Biograa
DOM OSCAR ROMERO Frei João Osmar D'Ávila, OFM
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Biograa de
Dom Oscar Romero,
Frei João Osmar D'Ávila, OFM Frade da Província São Francisco de Assis Rio Grande do Sul.
* Este texto é resultado da “tradução livre” de duas “biografias” anônimas em espanhol e de outras leituras sobre a vida de Dom Oscar Romero, bem como de ouvir testemunhos de pessoas que compartilharam de sua vida e atuação na Igreja e na Sociedade Salvadorenha, por ocasião de minha estada lá de 13 a 25 de março próximo passado.
BIOGRAFIA
‘‘SE ME MATAREM. RESSUSCITAREI NA VIDA DO MEU POVO.
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Dom Oscar Romero
Oscar Arnulfo Romero Galdamez nasceu na cidade de Barrios, Departamento de São Miguel aos 15 de agosto de 1917; era o segundo filho de uma família de oito irmãos. Seu pai se chamava Santos Romero e sua mãe Guadalupe de Jesus Galdamez; era de uma família humilde e modesta, seu pai era empregado dos Correios e Telégrafos, e sua mãe ocupava-se dos afazeres domésticos. Desde pequeno Oscar foi conhecido por seu caráter tímido e reservado, seu amor ao simples e seu interesse pelas comunicações. Ainda muito jovem sofreu grave enfermidade que afetou notadamente sua saúde. Aos 13 anos, por ocasião da ordenação sacerdotal de um jovem, Oscar manifestou ao seu pai o desejo de ser sacerdote. Seu desejo transformouse em realidade um ano depois, apesar das dificuldades econômicas da família. Ingressou no Seminário Menor São Miguel dos padres Claretianos, onde permaneceu por seis anos. Posteriormente, entrou no Seminário São José da Montanha dos padres Jesuítas, em 1937. No período em que estourou a II Guerra Mundial foi escolhido para ir estudar em Roma, e lá terminar seus estudos em preparação ao sacerdócio, escolha feita certamente por sua integridade espiritual e inteligência acadêmica no Seminário Menor. Foi ordenado sacerdote aos 25 anos, em Roma, pelo Papa Paulo VI, no
dia 04 de abril de 1942. Continuou estudando em Roma para concluir sua tese de Teologia sobre ascética e mística, porém, devido à Guerra, teve que retornar a El Salvador e abandonar sua tese. Regressou ao seu país em agosto de 1943 e sua primeira nomeação foi para a paróquia de Anamorós, no departamento de La Unión. Mas pouco tempo depois foi chamado a São Miguel, onde realizou seu trabalho pastoral por quase 20 anos. O padre Romero era um sacerdote sumamente caritativo e dedicado. Implantou muitos movimentos apostólicos, tais como: Legião de Maria, Cavaleiros de Cristo, Cursilho de Cristandade, e inúmeras obras sociais, como: Alcoólicos Anônimos, Cáritas e Alimento para os Pobres. Não aceitava doações que não necessitava para sua vida pessoal. Exemplo disso foi o caso do presente de um grupo de senhoras, uma cama muito confortável, a qual ele doou a uma família carente e continuou com a simples cama que já possuía. Devido ao seu amplo trabalho sacerdotal foi escolhido Secretário da Conferência Episcopal de El Salvador e ocupou o mesmo cargo na Conferência Episcopal da América Central. Aos 03 de maio de 1970 recebeu a informação de que fora escolhido para o episcopado, sendo ordenado bispo em 21 de junho daquele mesmo ano. Foi nomeado Bispo Auxiliar de São
Salvador, que tinha como Arcebispo o ilustre Monsenhor Luís Chaves e Gonzales e como Bispo Auxiliar Monsenhor Arturo Rivera e Damas. Com eles compartilharia seu desafio pastoral, o qual deixou bem claro no dia de sua ordenação, com o Lema de toda sua vida: “Sentir com a Igreja”. Dom Oscar Romero vivia no Seminário Maior, que naquele tempo era dirigido pelos padres jesuítas. Ali conheceu padre Rutilio Grande e se tornou um grande amigo dele. Defendia e divulgava os critérios pastorais e os caminhos assinalados pelo Concílio Vaticano II e pela Conferência de Medellín, embora não concordasse com a Teologia da Libertação. Esses anos como Auxiliar foram muito difíceis para Dom Romero. Não se adaptava a algumas linhas pastorais implantadas na Arquidiocese e lhe trazia muito sofrimento o ambiente que se respirava na capital. Foi nomeado diretor do semanário “Orientacion” e deu ao seminário uma guinada notavelmente clerical. Esta nova orientação foi criticada por setores da própria Igreja, que consideravam um “periódico sem opinião”. Em El Salvador a situação de violência avançava e a Igreja se levantava contra essa situação de dor. Por esse motivo a perseguição à Igreja em todos os sentidos, o que começou a custar a vida de muitas lideranças. Após muitos conflitos na Arquidiocese, aos 15 de outubro de
1974 foi nomeado Bispo da Diocese de Santiago de Maria e aos 14 de dezembro daquele mesmo ano tomou posse da mesma. Dom Oscar Romero tomava posse da mais nova Diocese de El Salvador naquele tempo. Era o período da repressão contra os camponeses organizados. Em junho de 1975 ocorreu o assassinato de camponeses que voltavam de um encontro litúrgico, pela Guarda Nacional, conhecido como “Las Três Calles”. Pessoas inocentes foram assassinadas sem compaixão. O informe oficial falava de supostos subversivos que estavam armados. As 'armas' nada mais eram que as Bíblias que os camponeses carregavam embaixo de seus braços. Neste momento os sacerdotes da Diocese, especialmente os mais jovens, pediram ao Bispo Romero que fizesse uma denúncia pública sobre o fato e que acusasse as autoridades militares pelo sinistro. Dom Romero optou por fazer uma advertência privada. Escreveu uma dura carta ao Presidente Arturo Armando Molina, que era seu amigo pessoal. Dom Romero não havia compreendido que, por detrás das autoridades civis e militares, por detrás mesmo do Presidente da República Arturo Armando Molina, havia uma estrutura de terror, que eliminava de sua frente tudo o que poderia atentar contra os interesses “da pátria”, que não eram nada mais que os interesses dos setores
dominantes da nação. Dom Romero acreditava ilusoriamente no Governo, este era seu erro. Pouco a pouco começou a enfrentar-se com a dura realidade da injustiça social. Ele no fundo sentia muito a morte dos camponeses, mas tinha dúvidas na forma de agir. Os amigos ricos que ele tinha eram os mesmos que negavam um salário justo aos camponeses. Isto começou a lhe incomodar, a situação de miséria estava chegando longe demais para ficar esperando uma solução dos poderosos e das autoridades. A situação se tornava cada vez mais aguda e as relações do povo com o Governo foram se deteriorando. Na época das “cortas” – colheitas de café e outros produtos – muita gente pobre chegava à cidade. Dom Oscar os acolhia no Bispado para dormirem sob seu teto. O que como sacerdote via em São Miguel, como Bispo de Santiago de Maria continuava comprovando: pobreza e injustiça social de muitos que contrastava com a vida ostentosa de poucos. A Igreja defendia o direito do povo a organizar-se e clamava por uma paz com justiça. O Governo olha a Igreja com suspeita e expulsa vários sacerdotes. Em meio a este ambiente de injustiça, violência e temor, Dom Oscar Romero é nomeado Arcebispo de São Salvador a 13 de fevereiro de 1977 e tomou posse dia 22 do mesmo mês, em uma cerimônia muito simples, sem a
presença de autoridades civis ou militares. Tinha 59 anos de idade e sua nomeação foi para muitos uma grande surpresa, pois o candidato natural ao Arcebispado era o seu Bispo Auxiliar por mais de 18 anos, Dom Arturo Rivera e Damas: “A lógica de Deus desconcerta aos homens”. Aos 12 de março, menos de um mês depois da posse, se deu a triste notícia do assassinato do padre Rutilio Grande, um grande sacerdote, consciente, ativo e, sobretudo, comprometido com a fé de seu povo. A morte de seu grande amigo Rutilio lhe doeu muito: “Um mártir deu vida a outro mártir”! Este fato lhe causou grande impacto. Recolhendo as sugestões do clero, Dom Romero concorda em “Celebrar uma Missa única na Catedral”, como sinal de unidade da Igreja e como repúdio à morte de padre Rutilio Grande. Dom Romero continuou a pastoral da Arquidiocese e lhe deu um impulso profético nunca visto antes. Seu lema “Sentir com a Igreja” era sua principal preocupação: Construir uma Igreja fiel ao Evangelho e ao Magistério da Igreja. Sua opção começou a dar frutos na Arquidiocese. O clero se uniu em torno do Arcebispo, os fiéis sentiram o chamado e a proteção de uma Igreja que lhes pertencia, a “fé” dos homens se transformou em “arma” que desafiaria as covardes armas do terror. A situação se complicava cada vez mais. Uma nova fraude eleitoral impôs o General
Carlos Humberto Romero à Presidência. Um protesto generalizado se escutou em todos os ambientes. Dom Oscar Romero colocou a Arquidiocese a serviço da Justiça e da reconciliação do país. No transcurso de seu Ministério como Arcebispo transformou-se num implacável protetor da dignidade dos seres humanos, sobretudo, dos mais necessitados. Isto o levou a empreender uma atitude de denúncia contra a violência e, sobretudo, a enfrentar cara a cara os regimes do mal. Criou uma “Secretaria de Direitos Humanos”, abriu as portas da igreja para dar refúgio aos camponeses que fugiam da perseguição no campo, deu maior impulso ao Semanário “Orientacion” e à rádio YSAX. Apesar da clareza de suas pregações, Dom Romero, como Jesus, foi caluniado. O acusaram de revolucionário marxista, de incitar a violência e de ser o causante de todos os males de El Salvador. Porém, nunca saiu dos lábios de Dom Romero uma palavra de rancor e violência. Sua mensagem foi clara. Não se cansou de chamar à conversão e ao diálogo para solucionar os problemas do país. Suas homilias se converteram em citações obrigatórias em todo o país a cada domingo. Do púlpito iluminava, à luz do Evangelho, os acontecimentos do país e oferecia raios de esperança para mudar essa estrutura de terror. Os principais conflitos de Dom Oscar
Romero surgiram das marcadas oposições que sua maneira de fazer pastoral encontrava nos setores economicamente poderosos do país e, unida a eles, toda a estrutura governamental que alimentava essa institucionalidade da violência na sociedade salvadorenha. Soma-se também a isto o descontentamento das nascentes organizações políticomilitares de esquerda, que foram duramente criticadas por Dom Oscar Romero em várias ocasiões, por suas atitudes de idolatrizarão e seu empenho em conduzir o país a uma “revolução”. Por suas denúncias ele passou a sofrer uma campanha extremamente aguda contra seu ministério episcopal, sua opção pastoral e sua própria pessoa. Cotidianamente eram publicados nos jornais mais importantes, editoriais, matérias pagas, anônimos, etc., onde se insultava, caluniava e mais seriamente ainda, se ameaçava a integridade física do Arcebispo. A “Igreja perseguida em El Salvador” se converteu em sinal de vida e martírio no povo de Deus. Esse calvário que a Igreja vivia já tinha deixado seus sinais nela mesma, pois logo após o assassinato do padre Rutlio Grande, sucederam-se muitos outros assassinatos. Foram assassinados o padre Alfonso Navarro e seu amigo Luisito Torres. Em seguida, foi assassinado o padre Ernesto Barrera, logo após foram assassinados num centro de retiros o padre Otávio
Ortis e quatro jovens. Por último foram assassinados os padres Rafael Palácios e Alírio Napoleon Massias. A Igreja sentia na própria carne o ódio irascível da violência que se havia desenvolvido no país. Torna-se difícil entender no ambiente salvadorenho que um homem tão sensível e tímido como Dom Romero se convertesse em um implacável defensor da dignidade humana e que sua imagem ultrapassasse as fronteiras nacionais pelo fato de ser “voz dos sem voz”. Muitos dos setores poderosos e, alguns bispos e sacerdotes, se encarregaram de manchar seu nome, inclusive fazendo chegar até os ouvidos das autoridades de Roma. Dom Romero sofreu muito com esta situação, doía-lhe a indiferença e/ou a traição de algumas pessoas próximas. Já no fim do ano de 1979, Dom Romero sabia do eminente perigo que corria sua vida e, em muitas ocasiões, fez referência a ele. Era consciente do temor humano, porém, mais consciente do temor a Deus a não obedecer à voz que suplicava, para assim interceder por aqueles que não tinham nada mais que sua fé em Deus: os pobres. Um dos fatos que comprova o eminente perigo que corria sua vida foi o frustrado atentado à dinamite na Basílica do Sagrado Coração de Jesus em fevereiro de 1980, o qual deveria ter acabado com a vida de Dom Romero e de muitos fiéis que se encontravam no
recinto. Apesar de tudo isso ele disse que não abandonaria seu povo. E o cumpriu. Sua vida terminou como a dos Profetas e de Jesus Cristo. No domingo, 23 de março de 1980, Dom Romero pronunciou sua última homilia, a qual foi considerada por alguns como sua sentença de morte, devido à dureza de sua denúncia: “em nome de Deus e deste povo sofrido... lhes peço, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus, CESSE A REPRESSÃO”. No dia 24 de março de 1980, Dom Oscar Anulfo Romero Galdamez foi assassinado com um tiro certeiro, aproximadamente às 18h25min, enquanto celebrava a Eucaristia na capela do Hospital da Divina Providência, exatamente no momento de preparar a mesa para receber o Corpo de Jesus.
Foi sepultado no dia 30 de março, e seus funerais tornaram-se uma grande manifestação popular, com a presença massiva de seus queridos camponeses que vieram dos cantões mais distantes do país e dos operários da cidade. Algumas famílias ricas, que também lhe queriam bem, estavam em frente à Catedral para lhe dar o último adeus, prometendo que nunca iriam lhe esquecer. Raramente o povo se reúne para dar adeus a alguém, porém, ele era o “pai” deles, que os cuidava, que os queria, todos queriam vê-lo pela última vez. Os atos litúrgicos foram interrompidos pela explosão de uma bomba no meio da multidão, seguida de disparos de arma de fogo e de outras explosões, que dispersaram a multidão em pânico, ocorrendo atropelamentos, feridos e mortos. Dom Oscar Romero foi sepultado apressadamente numa cripta, no interior da Catedral Metropolitana de El Salvador. Sua morte causou muita dor no povo e um impacto no mundo. Ele mesmo havia dito que se morresse re s s u s c i t a r i a n a v i d a d o p o v o salvadorenho. E, de fato, ano após ano muita gente o recorda e celebra o aniversário de seu martírio.
Três anos de frutífero trabalho episcopal haviam terminado. Porém, uma eternidade de fé, fortaleza e confiança em um homem bom, como foi Dom Romero, havia recém começado, o símbolo da unidade dos pobres e a defesa da vida em meio a uma situação de dor havia nascido. A causa de beatificação de Oscar Arnulfo Romero, cujos restos mortais jazem na catedral da capital salvadorenha, iniciou a sua fase diocesana em 1994, que foi concluída em 1996. O processo foi então apresentado ao Vaticano no mesmo ano e, em 1997, foi recebido por Roma o decreto por meio do qual a causa era oficialmente aceita como válida. Porém, o processo jazia nas gavetas da burocracia vaticana até o início deste ano. Em 03 de fevereiro de 2015 o Papa Francisco declara, por meio de Decreto, que Dom Oscar Romero é Mártir, abrindo caminho para a sua Beatificação, que será realizada no dia 23 de maio próximo, na Praça Divino Salvador do Mundo em São Salvador, capital de El Salvador.
Oração para pedir a Beatificação do Servo de Deus Oscar Romero Oh! Jesus, Pastor Eterno, Tu fizestes do Servo de Deus Oscar Romero um exemplo vivo de fé e de caridade, e lhe concedeste a graça de morrer ao pé do altar num ato supremo de amor a ti. Concede-nos, se é tua vontade, a graça de sua Beatificação. Faça com que sigamos seu exemplo de amor a tua Igreja, a tua Palavra e a Eucaristia, e te amemos nos pobres e necessitados. Te pedimos pela intercessão da Virgem Maria, Rainha da Paz. Digna-te conceder-me, pela intercessão do Servo de Deus, a graça que te peço... Amém.
(Roga-se a quem obtenha alguma graça pela intercessão do Servo de Deus Oscar Romero, comunicá-la à Secretaria de Canonização do Arcebispo de São Salvador. Fone: 22260501).
Frei João esteve em El Salvador em março de 2015 para participar das Celebrações dos 35 anos do Martírio de Dom Oscar Romero. Conra algumas fotos;