da Livraria Humana, em Chapecó. narradas como “brechas individuais e inimitáveis”, sem o interesse de impor lições morais ou tentativas de generalizações que visassem explicar contextos. Para ele, interessava narrar algumas extravagâncias, cujas.insignificâncias,.ainda que efêmeras, pudessem estimular a imaginação do leitor. Ao seu modo, o livro enfrentaria questões como: O que é uma vida? O que pode ser uma vida? Como ela pode se converter em literatura? Como articular historicamente a combinação entre imaginação, história, sonhos e mitificações? Nesse complexo jogo entre arte e história, ficção e realidade, o Vidas Imaginárias apresenta a defesa da biografia em sua dimensão poética e estética.
O mundo ficou completo
Nasce mais um clube de vinil, agora através da gravadora Universal Music.
NANDO SBRUZZI é publicitário, especialista em Merchandising, colecionador de lp's e cd's que embalam a trilha sonora da sua vida.
esde que presenciamos a volta do vinil, algumas revistas, selos ou gravadoras criaram o seu próprio D clube por assinatura, seja ele mensal ou anual, dependendo do seu gosto ou do seu bolso, disponibilizando discos relançados ou ainda inéditos no formato.
Um dos primeiros clubes a surgir na América Latina foi o Noize Record Club. Desde 2014, entrega aos seus assinantes discos históricos, como os de Gilberto Gil (1968) e Os Afro-Sambas (1968), além de edições que ganharam sua primeira versão em vinil, como o 9 luas d'Os Paralamas do Sucesso (1996), Dancê da Tulipa Ruiz (2015), Te amo Um dos mais recentes clubes lançados, foi lá fora (2022) e Sinto muito (2019) da da gravadora Universal Music. Com a curadoDuda Beat, entre outros artistas como ria de Charles Gavin, o ex-baterista dos Titãs, Milton Nascimento, Xenia França e traz uma pesquisa vasta considerando critéMarina Sena. rios artísticos e históricos de um dos acervos O projeto Três Selos nasceu em mais importantes da indústria fonográfica. 2018, com a junção dos selos Assustado O propósito do clube é resgatar álbuns emDiscos, EAEO Records e Goma Gringa blemáticos de diversos gêneros e vertentes. e começou a lançar um disco por mês a E a minha grata surpresa com esse novo partir de 2019. Em 2020, além de man- clube é o lançamento de um dos meus discos ter a assinatura, ampliou o catálogo e preferidos, Com você... meu mundo ficaria comdistribui para revendedores do Brasil e pleto da Cássia Eller (1999). A previsão é que do mundo. A assinatura conta com um neste mês de dezembro ele já esteja disponídisco em edição especial, com tiragem vel para a alegria de muitos colecionadores. limitada, vinil 180 gramas, luva gatefold Esse é o quinto álbum e o último de estúdio da empastada, encarte com 12 páginas e cantora, antes do seu falecimento em 2001. pôster exclusivo. O clássico O segundo sol, composição de NanO Vinil Brasil Clube possui uma do Reis, que também compôs as faixas Meu fábrica de discos de LPs, a Vinil Bra- mundo ficaria completo (com você), Infernal e sil, que está a todo vapor desde 2017, As coisas tão mais lindas, além de Palavras ao quando, após encontrar em um ferro vento de Marisa Monte e Moraes Moreira, velho paulistano as antigas prensas da feita especialmente para Cássia, estão nesgravadora Continental – uma das mais se álbum que ganhará uma versão em vinil importantes do País entre as décadas transparente. de 1940 e 1970 –, restaurou os equipamentos e começou a prensar os novos bolachões.
Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo
A desigualdade social, a política e a vida real do Brasil já foram temas de nossas mais variadas formas de arte.
Ocinema brasileiro retrata as verdades de seu povo com maestria reconhecida internacionalmente desde antes dos filmes incríveis de Glauber Rocha.
A música o faz desde antes das primeiras gravações nos discos de 78 rotações, quando a tradição musical era passada oralmente, de voz em voz, e o fez de maneira brilhante nos anos mais difíceis de nossa história política.
O Rap talvez seja a mais recente forma de arte musical a se destacar dedicada à crítica social, desde o seu nascimento nos EUA. Nenhum estilo mistura tão bem a política com a música.
A chegada do Rap ao Brasil é retratada de maneira emocionante e histórica no documentário original Netflix que narra a trajetória do grupo Racionais MC's, desde o seu surgimento nas favelas mais invisíveis de São Paulo na década de 1980.
Acompanhar o drama de quatro artistas negros sendo, por exemplo, presos durante seus shows, mesmo após o sucesso e os reflexos desses dramas na música brasileira, é emocionante e instrutivo.
A direção artística do filme e as imagens de arquivo utilizadas mostram um Brasil real que precisamos ver e rever, principalmente nos estados ricos do Sudeste e em cidades tão importantes econômica e politicamente, como Chapecó.
A história da luta do povo negro se mistura à história dos quatro rappers e elucida muito do que precisamos entender sobre desigualdade e democracia, se queremos uma sociedade mais justa.
Para além do assunto pesado e necessário, o documentário também é divertido e cheio de luz.
Se você ama música e
ELVIS PICOLOTTO é membro fundador do Núcleo de Estudos em Cinema da UPF e gerente de comunicação na Berenice Criativa.
acredita no cinema e na arte como motor para a liberdade democrática, precisa assistir Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo.
Escape Room
Um jogo real. Sim, real!
AFONSO WURZIUS administrador e sócio- proprietário do Puzzle Room Escape Game de Chapecó e do Board Game Chapecó. magine que você é um agente secreto e precisa investigar uma série de crimes, ou um pri-I sioneiro trancafiado em um dos presídios mais famosos do mundo, ou até que foi raptado por um lunático e agora está em um terrível cativeiro. Você e seus amigos são imersos e trancados naquele ambiente, todos com um único objetivo: escapar do local antes que o tempo acabe! Estas são as Escape Rooms, ou salas de fuga: cenários em que os participantes precisam procurar por pistas, resolver diversos enigmas e trabalhar juntos para obter sucesso na missão de escapar. Para alguns, isso pode até lembrar algumas cenas do filme Jogos Mortais, para outros, uma aventura em um mundo alternativo, como o de Sherlock Holmes. O Escape Room ou Escape Game surgiu no Japão, em 2007, de uma maneira inversa à evolução tecnológica, isto é, indo do videogame para o físico, diferentemente da maioria dos jogos eletrônicos. Nos anos 2010, a modalidade se espalhou pelo mundo e as salas foram evoluindo, contendo dispositivos eletrônicos que proporcionam várias surpresas para os jogadores, incluindo passagens secretas, enigmas autênticos e momentos “WOW!” – tudo isso para dar a eles a real sensação de estarem dentro de um jogo ou ou filme!
A modalidade conseguiu ganhar notoriedade até nos cinemas, com os filmes Escape Room (2019) e Escape Room 2: Tensão Máxima (2021), dando aos jogos uma visibilidade global. No Brasil, as salas chegaram em 2015 e hoje o país conta com mais de 45 empresas, totalizando mais de 220 temas diferentes.
Diversas comunidades relacionadas aos Escape Rooms surgiram, dentre elas o Escape The Roomers, que premia todo o ano os melhores jogos de fuga do mundo em diversas categorias. No Brasil podemos destacar o grupo catarinense @escapers_sc, criado em 2018 e que já jogou mais de 239 salas em todo o mundo. Yuri Tomaz, fundador da equipe, conta que a ideia surgiu com o intuito de encontrar jogadores de Escape Game que queriam jogar, mas tinham dificuldades em formar equipes. Hoje em dia, o propósito do grupo é continuar formando equipes para jogar em diferentes cidades do Brasil e divulgar cada vez mais o Escape Game, para que ele se torne cada vez mais popular.