Abrente numero 54

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Vozeiro de Primeira Linha

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Ano XIV • Nº 54 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2009

Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Apologia do terrorismo?

Editorial Como parte do imaginário estival do panorama desinformativo que os meios de comunicaçom da burguesia impugérom nas derradeiras décadas, acrescentou-se mais um recurso à táctica de deformar, ocultar e maquilhar a realidade como eficaz mecanismo para adormecer as consciências. Referimo-nos à promoçom, durante as férias de Verao, de intranscendentes e banais sucessos que contribuem para edificar a tam edulcorada como virtual harmonia social intrínseca ao sistema. Porém, nesta ocasiom nom vamos seleccionar, e portanto abordar, as mais destacadas pérolas da vulgaridade com que fomos bombardeados nos meses recentes. Muito ao contrário, queremos denunciar as repugnantes declaraçons realizadas publicamente por duas figuras destacadas do actual regime espanhol. Nos primeiros dias de Agosto, o actual inquilino do Palácio Real solicitou, sem matizes e com o sublime estilo que o caracteriza, a utilizaçom da força bruta para acabar com a esquerda independentista basca. Juan Carlos I de Bourbon e Bourbon manifestou no interior de umha base militar que “há que dar-lhes na cabeça e acabar com eles”. Assim de claro, preciso e contundente, o rei espanhol dava luz verde para que o autodenominado “Estado de direito” continue a empregar os métodos herdados dos piores manuais e práticas dos estados terroristas e criminosos, na hora de combater a dissidência. Desconhecemos se esta ideia é dele ou foi escuitada da boca do seu amigo Bush a partir das receitas implementadas pola CIA em Guantánamo e Abu Ghraib. O que sim sabemos é do silêncio de Rubalcaba e dos super-juízes da “Audiência Nacional”. Semelha que os esgotos do regime nom som constitutivos de delito de apologia do terrorismo. Dias depois, o presidente desse sindicato do crime chamado CEOE solicitava sem rubor a reduçom dos salários submetidos aos convénios colectivos. Gerardo Díaz Ferrán, quem também se atreveu a afirmar que os incrementos salariais entre 0% e 1% som “generosos”, contribuia assim para procurar singulares soluçons à grave crise económica capitalista. O patrom dos patrons, com o seu estilo incisivo, gélido e politicamente incor-

recto, nom se somava assim ao hipócrita corifeu de declaraçons em prol de aplicar medidas de austeridade com que políticos e altos cargos pretendem arrefecer a indignaçom popular, nem às operaçons propagandísticas contra a corrupçom municipal imprescindíveis para legitimar o sistema. A teórica moderaçom ou congelaçom salarial, que acabou de aprovar o parlamentinho autonómico seguindo as dinámicas acordadas em Madrid, é umha autêntica estafa. A reduçom de 1% do salário de um/umha trabalhadora média numha conjuntura caracterizada polos baixos salários e a perda acelerada de direitos laborais é umha burla quando o número “dous” do BBVA acaba de abandonar o seu posto directivo em troca de umha pensom vitalícia de 3 milhons de euros anuais! Na Galiza, o cerca de meio milhom de pensionistas, –após terem deixado a saúde e os melhores anos da vida a trabalhar para a burguesia– recebe umha reforma média de 704 euros. Que José Ignacio Goirigolzarri, como ex-alto directivo da grande banca espanhola, ganhe por ano 334 vezes mais que do um pensionista galego nom é um caso isolado. É a berrante realidade desta sociedade injusta onde a grande burguesia quer manter os seus obscenos lucros empobrecendo ainda mais a classe trabalhadora, basicamente as suas fracçons mais vulneráveis. Embora tímidas vozes governamentais tenham questionado esta jubilaçom dourada para simplesmente aparentar coincidir com a indignaçom geral, os salários da casta política continuam situados em realidades inatingíveis para a classe trabalhadora. Entre 90 e 120.000€ anuais recebem Zapatero, Feijó, os seus ministros e conselheiros, vogais do CGJP, do Tribunal Constitucional, director de SOGAMA, da CRTVG, assim como presidentes de Cámara de cidade e vilas deste país. Todo funciona com base numha lógica muito simples: som os sectores intermédios da burguesia os que açambarcam a prática totalidade da representaçom institucional, e portanto legislam para favorecer a sua classe, quem a sua

Sumário

3 Pinheiro entre nós André Seoane

4-5 A regressom das liberdades públicas sob mandato do PSOE no Estado Ramiro Vidal Alvarinho

4-6 Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária

Maurício Castro

7 Contra-ofensiva imperialista e resposta dos povos da nossa América Narciso Isa Conde

8 Nom podemos fazer-nos nengumha ilusom de lograr a liberdade sem combater Che Guevara


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Editorial

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vez financia os seus partidos alimentando assim esta pseudodemocracia. Esta atmosfera facilita que Díaz Ferrán lance esta declaraçom de guerra contra a nossa classe perante a pasmosa normalidade de um sindicalismo entreguista e corrupto.

mantenhem pola inércia, pois a realidade constata os nossos erros colectivos.

Umha batalha prioritária

Tempos revoltos A derrota do proletariado metalúrgico do sul da Galiza no conflito que durante meses mantivo com o patronato tem contribuido para gerar mais desánimo e pessimismo na nossa classe. Porém, o proletariado mais consciente, o que se bateu durante semanas na rua contra a polícia, que está a sofrer as represálias nas empresas e que agora se vai ter que enfrentar com a maquinaria repressiva do sistema judicial burguês e espanhol, tem que tirar umha liçom de um conflito em que partia com recursos e forças suficientes para lograr umha vitória. Nom se pode continuar a confiar em dirigentes sindicais alheios às fábricas, a individuos de gabinetes, que com discursos e retóricas aparentemente combativas tam só agem como eficazes peons do Capital. Os funcionários dos aparelhos burocráticos da CIG nom só estám limitados polas dependências políticas com o regionalismo, com os compromissos e pactos ocultos de que formam parte, polas desconfianças com a coerente luita obreira. Polas limitaçons ideológicas do reformismo, sempre acabam por ceder, por capitular e conduzir

Panorámica do bloco reintegracionista na manifestaçom em defesa do idioma de 18 de Outubro

à derrota o que teria sido umha vitória da vanguarda proletária galega imprescindível para impulsionar um ciclo de luitas, para iniciar a ofensiva de classe contra a direita, o patronato e a burguesia. A classe obreira necessita involucrarse na suas reivindicaçons, nom deixar-se

tutelar. Só a nós mesm@s compete a nossa emancipaçom. Só nós devemos dirigir e orientar as luitas. Som tempos difíceis, nos quais se necessitavam fortes ferramentas defensivas de que hoje carecemos. Mas, apesar de serem horas amargas, também som as

de dar passos para diante, com firmeza e audácia, de abandonar posiçons timoratas e tatejantes. Caso contrário, estaremos condenados à aceitar com naturalidade a derrota. Os sectores mais avançados do proletariado galego devem reformular obsoletos posicionamentos que já só se

Após os quatro anos de concessons e políticas pactistas que caracterizárom o governo PSOE-BNG a extrema-direita espanhola passa a ofensiva contra o idioma e os sinais medulares da Pátria. Dessas águas paradas do bipartido procedem as actuais lameiras que os ultras agitam contra a Galiza. Novamente, nom há termos médios, nom se podem manter posicionamentos vacilantes: há que defender com intransigência umha Galiza monolíngüe. Mas nom chega. O reintegracionismo lingüístico é a única aposta estratégica que evitará a espanholizaçom morna da nossa cultura, a crioulizaçom do idioma, a perda constante de falantes. A defesa coerente destes princípios nom se pode separar da opressom nacional que padece a Galiza. Sem independência, sem um Estado galego, nom é possível normalizar a nossa cultura e o nosso idioma. Espanha nom cede, nom afrouxa, nom abandona o seu objectivo de destruir a Galiza. É necessário pois participar nas respostas amplas, unitárias e firmes, mas com voz própria, com base nos nossos princípios, mantendo a imprescindível autonomia e independência frente à miopia do isolacionismo regionalista e a ingenuidade de quem considera ainda aproveitável o actual quadro jurídico-político.

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Análise

A oficialidade cultural galega decidiu dedicar este ano 2009 a celebraçom do Dia das Letras a umha figura da nossa cultura de evidente importáncia, mas que desperta sentimentos enormemente contrapostos. Ramom Pinheiro foi um personagem com um papel central na rearticulaçom da consciência cultural e política da afirmaçom da galeguidade após o golpe de estado do 1936, mas o papel jogado por ele nom suscita consensos e sim abre um azedo confronto entre quem se reclama seguidor e quem rejeita abertamente a via impulsionada por Pinheiro, o que se deu em chamar o pinheirismo. Porém, nom é a nossa intençom fazermos aqui umha analise serôdia do papel jogado por Pinheiro durante a sua dilatada actividade como criador e dinamizador dum determinado tipo de galeguismo, centenas de artigos e dúzias de livros publicados ao longo do presente ano cumprírom sobejamente com essa tarefa, mas sim incidir na sobrevivência do pinheirismo na actualidade e em especial na aparentemente paradoxal influência das análises desta corrente de pensamento num cenário supostamente tam afastado no ideológico como é o independentismo galego do presente, entendido este no seu senso mais amplo. Daí o título elegido para encabeçar este artigo: “Pinheiro entre nós”, onde o “nós” inclui apenas aqueles que dizemos defender a segregaçom de Galiza do Estado espanhol. Para centrar a questom, deveríamos especificar os traços substanciais de aquilo que entendemos como pinheirismo, para o qual escolhemos como método nom só a análise do pensamento de Ramom Pinheiro, facilmente rastejável na sua relativamente escassa obra escrita, mas fundamentalmente na realidade da sua actividade prática que evidentemente vai dar-nos umha imagem mais acertada. No fim de contas, o essencial, em especial no tocante à actividade política, o importante nom é o que se di, e sim o que se fai1. Assim, do repasso da actividade do esgrévio vulto de Láncara podemos tirar como conclusom duas características fudamentais das quais derivam outras secundárias que também nos interesará ressaltar. A primeira destas características é a do “elitismo”. Se repassarmos a actividade de Ramom Pinheiro, em especial desde que é libertado de prisom e retoma a sua actividade como líder do galeguismo do interior na década de 50, temos que concluir que nunca mostrou umha mínima preocupaçom por atingir umha grande influência no nível de massas. Muito ao contrário, as iniciativas por ele impulsionadas dirigiam o seu alvo face reduzidos núcleos de pessoas que se situavam em lugares estratégicos, em especial entre as novas geraçons de universitários. O objectivo de Pinheiro nom era o de que o seu galeguismo fosse adoptado e assimilado directamente polo maior número possível de pessoas, pois que essa visom ideológica era destinada em exclusiva a um reduzido e selecto grupo, com destaque para aqueles que se sentárom na famosa “mesa-camilha”, e que umha vez impregnados deveriam ser os que, a partir dos mais diversos postos dirigentes da sociedade, expandiriam a sua influência. Umha das conseqüências lógicas desta estrategia foi a famosa ideia de abandonar qualquer actividade destinada a reorganizaçom do nacionalismo político num partido e a posterior tese de “galeguizaçom” de todas as forças políticas actuantes na Galiza a apartir do seu interior. Em resumo, seguindo este esquema, seriam os eleitos doutrinados por Pinheiro os encarregados de levar à sociedade essa noçom de galeguismo por ele defendida. Lamentavelmente para ele, a realidade demonstrou a inutilidade desta 1 Em esta tarefa foi de grande ajuda a obra de recente publicaçom do historiador Carlos Velasco Piñeiro e o Piñeirismo em perspectiva histórica. Laiovento, 2009

André Seoane

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Pinheiro entre nós

Subsiste o ideário de Ramón Pinheiro na Galiza actual?

estratégia que parecia nom ter avaliado adequadamente as resistências a esta “galeguizaçom” a partir de dentro por parte de estruturas coma as dos diferentes partidos de ámbito espanhol. Mas, atrás desta dimensom elitista, aparece umha outra característica nom menos importante e ainda mais vergonhosa: a cobardia. E arriscamo-nos a qualificar de cobarde a actividade de Pinheiro embora sejamos plenamente conscientes de que mesmo lhe supujo nalgum momento ser vítima da repressom, porque, como bem sabemos, o estabelecimento de avaliaçons absolutas só nos leva a afastarmonos da compreensom da realidade quando o que queremos e conhecê-la e avaliá-la. E Pinheiro foi um cobarde se abordarmos a sua praxe numha dimensom relativa. Assim, a actividade de Pinheiro caracterizou-se por praticar-se em trincheiras bem guarnecidas onde rara vez chegavam as balas do inimigo, atitude que nom teria nada de criticável a nom ser pola insuficiência para conseguir avanços se o único que se fai é guardar a posiçom. Mas o realmente cobarde da atitude de Pinheiro foi o de ficar nessa posiçom entrincheirada enquanto muitos outros saíam a campo aberto a combater, para além de criticar abertamente e atacar todo aquele que nom seguia a sua agónica estratégia de aguardar tempos

melhores. Tempos que so poderiam chegar se alguém ia procurá-los. Elitismo e cobardia som pois as características fundamentais que, do nosso ponto de vista, definem ao pinheirismo e deles derivam-se toda umha série de questons que em maior ou menor grau fôrom ressaltadas por críticos e seguidores de Dom Ramom como o culturalismo ou o anticomunismo. Certamente, o pinheirismo nom é mais que a expressom concreta num momento e num lugar determinados dumha outra cousa que tem umha dimensom mais global. O pinheirismo nom passa de ser a expressom galaica dumha forma concreta da ideologia e a praxe da pequena-burguesia levada a umha situaçom de incerteza no abalar das tensons sociais. Pinheiro nom fijo mais que formular as soluçons próprias do pensamento pequeno-burguês às condiçons dum país oprimido submetido na altura ao pé de ferro do fascismo. Nessa situaçom concreta a pequenaburguesia galeguista tem em Pinheiro a um guia que oferta um caminho cómodo que a afastará tanto da liquidaçom absoluta que provocaria a plena asimilaçom cultural, conseguindo-lhe um acubilho como elemento colateral e por veces meramente folclórico do sistema establecido, como da vorágine revolucionária do novo nacionalismo de matriz marxista nascido na década de 60 que guardava no seu seio a

potencialidade de criar umha nova realidade onde a comodidade pequeno-burguesa também se veria seriamente atacada. O pinheirismo é pois um facto do seu tempo e o seu lugar mas que guarda relaçom directa com umha “atitude social” própria dumha fracçom de classe, a pequena-burguesia intelectual, que podemos encontrar por toda parte e em todos os tempos em que este grupo social existiu. Umha atitude que se caracteriza polo resentimento duplo face a outras fracçons da burguesia que exercem o dominío político efectivo numha sociedade e contra as camadas populares que podem alterar a plácida mediocridade onde “o intelectual” está tam cómodo. Possivelmente seja esta realidade, a do pinheirismo como expressom concreta da ideologia da pequena-burguesia intelectual na Galiza, a que explique a sua sobrevivência e mesmo o abrolhar de neopinheirismos incluso em espaços ideológicos tam afastados da matriz como pode ser o independentismo galego. Nom seríamos nós os primeiros a revelar que já há tempo que o pinheirismo pareceu renascer precisamente entre os filhos pródigos do próprio Dom Ramom. Entre aqueles que na década de 60 fôrom embora da “mesa-camilha” e incluso pretenderom matar o pai, embora só fosse literariamente. Os mesmos que agora se acobilham na trincheira da CULTURA com

maiúsculas ou dos mais diversos tipos de respeitáveis gabinetes, ao tempo que atacam o aventureirismo de quem continua na rua e afirma, com a palavra e os factos, que o labor de libertar este país e este povo nom vai nem pode ser cómoda nem respeitável, quando menos segundo as convençons da ideologia dominante. Mas nom é só entre os derrotados e entregados de geraçons passadas que o espírito de Pinheiro conseguiu abrigo, mas mesmo entre gente que nunca tivérom contacto com Dom Ramom por questons meramente cronológicas. Assim, há um tempo que cada vez é mais habitual ler e escuitar comentários que criticam a marginalidade que acompanha a existência da esquerda independentista como movimento. Comentários que surgem de pessoal relativamente próximo de nós e que nalguns casos mesmo chegam a afirmar cousas como que coincidem com as nossas propostas políticas, mas discrepam dos nossos métodos. Gente que di manifestar a sua incomodidade diante de atitudes “violentas”, tais como boicotes ou pintadas, que rejeitam o independentismo organizado por considerá-lo impregnado da sordidez da repressom (como se a repressom fosse algo criado por nós e nom imposto). Pessoal que afirma que o independentismo tem de ser um movimento “sério”, mas entendendo como “sério” nom um movimento político esforçado realmente na transformaçom revolucionária dum país com todas as suas conseqüências, mas um movimento ou organizaçom política totalmente homologável às do sistema vigorante. Um independentismo que nom ponha medo e que inspire “respeito”. Curiosamente, com muitas destas afirmaçons ou demandas @s comunistas galeg@s poderíamos estar de acordo, mas como em todo a questom está na focagem relativa. Sabemos perfeitamente que essas vozes que reclamam seriedade e respectabilidade estám é a dizer-nos o mesmo com que nos bombardeia o espanholismo quando nos qualifica de “radicais”. Querem que o independentismo nom passe de ser umha postura mais da “pluralidade” política da realidade espanhola, umha postura que atinga a cobertura que atingiu o pinheirismo no seu tempo. Vozes que estám a reclamar construir a sua Galaxia, o seu ILG, a sua Real Academia e, porque nom, sentar um par de “sérios e respetáveis” independentistas numha cadeira do Paço do Hórreo. Lamentamos pois informar que nom estamos interessad@s neste tema. Quando nós falamos da nossa vontade de construir um movimento político sério estamos a referir-nos a que queremos construir ferramentas organizativas e políticas que funcionem correctamente de acordo aos objectivos que nos marcamos, nom a que aos dirigentes das organizaçons da esquerda independentista compadreiem com os empresários e as forças vivas do País. Para nós, fugir da marginalidade é simplesmente deixar de ser umha força minoritária e atingir umha ampla base social, nom que se nos abram as portas dos gabinetes universitários e consigamos colocar peças estratégicas em instituiçons e empresas. E, sobretodo, somos bem conscientes de que se a esquerda independentista quer ser respeitada, em especial polos seus inimigos mais directos, deve ser quem de pôr medo. Realmente tem que conseguir causar terror ao capitalismo espanhol. A nossa atitude é a mesma que a de aqueles que na década de 60 pugérom a andar a nova onda do nacionalismo galego. Sabemos que da “torre de marfim” ou da “mesa-camilha” nom se pode mudar nada, e o nosso objectivo é mudá-lo todo. André Seoane forma parte do Comité Central de Primeira Linha


Ramiro Vidal Alvarinho

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Opiniom

A regressom das liberdades públic

Na nossa memória recente permanece o recordo do segundo mandato de José Maria Aznar à frente do governo do Estado (o mandato dos famosos 183 deputados, umha maioria certamente esmagadora e nom habitual no hemiciclo da metrópole) como umha etapa especialmente difícil no que di respeito às liberdades públicas. A brutal repressom contra o movimento operário e diferentes movimentos sociais, a criminalizaçom e perseguiçom em todas as frentes dos nacionalismos e até as tentativas de golpismo institucional, como as argalhadas legais para suspender a autonomia basca ou encarcerar o entom Lehendakari Juan José Ibarretxe representam quotas de involuçom democrática dificilmente igualáveis. De qualquer maneira, PSOE e PP, em matéria de repressom e contra-insurgência, estám em grandes traços de acordo. Eu poria como exemplo disto três casos que, além do mais, som reveladores de por onde vam as pautas da política de estado nesta matéria. Como primeiro exemplo, o caso GAL, um dos cavalos de batalha eleitoral principais de Aznar nas eleiçons que o levárom à Moncloa pola primeira vez, do que se passou página aos poucos dias de tomar posse como presidente o político valhisoletano. Famosa é a frase de Álvarez Cascos sobre a nom revelaçom de dados que até aquele momento permaneceram no segredo porque “segredo obriga”. A lealdade em questons de estado ficava acima da luita partidária. Como segundo caso, poderíamos citar a contestadíssima Lei Corcuera, também conhecida naqueles tempos como “a lei do pontapé na porta”. Também o PP aderira naquela altura aos protestos contra essa lei, passando a assumi-la no fundamental umha vez chegados à Moncloa.

Maurício Castro

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E, como terceiro caso, vamos citar um exemplo em sentido inverso, ainda que nesta ocasiom nom se dê umha diferença de atitude no principal partido da oposiçom, umha vez que passa ao poder: falo da Lei de Partidos, aprovada com Aznar na presidência do governo da Espanha e ainda vigorante e aplicada, às vezes com tentativas de “esticar” o seu espírito para alargar ainda mais a lista de atingid@s pola mesma. Mas neste artigo pretendo analisar o mais tangível no referente à política repressiva do governo espanhol. Como já demonstramos, é bastante ingénuo pensar que no fundamental o PSOE se poda diferenciar muito do PP. Em todo o caso, temos avondo material para certificar a forte marcagem policial e judicial que se lhes está a infringir aos movimentos sociais. Começando polo mais recente, poderíamos referir a dura repressom contra as últimas greves do metal no sul do País, sobre a qual há numerosa documentaçom gráfica e testemunhal. O movimento operário tem umha poderosa capacidade mobilizadora que o PSOE bem conhece, já que som várias as greves gerais e os conflitos laborais sectoriais de notável dureza aos quais se tivo que enfrentar durante os seus diferentes mandatos. A repressom é brutal e implacável, porque tem umha finalidade exemplarizante: que aqueles que algum dia se puderem ver ao outro lado da barricada saibam aonde os pode conduzir a aposta em certos meios. Evidentemente, os cenários de luita de classes som cenários que estorvam a funçom que qualquer governo social democrata tem na gestom do capitalismo. Mençom especial mereceria a repressom ao movimento lingüístico-cultural, certamente sem precedentes, porque nom se recorda

desde o franquismo tanta sanha na perseguiçom e criminalizaçom do mesmo. Fazendo umha retrospectiva desde o mais recente, nom podemos evitar lembrar as muitas cenas de repressom surda e brutal que se dérom no 8 de Fevereiro de 2009 em Compostela, coincidindo com a manifestaçom de Galicia Bilingüe. Cenas que, a meu juízo, representam todas o nível de Estado policial e a política de toleráncia zero com os movimentos sociais do PSOE. Desde a constante que dominou a manifestaçom ultra de perfeita sintonia do serviço de segurança da manifestaçom com a polícia de choque espanhola, até o eloqüente álbum de fotos que nos deixou a jornada: a malheira em plena rua a um camarada por gritar “na Galiza em galego” (pendentes estamos ainda de saber de que crime é constitutivo o facto de proferir tal palavra de ordem), a detençom de pessoas por cometerem o seica enorme acto vandálico de se disfarçarem de vacas ou o escorrentamento a base de cacetadas de umha repichoca que tocava pasodobles espanhóis. Apesar dos enormes esforços de um autonomismo doente por fazer uso da sua pretensa autoridade moral, cheio de ira pola notoriedade ganha por outras siglas e pessoas ao terem sofrido a repressom, por categorizar entre represaliados, o certo é que qualquer iniciativa de protesto, protagonizada por quem quer que fosse, tinha o mesmo destino. Já houvo antecedentes na Corunha de repressom violenta por tentar responder a provocaçons fascistas: as duas grandes demonstraçons de força da também organizaçom linguófoba Mesa por la Libertad Lingüística fôrom replicadas com diferentes iniciativas por parte de diferentes organizaçons e colectivos. Mas especialmente eloqüente foi o caso da primeira concentraçom da referida organizaçom ultra, contestada espontanea-

mente por centenas de pessoas; podemos dizer que pola primeira vez na Corunha umha contramanifestaçom quase triplicava em número de assistentes à manifestaçom. Foi umha derrota para o movimento galegófobo, para a qual apenas achárom consolo aplaudindo as pancadas que a polícia espanhola repartiu entre a concorrência e lançando todo o tipo de insultos nas “Cartas ao Director” dos jornais. Há que dizer que a imprensa, ainda que nom pudesse em nengum momento ocultar a superioridade numérica d@s que defendíamos o galego, sim tentou a posteriori de colaborar com a repressom, assinalando várias siglas como possíveis instigadoras da contramanifestaçom. Cumpre assinalar também a colaboraçom da Administraçom local nesta repressom, bem como o assédio policial-administrativo aos centros sociais, como parte de todo isso. Nom devemos esquecer a despiadada perseguiçom que sofrem os movimentos vicinais, como por exemplo o imenso movimento que se configurou em torno da causa contra o porto desportivo de Cangas ou como no caso dos protestos contra as obras do campo de tiro da BRILAT em Ponte Vedra. Há que dizer que, para além das contínuas cargas policiais com pessoas detidas e contusionadas, a repressom tenta ser selectiva, também centrando-se nos elementos mais combativos para rapidamente serem identificados com sectores incontrolados, aderidos de maneira “para-quedística” à causa. Por último, poderíamos assinalar os aspectos mais “permanentes” dessa repressom. Na capital do País temos o sintoma mais palpável. Ao ser o centro de decisom da política autonómica, converte-se também no cenário de qualquer manifestaçom que se convocar a nível nacional, ou entom o lugar

Polícia de choque à caça de trabalhadores do meta

Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária

Se nom tem nada de novo que, periodicamente, vejamos ressuscitar o velho debate do chamado iberismo, nos últimos anos a hipótese tem sido alimentada por um capitalismo português mergulhado numha profunda crise e um capital espanhol cada vez mais presente e com mais força no mercado do país vizinho. Isto é assim apesar de também nom ser pequena, neste momento, a crise atravessada pola burguesia dominante espanhola. Se em 2006 umha sondagem dava o resultado de um terço da populaçom portuguesa a querer integrar-se na “próspera” Espanha, neste mesmo Verao foi difundido um outro inquérito ainda mais concludente, segundo o qual 40% do povo português e 30% do “povo espanhol” queriam essa unificaçom. Desta vez, incluso se ofereceu o dado de que até 50% da populaçom portuguesa considera que o ensino do espanhol devia ser “obrigatório” em Portugal e acrescentava-se que 97% achava que a anexaçom por parte de Espanha iria supor um benefício económico para o conjunto da sociedade portuguesa. Um outro terço de portugueses e portuguesas (34%) seria contrário a qualquer ideia federal em relaçom a Espanha. Quer dizer, umha minoria em relaçom aos 40% favoráveis!

Deixando agora de parte a tradiçom anexionista castelhano-espanhola em relaçom a Portugal (que conquistou a independência no século XVII pola força das armas enquanto a Catalunha, País Basco e Galiza ficavam submetidas), o sonho de umha uniom das naçons ibéricas num único Estado parte já dos séculos XVIII e sobretodo XIX. Conta com teóricos tanto do lado espanhol, como do português, do catalám e do galego, se bem nom sempre com os mesmos objectivos. O iberismo espanhol aspira a um engrandecimento de Espanha, inspirando-se nos processos de unificaçom alemám e italiano, reforçando assim um projecto histórico de carácter expansionista. No caso português, está imbuído de consideraçons sobre arelas de progresso comum aos povos ibéricos. Quanto à Galiza, Catalunha e País Basco, o iberismo, de carácter mais ou menos federalista, costuma fazer parte de um programa de conquista de direitos nacionais e de enfraquecimento do imperialismo espanhol por parte das forças progressistas e republicanas das naçons sem Estado da periferia peninsular. Contodo, também existírom teóricos do iberismo de tradiçom socialista utópica, tradicionalista e até libertária. Podemos salientar nesse iberismo decimonónico o socialista Antero de Quintal ou

o republicano Teófilo Braga, ambos portugueses; intelectuais e/ou políticos cataláns como Prat de la Riba, Ignasi Ribera i Rovira, Joan Maragall ou Pi i Margall, com diferentes posiçons ideológicas e interpretaçons do que entendiam por iberismo; espanhóis como o político Emilio Castelar ou o escritor e filósofo Miguel de Unamuno. No caso galego, contamos no século XIX com umha das tendências do galeguismo de orientaçom federalista (frente à tradicionalista e à liberal), com o político republicano Aureliano J. Pereiro e escritores como Manuel Leiras Pulpeiro, António Noriega Varela e o editor Andrés Martínez Salazar. Outros, como o liberal Manuel Murguia ou o tradicionalista Benito Vicetto, nom ocultavam a sua simpatia por Portugal e a aspiraçom a algum tipo de reencontro. Esse foi, de facto, um tema recorrente em toda a história do nosso nacionalismo, incluída a corrente arredista que, nos anos 20 e 30 do século passado, rompeu com qualquer ilusom iberista e proclamou a necessidade de defender a independência da Galiza: um Estado galego. A primeira vaga federal a que figemos rápida referência nas linhas anteriores esmoreceu com o fim de século, tanto no Estado espanhol como em Portugal. Porém, durante a primeira metade do século XX, a corrente

maioritária do nacionalismo galego, ligada na sua última etapa ao Partido Galeguista, continuará a sustentar o ideal federalista ou confederal ibérico, cuja concreçom Castelao etiqueta no seu Sempre em Galiza com o nome de ‘Hespaña’, incluindo umha unidade de tipo federal das naçons submetidas à soberania espanhola mais a posterior confederaçom com Portugal. Entretanto, a corrente minoritária identificada com o jornal A Fouce mostra mais preocupaçom com a recuperaçom da integridade territorial galega, mediante a reincorporaçom das comarcas do leste toradas da Galiza por arbitrárias decisons tomadas em Madrid. Rompe, de maneira visionária, com o federalismo iberista, considerando-o um ópio do nacionalismo minimalista face ao verdadeiro desafio que enfrenta a Galiza: a recuperaçom da soberania usurpada por Espanha. Entretanto, forças republicanas portuguesas e espanholas, junto a organizaçons anarquistas, manterám ao longo do século XX algumha forma de reivindicaçom iberista nos seus programas, junto à maior parte das organizaçons nacionalistas periféricas. Destacam na etapa anterior ao golpe fascista de 1936 dous factos jurídico-políticos significativos da sobrevivência desse ideal no Estado espanhol: por umha parte, o artigo 23 da

O domínio económico espanhol em Portugal é já u


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Opiniom

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cas sob mandato do PSOE no Estado

al em Vigo

um facto, apesar do período de crise que enfrenta o capitalismo hispano

a que muitos colectivos transladam as suas reivindicaçons. Isto converte Compostela numha urbe policialmente blindada. Em datas tradicionalmente muito movimentadas nesta cidade, a tensom policial multiplica-se e, como paradigma disso, poderíamos pôr o 25 de Julho, que é Dia da Pátria para todo o nacionalismo galego e também dia de numerosos actos institucionais e religiosos. Dous mundos que coexistem e que colidem de quando em vez. O caso é que as cargas policiais, os cortes arbitrários de acesso a espaços públicos, os registos, identificaçons e detençons arbitrárias som já umha estampa associada ao 24 e ao 25 de Julho de maneira inevitável. E contrastando com a muito habitual imagem dos cacetes a espancar as costas e as cabeças de jovens independentistas, activistas pola língua, vizinhança que protesta contra obras ilegais, público de eventos desportivos, pecuários que protestam contra a política agrária do Estado, trabalhadores que defendem os seus direitos... está a permissividade com que o fascismo desabafa cada vez que sai do armário. Nas manifestaçons linguófobas, os assistentes agredírom e provocárom de maneira impune. Mas como summum de intimidaçom e violência fascista, podemos lembrar o acontecido no ano passado com motivo da vitória da selecçom espanhola absoluta de futebol na euro 2008. Em todas as cidades do Estado, sem excepçom, houvo manifestaçons alentadas mesmo desde os media públicos para exibir os símbolos do império, ocasiom que o fascismo aproveitou para “confundir” entre a massa símbolos neonazis ou franquistas e para, abrigados por essa massa, cometer actos vandálicos, agressons e provocaçons impunemente. Podo relatar casos concretos de insultos, ameaças e provocaçons por nom

se unirem à “festa” geral e obrigatória. Aí, nem houvo especiais medidas de segurança nem represálias, nem julgamentos em chave sumaríssima. Pode dizer-se que essa foi a última manifestaçom de fascismo desbocado, só superada provavelmente por algumha manifestaçom convocada polo Ministério espanhol do Interior, dessas às quais se cheira a intencionalidade de caçaria a milhares de quilómetros. Ainda que haja outros exemplos mais recentes fora da Galiza: por exemplo quando poucos dias depois do assassinato do antifascista Carlos Palomino, o Governo espanhol seguia autorizando manifestaçons da extrema-direita e proibia manifestaçons de grupos de esquerda. Evidentemente pretende-se a invisibilizaçom daquelas correntes e colectivos que pugerem a ordem vigorante em causa a partir da esquerda. Provavelmente com a quebra do capitalismo a social-democracia ache mais motivos para temer a mobilizaçom da esquerda. Por isso há que criar um clima de rejeitamento da mobilizaçom popular como meio de participaçom na vida sociopolítica do País. Essa crise do capitalismo vai acentuar as contradiçons e essa agudizaçom das contradiçons pode levar por diante o PSOE como projecto político e também pode varrer o mesmo projecto nacional em que nasceu e cresceu: Espanha. Um projecto nacional que apenas se explica como enquadramento no qual se defendem os interesses de umha determinada oligarquia fortificada na metrópole e que, na hora de defender os seus símbolos, apenas pode achar como aliada a extrema-direita nas suas mais marginais e variadas expressons.

Constituiçom espanhola da II República incluía o direito dos cidadaos portugueses residentes em Espanha à cidadania espanhola, se assim o solicitavam; por outra, o independentismo catalám incluirá, na proclamaçom da República Catalá em Abril de 1931, por iniciativa do presidente catalám Frances Macià, a afirmaçom de um “Estado Catalám integrado na Federaçom de Repúblicas Ibéricas”. A existência de arelas iberistas dos lados centralista, periférico e português responde a duas concepçons do que se pretendia com esse iberismo. Para Espanha, Portugal é umha regiom irredenta que deve ser reintegrada, podendo servir o iberismo de cilada para o que nom passa do mesmo expansionismo espanhol de sempre. No caso dos nacionalismos defensivos peninsulares, o ideal iberista responde à dialéctica entre a vontade de ser e o medo à ruptura total com a potência imperialista espanhola, através de umha fórmula amical que garanta umha suposta co-soberania que a história tem mostrado, até hoje, como ilusom irrealizável. Já a independência política plena, essa sim foi demonstrada como possibilidade real pola mesma existência do Estado português, que na actualidade volta a enfrentar a tentativa assimilacionista espanhola. Pode-se discutir, naturalmente, a conveniência ou nom de um modelo de ‘soberania partilhada’ como a que hoje defende o BNG face à mais coerente defesa da soberania nacional plena, defendida polo arredismo desde polo menos a década de vinte do século passado e hoje, no caso galego, pola minoritária esquerda independentista. No entanto, o debate actual ressuscitado por interesses económicos ligados à potente presença espanhola em Portugal nom tem nada a ver com isso. De facto, nom está em causa a redistribuiçom do poder económico, político e institucional entre as diferentes nacionalidades peninsulares, o que torna o

actual debate num sucedáneo reaccionário das aspiraçons iberistas portuguesas do século XIX e dos nacionalismos periféricos ao longo do século XX. Falamos de um sucedáneo reaccionário porque parte unicamente do interesse económico do capital espanhol, aliado ao subsidiário português, umha vez que este parece disposto a ceder quotas de soberania em troca das prebendas da burguesia espanhola. Entretanto, nengum partido político formula ainda a disposiçom a umha unidade política ibérica, o que constitui a melhor emenda à validade dos inquéritos que referíamos no início destas linhas. Em diferentes ocasions, temos nestas mesmas páginas analisado as quiméricas pretensons do nacionalismo galego convertido em autonomista, quando propom umha mudança no aparelho de poder espanhol que ceda umha soberania compartilhada com as burguesias territoriais periféricas. Porém, o debate sobre o iberismo que promovem personagens como o luso-espanhol José Saramago e também reaccionários escritores espanhóis como Arturo Pérez Reverte ou Arcadi Espada, nada tenhem de progressista nem de igualitário. Defendem abertamente que Portugal se converta na autonomia número 18 de Espanha, e seu idioma numha das línguas “cooficiais” espanholas. Som agentes económicos como o Grupo Prisa, institucionais como o actual presidente direitista português Aníbal Cavaco Silva e, em definitivo, o grande capital de ambos estados os que estám a promover um debate “espontáneo” em que, através de estudos de campo periódicos, transmitem um supostamente crescente apoio português à ideia da Grande Espanha, acompanhando os seus resultados de dados estonteantes sobre o grande potencial territorial, demográfico e

Ramiro Vidal Alvarinho forma parte da Direcçom Nacional de NÓS-UP

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Nº 54. Outubro, Novembro e Dezembro de 2009

Opiniom

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económico que essa nova potência teria no palco internacional do século XXI. Voltam as reflexons “objectivas” sobre a inviabilidade das naçons pequenas, salienta-se o aumento da influência da unidade política resultante no ámbito da Uniom Europeia... na verdade, trata-se de argumentos favoráveis à classe dominante espanhola, que graças ao alargamento do seu mercado “nacional” a Portugal e à usurpaçom da sua representatividade terá efectivamente maior poder como força sub-imperialista europeia face aos restantes estados embarcados na mesma aventura mercantilista que gostam de chamar “europeísta”. Tal como as burguesias galega, basca e catalá fôrom historicamente cooptadas (em diferente medida) pola força militar e económica espanhola, todo indica que agora a burguesia portuguesa está em disposiçom de iniciar um processo de aproximaçom do poder espanhol recorrendo ao mito iberista. Podemos estar, afinal, diante de umha segunda transiçom que, em lugar de abordar o reconhecimento das naçons sem Estado como a Galiza, pretende reforçar o Estado espanhol com a conquista de um novo território, o que romperia umha tendência que está a fazer com que Espanha nom deixe de perder territórios desde o século XIX, aquando dos primeiros processos de independência das colónias americanas. O domínio económico espanhol em Portugal é já um facto, apesar do período de crise que enfrenta o capitalismo hispano. Toca é avançar na parte jurídicainstitucional do processo, daí a moda de um debate tam tendenciosamente dirigido por meios de comunicaçom de capital espanhol ou afins ao mesmo, dado o fascínio que os capitalistas espanhóis conseguírom transmitir na classe dirigente portuguesa, ainda mais subsidiária do que a espanhola em relaçom a poderes e factores externos ao próprio mercado nacional. A ninguém mais do que ao povo galego convém um incremento nas relaçons

Iberismo à espanhola: volta a utopia reaccionária

As quatro principais figuras institucionais actuais dos regimes espanhol e português: Sócrates, Cavaco, Juan Carlos I e Zapatero

de todo o tipo com o vizinho Portugal, um país nascido de um pedaço de nós. O seu povo mantivo a nossa língua viva e tornou-na oficial, ao ponto de permitir que o imperialismo português a levasse a numerosos lugares do mundo, num processo colonizador paralelo ao protagonizado polo expansionismo castelhano-espanhol. Hoje, quando o Estado espanhol enfrenta graves problemas de fundo na Catalunha e no País Basco, onde os projectos independentistas crescem e só som sufocados

com medidas repressivas, a Galiza precisa de reforçar o seu sentimento colectivo de naçom, para o qual contribuirá o enfraquecimento do poderoso vizinho do leste. Nessa estratégia, um Portugal soberano e nom intimidado por Espanha poderá vir a ser um aliado directo da Galiza no objectivo comum de enfraquecer o nacionalismo expansionário espanhol. Porém, julgar que servirá a esse objectivo a adesom à moda iberista fomentada por certa “progressia” do sis-

tema financiada polos grandes poderes económicos espanhóis e portugueses, únicos interessados objectivamente no projecto, é umha ingenuidade no melhor dos casos. A igualdade nacional na Península Ibérica só poderá chegar da derrota histórica do supremacismo espanhol, que dê passagem a um reordenamento partindo da independência de todos os povos peninsulares. Só a partir daí é que poderá abrir-se a possibilidade de umha posterior unidade voluntária de povos li-

vres, nom apenas da Península Ibérica, mas também do continente europeu e do mundo, no quadro de um novo sistema mundial nom subordinado ao lucro, nem ao domínio político e económico. Um novo sistema mundial que respeite o direito à diferença como melhor garantia da uniom voluntária de todos os povos do mundo: o socialismo. Maurício Castro forma parte do Comité Central de Primeira Linha

LIVROS Guilherme da Fonseca-Statter Os erros de Marx e as asneiras dos outros Edições Zéfiro, Sintra 2009, 259 páginas De uns anos a esta parte, o sistema capitalista está a viver, mália às aparências poderem ser outras, umha longa crise de estagnaçom (as estatísticas do crescimento nas últimas décadas som muito claras e nom atribuíveis à conjuntura). Tampouco é certa a filosofía neoliberal de “menos Estado, melhor Estado”, pois o desenvolvimento imperialista está a ser orquestrado polos estados nacionais – o senso autêntico de tal máxima bem poderia ser: menos Estado do povo e melhor Estado para a burguesia - . Os factos, como diria Lenine, som teimosos e indicam que o sistema prevalecente, no qual estamos, fijo rebentar a maior bolha especulativa, ao passo que muitos economistas (ou haveria que dizer “ideólogos do capital”?) que pouco há estavam calados, andam a declarar agora que estamos na maior crise desde 1929. E vai ser que Karl Marx, esse profeta maldito, ja tinha alertado disso, e de maneira exaustiva. Agora que este sistema de ámbito planetário lança na miséria mais milhons de pessoas as palavras de O Capital estám mais vivas que nunca e há que tirar o livro do “caixote do lixo”. E também convém recordar que O Capital é um estudo meticuloso do funcionamento do sistema capitalista e fala muito pouco de socialismo. Marx tem pouco de utópico e muito de etnógrafo do liberalismo e as suas exposiçons sobre como viviam as classes operárias, como eram tratados os nenos, as condiçons de habitaçom, et cetera, fam com que as obras de Émile Zola ou de Charles Dickens quase semelhem romances cor-de-rosa. Os que querem, sem o conhecer, enterrar a sua crítica da economia política no século em que viveu, descobrirám com surpresa, sempre que estejam dispostos a analisar o que desconhecem, a pertinência das suas teses sobre o industrialismo, também hoje. O livro está dividido em três partes: umha primeira em que se debate sobre a ciência, a filosofia da história, as contradiçons do capitalismo e como deturpar Marx (umha caste de apresentaçom esquemática do pano de fundo); umha segunda em que se fai inventário das ideias que é usual atribuir-lhe, por mais que muitas delas sejam retomadas de autores anteriores, e também um exame de alguns dos eventuais ou alegados erros e profecias que com freqüencia se lhe imputam (assim o problema do determinismo, o Estado como instrumento de coerçom, as luitas de classes, a questom das revoluçons ou, o tema fulcral, a determinaçom do valor); e umha terceira dedicada às asneiras dos outros: a conversom dos valores em preços, um modelo universal de evoluçom da História, a queda tendencial da taxa de lucro... Um livro, em conclusom, que reabilita a actualidade de Marx e, de modo especial, de O Capital. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

WEB Héitor Picallo Fuentes Xohán Xesús González: un precursos do soberanismo galego Edicións Laiovento, Bertamirans 2008. 256 páginas

Da mesma terra natal que Xohán Xesús Gonzalez (Cuntis, 9/11/1895), Héitor Picallo, o autor, fornece com o seu trabalho à recuperaçom da Memória do genocídio galego e da história política e cultural de Galiza do século vinte, de um achado de grande valor, a biografia de um homem chave na história do soberanismo galego, um independentista convicto: “Nom me importam os votos.... para manter em pé esta ideia nacionalista galega que eu defendo sem mais aspiraçons que acadar, com os bons e generosos, umha independência completa da nossa terra...”. No livro fica presente a paixom que impulsou a X. X. González a ser precursor independentista no meio de muitas dificuldades. Mestre, dramaturgo, jornalista, advogado, novelista... fundador com outros da Asociación de Escritores de Galiza e organizador do Terço de Calo em 1936, vítima da barbárie fascista: capturado e fusilado no cimetério de Boisaca. Activista político e cultural, precursor da restituiçom de valores com traduçom essencialmente política e em grande parte da recuperaçom de valores transformadores da sociedade do seu tempo, e da recuperaçom da consciência social, de povo: “Os países que hoje ainda formam docilmente a triste realidade da Espanha unitária sentem a tirania como imposta por umha potência estrangeira, qual é o Estado centralista espanhol...”. Héitor Picallo descobre-nos o compromisso de um homem, que a partir da esquerda marxista, vivera naturalmente a necessidade e a construçom do nacionalismo com traduçom conseqüentemente política dos direitos do povo galego. Um grande contributo que vem esclarecer de umha maneira radical a história de um tempo ofuscado. Um antídoto contra nostálgicos das cousas e das histórias que nom fôrom e contra a ideia funesta e funerária da memória do genocídio galego, diluído interessadamente na história da chamada “guerra civil”. (Xavier Moreda)

Gaita Armada Compostela, Estaleiro do Som, 2009 Coincidindo com o Dia da Pátria deste ano, acabou de ser apresentada umha compilaçom musical q u e , sob o título de Gaita Armada, quer recolher umha parte da música que o nosso povo foi criando (ou adoptando, como no caso das composiçons portuguesas) para animar festas e trabalhos e dar aços nos combates. Gaita Armada, que de maneira explícita recolhe a herança do disco Guitarra Armada (editado no contexto da luita sandinista na Nicarágua), compom-se de duas partes. A primeira delas (Gaita) recolhe composiçons populares ou de inspiraçom popular. A segunda (Armada) reúne temas mais relacionados com a luita nacional e popular e que fam parte do imaginário de geraçons de militantes nacionalistas, desde Sementeira dos primeiros Fuxan os Ventos até o Grândola do Zeca Afonso, passando por cantoras e cantores como Maria Manuela ou Suso Baamonde. Também podemos encontrar peças bem curiosas e menos conhecidas, como a versom do poema Em pé! de Ramom Cabanilhas feita por Juan Pardo na década de setenta. Um outro aspecto que cumpre destacarmos é o da informaçom que acompanha cada peça musical, explicando o seu contexto, e que supom um trabalho que vai muito além de umha simples compilaçom de temas mais ou menos conhecidos. Também a apresentaçom desta compilaçom é destacável pola sua originalidade e feitura artesanal. Animamos todos e todas a conhecê-lo mais a fundo e, como da própria editora nos convidam, a copiá-lo, difundi-lo, cortá-lo e colá-lo, fotocopiá-lo ou pirateá-lo. Mas sobretodo a seguir cantando estas e outras cançons que fam parte da nossa identidade colectiva e que nos convidam a continuarmos semeando, erguendo a esperança, face a liberdade. (Anjo Torres Cortiço)

http://www.abpnoticias.com/ A Agencia Bolivariana de Prensa (ABP) é um portal informativo que tem como objectivo integrar as luitas dos povos da América Latina num meio de comunicaçom alternativo e ao serviço da libertaçom do continente. A perspectiva globalizadora das luitas vê-se logo na presença de informaçons sobre todos os países americanos e nom só. O processo revolucionário colombiano, as agressons imperialistas contra esse e os restantes povos, o acompanhamento da resistência hondurenha ao golpe oligárquicomilitar, a dialéctica do desenvolvimento revolucionário na Venezuela e na Bolívia... Todas as iniciativas populares pola emancipaçom do continente estám presentes dia a dia no site da ABP. Além do dito, também a Europa e, concretamente, a Galiza, estám presentes no portal, que informa das iniciativas políticas da nossa esquerda independentista e anticapitalista, bem como das campanhas solidárias do Capítulo Galego da Coordenadora Continental Bolivariana (CCB). Em defintivo, a ABP é já umha referência imprescindível para o conhecimento da luita social e política na América Latina, o continente que constitui, na actualidade, o principal palco do combate pola revoluçom mundial.


Narciso Isa Conde

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internacional

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Contra-ofensiva imperialista e resposta dos povos da nossa América

América Latina e as Caraíbas som cenários de umha “primavera democrática” a partir da vaga transformadora que desde finais do século XX -e no que vai do século XXI- tem percorrido o Sul e o centro do continente. A dialéctica reformas-contrarreformas e revoluçom-contrarrevoluçom estám presentes em nom poucos países da área submetidos à impronta capitalista-neoliberal hoje em franca decadência. Os processos de mudanças tenhem diferentes profundidades e alcance. Um evidencia vocaçom revolucionária e outros vem-se freados polo peso reformista no interior dos mesmos. Reformas face a mudança revolucionária e reformas funcionais na ordem dominante coabitam nesses processos, que como um todo tenhem enfraquecido o domínio tradicional dos EUA, as oligarquias e as partidocracias corrompidas nesta regiom. A resposta ao neoliberalismo par parte dos povos tem sido densa e crescente em toda a regiom, ao ponto de situar a nossa América à vanguarda da luita contra a globalizaçom do neoliberalismo. Da resistência passou-se à ofensiva e a ofensiva produziu resultados concretos plasmados em processos tam avançados como os da Venezuela, Equador e a Bolívia e outros governos e situaçons desfavoráveis à hegemonia estado-unidense e os poderes oligárquicos; vigente ainda o tránsito revolucionário de orientaçom anticapitalista em Cuba. Essa tendência crescente determinou a concertaçom de umha grande conjura contra esses avanços e a perspectiva da sua expansom. A contraofensiva iniciu-se com o golpe de Estado nas Honduras. Continuou com a instalaçom de cinco novas bases militares estado-unidenses o relançamento do Plano Colômbia. Retomou com novo sopro a sediçom desestabilizadora contra os processos face a Revoluçom na Venezuela, Equador e a Bolívia. Propujo-se fazer da Colômbia umha espécie de Israel da América, com plataforma de sete bases militares estadounidenses, que junto à proximidade da IV Frota Naval, aponta face a conquista militar da Amazonia. E está a fraguar um outro golpe militar no Paraguai, país em condiçons parecidas com as das Honduras antes do despregamento golpista. Neste contexto, aprofunda-se a necessidade de vertebrar mais e melhor a esquerda política, social e cultural do continente, em especial a esquerda antiimperialista e anticapitalista. A que tem entre as suas metas nom só dar seiva popular aos governos progressistas e às iniciativas integradoras tipo ALBA, PETROAMÉRICA, PETROCARIBE…, com além disso quer potencializar o sujeito popular e continentalizar o seu agir a fim de contrarrestar a estratégia de dominaçom dos EUA. A contraofensiva exige fortalecer a

contrapartida popular-revolucionária. O processo necessita ser pensado cada vez mais em termos continentais e nom só em funçom das políticas progressistas e integradoras dos governos que em diferentes graus se tenhem independizado dos desígnios de Washington, mas fundamentalmente em relaçom com a insubmissom dos povos e sujeitos explorados, oprimidos, excluídos ou discriminados. A Coordenadora Continental Bolivariana tem acumulado umha importante experiência de articulaçom de diversidades revolucionárias e tem ensaiado formas de coordenaçom dos diversos capítulos nacionais que logrou conformar, incluídas as brigadas internacionalistas criadas noutros continentes, como é o caso do seu capítulo galego. Apesar dos duros ataques recebidos, perduramos e crescemos. Além de considerar importantes mas insuficientes os graus de articulaçom e acçom já atingidos, sentimo-nos compelidos a avançar perante os desafios que coloca a nova contraofensiva imperial. A coordenaçom de capítulos -com forte acento nos espaços nacionais e com insuficiências na internacionalizaçom e continentalizaçom das acçons e propostasdeve ser superada em sentido ascendente por umha dinámica mais coerente e umha estrutura mais ágil, em que conscientemente, sobre a base das coincidências nos eixos programáticos e de acçom consensualizados, as partes se subordinem mais ao todo continental e extra-continental, assumindo a forma de movimento e dando primacia às acçons transnacionais que batam mais contudentemente na estratégia e a contra-ofensiva imperialista. Por isso é o do passo de CCB a movimento, por isso o do Congresso Constitutivo do Movimento Continental Bolivariano em Dezembro em Caracas. Isso é o que se espera de esse congresso que já conta com mais de 700 delegados e delegadas de 25 países e mais de dous mil participantes em iniciativas conexas. Além disso, tem programado aprofundar a análise de temas cruciais e desenhar um plano de acçom consoante o que exige esse avanço em qualidade e quantidade de um espaço definidamente revolucionário como será o MCB, o fantasma de Bolívar percorre o continente estimulado o avanço face um novo Ayacucho, esta vez chamado a derrotar a recolonizaçom neoliberal e abrir caminho à nova democracia e ao novo socialismo. A contra-ofensiva imperialista tem encontrado obstáculos maiores nas Honduras. O suposto “elo fraco” véu a ser um osso duro de roer. A resistência do povo hondurenho tem sido formidável e tem possibilitado criar

ser mais eficazes nesse propósito A CCB tem sido coordenaçom de partes, de capítulos nacionais e dos componentes dentro de esses capítulos. O Movimento procurará que a diversidade se exprima numha torrente mais coesionada e coerenciada como já dixem, mais compacto, mais continentalmente conduzido. No Movimento o conjunto predominará mais sobre as partes e os seus componentes provenientes da Coordenadora e/ou incorporados a raíz do próximo Congresso Constitutivo e no seu devir. O Movimento reforçará as características político-social e político-cultural da sua composiçom e as suas definiçons. Nele deverá predominar a democracia que emana dos consensos produzidos polos seus diversos componentes nacionais, sociais, culturais, lideratos sociais

umha crise de governabilidade ao regime golpista e conformar um movimento político-social alternativo que nom existia. Só o défice na acumulaçom de forças militares alternativas e a coesom das forças militares golpistas tem podido impedir a viragem. A crise tem-se prolongado até forçar um pacto mediatizado, que singelamente poderia dar-lhe umha saída o conflito para plantejar a confrontaçom noutro nível e

outros cenários. Igual pinta qualquer fórmula golpista, pseudo-institucional ou nom, em outros países. É muito difícil que nom concite umha reacçom popular de alto nível. No centro da onda transformadora, mais alá dos contributos mais ou menos avançados nos governos, está a impugnaçom popular aos poderes reaccionários existentes. E isso motiva a sua resistência frente a qualquer tentativa de ocultar o conquistado à custa de eles. A contra-ofensiva imperialista tem esse grande obstáculo mas necessita mais do que umha resposta ao interior das sociedades vítimas dela e mais que iniciativas intergovernamentais da cadeia dos governos progressistas. A continentalizaçom das luitas a partir das bases populares contra todos os componentes dessa contraofensiva é um imperativo no contexto desta situaçom. Com o passo de CCB a MCB queremos

e políticos, científicos e intelectuais… sob umha direcçom central que a respeite e assuma a conduçom em termos continentais e internacionais. O projecto Pátria Grande Libertada será ainda mais dominante. Os partidos conhecidos som de circunscripçom nacional, expressons políticas classistas (boas e mas, revolucionárias e reaccionárias), em nom poucos casos organicamente separadas dos movimentos e organizaçons sociais e culturais. O nosso movimento será continental e mais alá, e à vez político-social e pluricultural. Os partidos do sistema, de resto, som forças cada vez mais privatizadas, seqüestradas por partidocracias corruptas, grandes empresários e grupos mafiosos. Nada que ver terá o nosso com essa deriva, mas todo o contrário. É um grande desafio porque vai muito além dos ensaios deste tipo dentro das fronteiras nacionais, para propor umha construçom transnacional, transcontinental. O propósito é ambicioso e apenas começa esta nova experiência. A vida ensinará-nos, em permanente provas derivadas dos erros e os acertos, a ajustar e corrigir rumo, a avançar persistentemente con a ideia de fazer posível o aparentemente imposivel mas absolutamente necessário. Narciso Isa Conde é dirigente da esquerda revolucionária dominicana e forma parte da Presidência Colectiva da CCB


Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.org Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 15 de Novembro de 2009 Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: sgprimeiralinha@primeiralinha.org / primeiralinha@primeiralinha.org / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997

Nom podemos fazer-nos nengumha ilusom de lograr a liberdade sem combater Coincidindo com o 42 aniversário do assassinato do Che, a 9 de Outubro, publicamos umha selecçom da “Mensagem aos povos do mundo através da Tricontinental”. É a modesta homenagem de Primeira Linha a um dos mais destacados combatentes e vigentes teóricos comunistas. Este manifesto foi difundido em Abril de 1967 embora fosse escrito antes da sua partida para a Bolívia em Novembro de 1966. “Há que levar em conta que o imperialismo é um sistema mundial, última etapa do capitalismo, e há que batê-lo numha grande confrontaçom mundial. A finalidade estratégica desta luita deve ser a destruiçom do imperialismo. A participaçom que nos toca a nós, explorados e atrasados do mundo, é a de eliminar as bases de sustentaçom do imperialismo: os nossos povos oprimidos, donde extraem capitais, materias-primas, técnicos e operários baratos e aonde exportam novos capitais -instrumentos de dominaçom-, armas e toda a classe de artigos, sumindo-nos numha dependência absoluta. O elemendo fundamental dessa finalidade estratégica será, portanto, a libertaçom real dos povos: libertaçom que se produzirá através da luita armada, na maioria dos casos”.

“E se todos fôssemos capazes de unir-nos, para que os nossos golpes fossem mais sólidos e certos, para que a ajuda de todo o tipo aos povos em luita fosse ainda mais efectiva, que grande seria o futuro, e que próximo!”

“O ódio como factor de luita: o ódio intransigente ao inimigo, que

“Poderá ser ou nom o momento actual o indicado para iniciar a luita, mas nom podemos criar nengumha ilusom, nem temos direito a isso, de lograr a liberdade sem combater. E os combatentes nom serám meras luitas nas ruas de pedras contra gases lacrimogénios, nem de greves gerais pacíficas; nem será a luita dum povo enfurecido que destrói em dous ou três dias a estrutura repressiva das oligarquias governantes; será um luita longa, cruenta, que terá a sua frente nos refúgios guerrilheiros, nas cidades, nas casas dos combatentes -onde a repressom irá à procura de vítimas fáceis entre os seus familiares- na populaçom camponesa massacrada, ou nas aldeias e cidades destruídas polo bombardeamento inimigo. Empurram-nos para essa luita; nom há mais remédio que prepará-la e decidir-se a empreendê-la”.

impulsiona mais além das limitaçons naturais do ser humano e o converte numha efectiva, violenta, selectiva e fria máquina de matar. Os nossos soldados tenhem que ser assim; um povo sem ódio nom pode triunfar sobre um inimigo brutal”.

“Como poderíamos olhar o futuro de luminoso e próximo, se dous, três, muitos VietNam florescessem na superfície do globo, com a sua quota de morte e as suas tragédias imensas, com o seu heroísmo quotidiano, os seus golpes repetidos ao imperialismo, com a obrigaçons que entranha para este dispersar as suas forças, sob o embate do ódio crescente dos povos do mundo!” “Toda a nossa acçom é um berro de guerra contra o imperialismo e um clamor pola unidade dos povos contra o grande inimigo do género humano: os Estados Unidos da América do Norte. Em qualquer lugar que nos surpreender a morte, bemvinda seja, sempre que esse, o nosso berro de guerra, tenha chegado até um ouvido receptivo e outra mao se tenda para pegar nas nossas armas, e outros homens se aprontem para entoar os cantos lutuosos com rajadas de metralhadoras e novos berros de guerra e vitória”.

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