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Visita à Basílica Santuário pelos olhos do PADRE COLOMBO

A fachada da Basílica não deixa entrever, à primeira vista, as maravilhas que nela se escondem. Não lhe falta certa imponência, mas, por estar situada ao lado da antiga igreja, hoje transformada em salão paroquial, impede-lhe sobressair com a majestade de uma rainha.

Duas torres, de 40 metros cada uma, a ladearem um clássico tímpano, levantam-se como dois braços para o céu. Na torre da esquerda, em horas de cerimônia, o carrilhão lança aos ares suas harmonias, enquanto da outra um enorme sino de duas toneladas badala, em voz grave, a ordem de reunir aos domingos e em dias de festa.

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Mal entramos no adro, deparamos com três portas monumentais de bronze a ostentarem, em painéis e medalhões, altos-relevos relacionados com as invocações das ladainhas de Nossa Senhora. Os 5.655 quilos da porta central movimentam-se sobre um sistema de rolamentos de esferas e, abrindo-se sem oferecer resistência alguma, introduzem-nos no templo.

Um espetáculo deslumbrante desvenda-se então aos nossos olhos. Dividida em cinco naves, a Basílica paralisa-nos. O que olhar primeiro? O desenho do piso em mármore? O forro de cedro reproduzindo as mesmas linhas graciosas do chão? Ou aquela selva de colunas, sustentando com tanta graça, os suaves arcos românicos? Ou ainda aqueles 50 vitrais parisienses ou os medalhões venezianos? Uma luz suave, coando das janelas, faz rebrilhar o ouro dos mosaicos, as cores dos mármores, o jogo dos arcos, e o templo inunda-se de vida e de movimento. Avançamos entre uma série ininterrupta de altares, cada um encimado por um vitral, cada um adaptado à devoção do povo, cada um encerrando preciosidades de mármores, de mosaicos, de estátuas, e todos em combinação harmoniosa de cores e de luzes. Os lábios descerramse, apenas repetindo as expressões banais: Lindo! Maravilhoso! Magnífico! E que mais poderíamos dizer, subjugados diante de tamanha beleza artística?

Um encanto maior espera-nos ao chegarmos ao altar-mor. Os braços da cruz latina abrem-se, abruptamente, e revelam-nos outros esplendores. Mármores, mosaicos, vitrais, estátuas e novas cores, sob nova luz, com novas riquezas. E essa magnificência parece empalidecer frente à capela principal. Um mosaico historiando a vida de Nazaré cobre totalmente a parte superior da abside. Em baixo, o altar-mor inaugurado em 15 de agosto de 1923, por ocasião das Bodas de Prata do Padre AfonsoDi Giorgio. Tudo em mármore de Carrara, tendo ao centro um tabernáculo monumental com porta de bronze, verdadeira obra-prima da Casa Bertarelli de Milão. Mais acima, destacando-se do altar, o “Glória”. Uma nuvem branca, de cinco metros de altura, engastada com mosaicos de ouro. Não soubéssemos de outra fonte e jamais imaginaríamos mármore trabalhado como cera. Numa clareira dessa nuvem, bem ao centro, está a Santa. A Santa que o povo para- ense adora. A Santa dos milagres. A Santa a quem foram dedicadas todas as riquezas do templo e os corações dos fiéis. Uma lâmpada a ilumina, constantemente,dando-nos a impressão de uma visão celestial.

Duas capelas laterais, maiores e ainda superiores em riquezas a todas as outras, ladeiam o altar de Virgem de Nazaré, centro de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, uma; e meta de peregrinação das Filhas de Maria, a outra.

Já pensávamos haver terminado a nossa visita, quando somos introduzidos na Sacristia. De 20 metros por 10, iluminada por 17 janelas em duas ordens, possui no centro um pequeno e artístico templo. Aqui também, a mesma profusão de mármores, a mesma harmonia de linhas e, o de que mais precisa, uma grande luz.

Revendo o balancete da construção da Basílica desde o início dos trabalhos, isto é, de 1º de janeiro de 1905 até 31 de dezembro de 1956, notamos que a quantia gasta para esta obra-prima atingiu os Cr$ 8.040.031,30 (oito milhões, quarenta mil e trinta e um cruzeiros e trinta centavos), não estando incluídas as portas de bronze, instaladas em 27 de março de 1960, ao preço de Cr$ 6.000.000,00 (seis milhões de cruzeiros).

Ad quid perditiohaec? Para que tamanho desperdício? É a advertência que Judas, o traidor, fazia a Maria irmã de Marta, quando ela, rompendo o vaso de alabastro, perfumava a cabeça e os pés do Senhor. Com essas mesmas palavras, insurgem-se hoje os mate- rialistas, escandalizados como Judas, frente ao esbanjamento de tamanhas riquezas. Por que não se deu este dinheiro aos pobres? Mais avisados e mais reconhecidos foram, no entanto, os próprios pobres a reclamarem o templo. Foram também os primeiros a se oferecerem para a construção. Exigiram que não se poupasse dinheiro para que a sua Rainha tivesse o trono mais digno. E hoje, quando entram na Basílica, sabem que a casa é sua, pois é a casa de Sua Rainha e Mãe. É a casa que ricos e pobres mandaram construir com suas economias. Ao invés de reclamações materialistas, sentem-se orgulhosos de possuir em seu Estado, em sua cidade, perto de suas casas, enfim, sua linda Basílica.

Não admira, pois, que Padre Afonso Di Giorgio se tenha tornado uma figura quase que lendária. Ele soube ouvir o povo, os devotos da Virgem de Nazaré e dar-lhes o que desejavam e até que superava toda expectativa.

Na construção da Catedral de Sevilha, os cônegos disseram: “Faça-se uma igreja que obrigue as gerações futuras a dizerem: Estavam doidos!”. Os paraenses imitaram os cônegos de Sevilha, não para que fossem tachados de loucos, mas para que nós, os pósteros, tivéssemos, nos esplendores da Basílica, o atestado indiscutível de sua fé e devoção.

*Capítulo extraído do livro: “Padre Afonso e a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré”, escrito pelo Padre Colombo, em 1964.

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