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«É essencial representar os estudantes e partilhar a sua voz »

Aos 16 anos, a estudante do 11.º ano Maria Francisca Coelho foi eleita líder do conselho consultivo dos alunos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). A aluna do Agrupamento de Escolas de Alcanena conta-nos como surgiu esta oportunidade e partilha as suas expectativas para o trabalho que agora se avizinha.

No início de março, foste eleita ser líder do conselho consultivo dos alunos da OCDE. Como surgiu esta oportunidade?

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O Agrupamento de Escolas de Alcanena foi convidado para participar na pré-cimeira Transforming Education Summit, da UNESCO, em Paris, em junho do ano passado, e fui eleita para representar o nosso agrupamento nesse evento. Destaquei-me pelas minhas interações e, em setembro, já durante a cimeira, em Nova Iorque, o ministro da Educação, João Costa, e os seus adjuntos, pediram-me para fazer parte de um painel onde eu falaria sobre como nós, estudantes portugueses, podemos contribuir para ajudar a transformar a Educação.

Acho que me saí lindamente (risos), de tal forma que os membros da comitiva me disseram que tinha perfil para me candidatar a esta posição na OCDE. Quando as inscrições abriram, fiz o meu pitch, tal como outros alunos de vários países, e acabei por ser escolhida. Quando soube, senti o peso da responsabilidade, mas senti também que é uma grande oportunidade.

Em que consiste esta estrutura da OCDE? Quais vão ser as tuas funções?

O projeto Educação 2030 da OCDE está dividido em vários grupos – políticos, professores, parceiros sociais e alunos. Este conselho consultivo dá pareceres e colabora com a adminis- tração do projeto. Sou a líder de um grupo de 5 estudantes de vários países. Quanto às minhas funções, faço a ponte de comunicação entre os estudantes do mundo e a OCDE. Participo em reuniões com os administradores do projeto, crio eventos e estou em contacto direto com os estudantes. Faço essa ponte, essa interligação, essa coagência, que é essencial, ao representar os estudantes e partilhar a sua voz.

O que significa para ti esta oportunidade?

Significa imenso. Todos os meus antecessores eram maiores de idade. Comecei as minhas intervenções em Nova Iorque com 15 anos, por isso, tudo isto é algo surreal para mim. Adoraria conhecer outros países, outras culturas e realidades, tendo a oportunidade de ter uma voz ativa sobre temas que são importantes para os jovens e a que talvez não seja dada a relevância devida, nomeadamente no que diz respeito à Educação.

Quais são alguns desses temas?

Penso que são temas ligados aos desafios do novo século, como a imprevisibilidade, a necessidade dos jovens de estarem preparados para uma realidade distinta de todas as outras, que nenhum de nós conhece. A instabilidade do mundo, as pandemias, as previsíveis faltas de recursos e alimentos, a poluição e as alterações climáticas são alguns exemplos. A Educação deve tentar preparar os estudantes para estas dimensões, para serem parte das soluções para estes grandes problemas, sendo eles próprios uma fonte de inspiração para que existam estas mudanças no mundo.

No caso da realidade portuguesa, há alguns temas específicos em que penses ser especialmente importante ouvir a voz dos estudantes?

Há muitos alunos que se queixam da carga horária, da inevitável pressão que se coloca sobre os estudantes. Também o facto de existirem temas que são importantes de discutir, direcionados para o nosso futuro, para o nosso emprego, daquilo que precisamos de saber para que possamos sair das nossas casas de um dia. Penso que será por aí que acabarei por trabalhar.

Que impacto esperas que o teu trabalho tenha na vida dos estudantes, nomeadamente em Portugal?

Quero trazer mais alunos para esta causa. Quero trabalhar em rede, para criar um fórum de discussão global que vise abordar os tópicos ligados à Educação que são importantes para a vida dos estudantes. Como é que queremos aprender? Como é que devemos aprender e viver enquanto estudantes? Como podemos mudar a Educação?

E qual pode ser a forma de trazer mais jovens para essas causas?

Posso dar um exemplo aqui de Alcanena. Há uns anos, nós, estudantes, fizemos um protesto contra a polui - ção. Todos nos vestimos de preto, utilizando cartazes chamativos para mostrar que não estávamos contentes com o impacto que a poluição tinha na nossa vida. Sinto que, se conseguirmos arranjar forma de fazer uma ponte entre os problemas do mundo e os interesses dos estudantes e dos jovens em geral, será mais fácil chamar jovens, aumentando o seu espírito crítico, argumentativo e capacidade de empatia, para que tentem, uns com os outros, resolver estes problemas e arranjar cada vez mais soluções.

Há alguma mensagem que queiras deixar aos estudantes portugueses?

Gostaria de dizer que, mesmo que sintamos que não estamos na posição correta para ajudar, é sempre possível contribuirmos um pouco para grandes mudanças. Pode parecer um pouco cliché dizer que pequenas ações fazem grandes ações, mas isso é, de facto, verdade. Se todos interiorizarmos isto, vamos percebendo, ao longo do tempo, enquanto pessoas e cidadãos, como podemos ajudar-nos mutuamente, algo que é essencial no contexto atual.

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