GRANDES QUESTÕES EMERGENTES DO CONTEXTO ATUAL SINAIS DOS TEMPOS E LUGARES Fazendo eco ao que diz o Doc. Carisma e Missão: Urgência e Audácia. (Congresso Missionário OFM da AL – Córdoba) “…identificamos estruturas de empobrecimento, estruturas que mantém e reproduzem muitas situações de fratura social, de condições subumanas de vida, causando exclusão. Impera a lógica da voracidade do ter, numa capitalização sem limites, que exclui e destrói vidas humanas e depreda a natureza. A mercantilização da vida humana e da natureza revela sua „lógica‟ desrespeitadora e devastadora, priorizando o avanço de biotecnologias que atentam contra a vida humana, do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras e de outros projetos de exploração que agridem a natureza… a penetração dos meios de comunicação, a urbanização crescente, as novas tecnologias e o predomínio do econômico têm influído fortemente sobre nossos famílias e povos. Cria-se um contexto de relativização dos valores das culturas locais, introduzindo novos padrões de comportamento e vícios, como o álcool, a droga e a sexualidade desregrada, entre outros…” O Doc. Um Outro Mundo é Possível (JPIC 2004), ao tratar sobre o impacto de nosso estilo de vida na Criação, conversão ecológica e justiça ambiental, coloca que: “vivemos hoje num mundo que caminha para a insustentabilidade em termos de vida: as terras que se convertem em deserto e a falta de água é um problema real para um terço da população mundial; o excesso de dióxido de carbono e outros gases na atmosfera está provocando um aquecimento global, o derretimento das geleiras polares e elevação do nível do mar com possíveis consequências catastróficas para a agricultura e para numerosas cidades e países insulares; o buraco na camada de ozônio nos expõe aos perigos dos raios ultravioleta; com o desmatamento
sistemático
perdemos
espécies
de
animais
e
vegetais
a
uma
velocidade
incrível…Estamos perdendo rapidamente a diversidade cultural e humana, como também de todo o conhecimento que estas populações tem. Ao anterior se soma a biopirataria, a manipulação genética resultando na erosão genética, cujas consequências são inimagináveis…” A partir deste cenário global, convém situar também as questões emergentes regionais (RS): Observa-se extraordinária escalada da violência urbana, penetração das drogas em todas as camadas sociais, agravamento da crise ética, com os fatos notáveis de corrupção, a chaga da exclusão social, o avanço das políticas voltadas para o agronegócio, o avanço de monoculturas controladas por grandes multinacionais, destruindo a biodiversidade ainda restante, a criminalização dos movimentos sociais, a dilaceração dos valores éticos e, consequentemente, a descrença, o ceticismo, a passividade, a violência, a injustiça social… Apesar de estarmos inseridos numa realidade tão perversa, somos desafiados a não perder de vista o olhar positivo, à maneira de Francisco, para encontrar a força necessária e firmar nossa esperança. Francisco, através da Revelação, percebe que toda criação é nascida de Deus. E, a partir de Jesus Cristo, que se fez menor, servo, intui a irmandade universal. Tudo foi criado para a encarnação do Filho. Todas as criaturas participam de tal Mistério, tendo o ser humano como figura predileta. “Este Deus revelado a Francisco e a nós hoje, não se mostrou indiferente ou distante da dor humana; ao contrário, revelou-se „criador, redentor, consolador e nosso salvador‟ (PN1). Ele era, é e será „todo o bem, sumo bem, bem total‟ (LH11), alegria e segurança de todo o universo. Esta esperança guia nossa vida no esforço pela justiça, pela paz e pelo bem onde estamos presentes.”(cf. Doc. O Senhor Nos Fala Na Caminhada. Roma 2006 – p.7-8). “Nesta Perspectiva, sentimo-nos chamados a iniciar, em todo tempo e lugar, a caminhada do discernimento evangélico: „examinai tudo e ficai com o que é bom‟ (1Ts 5,2). Esse discernimento deve ser
feito numa dupla perspectiva: por um lado, tomar consciência das estruturas pessoais e sociais que se opõem à vida, para denunciá-las e contribuir para sua superação; por outro, abrir os olhos da fé e da esperança para perceber, no meio das crises, os sonhos visíveis da humanidade, para dar-lhes espaço em nossa vida e antecipar, assim o Reino proclamado e vivido por Jesus Cristo… Se formos capazes de ler os sinais de nosso tempo à luz do Evangelho, nós mesmos poderemos ser sinais legíveis de vida para um mundo sedento de „novos céus e nova terra‟ (Is 65,17).” (Cf. Doc. O Senhor Te Dê Paz n. 7). Como Fraternidade Contemplativa de Menores em Missão, queremos elencar alguns elementos teológicos-franciscanos centrais, próprios do nosso carisma, que orientarão nossa interação com o contexto atual.
ELEMENTOS TEOLÓGICOS-FRANCISCANOS NA ÓTICA DA JPIC
Como Fraternidade Contemplativa de Menores em Missão, queremos elencar alguns elementos teológicos-franciscanos centrais, próprios do nosso carisma, que orientarão nossa interação com o contexto atual. Partindo do pressuposto que as CCGG representam a atualização da Regra de S. Francisco, nos centremos no Cap. IV, onde encontramos elementos fundantes que compõem as dimensões da JPIC. (Cf. Art. Justiça, Paz e Integridade da Criação: Dimensões da Vida Franciscana – Fr. Nestor I. Schwerz. In Doc. Instrumentos de La Paz, Guiados por el Espíritu Santo. Vossenack Germany – Outubro 2000). A chave principal centra-se em nossa vocação minorítica (art. 64-67), inspirada no exemplo de S. Francisco, centrado no seguimento de Jesus Cristo pobre, humilde e crucificado. Nesta relação pessoal com Ele, tornamo-nos discípulos Seus, e, como discípulos, nos tornamos missionários, enviados pelo mundo como servos e súditos de todos, pacíficos e humildes, promotores da justiça, arautos e artífices da paz, anunciando-a pelo testemunho e pela palavra. Assim, somos desafiados a: 1. 2.
Defender Denunciar
toda
os ação
bélica
direitos e
toda
dos
corrida
oprimidos;
armamentista
(art.
69,2);
3. Assumir a tarefa de defesa, respeito, cuidado, reverência para com a natureza, construindo a Fraternidade
Universal,
para
a
glória
do
Deus
Criador
(art.
1,2;
71);
4. Cultivar o “sine proprio” (art. 72, 1-2), vivendo de forma simples e sóbria em conformidade com o espírito
de
pobreza
e
partilhar
os
bens
com
os
pobres;
5. Valorizar o trabalho (art. 76-82) como forma principal de prover o sustento, cultivando a solidariedade com
os
pobres;
6. Usar o dinheiro em conformidade com os critérios de serviço aos pobres, como servos de Deus e seguidores da santíssima pobreza. A partir destes elementos fundantes, que compõem a vida do Frade Menor, nota-se que a primazia recai sobre o testemunho, a vivência. Trata-se, antes, de estilo de vida, fundado na justiça, paz e reverência à criação. As atitudes e o conjunto de relações, de posturas, de compromissos, de ações, iniciativas e projetos decorrem deste modo de ser. Esta forma de vida vem permeada duma espiritualidade cultivando mediações próprias como seguidores de S. Francisco: escuta e meditação da Palavra, celebração da Eucaristia, oração comunitária e individual, exercício de contemplação da vida e dos mistérios de Jesus Cristo, de Deus, da Igreja, Povo de Deus, dos acontecimentos, das criaturas, em contínuo processo de conversão e reconciliação. Neste estilo de vida, circunscrevem-se as relações humanas no constante exercício de educá-las para o espírito fraterno, de justiça, de reconciliação, de reverência para com todas as criaturas. Essa prática
inicia-se no interior da Fraternidade local e prolonga-se na missão evangelizadora, através dos inúmeros contatos, convivências, serviços, na convivialidade com todas as criaturas. Torna-se ainda mais relevante, enquanto relação solidária e misericordiosa com os pobres, com os excluídos, com os que sofrem, com os abandonados, com as diferentes vítimas da sociedade; na relação de diálogo e respeito frente ao diferente, em termos culturais, religiosos, políticos e de gênero. Esta forma de vida se historiciza e se converte em força simbólica e profética, evangelizadora, sócio-política com um conjunto de opções. Com tal intuito, queremos propor algumas linhas de ação e/ou ações concretas, tendo em vista que os valores da JPIC, as dimensões da Evangelização e da Formação devem perpassar toda a vida e missão dos Irmãos e das Fraternidades. Portanto, o compromisso pela JPIC não é uma atividade a mais ou uma atividade nova. Pertence a nossa forma de vida (Cf. Evangelização e JPIC na Perspectiva dos Excluídos – Fr. Nestor I. Schwerz. In Instrumentos de La Paz, Guiados por el Espíritu Santo – Congreso Franscican (OFM) Internacional de JPIC em Vossenack Germany Octubre 2000). Nesta tentativa, queremos colocar nosso coração onde está nosso único tesouro: O Reino (Cf. Doc. O Senhor Te Dê Paz n. 37). A exemplo de S. Francisco e do seu serviço aos leprosos, redescobrir a nossa própria vocação, através da opção pelos leprosos de hoje: marginalizados, pobres, oprimidos, sofredores; sentindo-nos felizes em partilhar de sua realidade (Cf. CCGG 97,1). Queremos também nos deixar interpelar ao apelo que nos é feito pela Ratio Formationis Franciscanae (n. 33-34) “Para serem fiéis à própria vocação, os Frades Menores inserem-se em situações concretas do povo com o qual vivem, descobrem nele os diversos rostos de Cristo e nele encontram a forma adequada de vida franciscana… Fiéis ao estilo de vida profético herdado de São Francisco, os Frades menores se esforçam por descobrir criativamente novos caminhos da promoção e de difusão dos valores evangélicos.”
LINHAS DE AÇÃO E/OU PROPOSTAS CONCRETAS DE AÇÃO
A leitura dos Sinais dos Tempos nos leva a uma centralidade e a uma maior atenção, neste início de Século XXI, para a questão ecológica, em nossa leitura Teológico-franciscana, a Integridade da Criação. Isso não deve desfocar a opção pelos pobres e a construção da justiça. Pelo contrário. As duas questões se fundem. Como diz, sabiamente, Antônio Cechin, “o modelo de desenvolvimento que exclui os pobres é o mesmo que destrói a natureza.” Já se vislumbra para os próximos anos, a existência de refugiados ambientais, vítimas de catástrofes ambientais resultantes dos desequilíbrios climáticos provocados pelo efeito estufa. Da mesma forma, a questão da paz. Mais e mais, surgirão conflitos por água e territórios habitáveis, gerando novos tipos de fraturas no tecido social e nas comunidades, além dos já existentes, colocando a questão ecológica, cada dia, mais no centro da defesa da vida, nos próximos anos.
Propostas Concretas de Ação: 1 – Solidariedade com os Povos da Amazônia, do Cerrado e na defesa destes biomas; 2 – Textos no Boletim de Comunicações e no Sítio da Rede de Computadores da Província sobre o tema; 3 – Tomada de posição pública da Equipe de JPIC e da Província diante de fatos que agridam a dignidade humana, a paz social e a natureza; 4 – Propiciar, na Formação Inicial, maior contato direto com situações e atuações da Província e de outras realidades relacionadas ao tema e às práticas da JPIC;
5 – Criar, sempre mais, entre os Frades e o povo com quem trabalhamos, uma cultura de amor aos Pobres e à Mãe Natureza; 6 – Formar Frades com melhor preparo intelectual e prático, nos campos que envolvem a JPIC; 7 – Desenvolver práticas quotidianas, em nossas comunidades relacionadas à ecologia, à vida simples, a uma vida de baixo consumo de bens industrializados, resgate da alimentação saudável e sem venenos, resgate da biodiversidade, cuidado e economia com a água e reciclagem de materiais utilizados; 8 – Organizar “Missões Populares Ecológicas”; 9 – Constituir Fraternidade-testemunho de proteção à natureza, reconstituição da biodiversidade, com base no Cântico do Irmão Sol, aberta para a formação de agentes leigos, criando local que seja uma espécie de “Santuário Ecológico”. Projeto de inserção ecológica; 10 – Mediação de Conflitos, pacificação, fortalecimento dos vínculos comunitários; 11 – Ações de economia solidária; 12 – Formação para lideranças leigas na ótica dos valores da JPIC; 13 – Atividades voltadas ao cuidado com a alimentação, saúde físico-mental…
PROJETO APROVADO NO ÚLTIMO CAPÍTULO PROVÍNCIAL
À luz desse apelo e da interpelação que sentimos no confronto com o atual contexto de extraordinária escalada da violência, as situações de fratura social, a profunda crise ecológica ambiental, a equipe de animação do Serviço da JPIC, propôs no último Capítulo o seguinte projeto para o próximo triênio: 2011 – FORMAÇÃO: Reflexão sobre as temáticas da JPIC nas casas de Formação Inicial, nos encontros de Guardianato, nos Dias de Estudo e Confraternização da Província e no Site da Província. 2012 – MISSÃO: realização da Missão Ecológica Franciscana em algumas das nossas presenças, com os seguintes acentos: a) b)
Ver: Julgar:
Focar
leitura novo
e olhar
sobre
análise o
mundo,
do a
partir
contexto da
socioambiental;
Espiritualidade
Franciscana;
c) Agir: valorizar as práticas já existentes e apresentar novas. 2013 – Continuação da Missão Ecológica Franciscana em nossas presenças. Quanto ao formato dessa missão a proposta é de flexibilizar conforme o contexto das nossas presenças. Durante o triênio estamos estudando a possibilidade de compor uma Fraternidade de inserção ecológica.
DECÁLOGO DOS ANIMADORES DA JPIC *Proximidade com a Fraternidade: mostrar-se próximo aos irmãos da fraternidade local e provincial, participando da vida quotidiana da fraternidade e da Província. A missão é ser fermento, sal que dá gosto e vida. Para isso o Animador da JPIC não pode sentir-se, nem ser visto como um “corpo estranho” no diaa-dia. Isto feriria gravemente seu trabalho em favor da nobre causa do seu trabalho. * Centrado em Cristo: estar bem “centrado”, com seu coração voltado para o Senhor e “concentrado” nos elementos essenciais do carisma franciscano. O animador da JPIC deve ser apaixonado por Deus, para poder ser apaixonado pelo ser humano, como foram os profetas, transmitindo em todo tempo a beleza do seguimento de Jesus Cristo segundo a “forma vitae” que nos deixou Francisco.
* Conhecimento da realidade: conhecer a fundo (e não superficialmente) a realidade mundial e as realidades de sofrimento e violência, para poder assim partilhar com os irmãos, emitir juízo, e formar assim uma cultura de Paz, Justiça e Integridade da Criação. * Reflexão com os irmãos: proporcionar uma reflexão com os irmãos sobre as situações da violência e de injustiça social, proporcionando materiais e reflexões a partir da doutrina social da Igreja a tal ponto que possam surgir sugestões cristãs para estas situações (cf CCGG 96,1). * Colaboração com os secretariados: Colaborar intensamente com todos os secretariados para a Formação e Estudos, Evangelização, e poder chegar a todos os irmãos. Só assim a JPIC entrará no coração e na vida de todos os irmãos. * Informação à Fraternidade: informar os Ministros e seus Definitórios, e todos os irmãos sobre as atividades programadas, aquelas que corresponde como Delegado e que tem intenção de que sejam realizadas, fazendo também partícipes os irmãos ministros, os que fazem parte do definitório e os guardiães. *Elaboração de projetos: Elaborar um projeto de JPIC com objetivos e meios, em comunhão com o projeto de vida fraterna da Província e avaliá-lo periodicamente. Ao mesmo tempo, o animador da JPIC deve coordenar na Província as atividades que se realizem nesta área. *Motivação aos irmãos na fraternidade: animar os irmãos para participar das atividades da JPIC programadas pela Província, pela Conferencia e pela Igreja local. * Colaboração com outras instituições: Colaborar ativamente com os irmãos Animadores JPIC da Diocese, da Conferência e da Família Franciscana e outros religiosos. *Conversão Constante: Sentir-se ele mesmo em processo permanente de formação e conversão¹ Oficina JPIC, Roma (Trad. Frei Luis Alberto Méndez) ¹ Rodriguez C. José, El compromiso de los hermanos por la Justicia y la Paz (II Congreso Europeo de Delegados de Justicia y Paz de la orden Franciscana de Compostela, 2004).