Que História Conta a Sua História?

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QUE HISTÓRIA CONTA A SUA HISTÓRIA?



Pedalando a emoção de aprender sempre mais... Por Adriana Barros

Quase todos os dias, o menino magro, cabelos secos, louros, cacheados, olhos e sorriso encantadores. Quando pegava a bicicleta logo pulava em cima, seu coração já bailava em ritmo de frevo: sentava e levantava, colocava os pés pingados de suor e com suas mãos dominava seu corpo. Era um movimento delicioso: subia e descia fazendo com suas mãos curvas, retas, e com ela seguia. Que massa! Com muita vontade o garoto que morava naquela cidade do sertão despertou aprender a andar de bicicleta. Mas que emoção! E quando chegava da escola, nem se lembrava de almoçar, corria para a rua exercitar seu equilíbrio sobre as duas rodas e naquela rua de sua casa sem calçamento, asfalto ou coisa do tipo, tudo bem pacato sem trânsito. A rua tinha uma terra danada causando poeira, quando chovia logo vinha a lama terrível. Entretanto, não impedia o garoto cujo nome era Bucecleiton Paussini Pintolé, de fazer seus giros retos, circulares, quadrados entre outros desenhos, em aproveitar, aprender, sentir a emoção do vento sem se preocupar de parar seu gostoso movimento. Enfim, deixando as marcas das suas freadas no chão. no vai e vem da bicicleta que transitava, driblava até a bola que lá no meio da rua estava. Garoto nordestino, Bucecleiton Paussini Pintolé, todavia não gostava de seu nome ficava chateado “pra porra”. É de lascar! Imagine na escola, o professor quando chamava-o dizendo todim seu nome? Além disso, Pintolé era um pouco rebelde, pouco falava, bastante aventureiro, pedalando e cantando seguia rua abaixo e rua acima seja na lama, no sol quente da peste, na chuva. Não foi fácil, entretanto sua vontade era tamanha que foi rápido aprendeu e em poucos dias já estava andando em cima do fio. Apenas com os pés pedalando e seus braços fazendo asas de avião. De novo em cima dela que massa! Dominou bem, Bucecleiton, às vezes, pensava que a bicicleta fosse um skate e nas descidas aproveitava para criar essa nova ideia. E fazia sem medo algum. Quase que não caia. Equilibrado. Seguro. Em certo momento, deu vontade de subir no muro de sua casa para pedalar com apenas um pé só e isso foi uma dose de preocupação dos amigos que assistiam aquela cena doideira! Mesmo assim, eles ajudaram Pintolé a colocar a bicicleta colorida, arranhada, amassada e de pneus gastos, que tinha dois pequenos adesivos: um com a bandeira do estado de Pernambuco bem na frente e o outro adesivo colado ao lado do pneu traseiro com palavras “pedalar é arte”.


Lá estava ele, sem medo, desafiando o muro de aproximadamente três metros de altura. Pedalando naquela parede alta e seus amigos fazendo público duvidando da sua coragem, esforço, pois iria trilhar usando apenas um pé. Acontecia o movimento e todos de pé sem picar os olhos para olhar o danado do Bucecleiton realizando sua vontade de pedalar. Pedalando sim. Muito, até mesmo em cima do muro. Agora só falta mesmo Bucecleiton pedalar para subir a Pedra do Claranã.


Tecer Folhas Por Malu Siquieira

Era domingo. Dia como qualquer outro. Com cheiro de missa matinal. Era 12 ou 13 de um ano aparentemente comum. As lágrimas bordaram o vaso. 12 ou 13 parecia um dia bom. Vi as pernas balançando bem a cima do túmulo do meu cemitério interior. Eu tinha um alfabeto inteiro incompleto a minha frente em cursiva e caixa alta. O peso de não ter todas as letras inutilizava meu braço e a grafia canhota não era legível. Ela estava lá, ainda inútil. A ponta. Que ponta? Percorria o largo lago que nem existia. Descobri: borboletas mortas fazem sentir o que não tem sentido. E, entender como parei meu batimento cardíaco pela vontade de morrer foi deliciosamente assustador. Já passava de 15 e o peito ainda doía, pois, bombeava só para cabeça. Doía por que a cabeça precisava das mãos. Doía por uma delas não saber escrever e a outra, sozinha não podia. Existir antes daquilo era possível, depois não. A voz não deixava. A mesma voz que fala na sua cabeça agora. Essa. Que te deixa louco ou poeta. Ou, ou... Louco poeta. Ela fala na velocidade da luz, pesando o corpo, mesmo se você correr. Lá vai eu, gozar o quanto bonito é solidão. Assim eu crio. Ontem mesmo era dia de tecer as folhas dos galhos encadernados, mas, eu, não havia bebido. Era hora de cuspir. Não se cospe só por cuspir. Na verdade, às vezes, sim. Só não tem o mesmo efeito. Quando voltei a olhar o calendário havia passado muito tempo. Não tanto. Em um largo de oito anos lidos. Pulei da lírica incalculável mantendo meu próprio limbo, regado a lágrimas inclassificáveis. Encontro a curva da volta para onde não quero voltar, quero ir. Ir no rabisco torto não caligrafado. Continuar indo no fim da estrada. Por que o fim é o começo do meio e na folha sempre há espaço para riscar. Se não há folha, risca o vento no tempo que o vento dá. Estar aqui é saber do pedaço do mundo sem fim. Vir até aqui é andar na infinita métrica torta invisível, cartionizando o espaço em infinitas dimensões. Literializar, literar, literir, liter e. Fui. Vim. Mantendo-me em movimento parado no paralelo do li.


Novo antigo amigo Por Luana Costa

O encontro com a realidade pode ser algo angustiante, perturbador e cruel, nos acertando com um soco forte no estômago fazendo o ar se esvair dos pulmões por segundos que parecem ser uma eternidade. Assim se deu com ela, deitada naquele piso de azulejos antigos com desenhos em forma de pingos caídos nas cores vermelho e amarelo, sentindo o frio vindo dos azulejos misturar-se aos espasmos do seu corpo, e suas lágrimas escorridas em cascatas pelo rosto, formando uma pequena poça na cavidade de seu ouvido e depois caindo no chão; fazendo-os nesse momento tornar-se parte um do outro, ela a receber o frio do chão, ele a receber suas lagrimas quentes. Aquela cena repetiria- se tantas vezes nos próximos meses que ficariam tão íntimos a ponto dele ser seu refúgio nas horas mais obscuras. Foi ele o primeiro a saber de sua descoberta, ou melhor, confirmação do que já sabia desde aquela noite de gozo em meio ao embaçado da embriagues. Quando vestiu sua roupa e pegou o caminho de volta para casa, era-lhe nítido que seus planos de vida cairiam por terra, e todos os acontecimentos dos dois meses e meio seguintes seriam uma puta de uma confirmação. Os enjoos matinais tirando do seu paladar o gosto do alimento, o pesar das pálpebras trazida pelos sonos sem fim, o desmaio da semana anterior vindo com um buraco negro transportado de lugar nenhum, e aquele exato momento que levantará de sua cama de pinheiro, arrastara-se para o banheiro e no meio do percurso petrificou-se ao sentir a queimação em brasa percorrer sua mama, dai lentamente levantou sua mão trêmula até ela e apertou-a como se tirasse leite de uma vaca, vendo assim sair pelo bico do seu peito o quase nada de um liquido claro, aquela cena transcorrida em câmera lenta lhe deu mais medo que filme de terror, suas pernas perderam a força como quando um fio de alta tensão rompe e tudo se apaga, sendo amparada por seu antigo amigo, o chão. Agora ali sentindo-se perdida, uma súplica que é quase um prece forma-se em sua cabeça, pediu para seu coração parar de bater, o cessar de sua respiração, pois tudo em si gritava que não seria capaz de enfrentar o que estaria por vir. Como encarar a face daquela que lhe deu a vida? Inúmeros foram os berros ao seu ouvido para que não cometesse aquele erro e pisara feio na bola. E ela que não aceitava a si própria, como aceitaria um ser feito pelo seu ser?


Do infortúnio de não ser um filho de Kripton Por Alan Samuel

O gesso coçava como quatrocentos diabos, era uma agonia de ver e de sentir. Lá estava o gesso que coçava. O gesso tinha um menino dentro, na verdade era só o braço do menino dentro do gesso, mas era tão pequeno que dava a impressão de ser mais gesso do que menino se coçando. De fato foi necessário muito gesso pra imobilizar a danação. O que quebrou mesmo foi só a clavícula – as clavículas são esses cabides que a gente tem entre o pescoço e as costelas – mas o que coçava era tudo; era uma coceira no gesso que tinha um menino dentro se coçando. Era um menino de muitas meninices, muito meninado, meninoso mesmo! E entre as meninações que meninava, meninou de balançar numa rede feito o superman – Ora, e onde já se viu o superman se balançando de rede? Só sendo menino mesmo pra inventar uma ‘arrumação’ dessas! Menino tem parte com o d’jabo – Mas o menino balançou e balançou até as telhas virarem parede e a parede virar chão; fazia coisa que nem o superman fazia, voara de ré. Não tinha mãe?! Tinha, tinha mãe sim, mas ela trabalhava como professora e não estava em casa. Fosse sábado e queria ver menino com essas meninanças! A mãe nunca que ia deixar menino voar de rede: “Deixa de danação menino! Tu cai e quebra a cabeça, atentado!” Mas o menino não quebrou a cabeça, quebrou foi o cabide da clavícula quando o chão virou chão e deu uma chãozada nele. Fosse o superman tinha era quebrado aquele chão Lex Luthor, mas como era só menino meninando o chão é que quebrou ele. E remédio pra menino quebrado é gesso e coceira.


Dona de si Por Amanda Rodrigues

Uma menina de 15 anos. Alegre, sorriso fácil. Adorava ir para a escola, encontrar suas amigas e colegas. Tinha muitas paqueras, adorava flertar. Era vaidosa, gostava de sair com as amigas...enfim, era uma menina alto astral, incomodava algumas pessoas com seu jeito espontâneo de ser. O que de fato essas pessoas não sabiam é que essa menina alegre e divertida era outra pessoa quando chegava em casa: era triste e calada, trancada em seu quarto, chorava muito ao olhar para o rosto daquele homem que lhe causava vários sentimentos, raiva, ódio, e nojo. Como pudera alguém ser tão asqueroso e escroto? Este homem era o esposo da sua mãe. A menina ama sua mãe, tem uma mistura de amor e carinho. O que a mãe não entendia era o porquê da sua filha não gostar do seu marido. Ao sentar-se na mesa para fazer as refeições do dia, a menina se fechava, mal abria a boca, falava sequer uma palavra. Passaram-se uns dias e sua mãe deparou-se com uma cena: a filha e o esposo discutindo, gritando, jogando palavras de baixo calão um contra o outro. A mãe perguntou o porquê daquela briga e a menina então disse para a mãe que o esposo dela estava olhando ela enquanto trocava de roupa e lhe disse que isso não era a primeira vez que acontecia. A mãe ficou abismada com o que o ouviu e viu. O marido lógico negou tudo e que disse que a menina estava louca. A mãe ficou do lado da filha e de fato acreditou no que ela havia lhe contado, pois a mesma já vinha observando o comportamento do esposo. Depois desse episódio, a menina resolveu enfrentar aquele monstro que se dava o nome de pai, padrasto e bom esposo. A menina que, aparentemente parecia frágil, mas na verdade dentro dela existia uma grande mulher, enfrentou cara a cara, olho no olho aquele homem e disse que se ele não parasse com os assédios iria denunciá-lo e assim ela fez. O homem ficou horrorizado com o que saía da boca da menina, ele se desmontou, não soube o que dizer. A postura da menina calada, cabisbaixa tomou voz e tirou forças de onde achava que não tinha, cumpriu seu papel, não se calou diante do homem que lhe assediou. Esta menina hoje é uma mulher, me chamo Amanda, hoje tenho 23 anos, não se me calei na adolescência e não se calarei nunca mais. Sou dona de mim, tenho um corpo e um nome que me pertencem. Amanda Rodrigues, Presente!


Ter medo e para os fracos os fortes transbordam: Vencer o medo de minha mãe Por Ana Paula

A mãe de Emmille é uma senhorinha mais ou menos de 70 anos de idade, morena, baixinha gênio forte, magra, cabelos curto (na verdade corte Joãozinho) uma veinha braba e rabugenta da zona rural de Bodocó nascida e criada na região por sua mãe indígena. Não teve muito contato com as evoluções do mundo, casou-se aos 30 separou-se aos 30 e meio, deu a luz a uma filha unigênita. Criou-a com grandes dificuldades e trabalhava para sustentá-la sozinha... Mas isso não foi o bastante e ela resolveu adotar mais dois: um menino e uma menina: Erivaldo e Emmille. Para a senhorinha seus filhos tinham que seguir suas regras e viver no mundo dela, gostar do que ela gostava, fazer o que ela fazia, curtir um brega e não sair nem na calçada. Por ver como sua mãe era, Emmille cresceu com medo de tudo. A ignorância da mãe sempre foi um fato amedrontador ela nunca levou namorado em casa nem mesmo pediu a mãe para sair à noite, ir a uma festa. Por muito tempo a garota, hoje uma mulher de 20 anos, baixinha, gordinha de cabelos crespos e miopia 10,5, viveu com medo, medo de sair, medo de falar, de se comportar diferente, medo de amar, de brincar, de cantar... medo de tudo. Na verdade, era um trauma e vencer esse monstro criado por ela mesma ia ser um obstáculo em sua vida. Mas ela cresceu e queria conhecer o mundo, o problema era como fazer isso se não conseguia nem ir a uma festa, vestir um vestido preto curto, beber um porre e tomar um baseado. É isso mesmo, Emmille tinha 20 anos e falava “tomar um baseado” se ela tivesse vida própria, vida social, saberia que baseado não se toma (risos)... mas enfim ela tinha que escolher vencer o medo da mãe ou se fechar de vez e adivinha o que ela fez? Pois se fechou para o mundo que ela queria viver, trancou-se no quarto, virou a ovelha negra para si mesma, mutilou-se, chorou e todas as noites desejava que a morte chegasse. Por muito tempo suas companhias foram seus fones de ouvido, seu caderno e seu filho Eduardh um gato preto de mais ou menos 04 meses de idade, olhos verdes, o bichinho mais carinhoso que ela já teve. Passou-se o tempo e ela foi mudando, se descobrindo, saindo escondido, conhecendo um tiquim do mundo, se ferindo, caindo, levantando, vivendo... Olha só! Ela tomou o porre e não aprovou a experiência, mas aquilo era novo e tudo que era novo lhe chamava atenção. Conheceu festas, o Rock, a arte, as linhas de um caderno, os livros e o melhor colocou um pirceng no nariz, quase morreu, não pela dor, mas por medo da mãe descobrir, por sorte a senhorinha tinha a vista meio ruim e demorou uns dias para notar mesmo assim notou e foi briga por cima de briga, mas Emmille sobreviveu e chegou a vez da garota viver, viver o que queria o que gostava, o medo ainda era presente não mais 100% acho que


uns 90% evolução? (risos) mas sabia que os 90% iam chegar e no decorrer da vida ela conheceu pessoas descobriu o que ela queria e o que há faria feliz. E lá foi ela: viveu, amou, cresceu e se fortaleceu, mesmo assim sabia que teria que conversar com sua mãe sobre suas opções e suas escolhas, vieram-se os dias, passaram-se os anos e quando ela menos esperava em uma manhã de segunda-feira, para ser mais exata dia dois de outubro de 2007, conheceu uma garota chamada Sophia. Uma moça meiga, que de inicio se mostrou a mais carinhosa, uma baixinha de 18 anos (e o melhor ela amava baixinhas), cabelos nos ombros totalmente encaracolados, olhos castanhos escuros. Sophia era uma mistura de tudo que Emmille gostava, o sorriso mais lindo que ela já poderia ter se deparado. Emmille entrou em êxtase e tudo que ela poderia pensar era como desejava Sophia ao seu lado. Por dias elas conversaram se conheceram, começaram um relacionamento o mais feliz e conturbado de todos, mas isso não foi empecilho para que elas vivessem a paixão... Então Emmille mudou tudo em si para viver para as duas. Fez-se casa para Sophia, virou-se aconchego e transformou-se em amor, percebeu que aquela moca era seu amor épico e de todas as coisas na face terrestre Sophia literalmente era seus 90%... Dessa vez novamente ela teria que escolher seu medo ou ser feliz? Pela primeira vez ela escolheu o certo, o amor... Enfrentaram um relacionamento difícil, conturbado, pais preconceituosos, vizinhos fofoqueiros, cidade pequena tudo se espalha. E agora Sophia precisou da doce Emmille, algo havia saído do controle e ela não tinha para onde ir. Os 90% de Emmille acabaram de chegar assim do nada sem esperar e ela não pensou duas vezes para dizer para sua amada que ela estava do seu lado: “estou aqui e você tem sim para onde ir”. Naquele momento sabia que teria que enfrentar a sua veinha braba, os velhos de Sophia e o mundo, se preciso fosse... Imediatamente ela foi para cidade buscar Sophia, no caminho o texto se formava na sua mente o discurso que iria falar para sua mãe, buscou sua amada e a levou para casa, isso era plena terça feira 05 de dezembro. Na volta, cada vez mais seu coração apertava e as palavras fugiam da mente. Pediu coragem aos anjos, santos, entidades, orixás e tudo que veio a mente. O pior de tudo é lembrar que fora o medo da mãe, Emmile também tinha medo de entidades e tudo que envolva almas ou mortos. Enfim, chegou em casa parou o veículo em frente a porta ela nem se lembra como subiu a calçada já que suas pernas tremiam muito. O coração nem se fala só tinha batido tão rápido assim por Sophia ou se estivesse tendo uma parada cardíaca e nem sabia mais o que era, mesmo assim desceu e foi ao encontro de sua mãe que estava sozinha regando umas plantas. Dirigiu-se a ela e segurando uma na mão da outra Emmille e Sophia foram em busca da felicidade, e a libertação do medo. Emmilie perguntou “fazendo o que veia?”, querendo disfarça o medo. Falaram sobre muitas coisas, mas tinha que ir logo ao assunto e ela foi...


Contou tudo que havia entre elas, seus desejos, sonhos e que a garota no caso seu amor precisava passar uns tempos na sua casa... O silêncio foi terrorista... Brigaram um pouco como de costume e por fim sua mãe falou que a escolha era dela, passaram alguns dias e o clima foi super tenso na sua casa a mãe de Emmille não se comunicava com nenhuma das duas, era algo horrível Emmille se sentia horrível, triste por sua mãe e feliz por estar ao lado de seu amor, mesmo assim lutaram e venceram a cara feia da mãe de Emmille, superaram e hoje o medo foi vencido. A senhorinha braba hoje já se comunica com elas, formaram uma família e mesmo ela sendo ranzinza apoia as duas na sua casa. A mãe de Emmille se tornou também mãe de Sophia.


Ensaio Por Daniele Carvalho

Tudo deu início em um dia qualquer, desses que a gente sente que está vivendo o mesmo dia todos os dias, mas esse tinha alguma coisa diferente. Ela acordou às 6:00 com o barulho da avó batendo na janela do quarto. “Acorda, menina! Já tá na hora”. Aquela velhinha que não tinha cabelos brancos era o despertador toda as malditas manhãs. Deu um pulo da cama, não tinha o costume de tomar banho, então escovou os dentes, usou a mesma farda suja que usava todos os dias, pegou o busão e foi para a escola. Ela tinha o sonho de descobrir qual era o seu sonho em relação à profissão, procurava, desejava... Nesse dia, recebeu o convite da diretora da escola para fazer uma peça teatral...a partir daquele dia deu a louca foi nela, ela se perdia e se achava dentro do longo vestido vermelho rodado e com as suas longas tranças de Rapunzel, se divertia no som de: “Oh, Romeu”, aquele mesmo que seus colegas diziam que parecia estar chamando um gato “chani, chani, chaninha”. Foi mágico. As luzes acesas, a respiração ofegante, o chão, os pés descalços. Confundiu o verde com o vermelho, as mãos suavam sem parar. Parecia que ela tinha mesmo nascido para aquilo. Foi um encontro, ela se encontrou com o sonhado sonho. Teve sede, não de água, mas de um líquido, não, não líquido, mas da sensação de êxtase que o teatro lhe causava. O tempo passou, mudanças vieram, mudou de cidade inclusive. O desejo tornou-se distante, apagaram-se as luzes, a platéia se foi, restou apenas o frio na barriga que todo ator sente véspera à subida ao palco. A situação ficou difícil, o ar pesou, a solidão nessa vasta imensidão. Na cidade nova, conhecia apenas uma ex-cunhada e Helena, que a reaproximou ao teatro. Para sorte havia um palco repleto de luzes à dez minutos de sua casa. Ansiava novamente, mas dessa vez havia algo diferente no ser que a possuía, corpo, fala, emoções, tudo que envolvia o processo de descobrimento. Certificou-se: conseguiria tudo. O amor pela dramaturgia misturou-se com o sangue O+ escorrendo por suas veias. Se soubesse que chamar gatos lhe proporcionaria milhões de vivências, certamente teria iniciado logo após a saída do útero. Agora luta contra a preguiça que tem para estudar. A parte de exatas vai chutar, uma única letra, ouviu dizer que não há chances de zerar, essa gente de humanas é tudo da mesma laia ...vai prestar vestibular para teatro, vai passar ela sente. E se não passar, vai morrer tentando ou chutando.


Quando te vi Por Eridian Miranda

Um dia de sol, passeio ao shopping, pessoas em busca pela vida, pela liberdade, pela felicidade. Olhares, coração saltando pela boca. Encontrei você, doce amor, doce querer. Mal sabia eu, as barreiras que teria que enfrentar. Conheci meu verdadeiro amor, um momento difícil, por ele já ser comprometido, um amor puro, impactante, um amor impossível por parte dos nossos familiares que não admitiam aquela união. Porém, para o amor não existem fronteiras. Vencemos os obstáculos e nos tornamos “um”. Você meu querido, sempre será a minha melhor escolha, você sempre será minha doce saudade, a presença esperada, a alegria do meu viver. Quando me sinto só, te faço mais presente, eu fecho os meus olhos e enxergo sempre a gente, em questão de segundos voo para o outro lado do mundo, outra dimensão, não dá pra explicar, ao ver você chegando, qual é a sensação. O amor é o que prevalece em nossas vidas, é soberano sobre todos os sentimentos e tem todo o poder, que sempre será maior que qualquer força contraria que surgir. VENCEMOS!


MINHA TRAJETÓRIA DE VIDA ESCOLAR Por Francisca Queiroz

Nasci numa família muito humilde, cresci entre sete irmãos e quase todos tinham uma diferença mínima de idade. Meus pais eram pessoas bastante batalhadoras, trabalhavam na agricultura para nos dar o sustento necessário da nossa vida como: alimentação, roupa, escola etc. E apesar deles não terem quase estudos, valorizavam muito e nos incentivaram a estudar para que no futuro tivéssemos uma vida melhor. Devido a tantas lutas meus pais tinham um desejo de verem seus filhos formados. A partir disso eu com apenas nove anos de idade juntamente com meus irmãos enfrentamos muitas dificuldade para seguirmos nossos estudos, andávamos quase 6 km por dia para irmos à escola. E assim passávamos alguns anos nessa mesma rotina. Porém depois de algum tempo aconteceu um fato inesperado que fez com que nós perdêssemos um ano de escola, o fato aconteceu com minha irmã mais velha. Certo dia, quando ela vinha da escola, foi surpreendida por um individuo armado que quase tirou a vida dela. Devido esse triste ocorrido nós ficarmos todos apavorados e não conseguimos mais terminar o ano de escola, eu e mais duas irmãs já estávamos terminando o ensino fundamental II. Depois de algum tempo superamos esse terrível acontecimento e seguimos em frente com nossos estudos. Após quase três anos no último ano do ensino médio, eu estava próximo de me formar aconteceu outro fato terrível, meu pai sofreu um grave acidente de carro, mas graças a Deus ele não morreu, mas infelizmente foi algo muito forte que impediu a minha tão sonhada formatura. Mais uma vez, depois de certo tempo, tudo ficou bem e eu consegui me formar no ano de 1999. Foi um ano de muitas alegrias tanto para mim quanto para meus pais que queriam muito ter seus filhos formados. Depois dessa formatura eu queria continuar estudando, mas infelizmente eu não podia mais estudar porque só tinha estudo pago e meus pais não tinham condições para pagar a faculdade. Eu ainda tentei arrumar um emprego para ganhar dinheiro e poder pagar minha tão sonhada faculdade, mas devido as condições financeiras que se encontravam meus pais eu não poderia abandoná-los e investir na minha faculdade, porque eles eram o patrimônio mais importante na minha vida. O tempo foi passando e em agosto de 2014 aconteceu algo muito bom, fiz o vestibular da UPE e para minha alegria passei. Fiquei muito feliz, no mesmo ano de 2014 iniciei a minha faculdade de LETRAS, a qual me ensinou e me fez aprender muitas coisas, não só a ler, escrever, produzir, mas também a interpretar e entende muitas coisas da vida.


Meu calo é a escrita Por Grassinha Barbosa

No inicio, foi por não ter o que fazer com as horas vagas . Fiz a primeira experiência com a escrita e até hoje continuo. Falar, eu até falo, mas escrever, só cópia! Acho que ainda não tenho repertório suficiente para produção literária, ou talvez porque nunca me sentei e me obriguei a escrever. É que também fico muito preocupada se tem coerência, coesão, coração ! Me preocupo tanto com a escrita das palavras que o texto perde o sentido, a história fica travada entre o medo de escrever e a organização do texto . Tentar escrever tem me ajudado muito, mas ainda não foi o suficiente para que as palavras que guardo dentro de mim saiam para o papel e ganhem vida . Escrever é não ter medo de regurgitar o que engolimos ao longo da vida e não ter medo de despir o que vestimos diariamente, expor no papel sem temer o ridículo que nos sufoca e grita para o mundo.


A esquina da felicidade Ítalo Gustavo

Era num dia de segunda-feira, um menino de pele morena, de cabelos crespos, um pouco baixo e descalço, tinha seis anos de idade. Foi mandado pela mãe ir ao pequeno mercado que tinha perto de onde ele morava. A caminho do mercado, ele avista um grupo de homens conversando e, uma esquina, dando várias gargalhadas. Quando ele se aproximou viu que um desses homens era seu pai, um homem alto mediano que aparentava já ter seus quarenta anos. O menino foi correndo ao mercado, voltou e deixou as compras em cima da mesa, foi embora sem dar satisfação nenhuma a sua mãe, se as compras estavam certas ou não... quem sabe ia até apanhar quando voltasse porque saiu sem falar pra onde estava indo. Mas o menino foi. Corria tão ligeiro que sua boca ficava seca pedindo água e o coração acelerado. Chegando lá na esquina, cansado, nem quis sentar, ficou em pé mesmo, nervoso, com aquela insegurança, pensando negativo que nada iria dar certo. Mas foi bem o contrário, o momento foi bem feliz, um conhecendo o outro. Aquele entrosamento foi muito lindo o filho conhecendo o pai, mas o tempo não foi suficiente para se conhecerem melhor. O menino voltou para casa correndo porque já estava anoitecendo, não deu tempo de dar tchau. Chegando em casa a mãe bem irônica já esperava na calçada, sentada a espera com um cigarro entre os dedos e muita raiva. Perguntou ao filho o porquê da demora e pra onde ele tinha ido, com quem... mas o menino ficava de cabeça baixa. O filho estava com medo de falar pra onde tinha ido, foi para o quarto tirou a roupa, passou a toalha pelo corpo e foi para o banheiro tomar banho, sua mãe insistia querendo saber pra onde ele tinha ido. Quando terminou de tomar banho falou uma mentira dizendo que saiu para a casa de um amigo colega de aula, a mãe dele já com a cabeça quente não perguntou mais. Pensativo ficou o menino, foi para o quarto colocou seu pijama no seu corpo e foi dormir. No próximo dia foi para a escola, tinha seus amigos de confiança por lá, mas não falou para nenhum amigo que ele tinha conhecido o pai. Saindo da escola indo para casa, chegando cansado da escola decidiu falar toda a verdade para a mãe, disse como tudo aconteceu, surpresa, a mãe não falou nada, só observava o filho a contar o acontecido, alguns dias depois a mãe voltou a falar com ele, perguntando como foi ao chegar até o pai, o filho olhando para a mãe. Ele falou que ficou nervoso. com medo de ser ignorado pelo pai, a mãe toda curiosa olhando para ele prestando atenção em tudo o que o filho contava sobre o pai. A partir daquele momento. Foi uma experiência muito grande contar a verdade toda para a mãe, mas a experiência maior mesmo foi estar em frente ao pai, uma pessoa com quem nunca tinha conversado. A vida mudou radicalmente e hoje se dá muito bem com o pai e a mãe do menino ficou feliz ao ver o pai junto com o filho.



Ritualisticamente Ação Jânio Marques

Era sábado, passara a manhã inteira dialogando com seu cabelo, talvez se arrependesse da tinta usada há mais de um ano que insistia em permanecer nas pontas dos cachos danificados. O jeito foi prender com dois grampos os fios que insistiam, quase que por birra, a permanecerem assanhados. A maquiagem planejada não aconteceu, ia ao “natural”, “sem filtro” como falam. Aliás, tudo estava planejadamente dando errado, o saldo positivo era de uns 70%, 65.8% para o ser exato. —“Bem não há tempo, já foi, já vou, já vamos né?! Vamos!” — pensou enquanto socava as pressas o figurino na bolça, figurino este que de tão emprestado poderia ser chamado de “taco”. Um taco era a blusa trançada entregue pela amiga que sempre falava “Vai! Arrasa!”, trançada como as redes de pesca jogadas no rio São Francisco, ou até mesmo como os mosqueteiros, daqueles que nossas mães e avós usavam sobre a cama para se proteger dos insetos, seu corpo esguio e comprido era visível dentro daquele “mosquiteiro portátil”. O short de outra amiga era de verdade um “taco”, um tico de tecido, que de tão curto era visível o forro dos bolsos da frente, eram ambas as peças de cor preta destacando ainda mais sua pele branca, que de perto era amarelada. Um par de luvas que de longe pareciam joias, não tinha cor, tinham brilho! O brilho mudava dependendo das luzes, eram lindas joias feitas de tecido rendado e bolinhas de papel laminado a elas coladas, um prateado lindo que custou 2,99 reais. O salto, também preto, acrescentou uns 8 à 10 centímetros a sua altura total, tornaram-se a extensão de suas pernas, que mesmo no nervosismo do ato estavam proibidas de tremular. Desfilou até o centro do palco, um desfile digno, pois o palco é um lugar sagrado, não é canto de se “andar”. Seus olhos, bem abertos, de um castanho escuro, brilhavam mesmo sem as luzes que ascendem o palco. A primeira nota da música aconteceu no mesmo acender dos holofotes, perfeito! Sincronia era a palavra certa, rodou no seu rosto até o sorriso, quase um deboche, talvez fosse, seguiu nos seus ombros, desceu pelos braços, foi pega nas mãos. As mãos eram um ser a parte, até pareciam desenhar a moldura que daria sustento àquela arte e como o refrão, que dizia “run me like a river”, se fez rio, fluido, quebrou a barragem, inundou o teatro. No minuto final, aliás, aos 3 minutos e 18 segundos suas mãos giraram por cima de sua cabeça e pararam em forma de um adorno e por cerca de 2 segundos tudo parou. Estava ali oferenda a algo que mesmo invisível era maior que tudo visto. O silêncio se fez palma, sorriso, assobio, palavras, berros, barulho, barulho! Se fez arte!


Memórias de mãe e menina Por Joelma Nunes

Se aproximando do natal veio aquele desespero, não imaginava que ela fosse nos deixar tão cedo. Adoeceu tão de repente que nem deu tempo de socorrê-lo, e eu ali sem saber o que fazer, desesperada queria sumir de tudo e de todos. Ainda hoje me lembro de quando criança, ela me paparicando por ser a filha caçula, com meus cabelos longos, todos os dias ela lavava e fazia aquelas trancinhas achando meus cabelos à coisa mais linda e eu louca para cortar, deixa-los curtinhos, mas ela não aceitava jamais. Um dia, ao sair com ela para uma festa, fui brincar com as coleguinhas mascando chiclete, masquei o meu até não prestar e coloquei nos meus cabelos, só mostrei para ela quando cheguei em casa, ela brigou bastante e eu para não apanhar falei que foram minhas colegas que tinham colocado. Ela dizia mentira, foi você que sempre quis cortar o cabelo e eu caladinha. Foi ai que não teve mais jeito, teve mesmo que cortar, eu ai me sentir realizada naquele momento. Me lembro dessa cena como se fosse hoje. Minha mãe nos deixou no momento mais difícil da minha vida, imaginava a todo o momento como seria difícil sem ela, o que iria fazer, como iria conseguir, senhor! Todos me consolavam. Pois estava esperando um filho, parecia até plano de Deus, você perde sua mãe, mas ganha um filho, pra te consolar e foi isso que me aconteceu. Após o nascimento dele veio aquela alegria de pegá-lo nos braços e me tornar mãe. A parti daquele momento, passei a ser uma mulher totalmente diferente e procuro sempre ensinar as coisas boas da vida, pois meu filho é tudo que tenho. Também conto muito sobre a avó para ele e o quanto ela sonhava em ver o seu neto nascer e crescer pena que não foi possível.


Andar a cavalo Por Kelly Alencar

Hoje, ao cavalgar pelo campo no lombo de Tornado, meu cavalo, sinto que cavalgar é uma das minhas paixões. Lembro-me perfeitamente como se fosse agora. Aos cinco anos de idade, precisamente em março de 2001, era uma bela manhã de segunda-feira, o sol brilhava fortemente no horizonte. O pai selou a égua pintada e colocou na carroça como de costume para ir à cidade com a mãe. Era dia de feira livre, quando estavam de saída, vem correndo a filha pequena, magrinha de cabelo lisinho e olhos arregalados, com um jeitinho doce e muito insistente pede para ir junto. No início, eles não queriam levá-la, mas por sua insistência, resolveram levar, pois doía o coração deixar sua única filha chorando. Subiram na carroça e seguiram viagem. Ao chegar ao meio do percurso, o pai olha o relógio e percebe que estava atrasado para vender os queijos, então resolve apressar o animal com uma chicotada inocente que a égua pintada devolveu com um coice na perna da garotinha que estava sentava na carroça bem atrás das patas do animal. A criança começou a chorar incessantemente, enquanto a mãe estancava o sangue com um pano branquinho que ficava cada vez mais vermelho, a pressa aumentou para chegar à cidade e levá-la ao hospital. O desespero tomou conta dos pais, até que chegaram ao hospital e a mãe foi tranquilizada por um homem vestido com um jaleco branco que se dizia médico. Ele falou que o ferimento levaria apenas alguns pontos e fez o procedimento. A mãe perguntou a ele se não seria o caso de fazer um exame para saber se estava quebrado, ele disse que não, pois era médico e sabia o que estava dizendo, mandou a família de volta para casa. Depois de alguns dias, eles voltaram ao hospital para retirar os pontos, mas a dor continuava e a menina não conseguia nem colocar o pé no chão. A preocupação dos pais só aumentava, então a levaram para outra cidade, chegando lá ela foi examinada por um médico que ao fazer os exames constatou que o osso estava quebrado e já a emendar de forma errada e, que por conta de procedimentos errados feitos pelo outro médico, talvez fosse preciso amputar a perna da menina. Naquele momento, foi como se uma faca afiada tivesse sendo cravada no peito da mãe que começou a passar mal, mas o médico falou que existia tratamento, mas que era caro, o pai prontamente fez o que pode e conseguiu o dinheiro para pagar o tratamento, oitenta dias depois a menina voltou a andar e não ficou com nenhuma deficiência. Hoje, dezessete anos depois, se recorda desse episódio da vida que foi superado e continua a amar os cavalos, a mãe sempre comenta que não sabe de onde essa menina tira tanta coragem.



Ser criado sem pai Por Luciene Lima

Desde pequena até os oito anos de idade, eu passava a semana com minha mãe e o final de semana com meu pai, assim foi determinado pelo juiz porque fui criada por pais separados. Então o juiz determinou que só iria vê-lo até o dia que quisesse. Como ele tinha bons empregos de professor ele poderia me dar tudo do bom e do melhor, mas não deu. Fui criada sendo rejeitada pelo meu pai. Quando eu tinha 10 anos, ele se casou com outra mulher e durante a gravidez de sua esposa, eu pedi um aumento da pensão, pois precisava de dinheiro para vestir calçar, comer, comprar remédios foi quando tivemos uma séria discussão. Ele falou que eu não era mais sua filha que filha dele era a criança que iria nascer. Até que dava a pensão, mas era pouco para uma pessoa que já estava ficando adolescente, até que ele veio jurar minha mãe morte após as discussões que tivemos. Então, a partir daí ficamos sem nos falar e desde então fui criada apenas pela mãe e pela minha vó. Ser criada sem pai é como se faltasse uma parte de si, é você não ser completo por inteiro, você não poder chegar e dizer eu te amo, é você falar só pra si mesmo em voz baixa, angustiada. É chegar o dia dos pais e você não poder dizer o quanto o ama e lhe parabenizar pelo seu dia. Ser criada sem pai é você não ter um amigo para contar e ter alguém ao seu lado para te proteger, lhe amar e ter os cuidados necessários que uma filha precisa, é não ter o aconchego e os ensinamentos que eram para ser transmitidos. Hoje tenho 18 anos e fui amadurecendo. Com o tempo, percebi que mesmo um pai estando presente na vida do seu filho (a) ele pode estar ausente, mas com todo amadurecimento da adolescência agora sou uma pessoa feliz e percebi que não falta nenhuma parte de mim, já sou completa para poder dizer eu enfrentei todos os obstáculos, sofri mas venci e não é qualquer obstáculo assim que me impedirá de alcançar meu sonhos e minhas metas.


Relatos de um menino Por Moisés Xavier

Observo aquele menino, pequeno e sorridente. Alegre como todas as outras crianças, mostrava a paz em sua alma serena. Quem o via certamente notava que o mesmo era uma criança comum, gostava de brincar, pular, correr e tantas outras coisas típicas de infância. Sem dúvidas, mostrava ser completamente normal. Bom, isso é o que as pessoas pensavam. A realidade é um sorriso falso, que escondia as profundas e as mais complexas angústias, medos. Uma vida cheia de eventos paranormais, coisas do além. De um lado carinha de anjo, de outro, a realidade: uma máscara que escondia a imensidão de sentimentos, de dores, de medo, angústias, pânico, medo por não conseguir falar com ninguém sobre a realidade que era viver assim. Pobre criança, até quando viveria assim? Quem diria, uma doce de criança, com um ser assustador, tão frágil, indefeso e tendo que lutar contra um sentimento tão profundo assim... ter que saber lidar com seres e vozes. Recordo-se de um dia, um lindo dia, o sol surgiu iluminando aquela manhã. O som dos pássaros voando e cantando na imensidão do céu azul. Ainda deitado, admirando tudo que via e ouvia, enquanto exercitava sua mania de contar os caibros do telhado do quarto. De repente, se depara com o rosto de um homem peludo como um macaco, pelos pretos por sinal. Não tinha pele, só fios pontudos e cabelo, não apenas barba. Só via seus olhos redondos e vermelhos, não via o nariz só a boca ao abrir trincando os dentes sombrios para o menino. Nossa! De um pulo só já estava no quintal de casa onde aconteceu outra experiência estranha, surgiu uma sombra parecia uma luz ou uma fumaça branca, isso fez o menino acalmar. Sim, foram inúmeras experiências infernais: imagens, visões, sussurros, tantas coisas que não se podem relatar. Foram anos de tormentos, cada vez mais fortes, presentes de formas diferentes, já eram contatos naturais. As pessoas diziam que ele era um menino especial, um anjo que veio do céu, mas ninguém sabia o que ele realmente via e sentia. Enquanto outras crianças brincavam de carrinho, fazer fazendinha, ele usava os carrinhos para levar os caixõezinhos de barro para os funerais ou cemitérios de insetos. Dizem que foi de uma hora para outra que o anjo se transformou em monstro: o perturbado, o atentado e tantas outras coisas que falavam. Até que um dia, 24 de julho de 2006 como ele poderia esquecer. Recorda aquela noite, uma segunda feira, foi em uma casa de alpendre a última na rua, situada em frente à escola municipal em que um homem – o presbítero de uma pequena igreja ainda em construção. Ao percorrer em sua pregação, ao falar sobre uma libertação não do corpo físico e sim da alma e do espírito, aquelas palavras “embrasavam” e


envolviam o menino, que sentia que tinha a sua história descrita. Um adolescente com alma perturbada, sobrecarregada por uma força espiritual. Um arrepio sentiu na hora e com o convite “Quer mudar a sua história?” Foi ali a oportunidade de reverter o quadro, aceitou na hora...como descrever?


No Dia Que Me Empurraram De Casa Por Poliana Rodrigues

Polly está no seu quarto escuro, perdida nos seus pensamentos, ao som das muriçocas. Era uma manhã de terça feira, cinco de dezembro, e como todos os dias ela acordava com a voz de sua mãe reclamando sobre a vida. Sua mãe era uma mulher infeliz, olhos pequenos, cor clara, cabelos cacheados, lábios carnudos e pele do rosto manchado, devido complicações de uma gravidez arriscada. Polly de alguma forma sentia que aquele dia ia ser diferente, após escutar do seu quarto os gritos da mãe, levantou-se lentamente da cama, trocou de roupa, pegou a escova azul (a cor preferida dela não é azul, é o roxo, mas o azul é a cor preferida de seu amor). Sua mãe sempre foi uma imagem negativa para Polly, sempre descarregava energias negativas sobre a filha. Polly se sentia diferente dos seus irmãos, pois sempre sentiu que a mãe preferia os filhos homens a ela. Polly não passava de uma estranha naquela casa, naquela família de classe baixa, simplesmente pelo o fato de sua mãe não ter aceitado o fato de Polly ter nascido menina. Ambas não tinham afeto uma pela a outra, não porque Polly não queria ter, mas porque sua mãe nunca tivera por ela. Foi naquela manhã que mudou tudo na vida de Polly, sua mãe a mandou sair de casa da forma mais horrível, expulsou a filha de casa de uma maneira que Polly jamais poderia esperar, mas Polly já conhecia os sentimentos de sua mãe e aquelas palavras terríveis, nojentas, desprezíveis que ela gritou enquanto Polly batia a porta atrás de si. Polly com o coração apertado, doendo muito como se tivesse sido arrancando do peito, suas lágrimas escorreram dos seus olhos. Saiu pelas ruas sem controlar as lágrimas e isso pelo o fato de Polly ter feito à escolha de ser feliz ao lado de outra mulher a sua amada Rose. Polly pega o celular e liga para Rose. Rose uma mulher linda, loira de olhos castanhos, pele clara, sorriso encantador, de um olhar penetrante de uma alma sensível, ela era como uma rosa azul no meio das rosas vermelhas. Rose era uma mulher charmosa, educada, corajosa e para Polly ela era mais do que seu amor ela era sua amiga, sua amante, sua companheira de todas as horas, sua paz, seu conforto, sua luz. Rose ao atender o telefone não entende nada que Polly falava pois novamente seu choro volta e ela não controla. Rhose sai de sua casa e vai rapidamente ao encontro de Polly. Ao ver Polly desesperada, pois a menina não sabia onde poderia morar a partir daquele dia, Rose lhe disse “Oxê amor, sua mãe está doida? Você tem para onde ir sim!” Então ela disse para Polly “pegue suas coisas e vamos para minha casa.” Polly ficou paralisada, parada, de olhos arregalados e gelo dentro dela, mão suada, pois ficou com medo do que a mãe de Rose iria falar em relação a toda aquela situação. Elas se abraçaram e como Rose sempre sentia o que Polly passava e ela é pisciana, elas choraram. Ao chegar à casa de Rose, elas foram falar com a mãe de Rhose, uma senhora morena, de um tamanho médio, cabelos curtos uma mulher


gentil e ao mesmo tempo complicada de entender, mas é uma senhora acolhedora guerreira, forte é uma mãe exemplar. Elas foram falar com ela e ao chegar perto da senhorinha, Polly fica com as mãos trêmulas e sua voz gaguejando, pois ela estava com medo dela não aceitá-la em sua casa, mas Rose pegou em sua mão e ela se sentiu segura, então juntas pediram para passar uns tempos na casa dela. Ao fundo os cânticos dos grilos, pois a mãe de Rose estava regando suas plantas medicinais. Elas fazem à pergunta a mãe de Rose a mãe dela fica em silêncio, com um olhar diferente e depois de um longo suspiro fala “você pode ficar, mas aceitar eu não aceito.” Naquela noite, Polly com um suspiro aliviado saindo dos seus pulmões pode enfim deitar nos braços do seu anjo e dormi em paz.


A onda Por Raquel Nunes

Fortaleza. Praia. Areia. Bebida barata. Risadas. Amigos Final de madrugada. Sol crescendo no horizonte Brisa leve soprando nos cabelos e carregando minúsculos grãos de areia. Roupa de banho. Frio!! Pé no chão. Sol cresceu. Trouxe consigo calor e ardência sobre a pele já queimada. Entra na água. Água salgada. Sal na pele. Pele salgada. E lavada. E alma. Alma lavada, como se o mar levasse preocupações e fardos. Mais uma onda veio. SHWAAA. Nesse momento voltei à realidade, deixei de ser telespectador. Depois de um tempo, saímos, voltamos. Me senti parte do nós. Casa de praia. Casa. Me senti parte daquilo.


A morte chegando Sara Stefani

Deitada num sofá duro, com frio e com medo de dormir, os olhos estavam pesando, olhei para o lado e ela estava dormindo, a TV ligada, passando coisas que eu não estava interessada em saber. A cama em que ela estava deitada encontrava-se no canto direito do quarto, era alta, tinha grades grandes, era branca, os lençóis eram todos brancos, fiquei a pensar e a lembrar... Eu estava andando de bicicleta, na época eu teria uns sete a oito anos, perto de onde eu estava existia uma ladeira, no final da rua era a casa da minha avó paterna, decidida a descer com toda velocidade que eu conseguiria alcançar, desci, mas na descida a bicicleta ficou para trás junto com meus dois dentes da frente, parecia que eu tinha arrancado um pedaço do rosto, a dor não era tão grande quanto o medo de meus pais brigarem comigo quando chegasse em casa. A sorte não estava do meu lado, mas minha avó estava, na verdade sempre esteve, abri o maior berreiro, vovó ouviu e correu. Ainda bem que “quebrei” a cara e a bicicleta na frente da casa dela, refleti. O silêncio naquele momento erra assustador, não ouvia a respiração, nenhum ruído dela que estava do meu lado, levantei, prontamente coloquei a mão em suas narinas, estava respirando, uma respiração sem força, fraca, como alguém que está no fim da vida, pensei novamente, as lembranças vieram como um flash. Fui até a garrafa de água, bebi um bom gole, desceu como se houvesse bebido álcool, entendi que talvez fosse o fim, a esperança estava acabando, as mãos suavam, o coração estava aos pulos, as lágrimas foram escorrendo no meu rosto, dessa vez não era o dente que estava aos pedaços, entendi o quanto dói um adeus.


Fragmentos Por Jéssica Vieira

Em uma cidade pequena, uma garota simples, de classe média, morava com os pais, o pai mecânico e a mãe doméstica. Ambos sem qualquer tipo de ambição. Para eles a vida ia bem. Filha mais velha de três irmãos. A garota almeja desvendar os horizontes, conhecer lugares, sabores, cheiros e, por que não, comidas diferentes? Em matéria de sonhos, desejos e loucuras, desde as coisas simples do cotidiano, como lanches fora de hora e conversas que sempre acabavam em risadas estrondosas. Conta com duas amigas, Mirian e Celilda são moças simples, alegres de sorrisos fáceis e almas doces. Garotas que batalham e buscam a independência em ricos e nobres detalhes. Elas têm o mesmo sonho, conhecer o mar. Resolvem colocar em prática a viagem e o desenrolar com as malas. Partem para João Pessoa, Paraíba. Poucos dias, apenas quatro, mas nesses poucos dias descobririam emoções e sentimentos novos. Não se sabe ao certo porque as três amigas se identificariam e amariam aqueles fragmentos que involuntariamente saiam de seus sorrisos soltos. A garota da cidade tranquila e sem muitos desejos se envolvia e chega a deliciar-se em detalhes... Não sabe descrever se foi o barulho das ondas que o mar lançava fortemente dentro de si. Ou a brisa, a força, o som do motor do bugie que trazia destreza e destemidamente subia as areias. Ou apenas a calmaria que o mar trazia e a refazia mediante a um turbilhão de emoções. Emoções?! Sim, porque não! As emoções da amizade cúmplice, da calmaria do lugar e os reflexos sobre a simplicidade em detalhes; pouco percebidos a olho nu. E nesse momento em uma descida entre as montanhas, um grito surpreendentemente sufocado, preso na garganta e deixado submerso pelos problemas e as curiosidades juvenis; relativos ao dia a dia. Mas o grito, antes preso veio libertando e renovando as forças, antes pouco notada e ativamente livre. Será essa a liberdade? Ou a sua partícula é vivenciada em fragmentos? A Liberdade é um sentimento palpável, a ponto de ser tocada e comestível como uma sobremesa desejada e esperada? Ou um pequeno fragmento dela? Apenas para senti-la! Mas se for apenas essa singela partícula, ainda é possível deliciar-se e desfrutá-la com seus nobres e amantes detalhes.



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