DISSERTACAO_BARCIA_M.S_Comportamento.e.relacionamentos.dos.individuos.nas.organizacoes...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Marlene Simão Barcia

COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDIVÍDUOS NA ORGANIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DAS TEORIAS DA GESTALTERAPIA E DA CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE

Dissertação de Mestrado

FLORIANÓPOLIS 2004


MARLENE SIMÃO BARCIA

COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDIVÍDUOS NA ORGANIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DAS TEORIAS DA GESTALTERAPIA E DA CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE

Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientadora: Profª. Christianne Coelho de Souza Reinisch Coelho, Dra.

FLORIANÓPOLIS 2004


MARLENE SIMÃO BARCIA

COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDIVÍDUOS NA ORGANIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DAS TEORIAS DA GESTALTERAPIA E DA CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE Esta Dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 20 de agosto de 2004.

______________________________ Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. Coordenador

Banca Examinadora:

______________________________________ Profª. Christianne Coelho de Souza Reinisch Coelho, Dra. Orientadora

___________________________________ Profª. Elaine Ferreira, Dra.

___________________________________ Prof. Álvaro Lezana, Dr.

________________________________ Prof. Luiza Bessa Rebelo, Ms.


A vocĂŞ Luiz Henrique que fez-se presente com seu incentivo, companheirismo, amor e, principalmente, com sua ajuda incondicional em todos os momentos. A vocĂŞ, meu amor.


AGRADECIMENTOS

Agradeço da forma mais carinhosa:

A DEUS, por tudo que sou, por tudo que tenho e pelas possibilidades infinitas de crescimento.

À minha orientadora Christianne, por tudo que me ensinou, pela disponibilidade de sempre ouvir e acalmar meus anseios. Torno evidente minha admiração pelo seu conhecimento de vida e de trabalho, pela sua simplicidade diante do complexo. “Tani”, que seu brilho continue iluminando os caminhos dos mestrandos e doutorandos.

Ao Prof. Álvaro Lezana, por sua constante amizade e por me aceitar como aluna do Mestrado, confiando plenamente em minha capacidade.

À amiga Luiza, sempre tão amável e atenciosa em todos os momentos.

Ao Prof. Fialho, que me aceitou como aluna, dando seu voto de credibilidade sem questionamentos.

À Profª. Elaine que tão prontamente aceitou fazer parte da minha banca.

Às pessoas que participam de minha vida, sempre me proporcionando alegrias, amizade, carinho, confiando em mim, incentivando meu trabalho, compartilhando de


tudo que vivo: Salete, Amélia, Jaiciara, Giza, Mª Helena, Jaque e, Selva, Nelci, Yolanda, Gley e Amorim outros grandes amigos.

A Mariazinha, Lelena e Augusto por sempre me receberem com tanto amor.

A um ser tão pequeninho, mas que enche meu coração de amor e alegria, mostrando que o amor supera todas as coisas na vida, minha neta Isabella.

Aos meus filhos Ricardo, Rodrigo e minha nora Sabrina simplesmente por existirem, serem o que são e por eu amá-los incondicionalmente.

Ao meu pai Afonso, pela sua dignidade e por estar sempre pronto a ajudar.

À minha mãe, pelo amor, mesmo na saudade.

À minha irmã Tere, por estar sempre procurando me trazer para o “aqui e agora”.

Ao meu irmão Joaquim, sempre lembrado com muito carinho, e a Beatriz, Andréa, Luciana, Cristina e Fernanda, pela amizade e presença em tantos momentos de minha vida.

E especialmente, ao meu amor, Luiz Henrique, por tudo, sem limites, pela participação incansável de todo meu trabalho. Você supera todas as palavras e agradecimentos possíveis. Obrigada por dar forma ao meu sonho.


A vida não é um corredor reto e tranqüilo que nós percorremos livres e sem empecilhos, mas um labirinto de passagens, pelas quais nós devemos procurar nosso caminho, perdidos e confusos, de vez em quando presos em um beco sem saída. Porém, se tivermos fé, uma porta sempre será aberta para nós, não talvez aquela sobre a qual nós mesmos nunca pensamos, mas aquela que definitivamente se revelará boa para nós. (A.J.Cronin)


RESUMO

BARCIA, Marlene Simão. Comportamentos e relacionamentos dos indivíduos na organização: uma contribuição das teorias da gestalterapia e da ciência da complexidade. 2004. 128f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

O objetivo deste trabalho é mostrar como a Teoria da Gestalterapia e da Ciência da Complexidade podem oferecer uma estrutura conceitual que possa auxiliar os indivíduos a terem uma vida mais flexível e adaptativa no contexto organizacional. Dessa forma, os indivíduos são capazes de selecionar modos de vida e trabalho de uma

maneira

mais

integrada,

dinâmica

e

participativa,

especialmente

na

organização, operando em rede, e numa constante forma de aprendizado. As referidas teorias, Gestalterapia e Ciência da Complexidade, mostram ao ser humano como interagir em grupo de acordo com um conjunto de ações, possibilitando-os a examinar e melhorar seus próprios comportamentos e, conseqüentemente, o comportamento dos outros membros do grupo e do sistema ao qual pertencem. Este trabalho consiste de uma pesquisa bibliográfica e pretende ampliar a visão de que é possível unir teorias, obtendo “insights” para o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre relacionamentos e comportamentos entre indivíduos que trabalham na organização.

Palavras-chaves: Indivíduo. Relacionamento. Comportamento. Organização. Ciência da complexidade. Gestalterapia.


ABSTRACT

BARCIA, Marlene Simão. Behaviour and relationship of individuals at the organization: a contribution from gestalt therapy and the science of complexity. 2004. 128f. Dissertation (Master's degree in Production Engineering) – Technology Center, Federal University of Santa Catarina, Florianópolis.

The purpose of this present work, behaviour and relationship of individuals at the organization, is to show how the theory of gestalt therapy and the science of complexity might provide to individuals more flexible and adaptative life at the organization. How such individuals are capable to link their way of life and work in an integrated, dynamic and informed form; specialy at organizations, operating in a network system and in a constant way of learning. Both theories, gestalt therapy and the science of complexity, show how human being can interact to each other, according to a set of actions that require them to examine and replay their own behaviour as well as the behaviour of the others members of the same group system. This work intends to winden that it is possible to join theories, getting insights for the development of studies and researches of the relationship and behaviour among workers at the organization.

Key words: Individual. complexity. Gestalt therapy.

Relationship. Behaviour. Organization. Science

of


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação da Figura/Fundo ................................................................ 48 Figura 2: Ciclo de contato........................................................................................... 59 Figura 3: Redes Humanas..........................................................................................91 Figura 4: Feedback em redes humanas .................................................................... 97 Figura 5: Uma rede organizacional constituída de três agentes ............................... 101 Figura 6: Insights sobre comportamentos .................................................................. 118


SUMÁRIO 1INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 1.1 Contextualização ................................................................................................ 12 1.2 Tema e problema de pesquisa .......................................................................... 17 1.3 Objetivos da pesquisa........................................................................................ 19 1.3.1Objetivo geral...................................................................................................... 19 1.3.2 Objetivos específicos......................................................................................... 19 1.4 Metodologia utilizada na pesquisa ................................................................... 20 1.5 Justificativa e relevância do estudo ................................................................. 21 1.6 Descrição dos Capítulos.................................................................................... 24

2 COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDÍVIDUOS/AGENTES NAS ORGANIZAÇÕES .................................. 25 2.1 As organizações ................................................................................................. 25 2.2 Comportamento organizacional........................................................................ 27

3 TEORIA DA GESTALTERAPIA .................................................................... 37 3.1 Origens da gestalterapia.................................................................................... 37 3.2 Princípios/abrangência da gestalterapia ......................................................... 39 3.3 Fenomenologia.................................................................................................... 42 3.3.1 Existencialismo .................................................................................................. 44 3.4 Alguns conceitos básicos de gestalterapia.....................................................46 3.4.1 Figura e fundo.................................................................................................... 46 3.4.2 Teoria de campo na gestalterapia..................................................................... 50 3.4.3 Visão holística em gestalterapia........................................................................ 54 3.4.4 Contato............................................................................................................... 55


3.4.5 Fronteira de contato........................................................................................... 59 3.4.6 Funções e disfunções de contato na gestalterapia........................................... 60 3.4.7 A base dialógica................................................................................................. 62 3.5 Processo grupal para gestalterapia.................................................................. 65 4 TEORIA DA COMPLEXIDADE ............................................................................... 69 4.1 Introdução............................................................................................................ 69 4.2 Sistemas Adaptativos Complexos.................................................................... 72

5 ORGANIZAÇÕES COMO SISTEMAS COMPLEXOS ............................ 90 5.1 A rede legitimada ................................................................................................ 102 5.2 A rede sombra ..................................................................................................... 103

6 COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDIVÍDUOS NA ORGANIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DAS TEORIAS DA GESTALTERAPIA E DA COMPLEXIDADE ................. 110 6.1 Marco conceitual................................................................................................. 111 6.2 Insights sobre comportamentos.......................................................................117

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES ............................................ 121 REFERÊNCIA......................................................................................................... 123


1INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

Estamos vivendo na era do conhecimento, do compartilhar, do autoconhecimento e das grandes inovações. Por conseguinte, o homem moderno em todos os momentos de sua vida é levado a enfrentar mudanças, adaptar-se a novas situações e sistemas, procurar constantemente superar necessidades, sejam elas subjetivas, intelectuais ou sociais. Em vista disso, o conflito de interesses, a complexidade das relações, o autoconhecimento, o saber como agir dentro do sistema ao qual está inserido exige cada vez mais que sejamos seres adaptativos, pois tais sistemas, muitas vezes, desafiam a compreensão da inteligência humana tanto quanto qualquer previsão de acontecimentos e resultados. Portanto, qualquer abordagem da área humana ou de cunho psicológico é fundamentada em ações do comportamento e também do sentimento humano, pois todo o indivíduo vive de alguma forma em relação, que é permeada por adaptabilidade, cooperação, inteligência, contato e troca. A organização e seu funcionamento, bem como o sistema no qual o indivíduo está inserido pertencem a uma cultura, a um ambiente, onde cada um influencia o comportamento do outro de modo significativo. Ao interagir com seus semelhantes, o homem faz mais do que simplesmente conviver, informar ou ser informado sobre as necessidades de trabalho, ele aprende também a se autoconhecer para efetivamente relacionar-se em grupo e fazer parte de um sistema muitas vezes complexo, todavia de aprendizado e adaptação contínuos.


O grupo de indivíduos que faz parte de uma organização é como uma rede, uma teia, na qual cada elemento funciona como um ponto independente, mas psicodinamicamente interligado, agindo como um subsistema, sendo que dentro da organização, ele é um permanente processo de relação. Não é apenas algo físico, visível, é também uma entidade psíquica, existindo mesmo quando as pessoas não estão fisicamente presentes no mesmo lugar. Consoante Ribeiro (1994), tanto o grupo como os indivíduos são regidos por leis da natureza, da sociedade, do pensamento e do espírito. E, o que denominamos realidade é formado pelo biológico, pelo social, pelo psíquico e pelo espiritual que não são arquétipos nem construtos. O grupo tem função de tornar a realidade vivida, experienciada, sendo que as organizações podem ser um cenário para representação de papéis que cada um exerce, oferecendo inúmeras possibilidades de crescimento pessoal. Para Gibson; Ivancevich e Donnelly (1981), qualquer tentativa de compreender como e porque as pessoas tem um determinado comportamento dentro da organização exige uma compreensão das características e do comportamento individual, pois a habilidade humana abrange a compreensão das pessoas e suas necessidades, interesses e atitudes. As diferenças entre as pessoas exigem forma de ajustamento para a pessoa em questão e para suas relações no grupo, sendo que essa necessidade de ajustamento e adaptação influencia o comportamento individual, o grupal e conseqüentemente a organização em seu todo. Ainda para Gibson; Ivancevich e Donnelly (1981), uma organização é uma associação de pessoas caracterizada por:


• ter a função de produzir bens, prestar serviços à sociedade e atender necessidades de seus próprios participantes; • possuir uma estrutura formada por pessoas que se relacionam colaborando e dividindo o trabalho para transformar insumos em bens e/ou serviços; e • ser perene no tempo.

As organizações, cujo resultado ocorre através das relações pessoais, interpessoais e sociais que nela ocorrem, dependem do desempenho humano para seu sucesso, porque ao mesmo tempo a cultura organizacional interfere e recebe a influência das pessoas que dela fazem parte. Por conseguinte, a utilização da Psicologia como ciência, capaz de apoiar a compreensão e a intervenção na vida organizacional tem sido de muita utilidade para ajudar e atuar diretamente no comportamento das pessoas, pois, as organizações são uma das grandes forças da sociedade, têm papel importante nas relações e transformações dos indivíduos, exercem uma grande influência na vida das pessoas, desde que, por escolha ou necessidade, se consiga, a partir delas, obter parte da satisfação cultural, material e social. Dentro das muitas linhas teóricas nas quais os indivíduos, os grupos, ou as organizações procuram ferramentas de orientação e apoio, as respostas podem ser encontradas na teoria da Gestalterapia e na teoria da Complexidade, em especial

na teoria dos

Sistemas Adaptativos Complexos, pois, para ambas, o

homem é visto de uma forma holística, um ser criativo, um agente capacitado para viver ou representar diferentes papéis dentro de qualquer sistema de relações e dentro também do contexto organizacional.


A Gestalterapia é uma modalidade de psicoterapia existencial, enquanto uma forma característica de reflexão sobre a existência humana. Tem seu foco teórico no humano e considera o homem um ser de relações de contato num processo contínuo de crescimento. Por conseguinte, essa teoria psicológica tem em comum com outras teorias da mesma linhagem, a concepção do homem como ser no-mundo, como ser em relação, numa dialética na qual cria o mundo e é criado nessa relação, num vir-a-ser que nunca se completa, num movimento contínuo alimentado por um conjunto de potencialidades, sempre em aberto, que caracteriza o eterno projeto que é o existir humano. Trata-se, portanto, de voltar-se não a busca de essências, mas ao processo de existência do indivíduo ao modo de seu existir a cada momento (LOFFREDO apud YONTEF, 1998). Não obstante, a teoria da Complexidade refere-se ao estudo dos sistemas complexos, sendo que um sistema é qualquer porção ou todo arbitrário de um processo escolhido para análise, ou um conjunto de dois ou mais elementos que estão inter-relacionados (NÓBREGA, 1999). Já os sistemas complexos são sistemas com múltiplos componentes em interação, cujo comportamento não pode ser inferido a partir do comportamento das partes. Segundo

Axelrod

e

Cohen

(2000),

“complexidade”

não

denota

simplesmente “muitas partes em movimento”. Ao contrário, complexidade indica que o sistema consiste de partes as quais interagem de forma que influenciam fortemente as probabilidades de eventos posteriores. Complexidade normalmente resulta em características, chamadas propriedades emergentes, que são propriedades do sistema nas quais as partes separadas não têm, como por exemplo, nenhum neurônio tem consciência, mas o cérebro humano tem consciência como uma propriedade emergente.


Dentre os vários tipos de sistemas complexos, o nosso interesse está no estudo dos Sistemas Adaptativos Complexos (SAC). A característica deles é que são constituídos de agentes, que se adaptam mudando suas regras a partir de experiências acumuladas, interagindo e sendo descritos por regras, e a realização mais importante de tais sistemas consiste na capacidade de aprender pelo seu operar. O enfoque diferencial do referencial teórico dos SAC para o estudo das organizações é a proposta de estruturas de referência (conceitos) para o estudo dos agentes (pessoas) e seus padrões de interação, ao longo do tempo, dentro de espaços físicos e conceituais (estruturas organizacionais) que permite visualizar as estratégias e trajetórias das organizações no seu processo de evolução. Uma questão que pode ser considerada no estudo das organizações associado a Gestalterapia e a teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos é que como em uma rede integrada, os agentes ou indivíduos, independente do local onde estão inseridos dentro da organização, percebem e respondem ao meio através de comportamentos adaptativos com o objetivo de melhorar seu próprio comportamento e, conseqüentemente, o sistema a que pertencem. O objetivo deste trabalho é elaborar um marco conceitual para o entendimento dos comportamentos dos indivíduos numa organização a partir das teorias da Gestalterapia e da Ciência da Complexidade.


1.2 Tema e problema de pesquisa

O tema desta pesquisa é comportamentos e relacionamentos dos indivíduos/agentes nas organizações. Quando se faz uma pesquisa, se tem como objetivos a solução de um problema, a elaboração de uma nova teoria ou a verificação de uma teoria já existente. Esses aspectos, no entanto, nem sempre estão bem definidos, uma vez que não podem ser considerados como excludentes. Consoante Richardson (1999, p. 16), conquanto não se possa dizer que um desses aspectos é mais importante que o outro, o destaque de um deles se dá pelo conhecimento e pelo referencial teórico que existe a respeito do tema a ser pesquisado. Usando, no ambiente organizacional, bem como na vida pessoal de cada indivíduo a assertiva de Stacey (1996) de que aquilo que é verdadeiramente novo não está no passado ou no presente, sendo, portanto, por definição imprevisível, pode-se perceber que as organizações estão diante de situações complexas em que a imprevisibilidade é o elemento que permeia todos os contextos macro e microorganizacional. Essa nova forma de pensar resgata o caráter multidimensional do ser humano no contexto das organizações, por conseguinte, ver e entender as organizações é fundamental no processo de renovação, em que o ser humano, na condição de agente determinante e privilegiado a sofrer mudanças, assume o papel de vivenciador e transformador desse dever. Este trabalho tem como objetivo unir a teoria psicológica da Gestalterapia e a teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos na compreensão do indivíduo como


um ser total, holístico, capaz de compartilhar em suas relações, num processo dinâmico no qual a realidade é vista através das partes que a compõem, formando uma totalidade significativa, pois cada indivíduo, na visão dessas teorias, dentro da organização, é elemento de um grupo que interage como parte de um todo, dinamizado pela energia de complementação, em um processo permanente, criando não só a sua própria identidade, mas também a do grupo. Dentro do grupo, o indivíduo/agente tem a possibilidade de perceber e dar significado a cada comportamento apresentado, por ele e pelo grupo. Ribeiro (1994) afirma que no grupo, não se sabe quando o indivíduo é o indivíduo e quando ele é o grupo, quando ele fala única e exclusivamente de seu mundo interior e quando sua fala é expressão da matriz grupal, ou se, uma vez no grupo, ambos estão inevitavelmente contaminados um pelo outro. Tendo suporte da Teoria da Gestalterapia e da Teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos, o indivíduo, bem como sua relação com outros indivíduos/agentes, mais especificamente dentro das organizações, vive diante do princípio da incerteza, tendo como exemplo o universo quântico, onde nada é premeditado,

sendo

a

realidade

um

labirinto

móvel

e

indeterminado

de

possibilidades. Portanto, nesse universo, pode-se ver os comportamentos e relações fora da linearidade e causalidade newtonianas, um universo de ordem e verdades pré-sabidas, pois a realidade acontece sem obedecer a uma ordem necessária: antes, as coisas, bem como comportamentos, relações e processos acontecem em todas as direções. Como problema da pesquisa apresentamos a seguinte questão:


É possível elaborar um marco conceitual para o entendimento dos comportamentos individuais numa organização a partir das teorias da Complexidade e da Gestalterapia?

1.3 Objetivos da pesquisa

1.3.1Objetivo geral

Elaborar

um

marco

conceitual

para

o

entendimento

dos

comportamentos individuais numa organização, a partir das teorias da Complexidade e da Gestalterapia.

1.3.2 Objetivos específicos

- Identificar processos organizacionais relacionados a comportamentos e relacionamentos dos indivíduos/agentes dentro das organizações; - analisar, na Gestalterapia, conceitos relacionados a comportamentos e relacionamentos dos indivíduos/agentes na organização; e - relacionar,

na

Teoria

da

Complexidade,

conceitos

aplicados

à

configuração das organizações, elaborando um marco conceitual para o entendimento

dos

comportamentos

indivíduos/agentes na organização.

e

relacionamentos

dos


1.4 Metodologia utilizada na pesquisa

Na pesquisa qualitativa de caráter exploratório, “os estudos exploratórios colaboram para desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para modificar e clarificar conceitos” (MARCONI; LAKATOS, 1996). Para conhecer as mais variadas colocações a respeito do tema, as publicações já existentes e as informações atuais, foi adotada a pesquisa bibliográfica, pois segundo Silva e Menezes (2000), a pesquisa bibliográfica contribui: - para obter informações sobre situação atual do tema ou problema pesquisado; - conhecer publicações existentes sobre o tema e os aspectos que já foram abordados; e - verificar as opiniões similares e diferentes a respeito do tema ou de aspectos relacionados ao problema da pesquisa.

Para Richardson (1999, p. 79), uma abordagem qualitativa é uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno. Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis e possibilitar o entendimento do comportamento dos indivíduos. Segundo esse pensamento, as teorias que sustentam o cerne da pergunta

deste

trabalho

mostram

que

o

indivíduo/agente

pode

intervir

adequadamente, tendo uma percepção acurada do que é seu e /ou do grupo nas


relações dentro da organização, sendo seus comportamentos, ingredientes importantes para garantir a sobrevivência, crescimento e desenvolvimento, tanto desse indivíduo como do sistema organizacional. Dessa forma, levando a efeito a leitura e análise de diversas publicações sobre os temas em questão, procurando identificar e reunir pensamentos de diferentes teóricos, mas que tenham visões convergentes em determinados aspectos, foi feito o levantamento do material.

1.5 Justificativa e relevância do estudo

A direção de estudo desta dissertação é unir as teorias da Gestalterapia e a Teoria dos Sistemas Adaptativos Complexos aplicadas à organização, elaborando um marco conceitual a partir dessas fundamentações teóricas, para refletir o que pode ser adaptado, modificado e acrescentado nas relações e comportamentos dos indivíduos em seu ambiente de trabalho. E, de que forma as características comuns apresentadas pelas referidas teorias possam possibilitar para cada indivíduo/agente nas

organizações,

um

melhor

reconhecimento,

autopercepção

e,

conseqüentemente, um comportamento mais adaptável e transformador, gerado por essas relações e interações. As

organizações

podem

ser

vistas

como

Sistemas

Adaptativos

Complexos capazes de auto-organização, adaptação e co-evolução (STACEY 1996; AXELROD; COHEN, 2000; KELLY; ALLISON, 1998), sendo que esses processos não são direcionados ou controlados por uma identidade consciente, mas emergem através das inter-relações das partes do sistema.


Em seu livro “Complexidade e Criatividade nas Organizações” Stacey (1996), construiu uma estrutura conceitual na qual, a partir da ciência da complexidade e da Psicologia, é possível dar sentido ao que acontece na vida organizacional, sendo que atualmente, a questão do comportamento e dos relacionamentos está presente nas principais questões das organizações. Enfrentar os desafios e conviver num ambiente onde a cada dia se torna mais complexo prever ou mapear comportamentos e reações entre os indivíduos, faz com que o clima organizacional esteja intimamente ligado ao comportamento e relacionamento de seus participantes. E, o ambiente que envolve as organizações é extremamente dinâmico, exigindo dos indivíduos que nela atuam, uma elevada capacidade de adaptação. Pensar nas relações dos indivíduos e organizações entre si, o comportamento que cada um apresenta como parte de sua personalidade, sua concepção de mundo, como ser-em-relação, é pensar em adaptação e, conseqüentemente, em relação, mudança e aprendizagem. E, a área da teoria da complexidade que estuda a adaptação é conhecida como o estudo dos Sistemas Adaptativos Complexos (SAC) - (Complex Adaptative Systems – CAS), os quais são sistemas constituídos de um grande número de agentes que interagem entre si para produzir estratégias adaptativas para sobrevivência deles mesmos e, portanto, para o sistema do qual fazem parte (STACEY, 1996, p.19). Na vida profissional (psicóloga) da autora da dissertação, trabalhando com autoconhecimento, relacionamentos, comportamentos e aprendizagem, o seu principal interesse tem sido buscar compreender como os indivíduos, em seu ambiente de trabalho, podem ser atuantes, responsáveis e modificadores de comportamentos pessoais, e conseqüentemente influenciando o grupo no qual estão


inseridos. E, a Gestalterapia cumpre esse papel, pois ela auxilia o indivíduo a desenvolver e apreender como viver inter-relações em diferentes ambientes, mantendo ao mesmo tempo no indivíduo sua identidade e sua capacidade de diferenciar-se. Vendo as organizações como um lugar de fluxos e processos, Morgan (1996) utiliza um ensinamento bem conhecido de Heráclito quanto à impossibilidade de se mergulhar duas vezes em um mesmo rio, “onde tudo flui e nada permanece; tudo se transforma e nada se mantém em um estado fixo... o frio se transforma em calor e o calor em frio; a umidade seca e o que é seco se torna úmido... é mudando que se chega ao repouso” A organização pode ter os mais bem desenhados processos e os mais sofisticados sistemas do mundo, mas se o relacionamento entre as pessoas não for saudável, nada irá funcionar, significando, assim, que é necessário que cada um, além de conhecer-se bem, saiba compartilhar e conviver em grupo. Em vista disso, essa busca pelo melhor entendimento do ser humano faz com que a autora encontre na Teoria da Gestalterapia e na Teoria da Complexidade uma compreensão mais abrangente de como os relacionamentos e comportamentos são parte da essência humana. A totalidade do ser humano e sua singularidade influenciam e criam um “design” especial as organizações, sendo o aprendizado gerado nesse movimento, de uma riqueza extraordinária, já que todos crescem, criam, evoluem e escapam do previsível. Sendo assim, os bons relacionamentos e os comportamentos adaptáveis são formas de promover inovação, criatividade e inserir no ambiente organizacional, a dimensão da mudança como inerente ao indivíduo e aos sistemas sociais.


1.6 Descrição dos Capitulos

Este estudo está estruturado em sete capítulos. O capítulo 1 trata da introdução do trabalho, apresentando a contextualização, o tema e o problema da pesquisa, os objetivos, a metodologia utilizada, a justificativa e a relevância do estudo. O capítulo 2 trata dos Comportamentos e Relacionamentos dos Indivíduos/agentes nas Organizações, apresentando um enfoque geral sobre elas, o comportamento e as relações dos indivíduos nas mesmas. O capítulo 3 trata da Teoria da Gestalterapia, suas origens, seus pressupostos filosóficos e os conceitos básicos que regem a referida teoria. O capítulo 4 trata da Teoria da Complexidade e dos Sistemas Adaptativos Complexos, e como estas teorias podem ser aplicadas na organização. O capítulo 5 trata das Organizações como sistemas complexos, e de como esta teoria pode ser utilizada para descrever processos organizacionais. O

capítulo

6

apresenta

o

marco

referencial

para

entender

comportamentos e relacionamentos nas organizações a partir das Teorias da Gestalterapia e da Teoria da Complexidade. O capítulo 7 trata das considerações finais e sugestões para futuros trabalhos.


2

COMPORTAMENTOS

E

RELACIONAMENTOS

DOS

INDÍVIDUOS/AGENTES NAS ORGANIZAÇÕES

Como o pássaro entre as nuvens, e até mesmo como o humilde ciclista, a Vida só encontra seu equilíbrio no movimento. (Georges Duhamel)

2.1 As organizações

As organizações são tão antigas quanto à história do homem, pois ao longo do tempo, as pessoas se reuniram para alcançar determinadas metas, primeiro em famílias, depois em tribos e em unidades políticas mais sofisticadas. Por conseguinte, os povos antigos construíram pirâmides, templos e navios, criaram sistemas de governos, comércios e fizeram guerras. Tais pessoas ou tais povos não possuíam equipamentos de construção nem computadores, mas tinham uma coisa, organização. E, conquanto esses esforços conjuntos não tivessem nomes formais como

“Empresas X, Y, Z”, por exemplo, a idéia de se organizar estava muito

espalhada por todas as civilizações mais antigas. A corrente de autores que enfatizam as pessoas, e seu bem estar na organização, têm antecedentes muito antigos. Porém, segundo Gibson; Ivancevich e Donnelly (1981), o interesse dos cientistas do comportamento pelos problemas organizacionais é relativamente recente e tornou-se popular no início da década de 50, sendo que nessa época foi fundada uma organização chamada “Foundation for Research on Human Behavior”. As metas e objetivos dessa organização eram promover e apoiar pesquisas das ciências comportamentais quando estas pesquisas se referiam a empresas, governos e outros tipos de organizações.


Não obstante, atualmente essa abordagem recebe muita atenção da literatura sobre organizações, podendo este tema ser definido como o estudo do comportamento humano dentro das organizações e, mediante métodos científicos, sendo que essa é uma abordagem interdisciplinar, pois, ela se apóia na Psicologia, na Sociologia e na Antropologia. A Psicologia Social, por exemplo, trata do comportamento humano, na relação entre indivíduos, compreendendo os mesmos como pessoas e as características que tornam cada um diferente dos demais, sendo que o impacto dessa singularidade, mostra como os indivíduos e os grupos influenciam e modificam o comportamento um do outro. Para Maximiano (2000), o sistema social é formado por pessoas e suas necessidades, sentimentos e atitudes, bem como seu comportamento como integrantes de grupos, sendo que ele tem tanta ou mais influência sobre o desempenho da organização do que o próprio sistema técnico, formado pelas máquinas, métodos de trabalho, tecnologia, estrutura organizacional, normas e procedimentos. Portanto, no centro do processo organizacional está o ser humano e não o sistema técnico, pois o ser humano é a medida de tudo. A

Psicologia

Organizacional

trata

mais

especificamente

do

comportamento humano no ambiente organizacional e examina o efeito das organizações sobre o indivíduo e ação do indivíduo sobre a organização. Por conseguinte, quando se fala em Psicologia Organizacional, toma-se como referência as pessoas que participam das organizações e que nelas desempenham determinados papéis, já que elas passam a maior parte de seu tempo vivendo ou trabalhando nessas organizações, pois a produção de bens e serviços não pode ser desenvolvida por pessoas que trabalham sozinhas. Quanto


mais industrializada for a sociedade, tanto mais numerosas e complexas se tornam as organizações, e estas passam a criar um impacto sobre as vidas e sobre a qualidade de vida dos indivíduos, e sendo quais forem os seus objetivos - lucrativos, educacionais, religiosos, políticos, sociais, filantrópicos, econômicos, entre outros – as organizações envolvem como tentáculos as pessoas que se tornaram mais e mais dependentes da atividade organizacional.

2.2 Comportamento organizacional

Para Dubrin (2003, p.2), “o comportamento organizacional é o estudo do comportamento humano no local de trabalho, a interação entre as pessoas e a organização em si”. Robins (2002, p. 6) afirma que o comportamento organizacional é um campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura tem sobre o comportamento dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional.

Tópicos como motivação humana, personalidade, atitudes e percepção são características estudadas pelas linhas da Psicologia de um modo geral, e a influência

dessas

mesmas

características

enquanto

vivenciadas

por

indivíduos/agentes também em suas relações de trabalho na organização. Para Shinyashiki (2000), a socialização pode ser compreendida como um processo

de

desenvolvimento

de

papéis,

entendendo-se

papel

como

o

comportamento esperado de um indivíduo quando ocupa dada situação social, e que pode ser vivido ou representado dentro de uma organização. Por conseguinte, em conformidade com essa definição, praticamente todos os atos sociais podem ser


pensados como constituindo comportamentos de papéis no sentido de que, do ator individual, espera-se que responda com desempenho as expectativas legítimas que percebe dos outros em seu ambiente social. Ainda consoante o mesmo autor, em um sistema interagente, cada participante influencia o comportamento do outro de modo significativo e assim não é possível falar de aprendizado de papel sem falar também de ensino de papel. E, um indivíduo se apropria do seu SELF pelo processo de interação com os outros. Somente quando o indivíduo tem sua identidade confirmada pelos outros é que ela se torna real para o indivíduo (BERGER; BERGER 1979). Inequivocamente, as organizações são uma das mais complexas e admiráveis instituições sociais que a criatividade e a engenhosidade humana construíram, apesar de operarem em ambientes diversificados. E, submetidas as mais variadas pressões e contingências, que se modificam no tempo e no espaço, elas reagem dentro de estratégias e comportamentos diferentes, atingindo os mais diversos resultados. O comportamento organizacional estuda as atitudes e os comportamentos das pessoas nas organizações e como estes comportamentos afetam o desempenho das mesmas, sendo que trabalhar com a verdadeira unidade de mudança (o indivíduo), estar engajado com cada membro que faz parte do grupo e em qualquer aspecto da vida, é sempre importante como forma de bons relacionamentos. Por conseguinte, sabendo então quem somos e o que realmente nos dirige é muito mais fácil de estarmos sob controle com nossas idéias e atitudes e, sendo assim, mais hábeis de controlar a maneira pela qual nos relacionamos. Segundo Maximiano (2000), as atitudes fazem parte das características adquiridas por meio de diversas formas de aprendizagem. Desse modo, embora


sejam estáveis, é possível mudá-las. A mudança de atitudes depende da mudança de crenças e sentimentos a respeito dos estímulos (outras pessoas, objetos, grupos, a própria pessoa) e, mudando o que você sabe a respeito de um estimulo, ou seus sentimentos, seu comportamento também poderá mudar. O comportamento das pessoas está baseado nas atitudes, as quais por sua vez, estão baseadas nas crenças e valores, que para Maximiano (2000 p. 279), “são convicções a respeito de comportamentos que são certos ou errados, ou de condutas que são pessoal ou socialmente preferíveis” e, conquanto as pessoas sejam diferentes e tenham crenças e valores diferentes, existe um padrão de comportamento dentro da organização, sendo que à medida que as pessoas mudam os seus comportamentos, adaptam-se a outros novos, transformando-se a si mesmas como grupo, ao qual estão inseridas. As atitudes são determinantes do comportamento, pois estão ligadas à percepção, à personalidade, à aprendizagem e à motivação. Para Gibson; Ivancevich e Donnelly (1981, p. 110), “uma atitude é um estado mental de prontidão, organizado pela experiência, e que exerce uma influência específica sobre nossa resposta às pessoas, objetos e situações com as quais nos relacionamos”. Os indivíduos que trabalham na organização têm atitudes para com seu trabalho, com seus patrões, com o sistema de avaliação, e com vários outros fatores organizacionalmente importantes. Portanto, essas atitudes fornecem a base emocional de nossas relações interpessoais e de nossa identificação com os outros, pois estão próximas ao núcleo da personalidade. Não obstante, como acontece com cada uma das variáveis psicológicas, também estão sujeitas à mudança. O ser humano é relacional, sendo que o indivíduo dentro da organização é membro de um grupo e seu desempenho não é produto de suas capacidades


físicas, mas está claramente correlacionado à sua capacidade social e aos relacionamentos que vive. O conhecimento coletivo pode gerar resultados de ações impossíveis de prever ou de se obter pelos métodos racionais e plausíveis de utilização do conhecimento, como pode também levar a inovações inesperadas. Todo indivíduo dentro da organização, mais do que um simples executor de uma tarefa específica, é um ser humano que, muitas vezes, é tratado para se comportar dentro de uma lógica e de padrões de expectativas determinados. Não obstante, os sentimentos, a sensibilidade e as emoções são considerados como qualidades inerentes aos seres humanos das quais eles não se desvestem ao entrar na organização, por isso, esse comportamento e esse padrão esperados quase nunca ocorrem, além disso, os indivíduos que não se relacionam ou que tem um comportamento isolado do grupo podem, reduzir o desempenho geral. À organização, cabe a formulação e o estabelecimento de diretrizes administrativas que traduzam uma preocupação com o clima de relações humanas as quais devem permear os indivíduos e

o local de trabalho, a fim de que os

objetivos de trabalho possam ser alcançados ao mesmo tempo em que se promove, tanto quanto possível, a satisfação das necessidades de seus membros. Relação é o processo de se tornar parte de alguma coisa com outras pessoas, sendo que todos os dias, em quaisquer atividades, por mais elevados que sejam os níveis intelectuais, pessoas dependem de outras pessoas, de recorrer a informações, de transmiti-las, de ampliar seus relacionamentos. Portanto, a expressão relações humanas significa, literalmente, o estabelecimento e/ou manutenção de contatos entre seres humanos. Já o comportamento humano nas organizações é bastante imprevisível, ocorrendo porque ele nasce de necessidades humanas profundamente arraigadas e


dos sistemas de valores. Entretanto, esse comportamento pode ser parcialmente compreendido em termos dos pressupostos das ciências do comportamento, da administração e de outras disciplinas. Não existem fórmulas simples para se trabalhar com pessoas, não existe uma solução perfeita aos problemas organizacionais, e tudo que se pode fazer é aumentar o nosso conhecimento e habilidades de tal forma que os relacionamentos no trabalho possam ser compreendidos e melhor direcionados. Não obstante, os valores sofrem influência de como as pessoas se comunicam, de como se comportam em seus relacionamentos, sendo que desta forma, a organização influencia os valores do indivíduo, bem como o indivíduo também, influencia os valores da organização. Segundo Robbins (2002, p. 118), a percepção é importante para o estudo do comportamento organizacional, pois o comportamento das pessoas baseia-se na sua percepção da realidade e não da realidade em si. “O mundo como é percebido é o mundo importante para o comportamento”. Portanto, desta forma, previsões exatas e generalizações precisas tornam-se limitadas, no campo de estudo do comportamento. Segundo Kanaane (1995, p. 59), as hierarquias ou prioridades de valores tenderiam a capacitar o indivíduo diante das escolhas entre ações e metas alternativas, constituindo em cognições e idéias presentes em todas as sociedades acerca dos objetivos finais desejáveis.

Para Robbins (2002, p. 66), “as atitudes estão relacionadas com os valores, mas são menos estáveis que estes. Portanto, é mais fácil modificar as atitudes do que os valores.”


Já Bowditch e Buono (2002, p. 71) afirmam que “as atitudes são uma predisposição da pessoa agir de forma positiva ou negativa diante de uma situação.” Desta forma as atitudes de uma pessoa influenciam no seu comportamento. A mudança de atitude de uma pessoa depende de quanto essa atitude está arraigada e de quanto ela é importante para a pessoa, das técnicas utilizadas e, também, da credibilidade que a empresa e os gerentes possuem junto ao seu corpo funcional. Kanaane (1995, p. 59) afirma que as atitudes de um indivíduo têm os seguintes componentes básicos: - Afetivo-emocional: refere-se aos sentimentos ou reações emocionais que o indivíduo apresenta em face de uma situação específica. - Componente cognitivo: refere-se às crenças do indivíduo, os conhecimentos e os valores associados à situação, objeto ou pessoa. O comportamento cognitivo diz respeito aos conhecimentos ou crenças intelectuais que uma pessoa tem a respeito de algo. - Componente comportamental: refere-se às ações favoráveis ou desfavoráveis com relação à situação em foco. - Componente volitivo: constitui-se nas motivações, desejos, expectativas e necessidades inatos e adquiridos.

Para Dubrin (2003, p. 63), todos esses componentes estão interrelacionados e, portanto, a alteração em um deles altera os demais. Se tivermos mais informações a respeito de um objeto (componente cognitivo), formamos a base para uma resposta emocional mais positiva ao objeto (componente afetivo). Por outro lado, nosso comportamento para com este objeto, provavelmente, será mais favorável (componente comportamental). Por

conseguinte,

relações

humanas

significam

muito

mais

que

estabelecermos e/ou mantermos contato com outros indivíduos. Significa estarmos nessas relações com uma atitude, com um estado de espírito ou com uma maneira de ver as coisas que nos permita compreender nosso interlocutor, respeitar a sua personalidade que, com certeza, difere da nossa.


O comportamento humano é afetado por aspectos psicológicos, biológicos, sociológicos, antropológicos, econômicos e políticos, percebendo-se, desta forma, como ele é complexo, devendo ser avaliado de acordo com a situação, já que o ser humano se caracteriza pelo seu caráter extremamente social, por necessitar viver e conviver em grupo e em relação para construir e manter a sua identidade. Para Davis e Newstrom (1992), as pessoas representam o sistema social interno da organização, a qual consistem de indivíduos e grupos, tanto grupos grandes como os pequenos, existindo os grupos não oficiais ou informais e, os grupos mais oficiais e formais. Os grupos são dinâmicos, pois eles se formam, mudam e se dissolvem. A organização humana hoje não é a mesma de ontem, ou do dia anterior, pois as pessoas são seres que estão vivendo, pensando e sentindo que trabalham na organização para atingirem seus objetivos, sendo que as organizações existem para servir às pessoas, em lugar das pessoas existirem para servir às organizações. Senge (1990) desenvolveu o conceito de visão compartilhada, que acrescenta uma interessante contribuição às teorias acerca do trabalho em grupo. O autor afirma que uma visão compartilhada. é uma força no coração das pessoas, uma força de impressionante poder. Pode ser inspirada por idéias, mas quando evolui, quando é estimulante o suficiente para obter o apoio de mais de uma pessoa deixa de ser uma abstração, torna-se palpável. As pessoas começam a vê-la como se existisse.

Para Ribeiro (1994), no grupo, não se sabe quando o indivíduo é o indivíduo e quando ele é o grupo, quando ele fala do seu mundo interior ou quando sua fala se refere a matriz grupal, ou se, uma vez no grupo, ambos estão inevitavelmente contaminados um pelo outro.


O comportamento organizacional é verificado também no comportamento dos grupos além de unicamente no dos indivíduos. São os grupos que definem os padrões de comportamento a serem seguidos pelos indivíduos na organização e o que é errado, além disso, um dos fatores mais importantes é confiança entre as pessoas. Segundo Robbins (2002, p. 326), “confiança é a expectativa positiva de que a outra pessoa não irá agir de maneira oportunista, seja por palavras, ações ou decisões”. Portanto, quando existe uma relação de confiança entre as pessoas de um grupo de trabalho, é muito mais fácil conseguir a participação e o comprometimento dessas pessoas em qualquer processo de mudança na organização. Para Hycner e Jacobs (1997), seguidores da Gestalterapia, a importância do processo de contato inter-humano é aquele por meio do qual conhecemos a nós mesmos e aos outros, apreendemos nossa existência humana e a dos outros. O

sucesso

de

uma

organização

depende

da

capacidade

e,

principalmente, da vontade das pessoas realizarem determinadas tarefas, ou seja, depende, fundamentalmente, do comportamento das pessoas. Por conseguinte, as mudanças organizacionais implicam, basicamente, em conseguir que as pessoas se comportem de forma diferente no seu local de trabalho. Consoante Kanaane (1995, p. 87), é preciso considerar a existência dos seguintes comportamentos numa organização: - Comportamento individual: retrata as reações do indivíduo e suas condutas no contexto organizacional. - Comportamento grupal: refere-se a gama de reações dos indivíduos que compõem um grupo. O comportamento grupal retrata as múltiplas


influências decorrentes da dinâmica existente, incluindo as pessoas, a interação, o sentimento, as atividades (tarefas), a comunicação e os objetivos. - Comportamento

organizacional:

refere-se

às

manifestações

emergentes no contexto da organização, indicando os controles, o processo decisório e os esquemas técnicos administrativos.

Sem dúvida, as mudanças mais complexas e mais significantes são as mudanças nas pessoas. Para Robbins (2002, p. 529), “mudar as pessoas se refere à modificação de atitudes, habilidades, expectativas, percepções e comportamentos.” Quando existe um clima de respeito e confiança entre a organização e seus membros, as pessoas são vistas como responsáveis, conscientes e dedicadas. Na verdade, as pessoas são as responsáveis e as únicas capazes de transformar as mudanças em resultados efetivos para a organização. Podemos considerar um dos aspectos mais interessantes, e que fazem toda a diferença, nas organizações sociais humanas, é a capacidade que nós seres humanos temos de escolher comportamentos e relacionamentos. Tais comportamentos não só agrupam, mas tornam também os indivíduos adaptativos, que cooperam entre si e se auto-organizam afetando assim diretamente a organização. Tanto indivíduos como organizações apreendem no sentido de que são capazes de observar as conseqüências de seus comportamentos e ajustar seus atos para atingir os propósitos desejados. Sendo isso tudo o resultado de uma enorme capacidade que cada indivíduo possui de aprendizado, troca de informações e adaptação.


É então que a teoria da cooperação de Axelrod (1990), aponta um caminho alternativo, defendendo que a cooperação pode emergir, sem que haja necessariamente forças coercitivas. O incentivo para cooperar esta na percepção de que é possível a obtenção de ganhos através da ajuda mútua, ou seja que o desempenho de cada um pode ser superior com a ajuda e cooperação dos demais. Na reciprocidade entre indivíduos está a chave para os que buscam bons relacionamentos. Estando atento aos sinais do outro, um indivíduo pode ajustar o seu comportamento, provocando novas adaptações no padrão de ações do outro. Nas palavras de Axelrod (1990, p. 123), “o truque é encorajar a cooperação. Uma boa maneira de fazer isto é deixar claro que você vai retribuir. Palavras podem ajudar aqui, mas como todos sabem, atos falam mais alto que palavras”.


3 TEORIA DA GESTALTERAPIA O que nos importa não é descobrir de qual mina foi extraída uma pedra preciosa, mas se ela encontrou seu lugar no colar: é a coerência e não a origem das técnicas que constitui o valor dos métodos. (Pearls)

3.1 Origens da gestalterapia

Gestalt é uma palavra alemã, hoje adotada no mundo inteiro, pois não há equivalência em outras línguas. Gestalten significa “dar forma, dar uma estrutura significante”.

A psicologia da Gestalt, como a própria nomenclatura em alemão

sugere, forma, configuração, reunião das partes que se distingue do somatório das partes. Ginger e Ginger (1995) consideram que a palavra exata seria Gestaltung, a qual indica uma ação que já está prevista, em curso ou acabada, implicando assim um processo de dar forma, uma “formação”. Para Perls (1977b, p. 19), “uma Gestalt é uma forma, uma configuração, um modo particular de organização das partes individuais que entram em sua composição”. Para Gary M. Yontef (1998, p. 15), a Gestalterapia é uma terapia existencial-fenomenológica fundada por Frederick Perls e Laura Perls, na década de 1940.

Já Frederick, conhecido como Fritz, reconhecido como o fundador da

gestalterapia, nasceu em Berlim em 1893, e depois de formado em medicina, foi para Frankfurt em 1926, como assistente de Kurt Goldstein, conhecendo, nessa época, sua futura esposa, Laura.


Sendo Frankfurt um agitado centro intelectual da época, Pearls manteve um contato direto e indireto com os principais psicólogos da Gestalt, filósofos existenciais

e

psicanalistas,

tendo

três

influências

marcantes

em

seu

desenvolvimento intelectual: uma foi do filósofo Sigmund Friedlander, de cuja filosofia Pearls adotou os conceitos de pensamento diferencial e indiferença criativa que constam em seu primeiro livro Ego, Hunger and Agression (1947); outra influência foi Jan Smuts que cunhou a palavra Holismo e também escreveu um livro sobre holismo e evolução, o qual visava um mundo ecológico mais amplo, em uma perspectiva Gestáltica; e a terceira influência foi de Alfred Korzybski, semanticista que influenciou o desenvolvimento intelectual de Pearls. A genialidade de Pearls e seus colaboradores (Laura Pearls e Paul Goodman), segundo Ginger e Ginger (1995), foi elaborar uma síntese coerente de várias correntes filosóficas, metodológicas e terapêuticas européias, americanas e orientais, constituindo assim uma nova “Gestalt”, na qual o todo é diferente da soma de suas partes. A Gestalt desenvolve uma perspectiva unificadora do ser humano, integrando ao mesmo tempo as dimensões sensoriais, afetivas, intelectuais, sociais e espirituais. Ela dá ênfase à tomada de consciência da experiência atual (“o aqui e agora”). Para Pearls (1977b), é o aqui (agora) e o como: o homem na sua interação com o mundo e na sua busca de completação e plenitude, sendo que a Gestalterapia favorece um contato autêntico, um ajustamento criador do organismo ao meio, bem como consciência dos mecanismos interiores que muitas vezes nos levam a condutas repetitivas. A Psicologia da Gestalt forneceu a Pearls um princípio organizador para a gestalterapia, com um enfoque integrativo. Consoante Yontef (1998), a Psicologia da Gestalt tem por crença que os organismos percebem padrões inteiros e não


fragmentos, sendo que os padrões inteiros possuem características próprias e não permitem analisar as partes, pois a percepção é um processo ativo e não resultado da estimulação de órgãos dos sentidos, recebida passivamente. Os organismos têm uma capacidade de percepção acurada quando utilizam sua habilidade natural de experiência no presente, no aqui e agora.

A

pessoa cresce quando está consciente do que se passa dentro e fora de si no momento atual, no aqui - e - agora, no nível mental, corporal e emocional. E, se ela está consciente, percebe todas as alternativas e escolhas que estão ao seu redor e escolhe a melhor para o momento específico.

3.2 Princípios/abrangência da gestalterapia

Na teoria da Gestalterapia o agora não é considerado estático ou absoluto. Não obstante, em uma terapia fenomenológica “agora” começa com a conscientização do cliente no presente e, eventos anteriores podem ser objeto de “awareness” presente. Para Yontef (1998, p. 41), “agora” refere-se a “este momento”. Na hora da terapia, quando os pacientes se referem à sua vida fora desta hora, ou antes desta hora, não é agora. E experiências de alguns minutos, dias, anos ou décadas atrás que têm importância presente são abordadas, sendo que

se deixa de falar a

respeito de algo para uma experienciação direta no tempo presente. É pedido ao indivíduo para que fale de sua vivência presente para “reexperienciar” seus problemas e traumas ou situações inacabadas no aqui e agora, pois a Gestalterapia é uma terapia experiencial, mais que uma terapia verbal


ou interpretativa. Além disso, a gestalterapia ensina a terapeutas e pacientes o método fenomenológico de “awareness” no qual, perceber, sentir e atuar são diferenciados de interpretar e modificar atitudes pré-existentes. A

awareness

compreende

o

conhecimento

do

ambiente,

a

responsabilidade pelas escolhas, o autoconhecimento, a auto-aceitação, a capacidade de contacto, e experiência de estar em contato com a própria existência e, aceitação da realidade possível, realidade que ela pode contatar. Além disso, awareness é ouvir e ouvir-se, responder ao invés de contra-atacar. Para Perls (1977a), uma pessoa absolutamente sadia está inteiramente em contato consigo mesma e com a realidade. Pacientes e terapeutas em Gestalterapia dialogam e comunicam suas perspectivas fenomenológicas. As diferenças de perspectivas tornam-se um foco de experimentação e de diálogo continuado, sendo que o objetivo é tornar os clientes conscientes (aware) do que estão fazendo, como estão fazendo, como podem transformar-se e ao mesmo tempo aprender a aceitar-se e valorizar-se. Conforme Loffredo (apud YONTEF, 1998 p. 129), a Awareness pode ser considerada, portanto, uma forma de experienciar, aliada a apreensão do ‘como’ deste experienciar. Isto significa ser necessário ocupar-se do óbvio, do dado, e descrever a situação tal qual se oferece a cada momento.

A importância da awareness é sintetizada por Yontef (1998), ou seja, em gestalterapia, o objetivo é sempre a awareness. Ela é, portanto, meio e fim. Ainda para Yontef (1998) awareness é assim definida: [...] é uma forma de experienciar. É o processo de estar em contato vigilante com o evento mais importante no campo indivíduo-ambiente em pleno suporte sensório-motor, emocional, cognitivo e energético [...] awareness é em si integração de um problema”.


Consoante o referido autor (1998, p. 133), “ater-se ao óbvio, observar, descrever minuciosamente, exercitar e atingir a habilidade de awareness, aliados a sua proposta existencial, são os fundamentos da Gestalterapia”. Para Ginger e Ginger (1995, p. 18), “a Gestalterapia não objetiva simplesmente explicar as origens de nossas dificuldades, mas, experimentar pistas para soluções novas, ela prefere o sentir como que se torna um mobilizador de mudanças”. Em Gestalterapia, cada indivíduo trabalha em um nível que lhe convém, a partir daquilo que emerge para si no momento, quer seja, uma percepção, uma emoção ou preocupação atual, da revivescência de uma situação passada mal resolvida ou inacabada, ou ainda por perspectivas incertas de futuro. A abordagem da Gestalt não trata de compreender, analisar ou interpretar os acontecimentos, comportamentos ou sentimentos, mas, sobretudo, de favorecer a tomada de consciência global da forma como funcionamos e de nossos processos de ajustamento criador de integração da experiência presente, de nossas evitações e de nossos mecanismos ou resistências. Conforme Yontef (1998, p. 16) a Gestalterapia focaliza mais o processo (o que está acontecendo) do que o conteúdo (o que está sendo discutido). A ênfase é no que está sendo feito, pensado e sentido no momento em vez de que no era, no poderia ser, no conseguiria ser ou no deveria ser.

A Escola da Gestalterapia está fundamentada na filosofia humanista, existencial e fenomenológica, que compreende o homem como destinatário máximo de todas as coisas como um ser responsável, capaz e criador do seu próprio destino. É assim embasada com o objetivo de desenvolver o ser humano, em sua totalidade, através da ampliação da consciência de si mesmo, do desenvolvimento


do relacionamento interpessoal e da ação criadora do homem em sua relação com o mundo.

3.3 Fenomenologia

O método fenomenológico, que tem suas raízes em Husserls, focaliza as experiências de vida das pessoas. Este método investiga o fenômeno em si, como ele é, como é vivenciado pela pessoa, focaliza o que as pessoas vivenciam e a forma como elas interpretam essas vivências. Para Yontef (1998, p. 218) Fenomenologia é: uma busca de entendimento baseada no que é óbvio, ou revelado pela situação, e não na interpretação do observador. A Fenomenologia trabalha, entretanto, experiencialmente na situação, permitindo que awareness sensorial descubra o que é óbvio/dado. Isso exige disciplina, especialmente perceber o que é presente, o que É, sem excluir nenhum dado a priori.

Na fenomenologia, lida-se com a realidade da maneira que ela chega até nós. Porém nem sempre esta realidade, a qual é processada é a mesma que está fora de si. A história de cada um, que é o programa de vida, processa tudo a partir do seu mundo de referência interna. Portanto surge uma possibilidade de interpretação a partir do referencial de cada um, podendo-se entender conflitos interiores como conflitos entre a existência do organismo e o social, num ajuste permanente e criador, visando o reequilíbrio constante do organismo. Para Ribeiro (1994), quando se trabalha fenomenologicamente, fica-se com a realidade como ela realmente é, e trabalha-se a partir dela. Portanto, descrever o processo é mais importante que interpretá-lo. A pessoa termina por encontrar seu próprio sentido através de seu processo vivido e escutado


interiormente por ela, sendo que para entender o ser humano, é preciso vê-lo de uma maneira total, e na sua tríplice dimensão fenomênica: lugar, corpo e tempo. Consoante Ginger e Ginger (1995), a Gestalt se alimenta de algumas bases fundamentais da fenomenologia, tais como: •

É mais importante descrever do que explicar: o como precede o porquê.

Que o essencial é a vivência imediata, tal como é percebida ou sentida corporalmente, ou imaginada, assim como um processo que está se desenvolvendo aqui e agora.

Que nossa percepção do mundo é dominada por fatores subjetivos irracionais, diferentes para cada um.

É importante a tomada de consciência do corpo e do tempo vivido, como experiência única de cada ser humano.

Segundo Yontef (1998, p. 16), “o objetivo da exploração fenomenológica da Gestalt é a awareness ou insight”. E, ainda para o referido autor o fenomenologista estuda não somente awareness pessoal, mas também seu processo de conscientização, sendo que o paciente deve aprender a ser tornar consciente da “awareness”. Precisa-se compreender um sintoma como um estilo de ser-no-mundo, no modo que este ser se dá existencialmente. Não há sentimento, comportamento ou qualquer outro modo de ser de uma pessoa que exista isoladamente, pois o ser-nomundo reflete a inseparabilidade. O sofrimento que se pensa estar só dentro, também está fora.


As bases filosóficas da Gestalterapia são de um projeto aberto e em desenvolvimento. Ela é parte do movimento da “psicologia humanística”, abrangendo diferentes conceitos teóricos e práticos, mas com uma base filosófica comum. A Gestalterapia assim como a psicologia humanística são influenciadas pela teoria existencialista, especialmente pelos existencialistas franceses como, por exemplo, Sartre.

3.3.1 Existencialismo

Os conceitos Gestálticos centrais como concentração sobre o ser concreto, concentração sobre a existência individual em relação a outros, autoresponsabilidade, responsabilidade de escolha significativa são também bases do existencialismo. O existencialismo baseia-se no método fenomenológico, no qual foca a experiência da pessoa, as relações interpessoais, as alegrias e os sofrimentos como são diretamente experienciados. Para Loffredo (apud YONTEF, 1998, p. 76), a Gestalterapia é uma modalidade de psicoterapia existencial, enquanto uma forma característica de reflexão sobre a existência humana. Tem a concepção do homem como ser-no-mundo, como ser em relação, na dialética na qual cria o mundo e é criado nesta relação.

Conforme Ribeiro (1994, p. 14), a afirmação sartriana obedece à crença de que o homem é um ser de responsabilidade, um ser permanentemente mutante, um ser de relação. Obedece ao postulado da esperança de que é sempre possível e viável ser diferente, ser novo a cada dia.


A maioria das pessoas opera num contexto não explicitado de pensamento convencional que obscurece ou evita o reconhecimento de como é o mundo. Isso acontece no universo das nossas escolhas, e enganar a si próprio é a base da falta de autenticidade: vida que não é baseada na verdade de si próprio leva a sentimentos de medo, culpa e ansiedade. Por conseguinte, a Gestalterapia propicia uma maneira de ser autêntica na qual o homem é responsável por si próprio, pois se tornando consciente, a pessoa torna-se capaz de escolher e/ou organizar a própria existência. Jacobs (1983); Yontef (1982), consideram que, segundo a visão existencial, as pessoas estão infinitamente refazendo-se ou descobrindo a si mesmas. Não há nenhuma essência da natureza humana a ser descoberta de maneira “definitiva”. Sempre há novos horizontes, novos problemas e novas oportunidades. Na visão existencialista, o homem nunca está completo, está sempre num movimento contínuo cheio de potencialidades, sempre em aberto, sendo que isso caracteriza o projeto do existir humano. Assim, para Yonteff (1998, p. 79) a Gestalterapia é existencial em dois sentidos: 1 - No sentido geral, enfatizando o processo de existir de cada indivíduo em sua vida, privilegiando o sentido de sua responsabilidade e escolha na criação de sua própria existência. 2 - No sentido de uma atitude particular quanto à concepção de relação embasada no ponto de vista filosófico do existencialismo dialógico. Nomeada - na estrutura da relação propriamente dita - de diálogo Eu Tu, Encontro, ou Encontro Existencial.

A Gestalterapia se encontra, portanto, inserida na linha de terapias dialógicas, tendo como fundamento que a existência é relacional, sendo então voltada para o espaço do “entre”.


Segundo Ribeiro (1994), a Gestalt-teoria baseada no pressuposto de conscientização e de responsabilidade acredita que quanto mais alguém se torna consciente de quem ele é e do que está fazendo naquele dado momento, maior será a liberdade que poderá experimentar e mais capaz se tornará de dar respostas adequadas. Para Yontef (1998, p. 18), “a relação entre o terapeuta e o cliente é o aspecto mais importante da psicoterapia. O dialogo existencial é uma parte essencial da metodologia da Gestalterapia, é uma manifestação da perspectiva da existência de relacionamento”.

3.4 Alguns conceitos básicos de gestalterapia

3.4.1 Figura e fundo

Os psicólogos gestaltistas, baseados na dinâmica do ato de percepção, propuseram a teoria de que a pessoa que percebe não é um simples alvo para o bombardeamento sensorial originário de seu meio ambiente, pois ela estrutura e impõe uma ordem as suas percepções. E organiza as percepções do fluxo sensorial recebido na experiência primária de uma figura, sendo vista ou percebida contra um background ou fundo. Para Burow e Scherpp (1985, p. 25), “segundo a teoria da Gestalt, o desenrolar de ações é uma constante e viva dinâmica entre figura e fundo”. Consoante Polster (1979, p. 44), uma figura, seja ela simplesmente perceptual ou consistindo de uma ordem de complexidade superior, emerge do fundo a maneira de um baixo relevo, avançando para uma posição que força uma atenção e que acentua as suas qualidades de


limites e clarezas. A figura aparece ricamente detalhada e provoca um exame minucioso e mesmo fascinação.

A percepção tem uma característica importante que é um movimento em direção à finalização. Uma figura é vista como uma imagem completa, limitada, sendo a Gestalterapia da opinião que a figura sempre corresponde àquilo que, em determinado momento, se reveste de maior significado ou importância. Esse empreendimento ocorre de maneira espontânea inerente ao indivíduo, porém o consciente pode exercer um papel nesse processo, pois a organização perceptual ocorre dentro e fora da consciência: se a pessoa quiser, poderá criá-la conscientemente, mas se não o fizer o inconsciente agirá. Para Pearls (1977), a figura dominante do organismo, em qualquer momento, se torna uma figura que fica em primeiro plano, sendo assim, as outras necessidades que o indivíduo tem recuam, nem que seja por um período para segundo plano. Está em primeiro plano aquela necessidade que precisa ser satisfeita mais imediatamente, como por exemplo, preservar a vida. O individuo satisfaz suas necessidades mais emergentes e passa para um outro assunto, uma outra figura, devendo ser capaz de manipular a si próprio e ao seu meio, pois mesmo as necessidades puramente fisiológicas só podem ser satisfeitas se houver uma interação do organismo com o meio. Pode-se ver então, que os problemas humanos não podem ser considerados isoladamente. Segundo Grünewald (2001), a figura não se isola do fundo – ele a revela, permite-lhe que surja “o que o cliente diz jamais pode ser entendido em separado, pois a figura tem um fundo que lhe permite revelar-se e do qual ela procede”. A maneira como se reage a uma percepção, influencia a própria percepção, a qual apresenta as seguintes características:


1) A forma prevalece sobre os elementos. 2) A figura sobrepõe-se ao fundo. 3) A passagem de uma forma para outra é sempre brusca, sendo que a tendência da percepção é para as formas fortes (geométricas)

. Fonte: Ginger e Ginger (1995).

Figura 1: Representação da Figura/Fundo.

A percepção se organiza e se alicerça nas seguintes leis:

• Similaridade: ao perceber objetos similares, tende-se a agrupá-los por suas semelhanças e destacá-los dos que lhe fazem contraste. • Boa Forma: tende-se a dar aos objetos percebidos uma forma mais harmoniosa do que a que eles verdadeiramente têm, atribuindo-lhes um “complemento” que muitas vezes não apresentam. • Proximidade: os estímulos próximos no tempo e espaço tendem a se organizar em padrões destacados.


• Fechamento: os elementos de uma forma tendem a se agrupar de modo que formem uma figura mais total ou fechada. • Destino Comum: há certos elementos que parecem se dirigir a um mesmo lugar, se destacando de outros que não o pareçam. • Figura e Fundo: tende-se a perceber um objeto destacado do fundo em que está. • Pregnância: há formas que parecem se impor em relação às outras, fazendo, por muito tempo, não se conseguir ver outra forma de distribuição. • Contexto: a percepção de qualquer estímulo é influenciada por seu contexto ou vizinhança.

O processo de formação de figura e fundo é dinâmico, o organismo seleciona e desenvolve formas próprias de autoconservação. Qualquer escolha é aquilo que pode redespertar, ou colocar em movimento o que já vive em nós, por isso nos desperta

a atenção. Por esse motivo, há a tendência que pode me

identificar com certas pessoas. Burow e Scherpp (1985) afirmam que a dinâmica existente entre figura e fundo pode ser perturbada quando alguns acontecimentos, tais como, necessidades e medos permanecem como fundo e não se tornam figura. Devido a esse fato, a pessoa fica bloqueada tendo como conseqüência um “ponto cego”, ou seja, algo que não emerge e que não está consciente. E é comum se prestar atenção unicamente na figura, mais isso é falso, pois a figura e o fundo estão intimamente relacionados entre si. Nenhum deles pode ser valorado prescindindo do outro.


Para Ribeiro (1994, p. 21), “o processo da diferenciação figura-fundo retrata também o processo pelo qual entramos em contato com nossas necessidades. Ela sinaliza para nós o que é emergente, o que é preferencial”. A seleção de figuras a ser atendida não se realiza contra um fundo vazio, mas sobre um fundo pré-estruturado (mapa), uma espécie de matriz a qual, automaticamente condiciona os aspectos da realidade que serão atendidas e que ficarão de fora, [...]. É essa combinação entre intenção e subjetividade que configura essa matriz - ou mapa - , sobre o qual escolhemos nossa vida (SPANGEMBERG, 1996).

3.4.2 Teoria de campo na gestalterapia

Para Grünewald (2001 p.76), “campo é o local onde ocorrem eventos psicológicos”. E, segundo Ribeiro (1994), a teoria de campo vê a realidade como campos ou como um grande campo unificado, onde a realidade maior acontece. Esse grande campo é subdividido em outros tantos campos de acordo com os diversos processos que a realidade vai assumindo nele. Portanto, esse grande campo está em constante mudança, pois qualquer coisa que ocorre em um subcampo afeta sua natureza, ou seja, são as relações intercampos que especificam a mudança. Kurt Levin (1890 - 1947), que nasceu na Alemanha, doutor em Psicologia e estudou interdependência entre as pessoas e o seu meio social, afirma que o comportamento é uma função do campo do qual ele é parte, não depende nem do passado nem do futuro, mas do campo presente. Este campo presente tem uma determinada direção tempo, inclui no passado psicológico o presente psicológico e o futuro psicológico que constituem uma das dimensões do espaço de vida, existindo em um determinado momento. Na abordagem de campo da Gestalterapia, tudo é visto como vir a ser, movendo-se, nada estático. Por conseguinte, o campo é a


pessoa no seu espaço de vida, sendo que a realidade é sempre relacional, e é assim que precisa ser compreendida, pois o espaço de vida se constitui da pessoa e do meio psicológico como ele existe para a pessoa. O ponto de partida para noção de campo psicológico é a noção de espaço de vida. Lewin (1975) define o espaço de vida como a totalidade de fatos que determinam o comportamento do indivíduo em um determinado momento, sendo que isso não significa excluir o papel que o passado e o futuro possam desempenhar no presente. O indivíduo não vê apenas sua situação presente, pois têm certas expectativas, desejos, medos e devaneios em relação ao futuro. Sua maneira de ver seu próprio passado e o resto do mundo físico e social, mesmo sendo errada, constitui seu nível de realidade. O que seria incorreto para Lewin (1975) é levar em conta um passado em si, imutável e que mecanicamente fosse a causa de uma situação presente. O que importa, não é o passado como verdadeiramente ocorreu, mas a visão que o indivíduo presentemente tem desse passado. Para a teoria de campo da Gestalterapia, pessoa e meio representam a totalidade de eventos possíveis. Porém, pessoa e meio não podem ser definidos nem tratados como duas entidades separadas e independentes: o meio só é meio tal como a pessoa o percebe, isto é, em sua realidade fenomenal, e a pessoa só é pessoa em função desse meio. Ambos se constituem mutuamente e não se pode explicar o comportamento por referência apenas a um deles. Já para Yontef (1998), o campo é definido fenomenologicamente, sendo que em Gestalterapia, estuda-se as pessoas em seus campos organismo/ambiente. Ainda consoante o referido autor (1998, p. 185), a abordagem de campo é holística: O Princípio da Capacidade de se Relacionar; de Lewin, afirma que um evento é sempre o resultado de uma interação entre dois ou mais fatos. Cada fenômeno é estudado no contexto


de uma complexa teia de forças inter-relacionadas, que se reúnem no tempo e no espaço, formam uma fatalidade unificada chamada campo, e mudam dinamicamente com o tempo.

Pearls; Hefferline e Goodman (apud YONTEF, 1998, p. 174) discutem a necessidade de interação entre a maneira de pensar e a de estar inserido no mundo. O que alguém pensa a respeito do mundo, incluindo sua orientação filosófica, em parte, é uma função do caráter, e vice-versa; o caráter é em parte, uma função de nossa maneira de pensar. Portanto, a teoria de campo indica o processo pelo qual pensa-se. Para que seja considerada uma abordagem teórica de campo, é necessário que sua filosofia e sua metodologia siga certos princípios: • um campo é uma teia sistemática de relacionamentos; • a abordagem de campo é holística e tem por princípio o relacionar-se; • quando se estuda um fenômeno, ele está inserido em um contexto formado por uma complexa teia de forças que estão inter-relacionadas, e estão reunidas em um tempo e um espaço, mudando dinamicamente com o tempo; • a propriedade principal de um campo é que em seu aspecto dinâmico existe interação entre todas as suas partes, portanto, uma parte depende de todas as outras; e • na teoria de campo da Gestalterapia tudo é considerado energia, e um movimento de um campo (nossa área: o campo organismo/ambiente), tudo é ação e está no processo de vir a ser, no processo de evoluir e transformar.

Yontef (1998, p. 211) afirma que


a teoria de campo é um arcabouço para o estudo de qualquer evento, experiência, objeto, organismos ou sistemas. Ela enfatiza a totalidade das forças, que, em conjunto, formam uma totalidade integrada, e determina as partes do campo.

Pessoas e eventos existem apenas como sendo “de-um-campo” e o significado é alcançado somente pelas relações no campo. Só os fatos presentes no campo tem influência no campo. English e English (apud YONTEF, 1998, p. 185), colocam que “em Psicologia, o campo é usado para enfatizar a complexa totalidade de influências interdependentes, nas quais um organismo funciona; a constelação de fatores independentes, que respondem por um evento psicológico”. Por ser o campo interativo, acredita-se haver uma desconfiança em relação a uma causalidade linear, pois explanações lineares não respondem à complexidade de alguns fatores e influências que ocorrem na interação. Para Ribeiro (1994), conquanto a realidade ou campo total esteja em permanente mudança, ela tem algo em si que a mantém identificável, ao longo do tempo, como sendo ela mesma. Isso significa que a realidade se manifesta a nós de vários modos ou que nós a descobrimos de vários modos. Do ponto de vista de Yontef (1998), na teoria de campo, nenhum campo pode ser definido separadamente do tempo, espaço e awareness do observador. Ainda, consoante o referido autor, Yontef (1998, p. 184) “na Gestalterapia, estudamos as pessoas em seus campos organismo/ambiente. O ambiente do campo organismo/ambiente pode ser uma escola, um comércio, uma família, um casal, um individuo em seu espaço vital”. Em vista disso, a teoria de campo é uma maneira de pensar, que é uma parte necessária e central da teoria e metodologia da Gestalterapia.


3.4.3 Visão holística em gestalterapia

Conforme a teoria da Psicologia da Gestalt, nosso campo perceptivo se organiza espontaneamente sob a forma de conjuntos estruturados e significantes. À percepção de uma totalidade, por exemplo, um rosto não pode se reduzir à soma dos estímulos percebidos, pois “o todo é diferente da soma de suas partes, uma parte num todo é algo bem diferente desta mesma parte isolada ou incluída num outro todo”. Ginger e Ginger (1995, p. 13-14), comentam que esta parte extrai propriedades particulares e funções em cada um dos “todos”, como por exemplo, um grito, em um jogo, é diferente daquele proferido em uma rua deserta. Para Spangenberg (1996), o homem, para a Gestalterapia, é visto de uma forma totalizadora, ética e holística. A Gestalterapia leva em consideração a totalidade do organismo e não simplesmente a voz, as palavras, a ação ou qualquer outra coisa. Com esta concepção do homem como um todo, ela não se detém apenas

em determinados aspectos, mas tenta entender esta pessoa em sua

totalidade. Consoante Burow e Scherpp (1985), a suposição básica da Gestalterapia é ver o ser humano como um todo, ou seja, além de seu comportamento perceptível externo, também, seu comportamento interior, isto é, sua situação interna, seus processos internos. Para compreender um comportamento, não basta analisá-lo, mas, sobretudo, percebê-lo, no conjunto mais amplo do contexto global, e ter uma visão ampla do mesmo. Por conseguinte, o indivíduo é um todo unificado, como um campo integrado em sentimentos, sensações, emoções e imagens. O corpo e a mente não são entidades separadas, o organismo é uma só unidade. Uma verdadeira


compreensão da condição individual só é alcançada se considerarmos o indivíduo como parte da totalidade da natureza, em particular da sociedade humana a que pertence. Não obstante, o todo não pode ser compreendido pelo estudo das partes isoladas, pois o todo é regido por leis que não se encontram nas partes e é seu próprio princípio regulador. O homem possui um impulso dominante de autoregulação pelo qual é permanentemente motivado, trazendo dentro de si potencialidades que regulam seu próprio crescimento. O organismo se expressa ora como figura, ora como fundo, pois uma figura, embora destacada do fundo, mantémse ligada a ele e dele recebe sua origem e explicações.

3.4.4 Contato

Contato é o processo básico do relacionamento, é a consciência de si como um ser “com”, é a apreciação das diferenças. O contato humano é um processo mútuo de duas pessoas separadas, movendo-se em ritmo de união e separação. De acordo com Ribeiro (1994, p. 27), “somos seres de relação, nascemos para estar em contato. O contato é o processo que permite a relação acontecer e acontecer em duplo aspecto, aproximando e separando as pessoas umas das outras”. O contato, entretanto, é uma função do meu self, pois, se perco o contato comigo, não há como entrar em contato com outro, ou seja, o contato é o reconhecimento do outro, o novo, o estranho, o que não sou eu.


Ainda, conforme o referido autor (1994, p. 28), “o contato ocorre numa tríplice direção: comigo, com o outro, com o mundo. Não só apenas eu faço contato, entro em contato, mas toda a natureza entra em contato comigo independentemente de minha permissão”. Por conseguinte, o contato permite ver as diferenças, olhar para o outro e ver que ele é diferente, o que pode incentivar o crescimento pessoal, encontrar dentro de si novas possibilidades através do outro. O organismo humano vive em relação com o meio, mantendo sua diferença, sua alteridade e assimilando o meio a seu ser diferente, portanto todo o contato é dinâmico e criativo. Pearls, Hefferline e Goodman (apud YONTEF, 1998, p. 83) dizem que, todo contato, é ajustamento criativo do organismo e meio [...]. Podemos então definir Psicologia como sendo o estudo dos ajustamentos criativos e, seu tema é a sempre renovada transição entre novidade e rotina, resultando em assimilação e crescimento.

Logo, contato deve ser entendido não como estado, mas como uma ação, implicando em atração e rejeição, em aproximação e distanciamento, em sentir, avaliar, discernir, comunicar, lutar, detestar e amar. Sobre a importância do contato no processo de individuação,

Ribeiro

(1985) afirma que o modo como uma pessoa faz contato consigo e com o mundo expressa igualmente o grau de individuação, maturidade e auto-entrega com o que vive em um dado momento, porque o contato é a expressão experienciada e visível da realidade de si mesmo. E, na razão em que um encontro vira contato as coisas começam a existir. Por exemplo, em uma chuva, água e asfalto se tocam, não se encontram, pois a água desliza indiferente sobre o asfalto, mas esse toque só transforma em encontro e, conseqüentemente, em contato quando um começa, não importa em que nível a alterar a natureza do outro.


Contato é o processo básico para o relacionamento, é ele que diferencia o self e o outro; é um processo dinâmico que ocorre na fronteira eu-outro; é todo o processo de reconhecer a si mesmo e o outro pelo movimento em direção a conectar-se/fundir-se, e também por separação/afastamento. Pearls (1977a) refere-se a importância do contato dizendo que, “[...] um organismo vivo é um organismo que se consiste a milhares e milhares de processos que requerem intercâmbio com outros meios fora da fronteira do organismo”. Segundo o autor, “a fronteira do ego precisa ser transposta por nós, porque existe alguma coisa fora que é necessário - Contato”. Para Polster e Polster (apud HYCNER; JACOBS, 1997) desde o corte de nosso cordão umbilical, cada um de nós torna-se um ser separado, e procura unir-se a algo diverso de si mesmo. Nunca mais retornamos ao espaço semiótico original, mas nosso senso de união vai depender de um senso de separação, e este é o paradoxo que sempre estamos procurando solucionar. A relação Eu -Tu, ou diálogo, pode ser considerada como uma forma específica do processo de contato entre duas pessoas, por meio da qual, cada uma realiza sua humanidade, distinta mais completamente, pois essa humanidade é manifestada com os outros, somente em uma relação dialógica, sendo que essa relação surge do self e da conscientização, a qual é uma característica unicamente humana. Ginger e Ginger (1995), conceituam self como: um processo especificamente pessoal e característico de sua maneira própria de reagir, num dado momento e num dado campo, em função de seu estilo pessoal. Não é o seu ‘ser’, mas seu ‘ser’ no mundo, variável, conforme as situações.


“O processo de contato inter-humano é aquele por meio do qual conhecemos a nós mesmos e aos outros, apreendemos nossa existência humana e a dos outros” (HYCNER; JACOBS 1997). Segundo Yontef (1998), dialógico, ou seja, a forma de contato Eu - Tu, baseia-se, em autenticidade e diz que [...] Interpessoalmente, o contato Eu - Tu, significa tratar o outro como uma pessoa igualmente capaz de autenticidade, que merece ser tratada como um fim em si e não como um meio para um fim; o que geralmente exige dizer o que se tem intenção de fazer, e ter a intenção de fazer o que se diz.

Para Pearls (apud LOFFREDO, 1994), o ciclo de contato, como mostra a figura dois, é o processo que tem origem numa vaga sensação que se delineia como “figura”, levando a mobilização de energia e a ação que responde a necessidade em questão, sendo que o ciclo se fecha quando o organismo restabelece seu equilíbrio, colocando-se, dessa forma, a disposição de novas figuras motivacionais.


Escolha e implementação de uma fase de AÇÂO apropriada para o contato

MOBILIZAÇÃO e fase de excitação do contato

CONTATO FINALpleno e vibrante

SELF

CONHECIMENTO da necessidade social ou biológica na fase de précontato

SATISFAÇÃO ou complemento da Gestalt e póscontato

RETIRADA ou organismo em repouso SENSAÇÃO pré-contato

Fonte: Adaptado de Clarkson (1989).

Figura 2: Ciclo de contato.

3.4.5 Fronteira de contato

Para Ginger e Ginger (1995, p. 127), “a fronteira entre eu mesmo e o mundo chama-se fronteira de contato”. Já o contato é fluidez de energia que pode representar funções e/ou disfunções. As funções de contato são: olhar, falar, sentir gosto, escutar, tocar, cheirar e movimento. Através delas, o contato pode ser obtido, evitado ou corrompido (POLSTER, 1979).

Conforme Pearls (apud GINGER; GINGER 1995), o estudo da maneira como uma pessoa funciona em seu meio é o estudo do que acontece na Fronteira de Contato entre indivíduo e seu meio. É nessa


Fronteira de Contato que os eventos psicológicos têm lugar. Nossos pensamentos, nossas ações, nosso comportamento, nossas emoções são nosso modo de experienciar e de encontro com esses eventos de fronteira.

A fronteira de contato é um ponto pulsante de energia, é o órgão de uma relação particular entre organismo e o ambiente, é onde experienciamos o Eu em relação aquilo que não é Eu, e também, essa energia pode ser utilizada para um bom contato ou para resistir ao contato (POLSTER, 1979). Consoante o referido autor, (1979, p. 109), “a seletividade de contato determinado pela fronteira-do-eu do indivíduo orientará o seu estilo de vida, incluindo todas suas escolhas e experiências psicologicamente relevantes para sua vida”. Como uma pessoa resiste ou permite suas ações e a consciência a respeito das mesmas na fronteira de contato é o seu modo de manter o senso de seus limites. Perls (1977b) diz que todos os distúrbios neuróticos surgem da incapacidade de o indivíduo encontrar e manter o equilíbrio adequado entre ele e o resto do mundo. O neurótico é o homem sobre quem a sociedade influi demasiadamente, sendo sua neurose um meio de defesa que o protege para não ser barrado por um mundo destrutivo, pois, vendo que as probabilidades não estão a seu favor, usa desse artifício (a neurose) para sua auto-regulação.

3.4.6 Funções e disfunções de contato na gestalterapia

“Estes mecanismos de defesa ou de evitação de contato podem ser saudáveis ou patológicos, conforme sua intensidade, sua maleabilidade, o momento em que intervêm e de uma maneira mais geral, sua oportunidade” (GINGER; GINGER, 1995, p. 132).


As disfunções de contato representam uma interrupção do fluxo de energia e são elas: • Confluência: perder-se no outro, perder-se no ambiente, perder-se dentro de si mesmo, um estado de não contato. No plano social, a confluência

impede

qualquer

contato

verdadeiro

(que

implica

diferenciação entre duas pessoas distintas), portanto, qualquer evolução social. • Introjeção: é tomar algo que, originalmente, pertence ao meio ambiente e introduzi-lo em nossa identidade sem processo de assimilação. A introjeção patológica consiste em “engolir inteiros” as idéias, os hábitos, os princípios, sem ter o cuidado de os transformar para assimilá-los. • Deflexão: é mudar o rumo original como se a pessoa criasse uma blindagem invisível, tendo um comportamento de esquiva, superficial. Tem como objetivo evitar, rejeitar, converter-se em impenetrável, mudar de assunto, não olhar nos olhos, não escutar. Em seu pólo resistente, a deflexão evita a experiência presente do encontro com outro e consigo mesmo, sendo que a queixa mais comum é o sentimento de inutilidade, a solidão, o vazio, o cansaço e a rotina. • Retroflexão: movimento em relação a si mesmo. É voltar energia contra si mesmo, é autoconter-se, auto-isolar-se, sendo agente e paciente da ação. É energia que deveria ser direcionada para fora fica dentro, e gera stress muito grande por causa do isolamento.


• Projeção: atribuir ao outro aquilo que não aceitamos em nós mesmos. Na projeção, o indivíduo não assume responsabilidade das suas coisas e, o “self” transborda e invade o mundo exterior. • Proflexão: fazer ao outro aquilo que gostaria de receber dele.Faz aos outros esperando que ele retribua igualmente. • Egotismo: só existe a própria necessidade, existe uma anulação do outro.

3.4.7 A base dialógica

No mundo atual, a alienação dos outros e do nosso próprio self é endêmica e o sofrimento humano seria menor se houvesse entre as pessoas uma maior preocupação em dialogar genuinamente. Partindo deste pressuposto, compete aos terapeutas criarem uma atmosfera para que a atitude dialógica seja semeada e floresça. Por conseguinte, esse dom não consiste apenas em olhar para o outro, mas é um impulso audacioso que exige uma mobilização muito intensa do próprio ser - para dentro da vida do outro (BUBER, 1982, p. 81). Dialógico

não

significa

o

discurso,

mas

sim

uma

atitude

de

conscientização e abertura, de se preocupar com a outra pessoa, única, e a nossa conexão inter-humana com essa pessoa, pois os seres humanos estão ligados não por aquilo que é visível e palpável, mas sim, por uma dimensão invisível e impalpável “entre” nós. Qualquer interação é permeada pelo espírito humano, o que possuímos como “fundo” que nos envolve e interpenetra, emergindo daí nossa singularidade e individualidade.


Martin Buber foi o principal expositor da filosofia do inter-humano. Ele foi um filósofo, além de educador e humanista que sentiu o colapso do relacionamento na civilização moderna, tendo como pensamento, a conclusão

que a sociedade

moderna provocava um distanciamento entre as pessoas. Portanto, quando a relação inter-humana não é enfatizada, resulta em isolamento, alienação e o narcisismo dos dias atuais e, o que deveria ser relacional fica com ênfase excessiva no individual. Essa ênfase no individual cria uma separação entre as pessoas e também dentro de psique humana, sendo a perspectiva dialógica, uma maneira de acabar com essas rupturas. Por conseguinte, a teoria dialógica em Gestalt significa uma atitude de sentir, sensibilizar e experienciar as outras pessoas não como objeto, mas ter disponibilidade para ouvir o outro sem pré-julgamento. É abertura para “ouvir” o que está sendo falado e para “ver” o que não é visível. Para Hycner e Jacobs (1997, p. 73), o contato que ocorre dentro da relação dialógica envolve uma parte maior do ser da pessoa do que qualquer outro tipo de contato. O momento Eu - Tu é aquele no qual estamos totalmente absorvidos pela outra pessoa, o que de forma paradoxal nos coloca profundamente em contato com nossa humanidade, com o conhecimento do ser. Neste momento, o significado da existência humana é revelado.

Ainda conforme os referidos autores (1997, p. 29), “entende-se por dialógico o contexto relacional total em que a singularidade de cada pessoa é valorizada; relações diretas, mútuas e abertas entre as pessoas são enfatizadas”. O Gestalterapeuta em seu trabalho é participante no diálogo, tem contato de aceitação, entusiasmo e preocupação verdadeiros. O diálogo é baseado na experiência da outra pessoa como ela realmente é, podendo assim mostrar seu verdadeiro self e diz o que ele pensa, encorajando o paciente a fazer o mesmo, pois


para Gestalterapia, o diálogo, em uma relação, não está centrado em apenas uma pessoa, mas em ambas, exigindo autenticidade e responsabilidade. As pessoas só experienciam o outro lado quando elas têm um sentido de seu centro acompanhado de flexibilidade existencial e psicológica para ser capaz de experienciar o movimento de ir e vir entre as duas pessoas e mantê-lo. Por isso, para Yontef (1998), o relacionamento terapêutico em Gestalterapia enfatiza quatro características de diálogo:

1 -Inclusão: que, para Hycner e Jacobs (1997, p. 59), “a inclusão é um movimento de ir e vir. O terapeuta precisa lutar para experienciar o que o cliente está experienciando”. 2 -Presença: “na Gestalterapia, o terapeuta não usa presença para manipular o paciente aos objetivos pré-estabelecidos, mas para encorajá-lo a regular-se de forma autônoma” (YONTEF, 1989, p. 19). 3 -Compromisso com o diálogo: contato é algo que acontece entre as pessoas e nasce da interação entre elas, sendo que o Gestalterapeuta usa este processo de relação para não manipular o seu cliente, visando determinados resultados, mas sim criando oportunidade para um verdadeiro contato e diálogo. 4 -O diálogo é vivido: o diálogo pode ser vivido por expressões não verbais, mas sim, por qualquer modalidade que expresse a energia e o movimento entre os participantes, uma dança, por exemplo, ou uma música.


Um diálogo genuíno é quando há um profundo reconhecimento, no ser, do valor da outra pessoa que existe separadamente das suas necessidades. No entanto, paralelamente, há a awereness na qual estamos de alguma maneira, conectados. Para Hycner e Jacobs (1997, p. 100), “há um momento de encontro. Cada um de nós é tocado por algo além do nosso self, por essa outra pessoa. É simultaneamente um momento de união e de separação”. A terapia dialógica é um processo, não é algo estático, por isso, cada resposta é única para cada situação que também é única. E, na abordagem dialógica é respeitada a singularidade de cada um dentro do contexto de relações. O dialógico é uma abordagem de estar aberto à alteridade, à singularidade, junto com o desejo de trazer a pessoa

mais plenamente para o

encontro com essa outra pessoa. É disponibilidade (depois do esforço individual) de se submeter ao “entre”, de reconhecer que o encontro genuíno só pode ocorrer por meio de alguma coisa além do seu controle. Assim como afirmou Buber (1979, p. 11).: “O Tu é encontrado por meio da graça, não por meio da procura”.

3.5 Processo grupal para gestalterapia

O grupo começa a ser formado tão logo duas pessoas se encontram e propõe algo em comum. Ele

é infinito, pois está sempre em permanente

transformação e, por ser algo vivo é sempre novo e transformador. Além disso, o grupo é como uma rede, como uma teia, onde cada elemento funciona como um ponto independente, mas psicodinamicamente


interligado, agindo como um subsistema, no qual cada um afeta o outro e é afetado pelo conjunto, criando uma matriz operacional. Entende-se por matriz um conceito holístico, no qual o grupo é visto como diferente e anterior à soma de suas partes. Ela inclui tudo, é um universo que armazena informações, faz combinações e, potencialmente, possui e explica o que ocorre no grupo. É, também, uma realidade dinâmica, que registra a história do grupo e que se modifica sempre que incorpora um novo elemento. E, para Ribeiro (1994, p. 35), “a matriz do grupo deve ser entendida como uma totalidade dinâmica, como resultado da ação conjunta do grupo”. O grupo é um fenômeno cuja essência reside no seu poder de transformação, no seu poder de escutar, de sentir, de se posicionar, de se arriscar a compreender o processo de significação do viver e do responsabilizar-se. É um permanente processo de comunicação, não sendo apenas algo físico, visível, mas também uma entidade psíquica, existindo mesmo quando as pessoas não estão fisicamente presentes no mesmo lugar. E, como processo, é uma unidade complexa, um campo de forças, onde cada vetor exerce um ponto de pressão sobre o espaço vital, mantendo a fisionomia grupal e permitindo que ela se altere a cada instante. Segundo Ribeiro (1994), tanto o grupo como os indivíduos são regidos por leis da natureza, da sociedade, do pensamento e do espírito. O que se denomina realidade é formado pelo biológico, pelo social, pelo o psíquico e pelo espiritual que não são arquétipos nem construtos, pois ele tem função de tornar a realidade vivida, experienciada. Consoante o mesmo autor, (1994, p.42), quando algo é colocado no grupo ocorre ou pode ocorrer uma fragmentação da percepção e dos sentimentos, onde cada um capta o objeto em questão em função de sua própria experiência. Em seguida, o objeto fragmentado remetido para dentro de cada um, recebe aquela parte de realidade e luz que é própria de cada sujeito. Uma vez enriquecida pelos componentes do


grupo, as partes fragmentadas são devolvidas ao sujeito inicial e incorporados em um único objeto, como partes que retornam, agora enriquecida da contribuição de todos.

Todo o acontecimento no grupo pode ser visto como algo individual ou como um produto da realidade maior, e toda conexão entre o que é do indivíduo e o que é do grupo são simbólicas e complexas. Quando alguma coisa é analisada por um indivíduo, será analisada em virtude de uma experiência e, a coisa em si quando analisada pelo grupo terá chance de novas possibilidades compreendidas pela realidade do mesmo. Goldstein (apud RIBEIRO 1993), dizia que, de fato, “o único estímulo no comportamento humano é o de interagir com o ambiente, de exercer e promover a capacidade do sujeito de funcionar dentro de um sistema maior onde a seqüência do comportamento dependa uma da outra”. Ribeiro (1994, p. 58), nos diz que o grupo funciona como um campo, um campo de forças onde existe uma energia positiva e uma negativa atraindo-se e repelindo-se a partir de processos peculiares como uma unidade que se abre e se fecha para os estímulos de fora e, no qual os estímulos de dentro funcionam no contexto de uma trama, nem sempre facilmente detectável e explicável.

O referido autor indaga, de uma forma coerente e real, o que é o grupo, nos dizendo que se pode então adaptar seu pensamento tanto para a teoria da complexidade como para a organização enquanto sistema. Ribeiro (1994) nos diz, ainda, que o grupo ensina as pessoas a usar sua própria dúvida para se chegar à verdade, a usar seus sentimentos mais profundos para fugir da própria ambigüidade, a abrir os olhos para não enxergarem a si próprias como modelos acabados dos outros. O grupo ensina as pessoas a serem humildes diante da própria grandeza e da dos outros, pois o dado inclui e revela o


pr贸prio mist茅rio, revela a facticidade e permite usar adequadamente os pr贸prios adjetivos.


4 TEORIA DA COMPLEXIDADE As diferenças teóricas remetem, em última análise, às diferenças entre as personalidades: cada um escolhe um modelo que corresponde à sua estrutura psíquica (C. G. Jung)

4.1 Introdução

Segundo Gleiser (2002), existem várias definições para o estudo da complexidade, mas nenhuma é absoluta, porém uma característica comum a todas elas é considerar sistemas com múltiplos agentes se adaptando e reagindo aos padrões que os próprios agentes estão co-criando. Os agentes podem ser formigas em um formigueiro, especuladores no mercado de ações, empresários de um determinado setor da economia ou países em uma sociedade global. A questão do tempo aparece na medida em que os agentes antecipam, reagem e criam uma nova realidade, com a qual

os agentes reagem novamente, influenciando a realidade

novamente ad infinitum. Consoante Axelrod e Cohen (2000), neste momento, há pouca convergência entre os teóricos que começaram a estudar sistemas complexos como uma classe. Não é um campo no qual uma teoria unificada já tenha sido desenvolvida, nem se espera que isto aconteça nos próximos anos. Mas concordam com Gell-mann (1996), o qual defende que um sistema é complexo quando é difícil prevê-lo, não por ser aleatório, mas sim porque as regularidades que possui não podem ser descritas rapidamente. Isso distingue a complexidade da aleatoriedade, e se alinha com o nosso foco na dificuldade de predição. Não obstante, existem várias outras definições meticulosas da complexidade, tendo outras propriedades desejáveis (por exemplo, Bak, 1996; Cowan, et al., 1994). Se haverá um consenso


sobre uma definição precisa da complexidade, ele está longe de ser uma realidade imediata. Para Stacey (1996), a ciência da Complexidade estuda as propriedades fundamentais de feedback não linear. E, Axelrod e Cohen (2000) afirmam que um sistema pode ser transformado em complexo quando há fortes interações entre seus elementos, de forma tal que os eventos atuais influenciam pesadamente nas probabilidades de muitos tipos de evento posteriores. Na opinião de Axelrod e Cohen (2000), “complexidade” não denota simplesmente “muitas partes em movimento”. Ao contrário, complexidade indica que o sistema consiste de partes as quais interagem de forma que influenciam fortemente a probabilidade de eventos posteriores. Para Holland (1995, p.38), um sistema adaptativo complexo é [...] bastante diferente da maioria dos sistemas que têm sido cientificamente estudados. Eles exibem coerência sob mudança, via ação condicional e previsão e eles fazem isso sem direção central. Ao mesmo tempo, parece que sistemas adaptativos complexos têm ponto de alavancagem, onde pequenas quantidades de input produzem grandes e direcionadas mudanças.

De acordo com Axelrod (1997), a teoria da Complexidade envolve o estudo de muitos elementos e suas interações. Os elementos podem ser átomos, peixes, pessoas, organizações ou nações, sendo que essas interações podem consistir de atração, combate, acasalamento, comunicação, comércio, parceria ou rivalidade. Segundo Axelrod e Cohen (2000), os campos nos quais a pesquisa da complexidade se desenvolveu incluem: !"A

física da matéria condensada, com seu interesse em interações não-

lineares entre os spins de muitas partículas e a conservação de padrões que reduzem a “frustração” entre os elementos de um sistema


(Essa é a espécie de problemas que levou os prêmios Nobel Murray Gell-Mann e Philip Anderson a ajudar na fundação do Instituto Santa Fé, que desde então é o principal centro para o estudo da complexidade em todas as suas manifestações). !"A

biologia evolucionária, com seu interesse por populações com “pools

genéticos” de estratégias que evoluem através da reprodução seletiva com variação. !"A

computação evolucionária, cujo ramo da Ciência da Computação é

inspirado pela biologia evolucionária a desenvolver técnicas que podem descobrir boas estratégias para problemas difíceis por meio de populações as quais se reproduzem com variação e seleção (HOLLAND, 1995). !"A

modelagem, pela ciência social, de populações heterogêneas de

pessoas que interagem mutuamente e mantém ou mudam suas estratégias dependendo de quão bem estão se saindo (SCHELLING, 1978, p. 147-57). !"Vida

Artificial, cujo estudo de muitos sistemas diferentes, geralmente

implementados como agentes simulados em computador, exibem propriedades semelhantes à vida natural, como auto-reprodução (LANGTON, 1988). !"Teorias

Matemáticas para formalizar a medição da complexidade de

um sistema (LLOYD, 1990; GELL-MANN, 1996).

Apesar da diversidade dessas áreas, podemos identificar temas recorrentes no trabalho dos investigadores da complexidade. Vários desses temas


podem ser destilados e levados a relacionar-se com o problema de análise de intervenções em um mundo no qual é difícil de prever por ser complexo.

4.2 Sistemas Adaptativos Complexos

O que é um Sistema Adaptativo Complexo (SAC)? Entender o que é um SAC possibilita entender a dinâmica social, sendo que normalmente se percebe o mundo de uma forma estanque, sem atentar para a variedade de interações que ocorrem ao redor. Sendo assim, essa pergunta faz as pessoas refletirem que todas as ações realizadas por elas sempre impactam outras, as quais desencadearam outras tantas, fugindo à imaginação, muitas vezes. Por conseguinte, entender o significado de um SAC é fazer as pessoas perceberem a responsabilidade das suas ações. Holland (1995) alerta que, uma visão importante dos SAC’s é que eles são sistemas de agentes que interagem e que podem ser descritos por regras. Esses agentes adaptam-se, mudando suas regras a partir de experiências acumuladas. Nos SAC’s, a maior parte do ambiente de um agente adaptativo consiste de outros agentes adaptativos, assim uma porção de esforço do agente é gasta para adaptar-se aos outros agentes, sendo esta característica a maior fonte de padrões temporais complexos que os SAC’s geram, e para se entender um SAC, deve-se compreender estes padrões de constante mudança. Outra característica interessante do SAC, apontada por Stacey (1996, p. 13), é que estes sistemas têm uma ordem inerente que está simplesmente esperando ser revelada através da experiência do sistema, mas ninguém pode saber o que esta ordem será até, que de fato, ela se revela em tempo real. Em certas


condições, deixar se auto-organizar no que parece confusão e com agentes interagindo num sistema sem ordem aparente, pode produzir, não anarquia, mas novos resultados criativos que nenhum deles já tinha sonhado.

Quando um sistema contém agentes ou populações que procuram se adaptar, usaremos o termos Sistema Adaptativo Complexo. Então, em muitos Sistemas Adaptativos Complexos, todas as estratégias dos agentes são parte do contexto no qual cada agente está atuando, tornando-se difícil para o agente prever as conseqüências de suas ações e, portanto, eleger o melhor curso de ação. Ainda mais sutil, é a questão de que, enquanto os agentes se ajustam à própria

experiência

através

da

revisão

de

suas

estratégias,

eles

estão

continuamente mudando o contexto no qual outros agentes estão tentando se adaptar. Axelrod (2000) diz que há duas sutilezas no uso da frase Sistema Adaptativo Complexo que merecem ser salientadas: 1a. usa-se a frase quando os agentes podem estar se adaptando. Não se restringe a idéia apenas naqueles casos em que eles estão claramente tendo êxito; ao invés disso, usa-se a frase de forma mais ampla para inclusões que podem levar ao aperfeiçoamento; 2a. o uso do termo diz apenas que as partes estão se adaptando, não necessariamente o todo. A palavra sistema é usada para indicar uma ou mais populações de agentes (por exemplo, empregados e clientes de uma empresa), todas as estratégias de todos os agentes (operando juntas para produzir e vender produtos, comprar e usar produtos), juntamente com os artefatos relevantes e fatores ambientais (produtos manufaturados, ferramentas de produção, panfletos de vendas e horários de abertura de loja). Por isso, sempre

que se está interessado em

projetar algo novo, ou contemplando uma possível mudança na política, se está considerando intervenções num sistema.


Para Holland (1995, p. 6), SAC’s são, sem exceção, constituídos de um grande número de elementos ativos que são diferentes na forma e na capacidade. E, eles são formados por uma quantidade de componentes também denominados agentes, interagindo de acordo com regras, nas quais os agentes examinam a atitude de cada um, com a intenção de melhorar seus comportamentos e também o comportamento do sistema do qual fazem parte, significando, assim, que os sistemas operam de uma maneira que constitua aprendizado. Na maioria das vezes, esses sistemas de aprendizado operam em ambientes os quais consistem de outros sistemas de aprendizado, e que juntos, formam um super sistema de co-envolvimento que, por sua vez, cria e aprende seu próprio caminho para o futuro. Stacey (1996) diz que os sistemas puramente físicos ou químicos são determinísticos, sendo que para eles, as regras são as mesmas, até quando os resultados reais são difíceis de serem previstos. Mas os sistemas orgânicos complexos como das espécies ecológicas ou sociedades são adaptativos em vez de determinísticos, de modo que as regras mudam à luz das conseqüências do comportamento que elas mesmas produzem. Os sistemas adaptativos evoluem freqüentemente em inesperadas direções, até um ponto em que um novo conjunto de regras torna-se aplicável. Para Caulkin (2004), a implicação desorientadora da complexidade, no entanto é de mostrar que não há caminho certo para chegar a um ponto. A complexidade afirma que os resultados de longo prazo para entidades complexas como empresas, mercados ou economias não são passíveis de serem conhecidos, porque as relações entre as ações e seus resultados não são lineares, pois, através de intrincados feedbacks, as causas podem se transformar em efeitos


e os efeitos em causas, de maneira que, na prática, as ligações causais não podem ser traçadas. E dependendo das condições iniciais, variações aparentemente insignificantes

podem

ser

amplificadas

até

produzirem

surpreendentes

conseqüências. Por muitos séculos, os cientistas descreveram o mundo como se este fosse semelhante a uma máquina, e o qual seria governado por princípios de ordem e regularidade. Todas as coisas eram soma das partes, as causas e os efeitos estavam ligados linearmente e os sistemas moviam-se de modo determinístico e previsível. No entanto, os cientistas, há muito tempo, estavam atentos para os fenômenos que contradiziam a lógica linear, tais como: as formas espirais das chamas de fogo, os redemoinhos em correntes e as formações de nuvens, sendo que esses fenômenos não podiam ser representados por simples equações lineares. Segundo Capra (2002, p. 16), A nova compreensão do que é a vida, baseada nos conceitos da dinâmica não-linear, representa um divisor de águas conceitual. Pela primeira vez na história, dispomos de uma linguagem para descrever e analisar os sistemas complexos.

Ainda consoante o referido autor, a idéia central da concepção sistêmica e unificada da vida é a de que seu padrão básico é a rede, desde as redes metabólicas dentro da célula até as teias alimentares dos ecossistemas e as redes de comunicação da sociedade humana. Os componentes dos sistemas vivos se interligam sob a forma de rede, sendo que, na era da informação na qual vivemos, as funções e os processos sociais organizam-se cada vez mais em torno de redes. No decorrer deste novo século, dois fenômenos em específico terão efeitos significativos sobre o bem-estar e os modos de vida da humanidade, tendo por base as redes ,envolvendo tecnologias radicalmente novas.


A partir de exemplos citados por Axelrod (1997), fica claro que as partes que formam um sistema complexo são por elas mesmas complexas, porque quando as partes de um sistema são complexas parece que o agrupamento delas também seria complexo.Contudo, esta não é a única possibilidade. Consoante Agostinho (2003), a palavra complexidade traz à mente duas situações: a primeira é de um quebra-cabeça com uma infinidade de peças. Como cada peça tem o seu lugar definido é possível, pela análise das peças e do agrupamento, simplificar o trabalho e montar o quebra-cabeça. Apesar disso não ser complexo, pode ser complicado. Porém, há casos que poucos tipos de peças podem interagir umas com as outras de maneiras diferentes, produzindo uma infinidade de resultados. Complexidade é então usada para fenômenos que tenham como idéiachave a interação. Conforme o referido autor, uma vez que certas condições estejam presentes, a ordem pode emergir de situações aparentemente caóticas. Por exemplo: a formação de cardumes e as revoadas. Por meio de simulações, percebeu-se

que

essas

complexas

organizações

podem

formar-se

do

comportamento de cada peixe ou pássaro, seguindo poucas regras (embutidas em seus modelos mentais ou instintivos), como podemos supor: manter uma distância mínima dos outros objetos, inclusive outros peixes ou pássaros; tentar manter a velocidade dos outros indivíduos em sua vizinhança; e tentar mover-se em direção ao centro de massa dos outros indivíduos na vizinhança. Um dos objetos de estudo das novas ciências da complexidade são as regras emergentes, que não surgem de regras já de resultados esperados, sendo que o seu resultado depende sim da interação de partes ou indivíduos.


Segundo Bar-Yam (1997), é possível descrever um sistema composto por partes simples em que o comportamento coletivo é complexo, sendo essa uma possibilidade importante da chamada complexidade emergente, como por exemplo, qualquer sistema complexo formado por átomos. A idéia de complexidade emergente é que o comportamento de muitas partes simples interage de uma forma que o comportamento do todo é complexo, sendo elementos aquelas partes dos sistemas complexos que podem ser consideradas simples quando descrevem o comportamento do todo. Ter “coerência” sem direção central significa que esses sistemas se autoorganizam, isto é, os padrões ordenados dos quais se reconhece um organismo, uma sociedade, ou um ecossistema, em que emergem espontaneamente das interações entre seus diversos componentes. Os comportamentos complexos em largas escalas decorrem da organização ou agregação de agentes menos complexos, sem que precisem ser dirigidos externamente. Sendo os agentes, que compõe o sistema, elementos ativos há possibilidade de auto-organização, podendo orientar suas próprias ações de acordo com o que aprendem de sua interação com o ambiente o qual também pode ser formado por outros agentes, tendo liberdade para colocarem em prática sua capacidade de aprendizado e de adaptação. Para

Agostinho

(2003)

Sistemas

Complexos

Adaptativos

são

organizações em rede formadas por inúmeros agentes, os quais são elementos ativos e autônomos, cujo comportamento é determinado por um conjunto de regras e pelas informações a respeito de seu desempenho e das condições do ambiente imediato.


Os agentes aprendem e adaptam seus comportamentos a partir das pressões de seleção presentes, porém, existe um comportamento global, emergente do sistema, que é o efeito da combinação das interações não lineares entre os componentes. Segundo Axelrod e Cohen (2000), no mundo em que estamos inseridos, todos intervimos em sistemas complexos que podem ser muito simples ou muito sofisticados, mas que de alguma forma estas ações transformam o mundo e levam a conseqüências difíceis de imaginar antecipadamente. Para esses mesmos autores, existem muitas situações que não são complexas, sabendo-se quais as ações possíveis e que conseqüências elas devem causar, porém a previsão foge do nosso alcance. A complexidade do mundo é real, é difícil saber como lidar com ela, sendo que a ciência da complexidade pode ajudar a gerar novas questões e novas possibilidades de ação. Coelho (2001) afirma que as muitas definições refletem a recente história da pesquisa sobre a complexidade, a qual envolve uma notável diversidade de domínios. Cada área tem características especializadas que difere umas das outras em um certo grau. Ao mesmo tempo existem temas recorrentes sobre agentes, estratégias, interações e cópias que ligam estes diversos campos. Os Sistemas Complexos podem ser vistos em termos de população de agentes como, por exemplo: a) A - Um indivíduo que quer a cooperação dos amigos de trabalho para realizar uma determinada tarefa. b) Alguém que em algum lugar do mundo precisa de dinheiro emprestado para abrir um negócio. c) Programas de computador na internet, buscando recursos auxiliares.


d) Os Estados Unidos querem promover entre as nações, objetivos, os quais eles não podem impor à força, como direitos humanos, abertura ao comércio internacional, resolução pacífica de conflitos, governo democrático e economias de mercado.

Apesar de situações tão diversas, todas podem ser abordadas de uma maneira geral, podendo ser consideradas sistemas complexos, cujas intervenções trariam como conseqüência grandes mudanças. Situações que envolvem sistemas complexos adaptativos possuem um vocabulário comum ou termos chaves, que fazem certos conceitos, sendo que, neste trabalho serão citados alguns conceitos. Para Axelrod e Cohen (2000) alguns conceitos, que fazem parte da teoria da complexidade são: Agente, Estratégia, População, Tipo, Artefato, Seleção, Adaptação e Interação.

#" Agente

Um agente tem a capacidade de interagir com seu meio, incluindo outros agentes. Ele pode reagir ao que acontece em sua volta e também fazer coisas propositadamente. Na maioria das vezes, pensa-se que ele é uma pessoa, o membro de uma equipe dentro da empresa ou uma pessoa que busca empréstimo. Não obstante, agente tem uma definição ampla, pois uma pessoa não é o único tipo de agente. Ele pode ser agente uma família, um negócio, um país ou,


mesmo um programa de computador interagindo com outros programas pode ser visto como um agente. Quando se fala de agentes, geralmente supõe-se que eles tenham uma série de propriedades, incluindo localização – onde os agentes operam; capacidades – como o agente pode afetar o mundo; e memória – que impressões este agente pode trazer do seu passado. Há também os espaços em que um agente está inserido ou atua, que podem ser físico e conceitual. Consoante Axelrod e Cohen (2000), os espaços podem ser: a) Espaço Físico: é o espaço físico com a localização no espaço geográfico e no tempo de agentes e artefatos. b) Espaço Conceitual: é o espaço conceitual como a “localização” num conjunto de categorias estruturadas de forma que agentes “próximos” tenderão a interagir. Por exemplo: um organograma de uma organização fornece um mapa de um espaço conceitual, no qual uma pessoa pode ser designada “um diretor de compras”, sendo essa uma localização definida de uma posição de responsabilidades na hierarquia da empresa, pois coloca o ocupante do emprego próximo as pessoas que lidam com compras, no sentido de que , provavelmente, essas pessoas serão aquelas que irão interagir com esse diretor.

Existem muitos outros espaços conceituais que localizam e organizam as interações entre agentes. Tudo que se requer é que os conceitos se tornem um senso de categorias múltiplas que podem ser localizações, que agentes na população podem ser membros de diferentes categorias, e portanto, possuírem diferentes localizações, as quais se tornem semelhantes para os agentes interagir.


#" Estratégia

Segundo Axelrod e Cohen (2000), estratégia é um padrão de ação condicional que indica o que se deve fazer em determinadas circunstâncias, e/ou a maneira como um agente responde a sua vizinhança e persegue seus objetivos. As estratégias podem mudar no decorrer do tempo, sendo que uma maneira de mudança é a experiência adquirida pelo agente ao executar estratégias. E, os agentes influenciam as decisões um do outro, havendo assim colaboração ou não em projetos de trabalho, dependendo do comportamento de cada um. Portanto, os agentes podem observar com freqüência as ações dos outros agentes com os quais interagem, observando erros e acertos, e um agente que esteja insatisfeito será capaz de tentar novas estratégias ou imitar a estratégia de outro. Para Axelrod e Cohen (2000), mudanças em estratégias também podem acontecer com mudanças na população de agentes. Por exemplo, trabalhadores experientes podem treinar novos trabalhadores, ou as práticas de uma empresa podem ser imitadas por outra. Tais processos de reprodução ou cópia desempenham um importante papel por alterarem a mescla de estratégias ou agentes em uma população.

#" População

Consoante, para os mesmos autores, população é um conjunto de agentes, ou em algumas situações, conjunto de estratégias. Se estivermos


interessados em investigar a complexidade, populações são importantes em três aspectos: - como fonte de possibilidades para se aprender; - como recipientes para uma nova melhoria; e - como parte do nosso ambiente.

Axelrod e Cohen (2000) afirmam que um dos principais benefícios da abordagem dos Sistemas Adaptativos Complexos é que ela ajuda cada um ver a si mesmo no contexto de uma população de agentes, e ajuda a enxergar as suas ações no contexto de uma população de estratégias. E, para os autores, variedade é a diversidade de tipos dentro de uma população ou sistema. Ainda segundo os autores, quando tratamos de Sistemas Adaptativos Complexos como uma população de agentes, admite-se que os agentes não são todos iguais. Não obstante, freqüentemente, se quer considerar que todos os agentes de um sistema são os mesmos – todos os trabalhadores de uma determinada empresa, todos os pássaros de um bando, todos os habitantes de uma cidade, entre outros. Tais suposições simplificam análises subseqüentes, pois, perceber a variedade neste sentido exige que se olhe a questão da variedade com mais detalhes. Na opinião dos autores, a população de agentes dentro de um sistema pode apresentar uma imensa variedade de combinações e características, sendo que algumas dessas têm importância e outras não, dependendo dos objetivos perseguidos.


#" Tipo

Tanto estratégias ou agentes de um tipo particular podem ser mais ou menos comuns em uma população. Segundo Axelrod & Cohen (2000), um tipo é uma categoria de agente dentro de uma grande população que compartilha algumas características detectáveis. A noção de tipo facilita a análise da variedade que a nossa estrutura de trabalho freqüentemente requer. Freqüentemente, distinguem-se tipos por alguns aspectos das propriedades dos agentes na população: - cliente alto, médio e baixo para um produto de consumo; - indivíduos que não estão infectados por um vírus em particular, aqueles que têm sintoma da doença ou aqueles que tiveram recuperação e estão imunes à doença; e - espectadores de um canal a cabo sobre clima os quais “buscam chuva”,

“interessados

no

clima

em

geral”

e

“obsessivos

por

tempestades”.

#" Artefato

Para Axelrod e Cohen (2000), artefato é um recurso material que tem uma localização definida e pode responder às ações dos agentes. Pode-se incluir nesta categoria: casa, carro, microcomputador, telefone, eletrodomésticos, equipamentos em geral. Os referidos autores consideram artefato as tecnologias e os materiais empregados pelas organizações, bem como, os produtos e os resíduos gerados


podem ser pensados como aspectos ambientais de uma organização. Além disso, existem vários processos de mudanças de estratégias que para os autores são formas diferentes de seleção.

#" Seleção

Pode ser resultado de mecanismos de aprendizado por tentativa e erro, ou imitação de estratégias de agentes bem sucedidos. Mudanças populacionais como por exemplo nascimento/morte, contratação/demissão, imigração/emigração podem resultar seleção. Nem sempre a seleção é benéfica, pois, dependendo do caminho seguido, a seleção pode não ser eficiente, como por exemplo: a imitação do sucesso aparente pode levar ao caminho errado. No entanto, um processo de seleção que leve de fato ao aperfeiçoamento, conforme alguma medida de sucesso, será chamado de adaptação. Na opinião de Axelrod e Cohen (2000), a importância de saber o que contar como sucesso é um dos pontos-chave da adaptação de um sistema. Para um negócio, o lucro parece uma medida natural de sucesso. Para um jogador de xadrez, ganhar jogos é uma medida natural de desempenho. Porém, mesmo nestes exemplos, com critérios de sucessos que parecem indisputáveis, a complexidade pode ser compreendida mais efetivamente se outras medidas de sucesso forem usadas.


#" Adaptação

Para Holland (1995), adaptação, no uso biológico, é processo por onde um organismo se encaixa em seu ambiente. Experiências provocam mudanças na estrutura dos organismos. Assim, à medida que o tempo passa, os organismos podem fazer uma melhor utilização do ambiente para seus próprios fins.

#" Interação

Neste trabalho, se faz uma comparação entre a teoria da Gestalterapia e a teoria da Complexidade, sendo estas duas teorias aplicadas ao indivíduo/agente dentro da organização. Axelrod e Cohen (2000) definem como padrão de interação as regularidades recorrentes do contato entre os tipos de agente dentro do sistema. É através das interações que se pode considerar um SAC vivo. Sendo assim, o sistema não é composto simplesmente por uma quantidade de agentes de uma variedade de tipos, mas, por uma população que faz eventos e possui uma história inédita. Segundo os referidos autores, para saber como as interações funcionam, precisa-se distinguir dois tipos de classes determinantes: os fatores de proximidade e os de ativação. Fatores de proximidade: determinam como os agentes serão ao interagirem uns com os outros, focando a atenção em muitos fatores, que fazem


agentes em particular interagirem. A proximidade física não é o único tipo de proximidade, pois o processo de mudança também passa pelo fator proximidade. Fatores de Ativação: determinam o seqüenciamento da sua atividade. O termo ativação agrupa muitos processos diferentes que afetam o “timing” da atividade do agente. Assim, como muitos fatores diferentes podem ser análogos da distância física em determinar probabilidades de interação, também muitos fatores podem alterar a estrutura temporal de eventos. Os autores Axelrod e Cohen (2000) citam exemplos de alguns mecanismos que podem ser usados para alterar os padrões de interações dos agentes. São eles:

a) Métodos Externos de Mudança nos Padrões de Interação - As barreiras para movimento no tempo e no espaço: o efeito essencial de uma barreira ao movimento é fazer com que alguns agentes se aproximem mais – “Havendo uma maior interação entre alguns e menos com outros”. - Barreiras ao Movimento em Espaços Conceituais: os espaços conceituais

são

usados

por

agentes

para

fazer

distinção,

e

acompanhando essas distinções, existem os limites. Essas barreiras conceituais têm um filtro refinado em padrões de interação, porque são conceituais ao invés de físicas, os seus efeitos na interação podem ser mais seletivos.

Pode servir como espaço conceitual um sistema social de castas ou classes, ou status e, esses agentes podem estar limitados em seus padrões de interatividade, mesmo com aqueles que estão bem próximos no espaço físico.


b) Métodos Internos de Padrões de Interação e Mudança São os métodos de mudança de padrões de interação que estão disponíveis a um agente singular. - Seguindo Outro Agente: um dos mecanismos mais simples que podem modificar os padrões de interação surge de um agente estar próximo a outro agente. O exemplo mais básico desse mecanismo envolve a permanência próxima num espaço físico, mas o seu caráter geral persiste mesmo quando a proximidade é conceitual em vez de física. O protótipo biológico dele é a adesão, na qual um organismo se gruda a outro ou fica próximo dele. Tem como efeito o fato do agente “seguidor” experimentar um padrão de interação similar ao do agente “condutor”. Na vida diária, passa-se muito tempo com parentes, colegas de trabalho e amigos, sendo que o fato de se ter essa convivência tão freqüente, conhece-se as pessoas com quem eles convivem.

Segundo Axelrod e Cohen (2000), estes mecanismos, para seguir um agente, podem captar aprendizados sem necessariamente entender causas e efeitos daquele padrão. Realizações e transformações podem acontecer sem os benefícios do conhecimento explícito, sendo que isso pode acontecer com freqüência em sistemas sociais onde a maior parte da transmissão do conhecimento adicional usa abordagem de aprender como as coisas são feitas – ou deveriam ser feitas – sem entender totalmente o porquê das razões. Seguindo um sinal: uma segunda estratégia que o agente pode se utilizar para alterar seu padrão de interação é seguir um determinado sinal, movendo-se em direção a uma localização que apresenta um valor melhor.


Pessoas e agentes procuram mover-se no espaço em direção a sinais desejáveis. Todas as procuras que trazem, para as pessoas, mais conveniências, como por exemplo, procurar casas com ar puro e pouco barulho, próximo às escolas, são padrões de movimento através de espaço (físicos ou conceituais) que seguem um sinal. Essa atitude, esse movimento tem um efeito direto de se levar a uma situação que é desejada, mas tem o efeito indireto de se levar ao padrão de interação dominante da localidade. Para Axelrod e Cohen (2000), seguir um sinal conduz a localidades que atraem outros que seguem os mesmos sinais ou que estão relacionados.

c) Mecanismos que Envolvem Mudança no Padrão

As interações entre os agentes em Sistemas Adaptativos Complexos podem ser dramaticamente alteradas apenas como conseqüência da mudança de probabilidade da atividade do agente. - Organizando Rotinas: um mecanismo que depende das interações dentro do sistema para estimular a ativação futura de agentes é a formação de rotinas de trabalho nas organizações. Elas também são padrões de recorrência de interações entre os agentes, porque combinam as habilidades distintivas de múltiplos agentes humanos, sendo que as interações em uma única rotina podem ser bem diversas. - Reestruturação de Espaços Físicos e Conceituais: neste mecanismo, as ações ocorrentes alteram a estrutura do espaço no qual os atores estão locados. Os agentes não estão agindo intencionalmente para


mudar os padrões de interação coletiva, mas barreiras estão sendo criadas (ou reduzidas) de dentro, como um produto das ações dos agentes.

Finalmente, muitos sistemas são complexos, mas de forma alguma todos são “adaptativos”. Para um sistema apresentar adaptação que aumente a sobrevivência (ou outra medida de sucesso), ele deve aumentar a probabilidade de estratégias eficazes e reduzir a probabilidade de estratégias ineficazes. A pesquisa da complexidade tem recebido considerável atenção recentemente. Em algum grau, é porque os avanços na computação permitiram o progresso em vários problemas que, por muito tempo, foram muito difíceis para as ferramentas matemáticas convencionais. Mas é importante recordar que a orientação fundamental da pesquisa da complexidade está enraizada em tradições de longo alcance. Talvez existam conseqüências poderosas logo além do horizonte, pois a pesquisa da complexidade não faz previsões detalhadas. Antes, ela é um plano que sugere novos tipos de questões e possíveis ações.


5 ORGANIZAÇÕES COMO SISTEMAS COMPLEXOS

O real não é racional; ele é improvável e milagroso (Michel Serres)

Considera-se que, em meados da década de 1980, o mundo dos negócios deu seu primeiro passo oficial em direção à Teoria da Complexidade, afastando-se mais ainda do paradigma mecanicista que era a característica da Administração Científica de Taylor. Era a busca do recém criado Instituto Santa Fé por “um arcabouço teórico comum para a complexidade, capaz de iluminar tanto a natureza quanto à humanidade” (WALDROP, 1994. p. 12). É dentro da lógica Administração pós-industrial, trazida por Dijksterhuis, et al (1999), que se percebe a potencialidade de se trabalhar com os conceitos trazidos pela teoria da complexidade, em especial, os sistemas adaptativos complexos. Toda a organização humana é uma rede de pessoas, ou seja, agentes individuais que interagem uns com os outros e com agentes de outras organizações que constituem seu ambiente (CHARON, 1991; MUELLER, 1986; NOHRIA; ECCLES, 1992 apud STACEY, 1996). Todas as organizações tentam sobreviver e para fazer isso, tem de fazer uma história, ou seja, elas têm de desenvolver uma tarefa singular a fim de que outras organizações e outras pessoas interajam com elas. É isso que determina seus propósitos, suas pretensões e suas tarefas básicas. A figura 3 é o mapa de rede de duas organizações que representam as interações circulares entre agentes de cada organização e a comunicação entre outras organizações.


Fonte: Coelho (2001).

Figura 3: Redes Humanas.

A ciência da complexidade explora a natureza das redes determinísticas e adaptativas, sendo que os sistemas complexos adaptativos são redes formadas por um grande número de agentes, interagindo com outros agentes de acordo com esquemas que contém partes tanto dominantes como recessivas. A descobertachave dos cientistas que trabalham com sistemas complexos acerca de sistemas complexos adaptativos é que eles são criativos somente quando operam naquilo que pode ser chamado de Espaço para Novidade. Esse espaço para novidade é uma transição de fase no limite do caos, isto é, no limite do ponto de desintegração do sistema. O estado é paradoxal, isto é, ao mesmo tempo ele é estável e instável, dirigido por uma dinâmica contraditória tanto de competição como cooperação, tanto no sentido de ampliação como de diminuição, ao mesmo tempo exposto a uma tensão criativa e a uma resistência a essa tensão. Tais sistemas evoluem dialeticamente para resultados radicais e imprevisíveis. O processo de co-evolução é aquele de auto-organização, uma


criativa desconstrução e reconstrução pela qual um esquema recessivo mina um esquema dominante para produzir saídas emergentes, sendo que esses sistemas prendem de forma complexa e são ambíguos por natureza. Para Stacey (2001), na mente, constrói-se, o mundo onde se vive. O tipo de mundo que se constrói depende criticamente das formas de raciocínio que se compartilha. A vida organizacional faz sentido quando é usado um modelo compartilhado de referência, uma forma comum de visão, construída através de séculos por muitas fontes. Ainda, consoante o mesmo autor, os sistemas operam de maneira que constituam aprendizado em ambientes, que, muitas vezes, consistem de outros sistemas de aprendizado, formando juntos, um supersistema de co-envolvimento, que cria e aprende seu próprio caminho para o futuro. Cada um de nós tem um cérebro que é um complexo sistema de adaptação no qual os neurônios são os agentes. Cada um tem uma mente que é um sistema adaptável complexo, no qual símbolos e imagens são os agentes. Quando há o agrupamento, constitui-se um sistema adaptável complexo, nos sentidos biológico e mental, sendo todas as organizações tais sistemas. As organizações interagem para formar um sistema nacional econômico, social e político, e os sistemas nacionais interagem para formar um sistema global, no qual todos são sistemas complexos adaptáveis intercalados. Até agora, a ciência da complexidade focalizou primariamente a evolução da vida e o comportamento dos sistemas químicos e físicos. Ela foi desenvolvida por matemáticos e cientistas da computação, por físicos e químicos de grande eminência como Murray Gell-Mann e Iiya Prigagine – ganhadores do Prêmio Nobel, e por outros eminentes cientistas como Stuart Kauffman, Christopher Langton e John


Holland do Instituto Santa Fé, no Novo México, pesquisadores do Centro de Estudos sobre Complexidade da Universidade de Illinois, e Brian Goodwin da Universidade Aberta no Reino Unido. Para Stacey (2001), não é somente aos sistemas naturais que essa ciência se aplica, também os seres humanos constituem tais sistemas. E, o referido autor faz a seguinte pergunta: “Já que a ciência da complexidade estuda esses sistemas complexos adaptáveis que podem ser encontrados em toda parte, o que ela nos diz a respeito deles?”. Pode-se pensar nos membros de uma organização como agentes cujo comportamento é regido por um código de regras para a realização das suas tarefas, avaliando o seu desempenho, mudando as regras, e, também, as regras que deverão passar dessa geração para a próxima. Algumas dessas regras são conscientes e explícitas, enquanto outras, pelo menos no caso de humanos, são implícitas e inconscientes. Todavia, observando uma pessoa, é possível notar algumas regularidades em seu comportamento e, então, articular um código de regras que produza tais regularidades, o que é, enfim, o que os psicólogos fazem. Um programa de computador é um código de instruções e regras operacionais. E é perfeitamente possível acrescentar aí um conjunto de regras para avaliar tais operações de acordo com seu desempenho, e copiando o programa de outra forma. Tal programa poderia ser considerado como sendo um agente, caso algumas das suas regras requisitassem o exame do estado dos outros programas do computador e essas regras fossem ajustadas de acordo com o resultado do exame. Assim, poder-se-ia construir uma população de programas de computador que poderiam interagir, evoluir e aprender. Teria-se, então, um sistema complexo


adaptável em nosso computador, consistindo de uma coleção de agentes, cada um deles sendo um programa de computador, no qual cada um seria composto por linhas de “bits”, de uma série de zeros e uns, pois é assim que são codificados os programas de computadores. A analogia com as nossas regras de conduta é bem grande: nossas regras de condutas são codificadas, não em zeros e uns, mas em símbolos sob a forma de palavras e imagens, e o que é mais importante, através da manifestação das atividades elétricas do cérebro. A analogia com o nosso corpo é também muito parecida: nosso código físico consiste de genes que podem estar, mais ou menos, ativos ou inativos. É, então, legítimo usar tal simulação para se tentar descobrir as propriedades fundamentais do sistema complexo adaptável de qualquer lugar. Não obstante, para isso, ter-se-ia, evidentemente, que constatar e conferir características humanas tais como consciência e emoção. Mas, a confusão é o material da qual vida e a criatividade emergem, sendo construídas, não conforme um planejamento prévio, mas através de um processo de auto-organização espontânea que produz resultados emergentes. O sistema produz padrões de comportamento, uma rede de agentes impulsionados

por

retro-alimentação

não-linear

para

produzir

resultados

incompreensíveis que apresentam padrões. Os sistemas complexos adaptáveis têm uma ordem inerente, esperando simplesmente para ser revelada através da experiência dos sistemas, mas ninguém sabe como será essa ordem até que ela seja realmente revelada. Em determinadas condições, sem ordem aparente, os agentes interativos de um sistema deixados à mercê da auto-organização no que parece ser uma confusão, podem gerar, não uma anarquia, mas resultados criativos inimagináveis.


Para Stacey (2001), não é verdade que, se não se pode saber quais os resultados, se não estiver alguém no controle, se estará destinado à anarquia. Pelo contrário, essas são as condições necessárias para a criatividade, para uma jornada excitante no infinito espaço evolutivo, sem destino pré-fixado. Ainda segundo Stacey (2001), parece que todo o Universo é legítimo e que tem liberdade de escolha. E o preço dessa liberdade é a inabilidade de saber qual é o destino final ou de ter a jornada sob controle. Para Morin (2001 p.20), “a complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo”. Os paradigmas conceituais dessa nova visão comportam um princípio dialógico e translógico, que compreende as incertezas, as indeterminações, os fenômenos aleatórios, além da quantidade de unidades e interações que desafiam as possibilidades do que é exato. Bauer (1999) destaca que a complexidade não é, de forma alguma, completude, ao contrário, ela diz respeito à impossibilidade de se chegar a qualquer conhecimento completo. Assim a complexidade não irá trazer certezas sobre o que é incerto, ela pode reconhecer a incerteza, e dialogar com ela. Anderson (1999) afirma que um modelo de SAC apresenta quatro elementos que têm implicações para as teorias organizacionais:

1) Agentes com esquemas: em uma organização, os agentes podem ser indivíduos, grupos, ou coalizões de grupos. O comportamento de cada agente é orientado por um esquema que é uma estrutura cognitiva,


determinando as ações dos agentes em função da sua percepção em relação ao ambiente.

2) Redes auto-organizadas sustentadas pela importação de energia: os agentes são conectados entre si, de modo que o comportamento de um agente particular depende do comportamento ou estado dos agentes de um sistema. Em um SAC, os agentes são conectados com os outros por laços de feedback.

Para Stacey (1996), os laços de feedback entre os agentes de uma organização demonstram como o sistema de rede opera. O processo envolve três aspectos-chave: a descoberta, a escolha e a ação.

a) Descoberta

Isto é, a percepção das partes dentro da organização, bem como as partes do ambiente onde os agentes estão em contato. A descoberta é uma reunião de informações e a percepção de como realizar o processo que serve como base para fazer uma escolha, isso podendo ser visto como um processo no qual cada agente em um sistema examina a situação da relação dos outros agentes no sistema, tanto quanto a situação de outros sistemas. O ponto importante é que os agentes selecionam o que examinar e num consenso selecionam o que é importante para ser vinculado ao conjunto de informações que querem possuir, sendo que essa seleção pode ser determinada por


todos os aspectos psicológicos e sociais de sua experiência anterior. E, o que os agentes escolhem para examinar, é, no entanto o principal passo na função de um sistema.

Fonte: Coelho (2001).

Figura 4: Feedback em redes humanas.

b) Escolha

Agentes em uma organização escolhem o que descobrir, como dar sentido ao que eles descobrem e que ação tomar em resposta a essa escolha. Para fazer todas essas escolhas, agentes usam esquemas que em uma organização tem dois componentes, um que é específico para um indivíduo agente e outro que é dividido por um número de agentes. • Esquemas específicos para um agente indivíduo – uma parte do esquema que é específico para o agente pode ser vista como um


conjunto de comportamentos “scripts”, regras de avaliação, tomada de decisões ou execução de regras, ou modelos mentais.

Comportamentos “scripts” são modelos de comportamento que um indivíduo segue e são desenvolvidos pela experiência de vida, muitos deles são direcionados por fatores conscientes ou completamente inconscientes. As comportamento,

escolas mas

psicológicas todas

as

categorizam

abordagens

diferentes

partem

da

“scripts”

hipótese

que

de o

comportamento de cada ser humano é dirigido por um determinado número de possíveis “scripts” de comportamento que, no entanto, pode ser seguido por diferentes combinações, fazendo o comportamento individual se tornar infinitamente variável. Dessa maneira podemos perceber que os “scripts” comportamentais são expressos na forma de modelos mentais, isto é, na maneira de ver o mundo, de interpretar e dar significado aos fatos, de selecionar e avaliar informações. E, o modelo mental de uma pessoa consiste da forma que essa pessoa tem percebido a complexidade do mundo em que ela tem vivido, formando, assim, a base das regras de comportamento para atuar neste mundo. • Esquemas divididos por agentes: o segundo componente que os agentes usam na organização para fazer escolhas consiste de regras que são divididas com outros agentes. Algumas dessas regras divididas são incorporadas na burocracia e outras são expressas como uma cultura dividida. Ambas podem ser aplicadas para a organização inteira ou para os grupos específicos dentro da organização.


c) Ação

Escolhas levam a ação, isto é, estratégias que os agentes adotam para se adaptarem tão bem quanto possível a àqueles que em sua volta as estão fazendo. Cada ação de um agente tem um efeito sobre outros agentes, levando-os a responder e causar efeitos que alimentam novamente o primeiro agente.

3) Co-evolução para a era do caos: os Agentes se co-envolvem uns com os outros. Cada um dos agentes se adapta ao ambiente por um esforço para aumentar ou manter suas funções ao longo do tempo. O equilíbrio que resulta de tal co-evolução é dinâmico e não estático, afirmando-se, assim, que a co-evolução envolve um processo de interação simultânea e contínua, que ajuda os agentes de um sistema a se adaptarem e, com isso, conseguirem evoluir. A introdução da perspectiva co-evolucionária pode ajudar os gestores a entender que não existe um modelo ideal ou um único modelo capaz de ajudar uma empresa a obter o sucesso. Tudo depende de como a organização está preparada no nível organizacional para lidar com a complexidade que envolve a relação entre a empresa e o ambiente. Pode-se afirmar que, dentro de um sistema caótico, pequenas alterações no comportamento dos agentes podem trazer grandes mudanças em todo o sistema. 4) Recombinação e evolução do sistema: o sistema adaptativo complexo evolui ao longo do tempo por meio de entradas, saídas e transformações dos agentes. Novos agentes podem ser formados a partir de uma recombinação de elementos de agentes que obtiveram sucesso previamente. Um sistema adaptativo complexo pode englobar outro SAC, que

representa uma forma genuína de


representar o complexo, sendo que o fluxo dos resultados dentro de um sistema depende da forma como os agentes estão interconectados. Para Stacey (1996), a ciência da complexidade estuda as propriedades fundamentais de retro-alimentação não-linear. Os complexos sistemas de adaptação consistem de uma certa quantidade de componentes, ou agentes, que interagem de acordo com um grupo de regras, requerendo que as pessoas examinem e respondam às atitudes de cada uma delas, no sentido de melhorar seus comportamentos e, também, o comportamento do sistema do qual fazem parte. Isto significa que os sistemas operam de maneira que constituam aprendizado, pois esses sistemas de aprendizado operam em ambientes que, na maioria das vezes, consistem de outros sistemas de aprendizados, e juntos formam um super sistema de co-envolvimento que, por sua vez, cria e aprende seu próprio caminho para o futuro. A complexidade enfatiza a interação contínua entre os sistemas complexos em um processo dinâmico, em que um sistema afeta o outro de forma cíclica e nãolinear. Consoante o referido autor, as organizações são sistemas em forma de rede, compostos por agentes individuais, grupos de agentes e normalmente ambos. E, os agentes em uma organização interagem uns com os outros, criando modelos de ação e pensamento, sendo que eles mantêm estrita relação com o ambiente, por meio de estratégias, possuindo capacidade para lidar com outros agentes. Também, cada agente tem um conjunto de propriedades, incluindo o local (onde opera), as capacidades (como pode afetar o mundo) e memória (que impressões pode trazer de seu passado) (AXELROD; COHEN, 2000). A interação dos agentes cria e continuamente recria uma organização como um todo, e a organização por sua vez influência os grupos pelos quais é


composta e a maneira pela qual esses grupos são continuamente recriados, sendo que esse processo de recriação é o que significa aprendizado. Como toda a organização tem por objetivo tentar sobreviver e fazer sua história, para isso é necessário que elas desenvolvam uma tarefa singular a fim de que outras organizações e pessoas interajam com elas. Suas pretensões e suas tarefas básicas é que determinam seus propósitos.

Fonte: Coelho (2001).

Figura 5: Uma rede organizacional constituída de três agentes.

Zimerman (1999) afirma que um sistema é uma série de coisas que, além de conectados, são também interdependentes. O “adaptativo” sugere a capacidade para alterar ou mudar a habilidade para aprender com a experiência e, o “complexo” implica diversidade, um grande número de conexões entre vários elementos e,


sendo as coisas agentes interdependentes. Para que um agente seja adaptativo, suas ações devem agregar valor ao sistema ao longo do tempo. Para Stacey (1996), há entre os agentes em uma organização dois tipos de interações: uma rede considerada a rede legitimada e a rede sombra.

5.1 A rede legitimada

Consiste

de

ligações

que

são

formalmente

e

intencionalmente

estabelecidas pelos membros mais poderosos de uma organização, ou são compreendidas, por princípios implícitos ou por um senso comum que são totalmente aceitos por membros da organização, isto é, uma cultura compartilhada ou uma ideologia aceita. E, os agentes em consenso determinam o que fazer, consultando as regras que foram previamente determinadas. As interações deste esquema dominante são por elas mesmas fluxo de interações, energia e ações que são caracterizadas pela uniformidade, conformidade e repetição. As ligações no sistema legítimo são lineares no sentido que: • uma e somente uma resposta é permitida para qualquer estímulo dado; • qualquer “output” é proporcional ao “input”; e • o sistema não é nem mais nem menos do que a soma de suas partes.

Na prática, não obstante, as regras compartilhadas nem sempre são seguidas, abrindo a possibilidade de muitas respostas desproporcionais para um estímulo dado, em outras palavras, não-linearidade.


O sistema legítimo é determinístico no sentido que todos os agentes tem um comportamento de acordo com o que é determinado, e em vez de seus próprios esquemas e as regras no esquema dominante, permanecem constantes por longos períodos, sendo que o propósito de um sistema legítimo é claro e fácil de entender: a organização sobreviverá se seus trabalhos básicos forem realizados.

5.2 A rede sombra

Essas redes são diferentes das redes legítimas, pois são caracterizadas por ligações espontâneas e informalmente estabelecidas pelos indivíduos entre eles mesmos. O resultado é uma outra rede, ou seja, um tipo de rede sombra do sistema legítimo, consistindo de ligações informais, tanto politicamente, como socialmente. Os agentes criam as próprias regras de relacionamento, e por eles mesmos, determinam o que fazer, sendo que podem ser divididas entre pequenos grupos ou mesmo dentro de todo o sistema. Organizações como sistemas adaptativos complexos quando na beira do caos ou da desintegração, tornam-se criativas e inovativas. Esse é um estado em que as pessoas atuam em um sistema sombra da organização com conceitos e ações que ao fim acabam por minar o sistema legitimado no sentido que o transformam. Organizações transformam a si mesmas através da tensão entre o sistema legitimado e a rede sombra, tal aprendizagem é um processo de autoorganização que produz saídas radicalmente imprevisíveis e emergentes. Por conseguinte, o sistema sombra é claramente não-linear, havendo possibilidade de


muitas respostas, proporcionais aos estímulos,

para qualquer estímulo dado e

essas referidas respostas. Os agentes podem apelar para várias fontes para suas regras de conduta, como regras individuais, regras de grupo ou um grande sistema cultural de regras, podendo variar conforme a ocasião, portanto, ações surpreendentes e inesperadas podem acontecer. Segundo Robbins (2002, p. 12), as pessoas são complexas. Duas pessoas têm comportamentos diferentes, assim como a mesma pessoa tem comportamento diferente em diferentes situações. Dessa forma, as generalizações simples e precisas são limitadas no campo do comportamento. Por conseguinte, o processo de um grupo não pode ser explicado puramente em termos individuais, pois mostra que um sistema informal político e social é mais que a soma de suas partes. Isso é também uma característica de nãolinearidade. Sendo assim, a teoria da complexidade permite ver que se pode aceitar a falta de previsão do futuro e a falta de controle sem que isso conduza inevitavelmente à anarquia e, portanto, permite-se controlar a ansiedade ao invés de se defender contra ela e evitá-la. Descobre-se que isso é essencial para a criatividade e inovação. Essa nova estrutura se conduz a focar na auto-reflexão e na aprendizagem pela experiência em todos os níveis dos sistemas humanos, e dá-se um grande insight sobre aquilo que realmente se faz em organizações, ao invés daquilo que se diz fazer, ou que se supõem fazer. No sistema sombra, interações tem formas mais diversificadas do que é comum num sistema legítimo: por exemplo, fluência de informações é crescente, energia e ação são fluidas pela emoção, e a amizade e a confiança também


aparecem como qualidade. Para Kanaane (1995), as atitudes dos indivíduos são resultantes dos seus valores, crenças, sentimentos, pensamentos, cognições e tendências à reação a determinado objeto, pessoa ou situação. O sistema sombra também pode ser assim caracterizado pela variedade de níveis de uniformidade e diversidade, conformidade e individualidade. Seguindo esse pensamento, para Stacey (1996), uma organização, então, é uma rede constituída por dois subsistemas: um que pretende ser linear mas na prática é não-linear em algum grau e, o outro completamente não-linear. Então, apesar desses sistemas serem conceitualmente distinguíveis, operacionalmente eles estão tão interligados que devem ser entendidos como um todo. Um todo não-linear porque o componente sombra é não-linear e o componente legítimo é, às vezes, não-linear. Ainda conforme o referido autor, a estrutura interna dos Agentes em uma Organização possue os seguintes aspectos chaves:

1- Agentes são influenciados por emoção e desejo, inspiração e ansiedade, compaixão e avareza, honestidade e decepção, imaginação e curiosidade, sendo essa a dinâmica da inspiração e da ansiedade. 2- Os agentes são capazes de escolher e dar prioridade aos seus próprios propósitos mentais e individuais, no lugar de dividi-los. Uma reflexão da luta básica de todos os humanos é de ser ele mesmo ou corresponder às exigências do grupo ao qual pertence. Este aspecto do comportamento humano, pode ser resumido como a dinâmica da conformidade e individualismo.


3- Os agentes são atingidos por poderosas diferenças entre eles, isto é, liderança e seguidores dinâmicos que refletem a tendência humana básica para onipotência, prepotência, papéis dominantes e, às vezes, submissos e dependentes. 4- Os agentes são capazes de pensamentos sistemáticos, isto é, observando, refletindo e mudando o comportamento de acordo com suas percepções do funcionamento de todo o sistema do qual fazem parte. Isso leva a uma habilidade para refletirem sobre eles mesmos e fazerem o papel de ambos: participantes e observadores. Esta é a propriedade da conscientização e auto consciência.

Para Stacey (1996), como os agentes humanos e os sistemas que eles fazem parte movem-se em torno da troca de comportamento, escolha e ação, eles estão claramente engajados num processo de feedback co-evolucionário, no qual, o que cada um faz afeta os outros e, então, retorna para afetar o primeiro. Este processo de feedback tem um número importante de características: 1°: O feedback pode ser negativo ou positivo: Feedback negativo é o processo de desenvolvimento intencional e de controle em uma organização que abala as mudanças e segura a estabilidade, e o feedback é positivo quando agentes ou sistemas retro-alimentam informações em direção a descoberta escolha-ação de uma maneira que amplifica e desestabiliza. Muitas das políticas e a maioria dos rumores são formas de feedback positivo, mas também é a divulgação de novas e revolucionárias idéias para mudar as atividades para uma maneira melhor.


Uma organização que tem o sistema sombra é freqüentemente dirigida por feedback positivo, mas também pode ser dirigida por feedback negativo, como por exemplo, quando as pessoas extra-oficialmente agarram-se a velhas maneiras de fazer coisas que não são mais apoiadas pelo sistema legitimado. O sistema de sombra é uma rede não-linear de feedback na qual o feedback positivo é possível e normal, sendo que pequenos eventos às vezes se transformam em grandes conseqüências.

2° Essas duas formas de feedback são ligadas as maneiras

nas

quais os agentes e a organização aprendem e é esse aprendizado que leva ao processo co-evolucionário. Um agente age, descobre como outros agentes respondem, e se a resposta for favorável para ele ou ela, repete a ação. Se a resposta não for favorável, o comportamento é modificado. Em outras palavras, o desvio entre desejo e atuais conseqüências é modificado pela ação correta, sendo que essa aplicação de feedback negativo é denominada simples ou “aprendizado simples” (single loop learning) As organizações movem-se em torno da descoberta-escolha-ação, evoluindo através de dois tipos de feedback, positivo e negativo, o aprendizado simples e o aprendizado complexo, criando e reconstruindo seu mundo e aceitando modelos organizacionais para isso. Esses modelos de feedback produzem uma corrente de ações, que tem padrões e são escolhidos para encontrar alguns propósitos. No nível mais básico, o propósito é que o sistema sobreviva, ou partes dele, em competição com outros sistemas ou partes deles.


Consoante Stacey (1996), um outro ponto importante no estudo da ciência da complexidade é a sua natureza holográfica. Essa é também certamente uma propriedade dos sistemas humanos. Organizações são todos, que são partes de todos maiores, como economias e sociedade, e elas são constituídas de partes que por

elas

mesmas

são

todos,

denominadas

indivíduos

humanos.

E,

conseqüentemente, as partes interagem continuamente para recriar o todo, e o todo em retorno afeta a interação das partes, num eterno ciclo de nascimento, morte e renascimento, ou seja, a vida nas organizações está sempre se desdobrando em padrões irregulares e similares a todos os níveis e disposições Ainda conforme o mesmo autor, a vida organizacional é essencialmente holográfica porque o todo está em todas as partes, bem como, todas as partes estão no todo. Ele também compara a relação de agentes ou de indivíduos como nosso cérebro e nossa mente. O nosso cérebro requer mentes e mentes requerem cérebros para que algo possa acontecer. Então mentes individuais requerem outras mentes ou grupos de pessoas para se ajudarem mutuamente para coisas que talvez um único indivíduo não seja capaz de resolver. De maneira mais enfática, isso significa que certas coisas não podem acontecer em nível individual sem que haja alguma interação com outros. Um grupo de pessoas é um todo tomando forma de sistema que consiste de um número de membros ou de agentes. Para ele, esses agentes interagem uns com os outros para produzir padrões de atividades em grupo, o qual toma forma de percepções e pensamentos compartilhados, bem como ação conjunta. Um modelo comum de pensamento, percepção e símbolos mentais é incorporado em um esquema compartilhado por indivíduos, e formam regras de comportamento que chamamos de cultura, ideologia ou burocracia. No entanto,


também existem regras de comportamento que são individuais e não utilizados por um grupo. O processo de um grupo é de pensamentos e comportamentos que são dirigidos pelo esquema do grupo e que em retorno afeta o comportamento e o pensamento individual. Por conseguinte, padrões de comportamento do grupo são continuamente recriados por interações entre grupos e, o todo desse grupo retorna para afetar a interação entre os membros individualmente.


6 COMPORTAMENTOS E RELACIONAMENTOS DOS INDIVÍDUOS NA ORGANIZAÇÃO: UMA CONTRIBUIÇÃO DAS TEORIAS DA GESTALTERAPIA E DA COMPLEXIDADE

Os

indivíduos/agentes

dentro

das

organizações

apresentam

comportamentos e formas de relacionamentos que identificam e correspondem aos conceitos teóricos apresentados pela Gestalterapia e a Teoria da Ciência da Complexidade. Estes comportamentos e relacionamentos podem ser vistos, como um modo de observar e compreender a realidade organizacional, e que esta pode ser formada de possibilidades infinitas, se reorganizando continuamente através de insigths comportamentais dos indivíduos que dela fazem parte. Os relacionamentos e comportamentos se apresentam sempre de forma dinâmica, contínua e significativa, envolvendo indivíduo e ambiente. Quando a organização apresenta uma estrutura mais flexível e descentralizadora, favorece as relações entre indivíduos, bem como maior comprometimento destes indivíduos, além de favorecer assim o feedback de informações. É fundamental que se tenha consciência de que mudar comportamentos é complexo e depende de inúmeros fatores, dependendo também do contexto em que estes comportamentos acontecem. Para Stacey (1996), a organização é um todo em forma de sistemas em rede, que consistem tanto de grupos de agentes, ou agentes individuais, e normalmente esses agentes nas organizações interagem uns com os outros, produzindo padrões de comportamento e ações em um nível organizacional. E, regularidades, nesses padrões de comportamento, são incorporadas em um


esquema compartilhado de cultura, ideologia ou burocracia em nível organizacional que irá então levar a comportamentos e pensamentos posteriores. A interação dos agentes cria e continuamente recria uma organização como um todo, e a organização em retorno influencia os grupos que a compõe e a maneira como esses grupos são continuamente criados, sendo que, para Stacey (1996), esse processo de recriação é o que significa aprendizagem e, a própria sociedade é um todo em forma de sistemas de rede que consiste de um enorme número de organizações, grupos e indivíduos/agentes. Esses agentes quando interagem, geram padrões de pensamento e comportamento, os quais quando passam a existir regularmente, passam então a ser incorporados como um sistema compartilhado, uma cultura nacional ou uma ideologia. Além disso, interações entre agentes continuamente recriam os padrões do todo que fazem uma sociedade ou uma economia e esse todo retorna para organização da qual os agentes fazem parte.

6.1 Marco conceitual

Apesar da complexidade dos comportamentos dos indivíduos na organização ser real, os comportamentos aqui apresentados como resultado das similaridades teóricas da Gestalterapia e da Ciência da Complexidade, oferecem estratégias que tiram vantagens desta complexidade gerando aos indivíduos novas possibilidades de ação, auxiliando-os a adotarem uma forma mais coesa de relacionamentos, transformando assim seus próprios comportamentos e o sistema organizacional.


Este marco conceitual, também, pode gerar novas perspectivas no estudo da motivação, aprendizagem, liderança e cultura organizacional. Dentro de cenários tão variados estes comportamentos não garantem resultados específicos, mas, podem promover uma melhor relação entre indivíduos no trabalho. A utilização e intervenção destes comportamentos, pode induzir grandes mudanças no local em que indivíduos/agentes estão atuando. O Quadro 1, apresenta uma relação de conceitos que identificamos que possuem interfaces com a teoria das organizações, a Gestalterapia e a teoria do Sistemas Adaptativos Complexos e que podem orientar os pesquisadores e gestores na área comportamental a ampliar suas estratégias de estudos e atuação para o entendimento

e

mudança

dos

comportamentos

e

relacionamentos

dos

indivíduos/agentes na organização. No futuro, tais conceitos podem ser expandidos no sentido de se identificar indicadores para o seu monitoramento nas organizações.


Conceitos

Teoria Organizacional

Gestalterapia

SAC

As partes de uma organização interagem continuamente para recriar o todo, e o todo em retorno afeta a interação das partes em um eterno ciclo.

O indivíduo é um todo unificado como um campo integrado em sentimentos, sensações e emoções. A gestalterapia tenta entender o individuo em sua totalidade.

O comportamento de muitas partes simples interage de uma forma que o comportamento do todo é complexo.

Indivíduos interagem de uma maneira não linear. Mudam e adaptam comportamentos. O conhecimento coletivo pode gerar resultados de ações impossíveis de prever ou as inovações inesperadas.

O homem nunca está completo, está sempre em um movimento contínuo, cheio de potencialidades, sempre em aberto. Não há nenhuma essência da natureza humana que seja definitiva.

Resultados difíceis de prever, pois não são lineares. Agentes não podem prever o curso e as conseqüências de suas ações, e, portanto, eleger o melhor curso da ação.

Os indivíduos/agentes em uma organização interagem uns com os outros, criando modelos de ação e pensamentos.

O homem é um ser de relação, nasce para estar em contato. O contato é o processo que permite a relação acontecer e acontecer em duplo aspecto, aproximando e separando as pessoas.

As coisas acontecem em rede. Os componentes dos sistemas vivos se interligam sob a forma de rede.

Processo Grupal

O comportamento organizacional é verificado também no comportamento dos grupos.

O grupo é um permanente processo de comunicação não sendo apenas algo físico, visível, é também uma entidade psíquica, existindo mesmo quando as pessoas não estão fisicamente presentes no mesmo lugar.

Os padrões de comportamento do grupo são continuamente recriados pela interação dos membros que pertencem a esse grupo. O padrão de pensamento individual atinge os padrões de pensamento do grupo que volta a alterar o padrão de comportamento individual.

Auto-Organização

Na organização, a confusão pode ser o material do qual vida e criatividade emergem sendo construídos não do planejamento, mas de um processo de autoorganização espontâneo.

Favorece a tomada de consciência global de como funcionamos e de nossos processos de ajustamento criador.

Há auto-organização no que parece confusão. Agentes interagindo em um sistema sem ordem pode produzir resultados criativos inesperados.

Visão Sistêmica

Não linearidade

Relações


Adaptação

Aprendizagem

são Indivíduos mudam O homem é um ser Agentes conscientes e tem permanentemente comportamentos, auto-percepção em adaptam-se a outros mutante que eles podem novos transformando a si adotar papéis de mesmos e ao grupo observar e pensar sistematicamente. Os sistemas operam de maneira que constitua aprendizado, exigindo assim um modelo compartilhado de referência, uma forma comum de visão.

O contato me permite ver as diferenças, olhar para o outro e ver que é diferente de mim. Assim incentivando meu crescimento pessoal. Encontrar dentro de si novas possibilidades através do outro.

Os agentes atuam em um sistema que gera aprendizado, pois ao examinar a atitude de outro agente, podem melhorar seu próprio comportamento.

Fonte: A autora (2004).

Quadro 1: Interface de conceitos.

Para mostrar como os conceitos compõem um marco conceitual coerente apresentamos o seguinte resumo: A visão sistêmica nas organizações permite avaliarmos as relações não lineares presentes nos processos grupais que promovem a auto-organização, adaptação e aprendizagem nas organizações. Com base no referencial teórico pesquisado apresentamos a seguir uma síntese referente a comportamentos e relacionamentos dos indivíduos/agentes na organização:

1) Teoria Organizacional

#" O comportamento organizacional é um campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos, e a estrutura tem sobre o comportamento dentro das organizações, com o propósito de utilizar


esse conhecimento para promover a melhoria e eficácia organizacional (ROBBINS, 2000). #" O comportamento humano nas organizações é bastante imprevisível. Isso

ocorre

porque

ele

nasce

de

necessidades

humanas

profundamente arraigadas e dos sistemas de valores. #" A organização influencia os valores do indivíduo, bem como o indivíduo também, influencia os valores da organização. #" O

sucesso

de

uma

organização

depende

da

capacidade

e,

principalmente da vontade das pessoas realizarem determinadas tarefas, ou seja, depende fundamentalmente, do comportamento das pessoas. #" Para Robbins (2002), na organização, mudar as pessoas se refere às modificações de atitudes, habilidades, expectativas, percepções e comportamentos.

2) Gestalterapia

#"O homem possui um impulso dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado. Traz dentro de si potencialidade que regula seu próprio crescimento “o processo de contato inter-humano é aquele por meio do qual conhecemos a nós mesmos e aos outros, apreendemos nossa existência humana e a dos outros.” (HEYNER; JACOBS, 1997).


#"A pessoa que está consciente percebe todas as alternativas e escolhas que estão ao seu redor e escolhe a melhor para o momento. #"Qualquer escolha é aquilo que pode re-despertar, ou colocar em movimento o que já vive em nós, por isso nos desperta atenção. #"O indivíduo é um todo unificado, como um campo integrado em sentimentos, sensações, emoções e imagens. Para Ribeiro (1994, p. 28), o contato para o indivíduo ocorre numa tríplice direção: comigo, com o outro, com o mundo. Somos seres de relação, nascemos para estar em contato, sendo que esse contato é o reconhecimento do outro, do novo, o que não é eu.

3) Sistemas Adaptativos Complexos (SAC)

#" São sistemas de agentes que interagem, os quais adaptam-se mudando suas regras a partir de experiências acumuladas. #" Os sistemas adaptativos evoluem freqüentemente em inesperadas direções até um ponto que novas regrasse aplicáveis e assim sucessivamente. #" Sistemas Adaptativos Complexos são bastante diferentes da maioria dos sistemas que têm sido cientificamente estudados. Eles exibem coerência sob mudança, via ação condicional e previsão e eles fazem isso sem direção central. Ao mesmo tempo, parece que SACs têm pontos de alavancagem, nos quais pequenas quantidades de input produzem grandes e direcionadas mudanças (HOLAND, 1996, p. 38).


#" Para Axerold e Cohen (2000), no mundo em que estamos inseridos nós todos intervimos em sistemas complexos que podem ser muito simples ou muito sofisticados, mas que de alguma forma estas ações transformam o mundo e levam a conseqüências difíceis de imaginar antecipadamente.

6.2 Insights sobre comportamentos

Os

indivíduos/agentes

dentro

das

organizações

apresentam

comportamentos e formas de relacionamentos que identificam e correspondem aos conceitos teóricos apresentados pela Gestalterapia e à Teoria da Ciência da Complexidade. A figura 6 apresenta alguns insights obtidos durante a realização deste trabalho e que podem auxiliar a ampliar o nosso entendimento comportamentos e relacionamentos dos indivíduos/agentes na organização.


Cada indivíduo em suas relações influência o comportamento um do outro de modo significativo

À medida que as pessoas mudam seus comportamentos, adaptam-se a outros novos, transformam a si bem como o grupo ao qual pertencem.

O ser humano é relacional. Seu desempenho no trabalho está correlacionado à sua capacidade social e aos relacionamentos que vive.

Alguns insigths sobre A interação entre indivíduos e sistema acontece de forma não linear, na qual o “feedback” das conseqüências dos comportamentos é usado para construir modelos de condutas para os indivíduos na organização.

comportamentos e relacionamentos apresentados por indivíduos na organização baseados na teoria dos sistemas adaptativo complexos e

O comportamento humano nas organizações é bastante imprevisível. O comportamento nasce de necessidades humanas profundamente arraigados e dos valores que cada indivíduo traz consigo.

gestalterapia

Ações realizadas por indivíduos sempre impactam outras, desencadeando outras tantas que muitas vezes fogem de nossa imaginação e da previsão dos acontecimentos.

O comportamento dos indivíduos na organização, bem como a teoria de campo da GT nunca está completo, move-se constantemente, nada é estático.

Fonte: A autora (2004).

Figura 6: Insights sobre comportamentos.


Com base nestes insigths, apontamos Estratégias Comportamentais que podem auxiliar os indivíduos a transformar a si mesmos e ao meio ambiente organizacional, baseados na Gestalterapia e na Teoria da Complexidade: !"Refletir sobre o conceito de agente e suas propriedades apresentadas pela teoria dos sistemas adaptativos complexos que incluem: a capacidade e a habilidade de interagir com seu ambiente, incluindo outros agentes; que um agente pode responder pelo que acontece ao seu redor e pode fazer coisas com mais ou menos propósito; está sempre relacionado a uma localização – na qual o agente opera; apresenta uma infinidade de capacidades – que estão associadas a como o agente pode afetar o mundo; e memória – que impressões esse agente pode trazer do seu passado. !"Indivíduos capazes de identificar os esquemas individuais e os esquemas compartilhados na organização podem ter maior amplitude de escolhas comportamentais. !"Perceber espaços físicos e conceituais pode fazer com que os indivíduos operem rompendo barreiras, compreendendo melhor seus direitos e obrigações. !"Compartilhar idéias, regras, planos e operações promove a construção de um modelo compartilhado de referência para o relacionamento nas organizações. !"Comportamentos de emoção, inspiração, ansiedade, imaginação, desejo podem tornar-se mais flexíveis e adaptáveis quando indivíduos tornam-se conscientes das suas capacidades de atuação e controle das interações dentro das organizações. !"Observar e refletir sobre o comportamento e as estratégias de outros indivíduos pode auxiliar a criar novos modelos de ação. !"A percepção do funcionamento da organização permite aos indivíduos a habilidade para refletir sobre eles mesmos e fazer o papel de ambos: participantes e observadores. !"Identificar os vários espaços físicos e conceituais em que está inserido poderá auxiliar os indivíduos/agentes a ampliar suas interações.


!"Identificar elementos e mecanismos que possam facilitar a interação entre diferentes indivíduos e/ou grupos.


7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

À medida que esta pesquisa foi sendo realizada, foi também aumentando a satisfação da autora em concluí-la. Não apenas pelo fato de um trabalho realizado, mas principalmente pela percepção de que teorias como a da Gestalterapia e dos Sistemas Adaptativos Complexos, que embora atuem em áreas diferentes como por exemplo, a Psicologia e Administração, apresentam convergências que podem contribuir para uma melhor compreensão dos comportamentos e relacionamentos humanos em especial na organização. Pode-se, assim, ter um aproveitamento mais abrangente das abordagens psicológicas, não apenas nos consultórios e na visão clínica, mas também como auxiliar do indivíduo em todas as situações de vida e trabalho, ampliando suas potencialidades não unicamente profissionais, mas ajudando-o a ser alguém que se sinta melhor, mais completo e feliz, estimulando-o assim a exercer um papel transformador, participante e criativo nas suas relações de trabalho. Os fundamentos teóricos usados nesta dissertação procuram valorizar o recurso mais precioso que a organização pode obter, que é o ser humano. E, mesmo considerando a singularidade e a complexidade de cada indivíduo, sabe-se que o indivíduo é um todo, não podendo assim haver dicotomia entre o “ser” pessoa e o indivíduo na organização. A Gestalterapia oferece uma abordagem teórica capaz de favorecer ao indivíduo uma melhor compreensão de si, de seus valores, seus desejos e suas percepções, possibilitando assim que ele torne-se mais independente, coerente, flexível para relacionar-se, tanto na vida pessoal como no seu ambiente de trabalho.


Considerando esse indivíduo no contexto organizacional, as teorias dos Sistemas Adaptativos Complexos, bem como a teoria da Gestalterapia reconhece-o em suas relações como um todo, apesar de complexo, mas capaz de autoorganizar-se. Cada indivíduo como elemento de um todo atua e interage como parte deste todo, dinamizado pela energia que o faz convergir com os outros elementos em um processo de complementação permanente, criando uma realidade para si e para o grupo, sem perder sua identidade. Concluindo esta pesquisa, fica a convicção de que a Teoria da Gestalterapia, bem como a Teoria da Complexidade possuem uma fundamentação teórica que pode ser colocada em prática para o crescimento pessoal e intelectual dos indivíduos, levando-os a terem comportamentos e relacionamentos mais integrados e adaptativos na organização. Tem-se também a clareza que não existem fórmulas simples para se trabalhar

com

pessoas,

nem

uma

solução

perfeita

para

os

problemas

organizacionais. Tudo que se pode fazer é aumentar nosso conhecimento e habilidade, de tal forma que os relacionamentos no trabalho possam ser compreendidos e melhor direcionados. Fica como sugestão para trabalhos futuros, aplicar essas teorias diretamente na organização e, que elas possam fornecer insights para o desenvolvimento de estudos e pesquisas, aplicando-se as teorias psicológicas unidas à teoria do Sistema Adaptativo Complexo, tendo como principal foco as formas de relacionamentos e comportamentos praticados no ambiente de trabalho.


REFERÊNCIA

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