Abrente nº 50

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Vozeiro de Primeira Linha

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Ano XIII • Nº 50 • Segunda jeira • Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Sumário 3 30 anos de conflito

Mais vigente mais necessário

que nunca

lingüístico na imprensa independentista galega Maurício Castro 4 Parlamentarismo e via insurreccional Carlos Morais Conformismo e rebeldia juvenil Daniel Lourenço Mirom 5 Derrotismo e marasmo. Males da classe operária do centro capitalista? Alberte Moço Quintela A crise económica no sindicalismo galego Berta Lopes Permui 6 Umha Espanha de esquerda é possível? André Seoane Antelo 7 Compromisso com quê? Compromisso com quem? Igor Lugris Galiza: Um país com nome próprio Ramiro Vidal Alvarinho 8 Marxismo académico e marxismo militante Michael Löwy A alternativa comunista ao caos sistémico da economia de mercado Georges Labica 9 O marxismo a exame Iñaki Gil de San Vicente Ler Marx para a Galiza Domingos Antom Garcia Fernandes 10 Gütenberg ao serviço da esquerda independentista galega Noa Rios Bergantinhos 11 Umha dissidência exemplar Ana Barradas 12 Voltou o caimám! Umha foto da Itália de Berlusconi Marco Santopadre Assistimos a umha nova guerra fria? Carlos Taibo 13 Grandes desafios frente a umha grande crise Narciso Isa Conde Equador: Um povo em constante luita à procura da mudança revolucionária Grupos de Combatentes Populares 16 Galiza em tinta vermelha


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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Editorial

Contrariamente ao que nos quigérom e continuam a querer fazer acreditar os apologetas das injustiças, a guerra, a dor e o sofrimento, as propostas de Karl Marx nom só tenhem plena actualidade, como som imprescindíveis para evitar a catástrofe a que nos conduz o capitalismo. As teses e o método marxista de análise e transformaçom da realidade continua a ser a única via factível para combater a exploraçom da força de trabalho, o imperialismo e a opressom de género. Mas nom só é a melhor ferramenta para fazer frente à exploraçom e a toda forma de dominaçom: tendo contribuído para explicar e entender as nossas derrotas e reveses, tem-nos permitido ensaiar e construir a alternativa a actual caos sistémico. Tem clarificado que no século XXI, como no XIX, é Revoluçom comunista é a única via real, frente aos aparentemente mais fáceis, mas falsos atalhos, para atingir essa sociedade sem classes. Perante esta nova grande crise interna que convulsiona o cerne do Capital em escala internacional, a classe trabalhadora, os povos oprimidos como o galego, e as mulheres, devemos dificultar e impossibilitar, com todos os meios que pudermos, umha nova reciclagem do modo de produçom mais brutal da história da humanidade. A burguesia, mediante os enormes instrumentos de controlo e desinformaçom social que possui, pretende fazer-nos acreditar que as suas dificuldades devem ser pagas por nós, tal como aconteceu em outras crises precedentes. Para lograr este objectivo, contam com o apoio incondicional do reformismo, que colabora sem escrúpulos na hora de confundir e desmobilizar a luita popular. BNG e o espanholismo “de esquerda”, aparentando questionar a economia de mercado, reproduzem o neoliberalismo ali onde tenhem responsabilidades de gestom. Junta de Galiza e Cámaras Municipais som exemplos claros.

É pois o momento de luitar, de nom cair na inaniçom, de descartar atitudes contemplativas, de se armar de coragem para defender o que nos pertence, o que é nosso, o que tantos sacrifícios e esforços custou a atingir. O que agora fica em perigo pola

voracidade capitalista que, perante a sua grave ferida, pretende que sejamos nós, @s excluíd@s da terra, @s que levamos séculos a derramar suor, lágrimas e sangue, a pagarmos a sua crise. Com lamentos e resignaçom, com atitudes vacilantes,

com cobardias e oportunismos, estamos simplesmente condenados a padecer umha nova derrota saldada num novo retrocesso nas conquistas sociais e laborais que paulatinamente vimos perdendo.

Nom podemos depositar a mais mínima confiança nas duas caras da mesma moeda. PP/PSOE-BNG aqui, ou Obama/ McCain no centro do imperialismo, simplesmente representam o mesmo. Som o passado, a forma dura ou aggiornada de idêntico modelo e projecto excludente, em pleno declínio. Nom podemos continuar a alimentar esperanças entre escolher o mau ou o menos mau. Há que optar polo novo, por umha alternativa verdadeiramente rupturista que resista, combata e simultaneamente construa. Sem mais limites na hora de intervir que nom se afastar mais do necessário das reivindicaçons e do grau médio de consciência popular. Sempre por diante das massas, mas sempre com elas. Tampouco podemos alimentar o fetichismo parlamentar, acreditar que as cousas vam mudar polos resultados eleitorais da vindoura Primavera; embora nom devamos desprezar que a representaçom da classe operária galega no parlamentinho de cartom provocaria umha mudança qualitativa na orientaçom das luitas, na moral de luita popular. Perante a fraqueza, divisom e fragmentaçom que lamentavelmente padecem os instrumentos defensivos operários, da naçom e das mulheres galegas, nom só temos que favorecer aproximaçons e encontros políticos e ideológicos, temos que coincidir nas ruas, nas fábricas, centros de ensino e trabalho, participando nos combates diários, aprofundando na sua radicalidade e combatividade, buscando a hegemonia das esquerdas revolucionárias independentistas frente à capitulaçom do reformismo. O futuro vai ser difícil, de sofrimentos e dor, mas também vai ser luminoso porque grandes luitas som já visíveis no horizonte. A rebeliom é umha necessidade impostergável. A subversom um dever revolucionário. E ali estaremos convosco golpeando sem parar levantando a bandeira vermelha da nossa emancipaçom.

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ANÁLISE

Maurício Castro

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

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30 anos de conflito lingüístico na imprensa independentista galega

As limitaçons de espaço impedem-nos mergulhar numha descriçom e análise a fundo de um tema como o apontado no título, que devia estender-se aos textos estatutários, congressuais e outros documentos partidários. Conformaremo-nos com apresentar alguns traços definitórios da maneira como o processo de substituiçom lingüística em curso na Galiza tem aparecido reflectido na imprensa das organizaçons políticas independentistas nos últimos 30 anos. Partimos de umha leitura das principais publicaçons periódicas partidárias desde 1977, pertencentes às organizaçons UPG-lp, PGP, Galicia Ceibe (oln), Galiza Ceive (oln), PCLN, FPG, APU, PL e NÓS-UP, bem como à de colectivos políticos nom estritamente partidários como XUGA/JUGA ou AMI, comarcais como Iskreiro da Corunha e A Faísca de Ferrol, ou de colectivos como o cindido da primeira Galicia Ceibe em 84 e que mantivo a publicaçom de Espiral até 1986. Haverá que começar por reconhecer o maior investimento do nacionalismo ligado ao BNG durante os anos 70 e 80 na teorizaçom sobre o tema, sem que o independentismo conseguisse marcar um caminho próprio até que, com a imposiçom do isolacionismo como doutrina oficial, se produziu um avanço qualitativo e prático das posiçons teóricas reintegracionistas. Com efeito, a UPG-linha proletária e a sua continuaçom orgánica, o Partido Galego do Proletariado, nos respectivos meios de expressom (Terra e Tempo e Sempre en Galicia), denunciam nas suas páginas a imposiçom do espanhol na Constituiçom de 78, mas nom abordam a problemática social do idioma de maneira sistemática nem monográfica, centrando-se nos temas ‘clássicos’ das publicaçons comunistas da época e na crítica à linha política maioritária do nacionalismo. Pode-se falar, perante a escassa produçom própria, de um certo seguidismo em relaçom aos teóricos da corrente representada pola UPG em aqueles anos, na descriçom da situaçom sociolingüística e nas alternativas programáticas, enquanto na prática se coincidia também na denúncia da repressom lingüística e na reivindicaçom da cooficialidade para avançar na superaçom da diglossia social imperante. A questom da unidade lingüística galego-portuguesa ganha actualidade no fim dos anos 70 e inícios dos 80. Se inicialmente parece que a orientaçom oficial da nova Junta da Galiza será reintegracionista, mercê do labor de Ricardo Carvalho Calero à frente da Comissom nomeada para propor um padrom escrito (1980), a proposta é finalmente rejeitada em favor da representada polo isolacionismo do ILG. Após um debate estreito e condicionado pola curta visom partidista da UPG, o nacionalismo opta maioritariamente polo chamado reintegracionismo ‘de mínimos’, recolhido nas “Orientacións para a escrita do nosso idioma” da ASPG em 1982 e consagrado nas páginas de Terra e Tempo nesse mesmo ano. Com bom critério, também a Lei de Normalizaçom Lingüística é rejeitada pola maioria do nacionalismo. Por seu turno, Espiral, a publicaçom independentista estreada nesse mesmo ano e ligada a Galicia Ceibe (oln), só denuncia o “retrocesso” do uso público do galego, responsabilizando a política oficial e “a traiçom de muitos intelectuais”, entre os quais cita Domingo Garcia-Sabell, Xesús Alonso Montero ou Ramón Pinheiro, “cérebro de Realidade Galega”, o grupo de intelectuais galeguistas integrados no nascente projecto autonomista naqueles anos. Contodo, o espaço dedicado de maneira central ao conflito lingüístico nos seis números da primeira etapa dessa publicaçom é reduzido. Também nos treze números seguintes da segunda época, a cargo do grupo cindido de Galicia Ceibe (oln), há pouca reflexom sobre o idioma em relaçom a outros temas da actualidade sociopolítica, com poucas excepçons, como um artigo dedicado à situaçom no Berzo e incluído algum artigo escrito com a ortografia reintegrada. Será em 1984 quando, após a cisom, a nova Galiza Ceive (oln) dê o passo de situar o independentismo em parámetros reintegracionistas, no número 2 da sua nova publicaçom. Estamos perante um posicionamen-

Compostela, inícios da década de noventa

Capa do número 2 da publicaçom de Galiza Ceive (OLN)

to que marcará definitivamente a evoluçom posterior do independentismo, que, com excepçom do colectivo ligado a Espiral a das entidades da sua influência, fará do reintegracionismo militante um ingrediente fundamental.

É verdade que nom todo o independentismo foi, a partir daí, sempre reintegracionista. O PCLN reivindicou a unidade lingüística mas só utilizou os mínimos na sua única publicaçom partidária, aparecida no 1º de Maio de 1988. A primeira FPG, que nunca tivo pu-

blicaçom nacional, alternou os mínimos e os máximos em publicaçons comarcais como A Faísca, de Ferrol. Porém, o uso do padrom reintegrado foi in crescendo e foi a única norma usada polo ilegal EGPGC entre 1986 e 1991, pola APU entre 1989 e 1995, e pola sua organizaçom juvenil, a AMI, até hoje. A nova geraçom independentista que surgiu após a derrota do projecto político-militar da referida organizaçom armada mantivo maioritariamente essa orientaçom ou evoluiu nessa direcçom, o que fica patente no caso de Primeira Linha, surgida em 1996 no interior do BNG e cujo meio de expressom, Abrente, passa do uso dos mínimos nos primeiros 10 números, à assunçom do padrom reintegracionista nos 40 seguintes, até hoje. Paralelamente, essa nova geraçom de independentistas irá construindo um discurso e umhas práticas próprias no referente à política lingüística: o reconhecimento da nova fase do processo substitutivo, com a extensom do espanhol como língua maioritária das pessoas mais novas, requer novas respostas, como a recuperaçom do tensionamento social na reivindicaçom lingüística, a construçom de espaços de socializaçom monolíngüe, concretizada nos centros sociais, e com umha aposta firme na prática reintegracionista, incluído o relacionamento com a lusofonia, nunca antes tam estendida como nestes anos. Um outro sinal de identidade em que o independentismo inovou, na teoria e na prática, frente à passividade do BNG, foi a inclusom dos territórios do leste da autonomia num projecto integrador que faga do idioma o cerne da identidade e da construçom nacional. As publicaçons da AMI (Terra Livre), Primeira Linha (Abrente) e NÓS-Unidade Popular (Voz Própria) contenhem referências teóricas fundamentais para perceber a última década de teorizaçom e intervençom independentista em matéria lingüística, enquanto a corrente independentista surgida nos últimos tempos de umha nova cisom da UPG –o Movimento pola Base– assume também nos seus documentos a unidade lingüística. Quanto ao outro ramo do soberanismo, em que confluírom os velhos promotores de Espiral e o que ainda ficava da FPG primigénia, a publicaçom irregular de boletins que recuperam o cabeçalho histórico de Espiral reflecte nas suas páginas o isolacionismo que alguns intelectuais conseguírom transmitir à nova FPG. Umha estranha identificaçom com a teorizaçom autonomista na matéria, que nom só bate com a visom nacionalista e independentista, mas com as concepçons maioritárias do chamado galeguismo histórico desde, polo menos, o século XIX. Maurício Castro é Porta-voz nacional de NÓS-UP


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Portanto, isto significa que a Revoluçom, a tomada do poder polas grandes maiorias excluídas aplicando um processo de mudança radical do modo de produçom capitalista, suprimindo a propriedade privada, carece a inícios do século XXI de viabilidade, e tam só é umha romántica e boa intençom? As superstiçons e os fetichismos impostos polos donos do planeta pretendem que assim seja. Mas os seus desejos implementados com sangue, sofrimento e alienaçom chocam com a teimosa realidade.

Carlos Morais

A incorporaçom da classe operária como sujeito histórico, na política hegemonizada pola emergente burguesia e os esmorecentes velhos estamentos sociais do feudalismo, foi um processo convulso e violento. Desde o início, duas tácticas competírom por transformar a república burguesa parlamentar que Marx tam bem definiu como a mais eficaz forma de dominaçom política. Parlamentarismo versus via insurreccional –com as suas diversas variantes– provocou desde as primeiras décadas do XIX e todo o século XX grandes confrontos e portanto divisons entre as fileiras dos párias da terra. A dilatada experiência de mais de 150 anos de luitas obreiras e populares nom deixa lugar a dúvidas. O excludente e elitista sistema de representaçom burguês, a partitocracia, logrou domesticar e fagocitar importantes segmentos do movimento obreiro e popular incorporando-o a sua perversa lógica. A patética história dos PCs e dos sindicatos oficiais, mas também de importantes correntes operárias combativas, participando e assumindo acriticamente as adulteradas regras do jogo parlamentar, que justifica e perpetua o capitalismo, está na origem da actual desmobilizaçom e penetraçom da ideologia burguesa no cerne da nossa classe. Os grupos parlamentares da esquerda nom se diferenciam dos da direita. Porém boa parte das revoltas e revoluçons europeias –desde a Comuna de Paris até o Abril português, dos levantamentos operários dos alvores do século XX na Centroamérica até os recentes sucessos da Argentina, nom atingírom sucesso. Ou bem fôrom sufocados pola repressom ou bem mudárom de direccçom, adaptandose na procura da tranquila e bem remunerada incorporaçom no sistema.

Daniel Lourenço Mirom

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Opiniom

Parlamentarismo e via insurreccional

ciclo histórico que se esgota conta a seu favor com a fraqueza e a fragmentaçom do movimento obreiro e popular. Porém, o aviso é sério, saltárom os alarmes. As convulsons som inevitáveis. A capacidade e habilidade real de cada umha das duas forças em confronto determinará um ou outro resultado. A direcçom que adopte nom está pré-definida: ou umha recomposiçom, umha reciclagem, umha refundaçom dos actuais mecanismos de dominaçom para perpetuar a sua desordem umhas décadas mais, ou entom o início de um processo longo e contraditório no qual umha vaga contínua de luitas impossibilite umha nova mutaçom do capitalismo, avançando no imprescindível e vital tránsito para o Socialismo. A Revoluçom Galega como parte intrínseca da mundial deve impulsionar a construçom de forças sociais tendentes a atingir a hegemonia popular para a tomada do poder empregando de forma complemetar e criativa todos, sem excepçom, os métodos de luita: legais, alegais e ilegais. A via reformista fracassou há décadas. A alternativa insurreccional nom só continua vigente, é a única via factível para transitar com sucesso da cada vez mais próxima descomposiçom do regime de partidos burgueses para umha democracia socialista que solucione as três grandes tarefas do nosso particular processo: independência nacional, superaçom da exploraçom da força de trabalho, e plena igualdade de género quebrando as bases do patriarcado.

A luita anticapitalista deve ter a rua como centro de gravidade prioritário

A inevitabilidade da Revoluçom a que apelam as escolásticas interpretaçons da obra de Marx, partindo da cómoda inaniçom dos gabinetes e cátedras, tem-se constatado umha falácia que nos conduz a um beco sem saída. O mesmo que acreditar na possibilidade de mudar o sistema mediante umha gradual acumulaçom de forças empregando a via eleitoral da democracia burguesa. Tampouco tem dado resultados a intervençom vanguardista de núcleos militantes que combatem sem a mais mínima ligaçom com as massas. Nom há modelos pré-determinados,

mas sim princípios gerais revolucionários. Sem organizaçom prévia, combinando a interacçom da(s) vanguarda(s) com estruturas amplas de massas, nom é possível converter a resignaçom e o mal-estar em confiança e oposiçom activa; a revolta espontánea em revoluçom com direcçom colegiada e legitimada, de clara orientaçom socialista; sem um paciente investimento em formaçom militante, elaboraçom teórica, intervençom social, participaçom nas luitas, enormes doses de sacrifícios, entrega e heroísmo, combinando-as dialéctica e criativamente com originalidade, as possibilidades

de sucesso reduzem-se exponencialmente. A revoluçom bolchevique, a chinesa, a cubana, a vietnamita, a nicaraguana, tenhem constatado que a interligaçom destes factores e formas de luita som essenciais para a vitória. A actual crise do modelo vigorante à escala planetária é mais profunda e séria do que reconhecem os amos do Capital. Querem solucionar com máxima urgência a grave avaria que padece. Sabem que nom tem arranjo estrutural. Agora só pretendem um apanho, ganhar tempo, evitar males maiores. Lamentavelmente o

A subversom do capitalismo –que simultaneamente, por puro instinto e necessidade de sobrevivência, vai experimentar profundas metamorfoses e endurecimento– nom vai ser resultado de votos e campanhas eleitorais. Para evitarmos o abismo a que nos conduz a oligarquia mundial e as suas corruptas sucursais locais, é necessário desenvolver o que Marx, Lenine e o Che nom se cansárom de transmitir nas suas sistemáticas análises: disciplinada organizaçom comunista para umha luita longa e dura. As espadas tenhem que estar em alto. Chegou a hora de serem desenbainhadas. Carlos Morais é secretário-geral de Primeira Linha

Conformismo e rebeldia juvenil

Vivemos tempos em que a rebeldia semelha cousa do passado, alheia às perspectivas vitais da juventude desta Galiza de 2008. Parece mais própria dos estudos nostálgicos daquele Maio de há quarenta anos, que há uns meses enchêrom livrarias e tertúlias, mas que nada tenhem a ver com a realidade de umha juventude atrapada pola abafante pressom do consumismo e de umhas condiçons de existência cada vez mais precárias, mas no melhor dos casos entregada em compromissos supérfluos inofensivos, descartáveis. É essa a realidade d@s jovens galeg@? Sinceramente, nom o cremos. Nom negaremos as enormes dificuldades que qualquer projecto juvenil transformador encontra para assentar e crescer entre a juventude galega deste início de

século. Mas responsabilizar por estas dificuldades um misterioso, quase místico, conformismo que de um ano, ou década, para outra tem feito presa n@s jovens é, achamos, suicida. Para umha correcta compreensom destas dificuldades, há primeiro que rachar as concepçons idealistas arredor da juventude, que a identificárom, e identificam, como sujeito revolucionário ou principal protagonista da transformaçom social. No seio da juventude, da galega ou de qualquer outra parte do mundo, latem as mesmas contradiçons que caracterizam a própria sociedade. A pertença a este sector social, definido unicamente como determinada qualidade etária, nom implica umha determinada posiçom na luita de classes, nem identificaçom nacional concreta.

Porém, é inegável a reiterada e destacada participaçom d@s jovens nos sucessivos processos de transformaçons social ao longo da história, só comprensível a partir da aceitaçom da existência de umhas condiçons psico-físicas em apogeu que facilmente colidem com a desigualdade, a opressom ou a injustiça, quer dizer, com a ordem social burguesa. É por isto que a juventude, especialmente @s jovens pertencentes à classe trabalhadora, é o principal alvo da repressom, entendida como o conjunto de instrumentos coercitivos tanto conscientes como subconscientes, destinada a anular a nossa capacidade crítica, envelhecer-nos de forma prematura, para evitar a potencialidade da rebeldia juvenil. O capitalismo, na procura de mais e maiores benefícios, tem

endurecido de forma extraordinária as condiçons de existência da juventude galega. Elevadas taxas de exploraçom laboral, precariedade, sinistralidade, ausência

de perspectivas som a realidade de umha mocidade que, além do mais, sofreu um intensivo processo de assimilaçom lingüística e cultural, que pom em perigo a pró-

pria sobrevivência da Galiza como naçom. Esta espectacular deterioraçom das condiçons materiais de existência da juventude trabalhadora na Galiza, está no cerne da explicaçom da acrescentada e aperfeiçoada repressom que sofremos, que o capitalismo logrou interiorizar, tornar insconsciente numha parte importante da mocidade. Repressom taimada, e à vez mais efectiva, que combinada com as medidas mais visíveis, e duras, destinadas a punir a juventude consciente e organizada, explicam o envelhecimento prematuro da mocidade galega, assim como os enormes benefícos que desta situaçom tira o poder adulto. Se pretendermos revitalizar o movimento juvenil na Galiza a partir de uns parámetros nacionais, antipatriarcais e socialistas, é umha obrigaçom luitar contra os efeitos do poder adulto sobre a mocidade. Conquistar independência e capacidade crítica, perante os adultos e o sistema, ganhar auto-organizaçom para atalhar a nossa derrota vital e conhecer, intervir e combater as múltiplas opressons de que somos objecto enquanto jovens pertencentes à classe trabalhadora. Daniel Lourenço Mirom é membro do Comité Central de Primeira Linha


Opiniom

Alberte Moço Quintela

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Derrotismo e marasmo. Males da classe operária do centro capitalista?

A actual crise mundial do capitalismo está a gerar em cada vez maiores camadas do Povo Trabalhador a imperiosa necessidade de transformaçons radicais na sociedade. Transformaçons que permitam a melhoria objectiva e subjectiva das suas condiçons de existência. Naturalmente, nem sempre estas novas necessidades virám acompanhadas da tomada de consciência a respeito das mesmas, eis umha das principais tarefas do nosso movimento. Porém, mesmo no caso de que esta tomada de consciência chegue a abrolhar, deveremos enfrentar um problema tam velho como a própria acçom política: o derrotismo, o imobilismo, a apatia, o pessimismo, a desesperança ou como quigermos chamá-lo é um mal que padecemos a diário e que em nom poucas ocasions somos incapazes de combater com sucesso. Quando dentro mesmo das nossas organizaçons revolucionárias, onde na teoria está o mais avançado da classe operária, achamos elementos e colectivos que se deixam levar pola derrota, que perdem toda confiança nas próprias forças e caem na inacçom e na preguiça, é porque na classe de que fazemos parte as cousas nom andam lá muito bem. Efectivamente, se dermos umha olhada às nossas companheiras e companheiros de trabalho veremos que a maioria nom moveriam um dedo por reclamar um convénio mais justo; ou se perguntarmos na nossa universidade, a maioria terám pago as suas taxas desorbitadas sem protestarem mais que na cafetaria, por muito que tenham trabalhado no Verao para conseguirem o dinheiro. Em conjunturas como a actual, de crise capitalista e ofensiva aberta contra a classe operária, os patrons fam o impossível por infundir frustraçom e medo no

Berta Lopes Permui

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Vigo, Novembro de 2008. Mobilizaçom operária

subconsciente colectivo. Sabem que umha massa apática, rendida e carente de motivaçom é também umha massa submissa e maleável. E, naturalmente, também sabem muito bem que a força subjectiva de um projecto revolucionário radica em boa parte na esperança e na autoconfiança, na certeza de que o próprio projecto nom só é necessário e superior a qualquer outro,

como também alcançável na prática. É por isso que a burguesia sustenta umha intensa guerra psicológica para baixar a moral da nossa tropa, por isso reprime brutalmente a mínima expressom de rebeldia, por isso droga a juventude, por isso ameaça com o desemprego. Cada vez que compra umha traiçom sindical ou quando dissolve umha manifestaçom ou privatiza

um serviço público, cada vez que aperta a corda arredor dos nossos pescoços e nom somos quem de afrouxá-la, a impotência e a frustraçom abrem passagem em algumhas consciências. De qualquer jeito, e apesar da eficácia da classe dominante na hora de reforçar a ideologia do marasmo, nom devemos cair na simplificaçom de que esté é um mal

que unicamente nos vem imposto de fora. Como seres conscientes imersos num universo dialéctico onde a luita de contrários é permanente, o ser humano é individual e coectivamente vulnerável ao imobilismo independentemente da sua origem de classe. Nom temos mais que olhar como a burguesia se preocupa constantemente por combater esta tendência entre os seus quadros. Os capitalistas que tenhem iniciativa, assumem riscos e vencem obstáculos internos e externos para encetar projectos empresariais, som chamados empreendedores. A eles entregam subsídios, créditos, formaçom e todo o tipo de facilidades para poderem roubar-nos com sucesso. Nom é este espaço para umha análise rigorosa sobre esta questom ou outras colindantes de similar urgência; sirva este texto apenas como chamado para a reflexom sobre um aspecto da nossa luita, o subjectivo, o psicológico, que condiciona transversalmente o nosso accionar sociopolítico diário e que em muitas ocasions fica desconsiderado. Alberte Moço Quintela é membro da Direcçom Nacional de NÓS-UP

A crise económica no sindicalismo galego

Desde há meses, a crise económica que atravessa o capitalismo e os seus efeitos na vida diária d@s galeg@s rivaliza com os tradicionais temas de conversa que se desenvolvem na rua ou se podem ouvir em cafetarias, bares ou mercados. Embora se careça das ferramentas para umha compreensom crítica da verdadeira natureza de um fenómeno de que somos testemunhas, e também as suas principais vítimas, a crise hegemoniza as preocupaçons de umha populaçom que intui, com razom, que será quem pagará a enorme factura da irracionalidade do capitalismo. Os dados oficiais que mês após mês imos conhecendo, somado à percepçom do seu impacto na rápida perda de poder aquisitivo da classe trabalhadora, vam configurando a enorme dimensom e excepcionalidade de umha crise que se começou a gestar há mais de um ano, e que parece vai demorar a tocar fundo. No Estado espanhol, o papel do governo, partidos políticos do sistema, organizaçons empresariais ou meios de informaçom é claro. Combinam a perplexidade perante a magnitude da crise e a sua incompetência para lhe fazer frente, com umha mensagem clara dirigida à classe trabalhadora: é o momento de ter responsabilidade e sentido de Estado, há que arrimar o ombro. As organizaçons sindicais CCOO e UGT, autênticos lacaios do patronato, compreendêrom perfeitamente a mensagem lançada polos centros de poder e renunciárom solenemente, após umha reuniom dos autodenominados “agentes sociais, a pôr em andamento qualquer iniciativa destinada a questionar a gestom da crise por parte do governo intitulado socialista, de todos os pontos de vista, nefasta para a classe trabalhadora. Unicamente se atrêverom, numha patética tentativa de polo menos suavizar a, a insunuar sem alçar muito a voz a possibilidadade de mobilizaçons após serem conhecidos os dados do desemprego, que ameaçam alcançar recordes históricos. E que há do sindicalismo nacional e de classe representado na CIG? Que devemos esperar da organizaçom melhor preparada, achamos nós, para encabeçar um amplo movimento de massas anticapitalista? Assistire-

mos a umha tentativa real de canalizar o enorme descontentamento popular arredor da crise para enfrentar a miséria a que nos prentende condenar o capital ou a umha campanha ou mobilizaçons de compromisso? Se tivermos claro qual é o papel de CCOO e UGT, som muitas as incognitas arredor da actuaçom da CIG perante os muitos reptos que a classe trabalhadora enfrentamos e que obrigam a umha intervençom que supere umha visom de tipo economicista, centrada unicamente na resistência nos distintos centros de trabalho. Os antecedentes nom som bons. Nos últimos anos, a CIG, seqüestrada por umha direcçom empenhada em convertê-la em correia de transmissom do autonomismo, tem renunciado a articular umha ampla resposta popular às agressons patronais, que ameaçam com limitar as conquistas históricas da classe obreira. O último exemplo é bem recente. A campanha contra a Directiva europeia das 65 horas resultou, sendo benevolentes, escassa e limitada. Desconhecemos se a nova campanha contra a crise estrutural do capitalismo seguirá o mesmo esquema, mas a falta de interesse do sector maioritário na direcçom do sindicato e a apatia que evidenciam de um tempo para cá os sectores críticos, obrigam-nos à desconfiança. A magnitude da crise é extraordinária e os desafios som enormes. Sabemos que a burguesia tratará de equilibrar as suas perdas aumentando as taxas de exploraçom sobre a classe trabalhadora e tentará aproveitar a situaçom criada para abordar a flexibilizaçom do mal chamado mercado laboral. É urgente que @s revolucionári@s reaccionemos de umha vez por todas e nos ponhamos maos à obra para combater o conformismo e a resignaçom que políticos e meios de informaçom pretendem transmitir às classe populares. Neste momento, quando que o capitalismo e a burguesia monstram mais as claras as suas nefastas conseqüências, há que empenhar-se em construir com mais força do que nunca a alternativa socialista. Funcionário do Estado, E. Kordish (1930)

Berta Lopes Permui fai parte do Comité Central de Primeira Linha


André Seoane Antelo

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Opiniom

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Umha Espanha de esquerda é possível?

O questionamento da monarquia imposta polo franquismo e a liberdade dos povos oprimidos marca a linha divisória entre a esquerda e a pseudo-esquerda

Todo o mundo sabe que durante os últimos anos estamos a passar por umha fase de readequaçom e rearmamento do nacionalismo espanhol. Umha revisom do arsenal ideológico que tem como objectivo permitir abordar definitivamente, ou quando menos essa é a intençom, a soluçom do “problema nacional espanhol”. Como seria esperável, a faceta mais visível desta ofensiva ideológica do espanholismo está a ser levada avante pola versom reciclada da tradicional “caverna espanhola”. Nom é um acaso que seja a emissora radiofónica da conferência episcopal o emblema do renascer da extrema-direita, no fim de contas a aliança do espanholismo e a Igreja católica vem de velho. Mas nom é este o momento de avaliar qual está a ser a actividade deste sector, embora seja de muito interesse e absolutamente preciso dar atençom ao que mudou na extrema-direita para lhe permitir apresentar umha face renovada e com capacidade de mobilizaçom de massas. Mas desta vez consideramos ainda mais necessário fazer umha breve reflexom sobre outra póla do nacionalismo espanhol, a que apresenta um face mais amável, mas nom por isso menos negadora dos direitos nacionais do nosso povo e das outras naçons sem Estado submetidas por Espanha.

Assim, de jeito paralelo ao ressurgir do espanholismo de direita, tem avançado também a reconfiguraçom de um espanholismo que pretende situar-se numha posiçom ideológica de esquerda. Reconfiguraçom que tem a sua visualizaçom mais nítida na reivindicaçom de umha futura Terceira República espanhola. Curiosamente, o avanço e visibilidade do “novo republicanismo espanhol” coincide no tempo com a enésima crise na organizaçom referente da maioria da “esquerda espanholista”, a coligaçom IU, mas tal situaçom nom é contraditória se repararmos que umha boa parte das vozes críticas no interior dessa organizaçom fam responsável polo seu esfarelamento a excessiva ligaçom mantida nalgum momento entre IU e alguns sectores de determinados movimentos nacionalistas, ou à assunçom de reivindicaçons próprias dos movimentos de emancipaçom nacional. Deste jeito, e como símbolo do rearmamento da ideia de umha Espanha que se poderia construir a partir da esquerda, nos dias de hoje a bandeira espanhola tricolor volta a ser um elemento presente nas mobilizaçons populares, levantada com orgulho por quem acredita em tal ideia. E, mais umha vez, voltam a escuitar-se as vozes dos papagaios que reiteram de mil e umha maneiras os velhos tópicos da esquerda

estatalista: o nacionalismo é um movimento burguês, @s operari@s nom tenhem pátria, as luitas nacionais

disgregam a esquerda, et cetera... Velhos retrousos contra os quais a esquerda independentista galega, e o conjunto de movimentos de libertaçom nacional de todo o mundo, temos combatido; sabedores como somos que Espanha nom pode ser reformada: simplesmente há que destrui-la. Porém, nom deixa de ser curioso como a esquerda espanholista olha para outro lado quando se chama a atençom sobre o facto de que a suposta disgregaçom de forças que provoca a luita de libertaçom nacional tenha dado lugar a que, precisamente, lá onde existe um conflito nacional de importáncia dentro do Estado espanhol, seja onde a esquerda se ache num melhor nível de actividade e presença real. Mas, por muito boas que fore as intençons do “espanholismo progre”, a realidade nom deixa de ser a que é. E Espanha só é um aparelho em maos da oligarquia para exprimir de um jeito mais eficiente a mais-valia da classe operária, e nesse senso a discriminaçom e opressom das naçons inseridas à força no seu seio é mais umha ferramenta para optimizar a exploraçom. Simplesmente para a tornar mais eficiente.

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E, por muito que se empenhem, nom podem mudar o facto de que para construir Espanha tenhem que passar sobre o cadáver da Galiza e das outras naçons sem Estado. Naçons às quais Espanha, imperial ou republicana, nom sabe fazer mais que negar-lhes a soberania, aniquilar a sua língua e cultura, e explorar ao máximo os seus recursos. Factos que, como é evidente, nom estamos dispost@s a tolerar. Assim, a modo de resposta às novíssimas propostas que trazem os vozeiros do renovado republicanismo espanhol, poderíamos fazer nossas as palavras que a Federaçom Comunista Catalano-Balear escrevia ao Comité Executivo da Internacional Comunista numha carta aberta publicada em Maio de 1931 no jornal La Batalla, apenas um mês depois da proclamaçom da Segunda República Espanhola: “Nós somos partidários ardentes da independência da Catalunya, de Euskadi, de Galiza, de Andalucia, etc... A burguesia nom pudo fazer a unidade ibérica. Tem mantido a coesom mediante um regime de opressom constante. Espanha, que nom é umha naçom senom um Estado opressor, deve ser disgregada”. André Seoane Antelo fai parte do Comité Central de Primeira Linha


Opiniom

Igor Lugris

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

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Compromisso com quê? Compromisso com quem?

No mundo ocidental actual em que vivemos, o consumo é em si mesmo um fim. Consumir é, no mundo capitalista, o maior exemplo de liberdade. Nom é por acaso que os defensores deste mundo como o único mundo possível sempre falem da necessidade de defender o “sistema de livre mercado”. A produçom cultural, para bem e para mal, nom é alheia a isto. A Produçom Cultural com maiúscula, a Cultura séria, essa que aparece em, e é promovida por, os grandes grupos mediaticos, essa que ocupa as prateleiras das livrarias dos centros comerciais, os museus e as galerias de arte, os coliseus e os palácios da música, as salas de cimena e os teatros, as discotecas e as universidades... só se produz para ser vendida, para ser comprada. E, para se vender, para poder ser comprada, tem que situar-se consciente ou inconscientemente dentro de umha aposta ético-estética, político-ideologica, que lhe permita ser compatível com a óptica burguesa do mundo. Isso significa que tem que botar pola borda o compromisso com a liberdade, com a emancipaçom, com a fraternidade, com a igualdade. Tem que ser umha produçom cultural que asuma a necessidade de se converter num bálsamo apaziguador das evidentes injustiças realmente existentes no mundo contemporáneo, gestando-se longe de qualquer preocupaçom social e excluindo do seu ADN todo o que puder contribuir para compreender os motivos polos quais este mundo deve ser transformado. A cultura situa-se, assim, no campo do colaboracionismo político-ideológico com o capitalismo e a indiferença social, e promove a visom da inevitabilidade do mundo actual tal e como o conhecemos. É umha cultura comprometida, sim, mas comprometida com o sistema imperante, actuando como parte de umha grande campanha de propaganda e publicidade do mesmo. Porém, umha outra cultura é possível. Porque é necessária. Umha cultura da denúncia, da resistência, da insurreiçom. E já se está a construir. Já existe. Existe desde sempre. Seria um tópico dizer que essa outra cultura está longe da cultura pró-burguesa colaboracionista. Um tópico falso, além do mais. Porque nom é assim: essa cultura está-se a produzir aqui mesmo, ao nosso redor, e, entre outras cousas, a rede, Internet, é umha das suas ferramentas básicas de trabalho. Umha cultura que entende que é necessário, que torna inevitável, transgredir a ordem: a ordem cultural, mas também a ordem sociopolítica. Umha cultura que situa no centro da sua criaçom a legítima vontade de intervir na realidade, consciente de que resistir é fazer frente ao sistema socioeconómico global que avança sem deparar com resistências no campo da política e a cultura oficiais. Umha cultura rebelde que continua a apostar na Utopia, mas que situa também dentro das suas coordenadas o indispensável confronto com o estabelecido: contra os canones, contra a mercantilizaçom, contra os espartilhos e as etiquetas, contra os compartimentos estancos, contra as categorias predefinidas,... Na rede, podemos encontrar muitos exemplos diversos, distintos, plurais, de diversos campos, que mostram a capacidade e vitalidade desta outra cultura resistente. Ninguém está a inventar nada novo: está-se a actualizar umha tradiçom de cultura comprometida com a transformaçom, com a denuncia social. Obras que circulam livremente pola Internet, procesos de criaçom abertos à participaçom doutros artistas e/ou público em geral, grupos que criam colectivamente as suas obras sem procurar um reconhecimento individual, experiências que sobardam ou racham os limites dos géneros e as técnicas culturais, etc... Umha multitude heterogénea de manifestaçons artísticas comprometidas com a ideia de que a criaçom cultural é inseparável do processo social em que está inserida, e que nem pode nem deve ser alheia a esse processo nem pretender circular de forma independente ou autónoma, mas assumindo o inevitável diálogo e interacçom com o mesmo.

O maior acto de violência simbólica que se pode fazer sobre umha naçom é negá-la. À naçom galega negam-lhe até o nome. Sem pudor. Por cima da verdade científica. Por cima da verdade histórica. É um acto imoral de abuso continuado contra a nossa dignidade colectiva. Tivérom que passar sessenta e nove anos para que a Real Academia Galega se pronunciasse sobre a correcçom ou nom do nome Galiza. Sessenta e nove anos a suportar a prepotência dos mesmos que jamais mexêrom um dedo pola língua – ou que se o mexêrom foi em contra dela – que expediam a concorrência oral ou escrita do nome da pátria com o carimbo de “incorrecto”. Essa palavra nom existe, nom representa conceito qualquer, referenciamos com ela pois um sujeito irreal. Da tradiçom da palavra Galiza nom deveríamos ter que dar umha explicaçom. E eu nego-me a fazer deste artigo umha defesa histórica ou filológica do nome do País. Incluso aqueles e aquelas a quem prói tanto escuitar “Galiza” sabem que existem numerosos documentos históricos onde tal nome aparece para denominar a nossa terra. Também sabem perfeitamente que em Portugal, a terra onde Castelao afirmava que a nossa língua seguia a florescer, a Galiza continua a ser a Galiza; assim é como continua a ser chamada. Para quê, entom, me vou esganar eu em demostrar com provas bem conhecidas que a Galiza é a Galiza, e nom porque o inventemos quem com tal nome a reivindica, mas porque assim se conheceu até há bastante menos tempo do que a alguns e a algumhas gostavam de reconhecer?

Ramiro Vidal Alvarinho

Igor Lugris é membro de Fala Ceive do Berzo e fundador de Primeira Linha

George Grosz

Galiza: Um país com nome próprio

No fim de contas, o argumento mais poderoso em favor do, para mim, autêntico nome do nosso país está na vontade das geraçons de galegos e galegas que, através do tempo, fôrom conservando, transmitindo e reivindicando o legítimo nome da Galiza. Esse é o nosso argumento mais incontestável. Fuco Gomes, Castelao, Joám Vicente Viqueira, Moncho Reboiras... desde o Comité Arredista Revolucionáreo até o actual MLNG, desde as Irmandades da Fala até os actuais centros sociais que vam surgindo ultimamente polo País adiante... os meus, as minhas sempre pensárom, falárom, sonhárom, construírom, luitarom... de, em e para a Galiza. Essa é a tradiçom que a mim me indica que estou no correcto. A Galiza que reivindicavam todos estes indivíduos, gente e movimentos (o mais digno que deu a nossa terra) era, é, umha Galiza com história, com território, com memória, com cultura, com língua... bem definidos. E essa Galiza, naturalmente, entra em contradiçom com a Galicia que alguns defendem, cerceada na sua territorialidade e dividida artificialmente em quatro províncias, com a sua língua e cultura relegadas a um lugar socialmente subalterno, e sem reconhecimento legal como sujeito político. Portanto, tem razom quem, de um bando ou outro, defendem que a Galiza e Galicia som conceptualmente irreconciliáveis. O projecto sociopolítico que defendemos nada tem a ver com a Galicia oficial, pensada a partir do espanholismo e para ser espanhola. Ramiro Vidal Alvarinho é membro da Direcçom Nacional de NÓS-UP


Michael Löwy

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Mais vigente, mais necessário que nunca

Marxismo académico e marxismo militante

Karl Marx nunca separou a teoria da pratica, o trabalho do conhecimento da luita transformadora. A filosofia da praxis marxista nom comporta esta separaçom, na medida em que associa dialecticamente, num mesmo processo historico, o pensamento e a acçom revolucionárias. O Manifesto Comunista é um belíssimo exemplo desta unidade dialéctica. Certo, depois da derrota da revoluçom de 1848-50, Marx passou vários anos dedicado ao seu trabalho de investigaçom, a redacçom de O Capital. Mas esta obra foi concebida como umha arma no combate emancipador da classe trabalhadora. E logo que as condiçons se modificárom, no curso dos anos 1860, Marx voltou a participar activamente na luita dos trabalhadores por sua emancipaçom, como dirigente da Primeira Internacional. Voltamos a encontrar esta dialéctica na obra e na acçom dos grandes pensadores marxistas do século XX : Rosa Luxemburg, Lenin, Trotsky, Lukacs, Gramsci, José Carlos Mariategui, Che Guevara, Amilcar Cabral, Franz Fanon, Ernest Mandel, Henri Lefebvre, Guy Debord e tantos outros. Outros filosofos marxistas, sem aderir à algum partido, nom deixárom de redigir a sua obra numha perspectiva crítica e de combate polo socialismo: Walter Benjamin, Ernst Bloch, Jean-Paul

Georges Labica

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Sartre, Herbert Marcuse. Outros, bem mais afastados da prática social, dérom entretanto umha contribuiçom importante pola sua critica profunda da civilizaçom capitalista e da sua racionalidade instrumental: Theodor Adorno, Max Horkheimer, O que se poderia chamar de «marxismo académico» é um fenomeno antigo - basta pensar no assim chamado «marxismo legal» na Rússia do começo do século XX– mas que se desenvolveu bastante nos ultimos anos, em particular nos países capitalistas avançados. Neste caso, o marxismo nom só está separado de qualquer actividade pratica, mas deixa de ser um instrumento de análise e de combate contra a civilizaçom capitalista, para se transformar num exercicio inócuo, numha actividade intelectual descomprometida, num jogo académico mais orientado para as carreiras profissionais do que para as luitas dos explorados e oprimidos. Nom vamos citar nomes, a lista seria demasiado longa. Se os anos de refluxo - as ultimas décadas do século XX - favorecêrom o «marxismo académico» o novo periodo que se abre em inicios do século XXI cria melhores condiçons para umha renovaçom do marxismo militante. Michael Löwy é intelectual marxista

Diego Rivera, História do México, Palácio Nacional (México)

A alternativa comunista ao caos sistémico da economia de mercado

O capitalismo, que chegou ao estádio da globalizaçom, sob a hegemonia estado-unidense, fai do mundo um campo de destruiçom. O tempo em que se podia separar e pôr em evidência alguns aspectos positivos deste sistema, é doravante findo. Os processos de destruiçom nom evitam domínio algum, quer se trate de mercadorias, cujo estatuto acabou de estender-se ao conjunto de actividades humanas, e que estám à vez interditas à satisfaçom das necessidades reais das pessoas e som superabundantes; quer se trate dos mesmos capitais, cujo carácter especulativo e fictício domina sobre o produtivo; bem se trate dos serviços, em particular dos serviços públicos, entregados aos interesses privados; ou mesmo de regimes políticos que se reclamam da democracia para a esvaziarem do seu conteúdo e despojar os cidadaos dos seus direitos. Os homens e as mulheres, cuja condiçom é ainda pior, estám submetidos a todas as formas de exploraçom e de arbitrariedade. A procu-

ra sem freio do lucro desvaloriza o trabalho e torna-o aleatório. As desigualdades nom param de crescer, tanto na educaçom, como na saúde, a justiça, o acesso aos bens, no sexo ou no plano étnico, e imponhem, ao seu redor, um “mundo de duas velocidades”. Os indivíduos e, sob o efeito das agressoms militares imperialistas, povos inteiros som considerados, de facto, como se estivessem a mais. Tal é o caso dos sem emprego, dos imigrantes (200 milhons) e dos povos palestiniano ou iraquiano. A miséria, a pobreza e agora a fame nom param de aumentar a escala mundial, compreendidos aí os países chamados “desenvolvidos”. A ideologia da luita em contra do terrorismo substitui-se directamente pola hipocrisia do discurso dos Direitos do Homem em tanto que ideologia dominante. Graças ao pretexto dos atentados do 10.09.01, o “Patriot Act” elevou a guerra a estratégia política para o controlo dos recursos energéticos mundiais e a proibiçom de todo desenvolvimento nacional independente. Impulsionou

nos países “democráticos”, também nos autoritários ou ditatoriais, medidas de vigiláncia, policiais e de

repressom contra todos os cidadaos. Em nome da caça aos terroristas, o terrorismo de Estado situa-se além

das leis. No entanto, a esperança incrementa-se igualmente. Levada polas

cóleras, as luitas e os levantamentos que estouram por toda a parte, a Norte como a Sul, a Oeste como a Leste, nas naçons ricas e pobres. Por toda a parte, a tomada de consciência da maleficência do liberalismo económico e guerreiro amanhece e afirmam-se as distáncias e a hostilidade para com o imperialismo. Este último está, por outro lado, gravemente atacado no seu seio pola sua impotência para gerir as catástrofes, tanto as naturais como as económico-financeiras, e sobre os terrenos de combate externos onde choca com as resitências populares. As naçons da América Latina som prova de que outro mundo é possível. A crise financeira actual torna patente para qualquer um a natureza criminosa do sistema. A instauraçom de umha sociedade comunista está mais do que nunca na ordem do dia. Ela supom a criaçom de um internacionalismo de luita de classe. A via revolucionária e a violência emancipadora nom teriam de ser excluídas. Georges Labica é intelectual marxista


O marxismo a exame

Domingos Antom Garcia Fernandes

Porquanto praxis da revoluçom comunista, o marxismo está submteido a exame em todo o momento, de forma permanente, sem folga nem trégua. Nom pode ser de outro jeito, e é bom e inevitável que assim seja. Trata-se do ditado do que Lenine definiu como “o critério da prática”, que consiste em que, afinal, é a materialidade dos factos históricos que decide sobre a correcçom teórica. E embora os factos históricos sejam interpretados muito freqüentemente de formas opostas dependendo das jubjectividades e interesses socialmente antagónicos, nom é menos certo que, afinal, o material e o imaterial termina por girar em volta de algo tam essencialmente desumano como é a exploraçom da força de trabalho em qualquer umha das suas formas por umha minoria proprietária a título privado das forças produtivas. Esta visom científicocrítica da história, quer dizer, a objectividade da exploraçom, opressom e dominaçom além da capacidade subjectiva de o compreender, é que atribui ao marxismo a sua originalidade e superioridade qualitativa com respeito à ideologia burguesa. Está isto em relaçom com a raiz da crise financeira actual, que fai parte de umha crescente crise sistémica de acumulaçom, proliferam ditados sobre “a volta de Marx”, “a vingança de Marx”, “a recuperaçom do marxismo”, etc. Mas o problema é outro, decisivo e fulcral para a humanidade trabalhadora; ei-lo: o que está agora a acontecer nom é tanto umha confirmaçom do marxismo, que também, como o início de um exame de maior importáncia, o de se as esquerdas marxistas som –somos– capazes de orientar o crescente mal-estar popular para o socialismo, avançar no enfraquecimento estrutural da ditadura do salário e da mercadoria, no aumento do contrapoder

Ler Marx para a Galiza

O primeiro artigo de Marx no Vorwärts, em 1844, enuncia um programa de trabalho que ocupará a sua vida: “Toda revoluçom derroca a sociedade anterior; neste senso é social. Toda revoluçom derroca o poder anterior; neste senso é política”. Desde A Ideologia Alemá (1846) analisa o desenvolvimento das Forças Produtivas e o modo como a divisom do trabalho muda em alienaçom a promessa de desenvolvimento colectivo e individual. Tal contradiçom leva-o a formular com coragem no Manifesto Comunista (1848): “A burguesia produz, antes de mais, os seus próprios coveiros”. Como conceber umha perspectiva revolucionária em ausência da mesma? Pensar a acçom, ou umha teoria da prática, é precisar a viabilidade da teoria a partir das condiçons de realizaçom política. E depois de 1848 até o fim dos seus dias nom desiste da tarefa de contribuir para a Crítica da Economia Política para desvendar o modo de produçom capitalista e a contradiçom fundamental do mesmo (a centralizaçom dos meios de produçom e a socializaçom do trabalho) em contra de discursos apologéticos, mas também de críticas superficiais e ingénuas. E sempre se ocupou das representaçons na teoria, de como as crenças, a ideologia,

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Mais vigente, mais necessário que nunca

Iñaki Gil de San Vicente

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

o imaginário, modificam o real à vez que estám configuradas, estruturadas por ele. Existe um condicionamento recíproco entre a base técnica revolucionária e a consciência também revolucionária. E a consciência de classe –isto seria umha espécie de paixom racional– rejeita o domínio de classe. E os homens supérfluos avistam a esperança da sua libertaçom futura. E nese empenho nom se entrega a teleologias, determinismos ou filosofias da história. E mesmo aponta soluçons ecológicas e crimina umha produçom que mina as fontes de que mana toda a riqueza: a terra e o operário. E viu um esboço revolucionário na Comuna de Paris, que foi, mália o seu fracasso, “a forma política (…) que permitia realizar a emancipaçom económica do trabalho”. Toda umha dialéctica que, longe de enaltecer o estado de cousas existente, escruta, para escándalo da burguesia, a sua destruiçom necessária. Milhares da páginas ao serviço da revoluçom que em boa medida seguem a estar em vigência e que permitem neste caso ajudar a compreender em chave materialista a situaçom de Galiza na dinámica do capital. Umha Galiza com um meio espoliado, com umha paisagem progressivamente estragada ao quebrar tempos e espaços. Com certeza que as naçons som construídas mas, de nom conservar as tradiçons positivas da Ecologia popular e secular, de permitir o esbanjamento dos nossos montes, dos rios, das terras, das praias, de permitir que o cimento acabe por ocupar todo... a Galiza ficará uniformizada e estragada pola voragem do capital. Ao tempo que a sua língua, o seu espaço simbólico, perseverará na deturpaçom e na aniquilaçom por mais que se mantenha a sua ritualizaçom. Romper com esta política de dependência requer vincular a teoria com a praxis e comprometimentos reais, que nom meros discursos. O que tam bem recolhe a tese 11 a respeito de Feuerbach: “Os filósofos tenhem apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questom é tranformá-lo”. Domingos Antom Garcia Fernandes é filósofo

popular até chegarmos a situaçons de poder operário capazes de deter o avanço do caos e reorientar a história em direcçom à emancipaçom humana. Este é o verdadeiro exame que enfrentamos os marxistas. Um exame geral que, se bem que nom poda ser nunca o “exame final”, sim é um que pode certificar a passagem da humanidade de umha fase para outra da história. Para as naçons oprimidas, como a galega, a basca e outras, esta visom do exame do trabalhador e da independência nacional organizada em Estado. Umha característica do marxismo é a dialéctica entre consciência revolucionária e independência política das classes exploradas, quer dizer, a reafirmaçom do poder colectivo como único garante da socializaçom das forças produtivas. Todas a experiência histórica acumulada até agora, quer dizer, o “critério da prática”, ensina que a opressom nacional é um dos métodos mais efectivos de enriquecimento da burguesia, em primeiro lugar da invasora e ocupante, e depois da autóctone e colaboracionista. Nengumha das duas está disposta, portanto, a reduzir os seus lucros através da cedência perante as justas demandas populares, e ambas teimam em ficar do lado do Estado ocupante, muito especialmente nos contextos de crise sistémica como o actual. Face a esta realidade, os povos oprimidos nom tenhem, nom temos, mais opçom que avançarmos na nossa independência nacional, na criaçom de um Estado próprio que nos sirva, entre outras cousas, para estabelecermos as alianças internacionalistas com outros povos para enfrentar o caos imperialista mundial. Será que vamos passar o exame? Iñaki Gil de San Vicente é militante comunista basco


Noa Rios Bergantinhos

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Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

ANÁLISE

Gütenberg ao serviço da esquerda independentista galega

Sempre en Galicia, Espiral, Iskreiro, Povo Unido, Abrente, Terra Livre, Voz Própria e um dilatado etcétera, som alguns dos cabeçalhos com os que o independentismo pretendeu (e pretende) formar, conscientizar e difundir as suas actividades e posicionamentos políticos desde há já trinta anos. Em multidom de ocasions estes milhares de páginas –tristemente ciscadas em arquivos pessoais e muitas das vezes em muito más condiçons de conservaçom– convertem-se numha das principais fontes para nos achegarmos deste recente período histórico1, pois os estudos sobre o independentismo contemporáneo som quase inexistentes, e a atençom que a imprensa burguesa emprestou a este fenómeno sociopolítico nom ultrapassou mais do que datas e acontecimentos pontuais. O primeiro vozeiro declarado abertamente independentista foi o Sempre en Galicia, nome que adoptou o ór-

gao de expressom do Partido Galego do Proletariado,2 lá polo mês de Julho de 1978. Desde aquela até os dias de hoje, muitas e variadas som as ediçons que mereceriam um estudo pormenorizado e exaustivo dos conteúdos, linhas gráficas e formatos, algo que evidentemente transcende os pequenos apontamentos deste artigo. Como riscos definitórios desta ampla e diversa variedade de vozeiros e publicaçons podemos salientar, grosso modo, os seguintes: - As dificuldades económicas e a falta muitas vezes de recursos humanos dedicados a esta tarefa ocasionárom que a periodicidade instável seja um dos riscos mais salientáveis. Alguns dos cabeçalhos ultrapassárom escassamente a meia dúzia de números e outros, como este em que se escrevem estas letras, chegam à cinqüentena com boa saúde e pontualidade. - O seu papel de formaçom ideológica. Muitas des-

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tas páginas aproveitavam-se para expor (e nalguns vozeiros também debater) os posicionamentos ideológicos a respeito de variadíssimos temas. Através da sua leitura, podemos percorrer, por exemplo, o atitude que a esquerda independentista foi tendo frente o socialismo soviético e as suas conseqüências nas nossas particulares luitas de libertaçom nacional. Colaboraçons. Embora muitas das vezes os cabeçalhos sejam os vozeiros oficiais de organizaçons, isto nom impede que muitos acolham vozes amigas. Embora haja excepçons, na maioria dos casos só se dá cabimento a opinions próximas da particular família política dentro do próprio independentismo. Propaganda das campanhas próprias. Reportagens, fotografias e cartazes visibilizam parte da actividade do independentismo, sistematicamen-

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te ocultado polos mass media do sistema. Na análise pendente que requer este tema haveria que acrescentar como parte substancial da mesma a chegada das novas tecnologias, a chegada da Internet. Os portais informativos, páginas oficiais, blogues, et cétera, acrescentam e multiplicam as possibilidades informativas que a esquerda independentista tem hoje à sua disposiçom. Estas novas aplicaçons, junto aos tradicionais e ainda úteis vozeiros e publicaçons, formam um rico e variado espectro informativo de aquilo que fomos e de aquilo que pretendemos ser. 1 Os temas escolhidos, as pessoas que escrevem, a presença ou nom de mulheres, as luitas internacionais recolhidas, etc, fornecem-nos multidom de dados úteis para a investigaçom histórica. 2 Em Maio de 1977, sai do prelo o Terra e Tempo número 39, como órgao de expressom da UPG-Liña Proletaria, mas este cabeçalho só durará 3 números, dando lugar ao Sempre en Galicia, para evitar o conflito com a UPG oficial, que também manterá, até hoje, embora agora como porta-voz de umha fundaçom, o mesmo vozeiro.

Noa Rios Bergantinhos fai parte do Comité Central de Primeira Linha


O percurso ideológico de Francisco Martins Rodrigues ao longo de seis décadas é a transformaçom lenta e progressiva de um militante que, ensinado a ser acrítico e cumpridor, a partir dos anos 50, despertado polas teses direitistas do XX Congresso do PCUS, pola sublevaçom revolucionária em Cuba, Argélia e nas colónias portuguesas africanas, passou a assumir divergências que, de pontuais a princípio, se tornárom cada vez mais sistemáticas e coerentes. Essas divergências eram justificadas internamente por umha evoluçom da linha do PCP que arredava o partido dos fundamentos comunistas da luita de classes. A via insurreccional apontada polas experiências históricas recentes deixava indiferentes ou desconfiados os dirigentes do PCP, cada vez mais embrenhados nas suas tácticas equilibristas de frente única com a oposiçom reformista ao regime de Salazar. Por outro lado, a nível internacional, os regimes que se reclamavam do socialismo (URSS, países de Leste) afastavam-se cada vez mais das metas traçadas, revelavam crises profundas e acabavam derrotados. Em busca desse defeito fundamental da prática comunista e após rupturas sucessivas da corrente marxista-leninista

Ana Barradas

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

Opiniom

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Umha dissidência exemplar

anti-revisionista que ele próprio, na tentativa de inverter a deriva oportunista, ajudara a fundar – e que passárom polo seu afastamento do PCP no início dos anos 1960 e culminárom com a sua crítica à linha frente-populista do 25 de Abril do Povo do PC(R), no princípio dos anos 80 – FMR acabou por isolar a raiz principal das degenerescências várias do movimento comunista a nível mundial, a mae de todos os desvios da época actual: a linha de colaboraçom de classes do 7º Congresso, que remeteu decididamente os PCs da época e os que se lhes seguírom até hoje para fora do terreno ideológico das teses de Marx e Lenine, tal como ficou demonstrado no livro Anti-Dimitrov. Essa linha dimitrovista criou um ramo novo, cuja vitalidade nom se deixou abalar polas inúmeras derrotas sofridas pola sua aplicaçom, e que é afinal o marxismo de pacotilha que tem servido de tampom ao desenvolvimento de umha verdadeira teoria e prática marxistas, alicerçadas numha sólida base operária e livres da tutela

Abrente. 50 números, 12 anos ao serviço da Revoluçom Galega

Francisco Martins intervindo nas X Jornadas Independentistas Galegas. Compostela, 18 de Março de 2006

pequeno-burguesa. Ao bloquear a luita revolucionária, ao reprimir os impulsos mais radicais dos trabalhadores, abriu-se a passagem à reacçom, entregou-se a direcçom da frente popular às camadas intermédias e pagou-se a sua derrota com o sangue operário. Foi o caso da já longínqua Guerra de Espanha, mas também do Chile, dos países da Europa de Leste, URSS, China, Albánia, Cuba, passando pola frente popular que levou Lula da Silva ao poder no Brasil e agora o Nepal em que os maoístas entregam o poder à burguesia, para nom falar da Venezuela, em que o regime populista de Hugo Chávez fai passar por socialismo umha versom muito imperfeita de economia mista em que o poder do capital fica inabalado e o proletariado nom vê o fim da sua exploraçom. Este percurso de Francisco Martins Rodrigues, comunista inconformado e em luita permanente contra os bonzos do aparelho, esta dissidência exemplar porque irredutível na defesa dos princípios

marxistas foi por muitos confundida com intransigência, rigidez, teimosia. Porém, os que conhecêrom e acompanhárom de perto FMR encontram no percurso da sua vida e na sua pessoa todo aquilo que se pode esperar encontrar num comunista de verdade. Ao tomar como eixo principal da sua actividade a luita ideológica contra o embuste generalizado que tem sufocado a teoria e a prática marxista, ele cumpriu a missom própria da sua época, mesmo sabendo que o fazia contra todo e contra (quase) todos. No plano das ideias, os tempos que se anunciam parecem comprovar que ele tinha razom. A mobilizaçom independente classista dos trabalhadores, sem nengum apoio político aos governos burgueses que, ao serviço dos patrons e da alta finança, nos arrastam sem apelo para o abismo, é a matéria-prima dumha sublevaçom social que tarda, rumo a uma ampla sublevaçom proletária internacionalista, desta vez livre de tutelas e propagada à escala planetária (que é a verdadeira dimensom da revoluçom), que ponha termo a um sistema mundial iníquo e cada vez mais perigoso. Que pena ele nom estar vivo para assistir! Ana Barradas é militante comunista, promotora da revista Política Operária


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Carlos Taibo

500 mil pessoas –operári@s, empregados, precari@s, professores e professoras, estudantes– manifestando-se no centro de Roma apesar da forte chuva; dous milhons de trabalhadores, e greve na administraçom pública, os serviços, o transporte, a escola, os aeroportos, as fábricas. Assim acordárom os italianos, na sexta-feira dia 17 de Outubro, em conseqüência da greve geral proclamada polos três sindicatos de base do país –CUB, Cobas e SDL– contra o governo da direita e da sua política económica. As universidades e os institutos de toda a península ocupados polos estudantes e em muitos casos por trabalhadores e professores, que protestam contra o “Plano Gelmini” (a ministra da Educaçom) que através de um corte de bilhons de euros vai contra a educaçom pública, reduz as horas de ensino, privatiza as universidades e manda embora 140 mil trabalhadores do sector. Até as crianças ocupam as suas escolas com os pais e os professores! Um êxito rotundo do sindicalismo independente, próximo da esquerda alternativa, enquanto os sindicatos pactistas proclamam greves virtuais com o único objectivo de voltarem a colher as migalhas que caem da mesa de um patronato rapinador e de um governo de extrema-direita que está a atacar frontalmente alguns sectores do mundo do trabalho. No alvo de Berlusconi e do seu folclórico mas vingativo ministro Brunetta estám os precários da administraçom pública, pessoas de 35-40 anos que desde há anos mantém os institutos de investigaçom e cientistas com soldos de 700-800 euros. Agora nem isto. “Fora, à rua!” ordenou Brunetta, e os jovens que pensaram que

Marco Santopadre

internacional

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Voltou o caimám! Umha foto da Itália de Berlusconi

seriam a futura classe dirigente do país soubérom de um dia para outro como funciona o mundo no sistema capitalista. Um governo profundamente antipopular, mas infelizmente –graças também à colaboraçom da “oposiçom” parlamentar e à ineptitude das esquerdas “arco íris” – ainda nada impopular. Nas sondagens, Berlusconi conta com um amplo apoio numha sociedade em crise económica e de identidade, onde para muitíssimas famílias chegar à quarta semana do mês nom é já umha esperança, mas um milagre. Os responsáveis inventam inimigos fantasmas e a raiva popular, cada vez mais forte e violenta, em ausência de umha hegemonia progressista, os meios de comunicaçom e os partidos de governo orientam-na para os mais pobres, os ciganos, os immigrantes, os marginais. Os que nom tenhem voz. Nom há dia que um cidadao estrangeiro, um mendigo, um homossexual nom seja assediado na rua por bandos de jovens das periferias urbanas empapados de ideologias fascistas. E há os primeiros mortos, vítimas dos progromos da extrema-direita, quando nom directamente dos fascistas fardados de polícias ou municipais. A 11 de Outubro, os “comunistas”, os que governárom com Prodi num dos go-

vernos mais aintipopulares da história da República, ondeárom as suas bandeiras vermelhas e cantárom, orfos e abandonados após a matança eleitoral de Abril e o abandono do Parlamento. Tranquilos, nom há crise! Nom é Itália umha democracia? Entre eles, alguns –Bertinotti, por exemplo– preparam umha cisom para oferecer umha nova esquerda pós-moderna àqueles herdeiros do Partido Comunista Italiano e da Democracia Cristá que fôrom mais sabichons, e mais rápidos, e que para compartilhar o poder com Berlusconi há um ano inventárom o Partido Democrático. Como nos Estados Unidos! Os militares —já som 4 mil— estám nas ruas, a cuidar os cidadaos, a manter a ordem e a tranquilidade”. Na verdade, a defender as incineradoras e as lixeiras ou a alta velocidade dos legítimos protestos populares. Umha outra frente, como a do Afeganistám ou da Kosova. E a lembrar que há que ter medo. Na televisom há até um “Ministro do Medo”, representado por um cómico muito popular. No domingo à noite as pessoas rim. Mas depois fecham bem as portas e janelas. Marco Santopadre pertence à organizaçom revolucionária italiana Rede dos Comunistas

Assistimos a umha nova guerra fria?

Nas últimas semanas tem-se falado com muita freqüência da consolidaçom de umha nova guerra fria. Nom parece que os dados justifiquem, porém, semelhante intuiçom. E é que nom podemos esquecer que hoje se manifestam circunstáncias muito diferentes das que imperaram na etapa da confrontaçom entre os blocos. Comecemos por lembrar que, mesmo sendo certo que esta afirmaçom reclama algum matiz, no mundo ocidental e na Rússia existe hoje um sistema económico similar: o capitalismo global, com a sua lógica de injustiça, exclusons e agressons contra o meio natural. Aliás, convém sublinhar com urgência que as capacidades respectivas dos agentes teoricamente enfrentados som muito diferentes. Bastará com mencionar que o gasto militar russo nom só está muito longe do norteamericano: também está abaixo do que exibem potências ocidentais de segunda ordem como o Reino Unido, França e a Alemanha. Os aliados de Moscovo som, enfim, difíceis de identificar. Nos factos, a lista correspondente esgota-se com os nomes, que convidam a manter alguma cautela, da Bielorrússia, a Arménia, a Sérvia e várias das repúblicas centroasiáticas. Salientar-se-á que nem sequer a China se atreveu neste Verao a dar um passo adiante em matéria de reconhecimento das independências da Ossétia do Sul e da Abjázia. Para além do anterior, é imperioso sublinhar que as reflexons que apontam para a apariçom de umha nova guerra fria rara vez se contentam com enunciar o prognóstico correspondente. Acompanham-se quase sempre de consideraçons que, ao menos no mundo ocidental, apontam para a atribuiçom de responsabilidades precisas. Fácil é concluir que, conforme esta percepçom dos factos, a tensom crescente a que hoje assistimos

seria, em exclusiva, o produto de umha política, a russa, que configuraria umha permanente ameaça para Ocidente. Sobram os dados, claro, para afirmar que semelhante descriçom do acontecido se ajusta pouco à realidade. Sem nengumha

necessidade de desculpar comportamentos inapresentáveis do lado de Moscovo, mais bem parece que é a agressiva atitude dos Estados Unidos, abençoada quase sempre polos seus aliados europeus, que está a produzir problemas que noutras

condiçons seriam facilmente desactiváveis. Nom faltará quem pense que para os governantes norte-americanos de agora a ameaça do islamismo radical está um bocadinho gasta. Nada mais singelo, entom,

que resgatar a que, carregada de equívocos, oferece o gigante do leste europeu. Carlos Taibo é analista de política internacional e professor de Ciência Política na Universidade Autónoma de Madrid


internacional

Grupos de Combatentes Populares

A crise civilizatória, a crise de existência da vida no planeta, provocada polo capitalismo, nom pode ser ultrapassada sem revoluçom, sem mudanças radicais nos sujeitos políticos e sociais de poder, sem transformaçons revolucionárias, sem novas estruturas económicas e sociais, sem novos sistemas políticos e novas hegemonias culturais de escala nacional, regional e mundial. Nom há esperança de vida estável na planeta, muito menos de vida digna, sem revoluçom e sem construçom de umha nova sociedade planetária. O caos prolongado ou a recomposiçom da ordem dominante com novas reestruturaçons é umha disjuntiva que tem riscos e custos elevados de mais para a sociedade humana. A grande crise actual do sistema capitalista mundial, que tem o seu centro nos EUA, despregada sobre esta explosiva situaçom planetária, oferece um novo ensejo para derrotar, ou avançar consideravelmente no caminho da derrota, deste sistema de dominaçom e opressom. Esta crise capitalista, ainda nos seus inícios, parece prolongar-se e converter-se na madrinha de todas as crises acontecidas, embora certamente ela em si mesma, por mais que se estenda e agudize, nom gera as mudanças revolucionárias necessárias. Estas requerem consciência, organizaçom, mobilizaçom, capacidade confrontativa, força, poder a partir de abaixo e em todos os planos, acumulaçom de recursos materiais e espirituais, políticos, militares e culturais, até se produzir umha mudança na correlaçom de forças que possibilite a vitória dos sujeitos e actores objectivamente atingidos pola crise mais recente do capitalismo imperialista. E isto equivale a construir vanguarda: força de condçom e acçom transformadora do novo projecto socialista. O subjectivo torna-se vital e é precisamente onde está o maior défice. Mas é claro que esta crise nos oferece umha grande possibilidade de ultrapassar atrasos, um caldo de cultura mais apto para questionarmos a fundo a ordem capitalista em dificuldades maiores. A vontade, a criatividade, a capacidade para

Narciso Isa Conde

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Grandes desafios frente a umha grande crise “acelerar o andamento dos acontecimentos dentro do possível”, como o Che dizia, é chave para ultrapassar a fenda entre o nível objectivo da crise nos novos cenários nacional, regional e mundial, e o grau de organizaçom, consciência e capacidade de criaçom de poder das forças transformadoras nesses mesmos cenários. Os velhos sujeitos fôrom sensivelmente atingidos e os novos e velhos renovados assumem diversidades e potencialidades nunca vistas, mas também nom devidamente conscientizados, organizados, estruturados e rearticulados. Os sujeitos e actores sociais e políticos terám de ser mais diversos e mais amplos em conseqüência da extensom e profundidade das novas formas de dominaçom e acumulaçom. E, em conseqüência, mais difíceis de coordenar ou unir numha só torrente. As forças da mudança deverám ser mais multifacéticas e integrais para se poderem impor àquelas que, ainda representando sectores e interesses minoritários, contam com capacidades culturalideológicas, económicas, políticas e militares verdadeiramente espectaculares… e com possibilidades de despregamento de violência institucionalizada e nom institucionalizada nunca registadas nos arquivos históricos da humanidade. O desafio é enorme, mas ineludível. Narciso Isa Conde é membro da Presidência Colectiva da

Mural na Universidade Central de Venezuela (Caracas)

Coordenadora Continental Bolivariana

Equador: Um povo em constante luita à procura da mudança revolucionária

No Equador da Metade do Mundo, som inumeráveis os factos de resistência popular que se tenhem dado. Hoje, vivese um novo momento, um cenário político ideológico diferente, favorável para o desenvolvimento das forças de esquerda revolucionárias, para a luita pola tomada do poder. Este cenário tem-se gestado desde há muito tempo, no Equador dos dez últimos anos passárom nove presidentes, três deles expulsos pola luita de todo um povo. A crise do capitalismo tem-se exprimido em diversas formas, umha aguda crise que tem ido aprofundado, o incremento do desemprego, da pobreza, as políticas neoliberais, o alto custo da vida, a corrupçom em todas as esferas institucionais que provocou o rechaço e o desprestígio da mesma Igreja, dos partidos da burguesia, dos meios de comunicaçom, das famosas ONGs, dos órgaos de repressom do Estado: Forças Armadas e Polícia. Em simultáneo, o movimento popular, revolucionário, insurgente, crescia: paralisaçons, greves, mobilizaçons, plantons, tomada de vias, à procura de umha alternativa que permita cristalizar os anseios de mudança da sociedade equatoriana. Em 2006, as forças da tendência democrática, progressista, de esquerda triunfárom eleitoralmente, primeiro com a vitória de Rafael Correa, depois com a aprovaçom da Consulta Popular para a convocatória para a Assembleia Constituinte, a eleiçom de assembleístas e, finalmente, com a aprovaçom da nova Constituiçom; isto nom significa que todos os problemas tenham sido resolvidos, mas que existem novas condiçons, evi-

denciando um crescimento importante na consciência das massas, como expressom dos ventos de mudança que percorrem a América Latina; deixamos claro que no Equador amazónico a luita pola revoluçom e o socialismo continua. O governo de Correa representa o anseio de mudança do povo equatoriano, centra-se fundamentalmente em cumprir com as propostas da campanha, tem-se pronunciado pola defesa da soberania, ao pedir a saída da Base ianque de Manta, ao exigir respeito quando a invasom do governo narcoparamilitar de Uribe ao nosso território. Já agora o governo denunciou a intromissom da CIA (um segredo a vozes), publicando-se um

relatório sobre a ingerência gringa que nom fai mais do que ratificar o denunciado desde há tempo, o envolvimento que tem a Base de Manta na geopolítica regional e a luita nom contra o narcotráfico, mas contra as forças insurgentes e revolucionárias, a infiltraçom de agentes da CIA nas Forças Armadas e a Polícia, na institucionalidade burguesa e nas organizaçons sociais. Correa acertou ao desmascarar os responsáveis pola crise, os partidos da oligarquia; acertou ao investir sobretodo em educaçom, saúde, habitaçom, infraestrutura, na defesa dos recursos naturais e de outras políticas assistencialistas que melhoram as condiçons de vida da popu-

laçom, mas é necessário precisar que a natureza capitalista e dependente da sociedade equatoriana continua a ser a mesma. A exploraçom e opressom do povo continuam, os interesses imperialistas e capitalistas, no fundamental, nom fôrom atingidos, a propriedade privada nom foi tocada; é tolerado polo imperialismo norte-americano; um certo sector do governo de Correa é parte da partitocracia que di atacar, confluem no seu partido empresários, infiltrados, intelectuais, pacifistas, militantes de organizaçons de esquerda, a social-democracia de esquerda, etc. O povo equatoriano desenvolve umha intensa luita de classes, umha polarizaçom

da sociedade, um povo que quer avançar, em crescente politizaçom e assimilaçom das ideias da mudança, de revoluçom, de socialismo, um povo que, apesar de contar com um governo progressista como o de Correa, se mantém em constante mobilizaçom e luita polos seus direitos. As paralisaçons, as greves e a participaçom nos acontecimentos políticos é ascendente, todo isto permite-nos assegurar que as perspectivas de mudança som possíveis. Como organizaçom de esquerda queremos estabelecer no imaginário do nosso povo a luita armada revolucionária para a tomada do poder, combater as ideias reformistas, pacifistas, com o fim de aprofundar no processo encetado e gerar umha nova situaçom onde o povo seja o verdadeiro protagonista da mudança. A nossa organizaçom trabalha polo desenvolvimento da luita armada, a nossa participaçom nos acontecimentos políticos tem sido intensa em disputa polas massas, preparando-nos e preparando o nosso povo para novos níveis de luita, novos momentos a enfrentar. Desde aqui, o Pacífico, até a outra margem do Atlántico, as luitas dos nossos povos avançam, o combate por umha sociedade nova está vigente, confirmamos que o único meio para a mudança revolucionária é o uso da violência revolucionária que quebre a ordem estabelecida. O dever dos revolucionários no Equador é chegar ao nosso povo com o objectivo de lhe mostrar o caminho. Do coraçom do povo, GCP (Grupos de Combatentes Populares) Amaru


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Livros

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, “Pepetela”

Bernardo Penabade Rei, e Ângelo Gonçalves Vicente

Francisco Martins Rodrigues

Fernando Martínez Heredia

Mayombe

Orgulho galego na diáspora

Anti-Dimitrov

Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2005 (10ª ediçom). 290 páginas

Conversa com Higino Martins Estêvez

1935/1985 – meio século de derrotas da revolução

Socialismo, liberación y democracia. En el horno de los noventa

Mayombe é o nome da segunda maior floresta tropical do planeta, depois da Amazónia. Situado na província angolana de Cabinda, o Movimento Popular de Libertaçom de Angola abriu nele umha das primeiras frentes guerrilheiras da luita pola independência do país. No mato, entre as 10 e as 12 das noites de 1970 e 71, o entom comissário político da guerrilha escreveu umha história de ficçom que deu em ser este seu primeiro romance. A acçom desenvolve-se também no mato do Mayombe, de onde a guerrilha tenta travar contacto com a populaçom, ainda reticente e despolitizada. Pepetela aborda durante a narraçom os problemas do movimento, como o tribalismo, a religiom, o machismo, a corrupçom, o dogmatismo... e descreve as fraquezas da guerrilha na zona, polo qual hesitou durante muito tempo em publicar o livro. Só foi depois da independência que enviou o romance a Agostinho Neto para que avaliasse a pertinência de o tirar à luz. A opiniom elogiosa do lider revolucionário contribuiu para a sua publicaçom em 1980, embora muitos dirigentes do MPLA fossem contra; nesse mesmo ano, foi-lhe concedido o Prémio Nacional de Literatura de Angola. Mayombe é, pois, um pedaço da história de Angola, mas é sobretodo um grande romance. Narrado de forma omnisciente a maioria do tempo, introduz partes de narraçom em primeira pessoa, debuxando um quadro heterogéneo da guerrilha a partir das opinions de cada um dos guerrilheiros. No relato, a épica da luita guerrilheira, a dimensom ética da revoluçom, a discussom sobre o futuro da mesma... pairam sobre a narraçom e os diálogos, plenos em muitos casos de actualidade. Neste sentido, é de resenhar a emoçom das cenas dos distintos ataques aos acampamentos portugueses e a emotividade do último tramo do livro, quando as condiçons demandam um aumento do compromisso dos revolucionários, mas também umha maior uniom e camaradagem. Mayombe será, para o leitor ou leitora galega, um descobrimento. O desconhecimento da literatura lusófona na Galiza nom é no caso angolano umha excepçom, e a possibilidade de nos achegar de umha realidade tam afastada da nossa língua é todo um aliciente. E mais se tivermos em conta o curioso efeito de a ouvirmos salpicada de palavras e expressons em línguas africanas (umbundo, kimbundo...). Tratase, com efeito, de umha obra que convida a conhecer mais sobre o trabalho do autor e sobre a própria história e actualidade de Angola. (Marcos Lopes Pena)

Fundación Comarcal Baixo Miño, 2008, 163 páginas

Editorial Ocean Sur, 2006, 304 páginas

Higino Martins Estêvez é um mal conhecido patriota nascido e residente na capital da Argentina, de pai e mae galega e, sobretodo, vocacionalmente entregado à causa nacional e lingüística da Galiza. Nascido em 1940, filho de emigrantes do Baixo Minho galego, identificou-se desde criança com a naçom de origem, a Galiza, dedicando-se desde novo à formaçom da comunidade galega emigrada e exilada naquele grande país americano, e convertendo-se ele próprio num estudioso da língua, da história, da literatura e de temas galegos em geral. O professor Bernardo Penabade Rei, ex-presidente da Associaçom Galega da Língua, aborda nesta aproximaçom editorial a figura de Higino Martins, reproduzindo umha longa conversa gravada em 1997 na cidade de Buenos Aires. A obra constitui um testemunho da história recente da comunidade galega na Argentina nas últimas décadas, através de um emigrante de segunda geraçom convertido ao nacionalismo galego a partir de umha viagem à Galiza aos 7 anos de idade. Como parte dessa colectividade, Higino Martins converte-se num fervoroso defensor da nossa língua, empapando-se das ideias reintegracionistas dominantes no nacionalismo galego instalado em Buenos Aires. Integra a Associaçom Civil Amigos do Idioma Galego, aprende e ensina galego às compatriotas e aos compatriotas emigrados, estuda o passado pré-romano da Galiza, traduz para galego obras em espanhol de autores e autoras galegas... Entre os episódios narrados em primeira pessoa por Higino Martins, destaca a significativa antecipaçom da comunidade emigrante no uso da ortografia reintegrada em relaçom aos usos do galego escrito na Galiza interior. Com efeito, o próprio Higino passou a utilizar traços inequivocamente reintegracionistas como o ene agá ou o ele agá já em 1975. Pouco depois, a introduçom dos cursos de língua no Centro Galego, em 1977, marcou o espalhamento do galego escrito com a forma tradicional, ligando com a prática de um outro histórico do independentismo reintegracionista: o lembrado Ricardo Flores, que já nos anos 20 e 30 escrevia assim nas páginas da Fouce. A trajectória reintegracionista do nacionalismo galego em Buenos Aires começaria a ser perseguida em 1986, com o PP à frente da Junta da Galiza, segundo relata o protagonista desta interessante conversa que constitui um contributo para umha futura história do nacionalismo galego nas comunidades de galegos e gelegas espalhadas polo mundo por circunstáncias económicas e políticas ao longo do século XX. (Rute Cortiço)

Recolhemos desta vez a recomendaçom de umha obra esgotada, mas recém reeditada pola Abrente Editora e as Edições Dinossauro, acompanhada de artigo “Notas sobre Staline” de Novembro de 1986 e publicado na Política Operária nº 7. Possivelmente estejamos a falar da obra mais polémica do recentemente desaparecido Francisco Martins Rodrigues, obra em que ataca um elemento central da política aplicada pola maioria das organizaçons adscritas ao movimento comunista internacional durante os últimos 70 anos. Em 1935, o 7º plenário da Internacional Comunista aprovava um relatório defendido polo seu secretário geral na altura, o búlgaro Georgi Dimitrov. Dentro deste relatório, duas páginas significavam umha mudança trascendental na linha política levada avante polo movimento comunista até esse momento: nelas, decidia-se abandonar a política de desenvolvimento autónomo da corrente revolucionária comunista para passar a defender a opçom de umha política de alianças com o objectivo de atingir unidades amplas frente ao avanço do fascismo. Esta política de alianças dirigia-se fundamentalmente às organizaçons social-democratas, mas também a outras correntes políticas democratas burguesas. A definiçom desta nova linha política supujo o ponto de partida da criaçom das frentes populares e outras fórmulas de coligaçom de organizaçons da esquerda que se fôrom dando por todo o mundo e que ainda hoje som umha realidade. Francisco Martins lança umha radical crítica contra esta linha política baseando-se numha rigorosa análise dos seus efeitos na hora de bloquear o desenvolvimento de umha opçom revolucionária proletária. Segundo o autor, a tese de Dimitrov foi um passo atrás no caminho de definir umha linha política autónoma própria do proletariado e nom serviu mais que para contaminar o movimento operário com a influência da pequenaburguesia e da incapacidade de definiçom de objectivos autenticamente revolucionários que é própria a esta fracçom menor da classe dominante no capitalismo. O livro apresenta um especial interesse, pois que bate abertamente nom só com as teses defendidas polos partidos comunistas “oficiais”, como pola prática totalidade das correntes comunistas dissidentes surgidas durante a segunda metade do século XX. Umha obra polémica que possivelmente seja do melhor que nos deixou o nosso admirado e bem querido camarada. (André Seoane)

De novo temos à nossa frente umha obra em que podemos olhar os debates que desde a década de noventa tenhem lugar no seio da esquerda latinoamericana. Neste livro, o marxista cubano Fernando Martínez Heredia apresenta umha série de artigos e conferências realizados na sua maioria na década passada, mas que seguem a ter muita actualidade. De entre estes artigos destacam dous blocos temáticos. O primeiro dedicado à situaçom social, económica e política dos países de América Latina, na qual o autor destaca aspectos como o avanço do controlo e saque económico do imperialismo através da transnacionalizaçom e da imposiçom das políticas económicas neoliberais (hoje, por sorte, amplamente contestadas nesse continente). Também os processos de democratizaçom, ligados também aos interesses ianques quando as ditaduras militares se figérom desnecessárias para estes. O resultado de todo isso foi o empobrecimento das classes populares, e também a apariçom nas luitas sociais de diversos movimentos sociais, enquanto a esquerda tradicional se apresentava incapaz de se renovar e se ligar com estes, articulando as diversas rebeldias existentes. Um outro bloco de capítulos centra-se na situaçom de Cuba e da sua revoluçom, como caso específico e diferenciado do resto. E assim destaca-se a sua preocupaçom polo degaste do projecto socialista cubano nos anos noventa, em relaçom tanto com as dificuldades económicas após a queda da URSS como com as deformaçons que derivadas do processso de assimilaçom com o “socialismo real” soviético (camisa de força sobre o socialismo cubano) a partir dos anos setenta. Umha teima constante ao longo de toda a obra é a da necessidade de adaptar o pensamento e o agir marxistas ao novo contexto existente, ultrapassando todas as limitaçons e dogmas impostos pola Uniom Soviética, aprofundando, por exemplo, na preocupaçom teórica e prática arredor da democracia socialista e da participaçom popular. Também destaca a relaçom da libertaçom nacional com a libertaçom social, reflectindo como em Cuba estas se unificárom desde o começo, ligando-se independência e socialismo. Ou também, e para concluir, a urgência de umha luita cultural que ofereça umha alternativa emancipadora à empobrecedora homogeneizaçom cultural que o capitalismo impom em todo o planeta. (Anjo Torres Cortiço)

dios e etapas fundamentais da história da Naçom Galega. Cada um da quase centena de mapas incluídos ilustram a Pré-História, a Proto-História, a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporánea.

Junto a cada mapa, verdadeiros protagonistas da obra, um texto serve de ajuda para perceber a etapa concreta, conformando o conjunto umha panorámica útil e sintética da trajectória histórica desta naçom extremo-ocidental da Europa. A visom histórica assumida polos autores parte dos contributos realizados nas últimas décadas por autores como Blanca Garcia Fernández-Albalat, Anselmo Lopes Carreira ou Carlos Velasco Souto, além de outros clássicos da historiografia galega, como Emílio Gonçales Lopes. Assim, este Atlas aposta numha leitura galega da nossa história, rompendo com os tópicos da dependência e o carácter subordinado da Galiza histórica, situando-a no centro do palco histórico peninsular, nomeadamente em boa parte da Idade Média, em linha com a historiografia galega mais recente. Acrescentemos ainda a inclusom de mapas centrados no estudo da evoluçom sociolingüística no

nosso território, bem como a proposta mais recente de territorializaçom para a construçom nacional da Galiza: a realizada e publicada em 2003 pola organizaçom independentista e socialista NÓS-Unidade Popular. Curiosamente, o autor deste interessante Atlas evita em todo o momento referir a fonte ou autoria desse mapa, que inclui e comenta entre as páginas 158 e 163. Com umha eufemística referência ao “movimento galeguista de maior compromisso político”, Barbosa silencia quem fijo essa proposta, que nos últimos anos tem dado que falar e marcado um ponto de referência para a necessária consolidaçom de umha proposta territorial para o projecto nacional galego. Fora dessa falha menor, e nom sabemos se significativa, achamos esta obra muito recomendável, polo seu teor didáctico e divulgativo, além da apresentaçom atraente e de qualidade. (Maurício Castro)

José Manuel Barbosa Álvares

Atlas Histórico da Galiza e do seu Contorno Geográfico e Cultural Sant Cugat del Vallès, 2008, 163 páginas

Nom todos os dias temos ocasiom de ter nas maos um volume da qualidade material deste Atlas Histórico da Galiza, a nom ser que se trate de um projecto institucional, em cujo caso será ainda mais difícil que seja realizado com a orientaçom nacional e lingüística que os autores dérom a esta monumental obra divulgativa. Com efeito, estamos perante um Atlas cuja melhor qualidade é o serviço que o grafismo e o design, a cargo de José Manuel gonçales Ribeira, rendem ao conteúdo, através de atraentes mapas, onde se reflectem os episó-

Dinossauro Edições e Abrente Editora. Lisboa, 2008. 325 páginas


Livros

Nº 50. Outubro, Novembro e Dezembro de 2008

José Madureira Pinto, Virgílio Borges Pereira (Orgs.)

Desigualdades, Desregulação e Riscos nas Sociedades Contemporâneas Edições Afrontamento, Porto 2008, 290 páginas

Um Colóquio Científico Internacional, realizado en Setembro de 2006 na Universidade do Porto por iniciativa da Revista Sociologia, dá pé ao livro que está a resenhar-se. Tentavam os organizadores que, ao analisar as ‘sociedades de risco’, se fosse ao encontro de questons como os impactos negativos do desenvolvimento científico e tecnológico, a exposiçom a catástrofes naturais, as desigualdades económico-sociais e culturais muito severas, as pandemias com efeitos devastadores, a crise das instituiçons com funçons de integraçom social e política, etc. Também apontavam a impossibilidade de avaliar os devanditos riscos sem considerar a desregulaçom do campo económico e, em particular, do mercado de trabalho, bem como a propensom a mercantilizar domínios da actividade social outrora contidos na esfera do serviço público. Assim mesmo, convidavam a pôr de relevo a acçom estatal na reproduçom das sociedades e nas crises que se lhes colocam hoje. Umha primeira parte reflecte sobre a representaçom democrática,

o interesse público e o Estado Penal nas sociedades contemporáneas. E som quatro os relatórios: o de António Teixeira Fernandes, que se ocupa da democratizaçom da democracia e de como umha nova consciência da cidadania leva a questionar as tradicionais expressons da representaçom; Juan Mozzicafreddo relaciona interesse público, Estado e reorganizaçom das funçons da administraçom e considera que, em matéria de serviço público, a eficiência nom pode estar alheada da equidade e da observáncia dos procedimentos democráticos; Jorge Sampaio matina a respeito da representaçom democrática e da regulaçom política no quadro da mundializaçom da economia. A globalizaçom, afirma, torna cada vez mais indispensável um novo contrato social; Pierre Guibentif estuda a relaçom entre Estado de Direito e Estado Penal, pois neste último acabou de mudar-se o Estado Providência. Umha segunda parte analisa a desregulaçom da economia e as novas relaçons laborais com umha intervençom de José Madureira Pinto em que conecta a referida desregulaçom com

Manolo Barros, Gonzalo Amoedo López

Memorias de Manolo Barros: autobiografía dun militante comunista Fundación 10 de marzo, Compostela, 2006. páginas A vida de Manolo Barros poderia ser, para os desconhecedores da nossa história recente e para os negacionistas do franquismo, um simples e incrível romance narrado em primeira pessoa para tentar compreender o Século XX galego, de umha óptica militante, umha sorte de thriller histórico para surpreender. Para mim, que tivem a honra de o conhecer, Manolo Barros foi um homem-livro; testemunha de que as causas da minha família encontradas nos arquivos em dependências militares em Ferrol, nom faziam parte de um romance familiar.

Por ele soubem, antes de ler a sua autobiografia, quando lhe dixem o meu nome e ouviu: Moreda, ficou abraiado por conhecer a parte da semente daqueles homens de idade, alguns anciaos, que foram companheiros de prisom

Vários autores

Manuel Marulanda Vélez. El héroe insurgente de la Colombia de Bolívar América, 2008, 276 páginas Tivemos o enorme orgulho e privilégio de participar, na quinta-feira 25 de Setembro, na apresentaçom deste livro de homenagem a umha das mais importantes figuras, um dos mais geniais estrategas militares da Revoluçom Latinoamericana e caribenha. Pouco depois das cinco da tarde, no antigo quartel Sam Carlos Livre de Caracas –hoje transformado em espaço libertado para recuperar e manter viva a memória da luita popular armada contra a dominaçom na Venezuela– era batizado com pétalas de rosas esta “cuidadíssima antologia do pensamento revolucionário contemporáneo”, em palavras do comandante insurgente Jesús Santrich. Livro vivo, actual, de reconhecimento e de combate, que acabava de sair do prelo umas horas antes, com textos chegados de forma clandestina e urgente das verdes montanhas e selvas que tanto amou e que tanto lhe devem. A obra consta de un conjunto de artigos analíticos e documentais que permitem conhecermos a gigantesca figura e o original projecto revolucionário do grande arquitecto e construtor da Revoluçom colombiana, Manuel Marulanda

Vélez, pseudónimo empregado por Pedro António Marín, nos mais de sessenta anos de combate guerrilheiro pola Pátria Grande de Bolívar e o Socialismo. O primeiro texto corresponde ao comunicado emitido a 27 de Maio polo Secretariado do Estado Maior Central, coincidindo com o 44 aniversário da fundaçom das FARC-EP, informando o povo colombiano e os povos do mundo da morte de Manuel por causas naturais, exactamente dous meses antes. O livro continua com um delicioso esboço biográfico de Tirofijo, elaborado polo actual responsável das relaçons internacionais das FARC-EP, comandante Iván Márquez, que permite avaliar na sua justa medida o legado e a monumental trajectória de quem está mais vivo que nunca, pois “vem

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o enfraquecimento do Estado Social e acaba por ocupar-se, entre outras, das perspectivas do assunto em duas orientaçons teórico-ideológicas: o (neo)liberalismo e a social-democracia. E António Dornelas examina se há que falar de desregulamentaçom ou de novas formas de regulaçom e esquadrinha a reforma do Modelo Social Europeu e a flexiguranza. Unha terceira parte cavila acerca das instituiçons perante a desregulaçom social. Da família (com recentes mutaçons geracionais, de género, afectivas…) e do seu intrometimento no exercício de socializaçom e de integraçom social escreve Remi Lenoir. E umha nova participaçom de António Teixeira Fernandes esclarece o processo de desregulaçom religiosa numha sociedade caracterizada por um crescente pluralismo secularizado. E será Sandrine Garcia quem perscrute as contradiçons das políticas públicas de educaçom e indague as temáticas de diversificaçom, diferenciaçom e desigualdade. Umha quarta parte que liga reabilitaçom urbana e coesom social

de Manuel; un rapaz de 16 anos, e lembrou de imediato diante de mim e da minha mae, para os reviver, para os tornar autênticos, aqueles acontecimentos que tinha gravados a ferro e sangue. Converteu-me em neto, comunicado pola sua memória com a minha familia, meu avô meu bisavô e meus tios, todos encarcerados no Príncipe em Vigo. Depois pudem ler no seu livro, Memorias de Manolo Barros: autobiografía dun militante comunista, o que ele me contara quando o conhecim em Sam Simom, que despois de que os levaram para serem fusilados no día 1º de Dezembro de 1936, foi tal o escándalo armado por algumhas mulheres da minha familia que nunca mais tirárom os detidos pola porta principal. Manolo Barros nom foi só “um militante comunista”, foi esse modelo de militante genético; comunista desde os 16 anos. Nasceu em 1920 e morreu em Redondela aos 87 anos, luitando e militando na memória e nos valores republicanos com a mesma paixom com que resistiu e viveu. (Xavier Moreda)

com Bolívar e com todos os heróis nacionais da nossa independência comandar a ofensiva final”. Posteriormente, reproduz o comunicado do novo Comandante em chefe das FARC, Alonso Cano, dando passagem a um conjunto de escritos de diversas vozes do mundo nos quais se avaliam com carinho, respeito e admiraçom a trajectória de um dos mais grandes seres humanos da América insurgente: Hernado Calvo Espina, Iñaki Gil de San Vicente, Celia Hart, Narciso Isa Conde, James Petras. Acto seguido som reproduzidas umhas breves valorizaçons sobre Manuel realizadas por Hugo Chávez e Daniel Ortega. A penúltima parte desta obra reproduz alguns dos principais documentos políticos do projecto fariano: Manifesto Político das FARC-EP de Setembro de 2007, Plataforma Bolivariana pola Nova Colômbia, o Programa Agrário dos guerrilheiros de 1964, e as três primeiras leis emitidas pola insurgência: a Lei Agrária, a lei de Tributaçom e a Lei Anti-corrupçom. Finalmente o livro consta de dous textos de Santrich avaliando o futuro da luita insurgente, reafirmando a sua legitimiade e validez, “aqueles que jamais renunciaremos ao legítimo direito à rebeliom armada, juramos vencer e venceremos!”, e umha breve história das FARC-EP. Umha obra que cumpre ler, embora de momento na Galiza ainda nom seja de fácil acesso. Aguardamos ver a sua rápida traduçom para o nosso idioma como a entrada de um cavalo branco no Palácio de Nariño encabeçando as colunas guerrilheiras que libertam Bogotá. (Carlos Morais)

concentra as contribuiçons de Virgílio Borges Pereira que ensambla na mesma Estado, espaço físico e espaço social; a de Miguel Martínez que se pergunta a respeito da possibilidade de a fazer com inclusom social e cultural, mas a sua resposta nom é muito optimista, porque tal reabilitaçom é pouco freqüente e nom radical; e a de António Firmino da Costa que encara os problemas identitários e conflituosos que se geram. E ainda há umha quinta parte, que fai de conclusom, que inquire o que seria umha análise integrada dos riscos sociais. E nela Maria Luisa Pedroso de Lima sonda as dimensons objectivas dos riscos e também os modos como estes som socialmente percebidos. Istas linhas non fam justiça a um livro denso e actual e tampouco cabe nelas discutir questons tam impregnadas de ideologia como: a democracia, a cidadania, o Estado Social, a mundializaçom ou a secularizaçom… Já que logo: recomendamos que se leia o livro e, como sempre tem de fazerse, com um olhar crítico. (Domingos Antom Garcia Fernandes)

Hernando Calvo Ospina

Colombia, laboratório de embrujos. Democracia y terrorismo de estado Akal-Foca. Madrid, 2008. 371 páginas

Colombia, laboratório de embrujos. Democracia y terrorismo de estado é um descarnado retrato da Colômbia moderna, onde um sistema político, administrativo e jurídico na aparência equiparável às democracias burguesas da área, oculta a prática de umha devastadora “guerra suja” contra a dissidência, convertida com os anos em política de Estado. O veterano jornalista colombiano residente em França, Calvo Ospina, inclui no seu estudo numerosas fontes, testemunhos e documentos para demonstrar a íntima relaçom entre as sucessivas doutrinas e políticas contrainsurgentes desenhadas polos EUA para a zona e a evoluçom do terrorismo de Estado na Colômbia, empenhada nom na repressom, mas no total aniquilamento de qualquer movimento popular de carácter reivindicativo ou contestatário. Encontramos neste trabalho, imprescindível para abordar a realidade do continente americano, as origens e desenvolvimento do fenómeno paramilitar, promovido e protegido pola mesma oligarquia que detém o poder na Colômbia e financiado polos ingentes benefícios do narcotráfico. Um fenómeno, o dos paramilitares, que com a chegada de Uribe à presidência e a activaçom do Plano Colômbia tem alcançado extraordinários níveis de impunidade e participaçom nas estruturas políticas do Estado, tal e como demonstrou o escándalo da parapolítica”. Um livro impossível de sintetizar em tam poucas linhas, que bate na leitora e no leitor a cada página com a brutalidade que sofrem camponesas/es, povos indígenas e trabalhadoras/es colombian@s. Um livro, enfim, imprescindível para compreendermos os fenómenos sociais e políticos em marcha na Colômbia e em toda a área. (Daniel Lourenço)


Jornal comunista de debate e formaçom ideológica para promover a Independência Nacional e a Revoluçom Socialista galega

Com modéstia, mas também com orgulho, o colectivo de mulheres e homens que neste treze anos, figérom, figemos possível que trimestre a timestre o Abrente estivesse presente nas ruas, nas mobilizaçons, nas luitas da nossa classe e do nosso povo, convertendo-se num jornal comunista consolidado e lido, queremos manifestar a nossa satisfaçom por termos contribuído para fazer realidade o que inicialmente nom passava de um bonito sonho. Quando, na Primavera de 1996, um reduzido grupo de mulheres e homens, com mais audácia e voluntarismo que meios e tropa, discutia a preparaçom e ediçom do jornal do nosso projecto revolucionário marxista de libertaçom nacional, estávamos plenamente convencid@s da necessidade de editar um vozeiro para organizar e agitar, para informar e denunciar, para orientar e formar militantes comunistas. Naquela altura fôrom propostos dous nomes: Fenda e Abrente. Finalmente, inclinamo-nos pola segunda manchete. Optamos pola clareza que precede o nascer do dia, pola madrugada de aroma e montanha, pola juventude sem complexos de infinitos horizontes, por ser começo de épocas, por crepúsculo matutino que dá passagem a umha nova jornada de sol e brisa fresca. E assim, no Dia da Pátria de 1996, foi iniciada, entre enorme surpresa

Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.org Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 21 de Novembro de 2008 Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Correios electrónicos: sgprimeiralinha@primeiralinha.org / primeiralinha@primeiralinha.org / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997

50 números de Abrente – 1996-2008

Galiza em tinta vermelha e expectaçom, a distribuiçom dos três mil exemplares.

Mudanças permanentes na trajectória O jornal foi acompanhando sempre o desenvolvimento partidário. Assim, desde o número 11, após o especial que inicia a segunda jeira, o jornal passa a empregar exclusivamente a ortografia histórica galego-portuguesa. Os permanentes reajustamentos que Primeira Linha aplica na sua táctica aparecem reflectidos nas páginas. O mesmo acontece com as melhorias técnicas, a maquetaçom e o desenho, procurando ser um jornal vanguardista e inovador, logrando combinar os artigos e a reflexom de fundo, mais ideológicos, com um desenho atraente que estimule a leitura. E o Abrente, apesar de ser o vozeiro oficial de um partido comunista, sempre mantivo abertas as suas páginas a outras vozes da esquerda nacional e internacional, sendo inéditos a prática totalidade dos centos de artigos e textos dos mais de

130 colaboradores e colaboradas. O nosso periódico está indissoluvelmente unido à história mais recente da esquerda independentista, mas também a

boa parte dos melhores episódios da resistência nacional, da luita anticapitalista e popular, aos combates da Galiza rebelde. Este era um dos principais objcectivos

quando há agora pouco mais de umha dúzia de anos alteramos o panorama informativo da esquerda nacional galega, na altura caracterizado por ser um autêntico ermo. Nengumha organizaçom mantinha umha imprensa estável. A nossa saída estimulou outras publicaçons que estavam congeladas, assim como a importáncia e actualidade da concepçom leninista do jornal revolucionário como organizador colectivo. Comemoramos a ediçom do número 50 com a alegria de termos ultrapassado todo o tipo de entraves e obstáculos, de incompreensons e difamaçons, mas com a enorme satisfaçom de termos conseguido um progressivo e permanente aumento no número de leitores e leitoras que, ou bem em papel, ou sobretodo na ediçom digital, acompanham com atençom a sempre pontual saída do Abrente. Com idêntica ambiçom e vontade de superaçom que provocou o nosso nascimento, entre os nossos objectivos nom só se acha melhorar conteúdos e colaboraçons, também reduzir periodicidade e aumentar o número de páginas. O desenvolvimento do movimento revolucionário galego condicionará a sua viabilidade. Pois, no fim de contas, contribuir para o sucesso da Revoluçom Galega é a nossa verdadeira razom para existir.

CEIA-ACTO POLÍTICO-FESTA Actuaçom de Chama-lhe X

Sábado 20 de Dezembro às 20.30 horas no restaurante Paz Nogueira (Castinheirinho 14-16 Compostela)

35€ inclui livro e CD comemorativo

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Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulário e enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidas à rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Número de conta para o ingresso 2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela. Ao preço da publicaçom há que acrescentar 5 e por gastos de envio.


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