Bruno - Análise à luz da Psicologia Social

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brĂźno anĂĄlise Ă luz da psicologia social pedro monteiro fonseca | sociologia


Introdução

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O filme

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Categorias da matéria leccionada a serem abordadas

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Análise do filme

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Bruno entrevista Paula Abdul

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Bruno nas ruas do Médio Oriente

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Bruno vai a um Talkshow

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Bruno “adopta” um bebé

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Bruno no exército

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Conclusão

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Bibliografia

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Introdução Neste trabalho é feita uma análise ao filme Bruno à luz das matérias do campo da psicologia social. O trabalho realizado no âmbito da disciplina de Psicologia Social da Licenciatura em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O filme Bruno é um filme com traços de documentário realizado por Larry Charles que mostra a odisseia invulgar de um homossexual austríaco que tem por fim ser o mais famoso austríaco do mundo. A personagem principal, Bruno, é interpretada pelo actor britânico Sacha Baron Cohen – conhecido por ter criado outras personagens bastante polémicas como Ali G e Borat. Bruno é um conhecido jornalista de moda na Áustria; tem um programa de televisão muito famoso chamado Funkyzeit que diz ser “o mais importante programa televisivo de moda de todos os países de língua Alemã. Excepto a Alemanha.”1. No entanto, depois de um episódio embaraçoso na semana de moda de Milão, Bruno ficou com a sua reputação manchada. Foi despedido do seu próprio programa de televisão e foi excluído da roda dos mais famosos do seu país. É abandonado por todos menos por Lutz (Gustaf Hammarsten), o assistente de um dos seus assistentes nos tempos de apresentador de Funkyzeit. E aqui começa toda a trama central do filme: Bruno decide ir para Los Angeles a fim de se tornar um celebridade! Lutz segue-o nesta aventura. Já nos Estados Unidos da América (EUA), Bruno, na tentativa de se tornar mundialmente famoso, reinventa-se sucessivamente chegando mesmo, por diversas vezes, a tentar tornarse em alguém muito distante de quem realmente era. Desde tentar ser actor à tentativa de se tornar heterossexual, desde adoptar um bebé de origem africana porque Madona tinha um e Angelina Joli tinha um até tentar resolver o conflito israelo-palestiniano, Bruno faz tudo para se tornar uma celebridade.

Categorias da matéria leccionada a serem abordadas Neste filme, é possível analisar vários aspectos relacionados com a matéria leccionada na disciplina de Psicologia Social durante este primeiro semestre. Assim, os pontos que proponho analisar, identificando-os claramente em cenas do filme e aplicando os conceitos leccionados, são: • Cognição Social; • Teorias da Atribuição; • Técnica do “Pé na Porta”; • Identidade; • Identidade Social; 1

No original, “(..) the most important TV fashion show in any German-speaking country. Apart from Germany.” 1


• Identidade de Género; • Teoria dos Papéis; • Teoria da Dissonância Cognitiva; • Pertença Grupal; • Identificação com o Grupo; • Teorias Implícitas da Personalidade; • Estereótipo; • Comparação Grupal;

Análise do filme Bruno entrevista Paula Abdul QUADRO TEÓRICO DA CENA • Teoria do pé na porta; • Teoria da Dissonância Cognitiva; • Pertença Grupal; • Identificação com o Grupo; A dada altura do filme, Bruno inicia um projecto de entrevistar celebridades dos EUA. Depois de várias recusas, Paula Abdul (conhecida por ser cantora pop, escritora de letras para músicas, produtora musical e, mais recentemente, jurada do programa American Idol) aceita ir à entrevista com Bruno, cujo objectivo, como não poderia deixar de ser, era tornar-se ele próprio numa celebridade. Para realizar a entrevista, Lutz, o seu assistente, encontra uma vivenda onde eles poderiam então gravar a entrevista. No entanto, quando Bruno chega ao local apercebe-se que não há qualquer tipo de mobiliário no interior. Estão já em cima da hora da entrevista e sem muitas opções viáveis para solucionar este problema. Bruno olha para o jardim onde estão alguns indivíduos mexicanos a tratar do jardim e tem uma ideia que os fará ganhar mais dinheiro: eles vão fazer de mobília! Quando Paula Abdul chega para entrevista, Bruno recebe-a, convida-a a entrar e diz: Venha sentar-se na nossa mobília fantástica! 2 A “mobília fantástica” a que Bruno se referia era então um grupo de homens mexicanos postos conforme cadeiras e mesas onde Paula Abdul e ele próprio se teriam que sentar durante a entrevista. E, pasme-se, Paula Abdul senta-se mesmo num dos homens mexicanos e começa mesmo a responder à primeira das perguntas de Bruno sobre o trabalho humanitário. O tópico da matéria que podemos aqui verificar é a Teoria do “Pé na Porta”. Assim, o que potencia e talvez explique a atitude de Paula Abdul é o facto de, ao aceitar ir à entrevista com Bruno, Paula Abdul ter assumido um compromisso. Esse compromisso ficou ainda mais vincado quando Paula entra no local da entrevista, a casa. Posteriormente, ao deparar2

No original, “Come and sit on our great forniture!” 2


se com a situação de homens mexicanos a simularem cadeiras onde teria que se sentar, Paula Abdul está já presa pelo compromisso assumido com Bruno. Então, torna-se desconfortável cognitivamente para Paula Abdul rejeitar aquela situação, de tal forma que acaba por sentar-se em cima de um dos homens e iniciar a entrevista, mesmo sendo isso algo que logicamente reprovava e que lhe causava claramente incómodo. Outro ponto que pode ser focado aqui e que a meu ver pode também ter sido importante na aceitação e passividade de Paula Abdul perante a situação que se lhe apresentara, é a necessidade de pertença grupal e a identificação com o grupo. Quando Paula Abdul está a entrar na sala e se depara com a estranha mobília, Bruno diz, referindo-se ao “mobiliário mexicano”: “Demi Moore tem dois destes em casa.”3 Demi Moore é também ela um celebridade no EUA. Podemos inferir que o facto de Bruno ter dito que a própria Demi Moore teria aquele tipo de mobília em sua casa, poderá ter despoletado em Paula Abdul uma maior aceitação da bizarra situação que lhe é apresentada por se identificar de alguma forma com uma celebridade de Hollywood, Demi Moore. Ainda nesta cena, é possível fazer também uma análise centrada nas atitudes, abordando a teoria da dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva pode ocorrer quando “a pessoa se comporta de forma incoerente com as suas atitudes” (DeLamater et al., 2005:183). No final da cena, Paula Abdul não aceita mais aquela situação e retira-se da sala de forma abrupta. Este comportamento pode então ser explicado por a sua dissonância cognitiva ter superado o efeito do compromisso que antes foi abordado. Sendo a atitude um estado mental que traduz uma predisposição comportamental (DeLamater et al., 2005:172), Paula Abdul ao aceder à proposta de Bruno e sentar-se sobre as costas de um homem mexicano, está obviamente numa situação de comportamento contra-atitudinal – o comportamento que está a ter não condiz com o seu quadro de valores que lhe indica uma atitude em relação àquela situação. Assim, por não ter na entrevista com Bruno o incentivo ou recompensa suficiente para o envolvimento no comportamento contra-atitudinal, Paula Abdul rompe com a situação e termina a entrevista.

Bruno nas ruas do Médio Oriente QUADRO TEÓRICO DA CENA • Cognição Social • Teorias Implícitas da Personalidade • Estereótipo Em busca de fama, Bruno tem agora um novo plano que o tornaria definitivamente uma celebridade: resolver o conflito israelo-palestiniano. Para isso, Bruno dirigi-se até ao Médio Oriente onde se encontra com Yossi Alpher, ex-líder da Mossad – Agência de Inteligência

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No original, “Demi Moore has two of them in her house.” 3


Israelita e Ghassan Khatib, ex-ministro palestiniano. No entanto, antes desse encontro, algumas cenas do filme são gravadas com Bruno a passear nas ruas de países do Médio Oriente vestido de forma provocatória. Nas cenas do filme vemos que a população local olha de lado a figura de Bruno. Há mesmo, a dada altura, um grupo de indivíduos que perseguem Bruno correndo pela rua atrás dele. Os pontos da matéria leccionada que podemos aqui identificar são referentes à Cognição Social, a saber: Teorias Implícitas da Personalidade e ainda Estereótipos. Tendo por base processos de cognição social, podemos deduzir desta cena o papel das teorias implícitas da personalidade (TIP). As TIP correspondem a “crenças gerais que alimentamos a propósito da espécie humana, nomeadamente no que concerne à frequência e à variabilidade de um traço de carácter na população” (Leyens, 1985). Sobre as TIP pode ainda dizer-se que transportam consigo uma noção de matriz de correlação ou coocorrência. Ora, nesta cena é possível inferir que a grande maioria dos populares que assistiram ao “desfile” ostensivamente provocatório de Bruno nas ruas daquela região activaram processos que têm por base as TIP. Assim, vendo Bruno e fazendo sobre ele uma categorização de acordo com aquilo que observavam durante poucos segundos, os populares inferiram indutivamente uma série de comportamentos, traços de personalidade e características atitudinais que esperavam que fossem intrínsecas a Bruno. Uma fase importante da cognição social é a formação de impressões. Este processo tem por fim a categorização. Estamos numa abordagem ao nível da cognição e portanto, a formação do pensamento, dos valores, as representações simbólicas que possuímos determinam fortemente a forma como processamos a informação que nos é disponibilizada. Assim, diferentes culturas implicam diferentes formas de formar impressões e consequentemente, diferentes categorizações formadas. O que num país como os EUA seria possivelmente tolerável e até passaria despercebido a alguns transeuntes – já no país existe uma “ampla variedade de estereótipos relativos a diferentes grupos raiciais (...), grupos religiosos (...) e étnicos (...)” (DeLamater et al., 2005:133) – em culturas como as dos países do Médio Oriente não é de todo socialmente aceite. Assim se explica a forma como a população olhava para Bruno, categorizando-o rapidamente ainda que possuindo informação mínima sobre ele. Ora, isto remete-nos para o conceito de estereótipo – esquema que comporta um conjunto de características atribuídas a todos os integrantes de um um grupo específico ou alguma categoria social específica (McCauley et al., 1980; Taylor, 1981apud DeLamater, 2005). É curioso ainda perceber no desenvolvimento da cena um processo evolutivo desde o estereótipo até à discriminação. Sendo que o estereótipo tem uma missão essencialmente descritiva, esse é a primeira reacção visível durante a cena nas expressões dos populares: o reconhecimento de alguém que caberia num determinado estereótipo; seguidamente, algumas expressões faciais fazem perceber um sentimento de reprovação sobre a forma como Bruno estava vestido: estamos perante a activação de preconceito que tem por sua 4


vez uma dimensão afectiva ou avaliativa; finalmente, vemos que há um grupo de populares que persegue Bruno: aqui há um salto para o campo da discriminação, um dimensão comportamental.

Bruno vai a um Talkshow QUADRO TEÓRICO DA CENA • Teoria da Atribuição Cortesia do seu assistente Lutz, Bruno consegue ter o seu momento como entrevistado num Talksow na televisão americana, Today with Richard Bey, onde é apresentado como sendo um pai solteiro. Com o decorrer da entrevista Bruno deixa transparecer que é homossexual e começa aí a discórdia e confronto com o público. Depois de algumas perguntas, Richard Bey, o apresentador do programa, convida Bruno a trazer para o programa o seu filho 4. Aquando da entrada do bebé em cena, toda a plateia expressa audivelmente o seu espanto e pasmo perante o que vê: Bruno vestira o seu filho com roupas pouco comuns para um bebé e claramente pensadas para chocar a plateia; na camisola (ou top...) que vestira ao bebé podia ler-se “Gayby”. Há suas das situações em que o público manifesta o seu desagrado e reprovação com mais veemência: primeiramente, por Bruno afirmar que conseguiu o seu filho trocando-o em África por um iPod; em segundo lugar, quando Bruno afirma que deu ao seu filho um nome tradicional africano: O. J.5 . Depois de a audiência perceber toda a situação de Bruno, que envolvia também a “adopção” do bebé, é possível verificar nas intervenções que o público faz durante o programa uma forte presença de dimensões que nos remetem para a teoria da atribuição. A atribuição visa o processo que o observador utiliza para inferir as causa do comportamento de outra pessoa. A atribuição pode ser então disposicional ou situacional. Na atribuição disposicional, determinado comportamento ou situação é explicada pelo estado interno do indivíduo e pelas características que lhe são próprias (DeLamater et al., 2005:155). Na atribuição situacional são focados factos do ambiente que rodeia esse indivíduo para explicar o seu comportamento ou situação, isto é, as causa são, desta feita, externas ao indivíduo (DeLamater et al., 2005:155). As afirmações que ouvimos durante a cena do filme Bruno são claramente marcadas por uma atribuição disposicional. A título de exemplo, cito a intervenção de um elemento da plateia: “Acho que está a usa-lo como um acessório [referindo-se ao bebé]. Acho que talvez por ser um bebé negro essa possa ser a sua forma de “meter conversa”, tal como algumas pessoas passeiam no jardim com os seu cães para “engatar miúdas”, essa pode ser a sua forma de “meter conversa” e “engatar” talvez um

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Bruno, numa viagem que fez a Africa, tinha trazido consigo um bebé de raça africana que “adopta” como sendo seu filho. O nome O. J. remete para O. J. Simpson, um conhecido ex-jogador de futebol americano na NFL, cuja história judicial contém várias acusações de assassinatos (incluindo o da sua própria esposa) e crimes de violência. O. J. Simpson foi mesmo condenado a 33 anos de prisão em 2008 por crimes de violência como assaltos à mão armada. 5

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homem casado. Não sei. O que lhe parece?”6 . Esta frase demonstra claramente a preponderância da atribuição disposicional nas intervenções do público. O sujeito que afirma isto, ainda que possa estar certo, está a cometer o erro fundamental da atribuição. Isto é para explicar o facto de Bruno ter “adoptado” um bebé está a sobrevalorizar o peso de causas disposicionais e a subvalorizar o peso de causas situacionais.

Bruno “adopta” um bebé QUADRO TEÓRICO DA CENA • Identidade Social • Identificação com o Grupo • Comparação Grupal Depois da sua experiência falhada de concertar o conflito israelo-palestiniano, Bruno diecide regressar aos EUA. Mas não sem antes passar por África “para fazer umas comprinhas”7 . Mas na verdade, Bruno acaba por trazer de África consigo um bebé. Esta cena desenrola-se no aeroporto na zona de recolha da bagagem que vem no porão. O bebé de Bruno vem no tapete rolante juntamente com as bagagens numa caixa que diz frágil. Quando Bruno tira a pequena criança da caixa e as pessoas que estão à sua volta se apercebem que o bebé teria vindo no porão do avião dentro da caixa o choque é geral! É importante para a análise que pretendo fazer, citar o que afirma Bruno quando se prepara para abrir a caixa e recolher o bebé: “Madonna tem um, Brangelina 8 tem um, agora Bruno tem um”9. Recuperando o desígnio inicial de Bruno, é possível entender o que Bruno pretende com a “adopção” deste bebé: identificar-se com o grupo das celebridades norteamericanas. Um dos determinantes da personalidade de um indivíduo é a participação em grupos sociais específicos. Pode afirmar-se que a identidade social influência a identidade do indivíduo de forma determinante. Ao adoptar este bebé, Bruno está a tentar adquirir características situacionais que o aproximem do grupo social de que pretende fazer parte. Esta acção de Bruno tem sentido uma vez que intuitivamente associamos “certas características a integrantes de grupos específicos” (DeLamater, 2005:105). Ainda sobre identidade social, importa perceber que os grupos sociais são muitas vezes definidos em parte por meio de referência a outros grupos. Também este facto é observável no filme quando Bruno, repetidamente, faz uma comparação social para baixo com o seu assistente Lutz, demarcando-se dele. Desta forma, não só Bruno estava a definir a sua pertença a um determinado grupo evidenciando a distância e um elemento de um outro grupo, como 6 No original, “I think you're using him as an accessory. I think maybe because he's a black baby that might be your cue, like how some people walk in the park with dogs to pick up girls, that might be your cue to get maybe a down-low brother. I don't know. What do you think?” 7

No original, “for a little bit of shopping!” Brangelina é o nome dado pela “imprensa cor-de-rosa” ao casal Brad Pitt e Angelina Joli. 9 No original, “Madonna hat eins, Brangelina hat eins, jetzt Bruno hat eins!” e em inglês “Madona has one, Brangelina has one, now Bruno has one”. 8

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também estava a aumentar a sua auto-estima pela diferenciação que a comparação social para baixo lhes proporcionara. No entanto, ainda que seja válido dizer que há nesta cena uma tentativa de Bruno se identificar com um grupo adoptado para si elementos que pensa serem os característicos desse grupo, há uma outra dimensão bastante importante e que me parece ser a questão de central. Segundo Triandis, “culturas individualistas (como a norte-americana) dão ênfase às realizações individuais e às identidades a elas associadas” (Triandis et al, 1990 apud DeLamater, 2005:106). Atentando para o facto de Bruno referir alguns nomes específicos e não apenas o grupo social a que pertencem (celebridades dos EUA), percebemos a importância das personalidades na representação que Bruno tem de sucesso, factor que tanto procura para si mesmo. Então, percebemos que Bruno não faz apenas um tentativa de se identificar com um determinado grupo social mas também tenta aproximar-se de personalidades de sucesso como Madonna, Angelina Joli e Brad Pitt. Entendo que esta análise é importante uma vez que Bruno está a tentar tornar-se uma personalidade famosa nos EUA, país com uma forte marca individualista onde o foco de atenção está muitas vezes nas características específicas da identidade de uma certa individualidade e não tanto num grupo social (DeLamater, 2005:105).

Bruno no exército QUADRO TEÓRICO DA CENA • Identidade • Identidade de Género Depois de ter sido abandonado por Lutz, Bruno sentia-se desmotivado e sem um plano definido para prosseguir a sua saga em busca da fama que tanto desejava. Bruno andava a vaguear pelas ruas quando viu numa montra de televisores imagens de Brad Pitt, John Travolta e Kevin Spacey. Apercebeu-se de que estas estrelas tinham uma coisa em comum, eram heterossexuais. Então, rapidamente lhe ocorreu uma nova estratégia para se tornar numa celebridade: Bruno iria tornar-se heterossexual! Bruno vai então em busca de ajuda junto do Pastor Jody Trautwein, ex-director da Aliança Contra o Casamento Homossexual de Alabama 10. Jody Trautwien sugere então que Bruno vá para o Exército, local onde estaria rodeado por homens. Chegado ao Exército, é lhe pedido que se vá fardar. Quando Bruno aparece aos seu superiores já fardado, leva um lenço ao pescoço e ainda um cinto Dolce&Gabbana (D&G) que obviamente não fazem parte do fardamento obrigatório.

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Alabama Coalition Against Same Sex Marriage 7


O ponto da matéria leccionada que podemos aqui identificar é a dimensão da identidade e ainda da identidade de género. Bruno tem por objectivo tornar-se heterossexual. Tenta então integrar-se num grupo com profundas marcas de masculinidade: o exército. No entanto, Bruno tenta levar para o grupo algumas características da sua própria identidade: o lenço e o cinto. Este dois elementos são o reflexo da identidade de género. A identidade de género não é necessariamente determinada pela dimensão biológica – o sexo – ou tão pouco pela orientação sexual; mas é sim o fruto de um processo de socialização intrínseco ao indivíduo. Assim, podemos afirmar que nos indivíduos não existe apenas o género feminino ou o género masculino mas sim, que a sua identidade de género é marcada por laivos masculinidades de feminilidades. Na identidade de Bruno, os traços de feminilidade eram notórios e materializavam-se. No ambiente de exército, esse tipo de manifestações não eram aceitas uma vez que as regras desse grupo específico são bastante rígidas e visam até a normalização de todos os indivíduos integrantes do grupo. Assim, Bruno vê a sua tentativa de importação de algumas marcas da sua identidade de género para o exército fracassarem.

Conclusão Neste filme, várias categorias da matéria leccionada em grande parte devido ao comportamento desviante de Bruno em relação à norma social. Bruno é um personagem com um objectivo comum a muitos humanos: ser uma celebridade, ser alguém com sucesso e conhecido mundialmente. Quem nunca pensou em ser assim? No entanto, a peculiaridade de Bruno está na forma como ele procura alcançar a fama. É nessa altura que Bruno se revela como um personagem absolutamente desafiante e que, pela interacção que faz com indivíduos tão diferentes, coloca à vista muitas das categorias da psicologia social que aqui foram abordadas. A psicologia social tem como objecto de estudo a dependência das interacções humanas, algo que, não raras vezes, se julga ser independente e profundamente centrada no indivíduo por ele mesmo. Sacha Baron Cohen ao construir este personagem, Bruno, deixa-nos um excelente microscópio disponível para observarmos a raiz das acções e individuais e a missão da psicologia social:

“compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamentos humanos são influenciados por um outrem real, imaginário ou implícito”. Gordon Allport

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Bibliografia DELAMATER, John D.; MICHENER, H. Andrew; Myers, Daniel J. (2005) — Psicologia social. São Paulo : Pioneira Thomson Learning (Ed), ISBN 85-221-0439-5 NETO, Félix (1998) — Psicologia social. Lisboa: Universidade Aberta (Ed), ISBN 972-674-311-7 LEYENS, Jacques-Philippe (1985) — Teorias da personalidade na dinâmica social. Lisboa : Ed Verbo (Ed)

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