Tfg caderno final

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Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

CASA DE ACOLHIDA DO CARMO Adaptação de Quartel Histórico em Abrigo para pessoas em situação de rua

Trabalho Final de Graduação Novembro - 2013 Flávia Santos Santana Orientador: Fábio Mariz Gonçalves



ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO................................................................4 2.JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA...................................5 3.PARQUE DOM PEDRO II .............................................9 3.1. BREVE CONTEXTO HISTÓRICO......................................9 3.2.DE VÁRZEA DO CARMO A PARQUE DOM PEDRO II.................................................10 3.2.1. PRIMEIRAS INTERVENÇÕES.......................................11 3.3. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO..................................14 4.PROPOSTA DE PARQUE............................................16 4.1.PLANO URBANÍSTICO DO PARQUE DOM PEDRO II....................................................17 4.1.1.RECONFIGURAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO...............18 4.1.2. EQUIPAMENTO URBANO TERMINAL INTERMODAL ....................................................19 4.1.3. LAGOA DE DRENAGEM...........................................20 4.1.4.ARCO NORTE.............................................................20 4.1.5. ARCO OESTE.............................................................22 5.ESTUDOS DE CASO.....................................................24 5.1. OFICINA BORACÉA.....................................................24 5.2.ARSENAL DA ESPERANÇA............................................26 5.3. ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA......................................28 6.PROPOSTA DE INTERVENÇÃO................................29 6.1.PROJETO CASA DE ACOLHIDA DO CARMO.........................................................................30 6.1.2. DEFINIÇÃO DO PROGRAMA...................................31 7.BIBLIOGRAFIA...............................................................36v



Agradeço em primeiro lugar a minha família: Pai, Mãe, Fê e Jaque, muito obrigada pelo apoio incondicional e por compreenderem minha ausência ao longo desse ano. Obrigada também meus tão queridos Zilah marcelino, Conrado Vivacqua, Igor Lombardi, Letícia Peruchi, Cassi Ane Pinheiro, Ricardo Ribeiro, Marina La Torraca e Fernanda Paroneto – colegas de profissão ou não – pelas risadas, conselhos, opiniões e toda ajuda, principalmente nos últimos tempos. Por fim, obrigada aos professores da banca por aceitarem este convite, e ao meu Professor Orientador, Fábio Mariz, pelas conversas, pela paciência e pelos puxões de orelha.



1.

INTRODUÇÃO

Com a proximidade da conclusão de curso, aproxima-se

também hora de decidir o que desenvolver no trabalho final de graduação. Muitos amigos nesse momento se voltaram para a cidade natal ou para o bairro onde moram. Posso dizer que ao meu modo, não fiz diferente, afinal a minha área de estudo fez parte do trajeto casa-faculdade por um bom período.

Além disso, relembrar a palestra vista no primeiro ano

da graduação, ouvindo o arquiteto Loeb falar de seu projeto Oficina Boracéa induz a um exercício de avaliação dos anos de estudo. Também retomo o início da graduação ao lembrar que a opção pelo curso de Arquitetura e Urbanismo veio acompanhada da vontade de “trabalhar com algo que ajudasse a melhorar o mundo”. Ainda tomada por essa vontade romântica, proponho neste trabalho que o edifício de Segundo Batalhão de Guardas, localizado no Parque Do m Pedro II seja adaptado para um abrigo para pessoas em situação social vulnerável. Proponho então, a criação da Casa de Acolhida do Carmo.

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Ao passar pela Avenida do Estado, vindo da Avenida Rangel

Pestana sempre me deparava com uma cena que chamava minha atenção. De um lado da avenida, pessoas jogadas pelo gramado, banheiros químicos em péssima situação de limpeza e conservação, um bocado de lixo espalhado pelo chão. Continuando meu trajeto, um pouco mais a frente, ainda na Avenida do Estado via um prédio em péssimas condições de uso. Ou seja, concomitantemente, edificação e pessoas definhando perante olhos que parecem não se importar. Portanto, o objetivo do projeto desenvolvido é adequar o Quartel Histórico do Parque Dom Pedro II em abrigo para pessoas em condição social vulnerável.

Linha Amarela ressaltando caminho Av. Rangel Pestana-Av. Do Estado foto: google street view

Banheiros químicos atrás do muro de blocos de concreto, sob viaduto 25 de março. foto: google street view

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Fachada do 2º Batalhão de Guardas, visivelmente deteriorada fonte: www.estadao.com.br foto: Keine Andrade


Nas pesquisas realizadas no CONDEPHAAT

- Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico- consta no processo de tombamento do edifício que há muito tempo seu estado de degradação tem sido ignorado. Na imagem ao lado, por exemplo, dá pra ver que já em 1970 a situação de conservação deixa a desejar.

Fotografias das páginas do processo de tombamento do Quartel do 2º Batalhão de Guardas, nas quais é possível verificar o estado de deterioração que o edifício já apresentava em 1970. fonte:CONDEPHAAT foto: Carlos Fenerich

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Outra informação curiosa presente no processo de tombamento do quartel é a carta que a

presidente do

CONDEPHAAT, Lúcia P. Figueira de Mello Fulkenberg envia ao general Manoel Car-

valho Rodrigues Lisbôa, comandante do II Exército da Capital. Destaco o trecho a seguir do documento: “Efetivamente,

Senhor

General,

o

Museu Militar de São Paulo, criado para recordar aos moços do Brasil o estupendo patrimônio de glórias militares que se entesouram nas tradições de nossas Forças Armadas, e ao mesmo tempo orientálos, através do exemplo e do ensino, no culto cívico da nacionalidade, - é uma fundação de palpitante atualidade nos dias que correm e que poderá prestar ao país os mais notáveis serviços, como fonte irradiadora de confiança, de entusiasmo, de confraternização de todos em torno das

salvadoras

abnegadamente

instituições postas,

militares,

desde

os

albores da independência, a serviço dos supremos da Pátria.”

Se for levado em conta que a carta foi enviada em janeiro de 1969 e relacionar seu conteúdo com a situação política de Ditadura pela qual o país passava, fica claro o porquê da sugestão.

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Carta enviada pela presidente do CONDEPHAAT ao general do exército. foto: Carlos Fenerich

fonte:CONDEPHAAT


O que realmente me surpreendeu foi

II – São Paulo, 122 (13)

Diário Oficial Poder Executivo - Seção I

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

o uso para o qual será destinado o edifício. No Diário Oficial do Estado de São Paulo, de 29 de janeiro de 2012 foi publicado que o Quartel será sede do futuro Museu Histórico da pode ser visto na imagem ao lado. Do Diário Oficial destaco “O plano de recuperação do quartel será realizado conjuntamente pelas

Secretarias

de

Segurança

Pública

– proprietária do imóvel – e da Cultura, responsável por orientar e acompanhar a elaboração dos projetos e a instalação do museu e da Fábrica de Cultura. Além do Museu Catavento, que já funciona na região, o Governo está construindo o Museu de História de São Paulo na antiga Casa das Retortas. Os três empreendimentos somam quase 70 mil m² inteiramente dedicados à cultura e ao

Volume 122 • Número 14 • São Paulo, sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

www.imprensaoficial.com.br

Museu toma lugar do velho quartel A

região do Parque Dom Pedro II ganhará mais um complexo cultural com 15 mil m2 que abrigará o Museu Histórico da Polícia e uma Fábrica de Cultura. Esse complexo será instalado no antigo Quartel do Parque Dom Pedro II. O objetivo é criar um circuito cultural no bairro.

FOTOS: JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO

Polícia Militar e uma fábrica de Cultura, como

Geraldo Alckmin - Governador

Construção de 1765, o Quartel do Parque D. Pedro II vai abrigar o Museu Histórico da Polícia Militar e uma Fábrica de Cultura De acordo com a assessoria do Palácio dos Bandeirantes, a proposta é recuperar toda a área. A abertura da licitação para o projeto executivo será em abril. Em janeiro de 2013, será aberta a licitação da obra e calcula-se que, entre 18 e 20 meses, o projeto estará concluído. O plano de recuperação do quartel será realizado conjuntamente pelas Secretarias de Segurança Pública – proprietária do imóvel – e da Cultura, responsável por orientar e acompanhar a elaboração dos projetos e a instalação do museu e da Fábrica de Cultura. Além do Museu Catavento, que já funciona na região, o Governo está construindo o Museu de História de São Paulo na antiga Casa das Retortas. Os três empreendimentos somam quase 70 mil m² inteiramente dedicados à cultura e ao lazer no Parque Dom Pedro II e no bairro do Glicério.

Mobilidade, acessibilidade, iluminação, segurança e arborização fazem parte do projeto de recuperação do Quartel do Parque D. Pedro II

Os serviços preliminares de levantamento cadastral, sondagem e topografia, pesquisa de solo e prospecção arqueológica serão desenvolvidos até abril. A contratação dos projetos básico e executivo está prevista para maio, depois da conclusão do processo licitatório. O passo seguinte será a obtenção das autorizações legais, inclusive dos órgãos de tombamento (Condephaat e Conpresp). A expectativa é ter o processo concluído até o final deste ano para realizar a licitação da etapa de obras de restauro e adequação dos espaços, prevista para durar

lazer no Parque Dom Pedro II e no bairro do Glicério. (...) A Fábrica de Cultura do Glicério oferecerá gratuitamente cursos e oficinas de formação artística para jovens e atividades de difusão (cinema, teatro, apresentações

Plano de recuperação do local será realizado pelas Secretarias de Segurança Pública e da Cultura

musicais) para toda a comunidade. O local terá, ainda, uma biblioteca, uma cafeteria e um auditório multiuso.” Adiante será explicado

18 meses, com prazo de conclusão indicado para setembro de 2014. O Governo estima investir R$ 49 milhões considerando projetos, obra de restauro e instalação do museu e da Fábrica de Cultura. Histórico – Instalado numa área historicamente importante de São Paulo, próximo ao primeiro núcleo urbano da cidade, no Pátio do Colégio, o conjunto edificado do Quartel do Parque Dom Pedro II, também conhecido como Quartel da Tabatinguera, encontra-se circundado por vários outros marcos tradicionais requalificados ou em processo de recuperação, como o Palácio das Indústrias, que abriga o Museu Catavento, a Casa das Retortas – sede do futuro Museu da História do Estado de São Paulo –, e o Mercado Municipal. A primeira planta desse terreno é datada de 1765, quando existia no local a chamada Chácara do Fonseca, período em que foi construído o primeiro corpo da edificação principal, em taipa de pilão, tabique e pau a pique. Ao longo das décadas, o edifício principal ganhou novos corpos laterais, em diferentes técnicas construtivas, para permitir os novos usos que foram dados à construção: Convento das Irmãs Duarte (1852), Seminário de Educandos (1860), Seminário de Educandas (1861) e Hospício dos Alienados (entre 1862 e 1905), no qual morreu o poeta Paulo Eiró (1871). A partir de 1905, a edificação foi

adaptada para receber o quartel e o almoxarifado da Força Pública. Pertenceu, então, ao Exército e abrigou o 2º Batalhão de Guardas até 1992, quando foi transferido para a Polícia Militar de São Paulo. O imóvel foi tombado pelo Condephaat em 1981. A Fábrica de Cultura do Glicério oferecerá gratuitamente cursos e oficinas de formação artística para jovens e atividades de difusão (cinema, teatro, apresentações musicais) para toda a comunidade. O local terá, ainda, uma biblioteca, uma cafeteria e um auditório multiuso. A unidade Glicério seguirá a mesma proposta das outras nove Fábricas de Cultura, que estão sendo implantadas pela Secretaria de Estado da Cultura em bairros da periferia de São Paulo – três já estão funcionando em Vila Curuçá, Sapopemba e Itaim Paulista. O projeto de recuperação do quartel e construção da Fábrica de Cultura inclui a realização de estudo de impacto focado nas questões de mobilidade, acessibilidade, iluminação, segurança e arborização. O objetivo é garantir que o novo equipamento cultural seja integrado harmonicamente à região, não cause problemas ao trânsito e contribua para a inclusão cultural e a circulação entre os diversos espaços culturais do circuito Parque dom Pedro II. Da Agência Imprensa Oficial e da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Cultura

IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO S A IMESP C=BR, O=ICP-Brasil, OU=ID - 1564956, OU=Autenticado por Certisign Certificadora Digital, OU=Assinatura Tipo A1, OU=(em branco), OU=(em branco), CN=IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO S A IMESP, E=certificacao@imprensaoficial.com.br A IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SA garante a autenticidade deste documento quando visualizado diretamente no portal www.imprensaoficial.com.br

Página do Diário Oficial do Estado de São Paulo fonte: http://www.imprensaoficial.com.br/

em linhas gerais as propostas de melhorias para o Pq. Dom Pedro II, mas cabe adiantar que o projeto contempla um SESC e um SENAC, que podem absorver as atividades culturais, o que permitindo que a Casa de Cultura que seria instalada neste edifício seja implantada em outra região da cidade.

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Ainda de acordo com a Lei nº12.316 de 16 de abril de 1997, “é dever do Município

a promoção e assistência social, visando garantir o atendimento dos direitos sociais da população de baixa renda, buscando assegurar, dentre outros fins, a prioridade no atendimento à população em estado de abandono e marginalidade na sociedade (...) [Estendendo] atenção à população de rua para além de abrigos e albergues, incluindo programas que afiancem autonomia pela oferta de condições de trabalho e moradia”. O CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO formaliza uma informação que já sabemos: a maioria das pessoas em situação de rua está pela região central da cidade de São Paulo “Os distritos da área central – Bela Vista, Bom Retiro, Brás, Cambuci, Consolação, Liberdade, Pari, República, Santa Cecília e Sé – concentram 64% do total de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, com 4.319 indivíduos”. E o número de abrigos existentes na região é pouco, para atender a demanda. A imagem a baixo apresenta levantamento dos abrigos da região central, conforme endereços listados no site da Prefeitura de São Paulo. Percebe-se então que esses equipamentos públicos estão distantes Pontos em laranja indicam albergues. Pq. Dom Pedro II é a área destacada em verde. foto: google maps

da região do Parque Dom Pedro II, deixando uma lacuna na assistência que deveria ser prestada à população em

situação de rua.

Ao colocar lado a lado todas as informações que brevemente trago aqui,

acredito (se é que duvidei por algum momento) que a utilização de um edifício histórico para abrigo para pessoas em situação de rua se faz pertinente. O uso para o qual o Estado destinará o edifício pode ser recebido em outras localidades. Já o Antigo Quartel da Polícia Militar, além de quartel foi um seminário e um hospício, ou seja, um edifício que sempre recebeu muitas pessoas ao mesmo tempo. Proponho então, que agora receba a Casa de Acolhida do Carmo.

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Quando se fala em Parque Dom Pedro II é comum que a primeira imagem que venha a mente seja a do terminal de ônibus para aqueles que utilizam o transporte público, o Mercado Municipal para os amantes da gastronomia, ou ainda a grande (amada ou Em destaque, Pq. Dom Pedro II e as principais vias que cortam a região central. foto: google maps.

detestada) bagunça de pessoas que por ali passam diariamente. É curioso como no imaginário popular se perdeu a noção de

que o Parque Dom Pedro II é, com o perdão do trocadilho, um parque.

Na cidade de São Paulo é corriqueiro que espaços residuais recebem poucas

árvores, gramado, um ou dois bancos e sejam chamados de praças. Com o Parque Dom Pedro II o caminho foi o oposto: essa grande área verde foi cortada e recortada até que sua configuração inicial e leitura como conjunto fossem tão prejudicadas que se perdeu a leitura do todo, restando para o local um nome que não faz tanto sentido assim.

Não só a unidade do espaço foi perdida, como também a qualidade dos

espaços que restaram. O Mercado Municipal, o Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, e a Escola Estadual São Paulo são como ilhas onde as atividades acontecem, já que transitar tranquilamente pelo parque não é tão comum. Há sempre muita sujeira, pequenos roubos e furtos e muitas pessoas vagando pelo lugar. Ali, esquecido e degradado, também restou o Quartel do Segundo Batalhão de Guardas, do qual falarei adiante.

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Durante muito tempo a cidade de São Paulo ficou concentrada no perímetro

do triângulo histórico. A princípio, o crescimento no sentido leste foi desestimulado pela presença da várzea do Carmo, local que sofria com as constantes enchentes do Rio Tamanduateí. Ao mesmo tempo, na várzea aconteciam atividades como lavagem de roupas, cocho de animais, depósito de lixo e dejetos despejados in natura, que despertavam outra preocupação, a manutenção da salubridade do local, já que práticas como essas são foco de transmissão de doenças.

A fim de evitar tais malefícios e ainda

embasado na teoria miasmática, a arborização da cidade e a criação de parques foram defendidas e influenciaram na criação de um parque na área de várzea. “Dentre essas propostas [de criação do parque] destaca-se o projeto Boulevard Circular, idealizado na gestão de João Alfredo Correia de Oliveira (1885-1886); nas propostas para o Saneamento e Aformoseamento da Várzea do Carmo, elaboradas por empreendedores privados em 1889; na proposta de uma Grande Avenida

Imagem da várzea do Carmo alagada. fonte: livro A leste do Centro.

Circular, concebida por Ferraz e Gomes Cardim em 1897; e na proposta do Circuito Exterior, elaborada por Victor da Silva Freire (1899-1926). Em comum, essas propostas conjugavam a implementação de obras viárias circundando a Área Central e interligando as áreas de expansão urbana com a criação de áreas livres de lazer. Adicionalmente apresentavam uma preocupação constante com o saneamento da várzea e com a canalização do Tamanduateí.”(GROSTEIN, MEYER, 2010). Ou seja, os projetos pretendiam articular a cidade existente com a área em expansão além de sanar os problemas de salubridade.

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“Preocupação constante”, como dita anteriormente, a canalização do


Tamanduateí aconteceu entre 1896 e 1915. A partir da Constituição de 1891 a responsabilidade das obras de saneamento passa a ser função do poder público estadual, não mais do municipal. É criada então a superintendência de Obras, responsável pelas obras de retificação do rio. A calha do Tamanduateí é aumentada, possibilitando vazão de 30 metros cúbicos por segundo, ao lado de cada uma de suas margens construídas avenidas de 18,5 metros de largura. Na Várzea do Carmo, as margens do rio são aterradas para acabar com as inundações. E é neste local que será implantado o Parque Dom Pedro II.

Em 1911, o arquiteto Joseph Antoine Bouvard desenvolve os primeiros projetos para a Várzea

do Carmo nos quais havia um parque com espaço para um pavilhão de exposições, espaço para o Novo Mercado Municipal e percursos sinuosos e arborizados. Entretanto, o projeto escolhido para Várzea foi desenhado por Francisque Couchet. Assim como na proposta de Bouvard, o projeto de Couchet também apresentava o pavilhão de exposições – futuro Palácio das Indústrias, percursos sinuosos e lagos, incluindo áreas de recreação para crianças e adultos. Além destes elementos, Couchet propôs a retirada de uma das vias que cortava o parque – a continuação da Rua do Gasômetro – e como compensação, criava uma via que contornava o parque ao norte através da prolongação da Rua General Carneiro.

Apesar de não finalizada, a obra de con-

strução do Palácio das Indústrias (realizada entre 1911 e 1924) não foi empecilho para inauguração do Parque, que em 1921 deixa de ser Parque da Várzea do Carmo e passa a chamar Parque Dom Pedro II, sendo inaugurado no ano seguinte.

Imagem do Parque projetado por Couchet. fonte: livro A leste do Centro.

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Mesmo antes de sua inauguração, já havia propostas que alteravam a

configuração do Parque Dom Pedro II. Em 1920, o engenheiro João Florence Ulhoa Cintra projeta um anel perimetral composto por novas vias, a fim de afastar o trânsito da região central, o distribuindo para vias secundárias e criando ligação com a Várzea do Carmo através do parque. Esta proposta foi adotada mais tarde no Plano de Avenidas de Prestes Maia, o qual consistia basicamente em criar vias radiais e perimetrais, sendo que as perimetrais seriam anéis viários concêntricos responsáveis por conter a expansão da mancha urbana, enquanto as vias radiais faziam ligações entre estes anéis.

1

“Na área do Parque Dom Pedro II,

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o Perímetro de Irradiação proposto por Ulhoa Cintra descia a colina pela ladeira

3

do Carmo, cruzava o parque pelo eixo

4

da Avenida Rangel Pestana, contornava a várzea pela rua da Figueira e pela rua

5

Santa Rosa (atual avenida Mercúrio) e retornava à colina por uma avenida projetada que dava acesso à avenida Senador

Queiroz.”(GROSTEIN,

MEYER,

2010). O projeto descrito foi o que foi

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adotado, ou seja, ao descer a ladeira do Carmo e cruzar e parque pelo eixo da Rangel Pestana, essa nova via dividiu o parque em duas porções, Norte e Sul, na primeira ação dentre muitas, que futuramente viriam a desconfigurar o parque como espaço contínuo, de lazer,

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Pq. Dom Pedro II.1945 fonte: livro A leste do Centro.

1.Teatro Municipal 2.Ponte sobre Tamanduateí 3.Palácio das Indústrias 4.Casa das Retortas 5.Alteração plano Couchet 6. Gasômetro 7.2º Batalhão de guardas


de estar e de caminhar.

A partir de então, uma série de modificações acontecem no Parque Dom Pedro II, cada qual

relacionada a demandas específicas, esquecendo que a unidade do parque seria um condicionante para manter sua qualidade como espaço público. A construção da Avenida do Estado, por exemplo, seccionou novamente o parque, desta vez em porções Leste e Oeste.

Em 1950, a prefeitura encomenda um estudo de melhoramentos da cidade de São Paulo

para Robert Moses e sua equipe de Nova Iorque, que recomendam que se continue obras viárias, construindo vias com características de rodovias expressas. Sob essas diretrizes e de acordo com o Plano de Avenidas é proposta a criação da Rodovia Expressa da Penha, que viria ser a Radial Leste. Já

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7

14 7

17 15 7.2º Batalhão de guardas

7.2º Batalhão de guardas

7.2º Batalhão de guardas

8.Alterações No Planco Couchet

11. Terminal de ônibus

16. Estação Pedro II do metrô

9. Colégio São Paulo

12.Viaduto Diário Popular

17. Tamponamento do Tamanduateí

10. Radial Leste

13.Viaduto Mercúrio

18. Desapropriações

14.VIaduto 25 de março 15.Viaduto Do Glicério Pq. Dom Pedro II. 1958 fonte: livro A leste do Centro.

Pq. Dom Pedro II. 1973 fonte: livro A leste do Centro.

Pq. Dom Pedro II. 1986 fonte: livro A leste do Centro.

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em 1956, em seu segundo mandato, Prestes Maia complementa o Plano de Avenidas, desta vez incluindo vias diametrais, ligando o esquema rádioconcentrico, já que o esquema anterior se mostrava ineficiente. “[O estudo realizado] reforçou a necessidade de complementação da Avenida Radial Leste e de viadutos cruzando o Parque Dom Pedro II. Além de consolidar o primeiro Perímetro de Irradiação, esses viadutos também tinham como finalidade dar acesso aos terminais de ônibus e de táxis centrais da praça da Sé e da praça Clóvis Bevilacqua.” (GROSTEIN, MEYER, 2010). Os viadutos projetados na gestão de Prestes Maia só foram construídos entre as gestões de Faria Lima e Paulo Maluf, sendo o Viaduto Diário Popular primeiro deles.

Já o terminal de ônibus e o estacionamento de carros foram

construídos na década de 70, ambos no lado oeste do Parque Dom Pedro II. Esses dois vetores foram criados com intuito de desafogar o trânsito de veículos e pessoas no Centro Velho, no entanto a unidade do parque foi novamente comprometida. Ou seja, com o acréscimo dos viadutos, do terminal de ônibus e do estacionamento o parque perdeu sua continuidade e integração, tornando-se de certa forma, barreira entre a travessia zona leste - centro. Começa então, acentuada a degradação do Parque Dom Pedro II.

Ainda data da década de 70 a construção da Linha 3 (vermelha)

do metrô, responsável pela ligação leste-oeste. Por questões econômicas, esta é uma linha de superfície, a qual corta o tecido urbano, criando outra barreira. Ou seja, mais uma vez o Parque Dom Pedro II sofre alterações em sua configuração. A estação Pedro II do metrô está localizada no parque de tal forma que só colabora com a descontinuidade do projeto original, sendo ao mesmo tempo vetor e barreira urbana. Curioso notar como essa estação, apesar de próxima, está tão desarticulada com o terminal de ônibus.

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As primeiras propostas de revitalização do Parque Dom

Pedro II são da década de 80. Foram elaborados planos de ação nas gestões de Olavo Setúbal, Mário Covas e Jânio Quadros, mas só na gestão de Luiza Erundina que alguns dos objetivos propostos pelo gabinete municipal saíram do papel.

Assim como as propostas anteriores, o projeto denominado

Reurbanização do Parque Dom Pedro II apresentava preocupação em preservar os edifícios com valor histórico, como a Casa das Retortas, o Palácio das Indústrias, o Mercado Municipal, o Quartel

1 4

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7 6

3

1.Praça Cívica

4. Reformulação terminal - projeto Pau-

6. Terminal Mercado e Corredor Expres-

2. Reformulação no terminal

lo Mendes + MMBB

so de ônibus Tiradentes

3. Conjuntos Hab. COHAB

5.Obras VLP

7. Alterações Praça cívica

Pq. Dom Pedro II. 1994 fonte: livro A leste do Centro.

Pq. Dom Pedro II. 2000 fonte: livro A leste do Centro.

Pq. Dom Pedro II. 2007 fonte: livro A leste do Centro.

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do Segundo Batalhão de Guardas e o Colégio Municipal e em reestabelecer a unidade física do parque, modificando a Avenida do Estado para as extremidades do parque e retirando os viadutos. Para fazer a ligação entre seus dois lados, foram propostas duas pontes que cruzassem o Tamanduateí. Do mesmo modo que projetado na Gestão Covas, o Palácio das Indústrias seria a sede do Governo Municipal, mas neste caso teria uma praça cívica na frente.

A única obra realizada foi o restauro do Palácio das

Indústrias. Obra da arquiteta Lina Bo Bardi, o restauro contava com ampliação de um edifício anexo, que também não aconteceu. Desta forma foi sede da Prefeitura a partir de1992 até 2004, quando já não comportava as instalações necessárias.

O terminal de ônibus foi substituído em 1996 por outro

terminal menor, projetado por Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB. No espaço residual, anos depois, já na gestão de Celso Pitta, foram iniciadas as obras do sistema de Veículo Leve sobre Pneus(VLP), chamado Fura-Fila. No governo de Marta Suplicy, houve ampliação do sistema VLP, sendo que na gestão Serra/Kassab, o sistema rebatizado de Expresso Tiradentes foi ampliado, chegando até a Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade. Mais uma vez o Parque Dom Pedro II foi dividido numa das sucessões de obras que visavam melhorias numa escala maior, mas que colaboraram para seu deterioramento. Em 2011, após projetos que apontavam para a restauração e conservação, os edifícios São Vito e Mercúrio foram demolidos para abrir espaço para uma praça gastronômica e um estacionamento subterrâneo. Até o momento, o que se observa no local é um estacionamento na rua, ampliando as vagas para os visitantes do Mercado Municipal.

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O que se percebe do conjunto de obras realizadas ao longo do tempo no Parque Dom Pedro II é que em sua maioria expressiva foram obras que desconsideraram a escala do parque. Sempre voltadas a liberar o fluxo (principalmente) de carros, as grandes intervenções não se incomodaram em rasgar o parque em todos os sentidos e direções. Mesmo quando essas intervenções sobrepuseram o parque, como no caso dos viadutos, a sua sombra se fez presente e interferiu na configuração e uso do espaço, colaborando para o estado de degradação que o parque atingiu.

A

B C

D

E

F G

Configuração atual do Parque Dom Pedro II A. Museu CATAVENTO - Palácio das Indústrias B.Praça Cívica C. Terminal Pq. Dom Pedro II D. Terminal Mercado (Expresso Tiradentes) E. Colégio São Paulo F. Estação Metrô Pedro II G. Edífício Histórico 2º Batalhão de Guardas

23


4.

Como visto anteriormente, houve uma série

de intervenções realizadas no Parque Dom Pedro II. No início, estes projetos pretendiam organizar o fluxo de pedestres e principalmente de veículos. Entretanto, ao longo dos anos o que aconteceu foi a crescente degradação do parque e arredores devido à essas interferências.

Num segundo momento, intervenções são

propostas a fim de modificar a situação vigente, resgatando a unidade do Parque como espaço de lazer e área verde na cidade. No entanto, pouco do que é proposto é feito, e o que é realizado tem baixa expressão em relação ao todo.

Complicado então pensar em intervir em um

dos edifícios situados no parque sem pensar nas consequências de tal ação. Intervir em alguma das edificações sem refletir sobre seu entorno poderia ser uma tarefa vã, já que este prédio poderia ser um ponto de interesse localizado em um lugar que afasta as pessoas. Seriam dois vetores agindo em sentidos opostos.

Portanto, neste trabalho parto do pressuposto

de que as obras de melhoria propostas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, serão realizadas, intervindo num Parque Dom Pedro II recuperado física e socialmente.

24


4.1.

O desenvolvimento do Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II “Foi um trabalho extenso,

iniciado em 2009 e finalizado em 2011 que envolveu, além da SMDU [Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano], São Paulo Urbanismo, FUPAM [Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e Ambiente ligada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP] e colaboradores, [ como o Laboratório de Urbanismo da Metrópole – LUME e dos urbanistas do UNA Arquitetos, bem como dos escritórios H + F Arquitetos e Metrópole Arquitetos] e outras secretarias da Prefeitura como a Secretaria Municipal de Transportes, Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Planejamento.”(Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano).

parque, sem a pretensão de retomar o projeto inicial, e

A

E

Este projeto interfere de forma significativa no

sim com intuito de repensar o espaço a partir das questões contemporâneas que permeiam o local. Desta forma,

E

foram propostas as seguintes intervenções:

B D

B B

F C

A.Rebaixamento da Avenida do Estado;

B.Demolição de viadutos -

sustituição por vias em nível;

C.Construção de terminal intermodal;

D.Lagoa de drenagem, tratamento e reuso d’água;

E. Edifícios construídos no arco norte - SESC e SENAC;

Intervenções no arco oeste.

Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

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4.1. 1.

Como já dito, parte considerável do estado de degradação que atinge o Parque Dom Pedro

II resulta da avenida e dos viadutos que o cortam. Por outro lado, deve ser ressaltado que com essas vias, esta área adquiriu função de nó articulador da cidade, inclusive em escala metropolitana. Assim sendo, não seria possível simplesmente retirar alguma das vias que por ali p assar sem repensar em outro trajeto que mantivesse as ligações anteriores. Partindo desta premissa, é definido o rebaixamento da Avenida do Estado e a demolição dos viadutos 25 de Março, Mercúrio, Antônio Nakashima e Diário Popular, pensando nas respectivas compensações.

A proposta de rebaixamento da Avenida do Estado, elaborada em conjunto pela SIURB e

EMURB, é o ponto de partida do Plano Urbanístico. A proposta inicial é que a Avenida se estenda em túnel por 920 m, da Avenida Mercúrio até o Viaduto Diário Popular. No Plano em questão, é proposto que esse túnel seja estendido por mais 600m, chegando próximo à Radial Leste. Ou seja, o fluxo de veículos passará sob o parque, permitindo que a cidade se aproxime do Tamanduateí, ao mesmo tempo em que as ruas da Figueira e Dom Pedro II passam a receber transito local.

Sem a Avenida do Estado como obstácu-

lo, os viadutos 25 de Março, Mercúrio, Antônio Nakashima e Diário Popular se tornam obsoletos, sendo substituídos por passagens transversais em nível. Além disso, são criadas duas vias, continuação das ruas Maria Domitila e do Gasômetro. Com a retirada dos viadutos saem inclusive suas áreas residuais, as quais também subtraiam área do parque. Com esSistema viária. Situação atual.

Rebaixamento da Av do Estado e demolição de viadutos

Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

26

sas passagens em nível a circulação de pedestre volta a ser possível no sentido transversal, unindo as porções leste e oeste do parque.


4.1.2.

Os terminais Parque Dom Pedro II e Mercado (Terminal do Expresso Tiradentes) ocupam uma

porção do parque, contribuindo para a fragmentação desse espaço. Por outro lado, são vetores de atração, já que juntos recebem cerca de 275 mil pessoas por dia. Além disso, em conjunto com os viadutos que cortam o parque, estes terminais configuram o Parque Dom Pedro II como nó articulador de circulação pela cidade.

O Terminal Pq. Dom Pedro II é o mais movimentado da cidade de São Paulo, recebe 93 linhas de

ônibus. Já o Terminal Mercado têm só duas linhas, o que não diminui sua relevância, visto que é uma importante ligação com o extremo leste da cidade. Assim sendo, seria inviável remover estes dois equipamentos do parque. A solução encontrada foi organizar esses pontos de chegada e partida num conjunto único, criando um terminal Intermodal.

Além

de

abrigar

os

terminais

já citados, a cobertura da estação Intermodal abrigará a estação existente Pedro II do metrô, desta forma será mais fácil transitar entre essas tipologias de transporte. De acordo com o Plano

da

Secretaria

Desenvolvimento

Municipal

Urbano,

de

publicado

pela Editora Imprensa Oficial, “foram desenvolvidas

análises

específicas

de formação de fila, densidade de veículos e velocidade, para garantir a viabilidade e eficiência da estação”.

Com a implantação do Terminal

Intermodal, a circulação de ônibus ao

redor

do

parque

vai

diminuir,

que facilitará a transição de pedestres. A estação em si também será uma

Atual: Terminal Pq. Dom Pedro II, Terminal Mercado e Estação Pedro II - metrô

Projeto: estação Intermodal.

o

Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

27


forma de transpor o Tamanduateí e por consequência uma ligação entre as porções leste e oeste do parque. Ou seja, a presença deste novo equipamento permitirá que a população transite pelo parque com mais opções de percurso, ao mesmo tempo em que o programa ali estabelecido será um vetor de atração. Portanto, este será um equipamento público que estimulará a “pedestrianização” do local.

Importante ressaltar que a Estação Intermodal será implantada no sul do parque, próxima à

áreas definidas como ZEIS – Zonas de Interesse Social – que terão uso residencial por pessoas de

4.1.3.

Para porção oeste do parque foram projetadas uma praça linear, a qual percorre o parque no

sentido longitudinal, e uma Lagoa ao lado da praça, que evoca a lembrança de que em outros tempos a Várzea do Carmo costumava ficar alagada. A Lagoa, além da função paisagística, comportará a água excedente das temporadas de chuva, evitando os alagamentos que atualmente ocorrem no local. “As águas pluviais serão conduzidas por uma nova rede de microdrenagem para um conjunto de tanques onde será feita retenção do lixo e sedimentação de parte dos sólidos. Após essa filtragem inicial as águas são bombeadas para um sistema de filtragem natural, através de alagados construídos (wetlands). Durante aproximadamente três dias, as águas percorrem por gravidade essa área úmida vegetada, conjugada com microorganismos e espécies animais. Após esse período, a água tratada atinge o extenso trecho da lagoa que acompanha a praça linear, junto às áreas de uso público. Sua qualidade após o tratamento permite o contato das pessoas e sua utilização para irrigação do parque.”

Ligando os níveis entre a Praça

Linear e a Lagoa haverá uma pequena arquibancada, a qual será preenchida pelo volume de água que daria início à enchente. A esquerda Praça Linear. A direita, Lagoa drenante. Degraus inundáveis em temporada de chuva fazem a tranzição estre os dois elementos. Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

28

Quando o nível d’água baixar, a arquibancada fica disponível novamente para uso.


4.1.4.

Na porção norte do Parque Dom Pedro II se concentra a maioria dos edifícios históricos do

conjunto. Ali estão o Mercado Municipal, o Palácio das Indústrias e a Casa das Retortas. Mesmo assim, cada um deles se fecha para os outros em suas próprias funções, não há integração entre esses prédios ou suas atividades, além de serem separados pelas ruas e viadutos que cortam o parque.

Partindo de premissas definidas pela Prefeitura Municipal de São Paulo, que contam com

desapropriação das quadras entre a Rua Mercúrio, Avenida do Estado e Praça São Vito (onde estavam localizados os edifícios São Vito e Mercúrio) e com a demolição do viaduto Diário Popular, somadas as vias projetadas que unem transversalmente as porções leste e oeste do Pq. Dom Pedro II, serão construídos neste espaço liberado pelas demolições edifícios do SESC e SENAC. Num segundo momento, a quadra ao lado do Mercado Municipal também será desapropriada e ocupada com uma praça. Esta nova Praça do Mercado será um espaço integrado com o parque, que irá abrir espaço para o edifício do Mercado Municipal, propiciando que ele seja apreciado. Nesta área, será possível que aconteçam atividades diversas, como feiras e festas. Este espaço de respiro será importante articulador dos fluxos entre os visitantes do Mercado, os trabalhadores de lá e os demais pedestres.

Como dito anteriormente, o Viaduto Diário

Popular

será

demolido, cedendo espaço

para uma rua que passará sob o desenho do atual viaduto, ligando as duas margens 3

1 2

do

Tamanduateí.

Nesta

rua,

nos

espaços

remanescentes das demolições dos edifícios Mercúrio e São Vito serão construídos os prédios do SENAC e do SESC.

Arco Norte: 1. SESC, 2. SENAC, 3. Praça do Mercado Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

Os programas do SENAC e do SESC se

integram as demais atividades que acontecem na Porção Norte do Parque. Mais que isso, esses dois novos edifícios ajudarão a articular o uso dos

29


demais espaços culturais, como o Mercado Municipal, o Museu Catavento, localizado no Palácio das Indústrias e o Museu da História de São Paulo, futuramente na Casa das Retortas, visto que oferecem cursos (inclusive relacionados com as atividades já desenvolvidas no parque) e extensão programação cultural, possibilitando uma série de trocas. Outro fator importante é que SESC e SENAC realizam atividades durante o dia e durante a noite, assim sendo, será constante o número de pedestres circulando pelo parque, tanto atraídos pelos edifícios, quanto os que se sentirão seguros pela presença dos frequentadores desses novos equipamentos.

4.1.5.

A porção denominada Arco Oeste se trata não do parque propria-

mente dito, mas de um trecho do seu entorno. Normalmente não é possível interferir em áreas além da delimitada para o projeto, tendo as redondezas como uma variável na hora das decisões de projetar. Neste plano em questão, foi possível extrapolar os contornos do Pq. Dom Pedro II e propor modificações para a Rua 25 de março.

A atuação na rua 25 de março acontecerá entre a Avenida Rangel

Pestana e a Praça Fernando Costa. Em linhas gerais, é proposto alargamento e padronização das calçadas, enterramento de fiação, nova iluminação e Limitação de gabarito, para que a relação entre a rua 25 de março e a Colina Histórica não se perca. Aliás, ambas serão ligadas por um conjunto de escadas rolantes ao ar livre, dando acesso ao mirante do Pátio de Colégio, atualmente usado como estacionamento. Na praça Fernando Costa, as barracas do vendedores ambulantes serão substituídas por um centro popular de compras.

De acordo com Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II, é propos-

Ligação vertical entre a Rua 25 de março e a Colina Histórica - Pateo do Colégio Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

ta no Arco Oeste, uma unidade do Projeto Atenção Urbana, cujo foco de ação consiste em apoio, oficinas de atividades e vestiários para população em situação de rua. Visto que as atividades realizadas no Atenção Urbana e no Albergue para pessoas em situação de fragilidade social (foco deste trabalho)se sobrepõem, proponho que neste espaço seja criado um centro de referência para os comerciantes que saem de suas cidades e vem até essa região para realizar suas compras.

30


foto: Nelson Kon

Foto da situação atual do Parque Dom Pedro II

Foto montagem do Projeto Proposto. Nesta imagem fica claro como as passagens em nível reconfiguram o parque, tornando um espaço integrado novamente.

Pq. Dom Pedro II Plano fonte: publicação Parque Dom Pedro II planos e projetos

31


5.

Ao propor um projeto de albergue para pessoas em situação de rua, os

primeiros passos em direção à definição do programa do edifício foram no sentido do programa residencial ao qual estamos acostumados – sala, quarto, cozinha e banheiro, afinal, estas pessoas irão morar certo período neste lugar.

Passado o equívoco do primeiro momento, foi importante voltar às pesquisas

para projetos de mesma função. Eis que surge a surpresa: poucos nomes de arquitetos relacionados a projetos de albergues. Das lembranças do primeiro ano de curso, volta o arquiteto Roberto Loeb a frente da concepção do Projeto Oficina Boracéa. Das pesquisas surgem o Arsenal da Esperança e o Espaço de Convivência Jardim da Vida.

5.1.

Símbolo Oficina Boracéa

O Projeto Oficina Boracéa foi projetado pelos arquitetos Roberto Loeb e

Luís Capote. Ocupando uma área de 17 mil m², onde antes era uma garagem desativada da prefeitura, o albergue localiza-se na Barra Funda, ponto estratégico por estar no percurso de muitas pessoas em situação de rua, principalmente dos coletores de material reciclável.

Este é um projeto-piloto, visto que atende demandas latentes até então

desprezadas. Por determinação da Secretaria de Ação Social (SAS) os albergues devem estender seu horário de acolhida, e assim acontece no Boracéa: durante as 24h do dia é possível chegar e sair do albergue. Outra novidade é que o atendimento que é feito se prolonga por 6 meses, dando o mínimo de condição para que as pessoas sejam reinseridas na sociedade. Atividades como oficinas e capacitação profissional que incluem cursos de corte e costura, construção civil, jardinagem, etc.

32


qualificam a mão-de-obra e ampliam o leque de opções para se reintegrar a sociedade.

Entretanto, o que mais me chama atenção e me comove

nesse projeto é o estacionamento para carrinho dos coletores de material reciclável e o canil para os cães dos abrigados. Quem está em situação de rua costuma carregar consigo tudo o que pertence, assim sendo, oferecer um modo que essas coisas sejam guardadas, principalmente no caso daqueles cujos carrinhos são o instrumento de trabalho demonstra respeito pela atividade que a pessoa exerce

Banheiros individuais.

e colabora para aumentar sua autoestima.

Muitos dos que estão na rua optam por não ir para albergues

para não abandonarem seus cachorros. Os cães fazem companhia pra essas pessoas em todos os momentos, daí se entende a decisão. O Boracéa oferece abrigo para os animais, incluindo Centro de Zoonose, e serviço de banho e tosa, ou seja, reforça seu caráter inclusivo, ao criar mais uma estratégia que atraia seu público alvo. Apesar de algumas reservas quanto os desenho do Projeto Oficina

Taba: carrinheiros dormem ao lado de seus carrinhos.

Boracéa e outras tantas as desconfigurações que sofreu o projeto

inicial, não há como negar que ele apresenta novas questões no que diz respeito ao morador de rua, e que se não soluciona essas questões, aponta pra caminhos muito interessantes neste sentido.

A)Recepção geral B) carrinheiros – 88 pessoas C) canil/ veterinário D) Lavanderia comunitária E) tapa – 400 pessoas F) Instituto de pesquisas urbanas H) Ambulatório I)Capela/ Alojamento 3ª idade/ vestiário/ sanitários públicos/ salão múltiplo uso/ restaurante/ cozinha J)Posto policial K)Depósitos gerais L)Triagem M)Área de permuta/ Centro Comunitário Raul Tabajara N)Administração

33


5.2.

Áreas externa do abrigo. foto: Flávia Santana

O Arsenal da Esperança está localizado na região da Mooca, dividindo o edifício

da antiga Hospedaria do Imigrante com o Museu do Imigrante. Atentendendo cerca de 1200 homens por dia, tem seus os serviços custeados em parte por um convênio entre o albergue e a Prefeitura Municipal de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Assistência Social, em parte por doações.

Em outubro de 2012 realizei uma visita ao Arsenal da Esperança,

na qual conheci suas instalações e um pouco da rotina dos abrigados. Em uma conversa com a assistente social Celeste Arruda, foi possível entender como funciona o estabelecimento. A princípio, ela se refere ao Arsenal chamando-o de Casa de Acolhida, já que a “albergue” é uma palavra carregada de preconceitos. Celeste explicou que os abrigados podem entrar entre às 16h até às 21h, tomam banho e recebem o jantar. Na manhã seguinte, devem sair do edifício, retornando no período da tarde. Aqueles que buscam pernoite pela primeira vez passam por uma entrevista com assistentes sociais, que avaliam se aquela pessoa tem condições de ali ficar.

Se a curto prazo a proposta do albergue consiste em acolher,

a longo prazo visa reinserir socialmente quem está a margem da sociedade. Desta forma, através de convênios o Arsenal oferece cursos de

34

Limite entre abrigo e museu do Imigrante


Áreas externa do abrigo. Abrigados são responsáveis por cuidar do jardim foto: Flávia Santana

capacitação. São eles tele curso de primeiro e segundo grau, curso de panificação e confeitaria, curso de auxiliar de cozinha, curso de construção civil e inclusão digital.

Os abrigados podem permanecer

no edifício desde que trabalhem em alguma

Ao lado, refeitório e bagageiro. Abaixo, dormitório do abrigo. foto: Flávia Santana

função, como na limpeza ou manutenção. Inclusive, uma particularidade deste abrigo é que sua biblioteca foi idealizada e viabilizada por um ex-abrigado.

35


Ao lado,exterior da padaria, lavanderia, canteiro do curso de construção civil e máquina da cooperativa de catadores de material reciclável. Em todos esses espaços, abrigados ou ex-abrigadas são responsáveis pelas tarefas. foto: Flávia Santana

36


5.3.

Localizado na Avenida do Estado, estão os Espaços de Convivência Jardim da Vida I e II. No site

da Prefeitura de São Paulo (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/ noticias/?p=33446) há a seguinte descrição: ”Instalado no Parque Dom Pedro II, região central da Cidade, o Espaço de Convivência Jardim da Vida II foi criado para atender os moradores em situação de rua durante o dia, funcionando como porta de entrada para os serviços socioassistenciais desta pasta. No local, os usuários são atendidos por assistentes sociais e técnicos da saúde e recebem orientação e encaminhamento para os serviços da Prefeitura. Além disso, são disponibilizados banheiros com chuveiros (para aqueles que aceitam tomar banho), kits de higiene, oficinas de capacitação e, ainda, atividades culturais e de lazer, com o objetivo de estimular a reintegração social. Além do Jardim da Vida I e II, existem outros quatro espaços na Cidade: Mooca, Santa Cecília, Bela Vista e Barra Funda.”

Mesmo com o Espaço de Convivência cumprindo o que se propõem a fazer, ao passar pela

Avenida do Estado o que se vê são banheiros químicos em péssimas condições de uso, pessoas jogadas no gramado e muito lixo espalhado. Fica claro que o espaço residual foi mal adaptado ao uso que se pretendia dar. Ou pior: fica a sensação de que o espaço assim como está, já é suficiente o bastante para tratar com pessoas em situação de rua.

Irônico também chamar um lugar que acumula pessoas de “espaço de convivência”. A cidade é o nosso grande Espaço de Convivência, e essa população, tal qual está, é mantida apartada do restante da sociedade. Observação: Na foto ao lado, tirada em julho de 2013 é possível ver que o Espaço de Convivência está fechado. O local também está sem a placa que indicava a função desenvolvida até então. Tenda do Espaço de Convivência. foto:Ricardo Ribeiro.

37


6.

O Quartel Histórico da Polícia Militar está

localizado no Parque Dom Pedro II, na Avenida do Estado. Inicialmente, o edifício era uma chácara, a Chácara Fonseca, cuja primeira planta data de 1765. O corpo principal do edifício, o único bloco a princípio, foi feito em taipa de pilão, tabique e pau a pique. Posteriormente,

o

edifício foi ampliado com técnicas

construtivas

diferentes, pertinentes ao momento ampliações

histórico.

Estas

comportam

os novos programas que o edifício abrigou ao longo do tempo. Os dois braços laterais, por exemplo, foram construídos de 1850 a 1890, em blocos semi artesanais. Entre 1920 e 1930 houve uma pequena ampliação com tijolo cerâmico. Neste período o prédio foi ocupado primeiramente pelo seminário das educandas e depois pelo hospital dos alienados. A partir de

Pq. Dom Pedro II. Em destaque a fachada do Quartel voltada para Avenida do Estado. fonte: google maps.

1930 o edifício foi usado pela Antiga Força Pública. A partir de 1950 são realizadas construções em alvenaria, como o bloco de sanitários, o refeitório e o muro de tiro. Fachada principal da edificação, com tapumes para obras do futuro museu da Polícia Militar. foto: Ricardo Ribeiro.

38


Fotos do interior do edifício. Cupins e infiltrações tomam conta do lugar. fonte: www. saopauloantiga. com.br foto:Héveles MArtinez.

Fachada do Quartel voltada para Avenida do Estado. fonte: www.saopauloantiga.com.br foto:Douglas Nascimento.

Componentes de madeira, como cobertura, forro e piso seriamente comprometidas por infiltrações e cupins. foto:Héveles Martinez (Primeira a esquerda) foto: Kátia Vieira (demais fotos)

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A esquerda, fachada principal da edificação, com tapumes para obras do futuro museu da Polícia Militar. foto: Ricardo Ribeiro. A abaixo, lateral do edifício.

fonte: www.saopauloantiga.com.br foto:Douglas Nascimento.

foto: Ricardo Ribeiro

fotos: Kátia Vieira

A cima, pátio interno. Pode-se ver o mato que toma do local e as janelas quebradas. fonte:www.saopauloantiga.com.br foto: Héveles Martinez

40


Apesar do tombado pelo CONDEPHAAT em 1981, o prédio não escapou da degradação

que atinge o Parque Dom Pedro II e entorno. Ao passar ao redor do Quartel é possível ver o estado decadente em que se encontra, com janelas quebradas e reboco caindo. De dentro do metrô da linha vermelha é possível ver que o pátio do edifício virou depósito de viaturas velhas. E o prédio ainda tem ferrugens, cobertura destelhada, infiltrações e piso seriamente deteriorado, como pode ser visto nessa série de fotos.

6.1.

A falta de conservação do conjunto indicou a primeira decisão de projeto: ao invés de tentar

recuperar as partes danificadas, opto por demolir as estruturas em madeira e paredes internas. Também abro mão dos blocos construídos posteriormente, ficando assim o edifício histórico. Em contrapartida, para acomodar o novo programa foi necessário idealizar três novas alas.

Tanto as novas alas quanto o interior do edifício histórico foram projetados em estrutura metálica.

Desta forma, ao mesmo tempo em que a nova estrutura reforça estruturalmente as paredes de taipa, fragilizadas pela demolição, ela também viabiliza o programa proposto e ainda organiza a circulação entre o prédio histórico e as novas alas. Graças aos vãos livres resultantes do sistema metálico, foi possível organizar o programa proposto e ainda retirar paredes para organizar a circulação entre o prédio histórico e as novas alas.

Estrutura metálica interna.

41


PLANTA PAV. TÉRREO - SITUAÇÃO ATUAL escala 1:850

0

5m

10m

20m

PLANTA PAV. SUPERIOR - DEMOLIÇÃO escala 1:850

PAREDES MANTIDAS PAREDES A DEMOLIR

42

50m


PLANTA PAV. TÉRREO - SITUAÇÃO ATUAL

PLANTA PAV. SUPERIOR - DEMOLIÇÃO

escala 1:850

escala 1:850

PAREDES MANTIDAS PAREDES A DEMOLIR

Nestas

plantas

é

possível

ver

a

configuração interna do edifício histórico e a indicação das paredes a serem demolidas. O espaço resultante, tanto no pavimento térreo quanto no superior é consideravelmente complicado,

que

é

composto

por

corredores estreitos e compridos, que ligam PLANTA PAV. TIPO escala 1:850

o grande salão a duas outras salas.

43


6.3.

A princípio, o projeto consistia em um abrigo para moradores de rua, entretanto, perceber que

algumas pessoas conseguem um leito e outras não foi um tanto quanto perturbador. Não cogitei aumentar o número de leitos, porque o local não comportaria tamanha demanda. A estratégia então, é que haja dois programas paralelos, sendo que um atende aos abrigados e o outro a pessoas que não conseguiram o leito. Há também quatro praças, que em alguns momentos delimitam a circulação, mas que na maior parte do tempo integram os espaços. Temos, consecutivamente, a Casa de Acolhida do Carmo, a Casa de Apoio, a Praça Primeira, a Praça de Acolhida, a Praça da Memória e o Pátio Interno. Como mostra a planta esquemática adiante, a primeira praça fica a esquerda do edifício

histórico. Por ser o primeiro lado visto por quem segue o sentido (dos carros) da Avenida do Estado, é chamada Praça Primeira. Nela acontece o contato inicial com o edifício.

PLANTA PAV. TÉRREO LANTA PAV. TÉRREO PLANTA PAV. TÉRREO cala 1:1000 escala 1:1000 escala 1:1000

44

CASA DE APOIO PRAÇA PRIMEIRA CASA DE ACOLHIDA DO CARM PRAÇA DE ACOLHIDA CASA DE APOIO PRAÇA PRIMEIRA ACOLHIDA - ACESSSO CASA DE APOIO PRAÇA PRIMEIRA CASA DE ACOLHIDA DO CARMO DA MEMÓRIA PRAÇA DE ACOLHIDA FUNCIONÁRIOS CASA DE AO ACOLHIDA DO CARM PRAÇA DE ACOLHIDA CASA DE ACOLHIDA -RESTRITO ACESSSO INTERNO PRAÇA DA MEMÓRIAPÁTIO CASA DE ACOLHIDA - ACESSSO RESTRITO AO FUNCIONÁRIOS PRAÇA DA MEMÓRIA PÁTIO INTERNO RESTRITO AO FUNCIONÁRIOS PÁTIO INTERNO


PLANTA PAV. TÉRREO

escala 1:1000

PRAÇA PRIMEIRA PRAÇA DE ACOLHIDA PRAÇA DA MEMÓRIA PÁTIO INTERNO

CASA DE APOIO CASA DE ACOLHIDA DO CARMO CASA DE ACOLHIDA - ACESSSO RESTRITO AO FUNCIONÁRIOS

A segunda é a Praça de Acolhida. Conforme diz seu nome, é aqui que acontece a acolhida dos abrigados. Nesta Praça está localizada a sala da assistente social, responsável pelas entrevistas para

os

candidatos

aos

leitos. Esta sala em especial é vedada com vidros, para que a assistente seja vista como alguém mais próxima e acessível. Como parte da Acolhida, aqui também

PLANTA PAV. SUPERIOR escala 1:1000

PRAÇA PRIMEIRA PRAÇA DE ACOLHIDA PRAÇA DA MEMÓRIA PÁTIO INTERNO

CASA DE APOIO CASA DE ACOLHIDA DO CARMO CASA DE ACOLHIDA - ACESSSO RESTRITO AO FUNCIONÁRIOS

ficam

os

controles

de

acessos ao Abrigo para os que retornam. Importante salientar que um acolhido pode ficar por um período que ultrapasse 6 meses, de acordo com o desenvolvimento do seu caso.

Nesta praça também ficam as atividades realizadas tanto para os abrigados quanto para

os que não dormirão no abrigo. Por este motivo, as atividades aqui localizadas são pontuais, visto que quem não tem um leito tem uma relação diferente de vínculo com o projeto, nem sempre se comprometendo a longo prazo. São elas: atendimento para retirada de documentação, enfermaria, sanitários para funcionários, manicure/pedicure, cabeleireiro/barbeiro, atendimento veterinário, sala de leitura e de tevê e sede de cooperativa de catadores de material reciclável.

Esta praça tem função de acolher a todos, visto que além de oferecer acesso ao Abrigo e

serviços diversos, é também um espaço que se configura como passagem coberta, e mais do que isso, como um local público de estar, um abrigo de uma série de intempéries ou austeridades da cidade. Esta praça se conecta as demais e ainda conecta a Casa de Apoio e a Casa de Acolhida.

A Praça da Memória está à direita do edifício. Ela leva esse nome porque mantem o muro de

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tiro, relembrando uma parte da história do prédio, entretanto ele tem um uso bem diferente agora: é aqui que está locado o Canil. Ainda pensando na relação entre os vários tempos históricos e a importância dos elementos existentes, a quadra de futebol existente é mantida e adaptada para uma quadra poli esportiva, a qual recebe uma arquibancada que ao mesmo tempo funciona como estacionamento para os carrinhos dos catadores de material reciclável.

Já o Pátio Interno se configura num lugar de repouso. Visto por todos, acessível a todos, conserva

as árvores existentes e cria em volta delas uma escada que funciona como arquibancada. Ou uma arquibancada que funciona como escada.

CASA DE APOIO

A Casa de Apoio tem como objetivo oferecer uma alternativa

àqueles que não conseguiram um leito, ou mesmo aqueles que optaram por não ficar no abrigo. Como dito anteriormente, os serviços oferecidos na Praça de Acolhida atendem tanto a Casa de Acolhida quanto a Casa de Apoio. Já os que fazem parte da Casa de Apoio são o bagageiro, os vestiários e o restaurante popular. O bagageiro consiste em 200 armários para guardar pertences diversos. Cada pessoa, mediante a cadastro, tem acesso a um armário para guardar seus objetos. A chave do armário fica em posse do responsável por ele, para que as pessoas se sintam seguras em usar esse equipamento. Os vestiários estão na nova ala esquerda. Há os vestiários masculinos e femininos, com 16 chuveiros cada, mas há também seis vestiários (individuais) reservados para pessoas com crianças e ainda dois para deficiente. Nessa ala existe ainda um local para distribuição de produtos de higiene pessoal e das chaves dos vestiários reservados. Por fim, o Restaurante Popular completa o programa da Casa de Apoio. A partir do momento que foi definido que o conjunto teria um restaurante e um refeitório, uma premissa desse projeto foi que ambos compartilhassem

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a mesma cozinha, a fim de otimizar espaço, padronizar o serviço prestado e organizar carga e descarga. Localizado na ala central, à esquerda da cozinha, o Restaurante Popular oferece 184 lugares, divididos em dois pavimentos. O pavimento superior do Restaurante é o único local nesse nível ao qual alguém não abrigado tem acesso.

CASA DE ACOLHIDA DO CARMO

Apesar de carregar o nome “CASA”, a Casa de Acolhida pretende

ser na verdade um local de passagem, uma etapa para reinserção social de quem está em situação de rua. Para obter bons resultados é necessário intervir a curto e longo prazo. Oferecer boas instalações e horários de retorno mais flexíveis ajudam a manter o indivíduo no abrigo, mas num segundo momento é preciso instrumentalizá-lo, para que possa adquirir autonomia. Portanto, além de contar com as atividades oferecidas na Praça de Acolhida, o Abrigo conta com serviços voltados somente aos abrigados. No braço direito inferior do edifício histórico estão localizadas salas para cursos como de corte costura, de artesanato, aulas de alfabetização e aulas de informática. Todas essas atividades demandam continuidade e comprometimento, algo mais fácil de cobrar de quem possui um vínculo formal com a instituição. No andar superior serão prestados outro tipo de serviços, mas ainda é mantido o caráter de atividades que necessitam de retorno. Em sua maioria são atividades relacionadas a cuidados médicos, como assistência odontológica, médica e psiquiátrica, além de assistência jurídica. Existe inclusive uma sala de tv e jogos, e uma biblioteca. Importante salientar que a biblioteca não tem controle de acesso já que esse cuidado foi tomado ao entrar no Abrigo. Nesse segundo pavimento também estão os dormitórios. O módulo básico contém quatro leitos, e tem suas medidas definidas a partir da medida

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da janela do edifício histórico. No total há 34 dessa tipologia, sendo 26 masculinos e 8 femininos, com 104 e 32 leitos, respectivamente. Além deste, existe ainda a tipologia voltada para pequenos grupos familiares, composta por um quarto de casal, um de solteiro, com duas camas e um banheiro. Esse módulo totaliza 6 unidades, e ainda há 4 unidades adaptadas a pessoas com necessidades especiais. Ou seja, a Casa de Acolhida do Carmo oferece 164 leitos. A opção por quartos menores em detrimento de grandes salões dialoga com a constante busca de recuperação da autoestima. Quem está em situação de rua sofre um processo acentuado de perda de identidade. Possibilitar que essas pessoas fiquem em quartos pequenos, com uma escala mais próxima do indivíduo auxilia a retomar as relações que havia se perdido. Quanto a atividades ilícitas que poderiam ser realizadas nessas condições, o voto de confiança que é dado também é um estímulo a recuperar autoestima perdida, e moeda de troca, que garante a manutenção da vaga conseguida. Na nova ala, à direita fica o espaço de acesso exclusivo para quem trabalha no abrigo. Ali ficam a lavandeira, os vestiários masculinos e femininos de funcionários e a copa, também de funcionários.

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PLANTA - LOCALIZAÇÃO NO PARQUE DOM PEDRO II escala 1:5000

PLANTA DE COBERTURA escala 1:1000

1- EDIFICAÇÃO PRINCIPAL 2 - CANIL 3 - QUADRA POLIESPORTIVA 4- ARQUIBANCADA/ ESTACIONAMENTO DE CARROÇAS

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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO escala 1:500

1. PRAÇA DE ACOLHIDA 2.PRAÇA COBERTA 3.RETIRADA DE DOCUMENTO 4.ENFERMARIA 5.SANITÁRIOS 6.CABELEIREIRO/MANICURE 7.VETERINÁRIO 8.SALA DE CONVIVÊNCIA/ LEITURA/ TELEVISÃO 9.COPERATIVA 10.BAGAGEIRO 11.SANITÁRIO/VESTIÁRIO MASCULINO 12.SANITÁRIO/VESTIÁRIO FEMININO 13.BANHEIRO/ VESTIÁRIO FAMILIAR 14.CONTROLE DOS SANITÁRIOS/DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE 15.SANITÁRIO DEFICIENTE 16.RESTAURANTE POPULAR 17.CONTROLE DE ACESSO 18.ASSISTENTE SOCIAL 19.CORTE COSTURA 20.INFORMÁRTICA 21.SALA MULTIUSO 22.ALFABETIZAÇÃO 23.ARTESANATO 24.REFEITÓRIO 25.COZINHA 26.LAVANDEIRA 27.COPA FUNCIONÁRIOS 28.SANITÁRIO FUNCIONÁRIOS DEFICIENTES 29. SANITÁRIOS FUNCIONÁRIOS MASC./FEM. 30.CIRCULAÇÃO VERTICAL 31.PRAÇA CENTRAL 32.CANIL 33.QUADRA POLIESPORTIVA 34.ARQUIBANCADA/ESTACIONAMENTO DE CARROÇAS



PLANTA PAVIMENTO SUPERIOR escala 1:500

1. PSICÓLOGO 2.DENTISTA 3.SANITÁRIOS FUNCIONÁRIOS 4.AMBULATÓRIO MÉDICO 5.ASSISTÊNCIA JURÍDICA 6.SALA DE TV 7.BIBLIOTECA 8.DORMITÓRIOS MASCULINOS 9.DORMITÓRIOS FEMININOS 10.DORMITÓRIOS FAMILIARES 11. DORMITÓRIOS ADAPTADOS 12.RESTAURANTE

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55











B

DORMITÓRIOS - MÓDULO

A

A

O

módulo

dos

dormitórios

foi

idealizado a partir da modulação das paredes de taipa e suas janelas. Cada quarto “ocupa” duas porções de parede e dois vãos de janela. Optei por quartos menores para estimular a recupeção da individualidade de cada uma dessas pessoas.

Suas dimensões são limitadas

principalmente pela medida longitudinal dos braços do edifício, sendo um 6,50 B

PLANTA MÓDULO DORMITÓRIO escala 1:75

m e o outro 7 m. Os quartos projetados nas

novas

alas

seguem

a

mesma

configuração. Apesar da possibilidade de um novo desejo, opto por manter o mesmo desenho para não criar hierarquia entre as tipologias.

CORTE AA escala 1:75

CORTE BB escala 1:75

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66


CANIL E ESTACIONAMENTO DE CARRINHOS

O canil e o estacionamento de carrinhos são peças fundamentais neste conjunto. Muitas

pessoas em situação de rua não aceitam abrigo em instituições porque teriam que abrir mão de seus pertences, seus carrinhos e de seus cães.

Na verdade o “abrir mão” se refere ao fato de que essas instituições não têm um local onde

deixar qualquer uma dessas coisas. Lembrando que o que pode parecer sem valor, neste caso se trata do instrumento de trabalho e da principal companhia daquela pessoa. Por isso, a importância de existirem o Canil e o Estacionamento de carrinhos. Eles são vetores para a Casa de Acolhida, reforçando a ideia de que essas pessoas são bem vindas aqui.

Como dito anteriormente, na Praça de Acolhida há atendimento veterinário para tratar dos

animais dessas pessoas. O canil tem seis baias individuais para os animais ariscos ou doentes, e um grande espaço comum para os demais. Todo o canil tem área coberta e descoberta.

Uma particularidade deste equipamento é que ele está localizado dentro do que antes

funcionava como trincheira do muro do tiro na época em que o prédio era base do quartel. Implantar um canil no muro de tiro é uma maneira de preservar um pouco da história do lugar, conservando esse elemento de formato tão interessante e principalmente um movimento no sentido do que se pretende com o fazer com o edifício: subverter o último uso que teve.

O campo de futebol atualmente faz parte da cooperativa do Glicério, entretanto não faz parte

do projeto proposto para o Pq. Dom Pedro II. Optei por mantê-lo e adaptá-lo para uma quadra poliesportiva, por acreditar na importância de oferecer esse equipamento como uma possibilidade de lazer tanto para os abrigados, quanto para a população.

Em conjunto com a nova quadra proponho uma arquibancada, e sob ela um estacionamento

para os carrinhos dos coletores de material reciclável. Desta forma, o instrumento de trabalho dessas pessoas fica protegido de chuva e vento. As vagas são individuais e cada pessoa pode ficar com a chave de sua garagem, o que lhe garante autonomia e segurança.

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PLANTA CANIL escala 1:200

PLANTA CANIL - COBERTURA escala 1:200

ELEVAÇÃO FRONTAL escala 1:200

CORTE AA escala 1:200

Foto do muro de tiro.

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CORTE BB escala 1:200


PLANTA ARQUIBANCADA escala 1:250

PLANTA ESTACIONAMENTO DE CARRINHOS escala 1:250

ELEVAÇÃO - ARQUIBANCADA escala 1:250

ELEVAÇÃO - ESTACIONAMENTO DE CARRINHOS escala 1:250

CORTE AA - ARQUIBANCADA/EST. CARRINHOS escala 1:100

ESTACIONAMENTO DE CARRINHOS escala 1:100

ELEVAÇÃO LATERAL escala 1:100

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Imagem geral do conjunto.

Praรงa Primeira.

70


Pรณrtico voltado para Praรงa

Pรณrtico voltado para Praรงa da Memรณria

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Fachada Posterior com vista para o Tamanduateí. Chapas metálicas que filtram o sol. Arquibancada-escada do Pátio Interno.

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Canil implantado no Muro de tiro.

Vizualização geral do Canil.

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Nesta imagem vista para a entrada das Garagens de Carrinhos.

Aqui, a frente da arquibancada.

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Praรงa de Acolhida Biblioteca

Restaurante Popular

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7. Caixa Forum - Herzog & de Meuron

Parque Guinle- Lúcio Costa

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Praça das Artes - Brasil Arquitetura


8.

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, São Paulo Urbanismo; FAUUSP-FUPAM; Laboratório de Urbanismo (LUME); UNA Arquitetos; H + F + Metrópole Arquitetos. – Parque D. Pedro II: plano e projetos. São Paulo : Imprensa Oficial do Estado, 2012. Prefeitura de São Paulo. CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO (2011) GROSTEIN, Marta Dora, MEYER, Regina Maria Prosperi. A leste do Centro: territórios do Urbanismo.São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. BRUNO, Adrea, BOLLING, Klaus, DAVIES, J.Michael, FELDMANN, Markus, GROHMANN, Manfred, MAZZOLANI, Federico. DETAIL FEATURING STEEL. Detail, Munich, 2009. TFGs: ENDRIGUE, Taisa da Costa. REPENSANDO O PROJETO BORACEA Proposta de abrigo para moradores de rua na cidade de São Paulo. Trabalho Final de Graduação FAUUSP, 2002. Orientadora: Drª Maria Cecília Loschiavo dos Santos. VIEIRA, Kátia Fernanda de O. PATRIMÔNIO E CENTRO METROPOLITANO: Projeto de uma escola de Artes e Música no Antigo Quartel do Parque Dom Pedro II. Trabalho Final de Graduação FAUUSP. Orientador: Fábio Mariz Gonçalves. FIGEUEIREDO, Aline Cannataro de. HABITAÇÃO TEMPORÁRIA albergue para moradores de rua no bairro de Pinheiros. Trabalho Final de Graduação FAUUSP. Orientador: Fábio Mariz Gonçalves. Sites: www.unaarquitetos.com.br www. prefeitura.sp.gov.br www.loebarquitetura.com.br www.brasilarquitetura.com

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