Feminismo

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ETEC CONÊGO JOSÉ BENTO ENSINO MÉDIO

BRUNA CORNÉLIO CANTINHO DE OLIVEIRA FRANCIELLEN CARNEIRO CELESTINO DA SILVA GABRIELLA TERRANOVA MARCELLI RENATA OLIVEIRA MAYARA LEMES DE SIQUEIRA RODRIGUES PRADO

FEMINISMO

JACAREÍ – SP 2010


BRUNA CORNÉLIO CANTINHO DE OLIVEIRA FRANCIELLEN CARNEIRO CELESTINO DA SILVA GABRIELLA TERRANOVA MARCELLI RENATA OLIVEIRA MAYARA LEMES DE SIQUEIRA RODRIGUES PRADO

FEMINISMO

Projeto de pesquisa apresentado como requisito para avaliação na disciplinaprojeto Projetos Técnico-Científicos – Centro Paula Souza – Jacareí. Orientadora: Professora Júlia Naomi Kanazawa

JACAREÍ – SP 2010


BRUNA CORNÉLIO CANTINHO DE OLIVEIRA FRANCIELLEN CARNEIRO CELESTINO DA SILVA GABRIELLA TERRANOVA MARCELLI RENATA OLIVEIRA MAYARA LEMES DE SIQUEIRA RODRIGUES PRADO

FEMINISMO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Etec Cônego José Bento como requisito para obtenção do certificado do Ensino Médio.

Data da defesa:

dezembro de 2010

Resultado: _________________________________

Banca Examinadora __________________________________ Prof (a,o) Nome

__________________________________ Prof (a,o) Nome


NĂŁo se nasce mulher, torna-se. Simone de Beauvoir


AGRADECIMENTOS Agradecemos às professoras Julia Naomi Kanazawa e Marisa Ferraro por nos auxiliar nesta pesquisa.


Dedicamos essa pesquisa Ă s mulheres que dedicaram suas vidas lutando por uma sociedade mais igualitĂĄria.


RESUMO Através dos séculos, o sexo feminino ou “o segundo sexo”, intitulado por uma das feministas mais conceituadas do movimento, Simone de Beauvoir, foi subjugado pelo sexo oposto, tanto socialmente quanto culturalmente. Foi tratada como um ser incapaz de participar da democracia como os homens; sem direito ao voto e fadadas a cuidar da casa, dos filhos e do marido. Algumas mulheres, entretanto, iniciaram a luta contra esse estereótipo da sociedade, reivindicando igualdade entre sexos. Esse foi o ponto de partida para que vários movimentos se estendessem pelo mundo com grandes manifestações que levaram milhares de mulheres às ruas. Ainda, hoje com todos os direitos, concedidos à mulher por meio das lutas de outras no passado, existem preconceitos e limitações à mulher, como a diferença no salário ou o assédio sofrido no ambiente de trabalho. Algumas culturas ainda pregam a obediência da mulher ao homem, como os mulçumanos, ou ainda, em alguns países africanos, se praticam a mutilação genital das mulheres. Existem organizações que visam o bem estar da mulher e lutam para melhorar a condição feminina em todo o mundo. Numa sociedade avançada como hoje é inadmissível que ainda haja preconceito em relação ao sexo.

Palavras-chave: Feminismo, Mulher, Machismo, Preconceito, Movimento Feminista.


LISTA DE MAPAS Mapa 1. Mapa do continente europeu. ...................................................................... 37 Mapa 2. Mapa do continente americano ................................................................... 53 Mapa 3. Mapa do continente africano ....................................................................... 64 Mapa 4. Mapa localiza países onde a mutilação genital feminina está documentada. .................................................................................................................................. 68 Mapa 5. Mapa da Oceania ........................................................................................ 71 Mapa 6. Mapa do continente asiático. ....................................................................... 74 Mapa 7. Mapa da China ............................................................................................ 75 Mapa 8. Mapa da Rússia........................................................................................... 78 Mapa 9. Mapa do Oriente Médio ............................................................................... 79


LISTA DE FIGURAS Figura 1. Olympe de Gouges iniciou o movimento feminista. ................................... 21 Figura 2. Pintura da feminista Mary Woolstonecraft. ................................................. 22 Figura 3. Emmeline Pankhurst encabeçou manifestações feministas. ...................... 24 Figura 4. Sufragistas em manifesto. .......................................................................... 25 Figura 5. Eva Perón................................................................................................... 26 Figura 6. Vigdís Finnbogadóttir, primeira mulher eleita presidente. .......................... 27 Figura 7. Michele Bachelet primeira mulher eleita como presidente na América Latina......................................................................................................................... 27 Figura 8. Dilma Rousseff primeira mulher presidente no Brasil. ................................ 28 Figura 9. Mulher-Maravilha primeira heroína das histórias em quadrinhos. .............. 29 Figura 10. Simone de Beauvoir uma das mais importantes feministas do movimento. .................................................................................................................................. 30 Figura 11. Betty Friedan outro símbolo para as mulheres do movimento. ................ 32 Figura 12. Queima dos sutiãs em praça pública, 1968. ............................................ 34 Figura 13. Naomi Wolf referência na terceira onda do feminismo. ............................ 35 Figura 14. Simone de Beauvoir. ................................................................................ 43 Figura 15. Ilustração sobre o sufrágio feminino. ........................................................ 45 Figura 16. Coco Chanel............................................................................................. 47 Figura 17. Mulheres no mercado de trabalho. ........................................................... 49 Figura 18. Sufragistas em movimento. ...................................................................... 54 Figura 19. Cartaz Wendo SP que ensina defesa pessoal às mulheres. .................... 58 Figura 20. Leila Diniz, atriz brasileira......................................................................... 58 Figura 21. Símbolo do movimento feminista. ............................................................ 61 Figura 22.Movimento da queima do sutiãs em praça pública. ................................... 62 Figura 23. Waris Dirie. ............................................................................................... 67 Figura 24. Filme Flor do Deserto no qual conta a história de Waris Dirie.................. 67 Figura 25. Germaine Greer, escritora feminista. ....................................................... 72


Figura 26. Helen Clark, primeira-ministra da Nova Zelândia. .................................... 73 Figura 27. Apresentadoras do programa Kalam Nawaem......................................... 83


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 14 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 15 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 15 3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ................................................................................. 15 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 16 5. METODOLOGIA ................................................................................................... 18 6. FEMINISMO .......................................................................................................... 19 6.1 PRIMEIRA ONDA ............................................................................................. 20 6.1.1 O dia internacional da mulher .................................................................... 23 6.1.2 Sufragistas e o voto ................................................................................... 23 6.1.3 A primeira heroína ..................................................................................... 28 6.2 SEGUNDA ONDA ............................................................................................ 29 6.2.1 A queima dos sutiãs .................................................................................. 33 6.3 TERCEIRA ONDA ............................................................................................ 34 6.3.1 A Marcha Mundial das Mulheres ............................................................... 35 7. FEMINISMO NA EUROPA.................................................................................... 37 7.1 REFERÊNCIAS ANTES DE CRISTO – SÉCULO VII A.C. ................................ 38 7.2 CULTURA E EDUCAÇÃO ................................................................................ 38 7.2.1 Repreensões e O princípio do Feminismo ................................................. 38 7.2.2 Prioridades Feministas .............................................................................. 40 7.3 SUFRÁGIO FEMININO .................................................................................... 43 7.3.1 Oposição ao sufrágio ................................................................................. 43 7.3.2 O Caso britânico. ....................................................................................... 44 7.3.3 Obtenção do direito ao voto das mulheres em alguns países ................... 45 7.3.4 Mudanças pós-sufrágio.............................................................................. 46 7.4 MUDANÇAS NOS PADRÕES DE BELEZA POR COCO CHANEL .................. 47 7.5 MULHERES E TRABALHO .............................................................................. 48 7.6 A QUESTÃO DO ABORTO............................................................................... 49 7.6.1 Alemanha .................................................................................................. 49 7.6.2 Grã Bretanha ............................................................................................. 50 7.6.3 França........................................................................................................ 50 7.6.4 Portugal ..................................................................................................... 51 7.6.5 Espanha..................................................................................................... 51 7.6.6 Polônia ....................................................................................................... 51 7.7 AS CONFERÊNCIAS MUNDIAIS SOBRE AS MULHERES .............................. 51 7.8 A MULHER MODERNA .................................................................................... 52 8. FEMINISMO NAS AMÉRICAS ............................................................................ 53


8.1 FEMINISMO NA AMÉRICA LATINA ................................................................. 54 8.2 FEMINISMO NO BRASIL ................................................................................. 56 8.2.1 Leila Diniz – O símbolo da liberdade feminina. .......................................... 58 8.3 FEMINISMO NA AMÉRICA DO NORTE ........................................................... 60 9. FEMINISMO NA ÁFRICA ..................................................................................... 64 10. FEMINISMO NA OCEANIA ................................................................................ 71 11. FEMINISMO NA ÁSIA ........................................................................................ 74 11.1 CHINA ............................................................................................................ 75 11.1.1 Conferencia de Beijing ............................................................................. 76 11.2 RÚSSIA .......................................................................................................... 78 11.3 ORIENTE MÉDIO ........................................................................................... 79 11.3.1 O Islamismo ............................................................................................. 80 11.3.2 Tradições Islâmicas e a Mulher ............................................................... 80 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 85


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1. INTRODUÇÃO Desde os primórdios a mulher é tratada como o sexo frágil. Uma referência do machismo na época em que os homens viviam em cavernas é a famosa imagem de uma mulher sendo arrastada pelos cabelos por um homem. Esse estereótipo não mudou conforme a sociedade foi modernizando-se, pois as mulheres continuam sendo menosprezadas. Para que esta imagem se modificasse e também conseguisse alguns dos direitos que possui nos dias atuais, houve muita luta das mulheres ao longo dos anos, pelo mundo afora. Muitas foram às ruas visando igualdade e direitos. O feminismo, termo utilizado para designar o movimento de luta das mulheres, é um movimento cultural e político. Uma das primeiras reivindicações do movimento foi que a mulher tivesse voz ativa na sociedade, como escolher representantes por meio de votos e lutar contra o sistema patriarcal e machista. Grandes feministas como Simone Beauvoir, Betty Friedan, entre outras, provaram que os homens estavam equivocados. Mulheres começaram a aparecer na sociedade e a competir cada vez mais com o homem, muitas vezes, havendo uma inversão de papeis. Entretanto, apesar das conquistas, ainda hoje existem mulheres que sofrem violência e são subjugadas por sistemas que as tratam como inferiores. Mesmo numa cultura onde as mulheres já possuem seus direitos existem preconceitos e injustiças contra elas, como diferença salarial e assédios moral e físico.


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2. JUSTIFICATIVA Num mundo onde todas as pessoas possuem direitos iguais, as mulheres continuam sendo vítimas de preconceitos e imposições machistas, tanto no ambiente de trabalho quanto dentro de casa. Por meio dessa pesquisa, analisaremos como as mulheres buscaram seu lugar na sociedade, sem violência. Conforme as culturas evoluíram os direitos das mulheres começaram a surgir, dando condições e oportunidades para o sexo feminino; entretanto ainda existem culturas onde a mulher é subjugada, vivendo sob leis patriarcais e em situações extremas de pobreza e submissão.


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3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Investigar e estudar o feminismo e sua trajetรณria, enquanto movimento, ao longo da histรณria, em diversos lugares.

3.2 OBJETIVO ESPECร FICO Estudar como e quando surgiu o movimento feminista, quais foram os seus resultados ao longo de sua trajetรณria e quais foram os principais nomes que ajudaram a construir esse movimento.


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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Através dos séculos o sexo feminino sempre sofreu preconceito, sendo limitadas a alguns tipos de serviço e estes eram cuidar da casa, dos filhos e do marido, deveria obedecer sem questionar, pois, aos olhos dos homens, era incapaz de tomar decisões por si mesmas. A herança cultural deixada pela sociedade coloca a mulher como ser inferior. A Bíblia apresenta Eva como pecadora, aquela que levou o homem à ruína por induzir Adão a comer o fruto proibido. Ela também tem outras imagens que são impostas à sociedade, como a da Maria Madalena, prostituta. Sem dúvida, imagens como essas são acrescentadas à sociedade e atravessam gerações e gerações, impondo mulheres a se casarem virgens ou então de que elas não são capazes de exercer um emprego. Com a Revolução Industrial iniciou-se o movimento feminista, por meio de uma reivindicação feita por uma feminista. Com essa atitude incentivou o surgimento de vários clubes feministas na França. Suas ideias revolucionárias acabaram levando-a a guilhotina, onde foi morta. A partir desse fato, o movimento se espalhou pelo mundo, fazendo com que milhares de mulheres saíssem às ruas em busca de seus direitos, exigindo igualdade entre os sexos. Não demorou muito para que o sexo feminino estivesse no mercado de trabalho, chegando até a roubar a vaga dos homens por ser uma mão de obra mais barata. Alguns anos mais tarde, o feminismo ganhou ainda mais força, dividindo-se em três partes ou ondas. Sua primeira fase buscava o direito ao voto, basicamente. A conquista veio em diversos momentos para cada país e ainda hoje existem países onde a mulher sequer tem o direito a isso. A segunda fase ou onda, contou com feministas como Simone de Beauvoir, Betty Friedan, entre outras, que buscavam a igualdade dos sexos perante a sociedade, trazendo mais força ao movimento, mostrando à sociedade patriarcal que as mulheres tinham as mesmas capacidades de realizar trabalhos que os homens. Como as primeiras ondas do feminismo, foram compostas por mulheres brancas e de classe média. A terceira onda veio para revolucionar o conceito, trazendo mulheres de diversas etnias e também com orientações sexuais diferentes para lutarem por seus direitos. Tem como grande influencia Naomi Wolf, feminista que escreveu livro sobre os padrões de beleza e como estes aprisionam a mulher de modo que não se tem a liberdade de olhar no espelho sem querer se adaptar aos padrões exigidos pela época em que se vive.


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Nos dias atuais as mulheres sofrem grandes preconceitos ainda que tenham direito ao voto e participação ativa na sociedade. Existe a desigualdade de salários e assédios, que ocorrem comumente, tanto no ambiente de trabalho como em casa. A violência contra a mulher ainda é um fator preocupante em todo o mundo e a falta de informação e denuncia por parte das vitimas faz com que o trabalho de punir os agressores seja ainda mais difícil. Outra luta da mulher é sobre o aborto; em alguns países liberados, enquanto em outros, somente em casos de estupro. Atualmente existem organizações que procuram melhorar a qualidade de vida da mulher como a Marcha Mundial das Mulheres que promove movimentos por todo o mundo, mobilizando milhares de mulheres com a causa. Mesmo com todos os avanços em sua luta, muitos países ainda subjugam mulheres e não lhes dão direito algum. Em países onde a religião mulçumana é predominante, a mulher é obrigada a obedecer ao marido, usar o véu que cobre o rosto inteiro ou parte dele, entre outras imposições. A luta pelos direitos está longe de acabar. Somente será possível viver em uma sociedade com direitos iguais aos sexos quando for aceito que a mulher também é capaz de fazer o mesmo trabalho que os homens e é dever da mulher continuar lutando para que isso se concretize.


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5. METODOLOGIA

Esse trabalho foi realizado a partir de pesquisas em sites, livros, artigos científicos e filmes. A revisão bibliográfica teve por objetivo levantar a maior quantidade dos dados possíveis e assim reorganizá-las em um novo trabalho. Utilizando informações de autores sobre o assunto, fez-se uma retrospectiva de como foi o movimento feminista através dos séculos e como é sua situação no mundo globalizado.


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6. FEMINISMO

O papel da mulher na sociedade, na maioria das culturas, sempre foi ligado aos afazeres domésticos e manutenção do lar, cuidar dos filhos e do marido. Essa sociedade patriarcal existe desde a Grécia Antiga (776 – 323 a. C.), onde funcionava um sistema onde apenas os homens tinham direitos de participar da filosofia e da política, segundo ALVES (1985, p.11): Na Grécia a mulher ocupava posição equivalente à do escravo no sentido de que tão-somente este executava trabalhos manuais, extremamente desvalorizados pelo homem livre. Em Atenas ser livre era, primeiramente, ser homem e não mulher, ser ateniense e não estrangeiro, ser livre e não escravo. (ALVES, 1985, p.11)

Na Grécia Antiga existia uma lenda na qual mulheres eram guerreiras amazonas e se refugiavam na ilha Themyscira Segundo a lenda, essas mulheres odiavam homens e a entrada destes era proibida, pois a rainha Hipólita assim ordenou após ser traída. Eventualmente era permitida a entrada do sexo oposto, mas somente se este fosse incumbido de um trabalho vil. As amazonas engravidavam de viajantes para perpetuar a espécie e caso a criança nascesse homem logo se desfaziam dela. As guerreiras eram fortes, destemidas, inteligentes, livres e independentes dos homens, isso as tornou um ícone de veneração às mulheres gregas da época. Os homens da época não sabiam se temiam ou admiravam tais mulheres, pois era pavorosa a ideia de existirem mulheres tão fortes e inteligentes quanto os homens, e pior ainda, tratavam homens com desprezo e nenhum respeito (BOLTON, 2004). Na Roma antiga, o modo como as mulheres eram tratadas perante a sociedade não era diferente, entretanto no antigo império romano, existia uma lei onde concebia ao marido todos os direitos sobre a mulher. A história da mulher na Idade Média (476 – 1453 d.C.) é pouco esclarecedora, pois aqueles que escreviam sobre essa parte da história eram clérigos, que deveriam se manter afastado do sexo oposto, que era considerado pecador por natureza. Essa visão do sexo feminino se deve à Eva e seu papel na história, segundo os religiosos, logo todas as mulheres descendiam da pecadora. No século XVI, fora instalado o matrimônio a fim de que a mulher tivesse um só parceiro e este a ensinasse, dominasse e educasse, sendo assim digna de pureza e castidade. Esses preceitos surgiram a partir de três mulheres: Eva, a pecadora, que atraiu o


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homem para uma vida suja; Maria, mãe de Jesus, que era a mulher pura, a qual concebeu um filho sem perder sua virgindade e, muitas vezes, considerada santa; e por fim, Maria Madalena, a imagem da mulher pecadora, que se arrependeu e se purificou com a ajuda de Jesus. A igreja usava a imagem de santidade de Maria para impor às mulheres da época que reservassem sua virgindade para o casamento, pois pouco sabia sobre a feminilidade e tinham medo disso. Por outro lado, usavam a imagem de Eva como pecadora e tudo o que uma mulher não deveria ser, e Maria Madalena era a prova de que os pecadores podiam ser purificados caso se arrependessem. Durante séculos, a sociedade pregou essa moral, tornando mulheres submissas e revogando seus direitos na sociedade, permitindo que homens tomassem o controle e dominassem o sexo oposto. A igreja até os dias atuais prega exatamente essa ideia de moralismo e santidade entre os homens, entretanto algumas dessas imposições já foram esquecidas até mesmo pelos praticantes. Porém para que a sociedade mude e a mulher comece a ser devidamente respeitada são necessárias mudanças, e foi isso que muitas mulheres fizeram para conquistar direitos para as mulheres que antes eram apenas o sexo frágil. A partir do inicio das primeiras manifestações feministas, pode-se dividir o movimento em três fases.

6.1 PRIMEIRA ONDA

Na Revolução Francesa, o movimento feminista iniciou-se na mesma época em que os revolucionários franceses (1789) lutavam por direitos morais e civis, quando uma escritora militante, Olympe de Gouges, escreveu um projeto sobre os direitos da mulher. A partir dessa época, ocorreu o surgimento de vários clubes feministas que participavam ativamente da sociedade francesa. Em 1793, após escrever uma peça que abordava sobre um plebiscito, foi presa, julgada e condenada à guilhotina.


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Em 1792, Etta Palm propôs a entrada da mulher nas forças armadas e ao serviço público, proposta que foi negada pela Assembleia, o movimento foi eliminado e mulheres foram proibidas de participar de tais clubes. Também em 1792, no Reino Unido, Mary Wollstonecraft publicou A Vindication of the Rights of Women, um livro que reivindicava os direitos da mulher na sociedade e igualdade com o sexo masculino, ainda na mesma obra culpava tanto o homem quanto a mulher pela submissão feminina e divulgou que a mulher tinha poderes sobre homens.

Figura 1. Olympe de Gouges iniciou o movimento feminista. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_Y7NII0y3laY/S1yg2MaCdI/AAAAAAAABSc/0CaUeaFubnQ/s400/Olympe+de+Gouges.jpg


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Figura 2. Pintura da feminista Mary Woolstonecraft. Fonte: http://www.umich.edu/~ece/student_projects/wollstonecraft/maryface.jpg

Anos depois, em 1848, os movimentos feministas realmente começaram a surtir os efeitos desejados. Na França, os antigos clubes que tinham sido proibidos pelo governo, voltaram com mais intensidade e para a surpresa da sociedade machista, as mulheres começaram a exigir seus direitos ao voto e também igualdade de salários. Toda essa mudança na sociedade européia se deu devido à industrialização, assim com a grande demanda na produção, mulheres começaram a ganhar mais espaço no mercado de trabalho e, eventualmente, superaram os números de homens trabalhando em fábricas, pois sua mão de obra era pouco remunerada e compensava mais aos empresários, pois não precisavam pagar grandes salários e tinham mais trabalhadoras. Em Seneca Falls, Nova Iorque, nesse mesmo ano aconteceu a Convenção dos Direitos da Mulher. Um movimento que mostrava a aliança entre as feministas e o movimento operário das mulheres, fortalecendo ambos e auxiliando na luta das mulheres em busca de seus direitos.


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6.1.1 O dia internacional da mulher

Com a extensa jornada de trabalho, operárias de uma fábrica de tecidos, decidiram, no dia 8 de março de 1857, iniciar uma greve para reivindicar seus direitos. Elas queriam que a jornada de trabalho de 16 horas fosse reduzida em 6 horas e que o salário fosse igual ao dos homens, o salário delas chegava a ser apenas ⅓ do pagamento ao sexo masculino e executavam o mesmo trabalho. As operárias também pediram por tratamentos dignos dentro da fábrica. Para reprimir a revolta das operárias, os donos da fábrica trancafiaram-nas dentro do local de trabalho, em seguida, ateou-se fogo ao lugar. Com esta ação cruel, morreram carbonizadas 130 operárias. O dia da mulher já havia sido comemorado por outros países, em diferentes datas. Em 1912-1913, nos EUA (25/2), na Alemanha (19/3) e na Rússia (03/3) foi celebrado pela primeira vez o dia da mulher. No ano seguinte, 1914, Clara Zetktin encabeça a indicação do dia 8 de março como data fixa para a celebração, porém sem explicações sobre o porquê desta data. Em, 1917 acontece uma nova greve de tecelãs, mas desta vez na Rússia e foi o estopim para grandes revoltas e o início da Revolução Russa, sendo no ano seguinte instituído o dia 8 de março como lembrança do dia da grande revolta. Considerado um assunto quase proibido na época, poucos relatavam o caso das operárias mortas na fábrica por requerer seus direitos, uma década após a Segunda Guerra Mundial, um jornal relata a greve, ainda omitindo o caso das operárias que foram queimadas vivas, porém em 1970 um jornal afirma a versão contada antes por clubes feministas e cinco anos mais tarde, finalmente, a ONU concretiza a data de 8 de março como o dia internacional das mulheres em homenagem as tecelãs.

6.1.2 Sufragistas e o voto

Conhecidas como suffragettes (ou sufragistas, em português), as mulheres que lutavam pelo direito ao voto na Inglaterra, em 1866, utilizaram como base os


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conhecimentos do economista John Stuart Mill para iniciar suas grandes manifestações em busca de seus direitos e muitas vezes usavam métodos violentos, esse grupo que encabeçado por Emmeline Pankhurst, atua até o início da primeira guerra mundial.

Figura 3. Emmeline Pankhurst encabeçou manifestações feministas. Fonte: http://funnyjoke.files.wordpress.com/2007/03/main_pankhurst.jpg

O sufrágio feminista teve sua retomada em 1897 quando se fundou a União Nacional pelo Sufrágio Feminino. Neste ponto o movimento já tinha se misturado com interesses políticos e o direito de igualdade entrou como objetivo de partidos políticos. As suffragettes chamaram atenção da mídia através de greves de fome como forma de protestos, como consequência de um protesto radical, uma militante morreu ao se atirar em frente ao cavalo do rei da Inglaterra, em 1913, assim tornando-se a primeira imolada do movimento feminista. Em 1918, as mulheres inglesas ganharam direito ao voto, ação que foi, de certa forma, um agradecimento pela ajuda das sufragistas na Primeira Guerra que pararam suas manifestações para ajudar sua pátria. Apesar das inglesas ganharem direito ao voto relativamente cedo, o sufrágio feminino ocorreu pela primeira vez na Nova Zelândia, em 1893, e as mulheres

possuíam direitos

na

sociedade

desde

1886.

As

mulheres

estadunidenses ganharam seu direito ao voto somente em 1920, que também contou com muitas revoltas e protestos para que esse direito fosse conquistado.


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Figura 4. Sufragistas em manifesto. Fonte: http://twittease.files.wordpress.com/2010/03/sufragistas.jpg

Nos países da América Latina o sufrágio chegou mais tarde, quase dez anos depois, sendo o Equador o primeiro país latino-americano onde as mulheres conquistaram o direito do voto, em 1929. E na Argentina, alguns anos mais tarde, em 1946, iniciou-se a campanha do voto feminino através de Eva Perón, primeiradama e seu marido, Juan Domingo Perón, que estava em campanha de reeleição, a colocou como vice-presidente em sua chapa, o que acarretou milhões de votos por parte do eleitorado feminino que colocavam Evita, como era chamada, em um patamar de orgulho feminino, na qual suas lutas e conquistas serviam de espelho para outras mulheres. Ela morreu aos 33 anos, foi embalsamada e seu corpo foi deslocado para a Itália após o golpe de Estado de 1955 na Argentina, depois foi para a Espanha onde Perón estava exilado e somente em 1974, a terceira esposa de Perón, Isabelita, foi quem trouxe o corpo de Evita de volta à Argentina. Sua vida se tornou um filme, este que ganhou inúmeros prêmios, desde Oscar até o BAFTA, no qual trazia Madonna como a personagem-título.


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Figura 5. Eva Perón. Fonte:www.3.bp.blogspot.com/_xzw92zQLqNQ/SmvDEOKhNoI/AAAAAAAAAf8/S98QaEIMN_8/s400/ eva-peron-2.jpg

O voto no Brasil, após anos de discussão e desentendimentos, tanto dos homens que eram a favor do voto feminino quanto daqueles que julgavam ser um direito desnecessário à mulher, foi aprovado pelo Presidente Getúlio Vargas, em 24 de fevereiro de 1932, que instituiu no código eleitoral brasileiro que pessoas acima de 21 anos pudessem votar, independente de seu sexo, permitindo pela primeira vez no Brasil que mulheres votassem e incluiu esse direito como facultativo; só votavam as mulheres que quisessem e, em alguns casos, se o marido permitisse. A primeira mulher que ocupou o cargo mais importante de um país, o de presidente, foi Vigdís Finnbogadóttir que assumiu o posto, em 1980, através de uma eleição democrática e permaneceu no cargo até 1996. Na América Latina Michelle Bachelet assumiu o cargo de presidente do Chile em 15 de janeiro de 2006, sendo a primeira mulher eleita democraticamente na América Latina e sendo a mais recente, Dilma Rousseff, que em 2010 ganhou as eleições presidenciais tornando-se a primeira mulher presidente do Brasil.


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Figura 6. Vigdís Finnbogadóttir, primeira mulher eleita presidente. Fonte: http://www.listasafn.akureyri.is/v1/listak0503/vigdis.jpg

Figura 7. Michele Bachelet primeira mulher eleita como presidente na América Latina. Fonte: http://www.nublog.com.br/admin/fotos/Michelle_Bachelet.jpg


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Figura 8. Dilma Rousseff primeira mulher presidente no Brasil. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fa/Dilma_Rousseff_2010.jpg/360pxDilma_Rousseff_2010.jpg

6.1.3 A primeira heroína

Em 1940, criada por um psicólogo a Mulher Maravilha é a primeira heroína das histórias em quadrinhos. Ela foi criada em equivalência ao Super-Homem, trocando os papéis e exorcizando a imagem clichê das famosas mocinhas das histórias que sempre tinham um homem – ou super-heroi – para salvá-las. A imagem da heroína dos quadrinhos até chegou a ser adotada no movimento feminista como um passo na história das mulheres por ser forte e independente. Segundo o psicólogo que criou a heroína, William Moulton Marston, a mulher deveria governar o planeta e afirmou que: “Não há amor suficiente no organismo masculino para governar este mundo de modo pacífico. O corpo da mulher contém duas vezes mais órgãos geradores de amor e mecanismos endócrinos do que o homem” (KNOWLES, 2008). Então, depois da primeira mulher heroína surgir em histórias em quadrinhos várias outras também foram criadas como Elektra, Jean Grey, Viúva Negra, entre outras.


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Figura 9. Mulher-Maravilha primeira heroína das histórias em quadrinhos. Fonte: http://d.i.uol.com.br/album/heroinas_enquete_f_012.jpg

6.2 SEGUNDA ONDA

No ano de 1960 o movimento feminista passava por uma revolução em suas bases, nessa época acontece a chamada segunda onda do feminismo, onde antes o movimento era apenas exercido por mulheres da raça branca e, em sua maioria, vindas de família de classes médias e altas, agora também era partilhado com mulheres de todas as raças e de classes baixas. Também nesse ano o livro da feminista Simone Beauvoir é reconhecido mundialmente, seu sucesso faz com que Simone seja uma das grandes feministas da história. Formada em filosofia, escritora e feminista, durante toda a vida teve uma relação com Jean-Paul Sartre, entretanto o relacionamento deles foi um assunto polêmico na época, pois ambos tinham relacionamentos com outras pessoas e para eles isso era normal. O livro O Segundo Sexo (ou Le Deuxième Sexe, em francês) é divido em duas partes, ambos mostram


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a visão e o ensaio de Simone sobre a situação da mulher em todos os aspectos tanto sociais como políticos. Em seu livro, argumenta sobre a mulher e a forma como era tratada ainda na década de 1940, da forma como a mulher se dedicava sempre ao marido, filhos e lar, nunca pensando em si própria. O livro também mostra como a mulher é uma das principais culpadas por sua história, pois estas se submeteram a uma sociedade patriarcal durante séculos. Ainda afirma que a mulher será livre somente se os sexos viverem em condições iguais, a obra polêmica é citada como uma grande força do movimento feminista francês. Em um trecho de seu livro, desenvolve um pensamento sobre como os gregos viam as mulheres, BEAUVOIR, 1949: [...] Organizando a opressão da mulher, os legisladores têm medo dela. Das virtudes ambivalentes de que ela se revestia retém-se principalmente o aspecto nefasto: de sagrada, ela se torna impura. Eva entregue a Adão para ser sua companheira perde o gênero humano; quando querem vingar-se dos homens, os deuses pagãos inventam a mulher e é a primeira dessas criaturas, Pandora, que desencadeia todos os males de que sofre a humanidade. O Outro é a passividade em face da atividade, a diversidade que quebra a unidade, a matéria oposta à forma, a desordem que resiste à ordem. A mulher é, assim, votada ao Mal. "Há um princípio bom que criou a ordem, a luz, o homem; e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher", diz Pitágoras. (BEAUVOIR, 1949).

Figura 10. Simone de Beauvoir uma das mais importantes feministas do movimento. Fonte: http://www2.hu-berlin.de/sexology/GESUND/ARCHIV/GIF/SIMONE1.GIF


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Seguindo a linha de Simone Beauvoir, surge uma nova feminista que através de seu livro, A Mística Feminina, toma frente da segunda onda o feminismo. Betty Friedan se junta ao movimento e em sua obra discute como a mulher não pode se contentar e ser feliz através de cuidar da casa, do marido e dos filhos. A obra se baseia em uma série de pesquisas e entrevistas feita pela autora com mulheres americanas que eram apenas donas de casa e que, desde a infância, foram ensinadas a servir os homens e sempre dependentes. A maioria das mulheres entrevistadas chegava a um estagio de sua vida onde sofriam de profundos distúrbios psicológicos como depressão. “A dona de casa americana, libertada pela ciência dos perigos do parto, das doenças de suas avós e das tarefas domésticas, era sadia, bonita, educada e dedicava-se exclusivamente ao marido, aos filhos e ao lar, encontrando assim sua verdadeira realização feminina.” (FRIEDAN, 1963), o livro também se trata de como as mulheres deveriam ser perfeitas, impecáveis, naquela época. Desse modo, tinham que se adaptar à moda, estar sempre bem arrumadas, parecerem perfeitas ao lado do marido, além disso tinha que cuidar dos filhos e a casa deveria ser primorosamente limpa para assegurar que era uma ótima esposa. Cada vez menos a mulher se interessava em participar do mercado de trabalho, mesmo que esse lhes fosse concedido, pois o estereótipo da mulher perfeita não era a que trabalhava, a mulher independente; mas sim a mulher submissa, dependente e devota ao marido, filhos e ao lar. Logo no inicio de seu livro Betty Friedan coloca: A dona de casa dos subúrbios tornou-se a concretização do sonho da americana e a inveja, dizia-se, de suas congéneres do mundo inteiro. A dona de casa americana, libertada pela ciência dos perigos do parto, das doenças de suas avós e das tarefas domésticas, era sadia, bonita, educada e dedicava-se exclusivamente ao marido, aos filhos e ao lar, encontrando assim sua verdadeira realização feminina. Dona de casa e mãe, era respeitada como companheira no mesmo plano que o marido. Tinha liberdade de escolher automóveis, roupas, utensílios, supermercados e possuía tudo o que a mulher jamais sonhou (FRIEDAN, 1963. p. 19).


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Figura 11. Betty Friedan outro símbolo para as mulheres do movimento. Fonte: http://www.cbc.ca/gfx/pix/friedan_betty_cp_1470702.jpg

Na época de lançamento do livro, segundo o jornal americano The New York Times, o feminismo “pegou fogo” com tais informações que o livro continha, levando milhares de mulheres a pensar sobre sua própria condição enquanto apenas dona de casa. No livro constavam pesquisas também sobre a mulher e sua sexualidade, no qual as pesquisas com diversas mulheres mostravam: “Não é por mero acaso que o aumento de realização sexual da mulher acompanhou o progresso na participação de direitos, educação, trabalho e decisões na sociedade americana.” (FRIEDAN, 1963. p. 283) Com o fim da segunda onda do feminismo, surgiu uma terceira e esta veio como uma forma de corrigir os erros da anterior, e quebrar de uma vez o tabu de que as mulheres feministas deveriam ser somente brancas e de classe média. Nessa onda incluíram-se mulheres de diversas etnias e uma dela era Gloria Anzaldúa, a chicana. Além disso, as mulheres homossexuais também entraram na luta a favor do lugar da mulher na sociedade.


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6.2.1 A queima dos sutiãs

Outro fato marcante na história do feminismo é a famosa “queima dos sutiãs”. Em 1921, foi criado o Miss America, onde mulheres bonitas e deslumbrantes que representavam seus estados no país americano, desfilavam e, de certa forma, exibiam-se com o intuito de receber o título e a coroa de mulher mais bonita da America. E com isso criou-se um padrão de beleza que as mulheres deveriam seguir para serem consideradas bonitas, padrão esse que na maioria das vezes se caracterizava por seios grandes, corpo esbelto e curvilíneo, além da longa cabeleira loira. Apesar de, nessa época, a mulher ter mais liberdade como o direito ao voto, o padrão da beleza era – e ainda é - um modo de impor condições às mulheres de modo que ficassem insatisfeitas mesmo sendo independentes financeiramente e com uma carreira bem sucedida. No dia 7 de setembro de 1968, em Atlantic City no Estados Unidos, quando ocorria mais uma edição do Miss America, centenas de mulheres saíram às ruas para protestar contra os padrões de beleza impostos pela sociedade. Dentre os objetos levados as ruas, todos os produtos que costumavam remeter à mulher como maquiagem, sapatos de salto, além de produtos de limpeza também foram levados sutiãs que eram o símbolo máximo de aprisionamento da mulher moderna. Armaram em praça pública uma grande lata de lixo para queimar sutiãs, porém o fato é que a queima literal dos sutiãs nunca ocorreu, pois as autoridades da cidade não permitiram o uso de fogo. Entretanto o protesto contra a beleza, enquanto Jordi Ford, era eleita a Miss America do ano, foi um marco na história do feminismo mesmo sem a queima dos sutiãs.


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Figura 12. Queima dos sutiãs em praça pública, 1968. Fonte: http://farm4.static.flickr.com/3637/3667311168_e2f3ea46db_z.jpg?zz=1

6.3 TERCEIRA ONDA

Em 1991, uma nova feminista publicou o livro que abalou a sociedade moderna, principalmente por discutir a estreita relação entre a mulher e o estereótipo de beleza imposto pela mídia. Naomi Wolf tornou-se uma referência da terceira onda do feminismo com o livro O Mito da Beleza. Neste fala desde a sexualidade da mulher nos dias atuais até as cirurgias plásticas tão comuns atualmente. E mostra como a mulher tomou como uma obsessão o “ser perfeita” fisicamente. Durante a última década, as mulheres abriram uma brecha na estrutura do poder. Enquanto isso, cresceram em ritmo acelerado os distúrbios relacionados à alimentação, e a cirurgia plástica de natureza estética veio a se tornar uma das maiores especialidades médicas. Nos últimos cinco anos, as despesas com o consumo duplicaram, a pornografia se tornou o gênero de maior expressão, à frente dos discos e filmes convencionais somados, e trinta e três mil mulheres americanas afirmaram a pesquisadores que


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preferiam perder de cinco a sete quilos a alcançar qualquer outro objetivo. (WOLF, 1991. p.12)

Figura 13. Naomi Wolf referência na terceira onda do feminismo. Fonte: http://www.theredmountainpost.com/wp-content/uploads/2010/05/naomi-wolf-2.jpg

Houve, em 1993, uma Conferência Mundial dos direitos Humanos em Vienna, e lá foi debatido a situação da mulher da violência sofrida por elas, então foi outorgado a Declaração Sobre a Eliminação da Violência Contra a Mulher.

6.3.1 A Marcha Mundial das Mulheres

Atualmente, no século XXI, o feminismo radical já não é tão praticado, entretanto existem movimentos que lutam contra o preconceito e violência contra a mulher como a Marcha Mundial das Mulheres (MMA) que é conhecida em várias partes do mundo por sua história. Com uma mobilização de milhares de mulheres pelo mundo conseguiram um abaixo-assinado de mais de cinco milhões de assinaturas que foi entregue a ONU, assim formando o movimento. Outra luta da


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mulher, hoje em dia, é o direito sobre o próprio corpo com a legalização do aborto, o que gera muita polêmica entre a igreja, a população e o governo. Em vários países como Alemanha, Estados Unidos, Itália, Rússia entre outros, tal prática é legalizada, entretanto no Brasil é permitido somente em casos de estupro ou quando a vida da mãe corre perigo. Sem dúvida, a mulher ainda sofre grande preconceito em vários aspectos sociais e culturais, essa é uma luta constante na qual a mulher deve sempre ter respeito próprio e denunciar qualquer tipo de abuso, pois nos países onde a mulher já conseguiu seus direitos a leis está ali para ampará-la. Também existem os países que ainda tratam as mulheres sem respeito algum e essas ainda dependem de movimentos iguais àqueles que aconteceram em várias partes do mundo, indubitavelmente, isso só ocorrerá se as mulheres tiverem consciência de que não é direito de cultura alguma subjugar a população de acordo com sua moral. Todas as feministas que saíram às ruas para reclamar seus direitos e participar da sociedade como realmente merecem, fizeram história e proporcionaram os direitos com os quais a mulheres puderam chegar onde estão hoje, mas ainda falta muito para que se possa viver em uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos, independente de raça, opção sexual, etnia, religião e sexo. Então é por isso que cada mulher deve fazer valer a lei que tanto foi pedida por suas antepassadas e também tentar mudar a história da maneira que lhes é possível.


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7. FEMINISMO NA EUROPA

Mapa 1. Mapa do continente europeu. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Europa

A Europa, assim como os outros continentes, passou por diversas transformações e conta com diversos movimentos em sua história, sendo um deles, o movimento feminista, onde as mulheres lutaram – e lutam – por direitos iguais, pelo poder sobre si mesmas e pela liberdade de escolha e expressão. Neste continente, contamos com algumas figuras muito importantes como a irreverente

Coco

Chanel,

que

modificou

todos

os padrões de

moda

e

comportamento inicialmente na França e depois se expandiu por todo território europeu. Também contamos com a Emília Barzán, feminista espanhola que lutou pelo direito das mulheres ao voto e pela inclusão da mulher nas áreas de educação e cultura.


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Tais fatos e figuras apresentadas foram de extrema importância para a história da humanidade e para ressaltar a força das mulheres, tirando-as do senso comum de que são “o sexo frágil”. Esses são alguns dos exemplos de maior relevância que temos na Europa.

7.1 REFERÊNCIAS ANTES DE CRISTO – SÉCULO VII A.C.

Conhecida como a Décima Musa e nascida na Antiguidade, Safo, poetisa grega, teve seu trabalho censurado durante a Idade Média devido ao conteúdo erótico. Por consequência, hoje, só se encontra escassos fragmentos de sua obra. Isso só coloca em evidência o quanto a sociedade, especialmente o século XVIII, reprimia as mulheres quanto a determinados assuntos e opiniões.

7.2 CULTURA E EDUCAÇÃO

7.2.1 Repreensões e O princípio do Feminismo

Desde o período da Roma Antiga (compreendido pelos historiadores o período do século VIII a.C. ao século V d.C.) e no período da Grécia Antiga (1600 e 1100 a.C.), a mulher era tratada em uma posição subordinada, cabendo a ela todo trabalho doméstico, além de cuidar dos filhos e dos escravos. Não era permitido a ela participar de negócios públicos, por exemplo, muito menos de expressar-se contra o marido. Conta-se, porém, que a mulher de Roma tinha melhor posição que a mulher grega, e que a esta só era permitido o rompimento do matrimônio em caso de maus tratos – enquanto o marido podia romper o casamento sem dar satisfações. Na época do Feudalismo (por volta do século V), a mulher assumia totalmente o comando das atividades domésticas como fazer pão, preparar a comida, ordenhar vacas, cuidar dos filhos e dos animais domésticos, como se todas essas atividades consistissem em um tipo de especialização. Já no Antigo Regime (séculos XIV e XVIII), o papel da mulher foi pouco modificado. Com a introdução do Humanismo Cristão, podia-se encontrar mulheres


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humanistas, inteligentes, cultas e independentes, porém, as funções básicas das mulheres continuam as mesmas: perpetuar a espécie, ser boa mãe e esposa e cuidar do trabalho doméstico. Contudo, como o casamento era imposto e não realizado por amor, eram comuns casos de adultério, filhos bastardos e abortos, especialmente na Espanha do século XVII. No século XVIII, então, com a revolução francesa, as mulheres começaram a ganhar voz ativa. Entre os elaboradores da ideologia da revolução estava Condorcet, que comparou a situação das mulheres à condição dos escravos, pois entre os ideais da revolução estava a igualdade natural e política dos seres humanos, mas a sociedade trazia a contradição, excluindo as mulheres, que constituíam metade da população, aos direitos políticos, negando a igualdade e liberdade. Mais tarde, Olímpia de Gouges (pode-se encontrar seu nome como Olympe de Gouges), autora teatral e ativista revolucionária, publicou, em 1791, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, uma resposta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembléia Nacional em agosto de 1789. Ela denunciava que a revolução havia se esquecido das mulheres em seu projeto “igualitário e libertador” e afirmava que a “mulher nasce livre e deve permanecer igual ao homem em seus direitos”. Seu programa lutava especialmente pelo direito ao voto. Em 1792, Gouges foi encarcerada e executada, simbolizando o fracasso do manifesto feminista durante a revolução. E em 1804, o Código Civil Napoleônico negou às mulheres os direitos civis que eram reconhecidos aos homens e impões leis discriminatórias, segundo as quais o lar era de âmbito exclusivo às mulheres. A partir da Revolução Francesa, surgiu, na Europa Ocidental e na América do Norte, o feminismo. Durante esse período, o principal alvo de luta era o direito ao voto, nascendo, assim, o movimento sufragista.


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7.2.2 Prioridades Feministas

Um dos poucos trabalhos escritos antes do século XIX foi o livro “Em defesa dos direitos da mulher”, de Mary Wollstonecraft, criticando as atividades impostas como obrigação da mulher, porém, sem criticar os homens. Ela acreditava que ambos os sexos contribuíam para essa situação e tinha como verdade que a mulher exerce um poder considerável sobre os homens. A obra exigia oportunidades iguais na educação, no trabalho e na política. Wollstonecraft, porém, não daria tanta ênfase em sua luta pelo sufrágio e sim, pela inserção da mulher no âmbito cultural, pois acreditava que a base para superar a subordinação feminina era a educação. Para ela, isso levaria as mulheres a alcançar a igualdade em respeito aos homens e as daria a liberdade econômica, levando-as a realizar atividades remuneradas e ao trabalho. Pensava Wollstonecraft (1977): Tenho advertido sobre os maus hábitos que as mulheres adquirem quando se confinam juntas; e penso que poderia estender-se com justiça esta observação ao outro sexo, enquanto não se deduz a interferência natural que, por minha parte, tem estado sempre presente, isto é, promover que ambos os sexos deviam ser educados juntos, não só em famílias privadas como também em escolas públicas. Se o matrimônio é a base da sociedade, toda a humanidade devia educar-se seguindo o mesmo modelo, senão, a relação entre os sexos nunca merecerá o nome de companheirismo, nem as mulheres desempenharão os deveres peculiares de seu sexo até que não se convertam em cidadãs ilustres, livres e capazes de ganhar sua própria subsistência, e independentes dos homens (...) E mais, o matrimônio nunca se considerará sagrado até que as mulheres, educando-se junto aos homens, não estejam preparadas para serem companheiras, no lugar de ser unicamente suas amantes. (WOLLSTONECRAFT, 1977).

Mary não era a única a dar preferência à luta pela educação para mulheres. Em um lugar onde se obtinha o voto censitário e as práticas eleitorais (adulteração de resultados) e os pronunciamentos do exército marcavam a política, não é de se estranhar que o feminismo se baseava em demandas sociais e a busca do reconhecimento da sociedade quanto à maternidade e cuidado com a família, e também na exigência dos direitos civis. Graças a essa luta temos, na Espanha, o Feminismo Social, marcado por dois grandes nomes: Emilia Barzán e Concepción Arenal.


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Barzán defendia que os avanços políticos e culturais alcançados ao longo do século XIX só serviram para aumentar a distância entre os sexos. Já Arenal afirmava que o papel de mãe e esposa eram fundamentais na vida de uma mulher, mas que as experiências de vida feminina não podiam girar em torno disso. O feminismo espanhol avançou muito mais no terreno educativo que em outros, graças à iniciativa de Krausismo (1850, doutrina que defende a tolerância acadêmica) e da Instituición Libre de Enseñanza (1876. Numa tradução livre: Instituição Livre de Ensino), buscando um avanço na educação, ensino e cultura feminina. Porém, o modelo sofreu variações e as escolas seguiram transmitindo as funções básicas da mulher como “anjos do lar”. A resistência à generalização do novo ensino feminino foi muito acentuada. O reconhecimento oficial do direito ao ensino superior só veio após 1910. A taxa de anafalbetismo foi de 70% durante todo o século XIX. Não se podia falar de um movimento de emancipação feminina na Espanha até o início do século XX. A própria Wollstonecraft, em 1784, abriu uma escola com uma amiga e sua irmã, Eliza. Lá, conheceu Richard Price e Joseph Priestly, líderes do grupo Dissidentes Racionais, que rejeitava os dogmas cristãos. Pela convivência com Price, Mary veio a conhecer Joseph Johnson, um editor que, entusiasmado com as ideias de Mary, encomendou-lhe um livro a respeito delas. Em 1786, então, surgiu “Reflexões Sobre Educação de Filhas”. Nele, Mary discursava sobre a ignorância em que as jovens eram mantidas, assim como o padrão de conduta que a sociedade as impunha. Além disso, dizia que deveria ocorrer uma ampla reforma no currículo escolar. Arenal, por sua vez, adquiriu quase sua cultura e formação por seu autodidata, especialmente pela leitura, apesar de ter estudado em um colégio para meninas em 1834. Mais tarde, ela criticaria o tipo de educação do colégio como “a arte de perder o tempo”. Conheceu seu marido, Fernando García Carrasco, na Universidade, casandose com ele em 1848. O casal compartilhava seus trabalhos intelectuais e colaboravam para o jornal liberal Iberia. Em 1859, fundou o grupo feminino das Conferências de São Vicente de Paul e dois anos mais tarde, foi a primeira mulher a


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ter uma obra, “Beneficência, filantropia e caridade”, premiada pela Academia de Ciências Morais e Políticas. Em 1863, foi nomeada visitadora de prisões de mulheres, na Corunha. Na mesma época, tornou-se amiga de Juana de Vega, e criaram uma associação em prol das mulheres presas, chamada "Magdalenas", e em 1868, Inspetora de Casas de Correção de Mulheres, em 1871, inicia seus trabalhos para a revista "A voz da Caridade". Fundou a Construtora Benéfica em 1872, que construía casas baratas para operários, além de também colaborar com uma organização que cuida dos feridos das Guerras Carlistas, chamada Espanha da Cruz Vermelha do Socorro. Concepción passou as duas últimas décadas de sua vida doente, porém, não deixou suas obras de lado um segundo, e estava sempre revisando as próprias ideias. Apesar de nunca ter saído da Espanha, obras como “O visitador do pobre e o visitador do preso” tiveram alcance internacional e foram traduzidas para outras línguas, tendo grande influência na sociedade e levando a ideia de direitos iguais. Simone de Beauvoir, feminista francesa, influenciou na luta pela causa com seus livros, e absorveu de seu pai a paixão pelo teatro e pela literatura. Ele afirmava que a filha pensava como um homem e isso a enchia de orgulho, uma vez que era de seu conhecimento que ele desejava, na verdade, um filho, e não duas filhas. Beauvoir foi educada em uma escola católica para meninas, vista como lugares em que se oferecia a uma jovem duas alternativas: casamento ou convento. Apesar da mãe a acompanhar durante as aulas e sentar atrás dela na sala de aula, o colégio lhe trouxe uma boa coisa: lá conheceu a melhor amiga, Elizabeth Le Coin. Formou-se com “distinção” em 1924. Aos 15 anos, Simone já havia decidido que seria escritora. Apesar disso, estudou matemática, filosofia, literatura e línguas. Com 21 anos tornou-se a pessoa mais jovem a obter o Agrégation e a nona mulher a chegar neste grau. No exame final, ficou em segundo lugar, perdendo para Sartre. A morte de sua amiga Elizabeth foi narrada em sua primeira autobiografia, “Memórias de uma moça bem-comportada”, onde critica os valores burgueses. Outros livros marcaram sua jornada e a sociedade atual, como “A Convidada” (1943), “O sangue dos outros” (1944), e “Os mandarins” (1954), títulos onde analisa os dilemas existencialistas da liberdade, ação e responsabilidade. O último, considerado sua obra prima, ganhou o prêmio Goncourt.


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Mesmo assim, seu livro com mais destaque na história é “O Segundo Sexo”, onde Simone explora o papel da mulher na sociedade, escrito em 1949. Livro qual é de grande repercussão no movimento feminista.

Figura 14. Simone de Beauvoir. Fonte: http://www.simonebeauvoir.kit.net/foto05.htm

7.3 SUFRÁGIO FEMININO

7.3.1 Oposição ao sufrágio

Os argumentos baseados na discriminação de gêneros foram os que prevaleceram por todo o tempo em que o sufrágio feminino foi vetado. Era considerado perigoso para a ordem social desfazer as barreiras entre homens e mulheres, e deixá-las ter acesso aos espaços públicos. Muitos homens e até mesmo mulheres estavam convencidos de que questionar abertamente o estereotipo de “anjo e rainha” do lar abriria incertezas quanto ao futuro das famílias e da mulher como reprodutora. A princípio, por ter sido visto como uma ameaça à instituição familiar, o sufrágio feminino foi impedido.


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Um exemplo de não aceitação foi o caso britânico, em 1908. Em novembro desse ano foi criada a Liga Nacional das Mulheres Anti-Sufrágio. A presidente era Mary Ward, uma popular romancista. Os líderes da liga insistiam em dizer que a maioria das mulheres britânicas não queriam conseguir o direito ao voto e faziam advertências quanto ao perigo onde um pequeno grupo de mulheres forçavam o governo a mudar o sistema eleitoral. Pode-se encontrar um exemplo da mentalidade dessas mulheres com as manifestações de Lady Musgrave, tiradas de um jornal em 1911: (...) Afirmou estar completamente contra a extensão do direito ao voto às mulheres, já que pensava que não só não traria nenhum nem a seu sexo, mas que, ao contrário, faria muito mal. Lady Jersey afirmou: "Não ponhas sobre nós esta carga adicional". As mulheres, em sua opinião, não eram iguais aos homens nem em resistência nem em energia nervosa, incluindo, em seu conjunto, tampouco em inteligência." (MUSGRAVE, 1911)

Porém, a situação pós Primeira Guerra Mundial obrigou a sociedade a incorporar mães e esposas ao cenário público. Isso foi decisivo no esforço econômico durante a guerra. O direito ao voto foi consequência, um reconhecimento coletivo aos méritos acumulados.

7.3.2 O Caso britânico.

O Sufrágio britânico foi um movimento dividido em duas partes: o moderado e o radical, partindo da ação direta. Possivelmente, a sutil violência utilizada pelas sufragistas tratava de diminuir o orgulho de nosso sexo; íamos ensinar o mundo como conseguir reformas sem violência, sem matar pessoas e fazer edifícios voarem, ou sem fazer outras coisas estúpidas que os homens fizeram quando quiseram alterar as leis (...) Nós queríamos mostrar que podíamos avançar ou conseguir a liberdade humana a qual aspiramos sem utilizar violência alguma. Temos sido decepcionados nesta ambição, mas podemos dar a nossas almas o consolo de que a violência registrada não tem sido formidável e de que as mais ferozes das sufragistas estão mais preparadas para sofrer danos que para infringi-los. (FAWCETT,1912)

Millicent Garret Fawcett liderou as sufragistas moderadas que se agruparam na União Nacional de Sociedades do Sufrágio Feminino que chegou a contar com mais de 100 mil membros em 1914 e concentrava seu trabalho na propaganda política, seguindo sempre a estratégia de ordem e legalidade.


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Sem resultados, foi criado a União Social e Política das Mulheres, por Emmeline Pankhurst. Seus membros eram conhecidos como as “suffragettes”. A União convocava táticas violentas como sabotagens, incêndios e invasões, enquanto o Parlamento discutia reformas legislativas. Quando encarceradas, as suffragettes respondiam a repressão no governo com greve de fome, mas eram forçadas a comer. Em resposta contra essa prática cruel, se criou a Lei do Gato e do Rato, onde foi decidido que as mulheres (os ratos) seriam liberadas pelas autoridades (os gatos), quando seu estado de saúde fosse preocupante. Uma vez recuperadas voltariam a serem presas. Antes da guerra, os protestos sufragistas fizeram com que os partidos políticos pensassem em reconsiderar sua atitude perante o voto feminino. Após a guerra, em 1918, devido aos méritos que as mulheres acumularam, foi-se permitido que mulheres com mais de 30 anos tivesse direito ao voto. Dez anos depois, em 1928, a lei Equal Franchise Act permitiu com que qualquer mulher maior de idade tivesse direito ao voto.

7.3.3 Obtenção do direito ao voto das mulheres em alguns países

Figura 15. Ilustração sobre o sufrágio feminino. Fonte: http://kostadealhabaite.blogspot.com/2006/03/dia-internacional-da-mulher.html


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Finlândia - 1906 Noruega - 1913 Dinamarca - 1915 Islândia - 1915 Holanda - 1917 Rússia - 1917 Reino Unido - 1918 (para maiores de 30 anos. 1928 para maioridade) Alemanha - 1918 Suécia - 1918 Irlanda - 1922 Áustria - 1923 Tchecoslováquia - 1923 Polônia - 1923 Espanha - 1931 França - 1945 Itália - 1945 Suíça – 1971

7.3.4 Mudanças pós-sufrágio.

Os principais motivos de luta entre o feminismo continuaram sendo a capacitação profissional, abertura de novos horizontes, melhoras na educação, voto, e a igualdade entre os sexos na família para evitar a subordinação da mulher. Porém, com as mudanças sociais, econômicas e políticas, houve uma aceleração no movimento. No começo do século XX, por exemplo, a Grã Bretanha apresentada uma taxa de 70,8% de mulheres solteiras trabalhadoras, entre 20 e 45 anos. No Reino Unido, já se tinha um grande número de mulheres solteiras, trabalhadoras e maiores de 45 anos havia crescido entre as classes médias de maneira inimaginável para a época. O matrimônio apresentava um retrocesso como projeto de vida. A população teve tal consciência do valor da mulher que várias delas substituíram homens que haviam lutado durante a Primeira Guerra Mundial.


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7.4 MUDANÇAS NOS PADRÕES DE BELEZA POR COCO CHANEL

Figura 16. Coco Chanel. Fonte: http://weheartit.com/entry/4132951

Gabrielle Chanel nasceu em uma família pobre e cresceu sozinha, uma vez que seus pais morreram durante sua infância. Adotou o nome ‘Coco’ durante sua carreira de cantora em um café. Durante sua vida envolveu-se com um militar e depois, com um industrial inglês, conseguindo assim, recursos para abrir sua primeira chapelaria em 1910. Os dois homens ajudaram-na a atrair clientes, homens e mulheres, e, apesar de seus figurinos serem completamente diferentes do que se costumava usar na época, caíram no gosto público. Naquela época, era comum encontrar mulheres com cinturas que mediam, em média, 45 cm, devido ao uso do espartilho desde a puberdade. Além disso, os homens davam preferência às mulheres robustas, com formas e aparentemente elegantes. Além de magra, a criação de Chanel eram peças confortáveis, com tecidos leves, sem usar espartilhos uma única vez, misturando peças masculinas e encurtando saias. Em 1920, já era uma influente designer e, em 1922, criou o famoso perfume Chanel nº 5. Como os negócios estavam em baixa, Coco trabalhou como enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial, onde se envolveu com um oficial nazista, caso


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que lhe custou o exílio. Em 1954, voltou a Paris, retomando seus negócios na alta costura. Em 1950, vestidos pretos, o cárdigã e pérolas tornaram-se marca registrada de Chanel, que acabou se tornando um império dos mais variados tipos de acessórios e roupas, tornando-a famosa por todo o mundo. Gabrielle Chanel faleceu aos 87 anos, e nesta época, ainda trabalhava, desenhando uma nova coleção que, pelo acaso, foi interrompida.

7.5 MULHERES E TRABALHO

A introdução das mulheres no mercado de trabalho começou com a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, quando os homens iam para a batalha e suas esposas tinham que tomar a frente dos negócios, e depois, quando, pela morte de milhares de soldados, elas tinham que substituí-los no trabalho. Com a consolidação do capitalismo no século XIX, a mão de obra feminina foi de muita importância no crescimento da maquinaria e no desenvolvimento da indústria têxtil. Algumas leis foram criadas para benefício das mulheres. Na Constituição Brasileira de 32, por exemplo, foi determinado que “sem distinção de sexo, a todo trabalho de igual valor correspondente salário igual; veda-se o trabalho feminino das 22 horas às 5 da manhã; é proibido o trabalho da mulher grávida durante o período de quatro semanas antes do parto e quatro semanas depois; é proibido despedir mulher grávida pelo simples fato da gravidez”. A base que molda esta lei também está presente na Constituição de outros países. Ainda assim, ainda existia exploração em alguns quesitos. A jornada longa de trabalho e o salário muito mais baixo que o do homem, por exemplo. Este último era justificado pelo fato de que, se o homem devia sustentar a mulher, não havia necessidade de um salário igual ou superior ao dele. Hoje, a jornada de trabalho foi igualada, porém, ainda existem diferenças entre os pisos salariais. Mesmo assim, algumas pesquisas mostram que tem aumentado o número de mulheres em postos diretivos de empresas. Curiosamente,


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isso acontece em vários países de maneira semelhante. Exatamente por essas diferenças, assim como essas vitórias, ainda acontecem manifestações feministas que lutam, sem cessar, pela total igualdade de direitos.

Figura 17. Mulheres no mercado de trabalho. Fonte: http://www.fashionbubbles.com/wp-content/uploads/2008/10/office1.jpg

7.6 A QUESTÃO DO ABORTO

A maior parte dos países que pertencem a União Europeia permitem o aborto a pedido da mulher, desde que realizado até a 12º semana de gestação.

7.6.1 Alemanha

O aborto é permitido até a 12ª semana de gestação, mas a mulher deve se sujeitar a um aconselhamento em um centro oficial, onde ela é informada


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sobre os riscos do aborto. Porém, se sua decisão for realmente a de interromper a gravidez, ela não deve justificativas. Acima de 12 semanas, o aborto é permitido em casos de violação, e então, a mulher não precisa passar pelo aconselhamento. O Parlamento Federal decidiu descriminar o aborto até a 12ª semana em 1992. Em 1993, o Tribunal Constitucional determinou que as mulheres deveriam passar pelo aconselhamento. Em 1995, a lei foi novamente alterada para consagrar tais premissas.

7.6.2 Grã Bretanha

Há 40 anos a lei que aprova o aborto até a 24ª semana foi aceita. Porém, nesse tempo, ela foi sofrendo alterações. A lei vigente decreta que a gravidez pode ser interrompida até a 24ª semana se o ato for autorizado por dois médicos. No caso de menores de 16 anos, o aborto só é possível com o consentimento dos pais.

7.6.3 França

O aborto foi liberado, em 1975, inicialmente até a 10ª semana, depois, modificado para o limite de 12 semanas, caso a mulher se encontre num estado de angústia devido à gravidez. A grávida deve passar por um aconselhamento de uma semana, porém, a decisão é totalmente sua. No segundo trimestre, a prática só é aceita caso coloque a saúde da mulher ou do feto em risco. Em caso de menores, é dispensado o consentimento dos pais desde 2001, porém o adolescente deve estar acompanhado por um adulto de sua escolha.


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7.6.4 Portugal

Até 1984, o aborto era ilegal em todas as circunstâncias. Futuramente, a Lei 6/84 permitia o aborto em casos excepcionais, tais como perigo de morte ou lesões graves ou irreversíveis para a saúde física da mulher, sem levar em consideração o período da gravidez. Em 1997, os casos mudaram: o aborto foi permitido até a 24ª semana no caso de má formação fetal e até a 16ª semana no caso de violação. O aborto deve ser realizado por um médico em estabelecimentos oficiais ou reconhecidos.

7.6.5 Espanha

O aborto é permitido para evitar riscos para a saúde física ou psicológica da mulher, sem determinação de prazo. No caso de gravidez resultante de violação, é permitido até a 12ª semana e no de má formação fetal, até a 22ª semana. A mulher deve ser informada sobre os riscos do aborto e sobre as medidas de assistência social. A interrupção deve ser realizada em locais próprios, públicos ou particulares. A lei foi aprovada em 1985. No ano seguinte, o Governo aprovou a abertura de centros privados que praticam a maioria das IVG.

7.6.6 Polônia

Até 1956, a lei em vigor permitia o aborto caso a mulher se encontrasse em “situação pessoal difícil”. Foi restringida, em 1993, e desde então, a prática só é permitida em casos de risco de vida para a mulher, violação ou má formação do feto. 7.7 AS CONFERÊNCIAS MUNDIAIS SOBRE AS MULHERES

Em 1980, foi realizada em Copenhague, Dinamarca, a II Conferência de Copenhague, selecionou três pontos para discussões sobre o direito das mulheres


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merecedores de atenção: o acesso à educação, serviço de saúde apropriado e semelhante ao dos homens e as oportunidades de emprego. Outras conferências foram realizadas, como no México e em Nairobi, mas a principal foi a conferência de Beijing, China, em 1995, onde importantes discussões foram criadas e 12 áreas de prioridades foram definidas para mudar a situação da mulher no mundo.

7.8 A MULHER MODERNA

Em 2009, numa entrevista, a Comissão Europeia assegurou que manterá seu compromisso político em relação a se fazer cumprir os direitos das mulheres e afirmou que não retrocederá até que todos reconheçam e respeitem tais direitos. A União Europeia, num conjunto, também tem como objetivo assegurar à mulher igualdade de oportunidades e tratamento entre os dois sexos e lutar contra a discriminação baseada no sexo. Ainda há vários relatórios em defesa à mulher quanto a seus direitos como cidadã e, por isso, ainda há manifestações e movimentos feministas que buscam a total igualdade, liberdade e direito quanto a seu corpo. É uma luta incansável que, mesmo já tendo apresentados resultados positivos e avançados em comparação a outros países, ainda não chegaram ao equilíbrio total que desejam.


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8. FEMINISMO NAS AMÉRICAS

Mapa 2. Mapa do continente americano Fonte: http://www.agecon.org.br/ktml2/images/uploads/mapa%20america.jpg?0.20079950609550556

Num continente onde a mulher nunca foi reconhecida como deveria, mulheres guerreiras labutaram arduamente por um espaço na sociedade que se é vivido hoje; e após cravar muitos combates e enfrentar inúmeros desafios em busca do reconhecimento tão ansiado, seus direitos foram sendo garantidos ao longo do tempo. A ideia de que haja por natureza a desigualdade na sociedade é empregada desde os primórdios. Afinal, foi Aristóteles (grande filósofo grego eu mantém uma influencia no comportamento da sociedade ainda nos dias de hoje, 384 a.C.- 322 a.C) quem disse: “Está, portanto, claro que há por natureza homens livres e escravos, e que a servidão é agradável e justa para estes [...]. Igualmente, a relação do macho com a fêmea é por natureza de tal forma que um é superior e a outra inferior, um domina e a outra é dominada [...]. Entre os bárbaros, é claro, as fêmeas e os dominados estão na mesma classe. Isto é porque eles não têm


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um elemento, naturalmente dominante [...]. Por isso é que os poetas dizem ser justo que os gregos dominem os bárbaros [...]” (ARISTÓTELES, 365 a.C).

Participações

em

revoluções,

movimentos,

passeatas

e

campanhas

representam algumas das formas de manifestações que vivenciaram e que garantiram o lugar da mulher no mundo. Entretanto, as feministas da atualidade ainda não estão totalmente satisfeitas, desejam um mundo totalmente igualitário e continuam se impondo para isso.

Figura 18. Sufragistas em movimento. Fonte: http://www.primeiralinha.org/imagens5/sufragistas.jpg

8.1 FEMINISMO NA AMÉRICA LATINA

Foi nos anos 1970 que o feminismo surge na América Latina num contexto onde mulheres manifestavam contra a ditadura militar, num mundo onde autoritarismo e falsas democracias dominavam a sociedade. Em meio à discriminação num estado patriarcal, capitalista e racista, lutaram arduamente por seus direitos, há conquistar pouco tempo depois, na política, mercado de trabalho e no sistema educacional. Diferente do feminismo em outras regiões, as mulheres


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atuantes deveriam se exilar por participarem das atividades e ambientes que antes era de total exclusividade do homem. Apesar das feministas latino-americanas romperem com as organizações de esquerdas em termos organizativos, mantiveram seus vínculos ideológicos e seu compromisso com uma mudança radical das relações sociais de produção, ao tempo que continuavam lutando contra o sexismo dentro da esquerda (STERNBACH ET AL.,1994. p. 74).

O movimento nos anos seguintes fez elos com os outros grupos de liberdade social, como os homossexuais, negros, e até algumas associações de moradores, clubes para mães e creches sabedores do movimento uniram-se a eles. Formaram, assim, um grupo grande e forte que conquistou o que hoje se vê na sociedade latino-americana, não só direitos, mas a defesa da mulher contra violência e a proteção de sua sexualidade. Já nos anos 1980, novos obstáculos surgiram: incorporaram-se as demandas das mulheres em seus mandatos e candidaturas, a criar o Departamento Feminino. Com a ação vinda de convencimento aos parlamentares fica-se conhecida e divulgada pela imprensa o “Lobby do Batom”, que foi a aprovação de aproximadamente 80% das demandas, sendo setor com o maior número de vitórias. Essa “bancada feminista” foi composta por mulheres de diferentes partidos políticos, superando suas diferenças, a destacar a política. A década de 1990 trouxe uma fragilidade e instabilidade vinda dos órgãos do governo em condições absurdamente precárias e sem uma infraestrutura capaz de suportar todas as mudanças que a década traria. Como saída foram formada ONGs feministas, que ao lado do governo, ajudavam-no e orientavam-no. Nesse contexto histórico surge o chamado “Feminismo Popular”, onde mulheres de baixa renda conglomeravam-se em sindicatos. Apesar de pequenos, fizeram toda a diferença nos países mais pobres da America Latina, principalmente nos que possuem a agricultura como base da economia. Lá, mulheres ainda eram escravas dos donos das fazendas, tendo que se doarem ao dono nos campos a fora e a trabalhar dia e noite, a sol ou a chuva, nas lavouras, Hoje, essa prática ainda é frequentada onde não há uma fiscalização, mas o número de casos vem diminuindo. Entretanto, há 30% dessa população pobre de mulheres que se tornaram chefes de família. Para essas contradições na população, foi criada a maior


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organização de massa de Cuba, a Federação de Mulheres, com 3 milhões de filiadas, numa população de 11 milhões de habitantes. Assim, acontecem encontros em prol da mulher. O 10° Encontro de Feministas da América Latina reuniu 1500 feministas da região, mais o Caribe, provendo debates com o lema: "Radicalização do Feminismo, Radicalização da Democracia". E, com a catástrofe ocorrida no Haiti, foi divulgado um pronunciamento de feministas da região para conscientizar outras a ajudar as que estão vivendo agora em situações agravantes, declarando a preocupação vinda de feministas não só nos direitos civis, e sim na atenção voltada a todos os assuntos relacionados ao sexo feminino: “Companheiras: diante da tragédia que está ocorrendo no Haiti, nós mulheres do Pão e Rosas Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e México queremos propor a vocês soltar uma declaração comum de solidariedade com as mulheres haitianas, onde também denunciamos o papel das tropas estrangeiras da ONU, denunciadas em inúmeras ocasiões por estupros, redes de tráfico de mulheres e a prostituição forçada em troca de moradias, e onde também exigimos que sejam as grandes empresas capitalistas as que forneçam gratuitamente todo o necessário para socorrer a população e reconstruir o pais. Acompanhamos todas as formas de solidariedade que surjam espontaneamente com o povo irmão do Haiti, mas acreditamos ser necessário que as feministas autónomas, socialistas, anticapitalistas, de esquerda, anti-imperialistas, etc, acompanhemos nossa solidariedade com esta denúncia política. Durante anos essas tropas vem cometendo violência e abusos cada vez mais espantosos contra o povo haitiano, especialmente contra as mulheres. Essa violência aumentará enormemente com esta tragédia, como já denunciam os distintos organismos de direitos humanos e organizações internacionais de mulheres. Por isso acreditamos necessário um pronunciamento politico que acompanhe nossa solidariedade e queremos fazer isso de forma unitária com todas as companheiras que compartilhem desta posição.” (PÃO E ROSAS, 2010).

8.2 FEMINISMO NO BRASIL Como de praxe, no Brasil o feminismo vê de muitas lutas, sofrimentos, combates, vitórias e derrotas, sob a submissão do homem e sua humilhação tamanha. A educadora e socióloga pioneira dos Estudos dos Gêneros, Heleieth Saffioti, dirigiu inúmeros estudos referentes à abolição do preconceito de raças, cor, gênero e classe social. Nascia em Ibirá, São Paulo, onde já iniciou seu processo de ensinar e conscientização. "Os movimentos feministas só são o que são hoje porque foram o que foram no passado. Hoje nós podemos questionar as bases do pensamento


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ocidental porque houve um grupo de mulheres que queimou sutiãs em praças públicas. O sutiã simbolizava uma prisão, uma camisa de força, a organização social que enquadra a mulher de uma maneira e o homem de outra. A simbologia é essa: vamos queimar a camisa-de-força da organização social que aprisiona a mulher" (SAFFIOTI, 1992)

Com a Constituição de 1891, inicia-se uma luta das brasileiras pelo tão ansiado voto. Em 1910, a professora Deolinda Daltro funda no Rio de Janeiro o Partido Republicano Feminino. Com isso, Bertha Lutz, em 1919, funda a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, que posteriormente se torna a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Com Getúlio Vargas ao poder, em 1932, o sufrágio já era exercido em dez estados brasileiros. Já em 1960, o “masculino” e o “feminino” estariam subordinados uns aos outros como vindo de uma criação cultural devido a fatores biológicos. Igualdade ainda não se havia cogitado. A partir século XX a situação feminina começou a surtir efeito, pois até fins de 1962 as mulheres era igualada na sociedade com os silvícolas e os incapazes. Tudo a fazer vinha de ordens do marido; tudo a fazer vinha do consentimento e permissão do marido, Marido era dono, e não cumpria com a função de marido verdadeiramente. Expressões populares começam a aflorar com a criação e publicação do jornal Brasil Mulher em Londrina (localizado no estado do Paraná) ligado ao movimento feminista. Logo depois, em 1976, surge o Nós Mulheres, já declarado desde o seu inicio um jornal exclusivamente feminista. Uma de suas idealizadoras no Brasil foi a bióloga e zoóloga Berta Luts, fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. em 1922. Junto dela, Nuta Bartlett James compartilhou lutas políticas na década de 1930, com a criação da União Democrática Nacional (UDN). A luta pelo direito ao voto durou 22 anos. Começou em 1910 e terminou em 1932, com a criação do Partido Republicano Feminino no Rio de Janeiro. O então presidente Getúlio Vargas foi quem decretou o poder do voto às mulheres e de serem eleitas a algum cargo. O movimento surtiu efeito no país também na ação da volta pela democracia. Já de 1980 em diante, grupos feministas espalharam-se pelo Brasil, ganhando mais força em 1985 com a fundação do Conselho Nacional da Condição Feminina, ligado ao Ministério de Justiça. Hoje, o movimento não tem mais tanto


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enfoque quanto antes. As brasileiras se acomodaram com suas conquistas, com a “igualdade” visivelmente conquistada. No Brasil, a prática do Wendo ganha força com a criação do Coletivo WendoSP, um grupo não governamental e sem fins lucrativos, que vem promovendo treinamentos com o custo voluntário de R$2,00.

Figura 19. Cartaz Wendo SP que ensina defesa pessoal às mulheres. Fonte: http://escuta.estudiolivre.org/arquivos/2010/03/wendo4-300x274.gif

8.2.1 Leila Diniz – O símbolo da liberdade feminina.

Figura 20. Leila Diniz, atriz brasileira. Fonte: <http://navegandonavanguarda.blogspot.com/ 2009/11/leila-diniz-eu-te-amo.html>


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Leila Roque Diniz nasceu nem Niterói, RJ, no ano de 1945 e faleceu em 1972. Sua imagem mais famosa é de 1971 quando chocou a sociedade por aparecer grávida de biquíni. Embora tenha sido algo completamente inesperado para a época, foi acusada por algumas feministas de servir aos homens. Ainda assim, foi considerado o símbolo da liberdade feminina. Leila se formou professora e deu aulas num jardim de infância. Aos 17 anos conheceu o cineasta Domingos Oliveira. Saiu de casa com a mesma idade para casar-se com ele. O relacionamento durou três anos e, após o término, ela começou a trabalhar como atriz de teatro e, posteriormente, de televisão e cinema. Ela também teve um segundo marido, o diretor de cinema Ruy Guerra, e dele teve uma filha, Janaína. Viveu na época da Ditadura Militar e rompeu inúmeros tabus. Falava palavrões em público, revelava em entrevistas suas preferências sexuais e trocava de namorado sem dar satisfações a ninguém. Uma de suas frases mais famosas e célebres foi falada em uma entrevista ao jornal Pasquim, em 1969. Leila dizia que “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”. Essa entrevista motivou a lei da censura prévia, produzida pelo ministro da Justiça Alfredo Buzaid, que foi apelidada de Decreto Leila Diniz. No total, Diniz participou de 14 filmes, 12 telenovelas e inúmeras peças teatrais. Além disso, como atriz, tornou-se a musa do cinema novo, que propunha o rompimento dos padrões estéticos e de beleza adotados com base no “modelo hollywoodiano”. Faleceu quando voltava da Austrália, onde tinha ido para promover seu filme, Mãos Vazias, no Festival Internacional de Adelaide. Tinha antecipado o voo, pois sentia falta da filha, porém um acidente aéreo (a explosão do avião em que estava) a levou aos 27 anos, deixando apenas a lembrança de sua irreverência e espontaneidade durante uma época onde a maior parte das pessoas viviam sob censura e tabus.


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8.3 FEMINISMO NA AMÉRICA DO NORTE Foi no século XIX que aumentou o desejo das mulheres americanas pela conquista de seus direitos. Entretanto, a causa não prosperou como haviam planejado, e a sociedade, apesar do direito ao voto nas eleições nacionais conquistado em 1914. Iniciou-se no século XVI o desejo de liberdade entre as mulheres americanas, quando na Idade Média (início do Renascimento) ocorreu um genocídio denominado “Caça às bruxas”, com milhares de mulheres assassinadas e torturadas por serem consideradas bruxas na época. Em 1837, inicia-se a entrada da mulher no sistema educacional com a fundação da universidade feminina de Holyoke, possibilitando um ensino superior tão qualificado quanto o ensino passado aos homens. Nesse mesmo ano, a cidade de Nova York realiza uma convenção onde mulheres argumentavam sobre a escravidão, sendo criada a marca do feminismo norte-americano: o abolicismo. Oito de Março de 1957, uma data tão significativa até os dias atuais. Foi em Nova Iorque que nesta data operárias empreenderam uma marcha protestando sua jornada de trabalho e seu salário. Reprimidas cruelmente, muitas acabaram presas e feridas. Após 51 anos, no mesmo dia, em 1908, operárias novamente saem às ruas. Daí o significado pelo Dia Internacional da Mulher, que foi um meio para homenagear as inúmeras mulheres que deram suas vidas a favor do sexo feminino. Em 1890, O Estado de Wyoming cedeu às mulheres o direito ao voto aos membros do Congresso e ao Presidente dos EUA (nessa época, outros estados já haviam dado esse direito a mulher, também dispondo lugar para elas se candidatarem a algum cargo, como a presidência). Nos dez anos que se sucederam, outros três estados americanos adotaram a ideia, enquanto nova Zelândia e a Austrália Ocidental e do Sul dispensaram o voto feminino. Na Finlândia, o voto foi adquirido em 1907; e depois, mais seis estados, por volta de 1914, deram continuidade ao processo. Somente em setembro de 1920, com a ratificação da 19° emenda Constitucional, que foi concedido o voto às mulheres, finalizando assim 72 anos de batalha.


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Figura 21. Símbolo do movimento feminista. Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_Ngcf4KObvjU/SwFkc2i7MlI/ AAAAAAAAAkk/suBsKxtI84Q/s1600/feminismo.jpg

Um fato bastante representativo e marcante nesse ínterim foi a denominada “Bra-Burning” ou “A Queima dos Sutiãs”, realizada em 1968 em Atlantic City, Nova Jérsei, onde quatrocentas ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement) se opuseram a realização da Miss América em sete de setembro deste mesmo ano. O nome desse episódio é meramente ilustrativo, as revolucionárias não queimaram nada de concreto. O que deu o nome foram as atitudes explosivas e incendiárias, justificadas pela escolha das mulheres mais bonitas do país, figura essa ofensiva às demais. Ao chão foram expostos os instrumentos de tortura para a beleza, como sprays, cintas, sutiãs, maquiagens, revistas de moda e maquiagem. Porém, a queima desses artigos não foi concedida, e também não aconteceu a retirada dos próprios sutiãs pelas ativistas em local público, como a mídia especulou.


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Figura 22.Movimento da queima do sutiãs em praça pública. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/__nbXl36QhX0/SBo6VpXakiI/ AAAAAAAABKc/wqZFMHBGP_A/s400/mias+america.jpg

Duas feministas que fizeram a diferença foram Betty Friedan e Wendy McElroy. Betty Friedan(1921-2006) seguindo os passos de Simone Beauvoir (19081986) que foi uma importante escritora feminista do final da década de 1940, trabalhou arduamente deleitando fundamentos e arquivando depoimentos de mulheres de classe média, o que comprova que todas as mulheres, independente de raça, cor e classe social estavam mobilizadas. Para este trabalho deu-se o nome de “A Mística Feminina”, intitulado como “o mal que não tem nome”, o que a fez ser considerada importante feminista do século XX. Wendy McElroy, é uma feminista canadense que faz presença na atualidade. Escrito do FoxNews, ela vem contando com a imprensa para a propagação do feminismo. Ela vem frisar três tipos de feminismo: O primeiro é o feminismo individualista: feito principalmente pelas primeiras feministas, inspira trabalho e atuação de igualdade igual perante leis, promovendo reformas e protestos na sociedade; O segundo, feminismo liberal: integra a mulher na sociedade à sua estrutura e reforça a teoria atual sobre o papel da mulher na Revolução Americana; e por último tem-se o feminismo radical: defende a criação do


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espaço livre onde a mulher possa se expressar universalmente, intelectualmente e culturalmente. No Canadá, uma prática nada convencional foi adotada por feministas que, em geral, foram estupradas e violentadas. Adequando as artes marciais, elas criaram o chamado “Wendo”, um conjunto de técnicas fáceis para que mulheres sejam capazes de se auto-defenderem de agressões de qualquer gênero; assim os golpes não requerem força nem condicionamento físico. O WenDo se tornou um identificador do movimento feminista no Canadá, difundindo pela Europa e na América Latina (que já possuem grupos renomados), como na Argentina e no Brasil. A cada dia, mulheres de diferentes lugares veem se conscientizando sobre a carência de algumas áreas sobre a mulher, mas agora com apoio governamental. A Marcha Mundial das Mulheres é um exemplo, que no ano de 2000 nasceu como uma grande sensibilização voltada para a pobreza e a violência. Partindo de uma manifestação ocorrida em 1995 no Québec, Canadá, quando 850 mulheres marcharam 200 km pedindo simbolicamente “Pão e Rosas”, contrariando o sistema capitalista e a inserção das mulheres nele. A Marcha já garantiu seu espaço, realizando duas ações internacionais em 2000 e em 2005, e ganhando apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) em suas tarefas. A ONU também realizou a Conferência Mundial sobre Mulheres-Beijing+5, realizado em Nova Iorque em 2000, onde reuniu defensores feministas e ativistas para a implementação e supervisão da mulher na sociedade. Após 5 anos, realizou-se a Conferência Mundial sobre Mulheres-Beijing+10 também em Nova Iorque, para a avaliação dos propósitos estabelecidos na conferência anterior.


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9. FEMINISMO NA ÁFRICA

Mapa 3. Mapa do continente africano Fonte: http://www.coladaweb.com/mapasestcont/africa.jpg

Com a globalização, certos costumes estão sendo revistos por países que não querem ser considerados retrógrados. Contudo, na África, um continente marcado com problemas excessivos de guerras civis, doenças, pobreza e exclusão social, econômica e tecnológica isso não acontece. A pouca informação que chega a população do continente é ignorada, devido a educação voltada a tradição e aos costumes, e mesmo vivendo sob sua cultura ancestral, os africanos buscam uma condição digna de sobrevivência. Tradicionalmente, a mulher africana é responsável por cuidar da casa e da família e deve respeitar o marido, chefe da casa. Entretanto elas estão ganhando espaço na busca por uma melhor condição de vida, ganhando destaque na área de geração de emprego e renda, apesar de ser excluída socialmente, sofrer a violência familiar e cultural, não ter direito de voto e de propriedade. Embora alguns países sejam mais condescendentes que outros, a situação atual das africanas sofreu pouca melhora. Sudanesas são presas e castigadas


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frequentemente, podendo ser açoitadas com quarenta chibatadas garantidas pelo Código Penal do Sudão desde 1991 por má conduta ou vestimenta imoral (como calças compridas e saias até a altura do joelho). Em alguns casos esse limite de chibatada é excedido e juízes chegam a condenar mulheres e crianças oprimidas por um tratamento cruel e humilhante em até cinquenta açoites. Contudo, esse tratamento atroz concedido especialmente a mulheres começou a ser questionado. Lubna Hussein, jornalista que trabalhou para a ONU (Organização das Nações Unidas), em 2009, foi detida com outras doze mulheres por usar calça comprida. A jornalista pediu revogação do artigo do Código Penal sudanês e seu caso ganhou repercussão internacional, pois ela alegou ser injustamente julgada; o julgamento foi revogado, mas Lubna não foi julgada: o sindicato dos jornalistas pagou a fiança de duzentos dólares declarando que é de sua responsabilidade proteger jornalistas que estão na prisão, desse modo, Lubna Hussein foi libertada. Há, no continente africano, história de outras mulheres respeitáveis, como a da santa Josephine Bakhita padroeira do Sudão, nascida em uma família importante, raptada ainda criança por traficantes árabes de escravos, responsáveis por sua escravidão, pelo trauma que a fez esquecer-se de seu nome e por batizarem-na pelo nome que é conhecida hoje. Seu último senhor a levara para a Itália, onde morou num convento até atingir a maioridade e ver-se livre da escravidão. Depois de livre, Bakhita continuo no convento, e por sua gentileza ficou conhecida como la nostra madre moretta (a nossa freira moreninha). Foi canonizada em 1° de outubro de 2000, como santa africana moderna e de grande valor para a escravidão e a opressão. Além dessas personagens, a África tem em sua história uma rainha de personalidade forte. Nzinga Mbandi (1583-1663) governou os reinos do Ndongo e Matamba (sudoeste da África) no século XVII, e foi inspiração para peças de teatro e obras literárias. Em seu livro Nzinga Mbandi, Manuel Pedro Pacavira, descreve a personalidade forte de Nzinga, aliada a sua beleza. Não devia ser mulher para se dar lá a essas fitas de puxar a cara, amarrar a testa, alçar os peitos, por o rabo a pino, e coisas outras dessas. Fatos há que nos levam a pensar que ela cresceu bela, carinha bonita, alegre, simpática, sendo o seu defeito: virar bicha-fera-ferida, caso que lhe violassem um direito. (PACAVIRA, 1979).


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Na história do Egito, país de localização estratégica no nordeste da África e no encontro com a Ásia, há uma mulher que inspirou diversas lendas, filmes de Hollywood, peças de teatros e até mesmo história em quadrinhos. Cleópatra é conhecida como símbolo de beleza exótica, traiçoeira e sedutora. Apesar de relatos antigos de historiadores importantes como Plutarco afirmarem que ela não era dotada de uma beleza extraordinária, Cleópatra era culta, atraente e possuía uma voz encantadora, características que conquistaram dois grandes lideres romanos: Julio César e Marco Antônio, com quem teve um e três filhos, respectivamente. Segundo autores, envolver-se com homens influentes romanos era uma estratégia para garantir a soberania egípcia e manter-se no poder. A tática falhou, e Cleópatra suicidou-se. Apesar disso, a rainha egípcia ainda é uma mulher famosa em todo o mundo, por sua espiritualidade, determinação e inteligência . Com o intuito de chamar a atenção para um problema pouco conhecido pela população mundial, e de entidades responsáveis por garantir a integridade das pessoas, a somali Waris Dirie publicou, em 2002, um livro intitulado A Flor do Deserto (significado de seu nome), que trata da mutilação genital feminina. Essa prática é comum em países como a Somália: muitas vezes com menos de dez anos de idade, a menina é levada pela mãe a um lugar de estrutura precária, no meio do deserto, para que uma espécie de parteira corte a região genital, com uma navalha e sem anestesia, num processo variando entre a retirada do clitóris ao corte dos grandes lábios e á um procedimento chamado de infibulação (fechamento parcial do orifício genital). Dirie, circuncidada aos 5 anos de idade , fugiu de casa e de um casamento arranjado pelo pai aos 13 anos de idade, foi para Londres, onde começou sua carreira de modelo e sua luta para o fim de circuncisão feminina.


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Figura 23. Waris Dirie. Fonte: Géledes

Figura 24. Filme Flor do Deserto no qual conta a história de Waris Dirie. Fonte: http://www.waris-dirie-foundation.com/en/

Aos 45 anos, a modelo é fundadora de uma organização que leva seu nome e embaixadora da ONU contra o processo de mutilação feminina: “uma vergonha que uma tortura bárbara, cruel e inútil continue a existir no século XXI”, diz. A OMS (Organização Mundial da Saúde) tem uma campanha contra a prática, considerando-a uma lesão à saúde da mulher além de uma violação dos direitos humanos. Segundo uma estimativa da OMS, entre 100 e 140 milhões de meninas e


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mulheres vivem sob decorrência da mutilação, e apesar de acontecer em várias partes do mundo, os registros mais frequentes de ocorrências está no leste, no oeste e no nordeste da África e em comunidades de imigrantes nos EUA e Europa. Em sete dos países do continente africano, entre eles a Somália, Malii e Etiópia, 85% das mulheres sofreram a mutilação.

Mapa 4. Mapa localiza países onde a mutilação genital feminina está documentada. Fonte: Editoria de Arte / G1

A organização declarou em 2008 que a mutilação “é uma manifestação de desigualdade de gênero, [...] uma forma de controle social sobre a mulher”, e por fazer parte de um costume, recebe apoio tanto de homens quanto de mulheres, pois uma mulher circuncidada é considerada artifício para reprimir o desejo sexual, garantir a fidelidade conjugal e manter as jovens "limpas" e "belas". Waris diz que a prática não tem relação com religião, e que meninas vítimas da mutilação são submetidas ao casamento forçado: A maioria é vendida quando criança a homens mais velhos. Eles não pagariam por uma noiva que não é mutilada. É uma vergonha para nossas comunidades, para os países que permitem a prática. Os homens temem a sexualidade feminina, essa é a verdade. (DIRIE, 2008)

A OMS fez uma declaração se dizendo contra o procedimento, afirmando que o trabalho feito junto à comunidade está tentando reverter essa tradição e que, apesar de lenta, a redução está sendo feita e tem obtido sucesso. Porém, algumas atitudes ainda são cobradas: "A prática continua porque o mundo não toma nenhuma atitude séria contra isso, nem a ONU nem nenhum outro país do mundo. Encontrei muitos políticos. E ouvi muito 'blábláblá'. Mas não vejo nenhuma atitude séria para acabar com esse crime", protesta Dirie.


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Para

as

africanas,

os

Tratados

Internacionais

impulsionados

pela

Organização das Nações Unidas (ONU) são extremamente importantes, pois eles proporcionam seu crescimento. Agora elas podem falar abertamente sobre problemas internacionais e como eles costumavam afetá-las. Apesar do incentivo promovido pelas Nações Unidas, a participação das mulheres da África que conseguem falar sobre esses assuntos ainda é pouca, mas indispensáveis para enfatizar que o continente está aderindo à igualdade de gênero, onde alianças entre mulheres em cargos de poder e organizações voltadas para mulheres são fundamentais para o avanço. Em Ruanda, devido à presença feminina no parlamento, uma lei fortalecendo o direito da mulher foi aprovada, agora elas podem receber terras através de heranças, além de receberem um suporte e orçamento maior destinado à saúde e educação, e conseguirem elaborar um projeto de lei, em 2006, contra a violência de gênero. Processos semelhantes aconteceram na África do Sul, enfatizando a não violência contra meninos e meninas, e na Namíbia onde as mulheres legisladoras promovem leis contra o abuso doméstico e sexual. Grupos femininos e partidos políticos são fundamentais para promover a participação de mulheres no aspecto político e social da África, que servirá de exemplo pra futuras gerações. Atitudes para mudar comportamentos machistas e a discriminação estão sendo tomadas principalmente por mulheres que possuem poder de decisão. Na África subsaariana, associações de mulheres como a APC África Woma (rede de organizações e pessoas que trabalham pelo empoderamento das mulheres desde as Novas Tecnologias) estão crescendo com a participação das africanas. O Protocolo da Carta Africana de Diretos Humanos e dos Povos, que cria novos direitos para as africanas em proporções internacionais, recebeu sua 15ª ratificação em 2005, e até o fim de 2006 países como Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Ruanda, Senegal, África do Sul e Togo tinham assinado o protocolo, que assegura a aplicação da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres, garantindo-lhes o direito a vida, a integridade e segurança, a proteção contra práticas tradicionais nocivas, o acesso à justiça e igualdade de proteção perante a lei, a participação nos processos políticos e de tomada de decisões, a saúde e os diretos reprodutivos a seguridade de alimentação e moradia adequada nos países participantes, assim como ocorreu na


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aplicação da Plataforma de Ação de Pequim para a promoção e tutela de os diretos das mulheres. As mulheres africanas estão lutando para mudar alguns conceitos impostos pela sociedade, e apesar das dificuldades, estão conseguindo ao menos diminuir a escravidão, exclusão social, violência cultural e familiar (como a circuncisão, apedrejamento e tráfico de mulheres),a falta de acesso à instrução e a interdição do direito do voto e propriedade. Sua participação significativa em conferências realizadas na década da mulher (1975/1985), entre elas a III Conferência Mundial Sobre a Mulher - em Nairóbi (Quênia,1985)- reforçou a importância de seu papel na sociedade, fato que deu origem a muitos sucessos como a campanha para incentivar a entrega do Prêmio Nobel da Paz de 2011 para as mulheres africanas, por sua luta constante que, apesar de estar no começo, está sendo reconhecida e conseguindo importantes resultados, e que assim como determinado, em 1961, Conferência da Mulheres do Oeste Africano como dia Internacional Da Mulher Africana, o dia 31 de Julho não seja uma data importante apenas na África.


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10. FEMINISMO NA OCEANIA

Mapa 5. Mapa da Oceania Fonte: http://planetaazul.no.sapo.pt/oceania1.gif

Na Oceania, diferentemente dos outros continentes, a mulher ganhou seu direito ao voto muito antes das sufragistas americanas. No ano de 1893, o governo concedeu a mulher o direito do voto, sendo que estas já possuíam direitos políticos na esfera de seu município. Não demorou muitos anos para que a Austrália também concebesse esse direito as mulheres, o que aconteceu em 1902. Apesar das mulheres terem um começo fácil em comparação a outros continentes nos quais as mulheres foram às ruas com passeatas, movimentos e protestos, algumas chegando até a morrer pela causa, a situação de desigualdade entre os sexos é evidente como na maioria dos países. Por exemplo, a diferença de salários mesmo quando homem e mulher exercem o mesmo cargo é comum o homem receber mais, entre outros preconceitos com a mulher. A feminista Germaine Greer, nascida na Austrália, fez parte da segunda onda do feminismo e publicou um livro sobre o assunto. A Mulher Eunuco traz discussões sobre a dominação do homem através do sexo e também o relacionamento sexual


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entre homem e mulher. Como a maioria dos livros feministas exige a liberdade da mulher e a igualdade entre sexos. De personalidade forte, essa feminista já chegou a ser detida por usar palavras impróprias em seus discursos. Recentemente, em 2005, participou da edição do Big Brother e permaneceu no reality show somente por cinco dias, afirmando que sofrera assédio por parte da produção e desaprovando as atitudes dos concorrentes.

Figura 25. Germaine Greer, escritora feminista. Fonte: http://resources2.news.com.au/images/2007/07/27/va1237258883299/Germaine-Greer-AP5585746.jpg

Na Nova Zelândia, uma mulher conquistou o cargo de maior importância, o de primeira-ministra. Por ser um país de origem britânica e manter laços com a corte, não há cargo de presidente somente a Rainha Elizabeth que serve de imagem para representá-lo, entretanto esta não tem poder algum quem comanda é o parlamento, tendo como chefe o primeiro-ministro. Helen Clark ocupou a cadeira de primeiraministra de 1999 até 2008, também é Ministra da Arte, Cultura e Patrimônio sendo responsável pelo Serviço de Inteligência do país.


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Figura 26. Helen Clark, primeira-ministra da Nova Zelândia. Fonte: http://www.nndb.com/people/905/000103596/helen-clark-1.jpg

No ano de 2004, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) concluiu uma carta das mulheres para a humanidade. Para promover essa carta pelo mundo, organizouse uma mobilização entre as mulheres do mundo inteiro. Essa carta se revezaria entre os países e seu ponto de partida foi na Oceania, no dia 17 de outubro de 2005, assim seguiria em direção do oeste até chegar a sua última parada, na África. A carta prezava por direitos iguais a toda a humanidade em todos os aspectos sociais e culturais. Além da condição da mulher, também é abordado temas como liberdade, solidariedade, justiça e paz.


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11. FEMINISMO NA ÁSIA

Na Ásia, devido à grande extensão do continente, os movimentos feministas possuem inúmeras diferenças que refletem a diversidade cultural dos povos que habitam suas diferentes regiões. Há no continente inúmeras etnias diferentes, que por sua vez possuem línguas, hábitos e outros fatores que muito influenciam o pensamento das mulheres, como a religião, o principal fator de disparidade nos movimentos e conquistas feministas. Pode-se então dividir o continente em três partes onde essa divergência no modo de vida e ponto de vista das feministas fica mais evidente: Rússia, China e Oriente médio.

Mapa 6. Mapa do continente asiático. Fonte: http://www.topnews.in/files/Asia-03074.gif.


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11.1 CHINA

Mapa 7. Mapa da China Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/img/mapas_fisicos/china_jun.jpg

Na China, o feminismo teve grande força entre os anos de 1919 e 1923 onde as mulheres criavam associações que tinham como objetivo adquirir direitos e espaço político e social. O auge desse feminismo que visava direitos iguais na sociedade chinesa foi entre o movimentos estudantil de 4 de maio e 30 de Maio de 1925 quando guardas da concessão japonesa mataram um trabalhador de Xangai. Após este incidente, as mulheres chinesas passaram a lutar contra o imperialismo, assim canalizando suas energias para a causa do nacionalismo tornando o feminismo em um feminismo individualista e liberal que a partir de 1949 passou a batalhar pelo nacionalismo comunista. A situação das mulheres na China, desde a dinastia Tang (618 – 907) era de submissão ao pai e após o casamento, ao marido. Naquela cultura, essa inferioridade em relação ao homem era clara na prática de impedi-las de desenvolver os pés, por meio de bandagens imposta a elas desde a infância, para


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que assim ficassem praticamente presas em casa. Esta pratica só foi eliminada após iniciar-se o regime maoísta (1949 – 1979). Para as feministas chinesas, e em geral para todas as mulheres, o regime maoísta veio libertá-las dessas descriminações impostas nos regimes políticos até então empregados no país e garantir-lhes tecnicamente os mesmos direitos econômicos, políticos e socioculturais possuído pelos homens. Entre muitas dessas conquistas pode-se destacar a proibição do matrimônio arranjado; o direito do pedido de divórcio ou separação ser feito pelas mulheres e não apenas pelos seus companheiros; o direito de herdar bens; e igualdade nos salários entre homens e mulheres baseado apenas em suas jornadas de trabalho. Apesar dessas conquistas, a desigualdade entre os sexos ainda persiste principalmente nas regiões rurais e onde as tradições culturais ainda exercem muita influência sobre a organização familiar. A preferência por filhos homens em toda a China faz com que as mulheres, desde o nascimento, sejam tratadas de maneira preconceituosa. Segundo a antiga tradição confuciana seguida no país, cabe ao filho homem o cuidado de todos os bens da família, assim como é destinada a ele a tarefa de cuidar dos pais quanto idosos e cuidar do funeral de seus túmulos para atender às suas necessidades após a morte. Com o inicio da política do filho único, instaurada em janeiro de 1980, e juntamente com as tradições acima citadas, as crianças do sexo feminino vêm sendo abandonadas ou até mesmo são vitimas de aborto assim que o sexo da criança é descoberto, pois os pais preferem um filho homem para cuidar de seus bens a uma filha mulher que deixará a família para viver com a família do marido após o casamento e não trará lucro algum. Esse quadro atual mostra o quão inferior a mulher é perante aos olhos dos chineses.

11.1.1 Conferencia de Beijing

A conhecida Conferencia de Beijing foi a IV Conferência Mundial da Mulher, que aconteceu de 4 a 15 de Setembro de 1995, na capital chinesa, que contou com


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a presença de 180 delegações e 2500 organizações não governamentais que discutiram inúmeras questões sobre a mulher. Nessa conferência, foi assumido o compromisso de colocar a dignidade e o valor das mulheres de toda e qualquer classe, idade, etnia, escolha política, religião no centro dos esforços visando à consecução da igualdade plena desta. Foram assinados no encontro os seguintes documentos: A Declaração de Beijing que especificava os princípios a serem adotados no setor político, reconhecendo os esforços da luta da mulher e reforçando os compromissos assinados nas conferencias Mundiais sobre as Mulher anteriores a esta, acontecidas no México (1975), Dinamarca (1980) e Quênia (1985); e a Plataforma de Ação que apontou estratégias para ultrapassar os obstáculos oferecidos pela sociedade e assim promovendo a igualdade entre os sexos, sugerindo determinadas ações para mudar as situações das mulheres nas 12 áreas priorizadas, como é o exemplo da violência contra a mulher; insuficiências dos planos para promover o valor da mulher; desigualdade no tratamento de saúdes dos dois sexos; falta de reconhecimento profissional feminino; direito das garotas, entre outros. A Conferência de Beijing foi a conferencia sobre a mulher mais importante, pois a partir dela foi priorizada a inclusão da igualdade entre homens e mulheres em todas as instituições políticas e ações dos Estados integrantes da ONU.


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11.2 RÚSSIA

Mapa 8. Mapa da Rússia Fonte: http://www.passportsrus.com/images/russia-map.jpg

Apesar da grande extensão da Rússia, seus movimentos feministas têm em grande parte influência dos ocorridos na Europa e nos movimentos socialistas da antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS). O movimento mais conhecido ocorrido no país aconteceu em 1913, quando ainda no regime Czarista, foi realizada a primeira Jornada Internacional das Trabalhadoras e prol do sufrágio universal. As operárias que participaram dessa movimentação em Petrogrado foram reprimidas e presas, o que fez com que esse tipo de ação fosse abafado pelo regime, impedindo inclusive a comemoração do Dia da Mulher às mulheres russas. Apenas com a queda do regime Czarista durante a Revolução Russa (1917) e após a implantação do socialismo no país que os movimentos voltaram a surgir, porem, visando interesses socialistas. Um exemplo muito forte de feminista na Rússia é o da líder revolucionaria Alexandra Mikhaylovna Kollontai (março de 1872 – março de 1952) que lutou ao lado dos bolcheviques para a implantação dos preceitos marxistas no país. Ela trabalhou para que fossem reconhecidos os direitos e a liberdade às mulheres, modificando leis que impunham a subordinação destas aos homens, como a negação do direito ao voto e a diferença nos salário entre os sexos. Conseguiu a aprovação do divórcio e o direito ao aborto, benefícios sociais para a maternidade.


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Em 1918, organizou o Primeiro Congresso de Mulheres Trabalhadoras de toda a Rússia de onde originou o Genotdel, órgão dedicado à promoção da participação feminina na vida pública e social. Em 1920, assume o comando da organização das mulheres do partido Bolchecique e promulga decretos que visam à proteção e segurança na maternidade e infância. Solidifica sua carreira diplomática e lança livros importantes para o feminismo como ‘Base Social da Questão Feminina’ e ‘A Nova Mulher’, e inúmeros artigos feministas que são idos até hoje por feministas e estudiosos do assunto no mundo inteiro.

11.3 ORIENTE MÉDIO

Mapa 9. Mapa do Oriente Médio Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mapas-mundiais/imagens/mapa-oriente-medio.jpg

Para compreender melhor o processo do feminismo no Oriente Médio, é necessário primeiramente ressaltar a importância religiosa e cultural presente em seus costumes. O Islamismo é crença religiosa da maioria dos habitantes dessa região do continente Asiático, onde suas regras e mandamentos são interpretados e seguidos com muita rigidez e devoção. Explicaremos antes do movimento feminista, essas tradições e sua visão em relação às mulheres.


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11.3.1 O Islamismo

O Islamismo é atualmente a segunda maior religião do mundo com um numero de adeptos superior a 935 milhões. Esta religião é baseada nos preceitos do profeta Muhammad (Maomé) que foram escritas no livro sagrado Qur’an (Alcorão), onde segundo os mulçumanos, o profeta deixou seus ensinamentos ditados pelo anjo Gabriel em nome de Alá (Deus) entre os anos de 610 e 632. O Alcorão é um conjunto de advertências, sugestões, injunções e princípios religiosos, morais, éticos e jurídicos que regem a vida dos muçulmanos. Os ensinamentos dessa crença são baseados em 5 dogmas seguidos rigorosamente pelos seus seguidores, os quais os levarão ao paraíso. São eles: o Credo – crer apenas na palavra de Alá e de Muhammad; a oração – diariamente devem ser feitas 5 orações reverenciando-se a Meca; as emolas – devem ser dadas sempre pois tudo deriva de Alá e Este não as nega; o jejum – todo mulçumano deve jejuar durante o Ramadã (nono mês do calendário islâmico) .

11.3.2 Tradições Islâmicas e a Mulher

A historiadora Mônica Muniz (1998) descreve a situação da mulher mulçumana como: Apesar da relativa liberdade de que a mulher desfrutava, esse mundo árabe pré-revelação era patriarcal, moldado pelo homem, e a mulher não passava de uma vítima constante da dor, do sofrimento, da solidão, da humilhação e da exploração física, emocional e sexual. Os árabes de antes da revelação também não escaparam do costume de considerar a filha mulher um peso doloroso, uma fonte potencial de vergonha para o pai, sendo hábito, antes do advento do Islam, a prática cruel do infanticídio feminino. (MUNIZ, 1998)

Nos dias atuais as questões de opressão às mulheres nos países mulçumanos são referentes principalmente à falta de direitos que elas exercem na sua sociedade. A mulher islâmica, em muitos países do Oriente Médio é proibida de sair de casa sem a companhia de um homem de sua família, e proibida de mostrar seu rosto para aqueles que não sejam seu marido e se cobrem com um véu. Este véu recebe nomes e utilizações muito diferentes, como por exemplo no Meganistão, onde recebe o nome que é mais comumente conhecido no Ocidente, a burca, que


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cobre a mulher da cabeça aos pés e possui apenas uma tela na altura dos olhos. Já na Arábia Saudita, ele recebe o nome de chador e cobre apenas a cabeça da mulher. Segundo o vice-presidente da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica na América Latina, sheik Jihad Hassan, “O Livro Sagrado ensina: 'Profeta, dize a suas esposas, a tuas filhas e às mulheres dos crentes que se cubram com suas jalabib', que é um dos nomes do véu”. Em algumas comunidades Islâmicas a mulher é considerada inferior ao homem, o que segundo Ahmed Zaki Tuffaha em seu livro A Mulher e o Islamismo (apud ALMAHDY, p. 180) é descrito em várias passagens do alcorão “o próprio Maomé disse: A mulher é um brinquedo, quem quiser levá-la deve cuidar dela”. Nesta sociedade, há a diferenciação dos sexos, com base no livro sagrado Alcorão que diz que a mulher deve ser responsável apenas pela reprodução, criação e educação de seus filhos, enquanto ao homem fica a responsabilidade de sustentar economicamente sua família e alguns mulçumanos ainda consideram-nas ingratas e indignas. “os homens tem autoridade sobre as mulheres porque Alá fez um superior ao outro”, afirma o profeta em trechos do livro sagrado. O casamento nesta cultura é feito com escolha do marido pela família da noiva sem a consulta desta que é obrigada a casar-se. Quando se casam, as mulheres se desligam automaticamente de suas famílias e passam a fazer parte apenas da família de seu marido, onde não há a individualidade pregada pelas feministas. O divórcio só pode só é aceito mediante o pedido do marido, e mediante a acusação de adultério, a companheira pode ser condenada à morte por apedrejamento em praça pública. Em julgamentos, o testemunho de uma mulher só é considerado quando mais de uma pessoa presenciou o fato por ela relatado. No setor religioso, há também desigualdade de direitos, pois apenas o homem pode fazer as orações reverenciadas à Meca, e a ela é proibida a pregação das palavras do Alcorão. Porém, em alguns países esse quadro não é o mesmo, como no Marrocos, aonde as conquistas das mulheres vêm sendo frequentes. Apesar da limitação a elas imposta pelo Islamismo, seus direitos vem sendo ampliados desde 2004. Algumas dessas medidas que podem parecer pouco importantes para a sociedade ocidental, mas são uma grande evolução para feministas do Oriente Médio são:


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limitação da poligamia; alteração da idade núbil das mulheres de 15 para 18 anos; ampliação do direito de divórcio; direito a pensão para a mulher em caso de separação. Essas medidas foram tomadas a partir dos decretos assinados pelo Rei Mohammed VI que declarou na ocasião que “O futuro do Marrocos está nas mãos das mulheres”. O Rei também instaurou a lei que permite as mulheres ensinar o alcorão, as chamadas “mourchidotes” que levam as palavras de Alá às mulheres que só sabiam o que seus maridos lhes contavam sobre suas crenças. Contudo, elas tendem a ver os movimentos feministas com certa apreensão devido a inúmeras tradições mulçumanas, sejam elas sociais, econômicas ou políticas, que influenciam o pensamento dos mulçumanos em relação à condição da mulher e o seu papel na sociedade islâmica. Mas existem aquelas que não satisfeitas com a inferioridade a elas designada, tentam mudar este quadro e levar a debate situações cotidianas vividas por pessoas dessa sociedade, como é o exemplo do Kalam Nawaem, programa da TV árabe apresentado por quatro mulçumanas, Dr. Fawziah Salamah (egípcia), Rania Barghoot (libanesa), Bseiso Farah (palestina) e Muna Abu Suleima (saudita), que debatem assuntos polêmicos no mundo mulçumano que vão desde terrorismo até discussões sobre sexo. O documentário “Rainhas da TV Árabe” produzido pelo canal GNT e dirigido pela jornalista holandesa Bregtje van der Haak, mostra como essas mulheres tratam os assuntos abordados que em sua grande parte são voltadas para o publico feminino. As apresentadoras não tem o intuito de ir contra os preceitos de sua cultura, mas sim de trazer esclarecimentos e quebrar tabus criados pelos dogmas religiosos do Oriente Médio, como afirma Rania Barghout “Se pensarem sobre o que eu disse, faça sentido ou não, a mudança está a caminho”.


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Figura 27. Apresentadoras do programa Kalam Nawaem. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_iChTGzE6eqs/RzjejYOgUBI/AAAAAAAAAGI/FYNIAVK2E8/s400/1.jpg


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CONCLUSÃO

Ao longo da história a mulher foi rotulada como sexo frágil, sendo tratada como um ser inferior e, muitas vezes, como escravas, tendo por ofício o cuidado com a casa e com os filhos, de servir o marido conforme suas vontades. Há cerca de 300 anos, em diferentes partes do mundo, algumas mulheres se reuniram para exigirem seus direitos. Com passeatas, manifestações, movimentos e até mesmo com livros e por intermédio da educação, alcançaram vários de seus objetivos, de formas diferentes, conforme o lugar em que viviam. Hoje há manifestações de grupos feministas lutando pela igualdade total entre sexos, não aceitando a falsa ideia que hoje é propagada. Direitos já alcançados como o voto, acesso a trabalho e educação e ao aborto em algumas partes do mundo fazem com que as mulheres se convençam de seu valor e continuem seu movimento. Este trabalho analisou a evolução no tratamento entre gêneros, demonstrando o quão forte uma mulher pode ser. Espera-se que futuras gerações entendam sua importância histórica e social e que se conscientizem de que todos os ideais são possíveis de se realizar. Assim pudemos concluir que, após anos de conflitos, os direitos cívicos morais e trabalhistas foram sendo conquistados. E como exemplo que o feminismo está ativo na sociedade é o fato de que o presidente do Brasil pelos próximos quatro anos será, pela primeira vez, uma mulher, Dilma Rousseff que despertará o anseio da participação feminina na sociedade e representará mais uma vitória para as mulheres.


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