Maria Alice Amorim
MARIA ALICE AMORIM
Editora Folha de Pernambuco Recife, 2018
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Copyright © Editora Folha de Pernambuco Ltda. 2011
Coordenação editorial
Maria Alice Amorim Gilmar Rodrigues Capa e tipografia
Rômolo Pesquisa iconográfica
MARACATU
Maria Alice Amorim Gilmar Rodrigues Rafael Efrem
Ascenso Ferreira
Zabumbas de bombos,
Fotos
Acervo Fundação Joaquim Nabuco Katarina Real
estouros de bombas
Acervo Folha de Pernambuco Arthur Mota Cristiana Dias Ivve Rodrigues Marcelo Lacerda Sérgio Bernardo
cantigas de banzo,
batuques de ingonos, rangir de ganzás... – Loanda, Loanda, aonde estás? Loanda, Loanda, aonde estás? As luas crescentes de espelhos luzentes,
Maria Alice Amorim Stela Maris Alves Oliveira
colares e pentes, queixares e dentes
Tratamento de imagens
de maracajás...
Gilmar Rodrigues Rafael Efrem
– Loanda, Loanda, aonde estás? Loanda, Loanda, aonde estás? A balsa no rio cai no corrupio,
A524m Amorim, Maria Alice. Maracatu: baque virado e baque solto / Maria Alice Amorim. – Recife : Folha de Pernambuco, 2011. 200p. : il.
faz passo macio, mas toma desvio que nunca sonhou...
Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-61639-01-3
– Loanda, Loanda, aonde estou?
1. Maracatu. 2. Danças Folclóricas. 3. Festas Folclóricas. I. Título.
Loanda, Loanda, aonde estou?
CDD 793.31
Todos os direitos dessa edição reservados à Editora Folha de Pernambuco Ltda. Av. Marquês de Olinda, 105 Bairro do Recife 50030-000 Recife-PE
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BAQUE SOLTO O samba de maracatu · 11 Oiteiro poético · 28 O rojão não é maneiro · 40 Breve nota sobre o maracatu de baque solto · 50 Onde encontrar o maracatu de baque solto · 53 Glossário · 54 Bibliografia · 55
Mestres sambadores · 57 Nazaré é berço dos maracatus · 73 As origens · 76 O que apreciar · 78 Cambinda Brasileira resiste ao tempo · 81
Caboclos de lança · 83 Caboclos de pena · 105 Maracatus brilham no carnaval · 114 Aliança realiza em 1994 o segundo encontro de mestres de maracatu · 116 Burras · 119 Catitas · 127 Rainhas e reis · 133 Símbolos e estandartes · 141 Calungas · 149 O folclore no carnaval do Recife por Katarina Real · 155 Livro é referência sobre o carnaval recifense · 156 BAQUE VIRADO O baque virado dos tambores da nação · 168 Carnaval do Recife por Leonardo Dantas Silva · 170 Estrela Brilhante de Igarassu · 173 Leão Coroado · 177 Sob o olhar de Katarina Real · 185 Referências · 192
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O samba de maracatu
O maracatu rural, ou de baque solto, organiza os preparativos de carnaval durante os seis meses que o antecedem, e a reunião máxima desse período é a sambada, embate poético entre dois mestres de grupos diferentes. Na realidade, o objetivo da reunião é o ensaio dos brincantes, porém termina sendo pretexto para um valor mais alto se mostrar: um verdadeiro torneio de repentistas, à semelhança da cantoria de viola. Quando chega setembro, com o estio e a colheita da cana-deaçúcar vem a inquietação da cabocaria. O rebuliço mais uma vez se instala, e já se ouve ao longe não apenas o assobio e o cantarolar dos aficcionados, nem somente o chocalhar da maquinada, mas a voz dos mestres que protagonizam os embates no próprio terreiro ou, quando convidados, no dos outros. Começa a temporada de ensaios, que, conforme as condições do grupo, pode variar de um simples ensaio de sede ou de barraca a uma sambada pé-de-parede. Os ensaios de mestre já são uma prática antiga ao longo do período que antecede o carnaval. Assim como os bordadores precisam preparar as arrumações (fantasia completa da cabocaria), assim como os caboclos devem sair pelas ruas e estradas com o surrão às costas em preparo físico (também por obrigação religiosa), o brinquedo precisa de momentos de reunião em torno do mestre, do terno e dos músicos para fazer o aquecimento em vista da proximidade de mais um carnaval.
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Acontece, porém, que essas reuniões adquirem um sabor especialíssimo, transformando-se num momento indispensável à poesia dos mestres de maracatu. É lá, nos embates noturnos, que a verve do poeta faz a platéia delirar. Diferentemente das apresentações de carnaval, em que, apesar de o público aguardar ansiosamente os bons mestres e vibrar com tiradas poéticas inteligentes, o tempo é limitado e o fato mesmo de subir no palanque da federação cria uma certa obrigação de tecer loas às autoridades presentes. “São duas marchas, dois sambas, adeus e até logo”, conforme definição precisa do dono do Maracatu Leão de Ouro de Nazaré da Mata, Manoel Coelho de Souza. É, portanto, durante os seis meses antecedentes do tríduo momesco que a poesia corre solta nos ensaios e a fama dos grandes se consolida. Para chegar à poética dos mestres repentistas, vejamos, antes, como é o ambiente em que ocorrem as pelejas. Quando se trata de ensaio na sede do maracatu, de antemão apenas o mestre e o contramestre cantam, tocando o terno (percussão) e os músicos (sopro) do grupo nos intervalos entre uma estrofe e outra. Os folgazões comparecem trajados livremente, apenas um bastão de madeira marchetada à mão fazendo as vezes da lança. As baianas também chegam com roupas leves, dispostas a dançar e atuar no coro. Os demais brincantes, da mesma forma se engajam no ensaio, e vai uma menção especial para o Mateus, que não está fantasiado, mas se apresenta com as palhaçadas típicas do personagem. Se na platéia há algum mestre de outro maracatu, por especial deferência ele é convidado a cantar durante um certo período. Vale ressaltar que nos ensaios de sede, em que não existe convidado previamente estabelecido, o clima não é de desafio. Cada mestre canta, separadamente, versos improvisados ou mesmo balaios. Num ensaio deste porte, a audiência é modesta, restringindo-se à vizinhança e a um ou outro visitante. A diretoria decide se coloca bebidas à venda, para angariar fundos, ou se se associa a algum bar da vizinhança em troca de apoio financeiro para o carnaval. Gambiarras e enfeites coloridos apontam o local da festa. Um megafone ou carro de som amplifica a voz poética. Na sambada, que normalmente acontece em rua mais espaçosa, num cruzamento ou bar próximo à sede e freqüentado por folgazões e diretores, a empreitada é de maior porte. Cada qual com a sua orquestra, dois mestres – e aí dificilmente entram dois desconhecidos do público ou tidos como poetas fracos – seguram a peleja até o dia amanhecer, num autêntico e concorrido pé-de-parede, revelando a sintonia com o verso e a platéia, dessa vez bem mais variada – folgazões, outros brincantes, diretores, vizinhança, aficcionados, comunidade em geral.
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Quando acontece uma sambada, o clima é de muita satisfação e brincadeira. Todo mundo disposto, dançando. Os caboclos fazem acrobacias, saltam, se agacham, muitos deles dois a dois como se estivessem em luta corporal. Um bom número de participantes de outros maracatus se engaja no samba e a preparação mobiliza a comunidade, os iniciados, os políticos (muitas vezes, os patrocinadores do evento, especialmente em ano eleitoral) e interessados de toda ordem que, dependendo do fôlego, acompanham até o final.
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Por volta das nove da noite, o apito do mestre começa a chamar os versos, mas a poesia só começa mesmo a aparecer na madrugada, após o intervalo da cachaça. As primeiras estrofes se destinam aos cumprimentos e aos pedidos de bebida. Depois de invocadas as musas, vêm os melhores sambas, principalmente a modalidade chamada de samba curto (em sextilhas), que, segundo os experientes folgazões, é o mais difícil e o que melhor testa a capacidade do improvisador.
Mestre João Limoeiro
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Saber cantar qualquer assunto é um dos requisitos para que o poeta sobressaia. Ciência, conhecimento geral, futebol, atualidades, viagens, tudo é válido para enriquecer o verso. Claro, sem esquecer que a experiência decanta a poesia. Como sambou na federação de Nazaré da Mata, no carnaval de 2000, João Antônio da Silva, o famoso João Limoeiro, mestre há 26 anos: “Quanto mais antigo eu fico/mais a toada é bonita”. A voz forte e ritmada, que Limoeiro possui, também são itens indispensáveis ao sucesso do tirador de sambas (um aspecto curioso é a nomenclatura utilizada no ambiente do maracatu: samba, sambada, sambador, sendo este um dos tantos aspectos a serem investigados).
João Paulo - Chamei viola você não tá entendendo no martelo surpreendendo João Paulo tá na carreira chamei pra gemedeira e Galdino tá gemendo Zé Galdino - Já fui um ídolo da torcida do Bangu mas vi um maracatu guardei a calça na mala bati de mão a bengala
A toada, mencionada nos versos acima, significa a melodia que acompanha o gênero poético e traz variações de mestre para mestre. Já nos anos de1949 a 52, o pesquisador César Guerra Peixe, em Maracatus do Recife, afirma que o maracatu de orquestra não tem toada, como os maracatus nação, e, sim, loa. Podemos chamar de mestre de toada àquele do maracatu rural, conforme mesmo a denominação fornecida por Câmara Cascudo, e inclusive por aquela utilizada no ambiente da cantoria. Mas, o mestre também canta loas às autoridades e assistentes, normalmente com versos cheios de clichês. A verdade é que, no maracatu, assim como na viola, a toada é importante para identificar e qualificar o poeta, e igualmente os gêneros poéticos.
João Paulo - Chamei você pro coqueiro da Bahia mas você nada queria porque não acompanhava quando eu ia tu voltava quando tu voltava eu ia
Maria Alice Amorim
É evidente na cantoria dos mestres de maracatu o entrelaçamento com a cantoria de viola. A mesma tradição oral, o mesmo espírito de embate, as formas fixas, a rima e o metro. Até mesmo a nomenclatura recorrente: pé-de-parede, balaio, viola, martelo, gemedeira, gabinete, coqueiro da Bahia, “o que é que me falta fazer mais”, conforme as estrofes adiante transcritas. Não há como negar a presença da tradição ibérica medieval na oralidade poética que se fixou no Nordeste e, indo mais longe, do “canto amebeu dos pastores gregos, duelo de improvisação, canto alternado”, segundo registros de Câmara Cascudo. É até comum a participação dos mestres de maracatu em outras brincadeiras que tenham a presença da poesia oral, como a ciranda, o coco de embolada, o coco-canção, as tribos de índio da Zona da Mata Norte (a exemplo do Índio Brasileiro, de Buenos Aires PE), sem esquecer, claro, a viola.
só pra viver dando em tu
Memorável a sambada, em Nazaré da Mata - PE, no final de 1997, entre os mestres João Paulo, de Nazaré, e Zé Galdino, radicado em Buenos Aires (natural de Ferreiros), este último também mestre de ciranda e violeiro, do que se valeu o primeiro na temática dos versos com o fim de derrubá-lo:
Mestre João Paulo
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Zé Galdino - Eu no São Paulo
João Paulo - E na viola,
fui o rei do Morumbi
Galdino, eu sou seu pai
dei muito no Guarani
na ciranda eu vou atrás
desclassifiquei Palmeiras
quando tu canta, tu cola
pendurei as chuteiras
sei de tudo na viola
pra dar em você aqui
e o que falta eu fazer mais?
João Paulo - É na viola eita que poeta frouxo vou lhe meter o cacete se pratico gabinete aí é que leva acocho Zé Galdino - Eu no flamengo joguei com Zico e Bebeto comecei samba correto deixei o campo e a bola agarrei minha viola
Maria Alice Amorim
e comecei sambar completo
Mestre José Galdino
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O mestre João Paulo prova, com o jogo de palavras em torno de gêneros poéticos da cantoria, que também entende do ofício. A modalidade é a sextilha, uma das mais usadas por cantadores e cordelistas. Até mesmo nos marcos, espécie de fortaleza criada pelo poeta, considerada uma das maravilhas da literatura de cordel. Observa-se que não há obrigação de pegar na deixa, como fazem os violeiros, mas a rima utilizada não é a simples (apenas nos versos pares) muito comum na viola e no folheto. Assemelha-se à utilizada no poema épico gauchesco “El Martín Fierro” – forte exemplo da tradição oral ibérica nos pampas argentinos – em que a rima varia entre ABBCCB e ABBCBC, e o primeiro verso é solto. Nas estrofes citadas, o primeiro verso tem quatro sílabas e também é solto. Como os versos de maracatu são canto responsivo, nesse gênero, samba curto, o coro repete as duas primeiras linhas. Há mestres que constroem o samba curto, ou samba miudinho, em quadras; nestes casos, a repetição se dá apenas após a primeira linha.
que eu quero deixar tu roxo
Mestre Saúba
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Guerra Peixe, em pesquisa mencionada, anotava que os maracatus-deorquestra, como são também conhecidos os maracatus de baque solto, “adotam versos de variado assunto, quadras tradicionais, abecês dos violeiros e tantos poemas que podem não se referir ao divertimento”. Outro depoimento não menos desprezível é o do contabilista do Banco do Brasil, falecido num domingo de carnaval, o nazareno Berlando Raposo (1916 - 2000), que, ao rememorar as vivências de infância e juventude, lembra que “os maracatus ‘camponeses’, assim como os cantadores nordestinos, herdaram as cantorias portuguesas que, no maracatu rural, chamam de ‘martelo’. Como na poesia, o ‘martelo’ tem ritmo, cadência e melodias próprias que, nos desafios, terão que ser respondidos no mesmo tom e no mesmo gênero do desafiante.”
Eu tava lá em Cachoeirinha na beira da linha quando o trem passou eu vi um carro de ‘martelo’ que veio do inferno que o diabo mandou
Sérgio Veloso, o Siba do grupo musical Mestre Ambrósio, cita uma variante dessa estrofe, para ilustrar uma das formas antigas da poesia de maracatu, o gênero conhecido por fincão, composto de versos mistos com duas e cinco sílabas em oito linhas:
Raposo demonstra ainda mais conhecimento acerca do assunto ao citar mestres famosos de maracatus de Nazaré: Zé Bagadu (“um homem baixo de bigodes louros”), Zé Bolô e Zé Biíno. E vai mais adiante, citando exemplos “dessa poesia singela e tosca”. Uma das estrofes relembradas – quadrão, gênero recorrente nas cantorias de viola – é bem conhecida entre os antigos, na qual um certo mestre faz alusão a um outro que gozava de suposta proteção do diabo:
Eu tava na beira da linha comendo farinha quando o trem passou eu vi um balaio de martelo que veio do inferno
Maria Alice Amorim
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que o diabo mandou
Siba Veloso e Mané Roque
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Outras formas praticadas antigamente eram o martelo (décima), já mencionado por Berlando, e a marcha, esta composta por quadras em geral não improvisadas, cujo coro responde ao fim de cada dístico, e da qual Guerra Peixe questiona a existência, quando se reporta a “cantos de marcha” citados por vários autores, pois, segundo ele, não havia coincidência entre a terminologia musical e o ritmo. Entretanto, ainda hoje existe o gênero chamado de marcha. As sambadas sempre começam com ela e arrematam com samba de seis, a prova de fogo do mestre. Berlando Raposo recorda uma marcha, e a réplica do adversário, cantada numa sambada, em que o tema são os engenhos de açúcar de Nazaré:
Katarina Real credita ao “mestre das toadas” um papel de liderança, respeitado pela própria diretoria. “É ele quem ‘ensaia’ (...) durante os meses antes do carnaval.” E ressalta o fato, anteriormente observado por Guerra Peixe, de que “esses maracatus rurais tocam vários ritmos, coco, baião, frevo e samba, e que muitas das ‘toadas’ são inteiramente de improviso, na tradição dos emboladores”. Não só de emboladores. Pode-se afirmar, com segurança, que, hoje, as toadas assentam-se sobretudo na tradição da viola. Os versos de maracatu que eram identificados como martelo remetem ao gênero popularíssimo de décimas de dez sílabas, com esquema de rima em ABBAACCDDC, tradicionalmente encontrado na décima de sete sílabas (redondilha maior), um dos modelos mais utilizados na poesia popular, dela derivando vários outros estilos. É este o modelo adotado no samba de dez ou samba comprido do maracatu, em que o coro repete a 5ª e a 6ª linhas, conforme cantou Zé Galdino:
Vou falar em quatro engenhos quatro engenhos na beira da linha Pedregulho, Babilônia Alcaparra e Alcaparrinha Vou falar em outros quatro
João Paulo, sacuda em mim
para completar sua história
todo assunto que tiver
Junco, Felicidade
toda rima que quiser
Caciculé e Pirapora
que a minha não tem fim foi Deus quem me fez assim ligeiro igualmente um raio você cantando balaio
Maria Alice Amorim
e eu cantando improviso nem esquento meu juízo nem cambaleio e nem caio
Caboclos de lança do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0497)
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Cristiana Dias
Entretanto, fugindo da amarração na 6ª linha, há sambas que são amarrados na 3ª e 4ª, apresentando-se, assim, sob a forma de quadrão (oitava). Salustiano, do Piaba de Ouro, é quem dá o exemplo: Bonito é de madrugada nas praias de Itapissuma que a gente avista as saúnas se voando dentro d’água vento forte maré braba não apaga o candeeiro mais de vinte canoeiro pescando de facheada
Sérgio Bernardo
No galope, definido pelos próprios mestres como “meio marcha, meio samba”, a estrofe é em sextilhas, com amarração na 2ª linha. Ou seja, o coro repete a 1ª e 2ª linhas, cantadas em ritmo de marcha e os quatro pés em ritmo de samba curto.
Mestre Salustiano, do maracatu Piaba de Ouro Manobra do maracatu Piaba de Ouro
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“Mestre de maracatu tem que ser poeta”, reitera Berlando Raposo. O que não é nenhuma extravagância, levando-se em consideração a produção poética conhecida e a fama que certos mestres atraem para si próprios. É o caso de Zé Bolô, “o mestre que mais aperreava no mundo, preto de beiço grosso”, conforme depoimento de Zé Bagadu, em junho de 1977, a Roberto Benjamin. É o caso de Bagadu, muito conhecido também entre os coquistas. Zé Neguinho é um deles, o qual conviveu, na infância, com a fama e maestria de Zé Bagadu, também no coco. “Era acompanhante de coquistas, no refrão e no tamanco. Era o maior sambador de coco de tamanco, não tinha cimento que não quebrasse.” Bagadu lembra, na entrevista referida, que respondeu a desafio de Bolô, com a seguinte estrofe, cuja construção se apóia no non-sense e picardia: Ajuntei essa nação pra ver se dava iguá mosquito, mosca e aranha besouro, grilo, imbuá gafanhoto mais mutum inté lacrá também macaco, me faça a conta que o bicho tem
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Mestre Deda de Nazaré
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Há diversos outros exemplos de mestres de maracatu com livre trânsito em outras brincadeiras que levam poesia nos ingredientes. Deda de Nazaré canta viola, embola coco e mestra maracatu. Birrinho, Cobrinha, Dedinha, Antônio Alves, Manuel da Paixão e Manuel Veríssimo, os dois últimos já falecidos, são poetas que honram a batuta. Antônio Baracho da Silva, por exemplo, que emborcou o terno de muito mestre, era também cirandeiro afamado. Em 1979, entrevistado por Roberto Benjamin, Baracho (“75 anos, 70 no documento”) recorda: “Peguei brincar maracatu em 27, em sítio de Belo Oriente, uma propriedade em Nazaré. Depois, fui para Chã de Areia, tirei um grande carnaval”. Lembrou, ainda, que havia deixado de brincar maracatu há oito anos, porque “me engracei mais da ciranda”. Era tão ciente da fama de bom tirador de loas, que não se rendia à modéstia: “Quando o mestre vem cantar comigo, já vem assombrado. Deixei meu nome na história”. Reputação que não se deve desprezar, afinal, tradição é tradição e não pode ser maculada. Diferente da poesia de viola, no maracatu, como no coco e na ciranda, a poesia não é a única atração da brincadeira, mas fornece um tempero forte aos outros participantes e assistência. O que corrobora a importância do poeta no grupo, e, mais ainda, a importância da tradição da poesia oral nessa camada da sociedade.
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Oiteiro poético
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“A minha carga de samba não cai, nem tomba, nem vira” é uma bela metáfora do homem que sempre viveu imerso nos problemas sócio-econômicos e afazares decorrentes da vida na palha da cana, acostumado a ver caminhões e mais caminhões cheios de cana-deaçúcar, desfilando no barro vermelho e, mais que isso, acostumado a exercitar os músculos no plantio, na colheita, tal qual uma colhedeira,
e no transporte manual para encher aqueles carros, tal qual uma enchedeira. A “bendita” – porque causadora de grande prazer a um público devoto, formado por gente da mesma condição social – carga de samba a que se refere o poeta de maracatu rural, José Bernardo Silva, o mestre Zé Duda, é carga de verso que tem uma mesma raiz permeando as brincadeiras populares, estivais ou não, herdada das tradições medievais ibéricas. Certamente que remanescem, de certo modo, dos oiteiros poéticos, prática recorrente no Brasil e Portugal, de que falam o recifense Pereira da Costa, no Folklore Pernambucano, e o português Aquilino Ribeiro, em De Meca a Freixo de Espada à Cinta. Um certame acontecido após celebração religiosa, em que a poesia era a principal atração da festa, com direito a urras, vaias e aclamação do melhor poeta, conforme relato, não por acaso coincidente com o de Aquilino, do pernambucano Pereira da Costa: “(...) Era à noite que se efetuavam os oiteiros, para o que se armava um elegante palanque no pátio da igreja, como que representando o monte Parnaso, sobre o qual tinha assento uma mulher convenientemente trajada, figurando de musa, a qual distribuía os motes para serem glosados pelos poetas que concorriam ao certame.” Evidente que as brincadeiras relacionadas ao exercício poético não mais se vinculam à igreja, mas o fervor com que se o pratica é o mesmo daquele do oiteiro.
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“O mestre é o poeta, sem ele o maracatu não sai”, enfatiza um deles, José Sinfrônio de Lima, 65 anos, 42 mestrando. E afinal, o que faz o mestre? Comanda toda a brincadeira, bengala à mão direita, a esquerda em concha sobre o ouvido, à moda dos bardos ancestrais, puxando os gêneros poéticos peculiares. É uma tradição que não foge à dos repentistas, dos mestres de ciranda, dos tiradores de coco: incita o improviso inteligente, atrai os apologistas, consolida-se a fama dos autores de versos bem construídos. Participando de sambadas concorridas, alguns mestres de maracatu têm-se transformado em figuras lendárias, como acontece a violeiros famosos. O poeta sambador é figura indispensável na brincadeira. Quanto maior, melhor.
Mestre Zé Sinfrônio
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Mestre Zé Duda, do maracatu Leão de Ouro
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Essa Piaba de Ouro Veio pra aqui bater um prego Essa verdade eu não nego Tiro da minha atitude Ela é criada em meu açude Não há pescador que pegue
Cristiana Dias
No carnaval, é impressionante a quantidade de mestres tiradores de verso em cidades da Zona da Mata Norte. Inicialmente, há que considerar a existência de cerca de oitenta maracatus como um dado confirmador da força que esses grupos vêm ganhando na região, durante a última década. A brincadeira é tradicional, e tem recebido a colaboração da mídia para expandir-se. Entretanto, a existência de mestres, e a força hipnótica dos versos, é coisa de muitas décadas. O mestre Zé Demézio, nascido no engenho Papicu, Tracunhaém, começou a mestrar em 1956, mesmo ano do mestre Birrinho, ou seja, 55 anos de ofício de poeta. Zé Duda, ele mesmo diz no CD Maracatu Atômico (África Produções), começou ainda criança e somente no maracatu Estrela de Ouro, de Aliança, está desde 1969. A primeira vez em que foi a uma sambada o mestre era ninguém menos do que Baracho, respeitado cirandeiro e mestre de maracatu. “Gravei no juízo o que Antônio Baracho cantou”, e o resultado é que Zé Duda usou um balaio de versos para “comer de coco” o adversário. “Botaram um tamborete, eu me subi e cantei.” Assim poetiza Zé Duda, no referido disco, com um samba curto (ABBCCB) e uma marcha (ABCB), respectivamente, em rima tradicional: A minha carga de samba Não cai, nem tomba, nem vira Nas taba de sucupira Fico de cabeça tonta Bato um prego, viro a ponta Enferruja e ninguém tira Eu inda era criança Já apitava bonito Quanto mais eu fico velho Mais o peito é bom no grito
No mesmo CD, o mestre Salustiano, das terras de Aliança, lembra que entrou nessa “vida” aos sete anos, no engenho Trigueiro, em Vicência. Somente de tal maneira é que conseguia se livrar da angústia provocada por aquela vida miserável no latifúndio canavieiro. “Aquela angústia no final de semana passava”. Fundador do maracatu Piaba de Ouro, em 1977, diz que gosta da piaba porque é um peixe veloz e o nome surgiu ao ver as lavadeiras de Bultrins e as piabinhas ligeiras que avançavam no cocô de menino dos panos que estavam sendo lavados. A velocidade do peixe inspira a velocidade dos versos saídos do poeta:
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O mestre Dedinha, da Cambindinha de Araçoiaba, mestra maracatu desde 1962. Considera a poesia um excelente remédio para suportar as amarguras: (...) Quando eu canto eu me distraio / E é melhor do que chorar. Na festa dos 87 anos da Cambindinha, dia 15 de dezembro de 2001, em frente à sede, cantou marcha de oito, quatro e seis pés. Também visitou samba curto, galope e samba de dez, com o mestre Saluzinho, do Piaba de Ouro. Eis uma marcha de oito (ABBCDCEC), feita por Dedinha, num formato nada convencional:
Veronildo - O jeito é você ir Lá pro lado do sertão Pra arranjar outra profissão Que esta não dá pra ti Tu hoje chegasse aqui Já está no meu terreiro O rojão não é maneiro Si tu não vale um centavo Me apanha feito escravo
Eu fiz a marcha
Nas unhas do fazendeiro
Eu fiz o som Tudo de bom
Zito Salvino - Tu apanha no terreiro
Pela Cambinda
Que eu só faço improvisado
Brinquei 35 anos
É bolo pa todo lado
Não sei quanta vida finda
Escuta meu companheiro
Tudo o que eu fiz por ela
Só faço samba ligeiro
Eu não sei se faço ainda
É pau a noite todinha Não chora não Mariquinha
Na temporada de ensaios de 2001, iniciada, como de costume, no mês de setembro, sambaram, em meados de novembro, no terreiro do Leão de Ouro, Nazaré, o mestre da casa Veronildo José (de tradicional família de poetas da Mata Norte, primo de João Paulo e Barachinha) e Zito Salvino, do maracatu Pavão Dourado, de Tracunhaém. Daquela sambada, um aspecto interessante a ressaltar no trecho a seguir é a utilização parcial da leixa pren ou “larga e retoma”, recurso ancestral na arte poética em que o bardo recorre ao último verso do colega para iniciar a própria estrofe. O esquema de rima é como reza a tradição (ABBAACCDDC):
Desse jeito me convém Que aqui não morreu ninguém
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Pa tu rezar ladainha
Mestre Dedinha
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Mestre Veronildo
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Vou pisar é nos teus pés Meu samba é tudo de dez Feito na hora inteirinha
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Veronildo - Eu não cantei ladainha
Ô se tu hoje adivinha Veja o que eu digo ao senhor Eu sou teu superior Hoje à noite eu te aprumo Como é que pode um aluno Ser igual ao professor Zito Salvino - No samba eu sou professor Eu vou pisar no seu pé Ô Veronildo José Quem geme é quem sente a dor Nasci pa ser sambador E pa dar em mim eu duvido O tempo tá colorido Não chora não Mariquinha Que é pau a noite todinha No lombo de Veronildo
A poesia tem o sentido catártico, ajuda o poeta (e o público) a abstrairse da vida dura, tem a força das catástrofes e o alívio dos remédios para o corpo e a alma, conforme os versos do mestre de maracatu e ciranda, João Limoeiro: Meu samba é como uma flor Quando está se abrindo É um canhão explodindo É igualmente um trator Ele imita um robô Caminhando pela terra Quem toca nele se ferra Meu samba é um maremoto Está parecendo a foto De Saddam Hussein na guerra
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Marcelo Lacerda
E ainda conforme os versos do mestre de maracatu e caboclinho, Zé Sebastião: Pra quem se achar doente Meu verso serve até de vitamina Contém o suco da uva Leite da vaca purina Banhado com as lágrimas Da providência divina
Nem só a título de panacéia, nem só de panegírico vive a poesia. Serve também de demonstração de conhecimentos gerais, de leitura da atualidade, no intuito de derrubar o adversário, como nos versos de viola. É assim que se passa numa sambada entre Zé Galdino (mestre de viola, maracatu e ciranda) e Barachinha, como vemos nos dois sambas de dez, feitos por Galdino: O tempo está vivendo A era da informática Vendo a ciência na prática Crescendo e desenvolvendo A Internet fazendo A televisão mostrando Hoje vai ver eu sambando Lhe machucando na unha Na frente batendo a cunha E você atrás apanhando (...) O tempo assistiu o chão Tremer forte na Turquia No Peru e na Hungria Na Coréia e no Japão E viu a destruição Do Cartel de Medellín E o Muro de Berlim Segue adiante a picareta Vai ser você na marreta Apanhando atrás de mim
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Barachinha, no samba curto, apela para a desmoralização do adversário: De todo jeito Vou quebrar você de pau
É o tom desaforado, a pulha, a vontade de derrubar o outro a qualquer custo o que marca o final das sambadas de maracatu. Afinal, no Monte Parnaso não é qualquer um que sobe, e é preciso provar que se é o preferido das Musas. Canário Avoador e Biu Passim tentam encerrar a farra poética:
Que no setor cultural Você é um paibuloso
Biu Passim - Cadê o fim do samba
Doido, nojento e seboso
Que tu me arreclamou
Pequeno e não tem moral
Canário encabulador O mestre de Itaquitinga O diabo comeu a língua
(...)
De Canário Avoador Prepara o lombo Pra me levar amontado
Canário Avoador - Vou fazer uma pergunta
Que você já tá cansado
Pra você que tem cartaz
Cantando fora do tom
Se correr eu corro atrás
Só digo se o burro é bom
Errando sem ter fadiga
Depois dele carregado
Quero que você me diga
Mestre Barachinha
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Maria Alice Amorim
Maria Alice Amorim
Pra onde é que o vento vai
Mestre Biu Passim
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O rojão não é maneiro “O da gente só agüenta mesmo quem tem negócio”, é o que garante Severino Miguel da Silva, Galego Miguel, dono do Índio Brasileiro, de Buenos Aires, a propósito do ritmo acelerado do caboclinho. Fundado em 20 de agosto de 1969, apresenta semelhanças com os maracatus. Uma delas é a presença de mestres que cantam os mesmos gêneros dessa brincadeira. José Sebastião cantou durante um carnaval, na condição de mestre daquele caboclinho, o mesmo samba de dez de quando era contramestre de João Paulo, no Leão Misterioso (Nazaré), apenas adaptando a toada ao ritmo da brincadeira em questão. Conforme alguns mestres de caboclinho, samba de dez, doze ou catorze é coisa só de maracatu, mestre de índio canta é marcha de quatro linhas. Mas, as influências são inevitáveis, como mostra Zé Sebastião, na décima que repetiu em apresentações de maracatu e caboclinho:
Durante apresentação do caboclinho numa federação carnavalesca, conforme gravação ouvida, em dezembro de 2001, na sede do Índio Brasileiro, este mesmo mestre cantou versos em seis linhas, sobre a vida dos cachaceiros: Eu vou falar um pouquinho Na vida do cachaceiro Chega na porta da venda Aborrece o bodegueiro Quer brigar sem ter razão Quer beber sem ter dinheiro Cachaceiro chega em casa Diz que a mulher é feia Vem a polícia e lhe pega Dá uma surra de peia Lhe joga no camburão
A mulher ruim não cochicha
Vai lhe morar na cadeia
O homem vem do roçado Ela diz vem desgraçado
A vida do cachaceiro
Estopor bexiga lixa
É um beco sem saída
Tu vem da casa da bicha
A sua cama é o chão
Tua cara é a dela
Seu alimento é bebida
Com raiva quebra a panela
Depois que afina o pescoço
Rasga o pano do cuscuz
Tem dois meses de vida
Que mulher ruim é a cruz
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Maria Alice Amorim
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Que o homem carrega ela
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No caboclinho, os mestres exercitam o talento poético durante os ensaios em janeiro, e é comum participarem também de maracatu. Aliás, este é o sonho de Pedro Manuel de Santana, 37 anos, barbeiro, primo de João Paulo e Barachinha, e conhecido por Pedrinho Gabriel, porque o avô paterno, Gabriel João de Santana foi mestre de maracatu. Gabriel é primo legítimo do pai de João Paulo e do pai de Barachinha. O pai de Pedrinho, Manuel João de Santana, 67 anos, foi caboclo de pena do Índio Brasileiro e, detalhe bastante importante, também contramestre. Hoje o mestre é o filho Pedrinho, que em 2002 mestra no terceiro carnaval consecutivo, zelando, mesmo que inconscientemente, pela tradição poética da família. Pela vontade do pai, jamais seria de maracatu, porque “é tudo cheio de feitiçaria, tem que arrumar uma escora boa”. Em primeira mão (nem só de improviso vive o poeta!), Pedrinho Gabriel apresentou algumas marchas que preparou para 2002, sobre temática atualíssima, a respeito dos desdobramentos dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos:
A guerra contra os terroristas Abalou o mundo inteiro Mas graças a Deus é só paz No coração brasileiro Ô arreamá George Bush é vingativo Osama bin Laden é mau Por causa desses dois infeliz Morrem tanto pessoal Ô arreamá
José Antônio da Silva, conhecido por “índio”, vende inhame e abacaxi na feira de Nazaré da Mata, foi folgazão do Índio Vencedor, de Tracunhaém. Cantou a seguinte quadra, decorada, que não é da própria autoria, fazendo questão de dizer que toada de caboclinho é diferente da de maracatu, no ritmo e nos versos:
Nunca pense em violência Porque o bem não lhe faz
Quando eu vi lá de cima
Diga um não às armas
Muita gente me chorou
E só vamos pensar em paz
Só o diabo duma velha
Ô arreamá
Tanta praga me jogou Rê rê reamá
A paz aqui na terra Arma de fogo virou brinquedo Pra quem gosta de matar
Maria Alice Amorim
Ô arreamá
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Ninguém mais quer praticar
Mestre Pedrinho Gabriel
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No boi de carnaval, a interação com os mestres de maracatu é grande. “A batida é diferente da do maracatu, mas as loas são iguais. Os sambas são os mesmos do maracatu, só é diferente o ritmo”, lembra Manoel Coelho de Souza, do Leão de Ouro, de Nazaré. Santino Justino de Souza, o mestre Santino, cirandeiro, confirma que “a poesia do boi é a mesma do maracatu, os versos de marcha são os mesmos, os versos de samba são os mesmos”. Cantou, pela primeira vez, aos oito anos, quando viu a lua cheia nascendo, no terreiro do sítio onde morava. “Juntava a meninada, os velhos sentados nos tocos de madeira, a gente era moleque, cada qual que quisesse cantar melhor; me lembro da minha primeira ciranda”: Lá vem a lua saindo Por detrás do oiteiro Sou pobre dinheiro Eu não tenho Não amo a ninguém Mas sou brasileiro
O mestre João Paulo, ou João Manoel dos Santos, começou em 1985 mestrando boi, o Boi Coração, de Nazaré da Mata, para somente depois iniciar-se em maracatu, com o Leão Formoso. Mestre Santino, bem mais antigo que João Paulo, foi mestre do Boi Campeão, de Nazaré, fundado na década 70. Era um “boi amaracatuzado”, conforme Santino, lembrando que existe, às vezes, samba curto no boi. Sobre a existência do balaio de versos, o mestre diz que não tem escapatória: “A gente como poeta da poesia matuta tem que fazer na hora e decorar também para levar”. Mas, o melhor mesmo, para ele, é cantar depois de beber: “Quando a gente tá com o juízo meio quente, vai à lua de foguete, volta a pé, e dá tudo certo”. Lembra uma marcha e dois sambas, de quando cantava no finado Campeão: É muita gente na festa Em frente à federação Todo o gado levantou-se Quando avistou campeão
Sérgio Bernardo
(...)
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os amigos, de casa em casa, entoando quadras, das quais Marinho registrou algumas. São quadras septissilábicas rimadas em ABCB, em que o mestre fala claramente de guiada e surrão dos caboclos do grupo, que é um “garrote vencedor”. Fala, ainda, de um hábito antigo de maracatus, que era o de cruzar a bandeira com outro grupo, às 18 horas, diante da igreja. Os versos denunciam a religiosidade dos participantes, com as loas dedicadas a Jesus e à Virgem da Conceição:
Este boi tava doente Lá no canto do cercado Estava mago acabado Não tinha alimentação Comecei tratar do boi Botei ele na ração É no Norte é no Sertão Aqui em qualquer terreno Que meu boi ganhou o prêmio
Ques caboclos tão bonitos
Dado pela federação
se acha no meu salão suba, suba, meu caboclo
(...)
na guiada e no surrão
Este boi quando nasceu
(...)
A terra deu um gemido Ficou vaqueiro perdido
Ô Inácio, ô Inácio
Por serra e despenhadeiro
o mestre tá na ribeira
Reuniu todos os vaqueiros
adeus até às seis horas
Para saber o que foi
pra encruzar a bandeira
Venha ver o melhor boi (...)
Do Nordeste brasileiro
Adeus minha sede rica
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adeuzinho que já me vou eu vou tirar meus meninos meu garrote vencedor
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Já em fevereiro de 1977, manhã do domingo de carnaval na cidade de Ferreiros, o pesquisador Edval Marinho registrou a saída de um “boi com caboclos”, conforme diário de campo. O mestre ia visitando
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O hábito de visitar as casas, cantando estrofes rimadas, antes de se apresentar nas federações, está em todas as brincadeiras em que há a poesia. Embora nem sempre os versos acrescentem em qualidade, é interessante perceber como as pessoas se sentem atraídas pelas formas fixas e pela improvisação. Por onde o brinquedo passa, todos correm para ouvir o mestre. Nesse sentido, ainda bem mais fortes são os ensaios, em que o efeito catártico da poética popular é vivenciado em grupo, ao ar livre, aberto a quem queira usufruir de tal oportunidade, e em que o sentido de auto-afirmação, sobretudo se houver embate, está aguçadíssimo. Entretanto, tudo acontece no nível da fala.
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O exercício poético apresenta-se como um exercício de oralidade, no qual não está em jogo, de modo algum, a necessidade de transcrição dos versos para o papel. Ao contrário, a performance do poeta corrobora o caráter oral de tal expressão poética. Embora sem fugir à característica de poesia para ser usufruída em voz alta, uma das preocupações da assistência tem sido a gravação em fita cassete, mantendo-se, portanto, a oralidade. Pela forte aceitação agora também nas grandes cidades e classe média, têm surgido gravações em CD. Isto tem acrescentado pontos à afirmação do poeta, perante os colegas. O que não é mau para a poesia, nessas brincadeiras populares alimentada também pelo espírito de emulação. Na base do improviso, cada mestre em seu tom, quem quiser que leve uma pisa de rima!
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Breve nota sobre o maracatu de baque solto Diferente do maracatu nação ou de baque virado, o maracatu rural ou de baque solto não descende exclusivamente da instituição dos reis de congo. É um resultado da fusão de manifestações populares – cambindas, bumba-meu-boi e cavalo marinho, coroação dos reis negros. Há um cortejo real, personagens “sujos” (Mateus, Catirina, burrinha, babau, caçador), um baianal, damas de buquê, dama do paço, calungas, caboclos de pena e de lança. Tem forte tradição na palha da cana, sobretudo na Zona da Mata Norte, em Pernambuco. Na década 30, com a migração dos rurícolas para áreas urbanas, esse tipo de maracatu começou a aparecer no Recife, e hoje podemos encontrá-lo na Mata Norte, Mata Sul, Região Metropolitana e até na Paraíba. A música é feita com instrumentos de sopro e percussão, e o mestre entoa versos improvisados e decorados, mas não acompanhado do instrumental. A orquestra pára e o mestre entra, a cada vez, com uma estrofe das toadas e loas que desfia ao longo da apresentação. O visual é muito bonito, sobretudo dos caboclos de lança, que se vestem com mantos (chamados de gola) bordados com lantejoulas, miçangas, vidrilhos e canutilhos. Na cabeça, um chapéu coberto com tiras coloridas de papel celofane. Na mão, uma lança pontiaguda forrada com fitas coloridas que pendem ao longo dela. Nas costas, os chocalhos, de diferentes tamanhos, produzem um som particularíssimo.
Seu Bubu, caboclo de lança do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0129)
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Onde encontrar o maracatu de baque solto Não é de hoje o esplendor do maracatu rural. O pesquisador Berlando Raposo, em carta ao Diario de Pernambuco, de 1º de março de 1977, relembra o tempo em que os senhores de engenho bancavam maracatus com duzentos figurantes, oitenta deles vestidos de caboclo. Hoje, bastante difundidos na mídia, os grupos fazem valer esse prestígio, apresentando-se em diversas cidades da Mata Norte e da Região Metropolitana. Símbolos de pernambucanidade, os famosos caboclos de lança fazem o carnaval de Igarassu, Nazaré, Buenos Aires, Tracunhaém, Carpina, Chã de Alegria, Lagoa de Itaenga, Feira Nova, Araçoiaba, Goiana, Paudalho, Camaragibe. Organizados desde 1990 em sociedade sem fins lucrativos, é na sede da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco (AMBS-PE), em Aliança, e também no centro daquela cidade, que praticamente todos os maracatus comparecem no período carnavalesco. No Espaço Ilumiara Zumbi, em Cidade Tabajara, Olinda; no sítio histórico de Igarassu e na cidade de Nazaré da Mata é igualmente possível ver quase todos entre o Domingo e a Terça.
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Glossário
Bibliografia
balaio - versos decorados cantados por mestre de maracatu, violeiro, coquista
ALMEIDA, Átila & ALVES SOBRINHO, José (Org.). Marcos. Campina Grande: Editel, 1981.
bengala - batuta do mestre
BENJAMIN, Roberto Émerson Câmara. Maracatus rurais de Pernambuco. In: PELLEGRINI FILHO, Américo, org. Antologia de folclore brasileiro. São Paulo: Edart; Belém: UFPA; João Pessoa, UFPB, 1982.
cabocaria - caboclos de lança
BORGES, Jorge Luis. El Martín Fierro. Buenos Aires: Emecê; Madrid; Alianza, 1983. CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ouro, s.d.
ensaio de sede - ensaio do maracatu em que o mestre improvisa os versos sozinho, sem embate poético com outro
CAMPOS, Geir. Pequeno dicionário de arte poética. Rio de Janeiro: Ouro, 1965. maquinada - chocalhos que os caboclos de lança levam às costas presos numa moldura
COUTINHO FILHO, F. Violas e repentes. Recife: ed. autor, 1953.
de madeira coberta com pele de carneiro sintética. O mesmo que surrão
GUERRA PEIXE, César. Maracatus do Recife. São Paulo: Irmãos Vitale; Recife: FCCR, 1980. Col. Recife, v. XIV.
mestrar - comandar a brincadeira na condição de poeta, de mestre
PEREIRA DA COSTA, Francisco. Folk-lore pernambucano: subsídios para a história popular em Pernambuco. Prefácio de Mauro Mota. 1.ed. Autônoma. Recife: Arquivo Público Estadual, 1974.
pé-de-parede - cantoria em que um público selecionado sugere motes e temas para
oficiais, como congressos de cantadores, nas quais diversas duplas desenvolvem, em
PINTO BANDEIRA, F. B. & A. de V. Poetica compilada de Hughes Blair e outros. Recife: F.F. Alves de Albuquerque, 1882.
tempo cronometrado, temas e gêneros sorteados pelos organizadores
REAL, Katarina. O folclore no carnaval do Recife. Recife: Massangana, 1990.
sambada pé-de-parede - é a sambada, a cantoria dos mestres de maracatu, em que “um
SOUTO MAIOR, Mário & DANTAS SILVA, Leonardo (Org.). Antologia do carnaval do Recife: Recife: Massangana, 1991.
mestre encalca o outro”
TAVARES, Braulio. Cantoria: regras e estilos. Olinda: Casa das Crianças de Olinda, s.d.
os cantadores e de onde saem os melhores versos, diferentemente das programações
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surrão - vide maquinada
Baianas do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0502)
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Mestre JosĂŠ Ferreira Maria Alice Amorim
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Mestre Ivanildo
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Mestre João Júlio
Mestre Dedé Mestres João Limoeiro e José Duda
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Mestre Luciano Pereira
Mestre Manuel DamiĂŁo Maria Alice Amorim
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Nazaré é berço dos maracatus A cidade tem o registro dos mais antigos grupos Nazaré da Mata é, sem dúvida alguma, a terra do maracatu rural. Datam do início do século 20 os registros mais antigos sobre a existência dessa brincadeira, tão propalada pela sua beleza plástica, e Nazaré, desde os primórdios, acolhia em seus engenhos “os indecifráveis tucháus” – assim definidos por Valdemar de Oliveira os enigmáticos caboclos. Há, pelo menos, meio século, a cidade é palco de verdadeiras “guerras” entre maracatus quando, na terça-feira de carnaval, desfilam pelas ruas praticamente todos os grupos de que se tem notícia no Estado. É espetáculo para folião nenhum botar defeito – são 15 a 20 horas ininterruptas de manobras, loas, chocalhos e fitas. O maracatu está no sangue dos nazarenos. Não há quem não tenha alguma ligação – seja amorosa, seja votiva – com os folgazões. O escritor e amante dos maracatus, Berlando Raposo, se lembra dos tempos de menino, quando a brincadeira já o fascinava. “Na década de 20, nos melhores carnavais antigos, um maracatu rural de Nazaré chegou a ter 80 caboclos”. O tirador de coco, José Modesto Alves, recorda as façanhas de quando saía de caboclo de lança: “eu era muito ligeiro, fazia muita prisiaca”. O lavador de carro e extrabalhador rural, Tonny Berto Nunes, tinha um caboclo na família. O pai brincou mais de 30 anos – “saía de casa de costas quando ia dançar: cada um fazia suas mungangas”. O escritor e pesquisador Olimpio Bonaldo Neto – que passou a infância em Nazaré da Mata – dedicou-se à tarefa de desvendar um pouco da aura mágico-religiosa do folguedo, chegando a definir os caboclos de lança de “azougados guerreiros de Ogum”. Azougue é o nome de um líquido à base de pólvora, aguardente e limão. A beberagem corria solta, segundo contam muitos deles. “Meu pai saía com meia garrafa de aguardente, fazia uma mistura com pólvora e limão, e ia dançar”, informa Tonny Berto. Há, ainda, a ligação com terreiros de umbanda. Quando vai ensaiar, ou sair no carnaval, o caboclo tem que cumprir as obrigações”, diz a costureira e dona do Maracatu Leão da Mata, de Itaquitinga, Maria Antônia Araújo da Silva. “O caboclo de lança, de frente, tem que sair manifestado”. A costureira e madrinha do Cambinda Brasileira, Severina de Carlos, “bota um ponto” nos caboclos, no sábado de carnaval. Na quarta-feira de cinzas, voltam lá para “desmanchar o ponto”. “A preparação é sete dias antes. Se há problema no maracatu – carro quebra, caboclo adoece, aparece baiana manifestada – eles dizem que não houve cumprimento do ritual”, informa um dos diretores do Cambinda, Sérgio Gaspar.
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As origens Qual é, afinal, a origem dos caboclos de lança? Berlando Raposo acredita que seja uma reminiscência da invasão holandesa. “Pelo nome (caboclo) e pela arama (lança), há indicações de uma possível origem indígena”. Raposo não crê na existência do azougue, tampouco encontra “pontos de contato com Ogum”. “Nunca souberam de Ogum, nem seus folguedos: cocos, forrós e cirandas, que na rua chamavam de suvacadas e bate-coxas, tiveram qualquer caráter religioso”. O pesquisador e professor de Folk-comunicação, Roberto Benjamin, vê “uma acentuada semelhança do caboclo de lança com figuras do bumba-meu-boi, como também no bumba do Maranhão existe o caboclo de pena”.
Caboclos de lança se enfrentando Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0500)
Apresentação de maracatu no Alto Santa Terezinha, Recife Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0508)
Maracatu de baque solto Águia de Ouro Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0504)
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Caboclos de lança do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0498)
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O que apreciar O visual é deslumbrante. A caboclaria e o baianal oferecem um espetáculo minuciosamente preparado, que inclui dança vigorosa, batidas fortes da percussão e versos improvisados do mestre tirador de loas. Os versos têm parentesco com os repentes de viola, na rima e métrica, denunciando a sua possível origem ibérica. Na tradição dos habitantes da Zona da Mata não podem faltar os treinos dos caboclos que saem pelas ruas, de setembro até a Páscoa, somente com os chocalhos, sozinhos, em dupla, a três ou a quatro; os ensaios dos maracatus em largos, engenhos ou ruas próximas à sede; as sambadas que se traduzem em verdadeiros torneios de mestres, disputando anfitrião e convidado até o amanhecer, acompanhados pelos brincantes. Quem mora na Mata Norte sabe. O maracatu atrai todos os olhares. Basta um chocalho ao longe para todos correrem à porta. Em Nazaré da Mata, desfilarão cerca de 70 maracatus nos três dias de carnaval, ficando reservada a terça-feira à apoteose. “Esse misto de teatro e dança”, no dizer de Ariano Suassuna, chama a atenção do pesquisador Benjamin “pela violência simbólica da manifestação”.
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Nas trincheiras do maracatu rural, as tiras policromáticas dos chapéus e as fitas fartamente dispostas na lança quebram a monotonia do verde canavial. Explodem no colorido sonoro dos chocalhos. E avisam: é hora de ver o brinquedo passar.
Cristiana Dias
Coreografia de caboclos de lança Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0615)
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Cambinda Brasileira resiste ao tempo
De um lado e outro da estrada de barro batido, as folhagens da canade-açúcar ondulam calmamente. O percurso, quase interminável, se estende por seis íngremes quilômetros. Qual o destino? O Engenho Cumbe, que fica bem próximo à cidade de Nazaré da Mata. Foi lá que nasceu um dos maracatus de orquestra mais antigos de que se tem notícia – o Cambinda Brasileira, de 1918. A sede ainda hoje permanece no mesmo local, um simpático terreiro com uma barraca coberta de palhas secas de cana, ao lado da casa de um dos contemporâneos de fundação do grupo.
Caboclo João Padre
João Estevão da Silva, 79 anos, conhecido como “caboco João Padre”, tinha apenas três anos quando o maracatu começou. Foi mestre de caboclaria durante muito tempo e se esforçava para fazer bonito sempre que o dono do engenho, Antônio Borba Maranhão de Albuquerque, recomendava: “Quero o meu maracatu de cima”. Afinal, era ele quem financiava a brincadeira, recorda João Padre. Nos domingos de carnaval, o Cambinda Brasileira se reúne no barraco às duas da tarde. Reza a tradição que ele desfile em Nazaré, à noite, abrindo a folia. O maracatu chega a reunir cerca de 500 pessoas para ver a saída, avalia o diretor administrativo, Sérgio Gaspar. Nas ruas, ninguém perde o desfile da Cambinda.
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Em priscas eras, os maracatus se apresentavam somente nos engenhos. Na cidade, apenas o encontro dos maracatus rurais em Nazaré da Mata, na terça-feira de Momo, era indispensável. O caboclo João Padre lembra que todos eles se deslocavam de pontos distantes, mas não deixavam de ir a Nazaré. “O pessoal só saía da praça quando o Cambinda passava, fechando o carnaval”, acrescenta Gaspar. A tradição do encontro na terça permanece, embora mais outras 22 cidades recebam maracatus nos três dias de festa. Nazaré continua sendo passagem obrigatória de todo maracatu de trombone que se preze, ainda que seja pequeno. A população se acostumou ao espetáculo de tal maneira que a mobilização é intensa durante todo o dia e noite, madrugada adentro, para que tudo seja visto e apreciado nos menores detalhes.
Recife-PE, Diario de Pernambuco 26 de fevereiro de 1995 Caderno Viver
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Cristiana Dias
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SĂŠrgio Bernardo
Detalhe da indumentária de um caboclo de lança Foto de Katarina Real
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Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0125)
Menino exibindo gola bordada de caboclo de lança do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0128)
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Tuxáus do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0501)
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Tuxáu do Maracatu Estrela da Tarde Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0503)
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Maracatus brilham no carnaval
Um cravo branco no canto da boca. Lenço amarrado no queixo, chapéu ornamentado com papel celofane. Na mão, lança pontuda, com fitas e mais fitas dependuradas. Uma gola ampla, até a altura dos joelhos, bordada com motivos florais, figurativos e estrelas. Chocalho nas costas, tilintando pelas ruas. Em grupo, ou mesmo sozinho, o caboclo de lança é o principal componente do maracatu rural, manifestação popular carnavalesca típica da Zona da Mata. Durante o carnaval, os caboclos enchem as ruas de alegria, cores e brilho, muito brilho. Os chocalhos marcam a batida rouca do baque solto. Às vezes, os caboclos desfilam com óculos escuros por causa de uma bebida à base de cachaça e pólvora ingerida antes da brincadeira e que deixa os olhos sensíveis. Existe muito mistério acerca dessa bebida, pois os caboclos de lança não costumam fornecer informações. Afirma-se que a bebida gera muita energia e até agressividade extrema ao ponto de o bebedor ficar fora de si. Nazaré da Mata, Aliança e Paudalho são focos de concentração de maracatus rurais durante a folia. Ainda assim encontramos em praticamente todas as cidades da Mata Norte caboclos de lança que desfilam durante o carnaval e semana santa. Ao longo do ano, é freqüente encontrar caboclos pelas ruas dessas cidades apenas com o surrão – armação de madeira onde ficam presos os chocalhos – às costas, e à paisana. É possível que seja um ritual de iniciação. Em Goiana, vários são os maracatus rurais que desfilarão neste carnaval. O Maracatu Estrela de Ouro, com 110 componentes; o Leão de Ouro com 100 e o Leão do Norte com 40, Leão Formoso com 45 e o Águia de Ouro com 70 figurantes. Lantejoulas, fitas, franjas, cetins individualizam a beleza de caboclo de lança e ao mesmo tempo formam um espetáculo grandiloqüente, rico em plasticidade. Um apelo visual de rara beleza.
Goiana, Jornal A Província fevereiro de 1994 Caderno 2 p. 17
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Aliança realiza em 1994 o segundo encontro de mestres de maracatu Juriti, do Maracatu Leão Mimoso, de Upatininga; Cobrinha, do Leão de Ouro, de Tupaoca; Carlinhos, do Leão Mimoso, de Olinda; Cosme Antônio, do Estrela de Ouro, de Chã de Camará; Canário Avoador, do Leãozinho, de Aliança. Estes foram os mestres de maracatu que se reuniram na terça-feira da semana pré-carnavalesca para cantar as suas toadas. A toada do maracatu rural é improvisada, seguindo o esquema de estrofes de formas fixas e refrão. Os temas são os do dia-a-dia, sobretudo a vida do campo. O mestre é aquele que puxa o canto do maracatu rural – enquanto os caboclos realizam as evoluções características à coreografia, os músicos executam o baque solto e o mestre, no intervalo entre uma e outra execução instrumental, canta as toadas.
O ritmo binário do maracatu rural lhe dá o apelido de maracatu de baque solto. Segundo Ramires José da Silva, do Estrela de Ouro, a brincadeira surgiu com os escravos africanos que, vendo uma festa, começaram a bater em canecos e latas na senzala. Distanciando-se das suas origens, o maracatu rural foi acrescentando elementos à diversão e inclui hoje caçador, Mateus, Catirina, burrinha. Entretanto, o brilho especial da manifestação é indiscutivelmente do caboclo de lança que, com suas fitas, chapéu e gola, atrai todas as atenções para si. Cravo branco na boca e nada de economia nas lantejoulas. Somente a fantasia de cada caboclo custou este ano cerca de 450 mil cruzeiros reais. Certamente o visual obtido vale muito mais do que isso. E ainda alimenta a inspiração dos mestres, que cantam versos, versos e mais versos em seu louvor. Goiana, março de 1994. Jornal A Província, caderno Regional, p. 9
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O encontro dos mestres, idealizado por Cláudio Viana, foi um sucesso. Os cinco mestres – Juriti, Cobrinha, Carlinhos, Cosme Antônio e Canário Avoador – deram vazão à verve, à veia poética e simplesmente agradaram aos ouvidos sensíveis dos que os assistiam. Na terça-feira da semana pré-carnavalesca, o palanque ficou pequeno tamanha a grandiosidade do evento.
Mas a função do mestre não é só ritmo e rima. É, acima de tudo, oração. Oração significando frase, verbo, tema. Este último é dado através de um mote – assunto a ser cantado sob a forma de versos. O mestre é o condutor da palavra e do canto. É também o condutor da bengala e do apito.
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Caboclos de lança em evolução Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0499)
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Arthur Mota
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Peixe da Nação Cambinda Estrela Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0021)
Maracatu de baque solto Águia de Ouro Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0119)
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Ivve Rodrigues
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Livro é referência sobre o carnaval recifense
O folclore no carnaval do Recife, da antropóloga norte-americana Katarina Real, é uma obra indispensável, que tem servido de ponto de partida e de consulta para muitos dos pesquisadores da atualidade. Escrito nos anos 60, o livro registra diversas manifestações folclóricas presentes na folia recifense, como os caboclinhos, maracatus, bois, la ursa, dentre outras. É um trabalho etnográfico resultante de, pelo menos, cinco anos de pesquisa de campo nos subúrbios do Recife e nas apresentações dos grupos nos dias de carnaval. A segunda edição, revista e ampliada, é de 1990, publicada pela editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco.
“Entre todos os deslumbrantes folguedos que percorrem as ruas do Recife e os morros e córregos do subúrbio durante a época carnavalesca, um dos mais extraordinários é, sem dúvida, o ‘maracatu rural’, também denominado de ‘Maracatu de orquestra’ ou ‘Maracatu de baque-solto’. De todos estes folguedos tem sido não somente o menos estudado como também o menos compreendido. É até estranha a sua existência no Recife, durante várias décadas, numa penumbra de mistério, quase desinteresse por parte de alguns e crítica violenta por parte de outros. Devido a algumas de suas características, principalmente à presença de ‘caboclos de lança’ e ‘caboclos de pena’, os maracatus rurais são de vez em quando denominados de ‘caboclinhos’ ou ‘maracatus descaracterizados’.”
p. 71
“Tenho a impressão de que os maracatus rurais não nasceram da instituição mestra do Rei do Congo, mas que representam uma fusão de elementos de vários folguedos populares existentes no interior de Pernambuco (um belo exemplo de dinâmica folclórica): pastoril e ‘baianas’, cavalo-marinho, caboclinhos, folia (ou rancho) de Reis etc. e que tal fusão teve lugar tanto no interior como, depois, na cidade do Recife.” p. 73
“Existiam no Recife, entre 1961 e 1965 pelo menos onze maracatus-rurais, uns sete dos quais filiados à Federação Carnavalesca Pernambucana (...). Quase todos os maracatus rurais são classificados de ‘Segunda Categoria’ pela Federação.”
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“O ‘mestre das toadas’ é a figura principal (e a própria diretoria respeita a sua autoridade). É ele quem ‘ensaia’ (‘ensina’ o grupo, especialmente ‘as baianas’ (coro feminino) durante os meses antes do carnaval. Um fato interessante, notado também por Guerra-Peixe, é que esses maracatus rurais tocam vários ritmos, coco, baião, frevo e samba, e que muitas das ‘toadas’ são inteiramente de improviso, na tradição dos ‘emboladores’. O mestre introduz o verso que é respondido pelas baianas e os músicos. Os ‘caboclos de lança’ não cantam aliás nem podem ouvir as toadas por causa da zoada dos chocalhos.” p. 79
“Os maracatus rurais vêm sofrendo também fortes ‘perseguições’ por parte da imprensa há vários anos. Aqui apresento um exemplo, que apareceu no Diário da Noite, de 11 de janeiro de 1966: ‘MARACATUS DISTORCIDOS’ É simplesmente lastimável a apresentação desses maracatus descaracterizados que todos os anos aparecem no carnaval. Melhor seria que esses conjuntos não fossem classificados como tais, pois maracatu com orquestra, flautas e pífano, com uma praga de ‘tuchaus’ carregando nas traseiras aquela lataria pode ser tudo menos uma ‘nação africana’...”
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“Quase todos os pesquisadores do Maracatu de Pernambuco estão de acordo que estas nações nasceram da instituição mestra, implantada no Brasil pelos portugueses, da Coroação do Rei do Congo. Essa tradição, quase sempre ligada às irmandades de Nossa Senhora do Rosário e ao ‘culto de São Benedito’, exerceu uma forte atração sobre os escravos africanos como também sobre os negros alforriados em séculos posteriores.”
p. 57
“Théo Brandão, no seu ensaio de 1957, intitulado Origens do Maracatu, vai mais além das origens estritamente brasileiras do maracatu pernambucano para encontrar raízes culturais européias dessa tradição nas antigas Reinages que existiam em vários países da Europa na Idade Média – derivação cultural que consideramos das mais valiosas.” p. 58
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“E o aspecto mais extraordinário desse cortejo régio tem sido a sua grande estabilidade no tempo – isto é, durante muito mais de cem anos, o cortejo do maracatu-nação tem permanecido inteiramente estável, virtualmente sem modificação. Se compararmos as deslumbrantes apresentações dos maracatus-nações nos carnavais da atualidade, da década de 60, com aquela famosa descrição dos maracatus que Pereira da Costa escreveu nos princípios do século, veremos que os desfiles de hoje são quase idênticos aos de 1900.” p. 59
“O maracatu de ‘baque virado’ é, como o frevo, uma das pedras fundamentais do carnaval recifense. Importantes compositores da região, como Capiba e Nelson Ferreira, produziram músicas de maracatu.” p. 69
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O baque virado dos tambores da nação
A batida do maracatu nação convida à dança e tudo – dança, ritmo, personagens, vestimentas, adereços –, tudo nos remete à origem desta brincadeira: a antiga cerimônia de coroação dos reis de Congo, realizada durante o período colonial, em igrejas dedicadas a Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito. Entretanto, isto não nos deixa esquecer a estreita relação do baque virado com os ritos do candomblé. No início do século XVII, reis e rainhas “Angola” eram nomeados na cidade do Recife, conforme registro de diversas coroações em arquivos da Irmandade de N. S. do Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio. Das diversas nações de negros, a dos Congos era a que mais se destacava dentre as associações daquelas irmandades. A cerimônia de coroação acontecia na entrada dos templos católicos, com o aval dos senhores brancos e da Igreja. Isto até o final do século XIX no Recife.
Dos grupos antigos, podemos destacar o Nação Elefante (1800), Leão Coroado (1863), Estrela Brilhante do Recife (1906), Porto Rico do Oriente (1915). O maracatu Estrela Brilhante de Igarassu é um dos mais antigos em atividade, e, segundo tradição oral, existe desde 1824 naquela cidade onde há remanescentes de negros escravos. O Leão Coroado abrigou durante décadas importante carnavalesco, o mestre Luís de França. Uma das mais reverenciadas rainhas de maracatu foi dona Santa, do maracatu Nação Elefante. A cerimônia que reúne os grupos de baque virado no Pátio do Terço, Recife, é A Noite dos Tambores Silenciosos. Criada nos anos 60 pelo jornalista Paulo Viana, e que vem acontecendo, com regularidade, desde essa época, reúne maracatus pernambucanos que prestam homenagem aos eguns, ou espírito dos mortos, no dia a eles dedicado, a segunda-feira, em ritual conforme manda a tradição jeje-nagô.
Stela Maris Alves Oliveira
Stela Maris Alves Oliveira
Transformados em maracatu, os grupos mantiveram a nomenclatura de nação e, representando o cortejo régio da festividade, figuram o rei e a rainha, conduzidos sob uma umbela ou guarda-sol, os lampiões, as damas do paço ou da boneca (importante objeto ritual), príncipe, princesa, embaixador, porta-estandarte, o símbolo da nação, dois cordões de baianas e os batuqueiros. Movem-se todos sob o som de instrumentos percussivos: gonguê, tarol, caixa de guerra, bombo. No vestuário e adereços, a referência ao culto dos orixás é explícita. Os grupos são sempre vinculados a determinado terreiro de Xangô, o que serviu para aprofundar o sincretismo religioso.
O registro mais remoto de maracatu, conforme aponta Guerra-Peixe, é de 1867. Segundo ele, a denominação é africana e designa uma dança praticada pela tribo dos Bondos, que vivia, durante a ocupação portuguesa, a 50 km de Luanda, Angola. Ainda conforme GuerraPeixe, inicialmente os maracatus eram designados de nações e afoxés. O termo nação implicava em relação administrativa com a instituição de reis de Congo, mas era como afoxé que se apresentavam nas festas de coroação. Pereira da Costa, no Folk-lore Pernambucano (de 1908), cita como exemplo de toada de maracatu a estrofe que diz: Aruenda qui tenda, tenda/ Aruenda qui tenda, tenda/ Aruenda de totororó. Estes versos remetem para a brincadeira da Aruenda de Iaiá Pequena, que existiu em Goiana, e tem vinculação direta com os maracatus, cambindas e pretinhas do Congo.
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“O maracatu, da forma hoje conhecida, tem suas origens na instituição dos Reis Negros, já registrada na França e em Espanha, no século XV, e em Portugal, no século XVI. Em Pernambuco, assinalamos a presença de coroações dos soberanos do Congo e de Angola a partir de 10 de setembro de 1666, segundo transcrição de Pereira da Costa, citando o testemunho de Urbain Souchou de Rennefort, in Memoires pour servir a L’Histoire des Indes Orientales etc, publicado em Paris, 1688.”
p. 45
“No Recife, os cortejos dos Reis Negros vieram a ser transformados no maracatu, cujo vocábulo aparece na imprensa a partir do final da primeira metade do século XIX, para denominar os ajuntamentos de negros, como por ocasião da fuga da escrava Catarina, anotada por José Antônio Gonsalves de Mello em consulta à edição do Diario de Pernambuco de 1º de julho de 1845.”
p. 46
“(...) na primeira metade do século XIX os cortejos dos soberanos negros, trazendo os seus reis e rainhas, não saíam no período do carnaval, mas tão-somente por ocasião de suas festas religiosas ou em ocasiões outras como o embarque de africanos libertos de volta à mãe África. A presença de batuque do Rei do Congo no carnaval do Recife só vem a ser registrada a partir do final dos anos cinqüenta do século XIX.”
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Estrela Brilhante
Uma estrela para nos guiar, canta a loa. Uma Nação muita antiga, vinda da África para morar em Igarassu. É o que pronuncia a voz firme de Olga e Gilmar, encantando nossos ouvidos com as toadas herdadas dos antepassados. Pela voz deles remontamos aos avós e pais da centenária dona Mariu, chegamos ao tempo presente, aos seguidores de um baque triunfante a iluminar toda a família. Se fosse para seguir uma das versões da história oral relacionada ao grupo, 1730 poderia ter sido o início. Entretanto, a data oficializada é 8 de dezembro de 1824. O local era Vila Velha, em Itamaracá, à época pertencente a Igarassu. De lá, os antepassados do maracatu migraram para o Alto do Rosário. Mas da cidade de Igarassu o grupo não saiu e é a antiga Rua do Rosário, no sítio histórico, quem testemunha, há décadas, o canto, a dança e o batuque de descendentes de escravos. Às mulheres cabe a dança, os homens ficam com a percussão. Olga de Santana Batista, filha de dona Mariu, agora é a matriarca, guardiã da tradição, desde que a mãe, centenária, faleceu em 2003. Olga, nascida em Igarassu a 28 de fevereiro de 1939, começou a brincar aos 10 anos, como rainha, e com o pai também brincava cavalo-marinho e fandango. Auxiliada pelo filho caçula, mestre Gilmar, é com firmeza que os dois lideram rei, rainha, vassalos, ministros, princesas, dama-regente, dama do paço, porta-estandarte, porta-candeeiros, porta-símbolo, baianas, batuqueiros. Gilmar de Santana Batista é o mestre dos batuqueiros. Rogério Raimundo de Sousa, o contramestre. Gilberto de Santana Batista é o portaestandarte. Dona Rita, a dama-regente, é herdeira de uma função – a de conduzir a calunga – que coube a dona Mariu durante os anos todos em que participou da Nação. Mariu, ou Maria Sérgia da Anunciação, nasceu no dia 8 de dezembro de 1898 e morreu no dia 8 de outubro de 2003, na mesma cidade – Igarassu. Sempre na função de dama-regente, começou a participar do maracatu aos 12 anos. O apego a “dona Emília”, a calunga de madeira feita pelo carpinteiro Minervino do Ó, era tanto, que a boneca dormia com ela. Afinal, dona Emília é quem manda, cantam as toadas do grupo fincado nas tradições do candomblé, para quem a calunga – a evocar ancestrais e orixás – desempenha primordial função de protetora do folguedo: trata-se de um objeto-ritual. O pai, João Francisco da Silva, passou a liderança do maracatu para o marido de Mariu, Manoel Próximo de Santana. O seu Neusa, como era conhecido Manoel, ficou incumbido das funções de rei do maracatu e mestre do batuque. A mãe de Maria Sérgia, dona Mariassu, morreu aos 115 anos. Com o marido, era quem comandava o maracatu e Maracatu Estrela Brilhante Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0070)
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costurava manualmente as roupas do grupo. A filha Mariu, que chegou a quase 105 anos, ganhou a festa “100 anos de uma rainha negra”, organizada em dezembro de 1998 pela prefeitura de Igarassu. No centenário, Sérgia relembrou, em entrevista concedida ao Jornal do Commercio, em 6 de dezembro de 1998, que, no cortejo real, havia antigamente os lanceiros, ou duas crianças que iam à frente da corte fazendo a ordenança do rei e da rainha. Outra ausência, lamentada ainda hoje por dona Olga, é a da calunga Joventina, que não mais se encontra no acervo do grupo. Os instrumentos utilizados no batuque tradicional do Estrela Brilhante são zabumba (o mesmo que tambor ou alfaia), tarol (ou caixa de guerra), mineiro (ou ganzá) e gonguê. Os tambores, que antigamente eram feitos com barrica de transportar o peixe bacalhau, agora talhados no tronco de macaíba, são tocados com uma baqueta (ao invés de duas) e uma vareta ou galho de árvore, chamado bacalhau, o que confere um toque diferenciado ao baque do Estrela, “um suingue muito mais gostoso”, conforme demonstra, orgulhoso, o mestre Gilmar, que puxa, entre outras toadas, a seguinte: Toque o gonguê / toque o tambor / vem mineiro e caixa / foi o mestre que mandou. Os ensaios tradicionalmente ocorrem a partir de setembro e se prolongam até a semana pré-carnavalesca. No período junino, os brincantes também se divertem, mas é com o centenário samba de coco e o banho ou “batismo” de São João pela madrugada do dia 24 de junho.
cidade portuguesa. Ponto de Cultura Estrela Para Todos desde 2008, o grupo passou a promover oficinas de percussão e dança e colocou no ar uma home page, em três línguas. Conquistou o Prêmio Culturas Populares 2008 – Mestre Humberto de Maracanã, do Ministério da Cultura (Minc), com o qual realizou a remasterização e reedição do CD comemorativo aos 180 anos. Foi contemplado com o projeto Cine Mais Cultura (Minc), edição 2008. O tradicional Coco de Olga também foi contemplado com o Prêmio Culturas Populares 2009 – Edição Mestra Dona Isabel. Em fevereiro de 2010, juntamente à centenária Tribo Canindé do Recife, ganhou homenagem na abertura do carnaval do Recife, no Marco Zero. Com tantas ações importantes, com tantas vozes e loas bonitas, sustente o baque, dona Emília, que o Estrela vai continuar!
Entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, o maracatu passou quatro anos sem se apresentar, conforme registrado numa reportagem do Diario de Pernambuco, em 11 de fevereiro de 1982, intitulada: “Maracatu volta a desfilar”. Adiante, após mais alguns anos desativado em decorrência do falecimento de seu Neusa e da impossibilidade de locomoção de dona Mariu, um grupo de estudiosos da Comissão Pernambucana de Folclore, presidida pelo pesquisador Roberto Benjamin, realizou, durante 1993, um levantamento das toadas e da história do grupo e, assim, foi responsável pela retomada do grupo, em janeiro de 1994. A seguir, o grupo não mais parou. Em 1997, foi o homenageado do carnaval de Igarassu. No mesmo ano, Roberto Berliner dirigiu um documentário de três minutos, em 16mm, colorido, no projeto Som da Rua, intitulado Maracatu Estrela Brilhante. Em 1998, dona Mariu ganhou destaque com o aniversário de 100 anos, conforme mencionado acima. O primeiro registro fonográfico aconteceu em 2003, com gravação ao vivo e ao ar livre, resultando no CD Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu – 180 anos. No início de setembro de 2008, o grupo viaja a Portugal, para participação no XII Festival Folclore Internacional Alto Minho, em Viana do Castelo, cidade-irmã de Igarassu, por esta ter sido fundada pelo capitão Afonso Gonçalves, natural daquela
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Leão Coroado
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Década de 1950 do século 20. O respeitado oluô (sacerdote máximo) Luís de França recebe a incumbência de dirigir uma brincadeira de carnaval, que havia sido fundada pelo pai, um africano exescravo. O brinquedo era o Maracatu Leão Coroado. Morto um dos coordenadores, corria-se o risco de não haver quem o substituísse. Herança de família e de tradição religiosa, o baque virado daquela nação nagô precisava continuar. Desafio aceito, a vigorosa liderança de seu Luís proporcionou aos brincantes manter a atividade ininterrupta desde 8 de dezembro de 1863, data considerada como a de fundação, apesar de a memória oral indicar a possibilidade de o Leão já existir desde 1852. Mesmo mantendo-se a dúvida quanto ao marco fundador, o contexto político e social no qual nasce o grupo é marcado pelo debate em torno da abolição da escravatura e os maracatus eram folguedos de negros escravos. Ressalte-se, ainda, que, no Recife, o dia 8 de dezembro é dedicado a Iemanjá e a Nossa Senhora da Conceição, esta última, a representação católica, no sincretismo religioso, daquele orixá do culto nagô e padroeira da grande festa do morro, que acontece anualmente na mesma data, em Casa Amarela.
Componentes da bateria do Maracatu Nação Leão Coroado Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0111)
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Seu Veludinho, batuqueiro do Maracatu Nação Leão Coroado, e Dona Joana Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0495)
Seu Veludinho e batuqueiros do Maracatu Nação Leão Coroado, tocando no terreiro do Pai Adão Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0496)
Leão, símbolo do Maracatu Nação Leão Coroado Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0052)
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O líder começou a participar do maracatu quando a sede ficava no bairro da Boa Vista, numa rua que hoje se chama Leão Coroado. Foi membro da Irmandade de São Benedito da Igreja de São Gonçalo da Boa Vista e da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio. Um dirigente desta última, José Luís, foi quem passou ao afilhado Luís de França a direção do folguedo. Daí em diante, o decidido líder passou a cuidar da organização do grupo, das obrigações religiosas e da direção da batucada, cujo baque secular aprendera com o pai e com os avós. Passado por Luís de França, continua mantido o mesmo baque tradicional, conforme garante o babalorixá Afonso Aguiar, que integra o grupo a partir de 1996 e conduz a agremiação desde a morte de França, em 1997.
fotos: Stela Maris Alves Oliveira
Luís de França dos Santos é de 1º de agosto de 1901. Nasceu na rua da Guia, bairro do Recife, filho de Laureano Manoel dos Santos e Philadelpha da Hora. Segundo contava, durante a juventude vendeu jornais ao longo da via férrea, até Palmares, o que o levou a conhecer senhores de engenho e chefes políticos da região. Ganhou muito dinheiro revendendo produtos importados, trazidos nos navios, quando trabalhava de estivador, profissão exercida até aposentar-se. Cresceu no bairro de São José, espécie de gueto de escravos libertos, local onde aconteciam cultos africanos. Guardava na memória a participação intensa em terreiro de candomblé, o Sítio do Pai Adão, em Água Fria, embora a sua iniciação religiosa não tenha acontecido lá. Os pais de santo de Luís de França foram Eustachio Gomes de Almeida e Maria Júlia do Nascimento, a Dona Santa do Maracatu Nação Elefante.
Mestre Luís de França, na residência, bairro de Água Fria
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Na função de rei e rainha, o Leão Coroado teve Estanislau, João Baiano, José Nunes da Costa, José Luís, Gertrudes Boca-de-Sola, Martinha Maria da Conceição e Dona Santa. Esta última, uma das mais imponentes rainhas de maracatu, filha e neta de africanos, marcou presença, sobretudo no Maracatu Nação Elefante. As calungas são pretas, de madeira, e existem desde a fundação do grupo: uma delas representa Oxum, é Dona Clara; a outra, que representa Iansã, chama-se Dona Isabel. Durante mais de quatro décadas – provavelmente de 1954 até a morte, em 3 de maio de 1997 – o mestre Luís de França guiou o grupo com dedicação extremada, a ponto de provocar elogios da pesquisadora norte-americana, antropóloga Katarina Real, que, no início dos anos 1960, realizou pesquisa sobre o folclore no carnaval do Recife. À época, Katarina considerava o Leão Coroado a única legítima nação de maracatu ainda existente. São desse período diversos troféus conquistados pela agremiação.
Stela Maris Alves Oliveira
Em outubro de 1996, França convida Afonso Gomes de Aguiar Filho para sucedê-lo na liderança do grupo. Após amargar uns anos de isolamento e consequente retração do maracatu, o filho de Xangô acerta em adotar a sugestão do presidente da Comissão Pernambucana de Folclore, pesquisador Roberto Benjamin, quanto à indicação de Afonso Aguiar, que, desde então, tem conseguido realizar importantes viagens e apresentações em São Paulo, Santa Catarina, no Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, França, Holanda, Bélgica, Suíça, Espanha, Itália, Timor Leste, Ilhas Canárias. A comemoração dos 140 anos, em 2003, foi marcada pela gravação de CD, ao vivo, com as toadas tradicionais do grupo. Voltando, ainda, a 1997, o mesmo ano da morte
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de Luís de França, em 22 de dezembro é instituído o Dia Estadual do Maracatu: pela Lei 11.506, fica escolhido o 1º de agosto, em homenagem à data de nascimento daquele mestre. Nascido na Campina do Barreto, Recife, em 15 de março de 1948, o mestre Afonso comanda há mais de 20 anos um terreiro em Águas Compridas, Olinda, para onde transferiu a sede do maracatu e todo o acervo do grupo. Ao longo do ano, desenvolve dinâmica de ensaios, aulas de percussão e toque de candomblé, oficinas de feitura e manutenção dos instrumentos musicais, de confecção do vestuário do maracatu, além de outras atividades educativas, como a preparação de um corpo de baile de danças afro. Todas as ações, tanto as preparatórias ao Carnaval quanto as pedagógicas envolvem continuamente a comunidade, sob a coordenação geral de Afonso Aguiar, que, inclusive, tem comandado oficinas de percussão e de confecção de instrumentos no Brasil e no exterior, a exemplo do Festival do Caribe, em 2009, na cidade de Santiago de Cuba. Seguidor fiel do mestre Luís de França, empolgado com a repercussão do primeiro CD e preocupado com a manutenção do grupo, o dedicado Afonso anuncia que o master do segundo disco está pronto e que as comemorações do sesquicentenário já estão sendo planejadas. Na primeira edição do Prêmio Cultura Viva (2005/2006), do Ministério da Cultura, o maracatu foi uma das iniciativas contempladas, na categoria manifestação tradicional. A partir de maio de 2008, o grupo é transformado em Ponto de Cultura. Instalado no mesmo endereço da sede do maracatu, lá funciona um telecentro, com cursos básicos de informática e acesso 24 horas à internet, para atendimento de demandas da comunidade, em todas as faixas etárias. Com firmeza, o mestre mantém rotina semanal de ensaios e de trabalho. A triagem de novos integrantes obedece a exigentes normas de conduta social. Provavelmente, o sucessor das tradições do terreiro e do maracatu será Afonsinho, o neto nascido em 1997, que toca nas obrigações da seita e tem comandado, quando necessário, a batucada do maracatu. Entretanto, como frisa o mestre Afonso, o Leão Coroado é mais religião do que carnaval. Com as bênçãos todas de Olorum, eguns e orixás.
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Maracatu Nação Elefante: Rainha Dona Santa, acompanhada de rei, soldado romano e dama do paço com a calunga Emília Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0101)
Elefante, símbolo do Maracatu Nação Elefante Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0491)
Rainha Dona Santa Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0104)
Corte do Maracatu Nação Elefante, na própria sede Foto de Katarina Real
Caboclo do Maracatu Indiano Foto de Katarina Real
Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0103)
Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0492)
Objetos do Maracatu Nação Elefante: calunga, coroa, troféu, instrumentos Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0106)
Festa na sede do Maracatu Indiano Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0112)
Interior da sede do Maracatu Leão da Aldeia Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0487)
Rei e rainha do Maracatu Pórtico do Oriente Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0286)
Sede do Maracatu Leão da Aldeia Foto de Katarina Real Acervo Fundação Joaquim Nabuco (2-KR-0486)
Referências
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SIBA & BARACHINHA NO BAQUE SOLTO SOMENTE. Nazaré da Mata, julho de 2003
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