DESENVOLVIMENTO INFANTIL DA CONCEPÇÃO AOS 3 ANOS DE IDADE CONTRIBUIÇÃO DO III WORKSHOP DA FMCSV
ORGANIZADORES Saul Cypel - Coordenador do Programa de Desenvolvimento Infantil da FMCSV Inês Mindlin Lafer - Gerente de Programas da FMCSV Marcos Kisil - Diretor-superintendente da FMCSV
1
ÍNDICE
Mensagem da presidente................................................................... 4
A FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL................................. 6
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade - Pilar Fort.................46
prefácio......................................................................................................... 8
Sensibilização sobre o tema da infância: estratégias de comunicação dirigidas à comunidade em geral - Vanina Triverio.................................................. 56
APRESENTAÇÃO........................................................................................... 10 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Como os meios de comunicação podem apoiar campanhas de mudança de comportamento - Hiran Castello Branco....................................... 14
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi...........................22 Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer - J. Leonardo Yánez...............................34
DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA AS FAMÍLIAS POTENCIALIZAREM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças - Glória Carvalho. .........................................70 A comunicação e a transformação social: a experiência do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) - Claudius Ceccon. ..................................78
CAPÍTULO 5 CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL Implementação do plano de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal - Carlos Pinto........................................86
considerações finais União de esforços.......................................................................................................94
Desde sua criação, em 1965, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal sempre realizou um trabalho referencial na área de saúde – especialmente em hematologia. No entanto, com o falecimento do médico responsável, Michel Jamra, em 1999 e do fundador da entidade, Gastão Vidigal, em 2001, a Fundação precisou repensar sua missão. Após cerca de quatro décadas de atuação, percebemos que os propósitos da instituição estavam ultrapassados em relação às necessidades da sociedade. Ficou claro, naquele momento, que uma renovação se fazia necessária. Foi quando, em 2003, impulsionada pela terceira geração – os netos, portanto, do fundador – a família Souto Vidigal passou a se envolver diretamente com a Fundação. O primeiro contato com a entidade, que até 2001 era conduzida por um único membro da família, foi de suma importância. A família deveria se envolver com os temas ali trabalhados para efetivamente “tomar posse” da instituição e potencializar sua atuação. Esse era o primeiro desafio que se impunha, a partir daquele momento. Foram três anos de capacitação que orientaram as mudanças na estrutura da Fundação. Foi necessário rever todas as questões de governança, estatuto, objeto social, missão e visão, além da própria estrutura básica, para que a instituição voltasse a representar os interesses da família e da sociedade. No meio desse processo, algumas dúvidas dissiparam-se ao mesmo tempo em que outras foram 4
Mensagem da Presidente do Conselho de Curadores
surgindo. Nessa fase, a família escolheu trabalhar com gestão de conhecimento voltado para o desenvolvimento integral de crianças na faixa de 0 a 3 anos e elegeu os principais temas do novo objeto social da Fundação: saúde, meio ambiente e educação. Em 2006, a instituição começou a funcionar no novo modelo, com uma estrutura renovada de governança, baseada em um Conselho Curador e um Conselho Fiscal. O Conselho Curador é composto por quatro membros da família e três membros externos, especialistas nos temas do objeto social. Em 2009, no entanto, foi necessário reescrever a missão e a visão, bem como criar a área de comunicação. Hoje, a Fundação atua na gestão de conhecimento, na tecnologia de informação e na comunicação – e o espectro da área programática foi ampliado para o desenvolvimento infantil de forma geral, a partir das áreas da saúde, da educação e do meio ambiente. Outra novidade foi a adoção de processos de avaliação para os projetos realizados pela Fundação. É uma medida fundamental para manter o foco de atuação e garantir a melhora constante dos processos, por meio da análise de resultados. Todas essas mudanças foram bem-vindas e sinalizam a contínua evolução da Fundação. As perspectivas apontam para um futuro também promissor. Temos na instituição um veículo de educação e uma referência social para quem, hoje, nela trabalha e para aqueles que virão. Estamos atentos para o engajamento das próximas gerações da família, pois queremos garantir o futuro, queremos a perenidade da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Regina Vidigal Guarita
5
A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) foi criada em 1965, pela família Souto Vidigal, com o objetivo de colocar à disposição da sociedade um laboratório de hematologia para pesquisa, diagnóstico e tratamento gratuito da leucemia, dada a falta de conhecimentos sobre a doença naquela época no Brasil. A entidade atuou nessa área, durante quase 40 anos, por meio de um laboratório de referência nacional que atualmente está funcionando no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Recentemente, a FMCSV passou por um processo de redefinição de seu foco de atuação, e agora se concentra na área de Desenvolvimento Infantil (DI), na faixa etária de 0 a 3 anos. A FMCSV tem especial interesse na disseminação de conhecimento, por meio de parcerias em programas e projetos, para as famílias e principais cuidadores das crianças dessa faixa. A FMCSV considera o investimento no desenvolvimento integral da criança de até 3 anos crucial para a transformação social, pois é nesse período que 6
A FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL
ela desenvolve seu potencial para se tornar um adulto saudável em seus aspectos físicos, cognitivos e psicossociais. Atualmente a FMCSV apoia a implementação de seis projetos-piloto nas cidades de Botucatu, Itupeva, Penápolis, São Carlos, São José do Rio Pardo e Votuporanga, todas no estado de São Paulo. Realizados em parceria com as prefeituras e uma organização social local, consistem em promover a disseminação de conhecimento sobre DI para as famílias e profissionais que lidem com crianças de até 3 anos, por meio de capacitações, articulação social e gestão intersetorial.
Visão: Desenvolver a criança para desenvolver a sociedade. Missão: Gerar e disseminar conhecimento para o desenvolvimento integral da criança.
7
O sucesso da comunicação é crítico para a geração e a disseminação do conhecimento sobre o Desenvolvimento Infantil (DI). No III Workshop Internacional, realizado em São Paulo nos dias 26 e 27 de novembro de 2009, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) reuniu experiências nacionais e internacionais que ilustrassem como, na prática, a comunicação pode e deve ser usada para que o conhecimento não só alcance as pessoas, mas também seja capaz de ensejar mudanças de comportamento. Com o intuito de conhecer e valorizar experiências de disseminação de conhecimento em DI, o debate foi organizado em torno de três grandes temas: 1) comunicação, sensibilização e participação da sociedade; 2) a comunicação para profissionais que atuam com famílias e crianças de 0 a 3 anos; e 3) a comunicação para pais e famílias com crianças de 0 a 3 anos. Para isso, foram convidados especialistas brasileiros e estrangeiros de ONGs, de universidades, dos seis projetos comunitários apoiados pela FMCSV e de fundações e institutos empresariais para contarem a experiência das entidades que representam. Foi possível compreender, por exemplo, como a organização norte-americana Zero To Three desenvolve seu trabalho de difusão de informação, capacitação e apoio a pais, profissionais e responsáveis pela formulação de políticas públicas que influenciam a vida de bebês 8
PREFÁCIO
e crianças. Igualmente foi possível conhecer a atuação da Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde), da Colômbia, cuja missão é criar ambientes adequados para um desenvolvimento físico e psicossocial saudável das crianças e jovens que vivem em condições vulneráveis. O evento mostrou que há muitos pontos de intersecção na diversidade. Apesar de realidades distintas, os desafios a serem superados são semelhantes, o que torna o debate rico e nos mostra que não estamos sozinhos. Ao contrário. A cada ano, a rede global de conhecimento sobre DI fortalece-se e avançamos na formação de um sólido grupo de referência e na discussão sobre o tema. O Workshop Internacional, promovido anualmente pela FMSCV desde 2007, começou a ser pensado em 2006, quando a instituição identificou o DI como foco central de sua atuação. Em sua primeira edição, a Fundação reuniu renomados profissionais da área de DI para discutir o tema, seus principais desafios e oportunidades de atuação. No segundo ano, o tema do workshop foi a Avaliação de Programas e Projetos de DI, pois ela é essencial para a geração de conhecimento sobre como intervir de forma a maximizar impacto e efetivamente transformar a sociedade a partir da promoção do DI. Nesta terceira edição do workshop, a FMCSV teve o intuito de estimular o intercâmbio de experiências e gerar aprendizado coletivo sobre como utilizar a comunicação para promoção do Desenvolvimento Infantil e de melhores práticas.
9
O tema da comunicação sempre esteve presente nos projetos e discussões realizados pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV). Com a definição, cada vez mais clara, da missão da entidade de gerar e disseminar conhecimento para o desenvolvimento integral da criança, a FMCSV busca estratégias eficazes para sensibilizar, informar e orientar a sociedade, as famílias e os profissionais que lidam com crianças de 0 a 3 anos sobre conceitos relacionados ao Desenvolvimento Infantil (DI). Frequentemente, na busca pelo cumprimento de sua missão, a FMCSV depara-se com os desafios da comunicação, por isso entende que tem um papel fundamental. Dentre tais desafios, destaca-se o fato de que alguns conceitos de DI são discutidos há mais de cinco décadas e, embora bastante divulgados, nem sempre o conhecimento é colocado em prática. Existem certas barreiras que impedem que as pessoas se apropriem definiti10
Apresentação
vamente desses conceitos e os transformem em práticas. Essa situação desdobra-se em uma série de indagações por parte das organizações voltadas para esse tipo de trabalho, incluindo a FMCSV. Partindo do princípio de que a comunicação ideal é aquela que promove a mudança de comportamento para o cuidado adequado da criança, perguntamo-nos: como levar conceitos científicos sobre o desenvolvimento integral da criança a diferentes públicos de forma clara, simples e eficiente? Que organizações possuem experiências já sistematizadas com as quais a FMCSV pode aprender e gerar sinergia? Que estratégias já foram utilizadas e quais foram os fatores críticos para o sucesso da comunicação? Como, enfim, usar a difusão da informação para promover mudanças comportamentais? A FMCSV espera que esta publicação, elaborada a partir da construção coletiva de conhecimento promovida em seu III Workshop, ajude a responder algumas dessas perguntas e contribua para a atuação de outras organizações e profissionais interessados no tema de comunicação e disseminação de conhecimento em Desenvolvimento Infantil.
11
CAPÍTULO 1 12
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Como os meios de comunicação podem apoiar campanhas de mudança de comportamento Hiran Castello Branco ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing
CAPÍTULO 1 14
Ao longo da minha carreira como publicitário, tive a oportunidade de colaborar voluntariamente com o Unicef e a Pastoral da Criança, o que foi extremamente produtivo para meu aprendizado. Quando comecei essa colaboração, em 1982, a ideia era fazer uma campanha promovendo o aleitamento materno. Eu tinha boa vontade, mas pouco conhecimento sobre o que estava fazendo. No entanto, e apesar disso, nós tivemos muito sucesso e nossos acertos foram em maior número do que nossos erros. Mas só depois pude estudar um pouco mais e, convivendo com as pessoas envolvidas naquele projeto, pude compreender o porquê de ter dado certo.
Ao longo da minha carreira como publicitário, tive a
pequeno. Se, por outro lado, enxergássemos naquela
oportunidade de colaborar voluntariamente com o
ação a construção de uma catedral, o nível de motiva-
Unicef e a Pastoral da Criança, o que foi extremamen-
ção seria outro, sem dúvida.
te produtivo para meu aprendizado. Quando comecei
Muitas vezes, quando fazemos um trabalho de transfor-
essa colaboração, em 1982, a ideia era fazer uma cam-
mação, de engajamento e de mobilização para a saúde
panha promovendo o aleitamento materno. Eu tinha
- ou para cuidados com a criança -, desconhecemos em
boa vontade, mas pouco conhecimento sobre o que
profundidade aspectos culturais que têm interferência
estava fazendo. No entanto, e apesar disso, nós tivemos
direta com esse processo. Esse é um ponto muito im-
muito sucesso e nossos acertos foram em maior núme-
portante, que nos remete ao tema do Workshop e que
ro do que nossos erros. Mas só depois pude estudar um
pode até configurar uma contradição: por que usar a
pouco mais e, convivendo com as pessoas envolvidas
comunicação de massa, se simplesmente informar não
naquele projeto, pude compreender o porquê de ter
é capaz de mudar comportamentos?
dado certo.
Recordo-me também de outra ocasião, quando traba-
Quando começamos a fazer aquele trabalho, eu real-
lhávamos com um casal estrangeiro que veio ajudar o
mente tinha a impressão de que somente a divulgação
Unicef no projeto do aleitamento materno. No início,
da informação era capaz de mudar comportamentos.
eles estavam muito resistentes à ideia de usar os meios
E, claro, aprendi que não é o suficiente. No terreno
de comunicação de massa e de ter a colaboração de
da medicina preventiva, por exemplo, os profissionais
uma agência de propaganda. Mas, durante a campa-
da área sabem que é mais fácil trabalhar mudança ou
nha e com os primeiros resultados, o casal foi vencen-
adoção de comportamentos com as mulheres do que
do as resistências. Após o final do projeto, chegou até
com os homens, já que existe uma série de fatores cul-
a escrever uma tese sobre o assunto, recomendando a
turais. O homem, numa sociedade como a nossa, de
adoção dos meios de comunicação de massa em pro-
formação machista, acha-se um “herói”. Ele é “muito
gramas de saúde.
forte pra adoecer”, isso não irá acontecer com ele.
O que se pode esperar da comunicação de massa? Preci-
Pelas mesmas razões, convencer um homem a fazer
samos pensar a comunicação de massa de modo muito
um exame de próstata não é tão simples. Por mais que
mais amplo do que imaginar que estaremos na TV fa-
ele saiba que é necessário fazê-lo pelo bem de sua saú-
lando para todo Brasil. Atualmente, existe uma série de
de, há todo um desconforto de natureza psicológica
meios digitais que atingem multidões. Um exemplo é
e bloqueios não confessáveis, que se expressam por
que, hoje em dia, o meio de comunicação de maior pe-
meio de anedotas. É importante, também, trabalhar
netração é o telefone celular. Praticamente todos os bra-
a motivação individual. Se estivéssemos assentando ti-
sileiros possuem um aparelho, e praticamente todos po-
jolos, teríamos provavelmente um nível de motivação
dem ser alcançados por uma mensagem de texto (SMS).
15
CAPÍTULO 1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Como os meios de comunicação podem apoiar campanhas de mudança de comportamento Hiran Castello Branco
16
O aleitamento materno
Existia à época o Instituto Nacional de Alimentação e
O papel da comunicação de massa é a construção de
Essas líderes, ao verem mensagens na televisão, sen-
um cenário propício à mobilização: fazer que todos
tiam-se parte da construção daquela obra e ganhavam
nós tenhamos a percepção de que estamos construin-
confiança no que estavam fazendo. Evidentemente,
Neste tipo de trabalho, é também fundamental com-
apoiar e elaborar políticas de alimentação e nutrição,
do uma catedral. Quando agimos isoladamente, mas
eram treinadas nas comunidades da Pastoral para
preender profundamente a questão cultural. O Centro
que também se envolvia com esta questão. Por conta
sabemos que somos parte de uma grande rede, temos
fazer esse trabalho, somando o esforço delas aos dos
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que
da campanha, o Brasil saiu de uma situação de baixa
mais motivação.
profissionais de saúde. Elas iam de casa em casa, co-
colaborava com a campanha do aleitamento materno,
aderência ao aleitamento materno para a amamenta-
Eu me sinto parte dessa legião de transformadores mes-
munidade em comunidade, e conversavam com as
fez vários estudos identificando as barreiras.
ção exclusiva durante três meses.
mo sem conhecer quem está no outro lado. Basta que
mães. E, aí sim, nas conversas que ocorriam na igreja,
Uma delas é a questão estética. Outra era o medo de
A meta era seis meses. Falava-se sempre, como um
eu entenda que não estou só. O que move aquela pes-
ou em uma cidadezinha nos rincões do Brasil, sedi-
não conseguir, a mulher achar que não teria leite. Um
mote: “Seis meses que valem uma vida”. Os profissio-
soa move a mim também e procuraremos caminhar na
mentavam seu conhecimento e inseriam aquelas pes-
terceiro fator que representava um obstáculo era a ig-
nais e especialistas chegaram a cogitar um ano, mas os
mesma direção. Os que têm mais de 30 anos talvez se
soas dentro do processo.
norância sobre os benefícios do aleitamento. Também
resultados das pesquisas mostraram que impor a meta
lembrem de uma campanha com várias celebridades
Bernardo Toro chama de reeditores as pessoas que se
foi identificada a interferência desfavorável do pai.
de um ano poderia resultar em frustração, porque pou-
globais - Lucélia Santos, Marília Gabriela, Sócrates e
engajam no processo. O reeditor existe em qualquer
Para contornar essas barreiras, celebridades da época
ca gente conseguiria ou desanimaria antes de tentar.
Erasmo Carlos. Aquela campanha criava esse cenário
processo de mobilização porque ele capta um con-
gravaram depoimentos em que procuravam derrubar
Slogans são importantes na questão da comunicação.
transformador. A peça fazia parte de um modelo mui-
junto de informações, processa à sua maneira e mul-
esses mitos. No momento em que uma atriz como a
Funcionam como um comando, uma frase mobili-
to bem definido pelo educador colombiano Bernardo
tiplica o conhecimento.
Lucélia Santos amamenta seu filho, a mensagem vai
zante e transformadora. Do mesmo jeito que Moisés
Toro, que foi ministro na Colômbia, na área de educa-
Os reeditores não precisam ser necessariamente pro-
muito além do que ela fala. Ela amamentava em pú-
conduziu seu povo dizendo: “Vamos para uma terra
ção, e fez várias consultorias para a Unicef.
fissionais especializados. Há um caso muito interes-
blico e falava da importância deste ato. E se uma artis-
de onde emana leite e mel e podemos atravessar o
Seu trabalho é centrado na necessidade de construir
sante no Rio de Janeiro, onde prostitutas foram engaja-
ta global que quer estar sempre bonita amamenta, ela
deserto para lá chegar”; e Juscelino Kubitschek dizia:
um cenário mobilizante. Não se pode esperar que o
das no trabalho de prevenção e combate à hanseníase.
tem toda a autoridade para dizer que a preocupação
“Vamos construir 50 anos em cinco”; o mote da cam-
que está nos meios de comunicação de massa atinja as
A hanseníase pode ser identificada através de man-
estética não tem fundamento.
panha do aleitamento materno era “Seis meses que
pessoas e mude seu comportamento. Para se concreti-
chas no corpo e as prostitutas tinham oportunidade
A questão do machismo também era abordada. Tínha-
valem uma vida”.
zar, o processo de transformação prevê que as informa-
de dizer para o cliente que ali tinha uma mancha
mos o depoimento do Erasmo Carlos, símbolo maior
Isso se encaixa perfeitamente no modelo do Bernar-
ções circulem entre os vários níveis de formadores de
que não existia antes. Evidentemente, as prostitutas
do “machão” na época. Ele aparecia com os filhos
do Toro, intitulado “Modelo Macrointencional de
opinião e de comportamento.
sentiram-se valorizadas porque sua profissão as co-
dizendo que a sua então esposa, Narinha, amamen-
Comunicação”. Esse modelo descreve exatamente
O cenário mobilizante nos faz sentir inseridos no pro-
loca, na visão de uma parte mais conservadora da
tou os dois. E quando ele dizia, ele se dirigia aos pais
aquilo que foi feito e explica, em grande parte, o
cesso de construção da catedral, mas, ainda assim, é pre-
sociedade, como cidadãs de segunda classe. Como
pedindo que colaborassem com as esposas, falava da
êxito da campanha.
ciso capilaridade. No caso das campanhas do aleitamen-
as líderes da Pastoral da Criança, elas absorviam e
importância do aleitamento para o desenvolvimento
to materno e do soro caseiro, um dos principais agentes
multiplicavam as informações.
emocional e de saúde de uma criança. Cada uma das
Nutrição (Inan), órgão do governo federal, criado para
desse processo eram as líderes comunitárias da Pastoral
barreiras culturais foi tratada no ambiente midiático
da Criança, comandada pela doutora Zilda Arns, que se
e trabalhada nos pequenos grupos pelos reeditores. A
tornou uma figura de renome internacional.
confluência dessas estratégias levou ao êxito do projeto.
17
CAPÍTULO 1 A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Como os meios de comunicação podem apoiar campanhas de mudança de comportamento Hiran Castello Branco
Soro caseiro
18
meios de comunicação de massa e o uso de líderes tra-
permanentemente parte de uma legião de transformadores. A troca de e-mails significa
balhando dentro das comunidades. Aproveitou-se in-
compartilhamento constante de informações. Esse processo é imensamente facilitado pe-
Outra experiência rica foi o caso do soro caseiro. Nesse
clusive a ideia do mote da campanha do aleitamento
las mensagens eletrônicas e pelos blogs. Hoje, uma líder da Pastoral pode ter um blog e
caso, foi feita rigorosamente a mesma coisa. Até hoje,
materno para dizer que a receita valia uma vida.
comunicar-se com muita gente ao mesmo tempo.
se entrarmos no site do Instituto Brasileiro de Geogra-
As pesquisas que nós fizemos a respeito da campanha
No Brasil, já existe um contingente enorme de brasileiros com acesso à Internet. É pos-
fia e Estatística (IBGE), está dito que a divulgação do
aqui no Brasil apresentaram bons resultados. Naque-
sível, portanto, utilizar essas ferramentas e todos se transformam, assim, em emissores de
soro caseiro contribuiu para a redução significativa da
la época, praticamente todos os brasileiros tomaram
conteúdo e em reeditores com muito mais facilidade.
mortalidade infantil.
conhecimento da receita. Nas comunidades onde a
Havia um clima propício criado pelo ator Lima Du-
Pastoral tinha boa inserção, a adesão foi muito maior.
arte e líderes comunitárias falando na televisão. Havia
Ficou comprovado que só informação não basta. As
também o aval da Sociedade Brasileira de Pediatria de
pessoas sabiam da existência do soro e até descreviam a
que aquela era uma receita caseira, mas que tinha valor
receita, mas não usavam ou usavam pouco. Entretanto,
Espero que, por meio da mistura de exemplos práticos com a construção teórica de Berna-
médico. Isso me levou a Daca, capital de Bangladesh.
quando seu uso foi reforçado na escola, nas igrejas, nas
do Toro, eu tenha contribuído de alguma forma para as reflexões neste Workshop. Apesar
Lá, o problema da cólera é muito intenso. As pessoas
cidades onde a Pastoral atuava fortemente, o índice de
deste modelo já ser bastante conhecido, é importante e útil porque dá segurança, para
moram em palafitas, o esgoto é despejado onde elas
utilização foi muito mais expressivo.
os envolvidos neste tipo de projeto, de que essas ações combinadas realmente produzem
Conclusão
resultado para a mudança de comportamentos.
vivem e, quando ocorrem enchentes, a contaminação é inevitável. No hospital de Daca é possível ver famílias tratando de
Meios digitais HIRAN CASTELLO BRANCO
seus entes queridos com cólera por meio da utilização de soro caseiro. A pessoa vai se desidratando e um fa-
A possibilidade de todos nós sermos produtores de con-
Administrador de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e pós-graduado em Comuni-
miliar fica por perto, administrando uma dose de soro
teúdo e emissores de mensagens dadas pelos meios di-
cação Pública pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Foi premiado
caseiro via oral – muitos hospitais não possuem recur-
gitais é altamente favorável para processos de dissemi-
com o “Top de Marketing” pela coordenação da Campanha do Soro Caseiro para o Uni-
sos para fazer a administração de soro pela veia. Muitos
nação de informação. No caso do aleitamento materno,
cef e o Conselho Nacional de Propaganda. Em 2006, recebeu a medalha cinquentenária
adultos salvaram-se por conta desse procedimento.
na década de 1980, havia uma comunicação de massa
das Forças de Paz da ONU, por trabalhos realizados em prol da cultura de paz por meio
Fomos até lá falar sobre esse tema, já que eles nunca
em que um emissor centralizado disseminava a mensa-
das campanhas de utilidade pública que coordenou. Atualmente, é presidente do Con-
tinham feito uma campanha massiva que divulgasse
gem que os outros recebiam. O feedback desse tipo de
selho Nacional de Propaganda (CNP) e também conselheiro da Associação Comercial
o soro caseiro. Esse procedimento era feito no hospi-
campanha só era possível por meio de pesquisas.
de São Paulo, da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), da
tal de Daca, mas não era usado pelas famílias de uma
Hoje, existem as redes sociais na internet e todos pos-
ESPM e do Conselho Executivo das Normas-Padrão (CENP).
maneira mais ampla. A intenção deles era conhecer
suem um celular no bolso. Se o objetivo, portanto, é
a experiência brasileira. O processo adotado em Ban-
manter a motivação de um grupo de pessoas, é possível
gladesh foi exatamente o mesmo: a mobilização nos
mandar um SMS por dia. Assim, aquele grupo sente-se
19
CAPÍTULO 2 20
DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS
Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP)
Agradecemos a oportunidade de compartilhar o relato deste trabalho, que vem sendo desenvolvido desde 2002 por um grupo de pessoas comprometidas com a melhoria das condições de saúde e do desenvolvimento infantil. O objetivo deste artigo é apresentar as estratégias de disseminação de conceitos e práticas de desenvolvimento infantil (DI) utilizadas pelo grupo técnico do Projeto Janelas para formar profissionais de serviços de saúde que lidam com famílias de crianças de 0 a 6 anos e gestantes. O artigo está dividido em três partes. A primeira, que trata da disseminação de conhecimentos e práticas, aborda os conhecimentos específicos trabalhados no projeto, o grupoalvo e as estratégias de disseminação desses conhecimentos e práticas. A segunda parte
CAPÍTULO 2 22
Agradecemos a oportunidade de compartilhar o relato deste trabalho, que vem sendo desenvolvido desde 2002 por um grupo de pessoas comprometidas com a melhoria das condições de saúde e do desenvolvimento infantil. O objetivo deste artigo é apresentar as estratégias de disseminação de conceitos e práticas de desenvolvimento infantil (DI) utilizadas pelo grupo técnico do Projeto Janelas para formar profissionais de serviços de saúde que lidam com famílias de crianças de 0 a 6 anos e gestantes.
analisa a implantação do projeto e inclui as atividades de formação dos profissionais de saúde e o acompanhamento da sua continuidade nas unidades participantes. A terceira parte relata a pesquisa de avaliação do projeto. Nosso ponto de partida foi a necessidade de construção de novas tecnologias para apoiar as ações das equipes de saúde da família, no início da implementação do Programa Saúde da Família (PSF) no município de São Paulo. Queríamos contemplar ações de promoção da saúde infantil, no âmbito da atuação com as famílias, particularmente as socialmente mais vulneráveis. Pensando na promoção da saúde como um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, o que inclui sua maior participação no controle desse processo, é preciso entender que a nova tecnologia tem o objetivo de apoiar a reorganização do trabalho em saúde, de maneira a possibilitar que as ações profissionais se constituam em uma resposta organizada às necessidades de saúde da população. Nesse sentido, a nova tecnologia deveria contemplar conhecimentos e práticas dos profissionais, das famílias e das comunidades voltadas à promoção do DI de crianças de 0 a 6 anos, mediante o fortalecimento dos cuidados familiares e comunitários à gestante e à criança pequena.
23
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi
Estratégia escolhida - Construção coletiva do trabalho
• COMPETÊNCIAS FAMILIARES: conhecimentos, saberes e habilidades que, somados à amorosidade de atitudes e práticas das famílias, facilitam e promovem a sobrevivência,
Considerando a necessidade de construção de novas tecnologias para as equipes de saúde
o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças. O conceito de competên-
da família, o grupo de coordenação de implantação do PSF no município de São Paulo
cias familiares foi introduzido pelo Unicef e trabalhado no grupo associado ao de patri-
desenhou uma pré-proposta de trabalho que foi apresentada e aprovada para receber apoio
mônio, para evitar a qualificação das famílias em competentes e incompetentes.
do Unicef. Esse grupo de coordenação compôs, então, um grupo técnico convidando profissionais de variadas formações e experiências em projetos de saúde e comunitários:
• PATRIMÔNIO: conjunto de recursos dos quais as pessoas dispõem para garantirem, a si mesmas e a seus familiares, maior segurança e melhor padrão de vida.
24
• Da Secretaria Municipal de Saúde, profissionais de atenção básica e área da saúde da
Constituem o patrimônio da pessoa/família: trabalho, saúde, educação, moradia,
criança e da pessoa com deficiência da Coordenadoria de Desenvolvimento da Gestão
habilidades pessoais e relacionamentos (familiares, de vizinhança, de amizade, co-
Descentralizada (Cogest);
munitários e institucionais).
• Da Associação Comunitária Monte Azul, entidade com experiência na promoção de de-
• CUIDADO: o foco no cuidado tem como premissa que ele não é natural, mas cons-
senvolvimento comunitário, que também fez a gestão financeira dos recursos do Unicef;
truído socialmente e influenciado por questões históricas, políticas, econômicas, dentre outras. Assim, esse conceito foi trabalhado associado ao de necessidades essenciais
• Do próprio Unicef, que acompanhou todas as etapas do projeto;
da infância, ou as necessidades que fornecem os fundamentos para que a criança alcance seu potencial intelectual, social, emocional e físico. As necessidades essenciais
• Da Pastoral da Criança;
estão associadas à sobrevivência e ao desenvolvimento integral da pessoa, portanto, relacionam-se a todas as crianças, de qualquer origem étnica, classe social, condição
• Do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp);
física e mental. Assim, ainda que priorizando as intervenções com as famílias com maiores dificuldades, todo o material apoia o trabalho com quaisquer crianças e famílias. A promoção de cuidados diários que favorecem o crescimento e o desenvolvi-
• Do Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão – assistência de enfermagem
mento integral foi então o eixo condutor da proposta. Isso porque cuidar de crianças é
em saúde coletiva, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP),
uma tarefa para a qual as pessoas precisam ser preparadas, mediante o conhecimento
pelo qual participamos.
e a compreensão sobre o processo de desenvolvimento infantil e as necessidades essenciais decorrentes deste processo. Cabe dizer que os conceitos de desenvolvimento
Desde o início, tendo como eixo condutor a proposição da construção participativa, o gru-
infantil e de criança foram também trabalhados, não de maneira independente, mas
po técnico assumiu a coordenação conjunta do trabalho, consciente da proposta de trazer
como referência para o cuidado e as necessidades essenciais.
as equipes de saúde e os parceiros para construir a tecnologia conjuntamente. O grupo técnico iniciou seu trabalho elaborando os conceitos principais a serem propostos como orientadores da tecnologia. Destacam-se dentre esses conceitos os seguintes:
25
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi
• RESILIÊNCIA: a resiliência foi também um conceito-chave no trabalho, dada sua
PRÁTICAS TRADICIONAIS
PROJETO JANELAS
importância como uma força para o desenvolvimento da pessoa. Este conceito expli-
Profissionais especialistas em saúde da criança
Profissionais generalistas
ca que crianças que têm interações contínuas com pessoas que cuidam bem delas
Ausência do Agente Comunitário da Saúde (ACS)
Presença do Agente Comunitário da Saúde (ACS)
tornam-se melhor preparadas, biológica e emocionalmente, para aprenderem e traba-
Finalidade diagnóstica
Finalidade de promoção da saúde
lharem estresses e desapontamentos do dia a dia de suas vidas
Variáveis da criança
Variáveis do contexto
Abordagem da criança
Abordagem da família
Consultas ambulatoriais
Contato no ambiente de vida
o debate e, dentre outros aspectos relativos a esse conceito, destaca-se a reflexão sobre
Testes e medidas
Observação e descrição
o concreto versus o idealizado, isto é, a importância de compreender e trabalhar com
Análise técnica - devolutiva
Construção de saberes compartilhados
a diversidade presente no mundo real nas formas de ser família, em vez de comparar
Destaque do saber profissional
Fortalecimento das competências das famílias
este real a um modelo idealizado, classificando-o então como inadequado.
Encaminhamento
Acolhimento
Família receptora de orientações
Família agente de cuidados
Serviço de assistência
Organização da comunidade
Objetivo: tratamento
Objetivo: inclusão
Ação pontual
Processo contínuo
• FAMÍLIA: o conceito de família foi também um dos conhecimentos colocados para
26
• PESSOA/FAMÍLIA EM CONDIÇÕES ADVERSAS: entender a condição pessoa/ família em condições adversas passa por compreender que, em função da situação de privação excessiva, a pessoa/família fica sem uma perspectiva de vida futura. Essa situação pode desencadear a privação da liberdade, ou reduzir a capacidade humana de decidir, fazendo que a pessoa/família se mostre, inclusive, desinteressada pela vida e sem energia para enfrentar seu cotidiano. • REDE SOCIAL DA FAMÍLIA: um conjunto de relações interpessoais a partir do qual a pessoa e/ou a família mantêm sua identidade social. Essa identidade compreende hábitos, costumes, crenças e valores característicos de uma determinada rede. A rede social fornece à pessoa e/ou família sustento emocional, ajuda material, serviços e informações, tornando possível o desenvolvimento de relações sociais. A rede social é, portanto, um recurso das famílias, mas também da equipe de saúde. Ao mesmo tempo em que faz parte da rede e apoia diretamente as famílias, a equipe de saúde encontra nos outros membros da rede apoio e complementaridade para seu trabalho. Tendo em vista as práticas tradicionais realizadas segundo o modelo assistencial predominante no nosso sistema de saúde – o biomédico –, o Projeto Janelas propôs uma nova perspectiva: a elaboração de instrumentos, conhecimentos e práticas que se constituem numa nova tecnologia de abordagem ao DI, conforme sintetizado no quadro a seguir.
As equipes de saúde da família são consideradas pelo Projeto sujeitos diretamente
27
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo
responsáveis pelo trabalho com as famílias, assim como os gestores e parceiros do PSF.
04
Médicos, enfermeiros, auxiliares de enfer-
03
magem, ACS, dentistas, outros profissionais de saúde da unidade, gerentes das Unidades
05
Básicas de Saúde (UBS), supervisores de
06
saúde e coordenadores da Saúde da Família. O mapa ao lado ilustra as regiões em que foi realizado o projeto-piloto de implantação
08 09
11
do Janelas. Foram selecionados os distritos do município de São Paulo que apresentavam os piores indicadores de saúde infantil e também contavam com parceiros com histórico de atuação na promoção do DI.
07
10
02 01
Distritos de Saúde envolvidos nesta fase do projeto: 01. Cidade Tiradentes 02. Itaquera 03. São Miguel 04. Brasilândia 05. Sé 06. Vila Mariana 07. Cidade Ademar 08. Jardim São Luiz 09. Jardim Ângela 10. Parelheiros 11. Grajaú
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi
O conteúdo conceitual foi organizado em um caderno,
vínculos afetivos, potencialização das janelas de
juntamente com a proposta geral do Projeto. Todo o
oportunidades e acompanhamento e identifica-
material foi então submetido às equipes, gestores e par-
ção precoce de riscos ou danos ao DI;
ceiros do PSF, numa oficina de trabalho, em abril de • Valorização das experiências e conhecimentos das
do trabalho, o grupo técnico apresentou os conceitos
entidades parceiras do PSF no que diz respeito a
para que fossem analisados pelos profissionais da Estra-
ações de promoção do DI;
tégia de Saúde da Família (ESF) e parceiros, à luz de pos os seguintes pontos: • Caracterização da situação da infância na sua região 28
de atuação;
educativos, nas creches e escolas; • Criar e ampliar espaços de brinquedotecas;
2002. Como parte da estratégia de construção coletiva
suas práticas. Os participantes debateram em subgru-
• Criar uma cultura de cuidados afetivos nos grupos
III Oficina: maio/2003 Lançamento dos produtos do Projeto:
• Envolver as comunidades;
• Cartilha e manual de apoio Toda hora é hora de cuidar.
• Montar videotecas e bibliotecas. • Ampliação da atenção ao DI, contemplando o am-
• Ficha de acompanhamento dos cuidados para a promoção da saúde da criança.
biente, as oportunidades e as relações - Foi consi-
Ficou determinado que a continuidade da oficina seria
derado relevante pela proposta de ampliação da
a elaboração de uma proposta de material para as famí-
Tendo em vista o foco nos cuidados familiares, a carti-
atenção para além do crescimento e da verificação
lias e um material de apoio para as equipes trabalharem
lha, assim como o manual de apoio receberam o nome
pontual de marcos ou habilidades. É uma aborda-
com as famílias.
Toda hora é hora de cuidar. Ambos são ilustrados e
gem de desenvolvimento que contempla o ambien• Reflexão sobre as práticas desenvolvidas pelas equi-
Apresentação dos materiais educativos: Celebrando o trabalho realizado
te, as oportunidades e as relações;
contêm textos relativos a aspectos de saúde, alimentaO grupo técnico investiu então na construção de duas
ção, prevenção de acidentes, brincadeira, amor, direi-
propostas de material educativo, que foram apresen-
tos e participação infantil.
• O suporte às famílias - Finalmente, a questão do
tados na II Oficina, em agosto de 2002: a primeira
A ficha é um instrumento de apoio, um roteiro, para
suporte às famílias foi considerada como um im-
versão da cartilha da família e da ficha de acompanha-
ser utilizado nos atendimentos de saúde da criança.
• Propostas de fortalecimento do DI, levando em con-
portante instrumento para a abordagem da proble-
mento dos cuidados. Como principal questionamento
O material elenca cuidados essenciais nas mesmas áre-
ta as potencialidades do cuidado na família e nas
mática da violência doméstica contra a criança e
à cartilha, foi destacada a ausência de personagens de
as de conteúdo da cartilha, com o objetivo de orientar
redes sociais.
sua possível repercussão na transformação da vio-
etnias diversas nas ilustrações, importante aspecto que
os profissionais na conversa com as famílias sobre os
lência social.
não tinha sido percebido pelo grupo técnico. Como
cuidados que promovem o DI.
pes na região e os conteúdos apresentados para orientar o Projeto;
principal questionamento à ficha, foi apontado o gran-
As avaliações dessa I Oficina destacaram a relevância do Projeto, tendo em vista os seguintes as-
Com tal avaliação, os participantes afirmaram seu in-
de volume de informações, uma dificuldade em po-
No que diz respeito às estratégias e recursos de divul-
pectos principais:
teresse em atuar como atores do projeto para:
tencial para sua aplicação, uma vez que incluía dois
gação, os produtos de comunicação do projeto foram:
grandes grupos de conteúdos: um relativo aos marcos • Apoio às ESF na abordagem do DI - O primeiro aspecto referiu-se às próprias demandas de com-
• Rever a postura de atendimento com maior suporte e interesse pelas famílias;
petências das equipes na abordagem do DI, tais como promoção de condições favoráveis ao DI e estimulação adequada da criança, fortalecimento das competências familiares, estabelecimento de
do DI (conquistas) e outro, aos cuidados voltados à promoção do DI (oportunidades).
• Folder, logomarca e cartaz para divulgação do Projeto nas unidades; • O próprio material educativo: aspecto e conteúdos.
• Sensibilizar os membros das equipes para o Projeto;
29
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi
30
O tema Janelas de Oportunidades foi uma contribui-
Os temas são apresentados aos profissionais como sub-
ção do Unicef, e relaciona-se aos períodos críticos do
sídios para a conversa com as famílias e, assim também
DI, durante os quais há maior possibilidade da aquisi-
são sugeridas estratégias e pontos-chave a serem traba-
ção de determinadas competências de desenvolvimen-
lhados nos contatos com as famílias. Há certa flexibi-
to. Cabe destacar que está claro para o grupo que isso
lidade na organização das atividades, para possibilitar
não restringe a noção de DI, uma vez que também se
que os profissionais usem sua criatividade.
considera outros aspectos do desenvolvimento, como a
Dentre os conteúdos, a história do nó do afeto, uma con-
plasticidade do organismo. Mas este é um foco impor-
tribuição da Ute Kramer (Monte Azul), sensibiliza as
tante a ser considerado nas ações de promoção, já que
pessoas para a importância de concretizar ações de cui-
a gestação e os primeiros anos podem ser considerados
dado com qualidade, mais do que quantidade. Trata-se
os alicerces do DI.
de um relato de um fato real sobre um pai que, em uma
O folder de divulgação do Projeto, cuja logomarca é
reunião escolar em que a diretora falava sobre a necessi-
Inicialmente, foram formados 114 multiplicadores de 68 unidades de saúde da família.
uma janela, inclui pequenos textos de sensibilização
dade de os pais garantirem tempo de contato diário com
Destes, 98 realizaram novas oficinas para 304 equipes e 1.525 agentes comunitários em 57
para aspectos-chave do DI: numa das folhas da vene-
seus filhos, conta que habitualmente, em função de seu
unidades de saúde da família. Em novembro de 2004, havia 231 equipes e 1.115 agentes
ziana, uma poesia da Iracema Benevides, médica e
horário de trabalho, não conseguia ver o filho acordado.
utilizando o material com as famílias.
componente do grupo; na outra veneziana, a apresen-
Costumava dar-lhe um beijo e fazer um nó na ponta do
Foram produzidos e distribuídos 45 mil cartilhas da família, 3,5 mil exemplares do manual
tação geral da proposta.
lençol, para que a criança soubesse que o pai estivera ali.
de apoio da equipe e 60 mil fichas de acompanhamento dos cuidados.
O verso do folder contém as assinaturas dos parceiros.
A diretora surpreendeu-se ao verificar que aquela crian-
Para o acompanhamento das ações locais, estimulou-se a formação das redes regionais
Como citado, o manual para as equipes de saúde e a
ça era um dos melhores alunos da escola.
de multiplicadores (Sul I e II, Norte, Leste e Centro-Oeste), com o objetivo de garantir
cartilha da família foram intitulados Toda hora é hora
Outro componente que sensibilizou os profissionais e
a sustentação dos vínculos formados durante as oficinas de formação e a contínua troca
de cuidar. O processo de escolha do nome, bem como
as famílias foi o espaço da Janela da Família, um mo-
de experiências entre os profissionais multiplicadores – dificuldades, avanços, conquistas.
a formatação do material teve a participação do grupo
mento rico de trocas entre os membros.
técnico com apoio de uma empresa especializada. O material mantém o logo do Janelas e incorpora a presença de uma personagem, a agente comunitária de
Parte II. Implantação do projeto: as oficinas de formação
saúde, como referência ao serviço de saúde.
• 4 oficinas, cada uma com 5 encontros semanais de 8 horas (concentração e dispersão), sendo duas para a região Sul, uma para a região Leste e uma para a Centro-Norte; • Metodologia participativa e problematizadora, com equilíbrio entre atividades relacionadas ao pensar, sentir e agir; • Ambiente acolhedor, com exercício do cuidado, acolhimento e estímulo à participação e construção compartilhada do conhecimento; • Estímulo à experimentação das novas práticas nos momentos de dispersão.
Parte III. Avaliação dos produtos e processos • Objetivo: avaliar a eficácia e a efetividade das estratégias escolhidas para disseminar
Algumas características do material educativo foram
Para planejar e realizar o trabalho de formação das
conhecimentos e mudar práticas de cuidados dos públicos de interesse (profissionais
também importantes para a disseminação dos conhe-
equipes de saúde, o grupo técnico contou com apoio
de saúde e famílias);
cimentos. O conteúdo e o formato da cartilha e do ma-
de especialistas em educação e projetos participativos.
nual foram elaborados para serem atrativos, estimulan-
A formação das equipes foi realizada em oficinas peda-
tes e de fácil compreensão, ainda que fundamentados
gógicas, com as seguintes características:
técnica e cientificamente.
• Método: investigação com metodologias qualitativas e quantitativas.
31
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Estratégias de comunicação com profissionais para disseminar conhecimentos e mudar práticas na atenção à infância - a experiência do Projeto Nossas Crianças: Janelas de Oportunidades Maria De La Ó Ramallo Veríssimo e Maria Ângela Maricondi
A pesquisa de avaliação teve como objeto as experiências e seus sentidos ou significados
Sobre as estratégias de disseminação, ainda que não tenha sido realizada avaliação com
e foi desenvolvida em vários subprojetos que analisaram a metodologia e os conteúdos da
objetivo de analisar todas as estratégias de disseminação, ressalta-se que muitos participan-
capacitação de multiplicadores, a aceitação e a compreensão dos conteúdos pelas famílias
tes do processo ainda hoje se referem à importância dos conhecimentos e práticas aborda-
e pelos profissionais de saúde.
dos no Projeto. Os próprios materiais educativos são considerados atraentes e significativos e foram adotados por profissionais atentos às necessidades integrais das crianças e famílias.
A coordenação da pesquisa foi realizada por docentes da Escola de Enfermagem da USP, com participação de uma pesquisadora da Unifesp, com apoio do Conselho Nacional de
Maria De La Ó Ramallo Veríssimo
Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). Os principais resultados encontra-
Enfermeira pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Enfermagem Pediátrica
dos nas investigações foram:
e doutora em Enfermagem. Professora e coordenadora do bacharelado em Enfermagem da Escola de Enfermagem da USP. Desenvolve estudos e trabalhos de extensão
»»O Projeto estimulou e apoiou o protagonismo dos profissionais de saúde no diálogo com as famílias acerca do cuidado efetivo para a promoção do desenvolvimento da criança; 32
universitária na área de promoção da saúde da criança e atenção integrada às doenças prevalentes da infância. 33
»»Cartilha e ficha foram avaliadas como instrumentos de promoção da saúde da criança, pois favorecem uma aproximação efetiva com as famílias; »As » estratégias de formação participativa e emancipatória também sustentaram a construção coletiva e criativa dos planos locais de implementação do Projeto, potencializando sua capacidade de gerar mudanças e aumentando a satisfação dos profissionais no exercício dessas práticas; »A » cartilha foi muito bem aceita pelas famílias e trabalhadores e não foram indicadas modificações significativas para nenhum dos aspectos estudados (conteúdos, ilustrações, tamanho e tipo de letra e quantidade de páginas); »Não » foi possível avaliar o impacto das ações educativas no comportamento das famílias. Foi realizada pesquisa de linha de base das competências familiares em 2004 com metodologia quantitativa do Unicef, mas não replicada posteriormente.
Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer J. Leonardo Yánez Fundação Bernard van Leer, Holanda
Em 11 de novembro de 2009, a Fundação Bernard van Leer, com sede em Haia, na Holanda, completou 60 anos. Sua missão consiste em melhorar as oportunidades das crianças menores de oito anos que crescem em condições de vulnerabilidade social e econômica. A Fundação faz isso de duas formas: financiando e apoiando projetos de desenvolvimento da primeira infância em diferentes partes do mundo e compartilhando conhecimento com a finalidade de informar e influenciar na prática e na política. Esse compromisso materializou-se por meio de duas linhas estratégicas. Por um lado, foram desenvolvidas metodologias inovadoras que pudessem ser reproduzidas para melhorar a qualidade dos serviços de cuidado e educação infantil; e, por outro lado, esse conhecimento foi disseminado entre aqueles que têm o poder e a capacidade para aplicar e propa-
CAPÍTULO 2 34
Em 11 de novembro de 2009, a Fundação Bernard van Leer, com sede em Haia, na Holanda, completou 60 anos. Sua missão consiste em melhorar as oportunidades das crianças menores de oito anos que crescem em condições de vulnerabilidade social e econômica. A Fundação faz isso de duas formas: financiando e apoiando projetos de desenvolvimento da primeira infância em diferentes partes do mundo e compartilhando conhecimento com a finalidade de informar e influenciar na prática e na política.
gar a aprendizagem obtida. É, nesse sentido, importante atender às necessidades emocionais e psicológicas na saúde e na educação. Trabalhar junto às famílias e comunidades, respeitando a cultura e promovendo a autonomia, é essencial para criar um entorno seguro e protegido. A intervenção direta em populações específicas é realizada por meio de parcerias e associações com organizações locais nos espaços geográficos selecionados para estes fins. No seu início, a Fundação chegou a operar em mais de 70 países nos quais funcionavam as empresas de embalagens Van Leer1. Esse número decresceu à medida que buscamos causar maior impacto com nosso trabalho. A partir de 2010, em parte como resposta ao efeito negativo que a crise financeira teve sobre os recursos da instituição, e em parte com o objetivo de reforçar ainda mais o impacto de suas ações, as contribuições econômicas da Fundação serão direcionadas a um menor número de países. Optamos por selecionar nove países distribuídos em diversas regiões do planeta nos quais as necessidades da infância e o potencial para fazer algo para atendê-las de maneira sustentável fossem relativamente altos. Também selecionamos países onde a aprendizagem relativa à ação tivesse chance de ser disseminada para além de suas fronteiras. O Brasil foi um dos países selecionados. Trabalhamos apoiando projetos tanto de organizações públicas, quanto privadas ou comunitárias. A estratégia de se trabalhar em vários contextos nos permite desenvolver capacidades locais, promover inovação e flexibilidade, bem como garantir que o trabalho de desenvolvimento respeite a cultura e as condições do contexto local.
35
CAPÍTULO 2
Na década de 1990, as empresas foram vendidas, e os lucros foram investidos na bolsa de valores.
1
DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer J. Leonardo Yánez
Atualmente, apoiamos 140 projetos e concentramos nossa política de concessão de sub-
desvantagem. A segunda, busca ajudar as crianças a desenvolver atitudes, destrezas e
venções em 21 países onde, ao longo dos anos, construímos nossa experiência. Trabalha-
hábitos que as ajudará a crescer em sociedades com grande diversidade, marcadas por
mos em países em desenvolvimento e desenvolvidos, com uma representação geográfica
conflitos, e se possivel, melhorá-las.
que abrange África, Ásia, Europa e Américas. Com o programa “Diversidade” promovemos a igualdade nas oportunidades, ou seja, contribuímos para que as crianças vivam em ambientes sociais diferentes. Garantimos
Sistematização das experiências
a igualdade de direitos e de acesso às crianças em situação de desvantagem, bem como
Outro aspecto do nosso trabalho é o esforço contínuo de documentar e analisar os
ajudamos as crianças a desenvolver atitudes, destrezas e hábitos que as ajudarão a crescer
projetos que apoiamos, com o objetivo de aprender com as experiências passadas e
em sociedades com grandes diversidades, marcadas por conflitos.
gerar conhecimento que possamos compartilhar. Por meio de ações de impacto comprovado e de nossas publicações, queremos informar e influenciar a política e a prática, tanto nos países onde trabalhamos como naqueles onde pretendemos ter uma
36
Nossas áreas temáticas
presença programática.
Nosso trabalho concentra-se em três áreas temáticas:
Queremos divulgar o conhecimento por meio da análise dos avanços globais. Os maiores avanços na infância foram em relação à educação e à saúde, aspectos que absorveram a
1) Fortalecimento do meio em que vivem as crianças. Por meio do programa “Cuidado”, buscamos desenvolver nos pais, famílias e comuni-
maior parte dos recursos financeiros dos países. Queremos também identificar oportunidades nas economias emergentes.
dades vulneráveis suas habilidades para cuidado adequado de suas crianças. Entre outros
O desejo da Fundação Bernard van Leer é um mundo que respeite os direitos, a dignidade
aspectos, o programa tem projetos relacionados ao HIV, à formação dos pais, à gravidez na
e a igualdade das crianças, suas famílias e comunidades. Acreditamos que intervenções
adolescência, às crianças vulneráveis e às crianças afetadas pela migração.
adequadas nos primeiros anos de vida, adaptadas aos contextos locais, podem ser particularmente efetivas, ajudando as crianças a desenvolver seu potencial e contribuindo para a
2) Transições bem-sucedidas: da casa para a escola.
geração de benefícios duradouros para a sociedade.
O programa “Transições” pretende ajudar as crianças no processo de transição da vida
Nossa estratégia de disseminar conhecimento tem sido realizada por meio de uma
em casa para a entrada na creche, pré-escola e escola. Ele trata do processo de transição,
série consolidada de publicações, cuja circulação é promovida pela própria Funda-
vivido pelas crianças nas suas primeiras experiências de vida, em especial no ingresso ao
ção. Publicações de parceiros e sócios também têm sido incentivadas e financiadas.
ambiente escolar. Nossas intervenções buscam promover a preparação das crianças para
A partir de 2010, faremos uso das redes globais e das estratégias de “advocacy” para
estas novas experiências, assim como apoiar os professores e os agentes sociais para que
disseminar conhecimento.
essas etapas sejam superadas de maneira exitosa. “Advocacy” e comunicação para a mobilização de recursos como estratégia no desen3)Inclusão social e respeito à diversidade
volvimento de programas regionais
Por meio do programa “Diversidade”, promovemos a igualdade de oportunidades con-
Em 2009, foi aprovada uma estratégia para o desenvolvimento de um programa no
tribuindo para que as crianças vivam em ambientes sociais diferentes. A primeira in-
Peru (2009-2013) cujo eixo central é a alavancagem do conhecimento gerado por
clusão social garante a igualdade de direitos e de acesso às crianças em situação de
projetos de pesquisa e experiências de campo, que tenham impacto no investimento
37
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer J. Leonardo Yánez
público e privado, em problemas concretos da infância. O objetivo final é garantir um
para a erradicação da pobreza e para o desenvolvimento econômico sustentável do país
ensino de qualidade durante os primeiros anos, assim como reduzir os obstáculos que
entre aqueles que tomam as decisões, comunidades e indivíduos influentes e b) coletar o
impedem o acesso de meninos e meninas em situação de desvantagem econômica e
conhecimento adquirido na prática para melhorar a qualidade da educação de meninos e
social, em relação à educação.
meninas que crescem em situação de desvantagem social e econômica.
“Advocacy”, comunicação e mobilização de recursos O Peru é uma das economias de crescimento mais veloz na América Latina. No entanto,
Além da implementação de experiências práticas que sirvam de exemplo, o programa requer:
a pobreza e a desigualdade são um dos maiores desafios ao desenvolvimento. A falta de políticas e mecanismos para uma distribuição equitativa da riqueza implica em um cresci-
1) Uma estratégia de comunicação dirigida ao fomento do investimento nos primeiros
mento econômico que deixou de lado grandes segmentos da população, particularmente
anos da infância para a redução da pobreza, à melhoria da equidade social e ao fortaleci-
povos indígenas e aqueles que moram nas áreas urbanas periféricas, a serra rural e a selva.
mento do sistema educacional;
Apesar de o país ser conhecido por sua história de inovação na política de proteção da 38
infância, ele carece de um desenvolvimento sustentado e sistemático voltado para o bem-
2) Uma comunidade de aprendizes que compartilhem e disseminem conhecimentos e
estar dos jovens. Os problemas devem-se não apenas ao baixo investimento, mas também
boas práticas entre os diferentes atores que se preocupam com a primeira infância.
à falta de um sistema efetivo de redistribuição da riqueza. Nesse caso, falta ao país, um sentido de urgência. O setor privado por sua vez, precisa de dados convincentes sobre
A estratégia de comunicação mostra como investir nos primeiros anos para reduzir a po-
formas de investir nos jovens.
breza, promover a igualdade social e melhorar a qualidade da educação. Explica também
Recentemente os meios de comunicação do Peru focaram sua atenção no sistema de
aos diversos setores sociais, tanto públicos quanto privados, como o investimento é eficaz
educação promovido pelo Estado, desencadeando um vigoroso e crítico debate público.
na infância, documentando modelos, princípios e outras formas possíveis de promover
Por muito tempo, a baixa qualidade da educação foi um reflexo das desigualdades sis-
uma maior inclusão de meninos e meninas. Ao mesmo tempo, membros da comunidade
têmicas existentes. Até que se possa garantir o acesso e a qualidade da educação aos
são capacitados para coletar suas próprias histórias de sucesso e, por meio dos meios de
cidadãos mais vulneráveis e às crianças pequenas, o rendimento educacional continuará
comunicação de massa ou alternativos, influir no melhor uso dos orçamentos públicos.
sendo insatisfatório. É necessário garantir, desde muito cedo, as pré-condições básicas
Atualmente está sendo construído um movimento nacional para a infância integrado por
para a aprendizagem (incluindo nutrição adequada, boa saúde e segurança física).
pessoas-chave dos diferentes setores sociais (www.inversionenlainfancia.net). Foi consoli-
Algumas pessoas sustentam que a equidade social em curto prazo tem um custo muito
dada uma comunidade de aprendizagem que dissemina horizontalmente conhecimentos
alto. No entanto, em longo prazo, a falta de equidade social pode custar muito mais, já
sobre boas práticas, ao mesmo tempo em que leva a aprendizagem a audiências mais am-
que debilita a estrutura social e econômica do país em sua totalidade, levando a formas de
plas por meio de uma unidade de conhecimento liderada por um centro de pesquisa sobre
polarização social como as vividas dramaticamente durante a insurgência interna no Peru.
a infância em uma prestigiosa universidade de Lima. Essa unidade encarrega-se de estudar
Por conseguinte, o objetivo da estratégia peruana é aumentar as possibilidades de acesso
e avaliar as práticas assim como de sistematizar o conhecimento para deixá-lo pronto para
a uma educação e a um cuidado de qualidade na infância. O programa de comunicação
o consumo das comunidades, instituições operacionais e comunicadores estratégicos.
para o Peru procura: a) aumentar a consciência sobre a importância da educação precoce
39
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer J. Leonardo Yánez
Nossos parceiros neste programa são:
partir de uma perspectiva psicossocial. Combina a teoria da atualidade com experiências práticas de trabalho. Também são apresentadas as experiências realizadas por projetos
1. Salgalu - uma empresa peruana de consultoria, que desenvolve o movimento pela
apoiados pela Fundação.
infância e a mobilização de recursos. Em um ano de cooperação, conseguiu mobilizar diferentes setores da sociedade peruana, incluindo empresários, prefeitos gover-
Cadernos sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância
nadores, ministros, artistas, acadêmicos e esportistas reconhecidos por seu interesse
Estes Cadernos são documentos extraídos das experiências de campo que apresentam re-
na infância.
sultados notáveis, e reflexões sobre o “trabalho em andamento”. Mesmo que a maioria tenha sido publicada em inglês, alguns podem ser acessados em espanhol. Até 1995, essa
2. Universidade Antonio Ruiz Montoya (UARM) - Por meio de sua unidade de pesquisa
série chamava-se Studies and Evaluation Papers.
sobre a infância, desenvolve instrumentos e metodologias de acompanhamento e avaliação de programas e publica atualizações periódicas de seus resultados e análises.
Práticas e Reflexões A série Práticas e Reflexões trata de assuntos relevantes para profissionais, gestores de polí-
40
3. Comunidade Peruana de Aprendizagem de Cuidado e Desenvolvimento Infantil (Co-
tica e acadêmicos interessados em resolver as demandas educacionais de desenvolvimento
pera) - uma instituição de aprendizagem integrada por organizações implementadoras
das crianças que vivem em situações de desvantagem. É publicada principalmente em
de programas de intervenção focadas em problemas específicos de inclusão social de
inglês, mas também em espanhol. Até 1995, essa série chamava-se Occasional Papers.
meninos e meninas em situação de vulnerabilidade.
Livros e publicações corporativas Circunstancialmente, a Fundação publica livros e artigos não incluídos nas séries ha-
Publicações da Bernard van Leer Foundation
bituais, além de uma pequena quantidade de vídeos. Também podem ser baixadas ou solicitadas publicações corporativas, como, por exemplo, o relatório anual (em inglês) ou
As publicações da Fundação são direcionadas às pessoas que atuam no campo, formula-
folhetos de informações gerais.
dores de política, acadêmicos e interessados na problemática da infância. Entre as publicações que levam o logo institucional não estão incluídas aquelas produzidas por sócios e
Website (www.bernardvanleer.org)
parceiros com fundos outorgados pela instituição.
A página institucional na web, além de informações relativas à instituição e às suas publi-
O acesso a essas publicações é gratuito. Podem ser baixadas em formato PDF. Exemplares
cações, provê material sobre parceiros e, em alguns casos, acesso direto às suas publicações.
impressos podem ser enviados a quem os solicitar, de acordo com a disponibilidade. A informação para essas solicitações está disponível em http://es.bernardvanleer.org/publicaciones
Publicações previstas Por que os países da América Latina investem tão pouco nas crianças?
Espaço para a infância
Esperada para 2010, esta publicação analisa de maneira jornalística a situação da edu-
Publicada pelo menos uma vez ao ano, a Espaço para a Infância e sua homóloga em inglês,
cação nos primeiros anos na região e sua relação com a pobreza, com a exclusão social
Early Childhood Matters é uma revista sobre o desenvolvimento da primeira infância que
e com a desigualdade de oportunidades desde a infância. Para analisar a situação e as
trata de assuntos específicos relacionados ao desenvolvimento das crianças pequenas, a
tendências em comparação com outras regiões, examina o caso do Peru e o notado fra-
41
CAPÍTULO 2 DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA QUE PROFISSIONAIS APRIMOREM SUAS PRÁTICAS Produção e divulgação de ferramentas de comunicação para públicos específicos na prática da Bernard van Leer J. Leonardo Yánez
casso na educação, e questiona: O que estamos fazendo? O que deve ser feito? Quem
Integral e Pré-escolar da Universidade Católica Andrés Bello. Diretor Nacional de Edu-
deve se envolver e como?
cação Inicial (Ministério de Educação, 1994-1999); diretor-geral setorial para a Coordenação dos Programas para o Desenvolvimento Social, na Venezuela (Ministério da Família
Diversos caminhos através da infância e a escola
e Desenvolvimento Social, 1993-1994); chefe do Departamento de Educação Integral e
Esperada desde a pesquisa Young Lives em 2009, ela poderá influenciar uma série de
Pré-escolar na Universidade Católica Andrés Bello de Caracas, Venezuela. Atualmente,
publicações de apoio, ao oferecer uma percepção das diferentes manifestações da transi-
atua como especialista para os programas da América Latina na Fundação Bernard van
ção da casa para a escola entre crianças que crescem em contextos diversos e periféricos
Leer, com sede nos Países Baixos (Holanda).
(bairros urbanos, serras rurais e selva).
Manuais
Links
Têm a finalidade de apoiar projetos que envolvem a comunidade, a família e a participa-
Website do programa
ção das crianças no planejamento, monitoramento e avaliação de projetos. Além disso, 42
www.inversionenlainfancia.net/inversion-en-la-infancia-peru.html
produzimos manuais para advogados e manuais da estratégia Supply Chain Risk Management (SCRM) no Peru.
43
Website dos parceiros www.kusiwarma.org.pe/es/
Investindo nas fundações/ base da sociedade
www.ceindes.org.pe
Planejada para 2013, esta publicação tem o objetivo de divulgar informações sobre a mo-
www.uarm.edu.pe
bilização do ativismo social e dos recursos para os jovens cidadãos. Sua proposta é ajudar
www.mimdes.gob.pe/
outras organizações a aprender com a estratégia de comunicação do programa.
www.codinfa.org.pe/ www.accionporlosninos.org.pe/
J. LEONARDO YÁNEZ
www.pys.com.pe/ENGindex.htm
J. Leonardo Yánez é psicólogo, com pós-graduação em desenvolvimento infantil na Uni-
www.globalifexperience.com/web/uk/oportunidades/warmayllu.htm
versidade de Victoria, Canadá. Foi professor em diferentes áreas de ensino e planejou, executou e avaliou programas de cuidado e desenvolvimento infantil. Participou e dirigiu pesquisas qualitativas e interculturais sobre o desenvolvimento da criança e programas de cuidado e desenvolvimento infantil. Também participou da disseminação do curriculum Pré-escolar (1986-87) e na avaliação e desenho curricular das cadeiras de Educação
CAPÍTULO 3 44
45
MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade Pilar Fort Zero to Three, EUA
Introdução Hoje em dia, existem profissionais de diferentes áreas dispostos a compartilhar a experiência de seu trabalho para fazer que os bebês sejam reconhecidos e respeitados na sua individualidade. Trabalho na organização Zero to Three (zero a três anos, “ZTT” na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que abraçou essa meta há mais de 30 anos. Há cerca de dez anos, nos EUA, houve uma série de acontecimentos que facilitou o caminho para aqueles que tentavam atrair a atenção dos legisladores, responsáveis pelas políticas públicas, e o público em geral, para a importância dos primeiros anos de vida das crianças.
46
CAPÍTULO 3
Esses eventos giraram em torno de temas como o desenvolvimento da educação e do
Hoje em dia, existem profissionais de diferentes áreas dispostos a compartilhar a experiência de seu trabalho para fazer que os bebês sejam reconhecidos e respeitados na sua individualidade. Trabalho na organização Zero To Three (zero a três anos, “ZTT” na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que abraçou essa meta há mais de 30 anos. Há cerca de dez anos, nos EUA, houve uma série de acontecimentos que facilitou o caminho para aqueles que tentavam atrair a atenção dos legisladores, responsáveis pelas políticas públicas, e o público em geral, para a importância dos primeiros anos de vida das crianças.
vistas como Time, Newsweek, US News e World Report) artigos sobre o desenvolvimento
cuidado infantil. Na época, foram publicados, em grandes veículos de comunicação, (recerebral. Além disso, foram realizadas duas conferências, na Casa Branca, com estudiosos da primeira infância. Em seguida, deu-se início à campanha de comunicação “Yo soy tu Niño/a” (Eu sou teu/tua filho(a)). Nesse momento, a ZTT colocou em prática uma iniciativa para informar os pais sobre a importância de seu papel como primeiros mestres e advogados dos direitos de seus filhos e filhas, destacando a relevância dos três primeiros anos de vida. O público reagiu muito bem. O discurso sobre os primeiros anos estava sendo divulgado e, com ele, a informação a respeito do desenvolvimento do cérebro e a importância de prover um ambiente adequado que facilite o desenvolvimento e a educação dos pequenos. O que se viu naqueles anos foi que o Congresso americano se tornou mais aberto para conhecer e apoiar iniciativas nacionais sobre o desenvolvimento do cérebro na primeira infância e alocar recursos para essa etapa da vida da criança.
Fundação da ZTT Em 1977, um grupo de clínicos, entre eles Reginald Lourie, Serena Wieder e Stanley Greenspan – tendo conselheiros como T. Berry Brazelton, Selma Fraiberg e Sally Provence – criaram o Clinical Infant Development Program (Programa Clínico para o De-
47
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade Pilar Fort
senvolvimento Infantil, CIDP na sigla em inglês), cujo objetivo era atender problemas
cepções que os responsáveis têm sobre as crianças; o trabalho de Slaly Provence sobre o
de avaliação e desenvolvimento emocional.
apoio às famílias e o desenvolvimento social; a pesquisa de Murphy, Escalona e Brazelton
No mesmo ano, o CIDP criou a Zero to Three: National Center for Infants, Toddlers and
sobre diferenças individuais; o projeto de Carolina Abecedarian; o programa de pesquisa
Families (Centro Nacional para Bebês, Crianças e suas Famílias). Uma das metas do gru-
da Universidade de Siracusa de Lally, Mangione, Honig e Wittmer em 1988; o projeto
po fundador da Zero to Three era a de capacitar profissionais interessados em saúde mental
da Perry Preschool de Schweinhart, Barnes e Weikart, de 1993; e o projeto Pré-Natal de
de bebês. Anos mais tarde, a Zero to Three continua tendo essa como uma de suas missões,
Elmira sobre primeira infância, por Olds e outros em 1997ii.
mas diversificou sua atuação por meio de programas de capacitação que são parte da rede Harris Professional Development, Early Head Start National Resource Center, iniciativa de liderança e capacitação para a classificação de diagnósticos, e do National Training
Como a ciência mudou a forma de ver o cuidado infantil?
Institute (Instituto Nacional de Treinamento, NTI em inglês), programa de consulta em práticas reflexivas e outras iniciativas sobre cuidado infantil.i
Os três primeiros anos de vida são de grande dinamismo, período no qual a criança capta as primeiras “lições” de como se organiza o mundo adulto. Pesquisas neurológicas reve-
48
Zero to Three é uma organização sem fins lucrativos, multidisciplinar, com mais de 30 anos de existência, cujo objetivo é difundir informação, capacitar e apoiar profissionais e responsáveis pela formulação de políticas públicas e pais de família que influenciam a vida de bebês e crianças. A missão da ZTT é promover o bem-estar e o desenvolvimento saudável de bebês, crianças e suas famílias.
laram que as crianças, nessa fase, edificam os primeiros alicerces do complexo sistema do aprendizado: pensar, falar e raciocinar . iii
Em setembro de 1980, foi lançada a revista Zero to Three: Boletim do Centro Nacional para Programas Clínicos de Bebês. A ideia era atingir pesquisadores e profissionais de diversas disciplinas, que trabalhassem com crianças e suas famílias. O objetivo era fazer que cada criança alcançasse seu potencial máximo de crescimento e desenvolvimentoiv.
A ZTT adota um enfoque multidisciplinar, reunindo perspectivas de muitas áreas e especialidades, baseando-se em estudos que mostram que todos os aspectos do desenvolvimento – social, emocional, intelectual, linguístico e físico – são interdependentes e trabalham juntos para promover a saúde da criança como um todo e o bem-estar em seu contexto familiar e cultural.
Irving Harris, prestigiado filantropo, visionário e defensor da causa infantil, batizou a revista com o nome Zero to Three muito antes de a organização chegar a esse nome. Os objetivos eram compartilhar novas e boas ideias com um grupo multidisciplinar de autores e leitores interessados em crianças; incrementar a qualidade dos serviços aos bebês e crianças; e contribuir para a base de conhecimento com uma linguagem livre de jargões e de fácil compreensão por todos.
Traduzido de ZTT “Early Years Matter”
Alguns princípios guiam essas publicaçõesv: 1. As edições devem ser temáticas. Assim, as diversas disciplinas são representadas, o que permite uma comunicação e compreensão interdisciplinar;
Por que a Zero to Three foca os primeiros anos?
2. Os leitores podem expor suas ideias e conhecimentos; 3. Os artigos devem ser curtos, acessíveis, atrativos e práticos;
Intervenções e práticas de qualidade têm contribuído para o bem-estar das crianças e da sociedade. Fundamentaram essas práticas as pesquisas de Selma Fraiberg sobre as per-
4. O conteúdo dos artigos não é revisado por colegas especialistas. A ideia é estimular o compartilhamento de pontos de vista entre pesquisadores;
49
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade Pilar Fort
5. Os leitores necessitam de um fórum com diferen-
Construindo o conhecimento
tes perspectivas para expor suas observações, gerar
50
1.a. Os bebês como comunicadores
2. Contexto:
Todos nós somos produto de nossas primeiras experi-
Deve-se explorar o contexto local e aprender quais
hipóteses e encontrar respostas para suas questões;
Uma das perguntas que eu me faria antes de come-
ências. O ambiente e o contato com adultos moldam
serão os melhores procedimentos que devem ser se-
6. O conteúdo deve ser de alta qualidade, mas de fácil
çar o trabalho nessa área é o que pensamos a respeito
nossa forma de pensar, ser, atuar, sentir e perceber va-
guidos para poder comunicar a importância dos pri-
leitura. As propostas devem poder ser aplicadas
dos complicados problemas sociais. O que se sabe a
lores, princípios e crenças.
meiros anos. Dessa maneira, os resultados serão mais
facilmente na prática.
respeito da situação atual da primeira infância? Quais
Os melhores comunicadores que existem são os bebês.
ajustados à realidade e permitirão que autoridades,
Os fundadores da Zero to Three contam-nos que “antes
referências as pessoas possuem? Você acredita que
Eles, de alguma maneira, comunicam suas necessida-
profissionais de diversas áreas e o público em geral
da ZTT, a fase de ‘0 a 3 anos’ não existia (Brazelton,
exista um consenso na definição do que é primeira
des, seus desejos, seus interesses e seus sentimentos.
colaborem com mais facilidade para melhorar as con-
Lally, Levy, Shahmoon-Shanok, Sparrow, Szanton,
infância? Qual a relação entre os bebês, a ciência, o
Em alguns momentos, fazem-no por meio do choro,
dições da infância.
2003)”. Em parte, foi por causa das publicações de vá-
desenvolvimento cerebral, as estratégias de comuni-
de sons, de expressões faciais, de gestos, de movimen-
É necessário um plano concreto para saber qual deve
rios relatórios e estudos nessa revista que o campo da
cação e este artigo? O que as pessoas pensam a res-
tos corporais, como sacudir de braços e pernas em si-
ser o passo seguinte. Primeiramente, é preciso saber o
primeira infância começou a ser reconhecido. Muitas
peito da criação de crianças e como você classifica o
nal de alegria ou ansiedade. Em outros, simplesmente
motivo pelo qual se pretende trabalhar com o tema da
pessoas, incluindo pais, público em geral e responsá-
modo como foi criado? Essas perguntas são de gran-
ficam quietos olhando fixamente. A comunicação fica
primeira infância. Por que se deseja chamar a atenção
veis por políticas públicas, não haviam tomado cons-
de valor e devem ser respondidas internamente muito
mais sofisticada à medida que vão crescendo, e os adul-
de legisladores, profissionais, famílias e público em ge-
ciência da importância desta faixa etária e sua relação
antes de se difundir a informação de que os primeiros
tos que estão por perto respondem a seus pedidos e
ral a respeito do tema?
com a criação de alicerces para o desenvolvimento fu-
anos são essenciais.
leem nessas expressões o que eles desejam comunicar.
Talvez tenhamos de começar com uma pergunta:
turo . Profissionais, responsáveis pelas crianças e suas
Na maioria das vezes, as pessoas informam-se pela
famílias deram-se conta de que eram parte de algo
mídia: jornais, televisão e rádio. Os meios de comu-
1.b. Os adultos como comunicadores
e público em geral façam para promover o cres-
maior . Em poucos anos, a Zero to Three transformou-
nicação captam a atenção dos ouvintes e leitores
Da mesma maneira, os adultos buscam expor seus in-
cimento e desenvolvimento saudável das crianças?
se em uma revista com credibilidade e reconhecida
com mensagens pouco elaboradas e simplistas as
teresses, sentimentos, desejos e objetivos aos outros. A
Precisamos mapear os possíveis obstáculos que va-
por divulgar os avanços no campo do conhecimento
quais as pessoas se apegam sem se dar conta. E como
princípio não sabem o que e como comunicar. Sim-
mos enfrentar à medida que caminhamos no senti-
da etapa 0 a 3 anos.
isso acontece?
plesmente utilizam meios menos sofisticados, mas que
do de colocar esse tema na agenda de diversas ins-
cumprem o objetivo de chamar atenção de um grupo
tituições e personagens.
vi
vii
Nos anos 90, Irving Harris teve a brilhante ideia de
o que queremos que os legisladores, profissionais
que tinha de chamar a atenção dos meios de comu-
Pensemos, sobretudo, nos recursos humanos que te-
pequeno. A ideia, nesse caso, é praticar como comu-
Outra demanda é escolher pontos críticos que ajudem
nicação, de celebridades e responsáveis por políticas
mos e no contexto que vamos atuar:
nicar e formar “aliados”. À medida que passa o tempo,
a comunicar nossas estratégias e mensagens. A ZTT,
conhecemos melhor nossas técnicas básicas de comu-
por exemplo, escolheu trabalhar três aspectos funda-
públicas. Harris sugeriu, em 1994, que a revista Zero to Three (Zero to Three Journal) incorporasse em um
1. Fator humano:
nicação. Paralelamente, ampliamos nosso círculo e
mentais: boa saúde, famílias fortes e experiências po-
de seus artigos o relatório Starting Points, da Carne-
Acredita-se que as melhores pessoas para comunicar
notamos que existem outras maneiras de comunicar
sitivas de aprendizagem inicial. O passo seguinte foi
gie Corporation, que incluía os mais recentes estudos
as necessidades de bebês, crianças e suas famílias
que funcionam melhor ou pior dependendo do con-
focar as políticas públicas. A ZTT escolheu esse en-
sobre o cérebro, com o intuito de captar a atenção de
são os profissionais que trabalham em contato com
texto. Como no caso dos bebês, nossa comunicação
foque por avaliar que, se não forem produzidas mu-
formadores de opinião.
esse público.
torna-se mais complexa quando existe o desejo de ex-
danças num universo macro, todo esforço que se faz
pandir nossos limites.
em outro nível não vai produzir o resultado esperado.
51
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade Pilar Fort
Dada essa perspectiva, observou-se que eram necessá-
mensagens, portanto, podemos transmitir para que o
Da mesma maneira, todas as pessoas que desejam
• Que estratégias permitem às pessoas que se envol-
rias políticas públicas que promovessem a saúde, in-
ambiente onde nossas crianças vivem seja adequado
comunicar em nome dos bebês e crianças pequenas,
vem com esta causa pensar sobre o impacto de suas
cluindo a saúde física, intelectual, social, emocional e
para que cresçam saudáveis e felizes?
precisam construir esses laços sociais e afetivos. É pos-
decisões na vida das crianças e suas famílias?
o desenvolvimento da criança. Essas políticas públicas
sível que haja uma diferença quando realizamos uma
deveriam apoiar as famílias em suas necessidades
comunicação dentro de um ambiente de cordialidade
3. Usar a comunicação como catalisadora para a mudança
e se conhece as pessoas e o entorno. É possível que
• Como utilizar as estratégias de comunicação para
para construir essas relações tenhamos de mudar nos-
fomentar mudanças para que o público valorize as
sas estratégias de comunicação, especialmente se esta-
crianças pequenas e suas famílias?
básicas, como moradia, saúde, qualidade da educação e qualidade nos serviços.
Recomendações para estratégias efetivas de comunicação
Uma maneira de fazer que a sociedade melhore
52
as condições de vida das suas crianças é entender
Como vimos anteriormente, uma das missões abra-
mos trabalhando com crianças e suas famílias por um
• Que estratégias podem produzir mudanças?
como as famílias são atendidas pelas políticas públi-
çadas pela ZTT foi a de comunicar efetivamente as
longo tempo. O tipo de comunicação que fazemos in-
• O que funciona em algumas comunidades e o que
cas. Se os pais têm acesso a políticas que os ajudam
práticas baseadas em suas pesquisas de campo. Essa é
fluencia mudanças nas políticas públicas.
a satisfazer suas necessidades básicas, haverá um im-
uma arte que requer trabalho árduo de reflexão sobre
pacto positivo no fortalecimento de toda a família,
o que comunicamos e como as pessoas interpretam o
2. Marco de referência e comunicação – Como disse
4. Conscientizar para o problema
na saúde das crianças e na sua possibilidade de ter
que queremos comunicar.
Rappaport, “não podemos ser especialistas em tudo,
• Qual é a visão da comunidade?
um ambiente melhor para a aprendizagem e o de-
A seguir, algumas dessas estratégias, com base no que
mas os marcos de referência nos permitem compre-
senvolvimento.
a Zero to Three e outras agências têm usado, e algumas
ender a informação que estamos recebendo de tal ma-
5. Priorizar tempo e recursos para atividades que pro-
A chave para um bom desenvolvimento e cresci-
recomendações da FrameWorks :
neira que possamos estar prontos para processar uma
duzam mudanças
nova informação”ix.
• Criar um balanço de atividades sustentáveis; • Usar o mercado social: criar consciência, conduta
viii
mento dos bebês está em criar sistemas cujas políti-
não funciona?
cas reflitam apoio às famílias, serviços e programas
1. A construção de relações – O que tem a ver a constru-
Para criarmos marcos de referência que permitam
de qualidade e profissionais preparados. O Progra-
ção de relações com comunicação? Quando focamos
uma comunicação efetiva, necessitamos refletir sobre
ma de Cuidado de Bebês e Crianças (PITC) – cuja
nosso trabalho na ideia principal de comunicar a impor-
o propósito das ações a serem tomadas e é necessário
• Política: campanhas eleitorais, buscar apoio;
missão é assegurar que os bebês sejam saudáveis,
tância dos três primeiros anos de vida de uma criança,
fazer as seguintes perguntas:
• Comercial: mercado, publicidade, relações públicas;
emocionalmente seguros e intelectualmente desen-
quase sempre a “construção das relações” passa desa-
volvidos desde o começo de sua vida – recomenda
percebida. Entretanto, construir relações e estabelecer
• O que se deseja comunicar?
que, se quisermos dar a atenção apropriada às crian-
as primeiras experiências é um exercício fundamental
• Qual é o público?
ças menores de 3 anos, devemos ter pessoal capaci-
para o desenvolvimento futuro de uma pessoa. Os be-
• Como as pessoas vão receber essa mensagem?
6. Advocacia social ou lobby – é um dos pontos princi-
tado para atender à população infantil, com práticas
bês e as crianças pequenas expressam suas necessidades
• Que metas queremos atingir?
pais da atuação da ZTT. O trabalho é feito por meio da
adequadas que proporcionem um ambiente positivo
por meio de gestos, sons, choro e movimentos corporais.
• Para que queremos construir conhecimento?
participação em fóruns nos quais são discutidas estra-
de aprendizagem e desenvolvimento. Somente des-
Para isso, precisam se sentir confortáveis com o ambien-
• Como fazer uma reflexão profunda de comunica-
tégias para melhorar as condições de vida das crianças
sa maneira os bebês e crianças alcançarão as metas
te em que vivem e ter construído laços afetivos para po-
que suas famílias desejam e traçam para eles. Que
der, de fato, comunicar o que desejam.
individual;
• Desejo do público: lobby público, mudanças de
ção especifica para a primeira infância?
políticas.
ou das suas famílias, como, por exemplo, a qualidade
53
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Assegurar que os bebês e as crianças sejam uma prioridade Pilar Fort
dos programas que servem às crianças menores de três
ticas públicas estão funcionando a favor dos bebês e
prehensive Developmental Approach to Assessment
KIRWAN, Ann (2001). The Art of the Possible: Getting
anos, políticas de apoio especial às famílias em crise, e
quais políticas públicas são necessárias para melhorar
and Intervention, DC: Zero to Three, 24, 1, 2001.
Involved in Policy Change. DC: Zero to Three. Retrie-
leis de proteção à criança.
a situação das crianças e suas famílias.
iii
SHONKOFF, Jack e PHILLIPS, Deborah A. Natio-
ve November 7, 2009.
nal Research Council and Institute of Medicine, From
54
Para isso, é preciso:
Apesar de ter mencionado que os bebês são vulneráveis,
Neurons to Neighborhoods: The Science of Early Chil-
LALLY, R. & MANGIONE, P. . The Program for In-
a) Compartilhar a visão e missão da ZTT;
lembremos também que são seres únicos e os maiores
dhood Development, eds. Washington, DC: National
fant/Toddler Care. CA: WestEd, 2009.
b) Focar nas metas da organização: “qual é a visão
interessados em conhecer o que acontece ao seu redor.
Academy Press, 2000.
da comunidade?’;
Suas necessidades são múltiplas e complexas, mas po-
iv
BRAZELTON et al . Once Upon a Time, When
PARLAKIAN, Rebecca. Creating a System of High-
c) Focar nos princípios.
demos encontrar muitas soluções, se tivermos sensibi-
the Journal Zero to Three Was Born, DC: Zero to
Quality Child Care for Babies and Toddlers: Linking
lidade e consciência. Saiba qual é o público para quem
Three, 30, 2, 2009.
to Good Start, Grow Smart. DC: National Infant &
7. Criar um espaço virtual de comunicação do qual
você vai expor o tema da primeira infância. Lembre-se
v
o profissional possa se tornar membro para comparti-
que muitos investidores e legisladores não têm muito
vi
lhar seus êxitos e desafios. Uma espécie de Facebook,
tempo para ler ou escutar a mensagem. Os bebês e
Zero to Three, 30, 2, 2009.
Orkut ou Twitter.
crianças tampouco têm muito tempo, eles crescem e
vii
se desenvolvem com um dinamismo extraordinário.
Journal Zero to Three Was Born, DC: Zero to Three,
8. Unir forças – reunir entidades, indivíduos, universi-
Além disso, é fundamental que cada um de nós seja
30, 2, 2009.
dades e outras instituições interessados neste tema para
“fã das crianças”, pois a paixão pelo trabalho converte-
pensarmos como poderíamos unir forças e apresentar
rá corações e fará que as políticas públicas reflitam o
PageServe?pagenameter_pub_framing.
uma só agenda para que a sociedade tome consciência
bem-estar da infância em nosso país.
Retrieve November 3, 2009.
da importância dos três primeiros anos de vida.
Idem
vii
ix
Toddler Child Care Initiative @ Zero to Three.
MELMED, Mathew. Zero to Three: Reflections. DC: BRAZELTON et al . Once Upon a Time, When the
The Baby Monitor, series. http://zerotothree.org/site/
Zero to Three JOURNAL. New Frontiers in Science, Policy, and Practice. DC: Zero to Three, Vol. 30, 2, 2009. Zero to Three JOURNAL. Celebrating 25 Years of Working with Infants, Toddlers, and Families. DC: Zero to Three, Vol 24, 1, 2003.
RAPPAPORT, Debbie M. Framing Early Chil-
Zero to Three Policy Center Network. Framing Ear-
Parece que o caminho a ser percorrido quando se trata
Nota: Este artigo foi elaborado com base em docu-
dhood Development: Recommendations for Infant-
ly Childhood Development: Recommendations for
de conscientizar a sociedade é extenso, mas, para pais
mentos que a Zero to Three publicou em sua página
Toddler Professional & Advocates, DC: Zero to Three,
Infant-Toddler Professionals & Advocates. The Baby
de família, responsáveis, educadores ou pesquisadores,
na Internet, na revista Zero to Three e diálogos com a
Policy Network.
Monitor series, www.zerotothree.org/policy (retrieve
a mensagem é a mesma: os bebês necessitam de trata-
equipe da instituição.
October 31, 2009).
mento especial.
Referências
Convide indivíduos da sua comunidade para um diálogo e, juntos, listem as prioridades dos bebês, das
Citações
crianças e das famílias da região. Delimite os proble-
KELLEGREW, D., & YOUCHA, V. (2004). Zero to
mas mais importantes, quais serviços podem ser ofe-
i
. HARMON, Robert (2003). Thirty Years in Infant
Three’S Model of Leadership Development: Knowing
recidos, quais especialistas são mais atualizados, quais
Mental Health, DC: Zero to Three, 24, 1.
and Doing in the Context of Relationships. DC: Zero
êxitos podem ser compartilhados, quais lições foram
ii.
aprendidas, quais desafios foram vencidos, quais polí-
Infant and Early Childhood Mental Health: A Com-
GREENSPAN, Stanley & SERENA, Wieder .
to Three. Retrieve November 7, 2009.
55
SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio Fundação Arcor, Argentina
Como podemos sensibilizar a sociedade sobre a infância, os direitos infantis, as situações de vulnerabilidade pelas quais passam os meninos e as meninas de diversos países? Como podemos mobilizar grupos de pessoas com conhecimentos diferenciados, valores, preconceitos e ideais sobre situações muitas vezes invisíveis porque seus principais protagonistas – as crianças – não têm a possibilidade de se fazerem ouvir? Questionarmo-nos mostra o caminho que devemos seguir. É por isso que é de extrema importância a iniciativa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal de organizar e promover um workshop, já que é um espaço para colocar esses temas em discussão. Antes de começar a explicar as estratégias de trabalho da Fundação Arcor, gostaria de
CAPÍTULO 3 56
Como podemos sensibilizar a sociedade sobre a infância, os direitos infantis, as situações de vulnerabilidade pelas quais passam os meninos e as meninas de diversos países? Como podemos mobilizar grupos de pessoas com conhecimentos diferenciados, valores, preconceitos e ideais sobre situações muitas vezes invisíveis porque seus principais protagonistas – as crianças – não têm a possibilidade de se fazerem ouvir? Questionarmonos mostra o caminho que devemos seguir.
fazer um breve histórico. A Fundação Arcor é uma entidade sem fins lucrativos. Foi criada em dezembro de 1991 pelo Grupo Arcor como expressão do compromisso e da responsabilidade social herdada dos fundadores da empresa, visando contribuir de maneira orgânica e corporativa para o tratamento e a solução das necessidades dos setores mais vulneráveis da população. É uma entidade privada de origem empresarial (já que foi criado pelo Grupo Arcor), profissional (sua ação é organizada em torno de programas, e iniciativas e suas estratégias, planejadas a partir de objetivos), pró-ativa e não operacional (adianta-se às demandas da comunidade e suas iniciativas são executadas por meio de projetos desenvolvidos por organizações da sociedade civil), doadora e cooperadora (financia projetos somando fundos aos já arrecadados pelos participantes, procurando promover a sustentabilidade das iniciativas que apoia técnica e financeiramente). Por isso, desde que foi criada, em 1991, a Fundação assumiu o desafio de colocar a infância como foco central de seu programa, cujo objetivo é fortalecer a liderança, a autonomia, a capacidade associativa e a responsabilidade nas comunidades. Os parâmetros do trabalho estão dentro da Política de Investimento Social do Grupo Arcor, que procura melhorar as condições de vida da sociedade, especialmente daqueles setores que têm seus direitos violados. Nosso trabalho é regido pela missão: “Contribuir para que a educação seja uma ferramenta de igualdade e oportunidades para a infância”. A Fundação Arcor contribui, portanto, para mudar a situação da infância, de maneira a fortalecer as organizações comunitárias que trabalham com o desenvolvimento integral
57
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio
da criança, a partir de uma perspectiva educativa. Para isso, as ações da Fundação são pautadas por duas estratégias institucionais:
4. Mobilização social e pública: por meio de estudos, seminários, conferências e convênios com empresas e municípios, promover a mobilização de outros atores do setor público e privado para que entendam a criança como responsabilidade de todos.
a. Gestão de conhecimento: Produzir e compartilhar conhecimentos teóricos e metodológicos que contribuam para
O planejamento das diferentes estratégias transversais de comunicação e das linhas
a igualdade de oportunidades educativas.
de ação está direcionado à sensibilização dos seguintes grupos de audiências (públicos organizacionais):
b. Mobilização e incidência: Contribuir para colocar na agenda pública o trabalho em prol da igualdade de oportu-
1. Comunidades
nidades educativas para a criança.
2. Grupo Arcor 3. Setor privado (empresas e organizações pares)
58
Com critérios profissionais e visão de longo prazo, a Fundação Arcor trabalha por
4. Entidades acadêmicas
meio de quatro linhas de ação: Iniciativas territoriais, Estudos e investigação, Capa-
5. Organizações internacionais
citação e formação e Mobilização pública e social.
6. Membros do governo
As linhas de trabalho são norteadas por uma estratégia comum que promove a difusão de
7. Meios de comunicação
suas atividades e a publicação de suas experiências e aprendizados, a fim de sensibilizar a
8. Sociedade em geral
sociedade e influenciar as práticas e políticas a favor da infância. Considerando as características distintas desses grupos, as estratégias de comunicação e divulgação são definidas de acordo com os públicos, conforme o maior ou menor grau de
Linhas de ação
sensibilização que eles possuem.
1. Iniciativas territoriais: Apoio e promoção de projetos educativos executados por organizações articuladas em comunidades de todo o país, contribuindo para a efetivação do
Estratégias adotadas pela Fundação Arcor
direito à educação de suas crianças; Para a Fundação, a comunicação serve para mobilizar e promover a sensibilização 2. Estudos e pesquisas: Desenvolvimento pela Fundação Arcor ou em parceria com
dos públicos mencionados por meio das seguintes ferramentas:
centros de estudos e unidades acadêmicas de pesquisas vinculadas ao tema da criança e que gerem conhecimentos relevantes;
A. Produção e divulgação de publicações; B. Desenvolvimento de produtos de comunicação externa: website, newsletters,
3. Capacitação e formação: Execução e apoio a propostas de formação e capacitação que tenham o objetivo de fortalecer as pessoas e organizações que atuam na área da infância;
vídeos, revistas; C. Campanhas de comunicação interna; D. Sinergia com estratégias de comunicação externa;
59
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio
E. Assessoria de imprensa na temática da infância;
• Website (www.fundacionarcor.org): o site da Fundação tem cerca de 120 mil visitas
F. Sensibilização dos jornalistas e formadores de opinião;
mensais. Oferece informação sobre as atividades institucionais e tem uma biblioteca
G. Sensibilização do setor privado;
virtual on-line em três línguas (português, espanhol e inglês) com o resumo de mais de
H. Desenvolvimento de portal especializado;
130 publicações editadas e apoiadas pela Fundação Arcor, que podem ser baixadas da
I. Alianças com meios de comunicação;
internet gratuitamente. O site oferece também uma videoteca, uma seção de novida-
J. Desenvolvimento de eventos públicos.
des e links para iniciativas e outros sites de interesse. Há também uma seção, chamada “Diálogos com...”, em que são publicadas, periodicamente, entrevistas em profundidade com especialistas em infância, educação e direitos. Em breve, o site contará ainda
A. Produção e divulgação de publicações
com um portal de e-learning. Proporcionar interatividade com os usuários por meio de blogs e do uso das redes sociais ainda é um desafio.
A Fundação Arcor produz e apoia a produção de publicações sobre a temática da infância e da educação com o objetivo de compartilhar conhecimentos e aprendizados. 60
• Vídeos: documentários que sistematizam as experiências desenvolvidas em diferentes
Sua estratégia editorial está estruturada na produção de: estudos, sistematizações, ferramen-
partes do país, evidenciando as particularidades regionais e geográficas das crianças e
tas, revistas temáticas e publicações institucionais.
organizações. Esse material é utilizado em intercâmbios e capacitações e possibilita a
Desde sua fundação, editou, promoveu e apoiou mais de 130 publicações disponíveis gra-
disseminação de metodologias de trabalho
tuitamente. Essas publicações são também muito importantes para o desenvolvimento de ciclos de capacitação e funcionam ainda como fomentadoras de ações de mobilização. Para fazer o download das publicações, basta acessar nosso site: www.fundacionarcor.org.
C. Campanhas de comunicação interna A produção de ferramentas específicas de comunicação interna direcionadas aos
B. Desenvolvimento de produtos de comunicação externa
funcionários do Grupo Arcor tem por objetivo divulgar a temática da infância e da educação para gerar, em seu público interno, conhecimento e identificação com o
Com o objetivo de informar a sociedade sobre seu trabalho, a Fundação Arcor produz
foco da Fundação. Para a execução desta estratégia de comunicação são utilizados os
uma revista institucional, publicada a cada quatro meses. São revistas informativas com
seguintes canais:
um eixo temático transversal a cada número. Além disso, fazem parte da comunicação externa da Fundação as seguintes ferramentas:
• Revista Tempo de Fundar: revista interna produzida em três versões (relacionadas às três zonas geográficas: NOA – Nordeste; NEA – Noroeste, e região do Cuyo Sul, onde
• Newsletter infOEC: newsletter bimestral que divulga informação, experiências de
se localizam as plantas industriais da empresa). Tem o objetivo de se aproximar dos
projetos, entrevistas, agenda e publicações recomendadas. O informativo gira em tor-
funcionários da Arcor. Dentre outros temas, essa publicação divulga material sobre o
no da iniciativa Oportunidades Educativas Comunitárias (OEC). São 1.500 assinan-
trabalho da Fundação, sobre seus projetos assim como informação de interesse para
tes – em sua maioria, docentes, trabalhadores sociais e ONGs.
toda a família sobre infância, educação e direitos da criança.
61
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio
• Intranet: nesse canal são publicadas, semanalmente, notícias sobre a empresa, com
F. Sensibilização de jornalistas e formadores de opinião
novidades sobre os projetos e ações executados, bem como notícias sobre temas de interesse para os colaboradores.
Mantemos, desde 2003, uma parceria estratégica com a Seção do Jornalismo Social da Infância, da rede ANDI (Agência de Notícias pelos Direitos da Infância). Essa inicia-
62
• Campanhas internas: em parceria com o Grupo Arcor, são criadas campanhas de
tiva promove a cultura de defesa e proteção dos direitos da criança e do adolescente, a
sensibilização e informação sobre os direitos das crianças dirigidas ao público interno
partir de trabalhos sistemáticos de observação, investigação e capacitação dos meios de
e seus familiares. Em 2009, em razão do 20º Aniversário da Convenção dos Direitos
comunicação, realizados em conjunto com especialistas e organizações sociais. Dentre
da Criança, foi feito o concurso interno “Desenhando nossos direitos”. O Grupo Arcor
as ações executadas estão o monitoramento e clipping de notícias, por meio da produção
e a Fundação Arcor organizaram um concurso de desenhos para os filhos e filhas dos
de agenda de atividades, de relatórios especiais, de bancos de fontes e da elaboração de
colaboradores da empresa na Argentina. No total, participaram 766 meninos e me-
pautas para jornalistas.
ninas de todo o país. O concurso fez parte de uma campanha de promoção e difusão
Foram elaborados cinco relatórios de monitoramento da atuação da imprensa argentina
dos direitos das crianças, direcionada aos colaboradores do Grupo e suas famílias. A
na cobertura da infância e a adolescência. Em 2009, foi apresentado o primeiro relatório
atividade ofereceu informação sobre quais são esses direitos, o que significam e a im-
temático do projeto: O Confinamento Mídiatico – o trabalho faz parte da série “Criança
portância de serem efetivados.
e adolescência na imprensa argentina”. Editado anualmente desde 2005, é uma análise detalhada sobre o que os 22 diários de todo o país publicaram no ano anterior em relação a crianças em conflito com a lei. Nesse contexto, foi entregue também o prêmio Jornalista
D. Sinergia com estratégias de comunicação externa
Amigo da Criança, que já conta com 58 jornalistas comprometidos com a temática.
Procuramos sinergias e objetivos comuns da Fundação com o Grupo Arcor no que diz
São desenvolvidas também:
respeito às ações de investimento social na infância. Nesse contexto, são publicadas notas de interesse sobre esse tema no site do Grupo Arcor e são realizadas consultorias para o desenvolvimento de produtos com causa social.
• “Dicas” ou pautas específicas: pautas elaboradas a partir de acontecimentos pontuais pensadas para estimular a inclusão na mídia de temas que, por uma ou outra razão, não são cobertos pela mídia.
E. Assessoria de imprensa sobre a temática da infância
• Clipping diário: seleção e resumo das principais notícias do dia sobre temas da infância e adolescência publicadas pelos canais de mídia monitorados. Tem por objetivo des-
Como parte da estratégia de relação com os meios de comunicação, e com objetivo de
pertar o interesse na divulgação do tema pelos jornalistas que ainda não o fazem ou o
incluir a infância na agenda pública, a Fundação Arcor trabalha com a assessoria de im-
fazem ocasionalmente.
prensa divulgando informações sobre temas centrais relacionados à infância. É assim que temos conseguido a publicação de uma média de três notícias diárias nos principais meios de comunicação de todo o país.
• Agendas semanais: cronograma semanal de atividades e eventos sobre infância e adolescência. A agenda é transformada em pauta e enviada para a mídia que pode cobrir
63
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio
os eventos. Essas agendas ampliam a visibilidade do tema na mídia e as atividades de
* Guias de autoavaliação voltados para grandes, pequenas e médias empresas disponíveis
ONGs relacionadas à infância e à adolescência e permitem o estreitamento das relações.
no site: http://www.empresasxlainfancia.org/. Sua construção foi realizada a partir do manual de ação empresarial O que as empresas podem fazer pelas crianças?. O questio-
• Trabalho com editores: esta estratégia foi escolhida porque o trabalho com os editores
nário on-line permite efetuar uma autoavaliação sobre os compromissos assumidos e as
e chefes de redação traz resultados efetivos em curto prazo, resultando na publicação
ações que as empresas estão realizando em matéria de proteção e promoção dos direitos
imediata de alguns temas estratégicos e na cobertura do tema.
da infância. Constitui, além disso, um bom ponto de partida para identificar aspectos não considerados por cada companhia, resultando na identificação de oportunidades a
• Apresentações e inclusão dos temas da área da infância em jornadas, debates, confe-
serem trabalhadas nos próximos planejamentos.
rências e exposições públicas voltadas para editores e chefes de redação em universidades, sindicatos de imprensa, institutos educativos e outras organizações relacionadas ao trabalho jornalístico.
• Formação de formadores: por meio de parcerias com organizações de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) locais, procuramos multiplicar as atividades de capacitação e disseminação de práticas exemplares. Para isso, foram realizados seminários de Formação de Formadores em algumas cidades argentinas como Jujuy, Tucuman, Rosário,
64
G. Sensibilização do setor privado
Reconquista, San Lorenzo, Entre Rios, Córdoba, Mendonça e San Martin dos Andes.
Procuramos mobilizar e somar o esforço do setor empresarial no sentido de promover
• Banco de práticas exemplares: está dividido em grandes, pequenas e médias empresas.
o investimento social em temas da infância com o objetivo de contribuir e melhorar as
Possui uma ferramenta de busca por dimensões da RSE e pelos pilares dos direitos da
oportunidades educacionais para as crianças. Entendemos a infância como um lugar de
criança. É um espaço de consulta criado para atender à necessidade de informação do
encontro dos diferentes atores sociais. Nesse sentido, vale destacar:
setor empresarial e dos públicos interessados em conhecer casos concretos e reais de investimento social empresarial em infância e adolescência.
• Espaço Empresas pela Infância: promovido pela Fundação Arcor em parceria com Unicef e Save the Children. Com essa iniciativa, procuramos engajar um rol ativo e efetivo de empresas e fundações empresariais em programas de investimento social dirigidos
H. Desenvolvimento do portal especializado
à infância e à adolescência, com foco na garantia dos seus direitos. Nesse sentido, são realizadas as seguintes ações:
Desenvolvemos o portal regional “Justiça para a infância – Seção Latino americana” (www.equidadparalainfancia.org). Procura ser um espaço que reúne experiências e co-
• Desenvolvimento e lançamento do portal Empresas por la Infancia (www.empre-
nhecimentos das diversas organizações que trabalham pelo bem-estar e pelos direitos da
sasxlainfancia.org): contém dados úteis, informação sobre a situação da infância
infância na América Latina. É uma iniciativa do programa de graduação em Relações
na Argentina, pesquisas, publicações, práticas empresariais de referência e depoi-
Internacionais (GPI) da Universidade norte-americana The New School, desenvolvido
mentos. Mensalmente é publicada uma newsletter sobre a iniciativa que tem como
em conjunto com a Fundação Arcor e com o Instituto Arcor Brasil.
objetivo sensibilizar, motivar, informar e convidar os usuários a utilizar os recursos e informações disponíveis no site.
65
CAPÍTULO 3 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO SENSIBILIZAÇÃO SOBRE O TEMA DA INFÂNCIA: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DIRIGIDAS À COMUNIDADE EM GERAL Vanina Triverio
I. Alianças com meios de comunicação
J. Desenvolvimento de eventos públicos
Conclusão
Com o objetivo de inserir a temática da infância na
Com o propósito de sensibilizar e informar a socieda-
Trabalhar para gerar melhores oportunidades educacionais para a infância requer a união
agenda pública por meio da mídia, a Fundação Arcor
de sobre temas vinculados à infância, à educação e à
de esforços e vontades. Na Fundação Arcor, vemos na infância uma potencialidade inte-
estabelece parcerias com os principais jornais do país,
violação de direitos, são realizados diferentes eventos e
gradora. Ela é concebida como um espaço de encontro entre diversos atores que podem
visando produzir cadernos especiais sobre os temas
ações públicas. Merecem destaque duas ações desen-
somar contribuições e gerar ações de longo prazo que garantam os direitos de meninos e
ligados à infância. Tais cadernos são publicados em
volvidas no contexto do 20º Aniversário da Convenção
meninas, a partir de uma perspectiva educativa.
importantes canais de comunicação como, por exem-
dos Direitos da Criança. São elas:
Dessa forma, procuramos recriar a infância como “um novo espaço público” com a parti-
plo, o jornal La Voz del Interior (Córdoba), que tem
66
cipação e a responsabilidade de todos. Para isso, promovemos um trabalho articulado, mo-
tiragem diária de 48 mil unidades; o jornal La Capital
• Mostra fotográfica Infância: vários mundos, reali-
bilizando outros atores públicos e privados por meio de estudos, seminários e convênios
(Rosário – Santa Fé), com uma tiragem de 33 mil uni-
zada em parceria com a Fundação Walter Ben-
com empresas, municípios e instituições acadêmicas, de forma a inserir o tema na agenda
dades; o jornal Los Andes (Mendoza) com tiragem de
jamin. A mostra expôs um conjunto de 30 foto-
pública e social.
23 mil unidades; e um dos principais jornais do país, o
grafias integrantes do concurso fotográfico de
jornal Clarín, com uma tiragem de 327 mil unidades.
mesmo nome, organizado pela Fundação Walter
São realizados também os spots para televisão “Vozes”,
Benjamin e pela Fundação Arcor, entre os anos
VANINA TRIVERIO
em parceria com o canal Encontro e as Fundações
2005 e 2009. Teve como objetivo apresentar uma
Formada em Relações Públicas e Institucionais pela Universidade Empresarial Siglo 21.
Avina e Wachay. São veiculados pelo Canal Encontro
visão clara da situação da infância na Argentina
Pós-graduada em Gestão de Comunicação Organizacional pela Universidade de Belgrano.
spots de dois minutos de duração, chamados “Vozes,
e divulgar o tema a partir do material fotográfi-
Professora e palestrante em seminários e congressos sobre comunicação de entidades filan-
os pequenos querem falar com os grandes”. Meninos
co que registra diferentes situações do dia a dia,
trópicas. Desde 2004, é Coordenadora da Área de Comunicação e Difusão da Fundación
e meninas de diferentes pontos do país explicam o que
ligadas aos primeiros anos de vida, à diversidade
Arcor. Anteriormente, trabalhou como consultora nas áreas de comunicação, imprensa,
entendem por seus direitos. Ao todo foram produzidos
cultural, às expressões artísticas e culturais e aos
relações públicas e de protocolo do governo da província de Córdoba, na Argentina.
20 spots, que vão ao ar em diversos horários da progra-
espaços onde vive e convive a infância.
mação do canal. Para sua produção foram feitos seminários de discussão com as crianças e adolescentes de
• Vídeos Sabia que...: a Fundação Arcor, em conjunto
Buenos Aires, Misiones, Rio Negro, Córdoba e Jujuy.
com o Grupo Via, apresentou aos usuários do metrô
Neles, seus protagonistas analisaram e expressaram
de Buenos Aires, uma série de cinco vídeos deno-
como interpretam e como se sentem em relação ao
minados Sabia que.... A cada duas horas mais de 1,5
reconhecimento dos seus direitos. O objetivo desse
milhão de pessoas assistiram aos filmes sobre a situa-
projeto é ser um canal de informação, disseminação
ção da infância nas grandes cidades da Argentina no
e reflexão sobre os direitos da infância e incorporar as
circuito fechado da TV do metrô.
crianças como sujeitos ativos na comunicação.
67
CAPÍTULO 4 68
69
DISSEMINANDO INFORMAÇÕES PARA AS FAMÍLIAS POTENCIALIZAREM O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças Glória Carvalho Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde) , COLÔMBIA
I. Cinde, Colômbia: missão e campos A Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde) é um centro de investigação e desenvolvimento, fundado em 1977 por Glen Nimnicht e Marta Arango, com sede na Colômbia e nos Estados Unidos. O eixo central da nossa atuação é a criação de ambientes adequados para um desenvolvimento físico e psicossocial saudável das crianças e jovens que vivem em condições vulneráveis, por meio do trabalho com a família, a comunidade e as instituições educativas. Nossa missão é promover o desenvolvimento humano integral dos meninos, meninas e jo-
CAPÍTULO 4 70
A Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde) é um centro de investigação e desenvolvimento, fundado em 1977 por Glen Nimnicht e Marta Arango, com sede na Colômbia e nos Estados Unidos. O eixo central da nossa atuação é a criação de ambientes adequados para um desenvolvimento físico e psicossocial saudável das crianças e jovens que vivem em condições vulneráveis, por meio do trabalho com a família, a comunidade e as instituições educativas.
vens da Colômbia e de outros países por meio do desenvolvimento de soluções alternativas inovadoras, de acordo com o contexto social, a formação de talento humano, a disseminação de experiências, a participação em redes e o impacto em políticas. Para isso, fazemos uso de três estratégias: 1) desenvolver a habilidade da família, da escola e da comunidade para atender as crianças, 2) formar profissionais com capacidade inovadora para enfrentar os problemas da infância e 3) divulgar experiências significativas de atendimento à infância. Os campos de ação da Cinde dividem-se em: 1) desenvolvimento de inovações de atendimento à infância e à juventude, 2) formação avançada e 3) divulgação e impacto.
II. Apresentação geral do programa Promesa (Programa para o aperfeiçoamento da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente) O programa é um projeto de desenvolvimento social integrado, que inclui educação, nutrição, saúde e saneamento, e concentra-se na criação de ambientes adequados para um desenvolvimento saudável das crianças (desde seu nascimento até os seis anos de idade). A metodologia foi baseada no máximo aproveitamento dos recursos locais, humanos e materiais, na cultura e na experiência das pessoas da localidade. Começou em quatro comunidades rurais da costa pacífica de Choco, Colômbia, e logo se estendeu a outras 30 comunidades da mesma região. No princípio, o projeto foi coordenado pelas Irmãs Teresitas Missionárias Católicas em conjunto com a direção do Laboratório
71
CAPÍTULO 4 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças Glória Carvalho
Internacional de Educação (LIDE), cujo nome foi trocado posteriormente para Cinde.
A. Estratégias de comunicação e formação
B. Tipos de programas
O programa inicialmente se concentrou no componente psicossocial das crianças entre
As estratégias são as seguintes: o desenvolvimento de
O Promesa realizava três tipos de programas: aque-
3 e 6 anos de idade e nos processos educacionais para a formação de líderes comunitários,
diferentes tipos de programas e projetos, a utilização
les orientados a fortalecer a habilidade da família
especialmente mulheres (Arango & Nimnicht, 2005).
de um sistema de formação em cascata que chega às
para atender as necessidades de seus filhos da pers-
bases, o emprego de um sistema flexível de aprendiza-
pectiva de seu desenvolvimento integral; os direcio-
do para o desenvolvimento das competências respecti-
nados ao fortalecimento das habilidades dos pais
vas e o uso do jogo como estratégia.
para satisfação de suas próprias necessidades e seu
Os diferentes tipos de programas e projetos incluem
desenvolvimento pessoal; e os direcionados à melho-
os de caráter permanente, direcionados à família, cujo
ria do ambiente físico.
Promesa: Programa para o aperfeiçoamento da educação, da saúde e do meio ambiente Objetivo principal e enfoque
Desenvolver um ambiente apropriado para o desenvolvimento saudável das crianças
72
Princípios praticados
Processos e estratégias
Abertura e flexibilidade
01. A família como integrador central
objetivo é melhorar os ambientes para um desenvolvi-
Os programas para fortalecimento da habilidade da
Participação
02. Agentes educativos da comunidade
mento saudável e integral das crianças; e os de caráter
família incluem reuniões semanais de duas horas
Organização
03. Agentes externos como facilitadores e catalisadores
especifico, direcionados à solução de problemas detec-
para mães, assim como o uso de brinquedos e jogos
tados pela comunidade.
educativos em casa, e seminários, grupos de estudo
O sistema de formação em cascata funciona em dife-
e atividades de acompanhamento para promotores.
rentes níveis: desde a formação de famílias, em grupos
Os programas para fortalecimento das habilidades
de 25 a 35 participantes, até a formação de promotores
dos pais são direcionados a: a) apoiar o melhor uso
ou líderes e de multiplicadores e de assessores.
dos recursos do contexto social para fortalecer a li-
Integração Relevância cultural Diversificação Conhecimento Autoexpressão Expressão cultural Autocorreção Reflexão coletiva Autodireção
04. Trabalho prioritariamente com recursos locais: humanos, materiais e institucionais 05. Sistema flexível de aprendizado com ênfase em autoaprendizado e estratégias de aprendizado mútuo 06. Recuperação e uso de processos de aprendizado e práticas culturais típicas 07. Democratização e socialização do conhecimento científico 08. Problemas e prioridades identificados pela comunidade 09. Planejamento, prática e avaliação participativa contínua 10. Organização comunitária e participação 11. Investigação e avaliação contínua
derança, a solução de problemas e a organização comunitária; b) desenvolver ou melhorar as destrezas
III. Processo para a implementação das estratégias
vocacionais individuais; e c) fortalecer a identidade cultural a partir de atividades artísticas, de jogos e da medicina tradicional.
A. Equipe envolvida
Já os programas para a melhoria do ambiente físico
No processo estavam incluídos: os promotores, que
respondem às necessidades identificadas pela pró-
eram selecionados pela comunidade, de acordo com
pria comunidade a partir de diagnósticos participa-
12. Uso de tecnologias simples para solucionar problemas comunitários: radiotelefone e microscópio
critérios definidos pela Cinde e pela própria comuni-
tivos, cujo centro da atuação era as crianças. Tais
dade; os multiplicadores, selecionados no processo de
programas incluíram cuidados básicos de saúde,
13. Desenvolvimento integral comunitário: saúde, educação, produção e cultura
formação de promotores, e os assessores, que eram pro-
controle da malária, nutrição, tecnologia apropriada
14. Complementos interinstitucionais
fissionais selecionados pela Cinde.
e saneamento ambiental.
15. Efeitos cumulativos e massa crítica
73
CAPÍTULO 4 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças Glória Carvalho
C. Etapas, dificuldades, soluções
IV. Avaliação
Olhando o processo de vinte anos do Promesa, podemos estabelecer quatro etapas com características diferentes de desenvolvimento. A primeira, de motivação da comunidade e
Um aspecto fundamental do programa Promesa foi sua avaliação, realizada como um
de início de atividades do projeto; a segunda, de formação da estrutura básica para a orga-
processo longitudinal a seu desenvolvimento e dentro de um conceito de participação
nização comunitária e sua participação; a terceira, da transferência de responsabilidades ad-
comunitária para fortalecer a qualidade em termos de eficiência, efetividade e cobertura.
ministrativas à comunidade; e a quarta, de autodireção do projeto por parte da comunidade.
Dois tipos de avaliação foram realizados. O primeiro fez parte do ciclo operacional de
No processo de implementação de todas essas etapas, diversos desafios apresentaram-se
planejamento-execução-avaliação, que foi executado em três níveis: com a comunidade,
e, como resposta, diferentes soluções foram dadas. Alguns deles estão detalhados no
com as instituições e com a Cinde. O segundo tipo de avaliação fazia parte da atividade
quadro seguinte:
de pesquisa para medir os resultados. A avaliação no nível das instituições foi realizada durante reuniões interinstitucionais e Dificuldades
74
Soluções
seminários com a participação da comunidade. Já a avaliação com a Cinde teve seu foco, por um lado, nos aspectos operacionais integrais e, por outro, nos programas e elementos
Visão de curto prazo dos financiadores (espera de resultados no curto prazo)
Busca de outros financiadores
Conceito dos financiadores de fases e disseminação somente ao final
Diferentes estratégias e argumentos
Insuficiência de fundos para desenvolver o programa integralmente
Busca de financiamento por módulos
grama, foi realizado a partir das lembranças de seminários e atas de reuniões, assim como
Encontrar assessores que tivessem um olhar integral
Formá-los
de fichas das famílias e de instrumentos de avaliação.
Encontrar assessores com maturidade para deixar que as comunidades tomem suas próprias decisões
Formar gente da própria comunidade que tenha vivido a experiência
Visão paternalista dos participantes e organizações que ocasionou paradas intermitentes nos trabalhos
O mesmo processo de formação
Dificuldade de articulação interinstitucional em função de disputas de poder
Evidência dos resultados obtidos com trabalho sistemático
Analfabetismo das mães participantes
Programa de alfabetização
Ritmo de desenvolvimento das atividades apresentadas
Programa de alfabetização
O machismo das famílias que obstruiu o início das atividades e a participação dos homens em programas de habilidades das famílias
Fazer os homens participarem dos projetos vocacionais
Não ter pessoas que cuidem das crianças para dar assistência às mães participantes do programa
Sessões simultâneas lúdico- educativas com crianças e com adultos ou crianças mais velhas, como facilitadores
Doenças tropicais permanentes dos participantes
Programas de controle da malária
específicos, e aconteceu durante reuniões periódicas da equipe, assessores, multiplicadores e o diretor de programa. O segundo tipo de avaliação, ligada à pesquisa avaliativa dos efeitos e do impacto do pro-
A. Resultados Abaixo, seguem alguns dos resultados do programa Promesa: Impactos nas crianças: • Aumento do tempo de permanência das crianças na escola. • Aumento da aprendizagem das crianças na escola. • Diminuição da taxa de mortalidade infantil nos primeiros 5 anos de vida. • Aumento do número de filhos de mães do Promesa que terminaram o Ensino Médio e ingressaram na universidade. • Incremento do percentual de nascidos vivos. • Aumento do peso e altura das crianças.
75
CAPÍTULO 4 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO Promesa: uma proposta de desenvolvimento integral comunitário a partir da criação de ambientes saudáveis para o desenvolvimento físico, emocional e intelectual das crianças Glória Carvalho
Os principais resultados obtidos ficam evidentes por
B. Aprendizados
meio dos seguintes dados:
• Um enfoque lúdico contribui para a efetividade do
NIMNICHT, G & ARANGO, M . Promesa. A pro-
A experiência com o Programa Promesa trouxe diver-
projeto e fortalece a identidade cultural e as habili-
gram for the healthy physical, emotional and intelectu-
sos aprendizados, entre eles:
dades cognitivas;
al development of young children (Prepared as a contribution to effectiveness initiative of the Bernard van
01. O percentual de nascidos vivos aumentou de 84,7%, em 1980, para 87,9%, em 1989;
• Com a capacitação e o acompanhamento apropria-
02. O nível de mortalidade nos primeiros 5 anos
dos, os pais com baixos níveis educacionais podem
de vida caiu de 11,7%, em 1980, para 7,6%,
ser excelentes agentes educativos de programas in-
em 1989;
tegrados e participativos para a infância precoce;
03. O percentual de crianças com uma ou mais vacinas aumentou de 46%, em 1980, para 95%,
Leer Foundation) Inovações Cinde: Medelim, 2001.
• Para mudar um ambiente educativo não saudável
ARANGO, M & NIMNICHT, G . Um modelo de ava-
para as mulheres e as meninas, é necessário fazer
liação ao serviço de todos os atores. O caso do programa
que as pessoas de todos os setores da comunidade
Promesa no Chocó, sf.
• Os centros familiares e comunitários que promo-
participem de um processo educativo que fortaleça
vem interações intergeracionais focadas no de-
a autoestima e mude as atitudes em relação à edu-
www.cinde.org.co
04. Redução de mais de 50% na incidência de malária;
senvolvimento saudável da primeira infância são
cação e ao gênero;
www.redprimerainfancia.org
05. Diminuição significativa do percentual de desnu-
ferramentas poderosas para a implementação de
trição aguda e crônica de crianças entre 3 e 6 anos;
programas integrados de desenvolvimento e cuida-
em 1989; 76
• Respeito ao ritmo das comunidades;
06. Aumento do percentual de crianças de 12 anos
do infantil precoce;
que chegaram ao 1º ano do Ensino Fundamental II (12%, em 1980, contra 36%, em 1989); 07. Melhora contínua e significativa do rendi-
• Um projeto de desenvolvimento social que responda aos participantes não pode ser linear;
mento escolar; 08. Aumento do tempo de permanência na escola; 09. Aumento da média do nível de escolaridade alcançado por crianças de 12 anos;
77
• Nenhuma ação educativa sozinha, dirigida somente a um pequeno grupo de mulheres, pode mudar
GLÓRIA CARVALHO VILEZ
um ambiente educativo. Deve haver um leque
Diretora Regional da Fundação Centro Internacional
variado de ações, que inclua diferentes pessoas da
de Educação e Desenvolvimento Humano (Cinde)
comunidade para que o programa tenha um efeito
Medelín, onde atua desde 1992. Graduada em psico-
cumulativo positivo.
logia com pós-graduação em metodologia de pesqui-
• Para que um projeto seja efetivo, é essencial desen-
sa e ensino universitário e doutorado em educação
volver credibilidade mútua entre os membros da
e desenvolvimento humano e social. Especialista na
comunidade e as pessoas que desejam atuar como
Referências
primeira infância com experiência na assessoria e formação de pessoal para trabalhos com família e comu-
agentes externos; ARANGO, M.; NIMNICHT, G.; PEÑARANDA, F. &
nidade com ênfase no desenvolvimento integral da
Como impacto nas famílias, promotores e líderes do
• É fundamental ter uma base comunitária, quan-
ACOTA, A. Vinte anos de experiência. Um informe so-
infância, bem como na elaboração de materiais para o
programa destacam a melhora na educação das mães,
do se implementa um programa que tem como
bre o programa Promesa na Colômbia (Desenvolvimen-
trabalho comunitário.
na habilidade dos pais de satisfazer as necessidades fí-
objetivo o desenvolvimento e a mudança social
to infantil precoce: práticas e reflexões. Seguindo ras-
sicas de seus filhos, na autoestima das mães e na edu-
e humana;
tros, 22s). Fundação Bernard Van Leer: La Haya, 2005.
cação dos filhos das promotoras.
A comunicação e a transformação social: a experiência do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) Claudius Ceccon Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip)
O Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) é uma organização não governamental (ONG), criada em 1986. É uma entidade sem fins lucrativos, classificada como de utilidade pública federal e municipal. O Cecip atua na construção de uma sociedade democrática, por meio da produção de materiais audiovisuais e impressos, e na promoção da capacitação de agentes sociais para a transformação social, no que diz respeito à cidadania e direitos à saúde e educação. A ONG atua em diversas frentes e com vários públicos, mas, desde a produção do conjunto de materiais A Creche Saudável (1996), com manual, cartazes e vídeos, também se voltou para a formação de pessoal e a melhoria do atendimento nas instituições para crianças de 0 a 6 anos. Realizado com o apoio da Fundação Kellogg, esse material educativo foi
CAPÍTULO 4 78
O Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) é uma organização não governamental (ONG), criada em 1986. É uma entidade sem fins lucrativos, classificada como de utilidade pública federal e municipal. O Cecip atua na construção de uma sociedade democrática, por meio da produção de materiais audiovisuais e impressos, e na promoção da capacitação de agentes sociais para a transformação social, no que diz respeito à cidadania e direitos à saúde e educação.
adotado pelo Unicef, que solicitou, para garantir o bom uso dos materiais e a efetiva adoção de mudanças positivas nas creches, a organização de capacitações de educadores em estados das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. O projeto incluiu um acompanhamento e uma avaliação de resultados em creches monitoradas, nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro. A avaliação atestou a eficácia da metodologia (1997/1998). O material tornou-se acessível para o uso em creches de todo o Brasil após sua publicação pela Editora Artmed. Sua utilização continuada e as demandas identificadas na avaliação levaram o Cecip a produzir, em 2002, um novo kit, chamado “Trocando em Miúdos as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”. Esse conjunto de materiais representa um aprofundamento pedagógico e responde a uma premente necessidade das creches em todo o País por orientação em relação às novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. As Diretrizes traçam um amplo panorama sobre a importância da educação infantil. Mas, como implementá-las no dia a dia dos Centros de Educação Infantil? A metodologia de elaboração de materiais proposta pelo Cecip foi posta em ação. Foram convocados especialistas, pesquisadores e também educadores que enfrentam essas questões cotidianamente. O trabalho em equipe estabeleceu as linhas mestras do material que responde a questões concretas e, ao mesmo tempo, fornece subsídios teóricos que complementam a formação de educadores. Completando o processo, à produção do material seguiram-se as capacitações de educadores para utilizá-lo da melhor maneira possível, de forma a promover melhorias em seu trabalho e em suas instituições.
79
CAPÍTULO 4 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO A comunicação e a transformação social: a experiência do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) Claudius Ceccon
80
O Cecip decidiu tomar a iniciativa de testar o “Trocan-
ços de informática, artes, música e expressão corpo-
turais na sociedade. Desde 2007, o Centro colabora com
clara e acessível. Na maioria dos projetos, o Cecip es-
do em Miúdos”, produzido pela própria instituição.
ral. Recentemente, atendendo a pedidos, proporciona
a Prefeitura na implementação de um trabalho interse-
timula o público-alvo a se apossar das ferramentas de
Um projeto, apoiado pela Fundação Bernard van Leer,
também cursos de culinária e de inglês, com uma
torial do Programa Saúde na Escola e na Creche (PSE),
comunicação e tecnologia para expressar de que ma-
foi responsável pela formação de educadores em três
metodologia baseada em jogos e música. As crianças
que envolve profissionais das secretarias de Saúde, Edu-
neira lidar com determinada questão. O público-alvo
distintas instituições de educação infantil na cidade do
sentem-se orgulhosas por já “falarem” inglês: skate, we-
cação e Assistência Social. Organizados em dez Núcleos
torna-se multiplicador das mensagens que considera
Rio de Janeiro: na zona rural, Zona Oeste, um Centro
ekend, hamburger, cheeseburger, mouse, site, afinal, já
Regionais de atuação (NSECs), esses gestores e técnicos
mais relevantes, e faz isso com suas próprias estratégias,
de Educação Infantil que faz parte do sistema público
não faziam parte de seu vocabulário?
planejam e executam ações conjuntas para aumentar a
recursos, palavras e imagens.
de ensino da Secretaria Municipal de Educação; na fa-
O Cecip participou de toda a concepção do CCCria
eficácia de suas políticas. O Cecip é mediador constante
Acreditamos em uma metodologia participativa, in-
vela Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul, uma creche
(inclusive de seu espaço físico, um “castelo” construí-
desse processo, além de promover seminários munici-
clusive para a produção de materiais: demandas são
filantrópica, mantida por pais de alunos do Colégio
do para esse fim), e elaborou o projeto que possibilitou
pais e criar materiais de divulgação do PSE do Rio.
levantadas junto ao público-alvo, especialistas partici-
Santo Inácio, vizinho da favela; e, na favela Morro dos
sua realização. O Cecip tem contribuído com a gestão
pam da elaboração do conteúdo e, prontos a primeira
Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte, uma creche co-
pedagógica e a formação dos educadores. Atualmente,
versão, os vídeos e publicações passam pelo crivo de
munitária. A experiência realizada ao longo de um ano
está produzindo uma publicação na qual são avaliados
comprovou a eficácia dos materiais e da metodologia
os resultados e é feita uma reflexão dos três primei-
de formação desenvolvida pelo Cecip.
ros anos da experiência, que pode se transformar em
Durante os meses em que atuamos no Morro dos Ma-
política pública nas áreas metropolitanas das grandes
A produção de materiais do Cecip adota, geralmen-
instituições com as quais o Cecip tem parceria, em
cacos, ouvimos várias demandas da população local,
cidades que vivem situação semelhante.
te, o mesmo sistema: método participativo de levan-
especial na gestão do CCCria. As crianças podem es-
entre elas, sua preocupação com as crianças que dei-
Outras duas parcerias acontecem no projeto “Transfor-
tamento de conteúdos, diagnóstico socioeconômi-
colher livremente em quais atividades desejam estar
xavam a creche e passavam para o sistema público de
mando Ações: uma proposta pedagógica para a Educa-
co (e/ou ambiental), participação de especialistas
envolvidas e em quais espaços querem ficar, organizan-
ensino. Aos 4 anos, as crianças transitam de um regi-
ção Infantil”, iniciado em 2008. Conveniadas à rede
e de futuros usuários, materiais complementares
do-se para que as regras que elas mesmas elaboraram
me de atendimento integral para outro, parcial, que
municipal, a creche Florescer (Rio Comprido) e o
em linguagens diferentes (impressos, vídeo, ilus-
sejam cumpridas. Dos 4 aos 10 anos, todos têm direito
as deixa sem atendimento durante a maior parte do
Instituto Central do Povo (Gamboa) utilizam os mate-
trações, cartazes, campanhas, sites), teste junto ao
a voz e a voto na decisão sobre as regras de convivên-
tempo, sujeitas a riscos e violências frequentes. Da pre-
riais e contam com a consultoria pedagógica do Cecip.
público-alvo e adaptações de acordo com sua ava-
cia e funcionamento do Centro Cultural. Essa lógica
ocupação do Cecip em encontrar uma solução, surgiu
Um diagnóstico participativo levantou as demandas de
liação, capacitação dos profissionais que irão utilizá-
reforça a autoestima e a autonomia de cada criança ao
a ideia de criar um espaço protegido, onde as crianças
cada instituição, orientando a formação dos profissio-
los, formação de multiplicadores nas comunidades e
lidar com as situações mais diversas, em relação a seus
pudessem ficar em segurança até que seus pais e mães
nais e a implementação de mudanças. O projeto está
avaliação dos resultados.
colegas e aos adultos.
regressassem do trabalho.
sendo avaliado para que os resultados possam ser divul-
A produção de materiais e a capacitação levam em
O Cecip comunica-se com os mais variados públicos:
Em dezembro de 2006, foi inaugurado o Centro Cul-
gados junto aos gestores de outras creches conveniadas
conta as demandas de cada grupo e um diagnóstico
crianças, jovens, professores, profissionais de áreas di-
tural da Criança (CCCria) no Morro dos Macacos.
do Município do Rio de Janeiro.
de sua realidade, realizado pelos próprios interessados.
versas (saúde, educação, meio ambiente, assistência
No horário do contraturno escolar, o CCCria atende
A articulação com políticas públicas é uma preocupação
A linguagem deve se aproximar ao máximo daquela
social, ONGs, segurança pública, justiça, entre outros)
a cerca de 200 crianças da comunidade, para as quais
constante do Cecip para disseminar os bons resultados
utilizada e compreendida pelos envolvidos, mas isso
e grupos específicos como afro-descendentes, mulhe-
oferece biblioteca, brinquedoteca, videoteca e espa-
de seus projetos e colaborar com transformações estru-
não significa outra coisa a não ser um esforço de ser
res ou moradores de determinadas comunidades.
Métodos de trabalho do Cecip e públicos atendidos
quem vai utilizá-los – críticas, sugestões, correções e complementos são incorporados à versão final. A metodologia participativa estende-se ao dia a dia das
81
CAPÍTULO 4 MOBILIZANDO A SOCIEDADE PARA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO A comunicação e a transformação social: a experiência do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) Claudius Ceccon
O humor e a disseminação da mensagem
A experiência com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Cecip, passou a atender demandas comunitárias e
• Capacitação direta de educadores de 200 escolas públicas do Rio de Janeiro.
negociar parcerias para a realização de eventos em
O humor estabelece uma relação receptiva no pro-
82
A TV Maxambomba, projeto de vídeo popular do
cesso de comunicação. Para que haja comunicação,
O projeto “Estatuto do Futuro” iniciou-se em 1997,
praças públicas, escolas e instituições, divulgando e
Até o ano 2000, quando foi feito o último relatório ava-
deve haver troca de saberes, e o humor faz que ele-
com a realização de um Seminário do qual participa-
debatendo os vídeos com grandes públicos. A equi-
liativo, o projeto atingiu diretamente e por meio da
mentos originalmente isolados, camuflados, diver-
ram cerca de 40 instituições ligadas à infância e ado-
pe do projeto compareceu a palestras, debates e
ação de seus parceiros – cerca de 52 mil pessoas. De
sos, contrastantes, sejam apresentados de uma forma
lescência, entre órgãos públicos, ONGs, institutos de
cursos, estimulando e enriquecendo o trabalho dos
lá para cá, os materiais continuam sendo utilizados na
nova, inesperada, original, surpreendente. Quando
pesquisa, Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direi-
parceiros com os materiais.
defesa e aplicação do Estatuto.
essa apresentação se faz visualmente, essa reorgani-
tos de Crianças e Adolescentes, universidades e esco-
Spots para TV e rádio sobre a importância de conhecer
A publicação do Estatuto resume de certo modo o
zação de elementos familiares ao receptor obriga-
las. Do seminário resultaram propostas de conteúdo
e cumprir o ECA foram divulgados em veículos locais
trabalho do Cecip: a produção de conteúdos de fá-
o a fazer um esforço de decodificação. O emissor
e abordagem para os temas que o projeto pretendia
e nacionais. O vídeo “Se liga no Estatuto” conquistou
cil compreensão – adaptado a públicos diversos – e a
da mensagem organiza, ou reorganiza, uma infor-
discutir e divulgar.
a Medalha de Prata na Categoria “Video Communi-
atuação multimídia. O Cecip pretende seguir traba-
mação que existia em estado bruto e foi recolhida,
A partir das recomendações do Seminário, foram
cation” do 22° Tokyo Video Festival, no Japão, concor-
lhando nessa direção, buscando a formação pessoal
reelaborada e desenvolvida. O receptor não recebe
elaborados os materiais que compõem o kit: quatro
rendo com centenas de produções de todo o mundo.
do indivíduo como forma de promover a cidadania e
passivamente essa informação: ele a confronta com
vídeos (para público geral, técnicos, jovens e crian-
E o Prêmio Itaú-Unicef, recebido em novembro de
fortalecer a democracia.
suas próprias ideias, com seu conhecimento e repro-
ças), três publicações e cartazes (para técnicos, jo-
1999, foi o mais importante reconhecimento público
cessa-a, reeditando essa informação e transforman-
vens e crianças).
da importância do projeto “Estatuto do Futuro” para o
CLAUDIUS CECCON
do-se, dessa maneira, em coautor.
Em 1998 o Cecip deu início à distribuição estratégica
fortalecimento da cidadania no Brasil. Os recursos do
Diretor executivo do Centro de Criação e Imagem Po-
Estabelece-se uma identidade, uma parceria, uma ver-
dos materiais, acompanhando e assessorando o traba-
prêmio propiciaram novas ações:
pular (Cecip). Arquiteto, designer gráfico, desenhista
dadeira cumplicidade entre ambas as partes. O humor
lho de parceiros das mais variadas áreas. Foram distri-
ajuda esse processo de apreensão da mensagem. Pelo
buídos 1,2 mil kits para cerca de 500 instituições de
fato de não ser “sério”, ele facilita todo o processo, pois
diversas áreas (sendo 230 escolas) no estado do Rio de
as pessoas estão mais receptivas, mais abertas, sem os
Janeiro e mais de 100 entidades em todos os demais
temores e as defesas que se erguem diante de algo her-
estados brasileiros. A contrapartida dos parceiros, que
mético, de difícil compreensão. O humor transforma a
recebiam gratuitamente os materiais, era preencher
informação em um jogo prazeroso. O inesperado, pela
uma ficha com informações sobre o público atingido
junção de elementos díspares, surpreende e resulta no
por suas atividades e a recepção dos materiais no que
riso, que é a manifestação mais espontânea de que a
dizia respeito ao conteúdo e à linguagem utilizada.
mensagem “passou”.
de humor, chargista político, autor e ilustrador de li• Realização do Seminário “10 Anos de ECA – Conquistas e Desafios”;
vros infantis (coleção Mico Maneco, com Ana Maria Machado). Atualmente, atua como colaborador regular da revista Caros Amigos e do Le Monde Diplomati-
• Reprodução e distribuição de mais 300 kits “Estatuto do Futuro”; • Participação em eventos, assessoria aos atuais parceiros e construção de novas alianças e parcerias;
que Brasil e de um blog em um site de notícias SRZD.
83
CAPÍTULO 5 CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL
Implementação do plano de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Carlos Pinto FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL
A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) traçou três objetivos de comunicação para seu Programa de Desenvolvimento Infantil (DI): • divulgar o conhecimento existente e as boas práticas sobre o assunto; • educar os públicos-alvo sobre o DI; • estimular mudanças na cultura da sociedade. A espinha dorsal da missão da Fundação é a disseminação de conhecimentos. Esse é o norte de nosso trabalho. É olhar para o Brasil e para o mundo, descobrir onde há conhecimento precioso que, nas mãos certas, poderá ajudar a transformar a sociedade. Identificando essas fontes de conhecimento, nossa tarefa é garantir que esse material chegue de
CAPÍTULO 5 86
A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) traçou três objetivos de comunicação para seu Programa de Desenvolvimento Infantil (DI): • divulgar o conhecimento existente e as boas práticas sobre o assunto; • educar os públicos-alvo sobre o DI; • estimular mudanças na cultura da sociedade.
forma adequada às pessoas que possam replicá-lo, pois só assim haverá motivação para que esse público abrace a causa. O alvo central de nossa comunicação são os pais e as mães das crianças e, para chegar a eles, oferecemos capacitação para quatro grupos-chave, além de buscarmos parcerias: 1. Públicos da Fundação: visitantes do site, especialistas e autores que escrevem sobre desenvolvimento infantil para a FMSCV; a família Souto Vidigal; os parceiros institucionais e nosso Conselho de Curadores; 2. Formadores de opinião: os meios de comunicação em geral; os sites dedicados à família, educação e saúde; os diferentes grupos de apoio que trabalham nessas áreas; a classe acadêmica como um todo; os conselhos setoriais (saúde, educação, criança e adolescente, etc.) e as organizações religiosas; 3. Cuidadores profissionais: pessoas das áreas da saúde, assistência social e educação; hospitais; maternidades; clínicas de vacinação; escolas e entidades de treinamento e formação; 4. O terceiro setor como um todo. Nossa estratégia prevê um relacionamento estreito com os diversos canais de comunicação. A plataforma digital jogará um papel-chave na construção de relacionamento e disseminação de conhecimento, pois a internet é um veículo que atinge todos os nossos públicosalvo. Na mídia impressa, a assessoria de imprensa e diferentes publicações, incluindo newsletters, livros, fascículos e relatórios de atividades, financeiros e de tendências. Outra forma de divulgação, que já vimos utilizando há alguns anos, é a produção de workshops e
87
CAPÍTULO 5 CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL Implementação do plano de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Carlos Pinto
a participação em eventos de terceiros. Acreditamos que assim promovemos a integração
Delimitando o público
da Fundação às redes sociais. Existe ainda uma possibilidade muito interessante, no que diz respeito à estratégia de disseminação, que é a criação de um curso de especialização em DI: em parceria com uma universidade, desenhar cursos que ofereçam formação a profissionais que atuarão com famílias e crianças de 0 a 3 anos.
Push and Pull No desenvolvimento de nossa estratégia de comunicação, criamos nosso próprio conceito de “Push and Pull”. 88
O que chamamos de “Push” são as iniciativas de comunicação que capacitam os “cuida-
89
dores profissionais” – das áreas de saúde, educação, assistência social, etc. –, buscando melhorar a qualidade do cuidado dispensado às famílias e às crianças. O “Push” dá as ferramentas para semear o DI, ensinando a fazer, ensinando a ensinar, multiplicando a informação e gerando melhores práticas. Por outro lado, o que chamamos de “Pull” busca cultivar o desejo pelo DI na sociedade em geral. Serão esforços de comunicação dirigidos principalmente aos pais, informando e criando consciência sobre a importância dos primeiros anos de vida para a formação da “arquitetura emocional” do futuro adulto. Assim, o “Pull” reforça a consciência sobre a relevância do DI, enquanto o “Push” proporciona melhores condições de fazer as práticas chegarem ao público final. A estratégia de “Push and Pull” pode ser usada tanto na comunicação de massa quanto na comunicação de um para um (chamada one by one). Nos esforços “Pull”, por exemplo, a comunicação pode se dar por meio físico (impressos, de um modo geral) ou virtual,
O que nós buscamos, em última instância, é disseminar o conhecimento sobre o desenvol-
por meio das redes sociais, newsletters e e-mail marketing. No vetor “Push”, workshops e
vimento infantil. É para isso que o Programa de DI da Fundação nasceu e trabalha: para
cursos são excelentes canais de comunicação para formar capacitadores e engajar nosso
fomentar, da melhor maneira possível, o cuidado adequado para garantir o bom desenvol-
público-alvo, os multiplicadores da nossa mensagem.
vimento da criança. Nosso público-alvo final são as mães e os pais. Em seguida, a família
Acreditamos que unindo as iniciativas do tipo “Push” com as ações “Pull”, geraremos me-
mais próxima, os cuidadores e aqueles que querem vir a ser pais. Esses, muitas vezes, são
lhores condições para que o público venha a se engajar no tema mais do que ser apenas
tão importantes quanto a família grávida ou a família com filhos, pois já estão imersos no
um receptor das mensagens.
universo infantil.
CAPÍTULO 5 CONCEITOS PARA UM PLANO DE COMUNICAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARIA CECÍLIA SOUTO VIDIGAL Implementação do plano de comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Carlos Pinto
90
Em seguida, temos o segundo círculo, que é a família
volvimento infantil, por meio do que é chamado mer-
A medição dessas ações, idealmente, deve ser feita
e os meios “físicos” (revistas, fascículos, folhetos,
ampliada: tios, tias, padrinhos e avós. São os núcleos fa-
chandising social. Uma iniciativa como essa pode ter
antes, durante e depois do trabalho, qualitativa e
publicações e impressos)?
miliares imediatamente periféricos, que estão emocio-
um papel único na tarefa de sensibilizar as mães para
quantitativamente.
nalmente envolvidos com a criança. Aí estão também
o tema do DI.
os amigos, a pré-escola, a creche e as assistentes que
A outra possibilidade é o porta a porta. A maior rede de
ajudam os pais a cuidarem da criança. E, finalmente,
vendas de produtos cosméticos porta a porta do Brasil
temos os hospitais, médicos, postos de saúde, planos
tem cerca de 1,2 milhão de representantes que visitam
de saúde, governos, operadores de justiça. Nessa lista,
de 40 a 50 milhões de lares, a cada dois meses. A re-
O que apresentamos aqui é a plataforma do plano de
tema já muito abordado pelo terceiro setor. É uma
entram ainda os formadores de opinião, o terceiro se-
presentante fica de 5 a 15 minutos conversando com
comunicação sobre o qual vimos trabalhando e que
forma de dar às pessoas acesso à educação com o
tor e as entidades religiosas. Esse círculo periférico é o
as mulheres e sabe quais delas têm uma criança de
queríamos compartilhar com vocês. Este Workshop foi
apoio do entretenimento – aspecto que as ajuda a
principal alvo das ações que chamamos de “Push”, de
0 a 3 anos, ou que estão pensando em ficar grávidas.
estruturado para gerar contribuições que serão incor-
se envolver emocionalmente, como no caso da no-
disseminação, multiplicação e prática.
Essa representante pode tirar de sua sacola um folheto,
poradas ao Plano. A seguir está um resumo das quatro
vela, citado anteriormente.
No Brasil, existem aproximadamente 13 milhões de
um DVD e, em 30 segundos, replicar o conhecimento
áreas-chave do plano para sua avaliação e comentários:
crianças de 0 a 3 anos. É um público muito grande. A
sobre DI em 40 milhões de lares. Uma parceria dessa,
beleza desse esforço é o equilíbrio entre o “Push” e o
para nós, seria extremamente valiosa.
“Pull”. É criar o desejo e gerar ferramentas que respon-
Com isso, novamente, poderemos criar um equilíbrio
formadores de opinião, terceiro setor e governo.
Estudou Propaganda no Instituto Superior de Comu-
dam àquele desejo. Tudo em prol do desenvolvimento
entre o “Push” e o “Pull”: entre levar as ferramentas
Não podemos falar da mesma maneira com todos
nicação Publicitária Anhembi-Morumbi. Iniciou em
infantil, de melhores condições para desenvolver o ple-
e o treinamento racional e prático, ao mesmo tempo
eles. Devemos priorizar uns para uma tarefa e ou-
agências de propaganda nas áreas de fotografia e cria-
no potencial da criança.
em que tocamos corações e envolvemos as pessoas
tros para outras;
ção. Trabalhou por mais de 20 anos no atendimento e
• Novos caminhos: um exemplo é a possibilidade que mencionamos de merchandising em TV, que
Resumo do Plano
também pode ser chamado de Entertainment Education (Educação de Entretenimento), um
• Público-alvo: mães e pais, cuidadores profissionais,
nessa causa.
91
CARLOS EDUARDO CORRÊA PINTO
planejamento estratégico da JWT - J. Walter Thomp-
O primeiro passo é estabelecer o marco zero, antes de
• A estratégia do “Push and Pull”: qual o melhor
son no Brasil, EUA e México, além de dirigir a opera-
começar a trabalhar, para, depois do plano implemen-
equilíbrio entre quanto vamos criar de desejo e
ção da conta Ford Motor Company para a região da
tado, medir os resultados. Existe, no primeiro momen-
motivação, envolvendo emocionalmente os pais,
América Latina e participar de inúmeros projetos nos
Atualmente, fazemos parcerias com o primeiro e o
to, certa inação, período em que as pessoas, para as
e quanto vamos capacitar e dar ferramentas aos
EUA, Europa e Ásia. Mais recentemente se associou
terceiro setor por meio dos projetos comunitários com
quais queremos falar, ainda não têm a atenção voltada
profissionais que têm influência sobre os pais? Em
à MCR Records, produtora de música para propagan-
prefeituras de seis cidades do interior do estado de São
para o desenvolvimento infantil.
outras palavras, qual será o equilíbrio entre criar
da e foi Diretor de Planejamento na NBS Comuni-
Paulo. Outros projetos podem ser realizados com as
Em um segundo momento, essas pessoas já estarão
o desejo e capacitar para tarefas, entre o apelo
cação, tanto no escritório do Rio de Janeiro quanto
várias esferas de governo, bem como com a iniciativa
familiarizadas com o tema. É uma etapa em que
emocional e o instrumental?
no de São Paulo. Desde julho de 2009 faz parte da
privada e mesmo com outras Fundações.
elas acham o assunto relevante e interessante. Com
Nesse sentido, duas possibilidades interessantes nos
isso, vão buscar informações que levem à ação. A
• Canais de comunicação: qual o melhor equilí-
ocorreram. A primeira é o merchandising. Poderíamos
etapa final é a da consolidação, tanto dos conheci-
brio entre os canais virtuais de comunicação,
tentar inserir dentro de uma novela o tema do desen-
mentos quanto dos comportamentos.
com todas as possibilidades do uso da internet,
Colocando em prática
equipe da FMCSV.
consideraçþes finais
No III Workshop Internacional, a disseminação do
• Outra necessidade é descobrir uma nova linguagem
1. Identificação e aquisição de conhecimento. Existe
conhecimento sobre Desenvolvimento Infantil (DI)
para falar mais diretamente com pais e cuidadores,
muito conhecimento já desenvolvido por meio de
como ferramenta de mudança de comportamento foi o
tratando-os como protagonistas, em vez de concen-
pesquisas, estudos e reflexões. Pode-se buscar esse
tema principal do debate. O evento proporcionou um
trar a atenção exclusivamente nos médicos, enfer-
conteúdo na literatura acadêmica e em redes de tro-
rico e esclarecedor intercâmbio de informações sobre
meiros e professores.
ca de informações sobre DI.
vários projetos. A troca de experiências revelou que os obstáculos para se realizar um projeto são semelhantes,
• Na visão do público participante do III Workshop,
2. Aplicação e geração de conhecimento. Apoio a
tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países
a mídia divulga poucas notícias sobre crianças, e
pesquisas que tenham como objeto a faixa etária
desenvolvidos, e que criatividade é fundamental para
quando o faz, muitas vezes, a matéria está vincula-
com a qual a Fundação atua e que estejam de
superar as adversidades. O evento permitiu ainda apro-
da a algo negativo. Em outras ocasiões, especialistas
acordo com sua missão e visão. A geração de co-
fundar e conhecer a opinião de outros profissionais,
não são procurados para comentar o assunto.
nhecimento também pode ser realizada por meio de projetos comunitários.
assim como as diversas estratégias para superar dificul94
União de esforços
dades comuns como a falta de recursos, seja do ponto de vista financeiro, seja de material para divulgação. O Workshop possibilitou compreender como funciona
• Uma das soluções propostas para a abordagem do
95
DI na mídia televisiva é o uso do humor e a adapta-
3. Finalmente, a sistematização e a disseminação do
ção da exibição dos programas a horários compatí-
conhecimento. Essas informações podem ser di-
veis com a disponibilidade dos pais.
vulgadas por meio de eventos, publicações e sites, entre outros.
a comunicação institucional de fundações e institutos empresariais. Estavam presentes também representan-
• O Brasil tem cerca de 13 milhões de crianças entre
tes dos seis projetos comunitários que a FMCSV apoia
0 e 3 anos. É preciso fazer o acompanhamento do
A FMCSV apoia a realização de projetos importantes,
no interior do estado de São Paulo, bem como especia-
projeto de forma integral e promover a interação da
reflete, dialoga, avalia e busca seu próprio crescimen-
listas brasileiros e estrangeiros, que, em seu conjunto,
criança com seus pais, em especial com a mãe.
to, sempre contando com a união de esforços. A Fundação pretende continuar caminhando nessa direção
formam uma comunidade internacional de referência • A comunidade desempenha uma função crucial
para cumprir sua missão: desenvolver a criança para
para a disseminação de conhecimento, por isso, é
desenvolver a sociedade. Acreditamos que quanto mais
No decorrer do Workshop, algumas conclusões torna-
importante garantir que ela absorva esse conheci-
a FMCSV for capaz de articular o conhecimento,
ram-se evidentes:
mento de maneira correta.
maior será o potencial de seu trabalho e o benefício
na área de DI.
para as crianças e para a sociedade. • O papel dos agentes de saúde é fundamental para
Com base nessas considerações e em sua própria expe-
a disseminação da informação de como cuidar das
riência, a FMCSV considera que a criação de um pla-
crianças de 0 a 3 anos. Por isso, é preciso que esses
no de disseminação de conhecimento sobre DI deva
profissionais recebam treinamento adequado e se-
atender aos seguintes requisitos:
jam frequentemente atualizados.
96