Urbanismo Culturalista Com uma abordagem urbana mais nostálgica e preocupando-se mais com as questões morais, especialmente ligadas às relações sociais, os urbanistas culturalistas fizeram propostas de cidades de menor escala e mais humanas.
Para eles, a cidade não deveria se sobrepropor aos seus moradores, assim como aspectos relacionados ao trânsito ou à indústria, defendendo a integração com a natureza e o sentido de comunidade; inspirando-se portanto em Ruskin, Morris e Howard, entre outros.
Os textos de Camillo Sitte (1843-1903), dos quais se destacou A construção das cidades segundo seus princípios artísticos (1889), censuravam a falta de criatividade, a austeridade, a monotonia dos traçados retilíneos; o isolamento dos monumentos em vastos espaços abertos; e, principalmente, a ausência de continuidade entre as malhas existentes e aquelas que eram propostas pelos progressistas.
Sitte fez a ANÁLISE MORFOLÓGICA de setores das cidades antigas, objetivando uma definição consciente, tanto dos princípios como do método mais adequado para a elaboração de um plano urbanístico.
Para ele, questões como zoneamento funcional, infraestrutura, densidades ou índices urbanísticos, não deveriam ser prioritárias no traçado das cidades contemporâneas.
Já Clarence A. Perry (1872-1944) foi o sociólogo norteamericano que idealizou, entre 1923 e 1929, em Nova York EUA, a noção de Neighborhood Unit ou UNIDADE DE VIZINHANÇA – UV , a qual tinha como preocupação central o resgate das relações sociais entre vizinhos, que para ele estavam cada vez menos intensas na cidade moderna.
Forest Hills (Chicago Ill.) Vista aérea
Neighborhood Unit
Profundamente influenciado pelos escritos de Charles H. Cooley (1864-1929), que acentuava a importância do “grupo primário” para a associação e cooperação íntimas de uma comunidade, Perry partiu do pressuposto que a escola poderia desempenhar a função de elemento centralizador da vida comunitária, elaborando os princípios da UV.
Em 1928, Clarence Stein (1882-1975) & Henry Wright (1878-1936) criaram RADBURN, em Nova Jersey EUA, seguindo a tradição das garden-cities e incorporando o conceito da UV, além de inovarem através da separação sistemática da circulação de veículos e pedestres, da “superquadra” suburbana formada por blocos habitacionais e da ampla utilização do verde e de cul-de-sac. Radburn (1928, New Jersey EUA)
Radburn (1928, New Jersey EUA) Stein & Wright
Greenbelt (1938, Maryland EUA)
Além disso, as iniciativas urbanísticas promovidas no quadro do New Deal – pós-Crise de 1929 – expressaram igualmente a influência howardiana, em especial nas propostas dos GREENBELTS (“cinturões-verdes”), realizados a partir de 1936 nos EUA e que se propunham a circundar as comunidades urbanas.
Greendale (1939, Wisconsin EUA)
Greenhills (1939, Ohio EUA)
Os exemplos mais notáveis dessa integração entre cidade e verde foram aqueles realizados pelo órgão federal norte-americano através das Resettlement Administration Communities of Greenbelt, Maryland; Greendale, Wisconsin; e Greenhills, Ohio (1938/40).
Conclusão As rápidas transformações pelas quais passou a CIDADE INDUSTRIAL resultaram em problemas de transporte, habitação, serviços e salubridade, reivindicando medidas urgentes de saneamento, de modo a não agravar ainda mais os conflitos sociais e as disputas políticas.
Vários governos tomaram providências a fim de resolver essa situação, primeiro na Inglaterra e depois nos demais países, os quais puderam dar os primeiros passos em direção ao PLANEJAMENTO URBANO moderno.
Vista aérea de Paris Tour Eiffel (1889)
LEIS SANITÁRIAS passaram a vigorar, as quais não somente se preocupavam com a higiene e a saúde dos moradores, como cuidavam da questão habitacional, que passou a ser subvencionada pelo Estado.
Ao mesmo tempo, grandes REFORMAS URBANAS em capitais importantes e a proliferação de MODELOS UTÓPICOS marcaram todo o século XIX.
Falanstério (1829) Charles Fourier (1772-1837)
Plano de Saint-Dié-des-Voges (1945, França) Le Corbusier (1887-1965)
Na passagem do século, assentavam-se as bases da CIDADE MODERNA, através tanto de propostas progressistas (racionalistas) como culturalistas (organicistas), as quais apontavam o caminho para toda TEORIA DO URBANISMO do século passado. Greendale (1939, Wisconsin EUA)
Bibliografia BENÉVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3a.
ed. São Paulo: Perspectiva, 1998. CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidade. São Paulo: Perspectiva, Col. Estudos, n. 67, 1998. GUIMARÃES, P. P. Configuração urbana: evolução, avaliação, planejamento e urbanização. São Paulo: ProLivros, 2004. LE CORBUSIER. Planejamento urbano. 3a. ed. São Paulo: Perspectiva, Col. Debates, n. 34, 2000. SEGAWA, H. Prelúdio da metrópole: arquitetura e urbanismo em São Paulo na passagem do século XIX ao XX. Cotia SP: Ateliê Editorial, 2000. TAFURI, M. Projecto e utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Presença, Col. Dimensões, 1997.