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«A beleza da música portuguesa é que tem uma variedade gigante»

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Um inovador que junta diferentes universos para formar o seu próprio, Pedro Mafama conversou com a FORUM sobre o seu segundo álbum Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente, que é lançado durante o mês de maio. O artista promete continuar o estudo da música portuguesa, mas com menos foco no passado e na melancolia que caracterizaram o seu primeiro trabalho. Desta feita, o foco é o presente, o baile e a alegria que também fazem parte da paleta musical do nosso país: “A beleza da música portuguesa é que tem uma variedade gigante e então podes estar sempre a descobrir novos universos que ainda não conhecias”.

O teu novo álbum Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente surge numa altura em que a tua carreira se encontra mais cimentada. Quais são as tuas expectativas em relação a este novo lançamento?

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Estou muito feliz porque sinto que estou a continuar a minha pesquisa e a continuar aquilo que é a linha do meu trabalho, mas com referências musicais completamente diferentes. Em vez de continuar a procurar o nosso passado como cultura portuguesa para o trazer para os dias de hoje, agora, estou mais à procura do presente. Isso deve-se também ao facto de eu ter feito muita estrada nos últimos dois anos. O Por Este Rio Abaixo foi feito por alguém que não estava na melhor fase da sua vida, mas, ao mesmo tempo, foi um disco que me levou a celebrar pelo país fora, de festival em festival. Este novo trabalho surge da celebração que aconteceu na estrada e na minha vida nessa altura. Entretanto, estou numa fase diferente. Estou feliz, estou realizado, num estado de espírito completamente diferente. Enquanto que o Por Este Rio Abaixo era eu a afundar-me pelo rio abaixo, literalmente, este novo disco é uma celebração do início ao fim.

Referiste as tuas várias influências. Como é que fazes essa pesquisa normalmente?

Sou uma pessoa que faz muita pesquisa, quer seja passar dias numa biblioteca ou perder-me em rabbit holes na Internet. Ultimamente, para além desta pesquisa mais solitária em livros e online, tenho estado fisicamente nos sítios. De norte a sul, tenho podido conhecer as coisas fisicamente, contactar com pessoas e conhecer as suas referências musicais.

Como é que é o processo de transformar algo que é, muitas vezes, local ou regional e dar-lhe uma roupagem mais global? Como é que capturas esse feeling para a tua música?

Por vezes, é difícil e é sempre muito demorado. É um jogo de pegar nos elementos que mexem comigo e separar dos elementos que já não são tão apelativos para mim ou para o público em geral. É uma questão de olhar para uma música, perceber aquilo que a torna interessante e compreender o que a separa dos géneros populares e a torna, de certa mais no presente do que no passado. No Por Este Rio Abaixo os vídeos e algumas fotografias eram a preto e branco, por exemplo. Este disco é sobre o presente, ou seja, já me vais ver a vestir Armani no videoclip ou a usar polos mais futuristas. Escolhi também uma tipografia mais futurista para o primeiro single, o Estrada Estou a tentar criar uma estética que acompanhe esta música de baile, que no fundo é o conceito central do álbum, e tentar trazer a minha estética para o presente. forma, antiga. Fazendo esta seleção, conseguimos transportar os géneros musicais para o presente e para o futuro.

Esse é um processo em que te envolves muito?

Sim, sem dúvida. Tenho pessoas que me ajudam, claro, e que são essenciais para encontrar as coisas certas e para executar as coisas da melhor forma. Mas parte muito de pesquisas e referências minhas. Contudo, neste disco também estou a tentar soltarme de estar sempre à procura de referências para tudo. Por exemplo, para este primeiro clip do Estrada, não utilizámos quaisquer referências para o vídeo. Estou a começar a experimentar, por vezes, só fechar os olhos, seguir em frente e fazer alguma coisa só porque me apetece e não porque passei três meses a pesquisar aquilo. A espontaneidade também é uma das coisas novas deste disco.

Tens também uma identidade bem construída a nível da roupa, dos vídeos ou dos concertos. De que forma é que estás a construir este universo “Pedro Mafama” para este teu novo disco?

Estou com a preocupação de estar

E sendo tu também alguém que já pesquisou muito sobre música portuguesa e, como referiste, até já viajou por Portugal inteiro para a conhecer em primeira mão, como é que definirias o que é a “portugalidade” na música? É um bocado difícil. Se me fizesses essa pergunta no álbum passado, eu diria que era uma melancolia, um arabesco nas melodias e percussões fortes, às vezes quase de influência africana ou com uma sonoridade a apontar para esse universo. Neste momento, eu já te digo que é outra coisa. Agora estou a descobrir – ou a voltar a encontrar-me – com um lado da música portuguesa que é completamente feliz. A música de baile, as marchas, a rumba portuguesa.... Estou a descobrir que não há regras. Aqui estava eu a pensar, no projeto passado, que a música portuguesa que eu gostava era melancólica e feita em escala menor e, agora, para mim, a música portuguesa é alegre e para dançar. A beleza da música portuguesa é que tem uma variedade gigante. Podes estar sempre a descobrir novos universos que ainda não conhecias.

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