Chuva Mágica - Um conto

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CHUVA MÁGICA Me recordo muito dos meus dias de criança. Ainda guardo na lembrança o rosto de meu avô Kristam Eiesenhauer sentado em sua cadeira de balanço na nossa sala de estar à frente da lareira. O cachimbo sempre na boca e soltava uma fumaça leve e tremula que parecia seguir o ritmo da cadeira enquanto subia. Vovô era aquele clássico velhinho rabugento que adorava os netos. Todo sábado a noite nós nos juntávamos a ele na frente de sua cadeira para ouvir histórias de um passado que não havíamos vivido. Histórias essas que ele presenciara na sua juventude (bom, pelo menos era isso que ele dizia). Na véspera de Natal, era tradição que ele nos contasse uma história natalina antes de irmos para a cama esperar pela passagem do Papai Anão, que entrava pela portinha de Rudolph (o nosso cão de caça), comia a sua ração e deixava livros de presente em baixo da estante. A história que conto aqui foi uma das muitas que vovô nos contou. Meus irmãos Vicente e Viviane sentavam-se comigo aos pés da cadeira de balanço dele e ouvíamos tudo o que ele tinha para narrar. A história se passa em uma noite fria de inverno. Ainda faltavam alguns dias até o Natal, mas as casas já estavam todas enfeitadas e nas ruas via-se muitas luzes coloridas. Apesar da noite fria, o céu estava claro, tão claro que era possível ver muitas estrelas pontilhando sua vastidão. Na rua, as crianças brincavam na neve do dia anterior que ficara acumulada. - Você não consegue descer a colina Richfield com seu trenó, Kristam! - Disse Aleane, uma das garotas do vilarejo. - É claro que consigo! - Respondeu meu avô que na época tinha apenas oito anos. O desafio foi feito e meu avô, é claro, iria cumpri-lo. Ele levou seu trenó até o topo da colina Richfield que estava coberta pela neve, olhou para baixo e viu as outras crianças esperando por ele. Algumas gritavam seu nome e outras gritavam para que ele desistisse. De fato, parecia loucura. Para quem não conhece, a colina Richfield é enorme, cheia de pedras grandes e buracos profundos. Quando nevava, a aparência da colina enganava os tolos, mas meu avô não era tolo. Ele sabia o que estava fazendo. Respirou fundo, subiu em seu trenó e apertou bem as rédeas que segurava com as duas mãos. Contou até três e sem exitar nem mais um instante, deu impulso. No começo o trenó deslizava com dificuldade então meu avô o impulsionava com os pés. Quando ganhou velocidade suficiente, colocou os pés para dentro e deslizou pela neve. Tudo estava indo muito bem. Ele podia ver alguns metros a sua frente graças à luz abundante da lua cheia, mas ele não contava com uma pedra que havia ficado escondida pela neve.


www.hogwartsliveschool.com Quando sentiu o solavanco, foi tarde de mais. O trenó passara por cima da pedra sendo destruído quase que instantaneamente e lançando meu avô na direção do céu estrelado. Ele conta que do alto conseguiu ver tudo: as crianças gritando no pé da colina, as luzes fracas do Castelo Eisenhauer, as casas do vilarejo e a copa das árvores da floresta do norte. "É o meu fim" - ele pensou. "Vou morrer". O tempo parecia passar mais lentamente, como um filme em câmera lenta, então ele olhou para o céu e para sua surpresa, estava chovendo. Não era uma chuva comum, era uma chuva de estrelas mágicas. Vovô sorriu com a lembrança e seu olhar iluminou-se com o fogo da lareira. Ele dizia lembrar-se muito bem daquele dia. Afinal, não é todos os dias que vemos uma chuva de estrelas mágicas! As estrelas juntaram-se sobre seu corpo, privando-lhe da morte que a queda causaria. - Elas voavam. - Disse-nos ele. A fumaça de seu cachimbo subia em rodopios formando imagens das cenas que meu avô contava para nosso deleite - Era como se tivessem vontade própria. Meus amigos não acreditavam no que viam, mas eu... bom, eu sabia o que era aquilo. -Fez uma pausa - Era magia! Conduzido pelas estrelas, vovô teve sua primeira aventura mágica, voando pelos céus da região, conhecendo seu lar como jamais imaginara que iria conhecer nos seus oito anos de vida. Segundo ele, as pessoas diziam que sua sobrevivência à queda fora um verdadeiro milagre de natal, mas na verdade, aquela foi a primeira vez que ele demonstrou sua magia. E não era uma simples demonstração, era poder de verdade. Vovô foi um bruxo ímpar na Escócia. Nos dias que se seguiram ao Natal após aquela história, meu irmão e eu tentamos fazer uma chuva de estrelas mágicas também, mas não tivemos a sorte que o vovô teve. Vicente, animado como era, repetiu a tentativa até que os dias de neve terminaram e eu, observava-o. Afinal, se ele conseguisse algo, deveria haver uma testemunha.

Victor Eisenhauer


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