A Educação de Meninas Negras em Tempos de Pandemia: O aprofundamento das desigualdades

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4.2 Durante a pandemia

O Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e a Rede de Pesquisa Solidária realizaram uma análise da PNADCOVID-19 (IBGE, 2020), na qual apontam que 5,9 milhões de estudantes da rede pública ficaram sem acesso às atividades escolares durante a pandemia, dos quais 4,3 milhões são negros e indígenas e 1,5 milhões brancos – o que significa que o direito universal à educação está sendo violado e que há três vezes mais não- brancos sem acesso à educação em período de isolamento social. No informativo “As desigualdades educacionais e a Covid-19”, elaborado pelo núcleo Afro-CEBRAP, Lima, Venturini et al. (2020) ressaltam que “a crise do novo coronavírus fez com que a Internet fosse o principal meio de estudo e de disponibilização de materiais didáticos e aulas” e que “o Brasil não comporta um ensino básico à distância público, universalizado e de qualidade”. Destacam que na educação básica, o acesso ao computador é bastante desigual, sendo que 68% de estudantes em fase de alfabetização, 67% no ensino fundamental e 59% no ensino médio não têm computador com acesso à Internet em suas residências – se considerada a variável raça/cor, o indicador para o ensino fundamental salta para 75,5% para negros (pretos+pardos) e de 63% para brancos. Ressaltam ainda que estudantes negros têm 2,3 vezes menos acesso à Internet por celular (14%) do que os brancos (6%).

Ao olhar especificamente para o direito à educação em período de isolamento social, o estudo do Afro-CEBRAP mostra que as diferenças de acesso às ferramentas tecnológicas implicam no aprofundamento das desigualdades regionais já conhecidas no Brasil: na região norte apenas 49% dos estudantes receberam atividades escolares, enquanto 92% do sul e 87% do sudeste; 91% de estudantes do grupo dos 20% mais ricos receberam atividades, enquanto apenas 75% do grupo dos 20% mais pobres; 89% de estudantes brancos do ensino fundamental receberam atividades, mas entre negros esse percentual é de 77% (LIMA;VENTURINI et al., 2020). Durante a pandemia da COVID 19, o Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE) coordenou a pesquisa nacional “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus”, com 33.688 jovens de 15 a 29 anos entrevistados. Os resultados desse estudo revelaram que dentre os estudantes participantes 52% contavam com suporte para o ensino remoto e plataforma digital com mediação de professor; 50% acessavam conteúdos e materiais em aplicativos e plataformas online; 29% vídeos por Youtube; 27% conteúdo e exercícios por WhatsApp; 14% materiais impressos; 13% aulas em plataforma digital sem mediação de professor; 7% canal de TV aberta mediada por professor; 4% em canal de TV aberta sem nenhuma mediação e 2% aulas por rádio com ou sem mediação – o que mostra que poucos estudantes realizam atividade por aparelho televisivo, se considerarmos que 89% de estudantes têm esse tipo de equipamento em casa. (CONJUVE, 2020).

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