FETAESC E PNCF Oportunidade, inclusĂŁo, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
Pela Agricultura Familiar
E
m Santa Catarina, o desafio da agricultura familiar passa necessariamente por uma distribuição de terras que oportuniza os pequenos imóveis rurais. Com apenas 1,1% do território nacional, o estado catarinense tem na sua predominância pequenas propriedades rurais com características que preservam o modelo empreendedor familiar. Não por coincidência, aqui, mais de 70% de tudo que é consumido vêm deste setor. É preciso criar e dar continuidade às políticas públicas que possam garantir o futuro dessa agricultura como preservação da identidade local e sobretudo, fonte geradora de renda e de arrecadação de tributos. Nesse sentido, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) tem sido um grande alicerce na garantia dos direitos sociais daqueles que desejam ficar no meio rural produzindo alimentos, desenvolvendo uma agricultura familiar sustentável. A FETAESC é parceira do governo federal, por intermédio da Secretaria de Reordenamento Agrário, na formulação de convênio que capacita interessados em acessar o Programa. Como também da Secretaria de Agricultura e Pesca do Estado, por meio da Unidade Técnica Estadual, na gestão e operacionalização dessa importante política. Com o convênio firmado, o trabalho foi mais eficaz e ampliou a divulgação dessa política pública de inclusão rural em todo o estado, bem como o acesso direto ao Programa. Experiências passadas no estado nos mostram que a reforma agrária tem que obrigatoriamente estar acompanhada de políticas públicas que estejam ao alcance de quem deseja viver no meio rural, tendo como atividade básica a produção de alimentos, resultando na independência financeira. O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais em Santa Catarina, prestes a completar 50 anos, é um parceiro de toda iniciativa que visa a melhoria da qualidade de vida no meio rural. É preciso que os investimentos nos programas federais para a agricultura familiar sejam cada vez maiores para que, em parceria, Movimento Sindical, governos e sociedade, possam trilhar um caminho que tenha como objetivos a sucessão familiar e a garantia de alimentos saudáveis para as próximas gerações. José Walter Dresch Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina - FETAESC Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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{ FETAESCePNCF }
SUMÁRIO 05 Apresentação
06 Lutas e conquistas pelo direito à terra
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Programa Nacional de Crédito Fundiário – Conquista e Oportunidade
09 Mudando para melhor 10
O PNCF em Santa Catarina – Parceria com êxito
13 Receita de sucesso 16
Fortalecendo a ação sindical e o controle social do PNCF
17 Atividades do Convênio
21 PNCF em Santa Catarina
Realizando sonhos, criando raízes e gerando renda no campo
22 Família Pagliare e PNCF, lutas conquistas e realizações
24 Para sempre no campo 26
Realizando o sonho de ver a familia progredir na terra
28 Uma doce conquista
30 Persistência e amor
incondicional pela terra
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Crédito Fundiário transformando gerações
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Oportunidade abraçada com dedicação
36 Valeu muito a pena 38
Renda e oportunidade para agricultores catarinenses
Apresentação
E
sta revista que trazemos para vocês retrata um pouco das ações desenvolvidas pela FETAESC no estado de Santa Catarina, fruto do Convênio firmado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretaria de Reordenamento Agrário (MDA/SRA), para mobilização, qualificação e capacitação de agricultores(as) interessados em acessar o Programa Nacional de Crédito fundiário (PNCF). Atividades que tinham como foco a sucessão familiar, a inclusão de mulheres e negros (não quilombolas) ao Programa. Muitas foram as contribuições para que o Convênio fosse executado com êxito. Entre elas, destacamos a importante participação da Unidade Técnica Estadual, na pessoa de seu coordenador, Hilário Gottselig, que se fez presente e participativo em todas as atividades executadas ao longo do Convênio. Cabe destacar, ainda, o apoio fundamental dado pelo secretário de Reordenamento Agrário à época, Adhemar Lopes de Almeida, e sua equipe, importantes parceiros da FETAESC e do desenvolvimento da agricultura familiar catarinense. Ao longo desses dois anos de Convênio, realizamos eventos que mobilizaram mais de 2,6 mil famílias de 249 municípios em 14 Microrregiões, com destaque para a expressiva participação de jovens, superando 70% do público presente. Foram realizadas atividades específicas para o público da linha do PNCF Combate à Pobreza Rural (CPR), que teve início no estado. Eventos que tinham como objetivo divulgar a linha e seus adicionais: Terra Negra Brasil e PNCF Mulher, buscando a organização e a qualificação desses agricultores para acesso ao Programa. Num segundo momento, serão apresentadas algumas, das muitas experiências exitosas de agricultores catarinenses que acessaram o crédito fundiário e, com ele, puderam realizar sonhos e transformar realidades. São jovens que continuaram na agricultura e trabalhadores sem terra que obtiveram sucesso, concretizando sonhos e protagonizando suas próprias histórias. Mas não deixamos a luta. Cada história nos motiva a busca constante de melhorias para o PNCF junto aos órgãos que estão envolvidos nessa política, de maneira que este (o Programa) se torne ainda mais acessível ao trabalhador e trabalhadora rural. Como jovem e diretor da Política Agrária da FETAESC, me sinto realizado em ter levado ao conhecimento desse público, muitas vezes invisível e sem oportunidade, a informação sobre uma política de acesso à terra, com benefícios que podem torná-las independentes, desenvolvidas, produzindo e realizando o sonho de serem felizes em suas propriedades. Adriano Gelsleuchter Diretor de Política Agrária e Coordenador Estadual de Jovens da FETAESC Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Lutas e conquistas pelo direito à terra
A
concentração da estrutura fundiária no Brasil é a uma das maiores do mundo, situação decorrente da perpetuação de modelos de desenvolvimento rural que privilegiaram a monocultura e a expansão de latifúndios, resultando, entre outras coisas, na degradação ambiental, no êxodo rural e na desigualdade social. Fatores que, além de oprimir toda uma categoria, acabam por comprometer, diretamente, a produção diversificada de alimentos e, consequentemente, a segurança alimentar do País. Na contramão desta realidade está o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR), que por décadas luta por uma reforma agrária justa, igualitária, que promova, efetivamente, o fortalecimento das unidades produtivas familiares, garantindo o acesso à terra e a inclusão social e produtiva de milhares de famílias que vivem no rural brasileiro.
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Uma dessas lutas, encabeçada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), resultou na criação, em 1988 após a aprovação da Lei Complementar nº 93 -, no primeiro programa de âmbito nacional para a compra de terra por trabalhadores(as) rurais. Surgia o Banco da Terra, um programa que propunha condições de financiamento inadequadas, resultando na incapacidade de pagamento e de êxito de muitas das áreas adquiridas. Também não previa o controle social das ações e não excluía, do processo de aquisição de áreas, as terras passíveis de desapropriação. Tinha a pretensão de “substituir” a aquisição de áreas por interesse social e, consequentemente, enfraquecer as lutas sociais pela terra. O MSTTR e várias outras organizações sociais do campo foram contrárias ao programa, desencadeando uma nova batalha, mas, dessa vez por uma alternativa de crédito fundiário que atendesse, efetivamente, à demanda que ainda persistia. Como resultado de recorrente pressão do MSTTR, foi então criado, em 2003, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) - no âmbito da Secretaria de Reordenamento Agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SRA/MDA). Sob forma de política pública de acesso à terra, inclusiva e descentralizada, o novo Programa teve, graças à pressão do MSTTR, assegurada suas condições para que fosse, de fato, uma ação complementar à reforma agrária com condições de financiamento favoráveis e efetiva participação social em todas as suas etapas, não permitindo a aquisição de terras passíveis de desapropriação. Nessa trajetória de lutas está a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (FETAESC), filiada à CONTAG. Com 48 anos de trabalho pelo(a) agricultor(a)
familiar catarinense, atua fortemente na difusão do Programa Nacional do Crédito Fundiário junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Sempre com o objetivo de garantir o acesso à terra, a sucessão familiar e a inclusão de jovens, mulheres e negros não quilombolas, contribuindo, significativamente, para o desenvolvimento socioeconômico no rural catarinense.
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Programa Nacional de Crédito Fundiário – Conquista e Oportunidade
O
Plano Nacional de Reforma Agrária em vigência no País prevê diferentes ferramentas de acesso à terra para o trabalhador e trabalhadora rural. Os agricultores podem adquirir terra por meio de desapropriação, regularização fundiária, demarcação de áreas indígenas, destinação de terras para comunidades quilombolas e povos tradicionais e pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). Este último vem promovendo a sucessão familiar, o combate à pobreza e a consolidação da agricultura familiar em 21 estados, nas cinco regiões brasileiras. Complementar à reforma agrária, o PNCF é uma política pública do Governo Federal, inclusiva e descentralizada, que possibilita aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, sem terra ou com pouca terra, adquirirem imóveis rurais que não possam ser desapropriadas para exploração em regime de economia familiar.
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A descentralização das ações, a participação das comunidades, a transparência e o controle social são os princípios que orientam a gestão e a execução do Programa. Sua operacionalização, em todo o País, é de responsabilidade dos governos estaduais, mas cabe ao MSTTR o importante papel de gestão e controle social do Programa. O MSTTR atua, efetivamente, no processo de mobilização, capacitação e organização dos trabalhadores e trabalhadoras, promovendo as demais políticas públicas (federais, estaduais e municipais) como: Habitação Rural (PNHR), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae); entre outras; de maneira a auxiliar os beneficiários(as) no desenvolvimento sustentável das áreas conquistadas.
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Mudando para melhor
esses 13 anos, o programa passou por importantes mudanças estruturais que o tornaram mais acessível e viável para milhares de agricultores(as) familiares em todo o País. Melhorias conquistadas pelo MSTTR e que foram pautadas e aprovadas durante eventos importantes da CONTAG, como: Grito da Terra Brasil, Marcha das Margaridas e Festival Nacional da Juventude Rural. Com os avanços, as condições ficaram mais acessíveis, os juros mais favoráveis (de 0,5 a 2% ao ano), e houve aumento no prazo de assistência técnica, que passou para até cinco anos. Uma linha de crédito específica para a juventude foi criada - o Nossa Primeira Terra, para jovens rurais com idades entre 18 e 29 anos -, que somada às linhas já existentes - Combate à Pobreza Rural (para agricultores inscritos no CAD Único) e Consolidação da Agricultura Familiar (para os demais trabalhadores/as), ampliou o público do programa, como mostra o quadro abaixo. Linhas de Crédito
Renda anual
Patrimônio
Experiência na Agricultura
Forma de acesso
Financiamento
Recursos infraestrutura básica e produtiva
Combate à Pobreza Rural
Até R$ 9 mil
Até 30 mil
5 anos
Coletivo e individual
Individual
SIB1 – reembolsável SIC2 – não reembolsável
Nossa Primeira Terra
Até R$ 30 mil
Até R$ 60 mil*
5 anos
Individual
Individual
Reembolsável
Consolidação da Agricultura Familiar
Até R$ 30 mil
Até R$ 60 mil*
5 anos
Individual
Individual
Reembolsável
*Esse valor pode chegar a R$ 100 mil, quando a área a ser adquirida for proveniente de herança e o comprador for um dos herdeiros. 1 – Subprojeto de Investimento Básico 2 – Subprojeto de Investimento Comunitário
O PNCF é hoje uma importante ferramenta de acesso à terra, principalmente para a juventude rural, que responde por cerca de 40% dos acessos ao Programa.
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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O PNCF em Santa Catarina –
S
anta Catarina é o estado onde predomina a agricultura familiar, que detêm 71,3 % do valor bruto da sua produção agrícola. Em função de distintas condições de clima e solo, possui áreas agricultáveis de culturas anuais, pastagens cultivadas e culturas perenes, de aproximadamente 2,1 milhões de hectares, sendo o 6º produtor nacional de alimentos. Por muito tempo, o modelo catarinense de agricultura tornou-se uma referência nacional no que diz respeito ao cultivo em pequenas propriedades. Porém, a partir dos anos 80, com a intensificação da exploração agrícola, esse modelo começou a dar sinais de esgotamento devido à degradação dos recursos naturais, refletindo, significamente, na renda dos agricultores. A partir da década de 90, os efeitos da globalização também se fizeram sentir sobre a renda dos agricultores que, por produzirem em pequena escala, normalmente de forma individual, começaram a ter mais dificuldades de permanecer no campo, intensificando o êxodo rural. Situação que se tornou ainda mais preocupante por atingir diretamente a juventude rural, que cuja migração para áreas urbanas
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– Parceria com êxito
tem crescido desenfreadamente devido a insuficiência das políticas de Reforma Agrária, Educação do Campo, valorização da Agricultura Familiar e uma Legislação Ambiental que não proporciona condições de permanência no campo aos(às) agricultores(as) familiares. O Levantamento Agropecuário Catarinense de 2003/04 já apontava que 32,9% das propriedades familiares do estado não tinham sucessor. Associado a esse fluxo migratório está o envelhecimento e a masculinização da população que vive no campo, pois estudos apontam que a maioria dos jovens que deixam o rural são do sexo feminino. Neste cenário preocupante, o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) acaba por se tornar uma importante ferramenta para a consolidação da agricultura familiar catarinense, pois possibilita o protagonismo da juventude
rural e fortalece o processo de sucessão familiar ao permitir que jovens, com idade entre 18 e 29 anos, adquiram terra por meio da linha Nossa Primeira Terra. O PNCF tem contribuído, ainda, com o processo de empoderamento das famílias de agricultores familiares com pouca renda e que se enquadram no CadiUnico, com a entrada recente no estado da linha de crédito Combate à Pobreza Rural, que possui recursos subsidiados para a estruturação das propriedades. A linha também prevê recursos adicionais, não reembolsáveis, que visam incentivar o protagonismo de jovens, mulheres e negros (não quilombolas) que já trabalham, como assalariados e meeiros, na agricultura familiar. Como o caso da primeira associação de negros não quilombolas de Santa Catarina a acessar a linha CPR e ter direito ao adicional Terra Negra.
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Agricultores da Associação Rodrigues da Silva serão os primeiros, em Santa Catarina, a acessar a linha de Crédito Fundiário Combate à Pobreza Rural, que disponibiliza recursos não reembolsáveis para a estruturação da propriedade. Formada por negros não quilombolas, a associação possui três beneficiários (mãe e dois filhos), que terão direito ao recurso adicional de R$ 3 mil cada, para investimentos na produção. Para a presidente da associação, Sirlene de Fátima Rosa da Silva, ter um pedaço de terra é um sonho antigo, que foi muitas vezes adiado. Não vemos a hora de ir para o que é nosso. Plantar nossas hortaliças, frutas e criar nossas vaquinhas. Quando esse dia chegar, seremos as pessoas mais felizes do mundo, afirma a agricultora. “Meu sonho é viver na terra e da terra. Vou fazer o máximo para que nossa vida lá dê certo. Meu futuro é lá”, fala orgulhoso o jovem Guilerme da Silva, um dos associados.
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Receita de sucesso
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anta Catarina é, hoje, o segundo estado da Região Sul e o terceiro no País em acesso ao PNCF, com mais de 11.700 famílias beneficiadas. Oportunidade que, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina (SAR), gerou um aumento de 95,60% na renda destas famílias. Esse resultado se deve a uma estreita e bem-sucedida parceria entre a SAR - onde se encontra localizada a Unidade Técnica Estadual (UTE) - e a FETAESC, que desenvolvem um trabalho conjunto de difusão, mobilização e capacitação, fundamentais para o fortalecimento do PNCF no estado e da agricultura familiar catarinense.
Distribuição dos projetos de Crédito Fundiário em Santa Catarina
até 0 0 a 49 49 a 98 98 a 145 145 a 244
Fonte: UTE/SC
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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O pioneirismo no trabalho da UTE/SC se traduz em atividades que contribuem na melhoria dos processos e na contratação dos novos projetos, apostando em mecanismos e tecnologia da infor-
mação que simplificam o fluxo de contratação, como o COBAN (Correspondente Bancário). Ação que além de agilizar as contratações do Programa, aproxima os(as) agricultores(as) do agente financeiro, facilitando o processo de abertura de contas, atualização de cadastro, entrega de documentação e demais atividades bancárias. A SAR também apoia os projetos contratados do PNCF com Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) e no monitoramento das atividades desenvolvidas pelos beneficiários(as) por meio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) e do Instituto de Cooperação da Agricultura Familiar de Santa Catarina (Icaf).
Com 200 Sindicatos de Trabalhadores(as) Rurais, 26 extensões de base - atuantes em 226 municípios catarinenses - e 17 associações de Sindicatos de Trabalhadores Rurais, a FETAESC é responsável por mais de 60% das propostas contratadas no estado, tendo
um papel vital na execução do PNCF. Um trabalho que inicia na mobilização e capacitação dos agricultores familiares, segue no assessoramento do processo de contratação pelas famílias e, posteriormente, no acompanhamento dos projetos.
FAMÍLIAS CONTRATADAS
PROPOSTA PARA CONTRATAÇÃO 42%
34%
Nº DE PROPOSTAS
52% 22,4%
29% 1,6%
3706
2.434
175
19%
4581
389
215
FETAESC
Outros
FETAESC
Rede de Ater
DCF
Rede de Ater
140 Outros
A FETAESC é ainda a entidade pioneira no Brasil na implantação, em sua sede e sindicatos, do sistema de contratação digital (via correspondente bancário), sendo responsável pela primeira proposta do PNCF contratada pelo sistema COBAN no País.
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“Poder comprar, pelo Crédito Fundiário, a terra que tinha sido do meu avô, colada na do meu pai, foi o que me fez permanecer na agricultura e fazer disso minha profissão. Hoje, não tenho mais dúvidas do que quero para a minha vida”, conta entusiasmado o jovem Cleiton Luiz Bortolança, de 24 anos, que adquiriu sete hectares pelo PNCF, em Xaxim (SC), sendo a primeira área do Brasil a ser contratada pelo sistema Coban. Na opinião de Cleiton, com o novo sistema de contratação, todos saem ganhando. “Minha proposta iniciou pelo Banco do Brasil, mas quando faltava um documento ou certidão tínhamos que mandar para Florianópolis e esperar voltar a confirmação, e isso demorava demais. Quando instalaram o correspondente bancário, a proposta migrou para ele e foi bem mais rápido. A documentação passou a ser entregue no Sindicato, aqui na minha cidade, e em menos de cinco meses finalizamos a contratação da área. Essa agilidade foi boa para mim e para o Programa”, completou.
Ações que reforçam o comprometimento e a missão proposta pela FETAESC, que é: “Representar, defender, organizar e integrar os trabalhadores e trabalhadoras rurais do estado de Santa Catarina, através do desenvolvimento de programas e projetos que visem a valorização da cultura local, a natureza, o econômico e o social, garantindo qualidade de vida”. Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Fortalecendo a ação sindical e o controle social do PNCF
C
om o objetivo de garantir o acesso à terra, visando a sucessão rural e o desenvolvimento sustentável na agricultura familiar catarinense, a FETAESC, por meio do Convênio nº 811490/2014 - firmado com o SRA/MDA ampliou, significativamente, as atividades de mobilização, divulgação e qualificação da demanda do PNCF no estado de Santa Catarina. Ações que tiveram como foco a divulgação, capacitação e organização de jovens trabalhadores(as) rurais - beneficiários do PNCF ou não; jovens filhos(as) de acampados; assentados(as); negros não quilombolas, agricultores(as) familiares, parceiros(as), meeiros(as) e assalariados(as) ru-
rais. Sempre objetivando o aumento de renda e o acesso desses beneficiários(as) as demais políticas públicas, de maneira a contribuir de forma qualitativa e eficaz no projeto de vida das famílias e na agricultura familiar do estado. Com validade de dois anos (2014 a 2016), o convênio buscou atender diretamente cerca de 2 mil famílias e, indiretamente mais de 20 mil, em todo o estado, tendo como estratégia de ação trabalhar regiões onde havia uma oferta maior de terras e regiões onde a produção de alimentos era a base da economia familiar, priorizando os territórios da cidadania: Planalto Norte Catarinense e Meio Oeste Contestado.
Áreas de atuação do convênio
LEGENDA Limite Estadual
Limite Municipal
SECRETARIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 01 - Ararangua
18 - Joaçaba
02 - Braço do Norte
19 - Joinville
03 - Brusque
20 - Lages
04 - Caçador
21 - Laguna
05 - Campos Novos
22 - Mafra
06 - Canoinhas
23 - Maravilha
07 - Chapecó
24 - Palmitos
08 - Concórdia
25 - Quilombo
09 - Criciúma
26 - Rio do Sul
10 - Curitibanos
27 - São Joaquim
11 - Dionísio Cerque
28 - São Lourenço d’Oeste
12 - Grande Florianópolis
29 - São Miguel d’Oeste
13 - Ibirama
30 - Seara
14 - Itajaí
31 - Taió
15 - Itapiranga
32 - Timbó
16 - Ituporanga
33 - Tubarão
17 - Jaraguá do Sul
34 - Videira 35 - Xanxerê
Fonte: Sar
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Atividades do Convênio
s atividades previstas no convênio foram divididas em quatro estrégias: seminários estaduais, oficinas, elaboração de material de divulgação e cadastramento de novas propostas. Ações que tiveram a metodologia orientada pela articulação permanente de práticas e teorias; pela construção coletiva do conhecimento, com ações de mobilização e formação política. Os encontros foram pautados por temas relevantes à agricultu-
ra familiar catarinense, como: reforma agrária; sucessão familiar; inclusão de mulheres e negros no PNCF; qualidade de vida no campo (habitação, educação, saúde etc.); desenvolvimento rural; e sustentabilidade dos projetos de Crédito Fundiário. Com um amplo trabalho de campo, a Federação realizou, nestes dois anos de convênio, quatro Seminários Estaduais e 17 cursos de capacitação abrangendo 14 microrregiões - com 249 municípios aten-
didos. Eventos que levaram oportunidade e informação para mais de 2 mil famílias de agricultores familiares, lideranças e técnicos. No que tange a disseminação do PNCF, a FETAESC usou como estratégia a produção de 22.000 exemplares entre cartazes, banners, material de apoio (pastas, blocos e canetas) e folders, contendo as informações necessárias aos agricultores familiares para o acesso ao Programa.
Participação e inclusão
Seminários Estaduais – Foram realizados quatro Seminários Estaduais, sendo dois de jovens (Florianópolis e Lages), um de mulheres (São José) e um de avaliação
final (São José), que mobilizaram, ao todo, mais de 600 participantes entre agricultores(as) familiares (beneficiários e pretensos) lideranças e técnicos.
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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{ FETAESCePNCF } CURSOS – Os 17 cursos realizados em 2015/16 tiveram dois momentos distintos com púbicos e objetivos diferenciados: • Capacitação Inicial - foram nove cursos de capacitação inicial, cujos objetivos eram apesentar aos trabalhadores e trabalhadoras rurais o PNCF, suas formas de acesso, as linhas, documentação e regramento. Esses eventos abrangeram dez Microrregiões – (Extremo Oeste Catarinense/ Três Fronteiras, Centro-Oeste, Baixo Vale do Rio do Peixe, Vale do Rio do Peixe, Planalto Sul, Planalto Norte, Planalto Serrano, Microrregião da Cebola, Alto Vale do Rio Itajaí, médio Vale do Rio Itajaí). Atividades que aconteceram em nove municípios (Fraiburgo, Agronômica, Mafra, Lages, Rio do Sul, Maravilha, Itainópolis, São Miguel do Oeste, Videira), mobilizando 2.154 agricultores(as) familiares de 159 municípios catarinenses.
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• Cursos técnicos – oito eventos realizados em dez Microrregiões (Planalto Norte, Centro-Oeste, Alto Vale do Rio Itajaí, Baixo Vale do Rio Itajaí, Litoral Sul, Litoral Norte, Florianópolis, Vale do Tubarão, Carbonífera e Vale do Araranguá), que reuniram cerca de 600 participantes entre lideranças, técnicos e agricultores(as) familiares de 90 municípios. Os cursos objetivavam o nivelamento e treinamento da base sindical acerca da operacionalização do PNCF e do acesso às políticas públicas dos governos federal e estadual, como PAA, Pnae, PNHR, Pronaf, entre outros. Foram realizados, ainda, mais oito eventos extras para capacitar a base sindical no processo de mobilização e qualificação da demanda. Esses eventos aconteceram em Turvo, Agronômica, Meleiro, Florianópolis, Cunha Porá e nos municípios dos territórios da cidadania de Canoinhas, Santa Cecília e Xaxim.
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Material de divulgação
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Para nivelar e disseminar as informações sobre o Programa foram elaborados 2 mil cartazes, 20 mil folders e 20 mil kits de material de apoio (pasta, caneta, bloco e crachá), que foram distribuídos nos encontros e mobilizações e são disponibilizados para a base sindical para a divulgação da política.
PNCF em Santa Catarina Realizando sonhos, criando raízes e gerando renda no campo
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anta Catarina tem hoje mais de 11.785 famílias beneficiadas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário. Agri cultores e agricultoras familiares que, na sua maioria, viviam como arrendatários, meeiros e até assalariados e viram no Programa a oportunidade de realizar o sonho de ter a própria terra e, dela, tirar o sustento com dignidade. Pessoas comuns, de diferentes idades e gênero, mas com os mesmos sonhos de ter um pedaço de terra, de prosperar e de transformar as suas histórias e as de suas famílias. Esses sonhos só foram possíveis com a compra da propriedade pelo PNCF e com os demais benefícios e programas (federais e estaduais) de incentivo ao desenvolvimento sustentável da agricultura familiar catarinense. É essa realidade que vamos contar aqui. Histórias de superação, de muita persistência e de sucessão familiar, acompanhadas sempre de perto pela FETAESC e seus Sindicatos. Biografias da vida real que possuem enredos semelhantes, recheados de muito amor, dedicação, simplicidade, êxito e conquistas. Histórias protagonizadas por pessoas especiais, que fazem da força do trabalho a sua ferramenta de luta e de vitórias.
Agricultores como Janio Stremlow, que tira da terra o seu sustento e o de sua família. Que, com suas verduras e legumes, cultivados de maneira sustentável, alimenta centenas de pessoas em sua região. Famílias como a dos Mariani, dos Pagliari, dos Moura, dos Schmidt, dos Spiecker, dos Silva, dos Freitas, dos Heillesheim e de tantos outros, que cultivam sonhos e colhem resultados.
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Família Pagliari e PNCF, lutas
A
dquirir sua própria terra é realizar um sonho para milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais catarinenses. Mas para a família Pagliari, alcançar esse sonho foi ainda mais significativo, pois pai e filho protagonizam uma história recheada de lutas, conquistas e realizações. Esse enredo teve início em 2002, quando o agricultor Juraci Pagliari comprou 31,5 hectares pelo extinto Banco da Terra, e continuou em 2014, quando seu filho Vanderlei adquiriu uma propriedade rural, próxima a do pai, por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário. “Se pudesse resumir, diria que aqui temos um pouco de tudo que é necessário para viver bem. Temos satisfação de trabalhar no que é nosso, renda e a família está reunida, o que pra nós é motivo de muita felicidade”, relata Juraci.
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O começo - Juraci conta que foi um início muito difícil. “Compramos a propriedade e viemos morar nela com os dois filhos e sem nenhuma estrutura. A prestação era muito alta, trabalhávamos praticamente para pagar e os meninos ainda ajudavam na lida. Mas, sabíamos que essa era a única chance de ter a nossa própria terra e seguimos lutando e acreditando que todo os esforços valeriam a pena”, disse o agricultor. “Começamos com um aviário de 600m² e, hoje, 14 anos depois, temos três desses, com 2.850m², que produzem cerca de 42 mil aves a cada 60 dias”. Foi um avanço expressivo, comenta orgulhosa Lerilda Pagliari, esposa de Juraci. Com o passar dos anos, a família cresceu e a terra ficou pequena para atender as necessidades de todos. Motivo que levou Vanderlei Pagliari a viver e produzir numa outra propriedade, em sistema de meia. “Produzíamos verduras
conquistas e realizações e legumes, mas o ganho não era bom, por isso ficamos ali só por dois anos, conta Antoninha Marizete Pagliari, esposa de Vanderlei. Seguindo os passos – Após a tentativa frustrada como meeiro, Vanderlei decidiu seguir o caminho trilhado pelo pai e comprar sua própria terra pelo Crédito Fundiário. Em 2014, com o assessoramento do Sindicato de Ponte Serrada, ele adquiriru uma área de 10 hectares próxima a dos pais, retomando e ampliando a produção familiar. “Temos uma produção diversificada (milho, feijão, mandioca, batata, pastagem, entre outros), vacas, porcos, galinha, além da produção coletiva de aves. Nossa vida mudou muito, e mudou para melhor. É maravilhoso para nós produzir no que é nosso, ver a família trabalhar unida por um ideal coletivo e ter a certeza de que plantamos boas sementes no coração de nossas filhas”, afirma Vanderlei. O apego pela terra, passado pelos pais e avós, acabou por contagiar a jovem Erica Pagliari (20
anos), que além de auxiliar a família nos aviários, está construindo uma pequena agroindústria para produzir queijos, agregando valor e qualidade à atividade leiteira. “Amo estar na terra e sinto um enorme prazer no que faço. Tenho orgulho do que os meus pais e avós construíram e de ser agricultora”, diz emocionada a jovem.
Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Para sempre
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icar no campo ou sair em busca de oportunidade tem sido o dilema de muitos jovens rurais brasileiros. Por não ter de onde tirar seu sustento, se vêem obrigados a fazer escolhas que os desagradam. Essa poderia ter sido a realidade do jovem Fabrício da Silveira Moura, não fosse o fato dele ter adquirido uma propriedade, junto a do seu pai, pelo Crédito Fundiário. “Estava meio confuso quanto ao que ia fazer da minha vida. Cheguei a trabalhar numa cerâmica, mas não me adaptei. O que eu tirava ajudando o pai na propriedade também não era muito. Foi então que, em 2006, meu pai – que é presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabahadoras Rurais (STTR) de São Miguel do Oeste - me falou da oportunidade de comprar 11 hectares de terra, ao lado da dele, pelo PNCF. Vi no Programa a chance de ter o que é meu e, ao mesmo tempo, ampliar a produção familiar. Esse foi o estímulo que faltava para eu decidir ficar para sempre no campo”, relata Fabrício. Fabrício conta que no começo não tinha noção do pontencial que tinha na mão, apenas reproduzia o que aprendia com o pai. “Levamos quatro anos (ele e a mulher Daiane) adquirindo conhecimento e aperfeiçoando técnicas. Daí, um dia, fizemos as contas e tomamos cons-
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ciência de quão importante foi o investimento que fizemos e decidimos nos juntar com o pai e investir mais no gado leiteiro, criando uma espécie de sociedade familiar”, ressalta o jovem. Juntos, pai e filho, possuem 25 vacas holandesas que produzem 500 litros de leite/dia, que são comercializados para uma grande empresa de laticínios da região. A venda do leite gera renda líquida para os jovens de cerca de R$ 50 mil por ano. Paralelamente, plantam milho, pastagem e fruticultura. Criam, ainda, suínos, peixes e aves para consumo familiar. Buscando sempre se apropriar de novos conhecimentos, Fabrício e Daiane se sentem capacitados
no campo para tornar a propriedade cada vez mais rentável, mas sem perder de vista a importância da terra em suas conquistas. “Hoje, sabemos como fazer! E isso nos dá segurança! Quando se sabe onde chegar e se trabalha pra ter uma propriedade consolidada, você se realiza como agricultor. Mas não pode ser só pelo dinheiro. Você tem que gostar do que faz e ter amor pela terra, e nós temos. Não nos imaginamos mais fora dela”, comenta orgulhosa a Daiane, que é parceira do marido em todas as atividades da propriedade.
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Realizando o sonho de ver
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ecomeçar nunca foi problema para a agricultora Clenir e seu marido Alcídio Spiecker. Por muito tempo, eles foram diaristas e trabalharam de meeiros, mas a renda era pouca para manter os seis filhos. Foi então que decidiram arrendar uma terra e plantar milho e morango, mas tiveram dificuldades com a produção da fruta por falta de financiamento para esse tipo de cultivo. “Diziam pra nós que morango não dava naquela região, mas nunca desistimos. Queríamos dar o melhor para os nossos filhos e nos pusemos a trabalhar”, relata Clenir. A agricultora conta, que com o tempo o sonho de ter a própria terra ficava cada vez maior e na busca por oportunidades, ela conheceu o PNCF. Em 2008, o casal e os seis filhos adquiriram, pelo Programa, terras circunvizinhas. “O Crédito Fundiário foi o pontapé inicial para a transformação que ocorreu em nossas vidas. Pudemos acessar o Pronaf e, com ele, estruturar a propriedade e iniciar a produção, comprando mudas de moranguinho de qualidade”, diz Clenir.
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a família progredir na terra Com o crédito e a terra, a família Spiecker se pôs a trabalhar, iniciando uma trajetória de sucesso e empreendedorismo. Criaram uma cooperativa familiar onde todos cultivam individualmente em suas áreas, mas comercializam coletivamente as mais de 250 mil caixas de morango que produzem por ano. Juntos, eles plantam 50 mil pés de morango, distribuídos entre 57 estufas altas e o plantio de chão. A produção é comercializada no Ceasa de Florianópolis, nos mercados locais e regionais e junto aos distribuidores, gerando para a família uma renda de, aproximadamente, R$1,5 milhão/ano. Segundo um dos filhos, Valderes Spiecker, com o acesso aos Programas (PNCF, Pronaf e Mais Alimentos), eles deram um salto de qualidade na produção. “Na terra adquirida por nós, construímos as estufas, o espaço para armazenamento e a câmara fria para a conservação. E ainda compramos os veículos que utilizamos na comercialização (três Ducato e uma camionete). Começamos com 10 mil pés, hoje temos 50 mil, mas o nosso objetivo é crescer ainda mais e temos trabalhado duro para isso”, relata o jovem orgulhoso. Valderes, que ajuda os pais desde pequeno na roça, usa o conhecimento adquirido na faculdade de Administração para ajudar na gestão da propriedade e da empresa Morangos Spiecker. “Me sinto realizado como agricultor e feliz de poder agregar conhecimento ao trabalho no campo. Se me perguntam o que mudou na minha vida e da minha família, eu respondo prontamente... Tudo!... E mudou para melhor”, afirma. Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Uma doce conquista
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que mais os agricultores João Carlos e Marlene da Silva desejavam era ter um pedaço de terra para cultivar e poder criar seus quatro filhos. Contudo por anos, o que conseguiram foi trabalhar como arrendatários na terra dos outros. Mas essa história começou a mudar quando conheceram, por intermédio do Sindicato de Meleiro, o Programa Nacional de Crédito Fundiário. Em 2006, a família Silva comprou 10 hectatres pelo Programa e iniciou, na terra, uma jornada de sucesso. Com uma visão mais arrojada, eles queriam produzir algo que fizesse diferença na região. Veio, então, a ideia de plantar cana-de-açúcar e árvores frutíferas e iniciar uma produção de aguardente, melado, licores, sucos e vinagre de garapa. “Procurávamos um projeto que nos desse a renda necessária para vivermos bem e que fosse diferente do que existe na região. Daí, conversando com o pessoal da Epagri, surgiu a ideia de montarmos um alambique, mas como não conhecíamos nada sobre isso, buscamos (eu e a mulher) cursos de capacitação na Epagri. E, graças a Deus, fomos bem felizes, pois a escolha deu muito certo”, conta orgulhoso João Carlos.
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Além do alambique, João Carlos construiu na propriedade um ponto de venda, tornando os seus produtos conhecidos e apreciados por toda a região e na capital. “Só trabalhamos com venda direta e muitas vezes nem damos conta de atender as pessoas que chegam procurando. Vem gente de todo o canto, inclusive de Florianópolis”, conta Marlene, que é a responsável pela produção e venda dos produtos. De olho no futuro – Cursando Agronomia, o filho Danrlei tem auxiliado o pai na ampliação da produção de abacaxi, que além de gerar lucro com o licor e com o suco tem boa saída da fruta in natura. “Estamos produzindo as mudas para ampliarmos a produção para 70 mil pés. Outra ideia para o futuro é criar uma identidade visual para os nossos produtos e, dessa forma, qualificar mais a produção, e com isso, ter um retorno maior”, diz o jovem. Com uma família estruturada e uma propriedade consolidada, João e Marlene se dizem muito satisfeitos com o que construíram. “O que estamos contruindo aqui é para nós, para os nossos filhos, para toda a vida. O que o Crédito Fundiário nos proporcionou foi maravilhoso, não dá para medir em palavras”, completa o beneficiário.
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Persistência e amor
omeçar a vida a dois trabalhando na terra dos outros não é a melhor alternativa, mas foi a única que o casal Reginaldo e Geneci de Freitas encontrou quando decidiram viver juntos. Com uma renda muito pequena, partiram para o sistema de arrendamento, onde recebiam só um terço do que produziam. Assim, viveram por anos, até que, em 2002, com o apoio do STTR de Sombrio, acessaram o programa de Crédito Fundiário vigente à época, o Banco da Terra, hoje extinto. “Quando chegamos aqui não tinha nada. Não tinha rede elétrica, casa, água, nada. Mas a sensação de ter um pedaço de terra nosso era muito boa e isso nos incentivava a trabalhar, a persistir”, comentou Geneci. Reginaldo conta que iniciaram com plantação de fumo. Mas o que recebiam pelo fumo mal dava para pagar as contas. “Às vezes batia o desânimo, a vontade de desistir, mas o sonho de prosperar e o amor ao que era nosso falavam mais forte, e continuamos tentando”, disse o agricultor. Porém, a história deles começaria a mudar quando, por sugestão de um técnico da Epagri, eles substituíram a produção de fumo pela do maracujá. “Nos organizamos, mudamos e começamos a prosperar gradualmente”, diz Reginaldo. Com uma propriedade estruturada, o casal produz 76 toneladas de maracujá, que rendem cerca de R$120 mil/ano. Produto que é comercializado para distribuidores de Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. A meta, segundo Reginaldo, é ampliar a safra já no próximo ano.
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incondicional pela terra
Além do maracujá, a família Freitas planta hortaliças, árvores frutíferas e cria gado de leite e galinha caipira para consumo próprio. Paixão que contagia– O amor dos pais pela terra contagiou o filho Brendon, de 20 anos, que diz não imaginar seu futuro fora da agricultura. “Desde muito pequeno eu já gostava da lida na terra. Cheguei a sair daqui, tentar trabalhar em outra atividade, mas só aguentei dois anos. Voltei porque adoro estar e trabalhar aqui. Quero usar o que aprendo no curso de eletromecânica para ajudar meus pais a melhorar ainda mais a produção ”, completou. Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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a família Schmidt, o pai e dois filhos viveram por anos como arrendatários, mas sempre sonharam ter sua própria terra. O que parecia impossível começaria a virar realidade em 2000, quando o pai Arlindo comprou uma área de 18,4 hectares pelo extinto Banco da Terra. Seguindo o caminho do pai, Osmair adquiriu, em 2004, já pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário, 14,4 hectares. Em 2007, foi a vez de Valmir comprar 6 hectares pelo Programa, realizando o sonho da família Schmidt, que teve a vida transformada a partir da aquisição da terra. Osmair conta que já conhecia o sistema de crédito fundiário pelo seu pai, mas achava os juros muito altos e não queria se arriscar. Foi então, que numa reunião do STTR de Chapadão do Lajeado, ele ficou sabendo que o Programa, o novo PNCF, havia melhorado as condições de financiamento e decidiu acessar. “Vimos que o Programa era bom e que seria muito difícil comprar terra sem ele”, comenta. “Estamos bem satisfeitos com a decisão que tomamos. Um hectare aqui na região está sendo arrendado por mil reais. Com o equivalente a três hectares arrendados eu pago a prestação dos 14,4 ha financiados, além de fi-
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Crédito Fundiário car com todo o lucro do que produzo. É só vantagem! Tanto que, só aqui na região, já são mais de 180 famílias beneficiadas com o Programa”, explica Osmair. Com os 63 mil pés de fumo (que têm venda certa), o milho e o feijão, Osmair e sua esposa Elsa tiram uma renda de R$ 150 mil/ano. Para o consumo criam galinha, porco, vacas de leite e hortaliças. “Não compramos carne, feijão, verduras e legumes, porque temos tudo aqui, na nossa terra. Isso não tem preço”, fala orgulhosa Elsa Schmidt. Tranformação para toda família – O “seu” Arlindo, hoje aposentado, fala da transformação que ocorreu na sua vida quando passou a ser dono da própria terra. “Trabalhava 17 anos numa mesma terra, daí veio a oportunidade e eu agarrei. Plantei meu fumo (50 mil pés), fiz minha casinha (PNHR) e crio tudo o que preciso aqui mesmo. Posso dizer que sou um agricultor realizado e que minha vida mudou bastante”, relata. O mesmo acontece com Valmir, que com os 100 mil pés de fumo plantados na própria terra garante a renda necessária para viver com qualidade e independência. “Trabalhar de agricultor é o que sei e gosto de fazer, ainda mais sendo o dono”, destaca.
transformando geraçþes
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Oportunidade abraçada
ssim como boa parte dos agricultores catarinenses sem terra, Goreti e Juliano Heillesheim iniciaram a vida como arrendatários, plantando cebola e fumo. Sem um ganho expressivo com o que produziam e o crescente sonho de ter a própria terra, buscavam uma alternativa quando conheceram o Programa Nacional de Crédito Fundiário. Após a capacitação dada pelo STTR de Imbúia, eles compraram, em 2004, uma área de 9 hectares pelo Programa. “Houve um tempo em que chegamos a pensar em sair do campo. Aí veio a chance de termos uma propriedade e trabalhar por conta própria. Abraçamos essa oportunidade e a fizemos funcionar. Agora, nem passa pela nossa cabeça, deixar essa terra”, diz orgulhoso Juliano Heillesheim. Com dedicação e muito trabalho, o jovem casal cultiva 180 toneladas de cebola e 100 mil pés de fumo, que lhes proporcionam uma renda em torno de R$ 200 mil/ano. “Nada foi fácil, mas temos muita satisfação com o que conquistamos. Estamos ampliando a casa, temos nosso carro (pago à vista), duas motos, dois tratores (comprados com o Mais Alimentos) e já viajamos de férias com as meninas. Tudo conquistado com o fruto do nosso trabalho na terra”, conta com satisfação a agricultora Goreti. Além do plantio da cebola e do fumo, Juliano e Goreti plantam milho, batata, feijão e criam porco e galinha para consumo. Possuem, ainda, gado de leite que rende 60 lts/dia. “Ficamos com três litros para o nosso uso e comercializamos o restante, o que nos dá mais um ganho diário”, conta a agricultora. Juliano não se diz satisfeito. “Queremos continuar crescendo e garantir assim os estudos das nossas filhas”, afirma.
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com dedicação
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osé Antônio Mariani e seus cinco irmãos cresceram trabalhando no sítio do pai, onde cultivavam, em 10 hectares, pêssego e ameixa. Com o passar dos anos, a terra foi ficando pequena e a renda que tinham não garantia mais o sustento das famílias. Foi, então, que Mariani decidiu buscar uma alternativa que lhe desse mais renda para sustentar, com dignidade, a família (mulher e dois filhos) que havia cosntituído. Em visita ao Sindicato de Videira, ele conheceu o extinto programa Banco da Terra (vigente na época). “Era a oportunidade real de termos nosso pedaço de terra, me agarrei nela. Mesmo com os problemas de quem lida com a terra tem que enfrentar, como nós tivemos nesse ano, posso dizer convicto que valeu muito a pena”, comenta Mariani, que em 2000 adquiriu 14,3 hectares pelo programa. Como já tinha experiência, Mariani e sua esposa Roseli, iniciaram na propriedade com a fruticultura (pêssegos, nectarina e ameixa). Seis anos depois, perceberam que deveriam diversificar a lavoura, pois ter o ganho de uma única forma de produção poderia ser arriscado. “Em 2006, começamos a “granja” de porcos, porque de vez em quando a natu-
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Valeu muito
a pena reza manda uma chuva de granizo que destrói nossas frutas, como aconteceu neste ano, em que perdemos mais de 90% da produção de nectarina e ameixa. A venda dos suínos é que vai nos permitir pagar os financiamentos que temos e viver até a próxima safra de frutíferas”, diz o agricultor, que já se organiza para cobrir parte do pomar e evitar o estrago. Os cerca de 600 suínos, entregues a um frigorífico de ponta a cada quatro meses, e as 60 toneladas de frutas, que são distribuídas por todo o Brasil, rendem líquido à família Mariani cerca de R$70 mil/ano. Mas o casal ainda produz milho, feijão, mandioca e pequenos animais para o consumo próprio. “Hoje, a vida está bem melhor, mesmo com o problema do granizo. Minha dignidade é ser dono do meu negócio. Se eu quiser aumentar minha renda, depende de mim mesmo, daquilo que produzo. Se eu quiser comprar um carro novo, trabalhamos 14, 16 horas, plantamos mais um hectare e conseguimos o valor desse carro. A terra nos deu a nossa casa, o estudo para os nossos filhos, as coisas que temos e até nosso lazer. Nos deu liberdade! Com ela, pudemos realizar nossos sonhos... Trabalhamos duro, mas somos gratos por isso”, declara orgulhoso Mariani. Oportunidade, inclusão, desenvolvimento e sustentabilidade para a agricultura familiar catarinense
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Renda e oportunidade para agricultores catarinenses
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Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) é uma política pública de grande relevância que tem contribuído para a regulação e distribuição
fundiária por meio do acesso à terra, além de ser um importante instrumento de organização social, de desenvolvimento, de produção de alimentos, de combate à pobreza rural e de regularização e governança fundiária. O caráter estruturante e inclusivo da política de Crédito Fundiário cria uma perspectiva transformadora que possibilita a sucessão rural, a integração dos jovens, a geração de renda e a consolidação da agricultura familiar. A utilização produtiva no imóvel rural adquirido pelas famílias beneficiárias permite aos trabalhadores sem terra, minifundistas ou em situação de extrema pobreza, a superação destas condições. Por meio do acesso ao ativo Fundiário e de políticas públicas (sociais e de custeio), voltadas para a
agricultura familiar, esses agricultores obtêm melhorias significativas, com novas possibilidades de trabalho e de ganhos. Na Região Sul, em especial o estado de Santa Catarina, o Crédito Fundiário aparece como uma importante alternativa para os jovens rurais que desejam permanecer no campo. Público esse que representa, hoje, mais de 30% do acesso ao Programa. Cabe destacar a importância da atuação da FETAESC no PNCF, tanto nas ações de mobilização, capacitação e qualificação da demanda, quanto no controle social da política e na defesa dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Buscando sempre condições dignas de vida e de trabalho, de maneira a estimular a permanência dos agricultores familiares catarinenses no meio rural. Raquel Santori Secretária de Reordenamento Agrário Interina
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EXPEDIENTE Diretoria
José Walter Dresch Presidente Adriano da Cunha Vice-Presidente Luiz Sartor Secretário Geral Valdeci de Andrada Pereira Tesoureiro Geral Agnes Margareth Schipanski Weiwanko Coordenadora Estadual de Mulheres Adriano Gelsleuchter Coordenador Estadual de Jovens e Política Agrária Alice Rovaris da Silva Coordenadora Estadual da Terceira Idade
Produção Editorial
Coordenação Geral: Adriano Gelsleuchter Coordenação Técnica: Ives Luiz Lopes e Soraya Brandão Edição: Soraya Brandão Projeto Gráfico: Fabricio Martins Revisão: Verônica Tozzi Fotos: Soraya Brandão e arquivo FETAESC Equipe de Apoio: Laenio Pescador, Nestor Breda e UTE/SAR
Endereço FETAESC
Avenida Leoberto Leal, 976, Barreiros São José - SC CEP: 88110-000 (48) 3089.8500 - www.fetaesc.org.br Contato Diretoria de Agrária: meioambiente@fetaesc.org.br; jovens@fetaesc.org.br Telefones: (48) 3089.8509 e 3089.8515
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