Edição 03

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N° 03 www.negocioagro.com.br

Janeiro e Fevereiro de 2015

Hidroponia como nova fonte de renda Ao se ver desempregado, o orleanense Élio Rossi viu na técnica a chance de voltar para o campo e garantir a renda mensal para a família


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Leia nesta edição 08. entrevista Gerente Regional da Cidasc, Claudemir Souza dos Santos, relata os trabalhos realizados

14. internacional Leite uruguaio ganha destaque como referência mundial de qualidade

18. suinocultura Climatizadores dão um refresco para os suínos noa dias de calor do verão

30. Hora de ganhar Com a chegada da Quaresma, inicia-se a melhor época para a venda da produção de ovos

36. tradição Sementes de polinização aberta, melhoradas pela Epagri, caem no gosto dos agricultores

32. oportunidade Agricultor de Orleans aposta na produção de alface hidropônico e ganha o mercado

Errata

12. fique atento! Muita gente ainda não se deu conta, mas o prazo para realizar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) está chegando ao fim

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Na última edição da revista NegócioAgro publicamos uma informação equivocada. Diferente do que foi escrito, no sistema de piscicultura utilizado na nossa região, onde os açudes têm profundidade média de um metro e pouca renovação da água, a densidade ideal é de quatro a seis alevinos por metro quadrados de superfície, dependendo da tecnologia utilizada no processo, e não entre 600 e 800, como foi publicado. Esta alta densidade de povoamento é utilizada somente em tanques rede, em regime de cultivo superintensivo com alta renovação de água, geralmente observado em rios, represas e reservatórios de hidrelétricas.


artigo

Bovinocultura de valor agregado

Santa Catarina é um Estado de reconhecida vocação agropecuária. Com tradição na produção de aves e suínos, conquistou o mercado internacional e se tornou um dos principais exportadores de carne do país. O destaque na avicultura e suinocultura permite aos produtores catarinenses aprimorarem a produção para repetir o mesmo sucesso em outro ramo da cadeia agropecuária: a produção de carne bovina. Com um consumo de aproximadamente 220 mil toneladas por ano, o Estado tem déficit na produção de carne bovina e precisa importar algo em torno de 90 mil toneladas de outros Estados. Para garantir a demanda interna, seria necessário abater mais 360 mil animais por ano. O aumento da produção, contudo, deve vir acompanhado da garantia de qualidade, característica já tradicional da produção agropecuária catarinense. Para ampliar a oferta, Santa Catarina precisa definir o melhor padrão racial para gado de corte. Não há dúvida que o Estado garante os melhores padrões em termos de genética. Porém, em razão da expressiva variedade na criação de raças de corte – mais de duas dezenas estão disponíveis em Santa Catarina – o planejamento e o desenvolvimento de um política voltada a agregar valor à cadeia produtiva tornam-se inviáveis. A definição de um padrão racial passa pelo conceito de que é preciso aumentar a produção sem perder a qualidade do produto. Nessa perspectiva, a raça Angus se apresenta como uma interessante opção ao produtor catarinense. De origem escocesa, o Angus é encontrado em duas variedades: Aberdeen Angus (preta) e Red Angus (vermelha). Ela se destaca entre os bovinos de corte por reunir características que asseguram maior resultado econômico, principalmente a junção da fertilidade, habilidade materna, facilidade de parto,

expediente Diretor Executivo Fernando Freitas Departamento Comercial Mara de Oliveira Redação Suellen Souza - editora / SC: 44851-JP Samira Pereira Colunistas Diogo Schotten Becker – coordenador Departamento de Criação Jéssica Simiano Gabriela Rousseng Departamento Financeiro Ezequiel Philippi Fotografias Odáirson Antonello Revisão Ortográfica Maria Vanete Stang Coan Assinaturas Zula Coradelli

Nelson Antônio Serpa Presidente do Núcleo Catarinense de Criadores de Angus – NCCA

precocidade e rusticidade com a qualidade da carne, reconhecida e aprovada internacionalmente pelos mercados consumidores mais exigentes. Apesar da tendência da mistura de raças zebuínas e Angus no Brasil, as características do animal somadas ao clima extremamente favorável do Estado, tornam a utilização de genética Angus no rebanho bovino do Estado de Santa Catarina uma atividade absolutamente promissora e rentável. Além da elevação dos preços pagos ao pecuarista nos últimos 12 meses, verificada em recente estudo da Epagri, o criador catarinense que opta pela raça Angus recebe bonificação de 10% quando abate dentro do programa Carne Angus Certificada, uma parceria da Associação Brasileira de Angus e da indústria frigorífica nacional para garantir um produto de qualidade na mesa do consumidor brasileiro.

Fone: |48| 3651 2700 Av. Felipe Schmidt, 2244. Sala 13. Centro - Braço do Norte - Santa Catarina CEP: 88750-000 contato@negocioagro.com.br

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NegócioAGRO é uma publicação bimestral da Folha o Jornal Editora Ltda – ME, CPNJ: 01.749.601/0001-64. Tem sua circulação dirigida ao produtor rural, casas agropecuárias da Comarca de Braço do Norte e as empresas que distribuem aqui seus produtos ou prestam serviço. Garanta o recebimento de seu exemplar: Assinatura anual: R$ 58,00.

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Recessão? As vendas de máquinas agrícolas de janeiro tiveram intensa queda e mostram o cuidado dos produtores com o cenário que está por vir neste ano no setor agrícola. As vendas de colheitadeiras recuaram para 387 unidades, 38% menos do que em igual período de 2014 e o menor patamar para meses de janeiro desde 2009.

diogo schotten becker - Formado em Gestão de Agronegócios pela Unisul.

Leite Estoque elevado e demanda baixa derrubaram o preço do leite pago aos produtores em janeiro. A queda real foi de 5,8% comparada a dezembro, sendo que a maior baixa foi registrada no Estado de Santa Catarina, para o pagamento de fevereiro deve prevalecer a manutenção dos preços, segundo informações do Cepea.

Biodiesel O Brasil produziu 3,41 bilhões de litros em 2014, 17,2% mais do que em 2013. O crescimento deve-se à elevação do percentual de biodiesel ao diesel de 5% para 6% (julho) e para 7% (novembro).

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giro pelo campo

- Especialização em Gestão de Empresas pelo Unibave. - Cursando Engenharia Agronômica pelo Unibave. Atualmente é produtor de suínos e gado de leite, professor do colégio agrícola e ex-diretor de agricultura de Braço do Norte. Fone: (48) 9634 6259 contato@negocioagro.com.br

Peixes A piscicultura brasileira cresce 10% ao ano e soma 585 mil toneladas, segundo o Ministério da Pesca. Mas a atividade requer profissionalização. Essa é uma das prioridades da Peixe BR, entidade criada no segmento.

Produção de peixes Para Rubens Zago, presidente da Tecno Fish Brazil, feira que discutirá a produção e a comercialização de pescado, o país tem muito a crescer nesse setor, já que não consegue atender sequer o mercado interno.


Commodities As exportações de commodities iniciam o ano sem grandes perdas no volume, mas com preços inferiores aos de janeiro de 2014. Uma das principais quedas de preço vem da líder do setor agrícola: a soja. Cotada, em média, a US$ 411 por tonelada no mês passado, a soja perde 29% nos preços ante os valores de igual período de 2014. As exportações deste período do ano, no entanto, ainda são pequenas porque a safra está apenas começando. Já a exportação de frango, o líder entre as proteínas, perde 4% no volume e 5% nos preços médios no período. O café é o único dos produtos brasileiros que teve alta expressiva quando comparado ao ano de 2014, alta de 51%.

Milho A safra de verão de milho deverá ser de 35,3 milhões de toneladas, abaixo do previsto. Já a safrinha deverá atingir 49,1 milhões. Com isso, a produção total de 2014/15 recua para 84,4 milhões de toneladas de milho, segundo a consultoria Céleres.

Safra Mato Grosso semeou 23% de área de milho, estimada em 2,8 milhões de hectares. O levantamento é do Imea (Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária).

Etanol O aumento de impostos sobre a gasolina já se reflete também nos preços do etanol nas usinas. O indicador diário do Cepea e da BM&FBovespa registra alta de 11% nos preços do hidratado na segunda quinzena do mês de janeiro.

Frango O custo de produção do frango de corte teve alta de 6,23% no ano passado. Já os custos da produção de suínos tiveram variação de apenas 0,44% no período, conforme dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa.

Adubos A importação de adubos atingiu o recorde de 24,9 milhões de toneladas no ano passado, alta de 9,7% sobre 2013. Mesmo com a alta do volume, os gastos recuaram 5%, para US$ 8,44 bilhões (SECEX).

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entrevista

Cidasc e Epagri não devem ser unificadas Gerente Regional da Cidasc, Claudemir Souza dos Santos, relata os trabalhos realizados pela companhia vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca

Claudemir ressalta o aprimoramento da qualificação profissional realizado pela Cidasc com o passar dos anos

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ilho de uma família de pecuaristas de Jaguaruna, Claudemir Souza dos Santos, de 57 anos, é engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Há 33 anos, passou em um concurso para a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina

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(Cidasc) e, atualmente, é gerente Regional em Tubarão, de onde comanda 25 municípios com 121 funcionários. Ele está em seu quinto mandato e faz uma análise dos trabalhos, programas e procedimentos realizados pela companhia que tem como missão o controle sanitário, promovendo a defesa sanitária animal e vegetal em Santa Catarina.


Qual a importância da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc)? Claudemir – A Cidasc, uma empresa vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, foi instalada em 27 de novembro de 1979. Ela é uma empresa pública que busca melhorar a qualidade de vida da população catarinense, promovendo a saúde pública, o desenvolvimento integrado e sustentável dos setores agropecuário e pesqueiro, mediante ações voltadas à qualificação da produção, segurança alimentar e apoio à produção. A nossa missão é executar ações de sanidade animal e vegetal, preservar a saúde pública, promover o agronegócio e o desenvolvimento sustentável de Santa Catarina. A Cidasc é a guardiã da agropecuária catarinense e atua para que doenças e pragas que comprometam a nossa produção não entrem em Santa Catarina. Se não fosse o trabalho da Cidasc, em parceria com os agricultores, prefeituras, SDRs, Núcleos, Associação de Criadores de Bovinos e Suínos e Sindicatos, nosso Estado e a região estariam em uma situação muito difícil. O agronegócio representa muito para o Produto Interno Bruto (PIB) catarinense. Nossa produção é de qualidade. Já avançamos muito, mas temos que ir mais longe. Santa Catarina tem o título de Estado Livre de Febre Aftosa sem Vacinação, o que isso significa para a nossa produção? Claudemir - Somos referência para todo o Brasil como o único estado livre de aftosa sem vacinação e isso foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal, em 2007. Somos o único estado da federação a ter este título. Paraná e Rio Grande do Sul são livres, mas ainda vacinam contra aftosa. Esta condição nos abre muitas portas, mostra a qualidade do nosso rebanho e valoriza o nosso produto. Para manter esse reconhecimento, temos 63 barreiras sanitárias instaladas nas fronteiras com os outros Estados,

dos pomares catarinenses contras pragas. Realizamos também o levantamento e detecção do fungo Perenospora tabacina, o mofo azul do fumo, no qual mantemos o reconhecimento de área livre. Com este trabalho, alcançamos a abertura de exportação de fumo para a China, que atualmente representa o principal produto vegetal exportado. Além de não termos registros de moko da bananeira, do cancro da videira e da vespa da madeira, na região.

Estado é reconhecido, desde 2007, como livre de febre aftosa sem vacinação

que faz a fiscalização de todos os animais e vegetais que entram no Estado, além das barreiras móveis. Mas, há outras doenças que também estamos livres? Claudemir – Não temos mais a peste suína clássica. Junto com o Rio Grande do Sul, estamos na expectativa de ser reconhecido também pela Organização Mundial de Saúde Animal, como livres da doença. Estamos em fase de erradicação da brucelose e da turbeculose. Não temos doença da vaca louca no rebanho bovino, nem de gripe aviária, assim como a newcastle, nas aves. Na área vegetal, também temos um grande trabalho. Somos livres da Cydia pomodella, a mariposa-da-maçã. Nosso Estado é o maior produtor brasileiro de maçã e a fruta está entre os sete maiores produtos vegetais exportados pelo Estado em dólares, o que evidencia a importância econômica da proteção

Há sempre comentários de que a Cidasc possa se unificar com a Epagri e formar um único órgão. Há algo confirmado sobre isso? Claudemir - Sempre existiu este comentário. A cada novo mandato de um governador isso vem à tona. Mas, o secretário que assumiu recentemente a Secretaria de Estado de Agricultura e Pesca, Moacir Sopelsa, já confirmou que não haverá junção, até porque cada uma tem sua função específica. À Cidasc cabe todo o papel da defesa sanitária animal e vegetal. A Epagri difunde a tecnologia e promove a pesquisa agropecuária. As duas empresas são muito importantes e trabalham integradas, mas cada uma com a sua missão. Para você colocar todas as funções em uma só, não é fácil. Então, defendo a ideia de que em time que está ganhando não se mexe. Uma das novidades implantadas recentemente foi a Guia de Trânsito Animal (GTA) online. Como está a adesão dos produtores a este novo serviço? Claudemir – Com este novo serviço o produtor não precisa ir até o escritório da Cidasc para solicitar a sua GTA. Se ele vende o animal no fim de semana, por exemplo, pode fazer o transporte no mesmo dia já que, do computador da sua casa, emite a guia. A adesão tem sido bastante significante e no último ano habilitamos 612 produtores em toda a região. Só em Braço do Norte foram habilitados 101. Além da GTA temos a Permissão de Trânsito Vegetal (PTV) que

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segue os mesmos moldes, mas voltada para a produção vegetal. Nós tivemos, no ano passado, um caso bastante grande de tuberculose em uma propriedade de Braço do Norte. Como foi avaliado esta situação pela Cidasc? Ela apresenta riscos? Claudemir – Este foi um caso isolado e esporádico. Após a análise do caso, observamos que certamente o contágio aconteceu por animais que entraram na propriedade sem o devido controle. Com isso, todo o rebanho foi examinado e sacrificamos os animais positivos. Vale lembrar que Santa Catarina é o único Estado que, em caso de sacrifício, paga pelo preço do animal vivo, com incremento para aqueles que têm registro. Até

o ano de 2013, desde que foi criado o Fundo Estadual de Defesa Sanitária Animal, foram indenizados, na região, 588 produtores e sacrificados 2.904 animais, que totaliza um pagamento de R$ 3,6 milhões. Por isso, nós solicitamos que o agricultor que tenha casos na sua propriedade não esconda, pois ele só sairá perdendo. Mas, no geral, o que a gente observa é que a incidência é bem menor. Mas, vale lembrar, que o agricultor é o grande protetor da sua propriedade. Ele tem que ficar de olho e tentar evitar a entrada desta doença, que é transmissível ao homem. A Cidasc tem 35 anos de história, destes, você acompanha os trabalhos em 33 anos. Qual é a avaliação que

você faz? Claudemir – O que observo é a evolução na questão técnica, que acompanha a evolução com técnicos treinados e qualificados. Como gerente Regional, tenho um foco voltado para o atendimento nos escritórios municipais, por isso, a importância de qualificar o nosso pessoal e fortalecer as sedes municipais, tanto é que procuramos realizar investimentos nesta área, como é o caso de Braço do Norte, onde reinauguramos uma nova sede no fim do ano passado. Por outro lado, temos a carência de técnicos, já que, com a saída constante de profissionais, ficamos com carência de pessoal. Mas, estamos trabalhando para que saia um concurso público neste ano ainda

Em dezembro de 2014, a Cidasc inaugurou a nova sede do escritório municipal de Braço do Norte

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Prazo para registro do CAR está chegando ao fim Proprietários rurais devem realizar o Cadastro Ambiental Rural até o dia 6 de maio

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uita gente ainda não se deu conta, mas o prazo para realizar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) está chegando ao fim. O registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais, que identifica as características das propriedades, deve ser realizado até o dia 6 de maio deste ano. Aqueles que não cumprirem a lei estarão sujeitos a multas e a sansões. É isso que explica o engenheiro florestal André Leandro Richter. “O CAR é um ato declaratório, assim como o Imposto de Renda, por exemplo. Se o proprietário rural colocar alguma informação equivocada, certamente terá problemas num futuro próximo. Em algum momento a propriedade será vistoriada e, se não estiver tudo correto, ele sofrerá as consequências”, explana o engenheiro. Criado em 2012, o cadastro deve conter todas as características do local declarado. Entre elas, os lagos, nascentes, áreas para plantações, pastagens, córregos, Áreas de Preservação Permanente (APP), florestas, etc. “Ele foi criado para dar cumprimento à lei do Código Florestal, que foi reformado há três anos. Antes, era obrigatoriedade dos órgãos ambientais fazer a fiscalização das reservas legais. Agora, este encargo fica por conta do produtor. Ele mesmo vai se fiscalizar”, comenta Richter. A partir do cadastramento, os agricultores não terão mais as exigências de averbação de reservas legais em cartório, já que todas as informações estarão disponíveis assim que o cadastro for realizado. Além disso, o CAR permite acesso a crédito rural e a pro-

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André lembra que o CAR é um ato declaratório, assim como o Imposto de Renda, por exemplo

gramas governamentais com mais facilidade. “É importante destacar, no entanto, que o proprietário rural deve procurar alguém que saiba como fazer o cadastro, já que informações distorcidas podem gerar grandes problemas. Engenheiros florestal, agrônomo e agrimensor são pessoas capacitadas para fazê-lo”, coloca. O registro é feito gratuitamente, via

Internet, e tem abrangência nacional. A expectativa do Ministério do Meio Ambiente é de que aproximadamente 5,6 milhões de propriedades do país tenham a inscrição até maio. “Ele é obrigatório para todas as propriedades rurais, e para aquelas, também, que estão localizadas no perímetro urbano, mas que tenham alguma finalidade ligada ao campo”, explana.


Reserva Legal é um dos focos do CAR Uma das finalidades do CAR é definir as áreas de Reserva Legal das propriedades. Estas áreas são destinadas à conservação da biodiversidade, sendo que a exploração dos recursos florestais somente é permitida por meio de técnicas de manejo sustentável. “Na região sul o exigido é que pelo menos 20% da propriedade seja de Reserva Legal. Ela não pode ser desmatada, mas o dono pode uti-

lizar a madeira retirada para uso próprio ou até mesmo comercialização, desde que cumpra todas as normas exigidas”, explica Richter. Área protegida prevista pelo Código Florestal Brasileiro, a Reserva Legal é necessária à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e da flora nativos.

Entenda o processo para realização do CAR - Entre na página do CAR na Internet e acesse o site www.car.gov.br - Módulo Cadastro: baixe o programa Módulo de Cadastro e instale no computador. Selecione o Estado em que o imóvel está localizado, e caso esteja de acordo com os termos de uso, baixe o programa conforme o sistema operacional que desejar (Windows, Linux ou Mac). - Baixe imagens: as imagens de satélite disponíveis para cadastramento do imóvel devem ser instaladas no programa Módulo Cadastro. Você pode utilizar imagens armazenadas em disco ou obtê-las da Internet. Nos dois casos, selecione o Estado, a cidade e então aperte a opção baixar. Repita o procedimento selecionando municípios conforme a localização do imóvel. - Cadastro do imóvel: na opção

Cadastro de Imóveis acesse o botão cadastrar novo imóvel e selecione o tipo de imóvel que irá cadastrar. Depois de identificar o responsável pelo cadastramento, forneça dados e informações de identificação do proprietário ou possuidor. No final responda ao questionário, fornecendo informações complementares sobre a situação do imóvel. Selecione “Finalizar” e armazene o protocolo que será emitido. - Enviar cadastro: após finalizar o cadastro ou retificação do Imóvel Rural, é necessário enviá-lo ao Sicar pela internet para emissão do Recibo de Inscrição CAR. Selecione a opção Gravar para envio. Após salvar o arquivo, acesse a opção enviar. Localize e selecione o arquivo e então envie apertando o botão correspondente. Em caso de suces-

so você receberá uma mensagem de confirmação. - Retificação do cadastro: esse passo só pode ser realizado informando o número de inscrição do CAR. Caso perceba que cometeu algum erro ou precise complementar informações para que possa retificar o cadastro, o número deverá ser enviado ao Sicar, com emissão do recibo de inscrição. - Análise do imóvel: as inscrições recebidas pelo Sicar serão submetidas às regras de validação e análise automática e passarão por análise e validação por parte de órgão competente, dos documentos e informações apresentados. Pendências e inconsistências serão comunicadas ao responsável pela inscrição, para que seja feita a adequação, se necessário, das informações declaradas

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Leite uruguaio: referência mundial em qualidade Raça Jersey está ganhando cada vez mais espaço no país que é reconhecido pelo leite e pelos produtos lácteos

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sabor e a textura do doce de leite uruguaio são inconfundíveis. Os queijos, de diferentes formatos, tamanhos e gostos também mexem com o inconsciente da população. Assim como os alfajores, doces típicos do local. Produtos tradicionais e referência no país, são diferentes na composição, mas têm um ponto – senão o mais importante – em comum. Todos eles são feitos à base de leite. Leite, este, que desperta a atenção e os olhares internacionais. Isso porque o Uruguai vem se destacando na produção e exportação do produto, que cada vez mais agrega valor, principalmente pelos sólidos (gordura e proteína) contidos em sua composição. Hoje,

o país sul-americano exporta para mais de 60 destinos diferentes, sendo Venezuela, Brasil e China os principais compradores. “Temos bons preços e apostamos em inovações e melhoramentos. Isso nos abre novos mercados, fazendo a venda crescer significativamente”, aponta o engenheiro agrônomo Rodolfo Fernández. De acordo com ele, o principal sistema produtivo para criar as vacas leiteiras no Uruguai é o pasto. Mais de 90% dos animais – fala – saem para pastar ao menos uma vez por dia. Com isso, e com os bons preços conquistados nos últimos tempos, alguns empreendimentos já mantêm industrialização própria e 100% das suas vacas alojadas em estábulos.

Conforme o engenheiro, o Brasil é o segundo importador de leite do Uruguai, com uma compra anual na ordem de 180 milhões de dólares, o que corresponde a 20% da exportação. “Da produção total uruguaia, 70% são exportadas e 30% vão para consumo interno”, explana, ao lembrar que o país entrou em uma fase de equilíbrio na produção leiteira. “É certo que existem cada vez menos produtores, porém, eles são cada vez maiores. O desafio que encontramos, muitas vezes, é com relação ao equilíbrio entre produção de leite e agricultura nos campos. Porém, entendemos que as atividades são totalmente estáveis e rentáveis, e uma pode conviver com a outra sem causar maiores problemas”, explana ele.

Mais de 90% dos animais saem para pastar ao menos uma vez por dia

Temos bons preços e apostamos em inovações e melhoramentos. Isso nos abre novos mercados, fazendo a venda internacional crescer significativamente” Rodolfo Fernández

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Raça Jersey ganha cada vez mais espaço Por conta da qualidade do leite produzido, o Jersey está ganhando cada vez mais espaço no Uruguai. Hoje, a raça e suas cruzas já somam aproximadamente 15% do rebanho nacional, haja vista que os animais se adaptam muito bem aos sistemas pastoris de altas cargas, têm boa produção de sólidos por litro, boa fertilidade e sanidade, vida longa e são fáceis de serem manejados. “Uma das grandes contribuições que pode fazer a raça conquistar ainda mais competitividade em nível mundial é a concentração de sólido. Os níveis atuais, por exemplo, são de 5,77% de gordura e 4% de proteína para o Jersey, contra 3,5% de gordura e 3,2% de proteína para o Holandês”, explica Fernández. Ele lembra, também, que o leite Jersey tem alta eficiência na industrialização de produtos lácteos, como queijos, manteigas, iogurtes, entre outros. “O animal dessa raça

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s métodos de cobrança dos impostos uruguaios permitem que os produtores tenham maiores lucratividade e competitividade. O engenheiro agrônomo Rodolfo Fernández explica como é feito este processo, e quais as formas de cobrança realizadas pelo governo do país.

produz entre 20% e 25% mais de gordura e proteína por litro de leite do que o Holandês, o que agrega valor a toda a cadeia de laticínios”, evidencia.

Sólidos lácteos no novo cenário leiteiro nacional As mudanças no sistema de pagamento da principal cooperativa láctea do Uruguai (Conaprole) fizeram com que o leite com alto conteúdo de sólidos tivesse valor médio 28% superior aos demais. Essa alta concentração é similar à média do leite recebido pela Fonterra, na Nova Zelândia, o principal concorrente do Uruguai. Conforme o engenheiro agrônomo, em nível internacional, os produtos lácteos exportados pelo país são divididos da seguinte forma: 31,20% são de leite em pó integral, 25,28% leite em pó desnatado, 18,15% são de manteiga e 25,35% de queijos. “Como vemos, 75% do comércio internacional são de produtos lácteos sem água, e esta é uma grande tendência”, fala, ao comentar que a produção leiteira do Uruguai vem crescendo 7% ao ano, e nos últimos tempos este aumento tem foco significativo no mercado mundial. A alta quantidade de sólidos encontrada nos leites uruguaios, informa, tem uma série de vantagens. E não apenas o

Sobre a tributação no Uruguai

produto é beneficiado, mas também a vaca leiteira. Entre os benefícios, destacam-se a maior longevidade do animal, menores problemas nos cascos e de mastite, melhoria durante a conversão do leite para alimentos lácteos, além de subir cerca de 11% a produção de sólidos na presença de stress térmico.

Revista Negocioagro: Qual o principal fator que faz o leite ser mais ou menos valorizado comercialmente? Fernández: Geralmente a Cooperativa Nacional dos Produtores de Leite do Uruguai (Conaprole) transfere cerca de 80% do aumento dos preços aos produtores. Assim eles conquistam bons valores na venda do leite. Isso se baseia pela quantidade de proteína e pelo volume do líquido comercializado. Por conta disso é tão importante a concentração de sólidos no produto. É este o caminho que o Uruguai quer percorrer. Negocioagro: E de que forma é feita a tributação do leite e dos produtos lácteos no país? Fernández: A produção leiteira é tributada de formas diferentes, de acordo com o tamanho do produtor. Se for micro, o imposto é uma pequena porcentagem do que ele comercializa. Para aqueles que passam de determinado volume de faturamento, o imposto é uma porcentagem da rentabilidade do estabelecimento. Desta maneira, o produtor só paga os impostos se ele faturar realmente com a venda do produto

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Climatizadores dão refresco aos suínos Nos dias de calor, animais sofrem com a falta de conforto térmico, que pode ser amenizado por meio de equipamentos próprios

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potencial genético dos suínos sempre foi tema de estudos por parte dos produtores e especialistas. Quanto eles poderiam render? Qual a melhor forma de tratá-los para alcançar a produtividade máxima? O que é necessário para garantir a boa reprodução? Questões como essas vêm sendo discutidas por pesquisadores há décadas e, com base nas respostas encontradas, chegou-se a conclusões relacionadas à genética, fisiologia, sanidade, nutrição e instalações apropriadas para a atividade. Tudo isso gerou uma vasta literatura, por meio da qual muita gente se apega para criar os

animais da melhor forma possível. No entanto, um detalhe por muito tempo permaneceu sendo pouco abordado. Mesmo assim, sempre foi motivo de preocupação e costumeiramente tirava o sono dos produtores. Como aliar a alta produtividade e os melhoramentos genéticos ao conforto térmico dos animais, já que é no verão que os índices zootécnicos pioram? É nesta época, também, que os suinocultores costumam contabilizar mais prejuízos, devido, justamente, às altas temperaturas e à agitação dos animais, que sofrem com o calor. Por conta disso, a climatização para

instalações suinícolas vem passando por um grande amadurecimento nos últimos anos. A tecnologia está consolidada e projetos assim estão cada vez mais em alta. Conforme o presidente do Núcleo Regional Sul da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Adir Engel, as técnicas foram sendo aprimoradas e chegam cada vez com mais força ao mercado. “Antes os produtores faziam a nebulização, jogavam água, mas isso não era suficiente. O calor dos últimos verões está acima da média, o que faz os suinocultores se especializarem no setor e nas diferentes fases de produção”, pontua Engel. Tecnologia está consolidada e projetos assim estão cada vez mais em alta

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Necessidade surgiu do aumento de animais no mesmo espaço Os climatizadores começaram a ser estritamente necessários a partir do momento em que as antigas criações extensivas passaram a intensificar o trabalho, tendo como característica principal o alojamento de um grande número de animais em um espaço reduzido. Essa mudança aconteceu ainda na década de 1960 e tornou-se cada vez mais comum. De acordo com Engel, o suíno é um exemplo de animal que teve o conforto prejudicado pela intensificação

da produção. “O grande problema é que o inverno e o verão são estações muito bem definidas na nossa região. É claro que os suinocultores devem prezar pela produtividade, mas não devem esquecer, jamais, de respeitar os limites do animal. O calor é grande, e deve-se fazer o máximo possível para evitar o stress do suíno. Assim eles ficam menos agitados, dão mais leite, ganham mais peso”, exemplifica. Ainda de acordo com ele, o manejo,

Retorno garantido Com 1.100 matrizes alojadas em duas granjas, com dois mil metros quadrados cada uma, na localidade de Rio Café, Aldo Warmeling, investiu R$ 150 mil no final de 2014 para climatizar os espaços onde estão os animais e garante que já tirou o investimento. “Antes a porca sentia muito calor. Se debatia, não comia o suficiente, gastava muita energia e não produzia leite para amamentar”, lembra Aldo que afirma que com isso os leitões não se desenvolviam. Com a climatização da granja, os galpões onde estão os animais estão com a temperatura 10 graus abaixo do que é registrado fora

e com uma sensação térmica de até 20 graus menor. “A preocupação com o conforto térmico do animal vem crescendo e a tecnologia, hoje, é nossa aliada”, lembra o produtor. Ao lado do filho eles constroem uma nova granja, toda moderna e que fará até mesmo o aproveitamento da água da chuva para lavação das baias. “Hoje consumo 45 mil litros de água por dia em minha granja. Se não precisar tirar esse volume do rio ou do subsolo, com certeza teremos mais água nos riachos e ajudaremos a preservar o volume d’água dos córregos”, mostra exemplar preocupação ecológica.

Saiba Mais Conheça os principais problemas e dificuldades encontrados na suinocultura durante o período de Verão e algumas recomendações para amenizá-los: Problemas: - Baixo consumo de ração das matrizes em lactantes - Calor excessivo, sem fluxo de vento - Esmagamento de leitões (em caso de matrizes agitadas) - Instalações com pouca arborização externa - Comedouro com difícil acesso à água - Remoção de ração não consumida dos comedouros

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que envolve diretamente o sistema de criação escolhido, a nutrição e a sanidade, além das instalações bem feitas, tanto estruturais quanto zootécnicas, são essenciais para quem quer trabalhar no setor. “As variações ambientais podem e devem ser controladas. Sabemos que a preocupação em fornecer ao animal um ambiente de conforto requer conhecimento e, sobretudo, vontade de melhorar ainda mais a produção”, destaca Engel.

Recomendações técnicas: - Para aumentar o consumo de ração, recomenda-se realizar as tratadas nas horas mais frescas do dia, fazer uma boa limpeza dos comedouros para que não fique alimento com odor forte no cocho, retirando a ração velha antes das tratadas. - Para ter um bom ambiente, principalmente para as matrizes, recomenda-se plantar árvores para sombreamento na parte externa da maternidade e a instalação de sistema de climatização, proporcionando um ambiente mais fresco para os animais e para as matrizes em lactação. Desta forma, eles ficam menos agitados. - Nos meses de calor pode-se aumentar a energia da ração com o uso de energético palatável. Sabendo que a matriz consome menos, o produtor estará fornecendo uma ração de alto nível de energia para não diminuir a produção de leite. - Água fresca clorada e de boa qualidade é indispensável para manter a produtividade durante os dias quentes. O consumo aumenta e a necessidade também


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Mercado interno sofre com a redução do preço do tabaco após a queda na exportação

Economia Sul catarinense sente queda nas exportações de tabaco Diminuição no consumo e aumento da produção em países africanos deixa produto estocado nas empresas fumageiras

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diminuição do tabagismo em todo o mundo e o aumento na produção da matéria-prima, principalmente em países africanos, faz com que o Brasil e, consequentemente, o sul catarinense amarguem o resultado da baixa das exportações do tabaco. Desde 2012, este número se mantém em declínio, deixando as entidades, sindicatos e empresas fumageiras de olhos bem abertos para com o futuro da cultura. Conforme o inspetor da Associação

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dos Fumicultores do Brasil (Afubra) de Braço do Norte, Hilário Boing, as exportações brasileiras já acumularam uma diminuição de 100 mil toneladas. Dados da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, apontam, ainda, que a redução nas exportações em 2014, comparada a 2013, chegou a -24% em dólares. “Um dos problemas principais é que o fumo acabou ficando estocado de safras passadas e isso reflete diretamente na compra da

safra atual. A procura e a oferta serão menores”, explica Boing. Quando este cenário se repete, explana o inspetor da Afubra, há mais dificuldade na negociação de preços e a classificação fica ainda mais rigorosa. “Estamos agora no início da comercialização e, pelo menos por enquanto, tudo ainda segue em linhas normais. Sabemos, no entanto, que em algum momento os nossos fumicultores vão sofrer as consequências desta queda nas exportações”, afirma ele.


Mesmo em queda, Brasil ainda é o maior exportador mundial Em 2014, o Brasil embarcou 476 mil toneladas de tabaco, o que gerou divisas de aproximadamente US$ 2,5 bilhões. Treze países já deixaram de comprar o produto brasileiro e sete passaram a integrar a lista de importadores, totalizando 96 países que levaram o produto plantado e colhido por mais de 162 mil agricultores brasileiros. Boing afirma que, mesmo com a queda, o Brasil continua sendo o maior exportador do mundo e o segundo maior produtor, atrás apenas da China. “Principalmente na Europa o consumo diminuiu muito. Com a entrada dos países africanos na indústria fumageira fomos perdendo espaço, haja vista que as 60 mil toneladas produzidas na África subiram para 200 mil em cerca de três anos”, explana. A afirmação de Boing é confirmada pelo presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), Iro Schunke. “A competitividade também foi prejudicada porque o câmbio não esteve favorável no primeiro semestre, pelo aumento da produção em países concorrentes e pelo Custo-Brasil, que envolve questões burocráticas e de logística”, fala, ao lembrar que os crescentes custos de mão de obra, energia

e insumos contribuíram para a retração da demanda. Depois do Brasil, Índia, Zimbábue e Estados Unidos aparecem na lista dos maiores produtores de tabaco. “O país africano tem aumentado significativamente sua produção, chegando a patamares semelhantes aos do início dos anos 2000, quando era um grande concorrente brasileiro no que diz respeito ao produto de alta qualidade”, avalia Schunke, dizendo que “nossos custos são superiores, principalmente considerando o quesito mão de obra. Mas é importante ressaltar que o Brasil, além de produzir boa qualidade, está mais adiantado no que diz respeito à rastreabilidade e sustentabilidade, com boas práticas de responsabilidade social e preservação ambiental”, conta. No Brasil, o tabaco representou 1,11% do total das exportações, já no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a participação foi de 10,2% e 6,1%, respectivamente. “Iniciamos 2015 com a certeza de que o tabaco continuará sendo parte importante da balança comercial brasileira, assim como na geração de renda e empregos para centenas de municípios”, projeta Schunke

Saiba mais Apesar da Bélgica e Holanda terem reduzido suas compras em cerca de 30% em comparação a 2013, a União Europeia continua sendo o principal destino do tabaco brasileiro (42%), seguida pelo Extremo Oriente (28%). A China também acompanhou o ano de redução de embarques (-27%) comparado com o ano anterior, mas a principal queda registrada foi para os Estados Unidos (-42%).

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Para aumentar a produtividade, irrigação é a alternativa Diferentes métodos são utilizados na lavoura; para definir o melhor, é necessário a elaboração de um estudo prévio

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inda na antiguidade, os homens perceberam o quanto a água era essencial para o desenvolvimento das plantas. Onde o rio passava, o florescimento era abundante. Em contrapartida, nos locais onde a seca se fazia presente, a produtividade caía de forma considerável. Como resolver o problema se a natureza, responsável pela condição hídrica, não distribuía igualmente a água da chuva ou dos rios? O que fazer para manter a produção dos alimentos em alta, garantindo a subsistência de povos tão antigos? Foi então que os homens, avaliando a situação, criaram novas técnicas e começaram a trabalhar com a irrigação.

Aos poucos, o método foi sendo aperfeiçoado e cada vez mais utilizado, no intuito de atingir a produtividade máxima da colheita. Conforme a engenheira agrônoma da Epagri e mestre em Irrigação e Drenagem, Danieli Barivieira Zitterell, a técnica, que complementa as demandas de água de forma artificial, tem grande importância por manter o solo com determinado teor de umidade. “É isso que vai permitir a melhor expressão da produtividade da planta. Muitas vezes utilizamos fertilizantes e insumos que só terão efeito se existir água no solo. Além disso, uma planta com as necessidades hídricas supridas também apresenta menos ataque de pragas e de doenças”, explana a profissional.

A técnica, que tem grande eficiência entre os produtores, tem como principal objetivo o aumento da qualidade e da quantidade dos produtos em relação àqueles que não foram irrigados. “Tanto é que uma lavoura com um bom manejo de água pode dobrar a produção, assim como observamos em áreas de pastagens irrigadas”, aponta Danieli. Os benefícios são reafirmados pelo engenheiro agrônomo José Cerilo Calegaro, da Epagri de Tubarão. “Uma das grandes vantagens é que a irrigação é controlada. Por exemplo, em casos de pastagens irrigadas, o produtor tem a possibilidade de manejar o teor de umidade do solo, evitando a formação de barro e perda da forragem”, explica ele. Aspersão convencional distribui água de maneira uniforme

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Cultura vai determinar o método empregado Diferentes métodos de irrigação podem ser utilizados. O que vai definir a técnica é justamente a cultura que foi plantada. Entre os mais comuns, destacam-se os métodos de aspersão convencional, microaspersão, gotejamento, sulcos de infiltração, tabuleiros – no caso do arroz irrigado – ou até mesmo a elevação do lençol freático, que é possível ser feita em determinadas áreas. Danieli conta que o método deve ser escolhido de acordo com uma série de fatores. “O agricultor deve estudar o que pretende fazer e, só então, definir. Ele tem de entender a cultura que será trabalhada, a disponibilidade de água no local, as características do solo, o tipo de energia disponível, a mão de obra, o custo, entre muitos outros fatores”, fala ela, ao lembrar que é justamente isso que faz o produtor necessitar de ajuda profissional, visitas e levantamento de informações especializadas. É este estudo prévio, também, que determinará a quantidade de água necessária para que a lavoura ganhe cada vez mais em produtividade. Isso dependerá do estágio de desenvolvimento da planta e das condições do clima. “Como todos estes fatores são completamente variáveis, mais uma vez destaco a importância da orientação para que o produtor não jogue água nem dinheiro fora. Mais importante que um bom sistema de irrigação é, com certeza, o manejo

Técnica de gotejamento leva água diretamente à raiz

Já passamos por estiagens muito severas, que comprometeram os cultivos. Com a irrigação, as lavouras têm a possibilidade de apresentar produtividade bem superior à média” Danieli Barivieira Zitterell adequado do método, que deverá ser orientado pelo técnico responsável”, expõe. Seguindo todas as dicas, com certeza a produtividade da lavoura será muito maior que a normal. “Já passamos por estiagens muito severas, que comprometeram os cultivos. Com a irrigação, as lavouras têm a possibilidade de apresentar produtividade bem superior à média. Já um sistema manejado sem critério algum apresenta o mesmo benefício de chuvas regulares, ou seja, não acrescentará o mínimo esperado”, completa a engenheira.

Saiba mais A história da irrigação se confunde com a história da humanidade. Estudos mostram que a técnica se iniciou no antigo Egito, há 5 mil anos. Na época, o Egito tinha apenas uma faixa de terra onde o homem podia viver. O deserto do Saara estava em toda a parte, com dunas, tempestades de areia e solo calcionado. No meio do deserto, porém, corria o rio Nilo. Todos os anos, as águas do Nilo, engrossadas pelas chuvas de setembro a outubro, cobriam as margens e se espalhavam pelo país. Quando baixavam, deixavam uma forte cama de húmus, fazendo com que os cam-

poneses plantassem trigo e tratassem os animais. Havia, no entanto, um inconveniente. Se chovesse demais, tinha devastação, se fosse de menos, a terra fértil para semear era pouca. Foi então que, sob comando do faraó Ramsés III, os egípcios ergueram diques que pressionavam o rio a passar por um vale estreito, elevando as águas e represando-as em grandes reservatórios. De lá, desciam para os campos por meio de canais e comportas, na quantidade desejada. Foi aí que o homem começou a dominar a ciência da irrigação, e se deu conta da sua importância para o progresso.

Métodos de irrigação: - Aspersão convencional: a água cai no terreno de forma semelhante à chuva (ela é distribuída de forma uniforme). - Microaspersão: muito utilizada para irrigação de culturas perenes. Também é considerada uma irrigação localizada, porém a vazão dos emissores é maior que a dos gotejadores. - Gotejamento: a água é levada sob pressão, por tubos, até ser aplicada ao solo por meio de emissores diretamente sobre a zona da raiz, em alta frequência e baixa intensidade. - Sulcos de infiltração: usa o método de irrigação por superfície. A distribuição da água se dá por gravidade através da superfície do solo www.negocioagro.com.br

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Anualmente são vendidas cerca de 180 bolsas de milho em Braço do Norte

Milho Variedade alia baixo custo, produtividade e tradição Sementes de polinização aberta, melhoradas pela Epagri, caem no gosto dos agricultores familiares

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tradição e a rusticidade do milho, cereal que carrega nos grãos a história da colonização regional, estão sendo preservadas e perpetuadas por meio de um trabalho de pesquisa desenvolvido pela Epagri. Após muitos estudos e experiências, a instituição colocou no mercado, há alguns anos, quatro variedades de milho de polinização aberta. O objetivo é criar opções adaptadas às condições de cultivo da agricultura familiar, com rendimento de grãos, resistência ao quebramento e às principais doenças e pragas e bom empalhamento das espigas. Foi assim que surgiram as sementes Esperança, Fortuna, Catarina e Colorado. Mais rústico, o cereal caiu na graça dos agricultores familiares, especialmente daqueles que gostam da tradicional polenta ou da farinha de milho feitas da forma antiga, na atafona, com grãos 26

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O agricultor gosta de utilizar os grãos em casa, no preparo de diferentes receitas ou da silagem para os animais. Ele mantém a tradição dos antepassados” Adriano Schurhoff característicos, como os de anos atrás. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Braço do Norte, Adriano Schurhoff, a entidade comercializa as variedades há cinco anos e, atualmente, vende cerca de 180

bolsas de 10 quilos anualmente. “A cada safra esta quantidade aumenta. O agricultor gosta de utilizar os grãos em casa, no preparo de diferentes receitas ou da silagem para os animais. Ele mantém a tradição dos antepassados, além de conquistar uma série de benefícios por conta dessa preferência”, fala. De acordo com ele, alguns dos grandes diferenciais do Milho Variedade é que a semente pode ser reutilizada de um ano para o outro, é mais resistente à seca, tem um bom rendimento e exige menos fertilização do solo. “Além das bolsas de 10 quilos, também temos as menores, de 2,5 quilos, para vender no sindicato. Elas são ideias para quem quer plantar em casa, para consumo próprio. Comercializamos, aqui, o Catarina, que é ótimo para a utilização como grãos; o Fortuna, que faz uma silagem excelente; e o Colorado, de coloração escura, muito bonita”, expõe Schurhoff.


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Melhoramento genético é prioridade Tendo em vista a importância que o milho ainda tem para as propriedades rurais de Santa Catarina, a Epagri permanece desenvolvendo uma série de pesquisas na área, principalmente realizadas no Centro de Pesquisas para a Agricultura Familiar (Cepaf ), localizado em Chapecó. O melhoramento genético das sementes iniciou em 1997, e, desde então, não parou mais, sempre em busca de opções que tragam ainda mais benefícios aos produtores. Até o momento, quatro variedades de polinização aberta foram lançadas, e três destas continuam no mercado. Todas elas, conforme o pesquisador Luiz Carlos Vieira, foram avaliadas e são ideais para as quatro regiões do Estado, especialmente para o Oeste e para o Planalto Norte. “Elas são avaliadas em diferentes condições de clima e de solo. Quando comparadas com outras variedades, ficam sempre entre as mais produtivas”, esclarece Vieira. Como as sementes híbridas exigem alto investimento para garantir boa produção, já que precisam ser compradas a cada safra e demandam mais adubos, muitos agricultores vêm utilizando as variedades de polinização aberta, principalmente para reduzir custos. “Outra vantagem é que estas opções melhoradas apresentam maior resistência e tolerância a problemas ambientais, principalmente à seca, e são mais resistentes aos ataques de pragas e doenças”, coloca ele.

Produção de milho em Santa Catarina é alta A produção agropecuária sempre foi um dos destaques do Estado de Santa Catarina. Por mais que os anos passem e a tecnologia invada cada vez mais tanto a cidade quanto o campo, milhares de pessoas ainda continuam apostando na lavoura como principal fonte de subsistência. Dados apontam que, atualmente, cerca de 180 mil famílias ainda vivem da agricultura no Estado, o que representa mais de 90% da população rural catarinense. Destas, aproximadamente 150 mil famílias produzem milho, tanto para o consumo animal quanto humano. O grão, bastante disseminado, tem significativa importância às propriedades rurais. Utilizado na suinocultura, avicultura e bovinocultura, é produzido em grande escala, variando entre 2,9 milhões e 4 milhões de toneladas nos últimos anos. Em Santa Catarina, agricultores de diversas regiões têm se beneficiado dos cultivares de polinização aberta. Com o uso das sementes melhoradas, a produtividade, que geralmente é de cerca de três toneladas por hectare, salta para mais de seis toneladas por hectare. No caso das variedades Catarina e Fortuna, esse incremento resulta, de acordo com levantamento da Epagri, em R$ 1,26 mil a mais para o produtor a cada hectare plantado. “Isso implica na melhoria das condições de vida da família, na oportunidade de continuar com a atividade, e na permanência no campo”, avalia Vieira.

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Sementes são comercializadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Braço do Norte

Diferença entre Milho Variedade e Híbrido Variedade e Híbrido muitas vezes são utilizados como sinônimos na agricultura. Porém, essa associação está equivocada, já que eles representam tipos completamente diferentes de sementes. Entenda: Híbrido - resulta do cruzamento entre dois genitores (pais) de linhagens puras diferentes, possuindo características homogêneas entre si, mas diferentes dos pais. As sementes são obtidas por polinização induzida, sendo este um processo caro e complexo. Em geral, rendem plantas com alto vigor e produtividade. No entanto, para produzir bem são necessárias ótimas condições de crescimento com as quantidades corretas de fertilizantes, água e agrotóxicos. Em condições rústicas, costumam não produzir bem. Variedade: são plantas geradas por polinização natural, tendo sido obtidas pela seleção de vegetais com características desejáveis. São mais rústicas, toleram condições menos favoráveis ao seu crescimento. Como têm características semelhantes às dos seus pais, as sementes podem ser reutilizadas


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Inicia a melhor época do ano para a venda de ovos Quaresma e baixa na produção fazem o preço do produto subir, valorizando o alimento

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Quaresma está chegando e, com ela, o início do melhor período de vendas de ovos para os avicultores. A diminuição no consumo de carne, bem como a queda na produção no número de ovos – o que faz a demanda ser maior que a oferta – traz benefícios a quem vive da atividade. A partir de agora, os produtores já sabem: os próximos meses serão de fartura e de bons negócios. O ovo de galinha, alimento indispensável na mesa de 10 em cada 10 brasileiros, sofre com a sazonalidade do preço. Entre fevereiro e setembro, fala o associado à Cooperativa dos Produtores de Ovos de São Ludgero (Cooperovos), Silvio Fuchter Schlickmann, os avicultores ficam tranquilos, porque o valor pago pela caixa costuma ser bastante atrativo. Entre setembro e novembro, no entanto, o cenário inverte e alguns produtores chegam a ter prejuízo. Isso ocorre, conta ele, devido a uma série de fatores. “As galinhas produzem mais em dias crescentes, ou seja, quanto mais longo ele é, mais ovos elas põem. E isso é muito comum no verão. Acontece que, quanto maior a produção, maior

Quanto maior a produção, maior oferta e, consequentemente, menor o preço. Por isso os últimos e os primeiros meses do ano não são muito favoráveis para a nossa atividade” Silvio Fuchter Schlickmann

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Com a chegada da Quaresma, ovo ganha a preferência do consumidor

oferta e, consequentemente, menor o preço. Por isso, os últimos e os primeiros meses do ano não são muito favoráveis para a nossa atividade”, conta ele, ao lembrar que, nas granjas, a luminosidade é controlada conforme a necessidade e a produção. Junto a isso, soma-se o aumento no consumo por conta do jejum durante a Quaresma. Muitas pessoas trocam as carnes vermelhas e brancas pelos ovos, o que faz a procura pelo produto aumentar significativamente. “Isso é histórico, o período que inicia agora e perdura até setembro é ótimo para a gente. Para ter ideia, uma caixa de 30 dúzias, que chega a ser comercializada por R$ 45 no fim do ano, é vendida por até R$ 100 no mês de março seguinte”, explana Schlickmann. Com a aproximação do outono e di-

minuição do período de sol, não apenas as galinhas produzem menos, mas todas as outras aves. “Tem também a questão da concorrência. Quanto menos ovos no mercado, melhor para nós. Devemos aproveitar esta boa época para vender ao melhor preço possível. Este mercado oscila muito e por isso mesmo já nos preparamos para os piores meses, que são entre setembro e novembro. Depois, as coisas voltam a normalizar”, conta ele. Somente os associados a Cooperovos, em São Ludgero, possuem um plantel de mais de um milhão de aves, divididas entre os aproximadamente 40 sócios. O município é o maior produtor de ovos do Estado de Santa Catarina, contando com mais de 100 granjas produtoras, que totaliza cerca de 18 milhões de ovos por mês.


Como melhorar a produção de ovos A produção de ovos é um importante aspecto da criação de galinhas. Muitas pessoas, em determinadas épocas do ano, se perguntam por que as aves não estão botando tantos ovos quanto deveriam. Para isso, é necessário tomar alguns cuidados, no intuito de manter a produção estável e manter valorizado o valor pago pela dúzia. Fique atento às dicas e, caso necessário, siga diferentes planos de ação: – Luz artificial – para que mantenham a produção de ovos, as galinhas precisam de aproximadamente 14 horas de luz por dia. Durante o outono e o inverno, é muito provável que elas não receberão a luz do dia que precisam, dessa forma a produção pode ser paralisada. É possível introduzir a luz artificial suplementar no galinheiro. – Aumento de proteína – quando as galinhas jovens começam a botar, elas necessitam de mais proteína. Por essa

As galinhas produzem mais em dias crescentes, ou seja, quanto mais longo ele é, mais ovos elas põem” Silvio Fuchter Schlickmann

razão, a suplementação é necessária, em especial para as galinhas poedeiras. – Acesso à água e comida – embora não morram se ficarem algumas horas sem comida ou água, a falta pode afetar o número de ovos. As galinhas devem ter acesso a uma alimentação completa. A ração molhada deve ser jogada fora. Quanto mais tempo for estocada, menos vitaminas ela terá. – Regular a temperatura – todos os tipos de aves domésticas são afetadas por altas temperaturas. Se as galinhas estiverem passando muito calor, a produção de ovos será afetada. É necessário providenciar sombra, boa ventilação e bastante água fresca. – Adicionar cálcio – a casca do ovo é feita principalmente de cálcio, por isso elas precisam dele quando estão botando. Falta de cálcio na ração resultará na redução da produção e ovos com a casca mais fina

Comida e água não pode, faltar para terem produção maior

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Hidroponia: a oportunidade que nasceu da necessidade Há pouco mais de um ano, o orleanense Élio Rossi viu na técnica a chance de voltar para o campo e garantir a renda mensal para a família “Da necessidade surge a oportunidade”. É assim que Élio Rossi, 40 anos, natural e morador do distrito de Pindotiba, Orleans, define a atividade que desenvolve hoje. Há pouco mais de um ano cultivando verduras hidropônicas, o agricultor viu na produção, a chance de garantir renda para a família. Casado e pai de um filho de seis anos, Rossi, que trabalhou 16 anos em uma indústria de plástico, viu-se sem emprego de uma hora para outra. “A empresa passou por uma redução de gastos e eu acabei sendo demitido. Não sabia exatamente o que fazer, mas tinha plena certeza de que algo melhor ainda estava por vir”, destaca ele. O homem, que havia deixado o campo aos 22 anos de idade, resolveu voltar para o local onde foi criado. Entre as pastagens e o gado, no meio de açudes e peixes, decidiu investir. E investir, desta vez, em algo novo, diferente de tudo o que já tinha visto ao longo da vida. “Tive a ideia de trabalhar com hidroponia quando, pouco depois de ter sido demitido, fui até o supermercado e vi como os vegetais estavam feios na gôndola. As alfaces, principalmente, estavam completamente murchas. Então pensei: por que não tentar, por que não voltar pra lavoura, lugar que tanto gosto?”, comenta Rossi. Da hidroponia, só tinha ouvido falar. Não sabia como funcionava, tampouco os benefícios da técnica. Com a ideia em mente, resolveu ir atrás de mais informações. Pesquisou em agropecuárias, buscou ajuda, procurou pelos materiais necessários e construiu a primeira estufa. O protótipo tinha 56 metros quadrados e espaço para 700 pés. “Investi, em princípio, cerca de R$ 5 mil. Plantava apenas alface, até que senti a necessidade de aumentar a produção e o espaço. Pela segunda vez, resolvi apostar na técnica”, comenta. Assim, aproximadamente mais R$ 80 mil foram utilizados para aumentar as 32

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Élio Rossi encontrou na hidroponia uma fonte de rensa

Fui até o supermercado e vi como os vegetais estavam feios na gôndola. As alfaces, principalmente. Então pensei: por que não tentar, por que não voltar pra lavoura?” Élio Rossi

estufas. Com espaço para 7 mil pés, totalizando 550 metros quadrados, hoje Rossi colhe cerca de 5 mil pés mensalmente, e produz quatro variedades de alface, radiche, rúcula e agrião. Outros três tipos de alface já foram testadas, mas, conta ele, não caíram no gosto dos clientes. “Algumas pessoas ainda resistem a comprar os hidropônicos, mas quem os prova, não quer outro. A técnica acentua a maciez das verduras, elas são praticamente livres de agrotóxico, limpinhas e muito maiores que as tradicionais”, acrescenta o produtor. Com acréscimo de aproximadamente R$ 1 com relação às outras variedades no mercado, os hidropônicos de Rossi, hoje, já podem ser encontrados em verdureiras da região e na própria residência. “Acredito que eu tire o investimento todo em até três anos. Essa atividade exige bastante dedicação, cuidado e zelo com as mudinhas, até que elas cresçam e se transformem em belos pés prontos para comercialização”, enfatiza.


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Curiosidades sobre a técnica A hidroponia é a técnica de cultivo dentro de uma estufa que utiliza água no lugar de terra. Neste método, o vegetal retira os nutrientes necessários por meio dos fertilizantes solúveis na água, sempre balanceados e controlados. Como utiliza um sistema fechado, diminui quase que totalmente o uso de agrotóxicos. De acordo com Rossi, diferentemente da técnica convencional, a hidroponia não sofre com a ação do clima. “Por conta disso, os vegetais tendem a se desenvolver até três vezes mais rápido. Também não há problemas com capinação, sujeira, aplicação de inseticidas e fungicidas. A manutenção é, basicamente, o monitoramento e a colheita”, fala o agricultor. Ele conta que no inverno a produção tende a diminuir, haja vista que o consumo também cai. “Porém, independente da época do ano, o que o consumidor

O tamanho e o sabor, bem como a aparência do hidropônico, são muito melhores que os do tradicional”. Élio Rossi quer é uma verdura fresca, bonita, bem apresentável. A população fica carente de produtos de qualidade, principalmente no que diz respeito ao hortifruti. Por isso trabalhamos para suprir esta necessidade e desejo”, garante ele.

Raízes da alface ficam em contato direto com a água

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Da história A antiga Mesopotâmia, que ficava entre os rios Tigre e Eufrates, foi o local onde se encontrou vestígios de poços e canais para irrigação pela primeira vez na história. Na Babilônia, os jardins suspensos da rainha Samíramis foram construídos com base na hidroponia. Posteriormente, a partir do século 17 vários estudos foram realizados para se verificar quais eram os nutrientes de que as plantas necessitavam em seu crescimento. O termo hidroponia (hydro – água e ponos – trabalho), ou seja, trabalho na água, foi primeiramente utilizado em 1940 pelo doutor Willian Frederick Gericke, da Universidade da Califórnia. Ele desenvolveu uma técnica de cultivo sem solo onde cultivou frutas, cereais, flores e tubérculos em larga escala. Após, apresentou um trabalho onde pesquisou a fisiologia, a nutrição e o crescimento das plantas, aprimorando a técnica e definindo o seu nome


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Polinização assegura maior produtividade de frutos Trabalho desenvolvido principalmente pelas abelhas garante ganho na produção, tanto em quantidade quanto em qualidade

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las voam de planta em planta realizando um trabalho de grande importância para a manutenção da biodiversidade. Pegam um pólen aqui, esbarram em outro ali e, assim, lentamente, vão fazendo a polinização das plantas, garantindo a frutificação nas variadas épocas do ano. É assim que as abelhas realizam uma das principais tarefas que se tem conhecimento com relação à diversidade da flora. É assim que elas mantêm alto o número de frutas e hortaliças que as pessoas podem usufruir. A polinização nada mais é que a transferência de grãos de pólen de uma flor para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) de outra flor da mesma espécie. Se o pólen fecundar os óvulos existentes no aparelho reprodutor, haverá formação das sementes e frutos. Este trabalho na maioria das vezes é realizado pelas abelhas, que carregam no corpo os grãos, de uma planta a outra, quando vão em busca de comida, mas também pode ser realizado por insetos ou pássaros, assim como pelo vento ou pela água. De acordo com a doutora em Zoologia, Birgit Harter Marques, algumas plantas não precisam ser polinizadas para darem frutos, mas estas são exceções. Outras, como o maracujá, por exemplo, já não contam mais com o seu polinizador natural – no caso, a mamangava. “É raro encontrá-la na natureza, por isso mesmo os produtores têm o trabalho de fazer a polinização manual. Eles levam o pólen para o aparelho reprodutor do vegetal e fazem nascer, ali, uma fruta”, destaca a doutora. Isso acontece, conta ela, por conta da redução da população de determinadas espécies na natureza. Com o desmatamento e, por consequência, a troca das árvores por prédios, muitos dos animais que fazem o trabalho de polinizar acabam sendo praticamente extintos

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Trabalho de polinização é, na maioria das vezes, realizado pela abelha

Já fizemos tanto mal para a natureza, que temos que defender aquilo que restou. Os insetos e pássaros são imprescindíveis para manter e preservar o meio ambiente como ele é” Birgit Harter Marques

de determinadas regiões. A preocupação neste momento, explana Birgit, é com relação às abelhas, principalmente as nativas. “Se houver a diminuição no número destes animais, há risco de não acontecer a polinização em muitas variedades de plantas. Consequentemente, a flora e a biodiversidade sofrem perdas drásticas”, aponta, ao lembrar que “já fizemos tanto mal para a natureza, destruímos tantas coisas, que temos que defender aquilo que restou. Os insetos e pássaros são imprescindíveis para manter e preservar o meio ambiente como ele é”, complementa.


Para as macieiras, colmeias alugadas Assim como a grande maioria das outras frutas, a maçã que chega até o supermercado e, em seguida, à mesa do consumidor, não teria a viçosidade, o tamanho e o sabor se não fossem as abelhas. Como ela só frutifica se passar pelo processo de polinização, há a necessidade de grandes quantias de insetos em meio às macieiras. Para isso, pensando em acrescentar à quantidade natural, os produtores costumam alugar colmeias para anexar às plantações. Esse aumento na quantidade de abelhas resulta em mais frutos e, com isso, podem ser descartadas as maçãs pequenas, feias ou defeituosas. Este processo permite qualificar a safra. Sem uma polinização eficiente, o resultado pode não ser dos melhores, com poucos frutos, comprometendo a qualidade do alimento. Birgit conta que isso é necessário porque as abelhas, principalmente

Este processo oportuniza o melhoramento genético e mantém a biodiversidade”. Birgit Harter Marques as nativas, estão mais escassas. “Se não cuidarmos delas, poderemos ter prejuízos muito maiores no futuro. É claro que outros animais, o vento e a água também auxiliam no processo de polinização, mas as abelhas são os principais responsáveis pela frutificação”, complementa a especialista.

Tipos de polinização de acordo com o agente polinizador Entomófila: Polinização feita pelos insetos. Dentre os agentes polinizadores, merecem destaque especial as abelhas e as borboletas. O uso de abelhas na agricultura pode aumentar a produtividade da lavoura e multiplicar rapidamente os lucros das fazendas, sem a necessidade de grandes investimentos. Ornitófila: Polinização intermediada por aves. A língua e o bico longos do beija-flor, por exemplo, são adaptações que facilitam a obtenção do néctar, mola propulsora da ornitofilia. Quiropterófila: Quando o grão de pólen é disseminado por morcegos. Eles costumam transportar de uma flor para outra com uma precisão quase infalível, e muitos morcegos obtêm parte significativa de sua dieta proteica do pólen consumido. Hidrófila: Feita pela água. Fenômeno raro, já que muito poucas plantas frutíferas são aquáticas e submersas, vivendo em ambientes marinhos ou de água doce. Anemófila: Polinização por meio do vento

Para aumentar a produção de maçã, produtores apostam em aluguel de colmeias

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Peixe fisga paladar de consumidores No mercado, filé de panga e tilápia disputam a atenção dos consumidores na hora das compras

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carne de peixe vem ganhando espaço na mesa dos brasileiros. No sul catarinense, especificamente na região do Vale, onde as origens italianas e alemãs predominam, os consumidores também estão mudando seus hábitos. É o caso de Suelen Leriano, 22 anos, e Wilberto Henrique Eger, 20 anos. O jovem casal consome peixe uma vez por semana. Moradores do município de Lauro Müller, eles fazem as compras do mês em supermercados de Braço do Norte. Na hora de encher o carrinho, predomina a escolha do sabor e o melhor preço. Suelen procura praticidade e opta pelos filés de peixes já embalados. Esse mês o casal resolveu comprar o filé de peixe panga pelo preço baixo. “Gosto mesmo é de tilápia, mas o panga também é saboroso e está mais em conta”, afirma Wilberto. Presente nas peixarias de praticamente todo o mundo, o panga, que é originário do rio Mekong, no Vietnã, chama a atenção do consumidor pelo preço baixo. Segundo estudos, a diferença no valor é explicada pela maior escala da indústria pesqueira e pelos menores custos de criação, de mão de obra nas fábricas e de tributos na Ásia. Mas, apesar da invasão dos produtos importados no mercado, os peixes nacionais continuam em alta, como é o caso da tilápia. Essa espécie é bem conhecida e cultivada na região. A tilápia tem sabor marcante e tem preferência no paladar dos consumidores do sul. De acordo com a gerente administrativa de um supermercado de Braço do Norte, Dalva Rech, o filé de panga tem bastante saída, mas não se compara às vendas da tilápia. “É como o velho ditado diz, não se troca o certo pelo duvidoso. Mesmo, com o preço baixo, as pessoas procuram mais sabor e qua-

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Peixe asiático tem seu espaço nos supermercados

lidade. Aqui no município a tilápia é campeã de vendas”, relata. Ademir Alves é açougueiro e afirma que o filé de panga é bastante vendido. Também ressalta que a tilápia e outros peixes locais, como a tainha, continuam sendo os mais procurados. “Particularmente prefiro a tilápia, pelo sabor mais marcante. Comprei o panga algumas vezes, mas não me agradou o sabor”, conta. De acordo com o médico veterinário

e técnico da Epagri de Tubarão e região, Albertino de Souza Zamparette, o consumo de peixes de água doce está em ascensão no mercado local. “Existe uma tendência de crescimento de consumo de peixes de cultivo de água doce em nosso mercado local e regional. Necessitamos de um pouco mais de experiência para resolver problemas de comercialização do nosso peixe e logísticas para chegar mais fácil na mesa do consumidor”, diz.


Cultivo de tilápia fortalecido na região A tilápia é um peixe muito conhecido no Vale de Braço do Norte e em Santa Catarina toda. A atividade tem movimentado a economia e incentivado os pequenos produtores. Sua origem é africana e é cultivada em cativeiros à base de ração. A principal espécie cultivada na região é a tilápia nilótica, seguida pelas carpas comum e as chinesas como a capim e cabeça- -grande. Só no Vale de Braço do Norte, os produtores comercializam cerca de 6 mil toneladas de peixes por ano, com destaque para a tilápia. “O mercado da tilápia movimenta cerca de R$ 18 milhões. Os valores comercializados estão ligados aos meses de maior temperatura, isto é, de setembro a maio”, destaca o médico veterinário da Epagri de Tubarão e

região, Albertino de Souza Zamparette, que salienta que atualmente há 400 produtores do peixe para comercialização no Vale. De acordo com o secretário Adjunto de Agricultura e Pesca do Estado, Airton Spies, Santa Catarina é o maior produtor de pescados do Brasil. “A piscicultura está em desenvolvimento e existe potencial para crescer ainda mais, principalmente, com o cultivo de peixes de água doce no qual estamos fazendo um grande esforço de pesquisa e assistência técnica, através do trabalho da Epagri”, diz. A produção é comercializada na região. O maior mercado que absorve o peixe produzido na região é o parque industrial de pescado da região

Cerca de seis mil toneladas de tilápias são comercializadas somente no Vale de Braço do Norte

de Itajaí. “Podemos dizer que 85% do volume comercializado segue para as unidades de beneficiamento do litoral catarinense, e o restante, 15%, é o comércio local”, explica o técnico da Epagri. No Vale os municípios que se destacam no cultivo da tilápia são Rio Fotuna, Santa Rosa de Lima, Grão-Pará, Braço do Norte, São Ludgero, São Martinho e Armazém, que tem a maior produção. O especialista afirma que a piscicultura é um setor que está em alta. “Hoje vale a pena investir na atividade. Conforme as orientações técnicas, preconização de um cultivo em baixa densidade e com cuidados nos parâmetros hidrológicos é uma atividade de baixo risco”. www.negocioagro.com.br

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O polêmico panga asiático O panga é cultivado há mais de um milênio no rio Mekong. O peixe possui hábitos necrófagos, ou seja, costuma comer qualquer coisa que lhe aparece, como restos orgânicos e cadáveres de animais. Pescadores dizem que o peixe panga costuma procurar o alimento revolvendo o fundo do rio em busca de qualquer coisa que seja possível ser transformada em nutrientes. Mas há a informação de que os pangas criados em cativeiro podem não ter hábitos necrófagos quando são alimentados com ração. O Vietnã exporta o peixe panga há muitos anos para os Estados Unidos, Comunidade Europeia, Japão, Austrália, Rússia e outros, somando mais de 240 nações. Afirma-se que o panga comercializado no Brasil é alimentado apenas com ração específica, fornecida por empresas renomadas da área. O médico veterinário da Epagri de Braço do Norte, Albertino de Souza Zamparette, explica que 40% da área de piscicultura no Delta

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do rio Mekong são áreas de cultivo de pangasius e reconhecidos pelos padrões internacionais. “Quando se iniciou a importação dos filés de panga para o Brasil, no ano de 2009, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizou uma série de análises nesta espécie e os parâmetros analisados se confirmaram dentro dos padrões pré-estabelecidos, ou seja, nenhum problema foi encontrado”, enfatiza Zamparette. Ele ainda afirma que um dos fatores marcantes do baixo preço da carne é o subsídio oferecido pelo governo do Vietnã aos piscicultores. O pescado é considerado um produto de grande importância à economia do país. O panga, ou peixe-gato, é uma espécie que reúne características sensoriais desejáveis, como a ausência de espinhas, carne branca, sabor suave e textura firme. É versátil, permite vários tipos de preparos (grelhado, frito, assado e ensopado). Cabe ao “chef ” usar suas habilidades e montar pratos saborosos

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Período chuvoso faz aumentar casos de mastite bovina Mastite é a doença mais comum dos rebanhos leiteiros em todo o mundo e provoca perda na produção

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om o verão, inicia o período de chuvas constantes. O produtor leiteiro já sabe que com o tempo úmido aumentam, consideravelmente, os casos de mastite em seu rebanho, causando prejuízo de até 10% na produção. A inflamação da glândula mamária é geralmente causada pela infecção, através de diversos tipos de microrganismos, sendo as bactérias os principais agentes. A mastite é a doença mais comum dos rebanhos leiteiros em todo o mundo.

Uma vez que um microrganismo tenha se instalado na glândula mamária, ele se nutre dos componentes do leite e se multiplica, atingindo números elevados. Nesse processo, são produzidas toxinas ou outras substâncias que causam danos ao tecido mamário. Essas substâncias atraem leucócitos (células somáticas) do sangue para o leite, a fim de destruir os microrganismos invasores. Como resultado da inflamação, as paredes dos vasos sanguíneos se tornam dilatadas e outras substâncias do sangue também passam

para o leite. Entre essas estão íons de cloro e sódio, que deixam o leite com sabor salgado, e enzimas que causam alterações na proteína e na gordura. Devido às lesões do tecido mamário, as células secretoras se tornam menos eficientes, isto é, com menor capacidade de produzir e secretar leite. Ocorre também a morte das células e a liberação de enzimas dentro da glândula, que contribuem para agravar o processo inflamatório. Tudo isso prejudica a qualidade do leite e causa redução na produção.

Um ponto chave é o manejo da ordenha, focalizando nos cuidados com os animais, limpeza, higiene e na desinfecção dos tetos pré e pós ordenha, métodos usados pelo produtor Ambrósio Tenfen

Para um tratamento curativo são necessárias, aproximadamente, quatro aplicações medicamentosas pelo período de quatro dias “ Fabrício Willemann

Califórnia Mastite Teste (CMT) O CMT (Califórnia Mastite Teste) é um teste muito empregado para identificar vacas com mastite subclínica na fazenda. Necessita de uma raquete contendo quatro cavidades e o reagente do CMT. Mistura-se o leite com o reagente, homogeneíza-se e faz-se a leitura após 10 segundos. De acordo com a quantidade de células somáticas do leite, forma-se um gel, de espessura variada. Se a quantidade de células somáticas é baixa, não forma gel, o resultado é negativo. 42

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Agentes da mastite A mastite bovina pode ser causada por uma grande variedade de agentes, incluindo bactérias, micoplasmas, leveduras, fungos e algas. Um conceito importante no diagnóstico e controle da mastite são que os transmissores e causadores da doença podem ser classificados em dois grupos: contagiosos (clínica ou subclínica) e ambientais. Os microrganismos contagiosos são aqueles cujas principais fontes de infecção para o rebanho são o úbere ou canal da teta infectados, ou lesões nas tetas infectadas. A disseminação desses agentes se dá de um quarto infectado a outro ou de uma vaca para outra durante o processo de ordenha. Os microrganismos ambientais estão normalmente disse-

minados no solo, utensílios, dejetos, água ou outros locais e podem atingir a extremidade da teta a partir daí. “Nesta época do ano a vaca procura estar próximo a açudes e lagos para amenizar o calor e o úbere, geralmente, fica molhado, facilitando o aparecimento da mastite”, explica o engenheiro agrônomo Fabrício Willemann, da Agrofata, de Rio Fortuna. Segundo ele, o mesmo vale para o animal que fica em locais úmidos devido às chuvas constantes do período. Essa diferenciação entre os microrganismos causadores de mastite é de importância prática, porque medidas de controle diferenciadas são necessárias para cada um desses grupos.

Perdas econômicas - As perdas econômicas que ocorrem na mastite são devido à redução na produção, ao descarte de leite e de animais, aos gastos com medicamentos, com serviços veterinários e com o aumento de mão de obra e, em alguns casos, à morte do animal. - A redução na produção de leite é

considerada o fator individual mais importante das perdas econômicas da mastite. Estudos realizados no Brasil mostraram que quartos mamários com mastite subclínica produziram em média 25 a 42% menos leite do que quartos mamários normais.

Prevenção é a chave da economia O ditado “mais vale prevenir do que remediar”, no caso da mastite, é verdadeiro. Para cada real investido, acredita-se que o produtor economize de R$ 9 a R$ 15 de tratamento. O cálculo pode ser feito com um animal que produza em média 15 litros por dia. Segundo Willemann, para um tratamento curativo são necessárias, aproximadamente, quatro aplicações medicamentosas pelo período de quatro dias. Durante este período e mais quatro dias o leite deve ser descartado, não servindo para o con-

sumo humano. São aproximadamente 120 litros de leite, multiplicados pelo preço pago atualmente, R$ 0,92, contabilizaria R$ 110,40. Sem falar o preço do remédio a ser aplicado, mais R$ 50. O produtor teve um prejuízo de R$ 160,00. Os medicamentos homeopáticos que são aplicados diariamente para combater a mastite custam em média R$ 0,26 por dia ao produtor. O engenheiro agrônomo lembra que vários laticínios da região já exigem testes de qualidade dos leites entregues por seus produtores.

Controle O controle da mastite é baseado na adoção de um conjunto de ações voltadas para prevenção de novas infecções e redução da duração das infecções já existentes no rebanho. O sucesso no controle da mastite requer a utilização de práticas que reduzem a exposição do orifício dos tetos aos microrganismos infecciosos. Um ponto chave é o manejo da ordenha, focalizando nos cuidados com os animais, limpeza, higiene e na desinfecção dos tetos pré e pós ordenha. O produtor Ambrósio Huberto Tenfen, de Rio Fortuna, diz que toma todos estes cuidados e consegue diminuir significativamente os casos desta doença em seu rebanho de 50 animais que produz aproximadamente 750 litros por dia. “O produtor que disser que não tem caso de mastite em seu plantel, está mentindo. Apesar de todo cuidado com aplicação de produtos homeopáticos, higienização que se tem na desinfecção dos tetos e controle do local da pastagem, é comum os casos neste período do ano”, resume. Outras medidas importantes, lembra o agrônomo Fabrício Willemann, é manter as vacas em um ambiente limpo e seco, tratar todos os casos clínicos e os quartos mamários no período de secagem da vaca, evitar que as vacas deitem em locais contaminados após a ordenha, até que o orifício do teto se feche, descartar as vacas com infecção crônica e fazer a manutenção adequada dos equipamentos de ordenha. “Orientamos os produtores a realizar o rodízio de área de pastagem para evitar que o animal pastoreie e descanse sempre em um mesmo local, o que facilita o aparecimento e transmissão da mastite”, complementa Willemann

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