Cartel: uma experiência de formação

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Cartel: uma experiência de formação Silvana Pessoa* Verificamos que o cartel é um pequeno grupo de pessoas que se reúne para realizar um estudo. Esse é o seu ponto de partida, mas não é o ponto de chegada, ou seja, a tarefa que cada um terá que realizar individualmente, que não é sem efeitos para a estrutura e para o sujeito. O que haveria de formativo nesse processo? O conceito de formação implica em um processo aberto de constante transformação. Ao implicar uma pessoa no seu desejo, na sua questão, levá-la até a escrita de um texto, à sua autoria, é uma experiência formativa, pois transforma a relação do sujeito com o saber e com o fazer. Esse processo de formação e transformação não vai sozinho sem o outro, por isso esse trabalho deve ser realizado em uma coletividade. É a sociabilidade exigida na Psicanálise e na educação. Muitas vezes aprende-se mais com quem não tem a pretensão de ensinar, nem sabia que estava ensinando. Outras vezes, se aprende com uma frase feita aleatoriamente. A questão de uma pessoa no cartel pode disparar um interesse ainda não imaginado no outro e isso é que movimenta a trama discursiva, promove rupturas e mudanças na estrutura, que, para nós, sabemos, é discursiva. Nessa multiplicidade de linhas de forças inerentes aos dispositivos e à linguagem é difícil estabelecer de quem é a autoria, porque ela sempre depende do outro. Vale lembrar que Freud, embora fundador, não deixa de indicar, de um modo bem particular, a implicação em suas próprias formulações teóricas daquilo que recebeu de seus mestres e como chegou, a partir disso, a "criar" a Psicanálise; para além das razões pessoais de Freud, parece evidente que continuar atribuindo a procedência da idéia a alguém provém da necessidade de admitir que não se teria chegado a ela sem a participação deste outro. Isso é formativo para todos em qualquer grupo. No cartel, implica-se cada um com o seu nome próprio e daí se extraem as consequências inclusive para o mais-um. Arriscamos dizer que a escrita de um “produto próprio” é no que consiste o caráter formativo presente nos pequenos grupos, especialmente os cartéis. Cada um tem que se responsabilizar pelo seu produto, sua autoria, seu objeto, que terá que colocar no mundo e deixar cair tal como o objeto a no final de uma análise. Mais uma vez isso não é sem efeitos. *

Membro da IF-­‐EPFCL-­‐ Fórum SP


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