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Setembro e Outubro de 2015

R$ 11,90

Considerado a bebida dos deuses, vinho aliado À cultura incentiva o enoturismo na região sul

N° 07 www.negocioagro.com.br

Colhes o que plantas Para bons resultados na colheita do milho, etapas do preparo do solo e da semeadura precisam de atenção


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Leia nesta edição 08. Entrevista Presidente da Afubra, Benício Werner, fala sobre as perspectivas para o mercado do tabaco

18. Nutrição Manejo alimentar adequado das tilápias traz economia e alta produtividade

28. Lucratividade Pecuária aliada à silvicultura garante lucros no sistema silvipastoril

30. Qualidade ética da carne Bem-estar animal aumenta qualidade do manejo e produção da carne suína

34. Enoturismo Produção de vinho agregado ao resgate histórico atrai turistas à região sul

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Plantio

Escolha da semente e cuidados com o solo influenciam no rendimento da safra do milho

14.

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Saudável

Cuidados

Alimentos orgânicos conquistam consumidores e aumentam rentabilidade da agricultura familiar

Poda dos ramos e manejo adequado garantem qualidade na produção da uva

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artigo

A importância da armazenagem

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falta de armazéns é um problema estrutural com profundos reflexos no nível de renda dos produtores. Como os armazéns disponíveis são insuficientes para receber e estocar a produção, uma das alternativas para amenizar essa dificuldade é a exportação dos produtos para outros países, especialmente o milho, para posterior importação de outros Estados para atender às necessidades, pois o Estado é grande consumidor de grãos. Com esta operação, Santa Catarina perde em arrecadação já que sobre o produto exportado não incide Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas, na internação de produtos de outros Estados é gerado crédito do imposto. Esta situação penaliza os produtores rurais em geral. Porém, se ele for associado a uma cooperativa, essa situação será outra. Um dos benefícios que as cooperativas proporcionam aos cooperados é o armazenamento da sua produção durante a safra, mantendo-a até que se oportunize a venda aos melhores preços do mercado. A grande vantagem é que com armazém, o produtor vende a produção no momento mais adequado. Com insuficiência de armazéns, o produtor é obrigado a vender o produto agrícola em plena safra, momento em que os preços estão naturalmente em queda em razão da alta oferta. A indústria também sofre prejuízos porque vê a matéria-prima ser exportada, sabendo que terá, mais tarde, que reimportá-la para o processo industrial, pagando mais caro. Ao final, o consumidor pagará mais pelo alimento – seja carne, leite ou cereais – e o Estado, também, pelos créditos de ICMS. Em Santa Catarina, a atual capacidade de armazenamento de cereais é de

expediente Diretor Executivo Fernando Freitas Departamento Comercial Mara de Oliveira Redação Suellen Souza - editora / SC: 44851-JP Lysiê Santos - 0004796/SC Colunista Diogo Schotten Becker – coordenador Departamento de Criação Jéssica Simiano Gabriela Rousseng Departamento Financeiro Ezequiel Philippi Fotografias Odáirson Antonello Revisão Ortográfica Maria Vanete Stang Coan Assinaturas Zula Coradelli

Mário Lanznaster, Presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos

pouco mais que 4 milhões de toneladas para uma produção estadual total de 6,5 milhões de toneladas de grãos, gerando um déficit de 40% das necessidades. O ideal, em qualquer país do mundo, é uma estrutura de silos e armazéns para, no mínimo, 120% da produção. As cooperativas ainda não são 100% autossuficientes, mas são, praticamente, as únicas a investir nessa área e, nos últimos anos, destinaram cerca de R$ 150 milhões, ampliando a capacidade instalada em 250 mil toneladas. O investimento é elevado, o retorno é muito lento e os encargos financeiros são altos em face da sua natureza operativa. Apesar disso, investir em armazenamento é uma imperiosa necessidade do desenvolvimento catarinense.

Fone: |48| 3651 2700 Av. Felipe Schmidt, 2244. Sala 13. Centro - Braço do Norte - Santa Catarina CEP: 88750-000 contato@negocioagro.com.br

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NegócioAGRO é uma publicação bimestral da Folha o Jornal Editora Eireli EPP, CPNJ: 01.749.601/0001-64. Tem sua circulação dirigida ao produtor rural, casas agropecuárias da Comarca de Braço do Norte e as empresas que distribuem aqui seus produtos ou prestam serviço. Garanta o recebimento de seu exemplar: Assinatura anual: R$ 60,00.

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Ovos O mercado de ovos inicia setembro com baixa liquidez e preços enfraquecidos. Apesar de normalmente o consumo aumentar em começo de mês, agentes consultados pelo Cepea relatam que o feriado prolongado limitou os negócios. Do lado da oferta, o volume disponível de ovos, principalmente de tamanhos maiores, já se mostra um pouco menor, refletindo os descartes realizados por alguns produtores. Como resultado, as desvalorizações foram limitadas. Em agosto (mês com mais dias úteis), as cotações tanto do ovo branco como do vermelho já haviam acumulado variações negativas, em decorrência do baixo consumo. No município de Bastos, em São Paulo, principal região produtora do país, o tipo extra, vermelho (a retirar), se desvalorizou 7% entre 31 de julho e 28 de agosto ou o correspondente a quase cinco reais a caixa com 30 dúzias.

Trigo

Safra EUA As lavouras de milho dos Estados Unidos tinham 68% de condições boas e excelentes no final de agosto. Em 2014, era 74%. Já as condições da soja, neste mesmo critério, atingem 63%, ante 72% em 2014, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).

- Especialização em Gestão de Empresas pelo Unibave. - Cursando Engenharia Agronômica pelo Unibave. Atualmente é produtor de suínos e gado de leite, professor do colégio agrícola e ex-diretor de agricultura de Braço do Norte. Fone: (48) 9634 6259 contato@negocioagro.com.br

Farelo de soja O esmagamento de 40,1 milhões de toneladas de soja vai permitir ao país exportar 15,2 milhões de farelo de soja, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetais (Abiove). As receitas serão de US$ 5,5 bilhões com o produto, enquanto as com óleo de soja ficam em US$ 936 milhões.

Carne Bovina

Soja As exportações de soja em grãos somaram 45,9 milhões de toneladas até agosto, acima dos 45,7 milhões registrados em todo o ano de 2014.

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- Formado em Gestão de Agronegócios pela Unisul.

giro pelo campo

A Embrapa Cerrados apresentará nos próximos dias um trigo para o cerrado do Brasil central. Precocidade (115 a 120 dias da emergência à colheita), elevado potencial produtivo e qualidade de panificação são características apontadas pela Embrapa.

diogo schotten becker

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As exportações brasileiras de carne bovina para os Estados Unidos aumentaram 110% em volume nos sete primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Essas exportações são de carne industrializada em lata.


Leite Em alta há seis meses, o preço do leite recebido pelo produtor atingiu em agosto o maior patamar deste ano, segundo levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. O preço líquido, ou seja, sem frete e impostos, foi de R$ 0,9964/litro na “média Brasil”, que é ponderada pelo volume captado em julho nos Estados de MG, PR, RS, SC, SP, GO e BA.

Clima Os modelos indicam que há uma maior probabilidade de que a precipitação acumulada fique acima ou dentro da faixa normal do trimestre, indicando um padrão climático típico de períodos de El Niño. O mês de outubro deve apresentar um padrão semelhante aos dois meses anteriores, ou seja, com acumulado acima da média na maior parte da região.

Milho A consolidação da produção brasileira do milho, reunindo as duas safras, aponta agora para 84.304,3 mil toneladas, representando um acréscimo de 5,3% em relação à produção passada, que atingiu 84.304,3 mil toneladas. Fonte: Cepea

Máquinas agrícolas O setor agrícola continua com o pé no freio quando se trata de comprar novas máquinas. As indústrias repassaram apenas 271 unidades de colheitadeiras para as distribuidoras no mês passado, um número 39% inferior ao de igual período do ano anterior. Calendário de divulgação de safras da Conab

alimento De acordo com a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO), quando o calendário marcar o ano de 2050, estima-se que haverá mais de nove bilhões de habitantes no planeta Terra. A população atual no Brasil estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de 204,0 milhões de habitantes, podendo evoluir para 212,0 em 2020 e 228,0 milhões de consumidores em 2040.

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entrevista

Brasil produz mais de 10% das folhas de tabaco do mundo Presidente da Afubra, Benício Werner, fala sobre as mudanças no setor fumageiro e as expectativas para as próximas safras

Benício Werner acompanha os desafios dos fumicultores na comercialização do produto

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cultivo do tabaco é uma cultura antiga que ainda exerce grande influência no agronegócio. Só a região sul de Santa Catarina conta com mais de dez mil produtores. No entanto, as campanhas mundiais e nacionais antitabagismo têm afetado o setor. No Brasil, o consumo do cigarro caiu cerca de 7%, de 2013 para 2014, o que representa uma redução do produto em torno de 12 mil toneladas. Em muitos municípios, o tabaco é a principal atividade econômica, desempehando um relevante papel social para milhares de cidadãos. A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) está atenta às mudanças de mercado e desenvolve ações para manter o bem-estar dos fumicultores.

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O presidente da associação, Benício Werner, destaca que a produção de tabaco na região Sul do Brasil envolve 651 municípios e responde por mais de 10% das folhas produzidas em todo o mundo. A produção registrada na safra 2013/14 – de 751 mil toneladas – coloca o país na segunda posição do ranking mundial de produção da folha, atrás somente da China. Índia, Estados Unidos e Indonésia aparecem em terceiro, quarto e quinto lugares, respectivamente. O presidente da Afubra acompanha as evoluções do mercado desde a fundação da entidade. Primogênito de um dos fundadores e primeiro presidente da Afubra, Harry Antônio Werner, Benício tinha oito anos quando a casa comercial da família servia de ponto

de encontro de muitos dos agricultores que, no início de 1955, resolveram unir forças pela defesa de sua produção. Em 1972, após sua graduação em Ciências Contábeis pelas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (Fisc), fez especialização em Gestão de Riscos em Agribusiness e em Gestão de Processos. Ingressou, em 1975, na Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e assumiu o cargo de assessor de diretoria, passando a contador em 1979 e, a partir de 1983, passou a exercer a função de tesoureiro. Em 2007, foi eleito presidente da associação, a qual, após reeleições, preside até hoje. Em entrevista à revista NegócioAgro, Benício Werner fala sobre as mudanças do setor fumageiro e as perspectivas para as próximas safras.


Países como a Índia e Zimbábue apresentam oferta de mão de obra e, consequentemente, podem apresentar custos de produção mais baixos, competindo diretamente com o produto brasileiro. Este fator preocupa a associação? A nossa preocupação está principalmente voltada para o Zimbábue, uma vez que é um país que vem crescendo muito na produção de Virgínia e é uma produção que faz concorrência com o tabaco do Brasil por ser de muito boa qualidade. Quanto à Índia, tem uma produção de tabaco Virgínia estabilizada e não nos preocupa tanto, por ser um tabaco de não tão boa qualidade quanto o brasileiro. Além desses dois países, temos ainda Malawi (maior produtor de Burley do mundo) e Moçambique, que são dois fortes concorrentes ao Brasil, no Burley, também com boa qualidade. O setor de carnes e grãos vem conquistando novos espaços no cenário mundial. Contudo, o tabaco também está conquistando novos mercados? Qual a expectativa de exportação para os próximos 10 anos? Os novos mercados brasileiros são, principalmente, países do Oriente Médio e também os países do leste europeu. A exportação depende da demanda, mas a expectativa é de ficar como exportador de entre 450 a 500 mil toneladas anuais. O plantio da safra 2015/2016 já está em fase final. Houve um incremento de área plantada em relação à safra anterior? Para a safra em andamento (2015/1016), a estimativa de redução é de cerca de 7%. A última safra apresentou baixa qualidade devido aos fatores climáticos. Qual a expectativa de qualidade da produção para atual safra? Como nosso produtor é qualificado, se tiver um clima razoavelmente favorável, ele sempre produzirá tabaco de qualidade. Na safra que acabou, tivemos regiões

animal e 11% da produção vegetal. No ciclo 2013/2014, a contribuição do tabaco na soma da renda familiar baixou para 53%, a produção animal aumentou para 26% e a agrícola para 21%. Em termos de valores, da renda média da propriedade rural em 2013/2014, a receita bruta foi de R$ 81.905,00 e o tabaco participou com R$ 43.462,00. Ou seja, o tabaco continua sendo uma importante fonte de renda da propriedade.

Não acreditamos na possibilidade da extinção da cultura do tabaco, bem como do consumo de cigarro até 2020”.

com clima favorável de excelente qualidade. Já em outras regiões, o clima não foi favorável, e a qualidade não foi tão boa. Qual a previsão de produção para a safra que inicia? A estimativa de produção para a safra 2015/2016 é de 645.430 toneladas. Atualmente os produtores vêm investindo na diversificação das atividades com o intuito de ampliar os recursos. Assim, qual a importância da fumicultura na geração de renda dentro da propriedade? Levantamento da entidade revela que na safra de 2005/2006, 73% da renda das propriedades dos fumicultores tinham origem no tabaco, 16% da produção

A procura por bem-estar e hábitos saudáveis vem modificando os padrões de consumo, e o Brasil é um dos países que mais reduziu o consumo de cigarros, forçando a indústria do tabaco a tomar novas direções. Há também a assinatura da Convenção Quadro, que previa a extinção da cultura do tabaco no país até 2020. Neste contexto qual a visão da associação? O setor do tabaco vem enfrentando diversas dificuldades nos últimos anos. Estamos sofrendo fortes campanhas, pressionadas pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) antitabagistas, que têm seu foco principal de pressão voltado aos órgãos públicos e à grande mídia. Esta forma de agir está levando o Governo a emitir legislações restritivas ao consumidor e de maneira mais radical, em nosso país. De tal forma, que o consumidor está cerceado no seu hábito de fumar. Além disso, a alta tributação, que levou a uma queda de 10,5%, no consumo de cigarros, de 2011 para 2014 e uma queda ainda maior, de 24,7%, se considerarmos somente o cigarro legal, também traz reflexos ao setor. Isto está levando à diminuição do consumo. Não acreditamos na possibilidade da extinção da cultura do tabaco, bem como do consumo de cigarro, até 2020. O que sim, acreditamos e está acontecendo, é uma diminuição do cigarro tradicional. Está crescendo o consumo do cigarro eletrônico. Inicialmente, falava-se apenas de cigarro eletrônico com nicotina líquida química. Hoje, já se produz a

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nicotina a partir do tabaco. Temos também cigarros eletrônicos que usam o tabaco dentro de potes ou até mesmo, as folhas soltas, dentro de um recipiente. Esses dois cigarros eletrônicos não emitem fumaça e continuam utilizando o tabaco, assim como nós o produzimos. Portanto, temos convicção que a produção como o consumo terá continuidade. A Afubra possui mais de 60 anos de história, atuando na defesa dos produtores de tabaco. Neste período, quais as principais conquistas? E para os próximos anos, quais são as prioridades? A criação da Afubra, em 21 de março de 1955, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, foi motivada pela inexistência de defesa e assistência aos fumicultores quanto à falta de amparo financeiro em decorrência de prejuízos com granizo e também a insta-

O Brasil é considerado o maior exportador de tabaco do mundo. De acordo com dados da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra), o país exporta mais de 650 mil toneladas anualmente. Neste contexto, como está a situação da fumicultura no país? Incluímos uma tabela dos últimos anos das exportações, onde se vê uma queda de 2013 para 2014. A estimativa para 2015 é de retomarmos uma exportação de, aproximadamente, 550 mil toneladas. Veja ao lado, tabela de exportação:

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bilidade do mercado e do preço do fumo. A primeira assembleia reuniu 1500 produtores e nascia a Associação dos Plantadores de Fumo em Folha do Rio Grande do Sul. Em 1963, a entidade passou a atuar também em Santa Catarina e Paraná, passando a chamar-se Associação dos Fumicultores do Brasil. Iniciou com cerca de 100 associados e hoje, passa de 100 mil. A associação mantém programas de orientação e fomento à diversificação de culturas, um Centro de Pesquisas, sedia programas de estágios, mantém o Viveiro Florestal, entre outras ações. Como desafios, procuramos encontrar alternativas para que o produtor possa continuar no campo com vida digna e garantindo a sua sucessão, adequar o setor às legislações, adequar a produção primária à oferta e demanda e o combate ao contrabando de cigarros.

Como presidente da Associação qual o recado que deixa aos associados? Para mantermos um mercado exportador, necessariamente precisamos de agricultura de precisão, produzindo um tabaco de qualidade, que inclui, além de tratos culturais, colhê-lo maduro, cuidados na secagem e uma boa classificação. Essa dedicação vai fazer com que tenhamos lucratividade e nos manteremos no mercado exportador. Precisamos também ficar atentos às orientações que as sete entidades transmitem – federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) – com referência à oferta e demanda. A lucratividade do produtor também depende em não produzir em excesso


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Frango orgânico

Frango especial é opção ao produtor familiar Sistema onde a alimentação dos animais é diferenciada garante sabor da carne e maior preço de mercado

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ada vez mais crescente no país, o mercado orgânico atinge também a avicultura. A produção de frangos orgânicos leva em consideração o bem-estar animal e a alimentação com base em alimentos orgânicos e certificados. A produção ainda se mostra tímida no país, mas sinaliza com grandes perspectivas de crescimento, apesar de poucas iniciativas. Carne com proteína em seu estado mais puro, com vitaminas e sais minerais, livre de medicamentos e substâncias químicas, animais criados em liberdade, que se comportam de maneira natural, recebendo ração orgânica e balanceada e cuidados especiais. Essas são algumas características que contribuem para que o frango orgânico seja considerado um produto sustentável, saudável e de maior qualidade. Como os animais são criados com acesso a pastagens, a carne fica mais consistente e com sabor diferenciado. Apesar do maior custo de produção, o frango orgânico tem sido bastante procurado e garante preço de mercado superior ao do frango convencional, o que é uma boa opção para produtores familiares. Katia Vandresen é estudante de educação no campo e estava à procura de uma atividade para preencher o tempo vago do dia. Ao observar o mercado crescente dos orgânicos, Katia e o esposo Ronaldo Michels decidiram investir na implantação de

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uma granja para a produção de frangos orgânicos na propriedade localizada em Santa Rosa de Lima. “Meu tio já estava produzindo e vi que daria para conciliar e começamos a produção”, conta a agricultora. Com uma granja de 250 m², a jovem produz lotes de 2.500 frangos. Segundo a produtora, o manejo do frango orgânico é diferente do convencional. Eles permanecem na granja fechada até os 21 dias, a partir disso, as portas são abertas e os frangos têm livre acesso à pastagem. “Eles passam o dia soltos no pasto e no fim da tarde retornam à granja. Criamos o frango até completar os 60 dias quando são encaminhados para o abate”, explica Katia. Ela ressalta que apesar do custo de produção ser maior por ficar mais tempo com o frango alojado, o preço pago pelo quilo também é diferenciado. Associados à Associação de Agricultores Ecológicos (Agreco) no município, toda produção é encaminhada ao abatedouro local e destinada à comercialização ao varejo e mercados institucionais já consumidores dos produtos da cooperativa da encosta da Serra Geral. Segundo o diretor financeiro da Agreco, Adilson Maia Lunardi, o produto é apresentado ao varejo e à alimentação escolar do Estado. “Nas redes de supermercados do litoral catarinense está o principal volume de venda. A demanda é crescente e em breve teremos condição para a venda fora do Estado”, destaca.

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Procura por alimentação saudável estimula produtores a investir no setor orgânico


Fora das granjas, aves têm acesso a pastagem e manejo determinado durante o desenvolvimento

Como no passado, as galinhas vivem nos terreiros Segundo João Pedro Zabaleta, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, a avicultura orgânica procura minimizar o uso de agroquímicos, além de levar em consideração também o bem-estar animal. “A prática se preocupa muito com a questão do bemestar animal com relação ao tamanho do lote e à questão do confinamento, procurando criar um ambiente mais próximo do natural. Com isso, se obtém um produto diferenciado”, afirma o pesquisador. Já no sistema convencional, o objetivo é que os animais cresçam e engordem em pouco tempo. Para isso, as aves são criadas na densidade de 30 quilos por metro quadrado, recebem luz artificial, e têm sua genética melhorada para alta conversão de ração em carne de qualidade e crescimento rápido. Os frangos são ainda submeti-

dos a antibióticos e outros remédios, inclusive estimulantes, e alcançam idade de abate aos 44 dias para o mercado brasileiro. Ao contrário dos orgânicos, que tem crescimento lento e são abatidos com um mínimo de 60 a 81 dias de idade. Esse sistema estimula o desenvolvimento da agricultura familiar em várias localidades do país. Isso gera renda e desenvolvimento local. “No momento em que oferecemos melhores condições de bem-estar aos animais e os estimulamos a caminhar e pastar, geramos um maior gasto de energia. Com isso, parte da energia não será convertida diretamente em músculo e peso, ou seja, o frango terá menor ganho de peso. Só que a consistência da carne será diferente. Assim, teremos uma carne mais firme com sabor diferenciado. Essa é uma carne

muito procurada por pessoas da área de gastronomia que costumam preparar pratos especiais”, enfatiza Zabaleta. Por exigir um manejo mais intensivo, o pesquisador da Embrapa afirma que o custo de produção da avicultura orgânica é maior. No entanto, isso é repassado ao consumidor que paga mais por esse produto. “Pelas experiências que temos na região, os avicultores costumam vender o frango orgânico por um preço que varia entre R$7 e R$12 por quilo. Esse mercado é crescente, de volume muito grande e existe uma grande procura internacional por esse tipo de produto. A avicultura brasileira tem uma boa possibilidade de produzir o frango orgânico e transformar isso em uma fonte de renda interessante para a avicultura familiar”, acredita o pesquisador www.negocioagro.com.br

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Agricultora adere à produção orgânica e amplia qualidade das hortaliças em Santa Rosa de Lima

Saúde À mesa

Agricultura familiar é o caminho para a alimentação saudável Produtores rurais apostam no cultivo de alimentos orgânicos e aumentam rentabilidade

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sol nem bem começa a aparecer entre as nuvens e a baixa serração, e dona Maria Edite Boing Bonetti, 60 anos, já coloca a água para ferver. Prepara a cuia para o chimarrão e começa as atividades do dia. Cedinho, ela passa pela horta para colher os frutos de muito trabalho e dedicação. Maria e o esposo Isaltino Bonetti, 59 anos, cultivam hortaliças diversificadas na pequena propriedade localizada no município de Santa Rosa de Lima, considerado a “Capital Catarinense da Agroecologia”. Além da agricultura, a família cria alguns animais como frango, pato, peru, e tem até um pequeno açude onde pescam a tilápia. O casal, nativo de Santa Rosa de Lima, sempre teve a agricultura como fonte de renda e há três anos decidiu aderir à produção de alimentos orgânicos. “O 14

alimento orgânico é toda vida melhor. No Brasil, cerca de 90% da produção orgânica é proveniente da agricultura familiar. Hoje não conseguimos mais comprar um quilo de tomate no mercado, porque sabemos que a diferença é muito grande”, conta a agricultora que admite que a produção de orgânicos exige mais trabalho, porém, a qualidade compensa o esforço. Nas últimas décadas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e produtos químicos na produção de alimentos vem causando preocupação em diversas partes do mundo. Um forte exemplo é a crítica ao modelo de agricultura vigente que cresce à medida que estudos comprovam que os agrotóxicos contaminam os alimentos e o meio ambiente, causando danos à saúde. Dentro deste contexto, tem aumentado progressivamente a

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procura por alimentos produzidos de forma orgânica, isto é, livres de fertilizantes químicos, agrotóxicos, antibióticos, hormônios e outras drogas usualmente utilizadas. Estudos científicos sugerem que os alimentos orgânicos são melhores para a nossa saúde, pois o seu valor nutricional é maior do que aqueles produzidos convencionalmente. O produto orgânico é resultado de um sistema de produção agrícola que não utiliza agrotóxicos, aditivos químicos ou modificações moleculares em sementes. Este cultivo busca manejar de forma equilibrada, através de métodos naturais de adubação e de controle de pragas, o solo e demais recursos naturais, preservando-os de contaminações e utilizando-os de maneira sustentável, mantendo a harmonia entre homem e natureza.


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Estado no topo nacional da produção de orgânicos O mercado voltado aos consumidores que buscam uma alimentação saudável está em crescimento e este ano deve movimentar R$21 bilhões no Brasil, segundo a consultoria Euromonitor. A forte presença da agricultura familiar em Santa Catarina favoreceu o fortalecimento da produção orgânica e hoje disputa com Minas Gerais a quarta posição no ranking nacional do cultivo de orgânicos, com 40 a 60 mil toneladas anuais de hortifruti no mercado. Segundo a presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Marly Winckler, Santa Catarina se destaca na rota do

consumo saudável no Brasil por apresentar características que favorecem a qualidade de vida e o contato com a natureza. Mas quando o assunto é associativismo, o Estado também está em evidência com o maior número de associações de produtores orgânicos. São 60 cooperativas que auxiliam os agricultores nas técnicas de cultivo e comercialização dos produtos. Assim, para os vegetarianos, veganos e consumidores em geral a lista de opções de preços e sabores está cada vez maior. No Brasil, quase 16 milhões de pessoas (8% da população) já se consideram vegetarianas, de acordo com dados do Ibope de 2012.

Lucas Schmidt é responsável pelo frigorífico que atende os produtores da cooperativa local

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Cooperativa incentiva a produção orgânica A alimentação saudável tem sido cada vez mais valorizada. Pensando nisso, a Associação de Agricultores Ecológicos (Agreco) promove a produção orgânica e ações de desenvolvimento envolvendo campo e cidade. Com cerca de 200 associados, a Cooperagreco, localizada nas Encostas da Serra Geral, orienta os trabalhos que são executados por um conjunto de agricultores e profissionais contratados. Um conjunto de agroindústrias opera em rede para transformar a matéria-prima em produtos não perecíveis que podem ser comercializados em todo o Brasil. Segundo o diretor financeiro da Cooperagreco, Adilson Maia Lunardi, o desafio é propagar a alimentação saudável que preserve a natureza e assim dar oportunidade a outras famílias aumentarem a rentabilidade. “Percebemos o aumento da busca de informação de consumidores e clientes, bem como o aumento na comercialização de nossos produtos. Temos certeza de que a oferta de produtos de qualidade a preços justos é uma forma de trabalhar com dignidade com benefício para consumidores e agricultores”, considera o diretor.

Como tudo começou A ideia de implantar a cooperativa surgiu quando um grupo de pessoas começou a se preocupar com a crise enfrentada pela agricultura do município de Santa Rosa de Lima. Foi então que decidiram propor a adoção de uma produção orgânica. Egídio Lochs, nascido no município e então proprietário de uma rede de supermercados, ofereceu suas lojas para fazer a comercialização, e Wilson Schmidt, outro nativo, fez um processo de ligação com a Universidade Federal e com organizações que pudessem apoiar esse tipo de iniciativa completamente pioneira no Estado de Santa Catarina. Com a disposição de algumas famílias para responder ao desafio, foi constituída, em dezembro de 1996, a Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral (Agreco) em Santa Rosa de Lima.

Geleias orgânicas conquistam novos consumidores aumentando a exportação dos produtos para outros Estados

A produção A Agreco hoje oferece uma linha de mais de cem produtos orgânicos que são comercializados em Santa Catarina e outros Estados além de estar cadastrada no Programa Nacional de Abastecimento Escolar (Pnae) onde fornece os alimentos a escolas da região e à prefeitura de Florianópolis. A produção é organizada de acordo com as condições de venda de cada linha. “A cada ano lançamos novos produtos para atender à necessidade dos consumidores

e aproveitar a vocação dos agricultores”, destaca o diretor financeiro da cooperativa. A linha de produtos conta com variedades de mel, derivados de cana-de-açúcar, atomatados, cortes de frango, geleias, hortaliças in natura, higienizadas e em conserva, frutas in natura e desidratadas, e feijão cozido a vapor. “O diferencial de sabor e a garantia de que é saudável têm levado a um aumento pela busca de produtos orgânicos”, garante Adilson

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Nutrição alimentar na porção adequada gera resultado positivo na piscicultura

Nem a mais nem a menos

Comida na medida certa aumenta produtividade Manejo adequado das tilápias garante economia e rentabilidade ao produtor

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alimentação é essencial para garantir uma vida saudável. Manter o equilíbrio e a medida certa durante as refeições é o foco de milhares de pessoas, principalmente para as mulheres que lutam contra a balança. Na produção animal não é diferente. Às vezes o menos é mais. Conhecer as técnicas e porções ideais durante o manejo alimentar pode gerar economia e alta produtividade. O produtor Wilson Bloemer de Braço do Norte investe na piscicultura há mais de dez anos e sabe que o manejo alimentar adequado dos peixes é parte fundamental do sucesso do negócio, já que este item representa em torno de 70% dos custos de produção da atividade. O piscicultor iniciou com a plantação de fumo, em seguida migrou para a criação de gado leiteiro, mas foi a piscicultura que alavancou a propriedade. Com cerca de 28 metros quadrados em lâmina d’água, colocando dois peixes por metro quadrado, o cultivo da tilápia conquistou a família Bloemer que decidiu implantar um pesque-pague. Hoje grande parte da produção é agregada ao restaurante que garante a renda da família. “O consumo da tilápia está em alta e vimos que vale a pena investir nessa atividade. Para manter a produção cuido bastante da alimentação dos peixes”, explica. Muitos aspectos devem ser levados em consideração na hora de manter os açudes, podendo-se destacar o hábito alimentar dos peixes, a fase de desenvolvimento, a temperatura da água, a disponibilidade de oxigênio dissolvido e a densidade populacional que se deseja trabalhar. 18

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Arraçoamento é praticado conforme as fases do peixe Segundo o engenheiro agrônomo Rafael Eftting Knabben, a ração disponibilizada sempre deve obedecer alguns padrões conforme o peso do peixe e tamanho. “Nesse caso, a granulometria é fundamental, pois o tamanho da partícula da ração deve ser adequada para que o acesso seja facilitado e os animais se alimentem sem dificuldades”, explica o agrônomo. O arraçoamento deve, na medida do possível, sempre seguir o mesmo horário todos os dias. Na propriedade do piscicultor Wilson Bloemer o manejo alimentar já tem hora certa para acon-

tecer conforme a fase do peixe. “Os alevinos são alimentados de duas a três vezes ao dia. A ração é colocada sobre toda a superfície do açude já que são pequenos e ainda não conseguem procurar o nutriente. À medida que crescem diminui a quantidade de ração e forma de colocar”, comenta o produtor. O engenheiro agrônomo orienta que tilápias entre 0,5 e 6,0g devem consumir ração em pó. A ração deverá ter 1,7mm. Entre 30 e 80g deverá ter 2,0mm. Entre 100 e 175g o tamanho adequado é 4,0mm. Acima de 200g a ração deverá

Para o bom condicionamento do peixe, ração é distribuída em porções diferenciadas

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ser de 2,0mm. “O objetivo deste padrão de constância está no condicionamento do peixe. O ambiente deve ser favorável para otimizar o aproveitamento do alimento fornecido, para isso o oxigênio dissolvido deverá estar acima de 3,0 mg/L. Abaixo deste valor, procurar não alimentar”, recomenda o técnico. “O mais importante é verificar a ração adequada de acordo com a fase de vida do peixe. Em fases iniciais, procura-se alimentos mais proteicos, enquanto nas fases finais do ciclo de produção a opção mais adequada são alimentos mais energéticos”, orienta


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Inicia semeadura do milho Escolha da semente e cuidados com o solo inuenciam no rendimento da safra

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“Colhes o que semeias, reveja a semeadura, cuide do solo e colhes no tempo certo, agradáveis alimentos...” já dizia a reflexão da bibliotecária e pensadora Maciel Fatima Bindes em uma de suas reflexões sobre a vida. O pensamento é válido não só para a vida, mas no processo produtivo de qualquer cultura. A semeadura constitui-se um dos fatores fundamentais para o sucesso da lavoura. Ela deve ser muito bem planejada, pois é durante esta etapa que se define o potencial produtivo dos cultivos. Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, e entre agosto a dezembro passa pelo período de semeadura da primeira

safra. O milho, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apresentou cerca de 79,98 milhões de toneladas de grãos produzidos, em uma área de aproximadamente 15,16 milhões de hectares referentes à safra e safrinha 2014/2015. O período de crescimento e desenvolvimento do grão é afetado pela umidade do solo, temperatura, radiação solar e disponibilidade de nutrientes. A época de plantio é executada em função destes fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região. De acordo com o engenheiro agrônomo doutorando em Ciência e Tecnologia de Sementes Ricardo Miotto

Ternus, a época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Em Santa Catarina é possível realizar dois cultivos de milho por ano (primeira e segunda safra). As épocas de semeadura iniciam-se em agosto estendendo-se até dezembro para a primeira safra e de janeiro a março para a segunda safra. É fundamental conhecer as características do ciclo da cultivar (precoce/tardia) e qual o melhor período para se realizar a semeadura a fim de se obter o máximo rendimento.

Produção em baixa Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtida no Brasil produtividade superior a 16 toneladas/hectare, em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. No entanto, a produtividade média nacional é baixa, cerca de 5.208 kg/ha quando comparada com a média catarinense que foi de 7.741 kg/ha, evidenciando que, os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante aprimorados para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar. Com o aumento das áreas de concorrência com o plantio da soja, o Estado sofreu uma forte redução da área plantada de milho na última safra de aproximadamente 12,9%. Foram observados importantes incrementos na produtividade em relação ao obtido na safra passada, resultado, entre outras razões, do bom pacote tecnológico utilizado pelos produtores, aliado a chuvas bem distribuídas durante o período do cultivo. Assim, percebe-se o forte incremento alcançado na produtividade, no entanto, este fato não será suficiente para compensar a redução ocorrida na área plantada com milho no Estado. A região sul de Santa Catarina, quando comparada às demais regiões do Estado, não tem representatividade na produção de milho, principalmente aquele destinado à produção de grãos. Por outro lado, cultivares destinadas à produção de silagem são amplamente utilizadas e difundidas pelos agricultores locais. Não existem dados específicos, porém, segundo o IBGE, foram cultivados na região sul na safra 2012/2013 pouco mais de 22 mil hectares.

Estado apresentou redução na produtividade da última safra do milho

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Preparando o solo para a semeadura O uso de sementes de qualidade superior é de suma importância para o sucesso, seja do alto rendimento na produção de grão ou de grandes volumes de massa verde, necessários a elaboração da silagem. O engenheiro agrônomo mestrando em Ciência e Tecnologia de Sementes, Jerffeson Cavalcante, orienta que os agricultores modernos, devem adotar como rotina a prática da adubação e calagem embasada em uma análise do solo. “Adoção de técnicas conservacionistas como a adubação verde, uso de adubos orgânicos e rotação de culturas são fundamentais para a manutenção e melhoria da fertilidade, visando à busca de altos tetos produtivos, principalmente na cultura do milho”, destaca.

Já o técnico agrícola Michel Matias afirma que para se iniciar uma safra com o “pé direito”, a semente é um dos principais fatores, sendo que hoje no mercado a maioria é de qualidade. “O principal componente na escolha do híbrido será o fator que irá indicar a variedade na época mais apropriada. O tempo é o maior limitador de produtividade”, reforça. Em Braço do Norte, o produtor Valério Philippi já tem experiência no assunto. Há 25 anos cultiva o milho e destaca que para se ter uma produção de qualidade é necessário cuidar do solo e saber escolher uma boa semente. Criador de gado leiteiro e suínos, Valério diversifica a propriedade com a plantação de cerca de 14 hectares de milho destinado à silagem e grãos. Ao

Produtor de Braço do Norte com o auxílio do filho lança os primeiros grãos de milho no solo

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final da safra, ele tem o resultado de em média 70 toneladas de milho para silagem e cerca de 170 sacas por hectare para grãos. Antes de iniciar a semeadura, o produtor realiza a análise do solo e prepara tudo para o plantio. “Todo ano fazemos a análise e correção do solo conforme o resultado. A escolha da semente também influencia bastante. Planto de cinco a seis variedades de semente de alta tecnologia. A que mais se desenvolver, dou continuidade”, explica o produtor. Ele acredita que apesar da baixa representatividade da cultura na região, ainda vale a pensa investir no setor. “Quando comecei os insumos eram mais baratos. Hoje com a alta dos preços está mais difícil, mas ainda assim vale o investimento”, garante


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Lucro e sustentabilidade

Pecuária aliada à silvicultura é opção para rentabilidade Sistema silvipastoril combina floresta, pastagem e gado em uma mesma área e incrementa a produtividade

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mundo da pecuária está cada vez mais desenvolvido. Nos próximos cinco anos, o Brasil será o maior produtor de carne bovina do mundo, superando os Estados Unidos, que atualmente ocupam o primeiro lugar no ranking segundo previsão de Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). De acordo com a entidade, o mercado nacional é responsável por 17% da produção total da carne bovina no planeta, e o norte-americano 19%. “Hoje, já somos os maiores exportadores do produto, mas podemos superar os EUA até 2020, no que diz respeito à atividade produtiva”, comenta o diretor. Um dos fatores que deve favorecer o país é a utilização da tecnologia pela bovinocultura. “A pecuária está ocupando cada vez menos espaço físico no campo, sem perder a produtividade. Mas nossa base ainda é o pasto, porque sai mais barato. Na produção norte-americana, por exemplo, o bezerro sai da vaca direto para o confinamento”, explica. Com a conquista de novos mercados e a exportação em alta, os produtores buscam novas técnicas a fim de aumentar a rentabilidade aliadas à sustentabilidade da porteira para dentro. Pensando nisso, especialistas desenvolvem uma nova técnica com agregação de valor: o sistema silvipastoril. O sistema agrega intencionalmente florestas, pastagem e criação de animais. O consórcio realizado no sistema possui mais sustentabilidade econômica e ambiental, por diversificar a produção, diminuir os riscos de estiagens e de mercado. O sistema de produção possibilita a obtenção de dois ou mais produtos com menor impacto

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Em Gravatal, propriedade é diversificada com a produção de eucalipto e gado de corte

sobre o ambiente. Além disso, a silvicultura proporciona maior conforto térmico aos animais e, dependendo da pastagem implantada, também estabelece uma condição favorável ao desenvolvimento das plantas forrageiras. “Vamos pensar no gado no verão, quando busca sombra para pastar. Se alimentando mais e melhor gera mais leite e carne, e, no inverno, quando busca se proteger dos ventos gelados encontra abrigo. Assim, o conforto térmico é produzido a todos os animais gerando mais produtividade”, explica o engenheiro florestal André Leandro Richter. Ele destaca que as árvores são aliadas que dão, além do conforto térmico, o alimento, pois pode-se consorciar pastagem com árvores frutíferas, e assim fornecer supletivos ao gado.

“Isso apesar de ser menos comum, é plenamente possível e viável”, enfatiza o engenheiro. Outros aspectos, dizem respeito ao ciclo de nutrientes, onde as folhas e galhos que caem das árvores e depois de decompostos no solo, viram adubo orgânico às pastagens. Segundo o engenheiro agrônomo e coordenador da pecuária da Epagri Regional de Tubarão, Jailso Epping, o retorno do investimento para implantação do sistema se dará nos primeiros anos após a implantação já com a melhoria da produtividade do rebanho sob condição de bem-estar favorecida. “Nos anos subsequentes os produtores podem desfrutar de outros produtos para comercialização, como a madeira, por exemplo”, afirma.


Produtor de Gravatal é referência em silvipastoril A técnica tem sido adotada por produtores da região sul do Estado. Algumas propriedades já possuem o sistema implantado e são reconhecidas como referências. É o caso do produtor Tiago Cargnin, de Gravatal, que implantou o sistema utilizando na propriedade uma lavoura de eucalipto existente e na área iniciou o raleio das plantas de floresta para implantação da pastagem. “Fiz o plantio de eucalipto escalonado de 2006 a 2008. Com o passar do tempo, observei que poderia aproveitar melhor a área. Foi aí que iniciei o raleio para tora e a introdução da grama conforme recomendações técnicas”, relembra o pro-

dutor que hoje possui nesta área a produção de madeira, além de uma pastagem bem consolidada onde maneja seu rebanho de elite da raça Brangus e Braford. “Este é um caso de sucesso que prova que o sistema silvipastoril pode ser implantado em diversas condições”, enaltece o engenheiro agrônomo Jailso Epping. Para Tiago, a vantagem é a diversificação de atividades em uma mesma área e consequentemente o aumento da renda. “A técnica é válida na região onde a maioria dos nossos produtores tem pequenas propriedades. Temos que investir em tecnologia e agregação de valor”, reforça.

Vantagens: - Produção de pastagens de melhor qualidade. - Melhora nos índices reprodutivos, principalmente o aumento de sucesso da inseminação nos dias mais quentes. - Redução do escorrimento superficial da água da chuva. Com isso a redução da erosão do solo e a perda de adubo. - Aumento da umidade do solo, devido à maior infiltração da água da chuva e redução da evaporação causada pelo vento, já que as linhas de árvores funcionam como um quebra-vento. - Aumenta o tempo de permanência dos animais nas áreas de pastagens e, com isso, maior consumo de forragem e maior excreção de bosta e urina dentro dos piquetes aumentando assim a fertilidade do solo

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Correto e rentável

Bem-estar favorece produtividade na suinocultura Manejo adequado em granjas estimula saúde e qualidade na produção animal

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iver bem é um dos objetivos essenciais de qualquer ser. Mas não é só o ser humano que busca qualidade de vida. Nos países desenvolvidos, e também no Brasil, cada vez mais, a sociedade exige dos criadores medidas que aliviem o estresse e o sofrimento dos animais. Com isso, o tema bem-estar animal tem recebido grande atenção nos meios técnico, científico e acadêmico. Atualmente o bem-estar, as questões ambientais e a segurança alimentar,

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são considerados os três maiores desafios confrontados pela agricultura nos próximos anos. O bem-estar se transformou em questão estratégica na produção animal. As exigências e pressões do consumidor sobre o setor produtivo crescem principalmente em países da Europa e em alguns dos Estados norte-americanos. Inclusive com legislações específicas em vigor, determinando novos padrões aos sistemas produtivos seja de carne ou ovos. A utilização de bem-estar principalmente na suinocultura cresce rapidamente em importância no mercado internacional. Assim, o bem-estar animal pode ser con-

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siderado uma necessidade para que um sistema seja defensável eticamente e aceitável socialmente. Segundo o médico veterinário Alex Heidemann Freitas, o objetivo de seguir esta linha atualmente é de garantir que o animal passe a maior parte de seu tempo de vida sendo ele mesmo, podendo realizar suas próprias vontades, e livre de enfermidades. Já para o médico veterinário José Luiz Moraes da Silva, o bem-estar animal tem como base três conceitos principais, que permeiam todos os estudos e o convívio com os animais: senti mentos/comportamento (pois os animais são seres sencientes, ou seja, possuem sentimentos e, portanto sofrimento), funções biológicas (as necessidades básicas e fisiológicas dos animais como alimentação e saúde) e por último, mas não menos importante, as características de sua vida natural, ou seja, a liberdade para expressar seus comportamentos naturais. “Quando se trata de animais, ciência e ética devem sempre andar lado a lado. Portanto, a ciência do bem-estar animal pode ser uma grande aliada no aprimoramento de nossa relação com animais. Os benefícios no final das contas se voltarão para o próprio animal homem”, explica e veterinário.


Como funciona: A relação entre homem e animais no contexto do bem-estar é analisada considerando diferentes situações, tendo como norteamento o conceito das cinco liberdades: Todos os animais devem: 1. Ser livres de medo e estresse. 2. Ser livres de fome e sede. 3. Ser livres de desconforto. 4. Ser livres de dor e doenças. 5. Ter liberdade para expressar seu comportamento ambiental.

Carne suína sem estresse Um manejo pré-abate estressante pode influenciar negativamente na qualidade da carne, devido às alterações fisiológicas que os suínos podem sofrer e manifestar após o abate. O fato expõe os suínos a vários agentes estressantes entre os quais: citam-se a mudança de ambiente, jejum, transporte, a mistura de lotes e os métodos de manejo no frigorífico. Em situações de longos períodos de estresse, o suíno pode gastar a reserva de energia no músculo (glicogênio muscular) que tem antes do abate, o que leva à menor produção de ácido lático na carne,

favorecendo o desenvolvimento bacteriano, e dando um aspecto desagradável à carne suína, que se apresenta escura, dura e seca. Já em suínos submetidos ao estresse de curta duração logo antes do abate, os efeitos são menores, pois a condução ao lugar de espera de modo mais agradável acelera a maioria das reações metabólicas do animal, resultando em aumento da temperatura corporal e acúmulo de acido lático, o que leva à rápida queda do pH da carne, desnaturação das proteínas e o aparecimento de carne com característica pálida, mole e exsudativa (que não retém água).

Instalações individuais influenciam a saúde No sistema intensivo de suínos, os animais passam toda sua vida em instalações fechadas com espaço reduzido podendo gerar diversas situações de estresse. Esse sistema valoriza pouco o bem-estar animal e isso pode ser melhorado através do “enriquecimento ambiental” que consiste em introduzir melhorias no sistema de confinamento tornando o ambiente mais adequado aos animais. Segundo o médico veterinário da Fatec José Luiz Moraes da Silva, o uso de baias coletivas para porcas em gestação, colocação de objetos como correntes e “brinquedos” sobre as baias para quebrar a monotonia do ambiente, manejo diário com os animais de maneira que o tratador se relacione com os animais, sem gritos, e a densidade são algumas medidas utilizadas para melhorar o ambiente em que o animal vive. “Alguns manejos como o corte dos dentes, corte da cauda, a castração e o manejo pré-abate também estão sendo discutidos”, explica

Sistema convencional pratica o confinamento individual dos animais causando estresse e outros problemas

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Produção nacional de vinhos ainda é pouco conhecida pelos degustadores

Enoturismo

Turismo regado a vinho incentiva produtores Considerado a bebida dos deuses, vinho agrega cultura, turismo e resgate histórico

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ara os apreciadores, nada se compara ao prazer de degustar uma taça de um bom vinho. Seja ao saborear uma boa refeição ou durante um bate-papo entre amigos, um vinho de qualidade sempre é uma boa pedida. O nobre fermentado teve papel importante na evolução das tradições, valores intelectuais, morais e espirituais do homem. O vinho é uma bebida muito antiga, consumida por diversos povos do mundo, resultante da fermentação alcoólica da uva. Ele simboliza a fertilidade, o conhecimento, o prazer, a iniciação, bem como o sagrado e o amor divino. Além disso, devido à sua coloração, o vinho está relacionado com o sangue, e representa a poção da vida, da imortalidade considerado, acima de tudo, a bebida sagrada dos deuses. O cultivo da vinha era uma ativida34

de sagrada. Muitos dos vinhateiros eram os próprios sacerdotes, que determinavam todos os anos, o dia sagrado da colheita e o dia em que se poderia beber o vinho novo. Juramentos feitos com uma taça na mão tinham caráter divino. Bebia-se vinho à saúde dos amigos ou ao êxito nos combates. Ao sorver a bebida sagrada com um inimigo, ele se tornava inatacável. Na China antiga, o vinho era usado como remédio, assim como em rituais de sacrifício durante as dinastias Chang e Chou, cerca de 1100 anos a.C. Os chineses conheciam o fermentado da uva antes do saquê. No taoísmo, o elixir da imortalidade levava, entre outras coisas, ouro e vinho. Escritos ancestrais da Índia, de 2000 a.C., mencionam que o vinho era louvado como deus e remédio. Atualmente, França, Itália e Espanha

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são os maiores produtores mundiais de vinho, mas países como Estados Unidos, Argentina, Austrália, Alemanha, África do Sul, Chile e Portugal têm aumentado consideravelmente a exportação de sua produção. No Brasil, as primeiras vinhas vieram entre os anos de 1532 e 1551, e assim como os romanos, os bandeirantes também utilizaram seu plantio como forma de marcar as áreas então desbravadas. Contudo, foi apenas após Dom Pedro I autorizar o fluxo migratório para o extremo sul do país que a vinicultura passou a se desenvolver em território nacional. Hoje a produção nacional tem conquistado inclusive o paladar estrangeiro, já que alguns espumantes brasileiros têm sido destaques em premiações internacionais. Apesar disso, o consumo da bebida no país ainda é baixo.


Rota de vinhos do Sul do Estado atrai produtores e turistas Santa Catarina é diversificada em regiões vitinícolas, onde a imensa maioria localiza-se em zonas rurais. Reconhecidamente, três grandes polos configuram as referências na produção: Vale do Rio Peixe, Planalto Catarinense e o Sul. O Estado tem produção anual de 35 milhões de quilos de uva e 24 milhões de litros de vinho e tem conquistado espaço no mercado. Esse segmento está entre os setores estratificados do turismo que mais crescem no mundo, atrás apenas do turismo de eventos e o de negócios. O secretário do Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Filipe Mello, afirma que investir no desenvolvimento dessa atividade é estratégico para a economia catarinense. “Existe uma parceria entre o Estado e Embratur para que o vinho produzido em Santa Catarina passe a compor o cardápio de eventos promovidos por esse órgão federal, a exemplo do que já ocorre com as vinícolas do Rio Grande do Sul”, destaca. Com o objetivo de disseminar a produção, a Secretaria aposta no enoturismo que é um segmento turístico que se baseia na viagem motivada pela apreciação dos vinhos e das tradições e cultura das localidades que produzem essa bebida. Para evidenciar o setor foi criado o Grupo de Trabalho (GT) de Enoturismo que tem como finalidade reunir esforços e conhecimentos para a elaboração de políticas públicas que possam dar suporte ao desenvolvimento desse setor, com a estruturação das rotas do vinho e fortalecimento de mercados, qualificações e certificações. O grupo realizou sua primeira reunião em agosto e acaba de aprovar seu regimento interno. “A partir de agora serão realizadas reuniões mensais ou bimestrais, para definição do plano de metas e ações prioritárias”, explica o consultor técnico da SOL Márcio José Pereira de Souza. “O Estado se fortalece cada vez mais como um dos melhores produtores de vinhos do Brasil, com uma qualidade já comprovada no mercado nacional e internacional. A criação do GT mostra que temos um produto turístico capaz de fazer com que muitas pessoas visitem as regiões produtoras”, afirma o secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Filipe Mello. O município de Urussanga sediou a primeira reunião do recém-inaugurado Grupo de Trabalho (GT) de Enoturismo e se destaca pela união entre a tradição vitinícola e a uva Goethe que permitiu a produção de vinhos típicos com identidade própria. O vinho branco já concedeu à região a denominação de a “Capital do Vinho”. A partir de 2005, a trajetória secular dos vinhos Goethe entrou em uma nova fase com a fundação da Associação dos Produtores de Uva e Vinho Goethe (ProGoethe).

Bebida proveniente da uva Goethe entra na rota do Enoturismo de SC

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Vinho Goethe

Vinícola Mazon transforma antiga propriedade em local turístico

Vale da Uva Goethe: Do Turismo Rural para o Enoturismo Vitivinicultores da região do Vale da Uva Goethe tem apostado na produção de uvas americanas como a bordô, Niágara e Isabel e principalmente a uva Goethe que teve boa adaptação ao clima regional. Estima-se que 15% da produção de vinhos no Brasil concentra-se em Santa Catarina que hoje conta com mais de 90 indústrias regularmente registradas. A Vinícola e Pousada Mazon é uma das pioneiras da região a investir na uva Goethe. Fundada na década de 1970 pelos irmãos Genésio e Jayme Mazon, a Vinícola surgiu para seguir a tradição da linha materna da família, os Debiasi, pre36

enchendo uma lacuna no ramo da vitivinicultura de Urussanga. Nesta época, a fumicultura vinha se sobressaindo no meio rural e a estratégia dos irmãos, um engenheiro agrônomo e outro civil, era estimular a implantação da fruticultura na região, ideal cultivo para pequenas e médias propriedades. Idealizada e implantada pelo casal Patrícia Mazon e Antônio Carlos Freitas, a Pousada da Vinícola iniciou suas atividades em 1992. “Começamos com três apartamentos e estrutura de alimentação na casa sede, e aos poucos adaptamos todas as instalações do sítio da família”, conta Patrícia.

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Entre as variedades introduzidas, merece destaque a Goethe que, com o decorrer dos tempos, mostrou possuir uma boa adaptação à região e também características próprias que diferenciam o seu vinho das demais cepas aqui cultivadas. Segundo o enólogo Stevan Grützmann Arcari, o vinho Goethe é bastante aromático, com notas frutadas, florais e de mel. Na boca apresenta bom corpo e retrogosto refrescante. “Temos na nossa região um vinho típico, cujas características conquistaram seu espaço na história, tornando-o um símbolo engarrafado, aroma intenso e sabor refrescante, um motivo de orgulho para a região”, considera o especialista. O empresário Mayco Luiz Niehues de Braço do Norte é um apreciador de vinhos e afirma que o vinho Goethe é uma boa pedida para o verão. “Gosto muito de vinho tinto, mas o branco Goethe é leve, com aroma frutado perfeito para degustar no verão”, afirma o degustador

Vinho produzido na região sul tem sabor diferenciado e marcante


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E que venham as uvas...

A poda que salva a parreira Técnica é utilizada para manter a qualidade e diminuir os riscos de doenças na produção

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o passar pelos parreirais durante o inverno é comum se deparar com a imagem típica dos galhos secos e folhas ao chão. Logo depois da colheita, as plantas passam por um período de dormência, também conhecido como repouso fisiológico, onde sem as folhas e os frutos, reduz a níveis bem baixos sua atividade metabólica. É um tempo silencioso para quem olha acima da terra, mas muito importante abaixo da terra. Quando o inverno já vai adiantado, é o momento de retirar os galhos secos e conduzir a planta para o que se deseja que seja a próxima safra. É nesse período que a uva para de crescer e aí

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se dá o desenvolvimento do estágio de maturação das bagas, seja na conversão de água em açúcar como na degradação dos ácidos tartárico e málico. Na fase vegetativa, o viticultor precisa estar atento, pois é justamente nela que serão garantidas as qualidades enológicas da uva. Nesse sentido, o manejo ideal a ser adotado é o da poda, o qual ajustará o microclima das videiras, propiciando maior ventilação, incidência de luz e controle da umidade do ar na planta. “A poda objetiva proporcionar à planta uma forma determinada que facilite a execução dos tratos culturais, melhore a qualidade da uva e harmonize a produção e o vigor, como forma de

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não expor as videiras a excessos na produção, uma vez que isso pode levar a uma baixa frutificação no ciclo vegetativo do ano seguinte”, explica o engenheiro agrônomo e extensionista da Epagri de Braço do Norte, Bruno Marques Felippe. Segundo o técnico, a poda é um manejo essencial em videiras e consiste no corte dos ramos maduros que foram formados pela planta no ciclo vegetativo do ano. O ferimento causado pelo corte no ramo é um momento de estresse para a planta, onde reconhece e “entende” isto como um estímulo para abrir suas gemas e emitir uma nova brotação e consequentemente formar o produto de interesse: a uva.


Método garante qualidade dos frutos Os especialistas ressaltam que a prática da poda é extremamente importante para a renovação da safra e o equilíbrio da parte vegetativa com a parte produtiva. Sem ela, a planta pode crescer muito, produzindo só na ponta, o que é ruim para o produtor porque a vinha começa a acumular muito material e madeira velha, o que segundo os especialistas, gera muita energia da planta, fazendo com que ela perca material produtivo. Além disso, a poda mantém a qualidade dos frutos, pois elimina o excesso e permite que os frutos que sobraram na planta recebam boa quantidade de nutrientes, já que estão com baixa competição. A poda incor-

reta pode, inclusive, gerar problemas como doenças por favorecer o surgimento de fungos. A tomada de decisão para escolha do momento de realizar a poda exige que o viticultor faça um planejamento levando em conta alguns detalhes importantes. Entre eles está a possibilidade de ocorrência de geadas tardias (setembro/outubro), disponibilidade de mão de obra na propriedade, tamanho do parreiral e se a variedade é destinada para processamento ou consumo in natura. Todos estes fatores devem ser levados em conta na escolha por podar mais cedo (mês de julho) ou um pouco mais tarde (mês de agosto).

Após a poda, videiras apontam os primeiros sinais de produção para a próxima safra

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Produção de uva é opção de renda aos produtores da região Sul do Estado A produção de uva se destaca na região sul do Estado. Segundo dados levantados pelo Programa Fruticultura da Epagri, através do Cepa (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri), na safra de 2012/13, a uva correspondeu a 3ª fruta mais plantada em Santa Catarina, com quase 3.500 hectares, perdendo apenas para a banana e a maçã. Na região, o cultivo da uva tem uma forte ligação cultural, uma vez que os plantios iniciaram com a chegada dos imigrantes europeus que trouxeram junto da bagagem, os primeiros ramos de videiras, concentrando-se nos municípios de Pedras Grandes e Urussanga. Entretanto, também se encontra iniciativas e produtores tradicionais praticamente em todos os municípios do Vale de Braço do Norte. De acordo com o engenheiro agrônomo Bruno Marques Felippe, as variedades mais cultivadas e recomendadas para a região são as americanas

Niágaras, Bordô e Isabel, em razão da rusticidade apresentada. “Elas são menos suscetíveis a doenças, bem adaptadas ao clima regional e apresentam menor custo de produção comparadas às videiras de origem europeias”, explica o agrônomo. Na propriedade do fruticultor Edenilson Baschirotto, de Braço do Norte, as parreiras já estão prontas para a poda. Há mais de 20 anos no setor, Edenilson encontrou na plantação da uva uma alternativa de renda para a família. Além da uva, ele cultiva variedades de frutas como laranja, ameixa, maracujá, entre outras. A família iniciou com o cultivo do fumo e em seguida migrou para a fruticultura. “Gosto do que faço. Eu e a minha família produzimos frutas e vendemos direto para os mercados”, destaca. Em um espaço de cerca de quatro hectares, o produtor cultiva uva Niágara que é destinada ao mercado, e uva bordô que é a matéria-prima

para a produção do vinho artesanal feito na propriedade. “Transformei a estufa antiga de fumo em um espaço para a produção de vinho. Era um sonho e pra mim é maravilhoso ver o pé carregado na época da colheita e depois degustar o resultado do nosso trabalho”, enfatiza o produtor orgulhoso pelos resultados obtidos. Edenilson está atento às fases da fruta e já inicia a poda para manter a qualidade da parreira. “De todas as frutas, a uva exige um cuidado maior por ser mais sensível, mas se adaptou bem à nossa região”, considera. A videira é uma planta muito exigente nos seus tratos culturais. Para obter uma uva com qualidade é necessário manter o manejo adequado. O produtor deve se atentar para uma correta e equilibrada adubação, pautada sempre pela análise de solo, e realizar o procedimento da poda de produção corretamente, buscando equilibrar o número de ramos por planta, retirando excessos.

Recomendação para poda de produção: O engenheiro agrônomo Bruno Marques Felippe, recomenda que os produtores de uvas americanas (Niágaras branca e rosada, bordô, Isabel) utilizem a técnica da poda mista para aplicar no cultivo das parreiras. A poda mista “vara” (em torno de quatro a seis gemas) e “esporão” (duas gemas), consiste em aproveitar todo o potencial produtivo da “vara”, uma vez que as gemas mais produtivas, localizam-se entre a 4ª a 6ª gema. O recomendado é reservar para essa “vara” um “esporão” com duas gemas, que tem por finalidade formar os dois brotos que servirão para a poda mista do próximo ciclo vegetativo, ou seja, na poda seguinte eliminar a “vara” que já produziu e tornar a fazê-la no ramo apical do “esporão”. Lembrando que deverá ficar novamente um novo “esporão” de duas gemas

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Técnica da poda garante produção de qualidade


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Dica da Chef: Guarneça com batatas cozidas ou arroz branco, acompanhado de farofa. Acompanhe a receita: Caldeirada de tilápia Ingredientes:

Receita

Além das tradicionais mesas de famílias, tilápia também conquistou os menus da alta gastronomia

Tilápia para todos os paladares

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er o hábito de consumir a carne de peixe durante as refeições tem sido uma das alternativas de milhares de brasileiros que buscam o bem-estar e saúde. Assim, a tilápia é uma das espécies que ganha destaque na lista de opções dos consumidores, principalmente na região sul do Estado, onde a produção da espécie conquista novos mercados. De carne branca, saudável, saborosa e de fácil preparo, é uma espécie versátil e combina com diversos acompanhamentos. Além da facilidade de preparo, a tilápia também traz benefícios à saúde e ganha o paladar de várias classes. De acordo com os especialistas, ela aumenta o metabolismo, acelera a reparação e crescimento em todo o corpo, constrói ossos fortes, reduz o risco de doenças crônicas, previne vários tipos de câncer, reduz os sinais de envelhecimento, e fortalece o sistema imunológico, além dos benefícios nutricionais. A espécie é um alimento seguro e saudável, de alto valor proteico, que contém fósforo e baixo teor de sódio. Também é rica em selênio e vitamina B12, uma vitamina

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Setembro e Outubro de 2015

essencial para o bom funcionamento das células. O peixe já faz parte da alta gastronomia e vai além do tradicional filé frito. A chef de cozinha Gizelle Volpato afirma que algumas pessoas imaginam que peixes mais abundantes ou mais baratos não permitem bons pratos. “É um grande engano. A tilápia é uma espécie de custo acessível e que pode ficar maravilhosa quando bem preparada”, observa a profissional e ainda completa que “não é preciso nenhuma espécie exótica vinda do Mediterrâneo para um prato sofisticado. Os peixes conhecidos dos brasileiros dão muito bem conta do recado”. Para incrementar o cardápio, a chef propõe um desafio: “E se em vez de uma tradicional moqueca você optasse por uma caldeirada de peixes de água doce? A caldeirada é um prato simples, mas rico em sabor e de padrão internacional. Aflore ainda mais todos os sabores flambando em cachaça a mistura em sua fase final de preparo. O ganho no aroma faz toda a diferença. Se fizer um caldo mais aveludado, com molho Roux (à base de manteiga e trigo) fica ainda melhor”.

1 k tilápia em posta ½ pimentão vermelho ½ pimentão verde 1 tomate ½ xícara (chá) de azeitonas pretas ½ cebola em rodelas 3 batatas em rodelas (inglesa ou salsa) 3 tabletes de caldo de peixe dissolvidos em ½ litro de água ½ xícara (chá) de molho de tomate concentrado Alho a gosto cortado em lâminas Tempero verde a gosto Modo de preparo: Doure o alho em azeite de oliva em uma panela de preferência de barro. Corte as cebolas em rodelas, e os tomates, os pimentões em cubos grandes e coloque-os na panela junto ao alho e um pouco do caldo de peixe. Acrescente o louro, um ramo de salsa e o molho de tomate. Coloque uma pitada de sal. Por cima dispõem-se as postas de tilápia, e as batatas cortadas em rodelas. Repita o processo, finalizando com as batatas, as azeitonas pretas e o restante do caldo de peixe. As camadas de peixe e de batatas tempere com um pouco de sal e de pimenta. Leve a caldeirada a cozer em fogo brando, por cerca de 20 minutos. Quando estiver pronta salpique tempero verde e sirva com arroz branco ou pão francês em fatias. Bom Apetite!


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