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2015 é considerado um ano promissor para o mercado da carne de cordeiro que apresenta alta nos preços

N° 06

Julho e Agosto de 2015

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A carne que o mundo quer Aumento da exportação de carne bovina aquece economia brasileira e atrai novos investidores à pecuária de corte


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Leia nesta edição 08. ENTREVISTA Presidente da Aurora, Mário Lanznaster fala sobre o crescimento das agroindústrias em SC

12. FUTURO Sucessão familiar é a aposta para a continuidade do agronegócio

18. PLANEJAMENTO Fumicultores preparam os canteiros para a nova safra

30. GENÉTICA Inseminação intrauterina em suínos reduz custos de produção

38. SEGURANÇA Piscicultura exige atenção com as instalações elétricas

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26. OPORTUNIDADE Cenário é promissor para os produtores que investem na pecuária de corte

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LEMBRANÇAS DO PASSADO

PREVISÃO

Carro de boi ainda é utilizado na lavoura por agricultores da região do Vale

Com os preços em alta, produção da carne de ovinos atrai novos investidores

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artigo

Sanidade: investimento ou custo?

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uito tem se falado em biossegurança na produção de proteína animal no Brasil para que possamos conquistar novos mercados. Como podemos observar, serão mesmo necessários todos estes investimentos, uma vez que, para nós produtores, não vemos preços diferenciados nos nossos produtos? Tenho ouvido essa pergunta com muita frequência em reuniões com o setor da suinocultura em todo o Estado. Santa e bela Catarina tem um grande diferencial dos demais Estados da federação por ser livre de “febre aftosa sem vacinação”, mas que tem o mesmo preço pago ao produtor da mesma indústria de qualquer outro Estado sem esta certificação. Agora em maio, recebemos mais uma certificação que continuará diferenciando a sanidade, que é de “livre de peste suína clássica”. Fica realmente difícil aceitar estas diferenças sem a remuneração adequada, afinal, nós produtores também investimos muito para fazer acontecer estes diferenciais. Por outro lado, devemos analisar. Se não tivéssemos estes diferenciais, como estaria o mercado externo? Seria comprador dos nossos produtos? Santa Catarina representou em 2014, mais de 38% das exportações brasileiras, isso já é um forte indício de que devemos sempre ter diferenciais para novos mercados. Nós, produtores catarinenses, sabemos que estes fatores fazem a diferença para a exportação, e as agroindústrias exportam por Santa Catarina para mercados exigentes, valendo deste diferencial sanitário. A diferença sanitária traz também grandes empresas investindo em produção de material genético, pois sabem que podemos exportar animais para qualquer parte do país sem a exigência de quarentenar os mesmos para a produção em granjas comerciais.

expediente Diretor Executivo Fernando Freitas Departamento Comercial Mara de Oliveira Redação Suellen Souza - editora / SC: 44851-JP Lysiê Santos - 0004796/SC Colunista Diogo Schotten Becker – coordenador Departamento de Criação Jéssica Simiano Gabriela Rousseng Departamento Financeiro Ezequiel Philippi

Losivanio Luiz de Vicenzi Presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS)

Nosso Estado, por ser pioneiro na suinocultura, tem em seus produtores, o desafio da evolução constante, que a cada dia acordam pensando em fazer mais e melhor, principalmente quando o assunto é biossegurança. Esse pioneirismo, aliado a esse desafio, manterá a atividade promissora, apesar de termos a diferença sanitária e termos a igualdade financeira dos demais Estados. Nossos produtores, atentos sempre às exigências de mercado, sabem que outros desafios estão sendo colocados no caminho. Desafios como o “bem-estar animal” que terão que ser bem discutidos para não penalizar as pequenas propriedades rurais que fizeram e fazem deste Estado, um orgulho a cada brasileiro pela sua importância econômica no PIB nacional. Vejo sempre que todos os valores investidos em sanidade não devem ser contabilizados como custo e sim como investimento para a manutenção e ampliação de novos mercados, cada vez mais exigentes. Assim, manterão nossas estruturas produtivas com geração de renda, melhora na qualidade de vida no campo e garantia da segurança alimentar ao nosso consumidor, objetivo do nosso árduo trabalho.

Fotografias Odáirson Antonello Revisão Ortográfica Maria Vanete Stang Coan Assinaturas Zula Coradelli Fone: |48| 3651 2700 Av. Felipe Schmidt, 2244. Sala 13. Centro - Braço do Norte - Santa Catarina CEP: 88750-000 contato@negocioagro.com.br

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NegócioAGRO é uma publicação bimestral da Folha o Jornal Editora Eireli EPP, CPNJ: 01.749.601/0001-64. Tem sua circulação dirigida ao produtor rural, casas agropecuárias da Comarca de Braço do Norte e as empresas que distribuem aqui seus produtos ou prestam serviço. Garanta o recebimento de seu exemplar: Assinatura anual: R$ 60,00.

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Fruticultura I Dados do Ibraf (Instituto Brasileiro de Frutas) indicam que a fruticultura gera três empregos diretos e dois indiretos para cada U$$ 10 mil investidos no setor. Por seu efeito multiplicador, tem excelente potencial para dinamizar economias locais e com poucas alternativas de desenvolvimento.

Fruticultura II No dia 1º de julho aconteceu o 1º seminário técnico de fruticultura do curso de agronomia do Unibave. Na oportunidade foram apresentados cinco projetos para a implantação de pomares comerciais nas encostas da Serra Geral.

CHINA

- Especialização em Gestão de Empresas pelo Unibave. - Cursando Engenharia Agronômica pelo Unibave. Atualmente é produtor de suínos e gado de leite, professor do colégio agrícola e ex-diretor de agricultura de Braço do Norte. Fone: (48) 9634 6259 contato@negocioagro.com.br

TRIGO

Leite I

Do lado do Brasil, as importações de trigo foram crescentes nos últimos anos. A quebra de safra na Argentina, tradicional fornecedor do cereal ao Brasil, fez os brasileiros buscarem trigo nos EUA.

Junho foi mais um mês de alta do preço médio do leite pago ao produtor, mas os valores continuam abaixo dos praticados um ano atrás, de acordo com pesquisas do Cepea.

VAI? A abertura do mercado norte-americano à carne “in natura” brasileira poderá dar um novo ânimo à balança comercial dos dois países.

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- Formado em Gestão de Agronegócios pela Unisul.

giro pelo campo

O Brasil poderá ser o principal exportador mundial de grãos e de carnes em uma década. O bom desempenho do país vai depender, no entanto, do comportamento da economia de países desenvolvidos e emergentes.

diogo schotten becker

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Leite II Para julho, a expectativa de representantes de laticínios/cooperativas consultados pelo Cepea é de continuidade do aumento nos preços. Entre os compradores entrevistados, 82,5%, que representam 76,4% do leite amostrado, acreditam em elevação e 17,5%, que representam 23,6% do volume captado, indicam estabilidade.


PRESSÃO MENOR Os preços dos produtos agropecuários no atacado recuaram 0,23% neste mês, segundo o IGP-M. Já a carne bovina registrou elevação de 2,6%.

MÁQUINAS AGRÍCOLAS As vendas internas de tratores de rodas e de colheitadeiras melhoraram no mês passado, em relação a maio. Os dados do primeiro semestre apontam, no entanto, forte recuo em relação ao mesmo período de 2014. Números divulgados pela Anfavea indicaram a venda de 20,8 mil tratores de rodas até junho, uma queda de 22%.

SOJA Os preços da soja em grão e do farelo estão em alta no Brasil, impulsionados pelas maiores demandas interna e externa – a exportação de soja em junho foi recorde. O suporte é dado também pela retração de vendedores internos, pelo excesso de chuva nos Estados Unidos e pelas estimativas de área e estoques abaixo do esperado naquele país, o que eleva os preços na Bolsa de Chicago (Cepea).

MILHO As cotações do milho nos Estados Unidos tiveram altas, de certa forma, surpreendentes nos últimos dias. O impulso foi dado pelas preocupações quanto à oferta norte-americana em um ambiente de demanda aquecida. As exportações daquele país seguem bem, a área cultivada teve pequena redução e as condições climáticas não têm sido favoráveis ao cultivo e desenvolvimento das lavouras.

BOI VIVO Pecuaristas e exportadores de gado vivo não estão com a vida fácil neste ano. As exportações desses animais recuaram para 95,7 mil bovinos em pé até o final de maio, 74% menos do que em igual período do ano passado. Com isso, o país registra o menor número de gado vivo exportado nos cinco primeiros meses do ano desde 2007.

HORTALIÇAS O setor de hortaliças tem grande potencial de expansão no país. É crescente o investimento em tecnologia e a busca por redução de custos no setor, inclusive os com mão de obra, que está cada vez mais escassa no campo.

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entrevista

Agroindústria impulsiona economia catarinense Presidente da Aurora, Mário Lanznaster, fala sobre as perspectivas e o atual cenário econômico do agronegócio no Estado Mário Lanznaster é um empreendedor que aposta na força do cooperativismo

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agronegócio tem sido a porta de esperança e sustentação das demais cadeias produtivas nacionais nos últimos tempos. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), de 2015 a 2017 está prevista a injeção de R$ 1,7 bilhão para o triênio, um terço do total previsto nos investimentos do setor industrial catarinense. Apesar da economia nacional enfrentar instabilidades, as agroindústrias estão mantendo os investimentos. Um exemplo disso é a Cooperativa Central Aurora Alimentos, o terceiro maior grupo agroindustrial do país que aumenta a casa de investimentos de

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olho na expansão no mercado externo a médio e longo prazo. A estratégia é crescer no segmento de aves e agregar valor aos derivados de suínos. O catarinense Mário Lanznaster, presidente da Cooperativa Central Oeste Catarinense (Aurora), suinocultor há quase 40 anos e produtor de milho, feijão, soja e trigo desde 1984, é um visionário que está à frente do conglomerado agroindustrial, sediado no município de Chapecó, que, atualmente, conta com um mix de 800 produtos, entre carnes de aves e suínos, lácteos e massas. Reconhecida liderança da agroindústria catarinense, iniciou sua vida profissional em 1968 como extensionista rural da então

Acaresc, hoje Epagri, no município de Modelo. Em 1974, foi convidado para trabalhar como assessor técnico na Cooperativa Central Oeste Catarinense (Aurora), quando iniciou a implantação do fomento à suinocultura. Em 1997 foi conduzido à presidência da Cooperalfa, onde foi reeleito por três mandatos de quatro anos. Em 2007 foi eleito presidente da Cooperativa Central Oeste Catarinense (Aurora) da qual está no terceiro mandato. Em entrevista à revista NegócioAgro, Mário Lanznaster fala sobre as perspectivas para a agroindústria e o segmento rural, e ainda destaca o cenário atual da economia catarinense.


A economia do país passa por momentos de instabilidade. O fato tem gerado desemprego, diminuição de carga horária semanal para evitar demissões, inflação descontrolada, linhas de crédito trancadas, entre outras situações que trazem desconforto ao empreendedor rural. Assim, quais as perspectivas para 2015 e 2016 na sua visão como presidente da Aurora Alimentos? Apesar das dificuldades que marcarão o cenário econômico de 2015, o setor primário da economia terá um ano relativamente bom para as cadeias produtivas de suínos, aves e leite. Esperamos que o governo intervenha menos na economia e dê autonomia para a equipe econômica recolocar nos eixos os fundamentos macroeconômicos do país. Estou convencido que para a agricultura brasileira os próximos anos serão relativamente bons. O agronegócio continuará crescendo, porém, a taxas menores. O setor primário e o agronegócio darão ao Brasil as condições para a superação dessa crise a médio prazo.

Estou convencido que para a agricultura brasileira os próximos anos serão relativamente bons. O agronegócio continuará crescendo, porém, a taxas menores”.

O mercado externo está aumentando o consumo de proteína animal do Brasil. Com o reconhecimento do país como zona livre de peste suína clássica, novas oportunidades aparecem ao pequeno produtor. Na sua visão, quais as perspectivas econômicas para a carne suína? O que representa essa certificação à indústria catarinense? Essa conquista é importante, assim como foi muito importante a conquista do status de área livre de aftosa sem vacinação para Santa Catarina. Entretanto, isso não se reflete imediatamente no mercado. É preciso um grande esforço comercial dentro e fora do país para vender nossa carne. Hoje, Santa Catarina é a região produtora de maior reconhecimento internacional. Eu sou otimista com o futuro e acredito que a suinocultura dará muitas alegrias aos nossos produtores. As perspectivas e tendências para o consumo mundial de prote-

ínas são alvissareiras. Não há mais dúvida de que os países em desenvolvimento irão alavancar a demanda futura por carne. África e Ásia concentrarão cerca de 90% do crescimento demográfico até 2020. Em face desse quadro, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetam vigoroso crescimento no consumo mundial de alimentos para o horizonte de 2022: a demanda por carne suína crescerá 13%, de carne de aves 19%; de carne bovina 14%; de cereais 15%; de oleaginosas 20% e de lácteos 20%.

O Japão é um consumidor em potencial da carne suína catarinense, e o Frigorífico Aurora tem sido pioneiro na exportação da proteína. Como está a relação entre a Aurora e o mercado japonês? Quantas toneladas mensais estão sendo exportadas ao país? O Japão compra nossa carne de frango há várias décadas, mas, o mercado japonês abre-se lentamente para a carne suína catarinense. O potencial de crescimento é enorme, mas a jornada será gradual. É preciso calma para conquistar credibilidade e confiabilidade para o produto brasileiro acessar o mercado japonês de carne suína. Para dar uma ideia da complexidade da operação, antes de fechar o primeiro embarque, a empresa recebeu três visitas técnicas do importador e a equipe de exportação trabalhou em conjunto com as áreas de qualidade, planejamento da produção e indústria, sob orientação dos clientes, na definição correta dos padrões dos cortes e das embalagens de acondicionamento do produto. Trata-se de uma produção específica, detalhista com muitas exigências no processo até alcançar o produto demandado pelo mercado japonês, para o qual a Aurora investiu 120 mil reais em equipamentos e contratou mais 36 trabalhadores. O Japão não aumentará o volume de suas importações apenas porque abriu o mercado para o produto brasileiro. O Brasil disputa o fornecimento para o mercado japonês, hoje abastecido por Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, México e Chile. Como um defensor do cooperativismo, o sistema cooperativista é uma alternativa ao pequeno produtor que busca seu espaço no mercado? O cooperativismo mudou o cenário no campo, reduzindo as incertezas que cercam a atividade agropecuária. Para chegar a isso, seguiu um longo caminho que passou pela profissionalização do produtor, a organização da

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produção, a eliminação de todos os níveis de intermediação e a busca mais agressiva dos mercados. Decisivo, nesse processo para a conquista da independência, foi a determinação de industrializar a produção primária. Com isso, o cooperativismo deixou de ser fornecedor barato de matérias-primas para as indústrias não-cooperativistas e passou a controlar todo o ciclo de produção, agregando valor para melhor remunerar o cooperado. O setor primário da economia tem sustentado as demais cadeias produtivas por muitos anos. Com a industrialização, o homem do campo enfrenta desafios para permanecer na propriedade rural e perpetuar essa

sustentação. Na sua visão, quais as expectativas futuras para o produtor rural? A saída é o cooperativismo. O produtor rural deve associar-se a uma cooperativa agropecuária que tenha unidades próprias de processamento industrial ou esteja vinculado a uma cooperativa central, como a Aurora. Há mais de 40 anos, os produtores do oeste catarinense eram meros fornecedores de matérias-primas. Com o surgimento da Aurora (uma cooperativa de segundo grau), ficou na mão do produtor a industrialização de todas as matérias-primas, como grãos, lácteos, carnes, etc. A salvação está no associativismo de qualidade, ou seja, nas cooperativas eficientes.

Recentemente o senhor recebeu a Ordem do Mérito Nacional da Indústria, a mais importante condecoração da indústria brasileira entregue pela Confederação Nacional das Indústrias - CNI. Qual é o sentimento ao receber uma comenda de tal importância da indústria nacional? Essa homenagem também se estende ao agronegócio catarinense? É uma imensa satisfação saber que a comenda é o reconhecimento de um trabalho de equipe, de uma equipe vencedora. O trabalho sempre foi o fio condutor de minha vida, por isso, trabalharei até o fim de meus dias, se Deus assim o permitir. Reparto essa honraria com as 100 mil famílias que fazem parte da Cooperativa Central Aurora Alimentos

Lanznaster recebeu a maior condecoração da indústria brasileira entregue pela CNI

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Por gerações

Herança ou negócio? Agricultores apostam na sucessão familiar para continuidade do agronegócio e o abastecimento das massas para os próximos anos

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o conceber um filho, os pais já começam a pensar em como será a formação da criança, quais os valores passar, qual profissão ele irá escolher e, consequentemente, que legado deixarão ao pequeno herdeiro. Na maioria das vezes os pais dedicam todo o seu tempo ao trabalho, com o objetivo único de aumentar o seu patrimônio e, assim, preparar o filho para suceder os negócios da família. Na memória dos pais tudo foi muito rápido e a relação que era somente de pai e filho, atualmente também é de sociedade nos negócios, com a participação dos cônjuges de seus filhos. Essa prática é comum no meio rural onde acontece a sucessão familiar. Essa sucessão nada mais é do que a preparação da futura geração de agricultores, juntamente com suas famílias, para o processo sucessório

por meio do desenvolvimento de habilidades que lhes possibilite ocupar papel estratégico na agricultura familiar como protagonistas capazes de inovar, criar e implementar oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e econômico. Em um país considerado o “celeiro do mundo” como o Brasil, é preocupante notar a saída dos jovens do meio rural e o consequente abandono do empreendimento agrícola construído por gerações anteriores. De acordo com o gerente regional da Epagri de Tubarão, Gustavo Gimi Santos Claudino, a sucessão familiar na agricultura é a única possibilidade de manter a atividade que atende às necessidades de alimentação das massas. “Precisamos especializar os agricultores em suprir a necessidade de produção de alimento mais diferenciado, direcionado a um público menor, e mais exigen-

Estudante de agronomia investe em conhecimento e em breve pretende retornar ao campo

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te. Os jovens agricultores serão os atores principais da nova agricultura”, acredita o gerente. O Brasil hoje é conhecido por ser um país grande em área agricultável, entre outros aspectos que classificam o país entre os líderes mundiais em diversas cadeias produtivas. E Santa Catarina, com uma área de um pouco mais de 1% do território brasileiro, tem um amplo destaque no cenário nacional, configurando entre os líderes nacionais em leite, suíno, cebola, maçã, mel, fumo, piscicultura, arroz, entre outras produções. “Isso comprova que tamanho de área não é suficiente. Entendemos que temos que ter agricultores comprometidos, tecnologias adequadas e, acima de tudo, o fornecimento de assistência técnica e extensão rural, pública e ou privada, de qualidade”, considera Claudino.


Márcio Wiggers dá continuidade ao trabalho rural e busca novas técnicas para aprimorar a propriedade

Jovens dão continuidade ao trabalho no campo Márcio Wiggers Heidemann aos 28 anos já dá continuidade ao trabalho que aprendeu com os pais. Na propriedade localizada em Riacho Alegre, Braço do Norte, atua na bovinocultura de leite e na suinocultura. O jovem casou-se com Patrícia Heidemann Kniess, de 25 anos, que atua como professora de português e inglês. Filha de agricultores, Patrícia pretende reduzir a carga horária como professora para se dedicar à propriedade junto ao esposo. O casal que sucede o trabalho aprendido com os avôs e os pais, hoje busca conhecimento para modernizar a propriedade. “Vimos nossos pais trabalharem de uma forma e queremos implantar novas técnicas que facilitem o trabalho”, explica o casal. Márcio já trabalhou em outras atividades fora do meio rural, mas decidiu retornar ao campo e aprimorar a he-

rança recebida. Em busca de conhecimento, o casal participa do curso de liderança, gestão e empreendedorismo com jovens rurais, promovido pela Epagri, em Tubarão. Três dias no mês, os jovens, junto com o filho de um ano e oito meses, participam das aulas no Centro de Treinamento da extensão. “As tecnologias estão reduzindo os custos de produção e a mão de obra. Já estamos colocando isso em prática na nossa propriedade”, relata Márcio. A professora e mãe de primeira viagem já pensa no futuro do filho e deseja que o pequeno também dê continuidade ao legado da família. “Torcemos para que ele goste de trabalhar no campo, assim como nós, e tenha qualidade de vida”, projeta Patrícia. Estela Philippi, 23 anos, também é um exemplo de que o trabalho no campo

não é voltado apenas aos homens. A estudante de agronomia, desde a infância, ajuda o pai no manejo do gado leiteiro na propriedade localizada em Baixo Pinheiral, Braço do Norte. A jovem está se profissionalizando para, em breve, retornar à propriedade e auxiliar os pais a aumentar a renda familiar. “Sempre gostei de trabalhar no campo e, assim que me formar, quero atuar na bovinocultura leiteira e levar o conhecimento à minha propriedade”, ressalta a estudante que destaca que na atividade leiteira as mulheres são muito atuantes e exercem influência na tomada de decisões junto à família. Estela também é uma das integrantes do curso de gestão da Epagri e junto com os demais alunos estuda a comunidade, a cultura agrícola e os potenciais encontrados dentro da propriedade. www.negocioagro.com.br

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Sucessão familiar diminui o êxodo rural

Curso promovido pela Epagri incentiva os jovens a desenvolver o empreendedorismo

Governo lança curso de liderança aos jovens rurais Para estimular a liderança com espírito empreendedor e de sustentabilidade, a Epagri, através do programa SC Rural, tem desenvolvido ações que envolvem os jovens e suas famílias, lideranças comunitárias e extensionistas rurais. A ação é realizada através do curso de Liderança, Gestão e Empreendedorismo para Jovens Rurais, ministrado com a metodologia da pedagogia de alternância. Os cursos, que já estão formando a quarta turma, são desenvolvidos nos municípios e no Centro de Treinamento da Epagri de Tubarão (Cetuba). Cerca de 30 jovens se formam ao ano e cada um fica três dias por mês no Centro de Treinamento durante nove meses, e desenvolvem ações norteadoras sobre quatro eixos temáticos: humano, gerencial, técnico e ambiental que, embora separados, articulam-se através de uma perspectiva interdisciplinar e transversal. De acordo com uma das coordenadoras do curso, Susilei Brunato Weber, o objetivo é desenvolver iniciativas que agreguem valores aos produtos, serviços e espaços, potencializando e criando alter14

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nativas de renda, lazer e cultura com cidadania no campo. “Queremos capacitar o jovem para ser um profissional do meio rural e assim se tornar um agente de desenvolvimento e transformação do seu espaço”, explica a extensionista social da Epagri. O engenheiro agrônomo Luiz Carlos Lunardi também é um dos coordenadores do curso e já observa as mudanças de comportamento dos participantes. “O curso resgata a autoestima do jovem que antes tinha certo receio em dizer que trabalhava no campo. Hoje a realidade mudou e eles percebem, tanto que buscam conhecimento para permanecer no meio rural”, destaca o agrônomo. Os extensionistas desenvolvem atividades teóricas e práticas estimulando os alunos a assumir responsabilidades e desenvolver projetos voltados aos aspectos sociais, ambientais e econômicos. Para Athos de Almeida Lopes Filho, chefe do Cetuba, a ação tem proporcionado oportunidade dos jovens permanecerem no campo com qualidade de vida e alta rentabilidade.

O êxodo rural ainda é presente em diversas localidades do interior. No entanto, entende-se que o êxodo também é um processo natural, pois nem todos os filhos de agricultores terão vocação e intenção de continuar nas tarefas da agricultura. No Brasil e em Santa Catarina, especificamente, há uma população rural em torno de 14 a 17% dos habitantes. As principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores estão relacionadas a estradas, telefonia, acesso à internet, lazer nas comunidades rurais, masculinização do meio, entre outras questões que dificultam a permanência do jovem no campo. Contudo, atualmente, o cenário é promissor e boa parte dos entraves listados está sendo viabilizado, proporcionando aos jovens a possibilidade de trabalhar em sua propriedade, não sendo necessária a saída para a formação técnica e superior. Na maioria dos casos, o jovem rural percebe no espaço que vive uma excelente oportunidade de negócio, visualizada através do seu conhecimento, das novas informações e contatos advindos da sua saída parcial da propriedade para formação. Para o engenheiro agrônomo e gerente regional da Epagri, Gustavo Gimi Santos Claudino, neste momento é imprescindível a capacitação de bons agricultores, que buscam informação e conhecimento. “Não podemos continuar fazendo a mesma agricultura, de avô para pai, pai para filho sem preparação. Assim como todos os setores estão se adaptando, a agricultura necessita ainda mais de especialização, pois houve um aumento da população e ao mesmo tempo uma redução do percentual de agricultores”, alerta o gerente


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Produtor de Braço do Norte preserva tradição e ainda utiliza o carro de boi na atividade agrícola

Relembrando o passado

Carro de boi e o homem do campo Um dos mais antigos meios de transporte ainda é utilizado por agricultores do Vale

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o cantar a roda do carro de boi, lá na ponta do morro, a mulher já sabia que o esposo e os filhos estavam voltando da lavoura e era hora de preparar a mesa para o almoço. Lembranças como estas ainda estão bem vivas na memória do agricultor Márcio Wiggers Buss, de Braço do Norte. Ele recorda do tempo que saía com o pai e os sete irmãos para trabalhar no campo e um dos instrumentos de trabalho, muito utilizado

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para transportar a carga, era o carro de boi que o acompanha até hoje. O instrumento é um dos mais primitivos e simples meios de transporte ainda em uso nos meios rurais. Márcio cultiva cana-de-açúcar, de onde fabrica a cachaça e o melaço, além de manter o engenho onde produz farinha de milho e mandioca. Ainda planta eucalipto entre as outras atividades que diversificam a pequena propriedade. A cultura de utilizar o instrumento para transportar a

produção é mantida até hoje. “Para mim ainda tem muita utilidade. Onde a caminhonete não chega, o carro de boi vai. Usamos muito pra puxar lenha nos lugares de difícil acesso”, explica. Antigamente o carro era usado para abrir as “picadas” e transportar os produtos que seriam vendidos na cidade. “Naquele tempo tudo era mais difícil. Não tinha essas tecnologias e fazíamos o serviço com a força do braço mesmo”, relembra.


Você sabe com quantos nomes se canga um boi? Hora de ir para a lavoura. Márcio chama o Baiano e o Estrelo, seus bois de carga, para “cangar” e “puxar” a produção. Conhecido pelo canto das rodas, o carro de boi ainda tem outras curiosidades: os nomes inusitados de cada peça. No momento de sair para o campo começa o ritual para “cangar” o boi: “Coloco o Baiano e o Estrelo um do lado do outro e passo eles pela canga. Depois prendo o canzil, passo o ajoujo, solto o muchacho e vamos pelas picadas buscar a lenha”. Expressões como cabeçalho, chaveta, recavem, eixo, ta-

moeiro, são bem comuns para os carreiros mais antigos que operavam o carro de boi em lugares onde um veículo automotor não chegaria. Pode-se classificar mais de 20 nomes que compõem o instrumento usado pelos agricultores que ainda preservam esta tradição. O produtor Marcio Wiggers Buss ensinou aos filhos a cultura que aprendeu com o pai e o avô. “Meu filho mais velho entende todos os nomes. Já a minha filha mais nova não se interessa muito, mas tento preservar as memórias da família”, conta o agricultor.

Curiosidade O carreiro autêntico geralmente atrela oito bois, mas podem ser dois, quatro, se há muito peso, dez, 12, até 16. O carro é formado por uma engenhosa estrutura. Cada peça possui um nome específico conhecido pelos carreiros na hora de cangar o boi e enfrentar a estrada no transporte da carga

Você conhece a estrutura do carro de boi? Lembra dos nomes de cada peça?

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Preparando os canteiros

Fumicultores iniciam nova safra Estimativa de redução na produção é de em média 10% para a safra 2015/2016

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o passar pelas propriedades fumageiras são visíveis nos imensos hectares os “camalhões” preparados para receber as primeiras mudas de tabaco. A semeação dos canteiros se concentra nos meses de junho e julho e em média 60 dias após a semeação, as mudas atingem o ponto ideal para serem transplantadas à lavoura. De acordo com especialistas, a época recomendada para o plantio na região sul é entre o dia 15 de julho a 10 de agosto. A fumicultura é uma atividade de grande expressão na economia de Santa Catarina. Hoje, a região sul conta com cerca de dez mil produtores. Segundo o coordenador do campo da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) de Braço do Norte, Hilário Boeing, só na região há cerca de quatro mil famílias produtoras de fumo. Os municípios que mais se destacam são Orleans e Grão-Pará com a concentração de 1400 produtores. Conforme dados da Afubra, a região do Vale produz cerca de 20 milhões de toneladas de tabaco por safra, o que representa grande impacto na economia regional. Para a safra 2015/2016 as perspectivas são de redução de área plantada, já que a última safra não apresentou resultados satisfatórios. A orientação das fumageiras aos produtores é reduzir a produção principalmente os que terceirizam a mão de obra. A tendência de redução é de em média 10%. Para o coordenador Hilário Boeing, diversos fatores contribuíram para o baixo rendimento da última safra. “A qualidade da produção ficou abaixo do esperado na região devido a problemas climáticos, além da competitividade de países estrangeiros que tiveram uma boa produção a baixos custos, o que aumentou a demanda”, considera. Com isso, para 2015/2016, a estimativa de produção passa a ser de 607.010 toneladas de tabaco produzido nos três Estados do Sul do Brasil contra a estimativa de produção da atual safra, que é de 695.850 toneladas. Os especialistas orientam os fumicultores a reduzir a área plantada e investir na qualidade do tabaco. “Ao reduzir a área o produtor pode se dedicar ainda mais ao produto, o que dará uma competitividade a mais na hora da venda”, argumenta o coordenador da Afubra.

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Fumicultores da região começam a semear as primeiras mudas


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Agricultor promove boas práticas na propriedade A família Warmling da localidade de Rio Carolina em Braço do Norte atua no setor fumageiro há 27 anos e pode ser considerada um exemplo de determinação e empreendedorismo. O fumicultor Silvio Warmling considera a atividade rentável e hoje trabalha apenas com o tabaco. “Antes eu criava umas vaquinhas de leite, mas não me rendia tanto como o fumo. Foi então que decidi investir só nessa atividade e tem dado certo”, afirma o agricultor ao lado da esposa Teresinha Warmling e o filho Moacir Warmling que auxiliam no cultivo do fumo. “Cada um faz o que gosta e nós somos felizes nessa profissão”, conta com orgulho a agricultora. Silvio relembra de quando começou tudo era difícil, pois

não tinham acesso às tecnologias e as técnicas repassadas hoje pelos orientadores. “Lembro que minha mãe sempre dizia: Silvio, você ainda vai se matar nesse fumo, mas eu respondia: mãe, fica tranquila que eu sei o que estou fazendo”, recorda o pequeno agricultor que iniciou plantando poucos hectares. Com determinação e aprimoramento, hoje produz cerca de 27 toneladas anuais de fumo em um espaço de 8,5 hectares. O filho Moacir está atento às mudanças do mercado e pretende permanecer na propriedade e perpetuar o trabalho dos pais. “Estou cursando agronomia e pretendo utilizar este conhecimento na nossa própria propriedade”, destaca o jovem. A família trabalha com o plantio escalo-

nado para não dificultar a operação de colheita e demais etapas. Na propriedade, o solo já está pronto para receber o plantio. Em meados de setembro inicia-se a colheita que vai até janeiro. O orientador agrícola da Souza Cruz, Silvio Volpato, acompanha a produção da família e recomenda a análise periódica do solo, a implantação de adubação orgânica e estar sempre atento às novas técnicas. “É muito importante que os produtores integrados sigam as recomendações dos orientadores agrícolas, no sentido de realizar o preparo do solo na época adequada, a produção de mudas de qualidade e o plantio nas datas corretas, para a base de uma lavoura produtiva e de qualidade”, reforça o técnico.

Família Warmling é referência na produção de tabaco e desenvolve boas práticas no cultivo

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Tabaco ainda é alternativa rentável Para o gerente territorial de produção agrícola da Souza Cruz, Marco Bender, o tabaco é uma das alternativas mais sustentáveis para diversificação. A produção fumageira trata-se de uma cultura sazonal, que ocupa pouca área e traz uma contribuição relevante para a renda do produtor (mais de 50% segundo dados da Afubra). “A cultura de tabaco tem canais formais e estruturados de comercialização com definição prévia de preços baseada no seu custo de produção e assistência técnica especializada e constante, através do Sistema Integrado de Produção”, destaca o gerente. Além de seguir as recomendações dos técnicos, os passos a serem realizados após o plantio do tabaco, são tratos culturais, capação (evitar que o tabaco emita flores), colheita, cura, armazenamento, classificação, enfardamento, seguindo para a comercialização, realizada em datas previamente agendadas, de acordo com a capacidade e a disponibilidade do produtor. Para Bender, dentre as melhores práticas adotadas pelos produtores integrados destaca-se o uso de variedades híbridas com alto potencial de produtividade e qualidade, desenvolvidas no Centro de Melhoramento de Tabaco da empresa Souza Cruz em Rio Negro, Paraná, além do uso de práticas sustentáveis de manejo do solo como adoção de adubação verde e camalhões altos de base larga com cultivo mínimo, os quais são utilizados por cerca de 80% dos produtores integrados. “Essas e outras práticas elevaram a produtividade dos produtores integrados à Empresa em mais de 20% nos últimos cinco anos”, garante o especialista

Variedades de mudas híbridas com alto potencial de produtividade são recomendadas pelos especialistas

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Contando carneirinhos

2015: ano do cordeiro Com os preços da carne de ovinos em alta e oferta em baixa, a atividade se torna mais atrativa e aumenta a rentabilidade dos criadores

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o calendário chinês, 2015 é considerado o ano do cordeiro que iniciou no dia 19 de ffevereiro evereiro e terminará no dia 07 de fevereiro de 2016. Segundo as previsões do horóscopo, 2015 é um ano de concretização de conquistas financeiras, portanto, investir com sabedoria é uma ótima ideia. As perspectivas para o setor da ovinocaprinocultura mostram que não é só para o calendário chinês que 2015 é o ano do cordeiro. Com os preços da carne em alta e oferta em baixa, o mercado é promissor. De acordo com o balanço de 2014, da Confederação Nacional da Agricultura - CNA, o crescimento da demanda interna e externa da carne de ovinos e caprinos vai assegurar a continuidade do cenário de preços em alta. Além disso, a oferta de animais para abate continua pequena, o que influencia positivamente os

resultados deste ano, com expectativa positiva também para os próximos anos. A análise da CNA leva em conta as características internas e aspectos do mercado mundial. Em ambos os mercados, a oferta de carne de cordeiro continuará reduzida, num cenário de demanda aquecida e preços em alta, especialmente devido à tendência de valorização da carne bovina no mercado externo. Assim, para os que acreditam no horóscopo, as energias do ano do cordeiro são positivas. Porém, as previsões revelam que será necessário ter determinação para colocá-las em prática, pois o carneiro tem certa dificuldade para concretizar as coisas sozinho. Ao mesmo tempo, a energia persuasiva desse animal ajuda a conseguir mais facilmente o que se deseja, ou seja, o universo conspira a favor dos produtores que pretendem investir na ovinocultura.

Exportação Dentre as carnes mais consumidas no mundo, a carne ovina é a que contém o menor teor de gordura, sendo inclusive mais magra do que a carne de frango. A cada ano, a participação brasileira no comércio internacional vem crescendo, com destaque para a produção de carne bovina, suína e de frango. Segundo o Ministério da Agri-

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cultura, até 2020, a expectativa é que a produção nacional de carnes suprirá 44,5% do mercado mundial. Já a carne de frango terá 48,1% das exportações mundiais e a participação da carne suína será de 14,2%. Essas estimativas indicam que o Brasil pode manter a posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina e de frango.


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Ovinocultura ainda ĂŠ tĂ­mida no Vale

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O produtor Matias Weber de São Ludgero é um dos pioneiros na criação de ovinos na região do Vale. Há 22 anos na atividade, o empresário percebe que o mercado é cada vez mais promissor. Ele iniciou com a compra de um lote de 15 ovelhas e um reprodutor. Hoje conta com um rebanho de 84 matrizes prenhas da raça Texel e Ile de France e três reprodutores PO (puro de origem). O criador diversifica a propriedade com outras atividades como a pecuária de corte e de leite. “As ovelhas ajudam na manutenção e aproveitamento da pastagem com a rotação e piqueteamento”, explica. Além das ovelhas, Matias possui cães

Mercado da carne de cordeiro atrai criadores Ao contrário de outras carnes que tentam ampliar o mercado consumidor, a carne ovina tem uma excelente demanda. Hoje o Brasil importa cerca de 40% da carne ovina que consome. Em Santa Catarina destacam-se a criação das raças com aptidão para carne como Texel, Hampshire Down, Suffolk, Ile de France e Dorper e Santa Inês. A Dorper e Santa Inês são raças que não possuem lã (deslanadas), embora na região sul do Brasil possam apresentar um pouco de lã no inverno. “Na região já entrou bastante a raça Texel com bons resultados iniciais, mas por problemas com o manejo que se utilizou e falta de conhecimento, se perdeu, mas eu recomendaria”, ressalta o engenheiro agrônomo e extensionista da Epagri Lucio Teixeira de Souza. O especialista destaca que a atividade pode ser agregada a propriedade e assim aumentar a rentabilidade familiar. “Eu vejo que rebanhos pequenos com até 15 fêmeas poderiam ser introduzidos junto de rebanhos bovinos leiteiros, com um pouco de cuidado com as cercas. Este rebanho poderia auxiliar no manejo de pastagens da propriedade e dar uma fonte de alimentação esporádica ou de renda extra”, acredita o técnico.

de pastoreio treinados que auxiliam na condução e defesa do rebanho. “É importante que os cães sejam bem treinados para não ser uma ameaça aos animais”, aconselha. Já o contador Márcio Damian de Souza, de Gravatal, cria ovinos desde 2012 e decidiu investir no setor por observar o crescimento da demanda. Ele tem em média 30 ovinos da raça Dorper e faz cruzamentos com a raça Santa Inês e Texel. Márcio explora outro setor da atividade voltado ao melhoramento genético do rebanho. A comercialização desses animais é feita entre os consumidores locais e outros Estados como o Paraná e Rio

Grande do Sul. “O mercado continua em expansão e as perspectivas são positivas, apesar de existir uma enorme carência no Brasil de carne ovina. É uma atividade altamente promissora, não se compara com atividade pecuária e posso falar com propriedade já que criamos bovinos de corte em outro local”, salienta. Ele observa que a região do Vale é um excelente lugar para a criação de ovinos já que possui um clima favorável. “A maioria não investe porque não conhece realmente o manejo, que não é complicado, basta possuir um bom galpão e cuidar da verminose dos animais, o restante é normal”, destaca o criador.

Texel A raça Texel é originária da ilha de mesmo nome, na Holanda, cujo solo é em sua maioria arenoso, sendo em parte acima e em parte abaixo do nível do mar. O ovino dessa raça é de tamanho médio com massas musculares volumosas e arredondadas, constituição robusta, evidenciando vigor, vivacidade e uma aptidão predominantemente carniceira. Atualmente é considerada uma raça de carne e lã, pois a par de uma carca-

ça de ótima qualidade e peso produz ainda apreciável quantidade de lã. Rústica e sóbria, produz uma ótima carcaça, com gordura reduzida. Também é considerada precoce. Em condições de pastagens, entre os 30 e 90 dias de idade, os cordeiros machos têm ganhos de peso médio diário de 300 gramas e as fêmeas de 275 gramas. Aos 70 dias de idade, machos bem formados atingem 27 quilos e as fêmeas 23

A Texel é uma raça rústica que se adapta às oscilações climáticas da região

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O bife nosso de cada dia

Convertendo pasto em lucro Pecuária de corte em pequenas propriedades conquista novos mercados e aumenta rentabilidade do produtor rural Quando se pensa em pecuária de corte, logo vem à mente os rebanhos numerosos campo afora, estampando a homogeneidade da pelagem e sendo conduzidos pelo criador em seu formoso cavalo. As memórias remetem a cena típica da antiga novela global “O rei do gado”, onde o criador “Bruno Mezenga” ostentava suas riquezas adquiridas através da criação dos bovinos. As propagandas sobre pecuária de corte também retratam a imagem de grandes propriedades com estábulos, picapes levando insumos pelos campos, grandes áreas

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de pastagens... Dá impressão que o gado de corte só existe e é viável na grande propriedade. Mas não é bem assim. Os agricultores familiares têm adaptado a pecuária de corte na pequena propriedade. Estima-se que 40% dos terneiros para terminação são oriundos da agricultura familiar. Pois bem, os preços do boi gordo e do bezerro engataram uma alta a partir de 2013 e não pararam mais de subir, atraindo cada vez mais potenciais criadores das pequenas propriedades. Santa Catarina tem as fronteiras fechadas para bovi-

nos vivos, seguindo um mercado à parte, prevalecendo um preço quase sempre superior ao indicador. De acordo com o engenheiro agrônomo, especialista em produção animal e pastagens, da Estação Experimental da Epagri de Lages, Cassiano Eduardo Pinto, a diversidade de ambientes para a produção animal torna o Brasil um dos principais atores no mercado internacional da carne bovina com preços competitivos frente a outros países. “As perspectivas de negócios futuros são alentadoras no sentido de mercado interno e externo aquecidos.


Indústria da carne bovina atrai novos mercados A demanda crescente de proteína vermelha em nível mundial principalmente pelos países do leste Europeu e da Ásia vão ao encontro da evolução dos índices de exportação. Não é à toa que os preços pagos ao boi gordo vêm ultrapassando as médias históricas. Já no mercado interno, cabe lembrar que Santa Catarina tem déficit na produção de carne bovina de 90 mil toneladas/ ano, ou seja, esta quantidade anualmente é importada de outros Estados. Esse fato torna o mercado ainda mais promissor na produção de bo-

vinos de corte. O mercado externo está atento ao crescimento da carne bovina no Brasil. No início do mês de julho, o governo do Japão informou à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, que enviará técnicos ao Brasil para visitar laboratórios, frigoríficos e fazendas com o objetivo de acelerar a liberação da entrada do produto naquele país. Kátia Abreu, em viagem oficial a Tóquio, negociou a ampliação do comércio bilateral entre as duas nações, além de apresentar os potenciais de inves-

timento estrangeiro no Programa de Investimento em Logística – lançado em junho pelo Governo Federal. O Ministério da Agricultura cumpriu a penúltima das sete etapas previstas para a liberação de carne bovina termoprocessada, que está embargada pelo Japão desde dezembro de 2012 devido a um caso atípico de vaca louca registrado na época. A ministra brasileira disse estar otimista de que as barreiras à exportação de carne bovina termoprocessada ao país asiático serão superadas até agosto.

Em reunião com o ministro das Finanças do Japão, Kátia Abreu busca ampliação do mercado japonês para os produtos do agronegócio brasileiro

Carne in natura A ministra Kátia Abreu acrescentou ainda que trabalhará para que o Japão libere a importação de carne bovina in natura até dezembro, quando a presidente Dilma Rousseff visitará o país. O produto brasileiro nunca teve

acesso ao mercado japonês. “Confiamos no status do Brasil com relação à carne bovina. Temos reconhecimento de organizações internacionais, como OIE [Organização Mundial de Saúde Animal],

que afirmam e reafirmam a qualidade da carne brasileira. O Japão tem uma ótima relação com o Brasil e, do ponto cientifico e técnico, não teremos problema nessa área”, observou Kátia Abreu.

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Pecuária de corte atrai produtores do sul catarinense Na região sul do Estado, em destaque a região do Vale de Braço do Norte, onde a bovinocultura leiteira predomina, os produtores estão atentos ao crescimento do mercado da carne e, aos poucos, introduzem a pecuária de corte à propriedade. Segundo o médico veterinário da Gerência Regional da Epagri de Tubarão, Marcelo Tubino Bortolan, o Vale é um bom lugar para o desenvolvimento da pecuária de corte em áreas de pastagens melhoradas e piqueteadas como já ocorre no leite. Assim, é possível produzir animais precoces de raças que imprimem melhor qualidade de carne, como as britânicas Angus, Hereford e seus cruzamentos com zebuínos (Brangus e Braford). “Eu acredito que o Vale tem condições para colocar no mercado carnes diferenciadas, com maior valor agregado e com uma marca regional que a evidencie no balcão, principalmente visando diferenciar do produto que vem de fora, que

sabidamente tem qualidade inferior devido à origem em animais exclusivamente zebuínos, principalmente Nelore”, considera o veterinário. O produtor Tiago Fernandes Cargnin, de Gravatal, é engenheiro agrônomo e um investidor na pecuária de corte. Ele aposta na diversificação de atividades dentro da propriedade. Em um espaço de cerca de 40 hectares, trabalha com o sistema de silvo-pastoril, que é a integração entre a silvicultura e a bovinocultura. Atualmente, mantém um pequeno rebanho das raças Brangus e Braford. “Com orientação dos técnicos percebi que essas raças estão começando a ser conhecidas na região. Trabalho com o sistema de piqueteamento e percebo que são de fácil manejo e aceitam bem o processo de inseminação”, explica o produtor que investe em um nicho diferente de mercado que é a comercialização de reprodutores para melhorar o rebanho.

Produtores do Vale apostam na diversificação de atividades com a pecuária de corte na propriedade

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Novas técnicas de manejo exigem atenção do produtor O engenheiro agrônomo Cassiano Eduardo Pinto, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Lages considera que a pecuária de corte tem características distintas da atividade leiteira e uma delas é a escala de produção. “É possível uma rentabilidade alta em pequena escala. A produção leiteira gera adequada remuneração para manter uma família com qualidade de vida no meio rural, já na pecuária de corte isto não ocorre no mesmo nível”, explica. Para a implantação adequada da pecuária de corte, obter conhecimento é fator indispensável. Todas as características da propriedade como tipo de solo, superfície forrageira útil, clima regional, balanço forrageiro adequado, disponibilidade de mão de obra, custos operacionais, objetivo produtivo, conhecer e produzir o que o mercado quer para poder exigir preços diferenciados, entre outros, devem fazer parte do planejamento de ações de curto, médio e longo prazo. “Os pecuaristas devem ter consciência que tecnologias de processo como estação de monta, exame andrológico, detecção de prenhes, manejo do pasto, uso eficiente de vermífugos, vacinas, mineralização adequada, são fundamentais para acelerar os índices produtivos”, destaca. Já o médico veterinário Marcelo Bortolan, destaca que os produtores precisam ultrapassar a barreira da cultura pecuária extrativista para o profissionalismo. O tempo de criar gado de corte com a cultura de apenas colher o que a natureza fornece já era. Segundo o especialista, hoje a bovinocultura exige técnicas para cultivo de pasto semelhante a qualquer lavoura, com um manejo todo específico para garantir eficiência reprodutiva e sanidade no rebanho. “Para aquele produtor que se empenha na atividade, os resultados aparecem. Agora aqueles que ficam esperando chegar a primavera para o pasto melhorar e engordar o boi, para esses, sinto muito, vão ficar pelo caminho”


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Inseminação artificial

Tecnologia reduz custos da inseminação EM suínos Inseminação intrauterina garante ganhos na produção em granjas

A

s perspectivas para o mercado da carne suína para o segundo semestre de 2015 são positivas, principalmente em relação às exportações, com a possibilidade de abertura de novos mercados como México, Coreia do Sul e Colômbia, além da oportunidade de consolidação em outros países pouco explorados, como o Japão. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados de sua pesquisa trimestral do abate de animais, que indicou um crescimento de 4,2% do número de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2015 em relação ao mesmo período do ano anterior. Com o cenário global oportuno e o crescimento da demanda interna, a produção nacional deve apresentar

Inseminação intrauterina garante ganho genético na produção

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um crescimento de 3,5%. Ao observar o mercado, o produtor investe cada vez mais em novas tecnologias a fim de garantir a qualidade na produção animal. A inseminação artificial (IA) é uma biotécnica reprodutiva que vem sendo intensamente utilizada na suinocultura, em função dos benefícios genéticos e sanitários, permitindo que as agroindústrias coloquem no mercado produtos saudáveis e de qualidade. A técnica de IA pós-cervical (IAPC) possibilita a deposição do sêmen no corpo do útero, utilizando doses inseminantes com 1 x 109 espermatozoides/dose. Portanto, com a IAPC, a fertilidade do reprodutor utilizado como doador de sêmen, passa a influenciar o desempenho reprodutivo de um número três

vezes maior de fêmeas, quando comparado a IA convencional. Em granjas manejadas com fluxo de produção intenso, a implantação da IA introduz uma vantagem adicional, uma vez que os espaços anteriormente reservados aos machos podem ser alocados para alojar mais fêmeas em produção. Assim, a granja não apenas teria maior produção bruta, como também maior eficiência de produção, uma vez que mais leitões seriam produzidos por unidade de tempo e por unidade de espaço. Outra vantagem importante está relacionada à sanidade, pois com a implantação da IA, há um incremento na biossegurança, uma vez que existe uma redução no volume de machos introduzidos no rebanho.


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Produtores do Vale aderem à nova técnica de inseminação Os produtores de suínos da região do Vale estão aderindo à nova tecnologia em inseminação artificial. A principal vantagem deste tipo de inseminação é a redução do custo com reprodutores. Conforme o professor Fernando Bortolozzo, do Departamento de Medicina Animal da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enquanto na inseminação tradicional é necessário um macho para cada 100 a 150 matrizes, na intrauterina um reprodutor consegue atender até 450 fêmeas. “Na inseminação tradicional são necessários três bilhões de espermatozoides em uma dose de sêmen. No outro sistema é possível utilizar apenas um bilhão”, explica. A diferença entre os dois métodos é o local onde o sêmen é colocado. No tradicional, a pipeta tem uma ponteira que imita o órgão sexual do macho. Esse equipamento vai até o cérvix, da mesma forma que ocorre na monta natural. Com a inseminação intrauterina, a pipeta (ou cateter) é mais fina e não tem a ponteira. Dessa forma, passa o cérvix e chega até o corpo do útero. O suinocultor Thiago Effting Claudino decidiu implantar a técnica há um ano e meio e, desde então, observa que os resultados e a redução dos gastos com reprodutores compensam o investimento. Uma pipeta descartável comum é vendida entre R$ 0,50 e R$ 1. A transcervical com guia (na qual um cateter atravessa por dentro da pipeta) custa em média R$ 1,50. A unidade de produção de leitão, localizada no Rio Carolina, em Braço do Norte, hoje conta com 300 porcas reprodutoras que estão criando leitões de alta qualidade. “Vimos que aumentou o número de leitões nascidos, diminuiu o desperdício das doses de inseminação e melhorou o rendimento da produção”, garante o produtor. Atualmente, conforme o presidente

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Suinocultor utiliza nova técnica e reduz custos com reprodutores

da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos - Regional Sul, Adir Engel, pelo menos 80% dos criadores da região utilizam a inseminação artificial, e o uso da intrauterina vem crescendo, principalmente pela diminuição dos custos. “Em alguns casos, a redução de gastos com reprodutor pode chegar a R$ 20 mil por ano. Em se tratando de pequenas e médias propriedades, isso é uma grande diferença”, afirma o professor Fernando Bortolozzo.

Conforme o professor, as vantagens do sistema intrauterino já foram comprovadas, mas falta agora implementar o uso em larga escala e para isso é preciso capacitar os inseminadores. Segundo Bortolozzo, como a pipeta alcança o útero, é preciso ter cuidados para evitar lesões ou infecções nas matrizes. O produtor tem que dominar a técnica tradicional e depois partir para a intrauterina. Além disso, ele precisa observar o ganho genético e não apenas o custo por fêmea coberta.


A técnica A técnica consiste no emprego de um cateter com diâmetro aproximado de três milímetros, que é introduzido pelo interior da pipeta tradicional. Para a realização da IAIU, após a fixação da pipeta na cérvix, o cateter é introduzido lentamente, ultrapassando a cérvix em até 20 cm, sendo os espermatozoides depositados diretamente em um dos cornos uterinos. Essa técnica permite a redução do volume em até 10 vezes. E do número de espermatozoides na dose inseminante em 20 a 60 vezes. Com isso, há uma possibilidade de potencializar o uso de machos geneticamente superiores, incrementando o ganho genético

Parâmetros seminais com diferentes procedimentos de inseminação artificial

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Gado Jersey é reconhecido pela alta produção leiteira

Mais leite

Melhoramento genético aumenta a produção DO REBANHO Investimento em inseminação artificial melhora o rendimento e gera resultados ao produtor

A

s novas tecnologias invadem diversas áreas do setor econômico apresentando facilidades e otimização de tempo. Assim, a modernidade já é presente no meio rural e auxilia no aumento da rentabilidade e diminuição da mão de obra. Um exemplo disso é o investimento no melhoramento genético em bovinos leiteiros. De acordo com o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Bovinos – ACCB, Nelson Eduardo Ziehlsdorff, atualmente um dos únicos investimentos que o produtor faz na propriedade e que gera ganho real é a genética. “Sempre comento que não adianta investir na melhor ordenha, trator, galpão e nutrição, se seus animais não possuírem uma genética funcional para que com todos os benefícios do bom manejo reflita no aumento da produção de leite”, considera o presidente. Nesse contexto, a inseminação artificial veio com a finalidade de gerar resultados reais com apenas 2% dentro da planilha de custos da propriedade. Com o melhoramento genético, novos mercados estão abertos à comercialização de animais vivos com procedência e garantia de rentabilidade aos investidores. Além do potencial genético, é necessário se ater às condições de manejo e alimentação do rebanho. Se essas não forem adequadas, o animal não expressará todo o seu potencial genético, ou seja, para que o animal selecionado seja produtivo, deverá ser bem manejado e ganhe condições de criação. Sem genética, não há boa produção e sem melhorias nas condições de manejo, não há resposta ao melhoramento genético.

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ACCB incentiva o melhoramento genético da pecuária leiteira A Associação Catarinense dos Criadores de Bovinos – ACCB trabalha no aprimoramento e melhoramento genético das raças Holandês e Jersey em todo o Estado. Santa Catarina conta com mais de 60 mil produtores de leite e ocupa o 5º lugar como maior Estado em produção leiteira no Brasil e o 5º maior em comercialização de sêmen bovino. “O esforço e engajamento do produtor são fundamentais para esse sucesso”, enaltece o presidente da associação, Nelson Eduardo Ziehlsdorff. A região do Vale de Braço do Norte se destaca entre as regi-

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ões produtoras de leite principalmente no investimento em genética na raça Jersey. Conforme dados da Epagri, das 18 regiões catarinenses, o Vale representa 5,40% de toda produção no Estado. Em 2014, mais de 600 mil doses de sêmen foram comercializadas oficialmente em Santa Catarina. Mesmo com todos os avanços tecnológicos, o mercado do leite vive constantes oscilações. “É muito difícil fazer um planejamento ou projeção de preços com essa realidade. Todos os aumentos não acompanharam o valor pago ao produtor”, esclarece Nelson.

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Juiz observa a raça que é destaque na região em produção de leite e manejo

Juiz americano avalia Jersey do Vale O juiz Jeff Brown especialista em progênie de raças leiteiras veio de Ohio, Estados Unidos, avaliar pela primeira vez a raça Jersey de Santa Catarina durante a Feagro Vale 2015, que é considerada a maior exposição de gado Jersey da América Latina. O americano ficou impressionado com a qualidade dos animais, porém afirmou que o produtor precisa melhorar alguns aspectos para ser comparado à raça que é referência em genética nos Estados Unidos. “Fiquei impressionado com a qualidade genética das novilhas expostas na feira. Acho que é muito próximo com o que vejo nos Estados Unidos, mas o Jersey americano é mais produtivo que o Jersey brasileiro”, considera o juiz que atua no ramo há mais de 12 anos. Durante o julgamento, Brown procura por animais bem balanceados, que tenham caráter leiteiro, caminhem sobre um bom aparelho locomotor e apresente boa profundidade de costelas. Ele ressalta que a raça está em destaque nos Estados Unidos e Canadá, onde a genética é mais avançada, tanto é que diversos produtores tem convertido rebanhos de Holandesas em Jersey. Jeff Brown destaca que encontrou bons animais no Brasil, mas aconselha os produtores a prestar atenção em quesitos importantes como a produção de leite, e sempre se preocupar com pernas e pés do rebanho devido ao relevo acidentado da região. “Encontrei excelentes animais aqui, mas os produtores devem prestar atenção nos grandes touros da raça para conseguir melhorar geneticamente tanto a questão da produção quanto o tipo para se ter um animal mais equilibrado”, aconselha


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Choque elétrico

Piscicultura exige cuidados com as instalações elétricas Segundo especialistas, o choque elétrico tem sido uma das causas da morte de piscicultores na propriedade nos últimos tempos

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magine seu corpo sendo atingido por um choque elétrico? Dependendo da força da descarga, imediatamente provocará abalos musculares, queimaduras, parada cardíaca e até mesmo a morte. São grandes os riscos provocados por instalações mal feitas encontradas, principalmente, no ramo da piscicultura que lida com água e energia. Segundo o engenheiro eletricista da Cooperativa de Eletrificação de Braço do Norte (Cerbranorte) Fábio Mouro, a cada mês, uma pessoa morre por choque elétrico em locais próximos a açudes. Em visita às propriedades da região do Vale, o engenheiro constatou que diversas localidades, principalmente de Braço do Norte e Rio Fortuna, têm apresentado instalações mal feitas trazendo riscos à segurança dos moradores. “Observamos que os produtores não investem em segurança para o seu sistema de piscicultura, apenas o essencial para o seu funcionamento”, considera o engenheiro eletricista que encontrou diversas irregularidades nas propriedades como: fio desencapado, painéis sem aterramento, cabo não adequado no chão, cabo não adequado para a água, locais sem disjuntores de proteção DR (Disjuntor Residual) e disjuntores gerais e sem aterramento nos motores. Após participar de um seminário que alertou os piscicultores sobre os perigos das más instalações, Ilson Schlickmann Meurer, de Braço do Norte, que trabalha há mais de 17 anos com a piscicultura, decidiu melhorar as instalações da sua propriedade e adequá-las ao padrão das normas de segurança. “Temos um custo alto de produção, mas percebi que esses investimentos são necessários. Me preocupo com a família e os funcionários que circulam na propriedade e estão sujeitos a um choque elétrico”, explica o produtor. A piscicultura apresentou um crescimento estimado entre 8 a 10% em relação ao ano anterior na região sul catarinense que é uma das maiores produtoras de pescado de água doce do Estado. Para manter a qualidade da produção e segurança das famílias é fundamental estar atento às instalações elétricas.

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Engenheiro constatou diversas instalações mal feitas nas propriedades da região

Os procedimentos corretos: - Instalar dispositivo de proteção à corrente diferencial-residual. - Dispositivo de seccionamento mecânico ou associação de dispositivos destinada a provocar a abertura de contatos quando a corrente diferencial residual atinge um valor dado em condições especificadas. - Usar um disjuntor de proteção DR (disjuntor residual) de característica abaixo de 30mA. - Colocar aterramento no painel e no motor. - Cabo adequado com isolação de 1kV. - Cabos une e multipolares com isolação resistente à água (por exemplo, EPR e XLPE) . - Não realizar emendas em cabos. - Ficar atento ao uso de DR.


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Prevenção e segurança na propriedade O produtor lida diariamente com aeradores, alimentadores automáticos e outros equipamentos que exigem uma boa instalação elétrica já que o contato com a água e a eletricidade é constante. De acordo o engenheiro agrônomo da Epagri de Braço do Norte, Rafael Knabben, os agricultores devem estar conscientes que uma instalação bem feita precisa estar dentro dos padrões exigidos pela norma técnica. “Uma propriedade adequada é aquela com as ligações feitas dentro das normas

técnicas, com cabeamento e dispositivos de proteção do sistema adequados para a carga elétrica dos motores que compõem o sistema. Desta maneira o produtor protegerá sua segurança, de sua família e dos animais da propriedade”, recomenda o técnico. Ele explica que há uma série de normas técnicas a serem seguidas e existem cabos especiais para condições adversas no ambiente, como umidade, contato com solo entre outros, além de dispositivos de desarme de todo o sistema. “A recomendação é que os agricultores

procurem um profissional da área. No manuseio diário dos equipamentos é fundamental que o sistema esteja desligado para evitar os acidentes, que geralmente são fatais. O uso de botas de borracha é indispensável”, alerta o agrônomo. Existe uma série de EPIs (Equipamentos de proteção individual), principalmente botas com isolamento e luvas. A recomendação é que mesmo com estes equipamentos toda a manutenção seja realizada com o sistema da rede elétrica desligado.

Inverno exige boas práticas na piscicultura Além dos cuidados com a segurança e as correntes elétricas, o período de inverno também exige uma série de cuidados especiais, pelo fato dos peixes serem animais pecilotérmicos, ou seja, regulam sua temperatura corporal de acordo

com a temperatura do ambiente onde estão inseridos. Desta maneira seu metabolismo funciona de modo diferente de períodos de estações mais quentes. Assim, o piscicultor precisa estar atento aos procedimentos adequados.

Com a chegada do frio, a atenção deve ser redobrada no cultivo do peixe

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Acompanhe as orientações do técnico Rafael Knabben: Controle da densidade nos viveiros, evitando estocar os peixes em altas densidades. Fornecimento de ração de boa qualidade e bem balanceada energeticamente. Controle da quantidade de ração fornecida, evitando-se as sobras. Ficar atento aos horários (procurar fazer em períodos mais quentes do dia). Manutenção da qualidade da água. Evitar a extratificação, que é a diferença de temperatura entre as camadas mais superficiais em relação às mais profundas, pois os peixes tendem a permanecer onde está mais quente e acabam saturando rapidamente o oxigênio presente nesta faixa, causando estresse e mortalidade. O controle deste problema é através do uso de aeradores. Redução da quantidade de fertilizantes aplicados nos viveiros


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Acompanhe o passo a passo deste delicioso prato: Spaghetti ao molho de tilápia Ingredientes 1 colher bem cheia de margarina ou manteiga 3 potes de requeijão cremoso Sal 1 lata de creme de leite 500 gramas de macarrão tipo talharim Tempero verde (salsa picada, manjericão e cebolinha) 1 cebola picada 1 alho picado 700 gramas de tilápia picada em cubos grandes Queijo caseiro ralado

Receita

Apaixonados por peixe, pai e filha elaboram prato à base de tilápia

Cozinhando em família

O

consumo da tilápia está cada vez mais em alta na região. Aos poucos, a população tem conhecido a vasta opção de pratos que podem ser preparados à base do peixe. Eventos como a Tilápia Fest, realizada em São Ludgero, Festas do Peixe e concursos de culinária à base de animal, promovidos pela Epagri, têm mostrado aos amantes da iguaria as diversas formas de degustar a carne do peixe de água doce. O gerente comercial Carlos Cristiano Vieira da Silva, de São Ludgero, gosta, sempre que possível, de cozinhar na companhia da esposa e da filha e a tilápia já é figurinha presente na mesa da família. “Adoramos tilápia, pelo menos uma vez por semana fazemos algum prato à base do peixe”, comenta Carlos que

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Julho e Agosto de 2015

na companhia da filha, Amanda Vieira da Silva, decidiu elaborar uma receita inusitada. O prato spaghetti ao molho de tilápia, apresentado dentro de um pão italiano, foi um dos inscritos no 6º Concurso de Culinária de Peixes, promovido pela Epagri durante a Feagro Vale 2015 em Braço do Norte. “Fomos os últimos a nos inscrever. Inventamos a receita dois dias antes e testamos à tarde, momentos antes de iniciar o concurso”, relembra Carlos. O prato elaborado às pressas pelo pai e filha caiu no gosto dos jurados e conquistou o primeiro lugar no concurso. “Muito além de qualquer premiação, meu verdadeiro troféu é estar ao lado da minha família”, reconhece o participante que continua elaborando novos pratos na companhia da esposa e dos filhos.

Modo de Preparo Esquente 1200 ml de água e quando estiver fervendo coloque a massa. Espere até ficar no ponto (al dente), então escorra a água quente e jogue água fria até que perca o calor. Em outro recipiente, em fogo médio, coloque a margarina, cebola e alho e mexa por alguns minutos. Acrescente a tilápia até atingir o ponto de cozimento. Coloque a salsa e a cebolinha a gosto. Depois misture o creme de leite, o requeijão e o parmesão ralado até que obtenha um creme homogênio. Misture com a massa e coloque por cima o manjericão e queijo colonial ralado para derreter. O prato pode ser servido em um pão italiano. Bom apetite!

Spaghetti pode ser servido em um pão italiano


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