Educação infantil no PNE - reflexões e caminhos para o futuro

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Educação infantil no PNE: reflexões e caminhos para o futuro

O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 completou 10 anos em junho de 2024, com avanços significativos na educação infantil. Contudo, desafios importantes permanecem: é preciso garantir vagas em creche para as crianças em situação de maior vulnerabilidade social, universalizar o acesso à pré-escola e melhorar a qualidade do atendimento.

A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal analisou o projeto de lei do PNE (PL 2614/2024), encaminhado pelo governo federal ao Congresso Nacional, as normativas vigentes na educação infantil e dialogou com especialistas e organizações que atuam nesta etapa para elaborar este posicionamento, no qual destacamos os pontos fundamentais para que o acesso com a garantia da qualidade na educação infantil seja ampliado.

São fundamentais os objetivos sobre acesso e qualidade da educação infantil, mas é preciso avançar para que as estratégias combatam as desigualdades de acesso e promovam a igualdade de oportunidades de aprendizagem para todas as crianças

O texto avança ao estabelecer a equidade como um princípio transversal e incluir objetivos específicos para as modalidades de educação escolar indígena, educação do campo, educação escolar quilombola e educação especial

Para todos os objetivos, sugerimos a inclusão de metas intermediárias para 5 anos, além de metas finais de 10 anos. Essas metas facilitam o planejamento da implementação e permitem o monitoramento em intervalos mais curtos.

É fundamental que as estratégias sejam mais específicas sobre o que fazer, como fazer, como aferir e quem deve executar as ações, permitindo o desdobramento em planos subnacionais viáveis e implementáveis.

Análises e recomendações sobre a educação infantil no próximo PNE

Objetivo 1 Acesso à educação infantil

Ampliar a oferta de matrículas em creche e universalizar a pré-escola

Ampliar a oferta de educação infantil para atender, no mínimo, 60% das crianças de até 3 anos ao final da vigência deste Plano Nacional de Educação

Análise A meta nacional de 60% é coerente, de acordo com a Pnad Contínua de 2023, que mostra que 37,8% das crianças frequentam creches e que 20% cujas famílias gostariam que a criança estivesse na creche não frequentam por dificuldade de acesso. No entanto, uma média nacional não reflete, necessariamente, a demanda de cada localidade, que pode variar significativamente conforme as características do território.

Recomendação Como a matrícula na creche é uma escolha da família, a meta deve focar na demanda manifesta: “Ampliar a oferta de educação infantil para atender, em 5 anos, no mínimo 70% da demanda manifesta de crianças de 0 a 3 anos, e 90% ao final da vigência deste Plano Nacional de Educação”.

Para alcançar essa meta, deve-se incluir estratégias que enderecem os desafios: Definição e adoção de instrumento nacional para levantamento da demanda, em acordo com a lei 14.851/24

Inclusão de estratégia de levantamento da demanda de creche nos Planos Municipais de Educação, em articulação com a lei 14.851/24

Implementação de estratégias de busca ativa de crianças de até 3 anos de idade

Ações para informar as famílias, especialmente as que estão em situação de maior vulnerabilidade, sobre o direito à educação infantil

A demanda manifesta compreende as crianças cadastradas em eventual fila de espera. Já a demanda potencial abrange todas as crianças cujas famílias teriam interesse na matrícula, mas que não fizeram cadastro por desconhecimento do direito à creche e/ou por saber da inexistência de vagas.

Meta 1.b

Reduzir, a no máximo 10 pontos percentuais, a desigualdade de acesso à creche entre as crianças do quintil de renda familiar per capita mais elevado e as do quintil de renda familiar per capita mais baixo até o final da vigência deste PNE.

Análise Ainda persistem desigualdades significativas na cobertura de creche entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos. Transformar a redução dessas desigualdades em uma meta no próximo plano é um avanço evidente. É preciso, no entanto, apresentar estratégias suficientes para endereçá-la.

Recomendação Atender às crianças em situação de maior vulnerabilidade social requer ações integradas e intersetoriais, orientadas por critérios de priorização que caminhem em direção a redução das desigualdades. Por isso, recomenda-se incluir como estratégia: Priorização do acesso à creche para crianças de famílias de baixa renda registradas no Cadastro Único e conforme outros critérios de priorização, de acordo com a lei 14.851/24

Universalizar, até o terceiro ano de vigência deste PNE, o acesso à educação infantil em pré-escola, para atender todas as crianças de 4 a 5 anos.

Análise A universalização, prevista para 2016 no plano vigente, foi adiada até o terceiro ano do próximo plano. Esse adiamento deve ser acompanhado de medidas que forneçam subsídios para compreensão dos desafios que impedem a universalização e de estratégias específicas para enfrentá-los, considerando que ainda prevalecem desigualdades significativas entre as regiões do país.

Recomendação É necessário definir estratégias que enderecem as desigualdades de acesso a pré-escola, direcionando ações específicas para algumas localidades e para populações em maior situação de vulnerabilidade, tais como: Ações de busca ativa de crianças que estão fora da pré-escola, articuladas com saúde e assistência social Assistência técnica e financeira do governo federal para expandir as vagas nas regiões com menores índices de acesso à pré-escola

Meta 1.c
Meta 1.a

Objetivo 2

Qualidade da educação infantil

Meta 2.a

Garantir a qualidade da oferta de educação infantil

Assegurar que toda a oferta de creche alcance padrões nacionais de qualidade para a educação infantil, considerando, no mínimo, as dimensões de infraestrutura física, profissionais de educação, condições de gestão, recursos pedagógicos, acessibilidade, interações e práticas pedagógicas.

Assegurar que toda a oferta de pré-escola alcance padrões nacionais de qualidade para educação infantil, considerando, no mínimo, as dimensões de infraestrutura física, profissionais da educação, condições de gestão, recursos pedagógicos, acessibilidade, interações, práticas pedagógicas e brincadeiras.

Análise É positivo que a nova proposta inclua um objetivo específico para a qualidade da educação infantil, que contemple formação de professores, intersetorialidade e fortalecimento da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Recomendação Considerando que ainda não existem dados nacionais para aferir a qualidade do atendimento e nem estabelecer numericamente o que seria desejável, recomenda-se a inclusão de estratégias que viabilizem a execução e o acompanhamento das metas de qualidade, tais como:

Estabelecimento de um índice de qualidade a partir dos indicadores disponíveis sobre infraestrutura e recursos humanos no Saeb Educação Infantil e no Censo Escolar

Realização de diagnóstico de linha de base da qualidade até o terceiro ano de vigência do novo plano

Apoio técnico e financeiro aos municípios para implementar as Diretrizes Operacionais de Qualidade e Equidade da Educação Infantil (Resolução CNE/CEB n° 1, de 17 de outubro de 2024), detalhando as ações, responsáveis e prazos

Objetivo 3

Alfabetização

Objetivo 6

Educação Integral em Tempo Integral

Objetivo 8

Educação escolar indígena, educação do campo e educação escolar quilombola

Objetivo 9

Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva e Educação

Bilíngue de Surdos

Objetivo 16

Profissionais da Educação Básica

Objetivo 18

Financiamento da Educação Básica

Assegurar a alfabetização, ao final do segundo ano do ensino fundamental, a todas as crianças, em todas as modalidades educacionais, com redução de desigualdades e inclusão

Incluir estratégias de práticas de leitura e escrita na educação infantil, tendo como eixo as interações e brincadeiras previstas nas DCNEI (2009) e BNCC (2017).

Garantir a oferta de matrículas em tempo integral na perspectiva da educação integral nas escolas públicas

Estabelecer metas específicas para creche e para pré-escola, articuladas às estratégias de acesso e levantamento de necessidades da população.

Garantir o acesso, a qualidade da oferta e a permanência em todos os níveis, etapas e modalidades na educação escolar indígena, na educação do campo e na educação escolar quilombola

Estabelecer que os municípios realizem o levantamento e atendam à demanda manifesta, uma vez que a matrícula na creche é de opção das famílias.

Garantir o acesso, a oferta de atendimento educacional especializado e a aprendizagem dos estudantes público-alvo da educação especial – PAEE e dos estudantes público-alvo da educação bilíngue de surdos – Paebs, em todos os níveis, as etapas e as modalidades

Contemplar as especificidades da educação infantil nas estratégias para a educação especial e educação bilingue de surdos.

Garantir formação e condições de trabalho adequadas aos profissionais da educação básica

Contemplar as especificidades da educação infantil, considerando estratégias efetivas para atrair e reter docentes, como a melhoria da qualidade da formação inicial e continuada e a equiparação salarial em relação aos professores do ensino fundamental.

Assegurar a qualidade e a equidade nas condições de oferta da educação básica

Ampliar o financiamento da educação infantil, garantindo recursos para a expansão de vagas e a manutenção da qualidade no atendimento.

Meta 2.b

A educação infantil em números

Acesso à creche (em %) 1

Acesso à pré-escola (em%) 4

O percentual de matrículas em tempo integral na creche foi de 57,9%, e de 14,2% na pré-escola, o menor percentual da educação básica, de acordo com censo escolar 2023

Crianças de 0 a 3 anos 2

Entre as 20% mais pobres, 31% frequentam a creche

Entre as 20% mais ricas, 56% frequentam a creche

2,3 milhões de crianças de 0 a 3 anos estão fora da creche por problemas de acesso (faltam unidades e vagas ou a matrícula foi rejeitada) 3

Maiores coberturas 5

Maranhão:

Menores coberturas 5

A região Norte apresenta a menor cobertura do país: Ceará:

Minas Gerais:

44%

das crianças fora da creche por dificuldade de acesso estão concentradas em apenas cinco estados. Em números absolutos, elas representam 1 milhão entre as 2,3 milhões 3

São Paulo: 267 Minas Gerais: 217 Pará: 205 Bahia: 204 Maranhão: 137 Em mil

Expansão das vagas com qualidade

Entre as escolas municipais de educação infantil 7

68,1% não têm materiais para atividades culturais e artísticas

61,5% não têm parquinho infantil 53,4% não têm banheiro adaptados para as crianças

85,2% 5

Apesar de obrigatória, 441 mil crianças ainda estão fora da pré-escola 6 das turmas de creche e préescola enfrentam problemas na inclusão e acessibilidade de crianças com deficiência 8

34,1% não têm brinquedos adequados à idade das crianças

5 em cada 10 estudantes de pedagogia desistem da graduação 9

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