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“Para os putos da periferia, somos a história de superação”
Gson, Zara G, Kroa e Zizzy são a “história de superação” de quatro jovens de Vialonga, que saíram do bairro para conquistar um lugar no panorama musical português. Juntos, formam os Wet Bed Gang e preparam-se, agora, para pisar dois dos maiores palcos do país – Campo Pequeno e Super Bock Arena – e para lançar o álbum Gorilleyez. Em fevereiro, chega a nova mensagem do grupo, que continua “a tentar representar melhor todos os putos das ruas e as ruas também”.
O que podem contar sobre o novo projeto?
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Gson – O álbum chama-se Gorilleyez e é a nossa perspetiva e a nossa interpretação daquilo a que gostamos de chamar a selva de cimento, que é a cidade. É a nossa maneira de ver a cidade, a periferia e de observar a vida.
E que mensagem querem transmitir?
Gson – Eu acho que a história que nós queremos contar é um pouco a continuação do último álbum, o Ngana Zambi, que é “Rossi, os teus filhos estão crescidos, estão ‘formados’, estão a ser formados nas ruas”. É passar a mensagem de quatro miúdos que continuam a tentar representar melhor todos os putos das ruas e as ruas também.
Onde é que estes quatro miúdos se conheceram?
Gson – Foi nas ruas, na escola.
Em que momento perceberam que se queriam juntar e criar o Wet Bed Gang?
Gson – Nós, na verdade, já estávamos juntos. Os Wet Bed Gang foram uma consequência da nossa amizade e da vontade de fazer música.
Ao longo de todos estes anos, qual foi o melhor momento para vocês enquanto grupo e artistas?
Zizzy – Para mim, foi aquele patamar de saber que consigo manter a minha casa em dia, estável. Quando percebi que dava para sustentar as nossas casas, que toda a gente conseguia sustentar a sua casa, foi o momento mais alto.
Foi para todos a maior conquista?
Gson – Ya, claro que sim. Como o Zara disse numa entrevista, “sou o mais ballin da família” – saber que estás a sustentar a tua família e a devolver aquilo que a tua cota te deu. Temos todos infâncias parecidas, em que o patriarca é a mãe, e poderes sustentar e devolver essa cena à tua cota é incrível.
E profissionalmente o que vos deixou mais concretizados?
Gson – Tivemos bué coincidências na nossa carreira que foram bué fixes. No Sudoeste de 2017, íamos tocar à mesma hora que o Lil Wayne, estava toda a gente no palco principal e nós íamos atuar no palco secundário. Depois, de repente, o Lil Wayne está atrasado 5h e passa toda a gente do palco principal para o nosso palco. Foi um momento bué fixe.
Kroa – Eu já estava triste porque o Lil Wayne é o meu artista favorito e ele ia atuar na mesma altura que nós. Não poder vê-lo nem poder estar no mesmo sítio que o Lil Wayne e ele ainda lixar o meu show (risos)…
E qual foi o pior momento enquanto grupo até agora?
Zara G – Não me lembro de nenhum. Não tenho mesmo nenhum mau momento assim.
Kroa – O pior momento tem a ver com a criação do grupo. O criador, que é o Rossi, aquele que nos uniu, que uniu os dois bairros, partiu. A partir daí, tornámo-nos o que somos. Foi quando deu o clique: “este legado não pode ir em vão. Tem de ser conhecido, tem de ser falado e tem de ser recordado para sempre”.
Como descrevem a vossa energia em estúdio?
Gson – Eu diria que nós somos bué elásticos. Há muita versatilidade, há muitas energias dentro da energia Wet Bed Gang. Somos bué cenas, tens turn up, tens turn down
E é a mesma energia que passam para o palco?
Zizzy – É a mesma cena, ya, a vida é assim também. Aquilo que passamos para o palco é o que nós somos. No processo criativo, qual é a vossa parte preferida?
Zizzy – Quando o som está feito! (risos) Quando está com a masterização feita e tudo mais.
Kroa – Acho que nós tentamos ser bué despachados mesmo por causa disso. É correr, correr e correr.
E por onde é que começam normalmente? Pela letra, melodia...
Zizzy – É um bocado pelo que começar. Pode começar pelo beat, pode começar por um fazer um refrão ou um fazer um verso.
Gson – Ya, não há nenhuma regra. Se houvesse, nem tinha piada nenhuma.
Com os concertos a aproximarem-se, o que é que estes dois palcos representam para vocês?
Zizzy – Esse vai ser dos nossos melhores concertos. Nem é um concerto, é uma festa. É um show novo, álbum novo, cara toda nova em termos de banda, de imagem, de conceito. É um formato fresh
O que é que gostavam de representar para o país?
Kroa – Para o país, a nível cultural, principalmente para nós, vindos de periferias, sei o que é que nós significamos. Eu tenho a certeza de que seja um jogador, um miúdo que está a tentar ir para um escalão novo ou para uma equipa nova, um pintor, um cozinheiro que vai para um restaurante novo, Wet Bed Gang significa uma história de superação, de trabalho árduo, de quatro miúdos que, do nada, conseguiram chegar lá. E eu acho que é esse o nosso maior exemplo para o país, a nível cultural. Mas era importante que a cultura abraçasse, e quando falo de cultura falo das pessoas que estão à frente da cultura, estes miúdos da mesma forma que nós abraçamos a cultura. Porque nós levamos a cultura para um sítio que não é muito fácil.
Gson – Eu acho que o país depois está dividido, há várias caras do país. Há a cara dos jovens da periferia, mas depois também há a cara dos miúdos da elite, e nós representamos coisas diferentes para essas várias identidades. Para os putos da periferia, Wet Bed Gang é isto, é a história de superação. Para os promotores Wet Bed Gang, foi muitas vezes sinal de mais dinheiro, o que é bacano porque eles vão convidar mais vezes. Assumimos caras diferentes para o tipo de português a quem estamos a chegar e isso, para nós, é bué fixe.
Zizzy – Somos de uma altura em que o hip hop, o rap e todo esse mundo era muito associado a bandidagem. Sempre que se falava de rap era nesse sentido: de bandidagem e de coisas más. E os cotas, os nossos mais velhos, já fizeram um percurso muito fixe para tentar limpar essa conotação. Mas acho que fazemos parte de altura de transição, no panorama musical. Nós somos daquela geração em que conseguimos dizer aos putos “faz o que tens a fazer, mas para chegares a um caminho fixe”. Antigamente, acho que havia mais essa cena de “um gajo tem de se desenrascar como for e somos todos o Pablo Escobar”. Mas não é assim. Estamos numa altura de transição e representamos essa mudança de mentalidades. Estamos a tentar meter o hip-hop numa cena fixe, mais abrangente – nós e mais gente.
E como é a vossa ligação com esses miúdos do bairro?
Zizzy – Muitos deles são filhos ou primos ou sobrinhos de pessoal que nós conhecemos.
Gson – Aqueles putos somos nós. Antes, as opções eram um bocado limitadas – ou estudas e provavelmente não vai correr muito bem, porque és um puto do bairro e da periferia, ou jogas à bola e se calhar corre bem, ou então és bandido. Nós “inventámos” mais uma opção e representarmos isso para eles é bué fixe. Está aqui mais uma saída e sinto que é assim que eles nos veem.
E que mensagem gostariam de deixar aos jovens?
Zizzy – Tenham sonhos, sonhem, mas sejam racionais também. Nem todo o mundo tem que cantar. Se a tua cena for mesmo música, se fores mesmo bom e no teu interior achas que consegues, então vai. Se é ser pedreiro, então vai.
Kroa – Mas vai a sério! Atirar-te ao mar para seres um Phelps. (risos) Zara G – Sucesso, muito sucesso. Gson – Todos os sonhadores são antigravidade. Essa é a minha mensagem.
Alguma coisa mais que queiram dizer?
Zizzy – Gorilleyez , dia 25 de fevereiro no Campo Pequeno e 4 de março na Super Bock Arena.
Kroa – Melhor show que vai acontecer. E o álbum vai sair poucos dias antes disso!